Autor: Elisabete Tavares

  • Saúde: O comando está nas tuas mãos

    Saúde: O comando está nas tuas mãos

    Título

    Eu escolho crescer com saúde!

    Autores

    MANUEL PINTO COELHO

    Editora

    Oficina do Livro (Novembro de 2024)

    Cotação

    20/20

    Recensão

    Já era fã do Dr. Manuel Pinto Coelho. Mas este livro é daqueles que, além de útil, me falou ao coração porque se dirige aos jovens. Nunca foi tão importante um livro como este, pela sua componente informativa e pedagógica, dirigida a uma faixa da população que, infelizmente, tem sido alvo de campanhas nefastas na área da Saúde.

    Nada é mais preciso do que ensinar os jovens a serem autónomos a ajudá-los a tomar decisões baseadas na evidência e no melhor que a Ciência e o conhecimento acumulado têm para oferecer.

    Escrito numa linguagem acessível e direccionada para os jovens, o livro aborda temas muito diversos, de uma forma simples e acessível. As ilustrações, as caixas de pontos e o grafismo, são muito apelativos (mesmo para adultos). 

    O livro está estruturado em cinco capítulos. O primeiro versa sobre o corpo humano, o sistema imunitário e o ‘rei’ intestino. O segundo, com o título ‘Os quatro elementos’ aborda temas como a importância da vitamina D e da água do mar. O terceiro capítulo anda à volta dos hábitos saudáveis e quarto propõe um ‘Reset’, debruçando-se, por exemplo, sobre o lazer, a amizade, os ecrãs e as doenças mentais. Por fim, o quinto capítulo, são deixadas mais algumas dicas e considerações, incluindo sobre o tema do tabagismo.

    O livro tem ainda o chamariz de ter prefácios da autoria de Cristiano Ronaldo e da ginasta olímpica Filipa Martins.

    Se se preocupa com a saúde dos jovens, se tem jovens na família, este é um livro que deve estar lá em casa. Mas também deve estar em todas as bibliotecas e escolas porque é de leitura obrigatória. Não só pelos conteúdos informativos sobre saúde mas também pela informação relacionada com a protecção ambiental.

    Mas este livro não é só útil para os jovens. Os adultos podem beneficiar muito com a leitura da obra. Até porque é mais divertida de ler do que os livros escritos para os adultos. Como se diz em inglês, é mesmo um caso ‘Win-Win‘.     

  • Ser indiferente à cor da pele

    Ser indiferente à cor da pele

    Título

    O fim das políticas de raça

    Autores

    COLEMAN HUGHES (Tradução: Pedro M. Santos)

    Editora

    Guerra & Paz (Outubro de 2024)

    Cotação

    19/20

    Recensão

    O autor desta obra propõe algo que pode ser visto por muitos, designadamente de ideologia ‘woke‘, como revolucionário. Coleman Hughes propõe que se deve ser indiferente à cor da pele. 

    O que deveria ser óbvio para todos, infelizmente não é, apesar de estarmos em pleno século XXI: somos todos iguais, independentemente do tom que tem a pele de cada um. Discriminar com base na cor da pele é profundamente errada. É óbvio, mas ainda há quem defenda a divisão dos seres humanos com base neste critério. 

    E não, o autor não tem a pele de tom claro. O escritor, podcaster e colunista tem ascendência afro-americana e porto-riquenha e cresceu em Montclair, Nova Jersey, nos Estados Unidos. 

    Licenciado em Filosofia, Hughes falou perante o Congresso norte-americano, em 19 de Junho de 2019, numa audiência sobre reparações por causa da escravatura. Hughes mostrou ser contra aquela campanha, alertando que iria servir para apenas dividir ainda mais o país. Adiantou que a serem aprovadas reparações, todos os negros norte-americanos que são contra essa campanha iriam ser transformadas em vítimas sem o seu consentimento.

    Neste livro, Hughes propõe que se regresse aos ideais que inspiraram o movimento dos Direitos Civis americanos. Escreve que o afastamento desses ideais deu inicio a uma era de medo e ressentimento e políticas nefastas baseadas na raça. Para Hughes, as políticas ‘woke‘ supostamente anti-racismo criam uma falsa equidade. 

    O autor estruturou este livro em seis capítulos, sendo que começa com uma introdução em que responde à questão: ‘Porquê escrever sobre raça?’

    Na obra, Hughes debruça-se longamente sobre o conceito de neo-racismo, que tem como alvo a população branca, baseado no estereotipo de que todos os brancos são arrogantes, racistas e sem compaixão pela luta das pessoas não brancas. O autor ataca a autora Robin DiAngelo e outros que também defendem este tipo do chamado ‘racismo investido’. O autor também se debruça sobre as instituições neo-racistas de elite.

    No último capítulo, Hughes propõe soluções para ‘Resolver o problema do racismo na América’. Para o escritor, “o verdadeiro problema do racismo na América” é que “a nossa sociedade continua a não conseguir consagrar o daltonismo como seu ethos orientador”. E adianta que “é este fracasso contínuo que tem permitido que o racismo sancionado pelo Estado surja repetidamente sob novas e diferentes formas – mais recentemente através do movimento a que tenho chamado de neo-racismo”.

    “O caminho neo-racista conduz a um mundo sombrio em que brancos e minorias trocam eternamente os papéis, de opressores e oprimidos, de culpados e inocentes − um mundo sem qualquer concepção do bem comum, mas em que os indivíduos colocam os interesses do seu próprio grupo racial em primeiro lugar, independentemente dos custos para os outros”, escreve Hughes na página 166.  A alternativa, segundo Hughes, “é o sonho” que passa, designadamente, por “uma nação onde as pessoas vivem em segurança e gozam da liberdade de procurar a sua felicidade; uma nação sem cidadãos de segunda classe onde o espírito democrático prevalece e os políticos são responsabilizados perante as pessoas que servem; […]”.  

      

  • Pandemia: Relatório do Congresso norte-americano aponta para fuga laboratorial e denuncia falhas na gestão

    Pandemia: Relatório do Congresso norte-americano aponta para fuga laboratorial e denuncia falhas na gestão

    Falta de debate científico, censura de informação verdadeira e más práticas. Estas foram algumas das conclusões do relatório de uma comissão oficial nos Estados Unidos que investigou durante dois anos as origens e a gestão da pandemia de covid-19 no país. O documento divulgado no dia 2 de Dezembro arrasou com a resposta à pandemia, concluindo que os confinamentos e o fecho de escolas tiveram efeitos terríveis na economia, na saúde dos norte-americanos e nas crianças. Também concluiu que a imposição do uso de máscara se baseou em estudos defeituosos e o distanciamento social careceu de evidência científica. Mas o relatório revelou ainda as más práticas e potenciais violações da lei, incluindo de responsáveis apanhados a mentir nas audições perante a comissão. Por outro lado, o documento revela que a provável origem da covid-19 foi um acidente que levou à fuga do vírus de um laboratório em Wuhan, na China. Por coincidência, nesse mesmo laboratório, uma organização norte-americana conduziu pesquisa perigosa com financiamento dos Estados Unidos.


    Para alguns, terá sido uma surpresa, mas para os que acompanharam os trabalhos e audições da Subcomissão da Câmara dos Representantes, nos Estados Unidos, encarregue de investigar as origens e a gestão da covid-19, as suas conclusões e o relatório final já eram esperados. Uma das conclusões é de que a resposta da Organização Mundial da Saúde (OMS) à pandemia de covid-19 foi um “fracasso abjecto” porque cedeu à pressão do Partido Comunista Chinês e colocou os interesses políticos da China à frente de seus deveres internacionais.

    Uma das principais conclusões desta comissão bi-partidária é que a origem provável da pandemia de covid-19 terá sido um acidente num laboratório na China, envolvendo eventualmente pesquisa perigosa de manipulação de vírus para os tornar perigosos para os humanos (‘gain-of-function’). No centro da polémica, está a organização EcoHealth Alliance Inc, liderada por Peter Daszak, que usou financiamento dos contribuintes norte-americanos, através do National Institute of Allergy and Infectious Diseases (NIAID), liderado por Anthony Fauci, para fazer pesquisa perigosa em Wuhan, na China. Para eventualmente mascarar esse facto, Fauci promoveu e contribuiu para a publicação de um artigo numa publicação científica com vista a desacreditar a tese da origem do vírus ser de uma fuga de um laboratório.

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    Entretanto, segundo o relatório, novas informações revelaram que o Departamento de Justiça iniciou uma investigação às actividades da EcoHealth durante a pandemia. Enquanto isso, a administração Biden estará a ponderar conceder um perdão antecipado para proteger Fauci de eventual investigação criminal no futuro, segundo o Politico. O relatório concluiu que o NIAID e, em geral o National Institutes of Health, falharam na supervisão do financiamento de potenciais pesquisas perigosas além de que existia na instituição a prática de fugir à obrigatoriedade legal de manter registos oficiais, além de esquemas para evitar pedidos de acesso a informação (FOIA).

