Desde Dezembro passado, só vou a restaurantes que, sujeitando-se a multas, não me pedem certificado digital. São poucos. Podia optar por um certificado falso – até fiz um com o nome e data de nascimento de Marcelo Rebelo de Sousa, talvez passasse – ou pedir um “emprestado”, mas não entro em esquemas de falsificação.
Tive direito a um certificado digital, durante cerca de seis meses do ano passado, que nunca usei, depois de sobreviver a uma infecção por covid-19, a uma infecção bacteriana hospitalar e a uma grosseira negligência de um médico que permitiu que o fio-guia de um cateter andasse enrodilhado entre ventrículos do coração durante cinco dias, e cuja identidade a senhora Rosa Augusta Valente de Matos Zorrinho, circunstancial presidente do Conselho de Administração Central do Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central (certamente pela sua competência, e não pelos esponsais com o eurodeputado socialista de quem ganhou o último apelido), não me quer revelar. Não sofro de “long covid”, estragando as estimativas do Doutor Filipe Froes de que 10% dos infectados padecem de tal maleita.
Nunca usei nem usarei, porque a minha recusa é por imperativos de Cidadania e de Ciência.
Vamos primeiro à Cidadania, até porque manteria a recusa mesmo que tivesse optado por me ter vacinado. E fá-lo-ia se não fosse pelas razões que mais adiante indico sobre a Ciência.
Já lá vou.
Nenhum cidadão decente, em pleno século XXI democrático, deveria poder aceitar sequer um certificado, digital ou analógico, com o objectivo de separar, só por si, um dos demais.
Por vezes, há quem invoque, perante a institucionalização e aceitação quase generalizada do certificado, a perseguição perpetrada pelo nazismo aos judeus, que se iniciou também através de um documento segregacionista.
Não sigo essa linha por duas razões: primeiro, avocar o nazismo tem como consequência que um debate sobre discriminação descarrila vertiginosamente para o Reductio ad Hitlerum; segundo, Hitler não inventou nada. E agora também não se está a inventar nada, mesmo se Hitler e as atrocidades em nome da sua loucura não tivessem jamais existido, como existiram.
Na verdade, não precisamos em Portugal de viajar para a Alemanha Nazi, nem para a América com o seu one-drop rule, a infame regra de uma gota, que discriminava pessoas por descenderem de negros, mesmo que fossem tetravós.
Basta recuarmos nos nossos tempos, neste mesmo território onde estamos. Durante séculos e séculos, tivemos muito dignos “inquisidores apostólicos contra a herética pravidade e apostasia” que averiguavam, judicialmente, se alguém era “legítimo e inteiro Cristão velho, e de limpo sangue, e geração”. E até ao início do século XIX português chegou-se a afastar de cargos ou confrarias aqueles que apresentassem ascendência judaica, moura ou gentia, até ao 4º grau.
Ademais, no caso do certificado digital, estamos perante uma segregação sem sequer uma lógica ou sentido jurídico e legal: quem se vacina cumpre a lei; quem toma a decisão de não aceitar a vacina também cumpre a lei, porquanto a vacina não é obrigatória, é voluntária. Sabemos que quem incumpre as normas legais ou os códigos penais está sujeito ao pagamento de uma coima ou condenado a ser “segregado” pela sociedade, sendo-lhe retirado direitos e liberdades.
Porém, não é isso que sucede com a vacina contra a covid-19. No caso de uma vacina, ainda mais com uma tecnologia recente, estamos ao mesmo nível de uma lei que permite que se ande em qualquer dos lados dos passeios de uma avenida.
Seria ridículo permitir tal liberalidade – a escolha do passeio – e depois segregar quem tivesse a “ousadia” de escolher o lado esquerdo, não permitindo que entrasse em restaurantes ou visitasse um museu, apenas porque o Governo “achava” que era melhor para a comunidade que andasse pelo lado direito.
Despachados os princípios de Cidadania, só por si suficientes, passemos para a Ciência.
Como escritor de romances do género histórico, nas minhas deambulações pela Biblioteca Nacional amiúde me ia rindo e sorrindo durante a leitura de documentos coevos sobre usos “médicos” de antanho, suportados pela Ciência da época. Recordo, aliás, que durante a Peste Negra, no século XIV, se usaram fogueiras nas ruas e até salvas de artilharia ou música, pois julgava-se que as vibrações afastariam o ar corrupto. E até as célebres máscaras de “médicos” com bico de corvo nem sequer tinham o objectivo de “filtrar” o ar – pensava-se então que a doença se devia a miasmas e não a uma bactéria transmitida por pulgas –, tendo apenas um simbolismo místico.
Enfim, mas também deve ter sido por simbolismo místico que as autoridades multaram trabalhadores por comerem sandes dentro do carro em plena pandemia, ou uma reformada por ir ao café comer um bolo de arroz e a meia de leite, ou um jovem por comer gomas junto a uma máquina de vending.
E também deve ter sido por simbolismo místico que a Autoridade de Saúde Nacional é uma senhora, burocrata desde sempre, com conhecimentos de Medicina adquiridos por neurónios de paradeiro agora desconhecido, e somente usados na década de 70 do último século do milénio passado, que alardemente nem sabe utilizar um computador e com sérias dificuldades em aceitar aceder aos meus pedidos de documentos ao abrigo de uma lei da transparência da Administração Pública. By the way, na próxima quarta-feira, a Comissão de Acesso aos Documentos Administrativos (CADA) debruçar-se-á em mais quatro pareceres sobre recusas da DGS.
É esta senhora, rodeada de “especialistas” – desde um doutorado em migrações de carapaus até a um (re)conhecido pneumologista-mercenário ao serviço das farmacêuticas –, que tem ditado as regras sanitárias em tempos de pandemia, invocando a Ciência, que deveria ter, como as de Deus através de Moisés, umas tábuas onde um dos Mandamentos fosse: “Não faças mau uso do nome do Senhor, tua Ciência, porque Ele não deixará sem castigo os que fizerem mau uso do seu nome.”
Na verdade, sobre Ciência em Tempos de Pandemia, já vimos de tudo. Já vimos o esplendor da Ciência nas máscaras que, primeiro, davam uma falsa sensação de segurança, até às declarações de um presidente da República que jurava vir a ser o “último moicano” a deixá-las, apesar de já o termos visto na semana passada a cantar o Grândola Vila Morena de (desavergonhada) face destapada na companhia de Emmanuel Macron.
Já vimos a maravilhosa Ciência nas garantias de que os lockdowns eram fundamentais, e por isso mesmo tivemos o “milagre” português como uma evidência na Primavera de 2020, para depois termos o desastre em Janeiro de 2021, “apenas” porque nem todos seguiram o conselho de Rui Portugal, subdirector-geral da Saúde, de oferecerem compotas no Natal em “vistas rápidas no quintal de uns e de outros, ou no patamar do prédio”.
Já vimos também a fantástica Ciência na garantia da eficácia das vacinas, primeiro, para toda e qualquer idade em quase 100%, para depois ir descendo, descendo, descendo, até que daqui a nada, para dar protecção, se tem (exageremos!) que dar tantas picas como as doses de insulina necessárias num diabético.
Já vimos a extraordinária Ciência nas juras de uma vacina que era também muito eficiente na redução da capacidade de se ser infectado e de infectar, e daí que íamos ter de vacinar tudo e um par de botas, para criar imunidade de grupo, mas que em pouco já não era possível, e depois ainda assistimos ao maior aumento de casos com uma variante que, afinal, se disseminou mais facilmente entre os vacinados. Tudo a Ciência, maleável, justificou.
Vamos ser claros. Não sou absolutamente nada contra vacinas – ou mais correctamente, no caso específico das destinadas contra a covid-19, o fármaco injectável –, que, em determinadas circunstâncias e para determinados grupos, pode e será uma ferramenta preventiva de doença grave e morte.
Nem sou absolutamente nada contra – muito pelo contrário – à investigação e busca de terapêuticas contra a covid-19 ou contra qualquer outra doença. Seria um absurdo, sobretudo para quem conhece História.
Já sou, e muito, e sobretudo por conhecer História, e a História da Ciência, contra o obscurantismo, a falta de transparência, a burocrática mesquinhez, e a sobranceria.
Em finais de Dezembro do ano passado, e princípio de Janeiro deste ano, através do PÁGINA UM, tomei a iniciativa de patrocinar um conjunto de testes serológicos para verificar os níveis de seropositividade à covid-19 em sete pessoas, das quais cinco com infecção anterior (com níveis diferentes de gravidade), e apenas duas vacinadas (uma das quais com infecção prévia).
Darei detalhes em breve sobre as outras situações – embora não revelando identidades –, mas no meu caso, como podem confirmar, seis meses após ter sido declarado “negativo” (curado), o valor para as imunoglobinas G IgG) no meu sangue era de 427,00 BAU/ml, muito acima do valor a partir do qual se considera positivo (33,8 BAU/ml).
Bem sei que “a evidência científica actual ainda não nos permite afirmar que um título elevado de anticorpos IgG anti SARS-CoV-2 é garante de imunidade efetiva ou duradoura”, conforme avisa o boletim do laboratório Germano de Sousa, mas a Ciência, se estivesse a ser usada nestes tempos, dir-me-ia que este meu valor deveria valer mais do que um qualquer papelucho, um qualquer certificado de vacinação.
Um médico decente, baseando-se na Ciência, nunca diria que eu deveria vacinar-me com estes níveis. Excepto, talvez, um que também sugerisse que o Michael Phelps, pelo sim, pelo não, deveria usar uma bóia quando se lançasse a uma piscina. Ou aqueloutro que recomendasse protector solar factor 50 a um senegalês para, enfim, precaver algum carcinoma.
Para a Ciência, os diagnósticos pessoais são essenciais para uma decisão, e na atribuição e caducidade dos certificados digitais nunca nada houve de científico. Nada.
Exigir a vacinação – e com isso obter-se um salvo-conduto através de um certificado digital – com base num prazo administrativo é anti-científico (excepto para as Ciências Políticas que estudam os estados ditatoriais), porque nem sequer assente em qualquer estudo científico conhecido. E mesmo que assim fosse, nunca deveria ser uma opção generalizável.
Não é, por exemplo, por ser saber que a hipercolesterolemia está associada a ataques cardíacos a partir de uma determinada idade que se vai colocar toda a gente em dieta ou a tomar comprimidos contra o colesterol a partir de uma determinada idade; se calhar a sugestão (não imposição) por uma dieta ou por uma determinada terapêutica depende de um diagnóstico prévio. Digo eu, que não sou médico, mas uso neurónios.
Por insistentes quatro vezes, contactei a Direcção-Geral da Saúde para que me esclarecesse sobre a existência de estudos serológicos, questionando as razões científicas para exigirem que me vacinasse se quisesse entrar num restaurante. Não responderam sequer.
Foi um engano, um equívoco meu: na Direcção-Geral da Saúde não se faz nem se usa Ciência; “cozinham-se” argumentos, temperados por “especialistas”, que justificam uma deriva autoritária.
Aos 52 anos, não posso ir a um restaurante por causa de um papel. E ainda me acusam de negacionista. Isto não é Ciência. Isto não é Democracia.
A CNN Portugal fez uma sórdida campanha suja contra o PÁGINA UM em Dezembro passado acusando-me, sem me identificar pelo nome (mas facilmente se chegaria a mim), de eu ter divulgado numa “página negacionista”, dados clínicos de crianças, dados esses que estavam anonimizados.
Divulgar dados clínicos, usando até uma médica, para criar pânico já é correcto para a CNN Portugal.
O processo está em queixa na ERC, mas enfim a CNN Portugal nem teve coragem de mandar fazer esse sujo jogo por um jornalista: foi um jornalista-estagiário a tratar da coisa.
Agora, já não faz mal para a CNN – nem choca o especialista em Urologia Miguel Guimarães, circunstancial presidente de uma associação profissional de direito público conhecida por Ordem dos Médicos – que se divulgue com detalhe, e que haja até uma médica a comentar, o caso do tratamento por ECMO de um bebé de 13 meses com miocardite eventualmente associada à covid-19.
Independentemente de ser a covid-19 a causa, há todo um jogo sujo nisto, até porque a mensagem final é sempre a mesma: vacinem crianças, mesmo se o risco de morte ou de situação grave é remota.
Recordo que nascem por ano cerca de 80 mil crianças, e que as pneumonias “normais” ou as meningites, por exemplo, embora muito raras, são até mais graves e perigosas do que a covid-19.
Aliás, estamos sempre com o mesmo problema da informação enviesada: fala-se de casos da covid-19 sem nunca se apresentar dados comparativos.
Quantos casos de tratamento por ECMO se fizeram em crianças com miocardite por outros vírus (porque pode suceder) antes da pandemia? É pergunta que o PÁGINA UM irá fazer ao Hospital de São João, já que a CNN Portugal não fez.
Não sou particularmente adepto de maiorias, que sempre são convenientes apenas para quem está no poder. Uma democracia deve pugnar sempre por defender as minorias, daí que uma maioria no poder nunca traz bons resultados, por mais que muitos defendam pretensos benefícios de uma estabilidade. Também nunca apreciei estabilidades, mas isso são contas de outro rosário.
Tivemos três maiorias no Parlamento durante esta nossa democracia, se excluirmos as duas primeiras – por resultarem de uma coligação (as eleições ganhas por Sá Carneiro para a Aliança Democrática, com PSD, CDS e PPM) –, e nenhuma foi particularmente favorável para Portugal. Cavaco Silva, com as maiorias em 1987 e 1991, desbaratou os fundos comunitários – como D. João V esbanjara o ouro e diamantes do Brasil no século XVIII – em obras sem glória, em programas assentes em sinecuras e subsidiodependências e na formação da cultura da negociata. Depois, em 2005, José Sócrates traçou-nos a sorte até à intervenção da troika.
