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  • Empresa de Durão Barroso movimentou meio milhão para trazer Clube de Bilderberg para Lisboa

    Empresa de Durão Barroso movimentou meio milhão para trazer Clube de Bilderberg para Lisboa

    A selecta e semi-secreta reunião anual do Clube de Bilderberg teve Lisboa como palco em 2023, sob a batuta de Durão Barroso. Apesar de o site do Bilderberg Meetings afirmar que cada um dos participantes custeou as deslocações e alojamento, certo é que foi criada em 2022 uma empresa, com um capital social de 20 euros, por Durão Barroso e o seu antigo ‘fiel ministro’ José Luís Arnaut, que movimentou em dois anos quase meio milhão de euros para organizar o evento. Para suportar os encargos da Bild – Encontro Internacional 2023 Lda., cerca de 150 mil euros vieram de donativos e um pouco mais de 360 mil pela prestação de (ignotos) serviços, uma vez que a empresa não tem empregados, estando sedeada no escritório da sociedade de advogados de Arnaut.


    Trazer para Lisboa a reunião no ano passado do Clube de Bilderberg custou quase meio milhão de euros à empresa criada especificamente para organizar o evento, que tem como sócios Durão Barroso e José Luís Arnaut.

    Criada em 2022, a empresa Bild – Encontro Internacional 2023 Lda. apresentou as contas anuais no final do ano passado, e ficou assim finalmente a saber-se os custos totais de trazer cerca de 130 líderes políticos e empresariais ao Hotel Pestana entre os dias 18 e 21 de Maio do ano passado para discutir, entre outros assuntos mais ou menos secretos, a inteligência artificial, o sistema bancário, a transição energética, a guerra russo-ucraniana e a liderança norte-americana.

    Os encontros do Clube de Bilderberg ‘têm alimentando, desde 1954, as mais diversas teorias, e até já foram mais secretas – e também selectas –, arrastando uma aura de mistério e conspiração. Oficialmente, as reuniões anuais – este ano foram em Madrid – servem apenas para debater assuntos de interesse global. No seu site, o Bilderberg Meetings afiança que as reuniões constituem apenas “um fórum para discussões informais para promover o diálogo entre a Europa e a América do Norte”, congregando “aproximadamente 130 líderes políticos e especialistas da indústria, finanças, trabalho, academia e media”, segundo regras específicas: os participantes são livres de usar as informações recebidas, mas nem as identidades nem as afiliações dos palestrantes ou de qualquer outro participante podem ser reveladas.

    Como os encontros são privados, no site diz-se ainda que “as participações são individuais e não em representação de qualquer função oficial”, não havendo assim agenda detalhada, nem nenhuma resolução e muito menos votação ou declaração política. Sobretudo nos últimos anos começaram a ser divulgadas as presenças mais sonantes – e sobretudo os convites a portugueses, primeiro sob a “égide” de Francisco Pinto Balsemão, e mais recentemente de Durão Barroso – e mesmo a lista de temas em discussão.

    Por exemplo, além de personalidades estrangeiras, a mais recente reunião em solo nacional no ano passado – a anterior tinha ocorrido em 1999 – contou com um vasto contingente lusitano: além dos habitués Balsemão, Durão Barroso e Arnaut, foram convidados os directores executivos da EDP (Miguel Stilwell de Andrade), da Galp (Filipe Silva), da Feedzai (Nuno Sebastião) e da Zeno Partners (Duarte Moreira). No entanto, este ano, além de Durão Barroso e Duarte Moreira, só houve mais uma presença portuguesa: Isabel Capeloa Gil, reitora da Universidade Católica.

    Também oficialmente, os financiamentos dos chamados Bilderberg Meetings não são propriamente públicos. De acordo com o Clube de Bilderberg, “as contribuições anuais dos membros do Steering Committee [actualmente com 32 membros, entre os quais o português Durão Barroso] cobrem os custos anuais de um pequeno secretariado”, para suportar despesas administrativas e de pessoal.

    Hotel Pestana, em Lisboa, local da reunião do Clube de Bilderberg em Maio do ano passado.

    Já em relação à reunião anual, as responsabilidades cabem ao denominado Comité Director do país anfitrião, não havendo taxa de participação, embora os convidados custeiem, segundo o site do Bilderberg Meetings, os “seus próprios custos de viagem e acomodação”.

    Contudo, nas contas dos dois exercícios anuis da empresa Bild – que tem duas quotas de apenas 10 euros dos sócios Barroso e Arnaut – fica-se a saber que foram contabilizados, como vendas ou prestações de serviços, um total de 361.800 euros, havendo ainda rendimentos suplementares de 152.664 euros, que poderão ter sido sob a forma de donativos. Ou seja, no total, a empresa do antigo primeiro-ministro português e ex-presidente da Comissão Europeia teve um ‘bolo financeiro’ de mais de 514 mil euros. Não o gastou todo, mas quase.

    Analisando os dois exercícios, incluindo o do ano da realização do evento – cujas contas foram depositadas no final da semana passada –, a Bld teve gastos da ordem dos 476 mil euros, para pagamentos de fornecedores e serviços externos, não sendo identificado nas demonstrações financeiras a quem se dirigiu. Em todo o caso, não incluirá, a atender à informação do Bilderberg Meetings, os custos de viagem e acomodação nem tão-pouco ao pagamento de salários.

    Com efeito, a Bild não refere qualquer empregado e a própria sede é a da sociedade de advogados de Arnaut, a CSM Rui Pena & Arnaut, na selecta Rua Castilho, em Lisboa.

    Depois do encontro de Maio, a empresa, que terminou o ano de 2023 com um pequeno prejuízo de 25 mil euros, não foi dissolvida nem existem indicação para tal, até porque isso poderia fazer perder um activo de cerca de 27 mil euros respeitante a impostos diferidos.

    O documento consultado pelo PÁGINA UM da Informação Empresarial Simplificada (IES) não adianta também muito sobre o futuro da empresa. Embora não aponte para a sua dissolução, surge um trecho algo anacrónico se se considerar que se trata de contas de 2023. Ou talvez não, se se considerar que Durão Barroso é, actualmente, o  presidente (Board Chair) da Gavi – The Vaccine Alliance.

    José Luís Arnaut

    Com efeito, os dois sócios, além de destacarem não terem impostos em atraso, recordam que “tendo por base a reavaliação da situação epidemiológica no país, o Governo português em 13 de janeiro de 2021, a exemplo de outros Estados, determinou um conjunto de medidas extraordinárias que têm por objectivo limitar a propagação da pandemia e proteger a saúde pública, que se consubstanciam numa restrição significativa da circulação de pessoas que conduzirá a uma forte retração da economia”, acrescentando que “como consequência desta situação, a economia revela atualmente um enorme estado de incerteza, cuja duração e consequências são ainda imprevisíveis” E concluem assim que, “com os elementos disponíveis, consideramos que estão criadas as condições operacionais para a manutenção da atividade da Empresa [Bild], estando assegurados os compromissos financeiros assumidos.”

    Tendo em consideração que, no ano passado, José Luís Arnaut não respondeu a pedidos de esclarecimento adicionais, o PÁGINA UM considerou não ser necessário solicitar novos comentários, ademais atendendo que esta notícia se baseia sobretudo em factos contabilísticos.


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  • Açores, Algarve e Alto Alentejo lideram criminalidade contra a integridade física em 2023

    Açores, Algarve e Alto Alentejo lideram criminalidade contra a integridade física em 2023

    No ano passado foram registados cerca de 57 mil crimes contra a integridade física, mas na hora de tentar perceber onde está a maior violência, os números absolutos e o mediatismo podem enganar os mais incautos. Na verdade, quando se observam as taxas de crime sob o prisma da população residente, são municípios dos Açores, Alto Alentejo e Algarve que se destacam como os mais violentos. A taxa no município açoriano da Ribeira Grande chega mesmo a ser mais do dobro da registada na cidade de Lisboa, sendo 155% superior à média do país. E não é uma situação pontual. Em muitos discretos e pequenos concelhos, a violência criou raízes. Os municípios mais urbanos estão bastante longe de serem os piores. De entre os 10 concelhos mais populosos, o Porto é o pior (6,8 crimes por mil habitantes), mas ocupa apenas a posição 57. E naqueles que são capitais de distrito, Coimbra destaca-se pela positiva como o menos violento.


    Açores, Algarve e Alto Alentejo foram as regiões do país com maior taxa de crimes contra a integridade física ao longo do ano passado. Os dados de 2023, discriminados por município, foram revelados na quinta-feira passada pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), e analisados pelo PÁGINA UM, revelam um ligeiro acréscimo face ao ano anterior, situando-se agora em 5,4 por mil habitantes. Este valor está na linha com a evolução da última década – sempre abaixo dos 6 casos por mil -, registando-se mesmo valores bastante mais baixos nos dois primeiros anos de pandemia (2020 e 2021), que registaram apenas 4,7 casos por mil. Para a população portuguesa, uma variação de 0,1 casos por mil representa, em termos absolutos, cerca de 1.060 crimes por ano.

    Com a taxa média registada em 2023, significa que em Portugal, para uma população estimada de 10,6 milhões de habitantes, os crimes contra a integridade física terão rondado os 57 mil durante todo o ano passado, ou seja, cerca de 156 crimes desta tipologia por dia. O INE não discrimina as subcategorias destes crimes.

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    Apesar de uma percepção de que existe uma maior criminalidade associada à violência física, incluindo na esfera doméstica, em meios mais urbanos, na verdade a esmagadora maioria dos municípios que registam maior taxa são de pequena dimensão ou localizados nas ilhas. Com efeito, de entre os 20 concelhos de maior dimensão, o mais violento é o Porto, mas ocupando ‘apenas’ a 57ª posição.

    O concelho da Ribeira Grande, na ilha açoriana de São Miguel, lidera a lista dos municípios com maior violência física, tendo registado 13,8 casos por mil habitantes. Com uma população de cerca de 32 mil habitantes, esta taxa significa cerca de 440 crimes em apenas um ano. Se essa fosse a taxa nacional, em vez dos cerca de 55 mil crimes contra a integridade física contabilizados em Portugal no ano passado (6 crimes por hora), teríamos tido mais de 140 mil. o que daria 16 crimes por hora.

    Tal como outros municípios no topo em 2023, este município açoriano é um caso recorrente, pelo menos a atender aos dados discriminados por concelho pelo INE. No último triénio, Ribeira Grande esteve sempre no ‘triste pódio’: foi o segundo mais violento em 2022 (com 12, 4 por mil, apenas atrás de Santa Cruz das Flores) e foi o primeiro em 2021, com 14,4 por mil.

    O segundo concelho mais violento foi Barrancos, o município alentejano conhecido pela tourada de morte. No ano passado registou 11,9 casos por mil habitantes, mas em 2021 também ocupou a segunda posição, com 12,7 casos por mil. Em 2022 ocupou a quarta posição dos mais violentos, com 12,4 por mil. Agora já com menos de 1.500 residentes, o número absoluto de crimes contra a integridade física é, digamos, baixo: rondará os 16 crimes por ano, pouco mais de um por mês.

    No desfile da 13ª edição da Feira Quinhentista, realizada este mês na Ribeira Grande, retratou-se os tempos de violência nos tempos de Luís de Camões e Vasco da Gama. Hoje, os níveis não semelhantes, mas este município açoriano é o que regista a maior taxa de crimes contra a integridade física em Portugal. Foto: CMRG.

    No top 10 dos mais violentos em 2023 estão ainda mais quatro municípios alentejanos: Avis (3ª posição, com 11,8 casos por mil), Vidigueira (4ª posição, com 11,1 por mil), Mourão (7ª posição, com 9,9 por mil) e Ferreira do Alentejo (10ª posição, com 9,5 por mil). Neste grupo (que integra ainda um 11º município ex aequo), os restantes municípios localizam-se no distrito de Aveiro (Murtosa), e nas regiões dos Açores (Lagoa, Velas e Ponta Delgada) e do Algarve (Albufeira). No caso deste último concelho, os dados estarão inflacionados por se tratar de uma zona turística, com um fluxo de não-residentes elevado (potenciais vítimas e agressores), agravando assim o valor da taxa que é determinada pelo número de residentes habituais.

    Por via da grande preponderância de concelhos deste arquipélago, os Açores registam a taxa mais elevada de crimes contra a integridade física, com 8,8 casos por mil habitantes, um valor que é cerca de 63% superior à média nacional. Em todo o caso, nos pequenos municípios açorianos do Corvo e Lajes das Flores não existem registos desta tipologia de crimes nos últimos três anos.

    O Algarve vem pouco atrás dos Açores, com 7,8 casos por mil, mas como se referiu em relação a Albufeira este valor refllecte uma situação que não tem em conta o ‘aumento populacional’ no período estival. A fechar o pódio, encontra-se o Alto Alentejo com 7,1 casos por mil habitantes. No extremo oposto, ou seja, as zonas com menor violência física são as regiões do Ave (4,1 casos por mil) e Médio Tejo e do Tâmega e Sousa, ambas com 4,2 casos por mil.

    Nas regiões urbanas, e mais populosas, não há nenhum dos maiores municípios acima de uma taxa de 7 casos por mil. De entre os 10 municípios com mais população, acima da média nacional (5,4 por mil) estão seis: Porto (6,8), Lisboa (6,6), Loures (6,5), Almada (6,0), Amadora (5,9) e Sintra (5,5). No caso da capital, com uma população estimada de 525 mil habitantes, esta taxa significa cerca de 3.500 crimes desta natureza ao longo do ano passado, um pouco menos de 10 por dia. Abaixo da média nacional, neste grupo de municípios estão Matosinhos (5,2), Vila Nova de Gaia e Cascais (ambos com 5,1) e Braga (4,1).

    Taxa de crimes contra a integridade física (casos por mil habitantes) em Portugal entre 2011 e 2023. Fonte: INE.

    Nos restantes concelhos que são capitais de distrito – para além de Lisboa, Porto e Braga -, a incidência de criminalidade contra a integridade é muito distinta, sendo bastante baixa nas três principais cidades do Litoral Centro (Aveiro, com 4,6 casos por mil; Coimbra e Leiria, com 4,1 casos por mil) e bastante mais elevada do que a média nacional na região sul, com Beja e Faro com taxas de 7,0 casos por mil.

    Para além das já citadas cidades, de entre as capitais de distrito, há mais duas abaixo da média nacional (Guarda, com 5,3 casos por mil; e Évora, com 4,9), o concelho de Santarém apresenta o valor médio (5,4 casos por mil) e os restantes seis municípios estão acima da média nacional (Portalegre, com 6,3 casos por mil; Setúbal, com 6,2 casos por mil; Vila Real e Castelo Branco, com 5,8 casos por mil, ambos; e ainda Viana do Castelo e Bragança, com 5,6 casos por mil, ambos).


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  • Gestão da pandemia aumentou desigualdades entre ricos e pobres em Portugal

    Gestão da pandemia aumentou desigualdades entre ricos e pobres em Portugal

    O Coeficiente de Gini, um indicador reconhecido internacionalmente que mede a desigualdade na distribuição de rendimento foi actualizado na semana passada pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) para o ano 2022 e revela um aumento da concentração de riqueza. Os dados indicam que 2020 foi de inversão, após este coeficiente ter atingido o valor mais baixo dos registos do INE, que representaria um sinal de melhor distribuição dos rendimentos entre toda a população. No primeiro ano da pandemia, com os lockdowns e restrições económicas, os ricos distanciaram-se ainda mais da população mais pobre, situação ligeiramente atenuada com o aumento de apoios sociais em 2021. Mas a inflação a partir de 2022 provocou uma nova aceleração nas desigualdades. Com os anos da pandemia, Portugal recuou assim aos tempos sombrios da influência da troika, quando os portugueses assistiram a um empobrecimento e concentração de riqueza nuns poucos.


    Já diz o ditado que ‘um mal nunca vem só’. Em 2020, além de ter surgido uma pandemia, os portugueses foram ainda castigados por uma gestão radical da crise de saúde pública que gerou, entre outros males, uma maior desigualdade na distribuição de rendimento no país. De facto, segundo dados actualizados do Instituto Nacional de Estatística (INE), o primeiro ano das medidas restritivas da pandemia trouxe uma maior concentração de riqueza em alguns portugueses, face à generalidade da população. O cenário melhorou ligeiramente em 2021, mas no ano seguinte Portugal registou o maior nível de desigualdade de distribuição de rendimento em sete anos.

    De acordo com os dados do INE, o coeficiente de Gini – que mede a desigualdade na distribuição do rendimento – atingiu os 39,4% em 2022, o valor mais alto desde 2016. Este indicador do INE “visa sintetizar num único valor a assimetria” da distribuição de rendimento e assume valores entre zero e 100. Quanto mais baixo for o valor do indicador mais indivíduos têm igual rendimento. Quanto mais alto for, mais o rendimento se concentra em menos pessoas.

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    O indicador vinha a registar uma evolução favorável desde 2015, observando-se uma redução na desigualdade e uma menor concentração de riqueza em menos indivíduos. Isto depois de ter atingido os 40% nos anos em que a população mais vulnerável sofreu com a austeridade acordada com a ‘troika’, na sequência do ‘resgate’ financeiro do país, no Governo socialista de José Sócrates.

    Em 2013, o coeficiente de Gini atingiu mesmo os 40,8%. Desde então, foi-se mantendo abaixo dos 40% e, a partir de 2015, entrou numa tendência descendente, com um maior equilíbrio na distribuição de rendimento no país.

