Etiqueta: Editorial

  • 23 páginas em defesa do jornalismo credível de investigação: o caso da segurança das vacinas

    23 páginas em defesa do jornalismo credível de investigação: o caso da segurança das vacinas


    Exma. Senhora Presidente da Entidade Reguladora para a Comunicação Social,

    Prof. Helena Sousa:

    No seguimento da anulação da Deliberação ERC/2024/80 (CONTJOR-NET), após terem sido detectadas falsidades na dita Deliberação quanto à minha notificação (e alegada não resposta da minha parte), venho apresentar a minha defesa.

    Ao contrário daquilo que seria sensato, por estarmos perante uma mera análise do regulador que emite uma mera opinião sem qualquer consequência punitiva, gastei vários dias a elaborar esta defesa, porque assumi que, pela ligeireza e preconceito de casos passados, está aqui em causa, na verdade, a liberdade de imprensa, e sobretudo a liberdade da investigação jornalística feita de forma independente, o que costuma causar incómodos a determinados interesses e lobbies.

    Não quero assim contribuir para que a ERC, como já o fez em outras situações (demasiadas), tenha margem de manobra para continuar a alimentar, com deliberações enviesadas, uma campanha de difamação sobre o rigor e credibilidade do meu trabalho de jornalista, afectando também o PÁGINA UM como órgão de comunicação independente que está a trilhar o seu caminho.

    A minha defesa, que aqui se expõe, será apresentada por tópicos, devendo ser aplicada às duas queixas formuladas pelo Dr. Filipe Froes, médico do Serviço Nacional de Saúde e sócio da empresa Terras & Froes, Lda., que tem fortes relações comerciais com empresas do sector farmacêutico. Esta defesa deve servir também de reflexão para o Conselho Regulador da ERC sobre análises pré-concebidas e sobre o papel que deve caber à imprensa na necessária pesquisa mesmo em matérias onde se quer aparentar existir um consenso. Os 5o documentos que se anexam, grande parte dos quais artigos em revistas científicas (todas com peer review), devem ser consideradas como prova ou complemento do que se expõe – e, portanto, consideradas na análise.

    person holding white plastic bottle

    Primeiro ponto

    A deliberação anulada denota que o(a) funcionário(a)anão identificado(a) da ERC que elaborou a proposta dessa deliberação não analisou sequer o registo de vídeo que enderecei, onde se mostrava como se procedeu à análise da base de dados da EudraVigilance, gerida pela Agência Europeia do Medicamento (EMA). Denota-se também que a ERC não tem a mínima noção sobre a gestão dos processos de notificação das reacções adversas feitas individualmente a cada fármaco, sendo que são inseridos para cada fármaco apenas as reacções adversas de que haja suspeita fundada de terem causado as referidas reacções, definidas em função da gravidade. Não pode a ERC analisar o rigor de uma análise se nem sequer segue os passos da investigação que pretende avaliar quanto ao rigor.

    Segundo ponto

    Reitero que as participações feitas por pessoas externas sobre matérias noticiosas de um órgão de comunicação social devem sempre ser comunicadas com a identificação do queixoso, até para que se contextualize as suas intenções. Na matéria em apreço, que exige conhecimentos científicos (que não médicos; trata-se mais de matérias de segurança de medicamentos, e não de questões clínicas e de administração terapêutica), convém salientar que o queixoso (Dr. Filipe Froes, que só foi identificado após insistente pedido meu) não pode, per si, e perante a ERC, e apenas com a base na sua profissão e currículo, usufruir de uma valia diferenciada.

    Terceiro ponto

    Aliás, bem exemplificativo disso é o facto de o Dr. Filipe Froes mentir – ou, em alternativa, no caso de mera ignorância, faltará à verdade –, quando disserta sobre as mortes súbitas no Reino Unido. Escreve ele na queixa, depois de apresentar supostos dados, que “só os casos de morte súbita que ocorreram naturalmente num único país, neste caso o Reino Unido, e sem relação com a vacina podem justificar a maioria dos casos referidos na peça jornalística”. Ora, conforme se pode constatar no Office for National Statistics na rubrica Deaths “involving” or “due to” Sudden Infant Death Syndrome and Sudden Adult Death Syndrome, existe um ficheiro onde consta a evolução entre 2015 e 2022 “envolvendo” (involving) e “devido a” (due to) síndrome da morte súbita (FICHEIRO 1).

    Registo de óbitos envolvendo ou devido a síndrome de morte súbita em maiores de 16 anos no Reino Unido entre 2015 e 2022. Fonte: Office for National Statistics.

    Considerando as mortes envolvendo morte súbita no triénio da pandemia (2020-2022) e o triénio anterior (2017-2019), constata-se um aumento para 1.512 casos (3.932 para 5.44 óbitos), significando um incremento de 38,5%. Em todo o caso, em nenhum lado dos meus artigos refiro que há uma relação directa entre a vacina contra a covid-19 e as mortes súbitas: apenas contabilizo os registos da EMA que colocam a morte súbita associada à vacinação, sugerindo a necessidade de estudos. Em todo o caso, só este exemplo comprova á saciedade, podendo (e devendo) a ERC confirmar a veracidade daquilo que apresento; e não através de falsas declarações do Dr. Filipe Froes.

    Ponto terceiro

    Desconheço também – e isso significa que, em princípio, não deterá – os conhecimentos na área científica em análise por parte de funcionários da ERC e membros do seu Conselho Regulador para analisarem o rigor de um artigo de elevada complexidade como a apresentada. Aliás, é absurdo que um regulador dos media se atreva a fazer análises científicas numa área ainda em constante debate científico, felizmente agora mais aberto e sem censura evidente. Atendendo ao ponto 45 da deliberação anulada, fica bem patente que quem elaborou a Deliberação, e quem a aprovou, nem sequer entende o modelo de funcionamento da base de dados EudraVigilance, gerida EMA.

    Quando se escreveu na Deliberação anulada “Além disso, na análise do Página Um à totalidade dos dados sobre ‘mortes súbitas’ não há uma frase conclusiva sobre o resultado da pesquisa, antes vão sendo apresentadas lacunas que impossibilitam extrair um desfecho unívoco. A razão é imputada ao procedimento institucional para a recolha dos dados: ‘Até porque a maioria dos reportes de efeitos adversos foram enviados pelas próprias farmacêuticas à EMA’”, só poderei concluir que o(a) funcionário(a) da ERC que escreveu e os membros do Conselho Regulador que concordaram não percebem sequer do que se está a falar – e daquilo que eu escrevi. Na verdade, é exactamente pelo facto de a maioria dos eventos, uma parte dos quais fatais, e que são associados directamente a um fármaco (considerado suspeito), serem enviados por farmacêuticas que se mostram relevantes para as questões de segurança.

    As farmacêuticas jamais enviariam registos de casos suspeitos sem que houvesse uma suspeita relevantes de estar associada ao seu fármaco – até porque estes podem ser determinantes para uma eventual retirada do mercado. Por outro lado, as farmacêuticas sabem que se tentarem esconder informação, como por vezes sucedeu, estão a sujeitar-se, mais tarde, a serem fortemente punidas por esse acto. Daí que seja habitual que as farmacêuticas sejam agora uma das principais comunicadoras de suspeitas de reacções adversas.

    a close up of a padlock on a door

    Ponto quarto

    Sejamos claros – e a ERC não pode nem deve colocar qualquer tipo de oposição ou censura à livre investigação dos jornalistas em matéria de segurança dos medicamentos, ainda mais numa fase tão precoce da introdução das vacinas contra a covid-19 no mercado, ainda mais em larguíssima escala.

    Apesar de a indústria farmacêutica ter promovido muitos medicamentos que contribuem para salvar vidas e melhorar a qualidade de vida das pessoas, não são entes imaculados nem as suas práticas são isentas de pecados ou mesmo crimes. Existe profusa documentação e casos sobre estas matérias, dos quais sugiro a análise dos seguintes artigos científicos, todos antes da pandemia:

    1 – Light DW, Lexchin J, Darrow JJ. Institutional corruption of pharmaceuticals and the myth of safe and effective drugs. J Law Med Ethics. 2013 Fall;41(3):590-600. doi: 10.1111/jlme.12068. PMID: 24088149.  (FICHEIRO 2)

    Este artigo foi publicado em 2013 pela revista The Journal of Law, Medicine & Ethics, pertencente à American Society of Law, Medicine & Ethics, e tem o seguinte sumário (tradução livre):

    Nos últimos 35 anos, os pacientes sofreram com uma epidemia amplamente oculta de efeitos colaterais de medicamentos que geralmente apresentam poucos benefícios compensatórios. A indústria farmacêutica corrompeu a prática da medicina através da sua influência sobre quais os medicamentos que são desenvolvidos, como são testados e como o conhecimento médico é criado. Desde 1906, a forte influência comercial comprometeu a legislação do Congresso para proteger o público de drogas perigosas. A autorização de taxas de utilização em 1992 transformou as empresas farmacêuticas nos principais clientes da FDA, aprofundando a captura regulamentar e cultural da agência. A indústria exigiu tempos médios de revisão mais curtos e, com menos tempo para analisar minuciosamente as evidências, resultou num aumento de hospitalizações e mortes. Atender às necessidades das empresas farmacêuticas tem prioridade sobre atender às necessidades dos pacientes. A menos que esta corrupção da intenção regulamentar seja revertida, a situação continuará a deteriorar-se. Oferecemos sugestões práticas, incluindo: separar o financiamento de ensaios clínicos da sua condução, análise e publicação; liderança independente da FDA; financiamento público total para todas as atividades da FDA; medidas para desencorajar a I&D de medicamentos com poucos ou nenhuns novos benefícios clínicos; e a criação de um Conselho Nacional de Segurança de Medicamentos.

    2 – Rodwin MA. Introduction: Institutional corruption and the pharmaceutical policy. J Law Med Ethics. 2013 Fall;41(3):544-52. doi: 10.1111/jlme.12062. PMID: 24088143.  (FICHEIRO 3)

    Também publicado na mesma revista em 2013, este texto constitui uma longa introdução a um simpósio, sendo que o sumário é o seguinte (tradução livre):

    Neste simpósio do The Journal of Law, Medicine & Ethics , 16 autores investigam a corrupção da política farmacêutica, cada um dando uma olhada diferente nas fontes de corrupção, como ela ocorre e o que é corrompido. Este ensaio introdutório resume cada artigo, discute o tema principal que percorre os artigos e fornece links da web do SSRN para acessar cada um dos 16 artigos. Os artigos são organizados em cinco tópicos: (1) problemas sistêmicos, (2) pesquisa médica, (3) conhecimento e prática médica, (4) marketing e (5) organizações de defesa do paciente.

    Hoje, os objectivos da política farmacêutica e da prática médica são frequentemente prejudicados devido à corrupção institucional – isto é, práticas generalizadas ou sistémicas, geralmente legais, que prejudicam os objectivos ou a integridade de uma instituição. Veremos que os próprios objectivos da indústria farmacêutica são frequentemente prejudicados. Além disso, o financiamento de campanhas eleitorais e de lobbying pela indústria farmacêutica distorce o processo legislativo que define a política farmacêutica. Além disso, certas práticas corromperam a investigação médica, a produção de conhecimento médico, a prática da medicina, a segurança dos medicamentos e a supervisão do marketing farmacêutico pela Food and Drug Administration. Como resultado, os profissionais podem pensar que estão a utilizar informações fiáveis ​​para se envolverem numa prática médica sólida, ao mesmo tempo que, na verdade, confiam em informações enganosas e, portanto, prescrevem medicamentos que são desnecessários ou prejudiciais aos pacientes, ou mais dispendiosos do que medicamentos equivalentes. Ao mesmo tempo, os pacientes e o público podem acreditar que as organizações de defesa dos pacientes representam efectivamente os seus interesses, enquanto estas organizações na verdade negligenciam os seus interesses.

    3 – Rickard E, Ozieranski P. A hidden web of policy influence: The pharmaceutical industry’s engagement with UK’s All-Party Parliamentary Groups. PLoS One. 2021 Jun 24;16(6):e0252551. doi: 10.1371/journal.pone.0252551. PMID: 34166396; PMCID: PMC8224875. (FICHEIRO 4)

    Publicado em 2021 na revista científica PLOS ONE, pode ler-se o seguinte:

    O nosso objectivo era examinar conflitos de interesse entre os Grupos Parlamentares All-Party (APPGs) focados em saúde do Reino Unido e a indústria farmacêutica entre 2012 e 2018. Os APPGs são grupos informais multipartidários que giram em torno de um tópico específico administrado por e para membros das Câmaras dos Comuns e Lordes do Reino Unido. Eles facilitam o engajamento entre parlamentares e organizações externas, disseminam conhecimento e geram debates por meio de reuniões, publicações e eventos. Identificamos APPGs com foco em saúde física ou mental, bem-estar, assistência médica ou tratamento e extraímos detalhes de seus pagamentos de doadores externos divulgados no Registro de Grupos Parlamentares All-Party. Identificamos todos os doadores que eram empresas farmacêuticas e organizações de pacientes financiadas pela indústria farmacêutica. Estabelecemos que dezasseis de 146 (11%) APPGs relacionados à saúde tinham conflitos de interesse indicados por relatórios de pagamentos de trinta e cinco empresas farmacêuticas no valor de £ 1.211.345,81 (16,6% dos £ 7.283.414,90 recebidos por todos os APPGs relacionados à saúde). Dois APPGs (Saúde e Câncer) receberam mais da metade do valor total fornecido pelas empresas farmacêuticas. Cinquenta APPGs também receberam pagamentos de organizações de pacientes com conflitos de interesse, indicados por relatórios de 304 pagamentos no valor de £ 986.054,94 de 57 (de 84) organizações de pacientes que receberam £ 27.883.556,3 de empresas farmacêuticas no mesmo período. No total, as empresas farmacêuticas e as organizações de pacientes financiadas pela indústria farmacêutica forneceram um total combinado de £ 2.197.400,75 (30,2% de todo o financiamento recebido por APPGs relacionados à saúde) e 468 (de 1.177–39,7%) pagamentos para 58 (de 146–39,7%) APPGs relacionados à saúde, com o APPG para Câncer recebendo a maior parte do financiamento. Concluindo, encontramos evidências de conflitos de interesses por meio de APPGs que recebem renda substancial de empresas farmacêuticas. A influência política exercida pela indústria farmacêutica precisa ser examinada holisticamente, com ênfase nas relações entre atores que potencialmente desempenham parte em suas campanhas de lobby. Também sugerimos maneiras de melhorar a transparência dos relatórios de pagamento por APPGs e empresas farmacêuticas.

    Neste aspecto, convém recordar mais uma vez que o Dr. Filipe Froes tem uma elevadíssima ligação à indústria farmacêutica, não apenas amplamente comprovada pelo PÁGINA UM, mas também por outros órgãos de comunicação social como o Expresso (FICHEIRO 5).

    E também notar, e como o Dr. Filipe Froes é particularmente activo nas redes sociais, que a existência de conflitos de interesse escondidos no âmbito das farmacêuticas não é exclusivo de Portugal, como se pode observar na leitura do seguinte artigo na revista científica BMJ Open, intitulado “Conflict of interest and funding in health communication on social media: a systematic review” (FICHEIRO 6).

    Ponto quinto

    Mais: não é sequer aceitável que a ERC, como entidade reguladora dos media, mas também protectora da liberdade de informação (e, em consequência, da protecção dos jornalistas), queira contribuir para o silenciamento do jornalismo de investigação, que alerta e que questiona, e que participe no “jogo” dos lobistas das farmacêuticas, como tem sido bem patente o “trabalho” do Dr. Filipe Froes.

    Aliás, sabendo-se que os meus artigos usam sempre fontes oficiais, sem erros nem deturpação, e que as “únicas provas” das supostas falhas são as queixas e opiniões do Dr. Filipe Froes e uma enviesada análise de um(a) funcionário(a) da ERC que não deterá conhecimentos científicos sobre a matéria, convém relembrar alguns recentes artigos também (e sempre) em revistas científicas sobre o comportamento das farmacêuticas no recente período pandémico.