Porém, por paradoxal que pareça, saúdo a maioria parlamentar agora obtida pelo Partido Socialista (PS). Os próximos quatros anos vão fazer muito bem à democracia, apesar da minha falta de confiança em mais um Governo de António Costa. Sobretudo porque, paradoxalmente, os seus últimos seis anos como primeiro-ministro desenrolaram-se em falsa minoria. O PS viveu com a desresponsabilização de compartilhar o poder, legislativo e até executivo, por ser Governo minoritário, mas na prática beneficiou de um poder como se fosse Governo maioritário. Podia assim receber os louros pelas coisas boas; descartar responsabilidades pelas coisas más.
Em 2015, na ânsia de derrotarem Pedro Passos Coelho na “secretaria”, o Bloco de Esquerda (BE) e o Partido Comunista Português (PCP) aceitaram um estranho acordo – que viria a ser baptizado de “geringonça” – para viabilizar um Governo do segundo mais votado partido (PS), mas sem quererem entrar nos corredores ministeriais.
Durante quatro anos, Costa conseguiu assim o melhor dos dois mundos: governar em minoria, gerindo acordos na Assembleia da República, e eliminar à nascença, em reuniões apenas, qualquer contestação social, porque BE e PCP se auto-manietaram.
Com apenas 86 deputados em 2015, na verdade António Costa geriu o país durante quatro anos como se fosse o líder de 122 deputados, tendo apenas que “amestrar” 19 de uma ala bloquista e mais 17 de uma ala comunista.
O desfecho deste casamento de interesse foi glorioso para o PS e trágico para o BE e PCP, lembrando a cópula dos louva-a-deus, em que, no fim, a fêmea deglute literalmente o macho. Com a diferença de o repasto ter sido afinal aos poucos, dentada aqui, dentada ali, até ao golpe final consumado no passado fim-de-semana.
Com efeito, quatro anos depois desse matrimónio, o PS evidenciava já nas eleições de 2019 ter registado melhores benefícios: o reforço nos mandatos eleitorais para 108 – em especial pela atracção do eleitorado do centro-direita e também de uma parte dos comunistas, que perderam então cinco deputados. PC perdeu com o casamento; o BE nada beneficiou. António Costa mostrou então que o seu casamento com a esquerda fora completamente de interesse: a partir de 2019 não quis saber de qualquer “geringonça 2.0”.
Liberto de acordos escritos, sendo-lhe preciso apenas “coligações” pontuais de compromisso, bastando para isso arregimentar um de três partidos (BE, PCP ou PSD), o PS tinha, mesmo assim, a vida mais facilitada.
E depois veio a pandemia. E até aí o PS beneficiou, passando sempre pelos pingos da chuva. Criando-se uma unanimidade nunca vista em outro assunto durante tanto tempo – as leituras dos plenários na Assembleia da República constituem um exercício de pasmo por esse movimento de concordância quase plena –, António Costa não teve qualquer oposição visível nem contestação relevante durante quase dois anos. De mais nada se falava, e se algo mal corria, a culpa era da pandemia. O microscópico vírus teve sempre as costas largas.
Não apenas pelas restrições impostas para conter a pandemia, com o consequente acomodamento da sociedade às limitações de direitos fundamentais – sempre apoiadas por uma diligente imprensa –, como também pelo receio de qualquer partido em simular sequer críticas em matérias sensíveis da pandemia (e dos atropelos às liberdades, direitos e garantias), e que dominaram o país desde Março de 2020.
Portugal esteve anestesiado durante dois anos. E o PS sempre a ganhar em minoria. Mas não era o suficiente no Largo do Rato.
Bastou, por fim, um incidente forçado para, em fim de festa pandémica – com a generalidade da população e da imprensa em loas ao Governo socialista, esquecendo-se o caos no SNS, o despesismo incontrolado e a crise económica e social –, para António Costa comer, finalmente, toda a oposição de cebolada.
O Orçamento de Estado (OE) para 2022 foi o álibi perfeito. Foi chumbado porque o PS quis, e queria mesmo eleições; era o momento ideal para aquilo que está na massa do sangue de muitos políticos: vencer com maioria absoluta, porque negociar custa sempre.
No diferendo da OE, a oposição, e particularmente o BE e o PCP, estaria sempre na célebre condição de ser presa por ter e não ter cão. Chumbando-o, como fizeram, levariam a uma vitimização do PS, como benefícios para este partido, como se viu. Não o chumbando, os partidos da oposição, sobretudo da esquerda, tinham tudo também a perder: confessariam que Costa governava em maioria de facto, embora não in jure. E assim seria até que outra qualquer coisa fizesse cair o Governo, e o PS se fizesse de vítima, para em novas eleições almejar a maioria absoluta.
Como alcançou.
Os partidos à esquerda do PS nunca quiseram perceber que jamais sairiam a ganhar do amplexo da “geringonça”, nem no cenário político após as eleições de 2019, nem na forma como intervieram durante a pandemia.
Nos últimos dois anos, PCP e BE mostraram-se inexistentes, e gastaram mais tempo a perseguir a extrema-direita do que a lutar contra as carências e injustiças que engrossaram, por exemplo, os votos do Chega.
Esqueceram que o partido de André Ventura não tem eleitores saudosistas de Salazar, mas sim eleitores que, pouco se importando com a amálgama ideológica (se é que existe no Chega), se sentem filhos de um deus (democracia) menor. Enquanto a esquerda não perceber que o Chega é um barómetro da democracia – quanto mais justa e equitativa ela for, menor será o peso eleitoral de André Ventura –, as coisas só podem correr mal para ela. Para ela, esquerda; para ela, democracia.
Mas, enfim, temos, portanto, uma maioria absoluta. E ainda bem.
Porque, agora, finalmente, mesmo se aparentemente com mais de metade do hemiciclo, António Costa ouvirá mais críticas no Parlamento, de mais partidos. Terá capacidade plena de tudo aprovar na Assembleia da República e de execução de quaisquer medidas em Conselho de Ministros e nos Ministérios, mas, independentemente da bondade da sua governação (hipótese académica), arcará certamente com mais críticas num mês de maioria absoluta do que num ano de minoria apoiada.
O BE e o PCP lutarão nos próximos anos por mais do que pelas suas causas; lutarão pela sua sobrevivência, porque se o PS for bem-sucedido nestes quatro anos será os seus enterros. IL e Chega não perderão também oportunidade de se ouvirem mais do que antes, pelo peso dos respectivos grupos parlamentares, e o PSD também não poderá ficar atrás.
Nas ruas ouvir-se-ão mais vozes, até porque uma larga franja dos sindicatos não é “afiliada” aos socialistas. Haverá mais pressão. Nas ruas. Mais greves. Haverá maior mobilização social, assim se espera, até porque a saúde económica do país, além da saúde pública, não se compadecerá apenas com bazucas – que aliás serão mais escrutinadas do que todas as negociatas de ajustes directos nestes anos da pandemia.
Enfim, haverá mais democracia. Ou, pelo menos, maior participação democrática.
Exactamente porque sempre acreditei que a democracia se exerce melhor, e de forma mais justa e equitativa, após as eleições – que são um mero, embora importante, acto de eleitores elegerem eleitos, mas não uma “carta branca” para governar. E por isso julgo ser bem-vinda esta maioria.
Será uma maioria absoluta de jure, mas não tão forte de facto, como foram os Governos minoritários de António Costa nos últimos seis anos.
Isto vai fazer bem à esquerda; vai fazer bem à direita. Vai fazer bem à democracia.
Por isso mesmo, saúdo esta maioria do PS, exactamente porque, na verdade, lhe concedeu menor poder do que aquele que teve desde 2015.
A Tesla teve uma queda bolsista na semana passada de 10,3%. Entretanto, vamos imaginar que Elon Musk se preocupava com isto – numa empresa cotada que valorizou 20 vezes nos últimos dois anos e meio –, e aflito corria a twittar, como efectivamente fez, a dar apoio ao Freedom Convoy, o movimento de camionistas canadianos que se manifestam em Ottawa.
Como esta segunda-feira a Tesla – da qual este empresário detém cerca de 20,7% – está a subir, no momento em que escrevo, 9,57% – “comendo” praticamente as perdas da semana anterior –, se eu fosse um jornalista acéfalo, com conhecimentos de Economia ao nível da regra de três simples mal-amanhada, poderia já fazer o seguinte título bombástico: “Apoio a negacionistas canadianos faz Elon Musk enriquecer 15,2 mil milhões de euros”.
Depois, no lead, se fosse um jornalista sem escrúpulos, especularia que, por obra e graça de mais umas postas de pescada, o empresário sul-africano-canadiano poderia agora aproveitar a onda para reforçar ainda mais o apoio ao tal Freedom Convoy, porque dois tweets lhe tinham rendido numa só sessão bolsista do Nasdaq o equivalente a 7,3% do produto interno bruto (PIB) português.
Se eu quisesse ser ainda mais populista – e para me aproveitar da desoladora iliteracia económica cá do burgo –, ainda fazia os crédulos comer como verdade que o suporte de Musk aos tais “negacionistas” das vacinas, afinal tinha feito todos os accionistas da Tesla empochar tanto guito como aquele que Portugal acumular este ano até finais de Abril.
Enfim, se assim agisse, esquecia tudo o resto, esquecia o essencial, esquecia como funcionavam os mercados, esquecia que era jornalista que não embarca no primeiro navio nem surfa a primeira onda que lhe surge, nem veste a primeira camisola que lhe estendem.
Vamos ser claros: o absurdo do meu imaginário título, e da minha esdrúxula história de Elon Musk, da Tesla e do Freedom Convoy, não difere em nada dos bizarros e verdadeiros títulos de recentes notícias do Expresso – copiando a Variety – e do Público sobre o alegado impacte do ultimato e posterior boicote ao Spotify do músico Neil Young por causa dos podcasts do comediante Joe Rogan.
Vejam. O Expresso titula “Spotify vê o seu valor de mercado cair 1,8 mil milhões de euros devido ao boicote de Neil Young e ao movimento #CancelSpotify”, enquanto o Público adianta: “Spotify em queda acentuada no mercado após diferendo com Neil Young”, acrescentando logo no lead que “as acções da empresa caíram 6% entre a quarta-feira e a sexta-feira da semana passada”. E diz ainda mais a jornalista Inês Nadais, a autora desta rica peça: o “impacto da saída de Joni Mitchell e de uma possível vaga de cancelamentos de assinaturas pode agravar as perdas do serviço de streaming dominante no segmento áudio”.
Eis um caso clássico do jornalista que olha a asa sem ver a mosca, e só sabe fazer contas de merceeiro: pega numa semana, observa um evento e extrapola logo que um efeito é só e apenas do evento que observou.
É aquele jornalista que, se lhe metessem um Excel com o número absoluto de padres e ladrões num vasto conjunto de cidades, concluiria logo serem os padres atreitos a quadrilhas, porquanto nas cidades de maiores dimensões havia, em número, mais padres e também mais ladrões do que em cidades pequenas.
O absurdo deste tipo de notícias manipuladoras – perfeitas, vergonhosas e intencionalmente manipuladoras – deveriam ser o opróbrio para qualquer jornalista decente. Ou, pelo menos, à decisão voluntária ou obrigatória de não voltar a escrever sobre aquilo de que pouco ou nada sabe, de sorte a evitar usar uma nobre profissão para desinformar.
Não sei qual seria a cara da jornalista Inês Nadais – não sei mesmo, porque nem a conheço, e surge aqui porque assina a peça do Público, mas não está sozinha – se tivesse de justificar o que estará por detrás da cotação de hoje do Spotify no NYSE, que, à hora que escrevo, apresenta uma valorização de 12,03% em relação ao fecho de sexta-feira passada. Comeu a perda de toda a semana da polémica de Neil Young. Qual a explicação, Inês? Há-de haver uma, que envolva obrigatoriamente o Neil Young e Joe Rogan, mesmo se inventada, não é?
E então, Ineses desta vida, quais foram os Neils Youngs ou Joe Rogans que estiveram por detrás da queda de 47% na cotação do Spotify desde 19 de Fevereiro do ano passado? E o que sucedeu para antes disso se ter registado uma subida de 200% a partir do início da pandemia? Foram também os Neils Youngs ou Joe Rogans desta vida? Ou há mais palpites por aí?
Foi mercado, minhas senhoras e meus senhores. Foi apenas mercado.
Tal como foi o mercado que causou as quedas na semana passada da Tesla (-10,3%), do Airbnb (-8,9%), da Intel (-8,3%) ou da Electronic Arts (-5,1%). Nada disto teve a ver com o Neil Young ou com o Joe Rogan, ou com o Elon Musk ou com outra qualquer causa explicada por “cartomantes da pena”.
Na verdade, se os jornalistas, antes de escreverem parvoíces do género da polémica com o Spotify, olhassem fora dos “óculos de uma narrativa”, veriam que a empresa sueca de streaming fez o que andava a fazer desde Outubro do ano passado: cair de forma consistente, ou seja, na sexta-feira registava, nesta período, uma queda acumulada de 40%.
E hoje, como poderia ser amanhã, ou nunca, recuperou. Que teve isto a ver com o Neil Young ou o Joe Rogan? Pode ter sido tudo. Pode ter sido nada. E o jornalismo tem de acabar com essa bengala irresponsável do “pode isto”, ou do “pode aquilo”. Basta!
Como outros países (Inglaterra e Finlândia, além da Suécia, que esteve sempre noutro campeonato), a fria Dinamarca decretou – é mesmo essa a palavra – o fim da pandemia e vai extinguir todas as restrições à vida normal. Está, neste momento, com cerca de 493 mil pessoas classificadas como casos activos de covid-19, o que representa 8,5% da população.
