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  • Graça Freitas reincidente em infracções financeiras: há segunda auditoria a correr no Tribunal de Contas

    Graça Freitas reincidente em infracções financeiras: há segunda auditoria a correr no Tribunal de Contas


    A Direcção-Geral da Saúde (DGS) disse esta tarde que o Tribunal de Contas “ilibou” a sua antiga líder, Graça Freitas, quando, na verdade, foi considerada culpada de infracções financeiras, e apenas lhe terá sido perdoada o pagamento das multas por não ser reincidente. Mas isso já não deverá suceder quando ficar concluída uma segunda auditoria em curso espoletada no ano passado também pela Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC). O regulador detectou que, até 2021, as campanhas sobre a pandemia da DGS só destinaram à comunicação social de âmbito regional e local cerca de 755 mil euros (menos de 15% do total), quando deveriam ter recebido pelo menos 1,28 milhões de euros (25% do total). Como assim será reincidente, Graça Freitas só se livra de multa se o processo prescrever. 


    A Direcção-Geral da Saúde (DGS) alegou esta tarde que o Tribunal de Contas “ilibou” a sua anterior líder, Graça Freitas, do pagamento das três multas por incumprimento da Lei da Publicidade Institucional em 2018, através de campanhas publicitárias sobre a vacinação contra a gripe e o sarampo.

    A notícia da aplicação das multas a Graça Freitas, que foram “relevadas” pelo Tribunal de Contas – ou seja, houve um perdão posterior, bem diferente de uma ilibação (libertação da consequência de uma culpa, que ficou comprovada) agora indicada pela DGS – foi feita, em primeira mão, pelo PÁGINA UM no passado dia 12. No entanto, a reacção da DGS sucedeu apenas após hoje o Correio da Manhã ter feito uma manchete sobre o mesmo assunto. O jornal da Cofina não citou a notícia anterior do PÁGINA UM.

    Em 2021, a DGS gastou 5 milhões de euros em publicidade institucional, mas as campanhas ainda não foram analisadas pelo Tribunal de Contas.

    A “bondade” do Tribunal de Contas sobre Graça Freitas – libertando-a do pagamento de multas pecuniárias – apenas advém de a inspecção considerar que a infracção financeira ocorreu por negligência e, em simultâneo, se constatar a “ausência de (…) recomendação anterior”, ou seja, Graça Freitas seria infractora primária.

    Porém, o PÁGINA UM sabe que o Tribunal de Contas está, neste momento, a analisar outras campanhas publicitárias da DGS durante a liderança de Graça Freitas, sobretudo nos anos da pandemia. Conforme o PÁGINA UM revelou em Fevereiro do ano passado, a DGS também aí incumpriu gravemente a Lei da Publicidade Institucional em 2020 e 2021. E com montantes muito mais elevados.

    Até finais de 2021, quase 75% do dinheiro total gasto pela DGS em diversas campanhas publicitárias sobre a covid-19 foram absorvidas pelas televisões. Os canais da SIC e da TVI – que posicionaram os seus serviços noticiosos durante a pandemia com uma filosofia claramente alarmista – conseguiram captar um total de 3,11 milhões de euros nos últimos dois anos.

    Este montante representa cerca de 61% dos quase 5,11 milhões de euros disponibilizados pelo gabinete de Graça Freitas para publicidade relacionada com a pandemia. A SIC foi o canal que mais encaixou: 1.609.024,35 euros, seguindo-se a TVI, com 1.230.378,35 euros. O pódio foi também ocupado por um canal por cabo, mas a grande distância: o Correio da Manhã TV teve direito a 557.237,81 euros.

    Graça Freitas beneficiou televisões durante as campanhas publicitárias relacionadas com o combate à covid-19.

    Curiosamente, a TVI 24 – agora transformada em CNN Portugal – recebeu mesmo mais do que a RTP 1. A primeira recebeu 190.004,71 euros, enquanto a segunda 148.721,45 euros. Na altura, não foram divulgados os critérios que presidiram à distribuição da publicidade, mas claramente a DGS preferiu campanhas audiovisuais de âmbito nacional em detrimento de campanhas destinadas à imprensa ou rádio locais e regionais.

    No segmento radiofónico, a Rádio Comercial foi aquela que mais atraiu publicidade sobre a covid-19 (80.817,97 euros), um pouco mais do que o Jornal de Notícias, a publicação da imprensa que liderou nos contratos com a DGS, que recebeu 72.138,76 euros.

    De acordo com um levantamento realizado então pela Entidade Reguladora da Comunicação Social (ERC), a DGS pagou diversos montantes a 284 órgãos de comunicação social para divulgação de mensagens relacionadas com a pandemia, dos quais 139 de imprensa regional, 126 rádios locais, oito títulos de imprensa nacional, sete canais de televisão, três rádios nacionais e uma publicação digital.

    No entanto, apesar da grande quantidade de rádios locais envolvidas (que incluem, por exemplo, a TSF e a Mega 80) e de muitos títulos de imprensa regional, os montantes foram, em alguns casos, completamente irrisórios. Por exemplo, a Rádio Imagem, de Fornos de Algodres, recebeu 121,95 euros da DGS. Um total de 12 rádios ou periódicos regionais receberam menos de 500 euros, e mais 22 receberam entre 500 e 1.000 euros.

    Graça Freitas preferiu campanhas audiovisuais durante a pandemia da covid-19 para transmitir cenas mais impactantes.

    Por via dessa distribuição, a comunicação social de âmbitos regional e local só receberam 755 mil euros (menos de 15% do total), quando deveriam receber pelo menos 1,28 milhões de euros (25%) do total, o que levou a ERC a transmitir, por obrigação legal, este novo incumprimento ao Tribunal de Contas. Aliás, o jornal Público confirmou, também em Fevereiro do ano passado, a informação do envio para o Tribunal de Contas do processo de mais estas irregularidades cometidas por Graça Freitas. Ou seja, a ex-líder da DGS reincidiu.

    Uma vez que, ainda por cima, os montantes destas campanhas em redor da covid-19 foram bastante mais elevados – e em número maior – será inevitável a aplicação a Graça Freitas de sanções, sem qualquer perdão, por estas infracções financeiras que beneficiaram as televisões em prejuízo dos media locais e regionais.

    Com efeito, os juízes já não poderão, desta vez, relevar a “ausência de (…) recomendação anterior” para não a obrigar a pagar as multas. Na verdade, só uma prescrição pode salvar a antiga directora-geral da Saúde, independentemente de se manter um problema crónico na administração pública: o incumprimento da Lei da Publicidade Institucional, beneficiando os canais televisivos.


    N.D. Como se sabe, o PÁGINA UM não tem, por opção, qualquer publicidade, nem institucional nem privada, sendo financiado apenas pelos donativos dos seus leitores, por isso não foi directamente afectado pelas sucessivas infracções cometidas pela antiga director-geral da Saúde relativamente à Lei da Publicidade Institucional.

  • Casos de emergência e muita urgência hospitalar “dispararam” 29% em Agosto

    Casos de emergência e muita urgência hospitalar “dispararam” 29% em Agosto

    Não há muitos motivos para sorrir. O fluxo para todo o tipo de urgências hospitalares no Serviço Nacional de Saúde registou no mês de Agosto um crescimento de quase 20% face ao triénio anterior, que resultaram em mais quatro mil internamentos. Mas os casos mais graves, com pulseiras vermelha e laranja, contabilizaram valores ainda superiores (29%), que demonstram que os portugueses não andam bem de saúde. E alguns não recuperarão jamais. O último mês foi o segundo mais letal desde os anos 50, ultrapassado apenas por 2003. Mas agora não houve ondas de calor. Ministério da Saúde não comenta.


    De forma inexplicável, o passado mês de Agosto foi o segundo mais mortífero desde 1951, de acordo com uma análise do PÁGINA UM aos dados do Instituto Nacional de Estatística, enquanto as urgências hospitalares contabilizaram crescimentos inesperados em comparação com os períodos homólogos anteriores. O Ministério da Saúde não comenta estes dados.

    Apesar de ausência de ondas de calor em Portugal durante o mês passado – o fenómeno que ocorreu em vários países europeus neste Verão não atingiu território nacional –, os números de óbitos estiveram sempre acima do que seria expectável, tendo-se contabilizado, no total dos 31 dias de Agosto, 9.574 mortes. Para este mês, o valor mais elevado apenas se encontra em 2003 que, no decurso de uma onda de calor de mais de duas semanas, deixou um saldo total de 10.111 óbitos.

    Ministro da Saúde, Manuel Pizarro, foi dar sangue no dia 1 de Agosto, mas não explica motivos de acréscimo de mortes e do fluxo de urgência hospitalar durante esse mês.

    Consultando os dados do INE desde 1951, e compilando os últimos registos diários do Sistema de Informação dos Certificados de Óbito (SICO), o Agosto de 2023 é o segundo pior, embora o terceiro consecutivo acima dos 9.000 óbitos: em 2021 contabilizaram-se 9.227 mortes e no ano passado 9.309 mortes. Saliente-se que antes de 1951 registaram-se alguns meses de Agosto mais mortíferos, mas nessa época a mortalidade no Verão estava sobretudo associado a doenças associadas à falta de higiene e problemas de saneamento que proliferavam com o aumento da temperatura na época de estio.

    A evolução da mortalidade diária neste último Agosto confirma também que não foram as temperaturas elevadas a causa da mortalidade elevada, até porque, em abono da verdade, o Verão é a época do ano menos letal em Portugal.

    Consultando os registos diários do Índice Icaro apenas se registaram, ao longo do último mês de Agosto, seis dias com valores acima de 0,2 e nenhum superior a 1, o que contrasta, por exemplo, com os nove dias acima de 0,2 que se contabilizaram no ano passado. Além disso, no mês passado houve dias com mortalidade superior a 300 óbitos mesmo quando o Índice Icaro estava a zero, o que é uma situação anómala.

    Evolução da mortalidade total em Portugal no mês de Agosto desde 1951. Fonte: INE e SICO.

    Aliás, a persistência de dias com óbitos acima de 300 foi a marca de Agosto passado, com 21 dias. No ano passado houve 15, em 2021 contabilizaram-se 14 e em 2020 contaram-se 11. Nos anos anteriores à pandemia, os registos do SICO mostram que eram bastante raros os dias que ultrapassavam os 300 óbitos: entre 2014 e 2019, o máximo foi de seis dias, e 2014 e 2015 nem sequer tiveram um.

    O PÁGINA UM tentou saber, junto do Ministério da Saúde, se existe já alguma explicação para esta situação perfeitamente anómala, sendo certo que não existem evidências de estar a ocorrer um aumento da letalidade causada pelas novas variantes da covid-19. O site do OurWorldinData aponta para um registo de 44 óbitos para Portugal no mês de Agosto até ao dia 30.

    Em todo o caso, apesar da habitual ausência de respostas do Ministério de Manuel Pizarro às perguntas do PÁGINA UM – que inclui nada dizer sobre o alegado estudo sobre o excesso de mortalidade nos anos da pandemia –, observou-se um significativo aumento da actividade hospitalar ao longo do mais recente mês.

    De acordo com os registos da Monitorização Diária dos Serviços de Urgência, em Agosto de 2023 os hospitais do Serviço Nacional de Saúde tiveram 561.189 episódios de urgência, dos quais resultaram 40.498 internamentos. Este fluxo representa um aumento de 19% no número de atendimentos de urgência e uma subida de 12% nos internamentos.

    Evolução do fluxo de episódios nas urgências hospitalares em Agosto no período entre 2020 e 2023. Fonte: ACSS. Análise: PÁGINA UM.

    Mas a evolução ainda se mostra mais gravosa analisando a tipologia dos episódios através da triagem de Manchester. No recente mês de Agosto, registaram-se 1.717 episódios de pulseira vermelha (emergência) e 51.141 de pulseira laranja (muito urgente), um crescimento de 14% e 12%, respectivamente, face ao ano passado.

    Se se comparar com o triénio 2020-2022, o crescimento de casos de emergência cresceu 27% e os de muita urgência quase 29%.

    Saliente-se que, de acordo com o protocolo da triagem de Manchester, os casos emergentes (pulseira vermelha), com perigo de vida imediato, requerem uma intervenção imediata, estando associado, em grande parte dos casos, a acidentes ou situações agudas, como ataques cardíacos ou acidentes vasculares cerebrais. Os casos de muita urgência (pulseira laranja) – cuja evolução já constitui um indicador do estado de saúde de uma comunidade, até pelo número mais elevado face aos casos emergentes – requerem um tempo de atendimento nas urgências hospitalares preferencialmente inferior a 10 minutos.

    Evolução do número de internamentos após atendimento nas urgências e número agregado de casos emergentes e muito urgentes em Agosto no período entre 2020 e 2023. Fonte: ACSS. Análise: PÁGINA UM.

    Não se mostra agora possível comparar o fluxo das urgências hospitalares com o período anterior à pandemia, por uma razão simples, mas reveladora da cultura de obscurantismo do Ministério da Saúde: os dados anteriores a 2020 foram simplesmente retirados do sistema de monitorização.

    O PÁGINA UM vai solicitar à Administração Central do Sistema de Saúde a reposição da informação anterior à pandemia, que continha dados desde Novembro de 2017, e se tal não for satisfeito recorrerá ao Tribunal Administrativo para a obtenção dos dados entretanto “apagados de consulta pública.

  • Mortalidade dos adolescentes e jovens adultos está a níveis nunca vistos (desde 2014)

    Mortalidade dos adolescentes e jovens adultos está a níveis nunca vistos (desde 2014)

    Quase não se dão por elas, por serem apenas três em cada 1.000 mortes contabilizadas em Portugal. Poucas centenas em cada ano. Em todo o país eram menos de um óbito por dia; mas agora, de repente, já é um pouco mais de um por dia, e analisando em detalhe verifica-se que nos últimos dois anos o incremento da mortalidade nos adolescentes e jovens adultos, com idades entre os 15 e os 24 anos, aumentou 22% face ao período pré-pandemia. O forte aumento coincidiu com o início do programa de vacinação contra o SARS-CoV-2, a partir do quatro trimestre de 2021. Mas esse é tema tabu. O PÁGINA UM até já tinha, há cerca de um ano, detectado uma tendência preocupante. Daí para cá, só piorou.


    Há um problema persistente e já indisfarçável, excepto se o “sangue jovem” for já indiferente para os lados da Avenida João Crisóstomo, sede do Ministério da Saúde: a mortalidade total na faixa etária dos 15 aos 24 anos está anormalmente elevada desde o início de 2022. A situação nem sequer se pode já considerar surpreendente, porque em  Setembro do ano passado o PÁGINA UM já detectara uma preocupante tendência crescente na mortalidade dos adolescentes e jovens adultos desde Outubro de 2021.

    Mas desde Setembro, esta situação só piorou. E piorou duplamente, porque há um manto de silêncio político e mediático sobre estas mortes há largos meses, enquanto os media mainstream apenas se entretêm quando há show off, como a trágica (e desumana) morte de um idoso de 93 anos que, quando nasceu em 1930 tinha então uma probabilidade de viver só até aos 50 anos, ou seja, menos 43 anos do que aqueles que acabou vivendo. Os jovens que estão a perder a vida em circunstâncias não apuradas (porque aparentemente não interessa saber as causas) nem sequer terão a chance de contribuir para que, dentro de décadas, não se continue a deixar morrer nenhum idoso sozinho numa maca de hospital…

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    Em Setembro do ano passado, numa análise do PÁGINA UM aos dados do Sistema de Informação do Certificados de Óbito (SICO) já se constatara que em todo o mês de Agosto de 2022 tinham sido contabilizados 45 óbitos, um máximo desde 2014 – ano em que se começou a recolher estes dados com detalhe etário e mensal – para os jovens daquele intervalo de idades. Mais do que um recorde fortuito, enquadrava-se numa tendência crescente.

    Considerando a evolução da média da mortalidade anual – ou seja, o somatório dos óbitos dos 12 meses anteriores –, o mês de Agosto do ano passado mostrava estar num pico (com 360 óbitos), que contrastava com 304 óbitos no mesmo período de 2021. E o PÁGINA UM já anunciava não haver sinais de abrandamento.

    E o pior cenário confirmou-se. Uma nova análise do PÁGINA UM aos dados do SICO mostram que, para a faixa etária dos 15 aos 24 anos, o crescimento da mortalidade anual – calculada em função dos 365 dias anteriores – só inverteu ligeiramente na segunda semana de Novembro do ano passado, depois de se estabelecer um novo máximo nos 377 óbitos. Isto significa que morriam então 103 jovens deste grupo etário em cada 100 dias, quando antes da pandemia, e mesmo antes do início da vacinação contra a covid-19, o rácio era de 87 mortes por cada 100 dias. Significa que, extrapolando para 365 dias, havia um acréscimo inexplicável e inesperado de quase 60 mortes por ano de adolescentes e jovens adultos.

    Evolução da mortalidade acumulada nos últimos 365 dias para o grupo etário dos 15 aos 24 anos em cada dia desde Janeiro de 2015. Nota: para suavizar pequenas variações diárias procedeu-se ainda, para cada dia, ao cálculo da média móvel a 30 dias. Fonte: SICO / DGS. Análise: PÁGINA UM.

    No início de Janeiro deste ano ainda se chegou a observar uma ligeira retracção dos níveis de mortalidade deste grupo juvenil, mas este nunca ficou abaixo dos 360 óbitos (nos últimos 365 dias). E a partir daí encetou-se nova subida que atingiu os 375 óbitos (nos últimos 365 dias) em 21 de Julho. Anteontem, dia 23 de Agosto, este nível de mortalidade situava-se nos 371 óbitos – ou seja, desde 24 de Agosto de 2022 foi esse o número total de mortes em Portugal de jovens entre os 15 e os 24 anos.

