Categoria: Opinião

  • Reflectir em voz alta

    Reflectir em voz alta


    Uma vez que o dia se presta a tal, resolvi reflectir. Coincidentemente coloquei essas reflexões numa folha de papel e espero, com esse gesto, não ferir susceptibilidades ou sequer incorrer em ilegalidades. A justiça é fulminante em Portugal, nem pensar em meter-me em tais alhadas.

    A primeira coisa que me passou pela cabeça foi que, afinal, corri o risco de ter votado quase em branco. Não sendo eu um eleitor do centrão (eu sei, ninguém adivinhava) e podendo o namoro entre Costa e Rio dar casamento, ficam os pequenos partidos numa situação de quarta roda num sidecar. Ali a roçar a inutilidade.

    Alguns saudosos da AD falarão em estabilidade, outros, lembrando-se da bazuca, percebem que este cenário deixa a raposa a tomar conta do galinheiro. Ou, explicando de uma forma mais visual, os boys a distribuírem o dinheiro pelas sequiosas clientelas.

    O facto de nem Costa, nem Rio, atormentados pelas sondagens, fecharem a porta a um entendimento entre eles, deixa-me algo inquieto. Os líderes de PS e PSD chegaram ao último dia de campanha sem fecharem a porta a qualquer entendimento, à esquerda, ao centro e à direita. Confesso que, numas eleições com a particularidade destas, esperava entrar no dia de reflexão sabendo os cenários possíveis. Assim, votamos todos sem saber bem em quê.

    Outra nota de destaque em dia de reflexão vai para o cordão sanitário estabelecido por António Costa na direcção do Chega, pela mão cheia de nada de Rui Rio sobre uma eventual coligação e, pior, pela tentativa algo ridícula dos comentadores da CNN, ontem, fazerem uma operação Javisol, lava mais branco, no partido de André Ventura.

    Rui Rio assumiu que não levará o Chega para o Governo mas que poderá negociar um acordo. Ventura já disse que só valida um governo do PSD se for ministro. O que faz todo o sentido, num partido unipessoal que serve, essencialmente, a ambição de Ventura, independentemente da ideologia necessária. Se para a semana as redes sociais se indignarem com pokemons, Ventura cavalgará na onda do Pikachu, se isso lhe valer mais alguns votos. O homem quer ser ministro de qualquer coisa, não quer defender ideias. Até porque não as tem.

    Na CNN compara-se esta teimosia (de deixar o Chega fora de acordos de governação) com a geringonça entre PS, PCP e BE. Dizia um rapaz por lá, cujo nome não me lembro, por que razão não pode Rio negociar com a extrema-direita, mas Costa pode fazê-lo com a extrema-esquerda? Bom, a resposta a isto é relativamente simples. Primeiro porque não existe extrema-esquerda no parlamento. Existe esquerda.

    Depois porque PCP e BE, por mais divergências que tenham em temas económicos, europeus ou de Estado Social, não são partidos xenófobos, racistas e contra a Constituição da República. No fundo, a realidade é que, por mais lixívia que se passe na bandeira do Chega, não há maneira de tirar aquele mofo da década de 30 do século passado. E deixá-los longe de qualquer centro de decisão era o mínimo que um democrata deveria querer.

    Por fim, lembrei-me das próprias sondagens que saíram ontem, a habitual tracking poll da CNN e a da SIC/Expresso, com resultados ligeiramente diferentes, que deixam no ar a extinção do CDS, com zero deputados, tal como Livre e a redução do PAN para apenas um.

    Pergunto-me, num país onde habitualmente metade da população não vota, seja porque é dia de praia ou por puro desinteresse, que fiabilidade devemos colocar nestas sondagens? Por outro lado, que influência terão os 10% da população que, em casa, estão confinados por causa do covid? Quantos votarão?
    Veremos domingo.

    Engenheiro de desenvolvimento na EcarX (Suécia)


    Décimo terceiro episódio da Recensão Eleitoral (28/01/2022) – Reflectir em voz alta


    N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.

  • Da vida na Dinamarca, das eleições ou da procissão da Santa Igreja do Covidismo

    Da vida na Dinamarca, das eleições ou da procissão da Santa Igreja do Covidismo


    Como outros países (Inglaterra e Finlândia, além da Suécia, que esteve sempre noutro campeonato), a fria Dinamarca decretou – é mesmo essa a palavra – o fim da pandemia e vai extinguir todas as restrições à vida normal. Está, neste momento, com cerca de 493 mil pessoas classificadas como casos activos de covid-19, o que representa 8,5% da população.

    Decidiu “saudar a vida que tinham antes”, porque os óbitos atribuídos ao SARS-CoV-2 são apenas 18 por dia – o que, sabendo-se serem os seres humanos mortais, constitui um valor normal, talvez mesmo de menor agressividade do que uma gripe comum.

    No ano passado, em período homólogo, este país escandinavo – que, durante a pandemia, nem registou qualquer período de particular gravidade –, estava com 26 mortes diárias, quando tinha apenas 0,2% da sua população infectada.

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    Faz todo o sentido, os dinamarqueses levantarem as restrições. Uma doença que há um ano apresentava uma taxa de letalidade de 1,07% – sempre foi baixa na Dinamarca –, não pode continuar a ser classificada agora como crítica só porque há uma “avalanche de testes positivos”: a taxa de letalidade nos últimos seis meses é de 0,09%.

    Nesta fase, parece-me irrelevante discutir – até porque é esgotante – se esta variação extraordinária se deve à menor agressividade da variante dominante (e lembremo-nos que foram identificadas quase 1.800 linhagens do SARS-Cov-2), se à eficácia das vacinas, se à imunidade natural ou se às melhorias no tratamento.

    Vou dar de barato que seja a conjugação de todas estas variáveis, e aguardo um veredicto definitivo pela Ciência quanto ao peso mais ou menos determinante de cada uma, quando, daqui a uns anos, os investigadores decidirem mostrar renovada maturidade e independência.

    Melhor sim, é recordar, nesta reflexão, que uma das características dos seres humanos, julgo, é a capacidade de raciocinar, de olhar para os factos, interpretar e agir em consonância dentro de uma lógica analítica.

    Os dinamarqueses parecem-me mostrar a sua humanidade na decisão de viver a vida – que, infelizmente, acaba em cada indivíduo com a morte, mas que precisa de ser perpetuada, com liberdade e alegria, dentro da sociedade.

    Quanto aos portugueses, já tenho algumas dúvidas.

    Em Portugal, vivemos tempos distópicos.

    No próximo domingo, quando formos votar, tenho dúvidas sobre se o acto eleitoral é para eleger deputados em Marte ou se num país terráqueo democrático e civilizado.

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    A Doutora Graça Freitas – a senhora que, à frente da Direcção-Geral da Saúde, mais esconde e manipula informação, nada dizendo sobre matérias sensíveis – deu-se ao trabalho de redigir um parecer técnico de nove longas páginas que dariam para rir se não constituíssem um desperdício de dinheiro (que alguém vai ganhar) e um exercício de fomento do pânico.

    Vejam como se devem paramentar as equipas de entrega e recolha de voto no domicílio dos eleitores confinados, e sobretudo os delegados dos partidos e membros das mesas de voto:

    a) Uma embalagem individual de produto desinfetante de mãos, devidamente legalizada no mercado nacional através de notificação submetida à Direção-Geral da Saúde;

    b) Máscaras cirúrgicas ou máscaras FFP2, certificadas e descartáveis;

    c) Batas com abertura atrás, de uso único e impermeável, manga comprida, punhos bem ajustados e que cubra toda a roupa.

    Pelo que sei, em muitos hospitais, este é o equipamento usado nas unidades de cuidados intensivos de doentes-covid; nas outras alas, recorre-se “apenas” às máscaras FFP2.

    Por pouco a DGS não mandava equipar os operacionais do acto eleitoral como Stormtroopers do Star Wars.

    Não consta que, nos transportes públicos ou mesmo em restaurantes e outros locais fechados, se andem com tantas alfaias e outros apetrechos como os estabelecidos e enumerados pela DGS para esta autêntica procissão da Santa Igreja do Covidismo em que se transformaram as eleições legislativas.

    E isto tudo, eis o paradoxo, numas eleições que teve uma campanha em que os principais partidos políticos nada disseram sobre a pandemia, sobre os impactes da pandemia, sobre a discriminação de cidadãos durante a pandemia, sobre a recuperação do desastre económico e social por via de uma gestão desastrosa da pandemia do ponto de vista da Saúde Pública.

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    A quase generalidade dos políticos negaram a existência da pandemia, o que mostra, mais uma vez, que somos um pouco diferentes dos dinamarqueses.

    Adiante. Vamos ser claros. A pandemia em Portugal, tal como na generalidade da Europa, terminou. Esta já terminou. Achar que pode surgir uma nova variante, um novo vírus, um meteorito, um Armagedão, e achar que se deve manter tudo como nos últimos dois anos, é insano; é loucura absoluta. Não é vida. Antes a morte que tal sorte – e quem o diz é alguém que esteve em situação grave.

    Notem: no ano passado, quando então estávamos em pleno pico pandémico – com as mortes atribuídas à covid-19 acima das 200 por dia, e a mortalidade total acima dos 700 óbitos –, as medidas “impostas” pela DGS nem por sombras tinham este espalhafato. Os membros das mesas de voto tinham de usar apenas uma máscara, preferencialmente do tipo cirúrgica, a ser substituída a cada quatro horas. Nada mais, para além do desinfectante.

    Estávamos então, em finais de Janeiro de 2021, com uma taxa de letalidade de 1,69% desde o início da pandemia. Agora, nos últimos seis meses, essa taxa desceu para 0,16%.

    Existe alguma racionalidade nisto?

    Não. Talvez, porque, na verdade, há povos que perderem a capacidade de raciocinar. Como os portugueses.

  • Os programas da esquerda

    Os programas da esquerda


    Resolvi realizar um exercício penoso, analisar algumas das medidas dos programas eleitorais dos partidos “ditos de esquerda”. Neste grupo poderíamos perfeitamente incluir o PSD, o CDS, a Iniciativa Liberal e o Chega.

    Não necessito de realizar uma leitura exaustiva de cada um dos programas eleitorais. Basta ouvir três ou quatro intervenções dos respectivos líderes para chegar a essa conclusão que, sem excepção, todos os partidos com representação parlamentar querem mais Estado.

    Talvez a única diferença entre estes partidos seja a dose de socialismo que pretendem, mas, infelizmente, comungam de um único ponto: ignoram por completo a pandemia que arruinou a sociedade e a Economia portuguesa nos últimos dois anos.

    Comecemos pelo Bloco de Esquerda (BE), em particular o apartado “vertente social” do seu programa. Somos informados de que seguem este princípio orientador: “Não dar tréguas aos preconceitos e à discriminação”! É singular que o BE durante os últimos dois anos não o tenha seguido, dado que deu a mão ao Governo em todos os Estados de Emergência e a medidas que efectivamente criaram portugueses de primeira e de segunda.

    Até hoje, não se ouviu uma palavra do BE sobre a sociedade que ajudou a criar, ao melhor estilo do deplorável regime do apartheid que em tempos existiu na África do Sul, bastando substituir as cores por não vacinados.

    Na vertente económica, brindam-nos com mais do mesmo: impostos em tudo o que mexa. Mais uma vez, a discriminação dos “ricos”; o BE tem aversão a ricos, excepto quando se trata de um camarada de partido, de seu nome Robles.

    Vamos então ver como o BE pretende tratar os ricos que ainda por aqui circulam. Pretende criar um “imposto de solidariedade sobre as grandes fortunas” – a palavra solidariedade serve para os membros eleitos do BE que vivem há anos do Orçamento de Estado? –, que incide sobre o património global dos sujeitos passivos, cuja fortuna seja superior a 2.000 salários mínimos nacionais. A taxa varia entre 0,6% (2.000 salários) e 1,2% (8.000 salários), dependendo do escalão do património.

    Nesta proposta, não sabemos se o BE se refere ao salário mínimo anual ou mensal, pelo sentido dos números afigura-se que seja um valor mensal, neste caso o que existe hoje: 665€ por mês. Assim, um “multimilionário”, segundo o BE, é alguém que possui um património global mínimo de 1,33 milhões de euros, passando a pagar todos os anos – não nos esclarecem sobre o período, deduzimos que é anualmente – cerca de 8 mil euros. No escalão acima dos 8.000 salários mínimos, teríamos aproximadamente um imposto de 64 mil euros.

    Ficam as seguintes perguntas na mesa?

    Quem define o valor de mercado de cada elemento do património; por exemplo, acções de empresas não cotadas? Um burocrata do Governo? De que forma irá determinar o seu valor de mercado? Que critérios? É evidente que o contribuinte ficaria sujeito à completa arbitrariedade do avaliador estatal.