    A 7 de Abril de 2020, numa conferência de imprensa,  o então presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, identificou o financiamento da EcoHealth para desenvolver pesquisa na China como  potencialmente problemático.

    Mas, durante os trabalhos, esta comissão apurou que, segundo e-mails escritos pelo principal assessor de Fauci, David Morens, foi criado, durante a pandemia, um esquema que envolveu a existência de um ‘canal secreto’ de comunicação de informação oficial para contornar eventuais pedidos de informação ao abrigo das leis da transparência. Segundo o relatório, o conselheiro de Fauci obstruiu deliberadamente a investigação, terá mentido ao Congresso em diversas ocasiões, excluiu ilegalmente registos federais sobre a pandemia e partilhou informações confidenciais sobre os processos de financiamento do NIH com o presidente da EcoHealth, Peter Daszak.

    Fauci numa audição perante a Subcomissão que investigou as origens e a gestão da pandemia de coronavírus nos Estados Unidos. / Foto: Captura de imagem da transmissão em vídeo da audição.

    Segundo o relatório, o Governo chinês, bem como agências do Governo norte-americano e alguns membros da comunidade científica internacional procuraram encobrir factos sobre a origem da pandemia de covid-19.

    Outra das conclusões da investigação é que a resposta à pandemia envolveu fraude, desperdício de dinheiros públicos e abusos em larga escala.

    Por outro lado, o relatório concluiu que o remédio não pode ser pior do que a doença, que foi o que sucedeu com a adopção de confinamentos demasiado vastos e rígidos que levaram a uma previsível angústia e consequências que eram evitáveis. Os confinamentos foram maus tanto para a Economia como para a saúde física e mental. No acesso a cuidados de saúde, os norte-americanos enfrentaram uma diminuição da qualidade do atendimento, tempos de espera mais longos, consultas médicas mais curtas e ausência de diagnósticos.

    Na Economia, mais de 160 mil empresas fecharam a sua actividade durante a pandemia e 60% não voltaram a abrir. As taxas de desemprego subiram para níveis não vistos desde a Grande Depressão. Medidas de mitigação, incluindo o distanciamento social, afetaram desproporcionalmente setores com baixos salários.

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    O fecho de escolas na pandemia deixará um efeito negativo profundo e duradouro nas gerações mais novas. O relatório da Subcomissão realçou que a Ciência nunca justificou o encerramento prolongado das escolas, já que era improvável que as crianças contribuíssem para a propagação da doença ou sofressem doença grave ou morte. Em vez disso, em resultado do fecho das escolas, as crianças sofreram perda de aprendizagem, maiores taxas de sofrimento psicológico e diminuição do bem-estar físico. O documento citou pontuações de testes padronizados que mostraram que as crianças perderam décadas de progresso académico em resultado do fecho de escolas. As preocupações com a saúde mental e física dispararam, realçando o relatória a subida em 51% das tentativas de suicídio por parte de raparigas dos 12 aos 17 anos.

    O relatório concluiu, igualmente, que o Centers for Disease Control and Prevention (CDC) se baseou em estudos defeituosos para justificar a obrigatoriedade do uso de máscara facial. Além disso, a imposição de máscaras a crianças fez mais mal do que bem. Segundo o documento, não existiam evidências científicas conclusivas de que as máscaras protegessem efetivamente os norte-americanos da covid-19. As autoridades de saúde pública tiveram uma postura contraditória sobre a eficácia das máscaras, no início e durante a pandemia, sem fornecer dados científicos, o que provocou um aumento na desconfiança do público.

    O relatório alerta que a Constituição norte-americana não pode ser suspensa em tempos de crise e que as restrições impostas às liberdades fundamentais causam desconfiança e minam até a saúde pública. E é particularmente crítica à acção da Casa Branca, que acusava de ter praticado uma política de censura, incluindo de informação verdadeira. Ao invés, o relatório adianta que altos responsáveis da Administração Biden, como Anthony Fauci, espalharam desinformação sobre diversos temas, das máscaras à eficácia das vacinas contra a covid-19, não permitido o debate científico e usando mesmo tácticas para descredibilizar académicos e cientistas com visões diferentes das da Casa Branca.

    Segundo o relatório, as autoridades de saúde pública muitas vezes espalharam desinformação através de mensagens contraditórias, reações precipitadas e falta de transparência. Nos exemplos mais flagrantes de campanhas generalizadas de desinformação, o uso de drogas sem prescrição médica e a tese de a origem da pandemia ter sido um laboratório foram injustamente demonizados pela Casa Branca. A Administração Biden empregou métodos antidemocráticos e provavelmente inconstitucionais – incluindo pressionar as plataformas de redes sociais a censurar certos conteúdos sobre covid-19 – para combater o que considerou ser ‘desinformação’.

    No caso específico da gestão da pandemia em Nova Iorque, a comissão apurou que o ex-governador Andrew Cuomo participou na implementação de más-práticas médicas e encobriu publicamente o número total de mortes em lares de idosos daquele Estado. Recorde-se que foi ordenado o envio de pacientes com covid-19 para os lares em Nova Iorque. Segundo o relatório, as evidências sugerem que Cuomo consciente e deliberadamente fez declarações falsas à Subcomissão em várias ocasiões sobre aspectos materiais do desastre do lar de idosos e o encobrimento subsequente. A Subcomissão encaminhou, aliás, uma participação para o Departamento de Justiça com o objectivo de processar Cuomo criminalmente.

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    Por outro lado, segundo apuraram as audições que antecederam a conclusão do relatório, as vacinas contra a covid-19 devem ser “classificadas como terapêuticas [e não preventivas], visto que não impedem o contágio nem a transmissão do vírus”, mesmo assumindo que salvaram milhões de vidas ao reduzir a incidência de doença grave e morte.

    Em todo o caso, o Food and Drug Administration (FDA) terá apressado a aprovação das vacinas contra a covid-19 para cumprir o cronograma a Administração Biden, mesmo após dois cientistas de relevo deste oprganismo regulador terem alertado para os perigos de se apressar o processo face aos riscos de efeitos adversos. Ambos foram ignorados e, dias depois, a Casa Branca concedeu a licença à vacina. A imposição do programa de vacinação, diz ainda o Subcomité, não foi apoiada pela Ciência e causou mais danos do que benefícios. A Administração Biden, defende o relaório, coagiu os norte-americanos saudáveis a cumprirem os mandatos de vacinação, atropelando-se as liberdades individuais e desrespeitando a liberdade médica. Tudo para forçar milhões a tomar uma nova vacina sem provas suficientes para apoiar as decisões políticas.

    Pelo caminho, as autoridades de saúde pública envolveram-se num esforço coordenado para ignorar a imunidade natural – que é adquirida através de infeções anteriores por covid-19 – ao desenvolver orientações e imposição de vacinas. Nessa linha, o relatório conclui que, apesar de não ter fundamento científico, a imposição dos passaportes de vacina transformaram-se numa espécie de confinamento para os norte-americanos não vacinados contra a covid-19.

    Por outro lado, o relatório conclui que os sistemas de notificação de reacções adversas às vacinas falharam, durante a pandemia, em informar adequadamente o público sobre as lesões causadas e deterioraram a confiança do público na segurança neste tipo de fármacos. Nessa linha, o relatório acusa as autoridades de não agirem de forma eficiente, justa e transparente perante as reivindicações dos lesados das vacinas contra a covid-19.

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    Alguns dias após a divulgação do relatório final da Subcomissão, um juiz federal do Texas ordenou que FDA a divulgasse publicamente mais informações sobre a justificação que levou à autorização das vacinas contra a covid-19. Numa deliberação da sexta-feira da passada semana, dia 6 de Dezembro, o juíz Mark Pittman ordenou que a FDA disponibilizasse a um grupo de cientistas independentes o seu arquivo de documentos sobre a “autorização de uso de emergência” concedida à vacina Pfizer-BioNTech.


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  • Sem actas das reuniões do Secretariado, CCPJ é uma ‘Casa da Mãe Joana’

    Sem actas das reuniões do Secretariado, CCPJ é uma ‘Casa da Mãe Joana’

    A Comissão da Carteira Profissional de Jornalista (CCPJ), apesar do estatuto de entidade pública, funciona como uma ‘Casa da Mãe Joana’, atropelando códigos e leis, ao mesmo tempo que obstaculiza o acesso aos documentos administrativos. Numa decisão hoje tomada sozinha pela sua presidente, Licínia Girão, através de um órgão colegial (Secretariado) que assume não ter actas das suas reuniões, o PÁGINA UM viu recusado o acesso aos debates do Plenários desde meados de 2023. Neste lote de documentos administrativos estará a descrição de uma acesa discussão em Novembro do ano passado onde foi criticado o uso por Licínia Girão de 6.000 euros desta entidade para custear advogados contratados especificamente para processar o director do PÁGINA UM. A presidente em fim de mandato da CCPJ alega que os requerimentos do PÁGINA UM para aceder às actas são abusivos e entende que mesmo os jornalistas não devem consultar dados nominativos, uma enviesada interpretação que contraria a jurisprudência e que, além do mais, constitui um princípio pouco abonatório para uma entidade que regula a actividade desta classe profissional.


