Etiqueta: Editorial

  • Medina, sinónimo de aldrabice

    Medina, sinónimo de aldrabice


    Em Abril do ano passado, escrevi um editorial no PÁGINA UM intitulado “Medina: o pináculo de um governo de aldrabões”.

    Confesso que sempre me senti estupefacto como uma nulidade do ponto de vista do pensamento político e de acção tinha tanta boa imagem nos media, sustentado à sombra de António Costa. Foi o pior presidente da autarquia de Lisboa nem sequer aproveitando o boom financeiro derivado da actualização do valor patrimonial das casas e do crescente fluxo de turismo e das receitas daí advindas.

    Como ministro das Finanças, sem qualquer política pensada, antes aproveitando-se dos milhões do PRR e de uma inflação galopante que encheu os cofres do Estado com as receitas do IVA. E por fim, inventou os maiores malabarismos financeiros para inventar um superávit, como se tem confirmado agora com uma distribuição de dividendos à má fila de empresas públicas ou com o empurrar de compromissos financeiros para o futuro, de sorte a fazer um brilharete pessoal.

    E neste interim, deixou a máquina administrativa fazer as maiores tropelias na gestão dos dinheiros públicos.

    Pior do que isto tudo, que ele nos fez, é a possibilidade de, hélas, o vermos regressar a um cargo político de relevo.


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  • No PÁGINA UM, “todos” não são oito em 17

    No PÁGINA UM, “todos” não são oito em 17


    Hoje, o Correio da Manhã – pertencente à Medialivre, o grupo de media mais sólido e ambicioso de uma imprensa nacional em estado comatoso – anunciou, em parangonas: “CMTV entrevista todos os cabeças de lista” às eleições europeias do próximo dia 9 de Junho.

    Pensei, por momentos, que a Hora Política do PÁGINA UM – que nas últimas legislativas propõe entrevistar todos os líderes dos 24 partidos inscritos no Tribunal Constitucional, falhando apenas cinco – tinha dado frutos. E que, assim, órgãos de comunicação mainstream corrigiriam uma linha editorial claramente discriminatória. Afinal, o jornalismo tem uma obrigação especial na consolidação da democracia, que não passa apenas por garantir o princípio de “uma pessoa, um voto”. A imprensa deve também garantir a liberdade de expressão e a liberdade de oportunidades, pelo menos numa base de equidade.

    view of stadium interior

    Mas, afinal, desenganei-me rapidamente. A CMTV – e presumo os outros órgãos de comunicação social quer da Medialivre quer dos outros grupos de media – considera que “todos os cabeças de lista” são afinal apenas oito dos 17 que lideram as listas dos partidos e coligações que constam no boletim de voto para o Parlamento Europeu, a saber: Sebastião Bugalho (Aliança Democrática), Marta Temido (PS), Jião Cotrim de Figueiredo (IL), Fidalgo Marques (PAN), Francisco Paupério (Livre), Catarina Martins (BE), João Oliveira (CDU) e António Tânger Corrêa (Chega). São os ‘oito magníficos’; os outros nove não interessam para os media mainstream.

    Sou o primeiro a compreender que não se mostra muito apelativo entrevistar determinados candidatos: o próprio PÁGINA UM constatou isso em muitas das entrevistas da HORA POLÍTICA nas legislativas de Março. Os pequenos partidos não ‘dão’ muitos cliques – mas essa não é a condição principal para se definir uma linha editorial. No jornalismo, há obrigações que devem ser assumidas até para agradecer ao tal “25 de Abril Sempre”. A democracia vale sobretudo por aquilo que se transmite, pelas acções concretas – e a comunicação social não deveria transmitir atitudes de discriminação; não é digno para quem herdou a liberdade de expressão e de informação de um punhado de heróis no longínquo 1974. Ou só conta evocá-los, para descansar consciências, quando, uma vez por ano, se desce a Avenida da Liberdade de cravo na mão, sendo-se hipócrita nos restantes 364 dias do ano? Ou 365, em anos bissesxtos.

    Não ouvir todos, ainda mais em eleições europeias, é mesmo discriminação – e, ainda por cima, por falarmos de comunicação social, significa também manipulação da opinião pública com influência eleitoral, porque condiciona a divulgação de ideias distintas dos partidos tradicionais, daqueles que andam a fazer crescer ideologias populistas.

    Com efeito, nestas eleições europeias já nem se pode aplicar os ‘argumentos’ aduzidos pela imprensa mainstream para as eleições legislativas: beneficiar apenas os partidos com representatividade parlamentar, e meter os restantes tudo ao molho com uma cobertura de campanha minimalista. Afinal, actualmente, no Parlamento Europeu tanto a Iniciativa Liberal como o Chega não possuem representantes – e mesmo o Pessoas-Animais-Natureza (PAN) deixou de ter o seu com desvinculação de em Junho de 2020. Aliás, nas eleições europeias de 2019, o Livre teve apenas 1,83%, ficando mesmo atrás da Aliança (1,86%), e a Iniciativa Liberal teve somente 0,88%, atrás ainda do PPM.PPV/CDC (1,49%) e do Nós, Cidadãos (1,05%).

    Se considerarmos os resultados das últimas eleições legislativas, e sabendo-se que a eleição de um eurodeputado exige em redor de 4,7% dos votos nacionais, apenas parece certo que sejam eleitos representantes no Parlamento Europeu da Aliança Democrática, do Partido Socialista, do Chega, da Iniciativa Liberal e do Bloco de Esquerda, como o PÁGINA UM mostrou em Março passado. Para conseguirem eurodeputados, a CDU, o Livre e o PAN terão de conseguir muito melhor do que nas legislativas. Ou seja, há muitos partidos que, do ponto de vista de uma potencial representatividade no Parlamento Europeu, estão ao mesmo nível da generalidade dos chamados pequenos partidos, onde até se destaca o ADN que se apresenta com a mediática Joana Amaral Dias.

     Ora, numa situação destas, e mesmo que essa tarefa seja hercúlea para o PÁGINA UM – com uma estrutura financeira e de recursos humanos reduzidíssima, com apenas dois jornalistas seniores –, não podemos deixar de encetar a segunda edição da HORA POLÍTICA, propondo apresentar entrevistas a todos – e este “todos” não é a versão do Correio da Manhã – os cabeças de listra dos 17 partidos e coligações a votos em 10 de Março.

    white red and green map

    Os convites estão a ser já endereçados – e contamos divulgar a primeira no dia 21 deste mês, com a derradeira a ser publicada no dia 6 de Junho.

    Este é, confessamos, um esforço em prol da democracia que poderá afectar a nossa produção habitual, mas há coisa que têm de ser feitas pelo PÁGINA UM, quando outros, com mais recursos, as poderiam e deveriam fazer, mas não fazem. Foi essa também uma das razões fundamentais para o nascimento deste projecto jornalístico independente, que depende dos leitores.


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  • Das forças e das fraquezas da imprensa mastodôntica

    Das forças e das fraquezas da imprensa mastodôntica


    A grande força da imprensa sempre esteve nas pessoas que alcança, e com a credibilidade da informação que lhes transmite e as induz a reagir perante um evento. Pode esse evento ser político, e daí que tenha surgido, no século XIX, por Thomas Carlyle, o conceito de Quarto Poder, ou seja, o Jornalismo como entidade próxima do povo, que por ele vigia e controla os outros três poderes: Legislativo, Executivo e Judiciário.

    Em teoria, a grande virtude e vantagem do Quarto Poder – um poder de facto – é a sua independência perante os outros três poderes, que são de jure. Nestas circunstâncias, o Jornalismo só se justifica se for independente – e, por isso, um dos lemas do PÁGINA UM teria de soar a uma lapalissada ridícula se, efectivamente, não vivêssemos tempos de crise de valores na imprensa nacional e internacional.

    man sitting on chair holding newspaper on fire

    Numa contínua fuga para o abismo, onde o próprio regulador se mostra complacente com as maiores tropelias das direcções editoriais e de marketing, o modelo de negócio da endividada e desnorteada imprensa portuguesa transformou meios de comunicação social tradicionalmente assente em jornalismo credível em máquinas de fabricação de branded contents – conteúdos para promoção de marcas, que podem ir até ao marketing político e pessoal. E, nessa linha, mais do que dar notícias favoráveis ou fofinhas – ou incisivas contra os ‘inimigos’ –, o Jornalismo de hoje também se ‘mede’ pelas notícias de que não dá.

