Etiqueta: Imprensa

  • Portugueses ‘divorciaram-se’ dos jornais em papel

    Portugueses ‘divorciaram-se’ dos jornais em papel


    O hábito matinal de parar no quiosque, comprar o jornal e folheá-lo no café, no trabalho ou nos transportes públicos desapareceu. O ritual que durante décadas marcou o quotidiano português está em vias de extinção. Os números de exemplares vendidos da imprensa escrita relativos ao ano passado, hoje divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), mostram um colapso contínuo. Em 2024, venderam-se apenas 76,3 milhões de exemplares impressos, entre jornais, revistas, boletins, anuários, folhetos e outro tipo de publicações — o valor mais baixo desde que há registos sistemáticos.

    Os jornais representaram 56,9 milhões de exemplares, enquanto as revistas 19,4 milhões, o que, podendo parecer, à primeira vista, números expressivos, acabam por ser deploráveis numa população que ronda os 10,5 milhões de habitantes. Ou seja, cada português comprou, em média, apenas sete publicações no ano passado — menos de um jornal a cada cinquenta dias. Há trinta anos, um leitor habitual comprava, em média, quase essa quantidade num único mês.

    Foto: PÁGINA UM

    A crise mostra ser estrutural. Em 2019, antes da pandemia, o país ainda somava 151,5 milhões de exemplares vendidos, dos quais 105,4 milhões foram jornais. Em cinco anos, a quebra foi de quase 50%. E se recuarmos ao final dos anos 90, o panorama é ainda mais devastador: em 1999 e 2000 venderam-se mais de 400 milhões de exemplares de publicações por ano. Hoje, vende-se menos de um quinto. A imprensa escrita portuguesa atravessa, portanto, a maior derrocada da sua história moderna.

    A erosão tem sido constante nesta era do digital. A partir de 2009, com a crise financeira e a ascensão das plataformas online, as tiragens começaram a ruir. A Internet ofereceu de graça — e com menor qualidade — aquilo que até então se comprava. E os jornais foram os seus próprios coveiros: colocaram online o conteúdo que justificava o papel, antecipando a notícia. O jornal impresso acabou por se transformar num repositório das versões digitais do dia anterior.

    A pandemia da covid-19 acelerou o processo. Entre 2020 e 2024, desapareceram quase 45 milhões de exemplares anuais. Mesmo em relação ao ano anterior, a queda é evidente: menos 8,6 milhões de exemplares face a 2023. A leitura de jornais impressos tornou-se um resquício geracional. O quiosque, outrora espaço de sociabilidade e curiosidade cívica, é agora um posto de sobrevivência comercial. E a quebra de leitores em papel arrasta consigo toda uma economia paralela: distribuidores, tipografias, publicitários e pequenas editoras.

    Evolução das vendas totais de publicações impressas, de jornais e de revistas entre 1995 e 2024. Fonte: INE.

    A comparação europeia sublinha, ainda mais, o declínio português. A comparação europeia sublinha, ainda mais, o declínio português. De acordo com dados compilados pela World Association of Newspapers and News Publishers (WAN-IFRA) e com as estatísticas nacionais de circulação da ACPM (França), BDZV (Alemanha) e OJD (Espanha), em países como a Alemanha e a França vendem-se entre 30 e 40 exemplares de publicações impressas por habitante e por ano, enquanto em Espanha o número ronda os 20. Portugal, o país que nos anos 90 chegou a ser um dos mais fiéis leitores de jornais per capita do sul da Europa, é hoje um deserto de notícias em papel.

    Para Eduardo Cintra Torres, professor e crítico de media, ouvido pelo Página Um, a explicação é multifactorial. “Por um lado, a oferta dos conteúdos na Internet pelos que os vendiam até à véspera foi uma das causas. As alternativas gratuitas — jornalísticas, não-jornalísticas e até roubadas — tornaram desnecessário para muita gente o investimento na compra diária ou casual de imprensa.” O académico lembra ainda que “os próprios media fazem concorrência a si mesmos, com edições em papel e digital”, e que “o confinamento durante a pandemia erradicou o hábito da compra de jornais por muita gente. Muitos quiosques fecharam”.

    Mas a crise não é apenas tecnológica: é também cultural e económica. A perda de leitores coincide com a perda de confiança e de relevância. O jornalismo transformou-se num produto rápido, opinativo, repetido, dependente da agenda oficial e cada vez mais desligado da vida real dos cidadãos. A falta de leitores pagantes gerou a dependência do Estado, da publicidade institucional e das grandes empresas. E uma imprensa que já não vive dos leitores deixa inevitavelmente de os servir.

    man sitting on chair holding newspaper on fire

    Os dados das tiragens em papel revelados pela Associação Portuguesa para o Controlo de Tiragem e Circulação (APCT) deste ano confirmam o colapso: o Público vende menos de 10 mil exemplares diários em papel, o Diário de Notícias mal ultrapassa 900, o Jornal de Notícias desceu para 16 mil, o Expresso para cerca de 33 mil por edição, e a revista Sábado fica-se nos 13 mil. O Correio da Manhã, outrora o bastião popular, regozija-se por vender “mais de 34 mil por dia”, o que ainda assim representa menos de um terço do que vendia em 2011. A popular revista Maria, que em 2008 vendia 325 mil exemplares por semana, está agora com vendas da ordem dos 23 mil. São números que confirmam a tendência captada pelo INE: um colapso social e económico da leitura impressa.

    Em todo o caso, Eduardo Cintra Torres mostra-se optimista: “Como não há democracia sem jornalismo, e como as sociedades precisam dele, penso que estamos num período de ajustamento numa situação de mudança brutal na comunicação nacional e mundial e que terá de haver modelos rentáveis de comercialização dos conteúdos jornalísticos e informativos”.

  • Direito à informação: Juiz em início de carreira quis fazer ‘jeitinho’ ao Conselho Superior da Magistratura, mas três desembargadoras não deixaram

    Direito à informação: Juiz em início de carreira quis fazer ‘jeitinho’ ao Conselho Superior da Magistratura, mas três desembargadoras não deixaram


    Um juiz do Tribunal Administrativo de Lisboa, nomeado a título definitivo há apenas um ano, quis criar uma “regra especial” para o Conselho Superior da Magistratura (CSM), defendendo que este órgão não teria de cumprir a Lei de Acesso aos Documentos Administrativos (LADA).

    No entanto, os seus “superiores” — leia-se, três desembargadoras da Secção Administrativa Comum do Tribunal Central Administrativo Sul (TCAS) — revogaram por unanimidade a decisão, através de um curto mas demolidor acórdão, considerando que o juiz confundiu conceitos jurídicos e aplicou uma norma errada, afastando-se injustificadamente de jurisprudência consolidada sobre o direito de acesso à informação administrativa.

    Em causa estava um pedido do PÁGINA UM para acesso às actas e deliberações originais e integrais do Conselho Permanente e do Conselho Plenário do CSM, relativas aos anos de 2023 e 2024. Embora essas actas esteja disponível no site da cúpula da Magistratura Judicial, o órgão opta por rasurar nomes e dados processuais sempre que as classificações de juízes são medíocres ou envolvem matéria que eles considerem discricionariamente sensível, mesmo se relativas a processos judiciais que interessariam às partes.

    Porém, o CSM divulga, sem pudor, os nomes daqueles que obtêm avaliações excelentes. Ou seja, as reasuras nada têm a ver com alegada protecção de dados pessoais, tanto mais que esse preceito nem se aplica quando estão em causa actividades públicas.

    Foi precisamente devido a estas rasuras selectivas que o PÁGINA UM requereu ao CSM em Fevereiro passado o acesso às actas integrais, devidamente assinadas, das reuniões ordinárias e extraordinárias, tanto das secções de assuntos gerais e disciplinares como das plenárias.

    Exemplo de uma acta com inúmeras rasuras (sobretudo com X) onde abundam exemplos de rasuras arbitrárias.

    O CSM — como já havia feito noutra ocasião — negou o pedido do PÁGINA UM com base num parecer da sua encarregada de protecção de dados, o que levou o jornal a apresentar uma intimação ao Tribunal Administrativo em Março passado, repetindo, aliás, o que já ocorrera anteriormente noutros processos semelhantes.

