Em apenas uma semana, a Europa acordou para a necessidade de saber, afinal, o que se passou com a compra de vacinas contra a covid-19. A Procuradoria Europeia anunciou que tem em curso uma investigação à compra das vacinas. O anúncio surgiu numa semana polémica na Comissão Especial sobre a pandemia da covid-19, no Parlamento Europeu. Hoje, a presidente desta Comissão surpreendeu muitos eurodeputados com declarações no Twitter a defender a investigação à compra das vacinas e a questionar o secretismo em torno dos contratos com a Pfizer.
Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, está debaixo de fogo devido a suspeitas relativamente aos contratos secretos de compra de vacinas contra a Covid-19 à farmacêutica norte-americana Pfizer.
Há mais de um ano que eurodeputados, instituições europeias e membros da sociedade civil pedem o acesso aos contratos secretos negociados por Ursula von der Leyen com o presidente executivo da Pfizer, Albert Bourla.
Ursula von der Leyen entregou o prémio de liderança do Atlantic Council a Albert Bourla, CEO da Pfizer, em Novembro de 2021.
Os últimos dias representaram um ponto de viragem que pode trazer dissabores a von der Leyen mas maior transparência ao processo de compra das vacinas. A Procuradoria Europeia anunciou ontem estar a investigar a compra de vacinas pela União Europeia.
E, hoje, Kathleen van Brempt, presidente da Comissão Especial sobre a pandemia da covid-19 no Parlamento Europeu, surpreendeu com declarações no Twitter, questionando, pela primeira vez, os contratos feitos com a Pfizer e o volume de vacinas compradas, bem como o montante pago pela União Europeia.
Estes desenvolvimentos dos últimos dois dias surgem após uma semana explosiva no que toca ao tema das vacinas contra a covid-19, e sobretudo em relação aos contornos das compras lideradas pela Comissão Europeia, que já atingiram os 4,6 mil milhões de doses por 71 mil milhões de euros, mais de um terço do produto interno bruto português em 2021.
Primeiro, foi uma responsável da gigante farmacêutica norte-americana Pfizer que admitiu, perante deputados do Parlamento Europeu, que a sua vacina não foi testada para se saber se impedia a transmissão do SARS-COV-2.
As ondas de choque que as declarações desta responsável da Pfizer geraram foram gigantescas e a revolta, tanto de vacinados como de não vacinados, inundou as redes sociais.
Entretanto, vários media tradicionais, incluindo a Reuters e a Associated Press, apressaram-se a garantir que a Pfizer nunca tinha prometido que a sua vacina impedia a infecção e o contágio, apesar de existirem ensaios clínicos pagos pela Pfizer que garantem que a vacina prevenia a transmissão do vírus.
Em Portugal, o pneumologista Filipe Froes, um dos mais destacados consultores da Direcção-Geral da Saúde e também da Pfizer (entre outras farmacêuticas), sempre defendeu que a vacina contra a covid-19 reduzia a transmissibilidade em caso de infecção. Em Janeiro deste ano, em declarações à TSF, Froes garantiu que “quem tem o esquema vacinal completo e com dose de reforço, tem um risco de infeção e de transmissão praticamente nulo. Não se pode dizer que seja zero, mas o risco é praticamente nulo.”
Recorde-se que, com base na garantia de que as vacinas impediam a infecção e o contágio, foi imposto o chamado “certificado digital” ou “passaporte sanitário”, criando-se a maior operação de segregação da população da História moderna. Além disso, foi por uma suposta maior transmissibilidade dos não-vacinados que responsáveis políticos contribuíram para espalhar a estigmatização sobre quem voluntariamente optava por não se vacinar. Em 29 de Julho do ano passado, o presidente norte-americano Joe Biden falava de uma “pandemia de não-vacinados“. E Ursula von der Leyen veio apelar, em 23 de Novembro passado, para que os cidadãos se vacinassem ou recebessem um reforço por se estar perante uma “pandemia de não-vacinados“.
Após a audição da responsável da Pfizer nesta semana, eurodeputados sugeriram, numa conferência de imprensa, que fosse constituída uma comissão de inquérito sobre a covid-19, acusando a Comissão Especial sobre o tema, que decorre no Parlamento Europeu, de ser uma espécie de farsa. Os eurodeputados denunciariam ainda que continuam a ser secretos os dados sobre a negociação da compra de vacinas por parte da presidente da Comissão Europeia, Ursula Von der Leyen.
Janine Small, presidente da divisão de mercados internacionais desenvolvidos, da Pfizer, na audição na Comissão Especial sobre a pandemia da covid-19 no Parlamento Europeu, no dia 10 de Outubro.
Por coincidência, seguiu-se um outro anúncio de relevo: a Procuradoria Europeia anunciou ontem que está a investigar a compra de vacinas contra a Covid-19 pela União Europeia. Esta entidade independente da União Europeia anunciou, numa “rara confirmação”, segundo as suas palavras, que a investigação “surge na sequência da existência de um interesse público elevado”. O comunicado da Procuradoria Europeia adianta que “não serão tornados públicos mais detalhes nesta fase”.
“Vários aspectos do terceiro contrato com a Pfizer, merecem ser escrutinados, as mensagens de texto entre a presidente da Comissão Europeia [e o CEO da Pfizer, Albert Bourla] e o facto de não haver nenhum documento sobre as negociações preliminares [entre os dois]”, escreveu ainda.
E defendeu ainda que “precisamos saber a razão de o maior contrato ser o menos transparente; Precisamos compreender a razão para a União Europeia ser obrigada a comprar 1,8 mil milhões de vacinas da Pfizer/BioNTech, independentemente das necessidades, independente de haver novos e melhores players a entrar no mercado”.
Conferência de imprensa de 11 de Outubro de eurodeputados que contestam a falta de transparência dos contratos de compra de vacinas contra a covid-19.
No seu tweet, Kathleen van Brempt lembrou que, “muitos dos contratos feitos pela União Europeia reservam o ‘direito’ a comprar mas no contrato com a Pfizer temos a ‘obrigação’ de comprar”. “Porque nos desviámos do procedimento normal para um contrato que cobre muitas vezes as nossas necessidades, durante um período em que todos deveriam estar já vacinados (2022 e 2023)”, questionou.
Cristian Terhes, o eurodeputado que desde há cerca de um ano tem lutado, junto com outros eurodeputados, por maior transparência sobre os contratos de compra de vacinas, comentou entretanto as declarações de van Brempt. “O que é dito pela presidente da Comissão COVI representa uma mudança de paradigma da Comissão (Especial sobre covid), porque, até agora, a Comissão comportou-se como se o seu objetivo fosse pedir desculpas a Ursula von der Leyen pela forma fraudulenta como assinou contratos com as empresas de vacinas”, salientou o eurodeputado romeno. “Agora, a presidente admite que existe um problema com a falta de transparência dos contratos, bem como com a forma e finalidade de compra das vacinas”, frisou na sua conta na rede social Facebook.
O eurodeputado não tem sido, aliás, brando com a presidente da Comissão Europeia e, desta vez, pediu a sua demissão imediata. “Quando, há um ano atrás, comecei a falar com os meus colegas sobre a não transparência dos contratos e outros abusos cometidos por Ursula von der Leyen, muitos me disseram que não poderíamos fazer muito, porque era só conversa, porque estávamos a lidar com o melhor da União Europeia e assim por diante, desculpas atrás de desculpas para não fazer nada”, relembrou.
Sede da Procuradoria Europeia no Luxemburgo.
O eurodeputado prosseguiu indicando que “hoje, todos reconhecem que existe um problema com a não-publicação integral dos contratos”, e destacou uma grande mundança: “de segunda-feira, 10.10.2022, até hoje, 15.10.2022, tudo o que foi afirmado sobre estas vacinas mudou drasticamente”.
Isto porque, recordou Cristian Tehres, “a Pfizer admitiu oficialmente, quando questionada pelo colega Rob Ross, que não testou realmente a vacina para ver se ela impede a transmissão do vírus”, acrescentando que, “mais tarde, isto foi também reconhecido por um representante da Comissão Europeia numa pergunta que lhe fiz”.
O eurodeputado garantiu que vai continuar a pressão: “obviamente, não vamos parar até descobrirmos a verdade, toda a verdade! Até lá, Ursula von der Leyen deve demitir-se e colocar-se à disposição dos organismos europeus de investigação criminal”. E terminou o seu post com os hashtags #UrsulaMustResign #UrsulaMustGo.
O romeno Cristian Terhes e o croata Mislav Kolakusic são os eurodeputados responsáveis pela criação da Comissão Conjunta COVID com a Comissão de Controlo Orçamental.
Segundo este relatório, até Novembro de 2021 a Comissão Europeia comprou, em nome dos Estados, 4,6 mil milhões de doses de vacina por 71 mil milhões de euros. Tehers comentou que “a quantidade é enorme, assim como o valor comprado”. Com efeito, sendo a população da União Europeia de 447 milhões de habitantes, a Comissão Europeia comprou vacinas suficientes para nove doses por pessoa, incluindo crianças.
Uma análise a cerca de 900 artigos científicos, feita por uma equipa de investigadores italianos, mostra que a imunidade natural é mais prolongada e eficaz do que a imunidade concedida pelas vacinas. Os autores desaconselham mesmo a vacinação de quem “apanhou” covid-19, porque o risco de ter efeitos adversos pode ser 60% superior em comparação a quem se vacinou sem nunca ter tido contacto com o vírus. Se a estratégia de não vacinar recuperados fosse aplicada, mais de metade dos portugueses não necessitaria de fazer “reforços”.
Numa base de risco-benefício, as pessoas recuperadas da covid-19 não deviam vacinar-se. Esta é a principal conclusão de 12 investigadores e médicos italianos feita após a análise a cerca de 900 estudos publicados em revistas científicas sobre a infecção pelo SARS-CoV e a eficácia das vacinas, e que está em fase de peer review (avaliação pelos pares).
Intitulado “SARS-CoV-2 – O papel da imunidade natural: uma revisão narrativa” (SARS-CoV-2 – the role of natural immunity: a narrative review), este artigo científico de 29 páginas – que tem como primeira autora Sara Diani, da Universidade Europeia Jean Monnet de Pádua – debruça-se sobretudo em analisar a evolução da imunidade vacinal e da imunidade natural, bem como dos riscos das reinfecções e das vacinas contra a covid-19.
Em concreto, esta revisão narrativa analisou a literatura científica sobre a duração da imunidade natural; a imunidade celular; a reatividade cruzada; a duração da proteção imunológica pós-vacinação; a probabilidade de reinfecção e suas manifestações clínicas nos pacientes recuperados; as comparações entre vacinados e não vacinados nas possíveis reinfecções; o papel da imunidade híbrida; a eficácia da imunidade natural e induzida por vacina contra a variante Omicron; e incidência comparativa de efeitos adversos após a vacinação em indivíduos recuperados versus indivíduos virgens de COVID-19.
É porventura a análise mais completa até agora feita no âmbito da pandemia.
