A REVOLUÇÃO NECESSÁRIA I Agora falando de coisas sérias (a meu ver). A grande revolução em falta é a da prática do Amor (sexo tântrico incluído). Quando tudo afina por esse diapasão é-se capaz de enviar a gloriosa energia sexual para todas as partes. Não sei se é uma crença ou resultado da observação das espécies, mas as pessoas menos ásperas são do Amor e do fazer do Amor. E não importa a idade. Só a prática regular como qualquer Arte.
INFLUÊNCIAS I Volta e meia, uma amizade (da vida real) assídua do mundo virtual incita-me a enveredar pelo novel ofício de “influencer”.
– Tens muito para partilhar -, diz a ilustre figura.
Muito é relativo. Muito de quê? E o muito também carrega o pejorativo. Se porventura me desse para esse género de partilhas poria o Amor enquanto Arte à mistura. Todas as variáveis deste imenso e redondo vocábulo (e uma soma por vezes agreste).

Só por graça vou ensaiar uma prosa em jeito de “influencer”.
Para praticar o Amor Arte é preciso, em primeiro lugar ter amor próprio e consciência de onde começa e termina a liberdade individual.
Depois, se boa parte da espuma dos dias for ocupada no laboratório e na causa, as possibilidades de lograr o êxito (e roçar o belo) aumentam.
Há ainda o imperativo de tratar o corpo como um templo (para os religiosos de mente e não dementes) e procurar o melhor para a saúde e o bem-estar (seu e de quem o receber). Fazer avaliações corporais, análises, check-ups, nutrir o todo para que as partes vicejem (vicejar é fundamental), beber água com pH adequado e água do mar misturada, bem como vinhos de boa cepa até o fígado dar de si, e frequentar os poetas do tema. Ou, se para aí estiverdes virados, ousar uma criação digna de figurar no coração da eleita ou eleito até ao engurgitamento ou entumescimento das Almas.
Tocar e ficar na Alma de quem se ama, sem falsear os sentimentos, é outro predicado dos aspirantes ao soneto do Amor Total.
Posto isto, ide praticar. Deixai as narrativas aos “influencers”.
Termino com um fado da minha lavra para lerdes ao ouvido de quem vos mereça.

Fado em dom maior
Dizem que o fado é negro
Mas o fado é gingão
Ginga com alma dentro
Nunca lhe falta emoção
Dizem que o fado é triste
Mas o fado é só canção
Canta a vida em riste
As razões do coração
Dizem que o fado é chorar
Mas só chora quem o sente
Sentir é o condão da gente
Que leva esta vida a cantar
O fado é destino de amar
Ama quem bem o tente
Fado é uma dor latente
Ninguém lhe pode escapar
Se o fado a ti me levar
Dele não voltarei a fugir
Como o fado vim pra ficar
De onde nunca cheguei a partir
INSPIRAÇÕES I O humor é um poderoso antídoto para enfrentar as azias. Daí os pícaros (sem maldade ou velhacaria). Os sorrisos budistas desprovidos de cinismo.
O Amor (mútuo e muito bom), cousa rara e pouco vista, é o elixir da longa vida. Longa, no sentido de bem vivida. É claro que não é importante foder. Fode quem pode e quer e tem saber para tanto. Mais relevante é não foder a vida ao próximo (a começar por quem dorme connosco na cama). Se a politik é a arte da mentira então dispensemos os artistas. Inspirai, expirai, percorrei cada alvéolo, e sede sinceros com o que sois. Se doer, está tudo bem. E não doeis o voto a qualquer labrego ou labrega. Ou se o fizerdes não vos queixais. Somos autores e responsáveis das nossas acções. Incluindo estas partilhas.

DICOTOMIAS I A vida nunca é só a preto e branco. Há casos onde não se pode justificar o injustificável como a limpeza étnica em Gaza e outras purgas em nome da pureza e da supremacia ideológica ou religiosa. Os meus amigos israelitas têm vergonha do ajuste de contas. Alguns exilaram-se ou são proscritos na sua terra de berço, a terra prometida. Nem todos os israelitas são fanáticos semitas e artistas da vitimização.
Na História podem achar-se judeus lúcidos e esclarecidos, humanistas e pacifistas, como Emma Goldman, a quem puseram o labéu de demónio vermelho por incitar à liberdade Acrata. Uma das mulheres mais corajosas que existiu. Julgar é uma tarefa dos Tribunais que requer factos onde os argumentos se calam. Não há argumentos para matar por matar. Só o homem animal o faz por dá cá aquela palha. O massacre dos inocentes é um noticiário infindável.
PONTOS DE VISTA I Felizmente não pareço um urso, e não padeço de racismo ou da mania da superioridade. Vamos lá ver esta frase. Se abomino fachos e cagões, se conto ir cuspir nos túmulos de uma série de pentelhos, se me dá gosto saber ou ver um canalha na lama a descer à tumba, ao lugar dos vermes onde pertence, não serei igualmente racista? Se me coloco num lado da barricada, a lançar petardos e atoardas, a escolher cânones, livros sagrados e programas sectários de partidos ou de acratas, ou mesmo se me animalizo a gabar as cores do meu clube, não me estarei a armar aos cucos achando as minhas teorias e práticas superiores? Há que ter cautela nas idiossincrasias. Há que me unir aos Homens antes de me fundir no Eterno indizível.
Sou verde e vermelho, como as cores da bandeira, e sei o que simbolizam as quinas. Trato o português, a língua e o próximo, com respeito, assim o segundo me respeite. É como aceitar aqui a discussão, o debate de ideias e dizer não ao trato maldoso, manhoso, invejoso e cínico. O meu círculo de amigos é restrito mas a escuta e observação são universais. Só não tenho ainda Budismo nas veias para aplicar a compaixão a eito.

SÓ SEI QUE… I … Há um lastro de tensões parasitas no ar de Lisboa. Os sistemas nervosos (a ver pelo que oiço dos indígenas) tendem à bojarda. A melhor defesa é o ataque. Estar na vida implica escolhas, de preferência conscientes, revolucionárias e pacíficas. Como combater os inimigos da Liberdade sem recurso ao petardo (mesmo verbal)? Os cheganos, por exemplo, instalam-se paulatinamente nos lugares de poder legislativo e executivo (e clerical) por terem nos seus votantes espelhos de saturação com a bandalheira dos xuxas e pepedês.
Posso não ir à bola com nenhum destes elencos e manter o sistema nervoso adestrado pelo vicio desalinhado. Partido é uma palavra fracturada. Sei o que sinto, e sinto muito que este burgo, esta nação de bravos e visionários, esteja a saque de sociedades de investidores e sacanas para quem a pátria são contas bancárias. Que se empoderem as polícias e faça da sanção ao peão de brega mais uma forma de esbulho. Que até nos ramos onde me movo haja a mais ignóbil corrupção, uma tendência para premiar a astúcia. Melhores anos virão? Sem lojas farsolas por atacado, especuladores profissionais e uma boçalidade recidiva. Mas preparemos o arsenal, sobretudo quem não afina pelo diapasão do fascismo.
Tiago Salazar é escritor e jornalista (com carteira profissional inactiva)
As ilustrações foram elaboradas com recurso a inteligência artificial.