    1 – Deruelle F. The pharmaceutical industry is dangerous to health. Further proof with COVID-19. Surg Neurol Int. 2022 Oct 21;13:475. doi: 10.25259/SNI_377_2022. PMID: 36324959; PMCID: PMC9610448. (FICHEIRO 7)

    Publicado em 2022 na revista científica Surgical Neurology International, convém, sem prejuízo de ser analisado o conteúdo original integral para efeitos da minha defesa, colocar a tradução do sumário completo:

    Contexto: O período da COVID-19 destaca um enorme problema que vem se desenvolvendo há décadas, o controle da ciência pela indústria. Na década de 1950, a indústria do tabaco deu o exemplo, que a indústria farmacêutica seguiu. Desde então, esta última tem sido regularmente condenada por marketing ilegal, deturpação de resultados experimentais, dissimulação de informações sobre os perigos das drogas e considerada criminosa. Portanto, este estudo foi conduzido para mostrar que o conhecimento é poderosamente manipulado por corporações prejudiciais, cujos objetivos são: 1/financeiros; 2/suprimir nossa capacidade de fazer escolhas para adquirir o controle global da saúde pública.

    Métodos: Técnicas da indústria farmacêutica para manipular a ciência e os relatórios sobre a COVID-19 foram revisadas. Várias fontes de documentos oficiais foram usadas: PubMed; recursos do National Institutes of Health; empresas farmacêuticas; documentos de políticas; jornais e agências de notícias nacionais; e livros de profissionais proeminentes (científicos e jurídicos). Alguns estudos não foram publicados em periódicos revisados ​​por pares; no entanto, eles foram conduzidos por cientistas respeitáveis ​​em seus respectivos campos.

    Resultados: Desde o início da COVID-19, podemos elencar os seguintes métodos de manipulação de informação que têm sido utilizados: ensaios clínicos falsificados e dados inacessíveis; estudos falsos ou com conflito de interesses; ocultação dos efeitos secundários a curto prazo das vacinas e total falta de conhecimento dos efeitos a longo prazo da vacinação contra a COVID-19; composição duvidosa das vacinas; métodos de teste inadequados; governos e organizações internacionais sob conflitos de interesse; médicos subornados; a difamação de cientistas renomados; a proibição de todos os tratamentos alternativos eficazes; métodos sociais não científicos e liberticidas; uso governamental de modificação de comportamento e técnicas de engenharia social para impor confinamentos, máscaras e aceitação de vacinas; censura científica por parte dos media.

    Conclusão: Ao apoiar e selecionar apenas um lado da informação científica, ao mesmo tempo em que suprime pontos de vista alternativos, e com conflitos de interesse óbvios revelados por este estudo, governos e os media constantemente desinformam o público. Consequentemente, as leis de vacinação não cientificamente validadas, originárias da ciência médica controlada pela indústria, levaram à adoção de medidas sociais para a suposta proteção do público, mas que se tornaram sérias ameaças à saúde e às liberdades da população.

    Convém, aliás, destacar a nota do editor-chefe emérito desta revista científica, o médico doutorado James I. Ausman (com um h-index de 50 no Scopus), que, estando no corpo do artigo acima referido, se apresenta também em tradução livre, e com o qual se concorda:

    A SNI [Surgical Neuroloy International] se dedica a publicar a verdade. O SNI não possui características pelas quais julga os artigos, excepto por informações baseadas em factos. A pandemia da COVID-19 é marcada por informações conflituantes e confusas para o público. A única solução científica para este problema é ouvir todos os lados da questão, para que uma decisão razoável possa ser tomada. Em vez disso, descobrimos e aprendemos que a prática não foi e não está sendo feita. O vírus é letal como é descrito com altas taxas de mortalidade? Todos deveriam ser vacinados e receber reforço, incluindo crianças pequenas e bebês? As pessoas deveriam usar máscaras e isolar-se socialmente? As vacinas são seguras para uso ou apresentam complicações, entre as quais se destacam os efeitos respiratórios, de coagulação sanguínea e neurológicos? Por que o público não está sendo informado sobre eles? Será que os seus interesses egoístas mais profundos entre as empresas farmacêuticas, os meios de comunicação social e os governos estão a limitar o que o público sabe? O que é a verdade? Fabien Deruelle, um cientista francês, que é um pensador independente, viu alguns factores perturbadores envolvidos nos relatórios sobre a COVID-19. Depois de passar oito meses pesquisando e escrevendo por conta própria para saber das controvérsias em torno do COVID-19, ele concluiu que havia uma enorme quantidade de desinformação sendo contada e espalhada intencionalmente. A ciência estava a ser corrompida por forças burocráticas, governamentais, farmacêuticas, mediáticas e políticas, para que a verdade não fosse dita. A seguir está a sua revisão da literatura sobre as controvérsias do COVID-19. Consequentemente, este cientista independente descobriu factos conhecidos que foram suprimidos e estão surgindo nas páginas do SNI e agora em outras partes do Mundo. As suas observações independentes são o que torna o seu relatório especial. Se você quiser ver minha entrevista com ele sobre sua experiência com a polémica do COVID-19, clique aqui: https://vimeo.com/755630905. Você decide.

    Ponto sexto

    Recuando à fonte de informação básica – e que são factos – dos meus artigos, convém repetir que os registos que constam na EudraVigilance são apenas uma síntese da informação recebida pela EMA e por si validada. É falso que os registos contenham casos sem qualquer relação mínima com o fármaco. Por exemplo, e para ser absurdo, se um doente de 80 anos que tomava 10 medicamentos, acaba por morrer de morte natural, não vão ser registadas na EudraVigilance 10 suspeitas aos tais fármacos. Se um doente com problemas cardíacos que tomava um medicamento para a sua condição cardiovascular acabar por morrer de enfarte, o medicamento que lhe prolongava a vida não vai ficar imediatamente sob suspeita. Excepto, claro, se um médico, e posteriormente o regulador, validarem a suspeita.

    Ponto sétimo

    Convém também referir que os dois artigos em causa se enquadram num conjunto de abordagens estruturantes com vista ao conhecimento da realidade sobre a pandemia e os seus diversos efeitos. A ERC não pode desconhecer que o PÁGINA UM tem sido o único órgão de comunicação social a requerer informação oficiais, recorrendo tanto à Comissão do Acessos aos Documentos Administrativos (CADA) quer aos Tribunais Administrativos, neste caso para apresentação de intimações. Tem sido claramente as autoridades oficiais que têm mostrado uma constante oposição ao fornecimento de informação, manipulando também dados. É, por isso, absurdo que a ERC queira agora fazer censura e crítica ao rigor (sem sequer ter bases científicas para tal) ao único órgão de comunicação social que pretende aceder a informação oficial detalhada e em bruto.

    Ponto oitavo

    Não menos importante é referir que os dois artigos em causa foram precedidos, por exemplo, de um em particular, que surge citado com a ligação respectiva, intitulado “Sabe quantas mortes na Europa são atribuídas às vacinas contra a covid-19?”, publicado em 13 de Janeiro de 2023 (FICHEIRO 8), onde, de forma didáctica, e apresentando já a quantificação de casos suspeitos de efeitos adversos das vacinas contra a covid-19, se explica como funciona o processo de autorização e de avaliação da segurança dos medicamentos. Não se pode exigir que, em artigos posteriores, se repita sistematicamente esse tipo de análise mais pedagógica.

    Ponto nono

    Não podendo ignorar, nesta fase da defesa, a existência da Deliberação anulada – e lamentando o modus operandi da ERC em não apresentar uma acusação concreta (optando por somente solicitar uma defesa sobre uma acusação abstracta) –, sempre direi que é absurda a acusação de “falta de contraditório” neste caso. Nem sequer se equaciona como um “contraditório” pode representar, neste caso em concreto, qualquer tipo de falta de rigor ou como pode existir um “contraditório” sobre factos, que são, neste caso, os eventos constantes de uma base de dados oficial da EMA, validados por essa entidade oficial.

    A ERC, ou um qualquer membro do Conselho Regulador, pode sempre opinar que um jornalista tem de ouvir opiniões ou comentários sobre factos de uma base de dados, mas se este decidir não o fazer, no princípio da liberdade editorial que sempre detém, não pode depois ser acusado de falta de rigor. A falta de rigor quando se analisa registos oficiais não existe se foram expostos com clareza – e não por não se ter ouvido fulano, por não se ter ouvido sicrano, ou por não se ter ouvido beltrano. A escolha é editorial, pode ser questionável, mas jamais pode uma entidade externa à editoria, ainda mais a ERC, imiscuir-se dessa tarefa ‘tachando’ um artigo com falta de rigor.

    Ponto décimo

    Aliás, é absurdo – e demonstrativo, sim, de preconceito da ERC sobre o meu trabalho e a isenção do PÁGINA UM nas matérias em discussão – o ponto 46 da Deliberação anulada. Com efeito, começa por dizer que a alegada “falta de contraditório tem ainda efeitos ao nível da manutenção de uma conduta de isenção inerente aos deveres da atividade jornalística”. Primeiro, o conceito de isenção em jornalismo é complexo – e mal estará o jornalismo se é um regulador com membros nomeados por partidos políticos a determinar se um jornalista é ou não isento. Um jornalista deve, observando uma realidade, considerá-la ou não com interesse público, atendível a sua isenção, ou seja, a opção em escrever ou não sobre essa matéria deve ser basear-se numa decisão isenta. Ora, se numa base de dados oficial constam registos de milhares de casos fatais associados a um fármaco, seria sim falta de isenção não escrever sobre o assunto. Porém, a ERC decidiu na sua Deliberação um conjunto de disparates ao pior estilo do preconceito, talvez pelo ouvir falar, talvez pela opinião de um médico inundado de conflitos de interesse por estar empresarialmente ligado à indústria farmacêutica, e particularmente das produtoras de vacinas contra a covid-19.

    white and green syringe on white surface

    Ponto décimo primeiro

    Depois, acrescenta a ERC, no mesmo ponto 46, que “desde logo [referindo-se, presume-se, à suposta falta de isenção] porque é percetível para o leitor a posição do órgão de comunicação social acerca do impacto das vacinas contra a COVID-19 no número de ‘mortes súbitas’. Acrescentando ainda que, “por outro lado, porque, mesmo assumindo que há falta de dados, incerteza na sua interpretação, que os números sobre mortes súbitas e muitas opiniões a circular radicam em teorias não fundamentadas cientificamente, o artigo mantém insinuações de inação perante o que seria o efeito das vacinas nas ‘mortes súbitas’ pelos Governos e ‘autoridades de saúde’”.

    Que a ERC se faça entender sobre esta matéria.

    O órgão de comunicação PÁGINA UM apenas toma posições em editoriais, e sempre de forma ponderada e com argumentos. Sobre as vacinas contra a covid-19 publiquei um editorial intitulado “Vacinar idosos e não vacinar jovens: a (mesma) opção lógica com base numa análise comparativa”, onde após apresentar uma análise, concluo: “a vacina pode até ser eficaz e justificar-se em idades mais avançadas, mas um programa vacinal massivo nas populações mais jovens constitui um desperdício de recursos. E também introduz uma incerteza desnecessária” (FICHEIRO 9). Outra posição que tomei, em nome do PÁGINA UM, através de editorial de 15 de Agosto de 2023 (FICHEIRO 10) foi a explicar a razão pela qual não me tinha vacinado, uma vez que, através de confirmações científicas e testes serológicos, se assumir que a imunidade proveniente de uma infecção anterior (e sobretudo grave, que me atingiu em 2021) ser suficientemente protectora. Estes editoriais são apenas dois exemplos.

    Além destas posições, todas as vezes que o PÁGINA UM se debruçou em notícias sobre a covid-19 e particularmente sobre as vacinas, fez com base em informação oficial, incluindo base de dados, ou artigos científicos. Sempre. Sobre os casos fatais descritos nas notícias, é absurdo que a ERC diga que o PÁGINA UM até assume que há falta de dados, incerteza na interpretação e até a circulação de opiniões não fundamentadas, mas depois, porque nos artigos se considera a necessidade de maior transparência e investigação sobre as causas da morte, a ERC faz a obtusa conclusão de que se está a “insinuar”.

    Não se está a insinuar: era (e é) a pura verdade: existe uma falta de empenho e falta de transparência dos Governos quanto aos efeitos adversos das vacinas contra a covid-19. Aliás, já em Janeiro de 2022, os editores do The BMJ – um dos grupos editoriais de revistas científicas – relatavam, a falta de dados em bruto sobre as vacinas contra a covid-19 (FICHEIRO 11).

    Este não é um problema recente: já em 2011, por exemplo, se criticava a ausência de dados em bruto disponíveis para análise independente, e que só uma minoria dos investigadores compartilhava essa informação (FICHEIRO 12). Aliás, repita-se: o PÁGINA UM é o único órgão de comunicação social – e, talvez por isso, o único que tem preocupado o Dr. Filipe Froes e a tentação censória da ERC – a procurar a abertura das autoridades nacionais no sentido de conhecer as reacções adversas, não para as considerar negativas, mas para que haja (houvesse) informação fidedigna para um consentimento informado. Achar que isto é falta de isenção é perfeitamente inqualificável.

    Ponto décimo segundo

    Mas antes de se analisar se o PÁGINA UM – ou eu – é a única entidade (ou pessoa) que tem manifestado apreensão sobre os efeitos adversos das vacinas, vejamos primeiro se é censurável, como defendeu a ERC na deliberação anulada, que não se faça sempre uma espécie de disclaimer favorável quando se fala em vacinas – repetimos, vacinas, cujo conceito se encontra enraizado.

    Ora, convenhamos que é absurdo (e mesmo anti-científico) aplicar-se uma espécie de obrigatoriedade em destacar os benefícios das vacinas, quaisquer que sejam, como ‘sintoma’ de isenção, quando se quer falar de efeitos adversos. Uma vacina – tal como sucede a qualquer outro fármaco – pressupõe a existência de uma autorização formal perante benefícios evidentes, mas não é uma sacrossanta garantia de segurança imposta de forma dogmática para todo o sempre.

    Aliás, somente no caso de vacinas, existem diversos casos mais ou menos recentes de retirada total ou parcial na Europa e/ ou em outras partes do Mundo por razões de segurança. Exemplos são conhecidos, e reportados tantos nos media como em artigos científicos, como os da vacina Pandemrix fabricada pela GlaxoSmithKline durante a pandemia de gripe suína de 2009-2010 (FICHEIRO 13), a da vacina LYMERrix, fabricada contra a doença de Lyme pela actual GSK (FICHEIRO 14). E podia continuar com mais, mas talvez seja mais interessante remeter a ERC para o relatório de 2020 da Organização Mundial da Saúde relativo ao período 2010-2018 intitulado “Restrictions in use and availability of pharmaceuticals”, onde surgem referidas nove vacinas (FICHEIRO 15).