Uma das principais conclusões deste estudo – que a ser aplicada acarretaria um forte revés económico para as farmacêuticas, porque as vendas reduzir-se-iam – é de que a protecção natural, adquirida após a infecção por covid-19, é mais duradoura do que a imunidade vacinal, e que, mesmo sendo a vacina eficaz – menos, no caso da variante Ómicron –, quem possuir imunidade natural não beneficia em vacinar-se por causa dos riscos dos efeitos adversos das vacinas.
O destaque para a protecção natural face ao SARS-CoV-2 – que, aliás, é fenómeno habitual em outras doenças infecciosas – advém não apenas da imunidade induzida pelas células B (humoral) mas também pelas células T (celular). “A análise da literatura sobre a imunidade natural pós-COVID-19 destacou uma série de achados que indicam uma boa proteção imunológica na grande maioria dos indivíduos”, dizem os autores, acrescentando que, nos recuperados, a imunidade após a infecção é “tipicamente de natureza humoral mediada por células e parece proteger contra a reinfecção e doença clinicamente grave”.
O artigo menciona diversos estudos onde “foram encontrados anticorpos protectores e células B de memória” após mais de 12 meses da recuperação, e que o nível de imunidade ainda era bastante forte. “Especificamente, um estudo sueco, com um seguimento após infecção natural de até 20 meses, mostrou uma taxa de proteção de 95% à infecção e 87% à hospitalização naqueles que não tomaram vacinas” após uma primeira infecção, apontam os investigadores italianos.
A constatação da menor gravidade nas reinfecções advém de uma avaliação empírica nos hospitais. “Em geral, a severidade dos sintomas de reinfecção é significativamente mais baixo do que a infecção primária, com um mais baixo grau de hospitalização (0,06%) e uma mortalidade extremamente baixa”, salientam os autores.
Isto advém exactamente da “longevidade” da imunidade natural. “Mais de um ano após a infecção primária, as pessoas não vacinadas ainda têm proteção em torno de 70% (69% num grande estudo coorte de profissionais de saúde do Reino Unido)”, salientam. Tal deve-se em grande medida à carga viral nas reinfecções ser “cerca de 10 vezes menor do que a de uma infecção primária”.
Embora os autores sustentem que “uma vacinação subsequente pode aumentar ainda mais essa proteção” – e tem sido essa a justificação das autoridades de Saúde mundiais para vacinar recuperados –, adiantam que numa análise risco-benefício esta pode não ser a melhor solução.
Com efeito, os investigadores confirmam, através da análise a outros estudos, que “a proteção contra a infecção conferida pelo ciclo de vacinação é muito boa após os primeiros 14 dias, mas tende a diminuir rapidamente nos meses seguintes, quase desaparecendo cerca de cinco meses após a segunda dose”.
Mas sustentam que “alguns dados da literatura destacam que numa fase posterior, esta protecção induzida pela vacina contra o contágio e/ou doença grave torna-se menos evidente do que a demonstrada nos indivíduos não vacinados”, mostrando ainda que “alguns investigadores relataram que, após uma infectação com SARS-CoV-2, é improvável que os indivíduos beneficiem da vacinação contra a covid-19”.
Dizem mesmo que, “devido à resposta imune prolongada documentada após a covid-19, a administração adicional de doses de vacina, especialmente a partir da segunda dose, não leva a uma melhora significativa na imunidade”.
Ainda por cima, os recuperados após uma primeira infecção, têm uma maior susceptibilidade a sofrer efeitos adversos decorrentes da vacinação.
Os investigadores italianos, que não têm ligações a qualquer farmacêutica, defendem mesmo que a vacinação de recuperados de uma infecção pelo vírus SARS-CoV-2 “não deve ser indicada”, tendo em conta “que os eventos adversos locais e sistémicos pós-vacina são 40% e 60% mais altos, respectivamente, em indivíduos com histórico anterior de infecção por SARS-CoV-2″, em comparação com os que ainda não tinham sido expostos ao vírus de forma natural.
E concluem: “a relação risco-benefício nesses casos [pessoas recuperadas de uma infecção por SARS-CoV-2] parece não indicar a necessidade de administração da vacina”, sustentando igualmente a realização de mais estudos sobre imunidade híbrida (natural e vacinal), uma vez que, até agora, “os resultados dos estudos são às vezes contraditórios”.
Aseem Malhotra, cardiologista britânico e professor de Medicina Baseada na Evidência, que promoveu a toma das ******* contra a *****-**, mudou de opinião devido aos seus efeitos adversos, sobretudo nos mais jovens e jovens adultos, e à baixa eficácia observada na prevenção da infecção e transmissão do ****-***-*. Num artigo na prestigiada revista científica Journal of Insuline Resistance, o especialista apresenta provas e apela para a suspensão das novas ******* até haver evidências científicas sólidas sobre a sua segurança e eficácia real.
Foi um dos primeiros cientistas a associar,emAbrilde2020, os riscos da obesidade e as formas mais graves de *****-**, promoveu as ******* contra o ****-***-*, mas a sua experiência como médico e os resultados de estudos e evidências científicas levaram um reputado cardiologista britânico a publicar um artigo fracturante e que assume vir quebrar os dogmas e a desinformação que têm sido promovidos em torno das ******* mRNA contra a *****-**.
No seu artigo, Aseem Malhotra, professor de Medicina baseada na evidência, e afiliado à Public Health Collaboration, diz que perante os registos dos efeitos adversos e a reduzida eficácia das ******* na prevenção da infecção e transmissão, sem haver acesso a dados brutos dos ensaios clínicos das ******* mRNA e na ausência de estudos independentes, a sua administração à população deve ser suspensa.
Aseem Malhotra
O cardiologista e activista de saúde pública publicou esta semana um artigo científico no prestigiado Journal of Insuline Resistance onde aponta que a população não tem sido bem informada sobre a real eficácia das ******* nem sobre os efeitos adversos registados, o que constitui uma grave violação dos deveres médicos e dos direitos dos cidadãos.
E salienta ainda que as informações veiculadas pelas farmacêuticas, nomeadamente a Pfizer, sobre a capacidade das ******* de travarem a infecção e a transmissão do vírus ****-***-* não são confirmadas pela evidência científica. Também os danos na saúde provocados pelas ******* mRNA estão, segundo Aseem Malhotra, a ser subreportados, enquanto o excesso de mortalidade desde o início da administração das novas ******* e a afluência aos hospitais por problemas, incluindo do foro cardíaco, deveriam recomendar maior cautela na administração das *******.
O cardiologista defende ainda que sejam efetuados estudos independentes sobre os efeitos adversos das novas *******, apontando simultaneamente falhas graves nos ensaios clínicos conduzidos pelos fabricantes.
Neste artigo, que se encontra dividido em duas partes, Aseem Malhotra rompe ainda com o discurso do “consenso e pensamento único” em torno das ******* contra a *****-**, e nesse aspecto é taxativo: a eficácia e segurança das ******* mRNA prometidas pelas farmacêuticas não é demonstrada com base nas evidências científicas observadas em diversos estudos e dados estatísticos.
O título do artigo científico não podia, aliás, ser mais directo: “Curando a desinformação na pandemia sobre as ******* mRNA contra a *****-** através de uma real medicina baseada na evidência“.
“Trabalhei durante nove meses neste artigo e hoje finalmente está publicado depois de um processo rigoroso e longo de revisão por pares”, comentou entretanto o cardiologista na sua conta na rede social Twitter, que assume ter tomado duas doses da ****** da Pfizer, mas que foi mudando de opinião face aos dados recolhidos e às conversas com especialistas das universidades de Oxford, Stanford e Harvard, e ainda com dois whistleblowers (denunciantes) da farmacêutica norte-americana. “É talvez o trabalho mais importante da minha vida e da minha carreira até agora”, sublinhou.
O artigo agora publicado, não é apenas opinativo; identifica em concreto diversas falhas que contribuíram para a desinformação em torno das ******* mRNA contra a covid-19, possibilitando a manipulação da população que nunca esteve realmente informada sobre a eficácia e segurança destes fármacos. E também os riscos já conhecidos.
Por exemplo, citando estudos já concluídos, Aseem Malhotra diz que o risco de eventos adversos sérios é de 1 para 800 ******* tomadas, valores que excedem os ensaios randomizados da responsabilidade das farmacêuticas. Outro exemplo de alerta público é o incremento em 20% das chamadas de ambulâncias para socorrer suspeitas de ataque cardíaco ao longo de 2021 em comparação com 2019, antes da pandemia. E o cardiologista cita também o estudo envolvendo israelitas entre os 16 e os 39 anos de idade que contabilizou um aumento de 25% em determinados problemas cardíacos e coronários após a primeira e segunda doses da ****** contra a *****-**.
Vídeo de ontem na conta do Twitter de Aseem Malhotra do artigo científico que pubicou, em que assume que foi ******** com duas doses da Pfizer.
De entre as falhas identificadas no artigo do cardiologista, sobressaem as detectadas nos ensaios clínicos conduzidos pelas farmacêuticas, mas também as verificadas na actuação dos reguladores como as agências dos medicamentos.
Aseem Malhotra critica também a parcialidade observada nas notícias e opiniões promovidas pelos media e nas redes sociais em geral, por sustentarem a ideia de uma “narrativa única” a favor da ********* contra a *****-** em todos os grupos etários, sem que tenham mencionado as falhas graves detectadas nas “promessas” dos fabricantes e nos ensaios clínicos efetuados.
A influência do financiamento e da indústria farmacêutica nos media e nas redes sociais, e não só, também é visto pelo especialistas como um dos factores que contribuiu para a imposição de uma narrativa de pensamento único e alegado “consenso” (inexistente) em torno da eficácia e segurança das ******* mRNA.
Na primeira parte do artigo é sublinhado que “em resposta ao coronavírus 2 da síndrome respiratória aguda grave (****-***-*), vários novos agentes farmacêuticos foram administrados a milhares de milhões de pessoas em todo o Mundo, incluindo jovens saudáveis com pouco risco de adoecer com o vírus”. Aponta ainda que “uma margem de manobra considerável foi concedida em termos de testes pré-clínicos e clínicos desses agentes, apesar de um mecanismo de acção totalmente novo e em relação às características de biodistribuição”.
O objectivo desta primeira parte do artigo científico consistia sobretudo em “obter uma melhor compreensão dos verdadeiros benefícios e danos potenciais das vacinas contra a doença de coronavírus (*****-**) de ácido ribonucleico mensageiro (mRNA)”, salienta o cardiologista.
O método seguido baseou-se “numa revisão narrativa das evidências de ensaios randomizados e dados do mundo real dos produtos *****-** mRNA, com ênfase especial na ****** BionTech/Pfizer”.
“Autoridades e sectores da profissão médica apoiaram políticas antiéticas, coercitivas e mal informadas, como mandatos de ******* e passaportes de *******, minando os princípios da prática médica baseada em evidências científicas e consentimento informado”, refere Aseem Malhotra na segunda parte do artigo. “Essas acções lamentáveis são um sintoma da ‘confusão da informação médica’: a ponta de um iceberg de mortalidade, onde os medicamentos prescritos são estimados como a terceira causa mais comum de morte em todo o Mundo, depois de doenças cardíacas e cancro”, acrescenta ainda.