    Hoje, com honrosas excepções, não há quase nenhum jornalismo de investigação em Portugal, porque, por inerência, a investigação causa rupturas – e a pouca que há encontra-se enviesadamente direccionada para a dita extrema-direita, eleita em Portugal como o principal perigo para a democracia. Na verdade,se a extrema-direira cresce, mais pela via do populismo, deve-se ao fracasso das políticas dos partidos ditos democráticos. E sobretudo à esquerda.

    Em resultado da pouquíssima investigação rareiam as notícias sobre casos de corrupção. E quando falo de corrupção não estou aqui a referir-me a ‘malas de dinheiro’ – isso já não se faz assim, ou quem faz assim é por ser tolo. Hoje, a corrupção é do jaez da que se revelou no caso das gémeas luso-brasileiras – que, hélas, surgiu de uma das poucas jornalistas de investigação em Portugal com ‘alguma’ liberdade, a Sandra Felgueiras. Quem diz que não há corrupção em Portugal é como garantir que não haveria transgressões do Código da Estrada se não houvesse fiscalização policial. E se não há mais ‘casos’ de corrupção detectados é exactamente por a Imprensa mainstream em Portugal, completamente dependente dos humores financeiros do Estado e do mundo dos negócios, achar agora por bem não inquietar o status quo. E o mal de uma sociedade democrático começa a ruir pelo Quarto Poder.

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    Nos últimos anos, apesar das evidências de corrupção na sociedade política e empresarial, a Imprensa mainstream aceitou os mais deboches antidemocráticos, a começar com as negociatas em redor da pandemia. Os acordos secretos da Comissão Europeia – que se transformou numa entidade antidemocrática e que nos está a impor uma Economia de Guerra – são um ultraje aos princípios que que herdámos dos pais da Comunidade Económica Europeia. A perda de valores em Portugal veio por arrasto: em duas décadas, a Administração Pública ficou completamente obscura, e hoje um jornalista pedir informação ou requerer documentos é visto como uma ofensa.

    Recordem que é na perda de princípios éticos que reside a corrupção e aí cresce – e vejam como o bispo de Leiria veio ‘benzer’ os envolvidos no caso das gémeas luso-brasileiras, argumentando que “cunhas que salvam crianças não fazem mal a ninguém”, como se os quatro milhões de euros que se gastaram num caso absurdo (as crianças estavam em tratamento no Brasil com outro fármaco) não viessem a salvar outras vidas.

    A corrupção de valores é a antecâmara de todas as corrupções. Da simpatia se passa para o favorzinho, do favorzinho se passa para o favorecimento, do favorecimento se passa para a camaradagem, da camaradagem se passa para o compadrio, do compadrio se passa para a compensação, sob a forma de prebendas, sinecuras ou vil metal, sempre a receber a prazo. Quem dá hoje, por estar no poder, recebe amanhã, de quem beneficiou. A Imprensa deve estar atenta para, algures, evitar que os elos para a corrupção se liguem. É essa uma das suas funções primordiais do Jornalismo – a mais nobre. O resto é Comunicação, função nobre, mas que pode ser feita por meros comunicadores.

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    A perda de valores éticos não grassa nem desgraça somente os três Poderes tradicionais – tem vindo a desgraçar o Quarto Poder. Hoje, a corrupção medra, ou tem condições de medrar, quase sem ‘policiamento’ jornalístico. Basta verificar como, com pouquíssimos meios, o PÁGINA UM já revelou um sem-número de casos  suspeitos em contratos públicos. Não há mais jornalistas com capacidade de fazer o mesmo, ou até muito melhor, nem que seja por mais meios e potenciais fontes? Claro que há. E então como é possível que a pouca-vergonha da campanha solidária ‘Todos por Quem Cuida’, sobre os quais ontem recuperámos apresentando mais evidências, tenham um eco nulo na Imprensa mainstream.

    Sou jornalista desde 1995, passei pelo Expresso e pela Grande Reportagem, e por outros periódicos sobretudo até ao final da primeira década deste século. Sei o que é jornalismo de investigação, sei o que são casos suficientemente graves para fazer cair um governante. Aliás, em dois ou três meses, na transição de 2022 para 2023, tendo querido, o Correio da Manhã causou uma ‘razia’ no Governo de António Costa.

    Mas sei sobretudo, porque também já não caminho para novo, que o grau de exigência da Imprensa mainstream se modificou. Os timings, neste momento, são tudo. Há políticos que podem estar nas graças, porque sim; outros ficaram sempre nas desgraças, porque sim. Perdeu-se, repito, em muitos jornalistas a noção daquilo que são os seus deveres. E um deles, como watchdog, é estar atentento aos poderosos; nunca ser amigo, ou cultivar uma amizade, de alguém que está no Poder.

    Close-up of Weak Flames

    Por isso, como jornalista, sei quais deveriam ser, em circunstâncias normais, as implicações de pessoas como Ana Paula Martins, ministra da Saúde, e o agora deputado social-democrata Miguel Guimarães depois das evidências sobre o atropelamento de tantas normas éticas e legais a pretexto de uma suposta campanha de ‘bondade’ numa pandemia onde algo que nunca faltou foi dinheiro.

    Nem quero aqui reflectior sobre a postura de líderes de duas ordens profissionais, como a dos Médicos e dos Farmacêuticos, que se predispuseram a receber mais de 1,3 milhões de euros da indústria farmacêutica para se promoverem como pessoas de bem durante uma desgraça. Mas, por tutatis, eles não receberam apenas dinheiro de farmacêuticas – um dos sectores que, com o beneplácito do Infarmed, mais tem financiado a Imprensa mainstream. A camoanha que eles orquestraram registou casos de evasão fiscal, de contabilidade paralela, de facturas falsas de quase um milhão de euros (entrada de facturas sem saída de dinheiro da Ordem dos Médicos) e ainda centenas de declarações falsas de IPSS, associações e até hospitais públicos para que as farmacêuticas tivessem indevidos benefícios fiscais. Porém, ninguém do Quarto Poder reagiu às notícias do PÁGINA UM. Porquê?

    Bem sei que os directores (e muitos jornalistas) encontrarão argumentos, para descanso das suas consciências, que justifiquem ignorar a investigação do PÁGINA UM – uma investigação que já me obrigou a apresentar (e ganhar) duas intimações no Tribunal Administrativo de Lisboa, mas recebendo em troca ‘censuras’ absurdas de um ‘regulador fantoche’ (ERC), um processo disciplinar da CCPJ (cujos membros já deveriam ter-se demitido por ‘triste figura’) e processos judiciais (em curso), um dos quais do almirante Gouveia e Melo, cujo julgamento anseio para que se revele a verdade.

    Grayscale of a Horse Lying on the Field

    Mas também bem sei que, apesar dos incómodos que estas notícias do PÁGINA UM lhes causam, Ana Paula Martins e Miguel Guimarães estarão confiantes de que a Imprensa mainstream os continuará a proteger, não fazendo eco das suas tropelias passadas. Pedra no assunto. E tudo assim lhes parecerá bem, porque, neste momento, o Quarto Poder em Portugal mostra-se mais pelo que não escreve, pelo que não revela, do que pelo que escreve, pelo que denuncia.

    Os tempos, contudo, são de mudança, mas não muito favoráveis para quem atraiçoou os princípios do Jornalismo. Já nas recentes eleições se confirmou a tendência de perda de influência da Imprensa mainstream; e se esta continuar a ignorar intencionalmente casos de patente corrupção e/ ou perda de valores éticos – e foi sobretudo isso que sucedeu na queda do Governo de António Costa, de má memória (oito anos de estagnação e compadrio) –, se esta continuar a intencionalmente desinvestir na investigação; e se esta continuar a ostracizar projectos de jornalismo independente, bem podem almejar pouco mais do que sobreviver à conta de branded contents e de endividamentos, incluindo ao Estado.

    Continuando assim, como até agora, e pior ainda com soberba, o seu modelo de negócio se finará, porque até os promotores de branded contents se cansarão de dar dinheiro a quem nem sequer lhes dará retorno. E quanto ao Poder, sobre o qual a Imprensa mainstream deixou ser o watchdog ao serviço do povo, também fraco préstimo lhes dará à medida que constarem a perda de influência.

    Por isso, talvez para consolo do PÁGINA UM – e meu também, que cada vez mais desiludido estou com a Imprensa mainstream, que eu julgava ter tido apenas uma ‘má fase’ durante a pandemia –, cada vez mais os canais alternativa de difusão de informação estão a dominar. A Imprensa mainstream está a tornar-se irrelevante. Aliás, nesta medida, basta verificar, por exemplo, o eco que a notícia do PÁGINA UM sobre o caso da ministra da Saúde, ignorada pela totalidade da imprensa nacional, teve na rede social X. Em apenas 24 horas contabiliza mais de 54 mil visualizações. Por exemplo, Expresso – que é o Expresso, que conta com 643.86 seguidores (o PÁGINA UM tem um pouco menos de 10 mil) – não conseguiu em qualquer uma das dezenas de notícias e artigos de opinião de hoje ultrapassar essa fasquia.