    Ou, em alternativa, pode a ERC consultar um artigo científico, por sinal de quatro investigadores portugueses, intitulado “Drug Withdrawal Due to Safety: A Review of the Data Supporting Withdrawal Decision”, publicado em 2020 na revista Current Drug Safety (FICHEIRO 16), onde se faz um levantamento generalizado das centenas de fármacos retirados do mercado por diversas razões. Nas conclusões, os autores destacam o seguinte [tradução livre]:

    Muitas reacções adversas a medicamentos são conhecidas apenas após o medicamento entrar no mercado. Quanto maior o número de indivíduos expostos a um determinado medicamento e quanto mais tempo ele estiver no mercado, maior será a informação sobre a segurança desse medicamento. Os resultados obtidos, além de fornecerem uma lista abrangente de medicamentos retirados do mercado por razões de segurança, permitem-nos tirar quatro conclusões importantes. A primeira, referente ao tempo médio até a retirada, é que o tempo médio até a retirada variou de país para país e de região para região. O tempo médio até a retirada que encontramos globalmente foi de 20,3 anos para todos os medicamentos retirados do mercado por razões de segurança. Considerando os medicamentos introduzidos de 1990 a 2000 e de 2000 a 2010 (n = 40, tabela 5), o tempo médio de retirada foi muito menor (4,6 ± 3,6 e 3,3 ± 2,8, respectivamente). Diferentes políticas de medicamentos podem ter resultados diferentes no acesso aos medicamentos. Este artigo também mostra que, mesmo nos países mais desenvolvidos, nomeadamente aqueles na Europa e nos Estados Unidos da América, há alguma variação nas decisões sobre manter ou retirar um medicamento do mercado por razões de segurança. No entanto, esses dados apresentam como viés o curto período para documentar efeitos colaterais importantes e infrequentes, e o tempo de mercado é um risco cumulativo para a retirada do mercado. O tempo médio até a retirada também foi menor na década de 2000-2010 quando comparado com a década de 1990-2000, resultados que são consistentes com as descobertas de Onakpoya et al.. Este tempo médio é diferente dos achados anteriores de Fung et al. e Lasser et al., mas essas diferenças são principalmente metodológicas. A segunda descoberta importante está relacionada ao tempo médio até a retirada considerando a fonte de informação. Os ensaios clínicos foram a fonte de informação com o menor tempo médio até a retirada do medicamento (14 anos em comparação com 19 anos para relatórios espontâneos ou relatórios clínicos; isso foi verdade para 16% dos medicamentos retirados). A terceira descoberta refere-se ao tipo de reacções adversas medicamentosas (RAM). As três principais RAM que levaram à retirada do medicamento do mercado foram hepatotoxicidade (em primeiro lugar), seguidas por distúrbios cardiovasculares e distúrbios de hipersensibilidade. Esses resultados são consistentes com achados anteriores encontrados na literatura. Finalmente, uma quarta conclusão importante está relacionada à fonte de informação na qual a retirada é sustentada. A principal fonte de informação que leva à retirada do medicamento do mercado ainda são relatórios espontâneos ou relatórios clínicos (individuais ou em série)”.

    Muitos outros estudos seguem esta linha, mas existe um que merece reflexão (e deve ser considerado pela ERC na deliberação) – e que justifica o papel activo e atento da imprensa. Trata-se do artigo científico, publicado na revista BMC Medicine em 2016, intitulado “Post-marketing withdrawal of 462 medicinal products because of adverse drug reactions: a systematic review of the world literature” (FICHEIRO 17). Analisando todos os produtos medicinais retirados devidos a reacções adversas, os autores referem o seguinte:

    A subnotificação de reações adversas a medicamentos pode causar atrasos na tomada de decisões para a retirada de medicamentos. Há evidências de que os clínicos relatam reações adversas a medicamentos selectivamente, e os autores de uma revisão de admissões hospitalares devido a reações adversas a medicamentos concluíram que os médicos raramente relatam tais eventos quando ocorrem. A baixa taxa de notificação entre os profissionais de saúde pode ser devido ao desconhecimento de como usar os sistemas de notificação espontânea, conflitos de interesse, esquecimento, falta de tempo e incerteza sobre as relações causais entre medicamentos e eventos adversos. Medidas proactivas para incentivar os médicos a relatar suspeitas de reações adversas a medicamentos têm sido sugeridas. De facto, a provisão de incentivos económicos e/ou atividades educacionais melhora a notificação de reacções adversas a medicamentos entre clínicos hospitalares. Os pacientes também tendem a subnotificar suspeitas de reações adversas a medicamentos, e o empoderamento dos pacientes tem sido defendido”.

    Sugere-se ainda a análise dos seguintes artigos científicos sobre esta matéria da segurança dos medicamentos, como meros exemplos:

    1 – McNaughton R, Huet G, Shakir S. An investigation into drug products withdrawn from the EU market between 2002 and 2011 for safety reasons and the evidence used to support the decision-making. BMJ Open. 2014 Jan 15;4(1):e004221. doi: 10.1136/bmjopen-2013-004221. PMID: 24435895; PMCID: PMC3902466. (FICHEIRO 18)

    2 – Onakpoya IJ, Heneghan CJ, Aronson JK. Delays in the post-marketing withdrawal of drugs to which deaths have been attributed: a systematic investigation and analysis. BMC Med. 2015 Feb 5;13:26. doi: 10.1186/s12916-014-0262-7. PMID: 25651859; PMCID: PMC4318389. (FICHEIRO 19)

    Ponto décimo terceiro

    Sobre as sacrossantas garantias das vacinas contra a covid-19 aditadas pelo queixoso, Dr. Filipe Froes, apresentando um único artigo científico – e, na verdade, existem largas dezenas que seguem a mesma linha, começando a haver outros que apontam reacções adversas de relevância –, talvez fosse adequado a ERC ter em consideração como se processam as autorizações e consequentes avaliações dos fármacos, lendo o artigo científico publicado em 2023 na revista científica Pharmaceutical Chemistry Journal intitulado “Post-Marketing Drug Withdrawals: A Review” (FICHEIRO 20).

    Neste artigo científico destacam-se os aspectos críticos da eficácia e seguranças dos fármacos, também do ponto de vista do impacte financeiros das farmacêuticas. E salienta-se que “relatos de casos individuais ou séries de casos, estudos observacionais, comparações aleatórias ou revisões sistemáticas podem levar à retirada pós-comercialização de um produto farmacêutico devido a mortes relacionadas ao medicamento. A retirada de produtos do mercado devido a mortes pode ser controversa, especialmente quando não existe uma ligação directa entre o consumo de fármacos e a morte”. Acrescenta-se ainda que “o desenvolvimento de medicamentos é um processo que leva de 12 a 15 anos, com muitas falhas e muita incerteza. Pode custar mais de US$ 1 mil milhão desde o conceito inicial até o lançamento de um produto acabado”, salientando-se que “como apenas cerca de 1.500 pessoas são expostas a um produto farmacêutico antes de ele ser comercializado, nada se sabe sobre a sua segurança no uso clínico. Como às vezes é necessário julgamento clínico para detecção e diagnóstico, uma avaliação de segurança de medicamentos deve ser considerada parte integrante da prática clínica diária”.

    Ora, tendo em consideração as características das vacinas contra a covid-19, a celeridade da sua aprovação e a sua massiva administração, estranho é a fraca apetência da generalidade da imprensa em indagar e investigar as questões da segurança a curto, médio e longo prazos, ainda mais quando existem a nível internacional diversas bases de dados sobre reacções adversas, como a EudraVigilance, gerida pela EMA.

    Ponto décimo quarto

    Por outro lado, tal como eu – para os artigos do PÁGINA UM –, também investigadores científicos usam geralmente os dados da EudraVigilance para artigos científicos, uma vez que é considerada uma base de dados com informação fiável. Somente especificamente para as vacinas contra a covid-19 – será bom recordar que a EudraVigilance regista as reacções adversas de algumas centenas de fármacos –, apresento os seguintes exemplos:

    1 – Romantowski J, Nazar W, Bojahr K, Popiołek I, Niedoszytko M. Analysis of Allergy and Hypersensitivity Reactions to COVID-19 Vaccines According to the EudraVigilance Database. Life. 2024; 14(6):715. https://doi.org/10.3390/life14060715 (FICHEIRO 21)

    2 – Gordillo-Marañón, M., Szmigiel, A., Yalmanová, V. et al. COVID-19 Vaccines and Heavy Menstrual Bleeding: The Impact of Media Attention on Reporting to EudraVigilance. Drug Saf (2024). https://doi.org/10.1007/s40264-024-01426-4 (FICHEIRO 22)

    3 – Pinto Oliveira C, Ferreira Azevedo S, Vilafanha C, Prata AR, Barcelos A. Polymyalgia Rheumatica After COVID-19 Vaccination: Data from the EudraVigilance Database. Acta Med Port [Internet]. 2024 Apr. 12 [cited 2024 Jul. 1];37(5):396-7. (FICHEIRO 23)

    4 – Rodríguez-Ferreras A, Maray I, Coya-Fernández C, et al. Kikuchi-Fujimoto Disease and COVID-19 vaccination: pharmacovigilance approach. European Annals of Allergy and Clinical Immunology. 2023 Nov;55(6):278-282. DOI: 10.23822/eurannaci.1764-1489.273. PMID: 36458479. (FICHEIRO 24)

    5 – Juan-Manuel Morón-Ocaña, Ana-Isabel Lorente-Lavirgen, Isabel-María Coronel-Pérez, María-Luisa Martínez-Barranca. Lipschutz’s vulvar ulcer in an adolescent after Pifzer COVID-19 vaccine. Anais Brasileiros de Dermatologia, Volume 99, Issue 1, 2024, Pages 125-126, ISSN 0365-0596, https://doi.org/10.1016/j.abd.2023.03.003. (FICHEIRO 25)

    Estes são apenas um curto número de exemplos de artigos científicos seleccionados em publicações do presente ano. E, já agora, destacam efeitos adversos das vacinas contra a covid-19, o que nega, desde já, a propalada (pelo queixoso) segurança das vacinas.

    Se a Ciência relata (e cada vez mais) casos anedóticos (espero que a ERC saiba o significado deste termo) e estudos sobre diversos efeitos adversos das vacinas, o que acha a ERC que um jornalista deve fazer? Silenciar-se? Permitir que um queixoso ligado à indústria farmacêutica o possa mandar calar? Permitir, mesmo que por hipótese, que o regulador dos media, como é a ERC, coloque em causa o seu rigor para, destarte, difamar a sua credibilidade perante terceiros?

    Ponto décimo quinto

    Admite-se, até pelas razões apontadas no artigo científico apresentado no Ficheiro 7, que colocar dúvidas sobre a segurança das vacinas contra a covid-19 foi um tabu durante a pandemia, politica e mediaticamente falando. Mas isso é passado – e convém que a ERC acorde para a realidade.

    Hoje, na comunidade científica, investiga-se abertamente, sem tabus e sem constrangimentos, os efeitos adversos das vacinas contra a covid-19, tal como se faz (ou deve fazer) com todos os outros fármacos. E sem necessidade de os investigadores fazerem um disclaimer de que as vacinas terão salvado milhões de vida para pedir a seguir permissão para abordar reacções adversas.

    Por exemplo, neste artigo científico intitulado “Cardiovascular complications of COVID-19 vaccines: A review of case-report and case-series studies”, publicado em Maio-Junho de 2023 na revista científica Heart & Lung, vai-se logo ‘ao osso’, ou seja, ao tema em causa: as complicações cardiovasculares das vacinas contra a covid-19. Sem complexos, apenas com Ciência. (FICHEIRO 26)

    No passado mês de Maio, na revista científica BMJ Public Health, intitulado “Excess mortality across countries in the Western World since the COVID-19 pandemic:’Our World in Data’estimates of January 2020 to December 2022” (FICHEIRO 27) mostra-se também à saciedade a urgência de se estudar sem complexos as causas para o excesso de mortalidade no triénio 2020-2023, colocando ao mesmo nível de factores relevantes (a determinar o peso) a infecção pelo SARS-CoV-2, os impactes das restrições e o programa vacinal. Bem sei que estes artigos científicos são muito recentes, e as notícias alvo das queixas são de 2023, mas sob mim pende uma acusação de falta de rigor apenas por, sem ‘endeusar’ as vacinas, ter apelado a mais investigação e transparência e por ter usado dados oficiais das reacções adversas (o EudraVigilance), que é commumente usado em investigações científicas, e usado também pela EMA em decisões de eventual suspensão total ou parcial de fármacos.

    Para se ter em consideração aquilo que este último estudo aborda, cito uma parte da introdução, em tradução livre:

    Embora as vacinas contra a COVID-19 tenham sido fornecidas para proteger os civis do sofrimento causado pela morbidade e mortalidade pelo vírus COVID-19, eventos adversos suspeitos também foram documentados. A análise secundária dos ensaios clínicos randomizados de fase III, controlados por placebo, das vacinas de mRNA contra a COVID-19 mostrou que o ensaio da Pfizer teve um risco 36% maior de eventos adversos graves no grupo vacinado. A diferença de risco foi de 18,0 por 10.000 vacinados (IC 95% 1,2 a 34,9) e a razão de risco foi de 1,36 (IC 95% 1,02 a 1,83). O ensaio da Moderna teve um risco 6% maior de eventos adversos graves entre os receptores da vacina. A diferença de risco foi de 7,1 por 10.000 vacinados (IC 95% −23,2 a 37,4) e a razão de risco foi de 1,06 (IC 95% 0,84 a 1,33). Por definição, esses eventos adversos graves levam a morte, são ameaçadores à vida, requerem hospitalização (ou prolongamento dela), causam incapacidade/persistente/significativa, preocupam uma anomalia congênita/defeito de nascença ou incluem um evento medicamente importante de acordo com o julgamento médico. Os autores da análise secundária apontam que a maioria desses eventos adversos graves dizem respeito a condições clínicas comuns, por exemplo, acidente vascular cerebral isquémico, síndrome coronariana aguda e hemorragia cerebral. Essas condições clínicas comuns dificultam a suspeita clínica e, consequentemente, sua detecção como reações adversas à vacina. Tanto profissionais de saúde quanto cidadãos relataram lesões graves e mortes após a vacinação a vários bancos de dados oficiais no mundo ocidental, como o VAERS nos EUA, o EudraVigilance na União Europeia e o Yellow Card Scheme no Reino Unido. Um estudo comparando os relatos de eventos adversos ao VAERS e EudraVigilance após vacinas de mRNA contra a COVID-19 versus vacinas contra a gripe observou um maior risco de reações adversas graves para as vacinas contra a COVID-19. Essas reações incluíam doenças cardiovasculares, coagulação, hemorragias, eventos gastrointestinais e tromboses. Numerosos estudos relataram que a vacinação contra a COVID-19 pode induzir miocardite, pericardite e doenças autoimunes. Exames post mortem também atribuíram miocardite, encefalite, trombocitopenia trombótica imune, hemorragia intracraniana e trombose disseminada às vacinações contra a COVID-19. A Food and Drug Administration observou em Julho de 2021 que os seguintes eventos adversos potencialmente graves das vacinas da Pfizer merecem monitoramento e investigação adicionais: embolia pulmonar, infarto agudo do miocárdio, trombocitopenia imune e coagulação intravascular disseminada. A compreensão das taxas de mortalidade excessiva nos anos seguintes à declaração da pandemia pela OMS é crucial para os líderes governamentais e formuladores de políticas avaliarem suas políticas de crise sanitária. Este estudo, portanto, explora a mortalidade excessiva no mundo ocidental de 1 de Janeiro de 2020 até 31 de Dezembro de 2022.

    Ponto décimo sexto

    Sobre a opinião de ser fundamental, como uma espécie de contraditório, que um jornalista revele sempre os benefícios da vacina contra a covid-19 quando aborda as reacções adversas, se assim tivesse de ser, então:

    1. quando um jornal abordar o alcoolismo, terá de destacar previamente os benefícios de um consumo moderado e também da produção agrícola e as vantagens para a economia do país.
    2. se escrever sobre alterações climáticas, não pode esquecer de relevar a importância económica e de comodidade no uso de combustíveis fósseis.
    3. se falar de um político corrupto, tem de assinalar que a generalidade dos políticos são idóneos e desempenham funções de elevado relevo para a sociedade.
    4. se falar sobre desastres rodoviários, tem de salientar as grandes vantagens na mobilidade e no conforto das pessoas.
    5. Etc.

    Imaginemos o mundo do jornalismo com este tipo de disclaimers que a ERC parece exigir só para as vacinas contra a covid-19.

    woman riding on vehicle putting her head and right arm outside the window while travelling the road

    Ponto décimo sétimo

    Embora a questão central – visto que a ERC aparenta não negar que os dados que usei da EudraVigilance estão correctos –, acabo por listar, para minha defesa, um vasto conjunto de artigos científicos, para além dos já atrás referidos – que mostram, em alguns casos, que as vacinas contra a covid-19 apresentam alguns problemas de segurança, e que em outros se sugere a contínua investigação. Se apesar disso, a ERC insistir em concordar com o Dr. Filipe Froes, tem de o assumir por cima de todas as referências a estudos científicos que aqui exponho e envio em anexo. São 20, mas poderiam ser muitos mais. Pede-se a compreensão por não se apresentarem estas referências bibliográficas de forma uniforme.