Nesta fase, Aseem Malhotra pretendeu “identificar as principais causas dessas falhas de saúde pública”, através de “uma revisão narrativa dos factores de condução actuais e históricos que sustentam a pandemia de desinformação médica”.
As conclusões dessa análise são claras: “as causas subjacentes a esse fracasso incluem a captura regulatória – os guardiões que deveriam proteger o público são, de facto, financiados pelas corporações que ganham com a venda desses medicamentos”; “uma falha nas mensagens de saúde pública também resultou em desperdício de recursos e numa oportunidade perdida de ajudar as pessoas a levar uma vida mais saudável com mudanças de estilo de vida relativamente simples – e de baixo custo”.
Aseem Malhotra tem alertado para os riscos de problemas cardíacos causados pela ****** contra a *****-** em atletas, considerando que, nestes casos, é maior do que a infecção.
Aseem Malhotra acrescenta que “há um forte argumento científico, ético e moral a ser feito de que a atual administração da vacina contra a *****-** deve parar até que todos os dados brutos sejam submetidos a um escrutínio totalmente independente”. E lança um aviso para o futuro: “as profissões médicas e de saúde pública devem reconhecer essas falhas e evitar o ‘dólar contaminado do complexo médico-industrial’”, acrescentando que, perante aquilo que está em causa, “levará muito tempo e esforço para reconstruir a confiança nessas instituições, mas a saúde – tanto da Humanidade quanto da profissão médica – depende disso”.
A falta de confiança percepcionada pela população nota-se já, refere o especialista, daí a recente baixa taxa de ********* para outras doenças como a tripla contra o sarampo, a papeira e a rubéola no Reino Unido. Este facto é visto como muito preocupante, já que estas são ******* com vasta comprovação da sua eficácia e segurança.
Aseem Malhotra, que é presença assídua nos media britânicos, vinha já alertando, desde o início do ano, para os riscos de ********* de jovens, especialmente quando começaram a surgir suspeitas de problemas cardíacos afectando futebolistas, como em Janeiro passado com o guarda-rede do Suderland, Lee Burge. No entanto, o cardiologista é também uma figura controversa no universo médico do Reino Unido, devido em parte à popularidade das suas dietas livre de açúcares e à contestação sobre o uso de estatinas para o controlo do colesterol.
N.D. O Facebook eliminou o post cno mural do nosso jornal daquela rede social a divulgação da notícia publicada pelo PÁGINA UM no dia 29 de Setembro. Catalogou-a de notícia falsa, o que além de não corresponder à verdade, constitui uma ofensa e uma difamação. Quase cinco década após o 25 de Abril de 1974, esta é uma prática chocante, além de ilegal, e não pode o Estado da República Portuguesa (não o confundamos com o Governo) manter-se alheio a estes atropelos à democracia. Este tipo de censura, ainda mais sendo “decretada” por um algoritmo, por uma empresa emparedada em si mesma, é uma anacronismo intolerável. Aceitar isto é ser cúmplice.
Aseem Malhotra, cardiologista britânico e professor de Medicina Baseada na Evidência, que promoveu a toma das vacinas contra a covid-19, mudou de opinião devido aos seus efeitos adversos, sobretudo nos mais jovens e jovens adultos, e à baixa eficácia observada na prevenção da infecção e transmissão do SARS-COV-2. Num artigo na prestigiada revista científica Journal of Insuline Resistance, o especialista apresenta provas e apela para a suspensão das novas vacinas até haver evidências científicas sólidas sobre a sua segurança e eficácia real.
Foi um dos primeiros cientistas a associar,emAbrilde2020, os riscos da obesidade e as formas mais graves de covid-19, promoveu as vacinas contra o SARS-CoV-2, mas a sua experiência como médico e os resultados de estudos e evidências científicas levaram um reputado cardiologista britânico a publicar um artigo fracturante e que assume vir quebrar os dogmas e a desinformação que têm sido promovidos em torno das vacinas mRNA contra a covid-19.
No seu artigo, Aseem Malhotra, professor de Medicina baseada na evidência, e afiliado à Public Health Collaboration, diz que perante os registos dos efeitos adversos e a reduzida eficácia das vacinas na prevenção da infecção e transmissão, sem haver acesso a dados brutos dos ensaios clínicos das vacinas mRNA e na ausência de estudos independentes, a sua administração à população deve ser suspensa.
Aseem Malhotra
O cardiologista e activista de saúde pública publicou esta semana um artigo científico no prestigiado Journal of Insuline Resistance onde aponta que a população não tem sido bem informada sobre a real eficácia das vacinas nem sobre os efeitos adversos registados, o que constitui uma grave violação dos deveres médicos e dos direitos dos cidadãos.
E salienta ainda que as informações veiculadas pelas farmacêuticas, nomeadamente a Pfizer, sobre a capacidade das vacinas de travarem a infecção e a transmissão do vírus SARS-CoV-2 não são confirmadas pela evidência científica. Também os danos na saúde provocados pelas vacinas mRNA estão, segundo Aseem Malhotra, a ser subreportados, enquanto o excesso de mortalidade desde o início da administração das novas vacinas e a afluência aos hospitais por problemas, incluindo do foro cardíaco, deveriam recomendar maior cautela na administração das vacinas.
O cardiologista defende ainda que sejam efetuados estudos independentes sobre os efeitos adversos das novas vacinas, apontando simultaneamente falhas graves nos ensaios clínicos conduzidos pelos fabricantes.
Neste artigo, que se encontra dividido em duas partes, Aseem Malhotra rompe ainda com o discurso do “consenso e pensamento único” em torno das vacinas contra a covid-19, e nesse aspecto é taxativo: a eficácia e segurança das vacinas mRNA prometidas pelas farmacêuticas não é demonstrada com base nas evidências científicas observadas em diversos estudos e dados estatísticos.
O título do estudo não podia, aliás, ser mais directo: “Curando a desinformação na pandemia sobre as vacinas mRNA contra a covid-19 através de uma real medicina baseada na evidência“.
“Trabalhei durante nove meses neste artigo e hoje finalmente está publicado depois de um processo rigoroso e longo de revisão por pares”, comentou entretanto o cardiologista na sua conta na rede social Twitter, que assume ter tomado duas doses da vacina da Pfizer, mas que foi mudando de opinião face aos dados recolhidos e às conversas com especialistas das universidades de Oxford, Stanford e Harvard, e ainda com dois whistleblowers (denunciantes) da farmacêutica norte-americana. “É talvez o trabalho mais importante da minha vida e da minha carreira até agora”, sublinhou.
O artigo agora publicado, não é apenas opinativo; identifica em concreto diversas falhas que contribuíram para a desinformação em torno das vacinas mRNA contra a covid-19, possibilitando a manipulação da população que nunca esteve realmente informada sobre a eficácia e segurança destes fármacos. E também os riscos já conhecidos.
Por exemplo, citando estudos já concluídos, Aseem Malhotra diz que o risco de eventos adversos sérios é de 1 para 800 vacinas tomadas, valores que excedem os ensaios randomizados da responsabilidade das farmacêuticas. Outro exemplo de alerta público é o incremento em 20% das chamadas de ambulâncias para socorrer suspeitas de ataque cardíaco ao longo de 2021 em comparação com 2019, antes da pandemia. E o cardiologista cita também o estudo envolvendo israelitas entre os 16 e os 39 anos de idade que contabilizou um aumento de 25% em determinados problemas cardíacos e coronários após a primeira e segunda doses da vacina contra a covid-19.
Vídeo de ontem na conta do Twitter de Aseem Malhotra do artigo científico que pubicou, em que assume que foi vacinado com duas doses da Pfizer.
De entre as falhas identificadas no artigo do cardiologista, sobressaem as detectadas nos ensaios clínicos conduzidos pelas farmacêuticas, mas também as verificadas na actuação dos reguladores como as agências dos medicamentos.
Aseem Malhotra critica também a parcialidade observada nas notícias e opiniões promovidas pelos media e nas redes sociais em geral, por sustentarem a ideia de uma “narrativa única” a favor da vacinação contra a covid-19 em todos os grupos etários, sem que tenham mencionado as falhas graves detectadas nas “promessas” dos fabricantes e nos ensaios clínicos efetuados.
A influência do financiamento e da indústria farmacêutica nos media e nas redes sociais, e não só, também é visto pelo especialistas como um dos factores que contribuiu para a imposição de uma narrativa de pensamento único e alegado “consenso” (inexistente) em torno da eficácia e segurança das vacinas mRNA.
Na primeira parte do artigo é sublinhado que “em resposta ao coronavírus 2 da síndrome respiratória aguda grave (SARS-CoV-2), vários novos agentes farmacêuticos foram administrados a milhares de milhões de pessoas em todo o Mundo, incluindo jovens saudáveis com pouco risco de adoecerem com o vírus”. Aponta ainda que “uma margem de manobra considerável foi concedida em termos de testes pré-clínicos e clínicos desses agentes, apesar de um mecanismo de acção totalmente novo e em relação às características de biodistribuição”.
O objectivo desta primeira parte do artigo científico consistia sobretudo em “obter uma melhor compreensão dos verdadeiros benefícios e danos potenciais das vacinas contra a doença de coronavírus (covid) de ácido ribonucleico mensageiro (mRNA)”, salienta o cardiologista.
O método seguido baseou-se “numa revisão narrativa das evidências de ensaios randomizados e dados do mundo real dos produtos covid mRNA, com ênfase especial na vacina BionTech/Pfizer”.
“Autoridades e sectores da profissão médica apoiaram políticas antiéticas, coercitivas e mal informadas, como mandatos de vacinas e passaportes de vacinas, minando os princípios da prática médica baseada em evidências científicas e consentimento informado”, refere Aseem Malhotra na segunda parte do artigo científico. “Essas acções lamentáveis são um sintoma da ‘confusão da informação médica’: a ponta de um iceberg de mortalidade, onde os medicamentos prescritos são estimados como a terceira causa mais comum de morte em todo o mundo, depois de doenças cardíacas e cancro”, acrescenta ainda.
Nesta fase, Aseem Malhotra pretendeu “identificar as principais causas dessas falhas de saúde pública”, através de “uma revisão narrativa dos factores de condução actuais e históricos que sustentam a pandemia de desinformação médica”.
As conclusões dessa análise são claras: “as causas subjacentes a esse fracasso incluem a captura regulatória – os guardiões que deveriam proteger o público são, de facto, financiados pelas corporações que ganham com a venda desses medicamentos”; “uma falha nas mensagens de saúde pública também resultou em desperdício de recursos e numa oportunidade perdida de ajudar as pessoas a levar uma vida mais saudável com mudanças de estilo de vida relativamente simples – e de baixo custo”.
Aseem Malhotra tem alertado para os riscos de problemas cardíacos causados pela vacina contra a covid-19 em atletas, considerando que, nestes casos, é maior do que a infecção.