    Contudo, de forma insólita, a sentença proferida em primeira instância, no passado mês de Maio, pelo juiz Paulo Ricardo Varela Sezefredo, concluiu pela “incompetência material” dos tribunais administrativos para apreciar o caso. O magistrado sustentou que os actos praticados pelo CSM estariam excluídos da jurisdição administrativa, por força do Estatuto dos Tribunais Administrativos e Fiscais (ETAF).

    Segundo a sua interpretação, o pedido do PÁGINA UM dizia respeito a “actos materialmente administrativos praticados pelo CSM e seu Presidente” e, como tal, apenas o Supremo Tribunal de Justiça (STJ) poderia decidir. Ou seja, este juiz considerava que seria o Supremo Tribunal de Justiça, liderado por Cura Mariano, a decidir se a recusa no acesso a actas por parte do Conselho Superior da Magistratura, também liderado por Cura Mariano, era legal. A ser possível, não se consegue encontrar melhor exemplo de ‘juiz em causa própria’ numa situação de acesso à informação.

    João Cunha Mariano, presidente do Supremo Tribunal de Justiça é, por inerência, presidente do Conselho Superior da Magistratura. O juiz do Tribunal Administrativo de Lisboa Paulo Varela Sezefredo queria que fosse o Supremo Tribunal de Justiça a decidir se a recusa no acesso a actas por parte do Conselho Superior da Magistratura era legal.

    Em suma, Varela Sezefredo equiparou qualquer acto administrativo — incluindo o pedido de informação — a uma decisão jurisdicional. Na sua interpretação, o PÁGINA UM teria de recorrer de uma decisão do Presidente do CSM para o Supremo Tribunal de Justiça, que é… presidido pelo mesmo Presidente do CSM.

    Agora, em acórdão datado de 25 de Setembro, a decisão foi considerada “manifestamente errada” por um colectivo de três desembargadoras — Joana Costa e Nora, Marta Cavaleira e Ana Lameira — que concluíram que o juiz confundiu duas realidades jurídicas distintas: o pedido de acesso a documentos (que visa garantir o direito à informação) e a impugnação de um acto administrativo.

    “A intimação para a prestação de informações (…) é o meio processual próprio para reagir contra qualquer forma de recusa de informação”, escreveram as magistradas, frisando que a exclusão do CSM prevista no ETAF não se aplica a pedidos de acesso a documentos administrativos apresentados por cidadãos ou jornalistas.

    brown wooden stand with black background

    A decisão do TCAS é particularmente relevante porque confirma a competência dos tribunais administrativos para julgar litígios relacionados com o direito de acesso à informação pública, incluindo quando envolvem órgãos de soberania como o CSM ou o STJ.

    Aliás, já existiam decisões anteriores — tanto do Tribunal Administrativo de Lisboa como do próprio TCAS — que obrigaram o STJ a divulgar documentos administrativos. Chegou mesmo a haver uma sentença do Tribunal Administrativo de Lisboa que impôs uma sanção pecuniária compulsória ao Presidente do STJ por incumprimento de uma decisão judicial sobre o acesso ao inquérito da distribuição do processo Marquês. E o presidente Cura Mariano viu-se na obrigação de acatar para não lhe ‘irem ao bolso’, uma vez que estas multas são aplicadas aos titulares e não às entidades.

    A posição assumida por Paulo Varela Sezefredo destoava, assim, frontalmente da jurisprudência anterior. Este juiz, que apenas se tornou efectivo em 2024, passou grande parte da sua carreira como jurista no Exército Português, tendo concluído um mestrado em Direito há pouco mais de cinco anos sob a orientação do professor Domingos Farinho, docente da Faculdade de Direito de Lisboa, acusado de ter sido o redactor (“ghost writer”) da tese de José Sócrates, num processo que terminou com a suspensão provisória e o pagamento de 10 mil euros.

    Na sentença agora revogada, Varela Sezefredo chegou a defender que o PÁGINA UM deveria ter apresentado a intimação directamente no Supremo Tribunal de Justiça, invocando a “especialidade” do CSM — um argumento considerado sem sentido pelos desembargadores. Além disso, de forma pouco habitual, dispensou o contraditório, apesar de o CSM nem sequer ter respondido ao tribunal, o que é obrigatório. Alegou “manifesto desinteresse e inutilidade”.

    A decisão agora revogada pelo TCAS determina o regresso do processo ao tribunal de origem para ser devidamente apreciado. Ou seja, apesar da sentença obtusa que obrigou a um recurso — com perda de tempo e recursos para corrigir um erro elementar — será o mesmo juiz Paulo Varela Sezefredo a ter de reapreciar o caso. Se voltar a decidir contra o PÁGINA UM, o jornal terá de recorrer novamente para o tribunal superior, embora, nesse caso, ser ‘reprovado’ duas vezes no mesmo processo pode ser visto como uma situação anómala para efeitos da sua classificação.

    N.D. Os processos do PÁGINA UM nos tribunais são apoiados pelos leitores através do FUNDO JURÍDICO.

  • Sanção de 12 meses para médico que mostra “uma ignorância extrema da anatomia e das técnicas cirúrgicas’ está engavetada na Ordem dos Médicos há mais de um ano

    Sanção de 12 meses para médico que mostra “uma ignorância extrema da anatomia e das técnicas cirúrgicas’ está engavetada na Ordem dos Médicos há mais de um ano


    O Conselho Disciplinar Regional do Sul (CDRS) da Ordem dos Médicos recusa explicar por que motivo ‘engavetou’ o processo disciplinar relativo a dois cirurgiões do Hospital de Faro acusados, desde Abril de 2023, de um conjunto de negligências graves.

    O despacho de acusação confidencial a que o PÁGINA UM teve agora acesso — tem data de 23 de Julho de 2024, ou seja, mais de 14 meses — e propõe suspensões de 12 meses para o cirurgião Pedro Cavaco Henriques e de seis meses para o antigo director de serviço de Cirurgia, Gildásio Martins dos Santos, ex-presidente da Administração Regional de Saúde (ARS) do Algarve e vogal do Conselho Nacional do Sindicato Independente dos Médicos (SIM).

    Edifício principal da sede da Ordem dos Médicos, na Avenida Gago Coutinho, em Lisboa.

    Contactado pelo PÁGINA UM, a ausência de explicações sobre a fase processual e os motivos do atraso são justificados pelo CDRS, liderado por Diogo Pais, por obra e graça do “princípio da presunção da inocência [que] deve ser salvaguardado”. Um argumento que contrasta com a postura da Ordem dos Médicos que durante a pandemia divulgava publicamente a simples abertura de processos disciplinares por delito de opinião, expondo e estigmatizando médicos que manifestavam visões críticas das políticas sanitárias oficiais.

    Neste caso, porém, as acusações contra Pedro Henriques e Gildásio Martins dos Santos não se prendem com opiniões, mas com acções clínicas. E muito graves porque estiveram e estão em causa vidas humanas. O despacho de acusação, assinado pelo relator Vítor Rocha, é de uma severidade invulgar, apenas justificável pela gravidade dos erros descritos.

    Num relatório de cerca de 150 páginas — que analisa uma dezena de intervenções cirúrgicas e ainda a divulgação ilícita de dados clínicos da denunciadora, a médica Diana Pereira —, o relator evidencia perplexidade quanto à conduta ética e técnica dos arguidos. Sublinha que a ausência de autocrítica, humildade e rigor técnico de Pedro Henriques pode transformar o acto cirúrgico em fonte de dano, e a autoridade hierárquica de Martins dos Santos num instrumento de abuso.

    Diogo Pais, presidente do Conselho de Disciplina Regional do Sul; mais de dois anos depois, casos gravíssimos ainda não tiveram conclusão disciplinar.

    No caso concreto de Pedro Henriques, embora o relator reconheça que é “comprovadamente detentor de formação avançada em cirurgia colo-rectal”, assinala que o cirurgião revela “uma ignorância extrema da anatomia e das técnicas cirúrgicas, o que lhe dá muito pouco sentido crítico”.

    Num balanço devastador, o relator adverte ainda que, quando se alia “o pouco respeito pela integridade do outro” à violação reiterada do princípio hipocrático primum non nocere, “o resultado pode ser catastrófico”.