    Comparando com períodos homólogos durante a pandemia, entre 24 de Agosto de 2021 e 23 de Agosto tinham morrido 360 jovens desta faixa etária – menos 11 óbitos. No período homólogo de 2020 a 2021 apenas 295 – menos 76 óbitos. No período homólogo de 2019 a 2020 registaram-se 338 – menos 33 óbitos. Este último valor, mais elevado do que o contabilizado no ano seguinte, não terá sido devido à covid-19, uma vez que no primeiro ano da pandemia apenas se registou um óbito por esta doença nesta faixa etária.

    Nos períodos de Agosto a Agosto dos anos anteriores à pandemia, as diferenças face ao período homólogo de 2022-2023 nos níveis de mortalidade na faixa etária dos 15 e os 24 anos situaram-se entre menos 36 e menos 74 óbitos.

    Em Setembro do ano passado, tendo feito uma análise similar, detectando já sinais evidentes de agravamento da mortalidade entre adolescentes e jovens entre os 15 e 24 anos, a situação só piorou.

    Para confirmar que este acréscimo de mortalidade nesta faixa etária não é conjuntural, e aparenta ser já estrutural – e é pelo menos coincidente com o início do período de vacinação contra a covid-19 nos jovens –, diga-se que nenhum outro grupo etário apresenta similar cenário.

    De acordo com outra análise do PÁGINA UM, para o período de 1 de Janeiro a 23 de Agosto (ou 22 de Agosto nos anos bissextos) desde 2014, é certo que o grupo dos maiores de 85 anos tem sido o mais “fustigado”, mas estamos perante uma faixa etária que está já fora da esperança média de vida, ou seja, com taxas de mortalidade bastante elevadas (acima dos 15% ao ano).

    Mesmo assim, comparando, para este período do ano, a mortalidade no quadriénio 2020-2023, observa-se que os mais idosos registaram um acréscimo de mortalidade de 16% face ao quadriénio 2016-2019, com o pior ano a ser o de 2022. Porém, no ano em curso, apesar da mortalidade ainda estar bem acima de qualquer ano pré-pandemia, o número de óbitos está abaixo do registado em 2022 e 2021. Além disso, convém salientar que este grupo etário tem estado a aumentar nas últimas décadas, sendo daí que também se justifica um aumento do número absoluto de óbitos.

    Ora, mas tal não se verifica no grupo etário dos 15 aos 24 anos, que até revela uma ligeira diminuição populacional em termos absolutos face à gradual diminuição da natalidade nas duas últimas décadas. Nestes casos, um aumento no número de óbitos em determinado período significa automaticamente uma subida da taxa de mortalidade.

    Assim, no período de 1 de Janeiro a 23 de Agosto, se se comparar o quadriénio 2020-2023 com o quadriénio 2016-2019, constata-se um agravamento de 15,3% da mortalidade neste grupo de jovens. Contudo, a situação ainda se agrava mais se se comparar o biénio 2022-2023 (média de 243 óbitos) com o período de 2014-2021 (média de 202 óbitos), revelando-se um aumento da taxa de mortalidade de 20,3%. E se se considerar apenas o quinquénio anterior à pandemia (2015-2019), a taxa de mortalidade aumenta 22%.

    A dimensão deste flagelo nos jovens entre os 15 e os 24 anos – que passa despercebido num país que se habitua a ter mais de 300 óbitos, na sua esmagadora maioria de pessoas bastante idosas – não encontra paralelo nas faixas etárias antecedentes e subsequentes.

    A análise do PÁGINA UM aos dados do SICO desde 2014 para o período entre 1 de Janeiro e 23 de Agosto (ou 22 de Agosto, nos anos bissextos) mostra que, confrontando o quadriénio 2020-2023 (que engloba os anos da pandemia) com o quadriénio anterior (2016-2019), a taxa de mortalidade infantil até apresentou uma melhoria substancial (-23,3%), confirmando aliás a boa evolução deste indicador já salientada em notícia de Maio passado. Isto mesmo se 2022 e 2023 apresentam números mais elevados do que 2021, que foi ano atípico (no bom sentido).

    Ministério da Saúde anda desde Agosto de 2022 a dizer que estuda as causas do excesso de mortalidade, mas Manuel Pizarro até já culpou as alterações climáticas.

    No grupo dos 1 aos 4 anos, a redução é de 2,5%, embora os valores de 2022 e 2023 sejam mais elevados do que os dois primeiros anos da pandemia (2020 e 2021). Em todo o caso, este é, por norma, um grupo etário de baixíssima taxa de mortalidade, pelo que se pode concluir que a última década tem sido marcada pela estabilidade. O mesmo se pode dizer para o grupo dos 5 aos 14 anos, em que a variação entre os dois quadriénios é praticamente nula.

    Como a variação entre quadriénios no grupo etário dos 25 aos 34 anos também se mostra baixa (apenas 2,4%), sendo que os números de óbitos em 2022 e até de 2023 são superados por outros anos do período 2014-2019, mais se destaca assim, pela negativa, a situação da mortalidade dos adolescentes e jovens adultos dos 15 aos 24 anos.

    E ainda mais se se juntar, na comparação, o grupo etário dos 35 aos 44 anos, que claramente foi um grupo pouco ou nada afectado pela pandemia, quer pela covid-19, quer pela desregulação do Serviço Nacional de Saúde, quer mesmo por hipotéticos efeitos adversos das vacinas contra o SARS-CoV-2. Com efeito, sendo certo que nos anos anteriores à pandemia, entre 1 de Janeiro e 23 de Agosto, se contabilizam, neste grupo etário, mais de um milhar de óbitos, a partir de 2021 os valores passam a estar abaixo dessa fasquia. Os números deste ano (864 óbitos) são mesmo os mais baixos desde 2014.

    Número de óbitos por grupo etário e ano desde 2014 no período de 1 de Janeiro a 23 de Agosto (ou 22 de Agosto, em anos bissextos). Fonte: SICO /DGS. Análise: PÁGINA UM.

    Nos grupos imediatamente subsequentes, apesar de o quadriénio 2020-2023 apresentar valores acima do quadriénio anterior à pandemia (2016-2019), os dois últimos anos mostram uma tendência de regresso à normalidade. Nos diversos grupos etários entre os 55 e os 84 anos verifica-se mesmo uma contínua descida ano após ano, desde 2021, o pico da pandemia. Os valores de mortalidade do grupo etário dos 75 aos 84 anos desde o início do ano em curso (20.534 óbitos) até já se situa abaixo da generalidade dos anos entre 2014 e 2022.

    Este cenário geral, contudo, só agrava, por isso, a situação dos adolescentes e jovens dos 15 aos 24 anos. Mesmo se, no total, representam apenas 0,3% do total dos óbitos. Mas a morte dos jovens não são apenas mortes: são vidas que deixaram de ser vividas. E isso custa mais…

    Entretanto, recordemo-nos que em Agosto de 2022, o Ministério da Saúde anunciou um estudo para analisar e detectar as causas para o excesso de mortalidade. Ainda não deu “sinais de vida”, apesar de o ministro Manuel Pizarro se ter antecipadao e culpado já as alterações climáticas. Enquanto isto, o PÁGINA UM ainda aguarda os resultados de um recurso junto do Tribunal Central Administrativo Sul, através do seu FUNDO JURÍDICO, para aceder aos dados discriminados do SICO que, em poucos dias de análise, permitiria apurar as principais doenças ou afecções responsáveis por esses excessos.

  • Comunicação da Direcção Executiva do SNS feita por empresa que conta sete farmacêuticas como clientes

    Comunicação da Direcção Executiva do SNS feita por empresa que conta sete farmacêuticas como clientes

    No mundo da política e da comunicação, LPM e Luís Paixão Martins são sinónimos, mesmo se formalmente este consultor já abandonou a chefia de uma das mais influentes empresas do sector, muito por força da sua ligação ao Partido Socialista. Mas embora a presença de LPM continue perene nos meandros governamentais, sendo exemplo a ligação com a Presidência do Conselho de Ministros, os contratos públicos reforçam sobretudo o portfolio, até porque a sua facturação é quase toda do mundo privado. O seu mais recente trunfo é a definição e implementação da estratégia de comunicação da todo-poderosa Direcção Executiva do Serviço Nacional de Saúde, cujo contrato foi publicado no Portal Base na semana passada. Claro que se as chinese walls funcionarem, nenhum dos 17 clientes da LPM na área da Saúde, entre as quais constam sete farmacêuticas, beneficiarão desta ligação com a nova entidade estatal presidida por Fernando Araújo…


    A LPM Comunicação – a empresa fundada por Luís Paixão Martins, consultor de marketing político do Partido Socialista, e há vários anos administrada pelo seu filho João – ganhou o concurso para prestação de serviços de assessoria de imprensa da Direcção Executiva do Serviço Nacional de Saúde (DE-SNS), enquanto mantém, no seu portfólio de clientes privados, sete farmacêuticas e mais uma dezena de empresas e entidades do sector da saúde, entre as quais um hospital privado, uma empresa de homeopatia, três sociedades médicas, uma empresa e uma associação de empresas de diagnóstico médico, uma fundação e duas instituições não governamentais.

    O contrato foi assinado em Maio, mas apenas divulgado na semana passada no Portal Base, e surge no decurso de um concurso público, envolvendo mais duas empresas (Creative Minds e KICAB), para assessorar a equipa de Fernando Araújo a instalar uma estrutura. Na prática, a DE-SNS vai centralizar algumas das funções políticas e administrativas que estavam dispersas pelo próprio Governo e por duas entidades públicas: a Administração Central do Sistema de Saúde (ACSS) e os Serviços Partilhados do Ministério da Saúde (SPMS).

    Luís Paixão Martins, fundador da LPM e pai do actual administrador único da empresa que vai gerir a comunicação da Direcção Executiva do Serviço Nacional de Saúde. (DR)

    No entanto, apesar da ideia da criação da DE-SNS ter saído de um Conselho de Ministros do início de Setembro do ano passado, os alicerces têm estado a avançar a conta-gotas, sem ainda sequer estarem aprovados os estatutos. Por exemplo, a partir de ontem, por Resolução do Conselho de Ministros, a DE-SNS passou a ser a entidade que formalmente passa a designar, por despacho, os membros dos órgãos de gestão de hospitais, centros hospitalares, institutos portugueses de oncologia e unidades locais de saúde.

    No entanto, essa função até já ocorria na prática nos últimos meses, desde que Fernando Araújo, antigo administrador do Centro Hospitalar de São João, foi escolhido por Manuel Pizarro, ministro da Saúde. Por exemplo, a antiga bastonária da Ordem dos Farmacêuticos, Ana Paula Martins, foi já indicada pela DE-SNS para o cargo de presidente do Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte, que abrange o Hospital de Santa Maria. Recorde-se que Ana Paula Martins era então directora dos assuntos governamentais da farmacêutica Gilead e ocupara, durante alguns meses, o cargo de vice-presidente do PSD no final de mandato de Rui Rio.

    As funções de grande sensibilidade política e social previstas para a DE-SNS – para além da gestão, supervisão e monitorização das unidades do SNS, definirá diretrizes, normas e orientações, com implicações nos fornecedores, utentes e empresas privadas – parecem não ter sido consideradas na escolha da empresa de por onde passará a estratégia de comunicação e de assessoria de imprensa.

    Fernando Araújo, director executivo do Serviço Nacional de Saúde, à esquerda de Manuel Pizarro, ministro da Saúde.

    De acordo com o levantamento do PÁGINA UM, a LPM identifica como seus clientes, apenas no sector da Saúde, sete farmacêuticas – AbbVie, Bluepharma, Daiichi-Sankyo, Gedeon Richter, GlaxoSmithKline, Novartis e Viatris –, uma empresa de homeopatia (Boiron), duas entidades na área do diagnóstico – a empresa Hologic e a Associação Portuguesa das Empresas de Diagnósticos Médicos (Apormed) –, uma empresa hospitalar privada (Lusíadas), uma fundação associada a uma farmacêutica (Fundação Bial), duas organizações não-governamentais sem fins lucrativos (Liga Portuguesa contra o Cancro e a União das Associações das Doenças Raras de Portugal) e ainda três sociedades médicas (Sociedade Portuguesa de Senologia, Sociedade Portuguesa de Gastrenterologia e Sociedade Portuguesa de Cardiologia). Esta última sociedade médica é aquela que mais financiamento obtém do sector farmacêutico desde 2017, enquanto a penúltima se encontra no top 10.

    Contudo, apesar disso, nos critérios de avaliação das candidaturas, cujo processo acabou por ser instruído pelos SPMS, não houve qualquer critério de índole ético que pudesse excluir candidatos que tivessem conflitos de interesse por deterem relações comerciais com entidades privadas do sector da saúde ou com alguma que estivesse sob a supervisão directa ou indirecta da DE-SNS.

    Lista dos 17 clientes do sector da Saúde detidos pela LPM. Falta a actualização para incluir a Direcção Executiva do Serviço Nacional de Saúde.

    Pelo contrário. Além do preço (com um peso de 30%), a “experiência na Área da Assessoria de Imprensa no Setor da Saúde” era um dos critérios explícitos de avaliação qualitativa das propostas, com um peso de 35%.

    Ou seja, não houve qualquer cláusula que obrigasse a uma exclusividade, para garantir independência e evitar transmissão de informação privilegiada entre a DE-SNS e clientes da empresa de comunicação vencedora.

    Deste modo, a LPM até acabou fortemente beneficiada por possuir contas de 17 clientes na área da Saúde, incluindo as sete farmacêuticas e até um hospital privado.

    Em todo o caso, este “problema” seria similar se a escolhida fosse a Creative Minds, que no seu site expõe os seus 28 clientes no sector da Saúde, embora sem incluir tantas empresas de grande dimensão. Com efeito, no meio de pequenas e médias empresas, destaca-se apenas, no sector farmacêutico, a portuguesa Medinfar.

    Pelo caminho, neste concurso, ficou a Kicab, a empresa pertencente a Rui Neves Moreira, que foi assessor de imprensa no Hospital de São João, tendo sido escolhido por Fernando Araújo para o assessorar nas primeiras fases de instalação da DE-SNS. Esse contrato, com a duração formal de 9.000 euros por apenas 25 dias de trabalho, levantou celeuma no início deste ano, por envolver um custo de 360 euros por dia.

    Saliente-se, contudo, que no contrato agora em vigor com a LPM, o valor nem é elevado para os padrões do mercado. O preço do contrato – 22.380 euros (sem IVA), perfazendo cerca de 2.800 euros por mês, durante os oito meses de duração – até ficou ligeiramente abaixo do preço base, que era de 23.600 euros, o que denota o interesse na aquisição deste cliente público. Na verdade, por exemplo, comparando o montante deste contrato com o volume de negócios da LPM em 2021 – as contas relativas ao ano passado ainda não se encontram disponíveis –, estamos perante uma gota de água.

    Com efeito, embora conhecida por ser uma empresa de comunicação próxima do poder, o Estado e a Administração Central e Local nem são assim tão bons clientes em termos de facturação. Em 2021, as receitas da LPM totalizaram 5.976.574 euros, e os seis contratos públicos nesse período (Região de Turismo do Algarve, Direcção-Geral do Património Cultural, Fundação para a Ciência e a Tecnologia, Comissão para a Cidadania e Igualdade do Género e Câmara Municipal de Almada, com dois) ascenderam aos 153.770 euros. Ou seja, o sector privado representou 97,4% da facturação da LPM.

    Porém, no mundo da comunicação empresarial, ter uma porta de passagem para o poder mostra-se fundamental. E assim, mais importante do que uma verba num contrato público, ostentar na carteira um organismo estatal com o quilate da DE-SNS vale ouro.

    Mesmo quando existe em contrato uma “cláusula de direitos sobre a informação”, que estipula que a LPM não pode usar nem ceder a terceiros a informação da DE-SNS sem autorização prévia. E mesmo que as empresas de comunicação jurem, a pés juntos, que usam (ou colocam em práticas) as chinese walls, quase sempre mais míticas do que verídicas.

  • Filipe Froes & Farmacêuticas: a “isenção” de um médico com 324 contratos que valeram 453.635,37 euros

    Filipe Froes & Farmacêuticas: a “isenção” de um médico com 324 contratos que valeram 453.635,37 euros

    Faltavam poucos dias para a prescrição do processo disciplinar a Filipe Froes, iniciado em Fevereiro do ano passado, mas para evitar eventuais acusações de “denegação de justiça”, a Inspecção-Geral das Actividades em Saúde decidiu arquivá-lo esta semana, alegadamente por falta de provas, embora tudo esteja ainda no segredo dos deuses. O pneumologista diz que foi dado “um passo muito significativo na inexistência de qualquer dúvida sobre a fundamentação e isenção científica das minhas intervenções na comunicação social”. E o PÁGINA UM recorda algumas das polémicas acções de marketing do conhecido pneumologista, e lista todos os 324 eventos pagos por 24 farmacêuticas, que lhe permitiram levar para casa 453.635 euros para além do salário em regime de exclusividade como médico no Hospital Pulido Valente.


    Era o desfecho esperado. A Inspecção-Geral das Actividades em Saúde (IGAS) terá arquivado, no início desta semana, o processo disciplinar contra o pneumologista Filipe Froes, que fora iniciado em 19 de Fevereiro do ano passado. A decisão – de cujos fundamentos nada se conhece – ocorreu a escassos dias da prescrição do processo disciplinar que, durante quase 18 meses esteve em “banho-maria”. Caso não tivesse sido arquivado, o processo iria prescrever hoje, como o PÁGINA UM já revelara em Julho passado.

    Apesar das tentativas do PÁGINA UM junto do Tribunal Administrativo de Lisboa para aceder à informação inspectiva que levou à instauração deste processo –, apenas se sabe que em causa estavam as relações comerciais deste conhecido pneumologista, como médico do Serviço Nacional de Saúde, com diversas farmacêuticas, ignorando-se se aquilo que estaria em causa se circunscrevia a incompatibilidades decorrentes do volume de negócios ou se se estaria a investigar faltas injustificadas no hospital para acudir a eventos pagos pelas empresas.