    A presidente da Comissão da Carteira Profissional de Jornalista (CCPJ), Licínia Girão, recusou hoje divulgar ao PÁGINA UM diversas actas de reuniões de plenário, que integram nove membros deste órgão regulador, entre as quais uma onde se discutiu o uso abusivo de dinheiros públicos.

    Na carta de renúncia de dois dos membros da CCPJ – Anabela Natário e Isabel Magalhães –, no final de Outubro passado, é explicitamente referido, alegadamente citando uma acta, que em reunião do Plenário de 15 de Novembro de 2023, Licínia Girão decidiu informar os seus colegas que tinha “apresentado uma queixa, em nome pessoal, contra o jornalista Pedro Almeida Vieira [director do PÁGINA UM] junto do Conselho Deontológico (…) e apresentado igualmente queixa junto do Ministério Público”. As duas ex-membros do Plenário da CCPJ salientam que “só depois de uma grande pressão, acabou [Licínia Girão] por retirar a queixa, querendo, no entanto, impor condições tão esquisitas que foram ‘chumbadas’”. E são as mesmas duas jornalistas que renunciaram, acusando Licínia Girão de despesismo e centralismo, que a presidente da CCPJ “não se comprometeu a devolver a quantia gasta indevidamente”.

    Licínia Girão, presidente da CCPJ.

    Embora essa seja uma das actas que requereu, o PÁGINA UM pretende consultar um período mais alargado, entre Junho de 2023 e o presente mês de Novembro, mas de qualquer modo Licínia Girão, em ofício remetido em nome do Secretariado – constituído por três membros, mas só por si assinado –, indeferiu o pedido.

    Na sua missiva, Licínia Girão – que tem um passado profissional sobretudo ligado à imprensa regional e não tem actividade jornalística conhecida nos últimos dois anos – alega que os pedidos do PÁGINA UM são abusivos, considerando que foram feitos pedidos similares há menos de dois anos, algo que é, de todo, falso.

    Além disso, Licínia Girão – que é a principal beneficiária de as actas se manterem secretas – alega que se aplica o Regulamento Geral de Protecção de Dados, considerando que “os próprios jornalistas têm o direito de ver protegida a devassa dos seus dados pessoais”, mesmo quando se está meramente perante informação relativa a actividade profissional regulada por lei.

    Esta interpretação da presidente da CCPJ contraria, aliás, a jurisprudência de forma gritante. Por exemplo, um acórdão do Tribunal Central Administrativo do Norte de Maio de 2021, que até foi publicado em Diário da República, salienta, num processo de intimação intentado pelo Sindicato Nacional dos Trabalhadores da Administração Local e Regional, que mesmo que haja documentos “que contenham dados pessoais”, apenas ficam protegidos aqueles “que revelem a origem étnica, as opiniões políticas, as convicções religiosas ou filosóficas, a filiação sindical, dados genéticos, biométricos ou relativos à saúde, ou dados relativos à intimidade da vida privada, à vida sexual ou à orientação sexual de uma pessoa”.

    Funcionamento à margem da lei tem sido a regra na CCPJ.

    Similar entendimento teve uma sentença de Outubro de 2022 do Tribunal Administrativo de Lisboa, em benefício do PÁGINA UM, relativa a uma intimação contra a Ordem dos Farmacêuticos e a Ordem dos Médicos, então liderados pela actual ministra da Saúde, Ana Paula Martins, e pelo actual deputado social-democrata Miguel Guimarães, respectivamente. Não consta, aliás, que nas reuniões do Plenário da CCPJ sejam debatidas as origens étnica ou as opiniões políticas, filosóficas e religiosas, nem tão-pouco questões de índole sexual.

    Por fim, Licínia Girão – na linha, aliás, de uma visão restritiva e enviesada do acesso dos jornalistas à informação – defende ainda que não se aplica a norma legal específica que concede direitos especiais aos jornalistas no acesso a dados abrangidos pelo RGPD, remetendo para uma alínea que pretende garantir que apenas profissionais legitimados pela legislação (ou seja, reconhecidos como jornalistas segundo as normas nacionais) possam justificar o tratamento de dados sensíveis com base em finalidades jornalísticas.

    Para terminar, Licínia Girão diz também que o Secretariado da CCPJ – o órgão colegial e permanente deste órgão regulador e disciplinador dos jornalistas – “não elabora, obviamente, actas relativas às reuniões que realiza”.  Esta é mais uma interpretação temerária de uma jornalista supostamente eleita por ser “jurista de mérito”.

    Presidente da CCPJ assume com naturalidade que tem funcionado sem actas no funcionamento do Secretariado, um órgão colegial, em flagrante violação do Código do Procedimento Administrativo, pelo que as decisões são nulas e passíveis de responsabilidade financeira, disciplinar e penal.

    Com efeito, de acordo com o Código do Procedimento Administrativo, sendo um órgão colegial, o Secretariado da CCPJ está obrigado por lei, em cada reunião, a lavrar uma acta, “que contém um resumo de tudo o que nela tenha ocorrido e seja relevante para o conhecimento e a apreciação da legalidade das deliberações tomadas, designadamente a data e o local da reunião, a ordem do dia, os membros presentes, os assuntos apreciados, as deliberações tomadas, a forma e o resultado das respetivas votações e as decisões do presidente”.

    E acrescenta ainda esta norma que “as deliberações dos órgãos colegiais só se tornam eficazes depois de aprovadas as respetivas actas ou depois de assinadas as minutas e a eficácia das deliberações constantes da minuta cessa se a acta da mesma reunião não as reproduzir”. Ou seja, todas as decisões tomadas por Licínia Girão estão feridas de nulidade, arriscando também responsabilidade financeira e disciplinar, ou mesmo responsabilidade penal, se houver prevaricação ou falsificação de documentos.


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  • A verdade sobre os Prémios Nobel anti-Kennedy

    A verdade sobre os Prémios Nobel anti-Kennedy


    Alterações Mediáticas, podcast da jornalista Elisabete Tavares sobre os estranhos comportamentos e fenómenos que afectam o ‘mundo’ anteriormente conhecido como Jornalismo. No 13º episódio, analisa-se o fenómeno bizarro que levou os media a esconderem que a maioria dos Prémios Nobel que não querem ver Robert F. Kennedy Jr. na liderança da ‘pasta’ da Saúde na administração Trump são os mesmos que defenderam a organização caída em desgraça, EcoHealth Alliance, que conduziu pesquisas perigosas em Wuhan, na China. Também se analisam dois casos em que a SIC Notícias e o Correio da Manhã cometeram lapsos de tradução que totalmente alteraram as notícias em causa.

    Acesso: LIVRE, mas subscreva o P1 PODCAST com um donativo mensal de 2,99 euros. Ajude o PÁGINA UM a amplificar o seu trabalho.

  • ‘Há uma ideia de que em nome da liberdade de expressão se pode dizer tudo’

    ‘Há uma ideia de que em nome da liberdade de expressão se pode dizer tudo’

    É uma figura pública reconhecida pelos portugueses e acaba de ganhar um importante caso na Justiça. António Garcia Pereira, advogado e antigo candidato à Presidência da República, defendeu em regime ‘pro bono’ Renata Cambra num processo contra dois réus, um deles Mário Machado, que está ligado à extrema-direita e ao neonazismo. O Tribunal da Relação de Lisboa confirmou a condenação de Machado a uma pena de prisão efectiva de 2 anos e 10 meses, num caso que envolve incitamento à violência e ao ódio contra mulheres de ideologias de esquerda, designadamente contra a ex-dirigente do Movimento Alternativa Socialista. Esta vitória segue-se a outra: Garcia Pereira foi homenageado, em Maio, com o Prémio Nelson Mandela pela sua “coragem em denunciar excessos” de entidades “com capacidade de intimidação”. Nesta entrevista ao PÁGINA UM, no seu escritório, em Lisboa, Garcia Pereira falou sobre os limites à liberdade de expressão mas também sobre a cultura de cancelamento de que tem sido alvo na comunicação social, desde que criticou as medidas ilegais que foram adoptadas pelo governo na pandemia. O Tribunal Constitucional acabou por lhe dar razão, mas a cultura de cancelamento mantém-se. O advogado afastou um regresso à vida política activa mas deixou críticas aos partidos de esquerda. Deixou também um alerta: o Almirante Gouveia e Melo, que não tem afastado ser candidato às eleições presidenciais, tem um perfil autocrático que beneficia dos tempos actuais de ascensão do populismo e do facto de o povo não ter memória.



    António Garcia Pereira luta há muito contra o fascismo e tem sido um rosto em defesa da democracia e dos direitos fundamentais. Agora, o conhecido advogado e antigo professor universitário, acaba de celebrar uma relevante vitória na Justiça: a confirmação pelo Tribunal da Relação de Lisboa da condenação a pena de prisão efectiva de Mário Machado, ligado à extrema-direita e ao neonazismo. Machado e outro réu, Ricardo Pais, foram condenados por terem incitado à violência e ao ódio contra mulheres de esquerda, designadamente Renata Cambra, antiga dirigente do Movimento Alternativa Socialista.