    O despacho recorda que devem existir sempre limitações ao exercício da actividade cirúrgica: a primeira, “intrínseca”, radica “na excelência da formação técnica e humana e no sentido de autocrítica”; a segunda, “institucional”, decorre do “controlo hierárquico e da avaliação do erro”, nomeadamente através da análise inter pares das complicações e da mortalidade operatória. Sem essas salvaguardas, alerta o relator, “o sistema clínico degrada-se e coloca em risco a vida dos doentes”.

    gray surgical scissors near doctors in operating room

    Vítor Rocha insiste ainda na humildade e cooperação como condições essenciais à aprendizagem médica. “Para que seja possível ao cirurgião evoluir através do erro, é fundamental ter a humildade necessária para o reconhecer e, depois, o analisar em conjunto com os seus pares”, escreve, sublinhando que só assim se pode corrigir falhas e melhorar a prática clínica. “Há uma característica humana que deve ser comum a todos os médicos — a compaixão e o sofrimento comum por aqueles que sofrem e precisam de ajuda médica”, acrescenta.

    O relator lamenta que, no exercício do contraditório, “em momento algum o Dr. Pedro Henriques reconhece os erros e as complicações”, algumas das quais “graves e que produziram sequelas irreversíveis”. Nota ainda que essa recusa se deveu “à sua obstinação cirúrgica validada pelo director de serviço [Martins dos Santos]”, comportamento que considera “contrário ao mais elementar bom senso e altamente censurável para um cirurgião”.

    O relatório descreve também falhas reiteradas nos registos clínicos e a violação do dever de documentar ocorrências intra-operatórias, o que impediu a correcta identificação das negligências denunciadas. Segundo o despacho, os dois médicos “não cumpriram este dever de registo, de forma reiterada em todos os casos avaliados”, configurando um ilícito disciplinar por violação do artigo 40.º do Código Deontológico da Ordem dos Médicos.

    Trecho com a proposta de sanção para os dois médicos. Já passou mais de 14 meses deste a conclusão do despacho de acusação e quase 30 meses desde o conhecimento público dos factos.

    Em matéria de confidencialidade, a acusação é igualmente severa. O relator demonstrou que “o Dr. Pedro Henriques acedeu efectivamente à Plataforma de Dados de Saúde e consultou informação pessoal e clínica da participante [Diana Pereira]” sem autorização, e que o director de serviço, “Dr. Martins dos Santos, publicou e partilhou efectivamente, no dia 21 de Abril de 2023, no grupo WhatsApp criado para os médicos do Serviço de Cirurgia I, o relatório médico referente à consulta a que a participante compareceu”.

    O objectivo seria denegrir a imagem pública da médica denunciadora — uma acção que ecoou depois em notícias do Expresso, usadas para desacreditar as suas denúncias. O despacho conclui que ambos violaram o dever de sigilo e acederam indevidamente a dados de saúde, “preenchendo, em abstracto, o tipo de crime de violação de segredo previsto no artigo 195.º do Código Penal”.

    Nesta linha, Vítor Rocha censura duramente Gildásio Martins dos Santos, lembrando que, sendo “assistente graduado sénior e director de serviço de um hospital universitário”, tinha o dever acrescido de garantir qualidade e segurança na prática cirúrgica. Contudo, “não explicou o motivo das complicações [cirúrgicas] nem a forma de as evitar”, preferindo “um ataque permanente de carácter à participante [Diana Pereira], tentando fazer passar a ideia de insanidade mental desta”.

    No fecho do despacho, o relator conclui que os dois médicos “agiram voluntária e conscientemente, não respeitando as normas deontológicas a que estão adstritos, havendo negligência grosseira e até dolo eventual”. Considera, assim, demonstrada “má prática médica e imperícia”, esta última apenas imputável a Pedro Henriques.

    Apesar de o relatório propor suspensões de 12 meses para Pedro Henriques e de seis meses para Gildásio Martins dos Santos, a decisão permanece sem homologação 15 meses depois.

    Recorde-se que, no mês passado, a Inspecção-Geral das Actividades em Saúde (IGAS) propôs apenas 40 dias de suspensão para Pedro Henriques, estando o processo disciplinar de Gildásio Martins ainda pendente. Paralelamente, este último moveu um processo judicial contra Diana Pereira, reclamando 172 mil euros de indemnização por danos patrimoniais e não patrimoniais decorrentes das denúncias.

    Despacho de acusação demorou mais de um ano a ser produzido. E depois de Julho de 2024, com as propostas de sanção, nada mais se soube nem a Ordem dos Médicos quer revelar.

    Contactado pelo PÁGINA UM, o presidente do SIM, Jorge Roque da Cunha, afirma “manter plena confiança pessoal e institucional no Dr. Gildásio Martins dos Santos, dirigente sindical com mais de 35 anos de serviço sem qualquer mácula”. Recorda que o antigo director de serviço “chegou a ser suspenso [preventivamente] pela Ordem dos Médicos, decisão entretanto anulada nessa mesma sede”, acrescentando que “também o inquérito da IGAS relativo aos factos denunciados foi arquivado”.

    Saliente-se, no entanto, que o arquivamento da IGAS não é definitivo, uma vez que decorrem ainda processos no Ministério Público. “Neste contexto, entendemos que cumpre respeitar os mecanismos próprios de justiça e de regulação, não cabendo ao sindicato antecipar julgamentos nem retirar legitimidade a quem continua a desempenhar funções representativas”, conclui Roque da Cunha.

  • Impresa: Transacções em bolsa com fortes indícios de crime de ‘insider trading’ nas primeiras semanas de Setembro

    Impresa: Transacções em bolsa com fortes indícios de crime de ‘insider trading’ nas primeiras semanas de Setembro


    Nas sessões da Bolsa de Lisboa desta segunda e terça-feira, a Impresa incendiou os ecrãs: 3.617 negociações, mais de 33,1 milhões de acções trocadas e uma subida acumulada de 105% face ao fecho de sexta-feira. O preço intradiário de hoje chegou aos 0,334 euros — +165% — antes de recuar cerca de 23%.

    A febre especulativa correu atrás de rumores e de uma confirmação vaga sobre a entrada da MediaForEurope (MFE) no grupo fundado pela família Balsemão. Nada, por si, de inédito num título pequeno e pouco líquido.

    girl in white shirt kissing girl in blue and white stripe shirt

    Mas aquilo que se mostra verdadeiramente relevante — e que a CMVM, liderada por Luís Laginha de Sousa, se recusa a esclarecer, apesar de existir para garantir transparência — são os sinais de actividade anómala em torno da Impresa nas semanas anteriores, compatíveis com assimetria informacional, ou em termos técnico inglês, ’insider trading’. Em linguagem simples: gente a negociar antes de o mercado saber.

    Em Portugal, o ‘insider trading’ — designado juridicamente como abuso de informação — constitui crime previsto no artigo 378.º do Código dos Valores Mobiliários, punível com prisão até cinco anos ou multa, quando alguém, dispondo de informação relevante e não pública, a utiliza para negociar, transmitir a terceiros ou influenciar operações no mercado.

    De acordo com o código, entende-se também por informação privilegiada “toda a informação não tornada pública que, sendo precisa e dizendo respeito, directa ou indirectamente, a qualquer emitente ou a valores mobiliários ou outros instrumentos financeiros, seria idónea, se lhe fosse dada publicidade, para influenciar de maneira sensível o seu preço no mercado. Assim, por exemplo, se alguém tivesse decidido, por saber das negociações antes da informação ao mercado, comprar 80.000 acções da Impresa a 0,125 euros, gastando cerca de 10 mil euros e vendido hoje entre 0,25 e 0,334, veria um ganho bruto aproximado entre 100% e 167%. Ora, se na origem da decisão tivesse uma informação privilegiada, o seu acto seria criminoso.

    Pier Silvio Berlusconi, CEO da MFE: negociações foram oficialmente comunicadas no sábado passado, mas movimentações na Bolsa de Lisboa evidenciam que havia informação privilegiada a ser usada.

    Para além da responsabilidade penal, a CMVM pode, em teoria, aplicar sanções administrativas severas: as infrações qualificadas como muito graves podem implicar coimas entre 25 mil e 5 milhões de euros, perda dos lucros obtidos e proibição temporária de exercer funções de gestão em sociedades cotadas. Mas para isso suceder tem de haver duas coisas: crime e, depois, vontade da instituição liderada por Luís Laginha de Sousa em agir conforme determinam as competências da CMVM.