Decidiu “saudar a vida que tinham antes”, porque os óbitos atribuídos ao SARS-CoV-2 são apenas 18 por dia – o que, sabendo-se serem os seres humanos mortais, constitui um valor normal, talvez mesmo de menor agressividade do que uma gripe comum.
No ano passado, em período homólogo, este país escandinavo – que, durante a pandemia, nem registou qualquer período de particular gravidade –, estava com 26 mortes diárias, quando tinha apenas 0,2% da sua população infectada.
Faz todo o sentido, os dinamarqueses levantarem as restrições. Uma doença que há um ano apresentava uma taxa de letalidade de 1,07% – sempre foi baixa na Dinamarca –, não pode continuar a ser classificada agora como crítica só porque há uma “avalanche de testes positivos”: a taxa de letalidade nos últimos seis meses é de 0,09%.
Nesta fase, parece-me irrelevante discutir – até porque é esgotante – se esta variação extraordinária se deve à menor agressividade da variante dominante (e lembremo-nos que foram identificadas quase 1.800 linhagens do SARS-Cov-2), se à eficácia das vacinas, se à imunidade natural ou se às melhorias no tratamento.
Vou dar de barato que seja a conjugação de todas estas variáveis, e aguardo um veredicto definitivo pela Ciência quanto ao peso mais ou menos determinante de cada uma, quando, daqui a uns anos, os investigadores decidirem mostrar renovada maturidade e independência.
Melhor sim, é recordar, nesta reflexão, que uma das características dos seres humanos, julgo, é a capacidade de raciocinar, de olhar para os factos, interpretar e agir em consonância dentro de uma lógica analítica.
Os dinamarqueses parecem-me mostrar a sua humanidade na decisão de viver a vida – que, infelizmente, acaba em cada indivíduo com a morte, mas que precisa de ser perpetuada, com liberdade e alegria, dentro da sociedade.
Quanto aos portugueses, já tenho algumas dúvidas.
Em Portugal, vivemos tempos distópicos.
No próximo domingo, quando formos votar, tenho dúvidas sobre se o acto eleitoral é para eleger deputados em Marte ou se num país terráqueo democrático e civilizado.
A Doutora Graça Freitas – a senhora que, à frente da Direcção-Geral da Saúde, mais esconde e manipula informação, nada dizendo sobre matérias sensíveis – deu-se ao trabalho de redigir um parecer técnico de nove longas páginas que dariam para rir se não constituíssem um desperdício de dinheiro (que alguém vai ganhar) e um exercício de fomento do pânico.
Vejam como se devem paramentar as equipas de entrega e recolha de voto no domicílio dos eleitores confinados, e sobretudo os delegados dos partidos e membros das mesas de voto:
a) Uma embalagem individual de produto desinfetante de mãos, devidamente legalizada no mercado nacional através de notificação submetida à Direção-Geral da Saúde;
b) Máscaras cirúrgicas ou máscaras FFP2, certificadas e descartáveis;
c) Batas com abertura atrás, de uso único e impermeável, manga comprida, punhos bem ajustados e que cubra toda a roupa.
Pelo que sei, em muitos hospitais, este é o equipamento usado nas unidades de cuidados intensivos de doentes-covid; nas outras alas, recorre-se “apenas” às máscaras FFP2.
Por pouco a DGS não mandava equipar os operacionais do acto eleitoral como Stormtroopers do Star Wars.
Não consta que, nos transportes públicos ou mesmo em restaurantes e outros locais fechados, se andem com tantas alfaias e outros apetrechos como os estabelecidos e enumerados pela DGS para esta autêntica procissão da Santa Igreja do Covidismo em que se transformaram as eleições legislativas.
E isto tudo, eis o paradoxo, numas eleições que teve uma campanha em que os principais partidos políticos nada disseram sobre a pandemia, sobre os impactes da pandemia, sobre a discriminação de cidadãos durante a pandemia, sobre a recuperação do desastre económico e social por via de uma gestão desastrosa da pandemia do ponto de vista da Saúde Pública.
A quase generalidade dos políticos negaram a existência da pandemia, o que mostra, mais uma vez, que somos um pouco diferentes dos dinamarqueses.
Adiante. Vamos ser claros. A pandemia em Portugal, tal como na generalidade da Europa, terminou. Esta já terminou. Achar que pode surgir uma nova variante, um novo vírus, um meteorito, um Armagedão, e achar que se deve manter tudo como nos últimos dois anos, é insano; é loucura absoluta. Não é vida. Antes a morte que tal sorte – e quem o diz é alguém que esteve em situação grave.
Notem: no ano passado, quando então estávamos em pleno pico pandémico – com as mortes atribuídas à covid-19 acima das 200 por dia, e a mortalidade total acima dos 700 óbitos –, as medidas “impostas” pela DGS nem por sombras tinham este espalhafato. Os membros das mesas de voto tinham de usar apenas uma máscara, preferencialmente do tipo cirúrgica, a ser substituída a cada quatro horas. Nada mais, para além do desinfectante.
Estávamos então, em finais de Janeiro de 2021, com uma taxa de letalidade de 1,69% desde o início da pandemia. Agora, nos últimos seis meses, essa taxa desceu para 0,16%.
Existe alguma racionalidade nisto?
Não. Talvez, porque, na verdade, há povos que perderem a capacidade de raciocinar. Como os portugueses.
Graças à postura da Comissão de Acesso aos Documentos Administração (CADA) – pelas más razões que mais adiante se explicará –, no final deste texto, o PÁGINA UM revela uma lista de 162 casos de doentes-covid que desenvolveram miocardites e síndrome inflamatória multissistémica (MISC-C) durante os primeiros 15 meses da pandemia, também para complementar a informação do artigo ontem publicado.
São dados anonimizados, revelando-se somente a idade sexo, o período de internamento (meses da hospitalização e duração em dias), a unidade de saúde, a eventual utilização de cuidados intensivos e o desfecho (alta ou morte). Não são mencionadas outras comorbilidades, subentendendo-se que todos tiveram covid-19. Não existe informação sobre o estado vacinal, sendo certo que, à data do período final da base de dados (Maio de 2021), ainda não estavam vacinadas as pessoas menos de 55 anos.
Esta informação mostra-se essencial para compreender mais um enviesamento e manipulação de dados orquestrada pela Direcção-Geral da Saúde (DGS), porque a ideia que tem transparecido, no caso das miocardites e da MISC-C, é a sua relevante perigosidade para crianças e jovens em caso de infecção por covid-19.
Como ontem se salientou aqui no PÁGINA UM, as prevalências destas afecções são ridiculamente baixas nos menores, estando em linha com aquilo que se sabe quanto ao risco da própria covid-19 em função da idade. Aliás, a pneumonia pneumocócica, sendo rara nestas faixas etárias, chega a ser mais mortífera do que a covid-19.
Não tem sido apenas com esta recente abordagem que o PÁGINA UM se tem destacado. Temos vindo, nas últimas semanas, a divulgar informação fundamental para entender melhor a gestão da pandemia, através de uma base de dados com os internamentos hospitalares a que tivemos sigiloso e exclusivo acesso.
Graças ao PÁGINA UM, pode-se agora confirmar, e até quantificar, para os primeiros 15 meses da pandemia, que uma parte considerável dos doentes-covid – que foram contabilizados pela DGS para as estatísticas dos internados e mesmo dos óbitos – tinha dado entrada nos hospitais por outras causas, e o simples teste positivo permitiu que fossem “usados” para a estratégia de alarmismo.
O PÁGINA UM – e particularmente eu, como seu director – tem uma clara visão sobre esta pandemia: existe, constitui um perigo real – não foi uma “gripezinha” (embora esteja em vias de o ser, face à actual letalidade) –, mas não é uma catástrofe ao nível de uma Gripe Espanhola, e deveria ter sido enquadrado numa estratégia de Saúde Pública que continuasse a olhar para as outras doenças. Além disso, esse perigo é (foi sempre) completamente diferenciado em função da idade, do sexo, das comorbilidades e do próprio hospital.
Nessa medida, a gestão ter assentado em medidas também diferenciadas, o mesmo se aplicando às vacinas – um fármaco cuja aplicação deveria considerar os princípios da precaução e do risco-benefício-incerteza. Desse modo, a vacinação nas idades mais avançada faz todo o sentido; não faz qualquer sentido – do ponto de vista da incerteza e também económico – em adultos jovens, adolescentes e crianças saudáveis, conforme o PÁGINA UM defendeu já. No resto, enfim, há muito negócio, como aliás o PÁGINA UM tem denunciado.
Enfim, mas, na verdade, é sobre a falta de informação e a ausência completa de dados reais que interessa tecer mais algumas considerações, porque foi esse “problema” que contribuiu decididamente para obstaculizar qualquer debate sério durante a pandemia.
A grande culpada, assuma-se, foi a imprensa mainstream que, contribuindo com um comportamento quase generalizado para a trágica auto-destruição de um dos pilares da democracia, não questionou, não incomodou, não investigou, negou informar.
Um dia se fará a História da Imprensa, e estes últimos dois anos dará uma página negra.
O PÁGINA UM nasce, aliás, por via do trabalho vergonhoso da maior parte da imprensa e dos jornalistas.
O PÁGINA UM nasce consciente de estar a enfrentar uma oposição enorme – mesmo, ou sobretudo, interna, da comunicação social –, mas tem consciência que, apesar da sua (ainda) pequenez, deve assumir essa bandeira. Ou esse cálice. Mesmo havendo órgãos de comunicação social que se esforçam para o denegrir, incluindo a Comissão da Carteira Profissional de Jornalista ou o Conselho Deontológico do Sindicato dos Jornalistas.
[Entretanto, nos últimos dias, de repentes, em estilo flic-flac à retaguarda, a comunicação social mainstream a fazer (agora, enfim!) artigos abordando o facto de os internamentos de doentes-covid serem (sempre foram), em grande parte, por outras causas. Que todos se lembrem que o que eles andaram a fazer; e que se saiba aqui que no dia 7 de Janeiro o PÁGINA UM – cujo site está online desde 21 de Dezembro passado – começou a revelar esse (e outros) factos. Foi aqui que se começou.]
O PÁGINA UM nasce também para lutar contra o obscurantismo da Administração Pública; contra a cultura do poder em recusar sistematicamente dar informação, o que numa democracia é algo intolerável.
Por esse motivo, o PÁGINA UM tem sistematicamente apresentado requerimentos atrás de requerimentos a solicitar documentos administrativos, incluindo bases de dados. Se não estiver em erro, estarão já mais de uma dezena de queixas na CADA por inexistência de resposta favorável a informação essencial, tanto de organismos da Administração Pública como de outras entidades, como o Conselho Superior da Magistratura e a Ordem dos Médicos.
Porém, lamentavelmente, a CADA – uma entidade supostamente independente, embora dependa financeiramente da Assembleia da República, do Orçamento do Estado e tenha a esmagadora maioria dos seus membros indicada directa ou indirectamente por partidos políticos – tem uma acção muito limitada. Não apenas porque os seus pareceres continuam, inexplicavelmente, a não ser vinculativos como estes podem vir com meses, meses e mais meses de atraso. A comissão reúne uma vez por mês, e agora por Skype.
Mas, além de tudo isto, ou sobretudo por isto, a CADA tem, por vezes, interpretações que parecem apologistas do obscurantismo, curiosamente quando em causa se encontram documentos “sensíveis” politicamente.
O PÁGINA UM teve, nos últimos tempos, duas “experiências” desse quilate.
A primeira refere-se ao pedido de parecer pela recusa do acesso à base de dados do Sistema Nacional de Vigilância Epidemiológica (SINAVE) – que permitiria, por exemplo, apurar as taxas de letalidade em função do estado vacinal. Neste momento anda o processo a “marinar” na CADA. A queixa foi apresentada no dia 10 de Novembro de 2021, depois da não-resposta da DGS a um requerimento de 22 de Outubro, e a decisão somente verá a luz do dia, na melhor das hipóteses, em 17 de Fevereiro. Se dessa vez for aprovado nesta reunião, temos então um parecer ao fim de 68 longos dias úteis – ou 99 dias corridos. Ou seja, a CADA nem consegue cumprir o prazo da lei que ela rege, e que lhe concede 40 dias para elaborar os pareceres.
A DGS agradece e esfrega as mãos de contente.
Também a esfregar as mãos de contente – e brindando também ao obscurantismo – estará a doutora Graça Freitas por a CADA considerar que não tem o dever de conceder ao PÁGINA UM o acesso à base de dados do Sistema de Informação dos Certificados de Óbito (SICO), que permitiria, entre muitas outras coisas, analisar em concreto os óbitos por covid-19 e as variações das outras doenças como causa da morte em comparação com outros anos.
Apesar dessa base de dados não ser classificada, a CADA considerou, em recente parecer, que um jornalista – que, por sinal, no caso em apreço, até tem formação académica vasta – não pode invocar o seu estatuto de jornalista, que, entre outras funções, realiza investigações. Ou seja, a CADA defende que um jornalista não sabe ou não pode investigar, que não cumpre os pressupostos do artigo 12º da Lei nº 15/2012, que criou o SICO, e que possibilita, sob concordância do director-geral da Saúde, o acesso a essa base de dados para efeitos de “investigação”. E note-se: não está lá sequer escrito “investigação científica”.
Enfim, temos então a CADA a defender, implicitamente, o obscurantismo, o benefício da Administração Pública nada transparente. E, portanto, não mudando a CADA a sua posição – em todo o caso, será feita uma impugnação ao seu parecer, e depois sempre temos um Tribunal Administrativo –, arriscamos a contínua cegueira, a especulação, a desinformação. E ficamos sobretudo na cegueira sobre a eventual manipulação de dados por parte da DGS durante esta pandemia.