    Contudo, em 2020, o indicador disparou para 39% face aos 37,3% registados no ano anterior. Em 2021, melhorou para 37,7% mas voltou a subir, fixando-se em 39,4% em 2022.

    Coeficiente de Gini do rendimento monetário bruto por adulto equivalente (%). Fonte: INE (dados actualizados em 18 de Julho)

    Em resumo, as duas últimas crises em Portugal, e a sua gestão em termos políticos e económicos, trouxeram bençãos a alguns poucos, que viram a sua riqueza acumular, e trouxeram mais pobreza à generalidade dos portugueses.

    Nos anos da pandemia, a classe do ‘portátil’, como ficou conhecida, beneficiou com confinamentos e fecho de escolas e de actividades e serviços. Ficam na memória as partilhas de fotografias nas redes sociais de alguns a trabalhar no seu portátil em cenários idílicos nas suas casas de praia e de campo. Enquanto isso, os trabalhadores da indústria, por exemplo, continuaram a ir trabalhar, mas muitos sofreram com menores salários, decorrentes de ‘lay-offs, e até despedimentos. Famílias inteiras de classes mais baixas ficaram confinadas, muitas em pequenos apartamentos ou habitações sem condições.

    Por outro lado, as moratórias no crédito beneficiaram, sobretudo, os que já tinham casa própria e acesso a crédito à habitação, ficando com folga no orçamento mensal para acumular poupança.

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    (Foto: D.R.)

    Mas as medidas extremas e restritivas impostas na pandemia em muitos países, incluindo Portugal, tiveram também impacto ao nível dos preços de bens e serviços, que se prolongaram e acumularam com outros efeitos, como o da guerra na Ucrânia, diminuindo ainda mais o ‘valor do dinheiro’.

    As medidas adoptadas na pandemia, que cimentaram a evolução crescente da inflação, levaram ao previsível aumento das taxas de juro que, nos últimos anos, colocaram muitas famílias e empresas à beira de um ataque de nervos, sem conseguir fazer face ao disparar do custo das suas dívidas.

    Assim, é provável que o indicador de desigualdade de distribuição de rendimento em Portugal não apresente melhores em 2023 e 2024, mas só quando o INE voltar a actualizar os dados do coeficiente de Gini se saberá.


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  • Saldo natural em 2023: só uma capital de distrito não tem valor negativo

    Saldo natural em 2023: só uma capital de distrito não tem valor negativo

    Por via da emigração, em 2023 bateu-se o recorde de habitantes em Portugal, e observa-se um incremento da natalidade em diversas regiões do país, sobretudo na Grande Lisboa (onde nasceu uma em cada quatro crianças), com Odivelas e Loures à cabeça, que até já suplantam os ‘níveis históricos’ do município açoriano da Ribeira Grande, que mesmo assim continua a ser a região que mais cresce por via do saldo natural. Nesse aspecto, Portugal continua pelas ruas da amargura: nos valores do ano passado, só se contam 16 concelhos onde se nasceu mais do que se morreu, e houve mesmo alguns que perderam, por esta via, mais de 2% da sua população em apenas um ano, com Gavião em triste destaque. O PÁGINA UM analisou em detalhe os recentes dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), tendo constatado também que subsiste um problema demográfico gravíssimo mesmo nos municípios que são capitais de distrito: só Braga mostrou, no ano passado, um saldo natural positivo.


    Apesar de Portugal ter aumentado a sua população pelo quinto ano consecutivo – e atingido o máximo de sempre nos 10.639.726 residentes no ano passado, de acordo com os recentes dados do Instituto Nacional de Estatística –, o saldo natural em Portugal continua um desastre, com a taxa de natalidade a ficar abaixo da taxa de mortalidade em 3,1 pontos por mil. Mas, pior ainda, o desequilíbrio demográfico é evidente: em 308 concelhos, apenas 16 apresentam um saldo natural positivo. No extremo oposto, estão 93 municípios com um saldo natural negativo de 10 por mil ou menos. Há mesmo cinco onde a diferença entre a taxa de natalidade e a taxa de mortalidade é ainda pior com valores negativos a superarem os 20%.

    De acordo com a análise do PÁGINA UM aos dados demográficos de 2023, divulgados pelo INE, o município com maior dinâmica de natalidade é agora Odivelas, que alcançou os 12 nascimentos por mil habitantes, ou seja, nasceram 1.844 bebés. Acurta distância surge Amadora, seu vizinho geográfico, e Albufeira, no Algarve, ambos com 11,4 por mil. Com poucas décimas abaixo encontram-se mais quatro concelhos da Área Metropolitana de Lisboa: Loures (11,3), Moita (11,3), Montijo (11,1) e Sintra (11,1). Só a seguir a estes municípios surge então o concelho que durante décadas liderou o ranking relativo dos nascimentos: Ribeira Grande (10,9 nascimento por mil), que integra a freguesia de Rabo de Peixe, a zona mais pobre de Portugal.

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    Completam o top 10 os municípios do Seixal e Portimão (10,8 e 10,3 por mil, respectivamente), embora haja ainda mais sete concelhos com uma taxa de natalidade de 10 por mil ou superior, nomeadamente Loulé, Barreiro e Aljezur (todos com 11,3), Beja (10,2) e Sobral de Monte Agraço, Lisboa e Mourão (todos com 10,0). Por região, a Grande Lisboa lidera, com uma taxa de natalidade de 10,2 por mil (a única acima de 10). Significa assim que terão nascido na Grande Lisboa, ao longo de 2023, quase 21.700 crianças, ou seja, um em cada quatro nascimentos em Portugal, o que, em certa medida, também explica a saturação dos serviços de obstetrícia observados nesta região.

    Se a emigração de população jovem explica em quase todos estes concelhos, estas taxas de natalidade bem acima da média nacional (8,1 por mil), a situação ainda é mais relevante nos casos de diversos concelhos algarvios (Portimão, Loulé e Aljezur), nos dois concelhos alentejanos (Beja e Mourão) e em alguns dos da Área Metropolitana de Lisboa (Moita, Barreiro e Sobral de Monte Agraço e mesmo Lisboa), porque, devido ao envelhecimento populacional das últimas décadas, apresentam uma taxa de mortalidade elevada e, em consequência, até um saldo natural ainda negativo.

    No extremo oposto, encontram-se 44 municípios com uma taxa de natalidade inferior a 5 nascimentos por mil habitantes, praticamente todos do interior do Continente e das regiões autónomas. À cabeça aparece Armamar, no distrito de Viseu: numa população de 15.650 habitantes, nasceram apenas 15 crianças ao longo de 2023, o que dá uma taxa de natalidade somente de 2,6 por mil. Não menos pior esteve Vinhais, no distrito de Bragança, com uma taxa de natalidade de 2,7 por mil (20 nascimentos numa população de 7.450). No top 10 dos municípios com menor dinâmica de nascimentos estão ainda Mértola, Alcoutim, Almeida, Montalegre, Pampilhosa, Penalva do Castelo, Vila Nova de Foz Côa e Vila Pouca de Aguiar, com taxas de natalidade entre 3,2 e 3,5 por mil. Para agravar, toos estes municípios, apresentam taxas de mortalidade muito acima da média, pelo que todos apresentam um saldo natural negativo superior a 10%.

    Gavião: crianças deste município norte alentejano, na região com pior saldo natural do país. Foto: CM do Gavião.

    Em todo o caso, com excepção de Alcoutim, nenhum destes concelhos é dos 10 onde mais se morreu em termos relativos em Portugal no ano passado. A fúnebre lista, por via de uma população idosa e sem jovens, surge encabeçada pelo concelho do Gavião, no distrito de Portalegre, com 30,8 óbitos por mil, quase três vezes superior à média nacional (11,1 por mil). Segue-se Sabugal, no distrito da Guarda, com 26,6 por mil, encontrando-se ainda mais três municípios acima dos 25 por mil: Mora, no distrito de Évora (26,4), Alcoutim, no distrito de Faro (26,3), Aguiar da Beira, no distrito da Guarda (26,3) e Crato, no distrito de Portalegre (26,0). A fechar o top 19 estão ainda os municípios da Vidigueira (24,8), Oleiros (24,4), Melgaço (23,8) e Idanha-a-Nova (23,8), todos do interior,

    Contas feitas, por via do cruzamento entre natalidade e mortalidade, somente 16 municípios portugueses apresentaram no ano passado um saldo migratório positivo, sendo liderado por Ribeira Grande (3,6 por mil), seguido por Odivelas (3,1), Albufeira (2,9), Sintra (2,8), Vila Franca do Campo (2,2) e Batalha (2,0). A fechar o top 10 surgem Vizela (1,9 por mil), Amadora (1,6), o município açoriano da Lagoa (1,3) e Loures, Ainda com saldo migratório positivo estiveram Loures (1,2 por mil), Seixal (1,2), Braga (1,2), Vila Franca de Xira (0,9), Paredes (0,5), Montijo (0,4) e Felgueiras (0,3).

    No lado oposto, o município que mais população perdeu por via do cruzamento entre a taxa de natalidade e a taxa de mortalidade foi Gavião, que apresentou um saldo natural negativo de 25,7%. Significa que, só por aí, e sem contabilizar o saldo migratório (entrada de novos residente e saída de residentes), este pequeno município norte alentejano perdeu quase 3% da sua população em apenas um ano. Com perdas demográficas, por via do saldo natural, superior a 2 por mil estão ainda Alcoutim (-23,0), Sabugal (-22,5), Aguiar da Beira (-21,6), Crato (-20,5).

    Braga: o único município capital de distrito com saldo natural positivo. Foto: CM de Braga.

    O problema demográfico, por via do saldo natural, é porem extensível às capitais de distrito, incluindo Lisboa e Porto. Considerando todos os 18 distritos do Continente e os quatro extintos dos arquipélagos, somente o município de Braga teve um saldo natural positivo (1,2 por mil), resultante de uma taxa de natalidade de 8,3 por mil que contrastou com uma taxa de mortalidade de 7,1.

    Os municípios de Lisboa e do Porto tiveram um saldo natural negativo de 1,6 e de 4,1 por mil, respectivamente. O município capital de distrito com pior saldo natural foi Castelo Banco com um valor negativo de 8,7 por mil, seguindo-se Portalegre (-8,4), Guarda (-6,8), Bragança (-6,5), Funchal (-4,9), Beja e Vila Real (ambos com -4,8), Santarém (-4,4), Angra do Heroísmo (-4,0), Viana do Castelo (-3,5), Coimbra (-3,3), Horta e Évora (ambos com -3,0), Setúbal (-2,8), Viseu (-2,6), Aveiro (-1,8), Faro (-1,6), Leiria (-1,0) e Ponta Delgada (-0,2).


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  • Violência doméstica: 72 crimes por dia no ano passado. Municípios do Alentejo e Açores com os piores rácios

    Violência doméstica: 72 crimes por dia no ano passado. Municípios do Alentejo e Açores com os piores rácios

    Os mais recentes dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) sobre a violência doméstico em contexto de casal já assustam, ultrapssando os 26 mil crimes registados só no ano passado. Mas o PÁGINA UM foi mais longe na análise e calculou os rácios deste tipo de crimes em função dos registos das autoridades policiais em cada município e da respectiva população residente. E mostra que a violência conjugal, embora presente em quase todo o lado, apresenta prevalências pavorosas em zonas rurais e do interior, sobretudo em partes do Alentejo, dos Açores e do interior da região Norte. Em exclusivo, o PÁGINA UM revela todos os números entre 2021 e 2023, naquele que será o primeiro trabalho de um dossier de investigação dedicado à criminalidade em Portugal.


    As autoridades policiais registaram, só no ano passado, uma média diária de mais de 72 crimes de violência doméstica contra cônjuge ou análogos, ou seja, incluindo todos os casos de coabitação em comum entre casais. Em todo o ano de 2023 foram 26.041 crimes registados pelas autoridades policiais. Estes números absolutos, revelados na semana passada no site do Instituto Nacional de Estatística (INE), estão em linha com os valores apurados em 2022 (26.073 crimes similares), mas são substancialmente mais elevados do que em 2021 (22.524).

    Nos últimos três anos, o INE apresenta estes registos em números absolutos por município, colocando assim os concelhos de maior dimensão no topo, mas uma análise do PÁGINA UM, com base nas estimativas oficiais da população, possibilita apurar os rácios de criminalidade que se revelam, em muitos casos, surpreendentes.

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    Com efeito, em termos absolutos, os três concelhos mais populosos do país – Lisboa (cerca de 547 mil habitantes), Sintra (388 mil) e Vila Nova de Gaia (quase 307 mil) – são os que contabilizam mais crimes de violência doméstica. A capital portuguesa registou 1.777 destes crimes ao longo do ano passado, uma média de quase cinco casos por dia, enquanto em Sintra se contabilizaram 1.309 crimes, uma média de cerca de sete casos em cada dois dias. Estes dois municípios são os únicos que estiveram acima da fasquia do milhar de casos num só ano, evidenciando-se um crescimento entre 2021 e 2023 da ordem dos 26% em Lisboa e de quase 39% em Sintra.

    Já a grande distância, no terceiro município mais populoso, Vila Nova de Gaia, as autoridades policiais contaram, no ano passado, 680 crimes de violência, uma média pouco inferior a dois casos por dia. Acima de um caso por dia durante o ano passado estão somente municípios com mais de 100 mil habitantes: além dos três já referidos, são os casos de Loures (676 crimes em 2023), Porto (620), Cascais (522), Almada (512), Amadora (504), Oeiras (489), Funchal (481), Seixal (422), Matosinhos (394) e Vila Franca de Xira (368).

    Particularmente preocupante é a evolução em alguns destes municípios. Por exemplo, entre 2021 e 2023, no concelho do Funchal os crimes de violência doméstica cresceram 53%, em Loures 41%, no Seixal, em Oeiras e em Oeiras 38%.

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    No lado oposto, de entre os concelhos com mais de 100 mil habitantes com menor registo de crimes de violência doméstica estão Barcelos (221 casos em 2023), Maia (224) e Viseu (226).

    Porém, quando se analise o rácio da violência doméstica – ou seja, os crimes por ano em função da população residente –, o cenário modifica-se, revelando-se a verdadeira dimensão de um grave problema socio-económico. Com efeito, considerando o número de crimes por mil residentes, o município mais violento é Barrancos: embora tenha um registo de 10 casos em 2023, tal sucedeu numa comunidade com menos de 1.500 habitantes. Se o seu rácio (6,8 casos por mil) fosse o de Portugal, em vez dos 26 mil casos registados a nível nacional, haveria mais de 71 mil. Ou seja, o pequeno município alentejano – conhecido pelas festas com touro de morte –, não é, neste aspecto, um exemplo muito dignificante.

    Barrancos não é, contudo, um caso isolado no Alentejo, que se revela, nesta análise, como a região com maior prevalência de violência doméstica, seguindo-se os Açores. Com efeito, no top 10 dos municípios com maior rácio de violência doméstica em Portugal, sete são do Alentejo – Barrancos, Ferreira do Alentejo, Avis, Viana do Alentejo, Alter do Chão, Arronches e Cuba – e três dos Açores – Velas, Lagoa e Ribeira Grande. Nestes municípios, as autoridades policiais registaram no ano passado entre 4,8 e 6,8 crimes por cada mil residentes. Em alguns destes municípios, o crescimento entre 2021 e 2023 foi bastante significativo. Em Velas passou de 1,4 por mil em 2021 para 5,7 em 2023; em Alter do Chão de 1,3 para 5,4 e em Arronches de 1,4 para 5,0.

    Se considerarmos os 20 municípios com maior violência doméstica, com excepção do Funchal (que tem mais de 100 mil habitantes), todos têm características sobretudo rurais, ganhando também preponderância o Alentejo. Metade destes municípios são alentejanos. No continente, o município do litoral com pior rácio de violência doméstica é Albufeira, com 4,1 crimes por mil residentes, ocupando a 21ª posição.

    Barrancos, pequeno município alentejano conhecido pelos touros de morte, apresentou os piores rácios de violência doméstica no ano passado.

    No caso da Grande Lisboa, os concelhos da Moita e Barreiro – respectivamente com 3,7 e 3,6 crimes por mil habitantes – são os piores. Já Lisboa e Sintra – que, em termos absolutos lideram a violência doméstica – acabam por descer de posição consideravelmente numa perpectiva de taxa de criminalidade. O município de Sintra ocupa o 48º lugar para o ano passado em termos de rácio, com 3,4 crimes por mil residentes, enquanto Lisboa ocupa a 56ª posição, com 3,2 crimes por mil residentes, ainda acima da média nacional (2,5 por mil).

    No Norte – que em termos globais apresenta taxa de violência doméstico inferior à média nacional (2,1 por mil) –, há poucos municípios com rácios superiores a Lisboa, sendo todos de Trás-os-Montes e Alto Douro: Vila Flor (4,3 crimes por mil residentes), São João da Pesqueira (3,8), Freixo de Espada-à-Cinta (3,8), Alfândega da Fé (3,5), Peso da Régua (3,4), Vila Nova de Foz Côa e Torre de Moncorvo (3,3). Os dois principais municípios nortenhos – Porto e Vila Nova de Gaia – apresentaram também rácios mais baixos do que Lisboa: 2,6 e 2,2 por mil residentes.

