Para entrar no mercado dos media em Portugal e ficar com os canais televisivos da SIC, integrados na empresa homónima, e o jornal Expresso e outros títulos menores, através da Impresa Publishing, a MediaForEurope deverá ter de desembolsar 31,75 milhões de euros no curto prazo, mas herdando uma dívida líquida superior a 130,9 milhões.
De acordo com uma análise financeira realizada pelo PÁGINA UM, considerando as contas da Impresa relativas a 2023, o valor justo de aquisição para uma operação de controlo da Impreger – que controla 50,31% do grupo de media fundado por Francisco Pinto Balsemão – situar-se-ia entre 0,18 e 0,19 euros por acção, o que corresponde a um prémio entre 40% e 50% face à cotação de sexta-feira.

Esta avaliação baseia-se em resultados antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (EBITDA) de 18,4 milhões de euros, numa dívida líquida de 130,9 milhões e num factor multiplicador de 8,8 vezes o rácio entre o valor da empresa e o EBITDA, considerado adequado ao perfil financeiro da Impresa.
A esse preço, as participações minoritárias da Impreger valeriam entre 4,57 e 4,95 milhões, enquanto a parte pertencente à família Balsemão, a partir da Balseger, deverá valor um pouco mais de 11 milhões. No entanto, a MFE herdará uma dívida líquida de 130,9 milhões, pelos valores do relatório e contas do ano passado, o grande pesadelo que assombra o grupo há anos.
Mas a MFE terá de abrir ainda mais os cordões à bolsa – e é aqui que a situação se complica se a CMVM e a Euronext não exigirem maiores esclarecimentos à família Balsemão.
Em Portugal, a lei impõe que qualquer investidor que passe a deter o controlo efectivo de uma empresa cotada seja obrigado a lançar uma oferta pública de aquisição (OPA) sobre a totalidade das acções remanescentes, garantindo assim tratamento igual a todos os accionistas.

Essa obrigação decorre do artigo 187.º do Código dos Valores Mobiliários, que define como controlo a posse de mais de 50% dos direitos de voto ou a capacidade, directa ou indirecta, de designar a maioria dos administradores ou exercer influência dominante – algo que sucederá se a MFE ficar com uma posição maioritária na Impreger, que detém 50,31% da Impresa. O objectivo é impedir que um novo grupo de controlo se instale sem dar aos minoritários a possibilidade de alienar as suas participações em condições justas.
Ora, o preço dessa OPA obrigatória deve ser pelo menos igual ao mais elevado pago pelo novo controlador nos seis meses anteriores, estando sujeito à validação da CMVM, que assegura a observância das regras de transparência e equidade.
Assim, se a MFE pagar, por exemplo, 0,189 euros por acção à Balseger e aos minoritários da Impreger, que detêm 84,5 milhões de acções da Impresa, terá de oferecer pelo menos o mesmo valor aos investidores da bolsa. Isso representaria um prémio de cerca de 50% face à cotação de sexta-feira, devendo provocar uma reacção imediata nas acções da Impresa, caso não sejam suspensas.

Certo é que, considerando essa estimativa de 0,189 euros por acção, a MFE gastará mais 15,8 milhões na OPA, aos quais se somariam 16 milhões pela aquisição integral da Impreger, desembolsando assim cerca de 31,75 milhões de euros no curto prazo, mas herdando uma dívida líquida superior a 130,9 milhões.
Ainda assim, a MFE dispõe de margem negocial junto dos credores para uma reestruturação da dívida com haircut – isto é, um perdão parcial dos montantes em dívida. O argumento é simples e convincente: se a Impresa permanecer nas mãos da família Balsemão, o colapso é iminente e os credores arriscam perder tudo; com a entrada de um colosso europeu da comunicação social, o pagamento da dívida – mesmo com algum perdão – torna-se exequível e credível.