    1 – Bilotta, C.; Perrone, G.; Adelfio, V.; Spatola, G.F.; Uzzo, M.L.; Argo, A.; Zerbo, S. COVID-19 Vaccine-Related Thrombosis: A Systematic Review and Exploratory Analysis. Front Immunol 2021, 12, 729251. (FICHEIRO 28)

    2 – Garg, R.K.; Paliwal, V.K. Spectrum of neurological complications following COVID-19 vaccination. Neurological Sciences 2021, 43, 3–40. (FICHEIRO 29)

    3 – Oldenburg, J.; Klamroth, R.; Langer, F.; Albisetti, M.; von Auer, C.; Ay, C.; Korte, W.; Scharf, R.E.; Pötzsch, B.; Greinacher, A. Diagnosis and Management of Vaccine-Related Thrombosis following AstraZeneca COVID-19 Vaccination: Guidance Statement from the GTH. Hämostaseologie 2021, 41, 184–189. (FICHEIRO 30)

    4 – Sharifian-Dorche M, Bahmanyar M, Sharifian-Dorche A, Mohammadi P, Nomovi M, Mowla A. Vaccine-induced immune thrombotic thrombocytopenia and cerebral venous sinus thrombosis post COVID-19 vaccination; a systematic review. J Neurol Sci. 2021 Sep 15;428:117607. doi: 10.1016/j.jns.2021.117607. Epub 2021 Aug 3. PMID: 34365148; PMCID: PMC8330139. (FICHEIRO 31)

    5 – Lane S, Yeomans A, Shakir S. Reports of myocarditis and pericarditis following mRNA COVID-19 vaccination: a systematic review of spontaneously reported data from the UK, Europe and the USA and of the scientific literature. BMJ Open 2022;12:e059223. doi: 10.1136/bmjopen-2021-059223 (FICHEIRO 32)

    6 – Alami A, Villeneuve PJ, Farrell PJ, Mattison D, Farhat N, Haddad N, Wilson K, Gravel CA, Crispo JAG, Perez-Lloret S, Krewski D. Myocarditis and Pericarditis Post-mRNA COVID-19 Vaccination: Insights from a Pharmacovigilance Perspective. J Clin Med. 2023 Jul 28;12(15):4971. doi: 10.3390/jcm12154971. PMID: 37568373; PMCID: PMC10419493. (FICHEIRO 33)

    7 – Yasmin F, Najeeb H, Naeem U, Moeed A, Atif AR, Asghar MS, Nimri N, Saleem M, Bandyopadhyay D, Krittanawong C, Fadelallah Eljack MM, Tahir MJ, Waqar F. Adverse events following COVID-19 mRNA vaccines: A systematic review of cardiovascular complication, thrombosis, and thrombocytopenia. Immun Inflamm Dis. 2023 Mar;11(3):e807. doi: 10.1002/iid3.807. PMID: 36988252; PMCID: PMC10022421. (FICHEIRO 34)

    8 – Konishi, N.; Hirai, Y.; Hikota, H.; Miyahara, S.; Fujisawa, A.; Motohashi, H.; Ueda, J.; Inoue, M.; Fukushima, M. Quantifying side effects of COVID-19 vaccines: A PubMed survey of papers on diseases as side effects presented at academic conferences in Japan. Rinsho Hyoka (Clinical Evaluation) 2024, 51. (FICHEIRO 35)

    9 – Parry PI, Lefringhausen A, Turni C, Neil CJ, Cosford R, Hudson NJ, Gillespie J. ‘Spikeopathy’: COVID-19 Spike Protein Is Pathogenic, from Both Virus and Vaccine mRNA. Biomedicines. 2023 Aug 17;11(8):2287. doi: 10.3390/biomedicines11082287. PMID: 37626783; PMCID: PMC10452662. (FICHEIRO 36)

    10 – Polykretis, P., Donzelli, A., Lindsay, J. C., Wiseman, D., Kyriakopoulos, A. M., Mörz, M., … McCullough, P. A. (2023). Autoimmune inflammatory reactions triggered by the COVID-19 genetic vaccines in terminally differentiated tissues. Autoimmunity, 56(1). https://doi.org/10.1080/08916934.2023.2259123 (FICHEIRO 37)

    11 – Brogna C, Cristoni S, Marino G, Montano L, Viduto V, Fabrowski M, Lettieri G, Piscopo M. Detection of recombinant Spike protein in the blood of individuals vaccinated against SARS-CoV-2: Possible molecular mechanisms. Proteomics Clin Appl. 2023 Nov;17(6):e2300048. doi: 10.1002/prca.202300048. Epub 2023 Aug 31. PMID: 37650258. (FICHEIRO 38)

    12 – Chen, Y.; Xu, Z.; Wang, P.; Li, X.M.; Shuai, Z.W.; Ye, D.Q.; Pan, H.F. New-onset autoimmune phenomena post-COVID-19 vaccination. Immunology 2022, 165, 386–401. (FICHEIRO 39)

    13 – Nicolas Hulscher, Paul E. Alexander, Richard Amerling, Heather Gessling, Roger Hodkinson, William Makis, Harvey A. Risch, Mark Trozzi, Peter A. McCullough. A Systematic REVIEW of Autopsy findings in deaths after covid-19 vaccination. Forensic Science International, 2024, 112115, ISSN 0379-0738, https://doi.org/10.1016/j.forsciint.2024.112115. (FICHEIRO 40)

    14 – Joseph Fraiman, Juan Erviti, Mark Jones, Sander Greenland, Patrick Whelan, Robert M. Kaplan, Peter Doshi. Serious adverse events of special interest following mRNA COVID-19 vaccination in randomized trials in adults. Vaccine, Volume 40, Issue 40, 2022, Pages 5798-5805, ISSN 0264-410X, https://doi.org/10.1016/j.vaccine.2022.08.036. (FICHEIRO 41)

    15 – Hulscher N., Hodkinson R., Makis W., and McCullough P. A. (2024). Autopsy findings in cases of fatal COVID-19 vaccine-induced myocarditis, ESC Heart Failure, doi: https://doi.org/10.1002/ehf2.14680 (FICHEIRO 42)

    16 – Bardosh K, Krug A, Jamrozik E, et al. COVID-19 vaccine boosters for young adults: a risk benefit assessment and ethical analysis of mandate policies at universities. Journal of Medical Ethics 2024;50:126-138. (FICHEIRO 43)

    17 – Pala, Erdal, Mustafa Bayraktar, and Rümeysa Calp. The potential association between herpes zoster and COVID-19 vaccination. Heliyon 10.4 (2024). (FICHEIRO 44)

    18 – Jee Hoon Roh, Inha Jung, Yunsun Suh, Min-Ho Kim. A potential association between COVID-19 vaccination and development of Alzheimer’s disease, QJM: An International Journal of Medicine, 2024;, hcae103, https://doi.org/10.1093/qjmed/hcae103 (FICHEIRO 45)

    19 – Kumar, Ishan, et al. COVID-19 Vaccines: A Radiological Review of the Good, the Bad, and the Ugly. Indian Journal of Radiology and Imaging (2024). (FICHEIRO 46)

    20 – Perez, J., Moret-Chalmin, C., & Montagnier, L. (2023). Emergence of a New Creutzfeldt-Jakob Disease: 26 Cases of the Human Version of Mad-Cow Disease, Days After a COVID-19 Injection. International Journal of Vaccine Theory, Practice, and Research. (FICHEIRO 47)

    Por fim, não deixa de ser relevante referir que nem a própria Agência Europeia do Medicamento, nos seus diversos relatórios anuais, admite a completa segurança das vacinas contra a covid-19, destacando mesmo um aumento inusitado de registos nos anos de 2021 (FICHEIRO 48), 2022 (FICHEIRO 49) e 2023 (FICHEIRO 50). O Pharmacovigilance Risk Assessment Committee tem vindo a abalizar diversos sinais de reacções adversas, embora este seja um processo bastante lento e que, por vezes, e sobretudo nos primeiros anos da entrada de um fármaco no mercado, não incide em afecções consideradas mais graves.

    Os relatórios da EMA devem também ser analisados pela ERC para apurar se, efectivamente, estamos com as vacinas contra a covid-19 perante fármaco completamente seguros, como o queixoso pretende. Na verdade, a queixa do Dr. Filipe Froes tem como desiderato que a ERC – como reguladora dos órgãos de comunicação social e com a capacidade de emitir uma opinião de rigor sobre matérias científicas que claramente não domina – coloque um ‘ferrete’ contra um dos poucos jornalistas portugueses que domina estas matérias, tem capacidade analítica para essa função e, além do mais, não está dependente de financiamentos de empresas farmacêuticas como a esmagadora maioria dos media, como a própria ERC bem sabe – e se não souber terei o prazer de apresentar uma lista de casos.

    Posto isto, requeiro que a ERC se considere incompetente, face à matéria em apreço, a analisar o rigor dos meus artigos, ou se assim se considerar capaz, então que analise, à luz da vasta colecção de artigos científicos que anexo, a pertinência e oportunidade das minhas análises no PÁGINA UM.

    Os membros do Conselho Regulador da ERC têm aqui uma excelente oportunidade de mostrar de que lado da História querem estar quando, com o aumento da transparência e do estudo, se apurar efectivamente a segurança e as vantagens do programa massificado de vacinação sem se ter em consideração os vários princípios da Medicina e a correcta gestão de uma pandemia.

    Informo que, considerando ser esta uma matéria de grande relevância e face também ao esforço de compilação de informação, este documento será facultado aos leitores do PÁGINA UM.

    Pedro Almeida Vieira

    Jornalista (CP 1786)

    Director do PÁGINA UM


    PÁGINA UM – O jornalismo independente (só) depende dos leitores.

    Nascemos em Dezembro de 2021. Acreditamos que a qualidade e independência são valores reconhecidos pelos leitores. Fazemos jornalismo sem medos nem concessões. Não dependemos de grupos económicos nem do Estado. Não temos publicidade. Não temos dívidas. Não fazemos fretes. Fazemos jornalismo para os leitores, mas só sobreviveremos com o seu apoio financeiro. Apoie AQUI, de forma regular ou pontual.

    APOIOS PONTUAIS

    IBAN: PT50 0018 0003 5564 8737 0201 1

    MBWAY: 961696930 ou 935600604

    FUNDO JURÍDICO: https://www.mightycause.com/story/90n0ff

    BTC (BITCOIN): bc1q63l9vjurzsdng28fz6cpk85fp6mqtd65pumwua

    Em caso de dúvida ou para informações, escreva para subscritores@paginaum.pt ou geral@paginaum.pt.

  • PÁGINA UM: um novo modelo para se financiar

    PÁGINA UM: um novo modelo para se financiar


    Há uma semana, de forma discreta, o PÁGINA UM fez dois anos e meio. Trinta meses. No decurso desta sua curta vida, julgo que temos marcado, em Portugal, o paradigma do jornalismo absolutamente independente num contexto de descredibilização e de profunda crise de valores (e crise financeira) da imprensa mainstream.

    O projecto jornalístico do PÁGINA UM nasceu de uma ideia quase utópica num mercado nacional de pequena dimensão: fazer um jornalismo independente, irreverente e incómodo, com acesso completamente livre e vivendo apenas de donativos dos leitores.

    Mesmo com esta fasquia radical, fizemos em 30 meses um trabalho de que, sem falsas modéstias, nos podemos orgulhar, incluindo a nossa luta pela transparência da Administração Pública, sobretudo por ter sido feito por uma equipa de três jornalistas profissionais, até ao início deste ano, e agora apenas com dois.

    Nestes 30 meses ‘aprendemos’ ( e eu em particular, porque tenho garantido a manutenção de notícias e outros conteúdos, incluindo trabalho em fins-de-semana e curtas férias) há limites humanos e financeiros na nossa acção se o PÁGINA UM mantiver uma postura irredutível no exclusivo apoio financeiro por parte dos seus leitores.

    Ao fim de dois anos e meio, o PÁGINA UM, através da sua empresa gestora (criada em Abril de 2022), conseguiu angariar dos seus leitores cerca de 100 mil euros (um pouco menos de 43 mil em 2022; e 56 mil no ano passado). Foi com este dinheiro que sustentámos não apenas o trabalho jornalístico como os gastos operacionais decorrentes de um jornal digital com periodicidade diária, tendo contado, também, com muito trabalho pro bono de diversos colaboradores. Não houve um único dia sem novas notícias e novos conteúdos. Mas muito ficou por publicar não por falta de coragem, mas apenas por falta de tempo face às restrições humanas e financeiras.

    Ao fim destes dois anos e meio, o PÁGINA UM conseguiu, fruto de uma gestão muito rigorosa, (pequenos) saldos positivos nas suas contas dos anos de 2022 e de 2023. Não pedimos empréstimos (nem um euro) e o nosso passivo é virtualmente zero (aquele que consta nos balanços são contribuições que acabaram pagas no mês seguinte ao encerramento das contas). Mas isso vale de pouco. O PÁGINA UM está num impasse financeiro: queremos fazer muito mais, mas é humanamente impossível por falta de recursos. Não entraremos em falência (muito longe disso), mas também as perspectivas de crescimento no actual modelo de negócio são escassas, quando se tem um orçamento mensal que, em muitos meses, não atinge sequer os 5.000 euros. Este valor mensal é ridículo – na esmagadora maioria dos principais órgãos de comunicação social é inferior ao que ganha apenas o director.

    Vista da actual redacção do PÁGINA UM.

    Por isso, assumindo o risco de imagem, e conscientes de que os leitores que actualmente nos financiam são os melhores leitores que um jornal pode ter – valorizam o nosso trabalho, mesmo com acesso livre –, julgamos que temos provas dadas de independência que nos permite, colocando-nos sempre à prova, arriscar passar a abrir a possibilidade de receber donativos de empresas e entidades empresariais. Obviamente, reservando sempre o direito de recusa.

    Esse eventual aumento de receitas será crucial não apenas para optimizarmos as nossas instalações – que estão, neste momento, subaproveitadas por não termos capacidade financeiras de ter mais jornalistas nem dar eventual formação a estagiários – como também ‘aliviar’ o meu trabalho para outras actividades e para outras tarefas de investigação mais aprofundada.

    Sabemos que essa abertura a donativos empresariais representa perigos de imagem e de credibilidade ao PÁGINA UM, mas também sabemos que é no quotidiano que demonstramos a nossa isenção e independência. Por esse mesmo motivo, decidiu-se que os donativos empresariais passam a estar acessíveis, mas apenas em condições especiais.

    Primeiro, cada empresa ou entidade privada pode conceder, em condições normais, um máximo de 500 euros por semestre, sendo que valores superiores carecem sempre de uma publicitação da sua existência, com a identificação da entidade e do montante e de uma declaração da inexistência de qualquer contrapartida, ou seja, as verbas doadas não se destinam a cobrir (ou a não cobrir) uma determinada área. As empresas e entidades privadas estão também impedidas de usar os donativos ao PÁGINA UM como forma de marketing.

    two human hands painting

    O PÁGINA UM manterá o acesso livre aos conteúdos do jornal, a ausência de publicidade ou de parcerias comerciais e a recusa de aceitação de apoios financeiros do Estado (ou das autarquias ou ainda de empresas públicas).

    Independentemente do sucesso desta ‘proposta’ do PÁGINA UM, continuamos a contar com os apoios financeiros imprescindíveis dos nossos leitores – sem os quais não poderíamos existir.  E garantimos que não ‘venderemos a alma ao diabo’: na véspera de uma ‘concessão editorial’ por razões financeiras, garanto aos leitores (e aos detractores), o PÁGINA UM fecha. Mas esse dia, se existir, ainda estará muitíssimo longe, vos garanto.


    Aconselhamos a leitura do Código de Princípios. Em caso de dúvida ou para informações, escreva para subscritores@paginaum.pt ou geral@paginaum.pt.


    PÁGINA UM – O jornalismo independente (só) depende dos leitores.

    Nascemos em Dezembro de 2021. Acreditamos que a qualidade e independência são valores reconhecidos pelos leitores. Fazemos jornalismo sem medos nem concessões. Não dependemos de grupos económicos nem do Estado. Não temos publicidade. Não temos dívidas. Não fazemos fretes. Fazemos jornalismo para os leitores, mas só sobreviveremos com o seu apoio financeiro. Apoie AQUI, de forma regular ou pontual.

