Relatório da Direcção-Geral da Saúde aponta para uma redução de casos em 2020, mas antevê já um recrudescimento da tuberculose nos próximos anos. A subnotificação por atrasos no diagnóstico explica a enganadora melhoria no primeiro ano da pandemia. O PÁGINA UM também revela que, durante 2020, houve 32 doentes com tuberculosos que foram considerados doente-covid. Destes, nove morreram.
A Direcção-Geral da Saúde admite que a tuberculose terá previsivelmente, nos próximos anos, recrudescimento do número de casos, associados “à deterioração das condições económicas e sociais, ao aumento na demora nos dias até ao diagnóstico e ao risco de formas mais graves com consequente maior morbilidade e mortalidade”.
Este é o quadro traçado pelo relatório de vigilância e monitorização da tuberculose em Portugal relativo ao ano de 2020, que mostra uma situação favorável apenas na aparência durante o primeiro ano da pandemia.
Com efeito, embora a DGS destaque a tendência de diminuição dos casos notificados – 14,2 casos por 100.000 habitantes, a que correspondeu 1.465 casos, menos 383 do que em 2019 – é admitido que a descida em 2020 se deveu aos efeitos da pandemia causada pelo SARS-CoV-2. De facto, nos quatro anos anteriores a 2020, a taxa de incidência estava estagnada, em redor dos 18 casos por 100.00 habitantes.
Sem-abrigos e estrangeiros são os grupos mais vulneráveis à tuberculose.
Esta redução é, porém, artificial, e até denotando uma subnotificação ou mesmo uma incorrecta notificação. Através da base de dados dos internamentos de doentes-covid, que o PÁGINA UM tem vindo a divulgar, durante o ano de 2020 foram hospitalizados com teste positivo à covid-19, um total de 32 pessoas também com diagnóstico de tuberculose. Destas, nove faleceram.
No caso concreto de óbitos atribuídos à tuberculose, a DGS indica terem ocorrido 94 durante todo o ano de 2020. Mesmo considerando as nove mortes consideradas por covid-19 mas de doentes tuberculosos, a situação portuguesa tem melhorado consideravelmente neste século. Em 2002, de acordo com dados do Instituto Nacional de Estatística, morreram 345 pessoas com tuberculose e em 2010 foram 205.
Os efeitos da suspensão de muitos dos diagnósticos e exames do Serviço Nacional de Saúde (SNS) durante a pandemia, em especial no primeiro ano, também se observa no aumento do número de dias desde o início dos sintomas até ao diagnóstico.
Evolução da taxa de notificação de tuberculose em Portugal (2000-2020). Fonte: DGS.
Em 2020, metade dos doentes com tuberculose tiveram o seu primeiro diagnóstico ao fim de 80 ou mais dias, o valor máximo registado na última década, e uma subida de 25% relativamente ao valor registado em 2010. Em dois terços dos casos, esta demora foi atribuída aos doentes, o que também denota o medo incutido nas pessoas durante a pandemia.
Os homens continuam a ser o grupo de maior risco, representando 65% do total de casos, sendo que metade dos doentes tinha 49 ou mais anos. Nas crianças de idade igual ou inferior a cinco anos, apenas se contabilizaram 25 novos casos. Os distritos de Lisboa e Porto foram as regiões que apresentaram maior incidência, sendo que os sem-abrigos e os estrangeiros mostraram ser os grupos mais vulneráveis.
Neste último aspecto, mostra-se particularmente a evolução da incidência na população estrangeira. No ano de 2020 já cerca de 27% dos casos de tuberculose eram de estrangeiros, sobretudo originários de Angola, Guiné-Bissau, Brasil e Cabo Verde. Em 2008 representavam apenas 14,9%.
Evolução da demora mediana entre o início de sintomas até ao diagnóstico de Tuberculose (2010-2020). Fonte: DGS.
Segundo o relatório da DGS, existe uma forte relação entre vulnerabilidades sociais e a incidência de tuberculose com o consumo de álcool ou de drogas ilícitas, bem como a residência comunitária, a constituírem variáveis relevantes.
A associação da tuberculose ao vírus da imunodeficiência humana (HIV) também se mantém. Em 2020, cerca de 77% dos casos notificados foram testados para VIH (85,6% em 2019) e 9% apresentavam co-infeção tuberculose/VIH.
Para Portugal atingir os objetivos fixados pela Organização Mundial de Saúde – redução do número de mortes em 95% e a taxa de incidência em 90% até 2035 face a 2015 –, em nota incluída no relatório, a directora-geral da Saúde Graça Freitas destaca “o rastreio e tratamento gratuito e o livre acesso às consultas de tuberculose nos Centros de Diagnóstico Pneumológico”.
Contudo, esta responsável admite que “a desaceleração na redução percentual anual da doença, associada a uma diminuição abrupta do número de casos em 2020 e ao aumento da mediana de dias até ao diagnóstico, reforçam a necessidade de definir novas estratégias e monitorizar resultados.”
Apesar da falta de transparência da Direcção-Geral da Saúde (na divulgação das causas de morte) e do Infarmed (sobre os efeitos adversos das vacinas contra a covid-19), o PÁGINA UM faz uma análise detalhadas sobre a mortalidade por todas as causas por grupo etário, comparando os primeiros 60 dias do ano de 2021 com os períodos homólogos de 2016 a 2021. Estamos muito melhor do que no ano passado, mas os números são, para algumas idades, mais elevados do que seria expectável. A pandemia pode já ter acabado, mas os seus efeitos indirectos não.
Os dois primeiros meses do ano passado foram catastróficos. Os surtos de covid-19, a par do colapso na assistência hospitalar do Serviço Nacional de Saúde em enfrentar também uma vaga de frio sobretudo em Janeiro, causou uma mortandade nunca vista. Nos primeiros 60 dias de 2021 morreram, segundo dados oficiais, 32.777 pessoas, ou seja, uma média de 546 pessoas por dia. A média diária no quinquénio anterior ao surgimento da covid-19 em território português (2016-2020) foi de 377 óbitos, o que mostra bem a verdadeira dimensão da pandemia neste período, embora não possa, e não deva, ser apontada a covid-19 como exclusiva responsável.
Entretanto, durante a pandemia, foram introduzidas outras relevantes variáveis. Além de um acréscimo de mortalidade por todas as causas observado em Portugal sobretudo no primeiro ano da pandemia, os programas de vacinação vieram, por um lado, dar esperança de redução da letalidade da covid-19, mas também introduziram um receio sobre os seus efeitos adversos quer a curto quer a longo prazo.
Embora o PÁGINA UM seja intransigente defensor de análises aprofundadas com base em dados detalhados, nota-se que, infelizmente, as autoridades de saúde são particularmente adeptas do obscurantismo, não cedendo informação essencial.
De facto, uma análise dos efeitos da pandemia necessitaria, obrigatoriamente, de informação do Sistema de Informação dos Certificados de Óbito (SICO) para aferir as causas distintas da mortalidade para que, dessa forma, se conseguisse separar o efeito directo da covid-19 e a variação do peso das outras doenças na mortalidade total.
De igual modo, para dar resposta às preocupações sobre os efeitos adversos das vacinas, seria fundamental analisar as causas de morte desde o início dos programas de vacinação e comparar com anos anteriores.
Não sendo tal (ainda) possível, o PÁGINA UM predispôs-se a fazer uma análise aos primeiros 60 dias de cada ano, entre 2016 e 2022, considerando a mortalidade total (todas as causas). Esta análise teve em conta a prevalência e incidência dos diferentes surtos gripais (2016-2020) e a situação pandémica nos anos de 2021 (ainda com fraca taxa de vacinação) e 2022 (com elevada taxa de vacinação, incluindo reforço de terceira dose nos grupos etários mais idosos).
Este breve exercício serve sobretudo para se ter uma rápida percepção sobre a situação pandémica actual face não apenas ao pior período (Janeiro e Fevereiro de 2021) mas também ao período anterior à pandemia. Saliente-se que, por norma, os dois primeiros meses do ano, na sua totalidade inseridos no Inverno, são os mais mortíferos.
Caso se pretenda comparar ano a ano deve ter-se em consideração os efeitos dos surtos gripais, que constituem, no Inverno, o principal factor de agravamento da mortalidade.
Assim temos as seguintes situações:
2016 – surto gripal com fraca incidência e agressividade; 2017 – surto gripal com elevada incidência e agressividade; 2018 – surto gripal com média incidência e agressividade; 2019 – surto gripal com elevada incidência e agressividade; 2020 – surto gripal (anteriormente ao surgimento da covid-19 em Portugal) com fraca incidência e agressividade.
Note-se também que os surtos gripais (com efeitos na mortalidade por infecções respiratórias) nunca tiveram impacte nos grupos etários abaixo dos 45 anos, sendo muito pouco relevante até aos 65 anos, e ganhando importância sobretudo a partir dos 75 anos e ainda com mais relevo nos maiores de 85 anos.
Nesse sentido, as principais conclusões que se pode retirar desta análise do PÁGINA UM são as que apresentam seguidamente, por grupo etário.
Menores de 1 anos
Impacte da pandemia completamente nula, e indirectamente até acabou por se observar uma redução na taxa de mortalidade por todas as causas, mesmo tendo em conta a redução dos nascimentos. Note-se que o número de óbitos nesta idade é bastante baixa, tendo em consideração que se registam, em média, cerca de 80 mil nascimentos por ano.
Óbitos por todas as causas dos menores de 1 ano nos primeiros 60 dias de 2016 a 2022. Fonte: SICO.
Entre 1 e 4 anos Impacte da pandemia completamente nula. Nesta faixa etária a mortalidade por todas as causas é, felizmente, bastante baixa, e os surtos gripais e a covid-19 não têm nem nunca tiveram qualquer relevância. Também não se observam quaisquer efeitos indirectos adversos decorrentes da pandemia.
Óbitos por todas as causas no grupo etário 1-4 anos nos primeiros 60 dias de 2016 a 2022. Fonte: SICO.
Entre 5 e 14 anos
Impacte da pandemia completamente nulo, mesmo antes das vacinas. Face aos anos anteriores, 2021 foi mesmo aquele com menor mortalidade (10). Neste grupo etário, os óbitos totais em 2022 foram, no período em análise (60 dias), superiores aos de 2021 (mais cinco óbitos), mas mesmo assim abaixo da média. O programa vacinal contra a covid-19 serviu literalmente para nada.
Óbitos por todas as causas no grupo etário 5-14 anos nos primeiros 60 dias de 2016 a 2022. Fonte: SICO.
Entre 15 e 24 anos
Em comparação com os anos anteriores, 2022 foi o ano com maior número de óbitos neste grupo etário (64), registando-se 12 mortes a mais do que em 2021 (antes do programa vacinal). Em todo o caso, parece-me prematuro, e especulativo, associar o programa vacinal a este excesso de óbitos, uma vez que os números de 2022 estão próximos de alguns do outros anos (2017 e 2019).
Óbitos por todas as causas no grupo etário 15-24 anos nos primeiros 60 dias de 2016 a 2022. Fonte: SICO.
Entre 25 e 34 anos
Embora neste grupo etário a mortalidade por todas as causas seja ainda bastante baixa, no ano passado registou-se um incremento significativo (108 óbitos) face à média do quinquénio anterior (92 óbitos), não podendo associar-se exclusivamente à covid-19, porquanto houve também um pior acompanhamento das outras doenças. Em todo o caso, a mortalidade por todas as causas em 2022 já se encontra em linha com a média.
Óbitos por todas as causas no grupo etário 25-34 anos nos primeiros 60 dias de 2016 a 2022. Fonte: SICO.
Entre 35 e 44 anos
A pandemia não aparenta ter tido impacte na mortalidade neste grupo etário, mesmo se os valores em 2021 (no pior período) foi ligeiramente superior à média do quinquénio anterior (286 vs. 271). Contudo, foi mesmo assim foi inferior ao ano de 2016, que teve até um surto gripal relativamente fraco.
A mortalidade total em 2022 foi ligeiramente abaixo da média do quinquénio anterior à pandemia (269 vs. 271), mas não aparenta ter qualquer relação com o programa vacinal, tanto mais que o valor está acima do registado em 2020 (237 óbitos).
Óbitos por todas as causas no grupo etário 35-44 anos nos primeiros 60 dias de 2016 a 2022. Fonte: SICO.