    Em todo o caso, a região Centro é aquela com melhores rácios – ou seja, com menos crimes de violência doméstica por mil residentes. As autoridades policiais registaram, no ano passado, menos de 1,8 crimes desta natureza por mil residentes. Em todo o caso, existem excepções muito negativas, mais uma vez quase sempre concentrados no interior, onde se destacam os municípios de Belmonte, Arganil, Celorico da Beira, Vila Velha de Ródão, Vila Nova de Paiva, Oliveira do Bairro, Seia, Penamacor, Manteigas, Cantanhede, Marinha Grande, Mangualde, Batalha, Góis, Fundão, Sever do Vouga, Ílhavo, Mêda, Estarreja e Covilhã. Estes concelhos apresentaram rácios compreendidos entre 3,0 e 4,5 crimes de violência doméstica por mil residentes.

    Corvo: a pequena ilha açoriana, com quatro centenas de pessoas, é o único concelho do país sem registo de crimes de violência doméstico entre 2021 e 2023.

    No extremo oposto – neste caso, favorável –, deve salientar-se os sete concelhos onde, no ano passado, não houve registos policiais de violência doméstica. Curiosamente, três são dos Açores – Corvo, São Roque do Pico e Lajes das Flores – e dois são do Alentejo – Mértola e Ourique –, duas regiões onde campeiam rácios elevados de violência doméstica. Neste grupo de sete ‘pacíficos’ (e magníficos) municípios estão ainda dois do distrito de Bragança: Vimioso e Vinhais. Em todo o caso, somente Corvo manteve o pleno de ausência de crimes de violência doméstico no triénio 2021-2023, enquanto Lajes das Flores teve também um ‘nulo’ em 2021.

    Se se considerar um período de três anos, o cenário não se modifica muito. Os cinco piores concelhos ao nível da violência doméstica são Barrancos (20,5 crimes por mil residentes no triénio), Ferreira do Alentejo (17,9), Avis (16,0), Ribeira Grande (15,1) e Celorico da Beira (14,6), enquanto os cinco mais ‘pacíficos’ são Corvo (sem crimes), Mértola (1,6 crimes por mil residentes no triénio), Vimioso (1,9), Vinhais (2,7) e São Vicente (2,9). Quanto a Lisboa ocupa a 61ª posição a nível nacional, com um rácio no triénio de 8,9 crimes por mil residentes, estando um pouco abaixo de Sintra (56ª posição, com 9,1 por mil no triénio). O concelho do Porto está mais abaixo, na 115ª posição, com 7,3 crimes registados por mil habitantes entre 2021 e 2023, situando-se Vila Nova de Gaia na posição 164, cimj um rácio de 6,6.

    Por ser uma entidade publicamente reconhecida pOR serviços neste sector, o PÁGINA UM contactou a Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV) para obter comentários, explicando previamente a análise efectuada com os dados do INE. Mas esta instituição de solidariedade social – que, no ano passado, recebeu 3,8 milhões de euros em donativos e subsídios estatais, funcionando à base de uma dezena de acordos e protocolos com o Estado e quase outros tantos protocolos camarários – não mostrou qualquer disponibilidade.

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    O gabinete de comunicação da APAV alegou ao PÁGINA UM não haver agenda nesta semana de qualquer responsável para comentar este assunto. A APAV conta com sete membros da direcção, presidida por João Lázaro, 109 trabalhadores e contabilizou custos com pessoal superiores a 2,4 milhões de euros no ano passado.

    Aliás, esta associação tem registado um crescimento económico assinalável, duplicando o seu activo entre 2015 e 2023, passando de cerca de 2,8 milhões de euros para quase 5,7 milhões no ano passado, muito por fruto do aumento dos rendimentos, sobretudo subsídios públicos. No ano passado, os rendimentos da APAV aproximaram-se dos 4 milhões de euros, quando há cerca de uma década rondavam os 2 milhões de euros.


    Pode consultar AQUI os valores de todos os concelhos, com o número total de crimes de violência doméstica e o respectivo rácio (crimes por mil residentes). Para o cálculo do rácio de cada um dos três anos (2021, 2022 e 2023) considerou-se as estimativas da população (do INE) para o respecfivo concelho relativas ao ano anterior.


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  • Cúpula das Forças Armadas gasta 90 mil euros por mês em segurança e vigilância privada

    Cúpula das Forças Armadas gasta 90 mil euros por mês em segurança e vigilância privada

    Em casa de ferreiro e de cozinheira, afinal o espeto é de pau e até se contrata empresa externa para meter a carne no assador. No Estado-Maior-General das Forças Armadas (EMGFA), que serve para proteger a soberania dos portugueses, há instalações sensíveis para a segurança interna a serem vigiadas por empresas privadas, como sucede com o Reduto Gomes Freire, em Oeiras, a sede do Comando Conjunto para as Operações Militares. Também o Hospital das Forças Armadas tem contado com vigilância privada. Esta opção de “caçar com gato” é bastante recente, tendo sido alimentada sobretudo pelo almirante Silva Ribeiro, que deixou o EMGFA em Fevereiro deste ano. Desde 2021, à conta desta opção gastou-se quase 3 milhões de euros.


    O Estado-Maior-General das Forças Armadas (EMGFA) gastou, desde 2021, quase 2,9 milhões de euros em 43 contratos de vigilância privadas das suas instalações, incluindo as do seu Instituto de Apoio Social (IASFA). O montante em causa contrasta com apenas 23 contratos nos 10 anos anteriores (2011-2020) que totalizaram apenas 1,4 milhões de euros. Ou seja, em termos médios, o EMGFA passou de um gasto médio mensal de cerca de 12 mil euros no período de 2011-2020 para um gasto médio mensal quase oito vezes superior. Em média, nos 32 meses que passaram desde Janeiro de 2021, os gastos em segurança privada ultrapassam os 90 mil euros por mês.

    De acordo com o levantamento do PÁGINA UM aos contratos assinados pelo EMGFA e pelo IASFA desde 2011, verifica-se que foi sobretudo com a entrada em funções do almirante Silva Ribeiro como chefe de estado-maior general das Forças Armadas que os contratos de vigilância e segurança privada floresceram num sector onde, para além de questões de segurança nacional e até pelo simbolismo, não seria suposto existirem.

    Uma casa de militares afinal vigiada por uma empresa privada. EMGFA não explica se há critérios para assegurar protecção de matéria sensível.

    E foi logo desde o início. No próprio dia da tomada de posse de Silva Ribeiro – que antes estivera na cúpula da Armada, agora ocupada por Gouveia e Melo –, em 1 de Março de 2018, foi logo assinado um contrato, ao abrigo de um acordo-quadro, com a empresa Ronseguir no valor de 372.043 euros, para a vigilância e segurança das unidades de apoio do Reduto Gomes Freire, do Instituto Universitário Militar e do Campus de Saúde Militar.

    Convém, no entanto, referir que a vigilância privada a estas instalações militares, de grande sensibilidade, começara em 2016, com a contratação da Securitas para o Reduto Gomes Freire, através de um contrato de 50.368 euros, que obteve outro ainda em 2017, no valor de 49.565 euros.

    Ainda em 2017, durante o mandato do general António Pina Monteiro – que ocupou as funções entre 2014 e o início de 2018 – já fora determinado contratar por cerca de 213 mil euros a empresa Ronsegur para, por nove meses, prestar serviços de segurança e vigilância para o Reduto Gomes Freire.

    Saliente-se que estas instalações militares, localizadas em Oeiras, funcionaram até finais de Dezembro de 2012 como Comando de Forças da NATO, sendo actualmente a sede do Comando Conjunto para as Operações Militares do EMGFA, o centro nevrálgico de coordenação das intervenções dos três ramos das Forças Armadas. E têm estado sistematicamente a ser vigiadas, as entradas e saídas, por esta empresa privada sedeada em Santa Maria da Feira.

    Pólos de Lisboa e do Porto do Hospital das Forças Armadas começou a ter vigilância privada desde 2021.

    O contrato mais recente, explicitamente destinado apenas ao Reduto Gomes Freire, no valor de quase 333 mil euros, foi assinado em Julho do ano passado, com duração de 12 meses, prevendo um pagamento horário por serviços de vigilância e segurança para a Unidade de Apoio entre 8,28 euros e 16,73 euros, em função do dia de semana e do horário. Ainda não foi publicado o contrato que terá sido assinado já este ano.

    Contudo, foi sem dúvida durante o mandato do almirante Silva Ribeiro que se “institucionalizou” a contratação de serviços privados de vigilância e segurança privada para instalações do EGMFA e do IASFA. De entre os 66 contratos de segurança privada destas duas entidades publicadas no Portal Base, contabilizam-se 47 durante o seu mandato. E se no seu primeiro dia de mandato (1 de Março de 2018) se assinou um contrato com a Ronsegur, também no último (28 de Fevereiro de 2023) se assinou outro com a Ronsegur, no valor de 60.985 euros, mas neste caso para a vigilância de instalações do IASFA durante dois meses. No total, nos cinco anos do seu mandato, foram assinados contratos de segurança privada no valor de 2.089.692 euros.

    Em todo o caso, foi nos anos de 2021 e 2022 – já que em 2020, primeiro ano da pandemia apenas se assinaram quatro contratos no valor total de 121 mil euros – que o EMGFA e o seu instituto de acção social deram gás à contratação de empresas privadas para vigiar as suas instalações. Em 2021 foram assinados 21 contratos no valor de 1,3 milhões de euros e no ano seguinte mais 15 contratos envolvendo um pouco mais de 1,2 milhões de euros. Ao longo de 2023 estão apenas assumidos publicamente sete contratos desta natureza, dos quais ainda quatro do mandato de Silva Ribeiro, com um montante de quase 167 mil euros, e os restantes três do actual Chefe de Estado Maior General, Nunes da Fonseca, num total de quase 167 mil euros.

    Montantes dos contratos, por empresa e ano, de vigilância e segurança privadas estabelecidos pelo Estado-Maior-General das Forças Armadas e pelo Instituto de Acção Social das Forças Armadas desde 2010. Fonte: Portal Base. [ver em maior dimensão]

    A Ronsegur tem sido, especialmente a partir de 2021 a empresa mais beneficiada, totalizando 23 contratos nos últimos 32 meses, com uma facturação de quase 2,1 milhões de euros. Antes do mandato de Silva Ribeiro, a Ronsegur já fizera nove contratos com as Forças Armadas (EMGFA e IASFA), mas envolvendo pouco mais de 330 mil euros.

    Esta empresa de Santa Maria da Feira, criada em 2004, está envolvida num processo em que o Ministério Público acusa três autarcas de Mogadouro de prevaricação por via de contratos de vigilância e segurança privada do Parque de Campismo da Quinta da Aguieira, do Complexo Desportivo local e do Parque Juncal. De acordo com o Ministério Público, “em conjugação de esforços e em concretização de plano previamente delineado” os três autarcas e os sócios de três empresas “lograram simular a aparência de um procedimento de contratação pública por intermédio de consulta prévia de modo a lograr atribuir, novamente, à Rosengur, a execução de serviços de vigilância e segurança privada” no município de Mogadouro, “contornando, flagrantemente, as regras legais da contratação pública e da concorrência”.

    A empresa tem estado também no centro de vários casos de alegados abusos laborais, embora no seu site ostente vários documentos sobre sua política, designadamente de responsabilidade social e um plano de gestão de riscos de corrupção e infracções conexas.

    Empresas privadas controlam quem entra ou sai de instalações militares. Em casa de ferreiro, espeto de pau.

    Muito mais atrás da Ronsegur no que diz respeito a relações comerciais com o EMGFA no âmbito da vigilância, surge a Ovisegur, que apenas começou trabalhar para a cúpula das Forças Armadas a partir de 2021, mas com grande sucesso: tem sacado contratos atrás de contratos para a vigilância e segurança do Hospital das Forças Armadas, tanto no pólo de Lisboa como no do Porto.

    No total, a Ovisegur conta já 13 contratos desta natureza – uma parte por concurso público, outra por ajustes directos, por vezes sem redução a escrito –, que já totalizam 489.587 euros. Nos últimos dois anos, uma outra empresa, a COPS, tem coleccionado no seu portfólio contratos para vigilância do Hospital das Forças Armadas: dois em 2022 e mais três este ano, envolvendo 227.686 euros.

    Aliás, somando todos os contratos de segurança privada do Hospital das Forças Armadas – 20 no total desde 2021, não se tendo detectado qualquer outro antes dessa data –, o EMGFA gastou já 789.204 euros.

    Além das três empresas privadas já referidas – Ronseguir, Ovisegur e COPS –, existem mais quatro empresas com contratos de vigilância privada com o EMGFA: a Securitas, a Noite e Dia, a 2045 e ainda a Strong. No caso da Securitas, o último contrato é, porém, de 2020 – para instalações do IASFA – e antes dessa data constam apenas quatro contratos em 2013 e dois em 2016.

    Almirante Silva Ribeiro, no dia em que deixou o EMGFA e foi condecorado com a Grã-Cruz da Ordem Militar de Cristo por Marcelo Rebelo de Sousa. Durante o seu mandato foram assinados 47 contratos de vigilância privada, tanto para instalações do EMGFA como para o seu instituto de acção social. Antes de si, o uso de empresas privadas era raro.

    Ainda mais fortuitas são as relações comerciais com a 2045 (um contrato em 2012 no valor de 53 mil euros), a Noite e Dia (dois contratos, em 2021 e 2022, num montante total de cerca de 72 mil euros) e a Strong (um contrato em 2013 de pouco mais de 11 mil euros).

    O PÁGINA UM pediu, no dia 22 deste mês, comentários ao EMGFA sobre estas matérias, pedindo que fossem dados esclarecimentos sobre os motivos de não ser a função de vigilância feita por recursos próprios, ou seja, por militares. De igual modo, perguntou-se se existiam critérios de reforço de segurança relativamente aos funcionários das empresas contratadas, de modo a assegurar a inviolabilidade de espaços e informação sensíveis.  

    No dia seguinte, as relações públicas das Forças Armadas acusou a mensagem, informando que “o assunto foi encaminhado para os órgãos competentes a fim de ser analisado”. Passou uma semana e a análise ainda não chegou.

  • Mortalidade dos adolescentes e jovens adultos está a níveis nunca vistos (desde 2014)

    Mortalidade dos adolescentes e jovens adultos está a níveis nunca vistos (desde 2014)

    Quase não se dão por elas, por serem apenas três em cada 1.000 mortes contabilizadas em Portugal. Poucas centenas em cada ano. Em todo o país eram menos de um óbito por dia; mas agora, de repente, já é um pouco mais de um por dia, e analisando em detalhe verifica-se que nos últimos dois anos o incremento da mortalidade nos adolescentes e jovens adultos, com idades entre os 15 e os 24 anos, aumentou 22% face ao período pré-pandemia. O forte aumento coincidiu com o início do programa de vacinação contra o SARS-CoV-2, a partir do quatro trimestre de 2021. Mas esse é tema tabu. O PÁGINA UM até já tinha, há cerca de um ano, detectado uma tendência preocupante. Daí para cá, só piorou.


    Há um problema persistente e já indisfarçável, excepto se o “sangue jovem” for já indiferente para os lados da Avenida João Crisóstomo, sede do Ministério da Saúde: a mortalidade total na faixa etária dos 15 aos 24 anos está anormalmente elevada desde o início de 2022. A situação nem sequer se pode já considerar surpreendente, porque em  Setembro do ano passado o PÁGINA UM já detectara uma preocupante tendência crescente na mortalidade dos adolescentes e jovens adultos desde Outubro de 2021.

    Mas desde Setembro, esta situação só piorou. E piorou duplamente, porque há um manto de silêncio político e mediático sobre estas mortes há largos meses, enquanto os media mainstream apenas se entretêm quando há show off, como a trágica (e desumana) morte de um idoso de 93 anos que, quando nasceu em 1930 tinha então uma probabilidade de viver só até aos 50 anos, ou seja, menos 43 anos do que aqueles que acabou vivendo. Os jovens que estão a perder a vida em circunstâncias não apuradas (porque aparentemente não interessa saber as causas) nem sequer terão a chance de contribuir para que, dentro de décadas, não se continue a deixar morrer nenhum idoso sozinho numa maca de hospital…

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    Em Setembro do ano passado, numa análise do PÁGINA UM aos dados do Sistema de Informação do Certificados de Óbito (SICO) já se constatara que em todo o mês de Agosto de 2022 tinham sido contabilizados 45 óbitos, um máximo desde 2014 – ano em que se começou a recolher estes dados com detalhe etário e mensal – para os jovens daquele intervalo de idades. Mais do que um recorde fortuito, enquadrava-se numa tendência crescente.

    Considerando a evolução da média da mortalidade anual – ou seja, o somatório dos óbitos dos 12 meses anteriores –, o mês de Agosto do ano passado mostrava estar num pico (com 360 óbitos), que contrastava com 304 óbitos no mesmo período de 2021. E o PÁGINA UM já anunciava não haver sinais de abrandamento.

    E o pior cenário confirmou-se. Uma nova análise do PÁGINA UM aos dados do SICO mostram que, para a faixa etária dos 15 aos 24 anos, o crescimento da mortalidade anual – calculada em função dos 365 dias anteriores – só inverteu ligeiramente na segunda semana de Novembro do ano passado, depois de se estabelecer um novo máximo nos 377 óbitos. Isto significa que morriam então 103 jovens deste grupo etário em cada 100 dias, quando antes da pandemia, e mesmo antes do início da vacinação contra a covid-19, o rácio era de 87 mortes por cada 100 dias. Significa que, extrapolando para 365 dias, havia um acréscimo inexplicável e inesperado de quase 60 mortes por ano de adolescentes e jovens adultos.