    APOIOS PONTUAIS

    IBAN: PT50 0018 0003 5564 8737 0201 1

    MBWAY: 961696930 ou 935600604

    FUNDO JURÍDICO: https://www.mightycause.com/story/90n0ff

    BTC (BITCOIN): bc1q63l9vjurzsdng28fz6cpk85fp6mqtd65pumwua

    Em caso de dúvida ou para informações, escreva para subscritores@paginaum.pt ou geral@paginaum.pt.

  • O Triunfo dos Porcos no Jornalismo português

    O Triunfo dos Porcos no Jornalismo português


    Uma semana depois de ser confirmado aquilo que era óbvio em contratos da Global Media – que o jornalista-comercial Domingos de Andrade mercadejava notícias a troco de contratos com autarquias –, sem se lhe ouvir entretanto qualquer piu nem haver demissão de cargos editoriais, anuncia-se a concretização da ‘transferência’ dos periódicos Jornal de Notícias e O Jogo e da rádio TSF para a novel empresa Notícias Ilimitadas.

    Eu já ‘dou de barato’ que não haja um sistema de garantia de idoneidade para se ser detentor de um órgão de comunicação social, pelo menos a partir de uma determinada dimensão, mas pelo menos deveria haver um mecanismo oficioso de decência que impedisse que uma pessoa como Domingos de Andrade, um marketeer travestido de jornalista (encartado ainda por cima pela indescritível Comissão da Doutora Licínia Girão), assumisse um papel de relevo numa obscura transferência de títulos históricos da imprensa nacional detida por uma empresa (Global Media) em processo de vampirização financeira e com dívidas colossais ao Estado (com o beneplácito do Governo socialista) para uma novel empresa (Notícias Ilimitadas), que dizem os media ser constituída pela Parsoc (30%), pela OTI Investimentos (25%), por Domingos de Andrade (20%), pela Mesosytem (15%) e pela Ilíria (10%).


    Mas isso é o que se diz, porque não há, no domínio público, nenhuma informação que confirme a estrutura societária desta empresa que apenas detém um capital social de 50 mil euros, o que não dá sequer para pagar os salários de um mês dos cerca de 150 trabalhadores que para si transitam. Na Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) nada consta, no registo da constituição da empresa somente surgem os administradores, e no registo do beneficiário efectivo não surge ninguém como detentor de mais de 25% do capital social. Evidente se mostra, pelo menos pelo baixíssimo capital social, que quem vai mandar no Jornal de Notícias, O Jogo e TSF não serão sequer os accionistas formalmente desconhecidos mas os ainda mais ignotos financiadores. Ter no meio disto Domingos de Andrade a liderar o processo é assustador: nem sequer muito para os trabalhadores dos órgãos de comunicação social, que aparentemente já se conformaram em contribuir para a mercantilização do jornalismo, mas para os contribuintes.

    Não é, aliás, preciso ser mago nem especialista em contabilidade (e em finanças criativas), mesmo se os contornos deste negócio Global Media-Notícias Ilimitadas sejam muito estranhos (para não dizer obscuros), para perceber o que se vai passar a seguir. A Global Media – com um passivo gigantesco e uma dívida ao Estado superior a 10 milhões de euros – e o seu accionista Páginas Civilizadas vão desenvencilhar-se, sem pagar os impostos, da participação na Lusa, recebendo um pecúlio que servirá para retribuir empréstimos aos próprios accionistas, e continuarão a deixar o Diário de Notícias definhar até à insolvência com um passivo colossal, incluindo dívidas fiscais. Depois, virá o Estado lamentar a perda de um título centenário, e arranjará forma de mais uns aventureiros, tipo Marco Galinha, darem a sua bicada para salvar o tal título histórico, transformado agora em ‘pasquim de fretes’, com a benesse de um perdão fiscal e limpeza de dívidas a terceiros. Nisto, ficam a salvo os títulos agora vendidos pela Global Media. Isto tresanda tanto a podridão…


    Aquilo que mais assusta, porém, é que esta descarada negociata da Global Media – que vai custar muito aos contribuintes e mais ainda à credibilidade do jornalismo – não mostra apenas a vitória dos ‘patos bravos’, com Marco Galinha à cabeça (nunca ninguém investigou a forma como se processou a venda ao fundo das Bahamas enquanto se pagavam empréstimos aos accionistas com o dinheiro que deveria pagar impostos ao Estado) e Domingos de Andrade na ilharga.

    Temos ainda a situação da Trust in News, uma empresa com capital social de 10 mil euros, cujo sócio único (Luís Delgado) deveria ter sido logo ‘placado’ quando, ao fim do primeiro ano de existência (em 2018), já devia quase um milhão de euros ao Estado, e que, como não foi parado, agora está com um passivo de 30 milhões de euros e dívidas ao Estado superiores a 11 milhões de euros. Tudo isto vai custar aos contribuintes muito dinheiro. Tudo isto custou credibilidade à imprensa. Tudo isto se fez com ‘fretes’ e compromissos políticos ao mais alto nível. Mas o que custa mais é que, como não há qualquer regime de idoneidade, Luís Delgado que, a não ser que seja criminalizado pelas dívidas à Segurança Social, somente perderá os 10 mil euros de capital social. E até se pode meter em mais aventuras editoriais.

    Temos ainda a situação aflitiva da Impresa e da SIC, em situação financeira desesperada há décadas, e que somente se tem salvado da falência pelo ‘estatuto’ da família Balsemão, financiando-se agora não pelas actividades operacionais mas através de um sistema que soa a um esquema Ponzi: a emissão de novas obrigações já servem só para pagar as obrigações anteriores. Até ao dia em que nada mais pingar.

    E isto é apenas uma amostra. Hoje, nenhum grupo de media com alguma dimensão vive de forma desafogada e transparente. Como se viu não apenas com o fundo das Bahamas, mas ainda há pouco com a Alpac Capital, dona da Euronews e dos jornais portugueses ‘Nascer do Sol’ e ‘i’, que foi multada em 100 mil euros pela Comissão de Mercado dos Valores Mobiliários (CMVM) por diversas infrações, entre as quais a falta de transparência quanto ao representante do fundo até à falta de identificação de investidores. Os ‘testas-de-ferro’ do fundo, que aparenta ter capitais húngaros, também foram multados, mas nada os impede de se manterem à frente dos destinos de um grupo de media. Tudo bons rapazes.

    Até a Medialivre, que aparenta folga financeira, teve necessidade de pedir sscretismo ao seu contrato parassocial à ERC, que lhe concedeu a benesse. Que esconde a empresa que detém o Correio da Manhã, a CMTV e agora o canal Now? Aliás, como o PÁGINA UM referiu recentemente, como a Medialivre tem Cristiano Ronaldo como sócio, beneficia de um regime de protecção especial que lhe permite não ter de identificar os beneficiários efectivos.

    man in white t-shirt sitting beside woman in white t-shirt


    Hoje, vê-se como solução para a crise da imprensa a existência de reforçados apoios do Estado, esquecendo que é sobretudo a falta de qualidade e o viés criado por ‘mercadores da imprensa’ que mais contribuem para o afastamento do público e para a desvalorização (financeira) do papel dos jornalistas.

    Hoje, banalizaram-se muitas práticas terríveis – como as notícias pagas, as parcerias comerciais e a auto-censura com eventuais comparticipações financeiras –, e isso deveu-se à sua aceitação pelos jornalistas, que se calam e que até criticam ou ostracizam quem as denuncia. Há, além disso, uma espécie de omertà, de silêncio cúmplice, porque (quase) todos têm telhados de vidro, (quase) todos receiam represálias, (quase) todos pactuam para não afectar empregos, prebendas, amizades e ambições. Tem sido tudo isto a matar o Jornalismo, enquanto Luís Delgado vive na sua quinta em Santo Estêvão, o inenarrável Domingos de Andrade se vai tornar no homem-forte de um novo grupo editorial e a família Balsemão insufla ‘oxigénio’ em mais uma emissão obrigacionista depois das ajudas do Novo Banco. Presumo que “vai ficar tudo bem”. Assistimos, na verdade, ao Triunfo dos Porcos que emporcalham a democracia.


    PÁGINA UM – O jornalismo independente (só) depende dos leitores.

    Nascemos em Dezembro de 2021. Acreditamos que a qualidade e independência são valores reconhecidos pelos leitores. Fazemos jornalismo sem medos nem concessões. Não dependemos de grupos económicos nem do Estado. Não temos publicidade. Não temos dívidas. Não fazemos fretes. Fazemos jornalismo para os leitores, mas só sobreviveremos com o seu apoio financeiro. Apoie AQUI, de forma regular ou pontual.

    APOIOS PONTUAIS

    IBAN: PT50 0018 0003 5564 8737 0201 1

    MBWAY: 961696930 ou 935600604

    FUNDO JURÍDICO: https://www.mightycause.com/story/90n0ff

    BTC (BITCOIN): bc1q63l9vjurzsdng28fz6cpk85fp6mqtd65pumwua

    Em caso de dúvida ou para informações, escreva para subscritores@paginaum.pt.

  • A Ameaça do Advogado Alves da Alves & Associados

    A Ameaça do Advogado Alves da Alves & Associados


    O PÁGINA UM peregrina, desde há mais de dois anos, num pântano que envolve duas figuras gradas da actual política portuguesa: a actual ministra da Saúde, Ana Paula Martins, e o actual vice-presidente da bancada social-democrata na Assembleia da República, Miguel Guimarães. Há dois anos, como bastonários da Ordem dos Farmacêuticos e dos Médicos, respectivamente, decidiram ser bons samaritanos e apelaram à bondade dos portugueses para apoiarem na luta contra a pandemia e depois fartaram-se de dar a cara enquanto distribuíram equipamentos de protecção individual e materiais diversos a instituições de solidariedade social e mesmo a hospitais.

    Uma investigação do PÁGINA UM quis ver as contas e descobriu, depois da obtenção da documentação por via do tribunal administrativo, que afinal, além de questões éticas – quase toda o financiamento veio de farmacêuticas, mais de 1,2 milhões de euros, não declarados no Portal da Transparência e Publicidade –, toda a campanha esteve assente em irregularidades e ilegalidades gritantes, a começar pelo facto de a conta receptora dos donativos ser titulada por Miguel Guimarães, Ana Paula Martins e Eurico Castro Alves, e a desembocar em fugas ao fisco (não pagamento de imposto de selo), em facturas falsas, em declarações falsas com repercussões fiscais e em condições propícias para a criação de um ‘saco azul’ de mais de 968 mil euros.

    Desde o processo no Tribunal Administrativo de Lisboa para acesso aos documentos contabilísticos, iniciado em 2022, a Ordem dos Médicos garantia que todas as iniciativas da campanha solidária estavam a ser alvo de uma auditoria da consultora BDO, e que seria divulgada quando concluída. Mas nunca foi. E só agora, com uma nova intervenção do Tribunal Administrativo de Lisboa, já este ano, surgiu afinal a tal auditoria.

    Não quero, desde já, revelar os pormenores desta auditoria da BDO, mas sempre poderei dizer que se fosse apresentada não por uma auditora registada na Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) mas por um aluno da cadeira de Auditoria, o ‘chumbo’ seria a única opção sensata. Por um simples ‘pecado original’: a auditoria ignora olimpicamente – com intenção ou negligência – que a conta bancária era de três pessoas (Guimarães, Martins e Alves) e não de nenhuma das Ordens profissionais, e por isso nem sequer revela (como deveria) que todos os fluxos financeiros se concentravam aí, apesar de a facturação seguir para a Ordem dos Médicos.

    A intenção desta auditoria – que não se sabe sequer se foi paga, porquanto o contrato nunca foi publicitado no Portal Base –, plasmada naquele texto a que o PÁGINA UM teve acesso (apenas após nova intervenção junto do Tribunal Administrativo), parece mais do que óbvia. E daí termos pedido esclarecimentos e apontado factos à BDO para obter comentários. E perante a recusa desta sociedade de auditoria em comentar alegando “segredo profissional”, reagi, respondendo que o que estava em causa eram “evidentes erros primários de auditoria com influência numa avaliação independente e rigorosa”, acrescentando que enviaria “as grosseiras falhas à CMVM para os efeitos legais atendíveis”, concluindo, por fim, que “as auditorias não servem para ‘lavar’ ilegalidades”. Na verdade, estando a notícia ainda em preparação, a CMVM será obviamente contactada.

    selective focus photography of three books beside opened notebook

    A BDO não apreciou esta argumentação legítima de um jornalista, em avaliar o seu trabalho (que tem repercussões públicas), e aparentemente instruiu – e diz-se aparentemente porque não me foi remetida procuração – o advogado Pedro Guerra Alves, detentor da cédula profissional 52266L, a escrever-me. Como ignorava que uma das funções de um advogado é ameaçar com processos judiciais um jornalista no exercício da sua actividade, e como o conteúdo da sua carta é claramente uma tentativa de limitar a liberdade de expressão e o direito de informar – sendo uma obrigação do jornalista divulgar as ofensas a estes direitos, conforme preconiza o Código Deontológico dos Jornalistas, no seu ponto 3 –, tomei a decisão de revelar o seu conteúdo.

    E comunicarei formalmente esta ameaça do advogado Pedro Guerra Alves à Ordem dos Advogados, à Entidade Reguladora para a Comunicação Social e ao Conselho Deontológico do Sindicato dos Jornalistas (agora com uma nova composição), ponderando, se este tipo de pressões ilegítimas se mantiverem, informar as organizações internacionais que monitorizam a liberdade de imprensa nos diversos países.


    O original pode ser lido AQUI.

    Exmo. Senhor Pedro Almeida Vieira,

    Encarregou-nos o nosso cliente BDO & Associados Sociedade de Revisores Oficial de Contas, Lda. de informar V. Exa, de que, em virtude do teor das suas comunicações anteriores, todos os contactos com a BDO ou seus colaboradores devem passar a ser efetuados através da nossa sociedade.

    A atuação da BDO & Associados, SROC, pauta-se sempre pelo estrito cumprimento da lei, pelo que nos reservamos o direito de reagir em conformidade sempre que a conduta profissional da BDO & Associados, SROC, for posta em causa, nesse sentido não serão admitidas mais afirmações como as constante [sic] do ultimo mail de V. Exa. sob pena de termos de defender em sede próprio o ressarcimento de eventuais danos reputacionais que possam decorrer.

    Por outro lado, recomendamos a V. Exa. que antes de emitir qualquer opinião, deve proceder ao estudo dos temas, uma vez que as questões colocadas por V. Exa. evidenciam graves falhas no que respeito ao conhecimento do regime legal ou regulatório aplicável a atividade da auditoria, desigualmente no que respeitas [sic] as regras da sua supervisão e de execução dos trabalhos.

    Com os nossos melhores cumprimentos,

    Best Regards,

    Pedro Guerra Alves | Advogado

    E-mail enviado às 17h27 de 18 de Junho de 2024


    PÁGINA UM – O jornalismo independente (só) depende dos leitores.

    Nascemos em Dezembro de 2021. Acreditamos que a qualidade e independência são valores reconhecidos pelos leitores. Fazemos jornalismo sem medos nem concessões. Não dependemos de grupos económicos nem do Estado. Não temos publicidade. Não temos dívidas. Não fazemos fretes. Fazemos jornalismo para os leitores, mas só sobreviveremos com o seu apoio financeiro. Apoie AQUI, de forma regular ou pontual.

    APOIOS PONTUAIS

    IBAN: PT50 0018 0003 5564 8737 0201 1

    MBWAY: 961696930 ou 935600604

    FUNDO JURÍDICO: https://www.mightycause.com/story/90n0ff

    BTC (BITCOIN): bc1q63l9vjurzsdng28fz6cpk85fp6mqtd65pumwua

    Em caso de dúvida ou para informações, escreva para subscritores@paginaum.pt.