Ora, é exactamente por esse motivo, por se saber que a DGS jamais dará informação por sua iniciativa – e a CADA assim não ajuda –, que o PÁGINA UM tem vindo e continuará a divulgar toda a informação sigilosa que conseguir.
Sem qualquer hesitação, sempre que o interesse público o justificar. Por esse mesmo motivo, o PÁGINA UM apresenta um formulário de denúncias, com possibilidade de inserir documentos de forma anónima.
E é por esse motivo, e em conclusão, por mor da (in)acção da CADA – que promove, em matérias mais sensíveis, o obscurantismo –, que o PÁGINA UM divulga agora mais uma lista com dados clínicos, anonimizados, em cumprimento do Regulamento Geral de Protecção de Dados e da deontologia jornalística.
CASOS DE MIOCARDITE E SÍNDROME INFLAMATÓRIA MUSTISSISTÉMICA (MISC-C)
Caso 1 – MISC-C Homem – 1 ano Unidade de Saúde: Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra Período de Internamento: Janeiro 2021 (10 dias) Cuidados Intensivos: SIM Desfecho: ALTA
Caso 2 – MISC-C Homem – 3 anos Unidade de Saúde: Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra Período de Internamento: Março 2021 (3 dias) Cuidados Intensivos: NÃO Desfecho: ALTA
Caso 3 – MISC-C Homem – 3 anos Unidade de Saúde: Centro Hospitalar Universitário de São João (Porto) Período de Internamento: Abril 2021 (7 dias) Cuidados Intensivos: NÃO Desfecho: ALTA
Caso 4 – MISC-C Homem – 3 anos Unidade de Saúde: Centro Hospitalar Universitário de São João (Porto) Período de Internamento: Fevereiro – Março 2021 (11 dias) Cuidados Intensivos: NÃO Desfecho: ALTA
Caso 5 – MISC-C Homem – 5 anos Unidade de Saúde: Centro Hospitalar Universitário de São João (Porto) Período de Internamento: Fevereiro – Março 2021 (19 dias) Cuidados Intensivos: SIM Desfecho: ALTA
Caso 6 – MISC-C Homem – 6 anos Unidade de Saúde: Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central Período de Internamento: Fevereiro 2021 (8 dias) Cuidados Intensivos: NÃO Desfecho: ALTA
Caso 7 – MISC-C Homem – 7 anos Unidade de Saúde: Centro Hospitalar Universitário do Porto Período de Internamento: Dezembro 2020 (15 dias) Cuidados Intensivos: NÃO Desfecho: ALTA
Caso 8 – MISC-C Mulher – 7 anos Unidade de Saúde: Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central Período de Internamento: Fevereiro 2021 (8 dias) Cuidados Intensivos: NÃO Desfecho: ALTA
Caso 9 – MISC-C Mulher – 8 anos Unidade de Saúde: Centro Hospitalar Universitário de São João (Porto) Período de Internamento: Janeiro – Fevereiro 2021 (9 dias) Cuidados Intensivos: NÃO Desfecho: ALTA
Caso 10 – MISC-C Mulher – 8 anos Unidade de Saúde: Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Norte Período de Internamento: Novembro 2020 (16 dias) Cuidados Intensivos: SIM Desfecho: ALTA
Caso 11 – MISC-C Mulher – 8 anos Unidade de Saúde: Centro Hospitalar do Médio Ave Período de Internamento: Fevereiro 2021 (5 dias) Cuidados Intensivos: NÃO Desfecho: ALTA
Caso 12 – Miocardite Mulher – 10 anos Unidade de Saúde: Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central Período de Internamento: Junho 2020 (7 dias) Cuidados Intensivos: SIM Desfecho: ALTA
Caso 13 – Miocardite Homem – 10 anos Unidade de Saúde: Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Norte Período de Internamento: Maio 2020 (10 dias) Cuidados Intensivos: SIM Desfecho: ALTA
Caso 14 – MISC-C Mulher – 10 anos Unidade de Saúde: Centro Hospitalar Universitário de São João (Porto) Período de Internamento: Janeiro – Fevereiro 2021 (12 dias) Cuidados Intensivos: SIM Desfecho: ALTA
Caso 15 – MISC-C Mulher – 11 anos Unidade de Saúde: Centro Hospitalar Universitário de São João (Porto) Período de Internamento: Março 2021 (7 dias) Cuidados Intensivos: NÃO Desfecho: ALTA
Caso 16 – Miocardite e MISC-C Mulher – 12 anos Unidade de Saúde: Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central Período de Internamento: Dezembro 2020 (12 dias) Cuidados Intensivos: SIM Desfecho: ALTA
Caso 17 – Miocardite Homem – 13 anos Unidade de Saúde: Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central Período de Internamento: Abril – Maio 2020 (19 dias) Cuidados Intensivos: SIM Desfecho: ALTA
Caso 18 – MISC-C Homem – 13 anos Unidade de Saúde: Centro Hospitalar Universitário de São João (Porto) Período de Internamento: Janeiro 2021 (17 dias) Cuidados Intensivos: SIM Desfecho: ALTA
Caso 19 – MISC-C Homem – 14 anos Unidade de Saúde: Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Norte Período de Internamento: Novembro 2020 (7 dias) Cuidados Intensivos: SIM Desfecho: ALTA
Caso 20 – MISC-C Mulher – 15 anos Unidade de Saúde: Centro Hospitalar Universitário de São João (Porto) Período de Internamento: Dezembro 2021 (1 dia) Cuidados Intensivos: NÂO Desfecho: ALTA
Caso 21 – MISC-C Mulher – 15 anos Unidade de Saúde: Centro Hospitalar Universitário do Porto Período de Internamento: Dezembro 2021 (6 dias) Cuidados Intensivos: NÃO Desfecho: ALTA
Caso 22 – MISC-C Mulher – 15 anos Unidade de Saúde: Centro Hospitalar Universitário de São João (Porto) Período de Internamento: Março 2021 (10 dias) Cuidados Intensivos: SIM Desfecho: ALTA
Caso 23 – Miocardite e MISC-C Homem – 16 anos Unidade de Saúde: Centro Hospitalar Universitário de São João (Porto) Período de Internamento: Fevereiro 2021 (13 dias) Cuidados Intensivos: SIM Desfecho: ALTA
Caso 24 – MISC-C Homem – 16 anos Unidade de Saúde: Centro Hospitalar Universitário de São João (Porto) Período de Internamento: Março – Abril 2021 (23 dias) Cuidados Intensivos: SIM Desfecho: ALTA
Caso 25 – MISC-C Homem – 16 anos Unidade de Saúde: Hospital da Senhora da Oliveira (Guimarães) Período de Internamento: Março 2021 (0 dias) Cuidados Intensivos: NÃO Desfecho: ALTA
Caso 26 – Miocardite e MISC-C Homem – 17 anos Unidade de Saúde: Centro Hospitalar Universitário de São João (Porto) Período de Internamento: Dezembro 2020 – Janeiro 2021 (10 dias) Cuidados Intensivos: SIM Desfecho: ALTA
Caso 27 – Miocardite Mulher – 18 anos Unidade de Saúde: Centro Hospitalar do Médio Tejo Período de Internamento: Janeiro 2021 (50 dias) Cuidados Intensivos: SIM Desfecho: ALTA
Caso 28 – Miocardite Mulher – 20 anos Unidade de Saúde: Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central Período de Internamento: Novembro – Dezembro 2020 (12 dias) Cuidados Intensivos: NÃO Desfecho: ALTA
Caso 29 – Miocardite Homem – 22 anos Unidade de Saúde: Centro Hospitalar Universitário do Algarve Período de Internamento: Outubro 2020 (20 dias) Cuidados Intensivos: SIM Desfecho: ALTA
Caso 30 – MISC-C Mulher – 22 anos Unidade de Saúde: Centro Hospitalar Tondela-Viseu Período de Internamento: Fevereiro 2021 (11 dias) Cuidados Intensivos: SIM Desfecho: ALTA
Caso 31 – Miocardite Mulher – 23 anos Unidade de Saúde: Hospital do Espírito Santo (Évora) Período de Internamento: Abril 2020 (3 dias) Cuidados Intensivos: NÃO Desfecho: ALTA
Caso 32 – MISC-C Homem – 24 anos Unidade de Saúde: Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa Período de Internamento: Janeiro 2021 (13 dias) Cuidados Intensivos: NÃO Desfecho: ALTA
Caso 33 – Miocardite Homem – 26 anos Unidade de Saúde: Hospital Beatriz Ângelo (Loures) Período de Internamento: Outubro 2020 (6 dias) Cuidados Intensivos: NÃO Desfecho: ALTA
Caso 34 – Miocardite Homem – 31 anos Unidade de Saúde: Hospital Beatriz Ângelo (Loures) Período de Internamento: Janeiro 2021 (13 dias) Cuidados Intensivos: NÃO Desfecho: ALTA
Caso 35 – Miocardite Homem – 31 anos Unidade de Saúde: Hospital Beatriz Ângelo (Loures) Período de Internamento: Novembro 2020 (15 dias) Cuidados Intensivos: NÃO Desfecho: ALTA
Caso 36 – MISC-C Mulher – 34 anos Unidade de Saúde: Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra Período de Internamento: Dezembro 2020 – Janeiro 2021 (13 dias) Cuidados Intensivos: SIM Desfecho: MORTE
Caso 37 – Miocardite Homem – 37 anos Unidade de Saúde: Centro Hospitalar Universitário de São João (Porto) Período de Internamento: Junho – Julho 2020 (45 dias) Cuidados Intensivos: SIM Desfecho: ALTA
Caso 38 – Miocardite Homem – 42 anos Unidade de Saúde: Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Norte Período de Internamento: Junho – Agosto 2020 (72 dias) Cuidados Intensivos: SIM Desfecho: ALTA
Caso 39 – MISC-C Mulher – 42 anos Unidade de Saúde: Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra Período de Internamento: Dezembro 2020 (9 dias) Cuidados Intensivos: NÃO Desfecho: ALTA
Caso 40 – Miocardite Homem – 43 anos Unidade de Saúde: Hospital Beatriz Ângelo (Loures) Período de Internamento: Março 2021 (19 dias) Cuidados Intensivos: NÃO Desfecho: ALTA
Caso 41 – Miocardite Homem – 44 anos Unidade de Saúde: Centro Hospitalar do Oeste Período de Internamento: Fevereiro 2021 (7 dias) Cuidados Intensivos: NÃO Desfecho: ALTA
Caso 42 – Miocardite Homem – 47 anos Unidade de Saúde: Hospital Beatriz Ângelo (Loures) Período de Internamento: Fevereiro – Março 2021 (27 dias) Cuidados Intensivos: NÃO Desfecho: ALTA
Caso 43 – Miocardite Mulher – 47 anos Unidade de Saúde: Centro Hospitalar Universitário do Algarve Período de Internamento: Janeiro – Fevereiro 2021 (11 dias) Cuidados Intensivos: SIM Desfecho: ALTA
Caso 44 – Miocardite Homem – 48 anos Unidade de Saúde: Hospital de Vila Franca de Xira Período de Internamento: Janeiro – Março 2021 (39 dias) Cuidados Intensivos: SIM Desfecho: ALTA
Caso 45 – Miocardite Mulher- 49 anos Unidade de Saúde: Centro Hospitalar do Baixo Vouga Período de Internamento: Abril 2021 (8 dias) Cuidados Intensivos: NÃO Desfecho: ALTA
Caso 46 – MISC-C Homem – 50 anos Unidade de Saúde: Unidade Local de Saúde de Matosinhos Período de Internamento: Dezembro 2020 (9 dias) Cuidados Intensivos: SIM Desfecho: ALTA
Caso 47 – MISC-C Homem – 51 anos Unidade de Saúde: Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra Período de Internamento: Janeiro 2021 (19 dias) Cuidados Intensivos: NÃO Desfecho: MORTE
Caso 48 – MISC-C Homem – 52 anos Unidade de Saúde: Centro Hospitalar de Setúbal Período de Internamento: Novembro – Dezembro 2020 (33 dias) Cuidados Intensivos: SIM Desfecho: ALTA
Caso 49 – Miocardite Homem – 53 anos Unidade de Saúde: Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central Período de Internamento: Dezembro 2020 – Janeiro 2021 (14 dias) Cuidados Intensivos: SIM Desfecho: MORTE
Caso 50 – Miocardite Homem – 54 anos Unidade de Saúde: Centro Hospitalar Universitário da Cova da Beira Período de Internamento: Janeiro – Fevereiro 2021 (21 dias) Cuidados Intensivos: SIM Desfecho: ALTA
Caso 51 – Miocardite Homem – 55 anos Unidade de Saúde: HPDFF Período de Internamento: Janeiro 2021 (8 dias) Cuidados Intensivos: SIM Desfecho: ALTA
Caso 52 – MISC-C Homem – 55 anos Unidade de Saúde: Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra Período de Internamento: Janeiro – Fevereiro 2021 (23 dias) Cuidados Intensivos: SIM Desfecho: MORTE
Caso 53 – MISC-C Homem – 55 anos Unidade de Saúde: Centro Hospitalar Universitário do Porto Período de Internamento: Dezembro 2020 (14 dias) Cuidados Intensivos: SIM Desfecho: MORTE
Caso 54 – MISC-C Mulher – 56 anos Unidade de Saúde: Centro Hospitalar do Médio Tejo Período de Internamento: Novembro – Dezembro 2020 (35 dias) Cuidados Intensivos: SIM Desfecho: ALTA