    Filipe Froes, pneumologista do Hospital Pulido Valente, consultor da DGS, consultor de farmacêuticas e influencer sanitário.

    Ignora-se também se o arquivamento do processo se deveu efectivamente à conclusão, em fase de instrução, de que Froes não cometeu qualquer infracção ou se se constatou a impossibilidade de finalizar o processo disciplinar antes do dia de hoje, por perfazerem 18 meses e advir daí uma prescrição automática. Note-se que se a IGAS tivesse deixado simplesmente o processo prescrever em claro benefício de Filipe Froes (protegido pelo Ministério da Saúde) poderia vir a ser acusado de denegação de justiça, punida pelo Código Penal.

    Em todo o caso, com o arquivamento do processo na IGAS, deixam agora de existir quaisquer desculpas ou impedimentos legais para a consulta de todos os documentos, estando o PÁGINA UM a aguardar um recurso do Tribunal Central Administrativo Sul sobre esta matéria. Também já foi solicitado, novamente, no final desta semana, a consulta à IGAS, que ainda não respondeu.

    O alegado arquivamento “por não haver indícios de infração disciplinar imputável ao visado” foi já celebrado pelo próprio Filipe Froes. Numa mensagem na rede social Facebook, na passada quarta-feira, o pneumologista diz ter ficado “muito satisfeito porque foi dado um passo muito significativo na inexistência de qualquer dúvida sobre a fundamentação e a isenção científica das minhas intervenções na comunicação social, bem como da intervenção de todas as outras pessoas que defenderam e promoveram a ciência.” Froes acrescentou ainda que “o mais importante, na minha perspetiva, é o reconhecimento do valor da ciência e do conhecimento científico no combate à pandemia e na mitigação das suas consequências tão nefastas, que só em Portugal foi responsável pelo falecimento de cerca de 27 mil pessoas.”

    Carlos Carapeto, inspector-geral das Actividades em Saúde: quase dois anos após o início das investigações a Filipe Froes, e de um jogo do rato e do gato a esconder as diligências tomadas desde Setembro de 2021, o processo disciplinar é arquivado em vésperas de prescrição.

    Sem prejuízo de nunca terem estado em avaliação, no processo da IGAS, o rigor científico de Flipe Froes, por não ser matéria susceptível de análise por aquela entidade, convém, contudo, recordar que o pneumologista, mesmo sendo um dos membros da equipa nomeada pela Direcção-Geral da Saúde para definir as terapêuticas contra a covid-19, não se imiscuiu de promover explicitamente medicamentos de farmacêuticas com que colaborava.

    Exemplo disso ocorreu com a Gilead. Enquanto, como consultor da DGS, Froes conseguiu introduzir nas terapêuticas anti-covid o remdesivir, um polémico fármaco da Gilead comprado pela Comissão Europeia num negócio nebuloso, ocupava também o seu tempo a ser consultor da empresa norte-americana exactamente para este fármaco. Recorde-se que, de acordo com dados da Agência Europeia do Medicamento, o uso de remdesivir está associado a mais de 900 mortes na Europa.

    Além da promoção das vacinas das diferentes marcas, às quais tem ligações sólidas, Froes também promoveu antivirais, como o Lagevrio (Merck Sharpe & Dohme) e anticorpos monoclonais, como o Evusheld (AstraZeneca). No caso do primeiro medicamento, o pneumologista – que, desde 2013, recebeu oficialmente 119.291 euros da Merck Sharpe & Dohme –  considerou em declarações ao jornal Nascer do Sol, em Novembro de 2021, que seria “sem dúvida, (…) um game-changer”, que complementaria, garantindo que “a mais-valia é ser um medicamento que reduz a carga viral e reduz em 50% a gravidade da doença”. E concluía: “ao fim de dois, três dias, a pessoa já não é transmissora, o que diminui a capacidade de circulação do vírus”.

    Afinal, este medicamento acabou por ser um fiasco ao nível da eficácia, e foi mesmo retirado do mercado pela própria farmacêutica. Mas sem antes ter arrecadado, a nível mundial, receitas da ordem dos 5,7 mil milhões de dólares só no ano passado, muito graças a influencers como Filipe Froes.

    Arquivamento do processo disciplinar em vésperas da prescrição (ao fim de 18 meses) levou Filipe Froes a concluir que “foi dado um passo muito significativo na inexistência de qualquer dúvida sobre a fundamentação e isenção científica das minhas intervenções na comunicação social”.

    No caso do medicamento da AstraZeneca – que este ano já entregou 12.425 euros a Froes –, também o pneumologista fez lobby. Chegou mesmo a fazer-se pagar apenas para estar presente no lançamento em Portugal deste fármaco, que teve retirada a sua autorização no mercado norte-americano no início deste ano, conforme revelou em Fevereiro a prestigiada revista científica BMJ.

    Mas esta presença de Filipe Froes foi apenas um dos 11 eventos que lhe foram pagos pela AstraZeneca contabilizados só este ano no Portal da Transparência e Publicidade – uma plataforma gerida pelo Infarmed, mas cuja fiscalização é virtualmente inexistente, o que significa que se mostra muito falível para controlar todas as transacções financeiras envolvendo farmacêuticas.

    De acordo com um levantamento exaustivo feito pelo PÁGINA UM, Filipe Froes já deu o corpo e seus talentos por 25 vezes este ano ao sector farmacêutico, embora esteja agora quase em dedicação exclusiva à AstraZeneca (11 eventos) e à Merck Sharpe & Dohme (12 eventos). Esta empresa norte-americana mostra, aliás, ser a preferida do pneumologista: desde 2013 já teve relações comerciais – em suma, contratos para prestação de serviços a troco de dinheiro ou géneros – em 83 ocasiões, das quais 46 apenas desde 2021.

    Número de eventos (contratos), por ano, de Filipe Froes com farmacêuticas desde 2013 até 18 de Agosto de 2023. Fonte: Portal da Transparência e Publicidade do Infarmed.

    A Pfizer, através de duas subsidiárias que operam em Portugal, também é uma das farmacêuticas com mais relações comerciais com Filipe Froes. No total estão contabilizados 69 contratos, embora grande parte tenham ocorrido antes da pandemia. Em todo o caso, 12 foram estabelecidos em 2021.

    Também com relevo são as 40 relações comerciais tanto com a Sanofi como com a AstraZeneca, e ainda as 26 com a portuguesa BIAL e as 16 com a americana Gilead. Em todo o caso, Filipe Froes mostra não ser esquisito na hora de colaborar com as farmacêuticas que lhe batem à porta: desde 2013 já trabalhou para (ou com) 24 farmacêuticas e uma empresa de consultadoria na área da Saúde.

    Desde 2020, o ano de início da pandemia da covid-19, Filipe Froes contabiliza 160 eventos pagos por farmacêuticas, enquanto mantinha a sua alegada exclusividade como coordenador da Unidade de Cuidados Intensivos Médico-Cirurgicos Respiratórios do Hospital Pulido Valente (e não como director do Serviço de Cuidados Intensivos, como erradamente a imprensa generalista a ele se refere), como consultor da DGS e ainda, durante algum tempo, líder do Gabinete de Crise da Ordem dos Médicos, instituído pelo ex-bastonário da Ordem dos Médicos, Miguel Guimarães.

    Montantes recebidos por Flipe Froes pela participação em eventos e prestação de serviços (contratos), por farmacêutica, desde 2013 até 18 de Agosto de 2023. Fonte: Portal da Transparência e Publicidade do Infarmed.

    Froes foi, aliás, um dos fiéis “peões de ataque” do Miguel Guimarães contra os médicos que tivessem opiniões contrárias à estratégia seguida pelo Governo no combate à pandemia. Chegou mesmo a encabeçar um grupo de médicos, com Carlos Robalo e Luís Varandas, todos ligados à Pfizer, que apresentaram queixa contra Jorge Amil Dias, presidente do Colégio de Pediatria da Ordem dos Médicos, por ter recomendado prudência na vacinação generalizada de jovens saudáveis. O processo seria, mais tarde, arquivado, mas Froes conseguiu, mais uma vez, pelo menos indirectamente, difamar publicamente colegas de profissão e promover um negócio chorudo de uma farmacêutica.

    Em termos monetários, e desde 2013, a caixa registadora de Froes – que recebe os proveitos tanto a nível individual como da sua empresa Terras & Froes – já encaixou 453.635 euros, o que significa um “salário” oficial de 3.572 euros. Repita-se, contudo, que o Infarmed não faz uma fiscalização eficaz das transacções, como aliás ficou patente no facto de o patrocínio da farmacêutica BIAL a um livro do pneumologista sobre a covid-19 nunca ter sido registado no Portal da Transparência e Publicidade.

    Apesar de um aparente afastamento desde 2021, a Pfizer continua a ser a farmacêutica que mais retribuiu Froes por serviços prestados: 136.074 euros. Segue-se a Merck Sharpe & Dohme, com 119.291 euros, que desde 2020 passou a ser, de longe, a farmacêutica preferida para trabalhar pelo pneumologista.

    Filipe Froes é um dos médicos com mais relações comerciais com farmacêuticas, mas os dados só começaram a ser registados em 2013. Mas antes dessa data já ele era presença assídua nos meios de comunicação social, promovendo o uso de fármacos.

    Com montantes mais baixos, destacam-se ainda mais três farmacêuticas, que entregaram desde 2013 já montantes entre os 30 mil e os 50 mil euros: Bial (48.717 euros), AstraZeneca (39.908 euros) e Sanofi (38.433 euros). Ainda com montantes oficialmente acima de 10 mil euros encontra-se a Gilead (16.471 euros).

    Por ser demasiado enfadonho – até por serem 324 colaborações entre Filipe Froes e as farmacêuticas, que vão desde consultadoria até eventos de marketing, passando por viagens a congressos –, o PÁGINA UM opta por não descrever a tipologia de eventos que estão em causa.

    Na verdade, será muito mais didáctico – ou pedagógico – para se aquilatar das promiscuidades deste pneumologista, independentemente dos “empenhos” para lhe colocar uma imagem de isenção quando fala de temas de Saúde, olhar um a um todos os 324 eventos até agora contabilizados, tal e qual, na base de dados do Infarmed. Por isso, o PÁGINA UM decidiu apresentá-los todos, por serem públicos e se mostrar relevante do ponto de vista do interesse público.


    LISTA DOS 324 EVENTOS COM FILIPE FROES PAGOS DESDE 2013 POR FARMACÊUTICAS (CONSUBSTANCIADOS EM CONTRATO QUE IMPLICARAM PAGAMENTOS MONETÁRIOS OU EM GÉNEROS)

    Contrato nº 1 (2013)
    AstraZeneca [Stand Alone Meeting (SAM) DPOC] – 1.722 €

    Contrato nº 2 (2013)
    AstraZeneca [XXIX Congresso de Pneumologia – Simpósio AstraZeneca] – 1.722 €

    Contrato nº 3 (2013)
    Bayer [Orador em Congresso da Soc Port Pneumologia] – 1.250 €

    Contrato nº 4 (2013)
    Pfizer [Palestra Resultados do Estudo PAC Retro 10- Hospital CUF Descobertas] – 1.230 €

    Contrato nº 5 (2013)
    Pfizer [Reunião Cross Meeting 2013-“Relações que Mudam Vidas” – Évora] – 1.000 €

    Contrato nº 6 (2013)
    Pfizer [Reunião Masters Meeting – “O Ritual de Uma Relação”-25 Maio 2013] – 1.000 €

    Contrato nº 7 (2013)
    Pfizer [Pagamento Fee Dr.Filipe Froes – Forum NOSOCOM] – 1.000 €

    Contrato nº 8 (2013)
    Pfizer [Reunião “CrossMeeting-Relações que Mudam Vidas”-13 Abril de 2013] – 1.000 €

    Contrato nº 9 (2013)
    Pfizer [Palestra Dr. Filipe Froes-VI Encontro Nacional Pfizer] – 1.000 €

    Contrato nº 10 (2013)
    Sanofi [Reunião “Vacinação Antigripal: das orientações técnicas à prática clínica” – Funchal] – 809,67 €

    Contrato nº 11 (2013)
    Sanofi [Reunião “Vacinação Antigripal: das orientações técnicas à prática clínica” – Guarda] – 775,28 €

    Contrato nº 12 (2013)
    Sanofi [Reunião “Vacinação Antigripal: das orientações técnicas à prática clínica” – Porto] – 633,73 €

    Contrato nº 13 (2013)
    Sanofi [Reunião “Vacinação Antigripal: das orientações técnicas à prática clínica” – Lisboa] – 500 €

    Contrato nº 14 (2013)
    Sanofi [Reunião “Vacinação Antigripal: das orientações técnicas à prática clínica” – Faro] – 500 €

    Contrato nº 15 (2013)
    Sanofi [Reunião “Vacinação Antigripal: das orientações técnicas à prática clínica” – Coimbra] – 500 €

    Contrato nº 16 (2014)
    Astellas Farma [ACE] – 496 €

    Contrato nº 17 (2014)
    AstraZeneca [13º Congresso Nacional de Dermatologia – Apresentação do estudo REACH (dados locais)] – 1.722 €

    Contrato nº 18 (2014)
    AstraZeneca [Reunião não promocional] – 25,87 €

    Contrato nº 19 (2014)
    AstraZeneca [Reunião não promocional] – 25,87 €

    Contrato nº 20 (2014)
    Bayer [Chest World Congress] – 1.291,11 €

    Contrato nº 21 (2014)
    Bayer [Chest World Congress] – 1.291,11 €

    Contrato nº 22 (2014)
    BIAL [Congresso ATS 2014, American Thoracic Society, International Conference, San Diego EUA] – 4.845,23 €

    Contrato nº 23 (2014)
    BIAL [Congresso ATS 2014, American Thoracic Society, International Conference, San Diego EUA] – 4.845,23 €

    Contrato nº 24 (2014)
    BIAL [Forum Bial Respirar – Fundação de Serralves/Porto] – 158,08 €

    Contrato nº 25 (2014)
    BIAL [Forum Bial Respirar – Fundação de Serralves/Porto] – 158,08 €

    Contrato nº 26 (2014)
    Merck Sharp & Dohme [Palestra, MSD Launch Symposium Angola] – 4.920 €

    Contrato nº 27 (2014)
    Merck Sharp & Dohme [ICAAC 2014] – 3.290 €

    Contrato nº 28 (2014)
    Novartis Farma [Palestra] – 922,5 €

    Contrato nº 29 (2014)
    Pfizer [Palestra de dia 10 de Maio de 2014] – 2.460 €

    Contrato nº 30 (2014)
    Pfizer [Palestra de dia 10 de Maio de 2014] – 2.460 €

    Contrato nº 31 (2014)
    Pfizer [4 Palestras] – 2.300 €

    Contrato nº 32 (2014)
    Pfizer [VII Encontro Nacional Pfizer Vacinas] – 1.230 €

    Contrato nº 33 (2014)
    Pfizer [Advisory Board] – 1.000 €

    Contrato nº 34 (2014)
    Pfizer [Advisory Board] – 1.000 €

    Contrato nº 35 (2014)
    Pfizer [Fees Palestra Hospital Braga e H. Pulido Valente] – 1.000 €

    Contrato nº 36 (2014)
    Pfizer [Fees Palestra Hospital CUF Descobertas] – 1.000 €

    Contrato nº 37 (2014)
    Pfizer [Reunião de trabalho] – 42,5 €

    Contrato nº 38 (2014)
    Pfizer [Reunião de trabalho] – 32,3 €

    Contrato nº 39 (2014)
    Pfizer [Reunião Trabalho] – 30,4 €

    Contrato nº 40 (2014)
    Pfizer [Reunião Trabalho] – 26 €

    Contrato nº 41 (2014)
    Sanofi [Reunião “A vacinação no adulto” – Funchal] – 1.365,13 €

    Contrato nº 42 (2014)
    Sanofi [IV Reunião de Atualizações em Pediatria] – 1.281,2 €

    Contrato nº 43 (2014)
    Sanofi [XXX Congresso de Pneumologia, Albufeira 06/08 de novembro de 2014] – 750 €

    Contrato nº 44 (2014)
    Sanofi [Reunião “A vacinação no adulto” – Porto] – 730,4 €

    Contrato nº 45 (2014)
    Sanofi [Reunião “A vacinação no adulto” – Porto] – 724,64 €

    Contrato nº 46 (2014)
    Sanofi [Reunião “A vacinação no adulto” – Espinho] – 717,44 €

    Contrato nº 47 (2014)
    Sanofi [Reunião “A vacinação no adulto” – Coimbra] – 658,4 €

    Contrato nº 48 (2014)
    Sanofi [IV Reunião de Atualizações em Pediatria] – 244,36 €

    Contrato nº 49 (2014)
    Teva Pharma [FORUM TEVA RESP -Lisboa 26 a 28 Junho 2014] – 50 €

    Contrato nº 50 (2015)
    AstraZeneca [Moderador no “SIMPOSIO AZ- XXX SPP 14”] – 1.000 €

    Contrato nº 51 (2015)
    Bayer [ERS International Congress 2015, Amesterdão] – 2.916,71 €

    Contrato nº 52 (2015)
    Bayer [ERS International Congress 2015, Amesterdão] – 2.916,71 €

    Contrato nº 53 (2015)
    BIAL [ATS – American Torax Society] – 5.132,26 €

    Contrato nº 54 (2015)
    BIAL [ATS – American Torax Society] – 5.132,26 €

    Contrato nº 55 (2015)
    Merck Sharp & Dohme [35th International Symposium on Intensive Care and Emergency Medicine] – 2.028,03 €

    Contrato nº 56 (2015)
    Merck Sharp & Dohme [Reunião Infeção e antibioterapia] – 984 €

    Contrato nº 57 (2015)
    Novartis Farma [Prestação de serviços] – 750 €

    Contrato nº 58 (2015)
    Pfizer [8 Palestras Unidades e Centros Saúde-Dr. Filipe Froes] – 4.000 €