    O PÁGINA UM analisou as séries históricas da Euronext para a Impresa e apurou que, entre 11 e 26 de Setembro, se registou uma média diária de 442 transacções e 383.155 acções negociadas — valores mais de seis e quatro vezes superiores, respectivamente, às médias dos 22 meses anteriores, período em que a actividade foi modesta: 67 negócios e 91.172 acções transaccionadas em média por dia.

    Comparando o número acumulado de transacções na semana de 15 a 19 de Setembro (com 1.958) e da semana seguinte (com 3.078) torna-se evidente que as negociações relevantes entre a Impresa e a MEF já tinha saído dos corredores e estavam a influeciar o mercado. Isto porque a média semanal de transacções acumuladas era apenas de 313 desde Janeiro.

    Número de transacções acumuladas por semana dos títulos da Imprensa na Bolsa de Valores de Lisboa. A vermelho estão as semanas de 15 a 19 e de 22 a 26 de Setembro, antes dos comunicados da empresa cotada na CMVM. Fonte: Euronext. Análise: PÁGINA UM.

    Num emitente cuja capitalização ainda na semana passada rondava 21 milhões de euros – bem longe dos 514 milhões que a Impresa chegou a atingir em 2007, quando cotou acima dos 3 euros), movimentos discretos mas persistentes bastam para deslocar preços de forma material. Este salto de actividade antecedeu a comunicação, feita apenas no fim-de-semana, de que a empresa estava em conversações com a MFE — comunicação pouco elucidativa quanto a moldes e preços.

    Para reduzir o ruído estatístico e separar acaso de padrão nas negociações da Impresa ao longo dos últimos dois anos, o PÁGINA UM aplicou uma metodologia transparente: para cada sessão calculou-se a média e o desvio-padrão em janelas móveis de sete dias úteis (excluindo a sessão corrente), construindo-se z-scores de volume e de retorno diário e um Índice de Anomalia Composta com igual peso para ambos.

    Nessa análise foram detectados vários dias com configuração típica de acumulação informada sem facto público conhecido na altura, em sequência do padrão clássico volume vs. preço. Estes sinais não constituem prova de uso de informação privilegiada (insider trading), mas são, todavia, indícios robustos que obrigam o supervisor a diligências mínimas de verificação.

    Luís Laginnha de Sousa, presidente da CMVM. Foto: DR

    Por isso, o PÁGINA UM questionou formalmente a CMVM, pedido se houve confirmação de alertas internos de vigilância nas datas críticas; se requereu reconstrução de “tape” (registos de ordens, livro de ordens, rácios de cancelamento, concentração por intermediário/conta/beneficiário final); se solicitou verificação de posições curtas, empréstimo de títulos e derivados economicamente equivalentes; e se inquiriu a administração da Impresa sobre eventuais atrasos na divulgação de factos relevantes.

    Até ao fecho deste artigo, o regulador não confirmou se abriu investigação nem explicou que medidas activou. Para um mercado que se quer íntegro e transparente, o silêncio da CMVM não deveria servir.

    Importa recordar o básico: informação privilegiada é a informação não pública, precisa e susceptível de afectar o preço; negociar com base nela é ilegal, independentemente do lucro obtido. Em praças pequenas e com “penny stocks”, como Lisboa, a combinação de baixa liquidez com notícias de grande impacto agrava o risco de uso de informação reservada e de manipulação subsequente.

    Francisco Pedro Balsemão, CEO da Impresa: o grupo de media chegou a ter uma capitalização bolsista de mais de 500 milhões de euros; hoje, mesmo com a valorização desta semana pouco ultrapassa os 40 milhões.

    E aqui nasce um perigo adicional para os próximos dias: a tentativa de sustentar artificialmente as cotações para influenciar expectativas em torno de uma eventual Oferta Pública de Aquisição (OPA) ou do preço de transacção com a MFE. Em muitas jurisdições — e Portugal não é excepção —, a contrapartida mínima de ofertas públicas considera parâmetros objectivos como médias de mercado recentes e, em particular, o maior preço pago pelo oferente num período relevante antes do anúncio. No caso de Portugal, costuma ser a média ponderada com o volume dos últimos XXXX dias.

    Por isso, elevar preços com artifícios não seria apenas manipulação; poderá afastar o comprador por encarecer a operação, destruindo valor para a própria Impresa e para quem agora entrou à boleia do “lucro imediato”.

    Este quadro ganha gravidade adicional se atendermos ao histórico comunicacional da Impresa sobre factos relevantes – sale & lease-back do edifício-sede, efeitos contabilísticos de imparidades e alienação de títulos à Trust in News – têm  permanecido, com a anuência da CMVM, em zonas de sombra. Num contexto desses, a prudência recomendaria vigilância redobrada por parte da ‘polícia da bolsa’. A tecnologia existe e está ao alcance do supervisor: software de detecção de padrões, identificação de quem vendeu e quem comprou, sequência de ordens, cruzamento de cancelamentos e eventuais “wash trades”. Saber, a CMVM sabe – ou pode saber. A questão é querer, agir e explicar.

    Francisco Pinto Balsemão

    Os últimos dois dias falam por si sobre a credibilidade dos mercados financeiros portugueses. Mas o filme começou semanas antes, com volumes acima do normal e oscilações sem correspondência em informação pública. O mercado precisa de respostas simples: houve ou não houve negociação informada? Quem acumulou antes da notícia? Houve coordenação entre contas? Existem posições derivadas que expliquem parte do efeito mola?

    A CMVM tem meios para responder rapidamente a tudo isto. Ao recusar dizer se investiga, aumenta a incerteza — e a incerteza custa dinheiro e reputação. Num país onde até o índice de referência insiste em chamar-se PSI-20 com menos de vinte empresas elegíveis, pedir regras claras e execução firme não é preciosismo: é a condição mínima para que o mercado sequer sobreviva com um mínimo de credibilidade.

  • ‘Flop’: 99% dos adolescentes não querem ler jornais portugueses… nem de borla

    ‘Flop’: 99% dos adolescentes não querem ler jornais portugueses… nem de borla


    Nem dado. O programa de ofertas digitais de jornais para jovens entre os 15 e os 18 anos está a revelar-se um rotundo fracasso, de contornos pouco abonatórios tanto para o Governo, que o concebeu, como para as empresas de comunicação social, que se revelaram incapazes de despertar o interesse de uma geração inteira que já nasceu em plena era digital.

    Prometido em Outubro do ano passado por Pedro Duarte, então ministro dos Assuntos Parlamentares e hoje candidato social-democrata à Câmara do Porto, o programa, gerido pela Estrutura de Missão para a Comunicação Social (#PortugalMediaLab), pretendia oferecer gratuitamente até 400 mil assinaturas digitais, por um prazo de dois anos, a jovens entre os 15 e os 18 anos, em jornais ou revistas digitais de informação geral ou económica. A ideia era ambiciosa: aproximar adolescentes do jornalismo profissional e fomentar hábitos de leitura informativa.

    woman sitting on sofa holding book

    Contudo, a execução ficou muito aquém das intenções. Os jornais interessados tinham de ter periodicidade semanal ou inferior e subscrições pagas, o que automaticamente excluiu o PÁGINA UM, por ser um projecto de acesso livre, mas também outros órgãos que não trabalham com sistemas de paywall.

    O programa arrancou em Maio deste ano, permitindo a cada jovem escolher apenas uma publicação, entre os títulos aderentes, através de inscrição online no portal gov.pt, presencialmente ou por via telefónica. Apesar da simplicidade prometida, o processo revelou-se burocrático, com validações sucessivas, códigos de activação e pouca divulgação fora dos canais institucionais.

    Cinco meses depois, o resultado é desolador: apenas 4.442 jovens activaram assinaturas digitais, segundo dados oficiais. Tendo em conta que, de acordo com o Instituto Nacional de Estatística, existiam 418.682 adolescentes na faixa etária abrangida, significa que apenas 1,06% aderiu ao programa — ou seja, menos de 11 por cada mil potenciais beneficiários. A esmagadora maioria ignorou a oferta, mesmo sendo gratuita, o que levanta sérias dúvidas sobre a eficácia das políticas públicas de incentivo à leitura mediática.

    Num cenário negro, o Expresso lidera procura jovem com 1.592 assinaturas digitais, mas não se sabe a percentagem destes acessos que acabam usados pelos pais.