  • Jornalismo: quatro notas sobre o pântano

    Jornalismo: quatro notas sobre o pântano


    Primeira nota

    Domingos de Andrade que, como administrador da Global Media estabelecida contratos comercias para os jornais e rádios onde tinha funções editoriais, acabou há um ano por ser multado em 1.000 euros pela inútil Comissão da Carteira Profissional do Jornalista (CCPJ), que nem sequer lhe cassou a certeira. Regressou há um par de meses como uma espécie de ‘salvador’ de alguns dos títulos da Global Media depois da fugaz e tempestuosa passagem do fundo das Bahamas – uma das histórias mais ‘mal-contadas’ da imprensa portuguesa e dos ‘estranhos’ negócios de Marco Galinha.

    Enquanto decorrerem as movimentações para uma perfeita negociata, cuja factura vai ser paga pelos contribuintes, em que títulos ainda lucrativos da Global Media passam para ‘especuladores da imprensa’, onde Domingos de Andrade surge como cabecilha e sócio, eis que se confirmam, através de notícias do Correio da Manhã, que o dito, segundo escutas do Ministério Público, mercadejava os cargos editoriais e mexia os cordelinhos para notícias favoráveis para certas individualidades. Depois disto, Domingos de Andrade mantém-se em silêncio. Os Conselhos de Redacção dos títulos da Global Notícias, onde ele é director, estão caladinhos que nem um fuso – dizem-me que há lá jornalistas, mas eu duvido; há sim pessoas com carteira profissional mas o hábito não faz o monge. A ERC nem um ai. A CCPJ nem um ui, mas também ‘isto’ não conta porque aparenta agora só existir para a sua presidente andar a passear pelo país em fúteis palestras enquanto tudo arde.

    Mistério ainda maior é haver leitores que compram jornais ou ouvintes que sintonizam a rádio onde Domingos de Andrade dita as linhas editoriais…

    Domingos de Andrade: e não se demite? E a ERC e a CCPJ nada dizem? E os Conselhos de Redacção da Global Media, ainda existem?

    Segunda nota

    Com uma pequenina referência no canto superior direito a informar o co-financiamento pela União Europeia, mas sem grafismo distinto do restante conteúdo noticioso, o Correio da Manhã dedica hoje uma página inteira em ditirambos à… União Europeia.

    Parece piada, mas não é: meteram uma jornalista recém-formada (Filipa Novais, CP 8511) a elogiar, também pela voz da comissária europeia Elisa Ferreira, a maravilha que foi aumentar a impressão de moeda para, entre outras coisas, encher os bolsos dos accionistas das farmacêuticas e fazer disparar a inflação e depreciar as poupanças e os rendimentos (que é o que sucede quando o BCE estimula a dívida pública como se não houvesse amanhã).

    Hoje também, mas no Diário de Notícias, a mesma Elisa Ferreira tem direito a uma longa entrevista onde vende o seu ‘peixe’ – neste caso, António Costa para o Conselho Europeu. Procurei, mas não encontrei em nenhum canto, qualquer referência, como no Correio da Manhã, de ter esta conversa sido também co-financiada pela União Europeia. Mostra-se assim legítimo questionar se houve e não foi metido, ou se a Global Notícias anda a ser totó, não fazendo o que o Correio da Manhã, e porventura outros fazem: publicar notícias co-financiadas.

    Aliás, espero a toda o momento que as páginas dos jornais, ou os conteúdos dos outros meios de comunicação social, passem a ostentar o devido (e merecido) patrocínio da própria entidade que é abordada. Até para clarificar o regabofe.

    Notícias co-financiadas pela União Europeia a elogiar a acção da União Europeia. Para quando notícias co-financiadas pelo Governo a elogiar a actividade do Governo? Ou, porque não, partidos políticos ou empresas? Ou isso já se faz sem declarar?

    Terceira nota

    Por momentos, na quinta-feira passada, fiquei preocupado com o departamento de marketing da Media Capital. Anunciava-se na TVI, para o dia seguinte, uma investigação sobre os efeitos adversos das vacinas. Camandro: então querem ver que chateiam a Pfizer que financia nesta próxima terça-feira um ‘summit’ da CNN Portugal no Hotel Pestana com quatro jornalistas ‘mestres-de-cerimónia’? Ah!, não se preocupem: afinal, o Exclusivo da jornalista Sandra Felgueiras só encontrou o caso português de uma infeliz senhora que teve “um azar de 0,0004%” em ficar de cadeira de rodas com mielite. Nada mais.

    Não há crise e salvaram-se 20 milhões de pessoas, garantem-nos. E, aliás, como publicita – no sentido de publicidade – no Correio da Manhã, tudo graças à Comissão Europeia, mais os contratos secretos, combinados por WhatsApp, da senhora Ursula von der Leyen…

    Não há miocardites, nem pericardites, nem trombocitopenias imunológicas, nem AVC, nem mortes fetais, síndrome de Guillain Barré ou outras doenças autoimunes, nem herpes zooster aos pontapés, nem processos judiciais a correrem no Reino Unido, nem artigos científicos a associarem (como hipótese muito plausível) os programas massivos de vacinação ao excesso de mortalidade, nem a constatação de um ex-bastonário da Ordem dos Médicos ter escondido um parecer que não aconselhava a vacinação de crianças e adolescentes saudáveis, nem a contabilização das mortes suspeitas que constam na base de dados da Agência Europeia do Medicamento..

    Este é o jornalismo de investigação que qualquer departamento de marketing dos grupos de media adora: parece que vai morder, mas afinal afaga.

    Avancemos, pois, descansados, para o ‘summit’ da Pfizer no Hotel Pestana: os croquetes by CNN Portugal devem ser excelentes. Ali é que se faz política de Saúde da boa.

    Afinal, não passa tudo de “um azar de 0,0004%”. Está tudo bem. Pode avançar o ‘summir’ da CNN Portugal patrocinado pela Pfizer.

    Quarta nota

    Anuncia-se para o fim do mês a MediaCon, que se apresenta como “um encontro de jornalismo organizado por dezasseis órgãos de comunicação social portugueses que querem discutir, em conjunto a comunidade, o presente e futuro do jornalismo e da democracia”. E dizem que representam a comunicação social não-tradicional, deduzindo-se assim que o PÁGINA UM ao não ter sido sequer convidado ou sondado, e não integrando (acho) o ‘legacy media’, não pertence a este ‘clubinho’ que, entre outros, inclui órgãos de comunicação social subsídio-dependentes de fundações internacionais que balizam ‘temas queridos’ ou mesmo uma secção de um jornal mainstream (o Azul, do Público), que já mostrou ser um ‘pronto-a-vestir’ de notícias.

    Quando o PÁGINA UM – um projecto independente, sem ideologia nas abordagens temáticas, de acesso livre e apenas financiado pelos leitores –, e ainda por cima com maior visibilidade real do que os auto-intitulados media não-tradicionais, é tratado assim, apetece chamar Cristo para desancar nestes vendilhões do templo. O jornalismo está ‘sequestrado’ de alto a baixo.    

    Indicadores de tráfego do PÁGINA UM em Maio deste ano em comparação com o Mensagem de Lisboa, o Fumaça, o Gerador e o Coimbra Coolectiva. Ver AQUI em tamanho maior.

    PÁGINA UM – O jornalismo independente (só) depende dos leitores.

    Nascemos em Dezembro de 2021. Acreditamos que a qualidade e independência são valores reconhecidos pelos leitores. Fazemos jornalismo sem medos nem concessões. Não dependemos de grupos económicos nem do Estado. Não temos publicidade. Não temos dívidas. Não fazemos fretes. Fazemos jornalismo para os leitores, mas só sobreviveremos com o seu apoio financeiro. Apoie AQUI, de forma regular ou pontual.

    APOIOS PONTUAIS

    IBAN: PT50 0018 0003 5564 8737 0201 1

    MBWAY: 961696930 ou 935600604

    FUNDO JURÍDICO: https://www.mightycause.com/story/90n0ff

    BTC (BITCOIN): bc1q63l9vjurzsdng28fz6cpk85fp6mqtd65pumwua

    Em caso de dúvida ou para informações, escreva para subscritores@paginaum.pt.

  • PÁGINA UM: um jornalismo com ‘delírios de grandeza’ sem sequer ter ‘meia dúzia de gatos pingados’

    PÁGINA UM: um jornalismo com ‘delírios de grandeza’ sem sequer ter ‘meia dúzia de gatos pingados’


    Há uns dias, um jornalista da revista Visão – que, por sinal, foi identificado no ano passado pela ERC como um dos ‘jornalistas comerciais’ que faziam notícias patrocinadas – zurzia no X, onde tem uma legião de seguidores, contra o PÁGINA UM a pretexto de uma opinião de que não gostara: “Não passa de um bloque para vomitar todos os ódios, mas com delírios de grandeza” e “eles são muito ruidosos, mas não passam de meia dúzia de gatos pingados”, foram alguns dos mimos.

    Comecemos por descontar o elucidativo facto do Luís Ribeiro, o dito jornalista, trabalhar para uma empresa que não tem “delírios de grandeza”: tanto assim que a dita, a Trust in News, achou que bastaria um capital social de 10 mil euros (igual ao do PÁGINA UM) para gerir 17 títulos, entre os quais a revista Visão, e conseguiu isso durante meia dúzia de anos, apenas com o singelo pormenor de não encerrar falida, mesmo se se encontra com um passivo a rondar os 30 milhões de euros e dívidas ao Estado e à Segurança Social superiores a 11 milhões de euros. Está em processo especial de revitalização (PER) para saber se o Estado lhe concede perdão pelas manigâncias.

    Mas, de facto, Luís Ribeiro tem, involuntariamente, razão, mesmo se exagerando. Nos últimos dois anos e meio, o PÁGINA UM fez um jornal não com “meia dúzia de gatos pingados”, mas com metade disso. Actualmente, somos apenas dois jornalistas seniores (eu e a Elisabete Tavares). Coordenamos (e editamos e paginamos), para além disso, uma dezena de colunistas que nos honram com a sua opinião – e julgamos que essa honra é recíproca.

    E temos tido, de facto, “delírios de grandeza”. Ao longo destes dois anos e meio, temos investigado e denunciado muitos assuntos, tornando-as evidentes ‘cachas’, que só não têm mais eco na imprensa mainstream (fora aquelas notícias que nos plagiam sem dar cavaco), muito pelo incómodo das revelações que temos feito sobre as promiscuidades entre grupo de media e grupos económicos.

    Entre notícias, entrevistas, opinião e recensões de livros, publicámos 2.537 artigos, num jornal digital de acesso aberto, sem publicidade e sem parcerias comerciais – e apenas com os donativos dos leitores.

    Apesar de sermos agora nem metade de “meia dúzia de gatos pingados”, fomos o único órgão de comunicação social a propor, em duas eleições deste ano, entrevistar todos os partidos (nas legislativas) e todos os cabeças-de-lista (nas europeias). No total, fizemos 33 entrevistas – e honrámos o Jornalismo com esta iniciativa, apesar dos quatro partidos e três cabeças-de-lista que recusaram a entrevistas (talvez por terem a mesma opinião do Luís Ribeiro sobre o PÁGINA UM).

    Talvez por “delírios de grandeza”, e mesmo com menos do que “meia dúzia de gatos pingados”, o PÁGINA UM tem sido um bastião da luta para o acesso à informação em tempos cada vez mais obscuros numa democracia que, embora longe de uma ditadura, já parece mais de lapela, exactamente por a imprensa mainstream, decadente e falida, se presta a servir de ‘regulador da opinião pública’. Ao longo de dois anos e meio intentámos 22 intimações junto dos tribunais administrativos, não poupando ninguém que nos recuse ilegitimamente documentos por razões de obscurantismo, a começar por entidades do Ministério da Saúde, mas também incluindo até o Conselho Superior da Magistratura e a Entidade Reguladora para a Comunicação Social. Já agora, com estas duas entidades, ganhámos em duas instâncias. Tudo, porventura, por causa dos nosso “delírios de grandeza”, e também por causa dos nossos leitores que insistem em apoiar esta contínua campanha através do FUNDO JURÍDICO.

    Vista da nova redacção do PÁGINA UM para as inspiradoras ‘ruínas’ do antigo Hospital Miguel Bombarda, em Lisboa.

    Porém, é de facto verdade: o PÁGINA UM, ao fim de dois anos e meio, é um jornal cheio de “delírios de grandeza”, mas não aqueles que o ‘jornalista comercial’ da Visão sugere, mas sim porque consideramos que aquilo que hoje parece uma quimera – um jornalismo dos três Is: isento, independente e incómodo –, afinal é possível.

    Parece-me cada vez mais evidente que, por agora, não é. Se hoje o PÁGINA UM consegue fazer um jornalismo isento, independente e incómodo, com acesso aberto, sem publicidade nem parcerias comerciais (e muito menos partidárias ou estatais), tal permite fazer apenas um jornal de pequeníssima dimensão, e facilmente ignorado.

    Desde o seu início, o PÁGINA UM tem vivido – como foi planeado – apenas com o apoio dos seus leitores, e no sentido desse apoio servir para pagar esse serviço de jornalismo independente e também o acesso aos leitores menos favorecidos. Actualmente, com variações, temos cerca de cinco centenas de apoiantes regulares e pontuais, com montante de donativos muito distintos, sobre os quais sempre estaremos gratos.

    Tem sido esse apoio – e o entusiasmo dessa comunidade – que tem permitido o ‘milagre’ do PÁGINA UM, ao mesmo tempo que temos contas limpas: não temos dívidas nem atrasos de pagamentos.

    Mas ter esse meio milhar de apoios – que resulta numa receita mensal de pouco mais de quatro mil euros – mostra-se completamente insuficiente para dar o salto qualitativo e quantitativo que ambicionávamos nos nossos “delírios de grandeza”, tendo em conta também os custos de gestão e do arrendamento da nova redacção do PÁGINA UM. E, infelizmente, há cada vez mais notícias e investigações que acabam manifestamente ‘encalhadas’ por essa incapacidade de contratar (a pagar a) mais jornalistas. Isto sem prejuízo do enorme esforço pessoal que me tenho imposto. Estamos presos por estar a fazer um jornal que, para não ter dívidas nem dependências externas, acaba feito por menos de “meia dúzia de gatos pingados”.

    Vista parcial da nova redacção do PÁGINA UM.

    O PÁGINA UM não vai desistir, fiquem descansados (ou, no caso, dos nossos ‘inimigos’, não descansem): embora não estando a crescer em termos de receitas (pelo contrário), não temos dívidas e estamos (ainda) muito longe de atirar a toalha ao chão, tanto mais que mudámos recentemente de redacção. Na verdade, este editorial, simbolicamente escrito do Dia de Portugal, constitui sim um apelo (e não aos que já nos apoiam financeiramente): ajudem-nos a criar condições para recuperar o conceito do jornalismo de serviço público, independente, isento e incómodo. Estamos mesmo a estender-vos a (nossa) mão, para que possamos retribuir, para retribuir jornalismo no estado puro. Sempre nos parece mais nobre do que aquilo que a imprensa mainstream, com jornalistas engravatados e com ares de muito respeitáveis, tem procurado fazer: mendigar apoios ao próprio Estado ou ‘vender a alma’ com as constantes parcerias empresariais envolvendo jornalistas da casa, porque se endividaram e deram calotes fiscais como se não houvesse amanhã. Na verdade, querem viver ‘à conta’ dos contribuintes; enquanto o PÁGINA UM quer viver à conta dos seus leitores. Parecendo igual, não é.


    PÁGINA UM – O jornalismo independente (só) depende dos leitores.

    Nascemos em Dezembro de 2021. Acreditamos que a qualidade e independência são valores reconhecidos pelos leitores. Fazemos jornalismo sem medos nem concessões. Não dependemos de grupos económicos nem do Estado. Não temos publicidade. Não temos dívidas. Não fazemos fretes. Fazemos jornalismo para os leitores, mas só sobreviveremos com o seu apoio financeiro. Apoie AQUI, de forma regular ou pontual.

    APOIOS PONTUAIS

    IBAN: PT50 0018 0003 5564 8737 0201 1

    MBWAY: 961696930 ou 935600604

    FUNDO JURÍDICO: https://www.mightycause.com/story/90n0ff

    BTC (BITCOIN): bc1q63l9vjurzsdng28fz6cpk85fp6mqtd65pumwua

    Em caso de dúvida ou para informações, escreva para subscritores@paginaum.pt.