    Apesar de poderem recorrer da sentença, Garcia Pereira está confiante de que Machado vai mesmo cumprir os dois anos e 10 meses de pena de prisão, admitindo que um eventual o recurso para adiar o cumprimento da sentença venha a ser rejeitado.

    Mas, nesta entrevista ao PÁGINA UM, no seu escritório em Lisboa, Garcia Pereira, de 72 anos, alertou que “evidentemente que a luta contra os fascistas e os neonazismo não se faz apenas nos tribunais”. Para o reputado mestre e doutor em Direito, tem existido alguma complacência com situações em que há ataques ao bom nome e dignidade das pessoas, nomeadamente nas redes sociais. E citou a “própria jurisprudência do Tribunal Europeu dos Direitos do Homem” que tem alimentado abusos do direito à liberdade de expressão.

    António Garcia Pereira. / Foto: D.R.

    Para o advogado, “a liberdade de expressão de pensamento é um valor fundamental, mas a liberdade de expressão de pensamento está aliada a uma coisa que Gabriel García Márquez escreveu na sua carta, considerado o seu testamento: um homem só deve olhar de cima para baixo, para outro homem, para ajudar a levantar-se no chão”.

    Para Garcia Pereira, “há uma desvalorização de valores imateriais, como o bom nome e a dignidade das pessoas”, que é fruto “da época do capitalismo” em que há uma depreciação do respeito pela pessoa, “do respeito pelo outro, da solidariedade”.

    O advogado e histórico combatente contra o fascismo, alertou que se está a assistir a uma repetição da História, em que o excesso e abuso da liberdade de expressão poderão levar a um outro extremo, que é a punição, não só de comportamentos abusivos mas também de todos, incluindo aqueles que são verdadeiramente de liberdade de expressão. “E nós já tivemos essa experiência durante o período da covid-19”, em que houve censura de cientistas e de todos os que suscitaram dúvidas sobre muitas das medidas impostas por governos.

    Garcia Pereira chegou a alertar para o facto de algumas medidas do governo serem ilegais, o que lhe valeu ser cancelado pela comunicação social. “A minha voz, como a de muitos outros, foi eliminada na comunicação social”, lamentou. Um ‘cancelamento’ que se mantém até hoje. Garcia Pereira era um convidado assíduo e era regularmente chamado para fazer comentários em diversos canais de TV. Deixou de ser convidado. “Este ponto de vista que eu estou a defender ser imediatamente silenciado e, pior do que isso, ser insultado, é evidentemente uma demonstração da época que vivemos”, disse.

    Mas o Tribunal Constitucional deu-lhe razão, com mais de duas dezenas de acórdãos a confirmar a inconstitucionalidade de medidas impostas indevidamente e de forma desproporcional na pandemia. “Na pandemia, foi usada a velha teoria de que os fins justificam os meios e que quem conhece a História sabe perfeitamente que esse é um dos alicerces da teoria de legitimação do direito e do Estado do III Reich”, afirmou. Lembrou que chegou a haver quem tivesse sido alvo de processos disciplinares por ter posições diferentes das do governo.

    O advogado com os filhos  Tiago, Ricardo, Manuel e Rita, na cerimónia em que recebeu o prémio Nelson Mandela. / Foto: D.R.

    O antigo candidato à Presidência da República afastou um regresso à vida política activa. Mas deixou críticas aos partidos de esquerda, os quais considera serem os responsáveis pelo populismo. “Em meu entender, não há nenhuma força política verdadeiramente de esquerda [em Portugal] e isso é, em larga medida, responsável pelo pântano em que nos encontramos hoje”, com a população a não ver nos partidos diferenças substanciais sobre as grandes questões que afectam o país.

    E deixou um alerta sobre a ascensão da figura de Gouveia e Melo, actual Chefe do Estado-Maior da Armada. “É aí [nas crises] que sempre, historicamente, surgem os salvadores da pátria. As soluções dos dos [falsos] Messias que aparecem, apresentando-se supostamente acima das classes e dos partidos políticos, com um discurso que é sempre igual”, de que vai acabar com “a bandalheira e a corrupção”. Alguém que diz que “isto está muito mal, é preciso uma pessoa com autoridade”.

    Garcia Pereira criticou Gouveia e Melo por estar há um ano a “a fazer uma campanha usando inclusivamente os meios da Marinha e a farda”. E deu o exemplo recente de um podcast em que o Almirante participou, que decorreu “nas instalações da Marinha, no Centro de Inovação da Marinha”, no qual “não só se pronuncia, por exemplo, sobre o caso do NRP Mondego, como se pronuncia sobre uma série de matérias, inclusivamente políticas, o que um militar no activo não pode fazer”.

    Para o advogado, o anúncio de que André Ventura poderá ser candidato nas eleições presidenciais não passa de uma manobra que “destina-se pura e simplesmente a marcar um certo distanciamento do Chega, de que o próprio Almirante Gouveia e Melo necessita”. Isto porque o Chega foi o partido que se manifestou ser favorável a apoiar Gouveia e Melo, o qual aparenta ter uma proximidade evidente ao CDS-PP.

    Garcia Pereira não tem dúvidas de que Gouveia e Melo é uma “solução perigosíssima” para o cargo de Presidente da República, porque “representa aquilo que representaram todos os [falsos] Messias da História”. Sublinhou que, tudo aponta que o Almirante “é uma personalidade ultra-reaccionária, com um timbre da atuação que é violentamente autocrático”.

    Disse que a aparente popularidade de Gouveia e Melo é explicada pelo facto de haver um povo sem memória. “Um povo sem memória é um povo sem futuro e nós não nos devíamos esquecer para onde é que conduziram experiências políticas anteriores a essa [de Gouveia e Melo]”.


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  • ‘É preciso voltar à tomada de decisões baseadas na evidência’

    ‘É preciso voltar à tomada de decisões baseadas na evidência’

    Martin Kulldorff foi professor de Medicina na Universidade de Harvard durante duas décadas. O trabalho desenvolvido pelo proeminente epidemiologista e bioestatístico sueco é amplamente reconhecido. Membro de uma comissão da norte-americana Food and Drug Administration (FDA) dedicada à segurança de medicamentos e gestão de risco, os seus modelos de software são muito utilizados, nomeadamente pelo CDC, nos Estados Unidos, para a rápida detecção de surtos de doenças infecciosas e de reacções adversas graves a vacinas. Durante a pandemia da covid-19 foi uma das vozes a favor de uma estratégia que salvasse vidas sem deixar danos colaterais graves na saúde pública e na sociedade. Foi um dos três reputados professores que escreveram a histórica Declaração de Great Barrington. Mas suas posições valeram-lhe a censura, insultos e difamação. Nesta entrevista ao PÁGINA UM, Kulldorff fala sobre as lições da pandemia e a sua esperança de que, na Ciência e nas políticas de saúde pública, se vai voltar aos factos e às decisões baseadas na evidência científica. Também revelou que prepara o lançamento de uma publicação científica na qual os cientistas poderão publicar os seus estudos e artigos, com transparência, criando o espaço para o debate.



    Os ventos são de mudança e a ‘idade das trevas’ da censura e perseguição de cientistas, que regressou com a pandemia de covid-19, parece estar moribunda e cada vez mais perto do fim. Que o diga Martin Kulldorff, proeminente epidemiologista e bioestatístico, que foi professor de medicina na Universidade de Harvard durante duas décadas, mas que se viu a ser alvo de censura e difamação por ter feito o seu trabalho e defendido a medicina baseada na evidência.

    Nesta entrevista ao PÁGINA UM, realizada por videochamada, num Sábado, em vésperas do Dia de Acção de Graças, Kulldorff afirmou que não se arrepende de ter sido uma voz em defesa da Ciência, contra os dogmas e o falso consenso promovido pelas autoridades nos Estados Unidos, durante a covid-19. “Percebi, logo no início, que a minha carreira estava em jogo por estar a falar. Mas como posso ser cientista se não falar?” Contudo, sendo um epidemiologista, Kulldorff viu-se forçado a falar. “Não tive escolha, senão não conseguia olhar os meus filhos nos olhos”, afirmou.

    Martin Kulldorff é um proeminente epidemiologista e bioestatístico sueco. Foi professor de medicina na Universidade de Harvard durante duas décadas e fundou a Academy of Science and Freedom. É consultor da FDA como membro da comissão ‘Drug Safety and Risk Management Advisory Commitee’. Os programas que desenvolveu para detecção de surtos de doenças infecciosas (SaTScan) e para detectar reacções adversas graves a medicamentos e vacinas (TreeScan) são amplamente usados, nomeadamente pelo CDC (Centers for Disease Control and Prevention).

    Martin Kulldorff / Foto: D.R.