    Evolução da mortalidade acumulada nos últimos 365 dias para o grupo etário dos 15 aos 24 anos em cada dia desde Janeiro de 2015. Nota: para suavizar pequenas variações diárias procedeu-se ainda, para cada dia, ao cálculo da média móvel a 30 dias. Fonte: SICO / DGS. Análise: PÁGINA UM.

    No início de Janeiro deste ano ainda se chegou a observar uma ligeira retracção dos níveis de mortalidade deste grupo juvenil, mas este nunca ficou abaixo dos 360 óbitos (nos últimos 365 dias). E a partir daí encetou-se nova subida que atingiu os 375 óbitos (nos últimos 365 dias) em 21 de Julho. Anteontem, dia 23 de Agosto, este nível de mortalidade situava-se nos 371 óbitos – ou seja, desde 24 de Agosto de 2022 foi esse o número total de mortes em Portugal de jovens entre os 15 e os 24 anos.

    Comparando com períodos homólogos durante a pandemia, entre 24 de Agosto de 2021 e 23 de Agosto tinham morrido 360 jovens desta faixa etária – menos 11 óbitos. No período homólogo de 2020 a 2021 apenas 295 – menos 76 óbitos. No período homólogo de 2019 a 2020 registaram-se 338 – menos 33 óbitos. Este último valor, mais elevado do que o contabilizado no ano seguinte, não terá sido devido à covid-19, uma vez que no primeiro ano da pandemia apenas se registou um óbito por esta doença nesta faixa etária.

    Nos períodos de Agosto a Agosto dos anos anteriores à pandemia, as diferenças face ao período homólogo de 2022-2023 nos níveis de mortalidade na faixa etária dos 15 e os 24 anos situaram-se entre menos 36 e menos 74 óbitos.

    Em Setembro do ano passado, tendo feito uma análise similar, detectando já sinais evidentes de agravamento da mortalidade entre adolescentes e jovens entre os 15 e 24 anos, a situação só piorou.

    Para confirmar que este acréscimo de mortalidade nesta faixa etária não é conjuntural, e aparenta ser já estrutural – e é pelo menos coincidente com o início do período de vacinação contra a covid-19 nos jovens –, diga-se que nenhum outro grupo etário apresenta similar cenário.

    De acordo com outra análise do PÁGINA UM, para o período de 1 de Janeiro a 23 de Agosto (ou 22 de Agosto nos anos bissextos) desde 2014, é certo que o grupo dos maiores de 85 anos tem sido o mais “fustigado”, mas estamos perante uma faixa etária que está já fora da esperança média de vida, ou seja, com taxas de mortalidade bastante elevadas (acima dos 15% ao ano).

    Mesmo assim, comparando, para este período do ano, a mortalidade no quadriénio 2020-2023, observa-se que os mais idosos registaram um acréscimo de mortalidade de 16% face ao quadriénio 2016-2019, com o pior ano a ser o de 2022. Porém, no ano em curso, apesar da mortalidade ainda estar bem acima de qualquer ano pré-pandemia, o número de óbitos está abaixo do registado em 2022 e 2021. Além disso, convém salientar que este grupo etário tem estado a aumentar nas últimas décadas, sendo daí que também se justifica um aumento do número absoluto de óbitos.

    Ora, mas tal não se verifica no grupo etário dos 15 aos 24 anos, que até revela uma ligeira diminuição populacional em termos absolutos face à gradual diminuição da natalidade nas duas últimas décadas. Nestes casos, um aumento no número de óbitos em determinado período significa automaticamente uma subida da taxa de mortalidade.

    Assim, no período de 1 de Janeiro a 23 de Agosto, se se comparar o quadriénio 2020-2023 com o quadriénio 2016-2019, constata-se um agravamento de 15,3% da mortalidade neste grupo de jovens. Contudo, a situação ainda se agrava mais se se comparar o biénio 2022-2023 (média de 243 óbitos) com o período de 2014-2021 (média de 202 óbitos), revelando-se um aumento da taxa de mortalidade de 20,3%. E se se considerar apenas o quinquénio anterior à pandemia (2015-2019), a taxa de mortalidade aumenta 22%.

    A dimensão deste flagelo nos jovens entre os 15 e os 24 anos – que passa despercebido num país que se habitua a ter mais de 300 óbitos, na sua esmagadora maioria de pessoas bastante idosas – não encontra paralelo nas faixas etárias antecedentes e subsequentes.

    A análise do PÁGINA UM aos dados do SICO desde 2014 para o período entre 1 de Janeiro e 23 de Agosto (ou 22 de Agosto, nos anos bissextos) mostra que, confrontando o quadriénio 2020-2023 (que engloba os anos da pandemia) com o quadriénio anterior (2016-2019), a taxa de mortalidade infantil até apresentou uma melhoria substancial (-23,3%), confirmando aliás a boa evolução deste indicador já salientada em notícia de Maio passado. Isto mesmo se 2022 e 2023 apresentam números mais elevados do que 2021, que foi ano atípico (no bom sentido).

    Ministério da Saúde anda desde Agosto de 2022 a dizer que estuda as causas do excesso de mortalidade, mas Manuel Pizarro até já culpou as alterações climáticas.

    No grupo dos 1 aos 4 anos, a redução é de 2,5%, embora os valores de 2022 e 2023 sejam mais elevados do que os dois primeiros anos da pandemia (2020 e 2021). Em todo o caso, este é, por norma, um grupo etário de baixíssima taxa de mortalidade, pelo que se pode concluir que a última década tem sido marcada pela estabilidade. O mesmo se pode dizer para o grupo dos 5 aos 14 anos, em que a variação entre os dois quadriénios é praticamente nula.

    Como a variação entre quadriénios no grupo etário dos 25 aos 34 anos também se mostra baixa (apenas 2,4%), sendo que os números de óbitos em 2022 e até de 2023 são superados por outros anos do período 2014-2019, mais se destaca assim, pela negativa, a situação da mortalidade dos adolescentes e jovens adultos dos 15 aos 24 anos.

    E ainda mais se se juntar, na comparação, o grupo etário dos 35 aos 44 anos, que claramente foi um grupo pouco ou nada afectado pela pandemia, quer pela covid-19, quer pela desregulação do Serviço Nacional de Saúde, quer mesmo por hipotéticos efeitos adversos das vacinas contra o SARS-CoV-2. Com efeito, sendo certo que nos anos anteriores à pandemia, entre 1 de Janeiro e 23 de Agosto, se contabilizam, neste grupo etário, mais de um milhar de óbitos, a partir de 2021 os valores passam a estar abaixo dessa fasquia. Os números deste ano (864 óbitos) são mesmo os mais baixos desde 2014.

    Número de óbitos por grupo etário e ano desde 2014 no período de 1 de Janeiro a 23 de Agosto (ou 22 de Agosto, em anos bissextos). Fonte: SICO /DGS. Análise: PÁGINA UM.

    Nos grupos imediatamente subsequentes, apesar de o quadriénio 2020-2023 apresentar valores acima do quadriénio anterior à pandemia (2016-2019), os dois últimos anos mostram uma tendência de regresso à normalidade. Nos diversos grupos etários entre os 55 e os 84 anos verifica-se mesmo uma contínua descida ano após ano, desde 2021, o pico da pandemia. Os valores de mortalidade do grupo etário dos 75 aos 84 anos desde o início do ano em curso (20.534 óbitos) até já se situa abaixo da generalidade dos anos entre 2014 e 2022.

    Este cenário geral, contudo, só agrava, por isso, a situação dos adolescentes e jovens dos 15 aos 24 anos. Mesmo se, no total, representam apenas 0,3% do total dos óbitos. Mas a morte dos jovens não são apenas mortes: são vidas que deixaram de ser vividas. E isso custa mais…

    Entretanto, recordemo-nos que em Agosto de 2022, o Ministério da Saúde anunciou um estudo para analisar e detectar as causas para o excesso de mortalidade. Ainda não deu “sinais de vida”, apesar de o ministro Manuel Pizarro se ter antecipadao e culpado já as alterações climáticas. Enquanto isto, o PÁGINA UM ainda aguarda os resultados de um recurso junto do Tribunal Central Administrativo Sul, através do seu FUNDO JURÍDICO, para aceder aos dados discriminados do SICO que, em poucos dias de análise, permitiria apurar as principais doenças ou afecções responsáveis por esses excessos.

  • JMJ: Peregrinos pagaram transporte, mas Ministério do Ambiente ainda deu 3,3 milhões de euros aos operadores

    JMJ: Peregrinos pagaram transporte, mas Ministério do Ambiente ainda deu 3,3 milhões de euros aos operadores

    No acto da inscrição para a Jornada Mundial da Juventude, houve 354 mil peregrinos que pagaram ao Patriarcado de Lisboa verbas que incluíam um kit de transporte, e quem preparou os seus próprios percursos pagou os bilhetes do seu bolso. Mas ninguém explica agora se o Patriarcado pagou algum serviço ou se antes encaixou as verbas nos seus cofres; e nem se sabe se os operadores suportaram algum custo adicional. Só se sabe, sim, que um simples despacho do ministro Duarte Cordeiro mandou o orçamento do Fundo Ambiental às malvas e determinou que se concedesse um subsídio à empresa intermunicipal TML de até 3,3 milhões de euros. Mas esta empresa pública, que sobrevive de subsídios à exploração e já apresenta indicadores que podem levar à sua dissolução em breve, também ainda não deu sinal de si sobre esta matéria. Nem ao próprio Ministério do Ambiente. O apoio estatal concedido é superior ao custo do polémico altar-palco.


    No âmbito da Jornada Mundial da Juventude, o ministro do Ambiente, Duarte Cordeiro, autorizou a transferência de 3,3 milhões de euros do Fundo Ambiental para a empresa pública TML – Transportes Metropolitanos de Lisboa, mas ninguém diz, em concreto, para que serviu nem qual a justificação.

    A TML é uma empresa pública, criada em 2021 no seio das 18 autarquias Área Metropolitana de Lisboa (AML), com atribuições no planeamento e gestão de bilhética, como o Cartão Viva, funções antes atribuídas à OTLIS. Apesar de no ano passado, primeiro em pleno funcionamento, ter alcançado a venda de 15,6 milhões de euros, mostra, desde já, uma situação completamente deficitária, não tendo registado prejuízos colossais apenas porque sobretudo a AML lhe injectou 20 milhões de euros de subsídios de exploração.

    Altar-palco foi palco de polémica e baixou de 4,2 milhões para 2,9 milhões de euros. Apoio do Fundo Ambiental para transportes, que foram pagos pelos peregrinos, foi superior.

    O montante máximo a atribuir (3,3 milhões de euros) pelo Ministério do Ambiente decorre de um despacho de Duarte Cordeiro, publicado no final de Julho, que decidiu usar as verbas do Fundo Ambiental para, “mediante protocolo de colaboração técnica e financeira a celebrar” com a TML “para apoiar a aquisição de títulos de transporte público para os peregrinos que participam na Jornada Mundial da Juventude 2023”.

    A atribuição da verba do Fundo Ambiental – um milionário fundo com receitas previstas este ano de 1,2 mil milhões, metade dos quais dos leilões das licenças de emissões de dióxido de carbono (CELE) – foi feito à margem do orçamento de 2023 aprovado pelo próprio Duarte Cordeiro em Março deste ano, que determinava que o destino das verbas só poderia ser revisto “caso a execução orçamental da receita apresente variações significativas face às receitas previstas ou perante eventuais alterações significativas à execução orçamental de compromissos assumidos.”

    Porém, Duarte Cordeiro invocou uma cláusula de excepção do diploma que criou o Fundo Ambiental em 2016 que permite apoios pontuais por decisão do “membro do Governo responsável pela área do ambiente e da ação climática” quando se considerar que beneficia “a intervenções urgentes ou de especial relevância”. E o ministro do Ambiente assim fez, por considerar que se justificava
    “o apoio à disponibilização de títulos de transporte intermodais específicos para os peregrinos da JMJ, como forma de induzir e facilitar a opção de deslocações em transporte público, em detrimento de outras formas de mobilidade mais poluentes e penalizadoras do ambiente.”

    Duarte Cordeiro gere o Fundo Ambiental com um orçamento anual de 1,2 mil milhões de euros. Por simples despacho, pôde contrariar o orçamento do multimilionário fundo e atribuir 3,3 milhões de euros para apoiar uma empresa deficitária, sem justificação fundamentada.

    Porém, a justificação para esta operação de financiamento à TML não encaixa na realidade, porque os peregrinos que se inscreveram na Jornada Mundial da Juventude tiveram de pagar o transporte, que estava incluído explicitamente como contrapartida. Recorde-se que nos Pacotes Peregrinos, a Fundação JMJ Lisboa 2023 – criada pelo Patriarcado de Lisboa para a organização do evento que contou com a presença do Papa Francisco – estabeleceu diferentes valores de inscrições, desde os 95 até aos 255 euros, todos incluindo kits de transporte.

    Pressupondo que uma parte das avultadas receitas do Patriarcado de Lisboa pelas cerca de 354 mil inscrições de peregrinos se destinaria, em princípio, para também custear passes de transportes, o PÁGINA UM questionou por duas vezes a Fundação JMJ para saber se houve algum pagamento de serviços, ou algum desconto pelos passes durante a Jornada Mundial da Juventude, quer à TML quer a outro qualquer operador, como a Carris e Metropolitano de Lisboa. Porém, do Patriarcado de Lisboa só veio silêncio – e, por agora, só Deus saberá a resposta…

    Ou também a administração da TML – mas esta também não respondeu aos pedidos de informação do PÁGINA UM sobre o protocolo de colaboração técnica e financeiro previsto, nem deu explicações para o recebimento do apoio do Fundo Ambiental sabendo-se que, em princípio, os peregrinos pagaram o transporte no acto da sua inscrição.

    Houve 354 mil peregrinos que pagaram inscrição, que incluía kit de transporte. Os restantes tiveram que pagar bilhete nos transportes. TML não explica se recebeu dinheiro do Patriarcado de Lisboa ou se teve suportar algum custo que não teve retorno financeiro positivo.

    Apenas o Ministério do Ambiente, através do gabinete de imprensa de Duarte Cordeiro reagiu, embora ao estilo de Pôncio Pilatos, dizendo que aguardam que a “TML comunique o número de títulos usados para poder contabilizar o montante do Fundo Ambiental que será efetivamente necessário mobilizar, nos termos referido no despacho”, acrescentando, porém, que “o valor que a TML receberá será repartido pelos operadores da área metropolitana de Lisboa que aderiram, consoante o número de validações”, incluindo “a Carris e o Metropolitano de Lisboa”.  

    Na nota enviada pelo Ministério do Ambiente ao PÁGINA UM não surge qualquer referência sobre a noticiada comparticipação de 40% por parte do Governo aos passes dos peregrinos, através de um suposto acordo com a Fundação JMJ.

    Em suma, cerca de um mês após o despacho governamental, ignora-se se o dinheiro recebido dos peregrinos pela Fundação JMJ acabaram no bolso da Patriarcado de Lisboa, e se os 3,3 milhões de euros não são mais um dos contínuo subsídios à exploração de uma empresa pública, nascida há apenas dois anos, que já está deficitária.

    A TML gere, entre outros títulos, o passe Navegante dos transportes públicos da Área Metropolitana de Lisboa. No ano passado, as receitas de prestação de serviços só cobriram 44% dos custos. Resultado: sobrevive de subsídios de exploração para pagar sobretudo contratos externos e salários de 72 funcionários.

    De facto, mostra-se surpreendente constatar, através do relatório e contas de 2022, que a TML, para obter no ano passado vendas de 15,6 milhões de euros, teve de contratar serviços externos no valor de quase 31,4 milhões de euros – sendo 27,7 milhões em subcontratos –, além de arcar gastos com pessoal da ordem dos 3 milhões de euros. Em média, o salário bruto dos 72 empregados aproxima-se dos 3.000 euros mensais. E os três administradores custaram ao erário público, em dois anos (2021 e 2022) quase 456 mil euros.  

    No recente relatório e contas, a administração da TML até já alerta para o incumprimento de indicadores estabelecidos por um diploma de 2012 relativo à actividade empresarial de municípios. Essa legislação obriga que as empresas municipais sejam extintas se, por exemplo, as vendas e prestações de serviços realizados durante os últimos três anos não cubram, pelo menos, 50% dos gastos totais dos respetivos exercícios, ou se o resultado líquido for negativo durante três anos. A continuar esta situação financeira, se os municípios retirarem parte dos subsídios à exploração, os prejuízos contabilísticos disparam.

  • Cidade Europeia do Vinho: autarcas do Douro gastam 316 mil euros em copos

    Cidade Europeia do Vinho: autarcas do Douro gastam 316 mil euros em copos

    Não se sabe quantas garrafas foram ou serão necessárias abrir, e quanto vinho será entornado, mas certo é que a Comunidade Intermunicipal do Douro não teve problemas em despachar a compra de 316 mil euros a uma empresa unipessoal da região para o fornecimento de dezenas de milhar de copos para promover a região. Um dos dois contratos define o número preciso de copos de duas qualidades, de dois estilos: 66 mil. Os copos de melhor qualidade custam por unidade, no mercado, mais de sete euros. Mas estes são apenas dois dos 42 contratos já assinados pelos autarcas do Douro para promover os vinhos desta região, que envolvem mais de 2,6 milhões de euros. Mas é pouco provável que haja escândalo na imprensa mainstream por causa disto: CMTV, SIC e TVI estão entre os beneficiários destes contratos públicos.