Aseem Malhotra acrescenta que “há um forte argumento científico, ético e moral a ser feito de que a atual administração da vacina contra a covid-19 deve parar até que todos os dados brutos sejam submetidos a um escrutínio totalmente independente”. E lança um aviso para o futuro: “as profissões médicas e de saúde pública devem reconhecer essas falhas e evitar o ‘dólar contaminado do complexo médico-industrial’”, acrescentando que, perante aquilo que está em causa, “levará muito tempo e esforço para reconstruir a confiança nessas instituições, mas a saúde – tanto da Humanidade quanto da profissão médica – depende disso”.
A falta de confiança percepcionada pela população nota-se já, refere o especialista, daí a recente baixa taxa de vacinação para outras doenças como a tripla contra o sarampo, a papeira e a rubéola no Reino Unido. Este facto é visto como muito preocupante, já que estas são vacinas com vasta comprovação da sua eficácia e segurança.
Aseem Malhotra, que é presença assídua nos media britânicos, vinha já alertando, desde o início do ano, para os riscos de vacinação de jovens, especialmente quando começaram a surgir suspeitas de problemas cardíacos afectando futebolistas, como em Janeiro passado com o guarda-rede do Suderland, Lee Burge. No entanto, o cardiologista é também uma figura controversa no universo médico do Reino Unido, devido em parte à popularidade das suas dietas livre de açúcares e à contestação sobre o uso de estatinas para o controlo do colesterol.
No dia em que o Instituto Nacional de Estatística revela que a esperança média de vida à nascença diminuiu em Portugal, supostamente apenas por causa da covid-19, o PÁGINA UM faz uma breve (e rápida) análise aos dados das Tábuas da Mortalidade. E mostra os sinais mais relevantes e preocupantes. Depois disto, devemos esperar que o Ministério da Saúde realize, em segredo, um estudo sobre o que está a suceder aos portugueses desde 2020, e que apenas o apresente em 2023?
O Instituto Nacional de Estatística (INE) revelou hoje que a esperança de vida à nascença em Portugal, em 2019-2021, foi estimada em 80,72 anos, sendo de 77,67 anos para os homens e de 83,37 anos para as mulheres, o que implicou que “uma diminuição de cerca de 4,8 meses para os homens e de 3,6 meses para as mulheres” em comparação com o triénio 2018-2020.
E o INE acrescentou ainda mais, no segundo parágrafo do seu boletim informativo: “no triénio 2019-2021, em resultado do aumento do número de óbitos no contexto da pandemia da doença COVID-19, registaram-se, também, reduções na esperança de vida para a maioria das regiões NUTS II e III. O impacto da pandemia COVID-19 nas regiões foi, todavia, diferenciado.”
Sabendo o que a “casa gasta” – leia-se imprensa mainstream –, não surpreende que tudo tenha sido tratado pela rama, sem interpretação. Apontou-se o SARS-CoV-2 e a pandemia como os culpados de tudo. E deu-se voz ao novo ministro da Saúde, Manuel Pizarro, para dizer que é tempo de “estudar a mortalidade para tentarmos perceber se há algo que possamos fazer para inverter esta tendência”.
O PÁGINA UM, por exemplo, também concorda, mas teve de interpor intimações no Tribunal Administrativo de Lisboa para ver se o Ministério da Saúde é obrigado a disponibilizar a informação que o novo ministro também precisa para “estudar a mortalidade para tentarmos perceber se há algo que possamos fazer para inverter essa tendência”.
Mas adiante.
Analisando com o detalhe possível, que o tempo por agora permite, as Tábuas da Mortalidade do INE, há desde logo um aspecto a reter: os períodos a comparar não deveriam ser apenas os triénios 2018-2020 e 2019-2021 (como foram), porquanto embora seja conveniente agrupar mais de um ano (é correcto agregar três anos), não se deveria confrontar somente dois períodos de três onde há dois anos em comum (2019 e 2020, sendo que um deles já em pandemia).
Nessa medida, seria mais sensato comparar também dois triénios sem anos sobrepostos: por exemplo, 2019-2021 e 2016-2018. Se assim se fizesse chegar-se-ia à conclusão de que a diminuição da esperança média de vida à nascença foi de apenas 1,3 meses (40 dias) para os homens e de 1,2 meses (37 dias) para as mulheres.
Porém, mais relevante do que essa análise, no contexto de dois anos traumáticos – e 2022 está agora a seguir os passos – é identificar onde está a raiz do problema da mortalidade e da redução da esperança média de vida, e também saber se estamos perante uma conjuntura ou se os efeitos podem ser estruturais.
Com efeito, através de uma breve análise comparativa – não feita pelo INE nem por nenhum outro órgão de comunicação social – verifica-se que a redução da esperança média à nascença não se deveu a qualquer aumento da taxa mortalidade infantil (menos de um ano) nem da generalidade das referentes a idades pediátricas, quer se confrontem os triénios 2016-2018 e 2019-2021 quer os triénios 2018-2020 e 2019-2021.
Na verdade, aquilo que a comparação destes dois grupos de triénios permite é encontrar sinais – e esses sinais são preocupantes, por um lado; reveladores, por outro.
Assim, no confronto do triénio 2019-2021 (dois anos de pandemia) com o triénio de 2016-2018 (sem qualquer ano de pandemia), nota-se, de forma talvez surpreendente, que quociente de mortalidade (probabilidade de um indivíduo de uma determinada idade festejar o aniversário seguinte) se reduz tanto para homens como para mulheres a partir dos 85 anos. Essas melhorias são residuais – mesmo nas mulheres são inferiores a 0,2 pontos percentuais, ou 2؉ (permilagem) –, mas não deixam de ser relevantes, ajudando a explicar a hecatombe nos mais idosos nos últimos meses.
Diferencial (em permilagem) dos quocientes de mortalidade entre os triénios 2019-2021 e 2016-2018. INE. Análise: PÁGINA UM.
De facto, quando se confronta os triénios de 2019-2021 e 2018-2020 (dando assim destaque ao morticínio de Janeiro e Fevereiro do ano passado), o quociente de mortalidade começa a ser bastante significativo, grosso modo, a partir dos 77 anos para os homens e a partir dos 85 anos para as mulheres. E o aumento é brutal a partir dos 86 anos especialmente nos homens, com um aumento da ordem de mais de 1 ponto percentual (ou 10 por mil).
Convinha agora saber em que período do ano esse incremento se verificou – se apenas em Janeiro e Fevereiro de 2021, estando associado ao grande surto de covid-19 desse período, associado à vaga de frio e ao colapso do SNS, ou se a outros factores. Tendo em consideração a mortalidade já conhecida em 2022 nos mais idosos, será certo que o triénio 2020-2022 mostre uma situação particularmente desfavorável para os mais idosos.
Ora, a excessiva mortalidade dos mais idosos (sobretudo daqueles com mais de 80 anos) afecta os valores da esperança média de vida à nascença, mas de uma forma marginal, porquanto abrange (infelizmente) um número pouco elevado da população. E se olharmos para a evolução do diferencial do quociente de mortalidade, idade a idade, então consegue-se “detectar” de forma clara os grupos etários mais “atingidos” pela gestão da pandemia, e especialmente durante o ano de 2021.
Diferencial (em permilagem) dos quocientes de mortalidade entre os triénios 2019-2021 e 2018-2020. INE. Análise: PÁGINA UM.
Embora fosse necessária uma análise muito mais fina – que incluísse também à variação (ponderada) da taxa de mortalidade nas várias idades – observa-se que existe um relevante diferencial (acima de 0,1 por mil) do quociente de mortalidade positivo entre os triénios 2019-2021 e 2018-2020 a partir dos 50 anos, primeiro mais nos homens do que nas mulheres, e depois dos 60 anos, em ambos os sexos, embora com valores superiores nos homens.
Tendo em consideração que as taxas de mortalidade eram, antes de 2020, bastante superiores nos homens, em qualquer idade, os anos de pandemia (2020 e 2021) apenas vieram confirmar a menor fragilidade do suposto “sexo forte”.
Porém, se confrontarmos os triénios 2019-2021 e 2017-2019, a faixa etária mais afectada não se mostra tão vasta, parecendo mais evidente a partir dos 60 anos para os homens, e a partir dos 71 anos para as mulheres. No entanto, como já referido, a partir dos 85 anos, surpreendentemente, o coeficiente de mortalidade para o triénio 2019-2021 apresenta-se mais favorável.
Quociente de mortalidade de mulheres e homens dos 0 aos 100 anos, tecnicamente definida pela probabilidade de um indivíduo que atingiu a idade X falecer antes de alcançar a idade X+1. Fonte: INE. Análise: PÁGINA UM.
Restam, nesta análise, alguns sinais que devem merecer estudo mais aprofundado. Apesar do diferencial do quociente de mortalidade não ser demasiado elevado em termos absolutos (mas observa-se em idade de baixa mortalidade), em algumas idades mais jovens, sobretudo entre os 21 e os 40 anos, apresentaram valores positivos acima de 0,1 por mil.
Em todo o caso, e sendo isso mais visível quando se confronta os triénios 2019-2021 e 2018-2020 (que destaca o impacte do ano de 2021), o impacte da pandemia, incluindo o caos no SNS, foi pouco ou nada relevante nos grupos etários até aos 55 anos. Mas com o ano de 2022 a repetir a “dose de mortalidade” de 2021 – sem que a covid-19 sirva agora de desculpa exclusiva –, ainda muito há a explicar.
Na verdade, com sinceridade, tudo. Até porque este exercício dos quocientes de mortalidade seriam desnecessários se o Ministério da Saúde disponibilizasse publicamente – como ainda não fez – os dados em bruto do Sistema de Informação dos Certificados de Óbito (SICO), acrescidos dos do Sistema Nacional de Vigilância Epidemiológica (SINAVE).
O PÁGINA UM fez um breve balanço da mortalidade do Verão de 2022: foi péssimo. O Verão de 2020 foi quase igual; o do ano passado pouco melhor. Nesta época do ano, a culpa pouco se pode dar à covid-19, mas as autoridades de Saúde não parecem preocupadas em saber os motivos da hecatombe. No triénio de 2020-2022, morreram no Verão mais de 10 mil pessoas face ao triénio anterior. Crianças com mais de 5 anos, adolescentes e jovens adultos com menos de 25 anos são os mais afectados. E, claro, os maiores de 85 anos.
Apesar das doenças letais (incluindo covid-19) terem causado, como habitualmente, uma maior mortalidade nos meses de Inverno, os últimos três Verões (2020, 2021 e 2022) foram muito mais mortíferos. Explicações oficiais só para o ano, na melhor das hipóteses, a considerar as previsões do Ministério da Saúde.
O recente Verão, que terminou às primeiras horas de ontem, confirmou aquilo que já se perspectivava: foi mesmo o mais funesto desde, pelo menos, 1980, aproximando-se dos 30 mil óbitos – valores que apenas se costumavam encontrar nos meses de Inverno.