    Contrato nº 59 (2015)
    Pfizer [Palestras 4 Reuniões de Enfermeiras-Dr. Filipe Froes] – 4.000 €

    Contrato nº 60 (2015)
    Pfizer [Palestra Dr. Filipe Froes Encontro Pfizer Vacinas 2015] – 1.000 €

    Contrato nº 61 (2015)
    Pfizer [Palestra Pfizer Summit Vaccines-Dr. Filipe Froes] – 1.000 €

    Contrato nº 62 (2015)
    Pfizer [Palestra Simpósio C.Nacional Pneumologia-Dr. Filipe Froes] – 1.000 €

    Contrato nº 63 (2015)
    Pfizer [Palestra dia 15 de outubro de 2015] – 922,5 €

    Contrato nº 64 (2015)
    Pfizer [Palestra dia 15 de outubro de 2015] – 922,5 €

    Contrato nº 65 (2015)
    Sanofi [IV Simpósio da Sociedade Portuguesa de Reumatologia, Póvoa de varzim] – 1.019,28 €

    Contrato nº 66 (2015)
    Sanofi [Reunião “A vacinação no adulto” – Guarda] – 841,8 €

    Contrato nº 67 (2015)
    Sanofi [36º Congresso Português de Geriatria e 17º Congresso Port. de Gerontologia Social] – 750 €

    Contrato nº 68 (2015)
    Sanofi [XXXI Congresso de Pneumologia, Albufeira 05/08 de novembro de 2015] – 750 €

    Contrato nº 69 (2015)
    Sanofi [Reunião “A vacinação no adulto” – Leiria] – 652,06 €

    Contrato nº 70 (2015)
    Sanofi [Reunião “A vacinação no adulto” – Matosinhos] – 577 €

    Contrato nº 71 (2015)
    Sanofi [Reunião “A vacinação no adulto” – Coimbra] – 532,5 €

    Contrato nº 72 (2015)
    Sanofi [3rd ESCMID Conference on Vaccines] – 350 €

    Contrato nº 73 (2015)
    Teva Pharma [Teva Respiratory Forum] – 635 €

    Contrato nº 74 (2016)
    AstraZeneca [Congresso: American Thoracic Society 2016] – 3.912,59 €

    Contrato nº 75 (2016)
    AstraZeneca [Palestra “”DIA D NA DPOC] – 1.000 €

    Contrato nº 76 (2016)
    Merck Sharp & Dohme [Expert Input Forum Antibióticos] – 880 €

    Contrato nº 77 (2016)
    Merck Sharp & Dohme [Consultoria Expert Input Forum Antibióticos] – 800 €

    Contrato nº 78 (2016)
    Pfizer [Palestra e Moderação Dr. Filipe Froes] – 15.000 €

    Contrato nº 79 (2016)
    Pfizer [Palestras Dr. Filipe Froes] – 8.118 €

    Contrato nº 80 (2016)
    Pfizer [Palestras Dr. Filipe Froes, Fev e Março] – 5.781 €

    Contrato nº 81 (2016)
    Pfizer [Palestras Dr. Filipe Froes mês de Junho] – 4.870,8 €

    Contrato nº 82 (2016)
    Pfizer [Palestras Dr. Filipe Froes, IPR, APFH e Setúbal] – 3.690 €

    Contrato nº 83 (2016)
    Pfizer [Palestras Dr. Filipe Froes] – 3.690 €

    Contrato nº 84 (2016)
    Pfizer [Palestras Dr. Filipe Froes, èvora, Faro, Almada e Seixal] – 3.247,2 €

    Contrato nº 85 (2016)
    Pfizer [Palestra Dr. Filipe Froes, Congresso Nacional Pneumologia] – 1.230 €

    Contrato nº 86 (2016)
    Pfizer [Palestra Dr. Filipe Froes, Webinar] – 1.230 €

    Contrato nº 87 (2016)
    Pfizer [IX Encontro Nacional Pfizer Vaccines, Hotel Real Santa Eulália, Albufeira] – 361 €

    Contrato nº 88 (2016)
    Pfizer [Viagem, Palestra Reuniões Madeira] – 326,31 €

    Contrato nº 89 (2016)
    Teva Pharma [European Respiratory Society] – 2.500 €

    Contrato nº 90 (2017)
    A. Menarini [Boston Barcelona Lung Conference] – 1.008,2 €

    Contrato nº 91 (2017)
    A. Menarini [Air for All] – 77,4 €

    Contrato nº 92 (2017)
    Angelini Pharma [ATS 2017 International Conference] – 3.820 €

    Contrato nº 93 (2017)
    Astellas Farma [Formação Científica Micafungina] – 750 €

    Contrato nº 94 (2017)
    CTI Clinical Trial [Advisory Board – Bacterian Infection ESBL] – 1.050 €

    Contrato nº 95 (2017)
    Merck Sharp & Dohme [30th Annual Congress of the European Society of Intensive Care Medicine] – 2.051,34 €

    Contrato nº 96 (2017)
    Merck Sharp & Dohme [Gram-negative bacterial infections,05/05] – 990 €

    Contrato nº 97 (2017)
    Merck Sharp & Dohme [Reunião de Investigadores do ensaio clínico “”MK7655A-014″”, que decorreu em Budapeste (Hungria) de 15 a 17 de Novembro de 2016.] – 954,61 €

    Contrato nº 98 (2017)
    Merck Sharp & Dohme [EIF Antibióticos, Paço de Arcos] – 880 €

    Contrato nº 99 (2017)
    Pfizer [Palestras Dr. Filipe Froes, Évora, Lisboa, Porto e Braga] – 6.888 €

    Contrato nº 100 (2017)
    Pfizer [3 Palestras Dr. Filipe Froes, Porto, Pfizer e Lisboa] – 2.583 €

    Contrato nº 101 (2017)
    Pfizer [3 palestras Dr. Filipe Froes] – 2.583 €

    Contrato nº 102 (2017)
    Pfizer [X Encontro Nacional Pfizer, Real Santa Eulália Algarve, 12 a 14 Maio 2017] – 423 €

    Contrato nº 103 (2017)
    Teva Pharma [SC – DPOC, definição e tratamento] – 500 €

    Contrato nº 104 (2017)
    Teva Pharma [Sessão Clínica – DPOC, definição e tratamento] – 500 €

    Contrato nº 105 (2017)
    Teva Pharma [Sessão Clínica – “ACOS – Síndrome de Sobreposição Asma e DPOC”] – 500 €

    Contrato nº 106 (2018)
    BIAL [ACAAI 2018 – American College of Allergy Asthma & Immunology] – 3.501,21 €

    Contrato nº 107 (2018)
    BIAL [ACAAI 2018 – American College of Allergy Asthma & Immunology] – 3.501,21 €

    Contrato nº 108 (2018)
    Exigo Consultores [Painel de Peritos] – 1.000 €

    Contrato nº 109 (2018)
    Exigo Consultores [Painel de Peritos] – 1.000 €

    Contrato nº 110 (2018)
    Janssen Cilag [Gestão de infeções do trato respiratório do doente hematológico] – 1.230 €

    Contrato nº 111 (2018)
    Janssen Cilag [Gestão de infeções do trato respiratório do doente hematológico] – 1.230 €

    Contrato nº 112 (2018)
    Merck Sharp & Dohme [2018-RADB-104877 European Vaccines Advisory Board] – 3.250 €

    Contrato nº 113 (2018)
    Merck Sharp & Dohme [Program#/CAW 2017-RADB-104197, França] – 3.250 €

    Contrato nº 114 (2018)
    Merck Sharp & Dohme [2018-RCSA-104602_Vacc. Dig. Found. Project] – 2.970 €

    Contrato nº 115 (2018)
    Merck Sharp & Dohme [2018-RCSA-104602_Vacc. Dig. Found. Project] – 2.970 €

    Contrato nº 116 (2018)
    Merck Sharp & Dohme [38th International Symposium Intensive Care Emergency Medicine (ISICEM)] – 1.863,26 €

    Contrato nº 117 (2018)
    Merck Sharp & Dohme [Formacao Zerbaxa] – 770 €

    Contrato nº 118 (2018)
    Merck Sharp & Dohme [Formacao Zerbaxa] – 770 €

    Contrato nº 119 (2018)
    Merck Sharp & Dohme [Vaccines Academy] – 750 €

    Contrato nº 120 (2018)
    Merck Sharp & Dohme [Revisao do Guiao AMR para Jornalistas – 11/12/17] – 90 €

    Contrato nº 121 (2018)
    Pfizer [19 Palestras Dr. Filipe Froes] – 17.527,5 €

    Contrato nº 122 (2018)
    Pfizer [Congresso ERS 2018, Paris] – 1.667,22 €

    Contrato nº 123 (2018)
    Pfizer [Anti-infectives Meeting] – 1.230 €

    Contrato nº 124 (2018)
    Pfizer [11º Encontro Nacional Pfizer Vacinas] – 406 €

    Contrato nº 125 (2018)
    Pfizer [Anti-infectives Meeting] – 228,33 €

    Contrato nº 126 (2018)
    Pfizer [Reunião Regional de Enfermeiras Norte] – 167 €

    Contrato nº 127 (2018)
    Pfizer [Reunião Enfermeiras Centro] – 121,5 €

    Contrato nº 128 (2018)
    Pfizer [Reunião Regional de Enfermeiras SUL] – 106,5 €

    Contrato nº 129 (2018)
    Sanofi [ECCMID – The 28th European Congress of Clinical Microbiology and Infectious Diseases] – 2.006,58 €

    Contrato nº 130 (2018)
    Sanofi [Flu Summit] – 1.907,73 €

    Contrato nº 131 (2018)
    Sanofi [VaxigripTetra Speaker Bureau] – 1.600 €

    Contrato nº 132 (2019)
    AstraZeneca [Serviço de Palestrante] – 750 €

    Contrato nº 133 (2019)
    AstraZeneca [Reunião lançamento FASENRA – Bio-“”logic”” New Era, Centro de Congressos Convento S. Francisco – Coimbra] – 176,58 €

    Contrato nº 134 (2019)
    AstraZeneca [Reunião lançamento FASENRA – Bio-“”logic”” New Era, Centro de Congressos Convento S. Francisco – Coimbra] – 176,58 €

    Contrato nº 135 (2019)
    BIAL [CHEST Annual Meeting] – 4.980,25 €

    Contrato nº 136 (2019)
    BIAL [CHEST Annual Meeting] – 4.980,25 €

    Contrato nº 137 (2019)
    BIAL [Do Diagnóstico à terapêutica Palestra] – 922,5 €

    Contrato nº 138 (2019)
    BIAL [Do Diagnóstico à terapêutica Palestra] – 922,5 €

    Contrato nº 139 (2019)
    GlaxoSmithKline [Lançamento Trelegy – Treino de visita] – 1.230 €

    Contrato nº 140 (2019)
    GlaxoSmithKline [Lançamento Trelegy – Treino de visita] – 1.230 €

    Contrato nº 141 (2019)
    Janssen Cilag [Patrocínio] – 1.000 €

    Contrato nº 142 (2019)
    Merck Sharp & Dohme [2019-RADB-105397_ European Vaccines Advisory Board] – 3.250 €

    Contrato nº 143 (2019)
    Merck Sharp & Dohme [2019-EIF-105748_UCC/RCC Global EIF] – 2.500 €

    Contrato nº 144 (2019)
    Merck Sharp & Dohme [2019-EIF-105888_Global Critical Care EIF] – 2.500 €

    Contrato nº 145 (2019)
    Merck Sharp & Dohme [2019-EIF-105748_UCC/RCC Global EIF] – 2.500 €

    Contrato nº 146 (2019)
    Merck Sharp & Dohme [2019-EIF-105888_Global Critical Care EIF] – 2.500 €

    Contrato nº 147 (2019)
    Merck Sharp & Dohme [39th ISICEM] – 1.745,51 €

    Contrato nº 148 (2019)
    Merck Sharp & Dohme [Expert Input Forum Medical Affairs] – 1.100 €

    Contrato nº 149 (2019)
    Merck Sharp & Dohme [Expert Input Forum na área do Ceftolozano-Tazobact] – 1.100 €

    Contrato nº 150 (2019)
    Merck Sharp & Dohme [Expert Input Forum na área do Ceftolozano-Tazobact] – 1.100 €

    Contrato nº 151 (2019)
    Merck Sharp & Dohme [Simposio MSd -Cong.Nac.Medicina Intensiva] – 990 €

    Contrato nº 152 (2019)
    Merck Sharp & Dohme [Simposio MSd -Cong.Nac.Medicina Intensiva] – 990 €

    Contrato nº 153 (2019)
    Merck Sharp & Dohme [C2C_II Virtual Cong. Vacc webex 23 JAN 2019] – 750 €

    Contrato nº 154 (2019)
    Merck Sharp & Dohme [Vaccines Academy 2019] – 750 €

    Contrato nº 155 (2019)
    Merck Sharp & Dohme [Consultoria antibióticos] – 220 €

    Contrato nº 156 (2019)
    Pfizer [3 Palestras Dr. Filipe Froes, Junho e Setembro 2019] – 2.767,5 €

    Contrato nº 157 (2019)
    Pfizer [3 Palestras Dr. Filipe Froes] – 2.767,5 €

    Contrato nº 158 (2019)
    Pfizer [24th Infection and Sepsis Symposium, Porto – Ipanema Park Hotel, 7 março 2019] – 1.230 €

    Contrato nº 159 (2019)
    Pfizer [ERS 2019, Madrid 28 de Setembro a 2 de Outubro 2019] – 1.213,75 €

    Contrato nº 160 (2019)
    Pfizer [Video Doença Pneumocócica Dr. Filipe Froes] – 615 €

    Contrato nº 161 (2019)
    Pfizer [Estadias Norte Dr. Filipe Froes] – 259,87 €

    Contrato nº 162 (2019)
    Pfizer [Estadia Dr. Filipe Froes, Congresso Porto] – 248 €

    Contrato nº 163 (2019)
    Pfizer [Estadia Dr. Filipe Froes Congresso de Obesidade] – 145,06 €

    Contrato nº 164 (2019)
    Sanofi [Evento Expresso – Vacinas – Inovar, Financiar e Prevenir] – 891,75 €

    Contrato nº 165 (2020)
    AbbVie [PANDEMIA DA COVID-19] – 1.371,45 €

    Contrato nº 166 (2020)
    AbbVie [PANDEMIA DA COVID-19] – 1.371,45 €

    Contrato nº 167 (2020)
    AstraZeneca [Webinar Gestão da Doença Respiratória à Distância] – 1.000 €

    Contrato nº 168 (2020)
    AstraZeneca [Serviço de Palestrante] – 750 €

    Contrato nº 169 (2020)
    AstraZeneca [Serviço de Palestrante] – 750 €

    Contrato nº 170 (2020)
    AstraZeneca [PANDEMIC MEDICAL UPDATE] – 750 €

    Contrato nº 171 (2020)
    AstraZeneca [Serviço de Palestrante] – 750 €

    Contrato nº 172 (2020)
    AstraZeneca [Serviço de Palestrante] – 750 €

    Contrato nº 173 (2020)
    AstraZeneca [PANDEMIC MEDICAL UPDATE] – 750 €

    Contrato nº 174 (2020)
    AstraZeneca [Serviço de Palestrante] – 750 €

    Contrato nº 175 (2020)
    AstraZeneca [Serviço de Palestrante] – 750 €

    Contrato nº 176 (2020)
    BIAL [Do diagnóstico à terapêutica -Speaker/Palestrante] – 1.230 €

    Contrato nº 177 (2020)
    BIAL [Reunião virtual – Nova evidência e beneficio da dupla broncodilatação-Speaker/Palestrante (Evento BIAL)] – 922,5 €

    Contrato nº 178 (2020)
    BIAL [Reunião virtual – Nova evidência e beneficio da dupla broncodilatação-Speaker/Palestrante (Evento BIAL)] – 922,5 €

    Contrato nº 179 (2020)
    BIAL [CHEST 2020 – The American College of Chest Physicians Annual Meeting] – 270 €

    Contrato nº 180 (2020)
    BIAL [CHEST 2020 – The American College of Chest Physicians Annual Meeting] – 270 €

    Contrato nº 181 (2020)
    BIAL [Workshop RX Tórax] – 145,2 €

    Contrato nº 182 (2020)
    BIAL [Workshop RX Tórax] – 145,2 €

    Contrato nº 183 (2020)
    Boehringer Ingelheim [Sessão de esclarecimento interno sobre a COVID-19 | BI] – 1.080 €

    Contrato nº 184 (2020)
    Daiichi Sankyo [WEBINAR ¿ Doente de Risco Cardiovascular e a COVID-19] – 2.000 €

    Contrato nº 185 (2020)
    Gilead Sciences [Webinar “”Avanços no tratamento antiviral da COVID-19 Parte II””, Plataforma Virtual, 29 out] – 1.230 €

    Contrato nº 186 (2020)
    Gilead Sciences [Webinar “”Avanços no tratamento antiviral da COVID-19: Remdesivir, o primeiro tratamento aprovado”” – 16 jul] – 1.230 €

    Contrato nº 187 (2020)
    Gilead Sciences [Webinar “”Avanços no tratamento antiviral da COVID-19 Parte II””, Plataforma Virtual, 29 out] – 1.230 €

    Contrato nº 188 (2020)
    Gilead Sciences [Advisory Board COVID-19 & Remdesivir; 24 de junho de 2020; virtual] – 1.082,4 €

    Contrato nº 189 (2020)
    Gilead Sciences [Advisory Board COVID-19 & Remdesivir; 4 de junho de 2020; virtual] – 1.082,4 €

    Contrato nº 190 (2020)
    Gilead Sciences [Advisory Board COVID-19 & Remdesivir; 4 de junho de 2020; virtual] – 1.082,4 €