    A fraqueza da Imprensa mastodôntica é pensar que a sua força será eterna, faça o que fizer. Não é. E já agora, por favor, quando as falências estiverem iminentes, não sigam o caminho mais fácil: não peçam dinheiro ao Estado, porque esse dinheiro é dos contribuintes, esses que, como leitores, vos abandonaram por fraca qualidade.


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  • Chega, ou quem tem medo de saber a verdade sobre a pandemia?

    Chega, ou quem tem medo de saber a verdade sobre a pandemia?


    Não sei quantas vezes já confessei – começo a concluir ser um lamento – que sou ideologicamente de esquerda, por acreditar na bondade do Estado Social e no papel de um Estado solidário com os desfavorecidos e promotor da igualdade de oportunidades numa lógica distributiva e equitativa. O mercado tem falhas, e aceito a existência de uma entidade ‘suprema’ que nos preste esse serviço a troco de impostos ou da produção de bens.

    Mas também já me vejo, vezes de mais, em demasia, frustrado com uma certa Esquerda que, tendo tido oportunidade de aplicar esses princípios do Estado Social, criou uma rede clientelar, promíscua e corrupta (moral e material), e acha agora, com um despudorado desplante, que os cidadãos são obrigados, agradecidos por cinco décadas de ’25 de Abril’, a continuar a gritar loas à Democracia que se deixou apodrecer, e ameaça que nos tornaremos todos fascistas, xenófobos, estúpidos e burros se olharmos para os apelos e acenos de partidos populistas.

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    Saibamos que o crescimento dos partidos populistas – mais do que um sinal de uma direita verdadeiramente xenófoba (que a há, e deve ser atacada por via legal) – pode advir de uma falsa, ou fátua, luz de esperança que surge perante mentes influenciáveis. Porventura, e permitam o dichote, políticos como Ventura e partidos como o Chega serão uma desilusão, mas hoje tornam-se, em muitos aspectos da vida em sociedade, a nossa única esperança (em castelhano, esperança diz-se ilusión), porque antes deles, tivemos todos os partidos ‘tradicionais’ que nos foram iludindo, e nos acabaram por meter num país de desilusões, e de desiludidos deprimidos.

    No âmbito da pandemia, como cidadão e jornalista, através do PÁGINA UM, tenho procurado, não sozinho mas com pouquíssimo meios – porque a independência em Portugal não granjeia mecenas com milhões para apostar numa imprensa verdadeiramente livre –, confrontar os poderes instalados, o status quo, e abrir brechas em instituições públicas e privadas, denunciando irregularidades, ilegalidades e promiscuidades. Não com escritos populistas, nem com manipulações nem com as famigeradas fake news. Mas com artigos baseados em dados científicos, e sobretudo em pedidos incessantes que, em diversos casos, foi até onde se pode quando a Administração Pública é obscura e defende interesses não-públicos: os tribunais administrativos.

    Valeu-me isso, além de uma corja de haters – que agora até já gastam minutos a usar o ChatGPT para compor supostos enredos de minhas caricaturas –, já três processos em tribunal a aguardar julgamento, dois processos disciplinares na amoral Comissão da Carteira Profissional de Jornalista e umas quatro abjectas deliberações censórias da Entidade Reguladora para a Comunicação Social. Ossos do ofício. Até porque apesar de isto se fazer, ao velho e conhecido método SLAPP, tudo está bem para a a imprensa mainstream, que nada diz – até acho que acha bem, porque não morre de amores pelo PÁGINA UM, por mor das denúncias das suas promiscuidades e comprometimentos bem aceites pela ERC e pela CCPJ, apesar das aparências.

    André Ventura, líder do Chega, anunciou que, com a nova bancada reforçada na Assembleia da República, irá forçar a criação de uma comissão de inquérito à gestão da pandemia em Portugal.

    Este Editorial vem, assim, a propósito de uma minha derradeira esperança (ou ilusão) que deposito – e custa-me imenso admitir – no anúncio de André Ventura e do Chega em lançar, na próxima legislatura, um inquérito parlamentar à gestão da pandemia, tanto do ponto de vista da Saúde Pública como da Economia (um pleonasmo, porque não há Saúde sem meios financeiros). É bom recordar que o Chega já tentara a formação dessa comissão parlamentar no final do ano passado, mas ‘chumbada’ pela generalidade dos partidos (excepção à Iniciativa Liberal, porque, segundo a então maioritária bancada socialista “a sua aprovação apenas contribuirá para minar a credibilidade das instituições parlamentares”, defendendo que o Governo gastou “o dinheiro que foi preciso para salvar vidas”. Também convém recordar – e também não esquecer a ideia obtusa e racista de Ventura em criar uma ‘cerca sanitária’ às comunidades ciganas em Maio de 2020, no início da pandemia – que o Chega assumiu a intenção de criar uma comissão de inquérito, agora reforçada, em Janeiro passado, em plena campanha eleitoral.

    Sinceramente, sobre a verdade na pandemia, não me interessam ideologias – pelo contrário, causam viés –, mas sim as intenções. Quero recordar que a pandemia da covid-19 foi a maior crise sanitária – e não apenas por causa do vírus – e a maior crise social das últimas décadas, que desencadeou uma galopante inflação (se bem que ‘detonando’ a partir sobretudo de 2022). E não pode ser esquecida para que volte tudo a repetir-se, e em pior grau se avançarem as regras do novo Tratado Pandémico, que pretende transferir soberanias para uma obscura Organização Mundial de Saúde (sequestrada por interesses farmacêuticos e fundações ‘cheias de boas intenções’) num sistema similar ao modelo chinês, onde o bem do formigueiro, ditado por uma elite, se sobrepõe sem pestanejar ao direito da formiga.

    Mais do que uma gestão de uma crise sanitária, a pandemia abriu um mundo de oportunidades de dinheiro fácil e sem controlo. A alegada urgência e a especulação alimentada por ‘peritos’ comprometidos permitiu negociatas e promiscuidades – de que, aliás, o PÁGINA UM tem tratado -, um sem-número de atropelos constitucionais às liberdades e garantias, e pior do que tudo isto, criou-se um manto de silêncio, promovido por uma vergonhosa imprensa – prostituída (é esse o termo) aos dinheiros das farmacêuticas (as provas são tantas, porque se faz sem pudor) -, por uma Administração Pública de gestores sem ética (que escondem e manipulam informação, de forma hipócrita) e por uma Justiça com problemas de independência. Depois de se andar a contar ao minuto as mortes supostamente causadas pelo SARS-CoV-2 – nem sequer causando espanto que em Janeiro de 2021 se tivesse atribuído cerca de 40% das mortes totais à covid-19, um evidente exagero face ao histórico da doença –, a ausência de respostas sobre um excesso de mortalidade pós-covid, e a ausência de perguntas da imprensa, é uma vergonha para uma Democracia. Faz lembrar as cheias de 1967 durante o Estado Novo, quando nem se soube ao certo o número de vítimas.

    Graça Freitas, directora-geral da Saúde durante os anos da pandemia, foi o maior obstáculo ao acesso à informação.

    Confesso, e isto depois de dois anos de trabalho com sete intimações nos tribunais administrativos: sinto-me, como cidadão e jornalista sedento de informação e de verdade, cansado de remar, não contra a maré, mas contra uma parede quase inquebrantável – e, por isso, o inquérito parlamentar anunciado pelo Chega parece-me um bálsamo, uma esperança – a minha ilusión.

    Faço esta declaração com um grande pesar (até ideológico), porque, ao longo dos últimos dois anos, eu e o PÁGINA UM – contra ataques soezes e a passividade absoluta e comprometida da generalidade da imprensa mainstream – procurámos exercer, dentro dos direitos e instrumentos de cidadania que uma Democracia nos fornece, uma das funções elementares do Jornalismo: obter informação em bruto sobre a pandemia para a analisar e fazer notícias. Não é para isto que serve a Imprensa?

    Batemos às portas de instituições, sempre fechadas, e mesmo da Justiça – e, até agora, em sete processos de intimação associados directa ou indirectamente com a pandemia, mesmo com supostas vitórias em tribunal, tudo englobado temos apenas uma ‘mão-cheia de (quase) nada’.