Caso 55 – Miocardite Homem – 57 anos Unidade de Saúde: Centro Hospitalar Universitário do Algarve Período de Internamento: Julho – Agosto 2020 (12 dias) Cuidados Intensivos: SIM Desfecho: ALTA
Caso 56 – Miocardite Homem – 58 anos Unidade de Saúde: Hospital Beatriz Ângelo (Loures) Período de Internamento: Janeiro – Fevereiro 2020 (12 dias) Cuidados Intensivos: NÃO Desfecho: ALTA
Caso 57 – Miocardite Homem – 58 anos Unidade de Saúde: Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra Período de Internamento: Fevereiro 2021 (6 dias) Cuidados Intensivos: NÃO Desfecho: ALTA
Caso 58 – MISC-C Homem – 60 anos Unidade de Saúde: Centro Hospitalar de Leiria Período de Internamento: Janeiro – Fevereiro 2021 (10 dias) Cuidados Intensivos: NÃO Desfecho: ALTA
Caso 59 – Miocardite e MISC-C Homem – 62 anos Unidade de Saúde: Hospital de Cascais Dr. José de Almeida Período de Internamento: Dezembro 2020 – Janeiro 2021 (24 dias) Cuidados Intensivos: NÃO Desfecho: MORTE
Caso 60 – Miocardite Homem – 62 anos Unidade de Saúde: Centro Hospitalar do Médio Tejo Período de Internamento: Dezembro 2020 – Janeiro 2021 (23 dias) Cuidados Intensivos: SIM Desfecho: MORTE
Caso 61 – Miocardite Homem – 62 anos Unidade de Saúde: Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central Período de Internamento: Dezembro 2020 – Janeiro 2021 (13 dias) Cuidados Intensivos: SIM Desfecho: MORTE
Caso 62 – MISC-C Mulher – 62 anos Unidade de Saúde: Centro Hospitalar Universitário da Cova da Beira Período de Internamento: Janeiro – Março 2021 (46 dias) Cuidados Intensivos: SIM Desfecho: ALTA
Caso 63 – MISC-C Homem – 62 anos Unidade de Saúde: Unidade Local de Saúde do Baixo Alentejo Período de Internamento: Janeiro 2021 (5 dias) Cuidados Intensivos: SIM Desfecho: MORTE
Caso 64 – Miocardite Homem – 63 anos Unidade de Saúde: Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra Período de Internamento: Dezembro 2020 (8 dias) Cuidados Intensivos: NÃO Desfecho: ALTA
Caso 65 – Miocardite Mulher – 64 anos Unidade de Saúde: Hospital Beatriz Ângelo (Loures) Período de Internamento: Novembro – Dezembro 2020 (11 dias) Cuidados Intensivos: SIM Desfecho: ALTA
Caso 66 – Miocardite Homem – 65 anos Unidade de Saúde: Hospital do Espírito Santo (Évora) Período de Internamento: Janeiro 2021 (3 dias) Cuidados Intensivos: SIM Desfecho: MORTE
Caso 67 – MISC-C Homem – 65 anos Unidade de Saúde: Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra Período de Internamento: Fevereiro 2021 (9 dias) Cuidados Intensivos: SIM Desfecho: MORTE
Caso 68 – Miocardite Homem – 66 anos Unidade de Saúde: Unidade Local de Saúde do Alto Minho Período de Internamento: Fevereiro 2021 (5 dias) Cuidados Intensivos: NÃO Desfecho: ALTA
Caso 69 – MISC-C Homem – 66 anos Unidade de Saúde: Hospital de Santo Espírito da Ilha Terceira Período de Internamento: Novembro 2020 – Janeiro 2021 (49 dias) Cuidados Intensivos: SIM Desfecho: MORTE
Caso 70 – Miocardite Homem – 67 anos Unidade de Saúde: Hospital Garcia de Orta (Almada) Período de Internamento: Dezembro 2020 – Janeiro 2021 (26 dias) Cuidados Intensivos: NÃO Desfecho: ALTA
Caso 71 – Miocardite Homem – 67 anos Unidade de Saúde: Hospital Beatriz Ângelo (Loures) Período de Internamento: Janeiro – Fevereiro 2021 (8 dias) Cuidados Intensivos: NÃO Desfecho: ALTA
Caso 72 – MISC-C Homem – 67 anos Unidade de Saúde: Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra Período de Internamento: Fevereiro 2021 (12 dias) Cuidados Intensivos: SIM Desfecho: MORTE
Caso 73 – MISC-C Homem – 67 anos Unidade de Saúde: Centro Hospitalar Universitário do Algarve Período de Internamento: Janeiro 2021 (4 dias) Cuidados Intensivos: SIM Desfecho: MORTE
Caso 74 – MISC-C Homem – 67 anos Unidade de Saúde: Centro Hospitalar Tondela-Viseu Período de Internamento: Novembro – Dezembro 2020 (7 dias) Cuidados Intensivos: NÃO Desfecho: MORTE
Caso 75 – MISC-C Homem – 67 anos Unidade de Saúde: Centro Hospitalar Tondela-Viseu Período de Internamento: Fevereiro – Março 2021 (15 dias) Cuidados Intensivos: SIM Desfecho: MORTE
Caso 76 – MISC-C Mulher – 67 anos Unidade de Saúde: Centro Hospitalar do Baixo Vouga Período de Internamento: Fevereiro 2021 (20 dias) Cuidados Intensivos: NÃO Desfecho: ALTA
Caso 77 – Miocardite Mulher – 68 anos Unidade de Saúde: Centro Hospitalar do Oeste Período de Internamento: Janeiro 2021 (18 dias) Cuidados Intensivos: NÃO Desfecho: ALTA
Caso 78 – MISC-C Mulher – 68 anos Unidade de Saúde: Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro Período de Internamento: Dezembro 2020 (3 dias) Cuidados Intensivos: NÃO Desfecho: MORTE
Caso 79 – MISC-C Homem – 68 anos Unidade de Saúde: Centro Hospitalar Tondela-Viseu Período de Internamento: Janeiro – Fevereiro 2021 (16 dias) Cuidados Intensivos: SIM Desfecho: MORTE
Caso 80 – Miocardite Homem – 69 anos Unidade de Saúde: Hospital Beatriz Ângelo (Loures) Período de Internamento: Janeiro 2021 (12 dias) Cuidados Intensivos: NÃO Desfecho: ALTA
Caso 81 – MISC-C Homem – 69 anos Unidade de Saúde: Centro Hospitalar Universitário do Algarve Período de Internamento: Janeiro 2021 (5 dias) Cuidados Intensivos: SIM Desfecho: MORTE
Caso 82 – MISC-C Homem – 69 anos Unidade de Saúde: Centro Hospitalar Tondela-Viseu Período de Internamento: Fevereiro 2021 (5 dias) Cuidados Intensivos: NÃO Desfecho: MORTE
Caso 83 – Miocardite Homem – 70 anos Unidade de Saúde: Hospital Professor Dr. Fernando Fonseca (Amadora-Sintra) Período de Internamento: Janeiro 2021 (15 dias) Cuidados Intensivos: NÃO Desfecho: MORTE
Caso 84 – Miocardite Mulher – 70 anos Unidade de Saúde: Centro Hospitalar Universitário da Cova da Beira Período de Internamento: Janeiro – Fevereiro 2021 (24 dias) Cuidados Intensivos: SIM Desfecho: ALTA
Caso 85 – MISC-C Homem – 70 anos Unidade de Saúde: Unidade Local de Saúde de Matosinhos Período de Internamento: Outubro – Novembro 2020 (29 dias) Cuidados Intensivos: SIM Desfecho: ALTA
Caso 86 – MISC-C Homem – 70 anos Unidade de Saúde: Unidade Local de Saúde de Matosinhos Período de Internamento: Janeiro – Fevereiro 2021 (15 dias) Cuidados Intensivos: SIM Desfecho: MORTE
Caso 87 – Miocardite Homem – 71 anos Unidade de Saúde: Centro Hospitalar Universitário do Algarve Período de Internamento: Janeiro 2021 (4 dias) Cuidados Intensivos: NÃO Desfecho: ALTA
Caso 88 – MISC-C Homem – 71 anos Unidade de Saúde: Centro Hospitalar do Oeste Período de Internamento: Janeiro – Fevereiro 2021 (30 dias) Cuidados Intensivos: NÃO Desfecho: ALTA
Caso 89 – Miocardite Mulher – 73 anos Unidade de Saúde: Centro Hospitalar do Médio Tejo Período de Internamento: Outubro 2020 (13 dias) Cuidados Intensivos: NÃO Desfecho: ALTA
Caso 90 – Miocardite Homem – 73 anos Unidade de Saúde: Unidade Local de Saúde da Guarda Período de Internamento: Novembro – Dezembro 2020 (37 dias) Cuidados Intensivos: SIM Desfecho: ALTA
Caso 91 – Miocardite Mulher – 73 anos Unidade de Saúde: Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central Período de Internamento: Maio – Junho 2020 (36 dias) Cuidados Intensivos: SIM Desfecho: ALTA
Caso 92 – MISC-C Mulher – 73 anos Unidade de Saúde: Centro Hospitalar de Leiria Período de Internamento: Janeiro – Março 2021 (38 dias) Cuidados Intensivos: NÃO Desfecho: ALTA
Caso 93 – MISC-C Mulher – 73 anos Unidade de Saúde: Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental Período de Internamento: Dezembro 2020 – Janeiro 2021 (48 dias) Cuidados Intensivos: SIM Desfecho: ALTA
Caso 94 – Miocardite Homem – 74 anos Unidade de Saúde: Hospital Beatriz Ângelo (Loures) Período de Internamento: Janeiro 2021 (20 dias) Cuidados Intensivos: NÃO Desfecho: ALTA
Caso 95 – Miocardite Homem – 74 anos Unidade de Saúde: Unidade Local de Saúde de Matosinhos Período de Internamento: Dezembro 2020 – Janeiro 2021 (12 dias) Cuidados Intensivos: NÃO Desfecho: ALTA
Caso 96 – MISC-C Mulher – 74 anos Unidade de Saúde: Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra Período de Internamento: Janeiro 2021 (3 dias) Cuidados Intensivos: SIM Desfecho: MORTE
Caso 97 – Miocardite Homem – 75 anos Unidade de Saúde: Hospital Beatriz Ângelo (Loures) Período de Internamento: Janeiro – Fevereiro 2021 (6 dias) Cuidados Intensivos: NÃO Desfecho: MORTE
Caso 98 – Miocardite Homem – 75 anos Unidade de Saúde: Centro Hospitalar Universitário de São João (Porto) Período de Internamento: Dezembro 2020 – Fevereiro 2021 (50 dias) Cuidados Intensivos: SIM Desfecho: ALTA
Caso 99 – Miocardite Mulher – 75 anos Unidade de Saúde: Centro Hospitalar Universitário do Algarve Período de Internamento: Janeiro – Fevereiro 2021 (15 dias) Cuidados Intensivos: NÃO Desfecho: ALTA
Caso 100 – MISC-C Mulher – 75 anos Unidade de Saúde: Centro Hospitalar de Leiria Período de Internamento: Janeiro – Fevereiro 2021 (5 dias) Cuidados Intensivos: NÃO Desfecho: ALTA
Caso 101 – Miocardite Mulher – 77 anos Unidade de Saúde: Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental Período de Internamento: Janeiro – Fevereiro 2021 (16 dias) Cuidados Intensivos: NÃO Desfecho: MORTE
Caso 102 – Miocardite N/A – 77 anos Unidade de Saúde: Unidade Local de Saúde do Alto Minho Período de Internamento: Abril 2020 (16 dias) Cuidados Intensivos: NÃO Desfecho: ALTA
Caso 103 – Miocardite Mulher – 77 anos Unidade de Saúde: Hospital Beatriz Ângelo (Loures) Período de Internamento: Maio – Junho 2020 (13 dias) Cuidados Intensivos: NÃO Desfecho: ALTA
Caso 104 – Miocardite Mulher – 77 anos Unidade de Saúde: Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central Período de Internamento: Novembro – Dezembro 2020 (9 dias) Cuidados Intensivos: SIM Desfecho: MORTE
Caso 105 – Miocardite Homem – 77 anos Unidade de Saúde: Hospital Beatriz Ângelo (Loures) Período de Internamento: Janeiro – Fevereiro 2021 (9 dias) Cuidados Intensivos: NÃO Desfecho: ALTA
Caso 106 – Miocardite Mulher – 77 anos Unidade de Saúde: Centro Hospitalar Póvoa de Varzim-Vila do Conde Período de Internamento: Novembro 2020 (7 dias) Cuidados Intensivos: NÃO Desfecho: MORTE
Caso 107 – MISC-C Mulher – 77 anos Unidade de Saúde: Centro Hospitalar Universitário do Algarve Período de Internamento: Janeiro 2021 (2 dias) Cuidados Intensivos: NÃO Desfecho: MORTE
Caso 108 – MISC-C Homem – 77 anos Unidade de Saúde: Unidade Local de Saúde de Matosinhos Período de Internamento: Abril 2021 (2 dias) Cuidados Intensivos: SIM Desfecho: MORTE
Caso 109 – MISC-C Homem – 77 anos Unidade de Saúde: Hospital de Santo Espírito da Ilha Terceira Período de Internamento: Novembro 2020 – Janeiro 2021 (61 dias) Cuidados Intensivos: SIM Desfecho: MORTE
Caso 110 – MISC-C Mulher – 77 anos Unidade de Saúde: Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro Período de Internamento: Dezembro 2020 (3 dias) Cuidados Intensivos: NÃO Desfecho: MORTE
Caso 111 – Miocardite Homem – 78 anos Unidade de Saúde: Hospital de Vila Franca de Xira Período de Internamento: Fevereiro 2021 (0 dias) Cuidados Intensivos: NÃO Desfecho: ALTA
Caso 112 – Miocardite Homem – 78 anos Unidade de Saúde: Centro Hospitalar Universitário do Algarve Período de Internamento: Dezembro 2020 (11 dias) Cuidados Intensivos: NÃO Desfecho: ALTA
Caso 113 – MISC-C Mulher – 78 anos Unidade de Saúde: Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro Período de Internamento: Janeiro 2021 (6 dias) Cuidados Intensivos: NÃO Desfecho: MORTE