    Os dados por publicação são ainda mais reveladores do desinteresse. O Expresso ‘lidera’ com apenas 1.592 assinaturas, embora nada garanta que sejam efectivamente lidas por jovens e não pelos pais, que poderão ter aproveitado a oportunidade. Esse impacto, aliás, nunca foi avaliado pelo programa. O Observador surge em segundo lugar, com 1.066 assinaturas, seguido do Público com 911, número simbólico face aos custos do desenvolvimento da plataforma GenP, criada para atrair novos leitores.

    Nas restantes publicações, o panorama é quase residual. A Visão regista 382 subscrições, a Sábado 132 e o Jornal de Notícias 121. Abaixo das 100 adesões estão o Correio da Manhã (94), o Diário de Notícias (50), o Jornal Económico (47), o Eco (35) e a Vida Económica (11). No conjunto, estas cifras representam receitas mensais inferiores a 500 euros por título, tornando a participação no programa marginalmente relevante do ponto de vista financeiro.

    “Na fase actual considera-se uma adesão inferior à esperada”, admite uma fonte governamental ao PÁGINA UM, sublinhando que a avaliação ainda não permite identificar as causas concretas do insucesso. A dúvida divide-se entre a falta de interesse dos jovens em consumir informação jornalística e a ausência de uma estratégia de divulgação eficaz. Na prática, a maioria das publicações não investiu em promover a iniciativa, talvez antecipando o seu desfecho.

    Segundo a mesma fonte, o Governo aguarda o fim do período eleitoral para “avaliar o impacto da medida e a sua divulgação”, lembrando que nos últimos meses estava legalmente impedido de lançar campanhas institucionais devido às restrições impostas pelas eleições legislativas e europeias. O programa prolonga-se até 31 de Dezembro.

    Diário de Notícias, liderado por Filipe Alves, fechou o primeiro trimestre de 2025 com 723 assinaturas digitais. Com o programa de incentivo à literacia mediática para jovens conseguiu 50 assinaturas.

    No entanto, essa justificação dificilmente explica um desastre desta dimensão, tanto mais que o público-alvo é altamente digitalizado e deveria ser fácil de alcançar através de redes sociais, escolas e parcerias educativas.

    A ironia é evidente: um programa concebido para aproximar os jovens dos media acabou por expor o fosso geracional e a irrelevância crescente da imprensa tradicional junto das novas gerações. Se nem quando o jornal é oferecido de graça o público juvenil se mostra interessado, a crise estrutural do sector assume contornos ainda mais graves — não apenas financeiros, mas também culturais e democráticos.

  • Impresa: Família Balsemão está a tentar ‘passar a perna’ aos seus parceiros históricos para reforçar posição antes da venda aos italianos

    Impresa: Família Balsemão está a tentar ‘passar a perna’ aos seus parceiros históricos para reforçar posição antes da venda aos italianos


    A família Balsemão está a pressionar os accionistas minoritários da Impreger – a empresa que, detendo 50,31% das acções, controla a Impresa – a venderem-lhe as suas participações antes da entrada da MediaForEurope (MFE), o grupo italiano ligado à família Berlusconi que pretende dominar a SIC e o Expresso até ao final do ano.

    Numa ‘ofensiva’ que envolve antigos aliados e amigos de Pinto Balsemão – entre os quais a famílias Boullosa (11,98% da Impreger) e quatro ramos da família Ruela Ramos (herdeiros do antigo director do Diário de Lisboa, que no conjunto detêm 14,98%) e até António Guterres, secretário-geral das Nações Unidas, que mantém uma pequena participação (0,07%) –, o argumento apresentado pelo actual CEO da Impresa, Francisco Pedro Balsemão, é o da “salvação do grupo” e permitir algo retorno ao investimento numa altura aflitiva. A ideia transmitida é de que só uma posição accionista unificada da Impreger permitirá concluir com sucesso as negociações em curso com a MFE.

    Contudo, apurou o PÁGINA UM, o verdadeiro objectivo poderá não ser apenas viabilizar a entrada da MFE, mas sim garantir que a família Balsemão ainda permaneça na estrutura accionista da Impresa – ainda que numa posição minoritária – mesmo depois da entrada do grupo italiano.

    Na prática, a compra das participações dos minoritários serviria para a família Balsemão reconcentrar o capital da Impreger na esfera da Balseger – a holding familiar de Francisco Pinto Balsemão que controla, actualmente, 71,41% da Impreger e, por essa via, domina (ainda) a Impresa. Tal permitiria aos Balsemão negociar uma venda parcial à MFE, mas dando-lhe mais de dois terços do controlo da Impreger, para não só tomar o domínio da Impresa (e da SIC e Expresso) como também ter a capacidade de alterar o contrato social.

    A confirmar-se, este movimento, a solução mostrar-se-ia uma saída ‘honrosa’ da família Balsemão do controlo da Impresa. Mas seria também mais uma ‘facada nas costas’ da segunda geração da família Balsemão aos accionistas minoritários da Impreger, que desde a entrada da Impresa em bolsa jamais obtiveram quaisquer dividendos, nem sequer a possibilidade de integrarem o Conselho de Administração da empresa.

    Francisco Pedro Balsemão, CEO da Impresa, tem os dias contados á frente do grupo de media.

    Conforme o PÁGINA UM revelou há três semanas, só nos últimos 10 anos a família Balsemão arrecadou 6,6 milhões de euros em salários e pensões. Todos os outros accionistas da Impreger – que, em conjunto, detêm 28,59% do capital, equivalentes a 14,38% da Impresa – nunca receberam um tostão.

    Os conflitos entre a família Balsemão e os sócios minoritários da Impresa nunca correram bem para os segundos. O caso mais conhecido opôs Nuno Vasconcellos, da Ongoing, a Francisco Pinto Balsemão, culminando com a saída do primeiro da Impresa, após vender em 2014 a sua participação de 23,13% por 51 milhões de euros. Nessa altura, a venda foi concretizada a 1,3 euros por acção; na passada sexta-feira, a cotação fechou em apenas 0,126 euros.

    Há 11 anos, Pinto Balsemão afirmou que “esta saída [da Ongoing] coloca um ponto final numa estratégia hostil de tentativa de controlo de um grupo de comunicação livre e independente”. Na verdade, a família Balsemão nunca apreciou dividir a gestão com outros accionistas, conseguindo mandar no grupo de media como se tivesse 100%, apesar de deter 35,93% das acçoes da Impresa.

    Mas, neste momento, no contexto do negócio com a MFE, as conversações entre a família Balsemão e os restantes accionistas minoritários da Impreger não estão a ser fáceis. Desde o afastamento do chairman Francisco Pinto Balsemão, por motivos de saúde, a gestão do grupo pelo seu filho, Francisco Pedro, tem sido duramente criticada – e mais ainda a sua postura. O PÁGINA UM soube que alguns accionistas da Impreger apenas tomaram conhecimento das conversações com a MFE através das notícias publicadas na imprensa.

    A desconfiança é profunda – algo que já se revelara na Assembleia-Geral da Impreger realizada em Maio passado. De acordo com a acta a que o PÁGINA UM teve acesso, os accionistas minoritários abstiveram-se no voto de louvor à administração, algo inédito, confirmando o clima de tensão. O representante da família Boullosa lamentou mesmo que “a relação próxima de outrora entre os accionistas, quase como irmãos, tenha dado lugar a uma maior dispersão”. Apesar das manifestações de vontade em melhorar a comunicação, a família Balsemão boicotou nessa assembleia – bastante tensa – a inclusão de quaisquer representantes dos accionistas minoritários, tanto na Impreger como na Impresa.

    Numa análise estratégica, esta tentativa da família Balsemão em afastar de imediato os seus parceiros minoritários na Impreger, denuncia, em certa medida, a intenção de manter um pé na Impresa. Com efeito, caso o propósito da família Balsemão fosse apenas ceder o controlo (e as dívidas) da Impresa à MFE, bastaria vender-lhes directamente a Balseger, que, com 71,4% da Impreger, já garantiria aos italianos a maioria efectiva da Impresa.

    Extracto da acta da assembleia geral da Impreger de Maio passado. Accionistas minoritários já se queixavam da falta de informação veiculada pela família Balsemão.

    E depois ficaria ao critério da MFE a aquisição das participações dos restantes 28,59% da Impreger dos accionistas maioritários. Mas existem vantagens da família Balsemão em ‘passar a perna’ aos antigos parceiros da Impreger, porque, mantendo ou não uma posição com a entrada do grupo italiano, sempre conseguirão, desse modo, melhores condições.