Entre 45 e 54 anos
A pandemia teve já um efeito relevante na mortalidade em 2021, com um acréscimo de 17% em relação ao quinquénio anterior (954 vs. 814), chegando a atingir um agravamento de quase 26% face ao ano de 2020. A mortalidade em 2022 encontra-se abaixo da registada em qualquer dos cinco anos anteriores à pandemia, o que pode resultar mais da perda do subgrupo dos mais vulneráveis (falecidos durante a pandemia) do que um efeito directo da vacina.
Óbitos por todas as causas no grupo etário 45-54 anos nos primeiros 60 dias de 2016 a 2022. Fonte: SICO.
Entre 55 e 64 anos
Não parece existirem dúvidas do forte impacte da pandemia (directa e indirectamente) na mortalidade nos primeiros dois meses de 2021 face aos anos do quinquénio anterior, com um excesso de 30%. O número registado em 2022 (1.740) parece-me bastante preocupante, porquanto, com a covid-19 muito menos agressiva e letal, a mortalidade deveria ser muito mais baixa do que a média, o que não sucede. Isso pode indiciar efeitos de outras doenças que não foram suficientemente tratadas durante a pandemia.
Óbitos por todas as causas no grupo etário 55-64 anos nos primeiros 60 dias de 2016 a 2022. Fonte: SICO.
Entre 65 e 74 anos
Também nesta faixa etária, a mortalidade em 2021 foi extraordinariamente elevada face à média do quinquénio anterior à pandemia (mais 49%), o que correspondeu a mais 1.494 óbitos.
A hecatombe neste grupo etário causado pela covid-19 e por outras doenças que passaram a ter menor acompanhamento deveria ter tido como consequência uma menor mortalidade nos tempos mais recentes, mas tal não se está a observar.
Com efeito, mesmo com a covid-19 menos agressiva, ausência de surtos gripais e população com taxa de vacinação quase total, o número de óbitos por todas as causas foi nos primeiros 60 dias de 2022 superior a qualquer ano do quinquénio anterior à pandemia.
Óbitos por todas as causas no grupo etário 65-74 anos nos primeiros 60 dias de 2016 a 2022. Fonte: SICO.
Entre 75 e 84 anos
Tal como no grupo etário anterior, a pandemia teve nos primeiros dois meses de 2021 um forte impacte na mortalidade por todas as causas, com um acréscimo de 42% face à média do quinquénio anterior, resultante de mais 2.850 óbitos. Contudo, ao contrário do que sucede com o grupo etário dos 65-74 anos, observa-se aqui um efeito de “fortalecimento” (ou seja, uma menor mortalidade subsequente a um efeito negativo que implicou a morte dos mais vulneráveis).
De facto, a mortalidade total em 2022, no período em análise, foi significativamente mais reduzida do que a média no quinquénio anterior à pandemia (6.346 vs. 6.729). Porém, mesmo assim seria expectável valores mais baixos, o que pode indiciar que existem problemas decorrentes da forma como se implementaram as estratégias de saúde pública durante da pandemia, que implicou um enfraquecimento generalizado da população mais idosa.
Óbitos por todas as causas no grupo etário 75-84 anos nos primeiros 60 dias de 2016 a 2022. Fonte: SICO.
Maiores de 85 anos
Durante os primeiros dois meses de 2021, a pandemia teve efeitos extraordinariamente negativos na população mais idosa, com um excesso de mortalidade de 53% face à média do quinquénio anterior (14.955 vs. 9.785), ou seja, mais 5.170 óbitos.
Este acréscimo foi, aliás, o culminar de meses anteriores, sempre com excesso de mortalidade neste grupo etário, o mais vulnerável à covid-19. No ano de 2022, apesar deste grupo etária quase integralmente (e com dose de reforço) e de um Inverno extremamente amenos e com actividade gripal nula, a mortalidade nos dois primeiros meses esteve acima da média do quinquénio anterior à pandemia (10.156 vs. 9.785).
Tendo em consideração a hecatombe da pandemia (directa e indirectamente) neste grupo etário, seria expectável agora um número de óbitos muitíssimo menor. Como tal não se observa, tudo indica que subsistem problemas já estruturais decorrentes da gestão da pandemia, mormente ao nível do (des)acompanhamento de doenças crónicas.
Óbitos por todas as causas nos maiores de 85 anos nos primeiros 60 dias de 2016 a 2022. Fonte: SICO.
População global
Os primeiros dois meses de 2021 foram particularmente dramáticos, com um excesso de mortalidade por todas as causas de 45% face à média do quinquénio anterior (32.777 vs. 22.606), ou seja, um acréscimo de 10.171 óbitos. Note-se, contudo, como atrás se foi referindo, que o impacte esteve longe de ser generalizado. Cerca de 51% deste excesso esteve concentrado na população com mais de 85 anos, que representa pouco mais de 3% da população portuguesa.
Se considerarmos a população com mais de 75 anos, esse valor sobe para 79%, o que demonstra o particular impacte da pandemia (e dos seus efeitos colaterais) nos grupos etários mais avançados.
Óbitos por todas as causas na população portuguesa nos primeiros 60 dias de 2016 a 2022. Fonte: SICO.
Na verdade, no seu pior período (Janeiro e Fevereiro de 2021), a pandemia não teve qualquer impacte no vasto grupo dos menores de 45 anos (que representam quase metade da população portuguesa). O excesso de mortalidade apenas teve um contributo de 1% no grupo dos 45-54 anos, e de 5% no grupo dos 65-74 anos.
Um ano depois desta situação, é curioso observar que a mortalidade total se encontra na linha com a média anterior à pandemia, o que parecendo uma boa notícia, não o é. Seria expectável que os valores da mortalidade total estivessem muito abaixo, tendo em conta a “limpeza” dos mais vulneráveis. Por outro lado, mostra-se preocupante observar os “comportamentos” distintos entre os diferentes grupos etários.
A Direcção-Geral da Saúde escondeu desde Outubro o acesso aos documentos solicitados sobre os trabalhos da Comissão Técnica de Vacinação contra a Covid-19 (CTCV), mesmo após um parecer da Comissão de Acesso aos Documentos Administrativos (CADA). Disse hoje que vai disponibilizar todos os pareceres daquela entidade no seu site. Uma vitória do jornalismo sobre o obscurantismo da Administração Pública.
Após contínuas diligências do PÁGINA UM, a Direcção-Geral da Saúde (DGS) promete agora publicar a totalidade de todos os pareceres da Comissão Técnica de Vacinação contra a Covid-19 (CTVC) realizados no decurso da pandemia. Até agora apenas se conhece o parecer relativo às crianças, divulgado em Dezembro passado, mas nunca foi disponibilizada, nem permitido o acesso, a qualquer documentação sobre os trabalhos dessa entidade criada por Graça Freitas em Novembro de 2020.
A CTVC, constituída por um vasto conjunto de especialistas em medicina e epidemiologia, tem como funções, entre outras, recomendar grupos-alvo da vacinação COVID-19 e a sua priorização, e ainda propor e acompanhar o desenvolvimento de estudos sobre a vacinação e as vacinas utilizadas em Portugal.
Esta decisão da DGS em conceder acesso universal aos documentos foi comunicada esta tarde ao PÁGINA UM, e aparenta constituir o epílogo de uma árdua e solitária “batalha” para o acesso a documentação vital para a compreensão da pandemia e a avaliação da gestão das políticas de saúde.
E constitui sobretudo uma mudança radical desta entidade, que nunca se mostrou, até agora, favorável à prática do chamado “arquivo aberto”.
Com efeito, o PÁGINA UM começou há quatro meses a solicitar o acesso a esta documentação, ainda quando estava a preparar o projecto jornalístico.
Em 26 de Outubro do ano passado, foi endereçado um pedido expresso à DGS, ao abrigo da Lei do Acesso aos Documentos Administrativos (LADA), para “acesso a todos e quaisquer pareceres técnicos, pareceres e outros documentos considerados documentos administrativos” relacionados com a CTVC.
O PÁGINA UM referiu então que deveriam ser igualmente disponibilizados os ofícios enviados por Graça Freitas à ministra da Saúde, Marta Temido, “contendo o(s) dito(s) parecer(es) e recomendações, e também todos e quaisquer documentos escritos ou sob a forma áudio ou audiovisual de especialistas consultados pela CTVC”, bem como as actas de reuniões.
A DGS remeteu-se ao silêncio, e o PÁGINA UM apresentou uma queixa à Comissão de Acesso aos Documentos Administrativos (CADA) em 11 de Novembro.
A CADA apenas se pronunciaria em 20 de Janeiro do presente ano – 48 dias úteis após a queixa, sendo que a legislação lhe impõe um máximo de 40 dias para uma decisão –, através de um parecer em que referia que, “no quadro exposto, salvo razão para alguma não satisfação do pedido, que haverá de ser a entidade requerida [DGS] a comunicar directamente ao requerente [PÁGINA UM] deverá ser facultado o acesso” aos documentos da CTVC.
Cópia do e-mail enviado hoje ao PÁGINA UM pela Direcção-Geral da Saúde
Saliente-se que a DGS, que nem sequer respondera à CADA quando convidada a pronunciar-se, tinha de dar acesso ao documento ou dar uma justificação ao PÁGINA UM no prazo de 10 dias úteis, ou seja, até 3 de Fevereiro. Também nada fez.
O PÁGINA UM também procurou saber, junto dos partidos com assento no próximo Parlamento (PS, PSD, Chega, Bloco de Esquerda, PCP, Livre e PAN), que comentários faziam sobre esta atitude de recusa da DGS, mas não obteve qualquer resposta aos e-mails enviados em 21 de Fevereiro. Nenhum, partido, note-se, mostrou interesse em ver a DGS a cumprir um parecer da CADA e a aplicar o princípio do “arquivo aberto” da Administração Pública, consagrado numa legislação criada já em 1993.
Até à data, o PÁGINA UM já solicitou informação distinta, mas bastante detalhada, em oito situações concretas, invocando sempre a LADA. Com excepção de um pedido ainda com o prazo legal de 10 dias em curso, a directora-geral da Saúde tem optado até agora, e de forma sistemática, em indeferir tacitamente – isto é, opta por manter o obscurantismo da Administração Pública, e nem sequer responde.
A abertura agora da DGS em disponibilizar os documentos da CTVC, após todas as diligências do PÁGINA UM, pode ser assim o princípio de uma nova era.
A eficácia relativa da vacina da Pfizer/BioNTech contra a covid-19 em crianças do Estado de Nova Iorque caiu tão rapidamente ao fim de apenas um mês que as suas vantagens, face às incertezas sobre efeitos adversos a longo prazo e aos riscos de miocardite, se mostram mais do que questionáveis.
Um estudo realizado pelo Departamento de Saúde do Estado de Nova Iorque, e divulgado ontem no site medRxiv – ainda a necessitar de revisão pelos pares (peer review) – revela que durante a vaga da variante Omicron, a eficácia das vacinas ao fim de um período de 28 a 34 dias era apenas de 12% para as crianças dos 5 aos 11 anos. Nos adolescentes (12-17 anos), a eficácia era um pouco melhor: rondava ainda os 50% ao fim do mesmo período.
O impacte deste estudo tem tido destaque assinalável nos principais órgãos de comunicação social dos Estados Unidos, entre os quais o New York Times, CNBC, NBC News e CNN, e mesmo deste lado do Atlântico, como o The Guardian.
Envolvendo 365.502 crianças e 852.384 adolescentes vacinados naquele Estado norte-americano – com uma população quase o dobro da portuguesa –, o estudo comparou a incidência de casos positivos e hospitalizações deste grupo com não-vacinados da mesma idade entre finais de Novembro de 2021 e Janeiro deste ano, ou seja, em pleno surto da Omicron.
Recorde-se que a actual vacina da Pfizer foi desenvolvida para combater a variante Alpha do SARS-CoV-2, sendo que a Omicron, agora largamente dominante, se tem revelado de maior transmissibilidade, mas também de muito menor agressividade. E também se deve salientar que as autoridades de saúde norte-americana (FDA) e europeia (EMA) autorizaram doses menores para crianças: apenas 10 microgramas por dose em vez das habituais 30 microgramas nas restantes idades.