Antes da pandemia, a mortalidade total no Verão raramente ultrapassava os 25 mil óbitos.
De acordo com os dados disponíveis do Sistema de Informação dos Certificados de Óbito (SICO), analisados pelo PÁGINA UM, o Verão de 2022 terminou assim com 29.620 mortes (valores ainda provisórios), um recorde (garantido) desde 2009, ano em que se começaram a apresentar valores diários. Contudo, considerando os valores mensais a partir de 1980, este terá também sido, muito provavelmente, o período estival mais mortífero nas últimas quatro décadas.
A situação do Verão deste ano é particularmente preocupante, porque surge na sequência de um contínuo e atípico excesso de mortalidade na Primavera, da ordem dos 4.500 óbitos, um incremento de quase 17% face ao último quinquénio.
Desde Março não houve um só mês sem a mortalidade estar bem acima da média do último quinquénio. Setembro deste ano deverá apresentar valores próximos dos 9.000 óbitos, número também elevado para esta época do ano. O nono mês costuma ser o menos mortífero.
A evolução da mortalidade em Portugal, numa altura em que a covid-19 está claramente na fase endémica, vem confirmar o descontrolo absoluto da Saúde Pública desde a chegada do SARS-CoV-2. A “culpa” já nem pode ser atirada ao coronavírus.
E isso nota-se sobretudo nos períodos de menor actividade viral, no período estival. Embora o Verão de 2021 tenha registado valores pouco acima do “normal” (27.005 óbitos) – mas beneficiando muito por via do morticínio do Inverno anterior, que “eliminou” os mais vulneráveis –, o de 2020 também foi bastante letal (29.079 óbitos).
Mortalidade total no período estival (21 de Junho a 22 de Setembro) entre 2009 e 2022. Fonte: SICO
Dessa forma, os Verões de triénio 2020-2022 foram 13,8% mais mortíferos do que o triénio imediatamente anterior (2017-2019): o somatório mostra uma diferença superior a 10 mil mortes (85.704 vs. 75.286).
Porém, e talvez seja esse o aspecto mais preocupante, o acréscimo de mortalidade não atingiu por igual todas as faixas etárias.
Na verdade, até houve grupos etários que apresentaram uma forte redução, como foi o caso dos menores de 5 anos: no triénio de 2017-2019 tinham morrido 247 crianças desta faixa, enquanto no triénio de 2020-2022 se contabilizaram 184 mortes, ou seja, uma descida de 25,5%. A taxa de mortalidade infantil (menores de 1 ano) reduziu 27,6%.
Houve mais dois grupos etários com reduções, mas mais limitadas: adultos dos 35 aos 44 anos (-3,5%) e dos 45 aos 54 anos (-1,2%). Nos 25 aos 34 anos, o Verão do triénio da pandemia foi praticamente semelhante ao anterior (460 vs. 458).
Óbitos por grupo etário entre 2017 e 2022 no período estival entre 2017 e 2022, e comparação entre os triénios 2017-2019 e 2020-2022. Fonte: SICO. Análise: PÁGINA UM.
No extremo oposto observam-se aumentos completamente atípicos nos Verões da pandemia. Em termos absolutos, o aumento maior verificou-se nos maiores de 85 anos, com um acréscimo de 6.682 óbitos nos três últimos períodos estivais.
O crescimento relativo foi de 22,5%, mesmo assim inferior ao que se contabilizou para os grupos das crianças dos 5 aos 14 anos (+23,8%) e dos adolescentes e jovens adultos dos 15 aos 24 anos (29,3%). Em termos absolutos, os aumentos foram de 15 óbitos no primeiro grupo (63, no triénio de 2017-2019, contra 78, no triénio) e de 70 no segundo grupo (239 contra 309).
A vacina contra a covid-19 prometia milagres, incluindo a redução drástica de mortes mesmo com doença grave. A variante Ómicron, entretanto, surgiu como um game changer, com uma menor agressividade e letalidade. Porém, se efectivamente no primeiro semestre de 2022 se observou menos hospitalizações, porém aumentou o risco de morte dos internados com quadros graves de covid-19. Este paradoxo ainda se evidencia mais no período de Março a Junho, e nos adultos entre os 25 e os 64 anos. Qual o motivo? A Direcção-Geral da Saúde, como habitualmente, remete-se ao (seu comprometedor) silêncio.
A probabilidade de morte de internados no grupo etário dos 25 aos 64 anos por covid-19 apresentou uma evolução paradoxalmente desfavorável no primeiro semestre de 2022 face aos períodos anteriores da pandemia, a despeito do programa de vacinação contra a covid-19 e da menor letalidade da variante Ómicron, de acordo com uma análise detalhada à base de dados da Morbilidade e Mortalidade Hospitalar.
Nos adultos entre os 25 e os 44 anos, segundo os cálculos do PÁGINA UM, o risco de morte durante uma hospitalização causada pelo SARS-COV-2 no período de Março a Junho de 2022 chega a ser o triplo face ao período homólogo de 2020 e 2021, e duplica naqueles com idades compreendidas entre os 45 e 64 anos. Comparando o primeiro semestre deste ano com o do ano anterior, o aumento é menor, mas mesmo assim bastante significativo entre os 25 e os 64 anos.
Apesar da Ómicron ser claramente uma variante de menor agressividade e letalidade do que as anteriores – e, portanto, o risco da infecção se agravar até necessitar de hospitalização ser agora bastante menor, conforme o PÁGINA UM já comprovou –, há um aparente paradoxo, ainda não explicado pelas autoridades de Saúde: as hospitalizações diminuíram, é certo; a taxa de letalidade também, mas para quem evolui agora para um caso grave (que resulte num internamento) viu as suas chances de sobrevivência diminuírem se tiver entre 25 e 64 anos. Ou seja, a taxa de mortalidade em meio hospitalar da covid-19 aumentou.
Com efeito, na faixa etária dos 25 aos 44 anos, no primeiro semestre deste ano foram apenas internadas 420 pessoas contra os 1.484 em 2021 – o que mostra uma redução da agressividade do vírus, tanto mais que o número de infecções (casos positivos) foi muito superior. Ora, mesmo se o número de óbitos para este grupo foi menor entre Janeiro e Junho deste ano (24) do que no período homólogo passado (42), a taxa de mortalidade hospitalar acabou por ser superior: 5,7% em 2022 e 2,8% em 2021. Comparando os dois semestres, duplicou.
Evolução mensal da taxa de mortalidade hospitalar total (%) global (todas as idades). A vermelho apresenta-se a linha de tendência. Fonte: ACSS. Cálculos e análise: PÁGINA UM.
De igual modo, no grupo etário dos 45 aos 64 anos, a taxa de mortalidade hospitalar no primeiro semestre de 2022 foi bastante superior à do ano passado, mesmo se o número de internados também desceu significativamente. Nos primeiros seis meses de 2022 contabilizaram-se nos hospitais do SNS um total de 1.167 doentes por covid-19, uma redução de 82% face ao ano anterior, mas a diminuição nos óbitos foi menor, apenas de 67% (190 vs. 578). Significa assim que a taxa de mortalidade hospitalar por covid-19 subiu de 8.9% no primeiro semestre de 2021 para 11,4% no primeiro semestre do presente ano. Noutra perspectiva, no ano passado, em cada 1.000 internados, morreram 89; este ano, 114.
Apenas na faixa etária dos maiores de 65 anos, se observou uma redução global em todos os indicadores quando comparados o primeiro semestre de 2021 e 2022: o número de internados desceu de 17.240 para 9.599; o número total de óbitos reduziu-se de 5.836 para 2.531; e, em consequência destes valores, a taxa de mortalidade hospitalar diminuiu de 33.9% para 26,4%.
Evolução mensal da taxa de mortalidade hospitalar (%) no grupo etários dos 25 aos 44 anos. A vermelho apresenta-se a linha de tendência. Fonte: ACSS. Cálculos e análise: PÁGINA UM.
Saliente-se que a mortalidade hospitalar nos menores de 25 anos foi sempre irrelevante do ponto de vista da Saúde Pública: desde Março de 2020 até Junho deste ano (28 meses) foram internadas 1.917 pessoas (69 por mês) e morreram sete, das quais cinco com idades entre os 15 e os 24 anos. A taxa de mortalidade hospitalar foi assim inferior a 0,4%.
Se este exercício for feito por períodos homólogos nos três anos de pandemia – sendo possível comparar os meses entre Março e Junho de 2020, 2021 e 2022 –, excluindo assim o período de descontrolo do Serviço Nacional de Saúde em Janeiro e Fevereiro de 2021 –, constata-se de uma forma ainda mais marcante este paradoxal fenómeno. Ainda mais sabendo-se que, virtualmente, toda a população com mais de 25 anos está vacinada, sendo que uma parte significativa recebeu ainda reforço.
Evolução mensal da taxa de mortalidade hospitalar (%) no grupo etários dos 45 aos 64 anos. A vermelho apresenta-se a linha de tendência. Fonte: ACSS. Cálculos e análise: PÁGINA UM.
De facto, se no período de Março e Junho de 2020 e 2021, a taxa de mortalidade hospitalar se manteve muito semelhante tanto no grupo dos 24 aos 44 anos (1,44% vs. 1,51%) e no dos 45 aos 64 anos (5,59% vs. 6,11%), em 2022 agravou-se. E muito. Para o primeiro grupo subiu para 5,23% e para o segundo grupo para 11,70%.
Observando a evolução mês a mês desde o início da pandemia, a tendência crescente no período mais recente mostra-se evidente em ambos os grupos, embora com uma maior variabilidade (também por os valores absolutos de internados e óbitos serem menores) entre os 25 e os 44 anos. Para este grupo, nunca até Dezembro de 2021 houvera um mês com taxa de mortalidade hospitalar acima dos 5%, mas em 2022 já se registaram três meses acima dessa fasquia: Fevereiro (8,9%), Março (6,5%) e Junho (8,8%).
Evolução mensal da taxa de mortalidade hospitalar (%) nos maiores de 65 anos. A vermelho apresenta-se a linha de tendência. Fonte: ACSS. Cálculos e análise: PÁGINA UM.
No grupo dos 45 aos 64 anos, a taxa de mortalidade hospitalar – que sempre apresentou uma grande variabilidade, embora até Dezembro do ano passado apenas por uma vez ultrapassara os 10% –, tem estado agora em níveis sempre acima dos 10%. No primeiro semestre de 2022, este rácio situou-se entre os 10,3% em Janeiro e os 12,6% em Fevereiro, havendo já três meses acima de 12%.
Para os mais idosos, acima dos 65 anos, a evolução foi diferente, mas também paradoxal, sobretudo por se estar perante um grupo etário com reforços vacinais. Entre Março e Junho de 2020, quase um terço (31,6%) dos casos graves de covid-19 que levavam ao internamento acabaram em desfecho fatal. Nesta altura, não havia ainda vacina. Esse rácio diminuiu para cerca de um em cada cinco internados (20,96%) em 2021 – já com a vacinação aplicada e “beneficiando” da morte dos mais vulneráveis nos fatídicos meses de Janeiro e Fevereiro. Este ano de 2022, com vacina e Ómicron, subiu estranhamente para 24,80% (ou seja, uma morte em cada quatro internamentos).