    Uma outra hipótese que se coloca é a Balseger entregar a totalidade da Impreger à MFE mas com uma cláusula que, depois da OPA à Impresa, permitisse a separação da Impresa Publishing, a empresa que gere o Expresso e o Blitz, e a sua entrega em exclusivo à família Balsemão. Ao contrário da holding Impresa, que está em situação aflitiva, a subsidiária Impresa Publishing está de boa saúde: no ano passado registou 1,46 milhões de euros de lucro e contabiliza resultados positivos no mais recente quinquénio de cerca de 8,8 milhões de euros. Essa hipótese mostra-se mais plausível atendendo que o ‘core business’ da MFE não é a imprensa escrita.

    Em todo o caso, conforme apurou o PÁGINA UM, a Balseger já terá proposto às famílias dos sócios minoritários da Impreger um preço próximo da actual cotação bolsista da Impresa, ou seja, apenas 0,126 euros por acção, o que avalia o conjunto das participações em cerca de três milhões de euros. O valor nominal de cada acção é, porém, de 0,50 euros, o que corresponderia a um valor teórico de 12 milhões. Embora o valor nominal seja apenas uma referência contabilística, sobretudo numa empresa fortemente endividada, a discrepância evidencia a baixa valorização atribuída às participações minoritárias – ainda mais tendo em conta o interesse manifestado pela MFE.

    Francisco Pinto Balsemão: ‘espólio’ da família poderá reduzir-se, na melhor das hipóteses, ao jornal Expresso, fundado em 1972.

    Embora não tenha sido possível conhecer a posição dos minoritários da Impreger, a opção poderá ser a de negociar directamente com o grupo italiano, que estará interessado num clean deal (ou seja, numa operação simplificada e sem conflitos societários), ou, no limite, manter a posição, embora isso implique abdicar de qualquer controlo e sujeitar-se a alterações nas políticas de dividendos, retenção de lucros ou fusões que diluam ainda mais a sua influência.

    Certo é que, se os minoritários venderem directamente à MFE, receberão um preço justo, e eventualmente com um prémio; se venderem à Balseger, poderão estar apenas a financiar a permanência da família Balsemão na empresa ou conseguir que fique com o jornal Expresso, que é a ‘menina dos olhos’ de Pinto Balsemão.

  • OPA da Impresa: Entrada da família Berlusconi na SIC e Expresso com potencial para fazer subir até 50% o valor das acções

    OPA da Impresa: Entrada da família Berlusconi na SIC e Expresso com potencial para fazer subir até 50% o valor das acções


    Para entrar no mercado dos media em Portugal e ficar com os canais televisivos da SIC, integrados na empresa homónima, e o jornal Expresso e outros títulos menores, através da Impresa Publishing, a MediaForEurope deverá ter de desembolsar 31,75 milhões de euros no curto prazo, mas herdando uma dívida líquida superior a 130,9 milhões.

    De acordo com uma análise financeira realizada pelo PÁGINA UM, considerando as contas da Impresa relativas a 2023, o valor justo de aquisição para uma operação de controlo da Impreger – que controla 50,31% do grupo de media fundado por Francisco Pinto Balsemão – situar-se-ia entre 0,18 e 0,19 euros por acção, o que corresponde a um prémio entre 40% e 50% face à cotação de sexta-feira.

    Pier Silvio Berlusconi, CEO da MediaForEurope.

    Esta avaliação baseia-se em resultados antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (EBITDA) de 18,4 milhões de euros, numa dívida líquida de 130,9 milhões e num factor multiplicador de 8,8 vezes o rácio entre o valor da empresa e o EBITDA, considerado adequado ao perfil financeiro da Impresa.

    A esse preço, as participações minoritárias da Impreger valeriam entre 4,57 e 4,95 milhões, enquanto a parte pertencente à família Balsemão, a partir da Balseger, deverá valor um pouco mais de 11 milhões. No entanto, a MFE herdará uma dívida líquida de 130,9 milhões, pelos valores do relatório e contas do ano passado, o grande pesadelo que assombra o grupo há anos.

    Mas a MFE terá de abrir ainda mais os cordões à bolsa – e é aqui que a situação se complica se a CMVM e a Euronext não exigirem maiores esclarecimentos à família Balsemão.

    Em Portugal, a lei impõe que qualquer investidor que passe a deter o controlo efectivo de uma empresa cotada seja obrigado a lançar uma oferta pública de aquisição (OPA) sobre a totalidade das acções remanescentes, garantindo assim tratamento igual a todos os accionistas.

    Fim de linha no controlo da Impresa pela família Balsemão. Captura a partir de vídeo da SIC

    Essa obrigação decorre do artigo 187.º do Código dos Valores Mobiliários, que define como controlo a posse de mais de 50% dos direitos de voto ou a capacidade, directa ou indirecta, de designar a maioria dos administradores ou exercer influência dominante – algo que sucederá se a MFE ficar com uma posição maioritária na Impreger, que detém 50,31% da Impresa. O objectivo é impedir que um novo grupo de controlo se instale sem dar aos minoritários a possibilidade de alienar as suas participações em condições justas.

    Ora, o preço dessa OPA obrigatória deve ser pelo menos igual ao mais elevado pago pelo novo controlador nos seis meses anteriores, estando sujeito à validação da CMVM, que assegura a observância das regras de transparência e equidade.

    Assim, se a MFE pagar, por exemplo, 0,189 euros por acção à Balseger e aos minoritários da Impreger, que detêm 84,5 milhões de acções da Impresa, terá de oferecer pelo menos o mesmo valor aos investidores da bolsa. Isso representaria um prémio de cerca de 50% face à cotação de sexta-feira, devendo provocar uma reacção imediata nas acções da Impresa, caso não sejam suspensas.

    Certo é que, considerando essa estimativa de 0,189 euros por acção, a MFE gastará mais 15,8 milhões na OPA, aos quais se somariam 16 milhões pela aquisição integral da Impreger, desembolsando assim cerca de 31,75 milhões de euros no curto prazo, mas herdando uma dívida líquida superior a 130,9 milhões.

    Ainda assim, a MFE dispõe de margem negocial junto dos credores para uma reestruturação da dívida com haircut – isto é, um perdão parcial dos montantes em dívida. O argumento é simples e convincente: se a Impresa permanecer nas mãos da família Balsemão, o colapso é iminente e os credores arriscam perder tudo; com a entrada de um colosso europeu da comunicação social, o pagamento da dívida – mesmo com algum perdão – torna-se exequível e credível.

  • ‘Esquizofrenia’: Família Balsemão avisa mercado de que foi informada pela família Balsemão sobre entrada da família Berlusconi na Impresa

    ‘Esquizofrenia’: Família Balsemão avisa mercado de que foi informada pela família Balsemão sobre entrada da família Berlusconi na Impresa


    Menos de três horas após o PÁGINA UM ter revelado que a Impresa estava em violação do Regulamento Abuso de Mercado (RAM) da União Europeia por estar em negociações com a MFE-MediaForEurope sem avisar a Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) e os accionistas, o grupo controlado e dominado pela família Balsemão foi literalmente a correr avisar a ‘polícia da bolsa’.

    A holding fundada e presidida por Francisco Pinto Balsemão, e que tem o seu filho Francisco Pedro como CEO, arrisca, mesmo assim, uma coima até 5 milhões de euros e outras penalidades se a CMVM não fechar os olhos, uma vez que a falta de informação ou a revelação de informação incompleta para o “sistema de difusão “são consideradas contra-ordenações “muito graves”.

    Francisco Pinto Balsemão em 2015. / Foto: Imagem de entrevista à PSD-TV

    O jornal italiano Il Messaggero já revelara ontem de manhã que no conselho de administração da MFE, que aprovara as contas semestrais na passada quarta-feira, o CFO Marco Giordani tinha informado sobre a retoma das negociações para uma entrada na Impresa, o grupo de media fundado por Francisco Pinto Balsemão e actualmente em situação financeira fragilizada.

    Ao final da tarde de ontem, a partir das 19h00, a imprensa económica portuguesa – como o Jornal de Negócios e o Eco – começaram a divulgar também essa notícia do jornal italiano, mas sem destacarem que a Impresa tinha obrigações legais de avisarem o regulador e o mercado sobre essas negociações, que tenham ou não sucesso acabam por possuírem uma potencial influência na cotação das acções em bolsa.