De acordo com o estudo norte-americano, analisado pelo PÁGINA UM, comparando crianças vacinadas e não-vacinadas, ainda se observou uma diferença significativa nas taxas de incidência na semana de 13-19 de Dezembro: 39 e 122 por 100.000, respectivamente, o que significava que a eficácia das vacinas na incidência era então de 68%. Nas hospitalizações essa eficácia inicial era de 100%, embora nos não-vacinados os números de internamentos fossem bastante baixos: 0,22 hospitalizações por 100.000 crianças, ou seja, 0,00022%.
Com o avançar do tempo – e também com o surto da variante Omicron a atingir o seu auge no meio do Inverno –, sendo certo que a incidência aumentou tanto nas crianças vacinadas como nas não-vacinadas, a razão da taxa de incidência – ou seja, a proporção da incidência de casos positivos entre não-vacinados e vacinados – desceu abruptamente. Se na semana de 13-19 de Dezembro ainda era de 3,1; três semanas mais tarde (3-9 de Janeiro) já só era de 1,9, situando-se em 1,1 na semana de 24-30 de Janeiro. Significa assim que os vacinados estavam já praticamente desprotegidos. Ou, do ponto de vista da eficácia das vacinas, esta só reduzia o risco em 12%.
Em relação às hospitalizações das crianças, o efeito de decréscimo não se revelou tão drástico, mas mesmo assim foi muito significativo. Na semana de 24-30 de Janeiro, as hospitalizações de crianças nova-iorquinas não-vacinadas era de 0,60 por 100.000, enquanto as vacinadas eram de 0,31, o que significava uma razão da taxa de incidência de apenas 1,9 e uma eficácia da vacina somente de 48%.
Note-se também, mais uma vez, que as hospitalizações nestas faixas etárias são bastante baixas tanto para os vacinados como para os não-vacinados. Com efeito, se aplicado a Portugal – com cerca de 600 mil crianças neste grupo etário –, significaria que, na última semana de Janeiro, seriam internadas por covid-19 entre três e quatro crianças se não houvesse programa de vacinação, e entre uma e duas se esse programa tivesse atingido todas. Recorde-se, ainda, que no nosso país ainda não se registou qualquer morte em crianças atribuída à covid-19.
Para os adolescentes nova-iorquinos, a tendência de decréscimo abrupto da eficácia das vacinas também se observou ao longo do surto da Omicron. Se em relação à protecção contra a infecção (medida em termos de incidência), a vacina mostrava uma eficácia de 85% em finais de Novembro, em meados de Janeiro já só rondava os 50%.
Nas hospitalizações, a eficácia mesmo assim manteve-se mais estável, embora com tendência também decrescente. Na segunda semana de Dezembro rondava os 95%, mas em finais de Janeiro já se situava nos 73%. Note-se também, mais uma vez, que as hospitalizações em adolescentes por covid-19 são raras, tanto para vacinados como para não-vacinados. Na semana de 24-30 de Janeiro, observou-se que 0,00136% dos adolescentes não-vacinados foram internados por covid-19, enquanto essa percentagem era de 0,00037% para os adolescentes vacinados.
Os autores do estudo, todos pertencentes à Autoridade de Saúde do Estado de Nova Iorque – um dos mais rígidos na implementação de programas de vacinação –, mantêm, contudo, uma opinião favorável às vacinas da Pfizer, considerando apenas ser necessário “estudar a dosagem alternativa” para crianças, e sugerindo ainda ser preciso manter “o uso de máscaras, para prevenir infecção e transmissão”.
Os resultados deste estudo também colocam ainda mais em causa a eficácia do uso de certificados digitais como instrumentos de controlo da pandemia, uma vez que aqueles têm, actualmente, no espaço europeu, uma duração de nove meses.
A Comissão Técnica de Vacinação contra a Covid-19 e a Direcção-Geral de Saúde decidiram dar duas doses de vacinas em adolescentes. Investigação em Hong Kong, publicada anteontem, revela que risco de miocardites dispara na segunda toma em comparação com a primeira dose. Face aos resultados preliminares, o território chinês já alterou a política de vacinação para adolescentes desde Setembro do ano passado. Em Portugal não se sabe quantos adolescentes tomaram duas doses nem quantas foram as miocardites registadas por causa da vacina contra a covid-19.
Estudos internacionais começam a revelar ter sido um erro vacinar adolescentes contra a covid-19, sobretudo em rapazes e administrando duas doses. Uma nova pesquisa, publicada anteontem na prestigiada revista JAMA Pediatrics, da American Medical Association, revelou que após a toma da segunda dose da vacina da Pfizer por adolescentes de Hong Kong se observou uma incidência de 39 casos de miocardites por 100.000 habitantes, ou seja, por cada 2.563 adolescentes vacinados com duas doses, um desenvolveu aquela grave infecção do coração.
Este problema levou, aliás, aquele território sob administração da China passasse a optar por apenas vacinar adolescentes com uma dose, uma vez que, neste caso, a incidência neste caso se revelou muito mais baixa (cerca de 5 casos por 100.000 vacinados). Em relação às adolescentes, o risco mostrou-se muito inferior: os rapazes apresentaram uma incidência seis vezes superior às raparigas na primeira toma (5,27 vs. 0,90 por 100.000 casos) e de quase oito vezes na segunda toma (39,02 vs. 4,97 por 100.000 casos).
Este estudo de coorte – que abrangeu adolescentes de ambos os sexos, dos quais 162.518 tomaram duas doses e 62.042 apenas uma dose – desenvolveu-se entre 10 de Março e 18 de Outubro do ano passado. Mas os resultados preliminares terão já mostrado ser evidente e elevado o risco de miocardites, pelo que as autoridades chinesas decidiram, em 15 de Setembro passado, que não se deveria administrar dose dupla.
Recorde-se que em Portugal, a Comissão Técnica de Vacinação contra a Covid-19 (CTCV) recomendou a vacinação universal quer para adolescentes quer para crianças. O polémico parecer sobre a vacinação de crianças feito a pedido da Direcção-Geral da Saúde (DGS) foi tornado público em Dezembro, por pressão política, mas não o referente aos adolescentes nunca foi revelado, nem qualquer outro.
O PÁGINA UM obteve um parecer da Comissão de Acesso aos Documentos Administrativos (CADA) que considera que a DGS teria de disponibilizar publicamente toda a documentação da CTVC, mas a directora-geral da Saúde, Graça Freitas, mantendo uma postura de obscurantismo, continua a recusar essa obrigação legal e ética.
O PÁGINA UM tentou, no início da passada semana, obter comentários sobre esta matéria de todas as forças políticas com assento no futuro Parlamento (PS, PSD, Chega, Bloco de Esquerda, Iniciativa Liberal, PAN e Livre), mas nenhuma mostrou ainda qualquer preocupação em responder.
Aliás, o secretismo da DGS chega ao ponto de nem sequer divulgar, no seu boletim diário do plano de vacinação, o número de adolescentes vacinados entre os 12 e aos 17 anos, nem indica se vai recomendar doses de reforço ao longo deste ano.
De igual modo, o Infarmed mantém a recusa de permitir ao PÁGINA UM o acesso ao Portal RAM, que identifica e quantifica os efeitos adversos das vacinas em cada idade.
Em carta à CADA, o presidente do Infarmed, Rui dos Santos Ivo, defende que o acesso aos dados do Portal RAM, “recolhidos exclusivamente no âmbito da farmacovigilância, correndo o risco de poderem ser analisados por não-especialistas, tem um elevado potencial para criar um alarme social totalmente desnecessário e infundado”.
[N.D. O director e jornalista do PÁGINA UM, Pedro Almeida Vieira, é sócio da Associação Portuguesa de Epidemiologia]
Estes novos dados do estudo de Hong Kong mostram também que, afinal, os riscos de miocardites em adolescentes após a toma da vacina contra a covid-19 são muito superiores àqueles que foram apontados pela Pfizer e até pelos estudos iniciais que, por exemplo, a própria CTVC utilizou.
Em Dezembro passado, os membros da CTVC usaram estudos não publicados e sem revisão de pares (peer review), ignorando também as recomendações de diversos pediatras para se avançar para a vacinação apenas de crianças e adolescentes de risco.
Também anteontem, um estudo publicado na revista Current Issues in Molecular Biology por investigadores, revelou que a vacina da Pfizer “é capaz de entrar na linha celular de fígado humano”, tendo sido utilizadas células hepáticas em vitro. Os investigadores têm estado, aliás, a procurar conhecer se existe uma relação directa entre a vacinação contra a covid-19 e casos de hepatite autominume.
O bastonário da Ordem dos Médicos, Miguel Guimarães, decidiu esta semana decretar o fim do gabinete de crise dedicado à covid-19. O PÁGINA UM foi escrutinar quanto receberam da indústria farmacêutica, durante a pandemia, os seus 10 membros, a saber: Filipe Froes (coordenador), António Sarmento, Carlos Robalo Cordeiro, José Poças, Ana Maria Correia, Ricardo Mexia, António Diniz, António Vaz Carneiro, Vítor Almeida e Patrícia Pacheco.
Sete dos 10 médicos que integraram o Gabinete de Crise contra a Covid-19 da Ordem dos Médicos – extinto esta semana pelo bastonário Miguel Guimarães – receberam verbas de farmacêuticas durante a pandemia, totalizando, no conjunto 200.551 euros, de acordo com o Portal da Transparência e Publicidade do Infarmed.
De entre os elementos designados por este grupo de trabalho – que teve o pneumologista Filipe Froes como coordenador e seu membro mais activo –, apenas António Sarmento (director de infecciologia do Hospital de São João e primeiro português a ser vacinado contra a covid-19), Ana Maria Correia (directora da delegação do Porto do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge) e Vítor Almeida (médico no Hospital de Viseu) não receberam desde 2020 qualquer verba de farmacêuticas ou outras entidades associadas ao mundo dos medicamentos.
António Vaz Carneiro, professor catedrático jubilado da Faculdade de Medicina de Lisboa e presidente do Instituto de Saúde Baseada na Evidência, também pode ser incluído nesse grupo: apenas recebeu 226 euros da Grünenthal para um webinar no ano passado.
Miguel Guimarães (à direita), urologista e bastonário da Ordem dos Médicos, ao lado de Carlos Robalo Cordeiro, sendo galardoado com a medalha do Congresso de Pneumologia do Centro-Ibérico, em Setembro do ano passado
Já quanto aos outros seis, os montantes vão desde os 6.123 euros recebidos por Ricardo Mexia – antigo líder da Associação Nacional de Médicos de Saúde Pública e actual presidente da Junta de Freguesia do Lumiar – até aos 113.405 euros do pneumologista Filipe Froes, um dos médicos com maiores ligações ao mundo farmacêutico.
Médico no Hospital Pulido Valente e consultor da Direcção-Geral da Saúde (DGS) – integrando a equipa que definiu as terapêuticas e escolheu os fármacos a usar nos internados por covid-19 –, Filipe Froes arrecadou mais de 380 mil euros do sector farmacêutico desde 2013.
Nos anos da pandemia, a partir de 2020, contabilizou já 113.405 euros, com a Merck Sharp & Dohme (23.850 euros) à cabeça, seguindo-se a Pfizer (21.852 euros) – produtora de vacinas contra a covid-19 – e a Sanofi (20.301 euros), produtora de vacinas contra a gripe. Froes também recebeu 13.030 euros da Gilead – fabricante do remdesivir, do qual foi consultor – e 8.250 euros da AstraZeneca, outra produtora de vacinas contra a covid-19. Durante a pandemia, Filipe Froes – uma das mais reconhecidas personalidades ouvidas pelos media – estabeleceu relações comerciais com 14 farmacêuticas.
Valores recebidos pelos membros do Gabinete de Crise da Ordem dos Médicos das farmacêuticas desde 2020. Fonte: Infarmed.
Também Carlos Robalo Cordeiro – antigo presidente da Sociedade Portuguesa de Pneumologia e actual director da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra e Serviço de Pneumologia do Centro Hospitalar desta cidade – teve também boas relações com as farmacêuticas, enquanto integrou o gabinete da Ordem dos Médicos.
Quer a título pessoal quer através da sua empresa por quotas (Robalo Cordeiro, Lda.), este pneumologista recebeu, desde 2020, um total de 37.664 euros de uma dezena de farmacêuticas, entre as quais a Sanofi (7.128 euros), a Boehringer Ingelheim (6.690 euros) e a Merck Sharp & Dohme (5.957 euros). No seu portefólio estão também a AstraZeneca (3.854 euros) e a Pfizer (2.664 euros). Robalo Cordeiro foi recentemente eleito presidente da European Respiratory Society, onde não surge, à data de hoje, ainda qualquer menção a conflitos de interesse, apesar de os ter.