    Qual a justiça perante patrimónios constituídos por bens completamente distintos? Vamos imaginar um contribuinte proprietário de casas e outro detentor de jóias e quadros, facilmente dissimuláveis do confisco estatal, os dois seriam tributados de forma completamente distinta. Isto retira todos os incentivos para investimentos em actividades produtivas, em benefício do património que pode ser facilmente ocultado.

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    E o que acontece se o contribuinte pagou, vamos imaginar 50 mil euros num dado ano, por possuir uma empresa com instalações fabris avaliadas em 4,1 milhões de euros (1,2%), mas no ano seguinte entra em dificuldades financeiras e o valor da empresa desaparece. O que acontece? O fisco irá devolver o valor?
    Para além do confisco e desincentivo à produção deste tipo de propostas, as mesmas são sempre lançadas como miraculosas, a favor do eterno estado que tudo nos irá proporcionar: Educação, Saúde, Cultura, Bem-estar; infelizmente, nunca aparece. Para esta gente, o nosso património nunca pode ser nosso, tem sempre de estar ao dispor do BE e das suas clientelas.

    Mas não se ficam por aqui, desejam o englobamento de todo o tipo de rendimentos para efeitos de IRS, por outras palavras, um contribuinte que receba uma renda de imóvel, que hoje paga no máximo 28%, passa a poder pagar mais de 40%, caso o seu rendimento da categoria A o situe nesse escalão de tributação. As poupanças das pessoas que já foram tributadas pelo estado em anos anteriores, voltam a ser tributadas quando são aplicadas.

    Para o BE todos os aspectos da nossa vida, trabalhar, poupar, consumir ou mesmo a morrer, têm um propósito: pagar impostos. Nada escapa à fúria confiscatória do BE, até a morte merece um imposto. Chama-lhe imposto sobre doações e heranças, que também inclui património mobiliário ou outras formas de activos líquidos com valor superior a um milhão de euros. Pretendem aplicar uma taxa de 25% para heranças acima de dois milhões de euros, e 16% para heranças entre um e dois milhões de euros. É sempre a embolsar.

    Também desejam um novo regime de tributação das mais-valias imobiliárias para aumentar a progressividade e a “justiça fiscal” – é sempre nome da justiça e não do bolso da casta que vive à mesa do orçamento. Aqui podiam ser criativos: em lugar o imposto “Mortágua”, podia baptizá-lo de imposto “Robles”. O IMT, o IMI, o imposto de selo não é suficiente para o BE; ainda é preciso confiscar mais-valias geradas pela impressora do Banco Central Europeu.

    A coisa não se fica por aqui. Ainda desejam a introdução de dois novos escalões da tabela de IRS de forma a aumentar a progressividade. É sempre necessário ir mais fundo ao bolso das pessoas.

    Para terminar, a cereja no topo do bolo: propõem a tributação de mais-valias obtidas com criptomoedas. Para além de ser um partido com uma ideologia totalitária, deseja assaltar-nos qualquer vintém que possamos carregar no bolso.

    No que respeita ao PC, temos o programa eleitoral da CDU de 2019; segundo o PC, o mesmo mantém-se actual, e não requer qualquer mudança para as eleições de 2022. Mas importa consultar o programa do PC, é o que vamos fazer.

    O programa diz-nos que o PC ainda não desistiu da Revolução Socialista, e ainda abomina o capitalismo: “A evolução do capitalismo, com as violentas manifestações da sua natureza exploradora, opressora, agressiva e predadora, a agudização das suas contradições, o agravamento da sua crise estrutural, coloca cada vez mais na ordem do dia a exigência da sua superação revolucionária.”.

    Seguidamente, somos informados de que os partidos que seguiram o socialismo são um sucesso sem precedentes: “Partindo em geral de um baixo nível de desenvolvimento, os países socialistas alcançaram êxitos e realizações de grande projecção internacional, que estimularam a luta dos trabalhadores e dos povos de todo o mundo.” Julgo que os únicos êxitos relevantes da experiência socialista foi a fuga da população para os países capitalistas à primeira oportunidade!

    Continuar a ter um partido destes na Assembleia da República é um sinal do atraso português, que dispensa mais análises.

    Terminando com o PS – o partido que nos governa de forma praticamente ininterrupta há mais de 20 anos, e que levou o país à bancarrota em 2011, em que chegou a haver o risco não haver dinheiro para pagar os salários dos funcionários públicos –, este apresenta-se de novo a eleições com as mesmas caras e “ideias”.

    Informam-nos que têm 10 prioridades para o país, das quais destaco a primeira: “Convergir entre 2021 e 2026. Crescer por ano em média 0,5 pontos percentuais acima da média da UE27 e 1 p.p. acima da média da zona euro”. Para além de nos anunciarem o crescimento por decreto, fica a pergunta? Porquê só agora? E apenas 1 ponto percentual acima da zona euro, por que não 5 ou 6 pontos percentuais? Aqui está uma verdadeira aspiração: crescer mais, mas não explicam como.

    No programa propriamente dito, depois do plano tecnológico, temos agora a Economia Circular. Deduz-se que a linear deve ser má, e a circular fantástica. Segundo o PS, com a sua ajuda, iremos transformar-nos numa economia circular e abandonar a linear. O programa está cheio de lugares-comuns, uma espécie de “agora é que vai ser”, sem nunca nos explicarem como vão fazer algo naquilo que fracassaram.
    Mas a melhor parte surge no capítulo das desigualdades, com o título “Mais e melhores oportunidades para todos, sem discriminações”. É hilariante que o partido que promoveu um apartheid, em particular aos não vacinados, foi o PS. É sempre divertido assistir à pungentes declarações de não à discriminação por parte do PS.

    É isto a esquerda portuguesa!

    Gestor (Faculdade de Economia de Coimbra) e empresário


    N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.

  • Media: um pedido de desculpas que se exige

    Media: um pedido de desculpas que se exige


    Bem-vindos à primeira vaga de branqueamento da (ir)responsabilidade dos media portugueses na pandemia.

    À primeira vista, a imprensa nacional, com destaque para a televisão e certos pivots, parece estar a dar sinais de querer virar o bico ao prego, como se costuma dizer. Ou seja, finalmente, contrariando a postura acrítica e subserviente desde Março de 2020 – basta relembrar as conferências de imprensa da Direcção-Geral da Saúde (DGS) –, começamos a ver agora, nos últimos dias, jornalistas a cumprir o seu dever na cobertura da pandemia: informar e investigar.

    De repente, por milagre, surgem notícias – incluindo no Público e no Observador, por exemplo – sobre a realidade dos internados ‘covid’. Começa a parecer – repito, a parecer – que alguns media estão no caminho de tentarem fazer o seu trabalho. Cumprir o seu dever de informar. De forma isenta e séria. Alheia a poderes, governo e interesses.

    Nada mais falso.

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    Senhoras e senhores leitores: declaro que estamos, oficialmente, no fim não da pandemia – que essa vai depender da Organização Mundial da Saúde –, mas no início da primeira vaga de branqueamento da imagem dos media portugueses sobre o tema covid.

    Como sabemos, os media, em geral, assumiram-se como meros porta-vozes do Governo e da DGS.

    Nós, os que alertámos desde cedo para os dados descontextualizados da DGS, fomos apelidados de negacionistas. Nós, os que questionámos a falta de transparência nos dados divulgados, fomos ostracizados.

    Questionar os dados e os comunicados de imprensa foi, durante dois anos, um pecado capital com direito a seguir para a fogueira dos indigentes.

    Agora, até o bastonário da Ordem dos Médicos, logo ele, pede agora transparência à DGS.

    Só podem estar a gozar. E gozar-nos.

    Não vamos permitir este branqueamento de responsabilidades.

    Graças aos media – e a muitos “especialistas” e “peritos”, e a muitas entidades, incluindo a DGS –, há crianças e jovens que acreditam que podem morrer se saírem à rua sem máscara. O novo coronavírus pode ser de facto fatal para os mais idosos e pessoas com comorbilidades. Mas para crianças e jovens não, o risco é virtualmente zero. Mas, no entanto, graças à imprensa, as campanhas de terror marcaram (para sempre) os mais jovens.

    O terror espalhado pelos media foi deplorável, inaceitável e uma grave violação do Código Deontológico. Nunca ouvimos um ai das entidades que regulam os aspectos éticos e deontológicos da profissão.
    Vir agora passar a ideia de que alguns órgãos de comunicação social, de repente, estão interessados em dados corretos, rigorosos e fiáveis da DGS é um insulto. Ponto.

    O que alguns media perceberam agora – e o bastonário da Ordem dos Médicos também – é que os ventos estão a mudar. E só por isso eles querem mudar. E querem navegar e aproveitar esses ventos de ‘verdade’, fim da pandemia, exigindo agora, e só agora, ‘transparência nos dados’.

    O trabalho do PÁGINA UM, mesmo com apenas um mês de existência, pela sua independência e coragem na divulgação de informação escondida e na pressão sobre as autoridades, tem tido consequências. Os media não podiam ficar indiferentes à extensa divulgação de dados que este novo órgão de comunicação social tem feito.

    Mas deixo um aviso, caros leitores. A operação “branqueamento de responsabilidades” está em curso, sim. Mas a ‘verdade’ está longe de vir ao de cima.

    girl covering her face with both hands

    A nova “cobertura” da comunicação social à pandemia trata-se, porém, de uma operação cosmética. Nada mais. Continuamos sem ter dados cruciais. E acreditem, não serão os media tradicionais, dependentes da publicidade de organismos públicos e de apoios de farmacêuticas, que enfrentarão a DGS para lhes exigir dados que nos permitam saber a verdade. E a Ordem dos Médicos, apesar de agora, “ladrar”, não vai “morder” a DGS e muito menos o Ministério da Saúde. Esteve e está comprometida.

    Nem vai morder as farmacêuticas. Sim, muito menos as farmacêuticas.

    Depois do fim da pandemia, faltará saber muita coisa. Falta agora investigar as mortes súbitas de pessoas saudáveis e vacinadas. As mortes por problemas cardíacos. As mortes por derrames cerebrais. Etc., etc., etc..

    Até porque se antes quem queria dados da DGS era negacionista, no futuro quem quiser dados sobre efeitos adversos de vacinas será anti-vacinas.

    Por isso, caros leitores, se pensam que a batalha pela ‘verdade’ está a caminho de ser ganha, estão muito enganados. A guerra pela verdade, sobre tudo o que se tem passado em torno do tema covid, ainda nem começou.

    E precisamos de uma comunicação social limpa. No estrangeiro já vemos órgãos de comunicação social a pedir desculpa aos leitores, como o jornal dinamarquês Ekstra Bladet e o alemão Bild. Exijamos também um pedido desculpa feito pelo media portugueses. Se ela não vier, tudo é mero e sujo branqueamento.


    N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.

  • A ultrapassagem que vem de Leste

    A ultrapassagem que vem de Leste


    Ao fim de sete dias de empates técnicos nas sondagens, os discursos finalmente mudaram. Costa deixou de pedir a maioria absoluta corrigindo um erro que não devia ter cometido e Rio, saindo da posição de humildade onde já esteve, deu mais um empurrão ao adversário dizendo que era tempo de este aprender a perder. Os estrategas da campanha de Rui Rio devem ficar com cólicas de cada vez que o deixam sozinho por mais do que 5 minutos.

    É curioso perceber como o tracking poll vai influenciando a campanha. Isto apesar de os dados revelados pela CNN diariamente terem uma margem de erro de mais de 10%, já que apenas 150 pessoas variam na amostra diária. Mas lá que as campanhas dançam ao ritmo das sondagens, já ninguém duvida.

    Um dos temas mais marcantes destas legislativas, trazido para o debate pela direita em geral, tem sido a ultrapassagem dos países de leste a Portugal e a nossa crónica posição na cauda da união europeia.
    Há duas coisas que me irritam particularmente nessa discussão. Desde logo que se refiram a eles como “ex-países de leste”, como se, entretanto, se tivessem movido para as Caraíbas. Depois, a demagogia e populismo usados para explicar essa ultrapassagem.

    Liberais culpam o Governo pelo Estado Social e carga fiscal. O PSD diz que as leis do trabalho não são flexíveis e competitivas. O CDS culpa a falta de produtividade na lavoura e o Chega, imagino, culpará os emigrantes que chegam ao paraíso para nos resgatarem aqueles empregos altamente aliciantes nas obras e nas limpezas.

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    Findo este discurso atira-se com um “a geração mais qualificada de sempre” e “emigração”, mexe-se bem e temos uma receita de populismo e sound bites, que explica coisa nenhuma sobre a ultrapassagem, mas que deixa, na tal geração mais preparada, a sensação que aconteceu uma calamidade e por isso, ficámos para trás.

    Ora, de facto aconteceu uma calamidade. Chama-se “Escola Pública”.