    Somente depois de o PÁGINA UM ter revelado pelas 22h15 de ontem que estaria a ser violado o Regulamento Abuso de Mercado da União Europeia e as regras da CMVM – porque as empresas cotadas ou emitentes de dívida têm a obrigação de esclarecer o mercado sempre que circulem rumores ou notícias susceptíveis de influenciar a cotação dos seus títulos -, a Impresa fez um comunicado no site do regulador. O comunicado da Impresa na área da informação privilegiada foi feito numa hora inusitada: 00 horas, 59 minutos e 47 segundos. Ou seja, menos de três horas depois, num fim-de-semana. O mercado bolsista em Portugal só reabre na próxima segunda-feira. Impresa fechou ontem a 0,126 euros

    Foto: D.R.

    Nesse comunicado nocturno, a Impresa manifesta uma estranha esquizofrenia corporativa porque começa por dizer “que lhe foi comunicado pelo seu accionista maioritário que este se encontra a desenvolver contactos, em exclusividade, com o grupo MFE com vista à avaliação de potenciais operações societárias para a aquisição de uma participação relevante na Impresa, embora não exista, nesta data, qualquer acordo vinculativo entre o acionista e a MFE para o efeito”.

    Ora, sucede que o tal accionista maioritário (com 50,1%) da Impresa é a Impreger, que por sua vez é controlada (cerca de 71,4%) pela Balseger. E em todas estas empresas, a família Balsemão é dona e senhora. Com efeito, a administração da Impresa é constituída pelo patriarca Francisco Pinto Balsemão (chairman) e por dois dois seus filhos: Francisco Maria (vice-presidente) e Francisco Pedro (vogal e CEO), sendo que todos os restantes quatros membros são indicados pela Impreger.

    Por sua vez, a Impreger só tem Balsemão nos apelidos dos três administradores: Francisco Pinto Balsemão, Francisco Maria Balsemão e Mónica Balsemão, que é também quadro de topo da Impresa. Por fim, a Balseger, detida a 100% pela família Balsemão, é presidida pelo patriarca e tem como membros do conselho geral e de supervisão todos os seus cinco filhos: Francisco Pedro, Francisco José, Mónica, Henrique e Joana.

    Pier Silvio Berlusconi, presidente-executivo do grupo MFE. / Foto: D.R.

    Só os dois últimos não estão associados aos negócios familiares nos media, sendo que Joana Balsemão foi vereadora da autarquia de Cascais e actualmente é administradora não executiva da Brisa, ocupando ainda funções no Kaizen Institute.

    Em suma, trocando por miúdos, o comunicado nocturno da Impresa pretende convencer o mercado de que só ontem à noite Francisco Pinto Balsemão, Francisco Maria Balsemão e Francisco Pedro Balsemão, administradores da dona da SIC e do Expresso, foram formalmente informados por Francisco Pinto Balsemão, Francisco Maria Balsemão e Mónica Balsemão de que a própria Impreger (sócia maioritária da Impresa) estava em negociações com a MFE, controlada pela família Berlusconi, “para avaliar potenciais operações societárias com vista à aquisição de uma participação relevante” no grupo.

    Seria uma tese aceitável — se não fosse o pequeno detalhe da impossibilidade técnica de Francisco Pinto Balsemão e Francisco Maria Balsemão notificarem-se a si próprios, a menos que o conselho de administração tenha passado a reunir-se em frente a um espelho na Quinta da Marinha.

    Impresa comunicou informação privilegiada às 00h59m47s de hoje sem querer assumir que a escondeu ao mercado durante bastante tempo.

    Também curioso é observar o facto de o comunicado da Impresa no site da CMVM, que só por si constitui “informação privilegiada” (daí a publicação), terminar com a frase: “Caso venha a existir informação privilegiada, será feita comunicação ao mercado nos termos previstos no artigo 29.º-Q do Código dos Valores Mobiliários e do Regulamento (UE) n.º 596/2014, do Parlamento Europeu e do Conselho, de 16 de abril de 2014”.

    Ou seja, a Impresa quer dar a entender que a informação privilegiada que escondeu ao mercado (negociações em curso que podem levar mesmo a uma OPA e à mudança de mãos de importantes órgãos de comunicação social) não é informação privilegiada, tanto assim que promete revelar informação privilegiada quando a houver. Uma curiosa subversão do conceito de transparência, porque se a informação privilegiada fosse um conceito definido pelo livre arbítrio das empresas cotadas corria-se o risco de nada ser relevante para ser considerada informação privilegiada.

    Aliás, ainda ontem, fonte oficial da Impresa tinha dito que “não existe informação privilegiada” a reportar, mas ao fazer um comunicado poucas horas depois – e sem que fosse possível avançar com factos novos por se tratar de uma sexta-feira à noite – acabou por confessar implicitamente que existia informação privilegiada escondida.

    Foto: Mediaset Itália

    Na verdade, ontem, através da agência de comunicação JLMA, a Impresa não negava conversações, mas relativiza o ponto da situação das negociações, afirmando que, “como no passado, não deixará de analisar parcerias que contribuam para o crescimento e cumprimento dos [seus] objectivos estratégicos”, acrescentando ainda que “mantém, há alguns anos, uma relação de cooperação comercial com o grupo MFE”.

    Recorde-se que o Il Messaggero salientava ontem que as negociações entre a MFE, sediada em Cologno Monzese, e a Impresa tiveram início no Verão de 2024, embora já tivessem existido contactos em 2019. A nova fase de negociações incide sobretudo sobre a SIC, subsidiária da Impresa que mantém resultados operacionais positivos, ainda que em queda devido ao peso da dívida acumulada pela casa-mãe nos últimos anos.

    O jornal italiano referiu ainda que vários pontos permanecem em aberto, estando a MFE a avaliar se avança para a compra de todo o grupo Impresa ou apenas de activos específicos, como a SIC. O fecho das negociações é apontado para o final do ano, com a nota de que “o preço não será elevado, mas terá de contemplar uma eventual OPA”, uma vez que a dívida a ser assumida pela MFE será significativa.

    Francisco Pedro Balsemão. / Foto: D.R.

    A MFE tem prosseguido uma estratégia agressiva de expansão e não esconde as suas ambições. No final do ano passado, o presidente-executivo, Pier Silvio Berlusconi, afirmou ter garantido o apoio de bancos para um empréstimo de 3,4 mil milhões de euros destinado a financiar o crescimento do grupo na Europa. “Queremos estar prontos para avaliar o que, se é que há algo, poderá ser a decisão certa a tomar na Alemanha, mas também relativamente a quaisquer outras oportunidades”, afirmou então Berlusconi, citado pela Reuters, acrescentando esperar que o ano em curso fosse de consolidação.

    A megaholding italiana de media, anteriormente denominada Mediaset Group, é controlada pelos herdeiros do antigo primeiro-ministro Sílvio Berlusconi através do Fininvest Group. O grupo detém operações de televisão privada, bem como cinemas, produtoras e editoras em Itália, Espanha e Alemanha, país onde passou este mês a controlar a ProSiebenSat.1.

  • Actualização: CMVM e Euronext suspendem negociação das acções da Impresa

    Actualização: CMVM e Euronext suspendem negociação das acções da Impresa


    A negociação das acções da Impresa esteve suspensa na abertura da Bolsa, esta segunda-feira de manhã. A informação constava do site do Euronext Lisbon.

    As acções, entretanto, já retomaram a negociação. Às 10H54 seguiam a valorizar 43% para 18 cêntimos após a Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) ter determinado o levantamento da suspensão, “considerando que a suspensão cumpriu o seu propósito de absorção da informação pelo mercado”.

    O PÁGINA UM já ontem tinha apontado a possibilidade de a negociação das acções da Impresa ficar suspensa esta manhã, na abertura da Bolsa. A suspensão do título surgiu perante a expectativa criada de que a empresa dona da SIC e do Expresso deverá vir a ser alvo de uma Oferta Pública de Aquisição (OPA) por parte da MediaforEurope, o maior grupo de TV aberta da Europa. Com operações de televisão aberta em Itália, Espanha, Alemanha, Áustria e Suíça, este grupo é controlado pela família Berlusconi, através do Fininvest Group.