    Nos últimos anos, ficou também conhecido por ter sido um dos três reputados professores de respeitadas universidades que escreveram a Declaração de Great Barrington. Escrita em Outubro de 2020, em plena pandemia, o texto defendia uma resposta à covid-19 centrada na protecção das pessoas mais velhas e vulneráveis e alertava que os confinamentos e medidas mais restritivas iriam causar danos graves em termos de saúde pública, no curto e no longo prazo, prejudicando, sobretudo, a classe trabalhadora e as crianças e jovens. Além de Kulldorff, escreveram a Declaração o professor Jay Bhattacharya, da Universidade de Stanford − que foi nomeado para director do National Institutes of Health (NIH) na nova administração Trump −, e a professora Sunetra Gupta, da Universidade de Oxford. O documento criado a 4 de Outubro de 2020 conta com 940 mil assinaturas.

    Em Março deste ano, e após duas décadas como professor de medicina na Universidade de Harvard, Kulldorff anunciou que tinha sido dispensado, numa confirmação do estado dogmático e da ‘idade das trevas’ que atingiu o mundo científico e académico, pautado pelo ‘cancelamento’, censura e até perseguição de cientistas e professores devido às suas posições distintas, num mundo que ficou fechado ao debate. Kulldorff escreveu, nessa altura, um artigo, que foi publicado também em português no PÁGINA UM com o título ‘Universidade de Harvard espezinha a verdade‘.

    Kulldorff salientou que, com a pandemia, se aprendeu que “temos de seguir os princípios da saúde pública e da medicina baseada na evidência”, o que não aconteceu na covid-19, com medidas que deixaram um rasto de danos colaterais gigantescos na saúde pública, na sociedade e na economia. Outra lição da pandemia é de que “nunca devemos permitir a censura, o ‘bullying’ ou a calúnia”, que foi uma realidade para muitos cientistas e médicos de topo desde 2020. (Em Portugal, vale a pena recordar que comentadores nas TVs, políticos e jornalistas insultavam – e ainda hoje insultam – os defensores de medidas baseadas na evidência científica, classificando-os de ‘negacionistas’ ou ridicularizando-os com nomes como ‘chalupas’.)

    Nesta entrevista, Kulldorff também revelou que vai lançar, nos próximos meses, uma publicação científica através da qual os cientistas podem divulgar os seus estudos e artigos científicos, de uma forma mais transparente. Recorde-se que várias das principais revistas de natureza científica falharam na pandemia, ao cederem a políticas enviesadas e censurando cientistas, que se viram em dificuldades para conseguir publicar o resultados dos seus trabalhos de investigação. Enquanto isso, alguns cientistas próximos da ‘narrativa’ oficial conseguiam publicar em tempo recorde, mesmo se o seu trabalho estivesse rodeado de muitas dúvidas. “Precisamos de ter uma forma diferente de publicar resultados científicos”, disse Kulldorff, frisando que é crucial que haja debate científico livre e aberto.

    O epidemiologista sublinhou que, para que se possa restaurar a confiança na Ciência e nas universidades, “o primeiro passo é restaurar a integridade da comunidade científica”. “Penso que os cientistas de base vão conseguir dar a volta, mas o fundamental é que haja uma nova liderança”, frisou, destacando que a nomeação de Martin (Marty) Makary para liderar a FDA é um sinal de esperança. Kulldorff também manifestou a esperança de que Bhattacharya fosse nomeado director do NIH, o que se confirmou já após a entrevista.

    Segue a transcrição em português da entrevista feita em inglês.

    Foi professor em Harvard, na escola de Medicina de Harvard, durante duas décadas, até Março passado. E em que está a trabalhar agora? Qual é o seu dia-a-dia?

    Trabalho como consultor, na detecção de surtos de doenças infeciosas. Trabalho com vacinas. Faço um trabalho semelhante ao que fazia antes, mas não fazendo parte da Escola de Medicina de Harvard.

    E desenvolveu um software importante, uma ferramenta de recolha de dados. Um software que permite a detecção de surtos em hospitais, por exemplo, e em termos geográficos, e também software na área de monitorização de segurança de vacinas.

    Sim. Criei dois softwares: SaTScan, que é geográfico, para detectar rapidamente surtos de doenças infeciosas, que podem ser a salmonela ou a doença do legionário. Também criei um software que se chama TreeScan, que detecta reações adversas inesperadas a medicamentos ou vacinas, porque, uma vez que o medicamento ou a vacina é aprovado, sabemos em última análise que está a funcionar, mas é impossível saber se há reacções adversas raras graves. Temos de fazer essa vigilância, depois de [as vacinas ou medicamentos] terem sido aprovados pela FDA, ou a EMA [European Medicines Agency], na Europa.

    Os autores da Declaração de Great Barrington: Martin Kulldorff (Harvard), Sunetra Gupta (Oxford) e Jay Bhattacharya (Stanford). A Declaração dos três professores e cientistas detende uma resposta à pandemia de covid-19 focada nas pessoas mais vulneráveis e alerta para os efeitos devastadores que os confinamentos e restrições duras têm na saúde pública a curto e longo prazo, afectando desproporcionalmente a classe trabalhadora e as crianças e os jovens. Os três reputados professores acabaram por ser alvo de campanhas de difamação e perseguição pelas autoridades de Saúde nos Estados Unidos e os media ‘mainstream’. / Foto: D.R.

    E o professor também trabalha com a FDA e um dos seus softwares é usado pelo CDC, na detecção de reacções adversas a vacinas.

    Sim. Esses dois métodos são amplamente utilizados pelo CDC e a mineração de dados também é usada pela FDA. E também são usados por departamentos de saúde estaduais e municipais.

    Muitos não sabem o trabalho que é necessário para detectar não só surtos de doenças, mas para monitorizar as reacções adversas. É necessário muito trabalho envolvendo software e mineração de dados.

    Sim. Por exemplo, na detecção de novos casos de salmonela, por exemplo: iremos querer saber se, de repente, há um pico de doença num determinado bairro, com mais casos do que seria o esperado. Por acaso, pode haver a indicação de que talvez um restaurante esteja a servir algum alimento contaminado ou que alguma mercearia está a vender frango que foi contaminado. Então, vai querer saber-se o mais rápido possível. Porque, mesmo se for detectado mais rápido, isso pode salvar pessoas de ficarem doentes e, às vezes, de morrerem. É importante poder ter este tipo de sistema automatizado e rápido para detectar rapidamente quando há esse tipo de problemas.

    Sendo um especialista nestas áreas, ficou surpreendido com as políticas que foram implementadas na pandemia de covid-19? O professor foi um dos três autores da Declaração de Great Barrington, que defende uma abordagem focada para se salvar vidas. Esperava o tipo de comportamento que as autoridades adoptaram em resposta à covid-19?

    Não, eu fiquei extremamente surpreendido. Porque a forma como lidámos com a covid-19 ignorou os princípios fundamentais da saúde pública, bem como a medicina baseada na evidência. Ficou claro, logo no início de 2020, que qualquer pessoa poderia ser infectada com a covid-19. E o risco dependia da idade. As pessoas mais velhas tinham um risco de morrer 1000 vezes maior do que as pessoas mais jovens. Portanto, a única coisa que havia a fazer era proteger as pessoas mais velhas, permitindo que as escolas permanecessem abertas e permitindo que os jovens adultos prosseguissem com as suas vidas, perto do normal. E um dos princípios da saúde pública é que não se pode estar focado em apenas uma doença, tentando eliminar a covid-19, porque causaria enormes danos naturais colaterais em outras áreas da saúde pública, como no caso das doenças cardiovasculares ou diabetes ou pessoas com cancro. Na verdade, no caso do cancro, estava a diminuir, mas não porque as pessoas não estavam a ter cancro, mas porque não estava a ser detectado. Se não é detectado, não pode ser tratado. Vamos ter de viver com esse tipo de coisas. Há pessoas que vão morrer mais cedo porque o seu cancro não foi detectado. E, claro, houve problemas com a saúde mental e a educação, com o encerramento das escolas. Houve enormes danos colaterais de saúde pública devido a estas medidas de resposta à covid-19, porque as autoridades estavam unicamente focadas na covid-19 e ignoraram tudo o resto. E isso não se faz na saúde pública.

    Nasceu na Suécia, é um cientista sueco. Na Suécia, a abordagem foi completamente diferente. Os números relativos ao excesso de mortalidade são muito melhores do que no resto do mundo, nomeadamente face aos de Portugal, onde os números de excesso de mortalidade são enormes. Porque é que a maioria dos países ocidentais seguiu uma abordagem e a Suécia seguiu uma abordagem diferente?

    Não sei. Acho surpreendente que a Suécia tenha sido o único país a adotar uma abordagem baseada na evidência, durante a epidemia, e entre os principais países ocidentais. Alguns outros locais também seguiram a mesma estratégia [da Suécia], como as Ilhas Faroé, por exemplo. Mas não sei porquê. É muito surpreendente. O que aconteceu na Suécia é que houve, realmente, um debate robusto sobre os prós e contras das diferentes abordagens. Os grandes jornais tinham pessoas a debater as duas abordagens, a abordagem sueca de protecção focada, bem como a abordagem de confinamentos severos em outros países. Penso que foi algo bom que houve na Suécia. Nos Estados Unidos, esse debate foi esmagado. Os que tentaram falar sobre a protecção focada, em vez de se fazer confinamentos, foram caluniados ou ridicularizados. Demorou muito, muito tempo até conseguirmos chegar ao público e informar o público de que não existia um consenso científico para esses confinamentos.