Quanto ao pneumologista António Diniz – que chegou a presidir à estrutura hospitalar de contingência para a cidade de Lisboa (EHCL), durante a primeira vaga da pandemia – teve igualmente boas relações com as farmacêuticas enquanto andou pelo gabinete de crise da Ordem dos Médicos. Desde 2020, amealhou do sector farmacêutico um total de 20.185 euros, dos quais 8.258 euros da Gilead, tendo sido consultor desta farmacêutica para o remdesivir. E, claro, também recomendou, como membro da equipa de consultores da DGS, este ineficaz fármaco – que custou cerca de 20 milhões de euros aos cofres do Estado – como terapêutica anti-covid.
Outro dos elementos do gabinete de crise foi José Poças, director de serviços no Hospital de Setúbal, que conseguiu encontrar tempo para consultadorias a três farmacêuticas: a ViiVHIV (uma subsidiária da GalxoSmithKline, da qual recebeu 8.854 euros), a incontornável Gilead (6.390 euros) e a AbbVie (1.353 euros). No total, levou para casa em tempos de pandemia mais 16.597 euros.
Por fim, ambos com recebimentos na casa dos 6.000 euros, encontramos Patrícia Pacheco (infecciologista no Hospital Amadora-Sintra) e Ricardo Mexia. No primeiro caso, esta médica recebeu sobretudo apoios da ViiVHIV (5.836 euros), a que acresceram somente mais 350 euros da Gilead e 125 euros da Merck Sharp & Dohme.
Filipe Froes (primeiro a contar da esquerda) e António Diniz (terceiro) durante um evento na Ordem dos Médicos sobre a pandemia, organizada em parceria com uma empresa de comunicação.
Já Ricardo Mexia – que foi também uma das figuras mais mediáticas durante a pandemia – teve relações comerciais com três farmacêuticas em eventos pontuais: Merck Sharp & Dohme (2.200 euros), Gilead (1.875 euros) e Pfizer (548 euros). Recebeu ainda 1.500 euros de uma consultora, a Exigo, que coordena a Pharmascientic, uma rede científica das farmácias hospitalares.
No total, para os especialistas do extinto Gabinete de Crise da Ordem dos Médicos, todos muito próximos de Miguel Guimarães, a Merck Sharp & Dohme – que perdeu a “corrida para as vacinas”, mas tinha grandes esperanças em comercializar um anti-viral contra a covid-19 (o molnupiravir) – foi a farmacêutica com mais apoios (41.298 euros), seguindo-se a Gilead – interessada no negócio do remdesivir, com 29.902 euros – e a Sanofi (27.429 euros), que acabou também por beneficiar indirectamente com a pandemia, porquanto, mesmo com o “desaparecimento” da gripe aumentou as vendas da vacina quadrivalente contra o vírus influenza. A Pfizer e a AstraZeneca gastaram 25.064 e 12.104 euros, respectivamente.
Como habitualmente, antes da aprovação de regulamentos, a Comissão Europeia lança uma consulta pública aos cidadãos. Por regra, as iniciativas contam com nula ou escassa participação. Desta vez, com a intenção de manter os certificados digitais por mais um ano, os comentários multiplicam-se: são já 130 vezes mais do que os da segunda iniciativa com maior participação. E ainda faltam mais de 40 dias para a consulta terminar.
A intenção da Comissão Europeia em prolongar a vigência do certificado digital da covid-19, neste momento em fase de consulta pública, está a sofrer uma contestação jamais vista. De acordo com os registos no site desta entidade, foram já registadas, até às 20 horas de hoje, um total de 61.532 comentários. A consulta pública foi iniciada no passado dia 3 e prolongar-se-á até 8 de Abril.
Em causa está a alteração do regulamento do Parlamento Europeu e do Conselho que criou, em Junho do ano passado, “um regime para a emissão, regime para a emissão, verificação e aceitação de certificados interoperáveis de vacinação, teste e recuperação da COVID-19 (Certificado Digital COVID da UE)”, com o objectivo de “facilitar a livre circulação de pessoas durante a pandemia”.
Estes certificados acabaram, contudo, por ser usados pelos diversos Estados-membros, incluindo Portugal, para sobretudo discriminar não-vacinados (mesmo se recuperados há mais de seis meses) no acesso a determinados espaços.
A Comissão von der Leyen assume na nova proposta, que visa prolongar por mais um ano este documento digital, que a sua existência contribuiu decididamente para o aumento das taxas de vacinação. Recorde-se que a União Europeia, em conjunto, já comprou vacinas às farmacêuticas até 2023.
Tendo em conta que as vacinas afinal não evitam a infecção e a covid-19 se está a tornar endémica, sobretudo com o surgimento da variante Omicron, a proposta da Comissão Europeia está longe de ser pacífica.
Logo na primeira semana de consulta pública, o site da Comissão Europeia recebeu cerca de 24 mil comentários, então com particular destaque dos italianos. Contudo, nas últimas duas semanas, a participação aumentou substancialmente e alargou-se o espectro geográfico. Neste momento, os comentários provenientes da Itália são já apenas 28% do total, tendo a França (23%), Holanda (21%), Alemanha (8%) e Bélgica (7%) ganhado relevância.
A maioria dos comentários é de cidadãos da União Europeia, mas também já deram opinião mais de duas centenas de empresas, 53 universidades, 37 entidades públicas, 56 organizações não-governamentais, de consumidores e de ambiente, entre outras. A participação de portugueses ainda é pouco significativa: apenas 839 comentários (1,4% do total). No dia 15 deste mês eram 451.
Embora seja praticamente impossível apresentar uma estatística detalhada, mostra-se notório um claro sentimento contrário às pretensões da Comissão Europeia, com quase todas as opiniões a centrarem-se no carácter anticonstitucional, segregacionista e ineficaz, como instrumento de controlo da pandemia, do certificado digital.
Contudo, o maior destaque desta consulta pública – que consubstancia a polémica que encerra – é a desmesurada participação pública.
Com efeito, actualmente, a Comissão Europeia tem em curso 91 iniciativas legislativas que versam as mais variadas temáticas, nomeadamente finanças, economia, agricultura, alimentação, transportes, direitos humanos e igualdade, energia e ambiente.
Uma parte considerável (53 em 90) têm menos de uma dezena de comentários. Muitas nem sequer recebem ainda uma única opinião, mesmo se o tema é relevante. É o caso, por exemplo, da avaliação da Directiva Igualdade Racial ou da revisão das regras macroprudenciais para limitar o risco sistémico – ou seja, para reduzir uma nova crise financeira.
De resto, apenas 10 iniciativas tiveram, até agora, mais de uma centena de comentários, grande parte das quais relacionadas com alimentação, energia e ambiente, que são historicamente temáticas com activa participação pública.
Contudo, a distância é colossal face à participação pública sobre os certificados digitais.
Com efeito, de acordo com os dados da Comissão Europeia, a revisão do regulamento de rotulagem de alimentos é a segunda iniciativa com maior número de comentários (472), seguindo-se um diploma sobre os processos de concessão de licenças e contratos de aquisição de energia renovável (341) e a revisão do regulamento REACH sobre substâncias tóxicas (325).
Na verdade, a participação pública sobre a extensão dos certificados digitais é, neste momento, quase 60 vezes superior à de todas as outras 90 iniciativas juntas. E ainda faltam 43 dias para terminar a consulta. A Comissão Europeia refere que “todos os comentários recebidos serão resumidos (…) e apresentados ao Parlamento Europeu e ao Conselho a fim de contribuir para o debate legislativo”.
Numa luta pela verdade e pelo rigor científico, o PÁGINA UM tem tentado obter informação oficial com rigor. A Direcção-Geral da Saúde recusa sistematicamente. A Comissão de Acesso aos Documentos Administrativos vai aprovando pareceres, a conta-gotas, mas adiando ou não aprovando outros, sobretudo quando são matérias políticas mais sensíveis.
Em dois anos de pandemia, o PÁGINA UM – que se encontra online somente desde 21 de Dezembro de 2021 – foi o único órgão de comunicação social a solicitar à Direcção-Geral da Saúde (DGS) o acesso a bases de dados oficiais e a outros documentos administrativos ao abrigo da Lei do Acesso aos Documentos Administrativos (LADA).
Este diploma legal, criado ainda na década de 1990, visa promover o chamado “arquivo aberto” na Administração Pública, e no caso da pandemia mostra-se essencial para compreender com exactidão o impacte da covid-19.
Até à data, o PÁGINA UM já solicitou informação distinta, mas bastante detalhada, em oito situações concretas, invocando sempre a LADA. Com excepção de um pedido ainda com o prazo legal de 10 dias em curso, a directora-geral da Saúde tem optado, de forma sistemática, em indeferir tacitamente – isto é, opta por manter o obscurantismo da Administração Pública, e nem sequer responde.
Entretanto, perante as ausências de resposta, de entre as sete queixas que o PÁGINA UM já endereçou à Comissão de Acesso aos Documentos Administrativos (CADA), esta entidade a funcionar junto da Assembleia da República já tomou cinco decisões este ano, estando ainda duas por decidir. Destas duas, há uma cujo parecer teve já a sua votação adiada por duas vezes, por ser matéria politicamente sensível.
Trata-se do acesso à base de dados do Sistema Nacional de Vigilância Epidemiológica (SINAVE), cuja queixa do PÁGINA UM foi endereçada à CADA em 10 de Novembro do ano passado. Através do SINAVE consegue-se, por exemplo, calcular com rigor e isenção a taxa de letalidade por idade discriminada, ou mesmo a taxa de letalidade dos vacinados e não-vacinados.
A outra queixa que ainda está para análise – neste caso dentro do prazo de 40 dias que a CADA tem para conceder um parecer – refere-se à base de dados e/ou relatórios referentes aos óbitos discriminados nos lares de idosos durante a pandemia. Portugal é um dos poucos países que nunca apresentou publicamente um relatório sobre o verdadeiro impacte da covid-19 nas denominadas estruturas residenciais para pessoas idosas (ERPI).
Nas restantes cinco queixas, a CADA já concedeu os respectivos pareceres: dois em Janeiro, e os outros três na semana passada. De entre estes cinco, apenas um não foi favorável às pretensões do PÁGINA UM, que entretanto apresentou uma impugnação, ainda não decidida pela CADA. Se a CADA mantiver a decisão, será obrigada a enviar o processo para o Ministério Público junto do Tribunal Administrativo de Lisboa, conforme determina a lei.
Neste caso trata-se também de mais outra base de dados politicamente sensível: o Sistema de Informação de Certificados de Óbito (SICO). Através da consulta dessa base de dados, com informação introduzida por médicos legistas e sem manipulação possível da DGS ou do Governo, seria possível, em poucos minutos, detectar com exactidão o número de óbitos efectivamente atribuídos à covid-19. E também as alterações nos óbitos de outras doenças e afecções durante os anos da pandemia face aos períodos anteriores, uma vez que o SICO tem essa informação desde 2014.
De entre os quatro pareceres com “vitória” para o PÁGINA UM, destaca-se aquele que foi aprovado ainda em Janeiro, referente à totalidade dos documentos da Comissão Técnica de Vacinação contra a Covid-19, que incluem não apenas os referentes às crianças, mas também todos aqueles que foram sendo elaborados desde a sua criação. Apesar desse parecer ter sido já aprovado por unanimidade pela CADA em Janeiro, Graça Freitas continua a recusar o acesso.
Podendo recorrer a Tribunal Administrativo para obrigar a DGS a ceder a documentação, o PÁGINA UM optou por requerer comentários sobre esta recusa de Graça Freitas aos diversos partidos com assento parlamentar, aguardando resposta.
Relativamente aos outros três pareceres aprovados também por unanimidade pela CADA, a informação que se espera ter acesso também é fundamental para aferir o impacte da covid-19 e avaliar a gestão pública da pandemia.
O primeiro parecer favorável obtido este mês pelo PÁGINA UM refere-se à queixa por ausência de autorização de acesso a documentos sobre surtos de covid-19 nos hospitais, ou seja, infecções nosocomiais em doentes internados por outras causas.