    Aquilo a que Portugal chama a geração mais qualificada de sempre representa, na verdade, 25% de frequência universitária entre a população com mais de 25 anos e menos de 64. Estónia e Lituânia, dois daqueles países que aparecem sempre como exemplo do nosso fracasso, caminham para metade da população (42% e 44%, respectivamente em 2020) com frequência universitária.

    A imagem que nos tentam passar dos países do leste europeu, como se fossem de terceiro mundo, é pura e simplesmente falsa e por aí começa a nossa frustração, ao não percebermos de facto com quem estamos a concorrer.

    O índice de educação, publicado anualmente pelas Nações Unidas, que relaciona o tempo expectável na escola com o tempo que efectivamente se passa na escola, tinha a Lituânia e a Estónia no top 25… em 1990. Portugal ocupava por essa altura uma honrosa 63ª posição, lado a lado com a Mongólia, Panamá, África do Sul e Bolívia.

    Em 2019, Lituânia, Estónia e, já agora, Letónia e Polónia, continuavam pelo top 25 e Portugal, galgara cerca de cinco posições. Era agora quinquagésimo sétimo, em parceria com Tonga, Grenada e Bahrain.
    Portanto, é com isto que estamos a lidar e é esta a razão para o nosso atraso. A “melhor geração de sempre” que chegou a Portugal em 2022, já tinha passado pelo Báltico no século passado. Logo, assim que entraram no mesmo espaço económico, estranho era se não ultrapassassem um país com um nível de educação muito mais baixo.

    A dúvida agora é o que fazer daqui para a frente? Demorámos 30 anos a recuperar os níveis de educação para algo parecido com a primeira divisão europeia (embora continuemos atrás da maioria). Deve a aposta ser toda na educação universal que só o pode ser se for oferecida no serviço público a troco da contribuição fiscal? Apostamos em pagamento de salário digno aos professores? Ou jogamos na roleta de um sistema misto onde o estado arca com os custos públicos e privados, mas os alunos só têm acesso garantido ao que for público com investimento reduzido?

    A História explica.

    Engenheiro de desenvolvimento na EcarX (Suécia)


    Décimo segundo episódio da Recensão Eleitoral (27/01/2022) – A ultrapassagem que vem de Leste


    N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.

  • PÁGINA UM revela novos dados clínicos, porque a CADA ‘recusa’ sempre acesso a dados sensíveis

    PÁGINA UM revela novos dados clínicos, porque a CADA ‘recusa’ sempre acesso a dados sensíveis


    Graças à postura da Comissão de Acesso aos Documentos Administração (CADA) – pelas más razões que mais adiante se explicará –, no final deste texto, o PÁGINA UM revela uma lista de 162 casos de doentes-covid que desenvolveram miocardites e síndrome inflamatória multissistémica (MISC-C) durante os primeiros 15 meses da pandemia, também para complementar a informação do artigo ontem publicado.

    São dados anonimizados, revelando-se somente a idade sexo, o período de internamento (meses da hospitalização e duração em dias), a unidade de saúde, a eventual utilização de cuidados intensivos e o desfecho (alta ou morte). Não são mencionadas outras comorbilidades, subentendendo-se que todos tiveram covid-19. Não existe informação sobre o estado vacinal, sendo certo que, à data do período final da base de dados (Maio de 2021), ainda não estavam vacinadas as pessoas menos de 55 anos.

    Esta informação mostra-se essencial para compreender mais um enviesamento e manipulação de dados orquestrada pela Direcção-Geral da Saúde (DGS), porque a ideia que tem transparecido, no caso das miocardites e da MISC-C, é a sua relevante perigosidade para crianças e jovens em caso de infecção por covid-19.

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    Como ontem se salientou aqui no PÁGINA UM, as prevalências destas afecções são ridiculamente baixas nos menores, estando em linha com aquilo que se sabe quanto ao risco da própria covid-19 em função da idade. Aliás, a pneumonia pneumocócica, sendo rara nestas faixas etárias, chega a ser mais mortífera do que a covid-19.

    Não tem sido apenas com esta recente abordagem que o PÁGINA UM se tem destacado. Temos vindo, nas últimas semanas, a divulgar informação fundamental para entender melhor a gestão da pandemia, através de uma base de dados com os internamentos hospitalares a que tivemos sigiloso e exclusivo acesso.

    Em virtude dessa informação, o PÁGINA UM pôde revelar muitos aspectos ignorados do público, escondidos pelo Governo, pelo Ministério da Saúde e pela DGS.

    Graças ao PÁGINA UM, pode-se agora confirmar, e até quantificar, para os primeiros 15 meses da pandemia, que uma parte considerável dos doentes-covid – que foram contabilizados pela DGS para as estatísticas dos internados e mesmo dos óbitos – tinha dado entrada nos hospitais por outras causas, e o simples teste positivo permitiu que fossem “usados” para a estratégia de alarmismo.

    O PÁGINA UM – e particularmente eu, como seu director – tem uma clara visão sobre esta pandemia: existe, constitui um perigo real – não foi uma “gripezinha” (embora esteja em vias de o ser, face à actual letalidade) –, mas não é uma catástrofe ao nível de uma Gripe Espanhola, e deveria ter sido enquadrado numa estratégia de Saúde Pública que continuasse a olhar para as outras doenças. Além disso, esse perigo é (foi sempre) completamente diferenciado em função da idade, do sexo, das comorbilidades e do próprio hospital.

    Nessa medida, a gestão ter assentado em medidas também diferenciadas, o mesmo se aplicando às vacinas – um fármaco cuja aplicação deveria considerar os princípios da precaução e do risco-benefício-incerteza. Desse modo, a vacinação nas idades mais avançada faz todo o sentido; não faz qualquer sentido – do ponto de vista da incerteza e também económico – em adultos jovens, adolescentes e crianças saudáveis, conforme o PÁGINA UM defendeu já. No resto, enfim, há muito negócio, como aliás o PÁGINA UM tem denunciado.

    Enfim, mas, na verdade, é sobre a falta de informação e a ausência completa de dados reais que interessa tecer mais algumas considerações, porque foi esse “problema” que contribuiu decididamente para obstaculizar qualquer debate sério durante a pandemia.

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    A grande culpada, assuma-se, foi a imprensa mainstream que, contribuindo com um comportamento quase generalizado para a trágica auto-destruição de um dos pilares da democracia, não questionou, não incomodou, não investigou, negou informar.

    Um dia se fará a História da Imprensa, e estes últimos dois anos dará uma página negra.

    O PÁGINA UM nasce, aliás, por via do trabalho vergonhoso da maior parte da imprensa e dos jornalistas.

    O PÁGINA UM nasce consciente de estar a enfrentar uma oposição enorme – mesmo, ou sobretudo, interna, da comunicação social –, mas tem consciência que, apesar da sua (ainda) pequenez, deve assumir essa bandeira. Ou esse cálice. Mesmo havendo órgãos de comunicação social que se esforçam para o denegrir, incluindo a Comissão da Carteira Profissional de Jornalista ou o Conselho Deontológico do Sindicato dos Jornalistas.

    [Entretanto, nos últimos dias, de repentes, em estilo flic-flac à retaguarda, a comunicação social mainstream a fazer (agora, enfim!) artigos abordando o facto de os internamentos de doentes-covid serem (sempre foram), em grande parte, por outras causas. Que todos se lembrem que o que eles andaram a fazer; e que se saiba aqui que no dia 7 de Janeiro o PÁGINA UM – cujo site está online desde 21 de Dezembro passado – começou a revelar esse (e outros) factos. Foi aqui que se começou.]

    O PÁGINA UM nasce também para lutar contra o obscurantismo da Administração Pública; contra a cultura do poder em recusar sistematicamente dar informação, o que numa democracia é algo intolerável.

    Por esse motivo, o PÁGINA UM tem sistematicamente apresentado requerimentos atrás de requerimentos a solicitar documentos administrativos, incluindo bases de dados. Se não estiver em erro, estarão já mais de uma dezena de queixas na CADA por inexistência de resposta favorável a informação essencial, tanto de organismos da Administração Pública como de outras entidades, como o Conselho Superior da Magistratura e a Ordem dos Médicos.

    Porém, lamentavelmente, a CADA – uma entidade supostamente independente, embora dependa financeiramente da Assembleia da República, do Orçamento do Estado e tenha a esmagadora maioria dos seus membros indicada directa ou indirectamente por partidos políticos – tem uma acção muito limitada. Não apenas porque os seus pareceres continuam, inexplicavelmente, a não ser vinculativos como estes podem vir com meses, meses e mais meses de atraso. A comissão reúne uma vez por mês, e agora por Skype.

    Mas, além de tudo isto, ou sobretudo por isto, a CADA tem, por vezes, interpretações que parecem apologistas do obscurantismo, curiosamente quando em causa se encontram documentos “sensíveis” politicamente.

    O PÁGINA UM teve, nos últimos tempos, duas “experiências” desse quilate.

    A primeira refere-se ao pedido de parecer pela recusa do acesso à base de dados do Sistema Nacional de Vigilância Epidemiológica (SINAVE) – que permitiria, por exemplo, apurar as taxas de letalidade em função do estado vacinal. Neste momento anda o processo a “marinar” na CADA. A queixa foi apresentada no dia 10 de Novembro de 2021, depois da não-resposta da DGS a um requerimento de 22 de Outubro, e a decisão somente verá a luz do dia, na melhor das hipóteses, em 17 de Fevereiro. Se dessa vez for aprovado nesta reunião, temos então um parecer ao fim de 68 longos dias úteis – ou 99 dias corridos. Ou seja, a CADA nem consegue cumprir o prazo da lei que ela rege, e que lhe concede 40 dias para elaborar os pareceres.

    A DGS agradece e esfrega as mãos de contente.

    Também a esfregar as mãos de contente – e brindando também ao obscurantismo – estará a doutora Graça Freitas por a CADA considerar que não tem o dever de conceder ao PÁGINA UM o acesso à base de dados do Sistema de Informação dos Certificados de Óbito (SICO), que permitiria, entre muitas outras coisas, analisar em concreto os óbitos por covid-19 e as variações das outras doenças como causa da morte em comparação com outros anos.

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    Apesar dessa base de dados não ser classificada, a CADA considerou, em recente parecer, que um jornalista – que, por sinal, no caso em apreço, até tem formação académica vasta – não pode invocar o seu estatuto de jornalista, que, entre outras funções, realiza investigações. Ou seja, a CADA defende que um jornalista não sabe ou não pode investigar, que não cumpre os pressupostos do artigo 12º da Lei nº 15/2012, que criou o SICO, e que possibilita, sob concordância do director-geral da Saúde, o acesso a essa base de dados para efeitos de “investigação”. E note-se: não está lá sequer escrito “investigação científica”.

    Enfim, temos então a CADA a defender, implicitamente, o obscurantismo, o benefício da Administração Pública nada transparente. E, portanto, não mudando a CADA a sua posição – em todo o caso, será feita uma impugnação ao seu parecer, e depois sempre temos um Tribunal Administrativo –, arriscamos a contínua cegueira, a especulação, a desinformação. E ficamos sobretudo na cegueira sobre a eventual manipulação de dados por parte da DGS durante esta pandemia.

    Ora, é exactamente por esse motivo, por se saber que a DGS jamais dará informação por sua iniciativa – e a CADA assim não ajuda –, que o PÁGINA UM tem vindo e continuará a divulgar toda a informação sigilosa que conseguir.

    Sem qualquer hesitação, sempre que o interesse público o justificar. Por esse mesmo motivo, o PÁGINA UM apresenta um formulário de denúncias, com possibilidade de inserir documentos de forma anónima.

    E é por esse motivo, e em conclusão, por mor da (in)acção da CADA – que promove, em matérias mais sensíveis, o obscurantismo –, que o PÁGINA UM divulga agora mais uma lista com dados clínicos, anonimizados, em cumprimento do Regulamento Geral de Protecção de Dados e da deontologia jornalística.