Caso 114 – MISC-C Homem – 78 anos Unidade de Saúde: Centro Hospitalar Tondela-Viseu Período de Internamento: Dezembro 2020 (22 dias) Cuidados Intensivos: SIM Desfecho: MORTE
Caso 115 – Miocardite Homem – 79 anos Unidade de Saúde: Centro Hospitalar do Médio Tejo Período de Internamento: Janeiro – Fevereiro 2021 (13 dias) Cuidados Intensivos: NÃO Desfecho: MORTE
Caso 116 – Miocardite Homem – 79 anos Unidade de Saúde: Centro Hospitalar Universitário do Algarve Período de Internamento: Dezembro 2020 – Janeiro 2021 (17 dias) Cuidados Intensivos: NÃO Desfecho: ALTA
Caso 117 – Miocardite Homem – 79 anos Unidade de Saúde: Centro Hospitalar do Baixo Vouga Período de Internamento: Março 2020 (5 dias) Cuidados Intensivos: NÃO Desfecho: MORTE
Caso 118 – Miocardite Homem – 79 anos Unidade de Saúde: Hospital de Vila Franca de Xira Período de Internamento: Fevereiro 2021 (1 dia) Cuidados Intensivos: NÃO Desfecho: MORTE
Caso 119 – Miocardite Homem – 79 anos Unidade de Saúde: Unidade Local de Saúde do Norte Alentejano Período de Internamento: Abril – Maio 2020 (6 dias) Cuidados Intensivos: NÃO Desfecho: ALTA
Caso 120 – Miocardite Homem – 79 anos Unidade de Saúde: Hospital Beatriz Ângelo (Loures) Período de Internamento: Janeiro – Fevereiro 2021 (11 dias) Cuidados Intensivos: NÃO Desfecho: ALTA
Caso 121 – MISC-C Mulher – 79 anos Unidade de Saúde: Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra Período de Internamento: Janeiro – Fevereiro 2021 (23 dias) Cuidados Intensivos: NÃO Desfecho: ALTA
Caso 122 – MISC-C Mulher – 80 anos Unidade de Saúde: Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental Período de Internamento: Janeiro – Fevereiro 2021 (28 dias) Cuidados Intensivos: SIM Desfecho: ALTA
Caso 123 – Miocardite Homem – 81 anos Unidade de Saúde: Hospital Garcia de Orta (Almada) Período de Internamento: Novembro 2020 (3 dias) Cuidados Intensivos: NÃO Desfecho: MORTE
Caso 124 – Miocardite Mulher – 81 anos Unidade de Saúde: Centro Hospitalar Universitário do Algarve Período de Internamento: Janeiro 2021 (4 dias) Cuidados Intensivos: NÃO Desfecho: MORTE
Caso 125 – Miocardite Mulher – 81 anos Unidade de Saúde: Centro Hospitalar Universitário do Algarve Período de Internamento: Janeiro – Fevereiro 2021 (dias) Cuidados Intensivos: NÃO Desfecho: MORTE
Caso 126 – MISC-C Homem – 81 anos Unidade de Saúde: Unidade Local de Saúde de Matosinhos Período de Internamento: Fevereiro 2021 (6 dias) Cuidados Intensivos: NÃO Desfecho: ALTA
Caso 127 – MISC-C Homem – 81 anos Unidade de Saúde: Centro Hospitalar Tondela-Viseu Período de Internamento: Dezembro 2020 – Janeiro 2021 (9 dias) Cuidados Intensivos: SIM Desfecho: MORTE
Caso 128 – Miocardite Homem – 82 anos Unidade de Saúde: Unidade Local de Saúde de Matosinhos Período de Internamento: Novembro – Dezembro 2020 (13 dias) Cuidados Intensivos: NÃO Desfecho: MORTE
Caso 129 – MISC-C Mulher – 82 anos Unidade de Saúde: Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro Período de Internamento: Dezembro 2020 (11 dias) Cuidados Intensivos: NÃO Desfecho: MORTE
Caso 130 – MISC-C Mulher – 82 anos Unidade de Saúde: Centro Hospitalar do Baixo Vouga Período de Internamento: Março 2021 (12 dias) Cuidados Intensivos: NÃO Desfecho: MORTE
Caso 131 – MISC-C Mulher – 82 anos Unidade de Saúde: Centro Hospitalar Universitário da Cova da Beira Período de Internamento: Janeiro – Fevereiro 2021 (18 dias) Cuidados Intensivos: NÃO Desfecho: ALTA
Caso 132 – Miocardite Homem – 83 anos Unidade de Saúde: Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra Período de Internamento: Fevereiro 2021 (16 dias) Cuidados Intensivos: NÃO Desfecho: MORTE
Caso 133 – MISC-C Homem – 83 anos Unidade de Saúde: Centro Hospitalar Universitário da Cova da Beira Período de Internamento: Novembro – Dezembro 2020 (17 dias) Cuidados Intensivos: NÃO Desfecho: MORTE
Caso 134 – MISC-C Mulher – 83 anos Unidade de Saúde: Centro Hospitalar Universitário do Algarve Período de Internamento: Dezembro 2020 – Fevereiro 2021 (46 dias) Cuidados Intensivos: NÃO Desfecho: ALTA
Caso 135 – MISC-C Mulher – 84 anos Unidade de Saúde: Centro Hospitalar Universitário do Algarve Período de Internamento: Janeiro – Março 2021 (54 dias) Cuidados Intensivos: NÃO Desfecho: ALTA
Caso 136 – Miocardite Homem – 85 anos Unidade de Saúde: Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Norte Período de Internamento: Março 2020 (1 dia) Cuidados Intensivos: SIM Desfecho: MORTE
Caso 137 – Miocardite Homem – 86 anos Unidade de Saúde: Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra Período de Internamento: Dezembro 2020 (14 dias) Cuidados Intensivos: NÃO Desfecho: ALTA
Caso 138 – MISC-C Homem – 86 anos Unidade de Saúde: Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro Período de Internamento: Dezembro 2020 (2 dias) Cuidados Intensivos: NÃO Desfecho: MORTE
Caso 139 – Miocardite Homem – 88 anos Unidade de Saúde: Centro Hospitalar do Baixo Vouga Período de Internamento: Março – Abril 2021 (10 dias) Cuidados Intensivos: NÃO Desfecho: ALTA
Caso 140 – MISC-C Mulher – 88 anos Unidade de Saúde: Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro Período de Internamento: Novembro 2020 – Fevereiro 2021 (69 dias) Cuidados Intensivos: NÃO Desfecho: MORTE
Caso 141 – MISC-C Mulher – 88 anos Unidade de Saúde: Centro Hospitalar Universitário da Cova da Beira Período de Internamento: Dezembro 2020 (4 dias) Cuidados Intensivos: NÃO Desfecho: MORTE
Caso 142 – Miocardite Homem – 89 anos Unidade de Saúde: Centro Hospitalar Póvoa de Varzim-Vila do Conde Período de Internamento: Dezembro 2020 – Janeiro 2021 (15 dias) Cuidados Intensivos: NÃO Desfecho: MORTE
Caso 143 – Miocardite Mulher – 89 anos Unidade de Saúde: Centro Hospitalar Universitário do Algarve Período de Internamento: Dezembro 2020 (10 dias) Cuidados Intensivos: NÃO Desfecho: ALTA
Caso 144 – MISC-C Mulher – 89 anos Unidade de Saúde: Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro Período de Internamento: Dezembro 2020 (7 dias) Cuidados Intensivos: NÃO Desfecho: MORTE
Caso 145 – MISC-C Homem – 89 anos Unidade de Saúde: Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro Período de Internamento: Novembro – Dezembro 2020 (19 dias) Cuidados Intensivos: NÃO Desfecho: MORTE
Caso 146 – Miocardite Mulher – 90 anos Unidade de Saúde: Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central Período de Internamento: Fevereiro 2021 (1 dia) Cuidados Intensivos: NÃO Desfecho: MORTE
Caso 147 – MISC-C Mulher – 90 anos Unidade de Saúde: Centro Hospitalar Tondela-Viseu Período de Internamento: Outubro – Novembro 2020 (26 dias) Cuidados Intensivos: NÃO Desfecho: MORTE
Caso 148 – MISC-C Mulher – 90 anos Unidade de Saúde: Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro Período de Internamento: Dezembro 2020 (1 dia) Cuidados Intensivos: NÃO Desfecho: MORTE
Caso 149 – Miocardite Mulher – 91 anos Unidade de Saúde: Unidade Local de Saúde de Matosinhos Período de Internamento: Abril 2020 (5 dias) Cuidados Intensivos: NÃO Desfecho: MORTE
Caso 150 – MISC-C Mulher – 91 anos Unidade de Saúde: Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro Período de Internamento: Dezembro 2020 (13 dias) Cuidados Intensivos: NÃO Desfecho: MORTE
Caso 151 – MISC-C Mulher – 92 anos Unidade de Saúde: Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro Período de Internamento: Janeiro 2021 (5 dias) Cuidados Intensivos: NÃO Desfecho: ALTA
Caso 152 – Miocardite Mulher – 93 anos Unidade de Saúde: Centro Hospitalar do Médio Tejo Período de Internamento: Agosto 2020 (4 dias) Cuidados Intensivos: NÃO Desfecho: MORTE
Caso 153 – Miocardite Mulher – 93 anos (99 dias) Unidade de Saúde: Hospital Beatriz Ângelo (Loures) Período de Internamento: Março – Junho 2020 ( Cuidados Intensivos: NÃO Desfecho: ALTA
Caso 154 – Miocardite Mulher – 93 anos Unidade de Saúde: Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central Período de Internamento: Dezembro 2020 (13 dias) Cuidados Intensivos: NÃO Desfecho: ALTA
Caso 155 – MISC-C Homem – 93 anos Unidade de Saúde: Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro Período de Internamento: Dezembro 2020 (18 dias) Cuidados Intensivos: NÃO Desfecho: MORTE
Caso 156 – Miocardite Mulher – 94 anos Unidade de Saúde: Unidade Local de Saúde de Matosinhos Período de Internamento: Janeiro – Fevereiro 2021 (11 dias) Cuidados Intensivos: NÃO Desfecho: ALTA
Caso 157 – MISC-C Mulher – 94 anos Unidade de Saúde: Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro Período de Internamento: Janeiro 2021 (6 dias) Cuidados Intensivos: NÃO Desfecho: MORTE
Caso 158 – Miocardite Homem – 95 anos Unidade de Saúde: Unidade Local de Saúde de Castelo Branco Período de Internamento: Janeiro 2021 (4 dias) Cuidados Intensivos: NÃO Desfecho: MORTE
Caso 159 – MISC-C Homem – 95 anos Unidade de Saúde: Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro Período de Internamento: Dezembro 2020 (5 dias) Cuidados Intensivos: NÃO Desfecho: MORTE
Caso 160 – Miocardite Homem – 97 anos Unidade de Saúde: Centro Hospitalar Universitário do Algarve Período de Internamento: Janeiro – Fevereiro 2021 (9 dias) Cuidados Intensivos: NÃO Desfecho: MORTE
Caso 161 – MISC-C Homem – 98 anos Unidade de Saúde: Centro Hospitalar Tondela-Viseu Período de Internamento: Janeiro 2021 (12 dias) Cuidados Intensivos: NÃO Desfecho: MORTE
Caso 162 – MISC-C Homem – 99 anos Unidade de Saúde: Hospital de Braga Período de Internamento: Dezembro 2020 (7 dias) Cuidados Intensivos: NÃO Desfecho: MORTE
Comecemos com um pouco de História: a Ordem dos Médicos, criada em 1938, é uma associação pública profissional. Chama-se Ordem, mas é uma associação: aliás, herdeira da Associação de Médicos Portugueses, fundada em 1898. Uma associação defende os seus sócios, em primeiro lugar, mesmo que até seja filantrópica, ou mesmo que os seus sócios tenham feito sim o Juramento de Hipócrates, e não estejam apenas a fazer o favor de nos salvarem a vida. Há muitas profissões, aliás, que nos salvam a vida.
Por vantagens mútuas, o Estado foi concedendo a esta associação diversos direitos especiais – que passam, de forma sucinta, por regular o exercício da profissão dos médicos, quer no seu reconhecimento e formação quer na sua disciplina e deontologia. Porém, esses direitos trouxeram-lhe também deveres perante a sociedade: a Ordem dos Médicos é uma pessoa colectiva de direito público, e sendo assim, é escrutável pelos cidadãos. Pelos jornalistas. A sua acção pode e deve ser questionada, inquirida, analisada, criticada. São os “males” da democracia. E pode também, e deve, ser elogiada, quando é merecedora.
Miguel Guimarães, bastonário da Ordem dos Médicos.
Não está nem nunca estará em causa – e muito menos num país civilizado e com um sistema democrático – o reconhecimento do papel fundamental dos médicos – e da sua Ordem – no bem-estar da sociedade, na melhoria da qualidade de vida, no aumento da longevidade.
Podia aqui enumerar rácios e indicadores. Se quiserem, aconselho, a título de exemplo, a leitura de um artigo do PÁGINA UM sobre a evolução de indicadores de saúde de bebés, crianças e jovens ao longo das últimas décadas. Os médicos tiveram uma quota parte fundamental nestas melhorias.
Porém, não devemos confundir a Estrada da Beira com a beira da estrada.