    Contrato nº 191 (2020)
    Gilead Sciences [Advisory Board COVID-19 & Remdesivir; 24 de junho de 2020; virtual] – 1.082,4 €

    Contrato nº 192 (2020)
    GlaxoSmithKline [Workshop Relvar – Funchal – 19 novembro 2019] – 1.454,51 €

    Contrato nº 193 (2020)
    GlaxoSmithKline [ATS 2020] – 142 €

    Contrato nº 194 (2020)
    GlaxoSmithKline [ATS 2020] – 142 €

    Contrato nº 195 (2020)
    Lundbeck [Formação Interna COVID 19] – 923 €

    Contrato nº 196 (2020)
    Lundbeck [Formação Interna COVID 19] – 923 €

    Contrato nº 197 (2020)
    Merck Sharp & Dohme [Vaccines Advisory Board 2019-RADB-105486] – 2.500 €

    Contrato nº 198 (2020)
    Merck Sharp & Dohme [EMEAC Regional Vaccines – 2020-RADB-106915] – 1.320 €

    Contrato nº 199 (2020)
    Merck Sharp & Dohme [EMEAC Regional Vaccines – 2020-RADB-106915] – 1.320 €

    Contrato nº 200 (2020)
    Merck Sharp & Dohme [EIF Vacinacao] – 1.100 €

    Contrato nº 201 (2020)
    Sanofi [Towards Improvement of Seasonal Influenza Vaccination: Rationale and Impact of Quadrivalent Influenza Vaccine Implementation – QIV Masterclass Meeting] – 1.664,28 €

    Contrato nº 202 (2020)
    Sanofi [Projeto Epidemiologia e carga da gripe em Portugal] – 1.599 €

    Contrato nº 203 (2020)
    Sanofi [Congresso Português de Cardiologia] – 1.338,24 €

    Contrato nº 204 (2020)
    Sanofi [III Simpósio do GESCAT (Grupo de Estudos de Trombose Associada ao Cancro)] – 1.070,1 €

    Contrato nº 205 (2020)
    Tecnifar [Prestação de Serviços] – 1.230 €

    Contrato nº 206 (2021)
    AstraZeneca [LAAB Advisory Board] – 1.000 €

    Contrato nº 207 (2021)
    AstraZeneca [LAAB Advisory Board] – 1.000 €

    Contrato nº 208 (2021)
    Bayer [Covidado à conversa com sobre pandemia e vacinas] – 750 €

    Contrato nº 209 (2021)
    BIAL [Workshop RX Tórax Palestra] – 922,5 €

    Contrato nº 210 (2021)
    BIAL [Nova abordagem no tratamento dos doentes com DPOC sintomático Palestra] – 922,5 €

    Contrato nº 211 (2021)
    BIAL [CHEST Annual Meeting] – 755 €

    Contrato nº 212 (2021)
    BIAL [CHEST Annual Meeting] – 755 €

    Contrato nº 213 (2021)
    BIAL [Descontinuação de ICS na DPOC?] – 500 €

    Contrato nº 214 (2021)
    BIAL [Descontinuação de ICS na DPOC?] – 500 €

    Contrato nº 215 (2021)
    Boehringer Ingelheim [Palestra 2.º Fórum Respiratório do Sul] – 1.080 €

    Contrato nº 216 (2021)
    Boehringer Ingelheim [Palestra 2.º Fórum Respiratório do Sul] – 1.080 €

    Contrato nº 217 (2021)
    Boehringer Ingelheim [ATS 2021] – 773,14 €

    Contrato nº 218 (2021)
    Gilead Sciences [Webinar ¿Avanços no tratamento antiviral da COVID-19 Parte III, Virtual – 4 fev] – 1.845 €

    Contrato nº 219 (2021)
    Gilead Sciences [Meet the expert: insights from clinical practice] – 676,5 €

    Contrato nº 220 (2021)
    Gilead Sciences [Conversations on COVID-19: what’s next on COVID-19?, 13 de outubro] – 676,5 €

    Contrato nº 221 (2021)
    Gilead Sciences [Conversations on COVID-19: what’s next on COVID-19?, 13 de outubro] – 676,5 €

    Contrato nº 222 (2021)
    Gilead Sciences [Meet the expert: insights from clinical practice] – 676,5 €

    Contrato nº 223 (2021)
    Gilead Sciences [ECCMID 2021 – 09/07/2021 – 12/07/2021 – VIRTUAL] – 459 €

    Contrato nº 224 (2021)
    Gilead Sciences [ECCMID 2021 – 09/07/2021 – 12/07/2021 – VIRTUAL] – 459 €

    Contrato nº 225 (2021)
    GlaxoSmithKline [GSK Led Meeting] – 1.033,2 €

    Contrato nº 226 (2021)
    GlaxoSmithKline [Formação para staff GSK – 12JAN2021] – 774,9 €

    Contrato nº 227 (2021)
    Lilly [Portugal TownHall Q2] – 738 €

    Contrato nº 228 (2021)
    Merck Sharp & Dohme [ID Clinical Cases – Inf Bact Gram-Negativo] – 1.540 €

    Contrato nº 229 (2021)
    Merck Sharp & Dohme [2021-REIF-107753 – EIF] – 1.320 €

    Contrato nº 230 (2021)
    Merck Sharp & Dohme [2021-REIF-107753 – EIF] – 1.320 €

    Contrato nº 231 (2021)
    Merck Sharp & Dohme [2021-RADB-108200 PneumoVacAdBoard] – 1.155 €

    Contrato nº 232 (2021)
    Merck Sharp & Dohme [2021-REIF-108357 EUCAN Chronic Cough] – 1.155 €

    Contrato nº 233 (2021)
    Merck Sharp & Dohme [2020-RADB-106869 EU Pneumococcal Vaccines AdBd] – 1.155 €

    Contrato nº 234 (2021)
    Merck Sharp & Dohme [2021-RADB-108200 PneumoVacAdBoard] – 1.155 €

    Contrato nº 235 (2021)
    Merck Sharp & Dohme [2021-REIF-108357 EUCAN Chronic Cough] – 1.155 €

    Contrato nº 236 (2021)
    Merck Sharp & Dohme [EIF Pneumo no Adulto] – 1.100 €

    Contrato nº 237 (2021)
    Merck Sharp & Dohme [EIF Tosse Cronica] – 1.100 €

    Contrato nº 238 (2021)
    Merck Sharp & Dohme [EIF COVID 19] – 1.100 €

    Contrato nº 239 (2021)
    Merck Sharp & Dohme [EIF Pneumo EM2101-0016408 18/01/2021] – 1.100 €

    Contrato nº 240 (2021)
    Merck Sharp & Dohme [Health4Us] – 1.100 €

    Contrato nº 241 (2021)
    Merck Sharp & Dohme [EIF Gram-Negativos] – 1.100 €

    Contrato nº 242 (2021)
    Merck Sharp & Dohme [EIF eVAP] – 1.100 €

    Contrato nº 243 (2021)
    Merck Sharp & Dohme [EIF Pneumo no Adulto] – 1.100 €

    Contrato nº 244 (2021)
    Merck Sharp & Dohme [EIF eVAP] – 1.100 €

    Contrato nº 245 (2021)
    Merck Sharp & Dohme [2021-RADB-108131 RegVacAdBd 7e8-06-2021] – 990 €

    Contrato nº 246 (2021)
    Merck Sharp & Dohme [Acute Care Virtual Congress – Pneumonia Nosocomial] – 990 €

    Contrato nº 247 (2021)
    Merck Sharp & Dohme [2021-RADB-108131 RegVacAdBd 7e8-06-2021] – 990 €

    Contrato nº 248 (2021)
    Novartis Farma [Prestação de serviços] – 704,18 €

    Contrato nº 249 (2021)
    Pfizer [webinar Desafios na Gestão Clínica da Antibioterapia] – 1.537,5 €

    Contrato nº 250 (2021)
    Pfizer [Palestras Prof Filipe Froes, 14 º Encontro Pfizer Vacinas] – 1.500 €

    Contrato nº 251 (2021)
    Pfizer [Impact of the Global Pandemic] – 1.500 €

    Contrato nº 252 (2021)
    Pfizer [Palestras Prof Filipe Froes, 14 º Encontro Pfizer Vacinas] – 1.500 €

    Contrato nº 253 (2021)
    Pfizer [Webinar Pfizer “Gestão das Infecções Fúngicas Invasivas”] – 1.250 €

    Contrato nº 254 (2021)
    Pfizer [Palestra Prof Filipe Froes 7º Congresso Beira Interior] – 750 €

    Contrato nº 255 (2021)
    Pfizer [Palestra Prof. Filipe Froes, 14º Congresso Nacional do Idoso] – 750 €

    Contrato nº 256 (2021)
    Pfizer [Palestra Prof Filipe Froes 7º Congresso Beira Interior] – 750 €

    Contrato nº 257 (2021)
    Pfizer [Palestra Prof. Filipe Froes, 14º Congresso Nacional do Idoso] – 750 €

    Contrato nº 258 (2021)
    Pfizer [Asia Meeting] – 724,43 €

    Contrato nº 259 (2021)
    Pfizer [14º Encontro Nacional Pfizer Vacinas] – 592 €

    Contrato nº 260 (2021)
    Pfizer [14º Encontro Nacional Pfizer Vacinas] – 592 €

    Contrato nº 261 (2021)
    Sanofi [Estudo de carga de doença I] – 1.248,45 €

    Contrato nº 262 (2021)
    Sanofi [Light on Vax Ibéria – 4º Edição] – 535,05 €

    Contrato nº 263 (2021)
    Sanofi [Light on Vax Ibéria – 4º Edição] – 535,05 €

    Contrato nº 264 (2022)
    AstraZeneca [Advisory Board LAAB Infectious Disease Portugal] – 1.000 €

    Contrato nº 265 (2022)
    AstraZeneca [V&I Scientific Internal Training May/Jun 2022] – 1.000 €

    Contrato nº 266 (2022)
    AstraZeneca [Advisory Board LAAB Nephro Portugal] – 1.000 €

    Contrato nº 267 (2022)
    AstraZeneca [V&I Scientific Internal Training May/Jun 2022] – 1.000 €

    Contrato nº 268 (2022)
    AstraZeneca [Advisory Board LAAB Infectious Disease Portugal] – 1.000 €

    Contrato nº 269 (2022)
    AstraZeneca [Advisory Board LAAB Nephro Portugal] – 1.000 €

    Contrato nº 270 (2022)
    AstraZeneca [Gravação Vídeo] – 250 €

    Contrato nº 271 (2022)
    Bayer [Reunião Interna] – 922,5 €

    Contrato nº 272 (2022)
    Ferraz Lynce [Sessão Científica Meet the Experts / Morrer de Asma] – 850 €

    Contrato nº 273 (2022)
    Gilead Sciences [Reuniões de Consultoria RDV] – 1.832,7 €

    Contrato nº 274 (2022)
    Gilead Sciences [Webinar Avanços no tratamento antiviral da COVID-19 – Veklury pelos especialistas, 17 fev 2022] – 1.150,05 €

    Contrato nº 275 (2022)
    GlaxoSmithKline [Mesa Redonda – Lisboa- 25 Nov 2021] – 552,2 €

    Contrato nº 276 (2022)
    Merck Sharp & Dohme [ISPPD – 12th International Symposium on Pneumococci and Pneumococcal Diseases] – 3.924,36 €

    Contrato nº 277 (2022)
    Merck Sharp & Dohme [ISPPD – 12th International Symposium on Pneumococci and Pneumococcal Diseases] – 3.924,36 €

    Contrato nº 278 (2022)
    Merck Sharp & Dohme [2022-RGIM-109672 EMEAC Chronic Cough Group Input M] – 2.500 €

    Contrato nº 279 (2022)
    Merck Sharp & Dohme [2022-RGIM-109274] – 2.500 €

    Contrato nº 280 (2022)
    Merck Sharp & Dohme [2022-RGIM-109274] – 2.500 €

    Contrato nº 281 (2022)
    Merck Sharp & Dohme [EIF Covid-19] – 1.100 €

    Contrato nº 282 (2022)
    Merck Sharp & Dohme [EIF Covid-19] – 1.100 €

    Contrato nº 283 (2022)
    Merck Sharp & Dohme [EIF Pneumo Adulto] – 1.100 €

    Contrato nº 284 (2022)
    Merck Sharp & Dohme [Webinar Vaxneuvance] – 990 €

    Contrato nº 285 (2022)
    Merck Sharp & Dohme [Consultoria ID Clinical Cases e reunião de votação IDCC] – 880 €

    Contrato nº 286 (2022)
    Merck Sharp & Dohme [Consultoria ID Clinical Cases e reunião de votação IDCC] – 880 €

    Contrato nº 287 (2022)
    Merck Sharp & Dohme [27º Simpósio de Infecção e Sepsis] – 282 €

    Contrato nº 288 (2022)
    Merck Sharp & Dohme [27º Simpósio de Infecção e Sepsis] – 282 €

    Contrato nº 289 (2022)
    Merck Sharp & Dohme [38º Congresso Pneumologia] – 67,39 €

    Contrato nº 290 (2022)
    Novartis Farma [Symmetry Session I] – 1.100 €

    Contrato nº 291 (2022)
    Pfizer [2 Palestras Prof. Filipe Froes, GRESP e SPP] – 1.500 €

    Contrato nº 292 (2022)
    Roche [Evento Internacional] – 1.600 €

    Contrato nº 293 (2022)
    Sanofi [Fluzone HD Flublok Medical Payer Advisory Board] – 2.514 €

    Contrato nº 294 (2022)
    Sanofi [17as. Jornadas de Pneumologia em MF dos Açores e Continente – Simpósio FLU] – 1.248,45 €

    Contrato nº 295 (2022)
    Sanofi [15ªs. Jornadas de Prevenção do Risco Cardiovascular para MF – Simpósio] – 1.177,11 €

    Contrato nº 296 (2022)
    Sanofi [14º CONGRESSO NACIONAL DO IDOSO, GERIATRIA 2021] – 1.070,1 €

    Contrato nº 297 (2022)
    Sanofi [32ªs Jornadas de Medicina Familiar da Madeira e Continente] – 848,09 €

    Contrato nº 298 (2022)
    Sanofi [12as Jornadas de Pneumologia do Algarve para Medicina Familiar] – 803,19 €

    Contrato nº 299 (2022)
    Sanofi [41º Congresso Português de Geriatria e Gerontologia] – 713,4 €

    Contrato nº 300 (2023)
    AstraZeneca [Congresso ECCMID 2023] – 2.561,28 €

    Contrato nº 301 (2023)
    AstraZeneca [Congresso ECCMID 2023] – 2.561,28 €

    Contrato nº 302 (2023)
    AstraZeneca [Scientific ExChange Meeting at ECCMID 2023] – 1.200 €

    Contrato nº 303 (2023)
    AstraZeneca [Scientific ExChange Meeting at ECCMID 2023] – 1.200 €

    Contrato nº 304 (2023)
    AstraZeneca [AZ COPD Forum on the Road – Reunião Lisboa] – 1.000 €

    Contrato nº 305 (2023)
    AstraZeneca [Simpósio Patient Care 2023] – 1.000 €

    Contrato nº 306 (2023)
    AstraZeneca [Simpósio Patient Care 2023] – 1.000 €

    Contrato nº 307 (2023)
    AstraZeneca [AZ COPD Forum on the Road – Reunião Lisboa] – 1.000 €

    Contrato nº 308 (2023)
    AstraZeneca [Sessão lançamento Evusheld – Tixagevimab/Cilgavimab Internal Scientific Training] – 750 €

    Contrato nº 309 (2023)
    AstraZeneca [Reunião ECCMID 2023: COVID19 Unmet Need] – 76,22 €

    Contrato nº 310 (2023)
    AstraZeneca [Reunião ECCMID 2023: COVID19 Unmet Need] – 76,22 €

    Contrato nº 311 (2023)
    BIAL [Congresso Pneumologia do Norte 2023-Palestra Dr. Filipe Froes Simpósio Meet the Professor 10 março 2023] – 1.377,6 €

    Contrato nº 312 (2023)
    LEO Farmacêuticos [Webinar Otimização da Tromboprofilaxia com HBPM em doentes com pneumonia COVID-19] – 1.000 €

    Contrato nº 313 (2023)
    Merck Sharp & Dohme [42st ISICEM – International Symposium on Intensive Care Emergency Medicine] – 2.112,53 €

    Contrato nº 314 (2023)
    Merck Sharp & Dohme [Reunioes Doenca Pneumococica] – 1.980 €

    Contrato nº 315 (2023)
    Merck Sharp & Dohme [Reunioes Doenca Pneumococica Lisboa e Coimbra 2023] – 1.980 €

    Contrato nº 316 (2023)
    Merck Sharp & Dohme [COVID-19 EUCAN MER Expert Input Forum] – 1.100 €

    Contrato nº 317 (2023)
    Merck Sharp & Dohme [14º Congresso de Pneumologia do Centro-Ib.] – 990 €

    Contrato nº 318 (2023)
    Merck Sharp & Dohme [Revisão dos casos clínicos, Junho 2023] – 990 €

    Contrato nº 319 (2023)
    Merck Sharp & Dohme [Simposio CongPneumoNorte] – 990 €

    Contrato nº 320 (2023)
    Merck Sharp & Dohme [Reunião Vaxneuvance Braga – Prevenção da Doença Pneumocócica] – 609,58 €

    Contrato nº 321 (2023)
    Merck Sharp & Dohme [ID Clinical Cases] – 550 €

    Contrato nº 322 (2023)
    Merck Sharp & Dohme [XXX Congresso de Pneumologia do Norte] – 180 €

    Contrato nº 323 (2023)
    Merck Sharp & Dohme [Reunião Vaxneuvance Porto – Prevenção da Doença Pneumocócica] – 133,1 €

    Contrato nº 324 (2023)
    Merck Sharp & Dohme [14º Congresso de Pneumologia Centro Ibérico 2023] – 123,5 €

    N.D. A descrição, entre aspas, é aquela que consta no Portal da Transparência e Publicidade. No caso de empresas subsidiárias de farmacêuticas, optou-se por as agregar e atribuir o apoio (e relação comercial) à empresa-mãe.

