LinkedIn e Microsoft: os derradeiros e perniciosos bastiões da censura digital


Estamos em 2025 e os tempos negros da censura pandémica deveriam já pertencer aos manuais de História. Mas não no LinkedIn — essa rede social que se proclama “profissional”, mas que insiste em agir como um zelador ideológico.

Ontem, o PÁGINA UM publicou uma notícia baseada num artigo científico revisto por pares, editado pelo grupo Nature, um dos mais prestigiados do mundo académico. Não se tratava de um rumor, de um blog obscuro ou de uma tese conspirativa: era ciência publicada, que relatava uma associação estatística entre a vacinação contra a covid-19 e a incidência de vários tipos de cancro.

A notícia, fiel ao princípio jornalístico da ponderação, enquadrava o estudo com rigor, sublinhando que a associação não prova causalidade, mas representa um contributo relevante para uma área que a Europa — e em particular Portugal — tem sistematicamente recusado estudar: a das reacções adversas. O artigo recordava também a batalha jurídica travada pelo PÁGINA UM, com vitórias já reconhecidas em tribunal, para obter acesso integral aos registos do Portal RAM.

E que faz o LinkedIn?

Menos de uma hora após a publicação, removeu o post por “desinformação”. Apresentei recurso, assumindo ser um post de um jornalista sobre um artigo noticioso baseado numa revista científica de prestígio; responderam de forma automática, sem argumentos, confirmando a censura e ameaçando encerrar a minha conta.

O problema, porém, vai muito além da cegueira de um algoritmo. O LinkedIn pertence à Microsoft, e as suas decisões de moderação não são arbitrárias nem neutras: seguem directrizes do Office of Responsible AI e da Corporate, External & Legal Affairs Division, liderada por Brad Smith, presidente da multinacional. É esta estrutura corporativa que define o que pode ou não circular, em alinhamento com o Código Europeu de Boas Práticas em Desinformação e com as recomendações da OMS e da Comissão Europeia. Em nome da “integridade da informação”, institui-se uma cadeia hierárquica de censura algorítmica onde a ciência passa a ser filtrada como se fosse propaganda.

Na prática, estas decisões não resultam de um debate científico, mas de um controlo reputacional centralizado, em que equipas de Trust & Safety e sistemas de inteligência artificial bloqueiam publicações automaticamente, sem contraditório nem fundamentação técnica.

Trata-se de uma censura anónima e inapelável, exercida por plataformas que se escondem atrás da retórica da segurança informativa. O LinkedIn, assim, não se mostra um espaço de partilha de conhecimento profissional, mas assume-se como um instrumento corporativo de gestão do discurso, onde a prudência se confunde com obediência e o rigor com silêncio.

A postura do LinkedIn e da Microsoft não é apenas estúpida, ignorante e arrogante — é intelectualmente cobarde, cientificamente analfabeta e moralmente corrupta.

É estúpida, porque se isola como o último bastião da censura digital, num momento em que as principais plataformas — Twitter/X, YouTube e até a Meta — já reconheceram publicamente que actuaram como extensões informativas de Governos durante a pandemia e reveram as suas políticas. Enquanto o mundo começa, ainda timidamente, a admitir os erros da censura sanitária, o LinkedIn e a Microsoft preferem persistir na arrogância dogmática, apagando notícias que reproduzem factos científicos.

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É ignorante, porque desconhece o que é a ciência: um processo aberto, imperfeito e dinâmico, que evolui pela dúvida e não pela imposição.

E é arrogante, porque se coloca acima dos próprios cientistas, julgando poder decidir o que é verdadeiro ou falso em nome de um suposto consenso que nem a ciência reconhece.

É perniciosa também do ponto de vista democrático, porque a censura algorítmica — ao contrário da censura tradicional — é anónima, invisível e inapelável, dissolvendo a responsabilidade humana na opacidade de um sistema automatizado. E é perniciosa epistemicamente, porque mina o próprio fundamento da ciência: a liberdade de questionar, replicar e refutar.

Já nem se trata de desafiar consensos — trata-se simplesmente de permitir que a ciência exerça a sua função natural: investigar, testar e rever o que julgamos saber. Durante os anos pandémicos, esse direito elementar foi suspenso em nome de uma falsa unanimidade sanitária, e plataformas como o LinkedIn parecem persistir nesse erro histórico, impedindo o livre exame de estudos publicados por canais científicos legítimos.

Uma rede social que se pretende séria e plural não pode condicionar ou interditar a circulação de informação científica, sobretudo quando esta é revista por pares e proveniente de fontes de referência. No limite, o LinkedIn e a Microsoft não estão a proteger os seus utilizadores da desinformação: estão a protegê-los da própria ciência, convertendo a ignorância em virtude e a dúvida em heresia.

Por isso, reafirmo: continuarei a divulgar não apenas esta notícia, mas também o artigo científico original. Se o LinkedIn e a Microsoft querem censurar um jornalista, que o façam às claras — suspendendo a conta e assumindo o gesto.

Mas ficarão, então, diante de uma escolha moral: ou reconhecem que erraram e que a censura é incompatível com a liberdade científica e jornalística, ou assumem, perante todos, que são apenas mais um instrumento de controlo discursivo travestido de rede profissional.

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A História — essa que o LinkedIn e a Microsoft parecem ignorar — já nos ensinou o destino dos que tentaram calar a verdade em nome da conveniência: primeiro impõem o silêncio, depois colhem o descrédito.

E é isso, precisamente, o que o LinkedIn e a Microsoft estão agora a semear.