    Foi tudo para copos. E nem sequer estamos a falar no custo do vinho. A Comunidade Intermunicipal do Douro (CIMDOURO) – uma associação de 19 municípios criada em 2009, e abrangida pelo direito público – já gastou quase 316 mil euros na aquisição de copos para eventos da Cidade Europeia do Vinho. O mais recente contrato, colocado hoje no Portal Base, foi assinado em Julho, havendo um outro em Abril.

    O Douro foi escolhido no ano passado pela Rede Europeia das Cidades do Vinho (RECEVIN) – derrotando as candidaturas, também lusitanas, do Algarve e Vale do Lima –, e as iniciativas começaram há sete meses, prevendo-se o culminar das festividades em 13 de Janeiro do próximo ano.

    Photo of Person Pouring Wine into Glass besides Some Cheese Pairings

    Do primeiro contrato dos copos não existem muitas referências, apenas constando que incide sobre “aquisição de bens/serviço para a “MERCHANDISING – COPOS DE VINHO – DOURO CIDADE EUROPEIA DO VINHO 2023” (sic). O valor do contrato, entregue à empresa unipessoal Amadeu Araújo por consulta prévia – embora o Portal Base não identifique as outras empresas convidadas – foi de 85.755,60 euros, IVA incluído, estando omitida a quantidade ou qualidade dos copos.

    Porém, no caso do segundo contrato existem já referências muito concretas. De acordo com esse contrato assinado em Julho, e hoje publicado no Portal Base, a associação municipal decidiu contratar também a empresa unipessoal Amadeu Araújo para fornecer no prazo de 100 dias, um total de 36 mil copos de acrílicos em tritan – cujo preço de mercado, em pequena quantidade, ronda os 5 euros – e mais 30 mil copos do tipo Riedel Degustazione Red Wine, que, também em pequenas quantidades pode atingir um preço unitário acima dos 7 euros. Há garrafas de vinho do Douro, de qualidade já bastante razoável, que custam isso ou pouco mais.

    Este contrato é o mais oneroso de todos os 43 contratos públicos detectados pelo PÁGINA UM já estabelecidos este ano pela CIMDOURO, liderada por Carlos Silva Santiago, presidente social-democrata da autarquia de Sernancelhe, para eventos no âmbito da Cidade Europeia do Vinho, em diversas localidades da região duriense. No total, a conta vai nos 2.146.829 euros sobretudo em acções de promoção e festividades, que incluem pagamentos de concertos a artistas (Pedro Abrunhosa, Ana Bacalhau, Miguel Araújo e António Zambujo) e contratos com estações de televisão. Sem IVA. Com IVA a conta segue acima dos 2,6 milhões de euros.

    Carlos Silva Santiago, presidente da autarquia de Sernancelhe e da Comunidade Intermunicipal do Douro, de copo na mão, durante a gala de abertura da Cidade Europeia do Vinho em Fevereiro.

    Apesar da decisão de entregar a organização da Cidade Europeia do Vinho para 2022 ter sido decidida em Bruxelas em Junho do ano passado, apenas um dos 42 contratos já assinados pela CIMDOURO foi por concurso público, curiosamente o da aquisição dos 66 mil copos. Porém, foi um concurso público muito sui generis, porque o anúncio foi publicado em 12 de Junho deste ano e somente havia seis dias para apresentação de propostas. Resultado: só houve um concorrente, a Amadeu Araújo Unipessoal.

    Esta empresa de Amadeu Araújo tem sede fiscal em Santa Marta de Penaguião, mas o seu proprietário exerce actividade em toda a região duriense, com 19 contratos públicos no valor total de quase 475 mil euros, grande parte dos quais a autarquia e entidades públicas de Peso da Régua, entre as quais a Santa Casa da Misericórdia. Segundo pesquisa do PÁGINA UM, Amadeu Araújo é suplente do Conselho Fiscal dessa Santa Casa, além de ser vogal da Associação Comercial e Industrial dos Concelhos do Peso da Régua, Santa Marta de Penaguião e Mesão Frio (ACIR). Também foi entre 2013 e 2016 vogal da A2000 – uma associação de desenvolvimento local de direito público –, com quem a sua empresa estabeleceu dois contratos.

    Além dos 316 mil euros em copos, a CIMDOURO não teve grandes problemas em gastar mais de 183 mil euros (IVAS incluídos) em divulgação do eventos em caixas multibanco, em dois contratos por ajuste directo com a MOL 2. A sociedade Quinta da Pacheca, em Lamego, que possui também um hotel, também não se deu mal: em dois contratos de catering para dois eventos amealhou quase 98 mil euros.

    black and red round fruits on green leaves during daytime

    Também os principais órgãos de comunicação social participaram na festa – e na distribuição de dinheiros públicos. Excluindo IVA, a Cofina recebeu 40.000 euros pela transmissão televisiva pela CMTV da gala de abertura da Cidade Europeia do Vinho no passado dia 4 de Fevereiro.

    Em contrato assinado em 3 de Maio, a SIC assinou um contrato de 61.483 euros para promoção, sem que seja estipulado de que género, tanto mais que o caderno de encargos não se encontra no Portal Base. O contrato foi assinado após consulta prévia, tendo a TVI como perdedora, mas a televisão da Media Capital não ficou a chuchar no dedo, porque em janeiro assinara um outro contrato similar, embora num valor mais reduzido: 34.224 euros.

    Por sua vez, a Porto Canal, através da sociedade Avenida dos Aliados, presidente por Jorge Nuno Pinto da Costa, amealhou verbas para promover a Cidade Europeia do Vinho, encaixando  41.600 euros. O jornal regional Viva Douro recebeu 19.750 euros para os mesmos efeitos.

    people tossing their clear wine glasses

    Apesar de o contrato dos copos ser, até agora, o mais dispendioso, a análise dos contratos feita pelo PÁGINA UM mostram que o evento da gala de abertura, realizada em Lamego, teve também um custo elevado, rondando os 280 mil euros.

    Este montante inclui, além dos custos de transmissão televisão e de produção, os cachets de Ana Bacalhau e Pedro Abrunhosa (19.040 euros, no conjunto), Miguel Araújo (12.500 euros), António Zambujo (10.350 euros) e Ópera da Academia e da Cidade (10.000 euros).  


    Lista dos contratos assinados pela Comunidade Intermunicipal do Douro no âmbito da Cidade Europeia do Vinho (excluindo IVA)

    1 – Aquisição de copos – Merchandising – Cidade Europeia do Vinho (Concurso público) – Amadeu Araújo Unipessoal – 187.140 euros

    2 – Promoção do evento Douro Cidade Europeia do Vinho 2023 – Outdoors Autoestradas (Consulta prévia) – Dreammedia Portugal – 74.996 euros

    3 – Organização, coordenação e execução – DCEV – Aluguer de estrutura móvel para eventos (Consulta prévia) – Multitendas – 74.750 euros

    4 – Douro Wine RoadShow – Aquisição de atrelado caixa fechada expansível – Cidade Europeia do Vinho 2023 (Consulta prévia) – Raceland – 74.643 euros


    5 – Promoção do evento Douro Cidade Europeia do Vinho 2023 – Redes de multibanco (Ajuste Directo Regime Geral) – MOL 2- Multimédia Outdoor Online – 74.550 euros

    6 – Promoção do evento Douro Cidade Europeia do Vinho 2023 – Redes de multibanco – Fase II (Ajuste directo regime geral) – MOL 2 – Multimédia Outdoor Online – 74.532,45 euros

    7 – Merchandising – T-Shirt Oficial – Douro Cidade Europeia do Vinho 2023 (Consulta prévia) – Primine – 74.000 euros

    8 – Estrutura, som e audiovisuais da gala de abertura da Cidade Europeia do Vinho 2023 (Consulta prévia) – Fun Addict – 72.500 euros

    9 – Gestão e coordenação – Cidade Europeia do Vinho 2023 (Consulta prévia) – Plataforma Coerente – 72.500 euros

    10 – Merchandising – Copos de vinho – Douro Cidade Europeia do Vinho 2023 (Consulta prévia) – Amadeu Araújo Unipessoal – 69.720 euros

    11 – Organização, coordenação e execução – DCEV – Serviços de catering comemorativo Cidade Europeia do Vinho – I (Consulta prévia) – Quinta da Pacheca – 65.467 euros

    12 – Promoção da Cidade Europeia do Vinho 2023 – Rádios nacionais (Consulta prévia) – Intervoz Publicidade – 65.000 euros

    13 – Promoção do evento Douro Cidade Europeia do Vinho 2023 – Televisão generalista (Consulta prévia) – SIC-Sociedade Independente de Comunicação – 61.482,78 euros

    14 – Produção de conteúdos digitais da Cidade Europeia do Vinho 2023 – Fotografia e Vídeo (Consulta prévia) – I Love Douro – 59.800 euros

    15 – Produção do espectáculo da gala de abertura da Cidade Europeia do Vinho 2023 (Consulta prévia) – PLW – Artes do Espetáculo e Turismo – 56.500 euros

    16 – Organização, coordenação e execução – DCEV – Aquisição de serviços de pirotecnia (Consulta prévia) – Pirotecnia Minhota – 55.000 euros

    17 – Organização, coordenação e execução – DCEV – Aluguer de material para eventos – Mesas e cadeiras (Consulta prévia) – Jet Stand – 54.820 euros

    18 – Organização, coordenação e execução – DCEV – Aluguer de bancadas para eventos (Consulta prévia) – Hélio Coelho – Organização de Eventos – 47.717 euros

    19 – Promoção do evento Douro Cidade Europeia do Vinho 2023 – Televisão por cabo (Consulta Prévia) – Avenida dos Aliados – 41.600 euros

    20 – Transmissão televisiva da gala de abertura Douro Cidade Europeia do Vinho 2023 (Consulta Prévia) – Cofina Media – 40.000 euros

    21 – Promoção do evento Douro Cidade Europeia do Vinho 2023 – Desenvolvimento de uma campanha promocional televisiva (Consulta prévia) – TVI – Televisão Independente – 35.224 euros

    22 – Execução da Cidade Europeia do Vinho (Ajuste directo regime geral) – Peacock Smartbusiness Services – 19.950 euros

    23 – Aquisição de serviços de promoção da Cidade Europeia do Vinho 2023 – Jornal regional Viva Douro (Ajuste directo regime geral) – Vivacidade Sociedade de Comunicação Social – 19.750 euros

    24 – Concerto de Música – Ana Bacalhau e Pedro Abrunhosa – Gala de abertura Cidade Europeia do Vinho (Ajuste directo regime geral) – Sons em Trânsito Espectáculos Culturais – 19.040 euros

    25 – Aquisição de serviços para desenvolvimento de branding e APP – Cidade Europeia do Vinho (Ajuste directo regime geral) – Twoplay – 19.000 euros

    26 – Aquisição de merchandising – Brindes para Passeio Mota Douro – Douro Cidade Europeia do Vinho 2023 (Ajuste directo regime geral) – Álvaro Augusto Ramos Fonseca – Pulibrindes – 18.176,4 euros

    27 – Organização, coordenação e execução – DCEV – Aquisição de serviços de aluguer de som e luz (Ajuste directo regime geral) – Braga Eventos – 17.635 euros

    28 – Douro Wine RoadShow – Exposição Douro – Cidade Europeia do Vinho (Ajuste directo regime geral) – Fundação Museu do Douro – 17.500 euros

    29 – Promoção do evento – Pórticos – Cidade Europeia do Vinho 2023 (Ajuste directo regime geral) – Factory Play – 16.355 euros

    30 – Organização, coordenação e execução – DCEV – Serviço de aluguer de barco – Cidade Europeia do Vinho (Ajuste directo regime geral) – Tomaz Douro – Empreendimentos Turísticos – 15.305,28 euros

    31 – Organização, coordenação e execução – DCEV – Serviços de catering comemorativo Cidade Europeia do Vinho – II (Ajuste directo regime geral) – Quinta da Pacheca – 14.000 euros

    32 – Organização, coordenação e execução – DCEV – Aquisição de serviços de segurança privada (Ajuste directo regime geral) – 3XL Segurança Privada – 13.704 euros

    33 – Douro Wine RoadShow – Aluguer de viatura/carrinha curta e média duração – Cidade Europeia do Vinho (Ajuste directo regime geral) – Vitoria & Pereira Rent-a-Car – 13.200 euros

    34 – Concerto de música – Miguel Araújo – Gala de abertura Cidade Europeia do Vinho (Ajuste directo regime geral) – Primeira Linha – 12.500 euros

    35 – Douro Wine RoadShow – Cidade Europeia do Vinho 2023 – Alojamento e viagens – National Geographic Food Festival (Ajuste directo regime geral) – Realvitur Viagens e Turismo – 11.616,6 euros

    36 – Douro Wine RoadShow – Cidade Europeia do Vinho – Chefs de cozinha – National Geographic Food Festival (Ajuste directo regime geral) – António Luís Gomes Gonçalves – 11.500 euros

    37 – Conceção e aquisição de materiais gráficos Cidade Europeia do Vinho (Ajuste directo regime geral) – Hermínio Manuel Lopes – 11.265 euros

    38 – Concerto de música – António Zambujo – Gala de abertura Cidade Europeia do Vinho (Ajuste directo regime geral) – Brain Entertainment – 10.350 euros

    39 – Concerto de música – Orquestra – Gala de abertura Cidade Europeia do Vinho (Ajuste directo regime geral) – Ópera da Academia e da Cidade – Associação Cultural – 10.000 euros

    40 – Douro Wine RoadShow – Cidade Europeia do Vinho 2023 – Transporte de stand e bens alimentares regionais – National Geographic Food Festival (Ajuste directo regime geral) – Totalplan – 9.500 euros

    41 – Douro Wine RoadShow – Aquisição de tenda – Cidade Europeia do Vinho (Ajuste directo regime geral) – Factory Play – 9.160 euros

    42 – Palco, luz e som para o Encontro de Cantadores de Janeiras no âmbito da Cidade Europeia do Vinho 2023 (Ajuste directo regime geral) – Simbólico Aplauso – 5.540 euros

  • Filipe Froes & Farmacêuticas: a “isenção” de um médico com 324 contratos que valeram 453.635,37 euros

    Filipe Froes & Farmacêuticas: a “isenção” de um médico com 324 contratos que valeram 453.635,37 euros

    Faltavam poucos dias para a prescrição do processo disciplinar a Filipe Froes, iniciado em Fevereiro do ano passado, mas para evitar eventuais acusações de “denegação de justiça”, a Inspecção-Geral das Actividades em Saúde decidiu arquivá-lo esta semana, alegadamente por falta de provas, embora tudo esteja ainda no segredo dos deuses. O pneumologista diz que foi dado “um passo muito significativo na inexistência de qualquer dúvida sobre a fundamentação e isenção científica das minhas intervenções na comunicação social”. E o PÁGINA UM recorda algumas das polémicas acções de marketing do conhecido pneumologista, e lista todos os 324 eventos pagos por 24 farmacêuticas, que lhe permitiram levar para casa 453.635 euros para além do salário em regime de exclusividade como médico no Hospital Pulido Valente.


    Era o desfecho esperado. A Inspecção-Geral das Actividades em Saúde (IGAS) terá arquivado, no início desta semana, o processo disciplinar contra o pneumologista Filipe Froes, que fora iniciado em 19 de Fevereiro do ano passado. A decisão – de cujos fundamentos nada se conhece – ocorreu a escassos dias da prescrição do processo disciplinar que, durante quase 18 meses esteve em “banho-maria”. Caso não tivesse sido arquivado, o processo iria prescrever hoje, como o PÁGINA UM já revelara em Julho passado.

    Apesar das tentativas do PÁGINA UM junto do Tribunal Administrativo de Lisboa para aceder à informação inspectiva que levou à instauração deste processo –, apenas se sabe que em causa estavam as relações comerciais deste conhecido pneumologista, como médico do Serviço Nacional de Saúde, com diversas farmacêuticas, ignorando-se se aquilo que estaria em causa se circunscrevia a incompatibilidades decorrentes do volume de negócios ou se se estaria a investigar faltas injustificadas no hospital para acudir a eventos pagos pelas empresas.

    Filipe Froes, pneumologista do Hospital Pulido Valente, consultor da DGS, consultor de farmacêuticas e influencer sanitário.

    Ignora-se também se o arquivamento do processo se deveu efectivamente à conclusão, em fase de instrução, de que Froes não cometeu qualquer infracção ou se se constatou a impossibilidade de finalizar o processo disciplinar antes do dia de hoje, por perfazerem 18 meses e advir daí uma prescrição automática. Note-se que se a IGAS tivesse deixado simplesmente o processo prescrever em claro benefício de Filipe Froes (protegido pelo Ministério da Saúde) poderia vir a ser acusado de denegação de justiça, punida pelo Código Penal.

    Em todo o caso, com o arquivamento do processo na IGAS, deixam agora de existir quaisquer desculpas ou impedimentos legais para a consulta de todos os documentos, estando o PÁGINA UM a aguardar um recurso do Tribunal Central Administrativo Sul sobre esta matéria. Também já foi solicitado, novamente, no final desta semana, a consulta à IGAS, que ainda não respondeu.

    O alegado arquivamento “por não haver indícios de infração disciplinar imputável ao visado” foi já celebrado pelo próprio Filipe Froes. Numa mensagem na rede social Facebook, na passada quarta-feira, o pneumologista diz ter ficado “muito satisfeito porque foi dado um passo muito significativo na inexistência de qualquer dúvida sobre a fundamentação e a isenção científica das minhas intervenções na comunicação social, bem como da intervenção de todas as outras pessoas que defenderam e promoveram a ciência.” Froes acrescentou ainda que “o mais importante, na minha perspetiva, é o reconhecimento do valor da ciência e do conhecimento científico no combate à pandemia e na mitigação das suas consequências tão nefastas, que só em Portugal foi responsável pelo falecimento de cerca de 27 mil pessoas.”