  • O modelo de governo europeu, ou a indigência sob a forma de jornalista

    O modelo de governo europeu, ou a indigência sob a forma de jornalista


    Chateia-me a ignorância. A directora-adjunta do Público Marta Moitinho Oliveira não estará no lote dos ignorantes – acredito, ou tenho fé, pelos seus ininterruptos 25 anos de jornalismo, com passagens pelo Euronotícias, Diário Económico, Jornal de Negócios, Diário Económico, Sol, Lusa, novamente Diário Económico, Jornal de negócios, ECO e Público, onde está desde 2020, tendo cargos de chefia desde 2021.

    Deduzo que tenha aprendido, ao longo destes tempos, alguma coisa sobre o funcionamento da União Europeia e sobretudo para o esvaziamento das funções do Parlamento Europeu. E, se assim foi, o seu editorial de hoje é uma lamentável indigência e uma grosseira manipulação, ainda mais dando um péssimo exemplo que, ao invés de conceder confiança institucional na União Europeia, nos demonstra estarmos reféns de uma elite anti-democrática, na fronteira da oligarquia.  

    Hoje, todos devemos saber, o Parlamento Europeu – perante a Comissão Europeia, o Conselho Europeu e o Conselho da União Europeia – é uma espécie de ‘Rainha da Inglaterra’. Adopta legislação, mas juntamente com o Conselho da União Europeia, com base em propostas da Comissão Europeia, decide sobre os acordos internacionais, alargamentos, analisa o programa de trabalho da Comissão, fazendo propostas, e tem poderes (limitados) de supervisão, elege (e pode destituir) o presidente da Comissão (serão agora 720 eurodeputados, portanto o peso de um país é quase nulo) e aprova a sua equipa, concede a quitação ao orçamento e aprova o quadro financeiro plurianual. É o único órgão eleito, mas o poder efectivo é quase nulo – e mais ainda para um país pequeno como Portugal, que elege apenas 21 dos 720 eurodeputados (2,9% do total), ainda mais de forças políticas que agendas acopladas às suas ‘famílias’ políticas europeias. Não surpreende que, somente por esse motivo, a abstenção esteja elevada – e devia ser visto sobretudo um ‘recado’ dos cidadãos europeus sobre um sufrágio que anda a brincar com a democracia.

    Hoje, todos devemos saber, quem verdadeiramente determina a política europeia é a Comissão Europeia e o Conselho Europeu, onde a Alemanha (sobretudo) e a França mais do que pretenderem alimentar um espírito de coesão de um continente em contínuas convulsões e conflitos em séculos precedentes, desejam criar artificialmente um modelo federal ao arrepio da História e rumo das distintas nações e culturas. Esquecem que sempre que houve tentativas de criação de impérios ou federações, os resultados foram nefastos.

    Ora, mas Marta Moitinho Oliveira – que, na verdade, representa uma ‘linha’ instruída no jornalismo – para tentar demonstrar, no seu editorial de hoje no Público, as vantagens de se votar nas eleições para o Parlamento Europeu dá, como exemplo, “a compra conjunta de vacinas para a covid-19, conseguindo assim pôr em prática uma das mais importantes recomendações médicas dadas durante a pandemia”.

    blue and yellow flag on pole

    Podiam as vacinas contra a covid-19 ser a mais importante recomendação médica durante a pandemia – concedo até, como hipótese académica, a ser ‘testada’, a começar pela imprensa –, mas já é absurdo e de uma atroz manipulação (ou ignorância, mas eu tenho fé de não ser essa a causa) associar a eleição para o Parlamento Europeu com o modus operandi das vacinas (e também de outros fármacos, como o remdesivir, da AstraZeneca, e o Paxlovid, da Pfizer), que é porventura um dos eventos mais obscuros e antidemocráticos que temos assistidos nos últimos anos na União Europeia.

    Eu acredito que Marta Moitinho Oliveira estejam ‘amestrados’, e perdido a capacidade crítica durante a pandemia, e tenham alguma dificuldade de ‘acordar’. Mas, caramba! Não leu o The New York Times sobre o affair entre Ursula von der Leyen e Albert Bourla, CEO da Pfizer, que andaram a negociar por WhatsApp, sendo as mensagens entretanto escondidas? Não sabe Marta Moitinho Oliveira que o The New York Times processou a Comissão Europeia como parte de um pedido de liberdade de informação – e é triste que isso seja feito por um jornal não europeu –, estando o processo judicial pendente no Tribunal Europeu?

    Não sabe também Marta Moitinho Oliveira que não só os contratos conjuntos negociados pela comissão von der Leyen (que desoneraram as farmacêuticas de responsabilidades) como também os contratos nacionais – no caso português, assinados pela Direcção-Geral da Saúde e as farmacêuticas – estão a ser escondidos, estando em curso, no segundo caso, um penoso e vagaroso processo intimação no Tribunal Administrativo de Lisboa intentado pelo PÁGINA UM desde Dezembro de 2022? E que existe o risco de ser considerado que os tribunais nacionais sejam incompetentes para decidir sobre contratos secretos assumidos pela Comissão Europeia?

    a bunch of flags that are in front of a building

    Isto é uma democracia? Isto é um modelo de transparência sadia?

    É esta a União Europeia que Marta Moitinho Oliveira – e outros que comungam deste modelo – quer para si como cidadã portuguesa? Se sim, que tome essa posição clara, não usando a ‘pele de jornalista’ que nos quer evangelizar, dizendo, de modo manipulatório, que temos de votar no Parlamento Europeu porque o secretismo de uma elite não-democrática é bom para a saúde.


    PÁGINA UM – O jornalismo independente (só) depende dos leitores.

    Nascemos em Dezembro de 2021. Acreditamos que a qualidade e independência são valores reconhecidos pelos leitores. Fazemos jornalismo sem medos nem concessões. Não dependemos de grupos económicos nem do Estado. Não temos publicidade. Não temos dívidas. Não fazemos fretes. Fazemos jornalismo para os leitores, mas só sobreviveremos com o seu apoio financeiro. Apoie AQUI, de forma regular ou pontual.

    APOIOS PONTUAIS

    IBAN: PT50 0018 0003 5564 8737 0201 1

    MBWAY: 961696930 ou 935600604

    FUNDO JURÍDICO: https://www.mightycause.com/story/90n0ff

    BTC (BITCOIN): bc1q63l9vjurzsdng28fz6cpk85fp6mqtd65pumwua

    Em caso de dúvida ou para informações, escreva para subscritores@paginaum.pt.

  • Finalmente, a Decência ao lado da Ciência

    Finalmente, a Decência ao lado da Ciência


    A decência, mais do que a inteligência, é a maior qualidade do ser humano. Na verdade, É esta, porventura, a qualidade que nos torna humanos, para além dos genes.

    Acredito não haver estudos sobre esta matéria, até por o conceito de decência se equivale à dificuldade de Santo Agostinho definir tempo, mas todos nós sabemos identificar a indecência.

    Por exemplo, a indecência dos políticos e de muita comunicação social, e ainda de muitas organizações (‘sequestradas’) de base científica e de peritos, que manipularam uma crise sanitária – e, muito provavelmente, até a sua origem –, de sorte a criarem uma onda de pânico e de emoção que, por sua vez, incrementaram uma crise assistencial e socioeconómica, que também causaram muitas mortes.

    A indecência de políticos, jornalistas, organismos internacionais e até muitos peritos que impuseram, sem qualquer base científica, um conjunto de regras e medidas, amiúde inconstitucionais, e a mais das vezes ineficazes, apenas pelo simples ‘prazer’ de ostentar poder e mostrarem uma hipócrita preocupação por terceiros.

    clear glass ball with light

    A indecência de ocultarem e manipularem informação, de modo a criarem a ideia de que um conjunto de fármacos (antivirais e vacinas), sem suficiente tempo de testagem, era a única ‘salvação’, e a eficaz e segurança dogmaticamente inquestionáveis.

    A indecência de perseguirem quem, porventura, mesmo com argumentos válidos, questionasse as medidas populistas e de atrozes efeitos nefastos (e.g., adiamentos de diagnósticos e de cirurgias programadas, e necessárias) e os fármacos que constituíram um filão inimaginável a certas farmacêuticas.

    A indecência de, onanisticamente, se elogiarem mutuamente, se premiarem até com prémios de ética e bioética, se alcandorarem a cargos políticos e afins, aproveitando-se da manipulação.

    A indecência de, durante anos, bloquear um debate científico, aberto à discussão, sem tabus nem limites que não seja a vitória da verdade, que deve estar sempre disponível a ser continuamente colocada à prova.

    A indecência de negar, nem que fosse por mera hipótese académica, talvez as vacinas não sejam assim tão seguras nem tão eficazes; que a imunidade natural confere uma melhor protecção contra a doença, e que foi um erro colossal vacinar jovens saudáveis.

    A indecência de colocar em cima da mesa, como única e dogmática hipótese, as quiméricas sequelas da covid-19 como causa do excesso de mortalidade, excluindo as vacinas.

    Jardim em Estocolmo, em Agosto de 2020.

    Por tudo isto, a notícia que hoje o PÁGINA UM publicou, dando eco a um artigo cientifico sobre o excesso de mortalidade do triénio 2020-2022 estar associado também às vacinas contra a covid-19, é um sinal de esperança na decência humana – e na decência dos cientistas, que devem mostrar-se humanos não apenas pela sua inteligência e rigor mas também através da decência.

    No fim do artigo, depois de apresentarem os as análises e discussão, os quatro holandeses – Saskia Mostert, Marcel Hoogland, Minke Huibers e Gertjan Kaspers – lançam um apelo às consciências: “A mortalidade excessiva permaneceu alta no Mundo Ocidental durante três anos consecutivos, apesar da implementação de medidas de contenção da covid-19 e das vacinas contra a covid-19. Isto não tem precedentes e levanta sérias preocupações. Durante a pandemia, foi enfatizado diariamente por políticos e pelos media que cada morte por covid-19 importava e que cada vida merecia proteção através das medidas de contenção e das vacinas contra a covid-19. No rescaldo da pandemia, a mesma moral deve ser aplicada. Cada morte precisa ser reconhecida e contabilizada, independentemente da sua origem. A transparência em relação aos possíveis factores letais é necessária. Os dados específicos sobre a mortalidade por causa precisam ser disponibilizados para permitir análises mais detalhadas, directas e robustas para determinar os contribuintes subjacentes. E exames post-mortem precisam ser facilitados para determinar a causa exacta da morte. Os líderes governamentais e os formuladores de políticas públicas precisam de investigar minuciosamente as causas subjacentes da mortalidade excessiva persistente e avaliar as suas políticas perante crises sanitárias”.

    Conclusão do artigo científico “Excess mortality across countries in the Western World since the COVID-19 pandemic: ‘Our World in Data’ estimates of January 2020 to December 2022“.

    Esta é, acreditem, uma peça de decência da Ciência, mas que ainda não ainda paralelo no mundo dos media, que continuam em negação sobre o que se fez durante a pandemia – com a ajuda de jornalistas e direcções dos media. A decência ainda vai demorar a chegar ao Jornalismo, tanto assim que, de entre a imprensa internacional, até agora o único jornal de relevância a noticiar este artigo científico foi o The Telegraph, esta tarde.

    Que seja. Por mais críticas que façam ao PÁGINA UM, e a mim, continuarei o caminho em prol da decência: por isso mesmo, temos lutado nos tribunais administrativos, para serem satisfeitos os pedidos de acesso às bases de dados sobre mortalidade (SICO), sobre os internamentos hospitalares (Grupos de Diagnóstico Homogéneos), sobre as mortes em lares durante a pandemia, sobre os contágios em hospitais, sobre as reacções adversas das vacinas e sobre os contratos de compra. Muitos destas casos correm nos tribunais há mais de ano e meio, o que só se justifica pela indecência reinante.


    PÁGINA UM – O jornalismo independente (só) depende dos leitores.

    Nascemos em Dezembro de 2021. Acreditamos que a qualidade e independência são valores reconhecidos pelos leitores. Fazemos jornalismo sem medos nem concessões. Não dependemos de grupos económicos nem do Estado. Não temos publicidade. Não temos dívidas. Não fazemos fretes. Fazemos jornalismo para os leitores, mas só sobreviveremos com o seu apoio financeiro. Apoie AQUI, de forma regular ou pontual.

    APOIOS PONTUAIS

    IBAN: PT50 0018 0003 5564 8737 0201 1

    MBWAY: 961696930 ou 935600604

    FUNDO JURÍDICO: https://www.mightycause.com/story/90n0ff

    BTC (BITCOIN): bc1q63l9vjurzsdng28fz6cpk85fp6mqtd65pumwua

    Em caso de dúvida ou para informações, escreva para subscritores@paginaum.pt.

  • O caso Público: a vergonhosa patifaria de um jornal colaboracionista

    O caso Público: a vergonhosa patifaria de um jornal colaboracionista


    No dia 23 de Dezembro de 2021, dois dias após o seu nascimento, o PÁGINA UM foi alvo do mais soez e escroque ataque da imprensa mainstream. Preparado como denodo, usando um então jornalista-estagiário da CNN Portugal (há muitos jornalistas que, de pequenino, ‘nasceram’ tortos e sem ética como ‘paus-mandados’), uma minha notícia de investigação sobre a baixíssima taxa de internamento em cuidados intensivos e a letalidade nula de crianças com covid-19 – apresentando os casos convenientemente anonimizados – serviu para acusações encapotadas de o jornal (e eu) estar ao serviço de movimentos ditos “negacionistas”. No lead da minha notícia, de grande rigor, salientava que “este é o cenário de uma faixa etária que pouco tem a beneficiar de um programa de vacinação em massa. Apenas ganha incerteza no longo prazo”. Eram dados reais, oficiais, que contrariavam o pânico lançado pela imprensa para um programa de vacinação muito apetecido por certos sectores da sociedade.

    A forma como a notícia da CNN Portugal foi então orquestrada – com seis opiniões de médicos críticos (não se sabe bem a razão), acompanhada de uma suposta denúncia (nunca concretizada da Ordem dos Médicos) à Comissão Nacional de Protecção de Dados –, sem me identificar e ao PÁGINA UM (mas sendo mais do que óbvia, pelo elementos fornecidos), e a difusão massiva e corrosiva por outros órgãos de comunicação social, tinham um objectivo claro: decepar literalmente um projecto  de jornalismo independente.

    Não vale aqui historiar agora o falhanço da imprensa mainstream nessa demanda – e, compreendo bem, as vantagens deles em que não existisse nos últimos dois anos e meio o PÁGINA UM.

    Mas, no meio deste processo, há um jornal (chamemos-lhe assim) cujo ‘tratamento’ jamais perdoarei – e que deve ser destacado agora à luz das revelações do PÁGINA UM sobre a ocultação por Miguel Guimarães (antigo bastonário da Ordem dos Médicos e actual vice-presidente da bancada do PSD) dos pareceres do Colégio de Pediatria e da consequente perseguição ao pediatra Jorge Amil Dias. Estou a falar do Público.

    Como se tem mostrado agora patente, nunca houve consenso, pelo contrário, na vacinação contra a covid-19 de crianças e adolescentes – e, infelizmente, temo que se venha a revelar um dos piores erros (ou crimes), colocando os lamentáveis episódios da vacinação contra o HPV na Índia em 2009 (num projecto financiando pela Fundação Melinda e Bill Gates) ou dos ensaios escabrosos da Pfizer na Nigéria em 1996 com uma vacina contra a meningite como ‘brincadeiras de crianças’.

    O parecer assinado por Jorge Amil Dias, então presidente do Colégio de Pediatria da Ordem dos Médicos, que ontem revelámos, mostra-se, aliás, uma peça antológica daquilo que se espera de uma Medicina credível e prudente, que impele para a confiança e esperança. Ainda mais quando se trata da protecção de crianças e jovens. Este parecer, nunca é demais sublinhar, foi escrito em Julho de 2021.