  • Lockdowns: Tese de doutoramento do director-geral da Saúde mostra números desastrosos em doentes não-covid

    Lockdowns: Tese de doutoramento do director-geral da Saúde mostra números desastrosos em doentes não-covid

    Apresentado de forma discreta em Washington na Primavera deste ano, o doutoramento de André Peralta Santos – que está a ter uma meteórica ascensão para a cúpula da Direcção-Geral da Saúde, ocupando neste momento o posto que era de Graça Freitas, de forma interina, enquanto decorre um concurso onde é o principal favorito – mostra que, durante a pandemia da covid-19, os lockdowns foram desastrosos para os doentes com outras patologias. Apesar de uma redução nos internamentos, que até poderia beneficiar os doentes pela menor pressão sobre as equipas hospitalares, na verdade a taxa de letalidade aumentou significativamente, chegando a duplicar em doentes com outras infecções respiratórias ou problemas digestivos. Embora muito parca em interpretações, a tese de Peralta Santos, de apenas 116 páginas, revela também que, afinal, metade dos óbitos atribuídos à covid-19 terão ocorrido fora dos hospitais, algo estranho para uma doença que, em condições graves, necessita sempre de medicação e assistência hospitalar.


    A tese de doutoramento de André Peralta Santos, o actual director-general interino da Saúde, apresentada em Abril passado na Universidade de Washington mostra um cenário desastroso para os doentes não-covid tratados em hospitais públicos durante os dois lockdowns impostos pelo Governo no segundo trimestre de 2020 e nos primeiros quatro meses de 2021.

    Apesar de se ter conseguido o efeito de aliviar o fluxo de doentes, supostamente para direccionar meios para tratar doentes com covid-19, a taxa de mortalidade aumentou significativamente para as outras patologias, sobretudo no lockdown entre Janeiro e Abril de 2021.

    hallway, hospital, medical

    Com base em dados do Ministério da Saúde, Peralta Santos – que ocupara o cargo de director dos Serviços de Informação e Análise da Direcção-Geral da Saúde (DGS) entre Setembro de 2020 e Outubro de 2021, antes de sair para concluir o doutoramento nos Estados Unidos – analisou mais de 2,5 milhões de episódios de internamentos clínicos em 41 hospitais do SNS desde 2018. E comparou as hospitalizações e a taxa de mortalidade hospitalar no período anterior à pandemia com o primeiro lockdown (Março a Maio de 2020), o segundo lockdown (Janeiro a Abril de 2021) e o período entres essas duas restrições.  

    O objectivo neste capítulo – um dos quatro que compõe a tese de apenas 116 páginas, incluindo bibliografia e introduções – era perceber o impacte resultante da prioridade concedida aos doentes com covid-19 em detrimento do tratamento de doentes com outras patologias.

    Recorde-se que, no ano passado, o PÁGINA UM já detectara, com base nos dados do Portal da Transparência do SNS, que a pandemia trouxera um “pandemónio” aos hospitais, com aumentos generalizados das taxas de mortalidade hospitalar, mesmo nas alas não-covid, isto apesar da redução significativa nos internamentos. Em Maio do ano passado, o PÁGINA UM também constatara que durante 2020 e 2021 – os dois primeiros anos da pandemia – tinham sido contabilizados quase menos 280 mil pessoas internadas do que nos dois anos anteriores (2018 e 2019), e mesmo considerando que a covid-19, que só surgiu no final do primeiro trimestre de 2020, contribuiu com 57.227 internados entre Fevereiro de 2020 e Dezembro de 2021.

    André Peralta-Santos, actual director-geral interino da Saúde.

    A análise de André Peralta Santos, embora parca em considerações, chega às mesmas conclusões já alcançadas pelo PÁGINA UM – mas nunca assumidas pela DGS nem pelo Governo –, salientando que, “no geral, o número médio de episódios de internamento por mês diminuiu durante o lockdown de Março a Maio de 2020, o que foi consistente em todos os grupos etários, sexos e condições” das diversas patologias da CID-10 [10ª revisão da Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde], ocorrendo o mesmo entre Janeiro e Abril de 2021. Entre os dois lockdowns, Peralta Santos concluiu que o efeito não foi tão relevante.

    Apesar de supostamente mais aliviados, os serviços hospitalares não-covid tiveram, contudo, um desempenho desastroso. Embora sem adjectivar esse impacte, Peralta Santos conclui que ajustando a análise por grupo etário, sexo e diagnóstico (por grupo de doenças), os cuidados hospitalares diminuíram em 22% devido ao efeito imediato do primeiro lockdown, e em 35% durante o segundo lockdown, mas a taxa de letalidade nos doentes não-covid subiu 17% no primeiro lockdown, 15% durante o período entre os dois lockdowns, e aumentou espantosamente 62% durante o segundo lockdown.

    Ainda de acordo com as análises de Peralta Santos – o candidato mais bem posicionado para suceder, em definitivo, na liderança da DGS –, “durante o primeiro lockdown, o aumento na taxa de letalidade hospitalar (CFR) foi maior entre os pacientes internados por condições do sistema digestivo”, com um aumento de 55%, e por “doenças do sistema circulatório”, com um aumento de 21%.

    Tese de doutoramento está registada desde Abril deste ano na Universidade de Washington

    O desempenho hospitalar ainda foi pior durante o segundo lockdown, nos primeiros quatro meses de 2021. Peralta Santos aponta que, neste período, o crescimento da letalidade hospitalar (não-covid) chegou aos 48% “para pacientes com doenças circulatórias, aumento[u] 97% para pacientes internados com condições respiratórias, [registou um] aumento de 99% para pacientes internados com condições digestivas, [contabilizou um] aumento de 77% para pacientes internados com condições geniturinárias, [apresentou um] aumento de 252% para pacientes internados com doenças musculoesqueléticas e [teve ainda um] aumento de 50% para pacientes internados com outras doenças infecciosas.”

    Numa análise estratificada por idades, Peralta Santos também identificou – embora tenha sido, estranhamente, parco em interpretações ou comentários – substanciais aumentos de letalidade a partir dos 25 anos em doentes não-covid internados em hospitais sobretudo durante o segundo lockdown. No caso do grupo etário dos 25 aos 44 anos, a taxa de letalidade aumentou 80% entre Janeiro e Abril de 2021, registando uma subida de 56% na faixa etária dos 45 aos 64 anos, e de 61% para os maiores de 65 anos.

    Ao invés de procurar encontrar hipóteses para este agravamento da mortalidade hospitalar nas alas não-covid, o actual director-geral interino da DGS apenas apresentou, na sua tese, hipóteses puramente especulativas sem se basear em dados. Para Peralta Santos, a letalidade terá aumentado, sobretudo no segundo lockdown, não por via de um défice nos cuidados primários ao longo do primeiro ano da pandemia (que foi evidente, por força da suspensão de consultas e diagnósticos), mas porque “apenas os pacientes não relacionados à covid-19 mais graves foram admitidos em hospitais” ou porque “houve um deslocamento do local de morte do hospital para instalações de cuidados de longo prazo e residências.”

    Para confirmar estas hipóteses – que carecem de qualquer sustentação de dados na tese de doutoramento – mostrar-se-ia necessária uma análise subsequente às comorbilidades dos internados nas alas não-covid e uma análise à mortalidade total (e fora de meio hospitalar), que como se sabe também aumentou consideravelmente até finais de 2022. Peralta Santos não fez nenhuma destas análises na sua tese.

    Além de tudo isto, um dos dados mais desconcertantes desta tese de doutoramento de André Peralta Santos acaba também por ser a admissão de que os óbitos atribuídos à covid-19 pelas autoridades de saúde portuguesas terão sido fortemente inflacionados.

    De acordo com um diagrama inserido na página 60 da sua tese, o director-geral da Saúde aponta para a contabilização de 11.170 óbitos por covid-19 em meio hospitalar até Abril de 2022, embora os dados oficiais registassem um número de mortes acima dos 22.300.

    person in white jacket wearing blue goggles
    Aposta integral na covid-19 teve consequências dramáticas nas outras doenças, apesar do Governo nunca ter desejado aprofundar a investigação sobre esses efeitos, designadamente no excesso de mortalidade total.

    Para uma doença que causa, em casos fatais, grave insuficiência respiratória e necessidades de medicação e cuidados médicos, algo não bate certo quando os dados do doutoramento do próprio director-geral da Saúde assume que metade dos óbitos por covid-19 sucederam em casa ou em lares sem assistência médica condigna.

    O PÁGINA UM tentou obter comentários e explicações de André Peralta Santos sobre a sua própria tese de doutoramento – que se encontra disponível apenas no site da Universidade de Washington. Porém, o director-geral da Saúde – que nunca fez menção pública sequer ao tema da sua tese – nem sequer reagiu. Peralta Santos apresenta-se, na rede social X, como “médico e cientista”. Aparentemente, não aprecia dar explicações sobre os seus trabalhos científicos.

  • Pandemia foi um maná para contas da Cruz Vermelha Portuguesa fugirem do vermelho

    Pandemia foi um maná para contas da Cruz Vermelha Portuguesa fugirem do vermelho

    O SARS-CoV-2 foi uma “bênção” para a Cruz Vermelha Portuguesa (CVP). Um apoio europeu de 12,6 milhões de euros para vender testes à covid-19 ao preço de mercado e as contínuas “injecções” de subsídios públicos, permitiram à associação humanitária acumular lucros de 26,6 milhões de euros em 2021 e 2022, depois de dois anos de prejuízos no meio de suspeitas e investigações policiais. Para salvar a CVP, o Estado, e sobretudo com transferências dos Ministérios, a CVP encaixou 80 milhões de euros em subsídios e doações apenas entre 2020 e 2022, valor que contrasta com menos de 27 milhões no triénio anterior. Agora, António Saraiva, recém nomeado presidente da CVP, tem um duplo desafio: manter os resultados da instituição à tona de água e esclarecer as muitas dúvidas que se mantêm numa organização cada vez mais dependente dos contribuintes portugueses.


    Os alarmes financeiros soaram em 2020, primeiro ano da pandemia. E eram bem vermelhos. Apesar de um reforço de quase 11,2 milhões de euros de subsídios públicos face ao ano anterior, a Cruz Vermelha Portuguesa (CVP) – uma organização não-governamental de utilidade pública mas financiada fortemente pelo Estado –, acabou o segundo exercício fiscal com resultados negativos.

    A solução foi quase draconiana, como se a instituição tivesse seguido para uma “unidade financeira de cuidados intensivos”: em 2021 e 2022, o Governo injectou ainda mais dinheiro e permitiu-se que a CVP maximizasse – ou seja, comercializasse com bom lucro – um subsídio de 12,6 milhões de euros da União Europeia para a compra de testes para a covid-19. E o “milagre” aconteceu: a CVP passou de dois anos de resultados negativos (2019 e 2020) de quase 1,7 milhões de euros para lucros estonteantes de 18,9 milhões em 2021 e de 7,7 milhões de euros no ano passado.

    O “milagre”, convenhamos, foi alcançado em grande medida à custa dos contribuintes. Com efeito, antes da pandemia, os rendimentos da CVP provinham sobretudo de vendas e serviços prestados – que têm sempre associados custos (mercadorias, serviços externos e gastos administrativos e com pessoal) –, e só muito marginalmente de subsídios, doações e até mesmo heranças. Por exemplo, no quinquénio 2014-2018, os subsídios e similares atingiram uma média anual de 6,6 milhões de euros, representando um pouco menos de 10% dos rendimentos totais.

    Em 2019, já com sinais preocupantes nas contas, a CVP, então gerida por Francisco George, ex-director-geral da Saúde, recebeu um reforço de subsídios públicos, embora insuficiente para colocar os resultados líquidos em terreno positivo. Nesse ano de 2019, só os diversos Ministérios, sobretudo o da Segurança Social, transferiram mais de 4,7 milhões de euros para as contas da CVP, o que confronta com pouco mais de 3 milhões em 2018.

    Mas os subsídios de todas as entidade públicas ainda foram bem superiores: 8,4 milhões de euros no total. Sem esse apoio extraordinário (quase mais 2 milhões de euros do que em 2018), o ano de 2019 teria sido catastrófico, bem pior do que os prejuízos de 931.497 euros então apresentados.

    Com a pandemia, o peso do Estado fez-se sentir ainda mais nas finanças da CVP. Em três anos, entre 2020 e 2022, os subsídios de entidades públicas totalizaram quase 63,2 milhões de euros, ou seja, uma média de 21 milhões por ano. Só o Governo, propriamente dito, através dos Ministérios, canalizou quase 49 milhões nesses três anos. Por exemplo, no ano passado foram transferidos 20 milhões.

    Mas um dos maiores “balões de oxigénio” da CVP acabou por ser, em 2021, também um subsídio da Federação Internacional das Sociedades da Cruz Vermelha e Crescente Vermelho no valor de 12,6 milhões. Este subsídio surgiu no âmbito da candidatura da CVP, “em Julho de 2020, a um projeto financiado pela União Europeia com a Direção Geral para a Saúde e Segurança Alimentar (DG Santé)”, e tinha como objectivo concreto “aumentar a capacidade de testagem à covid-19 nos Estados Membros da União Europeia”.

    Deste modo, a CVP pôde montar uma estrutura comercial, fortemente concorrencial, de venda de testes, que, na verdade, não lhe custaram nada. E assim, se em 2020 a CVP apenas realizou cerca de 107 mil testes à covid-19, no ano seguinte, após receber os 12,6 milhões de euros, conseguiu vender 849 mil testes. Esta capacidade de vender com alto lucro teve reflexos imediatos no valor das vendas desse ano: quase 82,6 milhões de euros, que contrasta com os 58,5 milhões no ano anterior. E isso, mais o reforço dos subsídios públicos, explica um desempenho elevado, com lucros de 18,9 milhões de euros.

    Evolução dos subsídios doações e legados à exploração e das vendas e serviços prestados (em euros) pela Cruz Vermelha Portuguesa entre 2014 e 2022. Fonte: CVP (Relatórios e Contas)

    O desempenho do ano passado não foi tão bom – descendo os lucros para 7,7 milhões de euros, apesar do aumento em mais 4 milhões nos subsídios públicos –, deveu-se em parte à redução no número de testes à covid-19. Em 2022, a CVP realizou pouco mais de 100 mil, grande parte dos quais concentrados no primeiro trimestre.

    Com o esvaziar da pandemia, o novo presidente, António Saraiva, que acaba de tomar posse, tem pela frente a “normalidade”, ou seja, um conjunto de problemas estruturais por resolver, cuja identificação tem merecido alertas do Conselho Fiscal e o Revisor de Contas, a que se juntam as investigações, noticiadas em 2018, que lançaram uma sombra nesta organização, nomeadamente uma auditoria do Ministério da Defesa sobre as subvenções, as buscas da Polícia Judiciária por suspeitas de peculato e abuso de poder e um relatório comprometedor da Inspecção-Geral das Finanças.

    O histórico líder da CIP-Confederação Empresarial de Portugal, a que presidiu entre 2010 e Março deste ano, foi nomeado em Junho, mas tomou posse apenas em meados do mês passado, sucedendo a Ana Jorge, antiga ministra da Saúde de dois Governos socialistas, que ocupou a liderança da CVP a partir de Novembro de 2021. António Saraiva é também presidente do Taguspark e administrador da Global Media, empresa de media dona do Diário de Notícias, Jornal de Notícias e TSF, entre outros órgãos de comunicação social.

    A antiga governante acabou assim por apanhar dois anos muito favoráveis – depois do prejuízo de 2020, onde estão reflectidas perdas pela venda de uma participação na Sociedade Gestora do Hospital da Cruz Vermelha –, mas a descida dos lucros entre 2021 e 2022 dão sinais de que o “balão de oxigénio” trazido pelas receitas da pandemia pode ter-se esvaziado por completo.

    A própria CVP reconhece no seu mais recente Relatório e Contas que “no decorrer do ano de 2022 a atividade (…) teve um decréscimo, apresentando em algumas atividades valores aproximados a pré-pandemia covid-19”.

    Com efeito, analisando as demonstrações de resultados, o lucro bruto (antes de descontados juros, impostos e amortizações), diminuiu 11 milhões de euros em 2021 para 14 milhões de euros em 2022. As receitas totais desceram 18% para 101 milhões de euros. Note-se que em 2021, as receitas tinham aumentado 41% para 123,5 milhões de euros com o aumento de actividade devido à pandemia.

    Evolução dos resultados líquidos (em euros) da Cruz Vermelha Portuguesa entre 2014 e 2022. Fonte: CVP (Relatórios e Contas)

    Segundo a CVP, em 2022, as prestações de serviços desceram 22,7% para 63,3 milhões de euros “face ao ano anterior por via da diminuição de atividade essencialmente na área da saúde”. Por outro lado, os subsídios, doações e legados à exploração recuaram 25% para 25,4 milhões de euros devido a “protocolos específicos atribuídos em 2021 e atenuado pelo registo dos subsídios da Segurança Social nesta rubrica”.

    Na área de “Emergência”, a CVP registou no ano passado um decréscimo superior a 25% na actividade, “justificado pela saída gradual de um contexto pandémico, período em que houve a necessidade de reforçar a capacidade de resposta nos serviços de emergência médica, nomeadamente por via da realização de testes covid e de transportes urgentes”.

    Mas não é só o recuo das receitas e do lucro que provoca apreensão quanto ao futuro. O passivo aumentou 14,5% para 73,4 milhões de euros, o que gerou um alerta do Conselho Fiscal da instituição, indicando que a evolução do passivo deve merecer “uma atenção cuidada”.