Há médicos extraordinários, outros bons, alguns sofríveis e uns poucos maus. Todos se podem encontrar, embora em proporções bem distintas: aqueles que, miraculosamente, salvam vidas, e aqueloutros que, por vezes, de forma desastrada, acidental ou negligente (espero que nenhum por intencionalidade), deixam morrer ou causam danos desnecessários.
Estamos fartos de saber isso. Num curto espaço de tempo podemos assistir a desgraças e a milagres perpetrados por médicos. Eu que o diga. Há uns meses, um médico do Hospital de São José – que ainda, enfim, não consegui que o Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central o identificasse voluntariamente (embora eu até lhe tenha feito chegar um dos meus romances, de oferta, para o animar) – cometeu uma argolada, de má sorte que estive cinco dias com um fio-guia do cateter enrodilhado no coração. A probabilidade daquilo me suceder era de 1 em 10.000. Cinco dias depois, o dito fio acabou sacado, de forma miraculosa, sem me abrirem, por um cardiologista de intervenção do Hospital de Santa Marta. Cinco dias entre um erro e um acto extraordinário.
Portanto, não estou aqui, agora, para avaliar nem médicos nem a prática de Medicina. Estou para avaliar pessoas. Comportamentos de cidadãos. Acções de concidadãos. Tenho esse direito como cidadão. Tenho o dever como jornalista.
Nessa perspectiva, posso e devo olhar para o comportamento do senhor José Miguel Ribeiro de Castro Guimarães que, circunstancialmente, é presidente de uma associação pública profissional, de uma pessoa colectiva de direito público, que dá pelo nome de Ordem dos Médicos. Chamam-no bastonário – advém de bastão, o símbolo de antanho empunhado pelo líder de uma confraria.
Página 2 do parecer da CADA destacando as afirmações da Ordem dos Médicos sobre o “comportamento” do director do PÁGINA UM
Como tal, enfim, está ele – o senhor Miguel Guimarães, mais o seu bastão de confrade-mor– e ela – Ordem dos Médicos – sob escrutínio público, e sobretudo da imprensa, em pé de igualdade com um Governo, um Ministério, uma Secretaria de Estado, uma Direcção-Geral, um Instituto Público, uma entidade ou empresa pública, ou uma autarquia.
Sendo assim, imaginemos, um autarca, um presidente de um instituto público, um director-geral, um secretário de Estado, um ministro, um primeiro-ministro escrever à Comissão de Acesso aos Documentos Administrativos (CADA) a acusar um jornalista, que lhe solicita documentos administrativos, de estar, “desde há vários meses, (…) a adotar um comportamento suscetível de integrar a prática de crimes para com a Ordem dos Médicos, o Bastonário (…) e alguns dos médicos seus membros”.
Imaginam? O senhor Miguel Guimarães, sim. Tanto assim, que o escreveu, ou mandou que escrevessem por ele. Acusou um jornalista de ser criminoso. Um jornalismo de ser criminoso.
Ora, vejamos, quais são os crimes – nem sequer alegados – que eu tenho cometido, através do PÁGINA UM, “desde há vários meses”?
Ou será antes o crime eu andar a investigar os donativos recebidos pela Ordem dos Médicos, entre as quais a Merck, e a aplicação de mais de 1,4 milhões em donativos numa campanha (pouco transparente) denominada Todos por Quem Cuida?
Como pode um bastonário da Ordem dos Médicos, comportar-se como um rajá, e ter a ousadia de escrever à própria CADA a garantir que se reserva “o direito de continuar o acesso à documentação” que eu lhe vier a solicitar [e que, aliás, solicitei ainda ontem à noite]?
Como pode um bastonário da Ordem dos Médicos acusar um jornalista de pretender “instrumentalizar a Comissão de Acesso aos Documentos Administrativos para atingir os seus objectivos”? Eu? Eu, que escrevo críticas à CADA por se atrasar nos prazos de elaboração dos pareceres? Eu, que critico o carácter não vinculativo dos pareceres? Eu, que critico algum enviesamento da CADA em matérias mais sensíveis?
Qual será, enfim, o meu crime? O crime de informar? O crime de indagar? O crime de analisar? O crime de criticar? O crime de não ser um pé de microfone? O crime de não ser um jornalista-fofinho?
Eu confesso: seria um criminoso, certamente, como jornalista, se vivesse na China ou na Coreia do Norte, ou em outro qualquer país sem liberdade de imprensa, sem liberdade de investigar e questionar. Aí sim, nesses países, o senhor Miguel Guimarães até se alegraria de ser o meu carrasco.
Aliás, arrisco dizer, ser esse o sonho do senhor Miguel Guimarães: encarcerar-me, silenciar-me. E nem precisa de ser bastonário na China ou na Coreia do Norte. Basta-lhe deixar a nossa democracia apodrecer um bocadinho mais. Falta pouco, senhor doutor: o senhor tem contribuído para isso, “desde há vários meses”.
P.S. Estou em lamentável incumprimento de uma promessa, mesmo não sabendo ele que a fiz. Já passaram sete meses. Tenho mesmo de ir ao Hospital de Santa Marta deixar não um mas talvez todos os meus quatro romances ao Dr. António Fiarresga, o médico que retirou o fio-guia enrodilhado no meu coração.
Existe uma regra no jornalismo, e no próprio Código Deontológico, que prescreve que um jornalista não deve abordar assuntos sobre os quais possui um interesse directo.
Essa regra, convém dizer, é teórica, porque qualquer jornalista tem, em princípio, e se for decente, que pugnar pela promoção ou defesa dos sistemas democráticos, pela paz, pela liberdade de expressão e de auto-determinação, pela justiça, pela equidade, pelo respeito dos seus concidadãos. Logo, como tem ele, em princípio, interesse directo em viver numa sociedade democrática, então a aplicação literal dessa norma implicaria que nunca ele poderia denunciar atropelos à democracia.
Em abono da verdade, um jornalista “apenas” pode e deve defender causas comuns. Ponto. E jamais deve, por isso, de prescindir do seu poder efectivo – ele existe, de facto, e tenho essa experiência, sobretudo dos tempos em que fui jornalista do Expresso ou da Grande Reportagem –, independentemente de ser um agente envolvido ou um mero observador.
Deve, porém, esse assunto que lhe diga respeito estar integrado num interesse colectivo; não pode ser um interesse somente seu, ou do seu “clube”. Deve o jornalista, sim, usar a sua influência e as suas vivências para, relatando de forma objectiva e explicitando o seu interesse também particular, alertar ou denunciar situações que não o afectam apenas a si, mas que atinjam negativamente outros. E até mais os outros.
Envelope registado no dia 20 de Janeiro, contendo elementos clínicos solicitados em Julho do ano passado.
Assim, quando no dia 18 passado escrevi sobre a recusa do Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central (CHULC) em ceder o meu processo clínico integral, eu sabia que não estava somente a representar-me, a denunciar algo sobre o qual tinha um interesse exclusivo.
Estava eu, sim, a acusar um problema frequente: o obscurantismo da Administração Pública.
O obscurantismo, ou falta de transparência do Estado, é, para mim, um dos mais graves sintomas da falta de sentido democrático de um país. E tenho a percepção – diria mesmo a certeza plena – que, se esse mal comigo sucede, sucede a milhares de pessoas. Nesse aspecto, não me considero diferente dos demais concidadãos nem alvo de particular flagelação, embora por vezes pareça.
Com efeito, por exemplo, o facto de o PÁGINA UM ter já apresentado cerca de uma dezena de queixas na Comissão de Acesso aos Documentos Administrativos (CADA) por recusa de informação pública, ou a ausência de respostas da Direcção-Geral da Saúde às inúmeras questões que tenho colocado, não é um problema estritamente pessoal. É sim algo intrínseco, ou até inato, que está na “massa do sangue” de políticos e, sobretudo, de funcionários públicos mais preocupados em servir um Governo, ou um partido, do que servir os seus concidadãos. Esconder, esconder, esconder: mostrar dá trabalho, e por vezes chatice. A divulgação de informação e o escrutínio sempre foram uma chatice, excepto em sistemas não-democráticos, onde essas “excentricidades” não se mostram deveres para as autoridades.
Na verdade, não é o Estado, coitado, que é obscuro, ou que fomenta e vive na penumbra, enquanto ostensivamente deixa os cidadãos na ignorância, até em relação a informação que lhe diz muito respeito, como a saúde. O Estado, ou a máquina do Estado, são pessoas. São funcionários públicos. São servidores públicos. Ou do público. De todos nós.
Devem ser nomeados sempre que recusam executar as suas funções.
Por esse motivo, o meu artigo de opinião do passado dia 18, intitulado “Eu e a covid-19: como sobrevivi e a minha aventura nos meandros burocráticos da obscura negligência”, tinha de ter nomes. Tinha eu a obrigação de dizer aquilo que eu fizera: um pedido no dia 15 de Julho do ano passado, o qual não obtivera resposta cabal do CHULC, e que cerca cinco meses depois, a CADA emitira um parecer instando ao cumprimento do meu pedido. E tinha a obrigação de escrever aquilo que o CHULC fizera: nada ainda, passadas mais de três semanas.
Quase seis meses depois do pedido, mas somente um dia após o meu artigo de opinião, a solicitação acabou classificada como URGENTE.
Mas tinha de nomear uma responsável. A Administração Pública são pessoas, que têm obrigações. Exijamos que as cumpram. Exijamos que as nomeemos se não as cumprirem. Os jornalistas têm esse direito e esse dever, o de denunciar comportamentos contrários à democracia e à gestão da res publica.
Por isso mesmo, como jornalista, eu tinha o direito e o dever de recordar publicamente quem era a responsável máximo do CHULC. Quem era a presidente do Conselho de Administração deste centro hospitalar: a senhora Rosa Matos Zorrinho, que não é uma pessoa qualquer (e mesmo que fosse), porquanto foi presidente da Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo (2016-2017) e do Alentejo (2005-2011), secretária de Estado da Saúde (2017-2018) e é casada com o eurodeputado e ex-dirigente socialista Carlos Zorrinho.
Se pessoas com experiência e responsabilidades políticas como ela não têm, ou não incutem nos funcionários públicos, uma cultura de transparência, o que podemos esperar da democracia no futuro, e mesmo no presente?
Daí o papel fundamental de uma imprensa independente, apenas dependente em prestar serviço público àqueles que a alimentam: os cidadãos. A denúncia é a mais nobre função do jornalismo. O questionamento do poder, também.
Até porque, cumprindo o papel de (bom) denunciante, de (bom) inquisidor, o jornalista independente consegue resultados eficazes.
Deste modo, não sei se este artigo deveria ser assinado pelo jornalista Pedro Almeida Vieira, ou antes pelo paciente e cidadão Pedro Alexandre de Almeida Vieira.
Sei sim que o paciente Pedro Alexandre de Almeida Vieira deveria mesmo agradecer, se não fosse isso um acto algo esquizofrénico, ao jornalista Pedro Almeida Vieira por aquele artigo de opinião, escrito no dia 18 de Janeiro de 2022, que teve rápidos resultados: no dia a seguir, o CHULC classificou a solicitação como URGENTE, e logo a seguir, e em carta registada, enviou os documentos pedidos pelo dito (im)paciente há mais de seis meses.
Uma coincidência, dirão muitos.
Eu direi antes ser este um sinal do nobre poder do jornalismo: fazer aumentar as coincidências.
Não existem 100% de certezas, mas a simples comunicação ao Infarmed de um potencial efeito adverso da vacina da Pfizer da gravidade de uma morte de criança, deveria ter levado já à suspensão da vacinação neste grupo etário.
Não há urgência justificável para se manter um programa vacinal em crianças, ademais sabendo que no grupo dos 5 aos 11 anos ainda não morreu qualquer uma por covid-19. Além disso, em plena fase de “avalanche” de casos positivos (só ontem foram mais 56.426), a peregrina ideia de os netos poderem “proteger” os seus avós já vacinados, ainda faz menos sentido. Na verdade, pelos números de infectados com menos de 20 anos disponibilizados pela Direcção-Geral da Saúde (164.262 casos positivos nos menores de 10 anos; e 236.844 no grupo dos 10 aos 19 anos), estimo que quase 130 mil crianças dos 5 aos 11 anos já tiveram contacto com o vírus desde o início da pandemia. Zero mortes em 130 mil casos. Onde está a urgência?
Após a autópsia da malograda criança, e antes mesmo de qualquer certeza que os exames toxicológicos e anatómicos tragam, há já quatro lições a retirar:
1 – A pergunta retórica e demagógica do vice-almirante Gouveia e Melo – “Uma hora de vida de um idoso é menos importante do que uma hora de vida de um jovem?” – deveria ter tido uma resposta unânime: “Sim”.
“Uma hora de vida de um idoso é menos importante do que uma hora de vida de um jovem?” Sim.
A vida de um jovem, de uma criança, tem um valor incomensuravelmente superior à de um idoso, porque com a sua perda se desmoronam esperanças, sonhos e experiências que os mais velhos tiveram oportunidade de usufruir. A solidariedade intergeracional faz uma sociedade ser civilizada. Aliás, muitos dos problemas ambientais com que nos deparamos (e não são somente as alterações climáticas) advêm da ausência de solidariedade entre gerações, entre os velhos perante os jovens, entre os políticos que decidem em relação ao futuro das crianças que não têm ainda voto na matéria.
Sim: as crianças merecem mais horas de vida do que um idoso.
Notícia do Expresso de 18 de Janeiro de 2022, colocando a “hipótese# de “poder ter sido” um engasgamento a causa da morte da criança
A resposta do vice-almirante foi possível, e elogiada, porque vivemos na era do populismo. E esse populismo enraizou-se porque se coloca tudo numa visão maniqueísta de escolha de um lado ou de outro. Recordo, aliás, uma frase do ex-presidente Ramalho Eanes, por sinal outro militar, no início da pandemia: “Se necessário, [nós, os idosos] oferecemos o ventilador ao homem que tem mulher e filhos”. Parecendo postura heróica, na altura pensei que um país decente não poderia permitir que um idoso tivesse necessidade de oferecer a vida para salvar um jovem; um país decente deveria salvar ambos.
