Onda de desinformação diaboliza Charlie Kirk e glorifica o homicida como um “jovem anti-fascista”


Charlie Kirk, o jovem conservador norte-americano de 31 anos que foi assassinado no passado dia 10 de Setembro, promovia debates com estudantes pelo menos desde 2012. Foi assassinado quando participava em mais um evento numa Universidade em que debatia com estudantes. Mas, mesmo depois da sua morte, o jovem continua a ser alvo de uma onda de desinformação em alguma imprensa e nas redes sociais, tanto sobre o seu trabalho como sobre as suas posições.

Para a generalidade da imprensa, Kirk é retratado como um “radical” de direita, ou mesmo da “extrema-direita”. Já o seu alegado assassino, que se encontra detido, está a ser quase glorificado por utilizadores de redes sociais e até alguns órgãos de comunicação social, incluindo em Portugal, que o descrevem como um “jovem anti-fascista”. Isto apesar de ter assassinado um outro jovem apenas por ter ideias diferentes das suas.

Charlie Kirk (à esquerda na foto), era um jovem conservador moderado e cristão devoto que promovia o debate de ideias. Casado e pai de dois filhos pequenos, fundou a organização Turning Point USA, que organizava eventos em que Kirk debatia com estudantes com diferentes pontos de vista. Nos debates, Kirk convidava alunos para a troca de ideias usando o ‘slogan‘ “prove me wrong” (prova que estou errado). / Foto: D.R.

Em Portugal, diversos meios de comunicação social têm mostrado falta de rigor na descrição de Kirk mas também do seu alegado assassino. Por exemplo, numa notícia publicada ontem no Jornal de Notícias, assinada pela jornalista Rita Salcedas (CP 7547) — que tem um número de carteira profissional recente —, o título escolhido foi “Tyler Robinson: o jovem anti-fascista que quis calar o conservador Charlie Kirk”.

Este título tem gerado polémica e nas redes sociais o jornal não tem sido poupado a críticas. Por exemplo, na rede X, a publicação que publicita a notícia tem apenas 55 ‘gostos’ mas recebeu já 154 comentários. “Este título é simplesmente deplorável”, refere um dos comentários. “Que nojo de artigo… Não é um anti-fascista, é um assassino”, lê-se num outro comentário que tem 133 ‘gostos’.

A notícia começa por fazer um branqueamento do perfil do suspeito, descrevendo-o como um bom aluno criado numa boa família, omitindo as evidências de que sofreu uma radicalização ideológica e política nos últimos anos, levando ao homicídio. A jornalista aproveita ainda para sublinhar que o alegado assassino é “branco, não é imigrante, não é transgénero”. Num dos subtítulos, descreve o alegado assassino como um “crítico do conservadorismo apregoado por Kirk”, apesar de assumir que o suspeito nem sequer terá votado nas duas últimas eleições no país.

Notícia do Jornal de Notícias publicada ontem que retrata o alegado assassino de Kirk como um “jovem anti-fascista”, apesar de ter morto um jovem conservador que promovia o debate de ideias. / Foto: Captura de ecrã da página do Jornal de Notícias na Internet.

Por outro lado, a notícia omite que Kirk era um cristão devoto e que os valores cristãos e a promoção da tolerância eram presença constante nos debates. Também omite que Kirk era casado e pai de dois filhos pequenos, retirando intencionalmente a possibilidade de o leitor sentir empatia com a vítima. Por outro lado, descreve Kirk como um “ultraliberal”, procurando “colar” o jovem conservador a uma direita fundamentalista.

Outros meios de comunicação optaram por destacar em título que as balas encontradas na arma usada no homicídio continham expressões “anti-fascistas”, passando a ideia aos leitores de que o suspeito pretendeu assassinar Kirk por este ser “fascista”, o que é falso.

Depois, alguns media chegaram mesmo a procurar atribuir culpas ao próprio Kirk pela sua morte, mencionando que era a favor da Constituição norte-americana que permite o porte de armas. Numa notícia publicada no dia 11 de Setembro, a BBC escreveu que Kirk disse “há alguns meses: vale a pena ter o custo de haver, infelizmente, algumas mortes por armas de fogo todos os anos para que possamos manter a Segunda Emenda”.

Nesta notícia não assinada por nenhum jornalista, publicada no dia do assassinato de Charlie Kirk, a TSF classificou o jovem cristão e conservador como sendo de “extrema-direita”, o que é falso. / Foto: D.R.

De resto, na cobertura deste atentado contra o conhecido jovem conservador norte-americano, vários meios de comunicação social têm erradamente classificado Kirk como sendo da “direita radical” e até da “extrema-direita. Por outro lado, alguma imprensa tem também optado por diminuir o trabalho que foi desenvolvido pelo jovem conservador, ao classificá-lo como se fosse um mero “apoiante de Trump” ou um “porta-voz da juventude que apoia Trump”.