    Além disso, há desconforto com a incapacidade de a sociedade revisora de contas auditar as contas que, além da sede, englobam toda a rede de 159 delegações e estruturas locais da CVP.

    António Saraiva com Ana Mendes Godinho, titular do Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, que tem sido um dos principais financiadores da CVP.

    O facto de as diferentes estruturas e delegações não terem uma contabilidade integrada num aplicativo contabilístico comum “condiciona a abrangência dos procedimentos de auditoria, bem como a validação das práticas de controlo contabilístico ao nível de cada uma das estruturas”, alerta uma nota do Conselho Fiscal no Relatório e Contas da CVP.

    A sociedade revisora de contas, por sua vez, alertou que “o aplicativo contabilístico existente (SAGE ERP X3), abrange até ao momento apenas cerca de 55% do total de unidades que compõem o universo da entidade, sendo a contabilidade das restantes estruturas efetuada com utilização de outros aplicativos, na maioria dos casos com recurso a gabinetes externos de contabilidade, impedindo a integração automática da informação contabilística, a qual apenas é efetuada com referência ao final do ano”.

    Indicou que esta situação “foi ainda agravada no exercício em análise, em que não foi assegurada a integração da totalidade das estruturas locais através do SAGE ERP X3, tendo-se optado, por razões relacionadas com a necessidade de apresentação de demonstrações financeiras dentro dos prazos legais estabelecidos, por proceder à integração da informação relativa a algumas estruturas fora daquele aplicativo informático”.

    O primeiro-ministro, António Costa, com Ana Jorge, anterior presidente da CVP, numa visita.

    O Conselho Fiscal também questionou, por outro lado, a opção de manter em caixa mais de 50 milhões de euros, os quais podiam ser usados para abater dívida ou para beneficiar do aumento das taxas de juro nos bancos.

    Ao PÁGINA UM, a CVP evitou responder às questões mais prementes, preferindo destacar que “pela primeira vez”, a instituição “fechou atempadamente o relatório e contas”, acrescentando que “esta melhoria ao nível da contabilidade deve-se à aposta em reforçar a sua profissionalização, com vista a tornar a instituição mais sólida e eficaz, mas também valorizando o seu capital humano”.

    E diz ainda que “foi precisamente nesse sentido que se assistiu, pela primeira vez na história da CVP, a um ajustamento salarial dos seus colaboradores”, o que, segundo a administração, “procurou equiparar os salários dos colaboradores da instituição aos da Administração Pública, uma vez que eram significativamente inferiores”. Saliente-se, no entanto, mais uma vez, que a CVP é uma instituição humanitária não-governamental, de utilidade pública administrativa, sem fins lucrativos, com autonomia face ao Estado (embora estatutariamente com a obrigação de ser por si apoiada) em obediência aos princípios e recomendações do Movimento Internacional da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho.

    Em todo o caso, a “ingerência” governamental é evidente, tanto assim que não se mostra possível a eleição do seu presidente, através de um Conselho Supremo, sem a concordância do Governo, que é quem formalmente nomeia o eleito, através de um despacho.

    Ao PÁGINA UM, a CVP recusou detalhar quantos trabalhadores viram os seus salários serem aumentados ou qual o montante envolvido. Também não quis esclarecer se foram melhorados salários de trabalhadores com cargos de direcção ou gestão. Em todo o caso, os gastos com pessoal aumentaram globalmente quase 9% entre 2021 e 2022, passando de quase 43,4 milhões para 47,2 milhões de euros. Antes da pandemia, em 2019, os gastos com pessoal totalizaram 38 milhões de euros.

    Sobre os alertas apontados pelos auditores, a CVP diz que se devem ao facto de as várias delegações da CVP utilizarem diferentes programas informáticos de contabilidade” e que “a CVP está a uniformizar o sistema informático, que, em breve, será comum a todas as estruturas”.

    Já em relação ao elevado montante disponível em caixa, a CVP justificou ao PÁGINA UM que “as verbas que ficam em caixa destinam-se a programas específicos de apoio, não podendo ser alocadas a outros fins”.

  • Graça Freitas compra notícias em contrato forjado para divulgar Plano Nacional de Literacia em Saúde

    Graça Freitas compra notícias em contrato forjado para divulgar Plano Nacional de Literacia em Saúde

    A Direcção-Geral da Saúde quis garantir a cobertura do lançamento de um plano estratégico governamental sobre literacia em saúde, e achou que seria boa ideia pagar a um jornal, o Expresso, mesmo se houve outros órgãos de comunicação social que acorreram ao evento em Mafra. Mas, além da ilegalidade da compra de notícias, Graça Freitas, a ainda directora-geral da Saúde, assinou o contrato público já depois do evento, com um prazo de execução de 19 dias. O falso contrato pode ser considerado nulo pelo Tribunal de Contas.


    A Direcção-Geral da Saúde (DGS) pagou 12.000 euros à Impresa para que o Expresso fizesse a cobertura noticiosa, incluindo filmagens, do lançamento do Plano Nacional de Literacia em Saúde. Mas utilizou um contrato forjado, assinado duas semanas depois com um prazo de execução de tarefas que, afinal, já se tinham concretizado. Contratos desta natureza são, geralmente, considerados nulos pelo Tribunal de Contas.

    O evento oficial deste plano estratégico do Governo alegadamente de combate à desinformação ocorreu no passado dia 14 de Junho, no Palácio de Mafra, sendo transmitido pelas redes sociais do Expresso, e contou com a cobertura noticiosa da generalidade da imprensa nacional generalista, nomeadamente da Antena Um, Público, Jornal de Notícias, Observador e Novo.

    Graça Freitas, directora-geral da Saúde. Pagou ao Expresso para a cobertura de evento oficial, fora do prazo.

    Mas enquanto os outros órgãos de comunicação social terão feito as suas notícias sem contrapartidas financeiras, o Expresso beneficiaria de um contrato no valor de 12.000 euros respeitante à “aquisição de serviços para apresentação do Plano Nacional para a Literacia em Saúde e Ciências do Comportamento 2023-2030”, de acordo com o contrato publicado na passada segunda-feira no Portal Base.

    Embora o caderno de encargos esteja ausente – para se perceber quais os compromissos editoriais do Expresso a executar para promoção de um plano estratégico do Governo socialista –, o contrato foi assinado por Graça Freitas (embora o seu nome tenha sido apagado) no dia 26 de Junho, ou seja, 12 dias após o evento, estipulando-se também, falsamente, que o prazo de execução seria de 19 dias. Portanto, terminaria hoje.

    Porém, o PÁGINA UM detectou três notícias – todas publicadas na ambígua secção Projectos Expresso, da autoria do jornalista Francisco de Almeida Fernandes – sobre o objecto do contrato. A primeira notícia paga pela DGS ao Expresso foi publicada no dia 12 de Junho, com o título “Três em cada dez portugueses têm baixo nível de literacia em saúde”, e além de remeter para o evento de Mafra, antecipava resultados de um estudo sobre os conhecimentos nesta temática.

    Evento em Mafra, no dia 14 de Junho, teve cobertura de vários órgãos de comunicação social, mas Expresso teve brinde de 12 mil euros para escrever notícias favoráveis.

    A segunda notícia com base num pagamento da DGS ao Expresso – sem o qual não haveria a garantia de ser publicado – consistiu na cobertura do evento propriamente dito, no dia 14, tomando o título “Mais informação não significa mais prevenção. É preciso outra linguagem”

    Por fim, a terceira notícia mercadejada entre a DGS e o Expresso foi publicada em 16 de Junho, sendo uma compilação em texto e vídeo das declarações dos protagonistas do evento sobre literacia em saúde, contando com intervenções do subdirector-geral da Saúde, André Peralta-Santos e de duas técnicas superiores desta entidade estatal.

    Saliente-se que o jornalista Francisco de Almeida Fernandes é uma das 14 pessoas identificadas pela Entidade Reguladora para a Comunicação Social por ter escrito conteúdos comerciais com carteira profissional de jornalista. Almeida Fernandes é, aliás, um dos mais requisitados jornalistas na escrita daquilo que se denomina de “publicidade redigida”, ou seja, textos que surgem à luz da compreensão dos leitores como notícias mas que são, afinal, pagas por um interessado, que pode mesmo ser, por vezes, o Governo ou farmacêuticas.

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    A publicidade redigida ou outras formas de comercialização de textos jornalísticos é ilegal perante a Lei da Imprensa e o Estatuto do Jornalista. Porém, apesar de ser uma prática cada vez mais frequente, e feita à descarada, a Comissão da Carteira Profissional de Jornalista mostra-se impávida e serena.

    O PÁGINA UM tentou obter o comentário da directora-geral da Saúde, Graça Freitas, sobre a ilegalidade do seu contrato e sobre a necessidade de pagar notícias sobre um tema que, previsivelmente, teria cobertura, como teve, de outros órgãos de comunicação social. Não chegou ainda qualquer resposta.

  • Subdirector-geral da Saúde quer tribunais nacionais incompetentes para julgar contratos de vacinas

    Subdirector-geral da Saúde quer tribunais nacionais incompetentes para julgar contratos de vacinas

    Esteve um ano a liderar a informação da Direcção-Geral da Saúde, abandonou o serviço em meados de 2021 para concluir o doutoramento e regressou este mês, como subdirector em regime de substituição, para ganhar currículo e tentar apanhar o lugar de Graça Freitas, cujo concurso decorre. André Peralta-Santos amealhou, entretanto, uns trocos com a Pfizer, enquanto concluía um doutoramento num centro da Universidade de Washington que tem a Organização Mundial de Saúde e a Fundação Bill Gates como clientes. E já está a mostrar serviço: num ofício de anteontem, a pretexto da intimação do PÁGINA UM para acesso aos contratos das vacinas contra a covid-19, que Manuel Pizarro quer manter secretos, Peralta-Santos defendeu que se deve convencer o Tribunal Administrativo de Lisboa a considerar-se incompetente para analisar o processo, por haver cláusulas de confidencialidade nos acordos globais estabelecidos pela Comissão von der Leyen e as farmacêuticas. Se a tese pegar, o acesso a documentos de interesse nacional podem deixar de ser conhecidos se tudo for tratado nas sombras dos gabinetes da Comissão Europeia.


    O novo subdirector-geral da Saúde, André Peralta-Santos – um dos principais candidatos a substituir Graça Freitas como Autoridade de Saúde Nacional –, que colaborou no ano passado por quatro vezes com a farmacêutica Pfizer, defendeu ontem que o Ministério da Saúde deveria, “para efeitos de contestação” à intimação do PÁGINA UM para acesso aos contratos de compras de vacinas e outros documentos associado às aquisições, “questionar, mesmo nesta fase do processo, se os Tribunais nacionais serão os competentes para julgar esta matéria”. A Pfizer foi a empresa farmacêutica que mais vendas terá efectuado a Portugal.

    A posição de Peralta-Santos – que substituiu este mês Rui Portugal, que se demitiu repentinamente em final de Maio – consta de um ofício entregue ao Tribunal Administrativo de Lisboa, onde a Direcção-Geral da Saúde (DGS) tenta justificar a razão de quatro contratos de aquisição de vacinas contra a covid-19 terem estado durante meses no Portal Base e depois terem sido retirados aquando da intimação do PÁGINA UM para conhecer a totalidade dos contratos, bem como as guias de remessa e a correspondência entre entidades do Ministério da Saúde e as farmacêuticas.

    André Peralta-Santos, actual subdirector-geral da Saúde.

    O Ministério da Saúde insiste em não facultar os contratos de aquisição de vacinas com as farmacêuticas, solicitados pelo PÁGINA UM em Novembro do ano passado, desconhecendo-se assim as quantidades adquiridas, os compromissos de compras futuras, os montantes pagos e a pagar, os preços unitários dos diversos lotes ao longo do tempo ou mesmo eventuais comissões.

    No ofício assinado por André Peralta-Santos – que esteve afastado da DGS durante alguns meses, aproveitando para, entre outras actividades (incluindo a conclusão do doutoramento), desenvolver actividades pagas pela Pfizer –, advoga que os acordos assinados entre a Comissão von der Leyen e as farmacêuticas “contêm cláusulas de confidencialidade que obrigam todos os intervenientes, donde, os contratos nacionais subordinados a elementos legalmente considerados essenciais do contrato, como quantidades e preços, estipulados nos Acordos/Protocolos/Contratos-Quadro, ficam sujeitos às mesmas regras de confidencialidade, porquanto, devem ser considerados como contratos (parciais) integrantes dos Acordos assinados pela Comissão Europeia em representação dos Estados-Membros, que foram interesados [sic], como foi o caso de Portugal”.

    Nesta sua temerária interpretação – que advoga que os Estados democráticos perdem o exercício de Justiça independente interna em caso de acordos comerciais por entidades externas e supranacionais não-eleitas (Comissão Europeia) –, o subdirector-geral da Saúde defende ainda que o Vaccine Order Form – cujos primeiros quatro documentos estiveram no Portal Base, para serem depois sonegados pelo Ministério da Saúde – “não se trata, assim, de um qualquer contrato celebrado pelo Estado português, através da Direcção-Geral da Saúde”, mas “apenas da formalização necessária para operacionalização do APA/PA [acordos entre a Comissão Europeia e as farmacêuticas] em território nacional com o pedido de entrega das vacinas respetivas”.

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    Curiosamente, apesar de o Ministério da Saúde continuar a insistir junto do Tribunal Administrativo de Lisboa, que não tinha autonomia para a aquisição de vacinas contra a covid-19, e que tudo foi tratado pela Comissão Europeia, os factos públicos desmentem-no. Por exemplo, em 21 de Janeiro de 2021, o Governo fez um comunicado em que esclarecia o processo de compra das vacinas contra a covid-19, numa altura de escassez de doses. Nesse comunicado, referia-se que, “para além dos contratos iniciais, Portugal adquiriu ainda quantidades adicionais de outras vacinas, nomeadamente da BioNTech-Pfizer e da Moderna, prevendo também adquirir doses adicionais ao contrato inicial com a AstraZeneca.”

    E denunciava o Governo também a sua autonomia de escolha, acrescentando que “relativamente à compra de doses adicionais, a opção de Portugal foi a de escolher as doses adicionais em função dos prazos de entrega, ou seja, escolhendo aquelas que chegariam mais cedo.”

    Também no mês passado, o Ministério da Saúde adiantava ao jornal Público, de forma surpreendente, que “Portugal celebrou 14 contratos com seis fornecedores de vacinas e que foram entregues cerca de 40 milhões de um total de 61,7 milhões de doses encomendadas e adquiridas para o período até 2023.”

    Manuel Pizarro, ministro da Saúde, tudo tem feito para se furtar a mostrar os documentos relacionados com as compras de vacinas contra a covid-19.

    O PÁGINA UM revelou já que, calculando a despesa autorizada por Resoluções do Conselho de Ministros, Portugal gastou 877 milhões de euros em vacinas e consumíveis associados até ao final do ano passado, mas a conta nem sequer terá chegado a metade. Calculando as compras globais estabelecidas pela Comissão estima-se que, no total, Portugal terá de comprar cerca de 106 milhões de doses, o que pode vir a resultar em centenas de milhões de euros pagos às farmacêuticas sem qualquer utilidade, face ao forte decréscimo da adesão aos boosters.

    Saliente-se também que a legislação nacional, mormente a Lei do Acesso aos Documentos Administrativos, não condiciona o acesso a documentos na posse de entidades públicas do Estado português por conterem eventualmente cláusulas de confidencialidade.

    Além disso, o PÁGINA UM requereu ao Tribunal Administrativo de Lisboa, em 31 de Dezembro do ano passado, que obrigasse o Ministério da Saúde a facultar não apenas os “contratos integrais (incluindo anexos e cadernos de encargos) assinados entre a Direcção-Geral da Saúde (ou outras entidades tuteladas pelo Ministério da Saúde] e as farmacêuticas que comercializam as vacinas contra a covid-19, desde 2020 até à data”, mas também os “documentos de entrega (guias de transporte), bem como toda a documentação (troca de correspondências) entre as entidades adjudicantes e adjudicatárias ao longo deste período”.

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    André Peralta-Santos é, aos 38 anos, médico especialista em Saúde Pública desde 2015, ocupou o cargo de director de serviços de Informação e Análise da DGS durante um ano da pandemia, entre Setembro de 2020 e Setembro de 2021. De acordo com o despacho do ministro da Saúde publicado na semana passada em Diário da República, terá concluído o doutoramento este ano em Saúde Global na Universidade de Washington. O centro onde Peralta-Santos estudou tem como clientes diversas farmacêuticas, a Organização Mundial de Saúde e a Fundação Bill & Melinda Gates.

    De acordo com a descrição constante na base de dados da Transparência e Publicidade do Infarmed – que há vários anos não faz qualquer fiscalização nos procedimentos de transparência entre farmacêuticas e profissionais de saúde –, André Peralta foi, ao longo de 2022, consultor da Pfizer numa reunião sobre abordagem terapêutica da covid-19, e participou ainda em três palestras financiadas por aquela farmacêutica norte-americana. Sempre, invariavelmente, sobre a pandemia da covid-19.

    Por exemplo, num seminário sobre sepsis e infecções, organizado no Porto no início de Junho do ano passado, André Peralta ganhou 1.200 euros por compartilhar as suas opiniões sobre objectivos terapêuticos associados à covid-19 durante 40 minutos acompanhado de um médico espanhol (Alex Soriano). Depois, houve um almoço. No total, terá recebido 4.800 euros, mas a Plataforma da Transparência e Publicidade é, objectivamente, uma base de dados que não está sujeita à verificação regular da veracidade por parte do Infarmed. O PÁGINA UM tem detactado sistemáticas falhas na introdução de registos.

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    Em Janeiro deste ano, aquando de uma notícia sobre as relações de antigos dirigentes da DGS com o sector farmacêutico, o PÁGINA UM contactou André Peralta-Santos por e-mail, mas não obteve quaisquer comentários sobre se, atendíveis as suas anteriores funções, considerava éticas estas relações com uma das farmacêuticas que mais facturou durante a pandemia, sobretudo com a venda de vacinas.