    Não apenas na comunidade científica, mas também nas universidades, existiu uma enorme onda de censura nos Estados Unidos e também em outros países. Ficou surpreendido com isso? Para mim, nunca pensei vir a ter de enfrentar a censura. Mas enfrentámos censura. Por que é que isso aconteceu?

    Sim, fui censurado pelas redes sociais por fazer afirmações cientificamente factuais sobre a pandemia. Fui censurado pelo Twitter, pelo Facebook, YouTube, LinkedIn, Tiktok. E eu fico chocado. Se me tivessem dito que isso iria acontecer cinco anos antes, eu não teria acreditado. Pensava que a liberdade de expressão estava enraizada na cultura ocidental, na Europa Ocidental e na América do Norte. Mas foi como se estivéssemos na União Soviética ou num país fascista e não em países do Ocidente. Fiquei completamente chocado. Fui censurado, a mando do governo norte-americano, bem como muitos outros cientistas e indivíduos.

    E, recentemente, o Professor Jay Bhattasharya escreveu no X sobre o facto de a Universidade de Stanford ter votado para manter a censura aplicada ao professor Scott Atlas. Não têm a consciência pesada e ainda pensam que a censura foi acertada. Poderíamos esperar que, de alguma forma, universidades como Harvard ou Stanford reconhecessem que erraram, mas parecem não ter uma consciência culpada.

    Sim. E, na verdade, há quatro anos, quando escrevi a Declaração de Great Barrington com o Dr. Bhattacharya, de Stanford, e a Dra. Sunetra Gupta, de Oxford, tivemos um debate. Eu disse: com algumas excepções, iria ser muito difícil convencer os políticos e os jornalistas ou os principais cientistas, mas conseguiremos convencer o público. E depois, como o público é que estava a ser afectado por todos os danos colaterais, acabariam por convencer os políticos e, eventualmente, os media. Os cientistas de base foram sempre muito razoáveis, mas foi a liderança científica que fez de tudo para houvesse esses confinamentos. Eu disse-o há quatro anos e ainda penso que nunca, nunca os vamos convencer, nunca seremos capazes. Nunca irão admitir que estavam errados sobre a pandemia. Há um ditado na Ciência que diz: A Ciência prossegue um funeral de cada vez. A próxima geração na Ciência vai perceber o enorme erro que isto foi, mas penso que a liderança atual, como [Anthony] Fauci ou [Francis] Collins ou [Ralph] Baric ou vários professores universitários ou editores dos grandes jornais científicos, nunca vão admitir que erraram totalmente e que impuseram pseudociência em vez da medicina baseada na evidência.

    Mas acredita que ainda é possível salvar a credibilidade e a confiança na Ciência e nos académicos depois do que aconteceu? Acha que há esperança nisso?

    Espero que sim, porque acho que é muito importante. Mas o primeiro passo, antes da confiança, o primeiro passo é restaurar a integridade da comunidade científica. Acho que os cientistas de base vão conseguir dar a volta. O fundamental é que haja nova liderança. Um sinal de esperança, por exemplo, foi ontem o Dr. Martin (Marty) Makary ter sido nomeado para ser o próximo diretor da Food and Drug Administration (FDA), nos Estados Unidos. É preciso voltar à tomada de decisões baseadas na evidência. E penso que o Dr. Makary vai fazer isso. Esse é um sinal de esperança. Há outras pessoas que fazem ouvir a sua voz. Ele foi uma das pessoas que falou e há muitos outros que o fizeram. Por isso, espero que estas pessoas possam chegar a alguns dos cargos de liderança da comunidade científica.

    Kulldorff, Scott Atlas (radiologista e antigo professor na Universidade de Stanford) e Jay Bhattacharya. / Foto: D.R.

    Mas mesmo essas pessoas, aquelas novas nomeações que a administração Trump tem vindo a fazer, por exemplo, aqui em Portugal, na comunicação social, estão sendo difamados. Nos media ‘mainstream‘ ainda continua a impor a narrativa daqueles que foram responsáveis por políticas que levaram ao enorme excesso de mortalidade e tudo o que mencionou.

    Isso é verdade. Ontem houve um artigo na NBC News, nos Estados Unidos. Estavam a criticar o Dr. Martin Makary por ter acreditado na imunidade natural, que é algo que conhecemos desde 430 a.C. Então, criticar o nomeado para a FDA por acreditar na imunidade natural é como criticar o chefe da NASA por pensar que a Terra é redonda e não plana. Penso que é inacreditável que isso ainda esteja a acontecer. Simplesmente surpreendente.

    Talvez demore algum tempo também para alguns jornalistas e outros de reconhecer que estavam enganados, e talvez tenham sofrido uma lavagem cerebral com toda a programação e a repetição de disparates que vimos durante a pandemia, nomeadamente, em relação à imunidade natural.

    Sabe, isso já começou a acontecer, na verdade. Tive alguma interacção com alguns jornalistas que estão agora genuinamente interessados no que estivemos a dizer nos últimos quatro anos. Eles começam a perceber que o que acreditavam não era verdade.  Estão interessados em descobrir e aprender sobre a pandemia e epidemiologia e saúde pública. Penso que as coisas estão a mover-se nessa direcção, o que é esperançoso.

    São óptimas notícias. Posso supor que está optimista que a administração Trump vá trazer, de algum modo, uma nova política de saúde pública, mais baseada na evidência e defendendo a Ciência e os académicos.

    Estou com muita esperança na FDA. É uma excelente escolha, com o Dr. Martin Makary a ser o próximo director da FDA. Vamos ver quem é que é nomeado para o NIH. A minha esperança é que seja o Dr. Jay Bhattacharya, de Stanford, mas ainda não sabemos isso. [Entretanto, após a entrevista, Jay Bhattasharya foi nomeado para liderar o NIH].

    Seria bom ver que essas áreas não estarão nas mãos nem de políticos nem de burocratas. Será bom que sejam lideradas por cientistas e especialistas nessas áreas.

    Nos últimos anos, tem havido portas giratórias entre a FDA e a indústria farmacêutica. Por exemplo, o ex-diretor da FDA Scott Gottlieb entrou para o conselho de administração da Pfizer. Esse é apenas um dos muitos, muitos exemplos. Isto acontece tanto ao mais alto nível como ao nível intermédio. Pessoas que trabalham na FDA e depois vão para a indústria farmacêutica. Isso cria um problema porque se o papel da FDA é ser o ‘watchdog’ da indústria para se certificar de que os produtos têm a eficácia que afirmam ter e que não provocam reacções adversas e para remover [do mercado] qualquer medicamento ou vacina que seja perigoso. Espero que haja melhorias na FDA, agora.

    Caso contrário, a FDA não é um ‘watchdog’, mas um ‘petdog’. Pensa que é necessário que haja nova legislação para acabar com estas portas giratórias?

    Sim. O que for preciso para acabar com isso. Outra questão são as comissões consultivas da FDA. Muitos membros das comissões consultivas são também remunerados por farmacêuticas, como investigadores recebem bolsas de empresas da indústria farmacêutica. Não podem receber de empresas cujos produtos eles estejam a analisar. Isso é bom, mas penso que é melhor que as regas sejam mais amplas, para que os membros das comissões sejam, realmente, completamente independente das farmacêuticas.

    Especialmente, quando existem grandes empresas, tanto na indústria farmacêutica como na indústria alimentar, e essas empresas poderiam estar a conceder financiamento para pesquisa em várias áreas. Penso que é difícil monitorizar tudo.

    Sim, é verdade.

    E, em relação, à covid-19, quais são as lições que se aprenderam para o futuro e as que talvez não tenham sido aprendidas até agora?

    Bem, o quadro geral, é que temos de seguir os princípios da saúde pública e da medicina baseada na evidência. E nunca devemos permitir a censura, o ‘bullying’ ou a calúnia. É prejudicial. E, por exemplo, na Suécia havia um debate aberto. Havia pessoas a publicar artigos nos jornais a criticar a abordagem sueca. Apesar de discordar 100%, estou realmente muito feliz que escreveram, porque fizeram um serviço ao país e à saúde pública. Isso significou que houve um debate público, e isso foi muito importante, para que as pessoas pudessem realmente ouvir esses lados da história, e decidir o que era mais razoável. Outros países fizeram as coisas de forma diferente. Por isso, estou muito grato. E estou grato aos jornais que publicaram esses artigos com opinião oposta.

    Pensando numa nova pandemia ou numa crise de saúde pública, o que pode ser feito agora para gerir melhor uma nova crise no futuro? Para que não caiamos nos mesmos erros que foram cometidos na covid-19 e também para proteger todos, se possível?