    CASOS DE MIOCARDITE E SÍNDROME INFLAMATÓRIA MUSTISSISTÉMICA (MISC-C)

    Caso 1 – MISC-C
    Homem – 1 ano
    Unidade de Saúde: Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra
    Período de Internamento: Janeiro 2021 (10 dias)
    Cuidados Intensivos: SIM
    Desfecho: ALTA

    Caso 2 – MISC-C
    Homem – 3 anos
    Unidade de Saúde: Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra
    Período de Internamento: Março 2021 (3 dias)
    Cuidados Intensivos: NÃO
    Desfecho: ALTA

    Caso 3 – MISC-C
    Homem – 3 anos
    Unidade de Saúde: Centro Hospitalar Universitário de São João (Porto)
    Período de Internamento: Abril 2021 (7 dias)
    Cuidados Intensivos: NÃO
    Desfecho: ALTA

    Caso 4 – MISC-C
    Homem – 3 anos
    Unidade de Saúde: Centro Hospitalar Universitário de São João (Porto)
    Período de Internamento: Fevereiro – Março 2021 (11 dias)
    Cuidados Intensivos: NÃO
    Desfecho: ALTA

    Caso 5 – MISC-C
    Homem – 5 anos
    Unidade de Saúde: Centro Hospitalar Universitário de São João (Porto)
    Período de Internamento: Fevereiro – Março 2021 (19 dias)
    Cuidados Intensivos: SIM
    Desfecho: ALTA

    Caso 6 – MISC-C
    Homem – 6 anos
    Unidade de Saúde: Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central
    Período de Internamento: Fevereiro 2021 (8 dias)
    Cuidados Intensivos: NÃO
    Desfecho: ALTA

    Caso 7 – MISC-C
    Homem – 7 anos
    Unidade de Saúde: Centro Hospitalar Universitário do Porto
    Período de Internamento: Dezembro 2020 (15 dias)
    Cuidados Intensivos: NÃO
    Desfecho: ALTA

    Caso 8 – MISC-C
    Mulher – 7 anos
    Unidade de Saúde: Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central
    Período de Internamento: Fevereiro 2021 (8 dias)
    Cuidados Intensivos: NÃO
    Desfecho: ALTA

    Caso 9 – MISC-C
    Mulher – 8 anos
    Unidade de Saúde: Centro Hospitalar Universitário de São João (Porto)
    Período de Internamento: Janeiro – Fevereiro 2021 (9 dias)
    Cuidados Intensivos: NÃO
    Desfecho: ALTA

    Caso 10 – MISC-C
    Mulher – 8 anos
    Unidade de Saúde: Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Norte
    Período de Internamento: Novembro 2020 (16 dias)
    Cuidados Intensivos: SIM
    Desfecho: ALTA

    Caso 11 – MISC-C
    Mulher – 8 anos
    Unidade de Saúde: Centro Hospitalar do Médio Ave
    Período de Internamento: Fevereiro 2021 (5 dias)
    Cuidados Intensivos: NÃO
    Desfecho: ALTA

    Caso 12 – Miocardite
    Mulher – 10 anos
    Unidade de Saúde: Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central
    Período de Internamento: Junho 2020 (7 dias)
    Cuidados Intensivos: SIM
    Desfecho: ALTA

    Caso 13 – Miocardite
    Homem – 10 anos
    Unidade de Saúde: Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Norte
    Período de Internamento: Maio 2020 (10 dias)
    Cuidados Intensivos: SIM
    Desfecho: ALTA

    Caso 14 – MISC-C
    Mulher – 10 anos
    Unidade de Saúde: Centro Hospitalar Universitário de São João (Porto)
    Período de Internamento: Janeiro – Fevereiro 2021 (12 dias)
    Cuidados Intensivos: SIM
    Desfecho: ALTA

    Caso 15 – MISC-C
    Mulher – 11 anos
    Unidade de Saúde: Centro Hospitalar Universitário de São João (Porto)
    Período de Internamento: Março 2021 (7 dias)
    Cuidados Intensivos: NÃO
    Desfecho: ALTA

    Caso 16 – Miocardite e MISC-C
    Mulher – 12 anos
    Unidade de Saúde: Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central
    Período de Internamento: Dezembro 2020 (12 dias)
    Cuidados Intensivos: SIM
    Desfecho: ALTA

    Caso 17 – Miocardite
    Homem – 13 anos
    Unidade de Saúde: Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central
    Período de Internamento: Abril – Maio 2020 (19 dias)
    Cuidados Intensivos: SIM
    Desfecho: ALTA

    Caso 18 – MISC-C
    Homem – 13 anos
    Unidade de Saúde: Centro Hospitalar Universitário de São João (Porto)
    Período de Internamento: Janeiro 2021 (17 dias)
    Cuidados Intensivos: SIM
    Desfecho: ALTA

    Caso 19 – MISC-C
    Homem – 14 anos
    Unidade de Saúde: Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Norte
    Período de Internamento: Novembro 2020 (7 dias)
    Cuidados Intensivos: SIM
    Desfecho: ALTA

    Caso 20 – MISC-C
    Mulher – 15 anos
    Unidade de Saúde: Centro Hospitalar Universitário de São João (Porto)
    Período de Internamento: Dezembro 2021 (1 dia)
    Cuidados Intensivos: NÂO
    Desfecho: ALTA

    Caso 21 – MISC-C
    Mulher – 15 anos
    Unidade de Saúde: Centro Hospitalar Universitário do Porto
    Período de Internamento: Dezembro 2021 (6 dias)
    Cuidados Intensivos: NÃO
    Desfecho: ALTA

    Caso 22 – MISC-C
    Mulher – 15 anos
    Unidade de Saúde: Centro Hospitalar Universitário de São João (Porto)
    Período de Internamento: Março 2021 (10 dias)
    Cuidados Intensivos: SIM
    Desfecho: ALTA

    Caso 23 – Miocardite e MISC-C
    Homem – 16 anos
    Unidade de Saúde: Centro Hospitalar Universitário de São João (Porto)
    Período de Internamento: Fevereiro 2021 (13 dias)
    Cuidados Intensivos: SIM
    Desfecho: ALTA

    Caso 24 – MISC-C
    Homem – 16 anos
    Unidade de Saúde: Centro Hospitalar Universitário de São João (Porto)
    Período de Internamento: Março – Abril 2021 (23 dias)
    Cuidados Intensivos: SIM
    Desfecho: ALTA

    Caso 25 – MISC-C
    Homem – 16 anos
    Unidade de Saúde: Hospital da Senhora da Oliveira (Guimarães)
    Período de Internamento: Março 2021 (0 dias)
    Cuidados Intensivos: NÃO
    Desfecho: ALTA

    Caso 26 – Miocardite e MISC-C
    Homem – 17 anos
    Unidade de Saúde: Centro Hospitalar Universitário de São João (Porto)
    Período de Internamento: Dezembro 2020 – Janeiro 2021 (10 dias)
    Cuidados Intensivos: SIM
    Desfecho: ALTA

    Caso 27 – Miocardite
    Mulher – 18 anos
    Unidade de Saúde: Centro Hospitalar do Médio Tejo
    Período de Internamento: Janeiro 2021 (50 dias)
    Cuidados Intensivos: SIM
    Desfecho: ALTA

    Caso 28 – Miocardite
    Mulher – 20 anos
    Unidade de Saúde: Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central
    Período de Internamento: Novembro – Dezembro 2020 (12 dias)
    Cuidados Intensivos: NÃO
    Desfecho: ALTA

    Caso 29 – Miocardite
    Homem – 22 anos
    Unidade de Saúde: Centro Hospitalar Universitário do Algarve
    Período de Internamento: Outubro 2020 (20 dias)
    Cuidados Intensivos: SIM
    Desfecho: ALTA

    Caso 30 – MISC-C
    Mulher – 22 anos
    Unidade de Saúde: Centro Hospitalar Tondela-Viseu
    Período de Internamento: Fevereiro 2021 (11 dias)
    Cuidados Intensivos: SIM
    Desfecho: ALTA

    Caso 31 – Miocardite
    Mulher – 23 anos
    Unidade de Saúde: Hospital do Espírito Santo (Évora)
    Período de Internamento: Abril 2020 (3 dias)
    Cuidados Intensivos: NÃO
    Desfecho: ALTA

    Caso 32 – MISC-C
    Homem – 24 anos
    Unidade de Saúde: Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa
    Período de Internamento: Janeiro 2021 (13 dias)
    Cuidados Intensivos: NÃO
    Desfecho: ALTA

    Caso 33 – Miocardite
    Homem – 26 anos
    Unidade de Saúde: Hospital Beatriz Ângelo (Loures)
    Período de Internamento: Outubro 2020 (6 dias)
    Cuidados Intensivos: NÃO
    Desfecho: ALTA

    Caso 34 – Miocardite
    Homem – 31 anos
    Unidade de Saúde: Hospital Beatriz Ângelo (Loures)
    Período de Internamento: Janeiro 2021 (13 dias)
    Cuidados Intensivos: NÃO
    Desfecho: ALTA

    Caso 35 – Miocardite
    Homem – 31 anos
    Unidade de Saúde: Hospital Beatriz Ângelo (Loures)
    Período de Internamento: Novembro 2020 (15 dias)
    Cuidados Intensivos: NÃO
    Desfecho: ALTA

    Caso 36 – MISC-C
    Mulher – 34 anos
    Unidade de Saúde: Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra
    Período de Internamento: Dezembro 2020 – Janeiro 2021 (13 dias)
    Cuidados Intensivos: SIM
    Desfecho: MORTE

    Caso 37 – Miocardite
    Homem – 37 anos
    Unidade de Saúde: Centro Hospitalar Universitário de São João (Porto)
    Período de Internamento: Junho – Julho 2020 (45 dias)
    Cuidados Intensivos: SIM
    Desfecho: ALTA

    Caso 38 – Miocardite
    Homem – 42 anos
    Unidade de Saúde: Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Norte
    Período de Internamento: Junho – Agosto 2020 (72 dias)
    Cuidados Intensivos: SIM
    Desfecho: ALTA

    Caso 39 – MISC-C
    Mulher – 42 anos
    Unidade de Saúde: Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra
    Período de Internamento: Dezembro 2020 (9 dias)
    Cuidados Intensivos: NÃO
    Desfecho: ALTA

    Caso 40 – Miocardite
    Homem – 43 anos
    Unidade de Saúde: Hospital Beatriz Ângelo (Loures)
    Período de Internamento: Março 2021 (19 dias)
    Cuidados Intensivos: NÃO
    Desfecho: ALTA

    Caso 41 – Miocardite
    Homem – 44 anos
    Unidade de Saúde: Centro Hospitalar do Oeste
    Período de Internamento: Fevereiro 2021 (7 dias)
    Cuidados Intensivos: NÃO
    Desfecho: ALTA

    Caso 42 – Miocardite
    Homem – 47 anos
    Unidade de Saúde: Hospital Beatriz Ângelo (Loures)
    Período de Internamento: Fevereiro – Março 2021 (27 dias)
    Cuidados Intensivos: NÃO
    Desfecho: ALTA

    Caso 43 – Miocardite
    Mulher – 47 anos
    Unidade de Saúde: Centro Hospitalar Universitário do Algarve
    Período de Internamento: Janeiro – Fevereiro 2021 (11 dias)
    Cuidados Intensivos: SIM
    Desfecho: ALTA

    Caso 44 – Miocardite
    Homem – 48 anos
    Unidade de Saúde: Hospital de Vila Franca de Xira
    Período de Internamento: Janeiro – Março 2021 (39 dias)
    Cuidados Intensivos: SIM
    Desfecho: ALTA

    Caso 45 – Miocardite
    Mulher- 49 anos
    Unidade de Saúde: Centro Hospitalar do Baixo Vouga
    Período de Internamento: Abril 2021 (8 dias)
    Cuidados Intensivos: NÃO
    Desfecho: ALTA

    Caso 46 – MISC-C
    Homem – 50 anos
    Unidade de Saúde: Unidade Local de Saúde de Matosinhos
    Período de Internamento: Dezembro 2020 (9 dias)
    Cuidados Intensivos: SIM
    Desfecho: ALTA

    Caso 47 – MISC-C
    Homem – 51 anos
    Unidade de Saúde: Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra
    Período de Internamento: Janeiro 2021 (19 dias)
    Cuidados Intensivos: NÃO
    Desfecho: MORTE

    Caso 48 – MISC-C
    Homem – 52 anos
    Unidade de Saúde: Centro Hospitalar de Setúbal
    Período de Internamento: Novembro – Dezembro 2020 (33 dias)
    Cuidados Intensivos: SIM
    Desfecho: ALTA

    Caso 49 – Miocardite
    Homem – 53 anos
    Unidade de Saúde: Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central
    Período de Internamento: Dezembro 2020 – Janeiro 2021 (14 dias)
    Cuidados Intensivos: SIM
    Desfecho: MORTE

    Caso 50 – Miocardite
    Homem – 54 anos
    Unidade de Saúde: Centro Hospitalar Universitário da Cova da Beira
    Período de Internamento: Janeiro – Fevereiro 2021 (21 dias)
    Cuidados Intensivos: SIM
    Desfecho: ALTA

    Caso 51 – Miocardite
    Homem – 55 anos
    Unidade de Saúde: HPDFF
    Período de Internamento: Janeiro 2021 (8 dias)
    Cuidados Intensivos: SIM
    Desfecho: ALTA

    Caso 52 – MISC-C
    Homem – 55 anos
    Unidade de Saúde: Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra
    Período de Internamento: Janeiro – Fevereiro 2021 (23 dias)
    Cuidados Intensivos: SIM
    Desfecho: MORTE