    Carlos Carapeto, inspector-geral das Actividades em Saúde: quase dois anos após o início das investigações a Filipe Froes, e de um jogo do rato e do gato a esconder as diligências tomadas desde Setembro de 2021, o processo disciplinar é arquivado em vésperas de prescrição.

    Sem prejuízo de nunca terem estado em avaliação, no processo da IGAS, o rigor científico de Flipe Froes, por não ser matéria susceptível de análise por aquela entidade, convém, contudo, recordar que o pneumologista, mesmo sendo um dos membros da equipa nomeada pela Direcção-Geral da Saúde para definir as terapêuticas contra a covid-19, não se imiscuiu de promover explicitamente medicamentos de farmacêuticas com que colaborava.

    Exemplo disso ocorreu com a Gilead. Enquanto, como consultor da DGS, Froes conseguiu introduzir nas terapêuticas anti-covid o remdesivir, um polémico fármaco da Gilead comprado pela Comissão Europeia num negócio nebuloso, ocupava também o seu tempo a ser consultor da empresa norte-americana exactamente para este fármaco. Recorde-se que, de acordo com dados da Agência Europeia do Medicamento, o uso de remdesivir está associado a mais de 900 mortes na Europa.

    Além da promoção das vacinas das diferentes marcas, às quais tem ligações sólidas, Froes também promoveu antivirais, como o Lagevrio (Merck Sharpe & Dohme) e anticorpos monoclonais, como o Evusheld (AstraZeneca). No caso do primeiro medicamento, o pneumologista – que, desde 2013, recebeu oficialmente 119.291 euros da Merck Sharpe & Dohme –  considerou em declarações ao jornal Nascer do Sol, em Novembro de 2021, que seria “sem dúvida, (…) um game-changer”, que complementaria, garantindo que “a mais-valia é ser um medicamento que reduz a carga viral e reduz em 50% a gravidade da doença”. E concluía: “ao fim de dois, três dias, a pessoa já não é transmissora, o que diminui a capacidade de circulação do vírus”.

    Afinal, este medicamento acabou por ser um fiasco ao nível da eficácia, e foi mesmo retirado do mercado pela própria farmacêutica. Mas sem antes ter arrecadado, a nível mundial, receitas da ordem dos 5,7 mil milhões de dólares só no ano passado, muito graças a influencers como Filipe Froes.

    Arquivamento do processo disciplinar em vésperas da prescrição (ao fim de 18 meses) levou Filipe Froes a concluir que “foi dado um passo muito significativo na inexistência de qualquer dúvida sobre a fundamentação e isenção científica das minhas intervenções na comunicação social”.

    No caso do medicamento da AstraZeneca – que este ano já entregou 12.425 euros a Froes –, também o pneumologista fez lobby. Chegou mesmo a fazer-se pagar apenas para estar presente no lançamento em Portugal deste fármaco, que teve retirada a sua autorização no mercado norte-americano no início deste ano, conforme revelou em Fevereiro a prestigiada revista científica BMJ.

    Mas esta presença de Filipe Froes foi apenas um dos 11 eventos que lhe foram pagos pela AstraZeneca contabilizados só este ano no Portal da Transparência e Publicidade – uma plataforma gerida pelo Infarmed, mas cuja fiscalização é virtualmente inexistente, o que significa que se mostra muito falível para controlar todas as transacções financeiras envolvendo farmacêuticas.

    De acordo com um levantamento exaustivo feito pelo PÁGINA UM, Filipe Froes já deu o corpo e seus talentos por 25 vezes este ano ao sector farmacêutico, embora esteja agora quase em dedicação exclusiva à AstraZeneca (11 eventos) e à Merck Sharpe & Dohme (12 eventos). Esta empresa norte-americana mostra, aliás, ser a preferida do pneumologista: desde 2013 já teve relações comerciais – em suma, contratos para prestação de serviços a troco de dinheiro ou géneros – em 83 ocasiões, das quais 46 apenas desde 2021.

    Número de eventos (contratos), por ano, de Filipe Froes com farmacêuticas desde 2013 até 18 de Agosto de 2023. Fonte: Portal da Transparência e Publicidade do Infarmed.

    A Pfizer, através de duas subsidiárias que operam em Portugal, também é uma das farmacêuticas com mais relações comerciais com Filipe Froes. No total estão contabilizados 69 contratos, embora grande parte tenham ocorrido antes da pandemia. Em todo o caso, 12 foram estabelecidos em 2021.

    Também com relevo são as 40 relações comerciais tanto com a Sanofi como com a AstraZeneca, e ainda as 26 com a portuguesa BIAL e as 16 com a americana Gilead. Em todo o caso, Filipe Froes mostra não ser esquisito na hora de colaborar com as farmacêuticas que lhe batem à porta: desde 2013 já trabalhou para (ou com) 24 farmacêuticas e uma empresa de consultadoria na área da Saúde.

    Desde 2020, o ano de início da pandemia da covid-19, Filipe Froes contabiliza 160 eventos pagos por farmacêuticas, enquanto mantinha a sua alegada exclusividade como coordenador da Unidade de Cuidados Intensivos Médico-Cirurgicos Respiratórios do Hospital Pulido Valente (e não como director do Serviço de Cuidados Intensivos, como erradamente a imprensa generalista a ele se refere), como consultor da DGS e ainda, durante algum tempo, líder do Gabinete de Crise da Ordem dos Médicos, instituído pelo ex-bastonário da Ordem dos Médicos, Miguel Guimarães.

    Montantes recebidos por Flipe Froes pela participação em eventos e prestação de serviços (contratos), por farmacêutica, desde 2013 até 18 de Agosto de 2023. Fonte: Portal da Transparência e Publicidade do Infarmed.

    Froes foi, aliás, um dos fiéis “peões de ataque” do Miguel Guimarães contra os médicos que tivessem opiniões contrárias à estratégia seguida pelo Governo no combate à pandemia. Chegou mesmo a encabeçar um grupo de médicos, com Carlos Robalo e Luís Varandas, todos ligados à Pfizer, que apresentaram queixa contra Jorge Amil Dias, presidente do Colégio de Pediatria da Ordem dos Médicos, por ter recomendado prudência na vacinação generalizada de jovens saudáveis. O processo seria, mais tarde, arquivado, mas Froes conseguiu, mais uma vez, pelo menos indirectamente, difamar publicamente colegas de profissão e promover um negócio chorudo de uma farmacêutica.

    Em termos monetários, e desde 2013, a caixa registadora de Froes – que recebe os proveitos tanto a nível individual como da sua empresa Terras & Froes – já encaixou 453.635 euros, o que significa um “salário” oficial de 3.572 euros. Repita-se, contudo, que o Infarmed não faz uma fiscalização eficaz das transacções, como aliás ficou patente no facto de o patrocínio da farmacêutica BIAL a um livro do pneumologista sobre a covid-19 nunca ter sido registado no Portal da Transparência e Publicidade.

    Apesar de um aparente afastamento desde 2021, a Pfizer continua a ser a farmacêutica que mais retribuiu Froes por serviços prestados: 136.074 euros. Segue-se a Merck Sharpe & Dohme, com 119.291 euros, que desde 2020 passou a ser, de longe, a farmacêutica preferida para trabalhar pelo pneumologista.

    Filipe Froes é um dos médicos com mais relações comerciais com farmacêuticas, mas os dados só começaram a ser registados em 2013. Mas antes dessa data já ele era presença assídua nos meios de comunicação social, promovendo o uso de fármacos.

    Com montantes mais baixos, destacam-se ainda mais três farmacêuticas, que entregaram desde 2013 já montantes entre os 30 mil e os 50 mil euros: Bial (48.717 euros), AstraZeneca (39.908 euros) e Sanofi (38.433 euros). Ainda com montantes oficialmente acima de 10 mil euros encontra-se a Gilead (16.471 euros).

    Por ser demasiado enfadonho – até por serem 324 colaborações entre Filipe Froes e as farmacêuticas, que vão desde consultadoria até eventos de marketing, passando por viagens a congressos –, o PÁGINA UM opta por não descrever a tipologia de eventos que estão em causa.

    Na verdade, será muito mais didáctico – ou pedagógico – para se aquilatar das promiscuidades deste pneumologista, independentemente dos “empenhos” para lhe colocar uma imagem de isenção quando fala de temas de Saúde, olhar um a um todos os 324 eventos até agora contabilizados, tal e qual, na base de dados do Infarmed. Por isso, o PÁGINA UM decidiu apresentá-los todos, por serem públicos e se mostrar relevante do ponto de vista do interesse público.


    LISTA DOS 324 EVENTOS COM FILIPE FROES PAGOS DESDE 2013 POR FARMACÊUTICAS (CONSUBSTANCIADOS EM CONTRATO QUE IMPLICARAM PAGAMENTOS MONETÁRIOS OU EM GÉNEROS)

    Contrato nº 1 (2013)
    AstraZeneca [Stand Alone Meeting (SAM) DPOC] – 1.722 €

    Contrato nº 2 (2013)
    AstraZeneca [XXIX Congresso de Pneumologia – Simpósio AstraZeneca] – 1.722 €

    Contrato nº 3 (2013)
    Bayer [Orador em Congresso da Soc Port Pneumologia] – 1.250 €

    Contrato nº 4 (2013)
    Pfizer [Palestra Resultados do Estudo PAC Retro 10- Hospital CUF Descobertas] – 1.230 €

    Contrato nº 5 (2013)
    Pfizer [Reunião Cross Meeting 2013-“Relações que Mudam Vidas” – Évora] – 1.000 €

    Contrato nº 6 (2013)
    Pfizer [Reunião Masters Meeting – “O Ritual de Uma Relação”-25 Maio 2013] – 1.000 €

    Contrato nº 7 (2013)
    Pfizer [Pagamento Fee Dr.Filipe Froes – Forum NOSOCOM] – 1.000 €

    Contrato nº 8 (2013)
    Pfizer [Reunião “CrossMeeting-Relações que Mudam Vidas”-13 Abril de 2013] – 1.000 €

    Contrato nº 9 (2013)
    Pfizer [Palestra Dr. Filipe Froes-VI Encontro Nacional Pfizer] – 1.000 €

    Contrato nº 10 (2013)
    Sanofi [Reunião “Vacinação Antigripal: das orientações técnicas à prática clínica” – Funchal] – 809,67 €

    Contrato nº 11 (2013)
    Sanofi [Reunião “Vacinação Antigripal: das orientações técnicas à prática clínica” – Guarda] – 775,28 €

    Contrato nº 12 (2013)
    Sanofi [Reunião “Vacinação Antigripal: das orientações técnicas à prática clínica” – Porto] – 633,73 €

    Contrato nº 13 (2013)
    Sanofi [Reunião “Vacinação Antigripal: das orientações técnicas à prática clínica” – Lisboa] – 500 €

    Contrato nº 14 (2013)
    Sanofi [Reunião “Vacinação Antigripal: das orientações técnicas à prática clínica” – Faro] – 500 €

    Contrato nº 15 (2013)
    Sanofi [Reunião “Vacinação Antigripal: das orientações técnicas à prática clínica” – Coimbra] – 500 €

    Contrato nº 16 (2014)
    Astellas Farma [ACE] – 496 €

    Contrato nº 17 (2014)
    AstraZeneca [13º Congresso Nacional de Dermatologia – Apresentação do estudo REACH (dados locais)] – 1.722 €

    Contrato nº 18 (2014)
    AstraZeneca [Reunião não promocional] – 25,87 €

    Contrato nº 19 (2014)
    AstraZeneca [Reunião não promocional] – 25,87 €

    Contrato nº 20 (2014)
    Bayer [Chest World Congress] – 1.291,11 €

    Contrato nº 21 (2014)
    Bayer [Chest World Congress] – 1.291,11 €

    Contrato nº 22 (2014)
    BIAL [Congresso ATS 2014, American Thoracic Society, International Conference, San Diego EUA] – 4.845,23 €

    Contrato nº 23 (2014)
    BIAL [Congresso ATS 2014, American Thoracic Society, International Conference, San Diego EUA] – 4.845,23 €

    Contrato nº 24 (2014)
    BIAL [Forum Bial Respirar – Fundação de Serralves/Porto] – 158,08 €

    Contrato nº 25 (2014)
    BIAL [Forum Bial Respirar – Fundação de Serralves/Porto] – 158,08 €

    Contrato nº 26 (2014)
    Merck Sharp & Dohme [Palestra, MSD Launch Symposium Angola] – 4.920 €

    Contrato nº 27 (2014)
    Merck Sharp & Dohme [ICAAC 2014] – 3.290 €

    Contrato nº 28 (2014)
    Novartis Farma [Palestra] – 922,5 €

    Contrato nº 29 (2014)
    Pfizer [Palestra de dia 10 de Maio de 2014] – 2.460 €

    Contrato nº 30 (2014)
    Pfizer [Palestra de dia 10 de Maio de 2014] – 2.460 €

    Contrato nº 31 (2014)
    Pfizer [4 Palestras] – 2.300 €

    Contrato nº 32 (2014)
    Pfizer [VII Encontro Nacional Pfizer Vacinas] – 1.230 €

    Contrato nº 33 (2014)
    Pfizer [Advisory Board] – 1.000 €

    Contrato nº 34 (2014)
    Pfizer [Advisory Board] – 1.000 €

    Contrato nº 35 (2014)
    Pfizer [Fees Palestra Hospital Braga e H. Pulido Valente] – 1.000 €

    Contrato nº 36 (2014)
    Pfizer [Fees Palestra Hospital CUF Descobertas] – 1.000 €

    Contrato nº 37 (2014)
    Pfizer [Reunião de trabalho] – 42,5 €

    Contrato nº 38 (2014)
    Pfizer [Reunião de trabalho] – 32,3 €

    Contrato nº 39 (2014)
    Pfizer [Reunião Trabalho] – 30,4 €

    Contrato nº 40 (2014)
    Pfizer [Reunião Trabalho] – 26 €

    Contrato nº 41 (2014)
    Sanofi [Reunião “A vacinação no adulto” – Funchal] – 1.365,13 €

    Contrato nº 42 (2014)
    Sanofi [IV Reunião de Atualizações em Pediatria] – 1.281,2 €

    Contrato nº 43 (2014)
    Sanofi [XXX Congresso de Pneumologia, Albufeira 06/08 de novembro de 2014] – 750 €

    Contrato nº 44 (2014)
    Sanofi [Reunião “A vacinação no adulto” – Porto] – 730,4 €

    Contrato nº 45 (2014)
    Sanofi [Reunião “A vacinação no adulto” – Porto] – 724,64 €

    Contrato nº 46 (2014)
    Sanofi [Reunião “A vacinação no adulto” – Espinho] – 717,44 €

    Contrato nº 47 (2014)
    Sanofi [Reunião “A vacinação no adulto” – Coimbra] – 658,4 €

    Contrato nº 48 (2014)
    Sanofi [IV Reunião de Atualizações em Pediatria] – 244,36 €

    Contrato nº 49 (2014)
    Teva Pharma [FORUM TEVA RESP -Lisboa 26 a 28 Junho 2014] – 50 €

    Contrato nº 50 (2015)
    AstraZeneca [Moderador no “SIMPOSIO AZ- XXX SPP 14”] – 1.000 €

    Contrato nº 51 (2015)
    Bayer [ERS International Congress 2015, Amesterdão] – 2.916,71 €

    Contrato nº 52 (2015)
    Bayer [ERS International Congress 2015, Amesterdão] – 2.916,71 €

    Contrato nº 53 (2015)
    BIAL [ATS – American Torax Society] – 5.132,26 €

    Contrato nº 54 (2015)
    BIAL [ATS – American Torax Society] – 5.132,26 €

    Contrato nº 55 (2015)
    Merck Sharp & Dohme [35th International Symposium on Intensive Care and Emergency Medicine] – 2.028,03 €

    Contrato nº 56 (2015)
    Merck Sharp & Dohme [Reunião Infeção e antibioterapia] – 984 €

    Contrato nº 57 (2015)
    Novartis Farma [Prestação de serviços] – 750 €

    Contrato nº 58 (2015)
    Pfizer [8 Palestras Unidades e Centros Saúde-Dr. Filipe Froes] – 4.000 €

    Contrato nº 59 (2015)
    Pfizer [Palestras 4 Reuniões de Enfermeiras-Dr. Filipe Froes] – 4.000 €

    Contrato nº 60 (2015)
    Pfizer [Palestra Dr. Filipe Froes Encontro Pfizer Vacinas 2015] – 1.000 €

    Contrato nº 61 (2015)
    Pfizer [Palestra Pfizer Summit Vaccines-Dr. Filipe Froes] – 1.000 €

    Contrato nº 62 (2015)
    Pfizer [Palestra Simpósio C.Nacional Pneumologia-Dr. Filipe Froes] – 1.000 €

    Contrato nº 63 (2015)
    Pfizer [Palestra dia 15 de outubro de 2015] – 922,5 €

    Contrato nº 64 (2015)
    Pfizer [Palestra dia 15 de outubro de 2015] – 922,5 €

    Contrato nº 65 (2015)
    Sanofi [IV Simpósio da Sociedade Portuguesa de Reumatologia, Póvoa de varzim] – 1.019,28 €