    Uma ‘mão-cheia de (quase) nada’ no meio de processos supostamente urgentes, mas que se prolongam por dois anos nos tribunais administrativos, fruto de subterfúgios e mentiras da Administração e perante, em alguns casos, juízes que aparentam estar tecnicamente impreparados sobre o que são bases de dados e sobre a própria aplicação do Regulamento Geral de Protecção de Dados, que hoje constituiu o mais apetecível álibi da Administração Pública para se esconder informações sensíveis.

    Vejam, em baixo, uma pequena resenha daquilo que o PÁGINA UM tem feito – e o muito pouco que tem conseguido, mesmo se gastámos – com o advogado Rui Amores, que tem intervindo em dezenas de requerimentos – e do que tem conseguido. Por isso, o inquérito parlamentar do Chega é, na verdade, de uma importância vital, até para obrigar os restantes partidos a esclarecerem-nos se a verdade, e a sua busca, é coisa de somenos importância numa Democracia plena.

    man and woman sitting on bench facing sea
    Portugal foi um dos poucos países europeus que intencionalmente escondeu informação sobre a efectiva situação dos lares de idosos, ignorando-se quantas pessoas aí morreram de covid-19 e de outras doenças.

    1 – Em 20 de Abril de 2022, o PÁGINA UM intentou uma intimação para acesso ao Portal RAM, uma base de dados sobre reacções adversas de medicamentos gerida pelo Infarmed para aceder à informação sobre as vacinas contra a covid-19 e o antiviral remdesivir. Num rocambolesco processo no Tribunal Administrativo, onde a juíza chegou a recusar aceitar documentos que provavam as mentiras do Infarmed e a anonimização dos dados, o recuso à sentença (saída no dia 8 de Março de 2023), anda a marinar no Tribunal Central Administrativo Sul (TCAS) há mais de um ano. De acordo com o registo da distribuição dos processos, apenas em 26 de Fevereiro passado, o recurso foi distribuído à desembargadora Joana Matos Lopes Costa e Nora. Os processos de intimação são considerados urgentes, mas este caso percorre tribunais administrativos há 23 meses.

    2 – Em 27 de Maio de 2022, o PÁGINA UM interpôs uma intimação contra a Direcção-Geral da Saúde para acesso a duas bases de dados – o Sistema de Informação de Certificados de Óbito (SICO) e o Sistema Nacional de Vigilância Epidemiológica (SINAVE) –, e a diversa informação epidemiológica associada à pandemia, entre as quais incidência e mortalidade nos lares de idosos, taxas de letalidades em função das variantes, infecções nosocomiais em unidades hospitalares, pareceres e actas das reuniões da Comissão Técnica de Vacinação contra a Covid-19. Num processo rocambolesco, a sentença do Tribunal Administrativo de Lisboa indeferiu a generalidade dos pedidos, considerando em alguns casos que a informação tinha sido dada (quando claramente não foi), noutros que a informação detinha demasiados dados nominativos (sem explicar o que é demasiado, quando os dados até são anonimizados), noutros assumiu que os processos estavam ainda em curso. O único pedido deferido foi o acesso às actas da CTVC, mas a DGS assumiu que estas, afinal, não existiam, o que constitui uma ilegalidade de funcionamento. O PÁGINA UM apresentou um recurso da sentença saída em 30 de Setembro de 2022, mas este apenas foi distribuído no TCAS à desembargadora Marta Cação Rodrigues Cavaleira este ano, no passado dia 17 de Janeiro. Se descontarmos o tempo do primeiro pedido do PÁGINA UM, ainda antes do seu nascimento formal em Dezembro de 2021 e mesmo o período de emissão de pareceres da Comissão de Acesso aos Documentos Administrativos, decorreram quase 22 meses a decidir um processo considerado urgente.

    hospital bed near couch
    Portugal possui uma das melhores bases de dados mundiais (o SICO) para apurar as causas de morte, em tempo real, que permitiria identificar rapidamente os desvios e situações anómalas. Apesar de possibilitar a anonimização, o Ministério da Saúde nunca disponibilizou os dados em bruto a entidades independentes para se investigar o excesso de mortalidade em algumas faixas etárias.

    3 – Em 4 de Junho de 2022, o PÁGINA UM solicitou ao Ministério da Saúde acesso a documentos relacionados com a pandemia trocados entre esta entidade e diversas entidades nacionais e internacionais, listadas no requerimento, nomeadamente a Direcção-geral da Saúde, o Infarmed, as Administrações Regionais de Saúde, a Presidência da República, empresas farmacêuticas, a Comissão Europeia e a Agência Europeia do Medicamento. Em suma, pretendia-se analisar os arquivos da pandemia. A intimação foi indeferida, considerando que o pedido era manifestamente excessivo, abusivo e inexequível.

    4 – O processo de intimação sobre a Administração Central do Sistema de Saúde é o caso mais absurdo. Começou após esta entidade ter retirado do Portal da Transparência do SNS a base de dados da morbilidade e mortalidade hospitalar em Agosto de 2022, logo após o PÁGINA UM ter escrito um conjunto de artigos de investigação sobre os internamentos e a gestão das unidades de saúde durante a pandemia. O PÁGINA UM requereu não apenas a reposição dessa base de dados como também o acesso a uma base de dados fundamental para a aferir os internamentos hospitalares: a base de dados dos Grupos de Diagnóstico Homogéneos (GDH) – e teve de recorrer a uma intimação no Tribunal Administrativo de Lisboa em 19 de Agosto de 2022. Em 24 de Novembro desse ano, uma sentença deste tribunal deu razão ao PÁGINA UM. A ACSS recorreu e perdeu no TCAS em acórdão de 4 de Janeiro de 2023. A ACSS voltou a recorrer para o Supremo Tribunal Administrativo, que manteve a decisão favorável ao PÁGINA UM em acórdão de 1 de Junho de 2023. Mesmo assim a ACSS foi procrastinando o acesso alegando a necessidade de anonimizar uma base de dados que não contém, per si, dados nominativos por estarem anonimizados. E tem procurado todos os subterfúgios em sede de execução de sentença (intentada pelo PÁGINA UM em 20 de Julho do ano passado) para evitar o cumprimento de uma sentença e dois acórdãos, suscitando uma infindável argumentário para levar a crer ao tribunal administrativo que pode manipular e mutilar uma base de dados de sorte a torná-la inútil. O mais recente episódio desta ‘novela’ surgiu em finais de Fevereiro deste ano, quando o novo juiz do processo, em substituição da anterior – que subiu para o TCAS – solicitou que o PÁGINA UM o informasse, apesar de estar tudo no processo, se a ACSS tinha cumprido a sentença e os dois acórdãos. Este caso é exemplar da atitude da Administração Pública: uma sentença e dois acórdãos depois, e transcorridos 19 meses, não se cumpre o determinado pelos tribunais, esperando-se uma desistência (por cansaço) ou a decisão de um juiz mais ‘simpático’.

    Marta Temido (ex-ministra da Saúde) e Victor Herdeiro (presidente da Administração Central do Sistema de Saúde, ACSS), terceiro e quarto a contar da esquerda. Não foram apenas companheiros durante três mandatos na Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares; também fizeram um dueto em esconder e manipular informação durante a pandemia. A ACSS, mesmo depois de uma sentença e dois acórdãos desfavoráveis, mantém a recusa em fornecer acesso a uma base de dados anonimizada dos internamentos hospitalares.

    5 – Em 1 de Setembro de 2022, após a recusa do presidente do Instituto Superior Técnico (IST) em ceder os relatórios de previsão sobre a evolução epidemiológica, claramente alarmistas e de cientificidade muito duvidosa, o PÁGINA UM apresentou uma intimação no Tribunal Administrativo de Lisboa. Por sentença de 27 de Janeiro de 2023, a juíza deu razão ao PÁGINA UM, mas em vez de se debruçar sobre todos os relatórios, conforme solicitado, apenas se pronunciou sobre o último relatório do IST, o que suscitou recurso de ambas as partes. O processo apenas subiu para o TCAS em Maio de 2023, mas depois esteve a marinar mais uns meses: apenas foi distribuído ao desembargador Marcelo da Silva Mendonça no passado dia 26 de Fevereiro. Apesar de ser um processo considerado urgente, esta intimação corre nos tribunais administrativos há já mais de 18 meses.