    Caso 53 – MISC-C
    Homem – 55 anos
    Unidade de Saúde: Centro Hospitalar Universitário do Porto
    Período de Internamento: Dezembro 2020 (14 dias)
    Cuidados Intensivos: SIM
    Desfecho: MORTE

    Caso 54 – MISC-C
    Mulher – 56 anos
    Unidade de Saúde: Centro Hospitalar do Médio Tejo
    Período de Internamento: Novembro – Dezembro 2020 (35 dias)
    Cuidados Intensivos: SIM
    Desfecho: ALTA

    Caso 55 – Miocardite
    Homem – 57 anos
    Unidade de Saúde: Centro Hospitalar Universitário do Algarve
    Período de Internamento: Julho – Agosto 2020 (12 dias)
    Cuidados Intensivos: SIM
    Desfecho: ALTA

    Caso 56 – Miocardite
    Homem – 58 anos
    Unidade de Saúde: Hospital Beatriz Ângelo (Loures)
    Período de Internamento: Janeiro – Fevereiro 2020 (12 dias)
    Cuidados Intensivos: NÃO
    Desfecho: ALTA

    Caso 57 – Miocardite
    Homem – 58 anos
    Unidade de Saúde: Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra
    Período de Internamento: Fevereiro 2021 (6 dias)
    Cuidados Intensivos: NÃO
    Desfecho: ALTA

    Caso 58 – MISC-C
    Homem – 60 anos
    Unidade de Saúde: Centro Hospitalar de Leiria
    Período de Internamento: Janeiro – Fevereiro 2021 (10 dias)
    Cuidados Intensivos: NÃO
    Desfecho: ALTA

    Caso 59 – Miocardite e MISC-C
    Homem – 62 anos
    Unidade de Saúde: Hospital de Cascais Dr. José de Almeida
    Período de Internamento: Dezembro 2020 – Janeiro 2021 (24 dias)
    Cuidados Intensivos: NÃO
    Desfecho: MORTE

    Caso 60 – Miocardite
    Homem – 62 anos
    Unidade de Saúde: Centro Hospitalar do Médio Tejo
    Período de Internamento: Dezembro 2020 – Janeiro 2021 (23 dias)
    Cuidados Intensivos: SIM
    Desfecho: MORTE

    Caso 61 – Miocardite
    Homem – 62 anos
    Unidade de Saúde: Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central
    Período de Internamento: Dezembro 2020 – Janeiro 2021 (13 dias)
    Cuidados Intensivos: SIM
    Desfecho: MORTE

    Caso 62 – MISC-C
    Mulher – 62 anos
    Unidade de Saúde: Centro Hospitalar Universitário da Cova da Beira
    Período de Internamento: Janeiro – Março 2021 (46 dias)
    Cuidados Intensivos: SIM
    Desfecho: ALTA

    Caso 63 – MISC-C
    Homem – 62 anos
    Unidade de Saúde: Unidade Local de Saúde do Baixo Alentejo
    Período de Internamento: Janeiro 2021 (5 dias)
    Cuidados Intensivos: SIM
    Desfecho: MORTE

    Caso 64 – Miocardite
    Homem – 63 anos
    Unidade de Saúde: Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra
    Período de Internamento: Dezembro 2020 (8 dias)
    Cuidados Intensivos: NÃO
    Desfecho: ALTA

    Caso 65 – Miocardite
    Mulher – 64 anos
    Unidade de Saúde: Hospital Beatriz Ângelo (Loures)
    Período de Internamento: Novembro – Dezembro 2020 (11 dias)
    Cuidados Intensivos: SIM
    Desfecho: ALTA

    Caso 66 – Miocardite
    Homem – 65 anos
    Unidade de Saúde: Hospital do Espírito Santo (Évora)
    Período de Internamento: Janeiro 2021 (3 dias)
    Cuidados Intensivos: SIM
    Desfecho: MORTE

    Caso 67 – MISC-C
    Homem – 65 anos
    Unidade de Saúde: Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra
    Período de Internamento: Fevereiro 2021 (9 dias)
    Cuidados Intensivos: SIM
    Desfecho: MORTE

    Caso 68 – Miocardite
    Homem – 66 anos
    Unidade de Saúde: Unidade Local de Saúde do Alto Minho
    Período de Internamento: Fevereiro 2021 (5 dias)
    Cuidados Intensivos: NÃO
    Desfecho: ALTA

    Caso 69 – MISC-C
    Homem – 66 anos
    Unidade de Saúde: Hospital de Santo Espírito da Ilha Terceira
    Período de Internamento: Novembro 2020 – Janeiro 2021 (49 dias)
    Cuidados Intensivos: SIM
    Desfecho: MORTE

    Caso 70 – Miocardite
    Homem – 67 anos
    Unidade de Saúde: Hospital Garcia de Orta (Almada)
    Período de Internamento: Dezembro 2020 – Janeiro 2021 (26 dias)
    Cuidados Intensivos: NÃO
    Desfecho: ALTA

    Caso 71 – Miocardite
    Homem – 67 anos
    Unidade de Saúde: Hospital Beatriz Ângelo (Loures)
    Período de Internamento: Janeiro – Fevereiro 2021 (8 dias)
    Cuidados Intensivos: NÃO
    Desfecho: ALTA

    Caso 72 – MISC-C
    Homem – 67 anos
    Unidade de Saúde: Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra
    Período de Internamento: Fevereiro 2021 (12 dias)
    Cuidados Intensivos: SIM
    Desfecho: MORTE

    Caso 73 – MISC-C
    Homem – 67 anos
    Unidade de Saúde: Centro Hospitalar Universitário do Algarve
    Período de Internamento: Janeiro 2021 (4 dias)
    Cuidados Intensivos: SIM
    Desfecho: MORTE

    Caso 74 – MISC-C
    Homem – 67 anos
    Unidade de Saúde: Centro Hospitalar Tondela-Viseu
    Período de Internamento: Novembro – Dezembro 2020 (7 dias)
    Cuidados Intensivos: NÃO
    Desfecho: MORTE

    Caso 75 – MISC-C
    Homem – 67 anos
    Unidade de Saúde: Centro Hospitalar Tondela-Viseu
    Período de Internamento: Fevereiro – Março 2021 (15 dias)
    Cuidados Intensivos: SIM
    Desfecho: MORTE

    Caso 76 – MISC-C
    Mulher – 67 anos
    Unidade de Saúde: Centro Hospitalar do Baixo Vouga
    Período de Internamento: Fevereiro 2021 (20 dias)
    Cuidados Intensivos: NÃO
    Desfecho: ALTA

    Caso 77 – Miocardite
    Mulher – 68 anos
    Unidade de Saúde: Centro Hospitalar do Oeste
    Período de Internamento: Janeiro 2021 (18 dias)
    Cuidados Intensivos: NÃO
    Desfecho: ALTA

    Caso 78 – MISC-C
    Mulher – 68 anos
    Unidade de Saúde: Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro
    Período de Internamento: Dezembro 2020 (3 dias)
    Cuidados Intensivos: NÃO
    Desfecho: MORTE

    Caso 79 – MISC-C
    Homem – 68 anos
    Unidade de Saúde: Centro Hospitalar Tondela-Viseu
    Período de Internamento: Janeiro – Fevereiro 2021 (16 dias)
    Cuidados Intensivos: SIM
    Desfecho: MORTE

    Caso 80 – Miocardite
    Homem – 69 anos
    Unidade de Saúde: Hospital Beatriz Ângelo (Loures)
    Período de Internamento: Janeiro 2021 (12 dias)
    Cuidados Intensivos: NÃO
    Desfecho: ALTA

    Caso 81 – MISC-C
    Homem – 69 anos
    Unidade de Saúde: Centro Hospitalar Universitário do Algarve
    Período de Internamento: Janeiro 2021 (5 dias)
    Cuidados Intensivos: SIM
    Desfecho: MORTE

    Caso 82 – MISC-C
    Homem – 69 anos
    Unidade de Saúde: Centro Hospitalar Tondela-Viseu
    Período de Internamento: Fevereiro 2021 (5 dias)
    Cuidados Intensivos: NÃO
    Desfecho: MORTE

    Caso 83 – Miocardite
    Homem – 70 anos
    Unidade de Saúde: Hospital Professor Dr. Fernando Fonseca (Amadora-Sintra)
    Período de Internamento: Janeiro 2021 (15 dias)
    Cuidados Intensivos: NÃO
    Desfecho: MORTE

    Caso 84 – Miocardite
    Mulher – 70 anos
    Unidade de Saúde: Centro Hospitalar Universitário da Cova da Beira
    Período de Internamento: Janeiro – Fevereiro 2021 (24 dias)
    Cuidados Intensivos: SIM
    Desfecho: ALTA

    Caso 85 – MISC-C
    Homem – 70 anos
    Unidade de Saúde: Unidade Local de Saúde de Matosinhos
    Período de Internamento: Outubro – Novembro 2020 (29 dias)
    Cuidados Intensivos: SIM
    Desfecho: ALTA

    Caso 86 – MISC-C
    Homem – 70 anos
    Unidade de Saúde: Unidade Local de Saúde de Matosinhos
    Período de Internamento: Janeiro – Fevereiro 2021 (15 dias)
    Cuidados Intensivos: SIM
    Desfecho: MORTE

    Caso 87 – Miocardite
    Homem – 71 anos
    Unidade de Saúde: Centro Hospitalar Universitário do Algarve
    Período de Internamento: Janeiro 2021 (4 dias)
    Cuidados Intensivos: NÃO
    Desfecho: ALTA

    Caso 88 – MISC-C
    Homem – 71 anos
    Unidade de Saúde: Centro Hospitalar do Oeste
    Período de Internamento: Janeiro – Fevereiro 2021 (30 dias)
    Cuidados Intensivos: NÃO
    Desfecho: ALTA

    Caso 89 – Miocardite
    Mulher – 73 anos
    Unidade de Saúde: Centro Hospitalar do Médio Tejo
    Período de Internamento: Outubro 2020 (13 dias)
    Cuidados Intensivos: NÃO
    Desfecho: ALTA

    Caso 90 – Miocardite
    Homem – 73 anos
    Unidade de Saúde: Unidade Local de Saúde da Guarda
    Período de Internamento: Novembro – Dezembro 2020 (37 dias)
    Cuidados Intensivos: SIM
    Desfecho: ALTA

    Caso 91 – Miocardite
    Mulher – 73 anos
    Unidade de Saúde: Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central
    Período de Internamento: Maio – Junho 2020 (36 dias)
    Cuidados Intensivos: SIM
    Desfecho: ALTA

    Caso 92 – MISC-C
    Mulher – 73 anos
    Unidade de Saúde: Centro Hospitalar de Leiria
    Período de Internamento: Janeiro – Março 2021 (38 dias)
    Cuidados Intensivos: NÃO
    Desfecho: ALTA

    Caso 93 – MISC-C
    Mulher – 73 anos
    Unidade de Saúde: Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental
    Período de Internamento: Dezembro 2020 – Janeiro 2021 (48 dias)
    Cuidados Intensivos: SIM
    Desfecho: ALTA

    Caso 94 – Miocardite
    Homem – 74 anos
    Unidade de Saúde: Hospital Beatriz Ângelo (Loures)
    Período de Internamento: Janeiro 2021 (20 dias)
    Cuidados Intensivos: NÃO
    Desfecho: ALTA

    Caso 95 – Miocardite
    Homem – 74 anos
    Unidade de Saúde: Unidade Local de Saúde de Matosinhos
    Período de Internamento: Dezembro 2020 – Janeiro 2021 (12 dias)
    Cuidados Intensivos: NÃO
    Desfecho: ALTA

    Caso 96 – MISC-C
    Mulher – 74 anos
    Unidade de Saúde: Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra
    Período de Internamento: Janeiro 2021 (3 dias)
    Cuidados Intensivos: SIM
    Desfecho: MORTE

    Caso 97 – Miocardite
    Homem – 75 anos
    Unidade de Saúde: Hospital Beatriz Ângelo (Loures)
    Período de Internamento: Janeiro – Fevereiro 2021 (6 dias)
    Cuidados Intensivos: NÃO
    Desfecho: MORTE

    Caso 98 – Miocardite
    Homem – 75 anos
    Unidade de Saúde: Centro Hospitalar Universitário de São João (Porto)
    Período de Internamento: Dezembro 2020 – Fevereiro 2021 (50 dias)
    Cuidados Intensivos: SIM
    Desfecho: ALTA

    Caso 99 – Miocardite
    Mulher – 75 anos
    Unidade de Saúde: Centro Hospitalar Universitário do Algarve
    Período de Internamento: Janeiro – Fevereiro 2021 (15 dias)
    Cuidados Intensivos: NÃO
    Desfecho: ALTA