    Na semana passada, a candidatura de Peralta-Santos ao cargo de director-geral da Saúde – num concurso-relâmpago em curso, com as candidaturas já encerradas, que nem admite audiência de interessados nem efeito suspensivo em caso de recurso administrativo – foi anunciada largamente na comunicação social (Público, TVI, O Novo, Sábado, ECO, Observador, TSF e Expresso). No jornal do Grupo Impresa, a jornalista Vera Lúcia Arreigoso escreveu mesmo, sem citar ninguém (ou seja, com fontes anónimas, de existência questionável), que “médicos do setor afirmam que André Peralta Santos é o candidato melhor posicionado para a nomeação para liderar a Direcção-Geral da Saúde”.

  • A promiscuidade de “uma nova era”: talks, peritos e associações ligadas ao Governo, lobbies e dinheiros de farmacêuticas

    A promiscuidade de “uma nova era”: talks, peritos e associações ligadas ao Governo, lobbies e dinheiros de farmacêuticas

    São apenas dois dias, e sem aparato demasiado espampanante, mas o primeiro evento de maior dimensão da novel Sociedade Portuguesa de Saúde Pública revela bem como o debate público sobre futuras pandemias está a ser rapidamente enviesado. Instalando-se um nicho criado pela pandemia, esta sociedade científica foi ocupada por altos funcionários públicos de confiança política do actual Governo, e o seu primeiro congresso, em parceria com duas associações, conta apenas com “peritos” escolhidos a dedo. E, claro, mãos de farmacêuticas, que patrocinam talks, que, na verdade, são sessões públicas de lobby descarado. Uma viagem ao programa do Congresso Saúde Pública 23, conduzida pelo PÁGINA UM, sob o mote “Uma Nova Era”.


    A Culturgest vai ser hoje e amanhã palco do Congresso Saúde Pública 23, com o mote “Uma Nova Era”. Uma notícia normal diria que, no auditório e diversas salas do edifício da Caixa Geral de Depósitos, passaram as principais figuras que marcaram os anos da pandemia, tanto do quadrante político como de especialistas.

    Para debater políticas públicas de Saúde, inovação e ciências e assuntos paralelos, e até equidade para pessoas LGBTQIA+, está prevista a presença, logo pela manhã de hoje, como cabeças de cartaz, a ex-ministra da Saúde Marta Temido, a directora-geral da Saúde Graça Freitas, o seu antecessor e ex-presidente da Cruz Vermelha Portuguesa Francisco George, e ainda Raquel Duarte, ex-secretária de Estado da Saúde e uma das peritas requisitadas nas famosas reuniões do Infarmed.

    Em segundo plano, estarão outras figuras bastante mediáticas, classificadas pelo Governo como “peritos” durante a pandemia, como o pneumologista Filipe Froes, o epidemiologista Henrique Barros (marido da actual secretária de Estado da Promoção da Saúde), o imunologista Miguel Prudêncio, o presidente da European Respiratory Society Carlos Robalo Cordeiro, e ainda o novo subdirector-geral da Saúde, André Peralta Santos.

    Mais do que debater Saúde Pública, pelos palcos da Culturgest, sobretudo pelo seu auditório, se espraiará, contudo, a promiscuidade entre poder político, sociedades médicas e farmacêuticas, num conluio que, sem encontrar fronteiras, começa a cansar por recorrente. Vejamos.

    Organizado por três associações – Sociedade Portuguesa de Saúde Pública, Associação Nacional dos Médicos de Saúde Pública e Associação Portuguesa para Promoção da Saúde Pública –, o congresso conta com o patrocínio oficial da Caixa Geral de Depósitos, que cedeu o espaço e a logística, mas quem abre os cordões à bolsa, até por não haver inscrições pagas, são quatro farmacêuticas – Abbott, GlaxoSmithKline, Pfizer e Sanofi –, que têm ali palcos majestáticos para exporem os seus consultores, grande parte dos quais com um papel mediático durante a pandemia.

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    Apesar de ainda não serem conhecidos todos os montantes envolvidos – e que apenas serão oficializados quando integralmente inseridos no Portal da Transparência e Publicidade do Infarmed –, alguns detalhes conhecidos já demonstram servir este congresso para falar mais do que de saúde. Pelos sinais – e porque não vale a pena obter reacções, porque todos negariam, horrorizados pela torpe suspeita –, ali se espraia, de forma mais ou menos discreta, lobbies com bypass directo entre Governo, Administração Pública, supostas sociedades científicas e farmacêuticas.

    O caso mais paradigmático passa-se com a principal organizadora do congresso, a novel Sociedade Portuguesa de Saúde Pública (SPSP), que tem na Culturgest o seu segundo evento público conhecido, após uma singela apresentação de um livro em Março passado, coordenado por Francisco George, seu presidente.

    Anunciada em Maio do ano passado, a SPSP terá 20 fundadores, onde também pontificam, segundo então se revelou na comunicação social, a pneumologista e ex-secretária de Estado da Saúde Raquel Duarte, os epidemiologistas Baltazar Nunes e Andreia Leite, o presidente do Instituto Nacional de Saúde Ricardo Jorge (INSA), Fernando Almeida, o professor jubilado em Saúde Pública Constantino Sakellarides (e ex-director-geral da Saúde), o psiquiatra Daniel Sampaio, o médico Rui Portugal, na época subdirector-geral da Saúde, o então presidente do Conselho Nacional de Saúde, Henrique Barros; e a ex-bastonária da Ordem dos Farmacêuticos Ana Paula Martins, então na farmacêutica Gilead e que agora preside ao Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte.

    Francisco George, depois da passagem pelas funções de director-geral da Saúde e de presidente da Cruz Vermelha Portuguesa, por nomeação governamental, fundou a Sociedade Portuguesa de Saúde Pública com três altos funcionários públicos de confiança política.

    No entanto, apenas assinaram a constituição desta associação, em 6 de Maio de 2022, Francisco George, o então subdirector-geral da Saúde Rui Portugal – que se demitiu no final do mês passado, pouco tempo depois de admitir candidatar-se ao lugar de Graça Freitas – e o presidente e a vogal do INSA, Francisco Lopes de Almeida e Cristina Abreu dos Santos. Saliente-se que, conforme referido no seu site, o Conselho Directivo do INSA dirige os seus serviços “em conformidade com a lei e as orientações governamentais”, sendo apenas constituído por duas pessoas.

    Diga-se que a SPSP acaba por ser similar à co-organizadora Associação Portuguesa para a Promoção da Saúde Pública (APPSP), mas esta não tem o élan de ter sociedade na denominação. Com efeito, a APPSP é uma associação criada em 1969 por Arnaldo Sampaio, director-geral da Saúde entre 1972 e 1976, sedeada na Escola Nacional de Saúde Pública.

    Se o excessivo peso de funcionários públicos de confiança política provoca legítimas dúvidas sobre a independência e isenção deste tipo de organizações, estas também se desvanecem na leitura da localização da sede da SPSP: Centro de Saúde de Sete Rios, em Lisboa. Ou seja, em instalações públicas.

    Certo é, de entre as poucas intervenções públicas da SPSP, destacam-se as recentes declarações de Francisco George, em Março passado, que mostraram uma grande sintonia com os interesses governamentais. De facto, o antigo director-geral da Saúde e ex-presidente da Cruz Vermelha defendeu então a aprovação da lei de protecção em emergência de saúde pública para que, em futuras pandemias, se restrinjam administrativamente direitos e liberdades individuais.

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    Apesar das evidências científicas internacionais sobre os impactes negativos dos confinamentos rígidos, os peritos portugueses associados ao Governo insistem agora em defender medidas administrativas de restrição às liberdades em futuras crises sanitárias.

    Nessas declarações à Lusa, Francisco George deu também, como presidente da SPSP, o seu aval aos confinamentos durante a pandemia, considerando-os “uma medida absolutamente essencial” para controlar e prevenir a covid-19. Ora, os Governos costumam agradecer essas opiniões de sociedades científicas independentes na aparência.

    No entanto, a nível internacional, e em revistas científicas independentes, já há muito se coloca em causa os confinamentos como solução adequada para a pandemia da covid-19. Por exemplo, no ano passado, John Ioannidis, o mais relevante epidemiologista mundial, destacava, num artigo em co-autoria no International Journal of Forecasting, que “a população em geral foi confinada e colocada em alerta de terror para evitar que os sistemas de saúde entrassem em colapso”, mas “tragicamente, muitos sistemas de saúde enfrentaram grandes consequências adversas, não pela sobrecarga de casos de covid-19, mas por razões muito diferentes”. E apontava para os “pacientes com ataques cardíacos [que] evitaram hospitais para atendimento, tratamentos importantes (por exemplo, para cancro) [que] foram injustificadamente atrasados” ​, para além de prejuízos na saúde mental.

    Ioannidis também salientava que “com operações prejudicadas, muitos hospitais começaram a perder pessoal, reduzindo sua capacidade de enfrentar crises futuras”, como por exemplo uma segunda onda, e que “com o novo desemprego massivo, mais pessoas arriscaram perder o seguro de saúde.”

    Ex-ministra Marta Temido fará uma aparição na abertura do congresso, com Francisco George, Paulo Macedo (CEO da Caixa Geral de Depósitos) e Raquel Duarte.

    Mas isso foram sempre aspectos nunca admitidos pelos “peritos” governamentais portugueses, alguns dos quais agora com ligações umbilicais à SPSP, como é o caso de Raquel Duarte. Antiga secretária de Estado da Saúde, Raquel Duarte destacou-se no grupo de peritos ad hoc das conhecidas “reuniões do Infarmed” – que validava todas as medidas do Governo de António Costa, substituindo a Comissão Nacional de Saúde Pública, que nunca foi colocada a funcionar – e é co-autora de uma obra apologética sobre a estratégia governativa, apresentada em Maio do ano passado na Universidade do Minho diante de um agradado primeiro-ministro.

    Além destas ligações de boa convivência com o Governo, a SPSP também não fugiu ao amplexo com farmacêuticas. Não se conhecendo ainda todos os financiamentos deste congresso, no Portal da Transparência do Infarmed – cuja inserção de registos é voluntária e pouco ou nada fiscalizada pelo regulador dos medicamentos, presidido por Rui Santo Ivo –, já consta o apoio da Pfizer à SPSP. E, oficialmente, não é pequeno: 15.000 euros.

    Isto considerando que este dinheiro serve para patrocinar o “sponsor talk by Pfizer”, a moderna designação para 45 minutos da apresentação de Charles Jones, director sénior de inovação e estratégia mRNA da Pfizer, acompanhada pelas palavras de Miguel Prudêncio, investigador do Instituto de Medicina Molecular, e de Gustavo Tato Borges, presidente da Associação Nacional de Médicos de Saúde Pública (ANMSP). Desde que assumiu a liderança desta associação de médicos, em finais de 2021, Tato Borges – que tem pretensões a ser o próximo director-geral da Saúde – já recebeu por seis vezes apoios da Pfizer, no valor total de 10.210 euros, incluindo uma viagem a um congresso à cidade canadiana de Toronto.

    Tato Borges, presidente da Associação Nacional de Médicos de Saúde Pública, co-organizadora do congresso. Desde que assumiu funções, este médico começou a dar palestras financiadas pela Pfizer.

    Se 15.000 euros valem 45 minutos de “sponsor talk by Pfizer”, similares montantes se deverão praticar nas outras “talks” – assim à inglesa, que se paga melhor. Todas com participantes e moderadores que garantem ausência de surpresas ou vozes dissonantes. Por exemplo, a “sponsor talk by Abbott”, financiada por esta farmacêutica norte-americana, contará com a moderação de Francisco George, e a participação do médico espanhol José María Eiros Bouza e do médico português Gonçalo Órfão.

    A Sanofi – que está numa promíscua campanha, através da Sociedade Portuguesa de Pediatria em coligação com a imprensa, para convencer o Governo a administrar anticorpos monoclonais contra o vírus sincicial respiratório (VSR) a todos os recém-nascidos – desembolsará mais, porque pagou duas “sponsor talks”, ambas nesta sexta-feira.

    A primeira terá como cabeça-de-cartaz a pediatra Teresa Bandeira para falar… sobre o vírus sincicial respiratório e “novas soluções para um desafio de saúde pública”. Teresa Bandeira foi a principal subscritora do parecer que recomendou a compra massiva de anticorpos monoclonais da Sanofi e AstraZeneca à Direcção-Geral da Saúde. E ainda em Abril passado participou num evento promovido pela Sanofi sugestivamente denominado “Rumo a uma nova era de prevenção do vírus sincicial respiratório“. Desta vez, para a sessão de 20 minutos na Culturgest, a moderação será de… Gustavo Tato Borges, putativo candidato a director-geral da Saúde e presidente da Associação Nacional de Médicos de Saúde Público, e co-organizador do evento.

    Teresa Bandeira, presidiu à Sociedade Portuguesa de Pediatria entre 2014 e 2016.

    Moderada pela jornalista do Expresso Vera Lúcia Arreigoso, a segunda “sponsor talk by Sanofi” tem como tema a nova vacina contra a gripe como “uma prioridade de Saúde Pública”, e conta com três palestrantes: Carlos Aguiar, Sofia Duque e Carlos Robalo Cordeiro. Nem de propósito, ou talvez sim, a Sanofi começou a comercializar recentemente uma vacina quadrivalente contra a gripe, e tem-se multiplicados em eventos de promoção, em parceria com órgãos de comunicação social, como Expresso no âmbito da Flu Summit.

    Estes eventos são sempre óptimos momentos de cortesia e lobby, como a que ficou patente na homenagem a Graça Freitas, que entre muitos sorrisos juntou Lacerda Sales, ex-secretário de Estado da Saúde e actual deputado que presidente à comissão parlamentar da TAP, e ainda Helena Freitas, directora-geral da Sanofi Portugal, e Carlos Robalo Cordeiro.

    Aliás, este pneumologista e professor da Universidade de Coimbra – um empolgado adepto da vacinação contra a covid-19 de jovens, chegando a integrar um grupo de queixosos que espoletou um torpe processo disciplinar contra Jorge Amil Dias, presidente do Colégio de Pediatria da Ordem dos Médicos, por recomendar prudência – é sempre um habituée deste tipo de eventos. Com benefícios: só no ano passado, o actual presidente da European Respiratory Society amealhou quase 25 mil euros das farmacêuticas, dos quais 3.414 euros da Sanofi. Este ano conta, em menos de seis meses, um pouco menos de 11 mil euros. Apesar disso, a declaração de interesses deste médico naquela sociedade internacional está a branco, sem qualquer justificação, apesar de o PÁGINA UM ter pedido esclarecimentos, que não obteve reacção.

    Conforme foto da edição do Expresso de 7 de Março passado, no recente Flu Summit, evento organizado pelo Expresso e pago pela Sanofi, Graça Freitas foi homenageada, enquanto se debatia a nova vacina da farmacêutica contra a gripe.

    Por fim, a “estrela” da última “talk“, financiada pela GlaxoSmithKline (GSK), será Filipe Froes, um dos médicos com maior portefólio de relações promíscuas com a indústria farmacêutica, e que, apesar de estar com um processo disciplinar instaurado pela Inspecção-Geral das Actividades em Saúde desde Fevereiro do ano passado, continua a ser presença habitual em eventos deste género – se forem financiados por farmacêuticas, claro.

    Froes falará, nesta sexta-feira, sobre “a vacinação como um pilar para o envelhecimento saudável”, numa altura em que concentra os seus esforços de consultadoria e de marketing na promoção de uma nova vacina pneumocócica da Merck Sharpe & Dohme (MSD) para bebés, crianças e adolescentes.

    Em parte por esse motivo, este ano, e até agora, quase dois terços dos cerca de 20 mil euros daquilo que Froes oficialmente recebeu de farmacêuticas foi a partir da MSD, que já no ano passado, com a Sanofi, fora um dos seus principais “mecenas”. Este ano, este pneumologista ainda só recebeu cerca de 1.600 euros da GSK, mas não estão ainda incluídos os honorários da “sponsor talk by GSK” de amanhã na Culturgest.

    Filipe Froes, ao centro, é um dos médicos do Serviço Nacional de Saúde com mais ligações à indústria farmacêutica, apesar de ser consultor da Direcção-Geral da Saúde. Com um processo disciplinar pela Inspecção-Geral das Actividades em Saúde (IGAS) desde Fevereiro de 2022 (e nunca concluído), foi, apesar disso, mandatário do actual bastonário da Ordem dos Médicos, Carlos Cortes (ao seu lado esquerdo).

    Depois da palestra de meia hora de Filipe Froes, terminará o Congresso Saúde Pública 23, organizado por associações “associadas” ao Governo, e com “talks” financiadas por farmacêuticas, com um derradeiro evento: a directora-geral da Saúde, Graça Freitas, presidirá ainda à cerimónia de entrega de prémios aos vencedores das PH Innovation Sessions, ou seja, aos melhores trabalhos apresentados nas outras salas.

    A organização não informa, no seu site, se os prémios são monetários e financiados por farmacêuticas. Em todo o caso, os funcionários públicos que participem, e recebam diploma, têm dispensa de serviço. Não parece demasiado mau para quem tem de ouvir palestras financiadas por farmacêuticas.


    N.D. O Código Deontológico dos Jornalistas determina que “a distinção entre notícia e opinião deve ficar bem clara aos olhos do público.” Uma vez que, aparentemente, subsistem dúvidas de certos reguladores sobre a interpretação desta frase, declara-se o óbvio: quando o leitor ler, numa notícia, um qualquer adjectivo, então estará perante uma opinião. Se não for uma notícia e se ler um adjectivo, então será também uma opinião. Em todo o caso, tudo se interpreta com rigor e honestidade. Mesmo quando se escolhem os adjectivos.