    Contrato nº 66 (2015)
    Sanofi [Reunião “A vacinação no adulto” – Guarda] – 841,8 €

    Contrato nº 67 (2015)
    Sanofi [36º Congresso Português de Geriatria e 17º Congresso Port. de Gerontologia Social] – 750 €

    Contrato nº 68 (2015)
    Sanofi [XXXI Congresso de Pneumologia, Albufeira 05/08 de novembro de 2015] – 750 €

    Contrato nº 69 (2015)
    Sanofi [Reunião “A vacinação no adulto” – Leiria] – 652,06 €

    Contrato nº 70 (2015)
    Sanofi [Reunião “A vacinação no adulto” – Matosinhos] – 577 €

    Contrato nº 71 (2015)
    Sanofi [Reunião “A vacinação no adulto” – Coimbra] – 532,5 €

    Contrato nº 72 (2015)
    Sanofi [3rd ESCMID Conference on Vaccines] – 350 €

    Contrato nº 73 (2015)
    Teva Pharma [Teva Respiratory Forum] – 635 €

    Contrato nº 74 (2016)
    AstraZeneca [Congresso: American Thoracic Society 2016] – 3.912,59 €

    Contrato nº 75 (2016)
    AstraZeneca [Palestra “”DIA D NA DPOC] – 1.000 €

    Contrato nº 76 (2016)
    Merck Sharp & Dohme [Expert Input Forum Antibióticos] – 880 €

    Contrato nº 77 (2016)
    Merck Sharp & Dohme [Consultoria Expert Input Forum Antibióticos] – 800 €

    Contrato nº 78 (2016)
    Pfizer [Palestra e Moderação Dr. Filipe Froes] – 15.000 €

    Contrato nº 79 (2016)
    Pfizer [Palestras Dr. Filipe Froes] – 8.118 €

    Contrato nº 80 (2016)
    Pfizer [Palestras Dr. Filipe Froes, Fev e Março] – 5.781 €

    Contrato nº 81 (2016)
    Pfizer [Palestras Dr. Filipe Froes mês de Junho] – 4.870,8 €

    Contrato nº 82 (2016)
    Pfizer [Palestras Dr. Filipe Froes, IPR, APFH e Setúbal] – 3.690 €

    Contrato nº 83 (2016)
    Pfizer [Palestras Dr. Filipe Froes] – 3.690 €

    Contrato nº 84 (2016)
    Pfizer [Palestras Dr. Filipe Froes, èvora, Faro, Almada e Seixal] – 3.247,2 €

    Contrato nº 85 (2016)
    Pfizer [Palestra Dr. Filipe Froes, Congresso Nacional Pneumologia] – 1.230 €

    Contrato nº 86 (2016)
    Pfizer [Palestra Dr. Filipe Froes, Webinar] – 1.230 €

    Contrato nº 87 (2016)
    Pfizer [IX Encontro Nacional Pfizer Vaccines, Hotel Real Santa Eulália, Albufeira] – 361 €

    Contrato nº 88 (2016)
    Pfizer [Viagem, Palestra Reuniões Madeira] – 326,31 €

    Contrato nº 89 (2016)
    Teva Pharma [European Respiratory Society] – 2.500 €

    Contrato nº 90 (2017)
    A. Menarini [Boston Barcelona Lung Conference] – 1.008,2 €

    Contrato nº 91 (2017)
    A. Menarini [Air for All] – 77,4 €

    Contrato nº 92 (2017)
    Angelini Pharma [ATS 2017 International Conference] – 3.820 €

    Contrato nº 93 (2017)
    Astellas Farma [Formação Científica Micafungina] – 750 €

    Contrato nº 94 (2017)
    CTI Clinical Trial [Advisory Board – Bacterian Infection ESBL] – 1.050 €

    Contrato nº 95 (2017)
    Merck Sharp & Dohme [30th Annual Congress of the European Society of Intensive Care Medicine] – 2.051,34 €

    Contrato nº 96 (2017)
    Merck Sharp & Dohme [Gram-negative bacterial infections,05/05] – 990 €

    Contrato nº 97 (2017)
    Merck Sharp & Dohme [Reunião de Investigadores do ensaio clínico “”MK7655A-014″”, que decorreu em Budapeste (Hungria) de 15 a 17 de Novembro de 2016.] – 954,61 €

    Contrato nº 98 (2017)
    Merck Sharp & Dohme [EIF Antibióticos, Paço de Arcos] – 880 €

    Contrato nº 99 (2017)
    Pfizer [Palestras Dr. Filipe Froes, Évora, Lisboa, Porto e Braga] – 6.888 €

    Contrato nº 100 (2017)
    Pfizer [3 Palestras Dr. Filipe Froes, Porto, Pfizer e Lisboa] – 2.583 €

    Contrato nº 101 (2017)
    Pfizer [3 palestras Dr. Filipe Froes] – 2.583 €

    Contrato nº 102 (2017)
    Pfizer [X Encontro Nacional Pfizer, Real Santa Eulália Algarve, 12 a 14 Maio 2017] – 423 €

    Contrato nº 103 (2017)
    Teva Pharma [SC – DPOC, definição e tratamento] – 500 €

    Contrato nº 104 (2017)
    Teva Pharma [Sessão Clínica – DPOC, definição e tratamento] – 500 €

    Contrato nº 105 (2017)
    Teva Pharma [Sessão Clínica – “ACOS – Síndrome de Sobreposição Asma e DPOC”] – 500 €

    Contrato nº 106 (2018)
    BIAL [ACAAI 2018 – American College of Allergy Asthma & Immunology] – 3.501,21 €

    Contrato nº 107 (2018)
    BIAL [ACAAI 2018 – American College of Allergy Asthma & Immunology] – 3.501,21 €

    Contrato nº 108 (2018)
    Exigo Consultores [Painel de Peritos] – 1.000 €

    Contrato nº 109 (2018)
    Exigo Consultores [Painel de Peritos] – 1.000 €

    Contrato nº 110 (2018)
    Janssen Cilag [Gestão de infeções do trato respiratório do doente hematológico] – 1.230 €

    Contrato nº 111 (2018)
    Janssen Cilag [Gestão de infeções do trato respiratório do doente hematológico] – 1.230 €

    Contrato nº 112 (2018)
    Merck Sharp & Dohme [2018-RADB-104877 European Vaccines Advisory Board] – 3.250 €

    Contrato nº 113 (2018)
    Merck Sharp & Dohme [Program#/CAW 2017-RADB-104197, França] – 3.250 €

    Contrato nº 114 (2018)
    Merck Sharp & Dohme [2018-RCSA-104602_Vacc. Dig. Found. Project] – 2.970 €

    Contrato nº 115 (2018)
    Merck Sharp & Dohme [2018-RCSA-104602_Vacc. Dig. Found. Project] – 2.970 €

    Contrato nº 116 (2018)
    Merck Sharp & Dohme [38th International Symposium Intensive Care Emergency Medicine (ISICEM)] – 1.863,26 €

    Contrato nº 117 (2018)
    Merck Sharp & Dohme [Formacao Zerbaxa] – 770 €

    Contrato nº 118 (2018)
    Merck Sharp & Dohme [Formacao Zerbaxa] – 770 €

    Contrato nº 119 (2018)
    Merck Sharp & Dohme [Vaccines Academy] – 750 €

    Contrato nº 120 (2018)
    Merck Sharp & Dohme [Revisao do Guiao AMR para Jornalistas – 11/12/17] – 90 €

    Contrato nº 121 (2018)
    Pfizer [19 Palestras Dr. Filipe Froes] – 17.527,5 €

    Contrato nº 122 (2018)
    Pfizer [Congresso ERS 2018, Paris] – 1.667,22 €

    Contrato nº 123 (2018)
    Pfizer [Anti-infectives Meeting] – 1.230 €

    Contrato nº 124 (2018)
    Pfizer [11º Encontro Nacional Pfizer Vacinas] – 406 €

    Contrato nº 125 (2018)
    Pfizer [Anti-infectives Meeting] – 228,33 €

    Contrato nº 126 (2018)
    Pfizer [Reunião Regional de Enfermeiras Norte] – 167 €

    Contrato nº 127 (2018)
    Pfizer [Reunião Enfermeiras Centro] – 121,5 €

    Contrato nº 128 (2018)
    Pfizer [Reunião Regional de Enfermeiras SUL] – 106,5 €

    Contrato nº 129 (2018)
    Sanofi [ECCMID – The 28th European Congress of Clinical Microbiology and Infectious Diseases] – 2.006,58 €

    Contrato nº 130 (2018)
    Sanofi [Flu Summit] – 1.907,73 €

    Contrato nº 131 (2018)
    Sanofi [VaxigripTetra Speaker Bureau] – 1.600 €

    Contrato nº 132 (2019)
    AstraZeneca [Serviço de Palestrante] – 750 €

    Contrato nº 133 (2019)
    AstraZeneca [Reunião lançamento FASENRA – Bio-“”logic”” New Era, Centro de Congressos Convento S. Francisco – Coimbra] – 176,58 €

    Contrato nº 134 (2019)
    AstraZeneca [Reunião lançamento FASENRA – Bio-“”logic”” New Era, Centro de Congressos Convento S. Francisco – Coimbra] – 176,58 €

    Contrato nº 135 (2019)
    BIAL [CHEST Annual Meeting] – 4.980,25 €

    Contrato nº 136 (2019)
    BIAL [CHEST Annual Meeting] – 4.980,25 €

    Contrato nº 137 (2019)
    BIAL [Do Diagnóstico à terapêutica Palestra] – 922,5 €

    Contrato nº 138 (2019)
    BIAL [Do Diagnóstico à terapêutica Palestra] – 922,5 €

    Contrato nº 139 (2019)
    GlaxoSmithKline [Lançamento Trelegy – Treino de visita] – 1.230 €

    Contrato nº 140 (2019)
    GlaxoSmithKline [Lançamento Trelegy – Treino de visita] – 1.230 €

    Contrato nº 141 (2019)
    Janssen Cilag [Patrocínio] – 1.000 €

    Contrato nº 142 (2019)
    Merck Sharp & Dohme [2019-RADB-105397_ European Vaccines Advisory Board] – 3.250 €

    Contrato nº 143 (2019)
    Merck Sharp & Dohme [2019-EIF-105748_UCC/RCC Global EIF] – 2.500 €

    Contrato nº 144 (2019)
    Merck Sharp & Dohme [2019-EIF-105888_Global Critical Care EIF] – 2.500 €

    Contrato nº 145 (2019)
    Merck Sharp & Dohme [2019-EIF-105748_UCC/RCC Global EIF] – 2.500 €

    Contrato nº 146 (2019)
    Merck Sharp & Dohme [2019-EIF-105888_Global Critical Care EIF] – 2.500 €

    Contrato nº 147 (2019)
    Merck Sharp & Dohme [39th ISICEM] – 1.745,51 €

    Contrato nº 148 (2019)
    Merck Sharp & Dohme [Expert Input Forum Medical Affairs] – 1.100 €

    Contrato nº 149 (2019)
    Merck Sharp & Dohme [Expert Input Forum na área do Ceftolozano-Tazobact] – 1.100 €

    Contrato nº 150 (2019)
    Merck Sharp & Dohme [Expert Input Forum na área do Ceftolozano-Tazobact] – 1.100 €

    Contrato nº 151 (2019)
    Merck Sharp & Dohme [Simposio MSd -Cong.Nac.Medicina Intensiva] – 990 €

    Contrato nº 152 (2019)
    Merck Sharp & Dohme [Simposio MSd -Cong.Nac.Medicina Intensiva] – 990 €

    Contrato nº 153 (2019)
    Merck Sharp & Dohme [C2C_II Virtual Cong. Vacc webex 23 JAN 2019] – 750 €

    Contrato nº 154 (2019)
    Merck Sharp & Dohme [Vaccines Academy 2019] – 750 €

    Contrato nº 155 (2019)
    Merck Sharp & Dohme [Consultoria antibióticos] – 220 €

    Contrato nº 156 (2019)
    Pfizer [3 Palestras Dr. Filipe Froes, Junho e Setembro 2019] – 2.767,5 €

    Contrato nº 157 (2019)
    Pfizer [3 Palestras Dr. Filipe Froes] – 2.767,5 €

    Contrato nº 158 (2019)
    Pfizer [24th Infection and Sepsis Symposium, Porto – Ipanema Park Hotel, 7 março 2019] – 1.230 €

    Contrato nº 159 (2019)
    Pfizer [ERS 2019, Madrid 28 de Setembro a 2 de Outubro 2019] – 1.213,75 €

    Contrato nº 160 (2019)
    Pfizer [Video Doença Pneumocócica Dr. Filipe Froes] – 615 €

    Contrato nº 161 (2019)
    Pfizer [Estadias Norte Dr. Filipe Froes] – 259,87 €

    Contrato nº 162 (2019)
    Pfizer [Estadia Dr. Filipe Froes, Congresso Porto] – 248 €

    Contrato nº 163 (2019)
    Pfizer [Estadia Dr. Filipe Froes Congresso de Obesidade] – 145,06 €

    Contrato nº 164 (2019)
    Sanofi [Evento Expresso – Vacinas – Inovar, Financiar e Prevenir] – 891,75 €

    Contrato nº 165 (2020)
    AbbVie [PANDEMIA DA COVID-19] – 1.371,45 €

    Contrato nº 166 (2020)
    AbbVie [PANDEMIA DA COVID-19] – 1.371,45 €

    Contrato nº 167 (2020)
    AstraZeneca [Webinar Gestão da Doença Respiratória à Distância] – 1.000 €

    Contrato nº 168 (2020)
    AstraZeneca [Serviço de Palestrante] – 750 €

    Contrato nº 169 (2020)
    AstraZeneca [Serviço de Palestrante] – 750 €

    Contrato nº 170 (2020)
    AstraZeneca [PANDEMIC MEDICAL UPDATE] – 750 €

    Contrato nº 171 (2020)
    AstraZeneca [Serviço de Palestrante] – 750 €

    Contrato nº 172 (2020)
    AstraZeneca [Serviço de Palestrante] – 750 €

    Contrato nº 173 (2020)
    AstraZeneca [PANDEMIC MEDICAL UPDATE] – 750 €

    Contrato nº 174 (2020)
    AstraZeneca [Serviço de Palestrante] – 750 €

    Contrato nº 175 (2020)
    AstraZeneca [Serviço de Palestrante] – 750 €

    Contrato nº 176 (2020)
    BIAL [Do diagnóstico à terapêutica -Speaker/Palestrante] – 1.230 €

    Contrato nº 177 (2020)
    BIAL [Reunião virtual – Nova evidência e beneficio da dupla broncodilatação-Speaker/Palestrante (Evento BIAL)] – 922,5 €

    Contrato nº 178 (2020)
    BIAL [Reunião virtual – Nova evidência e beneficio da dupla broncodilatação-Speaker/Palestrante (Evento BIAL)] – 922,5 €

    Contrato nº 179 (2020)
    BIAL [CHEST 2020 – The American College of Chest Physicians Annual Meeting] – 270 €

    Contrato nº 180 (2020)
    BIAL [CHEST 2020 – The American College of Chest Physicians Annual Meeting] – 270 €

    Contrato nº 181 (2020)
    BIAL [Workshop RX Tórax] – 145,2 €

    Contrato nº 182 (2020)
    BIAL [Workshop RX Tórax] – 145,2 €

    Contrato nº 183 (2020)
    Boehringer Ingelheim [Sessão de esclarecimento interno sobre a COVID-19 | BI] – 1.080 €

    Contrato nº 184 (2020)
    Daiichi Sankyo [WEBINAR ¿ Doente de Risco Cardiovascular e a COVID-19] – 2.000 €

    Contrato nº 185 (2020)
    Gilead Sciences [Webinar “”Avanços no tratamento antiviral da COVID-19 Parte II””, Plataforma Virtual, 29 out] – 1.230 €

    Contrato nº 186 (2020)
    Gilead Sciences [Webinar “”Avanços no tratamento antiviral da COVID-19: Remdesivir, o primeiro tratamento aprovado”” – 16 jul] – 1.230 €

    Contrato nº 187 (2020)
    Gilead Sciences [Webinar “”Avanços no tratamento antiviral da COVID-19 Parte II””, Plataforma Virtual, 29 out] – 1.230 €

    Contrato nº 188 (2020)
    Gilead Sciences [Advisory Board COVID-19 & Remdesivir; 24 de junho de 2020; virtual] – 1.082,4 €

    Contrato nº 189 (2020)
    Gilead Sciences [Advisory Board COVID-19 & Remdesivir; 4 de junho de 2020; virtual] – 1.082,4 €

    Contrato nº 190 (2020)
    Gilead Sciences [Advisory Board COVID-19 & Remdesivir; 4 de junho de 2020; virtual] – 1.082,4 €

    Contrato nº 191 (2020)
    Gilead Sciences [Advisory Board COVID-19 & Remdesivir; 24 de junho de 2020; virtual] – 1.082,4 €

    Contrato nº 192 (2020)
    GlaxoSmithKline [Workshop Relvar – Funchal – 19 novembro 2019] – 1.454,51 €

    Contrato nº 193 (2020)
    GlaxoSmithKline [ATS 2020] – 142 €

    Contrato nº 194 (2020)
    GlaxoSmithKline [ATS 2020] – 142 €

    Contrato nº 195 (2020)
    Lundbeck [Formação Interna COVID 19] – 923 €

    Contrato nº 196 (2020)
    Lundbeck [Formação Interna COVID 19] – 923 €

    Contrato nº 197 (2020)
    Merck Sharp & Dohme [Vaccines Advisory Board 2019-RADB-105486] – 2.500 €