    6 – No último dia do ano de 2022, o PÁGINA UM apresentou uma intimação contra o Ministério da Saúde para acesso à totalidade dos contratos entre a DGS e as farmacêuticas para a compra de vacinas contra a covid-19. Quatro desses contratos encontravam-se inseridos no Portal Base, mas foram retirados depois da intimação do PÁGINA UM por ordens do Ministério da Saúde. No decurso do processo, o Ministério da Saúde, após ter, de forma patente, mentido ao Tribunal Administrativo de Lisboa, acabou por suscitar a eventual incompetência do direito nacional em dirimir esta questão, alegando que os contratos de compra pela DGS se encontram inseridos nos acordos secretos entre a Comissão von der Leyen e as farmacêuticas. A decisão em primeira instância pela juíza do processo ainda não foi tomada mais de 12 meses depois do início, mesmo se as intimações desta natureza são consideradas urgentes.

    7 – Em 18 de Dezembro de 2023, o PÁGINA UM intentou uma intimação contra a Ordem dos Médicos para, entre outros documentos, o acesso a dois pareceres do Colégio de Pediatria da Ordem dos Médicos de Agosto e Outubro de 2021 relacionados com a vacinação contra a covid-19 em menores de idades, que tinham sido ocultados pelo anterior bastonário Miguel Guimarães, eleito agora deputado pelo PSD. Uma sentença de 21 de Fevereiro deste ano determinou que a Ordem dos Médicos teria de facultar o acesso aos pareceres, mas até agora o actual bastonário, Carlos Cortes, não cumpriu a sentença.

    Vejamos se, com o inquérito parlamentar do Chega – e espero que com o apoio da generalidade dos deputados dos diversos quadrantes políticos e ideológicos –, estes impasses informativos se dissolvem, porque será essencial para o apuramento de uma verdade necessária para a Democracia. O silêncio e o encobrimento nunca enobrecem uma Democracia. E se o Chega está mesmo com boas intenções – a intenção de saber a verdade – e não quer ser um mero partido populista (que implode num próximo processo eleitoral), tem aqui um belo teste para a sua renovada bancada. Estejamos atentos, e esperançosos de que não sairemos desiludidos. E atento ao resto das suas políticas, na mesma linha de ‘fiscalização’ que merecem os demais.


    Caso queira fazer um donativo dirigido em exclusivo ao FUNDO JURÍDICO, que tem financiado os processos de intimação do PÁGINA UM nos tribunais administrativos, utilize preferencialmente a plataforma do MIGHTYCAUSE. Se preferir usar outros meios, pode assim recorrer mas agradecíamos um aviso para procedermos ao depósito na plataforma. Se necessitar de esclarecimentos, escreva-nos para geral@paginaum.pt. A gestão das verbas do FUNDO JURÍDICO, ao contrário das verbas destinadas à actividade do jornal (geridas pela Página Um, Lda.), é da minha inteira responsabilidade, de modo a serem consideradas donativos (e não receitas ou rendimentos), o que se mostra mais favorável contabilisticamente para o jornal.  


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  • Sou jornalista, não fiz greve e não tenho a cara de pau do Luís Delgado

    Sou jornalista, não fiz greve e não tenho a cara de pau do Luís Delgado


    Sou sincero. Não fiz greve nem ponderei fazer. Enquanto em simultâneo – como sócio maioritário e gestor de um pequeno órgão de comunicação social, com um mísero capital social de 10.000 euros, mas sem dívidas – escrevia mais um caso de contratações públicas de duvidosa legalidade e de questionável ética, congeminava argumentos para escrever um editorial sobre a razão para não participar na greve, mesmo sendo sindicalizado.

    Tinha uns quatro ou cinco motivos para explanar, mas eis que me enviam um texto de um outro gestor de uma empresa de comunicação social também com um capital social de 10.000 euros que escreveu este texto na revista Visão:

    Hoje estou em greve! Sou jornalista, não no ativo, mas acompanho todos os que vão parar neste dia. E incentivo essa manifestação de vontade, fortemente.

    Não é só o SNS, a Educação ou a Habitação que estão na Constituição. Também está a Comunicação Social. E para essa Carta Fundamental e fundacional ter existido, foi necessário ter uma Imprensa livre, respeitada e segura.

    people having rally in the middle of road

    Esta nova AR [Assembleia da República] e Governo têm o dever e a obrigação de prestar a mais básica atenção a toda a Comunicação Social.

    Era o que faltava preocuparem-se apenas com a RTP, RDP e Lusa. Merecem, sem dúvida, mas são a ínfima parte da Imprensa em Portugal.

    Com a Imprensa em greve, está suspenso um dos pilares fundamentais e independentes da Democracia. Assim não pode ser!

    Este texto é – como já exposto no título deste meu editorial – da autoria de Luís Delgado – um ex-jornalista, que é muitíssimo diferente de se ser “um jornalista, não no ativo” –, o detentor único da Trust in News, a empresa de media com um capital social de 10.000 euros (como a empresa do PÁGINA UM) que almejou comprar 17 títulos à Impresa no início de 2018, num nebuloso contrato que incluiu dinheiros do Novo Banco, a ser então intervencionado por um mecanismo de capitalização com fundos estatais.

    Ora, o “jornalista, não no ativo” Luís Delgado, que hoje fez greve, é um dos algozes da imprensa (e personifica todos), que transformaram a nobre função de watchdog do Jornalismo num servil vassalo do poder e dos interesses económicos e financeiros por força de sucessivos endividamentos e falta de ética e vergonha na cara.

    Photograph of a Vintage Typewriter on Table

    Em Economia há duas máximas: sem um produto de qualidade não há procura; e a falta de ética conduz a práticas de concorrência desleal, que a todos afectará.

    Ora, foi o “jornalista, não no ativo” Luís Delgado, que hoje fez greve por um jornalismo credível e independente, que, com os seus ‘produtos’, agora enxameados de parcerias comerciais promíscuas, foi permitindo, com a conivência do Governo socialista (a ‘festa’ começou desde o início de 2018), uma gestão ruinosa que acumulou sem parança dívidas astronómicas ao Estado, que foi escondendo publicamente, porque nem a Entidade Reguladora para a Comunicação Social as queria conhecer (o regulador está mais preocupado com outras minudências).

    Senão vejamos. A Trust in News devia no final de 2018 cerca de 942 mil euros ao Estado. Um ano depois subia para quase 1,6 milhões; em 2020 pulou para 5,1 milhões de euros; a seguir para 8,2 milhões e em 2022 estava já em 11,4 milhões de euros. O PÁGINA UM foi o primeiro e único jornal a falar deste vergonhoso estado de uma empresa de media, em Julho do ano passado.  

    Nada aconteceu. E o “jornalista, não no ativo” Luís Delgado surge agora a fazer greve e a armar-se em arauto do jornalismo credível e independente. Faltou explicar como gere a independência e a credibilidade da informação em 17 títulos da imprensa portuguesa quando a empresa gestora tem um capital social de 10.000 euros e um passivo total de 27,2 milhões de euros.

    PÁGINA UM revelou em Julho de 2023 que a Trust in News tinha um passivo de 27,2 milhões de euros e dívidas ao Estado de 11,4 milhões de euros, Ministério das Finanças sabia e nunca se pronunciou.

    Quem manda – ou quais são os custos para a Imprensa de qualidade – numa empresa onde o tal “jornalista, não no ativo”, único dono de fachada, controla, afinal, menos de 0,04% dos activos?

    Estamos a brincar?  

    Querem que eu faça greve para satisfazer a pedinchice do tal “jornalista, não no ativo”, Luís Delgado, e contribuir assim para que a “nova AR e Governo” concretizem “o dever e a obrigação de prestar a mais básica atenção a toda a Comunicação Social”? E assim, por tabela, ajudar a falida e vendida Trust in News? Ou a Global Media? Ou grande parte dos ‘mastodontes’ que nunca aceitarão que, em tempos difíceis, auxiliar os maus projectos só prejudicará os bons, porque são eles os maus?

    Saibam que a Lei de Gresham aplica-se também à Imprensa. Por isso, querer salvar empregos a todo o custo na Imprensa será o fim do Jornalismo. A greve dos jornalistas faria todo o sentido, mas apenas se fosse por motivos fundamentais, a começar por expulsar do mercado os lobos que se vestem de cordeiros.


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  • Meio país completamente zangado

    Meio país completamente zangado


    Durante a recente campanha eleitoral, tanto os partidos políticos tradicionais como a legacy media – mais os seus jornalistas e comentadores – tiveram um único objectivo: atacar o Chega anunciando uma suposta ameaça fascizante. O resultado está à vista: André Ventura ‘tripartidarizou’ Portugal, tornando o Chega um partido verdadeiramente nacional, apenas sem representação no círculo de Bragança. Foi aquilo que se costuma dizer, ‘um tiro pela culatra’.