A evolução mensal da mortalidade hospitalar no grupo dos mais idosos mostra, aliás, que os casos graves (que chegam, por isso, ao internamento) mantiveram um padrão relativamente estável. Se exceptuarmos o início da pandemia (Março e Abril de 2020) e Janeiro de 2021 – com taxa de mortalidade que atingiu os 40,6% – e um breve período de 2021 (meses de Abril e Maio com taxas abaixo de 20%), este rácio quase sempre esteve compreendido entre os 24% e os 32%. Ou seja, neste grupo vulnerável – e que contribui para a grande maioria dos óbitos por covid-19 –, apesar do menor risco de internamento, o risco de morte em caso de hospitalização continuou em níveis elevados.
Nessa medida, aparentemente, os avanços médicos no tratamento desta doença, a menor agressividade da variante Ómicron e as vacinas não trouxeram impactes positivos substanciais em termos de probabilidade de sobrevivência em estados grave da doença.
Relembre-se que esta taxa de mortalidade hospitalar da covid-19 – calculada em função do número de óbitos por cada 100 doentes (graves) que são hospitalizados – não deve ser confundida com a taxa de letalidade, que corresponde ao número de óbitos em função dos casos positivos (infecções). Nem tão-pouco ao risco de internamento, que constitui a probabilidade de um caso de infecção chegar a necessitar de internamento.
Taxa de mortalidade hospitalar (%) nos grupos etários dos 25-44, 45-64, maiores de 65 anos e para a população portuguesa nos períodos de Março a Junho de 2020, 2021 e 2022, e ainda para o período de Março de 2020 a Junho de 2022. Fonte: ACSS. Cálculos e análise: PÁGINA UM.
Na verdade, tanto a taxa de letalidade como o risco de internamento baixaram em 2022 com o surgimento da Ómicron, como, aliás, o PÁGINA UM já demonstrou. Porém, fica por explicar um paradoxo: com uma menor pressão hospitalar (mesmo em termos absolutos), com um vírus agora menos agressivo (e letal) e ainda com as vacinas – apresentadas como um medicamento que prometia diminuir o surgimento de doença grave e de morte (no decurso de doença grave sujeita a hospitalização, pressupõe-se) –, quais então as razões para se estar com taxas de mortalidade hospitalar superiores às registadas em 2020 e 2021?
O PÁGINA UM gostaria de, pelo menos, saber a opinião da Direcção-Geral da Saúde. E escreveu mesmo um longo e-mail no passado dia 9 à directora-geral Graça Freitas, incluindo gráficos e alguns dos cálculos que agora se apresentam, pedindo-se explicações. Não obteve resposta. Como habitualmente.
Quase 20% das famílias portuguesas está a receber descontos na factura da electricidade por ter rendimentos muito baixos. Uma análise detalhada do PÁGINA UM identificou as regiões e concelhos com as maiores carências, quase todas no Norte e Centro do país, onde faz mais frio no Inverno. Será que as famílias mais carenciadas aguentarão a prevista escalada de preços por força da galopante inflação?
Uma em cada cinco famílias estará a beneficiar de tarifa social de electricidade (TSE) – um apoio automático do Estado que, na verdade, revela uma situação de grande debilidade financeira que coloca a população portuguesa numa das piores situações europeias em relação à denominada pobreza energética. Com a aproximação do Inverno e a galopante taxa de inflação, a probabilidade de um impacte na Saúde Pública pode ser brutal, tendo em conta que os internamentos e a mortalidade aumentam com o frio.
De acordo com cálculos do PÁGINA UM, 19,3% das famílias portuguesas encontram-se abaixo de um limiar de rendimentos que as levam a necessitar de apoio estatal.
A situação mostra-se mais grave nas regiões Norte e Centro do país, atingindo os 32,4% – quase uma em cada três famílias – no distrito de Vila Real, e estando acima dos 20% nos distritos de Bragança (27,9%), Viseu (25,0%), Guarda (24,5%), Viana do Castelo (23,0%), Braga (21,2%) e Porto (20.9%).
As regiões com menor percentagem de aglomerados familiares com direito a TSE são, curiosamente, o Alentejo (Évora, Beja e Portalegre), e os distritos de Lisboa e de Faro.
Face ao desconhecimento do número de contratos de consumo doméstico por concelho por parte da Direcção-Geral de Energia e Geologia (DGEG), o PÁGINA UM considerou, para o cálculo das estimativas, o número de contratos beneficiários de TSE – disponibilizados para o mês de Junho – e o total das famílias apuradas pelos Censos de 2021.
Por concelho, três integrados no distrito de Vila Real se destacam em termos de percentagem de famílias a necessitarem de apoio estatal para pagar as contas de electricidade: Boticas (60%, com 1.225 contratos de TSE num total de 2.057 famílias), Montalegre (52%, com 2.042 contratos de TSE num total de 3.943 famílias) e Valpaços (48%, com 3.079 contratos de TSE num total de 6.472 famílias).
Acima dos 33% encontram-se ainda 15 municípios: três do distrito de Viseu: Vila Nova de Paiva (44%), Sátão (39%) e Resende (38%); mais três de Vila Real: Mondim de Basto (38%), Chaves (35%) e Santa Marta de Penaguião (33%); quatro de Bragança: Vila Flor (36%), Alfândega da Fé, Vimioso e Macedo de Cavaleiros (todos com 34%); um de Braga: Celorico de Basto (35%); três da Guarda: Sabugal (35%), Aguiar da Beira (34%) e Vila Nova de Foz Côa (33%); e ainda um do Porto: Baião (34%).
De entre os concelhos com menores percentagens de família com TSE salientam-se Castanheira de Pêra (9%), Penela (10%), Odemira e Alcoutim (ambos com 11%) e Arronches, Figueiró dos Vinhos, Santiago do Cacém, Estremoz, Coruche e Alcácer do Sal (todos com 12%).
Dos concelhos de maior dimensão, Lisboa tem 14% das famílias com TSE (34.944 contratos em 242.618 famílias), Sintra conta 21% (32.174 contratos em 153.234 famílias), Vila Nova de Gaia 20% (24.305 contratos em 121.311 famílias), Porto tem 18% (18.316 contratos em 102.227 famílias) e Cascais 16% (13.783 contratos em 86.497 famílias).
Recorde-se que desde Julho de 2016, o acesso ao benefício da tarifa social da energia eléctrica e também de gás passou a ser concretizado por um mecanismo de reconhecimento automático, através da Autoridade Tributária e Aduaneira e da Segurança Social.
São beneficiários os titulares de contratos domésticos que recebam complemento solidário para idosos, rendimento social de inserção, prestações de desemprego, pensão social de velhice ou invalidez ou o agregado familiar com um rendimento anual igual ou inferior a 5.808 euros, acrescido de 50% por cada elemento que não tenha qualquer rendimento, até ao máximo de 10.
No caso da TSE, o benefício consiste, actualmente, num “desconto de 33,8 % sobre as tarifas transitórias de venda a clientes finais de eletricidade, excluído o IVA, demais impostos, contribuições, taxas e juros de mora que sejam aplicáveis”.
Apesar da perda generalizada de rendimentos durante a pandemia, até houve uma redução global de beneficiários do TSE. De acordo com os dados da DGEG, a TSE reduziu-se de 780.255 contratos no final do primeiro trimestre de 2020 para 766.930 em Junho deste ano, ou seja, uma diminuição de 1,7%.
Em 25 de Agosto passado, Duarte Cordeiro, ministro do Ambiente e Acção Climática, anunciou, a pretexto do aumento do preço dos combustíveis e electricidade, um conjunto de medidas de mitigação da inflação, nomeadamente a possibilidade de transição para o mercado regulado, a colocação de um preço máximo do gás doméstico e do apoio da Bilha Solidária. Além disso, O Governo alterou o IVA da electricidade de 23% para 6%, mas apenas para os primeiros 100 KWh, o que, de acordo com a DECO, resultará “numa poupança média mensal de 1,08 euros”.
O impacte nos próximos meses da subida do preço da electricidade pode ser significativo se o Inverno for particularmente frio, agravando assim os efeitos da denominada “pobreza energética” de Portugal, com consequências tanto no conforto como mesmo da taxa de mortalidade.
Nos últimos anos, de acordo com uma análise de Luísa Schmidt e Ana Horta, investigadoras do Instituto de Ciências Sociais, os preços da eletricidade para os consumidores domésticos em Portugal têm sido dos mais elevados da União Europeia, muito por via dos impostos.
Em 2019, o Eurostat indicou que os impostos e taxas incluídos nas faturas da eletricidade dos portugueses constituíram 55% do preço final. “Assim, num contexto sociocultural em que se considera normal ter frio em casa no inverno, muitos portugueses optam por reduzir ao mínimo os custos com aquecimento”, salientam as duas investigadoras.
Alguns dos indicadores compilados pelo Instituto de Ciências Sociais mostram que Portugal se encontrava já numa situação complexa do ponto de vista do conforto energético, com 18,9% dos portugueses incapazes de manterem a casa adequadamente quente, valor que confronta com 7% na União Europeia. As investigadoras consideraram também que, além do problema de rendimento das famílias, também se coloca o óbice da “literacia” energética, ou seja, as pessoas ignoram, em muitas situações, quais os tarifários mais adequados e outras medidas de poupança e de eficiência energética.
Estudo coloca em causa imposição da vacinação em universidades norte-americanas, concluindo que os prejuízos potenciais no grupo etário dos 18 aos 29 anos são superiores aos benefícios. Este “sacrifício” nem sequer traz vantagens para as comunidades mais vulneráveis face ao rápido decaimento da eficácia das vacinas na protecção contra a infecção, asseguram os autores, que pertencem a conceituadas universidades da América do Norte e Reino Unido.
Se a vacina contra a covid-19 se chamasse emenda, e soneto fosse o SARS-Cov-2, então poder-se-ia aplicar o rifão português para sintetizar as conclusões de uma análise de 11 investigadores norte-americanos e britânicos divulgado esta semana: será pior a emenda do que o soneto se se insistir na vacinação de jovens adultos.
O estudo – com 50 páginas e 125 referências bibliográficas –, ainda se encontra em avaliação pelos pares (peer review), sendo da autoria de 11 investigadores de diversas universidades, entre as quais a de Oxford, Harvard e Edimburgo. Alguns destes cientistas publicaram em Maio passado um artigo científico na prestigiada revista BMJ Global Health onde arrasaram a gestão política e mediática da pandemia, invocando sobretudo questões éticas.
Nesse artigo era salientado que a adopção dos certificados digitais, como passes sanitários para o acesso a determinados locais, tinha “colidido com os direitos humanos e promovido a polarização social afectando a saúde e o bem-estar”, acabando por ser usado com um fito “inerentemente punitivo, discriminatório e coercitivo.” Defendiam então uma reavaliação “à luz das consequências negativas.”