    Caso 100 – MISC-C
    Mulher – 75 anos
    Unidade de Saúde: Centro Hospitalar de Leiria
    Período de Internamento: Janeiro – Fevereiro 2021 (5 dias)
    Cuidados Intensivos: NÃO
    Desfecho: ALTA

    Caso 101 – Miocardite
    Mulher – 77 anos
    Unidade de Saúde: Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental
    Período de Internamento: Janeiro – Fevereiro 2021 (16 dias)
    Cuidados Intensivos: NÃO
    Desfecho: MORTE

    Caso 102 – Miocardite
    N/A – 77 anos
    Unidade de Saúde: Unidade Local de Saúde do Alto Minho
    Período de Internamento: Abril 2020 (16 dias)
    Cuidados Intensivos: NÃO
    Desfecho: ALTA

    Caso 103 – Miocardite
    Mulher – 77 anos
    Unidade de Saúde: Hospital Beatriz Ângelo (Loures)
    Período de Internamento: Maio – Junho 2020 (13 dias)
    Cuidados Intensivos: NÃO
    Desfecho: ALTA

    Caso 104 – Miocardite
    Mulher – 77 anos
    Unidade de Saúde: Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central
    Período de Internamento: Novembro – Dezembro 2020 (9 dias)
    Cuidados Intensivos: SIM
    Desfecho: MORTE

    Caso 105 – Miocardite
    Homem – 77 anos
    Unidade de Saúde: Hospital Beatriz Ângelo (Loures)
    Período de Internamento: Janeiro – Fevereiro 2021 (9 dias)
    Cuidados Intensivos: NÃO
    Desfecho: ALTA

    Caso 106 – Miocardite
    Mulher – 77 anos
    Unidade de Saúde: Centro Hospitalar Póvoa de Varzim-Vila do Conde
    Período de Internamento: Novembro 2020 (7 dias)
    Cuidados Intensivos: NÃO
    Desfecho: MORTE

    Caso 107 – MISC-C
    Mulher – 77 anos
    Unidade de Saúde: Centro Hospitalar Universitário do Algarve
    Período de Internamento: Janeiro 2021 (2 dias)
    Cuidados Intensivos: NÃO
    Desfecho: MORTE

    Caso 108 – MISC-C
    Homem – 77 anos
    Unidade de Saúde: Unidade Local de Saúde de Matosinhos
    Período de Internamento: Abril 2021 (2 dias)
    Cuidados Intensivos: SIM
    Desfecho: MORTE

    Caso 109 – MISC-C
    Homem – 77 anos
    Unidade de Saúde: Hospital de Santo Espírito da Ilha Terceira
    Período de Internamento: Novembro 2020 – Janeiro 2021 (61 dias)
    Cuidados Intensivos: SIM
    Desfecho: MORTE

    Caso 110 – MISC-C
    Mulher – 77 anos
    Unidade de Saúde: Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro
    Período de Internamento: Dezembro 2020 (3 dias)
    Cuidados Intensivos: NÃO
    Desfecho: MORTE

    Caso 111 – Miocardite
    Homem – 78 anos
    Unidade de Saúde: Hospital de Vila Franca de Xira
    Período de Internamento: Fevereiro 2021 (0 dias)
    Cuidados Intensivos: NÃO
    Desfecho: ALTA

    Caso 112 – Miocardite
    Homem – 78 anos
    Unidade de Saúde: Centro Hospitalar Universitário do Algarve
    Período de Internamento: Dezembro 2020 (11 dias)
    Cuidados Intensivos: NÃO
    Desfecho: ALTA

    Caso 113 – MISC-C
    Mulher – 78 anos
    Unidade de Saúde: Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro
    Período de Internamento: Janeiro 2021 (6 dias)
    Cuidados Intensivos: NÃO
    Desfecho: MORTE

    Caso 114 – MISC-C
    Homem – 78 anos
    Unidade de Saúde: Centro Hospitalar Tondela-Viseu
    Período de Internamento: Dezembro 2020 (22 dias)
    Cuidados Intensivos: SIM
    Desfecho: MORTE

    Caso 115 – Miocardite
    Homem – 79 anos
    Unidade de Saúde: Centro Hospitalar do Médio Tejo
    Período de Internamento: Janeiro – Fevereiro 2021 (13 dias)
    Cuidados Intensivos: NÃO
    Desfecho: MORTE

    Caso 116 – Miocardite
    Homem – 79 anos
    Unidade de Saúde: Centro Hospitalar Universitário do Algarve
    Período de Internamento: Dezembro 2020 – Janeiro 2021 (17 dias)
    Cuidados Intensivos: NÃO
    Desfecho: ALTA

    Caso 117 – Miocardite
    Homem – 79 anos
    Unidade de Saúde: Centro Hospitalar do Baixo Vouga
    Período de Internamento: Março 2020 (5 dias)
    Cuidados Intensivos: NÃO
    Desfecho: MORTE

    Caso 118 – Miocardite
    Homem – 79 anos
    Unidade de Saúde: Hospital de Vila Franca de Xira
    Período de Internamento: Fevereiro 2021 (1 dia)
    Cuidados Intensivos: NÃO
    Desfecho: MORTE

    Caso 119 – Miocardite
    Homem – 79 anos
    Unidade de Saúde: Unidade Local de Saúde do Norte Alentejano
    Período de Internamento: Abril – Maio 2020 (6 dias)
    Cuidados Intensivos: NÃO
    Desfecho: ALTA

    Caso 120 – Miocardite
    Homem – 79 anos
    Unidade de Saúde: Hospital Beatriz Ângelo (Loures)
    Período de Internamento: Janeiro – Fevereiro 2021 (11 dias)
    Cuidados Intensivos: NÃO
    Desfecho: ALTA

    Caso 121 – MISC-C
    Mulher – 79 anos
    Unidade de Saúde: Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra
    Período de Internamento: Janeiro – Fevereiro 2021 (23 dias)
    Cuidados Intensivos: NÃO
    Desfecho: ALTA

    Caso 122 – MISC-C
    Mulher – 80 anos
    Unidade de Saúde: Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental
    Período de Internamento: Janeiro – Fevereiro 2021 (28 dias)
    Cuidados Intensivos: SIM
    Desfecho: ALTA

    Caso 123 – Miocardite
    Homem – 81 anos
    Unidade de Saúde: Hospital Garcia de Orta (Almada)
    Período de Internamento: Novembro 2020 (3 dias)
    Cuidados Intensivos: NÃO
    Desfecho: MORTE

    Caso 124 – Miocardite
    Mulher – 81 anos
    Unidade de Saúde: Centro Hospitalar Universitário do Algarve
    Período de Internamento: Janeiro 2021 (4 dias)
    Cuidados Intensivos: NÃO
    Desfecho: MORTE

    Caso 125 – Miocardite
    Mulher – 81 anos
    Unidade de Saúde: Centro Hospitalar Universitário do Algarve
    Período de Internamento: Janeiro – Fevereiro 2021 (dias)
    Cuidados Intensivos: NÃO
    Desfecho: MORTE

    Caso 126 – MISC-C
    Homem – 81 anos
    Unidade de Saúde: Unidade Local de Saúde de Matosinhos
    Período de Internamento: Fevereiro 2021 (6 dias)
    Cuidados Intensivos: NÃO
    Desfecho: ALTA

    Caso 127 – MISC-C
    Homem – 81 anos
    Unidade de Saúde: Centro Hospitalar Tondela-Viseu
    Período de Internamento: Dezembro 2020 – Janeiro 2021 (9 dias)
    Cuidados Intensivos: SIM
    Desfecho: MORTE

    Caso 128 – Miocardite
    Homem – 82 anos
    Unidade de Saúde: Unidade Local de Saúde de Matosinhos
    Período de Internamento: Novembro – Dezembro 2020 (13 dias)
    Cuidados Intensivos: NÃO
    Desfecho: MORTE

    Caso 129 – MISC-C
    Mulher – 82 anos
    Unidade de Saúde: Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro
    Período de Internamento: Dezembro 2020 (11 dias)
    Cuidados Intensivos: NÃO
    Desfecho: MORTE

    Caso 130 – MISC-C
    Mulher – 82 anos
    Unidade de Saúde: Centro Hospitalar do Baixo Vouga
    Período de Internamento: Março 2021 (12 dias)
    Cuidados Intensivos: NÃO
    Desfecho: MORTE

    Caso 131 – MISC-C
    Mulher – 82 anos
    Unidade de Saúde: Centro Hospitalar Universitário da Cova da Beira
    Período de Internamento: Janeiro – Fevereiro 2021 (18 dias)
    Cuidados Intensivos: NÃO
    Desfecho: ALTA

    Caso 132 – Miocardite
    Homem – 83 anos
    Unidade de Saúde: Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra
    Período de Internamento: Fevereiro 2021 (16 dias)
    Cuidados Intensivos: NÃO
    Desfecho: MORTE

    Caso 133 – MISC-C
    Homem – 83 anos
    Unidade de Saúde: Centro Hospitalar Universitário da Cova da Beira
    Período de Internamento: Novembro – Dezembro 2020 (17 dias)
    Cuidados Intensivos: NÃO
    Desfecho: MORTE

    Caso 134 – MISC-C
    Mulher – 83 anos
    Unidade de Saúde: Centro Hospitalar Universitário do Algarve
    Período de Internamento: Dezembro 2020 – Fevereiro 2021 (46 dias)
    Cuidados Intensivos: NÃO
    Desfecho: ALTA

    Caso 135 – MISC-C
    Mulher – 84 anos
    Unidade de Saúde: Centro Hospitalar Universitário do Algarve
    Período de Internamento: Janeiro – Março 2021 (54 dias)
    Cuidados Intensivos: NÃO
    Desfecho: ALTA

    Caso 136 – Miocardite
    Homem – 85 anos
    Unidade de Saúde: Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Norte
    Período de Internamento: Março 2020 (1 dia)
    Cuidados Intensivos: SIM
    Desfecho: MORTE

    Caso 137 – Miocardite
    Homem – 86 anos
    Unidade de Saúde: Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra
    Período de Internamento: Dezembro 2020 (14 dias)
    Cuidados Intensivos: NÃO
    Desfecho: ALTA

    Caso 138 – MISC-C
    Homem – 86 anos
    Unidade de Saúde: Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro
    Período de Internamento: Dezembro 2020 (2 dias)
    Cuidados Intensivos: NÃO
    Desfecho: MORTE

    Caso 139 – Miocardite
    Homem – 88 anos
    Unidade de Saúde: Centro Hospitalar do Baixo Vouga
    Período de Internamento: Março – Abril 2021 (10 dias)
    Cuidados Intensivos: NÃO
    Desfecho: ALTA

    Caso 140 – MISC-C
    Mulher – 88 anos
    Unidade de Saúde: Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro
    Período de Internamento: Novembro 2020 – Fevereiro 2021 (69 dias)
    Cuidados Intensivos: NÃO
    Desfecho: MORTE

    Caso 141 – MISC-C
    Mulher – 88 anos
    Unidade de Saúde: Centro Hospitalar Universitário da Cova da Beira
    Período de Internamento: Dezembro 2020 (4 dias)
    Cuidados Intensivos: NÃO
    Desfecho: MORTE

    Caso 142 – Miocardite
    Homem – 89 anos
    Unidade de Saúde: Centro Hospitalar Póvoa de Varzim-Vila do Conde
    Período de Internamento: Dezembro 2020 – Janeiro 2021 (15 dias)
    Cuidados Intensivos: NÃO
    Desfecho: MORTE

    Caso 143 – Miocardite
    Mulher – 89 anos
    Unidade de Saúde: Centro Hospitalar Universitário do Algarve
    Período de Internamento: Dezembro 2020 (10 dias)
    Cuidados Intensivos: NÃO
    Desfecho: ALTA

    Caso 144 – MISC-C
    Mulher – 89 anos
    Unidade de Saúde: Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro
    Período de Internamento: Dezembro 2020 (7 dias)
    Cuidados Intensivos: NÃO
    Desfecho: MORTE

    Caso 145 – MISC-C
    Homem – 89 anos
    Unidade de Saúde: Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro
    Período de Internamento: Novembro – Dezembro 2020 (19 dias)
    Cuidados Intensivos: NÃO
    Desfecho: MORTE

    Caso 146 – Miocardite
    Mulher – 90 anos
    Unidade de Saúde: Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central
    Período de Internamento: Fevereiro 2021 (1 dia)
    Cuidados Intensivos: NÃO
    Desfecho: MORTE

    Caso 147 – MISC-C
    Mulher – 90 anos
    Unidade de Saúde: Centro Hospitalar Tondela-Viseu
    Período de Internamento: Outubro – Novembro 2020 (26 dias)
    Cuidados Intensivos: NÃO
    Desfecho: MORTE

    Caso 148 – MISC-C
    Mulher – 90 anos
    Unidade de Saúde: Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro
    Período de Internamento: Dezembro 2020 (1 dia)
    Cuidados Intensivos: NÃO
    Desfecho: MORTE