Em concreto, o PÁGINA UM requereu o “número total de infeções (casos positivos) por covid-19, e eventualmente discriminadas por unidade hospitalar e por mês (ou outro qualquer período temporal), adquiridas durante o internamento por outras causas, ou seja, que seja possível aferir do número de infeções nosocomiais de covid-19, desde o início da pandemia até à data da consulta a efetuar”. E ainda o “número total de óbitos atribuídos à covid-19 em doentes previamente internados por causas não-covid e que sofreram infeção nosocomial de covid-19 durante o internamento, e eventualmente discriminadas por unidade hospitalar e por mês (ou outro qualquer período), desde o início da pandemia até à data da consulta a efetuar”.
O PÁGINA UM tem indicações da existência de casos dramáticos de elevada mortandade em diversas unidades, mas essa informação tem de ser confirmada documentalmente.
O segundo parecer é relativo à ausência de acesso a documentos que mostrem a positividade dos testes PCR e de antigénio – isto é, número de testes e número de casos positivos – ao longo da pandemia, mas discriminados por idade ou agregada por faixa etária, e não apresentados na sua totalidade.
Aceder a essa informação permitiria saber, por exemplo, se se justificava o alarmismo nas escolas, ou se os lares de idosos (ou o grupo etário mais associado) estiveram mais sujeitos a infecções.
Por fim, o terceiro parecer refere-se à recusa de acesso a documentação que revela a evolução da incidência das diversas variantes do SARS-CoV-2 ao longo do tempo, e sobretudo as distintas taxas de letalidade, especialmente das variantes Alfa, Delta e Ómicron, tanto nos vacinados como nos não-vacinados.
A Gilead conseguiu ver aprovadas compras avultadas de um seu fármaco contra a covid-19 que veio a ser desaconselhado pela Organização Mundial de Saúde. Em Portugal foram cerca de 20 milhões de euros gastos, e poderia ter sido ainda mais. Mas, ao contrário de outros medicamentos “malditos”, como a ivermectina, o remdesivir sempre contou com o apoio de muitos médicos bem colocados, quatro dos quais integram a equipa da DGS responsável pelas terapêuticas a aplicar nos hospitais. E dois são mesmo membros do Gabinete de Crise da Ordem dos Médicos, escolhidos pelo bastonário Miguel Guimarães. Todos receberam dinheiro directo da Gilead, e por causa do remdesivir. Não foram os únicos. O PÁGINA UM revela um caso que deveria ser de “polícia”.
A Gilead, através de um acordo com a Comissão von der Leyen, conseguiu vender, durante a pandemia, largas centenas de milhões de euros do fármaco remdesivir – um caro antiviral criado para o ébola –, mas que um poderoso lobby médico promoveu como remédio milagroso contra a covid-19, até que a Organização Mundial da Saúde (OMS) o desaconselhou em 20 de Novembro de 2020.
A própria OMS destacou que esse medicamente, comercializado sob o nome Veklury, “não é recomendado para pacientes internados com covid-19, independentemente da gravidade da doença, pois actualmente não há evidências de que melhore a sobrevida ou que evite a ventilação artificial”. Além disso, surgiram fortes suspeitas de efeitos renais graves.
Mas já era tarde para os cofres públicos portugueses. No mês anterior, a Direcção-Geral da Saúde (DGS) fora mandatada pelo Governo de António Costa para comprar doses de Veklury num máximo de 35.376.645 euros, tendo o primeiro lote no valor de quase 19,5 milhões de euros sido comprado ainda em 2020. O primeiro contrato da DGS foi assim assinado em 23 de Outubro. Na Resolução de Conselho de Ministros, além de se referir o acordo feito pela Comissão Europeia, estava bem expresso uma justificação alegadamente terapêutica: o remdesivir estava “recomendado para os doentes internados com covid-19, de acordo com a Norma 004/2020” da DGS.
Negócio de milhõs
A decisão da OMS não era surpreendente, porque, na verdade, o remdesivir nunca antes mostrara resultados atractivos, excepto para determinados “especialistas” que, por exemplo, em Portugal sempre glorificaram o fármaco da Gilead. Quatro deles sempre estiveram incluídos na equipa de especialistas da DGS, que elaboraram a tal Norma 004/2020: Filipe Froes, Fernando Maltez, António Diniz e Maria João Brito. Todos receberam verbas da Gilead, e todos especificamente por causa do remdesivir.
As evidentes ligações destes médicos à Gilead mostraram-se logo nos primeiros meses da pandemia, e envolveram já três deles: em 16 de Julho de 2020, participaram num webinar entre as 19:00 e as 20:00 horas intitulado “Avanços no tratamento antiviral da covid-19: remdesivir, o primeiro tratamento aprovado”.
Com moderação de Filipe Froes – pneumologista do Hospital Pulido Valente, mas então apresentado como representante da Ordem dos Médicos para a Covid-19 –, contou com a participação de um médico espanhol (Alex Soriano) e de quatro médicos portugueses: Fernando Maltez (director do serviço de doenças infeciosas do Hospital Curry Cabral), Maria João Brito (coordenadora da unidade de infeciologia do Hospital Dona Estefânia), Tomás Fonseca (médico internista do Centro Hospitalar da Universidade do Porto) e Nuno Germano (responsável da unidade de cuidados intensivos no Hospital Curry Cabral).
Apenas por esta participação, Filipe Froes (através da sua empresa Terra & Froes) recebeu 1.230 euros, enquanto Fernando Maltez e Maria João Brito arrecadaram, cada um, 775 euros. Nuno Germano (através da sua empresa Germano & Emílio – Serviços de Saúde) arrecadou 630 euros, um pouco mais do que Tomás Fonseca, que amealhou 560 euros.
Filipe Froes, António Diniz e Francisco Antunes: três médicos (em conversa na Ordem dos Médicos) que receberam dinheiro da Gilead e que sempre elogiaram o remdesivir.
Médico no Hospital Pulido Valente, o pneumologista Filipe Froes – que lidera também o Gabinete de Crise da Ordem dos Médicos para a Covid-19 – é um dos clínicos portugueses com maiores ligações à indústria farmacêutica. Tendo arrecadado mais de 380 mil euros deste sector desde 2013 – com destaque para a Pfizer (134,5 mil euros), Merck Sharp & Dohme (85,5 mil euros) e BIAL (47,3 mil euros) –, a Gilead não poderia deixar de estar no seu radar. Facturou 13.480 euros em 2020 e 2021 desta farmacêutica.
Aliás, Froes aumentou assim o seu portefólio, porque antes da pandemia não tivera relações com essa empresa norte-americana. E fez de tudo para merecer as benesses da Gilead: em 2020 moderou dois webinares e integrou o grupo de consultores (advisory board) para o remdesivir; em 2021 foram mais quatro eventos.
O piscar de olhos de Filipe Froes à Gilead começou mesmo antes do surgimento do SARS-CoV-2 em território nacional. Em 29 de Janeiro de 2020, já falava naquele fármaco como potencial tratamento da covid-19, em entrevista ao Público. Em Abril desse ano, em plena “primeira vaga”, reforçou a ideia, em entrevista à Rádio Renascença. E continuou, sempre que lhe davam espaço mediático e oportunidade, sempre falou bem do remdesivir, especificamente. Mesmo já depois da OMS ter desaconselhado o seu uso, como ficou patente em declarações ao site Medic News, em 24 de Março do ano passado, no âmbito de mais um webinar patrocinado pela Gilead.
Quanto a António Diniz – que também se destacou como um dos membros do Gabinete de Crise da Ordem dos Médicos para a Covid-19, escolhido pelo bastonário, o urologista Miguel Guimarães – consta na Plataforma da Transparência e Publicidade do Infarmed como tendo recebido, em duas tranches, 2.164,8 euros da Gilead especificamente como consultor (advisory board) para o remdesivir. Desde o início da pandemia, recebeu da Gilead 7.950,13 euros.
Fernando Maltez, por sua vez – que também é consultor da DGS – viu na pandemia uma oportunidade de negócio. Através de webinares e consultorias, recebeu da Gilead, em 2020 e 2021, um total de 17.342 euros. Do sector farmacêutico recebeu, neste período, 56.952 euros.
Especificamente sobre o remdesivir também foi convidado para consultor (advisory board) e integrou três webinares que debateram os alegados benefícios deste fármaco. Chegou mesmo a participar em dois programas do Rádio Observador para falar sobre a pandemia, supostamente como especialista independente, mas recebeu, para isso, 2.460 euros da própria Gilead.
Um dos webinares sobre o remdesivir, patrocinado e pago pela Gilead, e apoiado pela Sociedade Portuguesa de Medicina Interna.
As ligações de Maria João Brito à Gilead são mais ténues. Além da participação no webinar de Julho de 2020, pelo qual recebeu 774,90 euros, apenas teve outro apoio em 2021 desta farmacêutica no valor de 622 euros para um congresso de pediatria em Lisboa. Desde o início da pandemia recebeu 9.400,6 euros de nove farmacêuticas distintas.
Mas existem mais ligações fortes de conceituados médicos com o remdesivir e a Gilead ao longo da pandemia. Um desses casos é do Francisco Antunes, professor jubilado da Faculdade de Medicina de Lisboa.
Em 2 de Maio de 2020, afirmou à revista Sábado que este anti-viral era “muito credível”, acrescentando ainda que o facto de um estudo então revelado nos Estados Unidos “ter sido anunciado por Anthony Fauci, dá-lhe muita credibilidade”. No mês seguinte, por uma sessão de formação no âmbito deste medicamento, ganharia 1.390 euros, pagos pela Gilead. Passado menos de 30 dias, a mesma farmacêutica desembolsaria mais 2.004,90 euros para o compensar por uma formação interna dedicada ao… remdesivir.
Apesar de reformado, Francisco Antunes desdobrou-se, ao longo dos dois anos de pandemia, em intervenções um pouco por todo o lado, sobre a covid-19 e os avanços científicos no seu tratamento. Foi também presença habitual na imprensa, sempre interessada em “especialistas”. Também interessada nele esteve a Gilead. Ao longo de 2021, a Gilead pagou-lhe 21.970 euros para serviços de consultoria para a criação de um website sobre a covid, o qual é tão útil público que somente se acede por password.
Note-se que Francisco Antunes era já cara conhecida da Gilead. Antes da pandemia fizera parte da comissão de avaliação de prémios de investigação promovidos por esta farmacêutica (programa Génese), e em 2019 recebera 4.022 euros em diversos eventos.
Contudo, a partir de 2020 a sua conta bancária teve transferências de 27.726 euros proveniente da Gilead. Recebeu, já agora, no mesmo período, 21.999 euros da Merck Sharp & Dohme.
Uma entidade ligada à Universidade de Lisboa – a Associação para Investigação e Desenvolvimento da Faculdade de Medicina (AIDFM) – também beneficiou bastante com a Gilead e especificamente com o remdesivir.
Durante o ano de 2020, esta entidade recebeu desta farmacêutica 15.375 euros para um estudo intitulado “Análise do impacto de remdesivir na capacidade hospitalar do SNS” e mais 30.750 euros para o “Estudo de suporte do pedido de financiamento público de remdesivir no tratamento da covid-19”.
Já em 2021, recebeu mais verbas para o “Estudo comparativo sobre a utilização de remdesivir” (9.225 euros) e “Actualização do dossier de valor terapêutico de remdesivir (Veklury) na indicação aprovada” (12.300 euros). Este ano, no Portal da Transparência e Publicidade do Infarmed constam ainda mais dois estudos pagos pela Gilead: “Análise descritiva da utilização de remdesivir” (9.225 euros) e uma actualização do valor terapêutico (mais 12.300 euros).
Apesar de ser uma associação sem fins lucrativos criada por uma universidade pública, nenhum destes seis estudos – pelos quais recebeu um total de 89.175 euros – foi divulgado nem a direcção da AIDFM respondeu aos pedidos de informação do PÁGINA UM, que incluíam cópia dos relatórios efectuados, o mesmo tendo sucedido com a Gilead Portugal.
A farmacêutica norte-americana foi também particularmente generosa com a Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares – que já foi presidida pela ministra da Saúde Marta Temido –, a quem entregou, durante os dois anos da pandemia, apoios no valor de 95.442,5 euros. Uma outra entidade bastante beneficiada durante a pandemia foi a Sociedade Portuguesa de Medicina Interna, que obteve um inédito apoio de 76.260 euros no ano passado. Em 2020 foram 14.967 euros.