Agora, no artigo intitulado “Covid-19 vaccine boosters for young adults: A risk-benefit assessment and five ethical arguments against mandates at universities”, os investigadores mostram-se mais taxativos, chegando a quantificar o risco dos efeitos adversos de um reforço vacinal nos jovens dos 18 aos 29 anos em confronto com o risco de hospitalização sem vacinação.
Na análise risco-benefício, os autores estimam que, nos Estados Unidos, para se evitar uma hospitalização naquele grupo etário será necessário vacinar entre 22 mil e 30 mil adultos, uma vez que as complicações em caso de infecção de não-vacinados é sempre rara. Este risco da não-vacinação entra em confronto com o que se conhece sobre efeitos adversos das vacinas.
Ora, de acordo com os dados do Centers for Disease Control and Prevention (CDC) – a agência norte-americana de Saúde –, referidos pelos autores, esse número de vacinados, para prevenir apenas uma hospitalização, resulta em 18 a 98 casos de reacções adversas graves, incluindo 1,7 a 3,0 casos de miocardite, e ainda entre 1,37 e 3,23 casos sérios de reactogenicidade capaz de interferir com tarefas diárias.
Por esse motivo, e porque os investigadores consideram que já existe, naquele grupo etário, uma elevada prevalência de imunidade adquirida por infecção, dizem que, nessas circunstâncias, o perfil de risco-benefício se torna ainda menos favorável. E, nessa medida, criticam a política de imposição da vacina em muitas instituições de ensino superior norte-americanas. Recorde-se que, em Maio passado, pelo menos mil universidades e campus universitários dos Estados Unidos exigiram a vacinação contra a covid-19, e mais de três centenas requereram agora a dose de reforço para aceitar matrículas.
Os investigadores relembram ainda que “a vacinação em massa foi promovida como a forma de terminar a pandemia”, mas tal nunca sucedeu, porque a eficácia na protecção contra a infecção decai muito rapidamente.
Neste contexto, estes investigadores consideram que vacinar jovens adultos com uma dose de reforço, se mostra antiético. Primeiro, porque ainda “não existe nenhuma análise formal de risco-benefício para este grupo etário”; segundo, porque “a imposição da vacina pode resultar num malefício acumulado superior aos benefícios para os mais jovens”; terceiro, porque a redução de infecções nos jovens por via vacinal não acarreta significativos benefícios para a sociedade; quarto, porque a obrigatoriedade da vacina “viola o princípio da reciprocidade”; e por fim, a obrigatoriedade de vacinação tem consequências sociais profundas.
Em Portugal, a vacinação nunca foi obrigatória, mas a pressão política e mediática para os jovens adultos se vacinarem foi enorme ao longo do ano passado, tanto mais que o acesso a determinados locais esteve condicionado à apresentação de certificado digital.
De acordo com os mais recentes dados da Direcção-Geral da Saúde (DGS), virtualmente toda a população com mais de 25 anos fez a vacinação completa, enquanto na faixa dos 18 aos 24 anos se atingiu os 98%. No entanto, o reforço (geralmente, a terceira dose) teve menor adesão: 67% receberam-na no grupo dos 25 aos 49 anos, descendo para apenas 54% entre os 18 e os 24 anos.
O PÁGINA UM pegou nos dados possíveis, aqueles poucos que o obscurantismo do Ministério da Saúde deixa escapar a contragosto, e revela como evoluiu a pandemia em Portugal, desde Março de 2020 até Junho de 2022. E mostra como não faz sentido andar a contar ondas (seis, dizem), e que é mais importante olhar para a forma como evoluíram as taxas de internamento e o risco de morte. E identifica ainda o momento exacto em que tudo mudou, para melhor: Novembro de 2021. Foi por causa das vacinas? Foi por causa da Ómicron? Não decida. Deixe a Ciência ter a palavra, embora seja conveniente que essa seja diferente daquela que maioritariamente se viu, desde 2020, a lançar “certezas” e conjecturar previsões à moda dos búzios e de relatórios-fantasma.
A Direcção-Geral da Saúde (DGS) não responde nem comenta. O Ministério da Saúde luta, afincadamente, no Tribunal Administrativo de Lisboa para não ceder documentos e bases de dados, nomeadamente as do Sistema Nacional de Vigilância Epidemiológica (SINAVE) e do Sistema de Informação dos Certificados de Óbito (SICO). As autoridades de Saúde e de Estatística manipulam dados, de sorte que o cruzamento da pouca informação disponível se mostra complexa ou mesmo impossível.
Veja-se, por exemplo, o intencional desfasamento dos grupos etários em diversas bases de dados, para assim impedir o cálculos de indicadores epidemiológicos por entidades e pessoas independentes.
E neste cenário, last but not the least, ainda tivemos a Administração Central do Sistema de Saúde (ACSS) a expurgar, durante meses, a base de dados da Morbilidade e Mortalidade Hospitalar (BDMMH), por estar, a dita base de dados, a comprometer uma certa “narrativa oficial” sobre o desempenho oficial do Serviço Nacional de Saúde (SNS).
Entretanto, “regressou” a dita base de dados, há uns poucos dias, depois de muita pressão e denúncia do PÁGINA UM. Mas com dados estranhos, como a estranha diminuição abrupta dos internamentos e mortes hospitalares sobretudo nos últimos meses.
Porém, acreditando que estamos perante dados oficiais credíveis – até prova em contrário ou admissão de “martelanço” –, a ressuscitada BDMMH permite, em cruzamento com alguns dados básicos da DGS relativos à covid-19, estabelecer uma evolução da pandemia em Portugal, desde Março de 2020 até finais de Junho deste ano, em diversos indicadores relevantes: incidência, risco de internamento, risco de morte (taxa de letalidade) e também de mortalidade hospitalar.
Nesta análise deixaremos a mortalidade hospitalar associada à covid-19 para outra oportunidade.
Uma questão relevante em Epidemiologia, sobretudo quando se trata de doenças causadas por vírus, é a assumpção de que um agente ou uma doença não são imutáveis. No caso do SARS-CoV-2, e pese embora todo o alarmismo que o rodeou – em que esteve sempre omnipresente o receio de sempre surgir uma variante pior do que a anterior, mesmo se a História mostrava o contrário noutras situações –, seria, na verdade, mais do que expectável que a sua transmissibilidade e letalidade do vírus evoluísse nestes dois domínios.
E, nessa medida, a covid-19 de 2020 fosse diferente da covid-19 de 2021, e esta fosse diferente da covid-19 de 2022, até estabilizar numa fase endémica.
Será que foi?
Vejamos.
Observando em detalhe a evolução mensal dos casos positivos – e sem prejuízo das sempre criticáveis políticas de testagem, que se tornaram um negócio –, mostra-se evidente que, do ponto de vista da incidência, e numa perspectiva holística, nunca se poderá falar de seis ondas – o número que a generalidade dos “especialistas”, políticos e imprensa contaram desde Março de 2020. Na verdade, nem cinco tivemos, nem quatro; quando muito, houve duas ou, no máximo, três.
Evolução da incidência por mês (casos positivos) de covid-19 desde Março de 2020 até Junho de 2022. Fonte: DGS. Cálculos e análise: PÁGINA UM.
Por exemplo, a dita “primeira onda” que começou em Março de 2020 e se estendeu até Maio daquele ano contou apenas um total de cerca de 33 mil casos, ou seja, pouco mais de 10 mil por mês. Ora, essa média mensal na, incorrectamente chamada, primeira onda é praticamente similar à média diária em Abril de 2022, o mês do primeiro semestre deste ano com menor incidência cumulativa.
Se considerarmos os casos positivos de Janeiro de 2022 (cerca de 1,3 milhões), praticamente todos da variante Ómicron, verificamos também que foram em maior número do que os casos contabilizados em todos os longos meses em que dominaram as outras variantes.
Nessa perspectiva, nem os surtos do Inverno de 2020-2021 – que se destacam dos períodos imediatamente anteriores e posteriores – se mostra comparável à verdadeira onda registada no primeiro semestre de 2022, onde cerca de 37% da população portuguesa foi “infectada”, o que dá uma média mensal de 6%. Só em Janeiro passado, chegou a mais de 12%.
Nos 22 meses anteriores (desde Março de 2020 até Dezembro de 2021) tinha sido “infectada” cerca de 14% da população, dando assim uma média mensal de 0,6%. Mesmo as “infecções” registadas em Janeiro de 2021, que se destacou de todos os outros meses anteriores a 2022, somente “atingiram” 3% da população.
Deste modo, mostra-se difícil defender agora a existência de mais do que duas ondas de “casos positivos” (Inverno de 2020-2021 e primeiro semestre de 2022), e quando muito três, se se admitir que no primeiro semestre de 2022 se conseguem identificar duas.
A evolução da pandemia veio, na verdade, demonstrar que olhar para “ondas de casos” – ou “pandemia de testes”, como se chegou a chamar, com propriedade – foi um absurdo, uma vez que nunca houve nem uma correlação entre casos e internamentos nem entre casos e óbitos (entre internamentos e óbitos, já lá iremos…)
De facto, observando a evolução do número de internamentos por mês atribuídos à covid-19, de acordo com a BDMMH, a mediana rondou os 1.800 – ou seja, em metade dos 28 primeiros meses da pandemia (Março de 2020 a Junho de 2022) nunca se ultrapassou aquele número. Por outro lado, a média mensal ficou um pouco aquém dos 2.500 internamentos.
Se considerarmos a fasquia dos 3.000 internados, somente no período de Novembro de 2020 até Fevereiro de 2021 se registou um fluxo muito mais significativo de internamentos: acima dos 6.000 nos dois últimos meses de 2020 e acima dos 10.000 nos dois primeiros meses de 2021.
Evolução do número de internamentos por mês por covid-19 desde Março de 2020 até Junho de 2022. Fonte: BDMMH / ACSS. Cálculos e análise: PÁGINA UM.
Nessa medida, a definirem-se “ondas de internamentos” (que significam, além de um indicador da agressividade do vírus, picos de pressão hospitalar), então apenas houve uma em Portugal: iniciada em Outubro de 2020 (2.312 hospitalizações) e que findou em Março do ano seguinte (2.760), tendo causado hospitalizações acima dos 6.000 internamentos em Novembro e Dezembro e atingido o auge em Janeiro e Fevereiro de 2021 (com mais de 10.000 internamentos em cada mês).
A essa onda única sucedeu uma relativa estabilidade nos internamentos, quase indiferente aos casos positivos. No último ano com dados, entre Julho de 2021 e Junho de 2022, contabilizam-se seis meses com internamentos entre os 1.700 e os 2.000, havendo apenas dois meses (Janeiro e Fevereiro) excedendo aquela fasquia.