    Era expectável. Na busca insana de diabolizar o Chega, não se avaliaram, portanto, os oito anos de falta de visão política dos sucessivos Governos Costa, que serviram para alimentar uma despudorada rede de gestão de dinheiros públicos, sem controlo nem regras, e que a pandemia apenas ajudou a propagar como um vírus. Hoje, a corrupção, moral e financeira, está encrustada na sociedade, perante um Ministério Público temeroso da sua própria sombra (e de falhar, como falha muitas vezes), perante tribunais vagarosos num ambiente de canceroso corporativismo. Deixar que a denúncia à corrupção (moral e financeira) fosse uma ‘bandeira do Chega’ terá sido um dos maiores erros políticos dos últimos anos dos partidos da oposição. Achar que Costa não se deveria demitir perante a Operação Influencer, porque redundou no crescimento do Chega é defender que o mau cheiro da ‘decomposição’ da democracia se pode resolver com um simples perfume.

    No processo de diabolização do Chega, ao longo da campanha eleitoral, não se avaliaram as perdas de soberania de Portugal como Nação, patente na forma como as políticas e as regras são agora já ditadas por uma União Europeia que foi perdendo os seus princípios, e se transformou num polvo encimado por uma elite não-democrática que distribui entre si as riquezas artificialmente produzidas por um Banco Central. Os portugueses estão hoje como estavam os nossos patrícios na segunda década do século XIX, ou seja, sob um estranho jugo dos ingleses, que, na prática, governavam o país, a pretexto de protecção após as invasões napoleónicas e da ausência do rei D. João VI (então no Brasil). Hoje, não temos um ‘rei’ no outro lado do Atlântico, mas temos burocratas europeus, que nem sequer nos conhecem (nem querem conhecer), conluiados com os nossos governantes num sistema de quase absolutismo.

    Não se avaliaram os sistémicos e duradouros efeitos (económicos, sociais, de saúde, etc.) de uma pandemia – ou melhor dizendo, de uma gestão da pandemia –, onde muitos enriqueceram sem ética nem controlo, e se criou um ambiente de mão-estendida, mesquinha e comezinha, perdendo-se o espírito crítico. Os pequenos escândalos que foram surgindo, uns atrás dos outros, mas ‘apagados’ rapidamente pela imprensa, deu no absurdo de nem sequer termos assistido a uma renovação do PS, e de assistirmos a uma oposição de esquerda fofinha – leia-se Bloco de Esquerda, Livre e PCP – que aparentou sempre estar interessada em não beliscar demasiado o legado desastroso do PS, numa vã esperança de ter sol na eira e chuva no nabal.

    Cada um dos três partidos à esquerda dos socialistas pareceu contrariado em querer mais votos, receosos de retirarem a possibilidade de o PS ser o mais votado, e mais votado do que o PSD (ou AD) e o Chega. Depois de oito anos de Governo PS, secundados por uma ‘esquerda fofinha’, achar que a Esquerda ainda poderia almejar vencer estas eleições é de uma ingenuidade que me surpreende. Livre e Bloco de Esquerda – e menos o PCP – perderam talvez a derradeira hipótese de crescerem para, um dia, serem uma alternativa ao PS. Assumiram em 2024 que somente almejam ser duas muletas (ou mulas) de Governos socialistas.

    Não se avaliaram, enfim, nesta campanha, as políticas de imigração, colocando o tema numa ‘redoma de tabu’, esquecendo que a obrigação de aceitarmos alguém em ‘nossa casa’ desemboca sempre em duas premissas: primeiro, termos os nossos bem tratados (por exemplo, dar médicos de família a TODOS os imigrantes ‘exige’ dar médicos de família a TODOS os portugueses, incluindo os que se vão naturalizando) e tratarmos os que recebemos com dignidade e ajudando-os numa adaptação às nossas regras e costumes. Transformar assuntos sensíveis em dogmas é arranjar lenha para uma fogueira.

    Acredito que a forma como a imprensa tratou a campanha do Chega – que, no seu programa para estas legislativas, de um modo oportunista, ‘eliminou’ quaisquer laivos de xenofobia, tornando-se meramente populista – possa ter refreado um maior crescimento em regiões mais metropolitanas.

    De facto, se analisarmos os resultados eleitorais do Chega – que, na minha opinião, funcionam muito mais como um indicador de insatisfação do que uma opção ideológica –, verificamos que em Lisboa e Porto – e também em Coimbra e Braga –, o partido de André Ventura teve um desempenho abaixo da média nacional. Significa que num ‘ecossistema’ mais urbano, mais dependente do Estado, a insatisfação ainda não atingiu os níveis dos registados no ‘país real’, por via do efeito comunicacional. Mas o Chega tem hoje um horizonte de crescimento impressionante, sobretudo por ser agora um partido de dimensão nacional de forma absoluta, e de não ter ainda ‘conquistado’ a população feminina e os mais idosos.

    E não se duvide: a sua representatividade subirá muito se se continuar nesta absurda diabolização como um perigo para a democracia.

    Não é! Os perigos para a democracia vieram das políticas que nos conduziram a um tal grau de insatisfação que o ‘escape’ se fez sob a forma de voto no Chega. Vieram da contínua insatisfação e desilusão das pessoas, muitas das quais que até votavam na esquerda, quando os ‘amanhãs’ ainda cantavam.

    Estou muito longe de ser eleitor do Chega, e o meu voto neste domingo esteve nos antípodas do partido de André Ventura, embora não tenha votado com convicção, mas mais pela via de ser um ‘mal menor’. Em todo o caso, este resultado mostrou ser – e acrescente, finalmente – um ‘cartão amarelo’ aos partidos tradicionais, sobretudo aos partidos da esquerda ideológica, que de forma incompetente perderam a capacidade de auto-crítica, de renovação de ideias, insistindo e reiterando sempre no ‘perigo do fascismo’ como se não houvesse leis fundamentais e Justiça para aplacar quaisquer derivas.

    Aliás, se coisas próximas do fascismo se viram nos últimos anos foi entre 2020 e 2022 – e não num Governo de André Ventura – com supostas medidas de Saúde Pública, que colidiram (Tribunal Constitucional dixit, embora tarde e a más horas) com direitos, liberdades e garantias.

    Não sou dos que esquecem as multas às pessoas que estavam durante a pandemia a comer sandes no carro.

    Não sou dos que esqueceram os absurdos lockdowns e outras restrições patéticas (até vedaram bancos de jardim!).

    Não sou dos que esqueceram encerramentos de estabelecimentos comerciais ou de actividades por via de nunca justificadas razões de saúde pública.

    Não sou dos que esqueceram como o Estado (leiam-se, pessoas da máquina estatal) lidou com aqueles que apelavam à racionalidade na gestão da pandemia, que se recusavam a vacinar (por, entre outras razões, terem imunidade natural adquirida), apodando-os de negacionistas (isto já não era discriminação?!), vedando-lhes o acesso a locais públicos e impedindo-os até de viajar.

    Não sou daqueles que se esqueceram do obscurantismo de uma Administração Pública (e de um Governo) que manipula informação e esconde documentos, aproveitando-se de um poder judicial complacente.

    Não sou daqueles que se esqueceram das perseguições dos reguladores da imprensa quando um órgão de comunicação social começou a incomodar o status quo de uma imprensa em podridão (ética) e falida, ou a denunciar esquemas (muito) suspeitos.

    Estes anos, sim, pareceram-me muito mais próximos de um regime fascista do que aqueles que poderão vir por um partido como o Chega ser (apenas) o terceiro mais votado.

    Repito: não fui eleitor do Chega – mas compreendo, e mais do que isso: até aceito como justo que mais de 1,1 milhões de portugueses tenham votado no partido de André Ventura. Têm toda a razão para esse voto de protesto, para esse voto de indignação. E, por isso, resta agora saber como evoluiremos a partir daqui: ou os partidos de génese ideológica de esquerda corrigem a sua concepção de Estado Social – exigindo uma gestão criteriosa e transparente dos dinheiros públicos, não ‘sufocando’ a iniciativa privada e as finanças dos cidadãos; ou a insatisfação aumenta e o Chega aumentará, inevitavelmente, a sua influência.

    Mas, se este último for o caminho, nunca se culpe o Chega, nem a sua (quase certa) impreparação para fazer diferente e melhor. Numa derrota, a culpa nunca é do adversário; é nossa.