    Caso 149 – Miocardite
    Mulher – 91 anos
    Unidade de Saúde: Unidade Local de Saúde de Matosinhos
    Período de Internamento: Abril 2020 (5 dias)
    Cuidados Intensivos: NÃO
    Desfecho: MORTE

    Caso 150 – MISC-C
    Mulher – 91 anos
    Unidade de Saúde: Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro
    Período de Internamento: Dezembro 2020 (13 dias)
    Cuidados Intensivos: NÃO
    Desfecho: MORTE

    Caso 151 – MISC-C
    Mulher – 92 anos
    Unidade de Saúde: Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro
    Período de Internamento: Janeiro 2021 (5 dias)
    Cuidados Intensivos: NÃO
    Desfecho: ALTA

    Caso 152 – Miocardite
    Mulher – 93 anos
    Unidade de Saúde: Centro Hospitalar do Médio Tejo
    Período de Internamento: Agosto 2020 (4 dias)
    Cuidados Intensivos: NÃO
    Desfecho: MORTE

    Caso 153 – Miocardite
    Mulher – 93 anos (99 dias)
    Unidade de Saúde: Hospital Beatriz Ângelo (Loures)
    Período de Internamento: Março – Junho 2020 (
    Cuidados Intensivos: NÃO
    Desfecho: ALTA

    Caso 154 – Miocardite
    Mulher – 93 anos
    Unidade de Saúde: Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central
    Período de Internamento: Dezembro 2020 (13 dias)
    Cuidados Intensivos: NÃO
    Desfecho: ALTA

    Caso 155 – MISC-C
    Homem – 93 anos
    Unidade de Saúde: Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro
    Período de Internamento: Dezembro 2020 (18 dias)
    Cuidados Intensivos: NÃO
    Desfecho: MORTE

    Caso 156 – Miocardite
    Mulher – 94 anos
    Unidade de Saúde: Unidade Local de Saúde de Matosinhos
    Período de Internamento: Janeiro – Fevereiro 2021 (11 dias)
    Cuidados Intensivos: NÃO
    Desfecho: ALTA

    Caso 157 – MISC-C
    Mulher – 94 anos
    Unidade de Saúde: Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro
    Período de Internamento: Janeiro 2021 (6 dias)
    Cuidados Intensivos: NÃO
    Desfecho: MORTE

    Caso 158 – Miocardite
    Homem – 95 anos
    Unidade de Saúde: Unidade Local de Saúde de Castelo Branco
    Período de Internamento: Janeiro 2021 (4 dias)
    Cuidados Intensivos: NÃO
    Desfecho: MORTE

    Caso 159 – MISC-C
    Homem – 95 anos
    Unidade de Saúde: Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro
    Período de Internamento: Dezembro 2020 (5 dias)
    Cuidados Intensivos: NÃO
    Desfecho: MORTE

    Caso 160 – Miocardite
    Homem – 97 anos
    Unidade de Saúde: Centro Hospitalar Universitário do Algarve
    Período de Internamento: Janeiro – Fevereiro 2021 (9 dias)
    Cuidados Intensivos: NÃO
    Desfecho: MORTE

    Caso 161 – MISC-C
    Homem – 98 anos
    Unidade de Saúde: Centro Hospitalar Tondela-Viseu
    Período de Internamento: Janeiro 2021 (12 dias)
    Cuidados Intensivos: NÃO
    Desfecho: MORTE

    Caso 162 – MISC-C
    Homem – 99 anos
    Unidade de Saúde: Hospital de Braga
    Período de Internamento: Dezembro 2020 (7 dias)
    Cuidados Intensivos: NÃO
    Desfecho: MORTE

  • Os ofendidos de direita

    Os ofendidos de direita


    Boa parte desta campanha eleitoral joga-se no “pós-jogo”. Explico. Por cada vira que António Costa dança no Minho, por cada três minutos de conversas de mercado de Rui Rio, ou por cada declaração de Ventura sobre o RSI, discute-se uma hora entre os comentadores de serviço nos quatro canais noticiosos.

    A dinâmica imposta à campanha pelas televisões transforma-se em entretenimento de horário nobre. Os líderes partidários fazem declarações de segundos e os comentadores enquadram-nas durante horas. Num país onde adultos conseguem discutir dias a fio a vida de Jardel e Bruno de Carvalho numa casa na Venda do Pinheiro, ainda há 50 000 almas que, por exemplo, assistem à CNN todos os dias (cerca de 2,2% de share). Se somarmos aos que se espalham pelos restantes canais, podemos facilmente assumir que mais de 100 000 pessoas, diariamente, vão formando opinião com o que por ali ouvem.

    E é aqui que a batalha me parece incrivelmente desigual. Os comentadores afectos à direita estão em larguíssima maioria. Ao fim de 12h só consegui contar 5 de esquerda, entre todos os canais. 5,5 se pensar em Pacheco Pereira, uma espécie de estrumpfe chateado dentro da sua própria casa. Honestamente não encontro uma explicação para isto, mas compreendo que a influência exercida não tem contraditório.

    Ontem, na CNN, depois de António Costa ter sido entrevistado, quatro comentadores criticaram a posição do atual primeiro-ministro. Ou porque repetia o discurso, ou porque não esclarecia as alianças, ou porque se associava novamente a PCP e BE. Já Rui Rio continuava muito bem e a presença de Luís Montenegro, ex-opositor, mostrava unidade no partido. Quando o PSD ultrapassou por 1% estava à frente, quando o PS ficou a 4% de distância, já era empate técnico. Os intervalos de confiança aplicam-se apenas para um lado, ao que parece.

    Pedro Silva Pereira, em debate com Paulo Rangel (no mesmo programa), acusou o painel de ser escolhido a dedo para emitir aquelas opiniões. Sebastião Bugalho, ex-candidato ao parlamento nas listas do CDS e amigo de jantarada de André Ventura, ficou muito ofendido. Mafalda Anjos, diretora da Visão, também. Inês Serra Lopes, antiga diretora do Independente, jornal associado à direita, também. E Rui Calafate, que classifica Ventura como um “killer” nos debates e que vê, na gritaria, uma substituição do debate, também ficou incomodado. Em resumo, num painel onde o CDS tem mais apoio do que votos nas urnas, Pedro Silva Pereira constatou o óbvio.

    E, se alargarmos o espectro para as restantes televisões, percebemos que os opinion makers que ajudam os indecisos a deixarem de o ser, estão largamente ao serviço da direita política. Resta saber quantos votos ganharão, num dia em que a direita, à excepção do Chega, se afundou um pouco mais.

    Engenheiro de desenvolvimento na EcarX (Suécia)


    Décimo primeiro episódio da Recensão Eleitoral (26/01/2022) – Os ofendidos da direita


    N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.

  • Ligeira curva à esquerda

    Ligeira curva à esquerda


    Olhar para a tracking poll, animada com a evolução diária das intenções de voto, tornou-se o meu café da manhã. Há alguma emoção naquela corrida colorida, com margens de erro. Hoje as notícias não são boas para a direita. O PSD volta a cair e a IL dá um trambolhão assinalável. O Chega segura-se nos 6%, e apenas o CDS regista uma pequena subida, mas ainda em torno do 1%.

    O caso do CDS parece ser o de explicação mais simples. Francisco Rodrigues dos Santos tem uma missão espinhosa entre mãos, e vê o eleitorado fugir para a esquerda e para a direita. Aquela base de votantes de classe média alta que quer menos impostos, a mesma escola privada e mais seguros de saúde, foge para a IL. Já a fatia mais pobre, de visão mais reduzida da realidade, e com uma necessidade maior de sangue no imediato, corre para o Chega, uma vez que a facção Nuno Melo não venceu nas internas do partido.

    De modo que, ao bom do Francisco, sobraram os caçadores e os devotos do Colégio Militar. Não serão assim tantos.

    Já no caso de PSD e IL, a explicação pode ser mais complexa, mas eu aposto na leitura dos programas. Entre os indecisos que provocam as variações nas intenções de voto, alguém deve ter andado a ler o que, afinal, PSD e IL escreveram nos programas que apresentaram ao país.

    Ontem, por exemplo, num debate entre as cabeças de lista por PS e PSD em Coimbra, Marta Temido e Mónica Quintela, respectivamente, a segunda, entre gritos e interrupções, afirmou que o PSD não queria privatizar a saúde. Ora, se tiverem paciência de consultar o dito programa, está lá, nas páginas 104 e 105, uma mudança no financiamento do Sistema Nacional de Saúde (sistema, não serviço, note-se), passando este também por privados (certamente aumentando as PPPs existentes).

    Rui Rio, que tem estado bem na campanha, resolveu também aderir à modalidade de dar tiros nos pés, afirmando que a Justiça em Portugal se tornou muito menos efectiva desde o 25 de Abril.

    Pode parecer ao leitor um disparate comparar o sistema de justiça de uma ditadura com o de uma democracia, mas, se pensarmos bem, Rio até tem aqui estrada para andar.

    Hoje os mega-processos por corrupção demoram anos, décadas e, no caso do visado ser rico, vamos de recurso em recurso até à prescrição final.

    Já no tempo da ditadura a coisa era mais simples. A PIDE entrava nas casas a meio da noite e o acusado, antes de o ser, já estava nos calabouços da António Maria Cardoso ou a fazer sauna no Tarrafal. Não sabemos se chegava a haver Justiça, mas, em termos de velocidade de processos, eram imbatíveis.

    Imaginemos, por exemplo, todos aqueles acusados do PSD que andavam a gravitar no BPN, a dar lucros de 127% a Cavaco Silva, ou a assinar contratos para off shores em Porto Rico. Como seria o seu julgamento em 1965? Também gostava de ver…

    brown and gray wooden tables and chairs

    A queda maior da IL também pode estar relacionada com a leitura do programa. São 614 páginas e só ao fim de uma semana é que os indecisos chegaram a meio. Nomeadamente à página 308 onde se lê, cito:

    “ACESSO UNIVERSAL A ESCOLAS DE QUALIDADE E LIBERDADE DE ESCOLHA DA ESCOLA

    • Estabelecer um regime de cheque-ensino, em que as pessoas podem escolher a escola, e o Estado paga às escolas de acordo com os alunos que as frequentem. Neste modelo, a escola pública coexiste com escolas privadas e sociais que queiram aderir ao sistema, e todas passam a estar acessíveis a todos os alunos, porque todos os alunos são financiados por igual.”

    Ora, em termos de chavão está óptimo, e como slogan de campanha também me parece forte. “Escola universal para todos” é um best seller.

    Só há dois problemas. O primeiro é que é o Estado que paga a escola privada, entrando naquele conceito muito caro à direita que diz “menos Estado, a não ser na hora de receber a factura”. O segundo é que a escolha não é verdadeiramente do aluno ou dos pais. É da escola. Ou seja, o estabelecimento de ensino pode ser pago por todos, mas só escolhe alguns, como tal, tonar-se difícil estabelecer o conceito de escolha livre para todos quando há um porteiro que só deixa passar os amigos do bridge e da canasta.

    Entre o barulho das luzes e as pílulas de Viagra, começa a assentar a poeira, e as intenções de cada partido vão ficando mais límpidas. E ainda bem.

    Engenheiro de desenvolvimento na EcarX (Suécia)


    Décimo episódio da Recensão Eleitoral (25/01/2022) – Ligeira curva à esquerda


    N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.

  • Da democracia podre, ou das alergias do doutor Miguel Guimarães

    Da democracia podre, ou das alergias do doutor Miguel Guimarães


    Comecemos com um pouco de História: a Ordem dos Médicos, criada em 1938, é uma associação pública profissional. Chama-se Ordem, mas é uma associação: aliás, herdeira da Associação de Médicos Portugueses, fundada em 1898. Uma associação defende os seus sócios, em primeiro lugar, mesmo que até seja filantrópica, ou mesmo que os seus sócios tenham feito sim o Juramento de Hipócrates, e não estejam apenas a fazer o favor de nos salvarem a vida. Há muitas profissões, aliás, que nos salvam a vida.

    Por vantagens mútuas, o Estado foi concedendo a esta associação diversos direitos especiais – que passam, de forma sucinta, por regular o exercício da profissão dos médicos, quer no seu reconhecimento e formação quer na sua disciplina e deontologia. Porém, esses direitos trouxeram-lhe também deveres perante a sociedade: a Ordem dos Médicos é uma pessoa colectiva de direito público, e sendo assim, é escrutável pelos cidadãos. Pelos jornalistas. A sua acção pode e deve ser questionada, inquirida, analisada, criticada. São os “males” da democracia. E pode também, e deve, ser elogiada, quando é merecedora.

    Miguel Guimarães, bastonário da Ordem dos Médicos.