Convém, contudo, salientar que Janeiro e Fevereiro deste ano tiveram uma incidência de infecções por SARS-CoV-2 cinco vezes superior ao período invernal homólogo do ano anterior (1,97 milhões de casos positivos vs. 384 mil)
No caso da evolução da mortalidade, embora ainda seja necessário a DGS esclarecer muitos aspectos – por exemplo, a elevada fracção de óbitos registados fora das unidades hospitalares (8.549 mortes, no total) e o contributo de comorbilidades relevantes para a causa de morte –, a covid-19 foi efectivamente uma causa de morte muito relevante em determinados períodos, se comparada, por exemplo, com as doenças respiratórias “associadas” à gripe.
Evolução do número de óbitos por mês atribuídos à covid-19 desde Março de 2020 até Junho de 2022 nos hospitais do SNS e fora dos hospitais. Fonte: DGS e BDMMH / ACSS. Cálculos e análise: PÁGINA UM. Nota: A DGS indica os óbitos totais e a ACSS os óbitos apenas ocorridos nos hospitais do SNS; pela subtracção obtém-se os óbitos fora dos hospitais. Em dois meses (Abril e Maio de 2021), o valor indicado pela ACSS (hospitais) foi ligeiramente superior ao indicado pela DGS (total), daí o valor negativo para os óbitos fora dos hospitais.
No início da pandemia (Abril de 2020), a mortalidade atribuída à covid-19 pode ser considerada bastante relevante por ser superior à expectável face à pneumonia, mas foi no período de Outubro de 2020 a Março de 2021 que a situação assumiu um cenário mais grave.
Neste último período, a mortalidade associada ao SARS-CoV-2 foi, sem dúvida, anormalmente elevada, em especial nos meses de Janeiro e Fevereiro de 2021, mesmo tendo em conta a estação do ano (Inverno). Em todo o caso, dever-se-ia encontrar uma explicação plausível para se contabilizarem, naqueles dois meses, respetivamente 2.557 e 1.066 óbitos fora de unidades hospitalares do SNS.
Após Março de 2021, a mortalidade atribuída à covid-19 não deve ser considerada anormal do ponto de vista da Saúde Pública, se atendermos que esta doença veio “substituir”, em grande medida, uma parte das doenças respiratórias – sendo disso prova a redução abrupta e persistente dos internamentos e óbitos associados a pneumonias e outras doenças similares.
Comparando o primeiro semestre dos três anos de pandemia (2020-2022) com o primeiro semestre dos três anos imediatamente antes (2017-2019), as mortes por doenças do aparelho respiratório diminuíram 24% (14.445 vs. 22.567 óbitos, ou seja, menos 8.131 mortes).
Os óbitos atribuídos à covid-19 no período invernal de 2021-2022 – um total de 3.554 mortes entre Novembro de 2021 e Março de 2022 – já não parecem assumir valores anormais, considerando o quase desaparecimento da época gripal (e das mortes a si associadas). A mortalidade nos meses seguintes pode classificar-se como elevada em função da época do ano, mas, como já referido, deveria ficar esclarecida se a elevada fracção de óbitos atribuídos à covid-19 que ocorreram fora dos hospitais do SNS não “inflacionou” os efeitos do SARS-CoV-2.
Em todo o caso, a evolução dos números da mortalidade atribuída à covid-19 (em meio hospitalar e fora dos hospitais) apresenta tendência para estabilizar, em termos absolutos, desde Dezembro do ano passado.
Contudo, nos quatros meses em que se mostra possível comparar três anos sucessivos (Março a Junho), verifica-se que 2022 (já com vacinação plena, incluindo reforços, em quase toda a população “vacinável”) foi aquele com maior número de óbitos por covid-19 (3.063), contrastando com os 750 óbitos em 2021 (contudo, após o morticínio de Janeiro e Fevereiro) e com os 1.579 óbitos de 2020 (no início da pandemia).
Esta análise da evolução dos casos positivos, das hospitalizações e dos óbitos serve, na verdade, sobretudo como base para a criação de indicadores epidemiológicos que, de forma simples, ajudam a demonstrar que a covid-19 não é hoje, em 2022, a mesma de “antanho”. E também permite aferir, à falta de transparência do Ministério da Saúde em disponibilizar dados discriminados do SINAVE e do SICO, os momentos-chaves da mudança.
Em suma, identificar os períodos em que a covid-19 deixou de ser um problema de Saúde Pública.
Um dos indicadores mais interessantes que deveriam ser disponibilizados pela DGS – e nunca o foram – é o do risco de internamento, para o qual basta uma análise fina aos dados do SINAVE, de modo a saber, em cada período, a probabilidade de um infectado ser hospitalizado.
Perante o lamentável obscurantismo da DGS – e a demora do Tribunal Administrativo em responder à intimação apresentada pelo PÁGINA UM –, pode-se, em todo o caso, “caçar com gato”, e estimar um valor próximo através do cálculo da razão entre internamentos e casos positivos (infelizmente, apenas para a população em geral, uma vez que os grupos etários para os casos são diferentes dos que se referem aos internamentos).
Referia-se que existe um enviesamento neste indicador calculado desta forma – fazendo com que não constitua um risco efectivo de internamento –, porque existe um deferimento entre a infecção e o internamento (e a eventual morte). Deste modo, os infectados de um período podem ser os internados do período seguinte. Ora, apenas com o SINAVE se poderá apurar esse indicador com rigor.
Colocadas estas premissas, mesmo assim o indicador que se calcular constitui uma aproximação bastante interessante da realidade, permitindo identificar cinco períodos distintos ao longo da pandemia.
Na primeira fase da pandemia, até Agosto de 2020, o risco de internamento dos “infectados” (medido pelo número de casos positivos) foi relativamente elevado, sobretudo em Abril e Maio, quando se atingiu um risco de 14,2% e 18,6%, respectivamente. Neste último mês atingiu-se o valor mais elevado de risco de internamento ao longo de toda a pandemia, embora se deva considerar que, neste período, se optava pela hospitalização, por prudência, mesmo em casos não demasiado graves.
Evolução do risco de internamento (internados por casos positivos, em percentagem) por mês por covid-19 desde Março de 2020 até Junho de 2022. Fonte: DGS e BDMMH / ACSS. Cálculos e análise: PÁGINA UM.
Depois deste período, o risco de internamento situou-se entre os 3% e os 6% no período de Setembro de 2020 a Janeiro de 2021, aumentando depois, num terceiro período, para 13,2% em Fevereiro de 2021 e para 15,9% no mês seguinte.
Um quarto período começou em Abril – ainda de transição, com o indicador a baixar para 6,1% –, estendendo-se até Outubro de 2021, com o risco de internamento a variar entre os 2% e os 5%. Tendo em consideração que, neste período de Maio até Outubro de 2021, a taxa de vacinação abrangia já praticamente toda a população mais vulnerável (acima dos 65 anos), parece evidente advir daí uma redução no risco de internamento: foi de 2,8%, que confronta com os 5,6% do período homólogo do ano anterior (ainda sem vacina). Porém, dir-se-á sempre que essa redução do risco entre estes períodos homólogos (com e sem vacina) é de 50%.
De facto, somente a partir de Novembro de 2021, e especialmente a partir do mês seguinte, o risco de internamento diminuiu fortemente. Em Dezembro do ano passado situou-se apenas nos 0,7% – ou seja, em cada 1.000 infectados, somente sete necessitaram de internamento –, estando assim pela primeira vez abaixo de 1%. Ao longo de 2022, este rácio esteve sempre inferior a 0,6%.
Pergunta-se: foi por causa da vacina ou foi a menor agressividade da variante Ómicron? – eis a questão dos milhões de euros que a pandemia ainda faz rodar em negócios.
Certo é que, se for a vacina, os seus benefícios custaram muito tempo a chegar; se não tiver sido a Ómicron a constituir o game changer, então foi uma coincidência extraordinária as vacinas se terem tornado eficazes (em evitar o risco de internamento) no exacto mês em que aquela nova variante surgiu e se tornou rapidamente dominante (e muito mais transmissível).
Em todo o caso, a evolução da pandemia, mesmo antes do surgimento da Ómicron, evidencia que as vacinas contra a covid-19 tiveram um efeito benéfico, embora temporário, na redução significativa da letalidade.
Com efeito, e com similares premissas às que se apresentaram para o risco de internamento – e face à impossibilidade, por causa da política de obscurantismo da DGS, de analisar a evolução por faixa etária –, pode-se estimar também a taxa de letalidade global (para toda a população), através do cálculo do rácio óbitos por infectados em cada mês.
Esse indicador permite confirmar, atendível a estratégia de testagem, que a taxa de letalidade – ou o risco de morte em caso de infecção – foi bastante elevada (acima de 1%) até Março de 2021, com alguns períodos com valores preocupantes: Março a Maio de 2020 e Dezembro de 2020 a Março de 2021.
A partir de Abril de 2021, a taxa de letalidade ficou sempre abaixo de 1%, o que apenas sucedera no primeiro ano da pandemia num curto período (Setembro e Outubro de 2020).
Contudo, a partir de Abril de 2021 – com o processo de vacinação em “velocidade de cruzeiro” –, assistiu-se, aparentemente, a uma progressiva redução do efeito protector das vacinas. Isto porque a taxa de letalidade aumentou sensivelmente a partir dos meses de Junho e Julho daquele ano (0,23% e 0,30%, respectivamente) a atingir os 0,86% em Outubro.
E eis que a seguir, repentinamente, baixou de novo, quedando-se nos 0,49% em Novembro, e depois ainda se reduziu nos meses seguintes. Ao longo de 2022, a taxa de letalidade da covid-19 variou entre os 0,08% em Janeiro e os 0,22% em Junho.
Evolução mensal da taxa de letalidade (óbitos por casos positivos, em percentagem) por covid-19 desde Março de 2020 até Junho de 2022. Fonte: DGS. Cálculos e análise: PÁGINA UM.
Não havendo informação que permita, de forma expedita, calcular a taxa de letalidade por grupos etários, pode-se sempre dizer que para os mais idosos esse indicador será agora, certamente, inferior a 2%, quando nas primeiras fases da pandemia se situava nos 15%. Nos mais jovens continua irrelevante, porque sempre foi.
Também para o risco de morte, a mesma pergunta: qual a causa desta favorável evolução? As vacinas – que começaram a ser administradas no final de Dezembro de 2020 e tiveram já vários reforços – ou a variante Ómicron, que surgiu exactamente na altura que a taxa de letalidade parecia ir disparar com a chegada do Inverno?
Em tempos normais, a Ciência debateria essa questão de forma aberta, com base em hipóteses e com todos os dados (leia-se, informação oficial) em cima da mesa, sem truques, sem omissões sem necessidade de intervenção do Tribunal Administrativo para se aceder a informação oficial, sem tramoias de burocratas que “expurgam” bases de dados para satisfazer amigos governantes.
Mas, infelizmente, uma coisa esta pandemia nos demonstrou: a Ciência tornou-se maleável e submissa ao poder político, e, nessa medida, jamais desejará agora discutir abertamente alguns temas, que se tornaram tabu, porque comprometedores da sua independência e idoneidade.
Quando se diz Ciência, estamos a falar dos cientistas que, por acção ou omissão, mandaram os seus princípios às malvas.