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  • Da hipocrisia da esquerda

    Da hipocrisia da esquerda


    Já votei Bloco de Esquerda. Não vou votar agora nem sei se aguento votar em qualquer partido da esquerda, mesmo mantendo-me ideologicamente de esquerda. E não vou votar por variadíssimas razões, entre as quais destaco as sucessivas incongruências, os contínuos disparates ideológicos e sobretudo a hipocrisia.

    Esta noite, citada pelo Público, Mariana Mortágua disse num comício que “ser jornalista é uma espécie de teimosia perante todas as adversidades”, assinalando que não só sofrem da “mesma desregulação e precariedade que a economia”, como da “concentração do poder económico”.

    white and black printed paper

    E apontou baterias à “extrema-direita [que] não perde uma oportunidade para intimidar jornalistas”, reforçando que a “extrema-direita odeia o jornalismo livre porque odeia a democracia”.

    Acho muito curioso, para usar um eufemismo, que Mariana Mortágua tenha tecido loas ao “jornalismo livre” e tenha, em simultâneo, recusado conceder uma entrevista ao PÁGINA UM na rubrica HORA POLÍTICA, mesmo conhecendo a jornalista que a iria entrevistar há anos. O Bloco de Esquerda foi um entre apenas cinco partidos faltosos, três dos quais da esquerda (além do Bloco de Esquerda, recusaram Livre e Partido Socialista). Houve 19 partidos que aceitaram o jogo da democraticidade.

    Se há um jornal que melhor encaixa no conceito de imprensa livre, esse é o PÁGINA UM: somos um jornal sem ‘empresários’ por detrás, sem agendas económicoas ou ideológicas escondidas, de acesso livre, contas transparentes, sem dívidas nem publicidade nem parcerias com entes públicos ou privados, e sobrevivendo apenas de donativos dos leitores. Fazemos aquilo que as nossas capacidade financeiras permitem, e preferimos ‘morrer’ a ‘vender-nos’. Mas que faz Mariana Mortágua? Recusa uma entrevista, mas tem tempo para ir a programas de graçolas.

    Recusou Mariana Mortágua uma entrevista ao jornal que nos últimos dois anos apresentou cerca de duas dezenas de intimações no Tribunal Administrativo para aceder a informação escondida deliberadamente por entidades públicas.

    Recusou Mariana Mortágua uma entrevista ao jornal que nos últimos dois anos denunciou as promiscuidades em empresas de media, as falhas ou compadrios na regulação (quando a situação da Global Media explodiu, o PÁGINA UM noticiava sobre o assunto há meses), e não vimos Mariana Mortágua incomodada pelos ataques cerrados da ERC e da CCPJ ao nosso trabalho.

    Recusou Mariana Mortágua uma entrevista ao jornal que nos últimos meses mais casos suspeitos tem revelado de desbaratamento de dinheiros públicos em estranhos contratos.

    Recusou Mariana Mortágua uma entrevista ao único jornal que deu voz, através de uma entrevista, à mulher de Julian Assange, fundador da Wikileaks, que arrisca ser extraditado para os Estados Unidos, sendo uma vítima do mais infame ataque político à liberdade de imprensa e de informação.

    letter wood stamp lot

    Recusou Mariana Mortágua uma entrevista ao único jornal onde os seus colunistas têm uma única condição: liberdade de expressão, e por esse motivo não poucas vezes o ‘amaldiçoado’ Chega foi e é vilipendiado. Mas é um jornal que não coloca o Chega (ou qualquer outro partido fora do arco de governação) como o principal perigo para a democracia – embora já lhe tenha apontado linhas vermelhas que ultrapassaram recentemente -, sendo aliás o contrário: é por os partidos tradicionais terem colocado a democracia em perigo (e vimos todos os atropelos sobre direitos básicos durante a pandemia) que, infelizmente (e digo isto do ponto de vista ideológico), há partidos populistas como o Chega em forte crescimento.

    E estão em crescimento até a esquerda deixar de ser hipócrita. E passar verdadeiramente a defender os princípios que a definem, e não a arranjar bodes expiatórios.  


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  • Três jornalistas, 19 líderes partidários e cinco faltosos: uma lição sobre democraticidade

    Três jornalistas, 19 líderes partidários e cinco faltosos: uma lição sobre democraticidade


    Enquanto o regulador – aka ERC – se entretém, de forma patética – como se pode ver aqui, mais aqui e ainda mais aqui– a fazer de conta que arbitra regras para uma equidade democrática inexistente nesta (como em outras) campanha eleitoral, o PÁGINA UM terminou ontem um projecto editorial de que me orgulharei sempre: propusemos a todos os 24 líderes dos partidos inscritos no Tribunal Constitucional uma entrevista para o HORA POLÍTICA.

    Com uma redação de apenas três jornalistas – mas com o merecido destaque para a jornalista Elisabete Tavares –, o PÁGINA UM entrevistou em podcast e publicou em texto integral um total de 19 líderes partidários, desde o mais novo partido (Nova Direita), publicada no dia 12 de Fevereiro, até ao mais antigo (Partido Comunista Português), ontem publicada.

    selective focus photo of brown and blue hourglass on stones

    Questiono-me sobre a razão pela qual um órgão de comunicação social com apenas três jornalistas, enquanto estes ainda mantinham em curso as demais actividades do jornal (incluindo edição e paginação), fez aquilo que outros, com dezenas ou mesmo centenas de jornalistas – como a RTP ou a Lusa, que ainda detêm obrigações de serviço público –, não fizeram apenas por não quererem fazer?

    Não querem, mas depois queixam-se de cátedra dos populismos e dos riscos para a democracia do surgimento de populistas e extremistas. Não aplicar a máxima ‘uma pessoa, um voto’  à outra máxima ‘um partido, uma mesma oportunidade’ é que coloca a democracia em perigo, e fomenta populismos e extremismos, porque a receita para se ‘chegar’ ao eleitorado não é fácil com o actual comportamento dos media.

    Em todo o caso, confesso: o HORA POLÍTICA não foi um sucesso absoluto, porque cinco líderes partidários optaram por não conceder entrevistas ao PÁGINA UM, eventualmente por considerarem que o impacte mediático seria pequeno ou negligenciável. Curiosamente, dos cinco faltosos – os líderes do Livre, Bloco de Esquerda, PPM , PS e PSD –, quase todos arranjaram agenda para programas de entretenimento ou mesmo conversas com humoristas. Dar umas graçolas é para muitos destes líderes, fica-se assim a saber, mais importante do que falar de política e de propostas para o futuro de Portugal.

    people walking on grey concrete floor during daytime

    Sabíamos que um jornal independente, e sem o estatuto e compromissos da legacy media, teria muitas dificuldades em se tornar apelativo para os partidos mais relevantes, mas a ideia também era saber do grau de democraticidade de cada um dos líderes. Nesse aspecto, ficámos – e eu particularmente fiquei – a saber como Luís Montenegro, Pedro Nuno Santos, Gonçalo da Câmara Pereira (embora este seja um caso, enfim, que raia o anedótico), Mariana Mortágua e Rui Tavares olham para a democracia, para a imprensa e para o jogo político, onde parecem sentir-se bem com regras democráticas injustas desde que a injustiça os beneficie perante os outros.

    Por regra, em Portugal o director de um órgão de comunicação social não revela a sua ideologia e o sentido de voto em eleições. No caso do PÁGINA Um, sempre me defini de esquerda (apesar de, há muito, ‘órfão’ do ponto de vista partidário), também não o farei, mas sempre poderei anunciar em quem não vou votar: AD, PS, Bloco de Esquerda e Livre. Estes partidos deixaram de ser hipótese para o meu voto, não por questões ideológicas – votei em dois deles em diversas eleições ao longo das últimas décadas –, mas por não revelarem o nível de democraticidade que lhes deve ser dirigido. É portanto, sem ressentimentos, por uma questão de princípio. E em democracia, os princípios são tudo.


    Uma nota final: depois de uma aposta muito significativa no acompanhamento das eleições – que incluiu, além das entrevistas, o podcast sobre as eleições passadas e a série de vídeos ‘Indecisos’ –, o PÁGINA UM tem necessidade de uma reorganização nas próximas semanas, uma vez que também necessitará de encontrar novas instalações e de reorganizar-se.

    Um projecto desta natureza – vivendo apenas de donativos e de acesso livre – pode fazer, de quando em vez, apostas numa tentativa de crescer, mas tendo a noção de ser necessário reafectar recursos se os efeitos não forem positivos. Do ponto de vista de esforço físico e financeiro, os projectos que desenvolvemos associados às eleições não tiveram o retorno que desejaríamos – tendo mesmo havido uma redução do número de apoiantes ao longo de Fevereiro –, pelo que, no sentido, de manter o equilíbrio financeiro do PÁGINA UM iremos fazer uma reformulação, que implicará, durante um prazo que esperamos curto, uma redução na produção quer de notícias quer de artigos de opinião, que passarão, para cada colunista, a uma periodicidade quinzenal.