    Sim, vamos ter outra pandemia, porque tivemos pandemias ao longo da história. Se vai ser daqui a cinco ou 50 anos, não sei. Mas haverá outra pandemia. E a minha esperança é que aprendamos com os erros. Penso que se houver uma nova pandemia dentro da próxima década ou duas, será impossível cometer o mesmo erro que se cometeu na covid-19 porque há muitas pessoas entre o público que se iriam opor a isso. Porque no início da covid-19, as pessoas estavam confusas. A maioria das pessoas não tinham estudado epidemiologia. Era natural para a maioria das pessoas acreditar em Anthony Fauci, apesar de ele estar errado e apesar de ter posto de lado os cientistas que sabiam mais sobre saúde pública. As pessoas confiaram nele. Mas não penso que as pessoas irão fazer isso da próxima vez. Tenho esperança que faremos melhor da próxima vez.

    Em relação ao seu trabalho, tem ressentimento por ter sido demitido de Harvard? Foi justo? Trabalhou duas décadas e deu tanto. Como vê Harvard neste momento?

    Não acho que foi justo. Acho que erraram e estão em pior situação por causa disso. Espero que se recomponham algum dia. Não fui o único que foi demitido. Espero que façam algo para recuperarem a sua integridade e a sua posição. Mas não vejo nenhuma evidência disso neste momento. Veremos o que acontece.

    Em termos da sua vida e do seu trabalho, vê que está melhor agora? Talvez tenha algum tempo para se concentrar em algum projecto que queira fazer? Como se vê nos próximos anos?

    Bem, eu sou uma pessoa de sorte no sentido de que eu sempre pareço encontrar problemas científicos interessantes para trabalhar. Em termos dos colegas com os quais colaboro, tenho uma boa relação com a maioria.  A maior parte deles pensa que eu estava certo sobre a pandemia. Não disseram nada porque não queriam ser atacados ou caluniados, o que eu entendo. Mas continuei a trabalhar com os meus antigos colegas e gosto disso. Estou a fazer algumas das mesmas coisas que fazia em Harvard, mas agora como consultor privado. E também tenho a oportunidade de estar a fundar uma nova revista científica sobre saúde pública, que esperamos que seja lançada nos próximos meses para combater os problemas que existem com as revistas científicas. Sabia que era algo problemático há muitas décadas, mas foi algo que veio mesmo à tona durante a pandemia. Precisamos de ter uma forma diferente de publicar resultados científicos.

    Para que possa haver um escudo face a outros interesses, ideologias ou políticas.

    Sim. Temos um processo de publicação mais aberto onde se podem publicar, onde os cientistas podem publicar coisas que eles acham que são importantes. E agora o sistema de revisão pelos pares [‘peer review’] é escondido, é secreto. Penso que deve aberto. Queremos publicar os ‘peer reviews’. Isso é uma forma de abrir o debate científico.

    Isso seria muito importante. Arrepende-se de ter sido uma voz que falou sobre a pandemia e todas as políticas, a forma como as políticas erradas estavam a ser implementadas? Porque mencionou que alguns colegas não se manifestaram porque tinham medo de serem insultados e difamados.

    De maneira nenhuma. Percebi logo no início que a minha carreira estava em jogo por estar a falar. Mas como posso ser cientista se não falar? Sou um epidemiologista de doenças infeciosas por isso tenho de falar sobre essas coisas. É a minha área. Se fosse um professor de química poderia ter ficado em silêncio. Mas eu não era. Por isso tinha de falar. Não tive escolha, senão não conseguia olhar os meus filhos nos olhos. Por isso, não me arrependo, de todo.

    NOTA: Transcrição editada e adaptada para português de entrevista feita em inglês.


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  • Os pequeninos que torceram um reino

    Os pequeninos que torceram um reino

    Título

    A infância e juventude dos reis de Portugal

    Autor

    SÉRGIO LUÍS DE CARVALHO

    Editora

    Livros Horizonte (Outubro de 2024)

    Cotação

    17/20

    Recensão

    Sendo um dos mais qualificados e profícuos romancistas e divulgadores de História, Sérgio Luís de Carvalho é um mestre na arte de contar estórias. Em ‘A infância e a juventude dos reis de Portugal’, os leitores serão transportados para um fascinante e, por vezes, tumultuoso mundo dos príncipes e princesas que marcaram o rumo do nosso país. Mas não são contos de fadas.

    Longe de uma abordagem académica ou árida, Sérgio Luís de Carvalho oferece uma narrativa viva, didáctica e deliciosamente anedótica, em muitos casos, que alia rigor histórico a um estilo leve e acessível. Com uma curiosidade quase insaciável, com apartes deliciosos e a propósito, e uma escrita desenvolta e cativante desde a primeira página, este livro é um verdadeiro deleite para quem deseja conhecer os ‘bastidores’, em alguns casos escandalosos ou doentios, da outrora Monarquia portuguesa.

    Percorrendo as infância e juventude dos futuros monarcas e suas famílias, o livro vai iluminando os caprichos, as arbitrariedades e as peculiaridades que moldaram não apenas os seus destinos, mas também os do reino. É um retrato humano, por vezes divertido, outras vezes chocante, daqueles que, por nascimento ou desígnio, assumiram o trono e marcaram os rumos de Portugal. As histórias destes príncipes e princesas revelam-se cheias de contradições: entre o esplendor e o grotesco, o privilégio e o sacrifício, a inteligência e a insensatez.

    Sérgio Luís de Carvalho estrutura o livro de forma meticulosa, organizando os capítulos por monarca e oferecendo ao leitor a liberdade de escolher por onde começar. O índice, que apresenta os reis pelos seus cognomes — como ‘D. Pedro I, o príncipe destrambelhado’, ‘D. Sebastião, o príncipe alienado’ ou ‘D. João V, o príncipe galante’ —, já antecipa o tom despretensioso e quase irónico da narrativa.

    Esta escolha editorial é, aliás, um convite à leitura não-linear, permitindo que o leitor explore as personalidades mais fascinantes ou as histórias mais curiosas de acordo com o seu interesse.

    A riqueza de detalhes é notável, fruto do extenso trabalho de investigação, que se baseia tanto em crónicas antigas como em análises modernas. Sérgio Luís de Carvalho apresenta os príncipes e princesas com uma imparcialidade que não tenta desculpar os seus erros, mas também não os reduz a caricaturas simplistas. Assim, conhecemos D. Pedro I, cujas paixões e vinganças o tornaram uma figura tão fascinante quanto controversa; D. Sebastião, cuja obsessão pela glória e religiosidade beirava a alienação; D. João V, que, entre festas e conquistas amorosas, simbolizava o apogeu e os excessos do barroco português; e D. Pedro IV, cuja vida dividida entre Portugal e o Brasil o tornou uma das figuras mais complexas e enigmáticas da nossa história.

    Mas não é apenas o conteúdo que cativa: o estilo de Sérgio Luís de Carvalho é uma das maiores virtudes do livro. A sua escrita combina leveza e profundidade, didactismo e humor. Mostra bem como captar a atenção do leitor – não se tivesse ele dedicado a ser professor do ensino secundário –, seja através de uma anedota curiosa, seja por meio de uma reflexão mais séria sobre o contexto histórico.

    A violência, os desmandos e a opulência que marcam muitas dessas histórias não são romantizados, mas apresentados como parte integrante de uma realidade histórica muitas vezes desconcertante.

    Apesar do carácter lúdico deste livro, Sérgio Luís de Carvalho também nos oferece uma reflexão implícita sobre a natureza do poder e a formação das elites. Ao explorar como as infâncias e juventudes muitas vezes arbitrárias e traumáticas moldaram os futuros monarcas, o autor lança luz sobre os mecanismos que perpetuavam (e, em alguns casos, ainda perpetuam) as desigualdades e os privilégios. Não se trata apenas de reviver episódios pitorescos ou dramáticos, mas também de compreender as forças sociais e políticas que moldaram a História de Portugal.

    Para os leitores contemporâneos, ‘A infância e a juventude dos reis de Portugal’ é também uma oportunidade de olhar para os bastidores da monarquia com o mesmo fascínio que hoje as revistas cor-de-rosa dedicam às casas reais da Europa. No final, fica sobretudo um retrato humano, um mosaico de vidas extraordinárias e, muitas vezes, contraditórias. E Sérgio Luís de Carvalho consegue transformar o que poderia ser apenas um inventário cronológico de príncipes e princesas num relato fascinante e acessível, que diverte e ensina ao mesmo tempo. Uma leitura obrigatória para os apaixonados pela História de Portugal e para todos os que desejam descobrir os traços humanos por debaixo das coroas.

  • Norte-americanos engolem mais aditivos tóxicos do que os europeus

    Norte-americanos engolem mais aditivos tóxicos do que os europeus

    Comida de ‘plástico’ é uma expressão para ser levada à letra no que toca a alimentos que contêm aditivos sintéticos nefastos. E mais ainda nos Estados Unidos, onde a Food and Drug Administration (FDA) tem sido mais permissiva do que a congénere europeia, a European Safety Food Authority (EFSA), autorizando ainda o uso de aditivos já proibidos ou restritos nos países da União Europeia. O tema do uso excessivo de aditivos, incluindo alguns cancerígenos, na alimentação saltou para a ‘mesa’ com a campanha eleitoral às presidenciais nos Estados Unidos, pela ‘mão’ de Robert F. Kennedy Jr, que há muito defende políticas regulatórias mais fortes e mais protectoras da saúde dos norte-americanos, tanto na alimentação como na Medicina, exigindo mais estudos científicos independentes.