Destaque-se, por fim, que o PÁGINA UM solicitou ao Infarmed o acesso à base de dados das reacções adversas (Portal RAM) para analisar os problemas detectados no uso terapêutico do remdesivir – até porque a compra do segundo lote previsto foi drasticamente reduzida, porque o fármaco deixou praticamente de ser usado -, mas esta entidade não respondeu. Aguarda-se o parecer da Comissão de Acesso aos Documentos Administrativos (CADA) sobre a queixa apresentada. A DGS também não respondeu a qualquer questão colocada pelo PÁGINA UM sobre esta matéria.
Nos congressos médicos não se discute apenas Ciência. Talvez se deva dizer que também se debate Ciência, porque, na verdade, esses eventos são sobretudo encontros de médicos onde se confirma a influência das farmacêuticas. O PÁGINA UM revela os números conhecidos do último Congresso Português de Pneumologia, e revela quem pagou e quem recebeu. E quanto. Basta conferir a lista no final. Por ordem alfabética. Não vai de A a Z, porque acaba em V, mas são quase quatro centenas de nomes. Há 677 pneumologistas em Portugal.
562.381,60 euros. Este foi o pecúlio que a Sociedade Portuguesa de Pneumologia (SPP) arrecadou da indústria farmacêutica apenas para a organização do seu recente congresso nacional, que se realizou entre 11 e 13 de Novembro do ano passado, num luxuoso hotel de cinco estrelas em Vilamoura.
Cerca de dois terços (65,6%) deste pecúlio foi financiamento directo das farmacêuticas que desejaram expor o seu nome em uma das muitas iniciativas, cursos e outros eventos, onde a covid-19 foi “estrela”, embora não o tema único.
Quase todos os eventos contaram com um patrocínio de uma farmacêutica, com excepção da esmagadora maioria dos debates sobre a pandemia, onde, talvez por pudor da organização, nenhuma das principais farmacêuticas com fármacos contra a covid-19 quis estar com o nome associado. Ficava mal para a imagem de independência, claro.
Mas, contas feitas, houve farmacêuticas interessadas em apoiar a SPP: 13, apenas para o congresso, destacando-se a Boehringer Ingelheim (113.400 euros), seguindo-se a Pfizer (70.000 euros) e a BIAL (54.733 euros).
A parte restante – num total de 193.413,20 euros –, gasta pelas farmacêuticas, e que acabou por entrar também nos cofres da SPP, foi para custear inscrições e a moderação de cerca de 400 participantes, quase todos pneumologistas.
Como, segundo o Instituto Nacional de Estatística, estavam inscritos 677 pneumologistas em Portugal no ano de 2020, significa então, seguramente, que mais de metade dos médicos desta especialidade têm, em maior ou menor grau, ligações financeiras com farmacêuticas.
E isto apenas analisando inscrições de um simples congresso, onde a “independência” se mede em querer ou não gastar umas dezenas ou centenas de euros das finanças pessoais.
Com efeito, os pagamentos das inscrições neste congresso, em função dos eventos, situaram-se entre os 71 euros pagos pela Novartis para uma inscrição da pneumologista Andreza Lopes Machado e os 1.230 euros pagos pela BIAL à pneumologista Ana Sofia Oliveira, neste caso para lhe custear os incómodos de uma moderação.
Aliás, no âmbito deste congresso, a BIAL também pagou 1.230 euros a Carlos Robalo Cordeiro, e a Sanofi pagou 1.159,89 euros a Filipe Froes. Estes dois pneumologistas, com históricas ligações à indústria farmacêutica, foram signatários da denúncia à Ordem dos Médicos do médico Jorge Amil Dias, presidente do Colégio de Pediatria daquela associação profissional, por delito de opinião.
Só a Novartis – que não financiou directamente a SPP – gastou 48.294 euros no pagamento de 78 inscrições. A Boehringer Ingelheim gastou um pouco mais (49.678 euros) para desafogar as finanças de 104 profissionais da saúde, pagando-lhes as inscrições no congresso. Como também deu à SPP, de uma só assentada, 113.400 euros em patrocínios, os três “dias de festa” deste congresso resultou numa factura de 163.078 euros.
A BIAL desembolsou também valores consideráveis, superiores a 20 mil euros, para pagar inscrições de 38 participantes, enquanto a Mylan teve de gastar pouco mais de 16 mil para deixar 50 pneumologistas satisfeitos. Note-se que houve casos de profissionais de saúde que, por se terem inscrito em mais do que um evento ou curso, recorreram a mais do que uma farmacêutica.
Outras duas empresas deste sector – a Nippon Gases e a Gasoxmed – também pagaram inscrições acima dos 10 mil euros. A Pfizer ficou um pouco aquém: aos 70.000 euros entregues directamente à SPP, também descartou encargos a 27 pneumologistas e/ou outros profissionais de saúde, pagando-lhes inscrições.
O PÁGINA UM não questionou especificamente a SPP para saber se houve algum participante que, enfim, tenha pago a inscrição do seu próprio bolso, mas questionou esta sociedade médica no âmbito desta investigação jornalística, pedindo-lhe igualmente informação financeira, e não obteve qualquer reacção.
Lista completa de profissionais de saúde que receberam verbas de farmacêuticas para inscrição no XXXVII Congresso Português de Pneumologia (incluindo também apoios directos à SPP) – Fonte: Infarmed.
Adriana Sofia Correia Dias (Boehringer Ingelheim) – 595 euros Alcina Maria Vicente Tavares Barroso Vicente (Nippon Gases) – 415 euros Alessandra Alencastro Pinheiro (Mylan) – 250 euros Alexandra Margarida Félix Carvalho (Boehringer Ingelheim) – 645 euros Alexandra Maria Almeida Carreiro (Boehringer Ingelheim) – 220 euros Amélia Simas Ribeiro (Pfizer) – 431 euros Ana Alves Dias da Silva (Novartis) – 939,03 euros Ana Catarina Costa Custodio (Boehringer Ingelheim) – 765 euros Ana Catarina Rodrigues da Costa (Gasoxmed) – 580 euros Ana Cristina Azenha da Silva Lucas (Mylan) – 250 euros Ana Cristina de Mendonça Galveia (Nippon Gases) – 375 euros Ana Cunha Fonseca (Boehringer Ingelheim) – 435 euros Ana Daniela Silva Ferreira (Nippon Gases) – 665 euros Ana Filipa Ascensão Alves Santos (Novartis) – 426 euros Ana Filipa Caldeira Damásio (Pfizer) – 403 euros Ana Filipa Torres Silva (Mylan) – 475 euros Ana Filipa Torres Silva (Mylan) – 480 euros Ana Inês Ferrão (Gasoxmed) – 580 euros Ana Isabel Batista Correia (Boehringer Ingelheim) – 467,5 euros Ana Isabel Carvalhal Roque Loureiro (BIAL) – 831,43 euros Ana Isabel Carvalho Coutinho Alves Silva (Boehringer Ingelheim) – 220 euros Ana Isabel Correia Viseu (Pfizer) – 275 euros Ana Isabel Reis Santos (Boehringer Ingelheim) – 595 euros Ana Josefina Alves Gomes (Boehringer Ingelheim) – 495 euros Ana Luísa Ramos Costa e Silva (Novartis) – 426 euros Ana Luísa Santos Fonseca (Tecnifar) – 275 euros Ana Mafalda Van Zeller M Basto Goncalves (Novartis) – 526 euros Ana Margarida Antunes Cruz (BIAL) – 521,43 euros Ana Margarida Correia Valente A. Matias (Boehringer Ingelheim) – 150 euros Ana Margarida Correia Valente Agostinho Matias (Novartis) – 426 euros Ana Margarida Da Silva Gomes de Sousa Pires (Pfizer) – 389 euros Ana Margarida Ferreira Campos (Boehringer Ingelheim) – 595 euros Ana Margarida Mendes Carvalho (Boehringer Ingelheim) – 745 euros Ana Margarida Mestre (Mylan) – 475 euros Ana Patrícia Almeida Serra Fernandes (Boehringer Ingelheim) – 250 euros Ana Paula Capitão Costa Silva (Pfizer) – 220 euros Ana Pedro Cunha Craveiro (Boehringer Ingelheim) – 595 euros Ana Raquel Afonso Magalhaes Lopes (Boehringer Ingelheim) – 765 euros Ana Raquel Caldas Marcoa (Laboratório Medinfar) – 470 euros Ana Raquel Viana Silva (Novartis) – 275 euros Ana Rita Catarino Ferro (Gasoxmed ) – 765 euros Ana Rita Diegues Linhas (Laboratório Medinfar) – 200 euros Ana Rita Queiroz Rodrigues (Boehringer Ingelheim) – 585 euros Ana Rita Santos Fernandes (Boehringer Ingelheim) – 275 euros Ana Rita Sousa Osório (Gasoxmed ) – 865 euros Ana Sofia Alexandre Oliveira (BIAL) – 1230 euros Ana Sofia Maciel Campos Silva (Boehringer Ingelheim) – 765 euros Ana Sofia Martins Granadeiro (Novartis) – 326 euros Ana Sofia Moreira Pinto (Nippon Gases) – 535 euros Ana Sofia Silva Barroso (BIAL) – 596,43 euros Ana Teresa Silva Pereira Costa (Boehringer Ingelheim) – 220 euros Ana Veronica Santos Cardoso (Laboratório Medinfar) – 200 euros Anatilde Pagaimo Trindade (Boehringer Ingelheim) – 765 euros André Filipe Morgadinho Fabiano (Boehringer Ingelheim) – 615 euros André Gouveia Santos (Mylan) – 375 euros Andrea Suzana Teixeira Lopes Machado (Novartis) – 71 euros Ângela Mafalda Mouco Martins (Nippon Gases) – 250 euros Ângela Maria Dias Cunha (Sanofi) – 740 euros Ângelo Costa Andrade (Boehringer Ingelheim) – 220 euros António Fernando Oliveira Meleiro (Novartis) – 520 euros António Filipe Tavares Junqueira M Serrano (Mylan) – 250 euros António Jaime Botelho Correia Sousa (BIAL) – 641,43 euros António José Santos Pinto Saraiva (Tecnifar) – 525 euros António José Simões Reis Martins Correia (Tecnifar) – 300 euros António Josué Martins Pinto (Novartis) – 700 euros António Manuel Fernandes Santos Costa (BIAL) – 220 euros António Manuel Gomes Miguel (Tecnifar) – 525 euros António Manuel Silva Duarte Araujo (BIAL) – 556,43 euros António Pedro Oliveira Ferreira Leite (Boehringer Ingelheim) – 467,5 euros António Pedro Sousa Fernandes (BIAL) – 629,7 euros Aurora Maria Caetano Lopes Bragança (Pfizer) – 481 euros Barbara Goncalves Rodrigues (Boehringer Ingelheim) – 515 euros Beatriz Martins (Novartis) – 150 euros Beatriz Santos Pacheco (Gasoxmed) – 495 euros Bebiana Conceição Fernandes Palheiros Conde (Novartis) – 800 euros Benedita Maria Amado Costa Neves Laranjeira (Mylan) – 325 euros Bernardo João Sousa Pinto (BIAL) – 391,43 euros Bruno Aguiar Mendes (Novartis) – 700 euros Bruno