    Contrato nº 198 (2020)
    Merck Sharp & Dohme [EMEAC Regional Vaccines – 2020-RADB-106915] – 1.320 €

    Contrato nº 199 (2020)
    Merck Sharp & Dohme [EMEAC Regional Vaccines – 2020-RADB-106915] – 1.320 €

    Contrato nº 200 (2020)
    Merck Sharp & Dohme [EIF Vacinacao] – 1.100 €

    Contrato nº 201 (2020)
    Sanofi [Towards Improvement of Seasonal Influenza Vaccination: Rationale and Impact of Quadrivalent Influenza Vaccine Implementation – QIV Masterclass Meeting] – 1.664,28 €

    Contrato nº 202 (2020)
    Sanofi [Projeto Epidemiologia e carga da gripe em Portugal] – 1.599 €

    Contrato nº 203 (2020)
    Sanofi [Congresso Português de Cardiologia] – 1.338,24 €

    Contrato nº 204 (2020)
    Sanofi [III Simpósio do GESCAT (Grupo de Estudos de Trombose Associada ao Cancro)] – 1.070,1 €

    Contrato nº 205 (2020)
    Tecnifar [Prestação de Serviços] – 1.230 €

    Contrato nº 206 (2021)
    AstraZeneca [LAAB Advisory Board] – 1.000 €

    Contrato nº 207 (2021)
    AstraZeneca [LAAB Advisory Board] – 1.000 €

    Contrato nº 208 (2021)
    Bayer [Covidado à conversa com sobre pandemia e vacinas] – 750 €

    Contrato nº 209 (2021)
    BIAL [Workshop RX Tórax Palestra] – 922,5 €

    Contrato nº 210 (2021)
    BIAL [Nova abordagem no tratamento dos doentes com DPOC sintomático Palestra] – 922,5 €

    Contrato nº 211 (2021)
    BIAL [CHEST Annual Meeting] – 755 €

    Contrato nº 212 (2021)
    BIAL [CHEST Annual Meeting] – 755 €

    Contrato nº 213 (2021)
    BIAL [Descontinuação de ICS na DPOC?] – 500 €

    Contrato nº 214 (2021)
    BIAL [Descontinuação de ICS na DPOC?] – 500 €

    Contrato nº 215 (2021)
    Boehringer Ingelheim [Palestra 2.º Fórum Respiratório do Sul] – 1.080 €

    Contrato nº 216 (2021)
    Boehringer Ingelheim [Palestra 2.º Fórum Respiratório do Sul] – 1.080 €

    Contrato nº 217 (2021)
    Boehringer Ingelheim [ATS 2021] – 773,14 €

    Contrato nº 218 (2021)
    Gilead Sciences [Webinar ¿Avanços no tratamento antiviral da COVID-19 Parte III, Virtual – 4 fev] – 1.845 €

    Contrato nº 219 (2021)
    Gilead Sciences [Meet the expert: insights from clinical practice] – 676,5 €

    Contrato nº 220 (2021)
    Gilead Sciences [Conversations on COVID-19: what’s next on COVID-19?, 13 de outubro] – 676,5 €

    Contrato nº 221 (2021)
    Gilead Sciences [Conversations on COVID-19: what’s next on COVID-19?, 13 de outubro] – 676,5 €

    Contrato nº 222 (2021)
    Gilead Sciences [Meet the expert: insights from clinical practice] – 676,5 €

    Contrato nº 223 (2021)
    Gilead Sciences [ECCMID 2021 – 09/07/2021 – 12/07/2021 – VIRTUAL] – 459 €

    Contrato nº 224 (2021)
    Gilead Sciences [ECCMID 2021 – 09/07/2021 – 12/07/2021 – VIRTUAL] – 459 €

    Contrato nº 225 (2021)
    GlaxoSmithKline [GSK Led Meeting] – 1.033,2 €

    Contrato nº 226 (2021)
    GlaxoSmithKline [Formação para staff GSK – 12JAN2021] – 774,9 €

    Contrato nº 227 (2021)
    Lilly [Portugal TownHall Q2] – 738 €

    Contrato nº 228 (2021)
    Merck Sharp & Dohme [ID Clinical Cases – Inf Bact Gram-Negativo] – 1.540 €

    Contrato nº 229 (2021)
    Merck Sharp & Dohme [2021-REIF-107753 – EIF] – 1.320 €

    Contrato nº 230 (2021)
    Merck Sharp & Dohme [2021-REIF-107753 – EIF] – 1.320 €

    Contrato nº 231 (2021)
    Merck Sharp & Dohme [2021-RADB-108200 PneumoVacAdBoard] – 1.155 €

    Contrato nº 232 (2021)
    Merck Sharp & Dohme [2021-REIF-108357 EUCAN Chronic Cough] – 1.155 €

    Contrato nº 233 (2021)
    Merck Sharp & Dohme [2020-RADB-106869 EU Pneumococcal Vaccines AdBd] – 1.155 €

    Contrato nº 234 (2021)
    Merck Sharp & Dohme [2021-RADB-108200 PneumoVacAdBoard] – 1.155 €

    Contrato nº 235 (2021)
    Merck Sharp & Dohme [2021-REIF-108357 EUCAN Chronic Cough] – 1.155 €

    Contrato nº 236 (2021)
    Merck Sharp & Dohme [EIF Pneumo no Adulto] – 1.100 €

    Contrato nº 237 (2021)
    Merck Sharp & Dohme [EIF Tosse Cronica] – 1.100 €

    Contrato nº 238 (2021)
    Merck Sharp & Dohme [EIF COVID 19] – 1.100 €

    Contrato nº 239 (2021)
    Merck Sharp & Dohme [EIF Pneumo EM2101-0016408 18/01/2021] – 1.100 €

    Contrato nº 240 (2021)
    Merck Sharp & Dohme [Health4Us] – 1.100 €

    Contrato nº 241 (2021)
    Merck Sharp & Dohme [EIF Gram-Negativos] – 1.100 €

    Contrato nº 242 (2021)
    Merck Sharp & Dohme [EIF eVAP] – 1.100 €

    Contrato nº 243 (2021)
    Merck Sharp & Dohme [EIF Pneumo no Adulto] – 1.100 €

    Contrato nº 244 (2021)
    Merck Sharp & Dohme [EIF eVAP] – 1.100 €

    Contrato nº 245 (2021)
    Merck Sharp & Dohme [2021-RADB-108131 RegVacAdBd 7e8-06-2021] – 990 €

    Contrato nº 246 (2021)
    Merck Sharp & Dohme [Acute Care Virtual Congress – Pneumonia Nosocomial] – 990 €

    Contrato nº 247 (2021)
    Merck Sharp & Dohme [2021-RADB-108131 RegVacAdBd 7e8-06-2021] – 990 €

    Contrato nº 248 (2021)
    Novartis Farma [Prestação de serviços] – 704,18 €

    Contrato nº 249 (2021)
    Pfizer [webinar Desafios na Gestão Clínica da Antibioterapia] – 1.537,5 €

    Contrato nº 250 (2021)
    Pfizer [Palestras Prof Filipe Froes, 14 º Encontro Pfizer Vacinas] – 1.500 €

    Contrato nº 251 (2021)
    Pfizer [Impact of the Global Pandemic] – 1.500 €

    Contrato nº 252 (2021)
    Pfizer [Palestras Prof Filipe Froes, 14 º Encontro Pfizer Vacinas] – 1.500 €

    Contrato nº 253 (2021)
    Pfizer [Webinar Pfizer “Gestão das Infecções Fúngicas Invasivas”] – 1.250 €

    Contrato nº 254 (2021)
    Pfizer [Palestra Prof Filipe Froes 7º Congresso Beira Interior] – 750 €

    Contrato nº 255 (2021)
    Pfizer [Palestra Prof. Filipe Froes, 14º Congresso Nacional do Idoso] – 750 €

    Contrato nº 256 (2021)
    Pfizer [Palestra Prof Filipe Froes 7º Congresso Beira Interior] – 750 €

    Contrato nº 257 (2021)
    Pfizer [Palestra Prof. Filipe Froes, 14º Congresso Nacional do Idoso] – 750 €

    Contrato nº 258 (2021)
    Pfizer [Asia Meeting] – 724,43 €

    Contrato nº 259 (2021)
    Pfizer [14º Encontro Nacional Pfizer Vacinas] – 592 €

    Contrato nº 260 (2021)
    Pfizer [14º Encontro Nacional Pfizer Vacinas] – 592 €

    Contrato nº 261 (2021)
    Sanofi [Estudo de carga de doença I] – 1.248,45 €

    Contrato nº 262 (2021)
    Sanofi [Light on Vax Ibéria – 4º Edição] – 535,05 €

    Contrato nº 263 (2021)
    Sanofi [Light on Vax Ibéria – 4º Edição] – 535,05 €

    Contrato nº 264 (2022)
    AstraZeneca [Advisory Board LAAB Infectious Disease Portugal] – 1.000 €

    Contrato nº 265 (2022)
    AstraZeneca [V&I Scientific Internal Training May/Jun 2022] – 1.000 €

    Contrato nº 266 (2022)
    AstraZeneca [Advisory Board LAAB Nephro Portugal] – 1.000 €

    Contrato nº 267 (2022)
    AstraZeneca [V&I Scientific Internal Training May/Jun 2022] – 1.000 €

    Contrato nº 268 (2022)
    AstraZeneca [Advisory Board LAAB Infectious Disease Portugal] – 1.000 €

    Contrato nº 269 (2022)
    AstraZeneca [Advisory Board LAAB Nephro Portugal] – 1.000 €

    Contrato nº 270 (2022)
    AstraZeneca [Gravação Vídeo] – 250 €

    Contrato nº 271 (2022)
    Bayer [Reunião Interna] – 922,5 €

    Contrato nº 272 (2022)
    Ferraz Lynce [Sessão Científica Meet the Experts / Morrer de Asma] – 850 €

    Contrato nº 273 (2022)
    Gilead Sciences [Reuniões de Consultoria RDV] – 1.832,7 €

    Contrato nº 274 (2022)
    Gilead Sciences [Webinar Avanços no tratamento antiviral da COVID-19 – Veklury pelos especialistas, 17 fev 2022] – 1.150,05 €

    Contrato nº 275 (2022)
    GlaxoSmithKline [Mesa Redonda – Lisboa- 25 Nov 2021] – 552,2 €

    Contrato nº 276 (2022)
    Merck Sharp & Dohme [ISPPD – 12th International Symposium on Pneumococci and Pneumococcal Diseases] – 3.924,36 €

    Contrato nº 277 (2022)
    Merck Sharp & Dohme [ISPPD – 12th International Symposium on Pneumococci and Pneumococcal Diseases] – 3.924,36 €

    Contrato nº 278 (2022)
    Merck Sharp & Dohme [2022-RGIM-109672 EMEAC Chronic Cough Group Input M] – 2.500 €

    Contrato nº 279 (2022)
    Merck Sharp & Dohme [2022-RGIM-109274] – 2.500 €

    Contrato nº 280 (2022)
    Merck Sharp & Dohme [2022-RGIM-109274] – 2.500 €

    Contrato nº 281 (2022)
    Merck Sharp & Dohme [EIF Covid-19] – 1.100 €

    Contrato nº 282 (2022)
    Merck Sharp & Dohme [EIF Covid-19] – 1.100 €

    Contrato nº 283 (2022)
    Merck Sharp & Dohme [EIF Pneumo Adulto] – 1.100 €

    Contrato nº 284 (2022)
    Merck Sharp & Dohme [Webinar Vaxneuvance] – 990 €

    Contrato nº 285 (2022)
    Merck Sharp & Dohme [Consultoria ID Clinical Cases e reunião de votação IDCC] – 880 €

    Contrato nº 286 (2022)
    Merck Sharp & Dohme [Consultoria ID Clinical Cases e reunião de votação IDCC] – 880 €

    Contrato nº 287 (2022)
    Merck Sharp & Dohme [27º Simpósio de Infecção e Sepsis] – 282 €

    Contrato nº 288 (2022)
    Merck Sharp & Dohme [27º Simpósio de Infecção e Sepsis] – 282 €

    Contrato nº 289 (2022)
    Merck Sharp & Dohme [38º Congresso Pneumologia] – 67,39 €

    Contrato nº 290 (2022)
    Novartis Farma [Symmetry Session I] – 1.100 €

    Contrato nº 291 (2022)
    Pfizer [2 Palestras Prof. Filipe Froes, GRESP e SPP] – 1.500 €

    Contrato nº 292 (2022)
    Roche [Evento Internacional] – 1.600 €

    Contrato nº 293 (2022)
    Sanofi [Fluzone HD Flublok Medical Payer Advisory Board] – 2.514 €

    Contrato nº 294 (2022)
    Sanofi [17as. Jornadas de Pneumologia em MF dos Açores e Continente – Simpósio FLU] – 1.248,45 €

    Contrato nº 295 (2022)
    Sanofi [15ªs. Jornadas de Prevenção do Risco Cardiovascular para MF – Simpósio] – 1.177,11 €

    Contrato nº 296 (2022)
    Sanofi [14º CONGRESSO NACIONAL DO IDOSO, GERIATRIA 2021] – 1.070,1 €

    Contrato nº 297 (2022)
    Sanofi [32ªs Jornadas de Medicina Familiar da Madeira e Continente] – 848,09 €

    Contrato nº 298 (2022)
    Sanofi [12as Jornadas de Pneumologia do Algarve para Medicina Familiar] – 803,19 €

    Contrato nº 299 (2022)
    Sanofi [41º Congresso Português de Geriatria e Gerontologia] – 713,4 €

    Contrato nº 300 (2023)
    AstraZeneca [Congresso ECCMID 2023] – 2.561,28 €

    Contrato nº 301 (2023)
    AstraZeneca [Congresso ECCMID 2023] – 2.561,28 €

    Contrato nº 302 (2023)
    AstraZeneca [Scientific ExChange Meeting at ECCMID 2023] – 1.200 €

    Contrato nº 303 (2023)
    AstraZeneca [Scientific ExChange Meeting at ECCMID 2023] – 1.200 €

    Contrato nº 304 (2023)
    AstraZeneca [AZ COPD Forum on the Road – Reunião Lisboa] – 1.000 €

    Contrato nº 305 (2023)
    AstraZeneca [Simpósio Patient Care 2023] – 1.000 €

    Contrato nº 306 (2023)
    AstraZeneca [Simpósio Patient Care 2023] – 1.000 €

    Contrato nº 307 (2023)
    AstraZeneca [AZ COPD Forum on the Road – Reunião Lisboa] – 1.000 €

    Contrato nº 308 (2023)
    AstraZeneca [Sessão lançamento Evusheld – Tixagevimab/Cilgavimab Internal Scientific Training] – 750 €

    Contrato nº 309 (2023)
    AstraZeneca [Reunião ECCMID 2023: COVID19 Unmet Need] – 76,22 €

    Contrato nº 310 (2023)
    AstraZeneca [Reunião ECCMID 2023: COVID19 Unmet Need] – 76,22 €

    Contrato nº 311 (2023)
    BIAL [Congresso Pneumologia do Norte 2023-Palestra Dr. Filipe Froes Simpósio Meet the Professor 10 março 2023] – 1.377,6 €

    Contrato nº 312 (2023)
    LEO Farmacêuticos [Webinar Otimização da Tromboprofilaxia com HBPM em doentes com pneumonia COVID-19] – 1.000 €

    Contrato nº 313 (2023)
    Merck Sharp & Dohme [42st ISICEM – International Symposium on Intensive Care Emergency Medicine] – 2.112,53 €

    Contrato nº 314 (2023)
    Merck Sharp & Dohme [Reunioes Doenca Pneumococica] – 1.980 €

    Contrato nº 315 (2023)
    Merck Sharp & Dohme [Reunioes Doenca Pneumococica Lisboa e Coimbra 2023] – 1.980 €

    Contrato nº 316 (2023)
    Merck Sharp & Dohme [COVID-19 EUCAN MER Expert Input Forum] – 1.100 €

    Contrato nº 317 (2023)
    Merck Sharp & Dohme [14º Congresso de Pneumologia do Centro-Ib.] – 990 €

    Contrato nº 318 (2023)
    Merck Sharp & Dohme [Revisão dos casos clínicos, Junho 2023] – 990 €

    Contrato nº 319 (2023)
    Merck Sharp & Dohme [Simposio CongPneumoNorte] – 990 €

    Contrato nº 320 (2023)
    Merck Sharp & Dohme [Reunião Vaxneuvance Braga – Prevenção da Doença Pneumocócica] – 609,58 €

    Contrato nº 321 (2023)
    Merck Sharp & Dohme [ID Clinical Cases] – 550 €

    Contrato nº 322 (2023)
    Merck Sharp & Dohme [XXX Congresso de Pneumologia do Norte] – 180 €

    Contrato nº 323 (2023)
    Merck Sharp & Dohme [Reunião Vaxneuvance Porto – Prevenção da Doença Pneumocócica] – 133,1 €

    Contrato nº 324 (2023)
    Merck Sharp & Dohme [14º Congresso de Pneumologia Centro Ibérico 2023] – 123,5 €

    N.D. A descrição, entre aspas, é aquela que consta no Portal da Transparência e Publicidade. No caso de empresas subsidiárias de farmacêuticas, optou-se por as agregar e atribuir o apoio (e relação comercial) à empresa-mãe.