    Não está nem nunca estará em causa – e muito menos num país civilizado e com um sistema democrático – o reconhecimento do papel fundamental dos médicos – e da sua Ordem – no bem-estar da sociedade, na melhoria da qualidade de vida, no aumento da longevidade.

    Podia aqui enumerar rácios e indicadores. Se quiserem, aconselho, a título de exemplo, a leitura de um artigo do PÁGINA UM sobre a evolução de indicadores de saúde de bebés, crianças e jovens ao longo das últimas décadas. Os médicos tiveram uma quota parte fundamental nestas melhorias.

    Porém, não devemos confundir a Estrada da Beira com a beira da estrada.

    Há médicos extraordinários, outros bons, alguns sofríveis e uns poucos maus. Todos se podem encontrar, embora em proporções bem distintas: aqueles que, miraculosamente, salvam vidas, e aqueloutros que, por vezes, de forma desastrada, acidental ou negligente (espero que nenhum por intencionalidade), deixam morrer ou causam danos desnecessários.

    Estamos fartos de saber isso. Num curto espaço de tempo podemos assistir a desgraças e a milagres perpetrados por médicos. Eu que o diga. Há uns meses, um médico do Hospital de São José – que ainda, enfim, não consegui que o Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central o identificasse voluntariamente (embora eu até lhe tenha feito chegar um dos meus romances, de oferta, para o animar) – cometeu uma argolada, de má sorte que estive cinco dias com um fio-guia do cateter enrodilhado no coração. A probabilidade daquilo me suceder era de 1 em 10.000. Cinco dias depois, o dito fio acabou sacado, de forma miraculosa, sem me abrirem, por um cardiologista de intervenção do Hospital de Santa Marta. Cinco dias entre um erro e um acto extraordinário.

    Portanto, não estou aqui, agora, para avaliar nem médicos nem a prática de Medicina. Estou para avaliar pessoas. Comportamentos de cidadãos. Acções de concidadãos. Tenho esse direito como cidadão. Tenho o dever como jornalista.

    Nessa perspectiva, posso e devo olhar para o comportamento do senhor José Miguel Ribeiro de Castro Guimarães que, circunstancialmente, é presidente de uma associação pública profissional, de uma pessoa colectiva de direito público, que dá pelo nome de Ordem dos Médicos. Chamam-no bastonário – advém de bastão, o símbolo de antanho empunhado pelo líder de uma confraria.

    Página 2 do parecer da CADA destacando as afirmações da Ordem dos Médicos sobre o “comportamento” do director do PÁGINA UM

    Como tal, enfim, está ele – o senhor Miguel Guimarães, mais o seu bastão de confrade-mor– e ela – Ordem dos Médicos – sob escrutínio público, e sobretudo da imprensa, em pé de igualdade com um Governo, um Ministério, uma Secretaria de Estado, uma Direcção-Geral, um Instituto Público, uma entidade ou empresa pública, ou uma autarquia.

    Sendo assim, imaginemos, um autarca, um presidente de um instituto público, um director-geral, um secretário de Estado, um ministro, um primeiro-ministro escrever à Comissão de Acesso aos Documentos Administrativos (CADA) a acusar um jornalista, que lhe solicita documentos administrativos, de estar, “desde há vários meses, (…) a adotar um comportamento suscetível de integrar a prática de crimes para com a Ordem dos Médicos, o Bastonário (…) e alguns dos médicos seus membros”.

    Imaginam? O senhor Miguel Guimarães, sim. Tanto assim, que o escreveu, ou mandou que escrevessem por ele. Acusou um jornalista de ser criminoso. Um jornalismo de ser criminoso.

    Ora, vejamos, quais são os crimes – nem sequer alegados – que eu tenho cometido, através do PÁGINA UM, “desde há vários meses”?

    Será o crime o ter escrito o artigo “Filipe Froes tem incompatibilidades para ser consultor da Direcção-Geral da Saúde”?

    Será o crime o ter escrito o artigo “Relatora da Ordem dos Médicos que quer condenar médica por ‘negacionismo’ tem ligações a farmacêuticas”?

    Será o crime o ter escrito o artigo “Parecer admite desconhecimento dos efeitos da vacina em crianças e usa estudos não publicados nem revistos”?

    Será o crime o ter escrito o artigo “Sociedade Portuguesa de Pneumologia teve ano de ouro em receitas de farmacêuticas com 370 mil euros da Pfizer”?

    Será o crime o ter escrito vários artigos revelando dados escondidos sobre o que se passa nos hospitais portugueses e sobre o obscurantismo da directora-geral da Saúde, uma médica?

    Será o crime eu ter escrito, e fundamentado, sobre a gestão da pandemia?

    Ou será antes o crime eu andar a investigar as sociedades médicas e as suas relações perigosas – sobre as quais escrevi já o artigo “Sociedade Portuguesa de Pneumologia teve ano de ouro em receitas de farmacêuticas com 370 mil euros da Pfizer”?

    Ou será antes o crime eu andar a investigar os donativos recebidos pela Ordem dos Médicos, entre as quais a Merck, e a aplicação de mais de 1,4 milhões em donativos numa campanha (pouco transparente) denominada Todos por Quem Cuida?

    white concrete building under blue sky during daytime

    Como pode um bastonário da Ordem dos Médicos, comportar-se como um rajá, e ter a ousadia de escrever à própria CADA a garantir que se reserva “o direito de continuar o acesso à documentação” que eu lhe vier a solicitar [e que, aliás, solicitei ainda ontem à noite]?

    Como pode um bastonário da Ordem dos Médicos acusar um jornalista de pretender “instrumentalizar a Comissão de Acesso aos Documentos Administrativos para atingir os seus objectivos”? Eu? Eu, que escrevo críticas à CADA por se atrasar nos prazos de elaboração dos pareceres? Eu, que critico o carácter não vinculativo dos pareceres? Eu, que critico algum enviesamento da CADA em matérias mais sensíveis?

    Qual será, enfim, o meu crime? O crime de informar? O crime de indagar? O crime de analisar? O crime de criticar? O crime de não ser um pé de microfone? O crime de não ser um jornalista-fofinho?

    Eu confesso: seria um criminoso, certamente, como jornalista, se vivesse na China ou na Coreia do Norte, ou em outro qualquer país sem liberdade de imprensa, sem liberdade de investigar e questionar. Aí sim, nesses países, o senhor Miguel Guimarães até se alegraria de ser o meu carrasco.

    Aliás, arrisco dizer, ser esse o sonho do senhor Miguel Guimarães: encarcerar-me, silenciar-me. E nem precisa de ser bastonário na China ou na Coreia do Norte. Basta-lhe deixar a nossa democracia apodrecer um bocadinho mais. Falta pouco, senhor doutor: o senhor tem contribuído para isso, “desde há vários meses”.

    P.S. Estou em lamentável incumprimento de uma promessa, mesmo não sabendo ele que a fiz. Já passaram sete meses. Tenho mesmo de ir ao Hospital de Santa Marta deixar não um mas talvez todos os meus quatro romances ao Dr. António Fiarresga, o médico que retirou o fio-guia enrodilhado no meu coração.

  • O plano ausente e a regulação dos mercados à la Iniciativa Liberal

    O plano ausente e a regulação dos mercados à la Iniciativa Liberal


    Uma ausência de peso nos debates foram os grandiosos planos quinquenais do regime. Em todos, como sabemos, sempre está o milagre que nos livrará do subdesenvolvimento e da cauda da Europa.

    Infelizmente, aquilo que mais se tem visto, há décadas, é uma condução em direcção a essa cauda.
    Há mais de um ano, o PS – pela mão de Costa Silva, por forma a preparar o festim da anunciada bazuca – apresentava-nos outro plano, aparentemente escrito em apenas dois dias, que defendia “mais estado na Economia” – o que já temos não parece ser suficiente – e a “capitalização” (um eufemismo para designar o enterro de milhões de euros) da bancarroteira TAP.

    É pena! Tínhamos saudades da discussão de planos durante uma campanha eleitoral. Quem não se lembra do Plano Tecnológico de José Sócrates? Em 2007, foi assim anunciado: “O Plano Tecnológico é uma peça essencial da política económica… para responder de vez aos problemas estruturais que têm afectado o crescimento económico de Portugal”.

    Na prática, tratava-se de um elenco de lugares-comuns, vagas intenções, frustrações, sentimentos e aspirações. Adicionalmente, também apresentava uma enorme lista de compras. Hoje, sabemos porquê: amigos, correligionários e compadres, envolvidos na patranha divertiram-se a desperdiçar e a embolsar o nosso dinheiro e a endividar-nos até ao infinito.

    Uma das listas de compras do plano rezava assim: “Fornecer às escolas com 2.º e 3.º ciclos do ensino básico ou com ensino secundário: 310.000 computadores até 2010; 9.000 quadros interactivos por ano até 2010; 25.000 videoprojectores até 2010”.

    Nestas coisas, fica sempre a pergunta: por que não 330 mil computadores, em lugar de 310 mil? Mas os planeadores centrais nunca nos conseguem responder a estas perguntas. Organizam uma tertúlia e decidem que são 330 mil. É indiferente, o dinheiro não é deles!

    O que fica para a história deste plano tecnológico? O então primeiro-ministro perdeu uma fulgurante carreira como vendedor itinerante de computadores Magalhães, e os problemas estruturais do país foram resolvidos em definitivo… com uma terceira bancarrota! Para nossa sorte, a equipa que o ajudou a conduzir-nos à ruína, não só governou nos últimos seis anos, de mão dada com comunistas e trotskistas, como se apresenta de novo a eleições, desta vez, não com os originais, mas com as filhas, as esposas, as mulheres, os primos…

    Talvez o único partido que apresentou à discussão um “plano” nestas eleições foi a Iniciativa Liberal (IL), dado que tiveram a “coragem” de apresentar, embora com atraso, um calhamaço de 614 páginas! Através deste “plano”, para nossa surpresa, ficámos a saber que a Iniciativa “Liberal” também deseja “mais Estado e mais regulação”. Aliás, parece que não há partido que não o deseje.

    Na página 499 do calhamaço anunciam: “Assegurar que a legislação promove a estabilidade dos activos virtuais, em especial das criptomoedas (moeda digital), enquanto classe de activos, que permita a sua disseminação e transacção de forma adequada, mitigando adequadamente o risco da formação de eventuais fenómenos de bolha”.

    Ficámos a saber que vão existir uns burocratas, eleitos certamente pelos líderes da IL, que nos irão dar a conhecer o nível de preços a partir do qual se designa por “bolha”. Afinal, a livre interacção de compradores e vendedores num mercado não é suficiente, alguém nos vai informar sobre o momento em que a mesma chega. Se chegar, talvez mandem encerrar o mercado, para nossa protecção.

    Na página 502 do calhamaço temos esta pérola: “Os activos virtuais têm vindo a assumir uma importância crescente enquanto classe de activos, com destaque para as criptomoedas. Dada a elevada volatilidade e número elevado de moedas existentes, importa ter um quadro regulatório claro, assim como de tributação adequada, contribuindo assim para uma maior estabilidade para os investidores e/ou aforradores que aqui decidam alocar os seus recursos. Para além dos activos em si, importa também regular o funcionamento de bolsas (exchanges), para mitigar práticas anticoncorrenciais, como o front running”.

    gold and black round coin

    Aqui ficamos perplexos: os nossos “liberais” desejam mais tributação sobre a Economia, a que existe parece não ser suficiente, mas não só: a tributação sobre as criptomoedas irá assegurar, aparentemente, a estabilidade de preços! Ou seja, onera-se a transacção para que deixe de ter lugar. Nada como matar um mercado para assegurar a “estabilidade” de preços.

    Mas a ambição da IL não fica por aqui. Também desejam regular as bolsas de criptomoedas. Ou seja, bolsas que se encontram disseminadas pela Internet, vão agora ficar debaixo da alçada dos reguladores. Podem seguramente esperar sentados para ver isso acontecer.

    Por fim, demonstram eloquência: querem acabar com o front running, ou seja, com a prática ilegal de obtenção de informações antecipadas. Alguém elucide o escritor deste parágrafo que esta prática é hoje realizada sob os olhos de uma pletora de reguladores. Para tal, basta investigar de que forma obtêm lucros as corretoras de comissões 0%, que vendem informação sobre as instruções dos seus clientes a institucionais – uma espécie de entrega de carneiros para o sacrifício. Dificilmente irá encontrar tal prática nas bolsas de criptomoedas, pois estas não estão centralizadas; bem pelo contrário: é um mercado verdadeiramente atomizado, algo tão ambicionado pelos teóricos da concorrência perfeita que pululam pelas universidades.

    Costuma-se dizer: com amigos destes, quem precisa de inimigos? Dá vontade de afirmar: com liberais destes, quem precisa de socialistas?

    Gestor (Faculdade de Economia de Coimbra) e empresário


    N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.