Também comentadores, incluindo em Portugal, têm difamado Charlie Kirk atribuindo-lhe posições que não defendia — em temas como os direitos das mulheres e das pessoas LGBT ao tema do racismo — ou classificando-o como sendo extremista e radical, com alguns quase a querer transparecer a ideia de que o jovem conservador mereceu ter sido assassinado. Alguns comentadores, incluindo jornalistas, ao invés de criticarem claramente o homicídio, também têm aproveitado para lançar a ideia de que este homicídio hediondo vai servir para “alimentar Trump” e a “extrema-direita” — que para estes comentadores são todos os conservadores — nos Estados Unidos.

De resto, não é só nas notícias que tem havido desinformação sobre Kirk ou enviesamento no tratamento deste homicídio. É frequente encontrar publicações em que, por exemplo, frases de Kirk são usadas fora de contexto. E proliferam acusações difamatórias em relação a Kirk. Por exemplo, o famoso autor Stephen King, que na rede social X tem 6,8 milhões de seguidores, veio pedir desculpa por ter escrito numa publicação que Charlie Kirk “defendia o apedrejamento até à morte de pessoas gay”, o que é totalmente falso.

O autor Stephen King foi uma das personalidades que difundiu acusações difamatórias falsas sobre Charlie Kirk. Algumas têm-se propagado também na imprensa. / Foto: Foto: Captura de ecrã da publicação rede X

O autor apagou a publicação onde difundia a mentira e tem vindo a desdobrar-se em pedidos de desculpa sucessivos na rede X.

Já a popular escritora J.K. Rowling, autora de Harry Potter, que tem 14,4 milhões de seguidores na rede X, fez uma publicação no dia 11 de Setembro contra a violência e em defesa do debate, da democracia e da liberdade de expressão. “Se acredita que a liberdade de expressão é para si, mas não para os seus opositores políticos, você é anti-liberal. Se nenhuma evidência contrária puder mudar as suas crenças, você é um fundamentalista. Se acredita que o Estado deve punir aqueles com opiniões contrárias, você é um totalitário. Se acredita que opositores políticos devem ser punidos com violência ou morte, você é um terrorista.”

A popular autora de Harry Potter, que também é uma defensora dos direitos das mulheres, escreveu no X em defesa da tolerância, da democracia e da liberdade de expressão. / Foto: Captura de ecrã da publicação rede X

Além de desinformação, também tem havido quem celebre o homicídio do jovem conservador, com vídeos e publicações nas redes sociais. Em Portugal, um dos que festejou o homicídio foi o argumentista João Quadros que escreveu várias publicações na rede X, uma das quais teve cerca de 500 ‘gostos’.

Numa das publicações, João Quadros escreveu: “vou buscar uma almofada, preciso de espaço para dormir com este sorriso”.

Nos Estados Unidos, algumas das pessoas que celebraram a morte de Kirk nas redes sociais foram despedidas, depois de os seus empregadores terem tido conhecimento do que publicaram online. Vários vídeos e publicações com festejos têm vindo a ser apagados.

Também a empresa Office Depôt fez um comunicado onde anunciou despediu um dos seus funcionários que recusou imprimir um poster para anunciar uma vigília em nome de Kirk. Disse ainda que tinha contacto o cliente para resolver a situação, mas entretanto emergiram publicações na rede X indicando que um concorrente, a FedEx Office, tinha avançado com a impressão do poster gratuitamente.

Foto: Captura de ecrã de publicações na rede social X

Contudo, a onda de desinformação sobre Kirk deverá continuar nos media e também nas redes sociais. Para a imprensa, este caso de má conduta surge depois de uma outra polémica envolvendo a cobertura que os media fizeram do homicídio de uma jovem refugiada ucraniana, quando regressava a casa de metro vinda do seu emprego.

Apesar de ter sido divulgado o vídeo do homicídio, que foi cometido por um criminoso reincidente 14 vezes, os media em geral ignoraram o acontecimento e fizeram um ‘blackout‘, não noticiando o crime. Só quando o vídeo e as críticas aos media se tornaram virais na Internet é que a imprensa começou a noticiar o crime. Por detrás do ‘blackout‘ dos media ao caso terá estado o facto de a jovem assassinada ser branca e o criminoso não.

A forma como a imprensa em geral cobriu estes dois homicídios tem gerado uma onda de críticas e exposto um sector de media que faz as notícias com carga ideológica e que se afastou dos deveres éticos e de rigor e isenção, que são pilares do Jornalismo.

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Foto: D.R.

Nesta altura, há quem questione mesmo como teria sido a cobertura mediática destes dois homicídios se o jovem conservador assassinado fosse antes um democrata ou um devoto muçulmano e se a jovem ucraniana tivesse outro tom de pele.

Em termos mediáticos, o que transparece destas duas polémicas é que, para alguma imprensa, o tratamento noticioso de acontecimentos tem dois pesos e duas medidas consoante a religião, a cor de pele e a preferência política dos envolvidos. Algo que contraria as boas práticas jornalísticas e, em Portugal, constitui uma violação do Estatuto do Jornalista e do Código Deontológico.

No caso de Charlie Kirk, a forma como alguma imprensa norte-americana diabolizou o jovem leva que críticos da sua cobertura de Kirk lhe estejam a atribuir uma parte da responsabilidade pelo ódio criado em torno do jovem conservador, que levou a que se tornasse num alvo de um extremista.