    Público preferiu contribuir para silenciar, censurar e difamar as opiniões contrárias à ‘narrativa’ em vez de questionar e investigar se o ‘consenso’ era natural ou uma imposição. O ‘consenso’ da vacinação de menores só era possível porque a Ordem dos Médicos se censurou um parecer do Colégio de Pediatria e perseguiu profissionais.

    Ou seja, nunca houve consenso para a vacinação de adolescentes e crianças, a começar pela classe médica e, em particular, por parte da cúpula da Pediatria. E não foi apenas nos pareceres do Colégio da Pediatria, mas também num abaixo-assinado de profissionais de saúde, no início de 2022, que foi ostracizado pela generalidade da imprensa mainstream.

    Aquilo que houve foi colaboracionismo da imprensa: acções concertadas com as autoridades para ostracizar e eliminar ‘vozes críticas’, mesmo se credíveis, misturando-as com radicais, apodando-as a todas de ‘negacionistas, ‘bolsonaristas’ e ‘trumpistas’. E se é difícil apresentar provas sobre a a acção e a agenda de muitos directores (e jornalistas), no caso do Público é muito fácil, porque confessaram o seu vergonhoso acto.

    Aquando do processo de um direito de resposta do PÁGINA UM, que envolveu a Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC), o jornal Público tentou, em meados de 2022, evitar a sua publicação apresentando uma providência cautelar no Tribunal Administrativo, que obviamente perdeu, Mas é nessa peça jurídica, apresentada pelo advogado do Público Francisco Teixeira da Mota (e choca-me vê-lo nesses ‘preparos’) que se revela o papel de colaboracionista daquele jornal durante a pandemia, pela mão do lastimável então director, o suposto jornalista Manuel Carvalho.

    Com efeito, nessa peça jurídica assumida pelo Público, é escrito o seguinte sobre o artigo do PÁGINA UM que era de um rigor a toda a prova: “A omissão do nome da página do Facebook ou do jornal que a alimenta foi uma decisão deliberada da Direcção Editorial do jornal PÚBLICO  e da editora da secção da Sociedade, que, com sentido de responsabilidade, não quiseram dar publicidade à publicação que, manifestamente, tinha tomado posições claramente atentatórias contra a necessidade de se criar consenso social em favor da vacinação, algo que o jornal PÚBLICO assumiu e defendeu desde a primeira hora.”

    Trecho do texto da providência cautelar do Público onde ‘justifica’ a sua posição e me ataca directamente acusando-me de ter “tomado posições claramente atentatórias contra a necessidade de se criar um consenso social em favor da vacinação”.

    E mais adiante, acrescenta o advogado do Público: “No âmbito desse exercício de liberdade, [o Público] entendeu não divulgar páginas de redes de sociais ou sites informativos que, na sua perspectiva, questionam ou ofendem o interesse público que deve orientar a vacinação e a gestão de informação respeitante à pandemia de covid-19”.

    Se já choca ver um jornal defender que a função da imprensa, num regime democrático, passa por, “com sentido de responsabilidade” difamar um outro jornal (e um jornalista com créditos firmados) por não contribuir para “a necessidade de criar consenso social em favor da vacinação”, sem qualquer questionamento, a gravidade desta postura piora à luz das revelações da censura do parecer do Colégio de Pediatria do Ordem dos Médicos por Miguel Guimarães e à consequente perseguição do pediatria Jorge Amil Dias por causa dos seus prudentes e certeiros pareceres.

    Segundo tercho do advogado do Público onde me acusa de questionar ou ofender “o interesse público”. Fazer jornalismo de investigação até apurar, com recurso aos tribunais, que houve pareceres do Colégio de Pediatria censurados pelo então bastonário da Ordem dos Médicos deve ser, seguindo esta interpretação do Público, uma ofensa ao interesse público. De facto, quando se é colaboracionista, a busca da verdade é uma ofensa ao “interesse púbico” no conceito do poder que se serve.

    Nunca houve consenso para a vacinação contra a covid-19 de menores nem motivos de Saúde Púbica para avançar com esse programa de desnecessárias consequências imprevisíveis; houve sim a imposição de uma ‘narrativa’, e o Público e os seus jornalistas não apenas pactuaram – colaboraram activamente em impor esse alegado “consenso social”, recorrendo à censura e à mais vil difamação. E assumiram. Sem vergonha nem remorsos. O Público negou o jornalismo e abraçou o colaboracionismo, participando em abjectas estratégias típicas de regimes ditatoriais. Agiu a então Direcção Editorial do Público (alguns membros ainda se mantêm na actual) esfaqueando nobres princípios da Democracia, o regime que lhe concedeu a liberdade de informação, mas também a responsabilidade de bem informar sem cometer filhadaputices.

    Emfim, o Público portou-se, durante a pandemia, como um pasquim subserviente dirigido não por jornalistas mas por colaboracionistas – por uns merdas. Na língua de Camões, não há um eufemismo passível de ser usado para caracterizar esta gente que tem nome.

    Nota final: uma vez que não confundo jornalistas colaboracionistas com jornalistas dignos que ainda exitem, e muitos no Público, convém relembrar quem integrava a Direcção Editorial deste jornal que “com sentido de responsabilidade, admitiu querer difamar com dolo quem “tinha tomado posições claramente atentatórias contra a necessidade de se criar consenso social em favor da vacinação“, apesar da existência de um parecer ‘censurado’ da autoria da cúpula da Pediatria portuguesa e da notícia do PÁGINA UM ser factual e rigorosa. Vejamos quem eram pela ficha técnica do Público de 23 de Dezembro de 2021: Manuel Carvalho (director), Amílcar Correia, Andreia Sanches, David Pontes e Tiago Luz Pedro (directores-adjuntos). A editoria da Sociedade era ocupada por Rita Ferreira e Pedro Sales Dias. Todos, do ponto de vista de moral e ética profissional, uns trastes.


    PÁGINA UM – O jornalismo independente (só) depende dos leitores.

    Nascemos em Dezembro de 2021. Acreditamos que a qualidade e independência são valores reconhecidos pelos leitores. Fazemos jornalismo sem medos nem concessões. Não dependemos de grupos económicos nem do Estado. Não temos publicidade. Não temos dívidas. Não fazemos fretes. Fazemos jornalismo para os leitores, mas só sobreviveremos com o seu apoio financeiro. Apoie AQUI, de forma regular ou pontual.

    APOIOS PONTUAIS

    IBAN: PT50 0018 0003 5564 8737 0201 1

    MBWAY: 961696930 ou 935600604

    FUNDO JURÍDICO: https://www.mightycause.com/story/90n0ff

    BTC (BITCOIN): bc1q63l9vjurzsdng28fz6cpk85fp6mqtd65pumwua

    Em caso de dúvida ou para informações, escreva para subscritores@paginaum.pt.

  • Miguel Guimarães, um infame hipócrita anti-Hipócrates

    Miguel Guimarães, um infame hipócrita anti-Hipócrates


    Em Janeiro do ano passado, em final de mandato na Ordem dos Médicos, e preparando já caminho para voos políticos – é agora vice-presidente da bancada parlamentar do Partido Social Democrata (PSD) e uma escolha de Luís Montenegro nas eleições legislativas para o distrito do Porto –, Miguel Guimarães concedeu uma entrevista ao Diário de Notícias. E destacava que “o caso do bebé sem rosto foi o mais difícil dos seus mandatos”. Garantiu: “Senti-me pequenino no mundo”.

    O mesmíssimo homem que se sentiu “pequenino no mundo” pelo mediático caso de uma dramática e lastimável negligência de outro médico (e não dele) – e que resultou no nascimento de uma criança com elevadas deficiências (ainda viva), em vez de se fazer uma interrupção de gravidez (a ‘terapêutica’ para estes casos) –, não teve pejo de lançar a sua bênção institucional, como bastonário da Ordem dos Médicos, para que centenas de milhar de jovens portugueses recebessem um fármaco cujo benefício era virtualmente nulo para a larguíssima esmagadora maioria, e grande ainda era (e é) a incerteza sobre os efeitos adversos, incluindo mortes, a curto, médio e longo prazos.

    Miguel Guimarães foi bastonário da Ordem dos Médicos entre 2017 e Março de 2023.

    E não fez isto de forma inconsciente nem negligente. Em Julho de 2021, como ontem o PÁGINA UM revelou (e depois de ser necessário recorrer ao Tribunal Administrativo para obrigar o agora bastonário Carlos Cortes a ceder), Miguel Guimarães escondeu activamente dos seus colegas do Conselho Nacional e da opinião pública um parecer aprovado pelos 11 membros do Colégio da Especialidade de Pediatria da própria Ordem dos Médicos – um órgão independente –, assinado pelo seu presidente, Jorge Amil Dias, que não recomendava a vacinação contra a covid-19 para adolescentes saudáveis entre os 12 e os 15 anos. Meses mais tarde, Miguel Guimarães agiu de novo dolosamente no sentido de esconder um alerta para a ser prudente quanto à vacinação contra a covid-19 de crianças entre os 5 e os 11 anos.

    Não satisfeito, Miguel Guimarães ‘montou’ nos meses seguintes, activamente, com os seus apaniguados – onde se destaca o inefável Filipe Froes, um marketeer de bata branca –, uma das mais vergonhosas e nauseantes campanhas de difamação contra Jorge Amil Dias, ‘patrocinando’ um processo disciplinar sem pés nem cabeça, por delito de opinião (ainda mais científica e médica), com a conivência de uma imprensa acéfala. Nesta fase, Miguel Guimarães sempre se mostrou mais favorável em agradar, por exemplo, ao comentador Marques Mendes do que em salvaguardar a saúde de crianças.

    Miguel Guimarães poderia ser apenas um tonto e inábil para a função que exerceu durante o período da pandemia, ou a ‘ressurreição’ de Tomás de Torquemada, se a Ordem dos Médicos fosse apenas uma associação profissional – chateava e perseguia os seus, e eles que se entendessem como agremiação. Mas não. A Ordem dos Médicos é mais do que isso; é sobretudo um bastião da defesa das práticas e princípios de uma classe profissional, não apenas terapêuticos e éticos, que se baseiam na confiança – e, legalmente, é um dos pilares da Saúde Pública, o que lhe dá direitos, mas também responsabilidades. E sobretudo deveres sobre cada um de nós.

    Pintura de Anne-Louis Girodet-Trioson (1767-1824) representando Hipócrates negando presentes do imperador persa Artaxerxes II.

    Por isso, quando Miguel Guimarães decidiu intencionalmente ‘engavetar”, sem sequer levar à discussão no seio da Ordem dos Médicos, um parecer da cúpula da Pediatria portuguesa – e depois encetar uma perseguição ao autor desse parecer –, não cometeu um acto a ser dirimido eventualmente numa assembleia geral dos seus ‘confrades’. Violou sim, vergonhosamente, vários dos princípios da Medicina, que fariam estremecer Hipócrates, a saber:

    Primum non nocere: primeiro, não prejudicar – um princípio que recomendaria não administrar um fármaco supostamente preventivo, cujos efeitos secundários ainda não estão consolidados, a um vasto grupo de pessoas (jovens) sobre a qual a doença em causa era genericamente benigna.

    Beneficum: existência de um benefício evidente da terapêutica – um princípio que recomendaria que apenas se deve administrar uma terapêutica a alguém se os seus efeitos benéficos suplantarem, para o indivíduo que a toma, os eventuais efeitos adversos, não sendo sequer aceitável que seja prejudicado mesmo se outros pudessem beneficiar desse “sacrifício”.

    Fidelitas: fidelidade – um princípio que se refere à lealdade e compromisso de um médico para com os seus pacientes, no sentido de lhe conceder todas a informação para um consentimento informado, o que foi impedido, no caso em concreto, com a ocultação do parecer do Colégio de Pediatria.

    Veritas: verdade – um princípio básico em sociedade, mas ainda de maior valia na Medicina, porquanto qualquer ocultação intencional de informação, ainda mais saída do Colégio de Pediatria, é um ultraje à verdade, se outros mais graves actos não tivessem sido cometidos.

    Respectus: respeito – um princípio que, em primeira análise, e neste caso, deveria impedir que se olhasse, no processo de vacinação de menores, para cada um dos adolescentes e para cada uma das crianças como simples membros indistintos de um ‘rebanho’, porquanto uma das fundamentais diferenças entre tratamentos veterinários e tratamentos médicos é que, nos segundos, o tratamento é individualizado e o objectivo é o indivíduo em si.

    woman in bikini lying on wooden dock during daytime

    Bem sei que a História é escrita pelos vencedores. E, por agora, Miguel Guimarães – como outros, com Gouveia e Melo à cabeça – é um dos ‘vitoriosos da pandemia’, não apenas pelos lugares que agora ocupam como pela impunidade de que beneficiam. Aliás, veja-se o caso de Miguel Guimarães – e também de Ana Paula Martins, a actual ministra da Saúde – que se fizeram de ‘bons samaritanos’ gerindo numa conta pessoal mais de 1,4 milhões de euros numa suposta campanha solidária, mas financiada quase na sua totalidade pela indústria farmacêutica, sem pagar impostos, promovendo facturas e declarações falsas, sem que nada tenha sucedido. Veja-se também o caso da vacinação de médicos não-prioritários, em articulação com Gouveia e Melo, violando as normas da Direcção-Geral da Saúde (DGS), mas que uma inspecção intencionalmente pífia da Inspecção-Geral das Actividades em Saúde (IGAS) considerou estar legal sem sequer analisar a lista dos inoculados e sem se preocupar com o facto de um político ter beneficiado de uma dose ‘dada’ por Miguel Guimarães.

    Mas, apesar desta ‘vitória’ fruto de uma ‘verdade’ imposta pelo poder, e não pela realidade, os factos são factos. E os factos são evidentes: Miguel Guimarães – que se sentiu “pequenino” por um lamentável caso de negligência médica, que implicaria, se não tivesse existido, a ocorrência de uma interrupção de gravidez (porque seria impossível tratamento intra-uterino) – é um hipócrita, porque tratou centenas de milhar de crianças e adolescentes saudáveis como gado, contribuindo para um clima de pânico junto dos pais, que não haveria se o parecer do Colégio de Pediatria tivesse sido conhecido.

    girl covering her face with both hands

    Com isto, negou e violou os princípios do Juramento de Hipócrates, mais graves ainda por estar em funções de bastonário, obstaculizando o acesso a informação vital para um consentimento informado, tornando-se assim um hipócrita anti-Hipócrates.

    Miguel Guimarães, por tudo o que fez – começando pela ocultação do parecer do Colégio de Pediatria em 2021 e consequente perseguição ao pediatra Amil Dias –, só não é, para além de hipócrita anti-Hipócrates, um criminoso, porque estamos em Portugal, onde o Ministério Público não defende o bem público, entrando em jogos de conveniência e de política, e avalizando, com a sua inércia, práticas previstas e punidas pelo Código Penal.

    Só por esse motivo, e por recomendação de advogados, este texto de opinião não se intitula “Miguel Guimarães, um criminoso hipócrita anti-Hipócrates”. Não faz mal, substituir criminoso por infame até me parece mais apropriado para a persona em causa. E assim atinge também, justamente, muitos médicos que aceitaram, sem protestar nem sequer pestanejar, ser representados por esta infame figura que se destacou negativamente num dos períodos mais negros e sombrios da Medicina e da Ética em Portugal.


    PÁGINA UM – O jornalismo independente (só) depende dos leitores.

    Nascemos em Dezembro de 2021. Acreditamos que a qualidade e independência são valores reconhecidos pelos leitores. Fazemos jornalismo sem medos nem concessões. Não dependemos de grupos económicos nem do Estado. Não temos publicidade. Não temos dívidas. Não fazemos fretes. Fazemos jornalismo para os leitores, mas só sobreviveremos com o seu apoio financeiro. Apoie AQUI, de forma regular ou pontual.

    APOIOS PONTUAIS

    IBAN: PT50 0018 0003 5564 8737 0201 1

    MBWAY: 961696930 ou 935600604

    FUNDO JURÍDICO: https://www.mightycause.com/story/90n0ff

    BTC (BITCOIN): bc1q63l9vjurzsdng28fz6cpk85fp6mqtd65pumwua

    Em caso de dúvida ou para informações, escreva para subscritores@paginaum.pt.