    Pela boca morre o peixe, já diz o ditado. No caso dos alimentos processados, a doença ou a morte do ‘peixe’ vai depender se ele vive em águas europeias ou norte-americanas. É que a “Ciência” parece dizer coisas diferentes aos reguladores de em ambos os lados do Atlântico, no que toca a autorização que é dada para que determinados aditivos possam ser usados em alimentos comuns, como cereais de pequeno-almoço, doces e refrigerantes. Alguns aditivos autorizados na indústria alimentar nos Estados Unidos são proibidos na União Europeia.

    Há aditivos controversos para todos os gostos: dos corantes artificiais, ao aspartame, gordura transgénica, xarope de milho rico em frutose, benzoato de sódio, nitrato de sódio e o glutamato monossódico (o sal sódico do ácido glutâmico, ou MSG).

    supermarket, fridge, produce
    Foto: D.R.

    Este tema tem estado, de novo, no centro das atenções devido a Robert F. Kennedy Jr, um defensor da transparência regulatória nos alimentos e medicamentos, e que desistiu da candidatura na corrida à Casa Branca a favor de Donald Trump, que acabou por ser eleito. Trump retribuiu, entregando a ‘pasta’ da Saúde nas mãos do sobrinho de John F. Kennedy, antigo presidente dos Estados Unidos assassinado em 1963. Difamado pela imprensa mainstream, que o acusa de ser ‘anti-vacinas’, Kennedy defende que haja um procedimento mais rigoroso na testagem de vacinas e também é a favor da proibição nos Estados Unidos de certos aditivos alimentares, que foram banidos em outros países, nomeadamente pelos danos que podem causar em crianças, designadamente problemas de hiperactividade e défice de atenção e asma.

    Nos Estados Unidos, o regulador, a Food and Drug Administration (FDA), opta por uma filosofia diferente da União Europeia (UE), onde prevalece a precaução e uma política regulatória mais restritiva, com a condução de testes, embora não sendo uma regulação perfeita, como se vê pelos controversos aditivos que ainda são permitidos no espaço europeu. Por outro lado, é sabido que na terra do tio Sam, as pressões dos lobbies de multinacionais da indústria alimentar têm mais peso, ou não fossem também financiadores de partidos e candidatos nas diversas eleições.

    São diversos os aditivos suspeitos de serem nocivos para a saúde que são permitidos nos Estados Unidos mas não autorizados na Europa e outros países. É o caso da azodicarbonamida (ADA), que está ligada a problemas do foro respiratório e se suspeita que possa provocar cancro. O químico é muito usado na produção de plásticos espumados, designadamente colchões para a prática de yoga. Nos Estados Unidos, ainda é utilizado na indústria de panificação e em massas, sendo adicionado às farinhas como agente oxidante e no pão aumenta a elasticidade da massa, conferindo-lhe assim um maior rendimento.

    Os cereais de pequeno-almoço Froot Loops, da Kellogs, contêm colorantes naturais na Europa e quatro colorantes artificiais nos Estados Unidos. Os cereais de cor azul não se encontram em alguns países, por não existir colorante natural para o efeito. / Foto: D.R.

    Outro caso é o do óleo vegetal bromado (BVO), um emulsionante e estabilizador em refrigerantes com um sabor cítrico, que foi proibido na União Europeia por receios sobre a acumulação de bromo no corpo humano e eventuais efeitos tóxicos. Nos Estados Unidos, a FDA propôs o fim do uso do químico no país, embora ainda se encontre em alguns alimentos processados.

    Na alimentação animal, na EU foi banido o uso de ractopamina, uma hormona de crescimento, devido a preocupações pelo bem-estar animal e possíveis efeitos nefastos na saúde humana. Nos Estados Unidos, o uso desta hormona de crescimento é permitido e não é exigido que seja incluída uma referência nas etiquetas dos produtos que chegam aos consumidores.

    Alguns corantes artificiais usados em bebidas, doces, snacks e outros tipos de alimentos processados têm de incluir avisos nas etiquetas em países da União Europeia, nomeadamente por poderem causar défice de atenção e hiperactividade em crianças. Os corantes alimentares sintéticos são mais baratos do que os corantes naturais. Nos Estados Unidos, é comum encontrarem-se alimentos processados nas prateleiras dos supermercados, nomeadamente cereais de pequeno-almoço, refrigerantes e doces contendo corantes artificiais. O mesmo acontece em produtos vendidos em populares cadeias de ‘fast food’. Já nos países europeus e no Canadá, os mesmos produtos são produzidos com corantes naturais.

    Outro exemplo, são os conservantes BHA e BHT, usados como intensificadores de sabor. São comuns em salsichas, pastilhas elásticas, batatas fritas, óleos vegetais e cosméticos. Na Europa, são autorizados em alguns casos, como nos cosméticos e elixires orais, mas há suspeitas de serem cancerígenos. Nos Estados Unidos, são autorizados e fazem parte de muitos bens alimentares processados presentes diariamente nas mesas dos norte-americanos. Estão presentes em populares cereais de pequeno-almoço, pizzas congeladas, preparados para fazer bolos e batatas fritas.

    Foto: D.R.

    O dióxido de titânio também se encontra proibido na Europa. Nos Estados Unidos continua a ser usado em pastilhas elásticas, doces, queijos, molhos, doces, bebidas alcoólicas e diversos alimentos processados.

    Já a somatotropina bovina, uma hormona sintética para aumentar a produção de leite nas vacas, encontra-se em produtos como iogurtes, manteigas, queijos e gelados. Na Europa, não é permitida e, nos Estados Unidos, algumas grandes marcas excluíram leite proveniente de vacas tratadas com a hormona dos seus produtos.

    Quanto ao uso de nitritos e nitratos, a Comissão Europeia reduziu, em 2023, os limites para uso de nitritos e nitratos como aditivos alimentares, normalmente usados na conservação de produtos cárneos curados, no âmbito do Plano Europeu de Luta contra o Cancro. Em causa está o uso do nitrito de potássio (E 249), do nitrito de sódio (E 250), do nitrato de sódio (E 251) e do nitrato de potássio (E 252). Trata-se de substâncias que são utilizadas há décadas na Europa como conservantes carne, peixe e produtos à base de queijo. Mas a presença de nitritos e nitratos nos géneros alimentícios pode dar origem à formação de nitrosaminas, algumas das quais são cancerígenas. Nos Estados Unidos, há uma maior pressão para a manutenção do uso das substâncias.

    Outro exemplo, é o caso do propilparabeno, um conservante usado para controlar o crescimento de fungos, bactérias e bolores, foi banido dos produtos alimentares na União Europeia, após uma recomendação da EFSA, mas é usado no outro lado do Atlântico.

    Por fim, a UE impõe restrições ou proíbe organismos geneticamente modificados (OGM) devido a preocupações ambientais e de saúde, enquanto nos EUA se autoriza o uso generalizado de OGM na agricultura.

    black and red cherries on white bowl

    A maior abertura dos Estados Unidos quanto ao uso de aditivos alimentares pode explicar, em parte, a epidemia de obesidade no país, que gera ‘memes’ na Internet e faz já parte da imagem que outros países têm dos norte-americanos. Afinal, a ‘terra das oportunidades’ é também um ícone da sociedade capitalista e da busca do lucro. Tornar a América saudável de novo (‘Make America Healthy Again-MAHA’), o ‘slogan’ de Robert F. Kennedy Jr., pode ser alvo de troça pela imprensa convencional e pelos adversários políticos de um dos homens-chave na nova administração Trump. Ou pode dar-se o caso de a Europa estar errada e precisa de autorizar mais aditivos suspeitos de serem cancerígenos à alimentação dos europeus.

    Seja na Europa ou nos Estados, o certo é que quando o lucro, e o uso de aditivos sintéticos que são mais baratos, se sobrepõem aos interesses de saúde e bem-estar dos consumidores, não é só um problema político e de regulação. É de todos.


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  • A directora da Lusa e um ‘spin doctor’ entram num bar

    A directora da Lusa e um ‘spin doctor’ entram num bar


    Alterações Mediáticas, podcast da jornalista Elisabete Tavares sobre os estranhos comportamentos e fenómenos que afectam o ‘mundo’ anteriormente conhecido como Jornalismo. No 12º episódio, analisa-se o fenómeno bizarro que levou a directora da agência Lusa a ‘aliar-se’ a Luís Paixão Martins, na rede X. Também é analisado o fenómeno estranho que tem levado a imprensa, em geral, a esconder que Luís Delgado e os outros dois gerentes da Trust in News foram condenados a pena de prisão, com pena suspensa por cinco anos.

    Acesso: LIVRE, mas subscreva o P1 PODCAST com um donativo mensal de 2,99 euros. Ajude o PÁGINA UM a amplificar o seu trabalho.