Gil Neto Gonçalves (Boehringer Ingelheim) – 220 euros Carina Maria Rolo Silvestre (Pfizer) – 633 euros Carla Alves Costa Cardoso (Novartis) – 675 euros Carla Augusta Goncalves Rodrigues Damas (Boehringer Ingelheim) – 220 euros Carla Cristina Sousa Nogueira (Laboratório Medinfar) – 750 euros Carla Marisa Fernandes Gomes (Boehringer Ingelheim) – 410 euros Carla Susana Maia Farinha Ribeiro (Novartis) – 700 euros Carlos Lopes Figueiredo (Novartis) – 700 euros Carlos Manuel Azevedo Alves (Nippon Gases) – 415 euros Carlos Miguel Gonçalves Fernandes (Mylan) – 250 euros Carlota José Freitas Olim (Mylan) – 250 euros Carolina Mariana da Silva Alves (Nippon Gases) – 555 euros Catarina Alexandra Bebiano Possacos (Nippon Gases) – 325 euros Catarina Alexandra Noga Salgueiro (Gasoxmed ) – 580 euros Catarina Carvalho Cordes Amaral Barata (Boehringer Ingelheim) – 220 euros Catarina Costa Dias Sousa (Boehringer Ingelheim) – 515 euros Catarina Lacerda Couto Oliveira (Novartis) – 800 euros Catarina Maria Cruz Ferreira (Boehringer Ingelheim) – 220 euros Catarina Santos Marques (Novartis) – 325 euros Cátia Abreu Gonçalves (Mylan) – 250 euros Cátia Isabel da Silva Vieira (Grifols) – 375 euros Cátia Sofia Alves Pimentel (Novartis) – 500 euros Cecília Rodrigues Pardal (Boehringer Ingelheim) – 220 euros Chantal Rodrigues Cortesao (Boehringer Ingelheim) – 745 euros Christine Silva Costa (Boehringer Ingelheim) – 150 euros Cláudia Catarina Ferreira Chaves Loureiro (Novartis) – 300 euros Cláudia Sabina Figueira Sousa (Boehringer Ingelheim) – 853,28 euros Cláudia Sofia Almeida Vicente (BIAL) – 341,43 euros Cláudia Sofia Raimundo Santos (Novartis) – 275 euros Cláudia Sófia Silva Martins (Pfizer) – 250 euros Cláudia Sófia Silva Martins (Pfizer) – 250 euros Cláudia Sofia Vaz Guerreiro (Novartis) – 645 euros Cláudia Vanessa Abreu Rocha (Mylan) – 250 euros Cláudia Vanessa Abreu Rocha (Mylan) – 250 euros Cristina Maria Sardinha Canhão Martinho (Nippon Gases) – 275 euros Cristina Maria Veiga Coxo (Mylan) – 375 euros Dália Nadina Cora (Mylan) – 475 euros Daniel Gonçalo Pereira Duarte (Pfizer) – 220 euros Daniel José Pires Coutinho (Mylan) – 220 euros Daniel Oliveira Reis (Nippon Gases) – 220 euros Daniel Pimenta Rocha (Boehringer Ingelheim) – 180 euros Daniel Pimenta Rocha (Nippon Gases) – 220 euros Daniela Costa Cardoso (Novartis) – 700 euros Daniela Costa Cardoso (Novartis) – 700 euros Daniela Maria Marques Costa Silva Alves (Janssen Cilag) – 325 euros Daniela Maria Sá Ferreira (Janssen Cilag) – 325 euros Daniela Sofia Madama Santos Silva (Merck Sharp & Dohme) – 481 euros David Noivo Gomes (Nippon Gases) – 635 euros David Tavares Teixeira Silva (Boehringer Ingelheim) – 615 euros Diana Alexandra Goncalves Pimenta (Pfizer) – 581 euros Diana Organista Machado (Novartis) – 850 euros Diana Sofia Costa Moreira Amorim (Novartis) – 600 euros Diana Sofia Moreira Sousa (Boehringer Ingelheim) – 320 euros Dina Maria Nunes Matias (Novartis) – 675 euros Diogo Emanuel Silva Ferreira Madureira Baptista (Novartis) – 600 euros Diogo Lopes Alves (Boehringer Ingelheim) – 580 euros Diva Fátima Goncalves Ferreira (Boehringer Ingelheim) – 220 euros Djaline Santiago Cardoso Silva (Mylan) – 325 euros Duarte Ari Diogo Rocha (Gasoxmed ) – 630 euros Dyna Torrado Martinez (BIAL) – 596,43 euros Edgar Luís Frutuoso Vaz (BIAL) – 646,43 euros Eduarda Filipa Fernandes Martins (Mylan) – 250 euros Eduarda Salomé Soares Seixas (Novartis) – 775 euros Elin Marina Pinheiro Almeida (Pfizer) – 379 euros Elisabete Maria Brás Patrício (Grifols) – 375 euros Elsa Guerreiro Cunha Fragoso (Novartis) – 800 euros Esmeraldo Correia Silva Alfarroba (Boehringer Ingelheim) – 530 euros Eurico Alves Rodrigues Silva (BIAL) – 731,43 euros Fábio Nascimento Pereira (Nippon Gases) – 465 euros Fernanda Isabel Macedo Gamboa (Boehringer Ingelheim) – 220 euros Fernanda Margarida Afonso De Sousa (Grifols) – 375 euros Fernanda Maria Pereira Nascimento (BIAL) – 681,43 euros Fernanda Paula Carvalho Santos (Janssen Cilag) – 220 euros Fernando Gregório Barbosa Calvário (Tecnifar) – 180 euros Fernando Luciano Prazeres Meneses (Boehringer Ingelheim) – 275 euros Fernando Pedro Ribeiro Pereira Da Silva (Nippon Gases) – 210 euros Filipa Lemos Aguiar (Mylan) – 325 euros Filipa Lemos Aguiar (Mylan) – 360 euros Filipa Ribeiro (Gasoxmed) – 530 euros Francisca Godinho de Oliveira (Novartis) – 775 euros Francisca Trigueiros Pincão N. Guimaraes (Boehringer Ingelheim) – 530 euros Francisco Cadarso Vazquez (Mylan) – 220 euros Francisco Manuel Gamito Ferreira Q. Guerreiro (Boehringer Ingelheim) – 530 euros Francisco Neri Gomes (Laboratório Medinfar) – 750 euros Francisco Ribeiro Viana Machado (Boehringer Ingelheim) – 595 euros Gabriel Humberto Pulido Rueda (Mylan) – 325 euros Gabriela Sofia Cancela Fonseca F Santos (Boehringer Ingelheim) – 615 euros Gisela Adriana Pereira Fontes (Gasoxmed ) – 580 euros Gloria Maria Costa Mendes Moura (Mylan) – 325 euros Gonçalo Carvalho Moura Portugal (BIAL) – 596,43 euros Guilherme Amaral Mendes (BIAL) – 646,43 euros Hedi Esteves Sequeira Liberato (Mylan) – 220 euros Helena Margarida Costa Guedes (Merck Sharp & Dohme) – 481 euros Helena Vasconcelos S. C. Ramos Guedes (Novartis) – 720 euros Henrique Cabrita Rodrigues (Novartis) – 700 euros Inês Antunes Cruz Goncalves Marcos (Tecnifar) – 325 euros Inês Da Silva Alves (Nippon Gases) – 525 euros Inês Domingos Neto (Pfizer) – 481 euros Inês Ferreira Duarte (Tecnifar) – 675 euros Inês Gomes Galiza (Mylan) – 325 euros Inês Maria Neves Soares Silva (Mylan) – 220 euros Inês Ribeiro (Gasoxmed ) – 495 euros Inês Silva Costa Castro Barreto (BIAL) – 596,43 euros Inês Silva Furtado (Boehringer Ingelheim) – 220 euros Inês Teixeira Farinha (BIAL) – 681,43 euros Isabel Maria Costa Monteiro (BIAL) – 250 euros Isabel Ruivo Santos (BIAL) – 341,43 euros Ivone Jose Jardim Fernandes (BIAL) – 681,43 euros Ivone Maria Pascoal Pinheiro Silva (Novartis) – 275 euros Joana Carvalho (Pfizer) – 483 euros Joana Catarina Batista Canadas (Boehringer Ingelheim) – 515 euros Joana Catarina Fonseca Cirne (Boehringer Ingelheim) – 250 euros Joana Catarina Neto Lourenço (Mylan) – 480 euros Joana Catarina Vale Lages (Tecnifar) – 575 euros Joana Correia (Novartis) – 800 euros Joana Filipa Reis Aguiar (Boehringer Ingelheim) – 505 euros Joana Isabel Grãos Lobo Pimentel (Nippon Gases) – 220 euros Joana Isabel Teixeira Sousa Leite (Mylan) – 325 euros Joana Raquel Macedo Pacheco (Boehringer Ingelheim) – 150 euros Joana Raquel Macedo Pacheco (Novartis) – 700 euros Joana Raquel Monteiro Ferra (Boehringer Ingelheim) – 615 euros Joana Rita Seabra Patrício (Nippon Gases) – 555 euros Joana Rodrigues Barbosa (Novartis) – 700 euros Joana Rodrigues Ferreira De Melo (Nippon Gases) – 465 euros Joana Silva Arana Fonseca Ribeiro (Laboratório Medinfar) – 750 euros Joana Vieira Martins (Novartis) – 800 euros Joana Vieira Naia Silva (Boehringer Ingelheim) – 745 euros João António dos Santos Fernandes da Costa (Nippon Gases) – 415 euros João António Pires Bento (Boehringer Ingelheim) – 250 euros João Fernando Gomes Costa Cunha (BIAL) – 681,43 euros João Filipe Dias Cardoso (Novartis) – 800 euros João Galaz Tavares (Novartis) – 475 euros João Pedro Fernandes C. Oliveira Pereira (Boehringer Ingelheim) – 595 euros João Pedro Garcia Yglesias Oliveira (BIAL) – 596,43 euros João Pedro Neiva Machado (Novartis) – 600 euros João Ricardo Nunes Pires (Boehringer Ingelheim) – 580 euros Joaquim António Magalhães Castanheira Abreu (Novartis) – 325 euros Jorge Miguel Pires Gomes da Rosa (Gasoxmed ) – 865 euros José António Caiado Soares (BIAL) – 250 euros José António Romero Contreras (Nippon Gases) – 210 euros José Fernando Correia Cunha (Mylan) – 375 euros José Manuel Dias Pereira (Novartis) – 905,27 euros José Manuel Paulo da Silva (Sanofi) – 594 euros José Manuel Ramos Goncalves (BIAL) – 681,43 euros José Manuel Rodrigues Coelho (Mylan) – 325 euros José Manuel Rodrigues Coelho (Mylan) – 360 euros José Mota André (Tecnifar) – 475 euros José Pedro Felgar Pinto (Mylan) – 325 euros José Pedro Felgar Pinto (Mylan) – 180 euros Júlia Filipa Cunha Silva Gouveia (BIAL) – 831,43 euros Juliana Sofia Jesus Barata (Pfizer) – 379 euros Karl Jonathan Silva Cunha Granatin (Novartis) – 720 euros Kelly Goncalves Lopes (Boehringer Ingelheim) – 615 euros Leila Amaro Cardoso (BIAL) – 250 euros Leonor Hora Lopes Meira (Novartis) – 275 euros Leonor Rocha Pinto Norton (Mylan) – 375 euros Letícia Pavão Balanco (Boehringer Ingelheim) – 595 euros Lídia Sousa Gomes (Novartis) – 800 euros Lígia Fernandes (Novartis) – 950 euros Lilia Vanessa Maia Santos (Boehringer Ingelheim) – 220 euros Liliana da Silva Gomes (Gasoxmed ) – 695 euros Lúcia Méndez Gonzalez (Nippon Gases) – 555 euros Luciana Pimenta Bento (Gasoxmed ) – 530 euros Luís Diogo Lazaro Ferreira (Boehringer Ingelheim) – 745 euros Luís Diogo Lázaro Ferreira (Nippon Gases) – 220 euros Luís Filipe Crespo Goes Pinheiro (BIAL) – 646,43 euros Luís Filipe Oliveira Rodrigues (Pfizer) – 403 euros Luís Miguel Matos Carreto (Boehringer Ingelheim) – 615 euros Manuel Filipe Sousa Fernandes (BIAL) – 596,43 euros Manuel Jorge Guerra Seada (Boehringer Ingelheim) – 220 euros Manuel Luís Vasconcelos e Sousa Vasques Osório (Nippon Gases) – 755 euros Manuel Tiago Moreira Martins (Laboratório Medinfar) – 800 euros Marcia Rita Ferreira Araújo (Novartis) – 850 euros Margarida Inês Delgado Melo Cruz (Mylan) – 475 euros Margarida Inês Delgado Melo Cruz (Mylan) – 480 euros Margarida Isabel Geraldes Barreiros Costa Pereira (Nippon Gases) – 430 euros