    Registo do Euronext obtidos às 8h45 referindo a suspensão da negociação em bolsa das acções da Impresa.

    Na sexta-feira, a Impresa fechou em Bolsa a cotar nos 12,6 cêntimos por acção, valendo cerca de 21,2 milhões de euros, a preços de mercado. A Impresa tem como principal accionista a holding Impreger, controlada pela família Balsemão.

    Dadas as expectativas de que venha a haver uma OPA, as acções da Impresa estão a atrair forte procura.

    Segundo o jornal italiano Il Messaggero, no conselho de administração da MFE que aprovou as contas semestrais na passada quarta-feira, o CFO Marco Giordani informou sobre a retoma das negociações para uma entrada na Impresa, o grupo de media fundado por Francisco Pinto Balsemão e actualmente em situação financeira difícil. O jornal italiano menciona que “a conclusão [do negócio] está prevista para o final do ano” e que “o preço não será alto, mas terá que incluir uma Oferta Pública de Aquisição” sobre a Impresa.

    Depois de o PÁGINA UM ter alertado para a ausência de divulgação de informação privilegiada por parte da Impresa – o que constitui uma ilegalidade – a dona da SIC e do Expresso publicou um tímido comunicado no site do polícia da Bolsa que foi considerado insuficiente pela CMVM.

    Francisco Pedro Balsemão, presidente-executivo da Impresa. / Foto: D.R.

    Perante a ausência de informação completa da Impresa, o PÁGINA UM colocou questões à CMVM e voltou hoje a questionar o regulador sobre a ausência de informação, designadamente sobre estar a ser negociada uma operação que envolverá o lançamento de uma OPA.

    Ao final desta tarde, a Impresa, pressionado pela CMVM, fez novo comunicado ao mercado onde admite que “no âmbito das negociações tornadas públicas com o grupo MFE não se encontra afastada a possibilidade da aquisição por este de uma participação relevante (direta ou indireta) para efeitos de controlo na Impresa, reiterando que, nesta data, não existe qualquer acordo vinculativo para o efeito”.

    Contudo, esta informação continua a ser insuficiente já que a notícia do jornal italiano menciona dados importantes, como a data prevista de conclusão do negócio, bem como o facto de que “o preço não será alto, mas terá que incluir uma Oferta Pública de Aquisição” sobre a Impresa.

    Segundo comunicado divulgado pela Impresa sobre as negociações com o MFE.

    Perante a expectativa de uma OPA, as acções da Impresa poderão registar uma elevada procura. O facto de a Impresa ter ontem, tardiamente, confirmado a existência de negociações para que o MFE passe a controlar o grupo coloca as acções no centro das atenções dos investidores.

    Importa recordar que, de acordo com o Regulamento Abuso de Mercado da União Europeia, as empresas cotadas ou emitentes de dívida têm a obrigação de esclarecer o mercado sempre que circulem rumores ou notícias susceptíveis de influenciar a cotação dos seus títulos. Mas a Impresa só fez um primeiro comunicado, incompleto, ao mercado pelas 00H59 de Sábado. O segundo comunicado, ainda incompleto, foi divulgado ontem, pelas 17H16.

    Nota: Notícia actualizada pelas 10H55 para acrescentar a indicação de retoma da negociação das acções da Impresa em Bolsa e respectiva cotação.

  • CMVM e Euronext avaliam suspender negociação das acções da Impresa

    CMVM e Euronext avaliam suspender negociação das acções da Impresa


    O regulador da Bolsa e a Euronext Lisbon avaliam a suspensão da negociação das acções da Impresa amanhã na abertura da sessão bolsista.

    A deliberação da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) e da gestora da Bolsa só deverá ser tomada esta segunda-feira de manhã e surge perante a expectativa criada de que a empresa dona da SIC e do Expresso deverá vir a ser alvo de uma Oferta Pública de Aquisição (OPA) por parte da MediaforEurope, o maior grupo de TV aberta da Europa. Com operações de televisão aberta em Itália, Espanha, Alemanha, Áustria e Suíça, este grupo é controlado pela família Berlusconi, através do Fininvest Group.

    Pier Silvio Berlusconi, presidente-executivo da MFE, antiga Mediaset, o maior grupo de

    Na sexta-feira, a Impresa fechou em Bolsa a cotar nos 12,6 cêntimos por acção, valendo cerca de 21,2 milhões de euros, a preços de mercado. A Impresa tem como principal accionista a holding Impreger, controlada pela família Balsemão.

    Dadas as expectativas de que venha a haver uma OPA, as acções da Impresa deverão atrair forte procura, havendo necessidade de consolidação de ofertas, sobretudo na abertura do mercado bolsista, amanhã, para estabilização de preços.

    Segundo o jornal italiano Il Messaggero, no conselho de administração da MFE que aprovou as contas semestrais na passada quarta-feira, o CFO Marco Giordani informou sobre a retoma das negociações para uma entrada na Impresa, o grupo de media fundado por Francisco Pinto Balsemão e actualmente em situação financeira difícil. O jornal italiano menciona que “a conclusão [do negócio] está prevista para o final do ano” e que “o preço não será alto, mas terá que incluir uma Oferta Pública de Aquisição” sobre a Impresa.

    Depois de o PÁGINA UM ter alertado para a ausência de divulgação de informação privilegiada por parte da Impresa – o que constitui uma ilegalidade – a dona da SIC e do Expresso publicou um tímido comunicado no site do polícia da Bolsa que foi considerado insuficiente pela CMVM.

    Francisco Pedro Balsemão, presidente-executivo da Impresa. / Foto: D.R.

    Perante a ausência de informação completa da Impresa, o PÁGINA UM colocou questões à CMVM e voltou hoje a questionar o regulador sobre a ausência de informação, designadamente sobre estar a ser negociada uma operação que envolverá o lançamento de uma OPA.

    Ao final desta tarde, a Impresa, pressionado pela CMVM, fez novo comunicado ao mercado onde admite que “no âmbito das negociações tornadas públicas com o grupo MFE não se encontra afastada a possibilidade da aquisição por este de uma participação relevante (direta ou indireta) para efeitos de controlo na Impresa, reiterando que, nesta data, não existe qualquer acordo vinculativo para o efeito”.

    Contudo, esta informação continua a ser insuficiente já que a notícia do jornal italiano menciona dados importantes, como a data prevista de conclusão do negócio, bem como o facto de que “o preço não será alto, mas terá que incluir uma Oferta Pública de Aquisição” sobre a Impresa.

    Segundo comunicado divulgado pela Impresa sobre as negociações com o MFE.

    Perante a expectativa de uma OPA, as acções da Impresa poderão registar uma elevada procura. O facto de a Impresa ter hoje, tardiamente, confirmado a existência de negociações para que o MFE passe a controlar o grupo coloca as acções no centro das atenções dos investidores.

    Importa recordar que, de acordo com o Regulamento Abuso de Mercado da União Europeia, as empresas cotadas ou emitentes de dívida têm a obrigação de esclarecer o mercado sempre que circulem rumores ou notícias susceptíveis de influenciar a cotação dos seus títulos. Mas a Impresa só fez um primeiro comunicado, incompleto, ao mercado pelas 00H59 de hoje. O segundo comunicado, ainda incompleto, foi divulgado hoje pelas 17H16 de hoje.

    Nota: O PÁGINA UM colocou questões à CMVM no Sábado e no Domingo, designadamente sobre se iria haver suspensão da negociação das acções da Impresa na abertura da Bolsa na segunda-feira. Apesar do silêncio do regulador, o PÁGINA UM apurou oficialmente que a suspensão da negociação estava na mesa e foi-nos indicado que a decisão definitiva de suspensão seria tomada na manhã de segunda-feira, antes da abertura da Bolsa.

    De facto, só depois da abertura da Bolsa é que a CMVM publicou no seu site, pelas 08H51, um comunicado indicando que o seu conselho de administração tinha decidido suspender a negociação da Impresa em Bolsa, “para permitir ao mercado absorver a informação entretanto divulgada”. Mas a CMVM apontou que a decisão foi tomada no dia 26 de Setembro pelas 19H40. Isto apesar de a Impresa só ter divulgado um comunicado com escassa informação no site da CMVM pelas 00H59 do dia 27 de Setembro. O grupo de media fez ainda um segundo comunicado no Domingo, pelas 17H16.