2 – A comunicação social, com excepção do Correio da Manhã (saliente-se), enveredou sempre, em relação ao fatídico caso da criança, por uma tese desculpabilizante do Governo, da Direcção-Geral da Saúde e dos membros da Comissão Técnica de Vacinação contra a Covid-19 (CTVC).
Na verdade, independentemente da causa da morte desta criança ser atribuída à vacina, andaremos sempre sob uma espada de Dâmocles: o programa de vacinação destinada às crianças portuguesas dos 5 aos 11 anos não conseguirá salvar uma vida sequer pelo simples facto de, em quase dois anos, não morreu nenhuma. Por isso, qualquer morte por causa da vacina colocará logo o programa de vacinação numa situação de ser pior a cura do que a doença. E isto é insustentável. Não tem “margem de manobra”, ao contrário do que sucede com os mais idosos, onde a letalidade elevada da covid-19 pode “encaixar” perdas colaterais devidas à vacina.
3 – O trabalho de certos jornalistas da imprensa mainstream mostrou-se, mais uma vez, em todo o seu esplendoroso servilismo. A extraordinária notícia do Expresso de anteontem – elaborada por uma jornalista que não é naif, porque escreve sobre assuntos de Saúde há mais de 20 anos –, sob o título “Engasgamento com comida ou objeto pode ter sido causa da morte de menino de seis anos”, foi um atirar de areia para olhos da opinião pública. Hoje o “pode ter sido” serve para tudo. Teve este artigo, porém, o desejado objectivo de lançar a confusão necessária para que o Governo e, em particular, o Partido Socialista evitassem sequer ter de prestar declarações. Ajudou também uma campanha eleitoral em que a pandemia se mostra tema tabu, como se aquela não se tivesse embutido nas nossas vidas nos últimos dois anos.
Notícia da RTP “desmentindo” posteriormente a notícia do Expresso.
Vamos ser claros, e sem ingenuidades: alguém acredita que, se a tese do engasgamento fosse plausível, os médicos que assistiram a criança teriam sido assim tão lestos a informarem o Infarmed sobre um potencial efeito adverso da vacina? Será que um jornalista com dois dedos de testa não saberá que, ao longo de um ano, já morreram largas dezenas de pessoas, sobretudo idosas, que tinham sido vacinadas, mas cujos óbitos, na sua quase totalidade, facilmente se atribuiu a outras causas (que não as vacinas)?
Agora, mesmo com o desmentido do próprio Hospital de Santa Maria, como só haverá conclusões sobre a causa da morte da malograda criança daqui a um mês, o “serviço” do Expresso foi consumado com sucesso. Parabéns!
4 – Pela postura de certos especialistas, e em particular da Ordem dos Médicos – que apelou para “que se mantenha a serenidade que uma situação destas exige” e que é “necessário aguardar pelas conclusões da equipa forense, nomeadamente pelos resultados da autópsia médico-legal e potenciais exames toxicológicos” –, fica-se com a perfeita noção da dissonância cognitiva dos gestores da pandemia.
Note-se que, no caso das mortes contabilizadas pela pandemia, a Direcção-Geral da Saúde sempre tudo contabilizou: pessoas com ataques cardíacos, AVC, quedas de cama, suicídios, acidentes rodoviários e outras bizarrices, se tivessem um teste positivo as suas mortes foram catalogadas automaticamente, e sem qualquer dúvida, por covid-19. Existe mesmo uma norma que determina que em lares com surtos as mortes sejam sempre classificadas como causadas pelo SARS-CoV-2 até prova em contrária. Como não houve autópsias, nunca essa prova contrária surgiu.
Saliente-se também que, nos casos de miocardites ou da síndrome inflamatória multissistémica – que já existiam antes da pandemia –, os mesmos especialistas não têm dúvidas de estas raras afecções estarem associadas à covid-19 no caso de crianças com teste positivo anterior, mas já colocam reticências sempre que surjam após a toma da vacina.
Estas são as tristes lições que temos de aprender. Se formos todos parvos.
Consta por aí, pelos mentideros – palavra castelhana que significa lugar onde se agrupam pessoas para conversar, mas que aportuguesando passa a ser sítio onde se propagam boatos e mentiras –, que sou negacionista da covid-19. Basicamente – e, nessa querela, jamais interessa dirimir argumentos, porque os epítetos servem para rechaçar o debate –, porque sempre contestei a estratégia de gestão da pandemia; sempre defendi que a gravidade da doença dependia de diversas variáveis – sendo a idade, o sexo (mulheres mais fortes) e certas morbilidades as principais – e que, nessa linha, face às características, “juventude” e limitações das vacinas, os programas de inoculação deveriam depender da necessária ponderação entre precaução, risco, benefício e incerteza.
Em seriedade – que hoje, num mundo maniqueísta, já é palavra vã –, ninguém jamais me poderia acusar de negacionismo. Mas acusaram. E muito menos depois de Junho do ano passado. Mas acusam. E mesmo depois daquilo que estou a escrever, também me acusarão.
Pois bem, que seja.
Talvez seja o meu segredo mais mal guardado – porque nunca neguei nem nunca confirmei, embora ainda há poucos dias falei en passant –, mas é mesmo verdade: já tive covid-19. Não é algo surpreendente: se considerarmos apenas os casos positivos, já foi atingida quase 20% da população portuguesa. Presumo, pelo que foram mostrando algumas estimativas com base em estudos serológicos, que poucos serão hoje os portugueses ainda “virgens”.
Enfim, mas apanhei mesmo: foi no ano passado, em finais de Maio.
Não estava vacinado.
Nessa altura, não tinham ainda chamado as pessoas da minha idade (51 anos).
Não vou ser hipócrita: não ponderava vacinar-me.
Não por negar os benefícios das vacinas em geral, nem por não defender que podem ser uma das “ferramentas” de combate, sobretudo nas populações mais idosas, em função de uma análise risco-benefício.
Para o meu caso em concreto, baseava-me então numa livre escolha de base científica e probabilística, tendo ademais em consideração a impossibilidade de imunidade de grupo, a incerteza sobre efeitos adversos a longo prazo da vacina. Conhecia, além disso, com detalhe, o “perfil” da doença, e não me considerava com comorbilidades relevantes, excepto ser ex-fumador (com sete anos de abstinência) e estar com um pouco de colesterol em excesso (efeitos da sedentarização pandémica).
Como sempre tive acesso a informação relevante, sabia que das cerca de 5.100 pessoas da minha idade que tinham apanhado covid-19, desde o início da pandemia até Maio de 2021, 10% tinham necessitado de internamento (510) – embora em muitos casos por causa de outras maleitas – e 0,6% acabaram por falecer (31).
Não se pense que é valor demasiado elevado: o quociente de mortalidade (por todas as causas) de homens da minha idade é, segundo o Instituto Nacional de Estatística, de quase 0,52%, ou seja, o risco de morte no prazo de um ano é de 1 em 200. Tem de se saber viver com esse risco – e felizes os que vivem sem o conhecer. Se se considerar a população masculina da minha idade (cerca de 70 mil homens), então a taxa de mortalidade por covid-19 afigurava-se bastante reduzida: 31 homens caídos em cerca de 70 mil dá apenas 0,044%.
Enfim, o melhor que se pode fazer, nestes casos, é tentar não estar do lado dos mais vulneráveis – cuidando da saúde o melhor possível sem demasiados pecadilhos – e ter algumas precauções para evitar os azares da vida.
Enfim, mas apanhei com o SARS-CoV-2 antes de ter de tomar a decisão, pelo que o meu desfecho seria, presumo, igual em qualquer dos casos.
Terei, pelo que desconfio, sido infectado em finais de Maio, pois comecei com sintomas em 2 de Junho. Ao dia 4 telefonei para o SNS24, desconfiando da maleita. Porém, como mantive olfacto e paladar, descartaram a possibilidade de ser covid-19. Ben-u-ron para cima. Não passou. Entretanto, era 6 de Junho e já não podia em mim – com dores, alguma tosse e um quadro de alguma confusão –, e veio por fim a confirmação de um caso positivo de amigo próximo, com quem estivera. Novo telefonema para o SNS24, marcação de testes para o dia seguinte. Da Rua de São Lázaro, no centro de testagem, já nem fui a pé para o Hospital de São José.
Só em 7 de Julho, salvo erro, regressei à vida civil, depois de estadia para o Hospital Curry Cabral – onde até escrevi posts sem me recordar como –, regresso ao Hospital de São José, para cuidados especiais, e uma última passagem, já em recuperação, no Hospital dos Capuchos. Só praticamente nesta última unidade de saúde recuperei completa consciência de mim. Dos outros dias, apenas vos posso dizer que fiquei com experiências entre o terrífico e surreal. Não guardo dores nem traumas; pelo contrário. Se tivesse partido, seguia sem dores.
Segundo consta, nos momentos de consciência, entre a lucidez e a loucura, portei-me mal e bem, agradeci e maldisse muita gente que me tratava, fiquei com a plena consciência que quem faz mexer os hospitais são os enfermeiras e enfermeiros, bem como os auxiliares. Médicos vi-os pouco, mesmo sabendo que muitos contribuíram para me salvar.
Salvaram-me todos da covid-19?
Sim, oficialmente, sim. Se tivesse morrido, seria essa a causa do meu certificado de óbito.
Porém, do hospital público teriam, porventura, esquecido de informar a minha família e amigos que, ao 11º dia de internamento (e ao 16º dia de infecção), me descobriram uma pneumonia bacteriana causada por Staphylococcus aureus. Foi infecção nosocomial, mas, não sendo incomum, ainda hoje pergunto porque demoraram tanto tempo a fazer análises a outras tantas coisas para saber a razão do agravamento do meu estado de saúde.
Do hospital público também teriam, porventura, esquecido de informar a minha família e amigos que um médico interno (estagiário), não devidamente supervisionado, se esqueceu de retirar o fio-guia do cateter quando aplicou a técnica de Seldinger, nem notou que não o tinha nos “despojos”, e assim andei – ou deitado estive – com o dito literalmente enrodilhado entre aurículo e ventrículo por meia dúzia de dias, até que um TAC ao coração o detectou, e um excelente médico de intervenção do Hospital de Santa Marta o lá foi buscar sem necessidade de me abrir. Pelo que soube muito mais tarde, fui um dos dois desafortunados em 10.000 pacientes que já ficaram com um fio-guia do cateter a passear-se pelo interior do coração.
Enfim, não estou aqui a escrever para me queixar de erros médicos – que os há, e muitos que os sofrem nem podem escrever já sobre eles –, porque estes, a terem existido no meu caso, não foram suficientes para se sobreporem aos bons procedimentos clínicos ministrados, de sorte que, aqui estou, ainda por cima sem long covid, contrariando as “estatísticas” do Doutor Filipe Froes.
Estou aqui, sim, a queixar-me porque, na verdade, o Estado – na pessoa da presidente do Conselho de Administração do Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central Rosa Matos Zorrinho, que até já foi secretária de Estado da Saúde (2017-2018), e é casada com o eurodeputado socialista – acha que não tem nada que me disponibilizar os meus dados clínicos nem assumir quem e como me foram prestados cuidados médicos em unidades do Serviço Nacional de Saúde.
Faço este relato, porque considero inadmissível esta postura. Diria mesmo criminosa, de ocultação.
E faço esta denúncia porque desconfio ser esta uma prática comum de encobrimento de actos de negligência médica, que funcionam sobretudo se os visados não conhecem os mecanismos de defesa dos seus direitos.
Vamos então relatar como se tem portado o CHULC, e mais a sua principal responsável, em relação à cedência de informação que me pertence por direito.
Fiz um primeiro requerimento à CHULC em 15 de Julho de 2021, solicitando cópia de todos procedimentos médicos com “indicação precisa em termos cronológicos”.
No dia seguinte, o CHULC envia um e-mail para que preencha um formulário, onde me exigem que preencha um formulário em que indique o “destino da informação”. Uma das opções seria “Processo Judicial”. Respondo que não tenho de justificar o motivo para aceder aos meus dados clínicos, de acordo com a Lei do Acesso aos Documentos Administrativos.
Enrolaram. Não me deram os dados requeridos. Apenas a nota de alta, que nada refere em concreto sobre o que se passara durante o internamento.
Apresento queixa à Comissão de Acesso aos Documentos Administrativos em 9 de Agosto.
Por pressão da CADA, o CHULC enviou alguns documentos, mas em linguagem quase sempre codificada, e sem referir pormenores identificativos dos intervenientes do famigerado fio-guia no coração. Mesmo sobre a infecção nosocomial, muito pouco ou quase nada.
Volto a insistir com a CADA, informando que a informação está absolutamente incompleta.
Finalmente, no dia 20 de Dezembro – quase quatro meses e meio depois da minha queixa –, a CADA concedeu o seu parecer sobre o meu caso, referindo que “deverá a entidade requerida [CHULC] facultar a informação solicitada existente que esteja por facultar”, e acrescentando que isso deveria ser comunicado “no prazo de 10 dias”.
Que fez o CHULC e a sua presidente do Conselho de Administração?
Nada! Ainda.
Um país decente, ou não, vê-se pela forma como trata estes “pormenores”.
Seguem-se, em breve, mais capítulos, mas por aqui se entende as razões para a culpa em Portugal morrer tantas vezes solteira.
P.S. Em breve saberão quais foram os motivos para nunca ter usado o certificado digital de recuperado e porque não me vacinei entretanto. Não foi por negacionismo; foi por Ciência.