Margarida Isabel Marques Afonso (Novartis) – 590 euros Maria Adelina Azevedo Amorim Cordeiro (Boehringer Ingelheim) – 220 euros Maria Antónia Glória Galego (Nippon Gases) – 210 euros Maria Aurora Lino Silva Neves (Novartis) – 1018,33 euros Maria Aurora Pinto Mendes (Nippon Gases) – 705 euros Maria Beatriz Dias Ferraz (Boehringer Ingelheim) – 595 euros Maria Carmo Oliveira Cordeiro (Boehringer Ingelheim) – 595 euros Maria Celeste Silva Alcobia (Mylan) – 250 euros Maria do Céu Vinha (Gasoxmed ) – 580 euros Maria Eduarda F. Vasconcelos Sequeira Pestana (BIAL) – 596,43 euros Maria Eduarda Milheiro Lacerda Tinoco (BIAL) – 511,43 euros Maria Emília Marques Alvares (Boehringer Ingelheim) – 580 euros Maria Fátima Lopes Teixeira (Boehringer Ingelheim) – 220 euros Maria Fernanda Rocha Rodrigues (Boehringer Ingelheim) – 250 euros Maria Ferreira Esteves Simoes Brandao (Novartis) – 800 euros Maria Gabriel Silva Goncalves Jacob (Boehringer Ingelheim) – 595 euros Maria Graça Carmo Freitas Nunes Ferreira (Laboratório Medinfar) – 200 euros Maria Inês Luz Ferreira (Boehringer Ingelheim) – 445 euros Maria Inês Oliveira Gomes Costa (Boehringer Ingelheim) – 595 euros Maria Inês Sousa Moreira (Boehringer Ingelheim) – 765 euros Maria João Costeira (Novartis) – 600 euros Maria João Freitas Ferreira Araujo (Novartis) – 750 euros Maria João Mar Pereira Cunha (Boehringer Ingelheim) – 250 euros Maria João Quitério Vieira Silva (Laboratório Medinfar) – 750 euros Maria Leopoldina Garez Gomes Turpin (Boehringer Ingelheim) – 665 euros Maria Lurdes Silva Ferreira (Pfizer) – 379 euros Maria Madalena Fernandes Emiliano (Novartis) – 700 euros Maria Marta Sampaio Nunes Duarte Silva (Boehringer Ingelheim) – 615 euros Maria Victoria Blanco Gonzalez (Mylan) – 360 euros Maria Victoria Blanco Gonzalez (Mylan) – 325 euros Mariana Barreira Calheiros B. Cabral (Boehringer Ingelheim) – 595 euros Mariana Cunha Macedo Conde (Boehringer Ingelheim) – 745 euros Mariana Lima e Castro Guimarães (Mylan) – 325 euros Mariana Maia e Silva (Grifols) – 325 euros Mariana Maia e Silvia (Nippon Gases) – 150 euros Mariana Monte Rocha Baltazar Coelho (Mylan) – 325 euros Mariana Ribeiro Marçal (BIAL) – 661,43 euros Mariana Santos Conceição (Pfizer) – 379 euros Mariana Serino Barbosa (Boehringer Ingelheim) – 515 euros Mariana Simões Saldanha Mendes (Nippon Gases) – 220 euros Marina Alexandra Pereira Bonnet (Novartis) – 720 euros Marina Gabriela Moreira Alves (Boehringer Ingelheim) – 150 euros Marina Gabriela Moreira Alves (Novartis) – 700 euros Mário Alexandre Oliveira Pinto (Boehringer Ingelheim) – 615 euros Marisa Antunes Marques (Nippon Gases) – 535 euros Marisa Isabel Augusto Anciaes (Boehringer Ingelheim) – 445 euros Marta Sofia Nobre Pereira (Novartis) – 745 euros Marta Sousa Sá Marques (Boehringer Ingelheim) – 595 euros Marta Susana Monteiro Drumond Freitas (Novartis) – 275 euros Miguel Filipe Guia (Novartis) – 575 euros Miguel Silveira (Novartis) – 325 euros Miguel Trigueiro Rocha Barbosa (Boehringer Ingelheim) – 765 euros Mónica Helena Correia Pereira (Nippon Gases) – 325 euros Nelson David Lameirão Serrano Marçal (Novartis) – 325 euros Nuno Filipe Machado Faria (Boehringer Ingelheim) – 745 euros Nuno Filipe Xavier Santos Pires (Novartis) – 675 euros Nuno Miguel Silva Fernandes (Boehringer Ingelheim) – 645 euros Nuno Miguel Sousa Macedo (Boehringer Ingelheim) – 250 euros Patrícia Alexandra Alves Jesus (Nippon Gases) – 605 euros Patrícia Alexandra Vieira Dionisio (Novartis) – 565 euros Paula Celestina Reis Pinto (Gasoxmed) – 580 euros Paula Maria Lima Cunha Vasconcelos Marques (Boehringer Ingelheim) – 645 euros Paula Maria Silva Freilão Ramos Cravo (Novartis) – 520 euros Pedro Duarte Silva Fernandes (Pfizer) – 379 euros Pedro Filipe Andrade Gomes Silva (Nippon Gases) – 465 euros Pedro Filipe Ferreira Americano (Nippon Gases) – 220 euros Pedro Jorge Pereira Magalhães Ferreira (Boehringer Ingelheim) – 595 euros Pedro José Ramalho Rodrigues (Novartis) – 800 euros Pedro Miguel Cruz Mendes (Laboratório Medinfar) – 750 euros Pedro Miguel Nogueira Costa (Novartis) – 850 euros Pedro Ricardo Pereira Barros (Boehringer Ingelheim) – 150 euros Pedro Ricardo Pereira Barros (Grifols) – 325 euros Pedro Samuel Martinho Pereira (Boehringer Ingelheim) – 595 euros Pedro Soares Branco Tavares Costa (Laboratório Medinfar) – 750 euros Rafael Noya Martinez (Mylan) – 325 euros Rafaela Sofia Biga Campanha (Novartis) – 550 euros Raquel Borrego (Gasoxmed ) – 815 euros Raquel Maria Reis Marques (Boehringer Ingelheim) – 250 euros Raquel Matos Jesus Rosa (Boehringer Ingelheim) – 445 euros Ricardo Almeida Dias Mimoso Coelho (Novartis) – 500 euros Ricardo Belo Pereira Baguinho Quita (Boehringer Ingelheim) – 595 euros Ricardo Bruno Santos Silva (Boehringer Ingelheim) – 745 euros Ricardo Filipe Ramos Sousa (Boehringer Ingelheim) – 250 euros Ricardo Jorge Camara Crawford Nascimento (Laboratório Medinfar) – 750 euros Rita Agostinho Rodrigues N Carvalho (Mylan) – 325 euros Rita Luísa Santos Gerardo (Sanofi) – 735 euros Rita Susana Ferreira Lopes (Fresenius Kabi Pharma ) – 325 euros Robalo Cordeiro Lda. – Carlos Robalo Cordeiro (BIAL) – 1230 euros Rogério Paulo Pedreira Valente Matos (Pfizer) – 431 euros Rudi Mauro Pereira Fernandes (Boehringer Ingelheim) – 530 euros Rui Antonio Narciso Ribeiro Costa (Novartis) – 820 euros Rui Manuel Peixoto Costa (Merck Sharp & Dohme) – 187,98 euros Rui Miguel Mouro Santos Rolo (Tecnifar) – 275 euros Rute Alexandra Simões da Silva (Gasoxmed ) – 580 euros Samuel Tiago Fraga Salvador (Mylan) – 375 euros Sandra Afonso André (Tecnifar) – 475 euros Sandra Cristina Costa Figueiredo (Boehringer Ingelheim) – 220 euros Sandra Maria Oliveira Saleiro Ferreira (BIAL) – 220 euros Sara Andreia Gois Morgado (Boehringer Ingelheim) – 765 euros Sara Catarina Pimenta Dias (Novartis) – 850 euros Sara Filipa Ramos Correia Alfarroba (BIAL) – 220 euros Sara Isabel Braga Machado (Novartis) – 950 euros Sara Maria Costa Martins (Pfizer) – 379 euros Sara Moreira Silva Trindade Salgado (Mylan) – 220 euros Sergey Mikhailovich Borisushkin (Mylan) – 325 euros Shanshan Zhang (Gasoxmed) – 495 euros Sílvia Rosário Piteira Natário Lorenço (Mylan) – 250 euros Sociedade Portuguesa de Pneumologia (BIAL) – 150 euros Sociedade Portuguesa de Pneumologia (BIAL) – 200 euros Sociedade Portuguesa de Pneumologia (BIAL) – 300 euros Sociedade Portuguesa de Pneumologia (BIAL) – 6000 euros Sociedade Portuguesa de Pneumologia (BIAL) – 3575 euros Sociedade Portuguesa de Pneumologia (BIAL) – 975 euros Sociedade Portuguesa de Pneumologia (BIAL) – 7975 euros Sociedade Portuguesa de Pneumologia (BIAL) – 750 euros Sociedade Portuguesa de Pneumologia (BIAL) – 1100 euros Sociedade Portuguesa de Pneumologia (BIAL) – 5500 euros Sociedade Portuguesa de Pneumologia (BIAL) – 7500 euros Sociedade Portuguesa de Pneumologia (BIAL) – 20708 euros Sociedade Portuguesa de Pneumologia (Gilead) – 10000 euros Sociedade Portuguesa de Pneumologia (Bristol-Myers Squibb) – 15000 euros Sociedade Portuguesa de Pneumologia (Gasoxmed ) – 7500 euros Sociedade Portuguesa de Pneumologia (Laboratório Medinfar) – 6000 euros Sociedade Portuguesa de Pneumologia (Laboratório Medinfar) – 6000 euros Sociedade Portuguesa de Pneumologia (Pfizer) – 35000 euros Sociedade Portuguesa de Pneumologia (Pfizer) – 35000 euros Sociedade Portuguesa de Pneumologia (Teva Pharma) – 12000 euros Sociedade Portuguesa de Pneumologia (GlaxoSmithKline) – 25335,4 euros Sociedade Portuguesa de Pneumologia (Grifols) – 15000 euros Sociedade Portuguesa de Pneumologia (Tecnifar) – 6000 euros Sociedade Portuguesa de Pneumologia (Tecnimede) – 6000 euros Sociedade Portuguesa de Pneumologia (VitalAire) – 22000 euros Sociedade Portuguesa de Pneumologia (Boehringer Ingelheim) – 113400 euros Sofia Pina Borges (Mylan) – 325 euros Sónia Isabel Silva Guerra (Pfizer) – 379 euros Soraia Alexandra Reis Santos (Boehringer Ingelheim) – 645 euros Susana Alves Ferreira (Nippon Gases) – 325 euros Susana Castro Luís Lopes Moreira (BIAL) – 511,43 euros Susete Marli Fonseca da Cruz (Novartis) – 325 euros Tânia Isabel Soares Duarte (Gasoxmed ) – 665 euros Tânia Sofia Morgado Fatal (Nippon Gases) – 525 euros Telma Chantal Almeida Sequeira (Boehringer Ingelheim) – 445 euros Telma Silva Lopes (Boehringer Ingelheim) – 360 euros Teresa Mafalda Ameixial Pequito (Nippon Gases) – 250 euros Teresa Maria Ferreira Almeida (Novartis) – 800 euros Teresa Martin Rioja (Novartis) – 575 euros Terras e Froes Lda. – Filipe Froes (Sanofi) – 1159,89 euros Tiago André Silva Santos (Boehringer Ingelheim) – 645 euros Tiago João Pais Maricoto (BIAL) – 596,43 euros Tiago Manuel Pombo Alfaro (Novartis) – 315 euros Tiago Matos Almeida Santos Gaspar (Mylan) – 325 euros Tiago Sá (Novartis) – 500 euros Vanda Sofia Barros Areias (Nippon Gases) – 485 euros Vanessa Maria Ferreira Santos (Boehringer Ingelheim) – 515 euros Vanessa Maria Ferreira Santos (Pfizer) – 220 euros Vanessa Maria Ferreira Santos (Pfizer) – 220 euros Vânia Caldeira (Novartis) – 800 euros Vânia Isabel Louro Fernandes (Novartis) – 700 euros Vânia Patrícia Martins Rocha (Pfizer) – 250 euros Vânia Patrícia Martins Rocha (Pfizer) – 250 euros Vânia Sofia De Jesus Almeida (Gasoxmed) – 580 euros Vera Cláudia Oliveira Clérigo (Boehringer Ingelheim) – 445 euros Vera Maria Santos Baptista Martins (BIAL) – 511,43 euros Viktoriia Vinagre (Mylan) – 250 euros Vítor Fonseca (Pfizer) – 379 euros Vítor Miguel Nóbrega Teixeira De Jesus (Laboratório Medinfar) – 318,25 euros Vitória Joana Sousa Silva (Gasoxmed) – 630 euros