    Mas, relembrando Mark Twain, o PÁGINA UM está ainda muito longe da sua morte – pelo contrário, a redução do esforço de edição de artigos de opinião, crónicas, entrevistas e mesmo da secção de cultura, permitirá optimizar o nosso ‘core business’: as investigações e as notícias que os outros não dão ou não querem dar.  


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  • Segurança das vacinas contra a covid-19: Froes & ERC em ‘indecentes e más figuras’

    Segurança das vacinas contra a covid-19: Froes & ERC em ‘indecentes e más figuras’


    Em Janeiro passado, a revista científica ESC Heart Failure, pertencente à Sociedade Europeia de Cardiologia, publicou um artigo intitulado “Autopsy findings in cases of fatal COVID-19 vaccine-induced myocarditis“, que constitui “uma revisão sistemática de todos os relatórios de autópsia publicados envolvendo miocardite induzida pela vacinação contra a covid-19 até 3 de Julho de 2023”. Há largos meses que, nos meios científicos, o tema da segurança das vacinas contra a covid-19 deixou de ser tabu. Pelo contrário.

    Por exemplo, na conceituada revista científica Vaccines, actualmente, todos os 10 artigos mais lidos são sobre a vacina contra a covid-19, sendo que oito investigam efeitos adversos ou questões de segurança. Em 26 de Junho de 2021 – ou seja, em pleno programa de vacinação – não havia nenhum artigo científico sobre as vacinas contra a covid-19 nos mais lidos da Vaccines, nem sobre segurança nem sobre outra qualquer questão. Nessa altura, em 2021, e até 2023, essas vacinas eram ‘endeusadas’ e seria uma ‘blasfémia’ questionar aspectos de segurança ou apelar a avaliações estratificadas de benefício-dano potencial.

    a dimly lit tunnel with a bench in the middle

    Mas vamos ao artigo do ESC Heart Failure. Os autores salientam que, “no momento em que o artigo [científico] foi escrito, uma pesquisa no PubMed [base de dados do National Library of Medicine, nos Estados Unidos], usando os termos “miocardite” e “vacinação contra a covid-19” forneceu 994 resultados, indicando amplo interesse entre os pesquisadores na miocardite induzida pela vacina contra a covid-19”. Salientam também que “até 16 de Junho de 2023, o Sistema de Notificação [norte-americano] de Eventos Adversos de Vacinas (VAERS) incluía 1.569.668 notificações de eventos adversos associados às vacinas contra a covid-19, incluindo 35.487 mortes, 27.229 notificações de miocardite e pericardite e 20.184 notificações de ataque cardíaco”, salientando a credibilidade desta base de dados por, antes da pandemia, 86% dos registos serem “preenchidos por pessoal médico ou fabricantes de vacinas e apenas 14% foram feitas pelo paciente ou pela sua família.”

    Citando já vasta bibliografia científica, os autores começam por elencar uma série de potenciais efeitos adversos: “Existe uma alta probabilidade de uma ligação causal entre a vacinação com mRNA contra a covid-19 e a miocardite, a doença neurodegenerativa, a trombocitopenia imunológica, a paralisia de Bell, a doença hepática, a imunidade adaptativa prejudicada, a resposta prejudicada a danos no ADN e a tumorigénese. Além disso, um estudo recente descobriu que a vacinação repetida contra a covid-19 com vacinas baseadas em mRNA leva à produção de concentrações anormalmente elevadas de anticorpos imunoglobulina G4 (IgG4). Estes anticorpos podem não conseguir neutralizar a proteína spike, que demonstrou circular durante pelo menos 28 dias, causar supressão imunitária e promover o desenvolvimento de doenças autoimunes, incluindo miocardite.”

    Passada a histeria pandémica – promovida por governos, imprensa e peritos associados a farmacêuticas –, não há hoje nenhum investigador sério que possa auto-censurar-se ou aceitar censura sobre as vacinas contra a covid-19, que não queira questionar(-se), que não apele à investigação, que prescinda em reclamar a necessidade de se apurar a verdade sem dogmas nem preconceitos, sobretudo se surgirem sinais de preocupação. Há um pouco menos de dois anos, o PÁGINA UM fez uma breve resenha histórica de 10 fármacos concebidos para tratar de doenças, mas que correram mal. Muitos até salvaram vidas, embora tenham sido retirados do mercado por falhas de segurança ou desaconselhados a determinadas pessoas face à relação benefícios-danos potenciais. Em muitos casos, a descoberta de problemas de segurança deve-se ao trabalho meticuloso (e odiado pelos visados) do jornalismo de investigação.

    MacBook Pro on white surface

    Foi sempre essa a minha postura como jornalista e como director do PÁGINA UM face às vacinas contra a covid-19: pesquisar e questionar, procurando o rigor. Sobre as reacções adversas das vacinas, o PÁGINA UM foi o único órgão de comunicação social português que procurou ter acesso à base de dados das reacções adversas (Portal RAM), não para especular nem para mentir, mas para relatar com verdade. Um jornalista não deve nem endeusar nem diabolizar. Até agora não o conseguimos, porque o Infarmed recusa e o caso está ainda nos tribunais administrativos. Tudo aquilo que tenho escrito como jornalista – mesmo quando opino – baseia-se sempre em artigos ou, como sucedeu já no ano passado, com uma análise (morosa) à base de dados da Eudravigilance, gerida pela Agência Europeia do Medicamento, incorporando artigos científicos, sempre artigos científicos publicados em revistas científicas.

    Ora, mas em Portugal, isso não basta a um jornalista. Se se sair da “linha oficial”, sai a ‘polícia dos costumes’, ou do costume.

    Não basta a um jornalista – se tivermos, como temos, empresários ao serviço das farmacêuticas, como sócio da Terras & Froes, pneumologista a ‘tempo parcial’ no Serviço Nacional de Saúde mas com tempo para  fazer uma queixa a um regulador que, por sua vez, está desejoso de tirar desforço de um órgão de comunicação social independente que, em diversas ocasiões, já provou que esse regulador anda ‘a ver navios’ ou é conivente com a promiscuidade entre media, Estado e empresas.   

    Ora, ontem, para meu espanto, enviaram-me um post no mural do Facebook do Doutor Filipe Froes, onde ele, felicíssimo, “a propósito de duas publicações intituladas ‘Efeitos adversos: este ano há quase nove mortes por dia associadas às vacinas da covid-19 na Europa’, de 5 de maio de 2023, e ‘Mortes súbitas: vacinas contra a covid-19 associadas a 1.241 casos na Europa’, de 11 de agosto de 2023” – ambas da minha autoria –, partilhava as conclusões da Deliberação ERC/2024/80 (CONTJOR-NET), aprovada a 7 de Fevereiro passado – e da qual eu ainda não tivera sequer conhecimento nem formal nem informal.

    Filipe Froes, o queixoso, fez gala da deliberação da ERC antes mesmo de esta ter sido enviada ao PÁGINA UM.

    Diga-se que a queixa foi apresentada ou assumida pela ERC como uma queixa anónima – como convém.

    Ora, só hoje me chegou formalmente, e por ter sido solicitada à ERC – a decência não os levou a enviá-la antes do meu pedido – a dita deliberação. E a conclusão a retirar é que a infâmia dos membros do Conselho Regulador (Helena Sousa, Pedro Correia Gonçalves, Telmo Gonçalves, Carla Martins e Rita Rola) não tem limites e desta vez será resolvida nos bancos dos tribunais. Serão acompanhados pelo Doutor Filipes Froes. Todos por injúria e por difamação.

    Vejamos: a ERC até chega, no ponto 30 da sua infame deliberação, a listar as “fontes de informação” que usei: 1) a base de dados Eudravigilance; o documentário Died Suddenly [o que até é falso; refiro que “as mortes súbitas associadas às vacinas contra a covid-19 não serão certamente tão frequentes como apontou há dois anos o documentário Died Suddenly, mas não são zero. Nem meia dúzia.”, ou seja, está longe de ser uma fonte]; 3) a revista científica Vaccines; 4) um editorial na revista científica Journal of American Physicians and Surgeons do Verão de 2023; 5) o banco de dados PubMed da Biblioteca Nacional de Medicina; e 6) o relatório de farmacovigilância da vacinação contra a covid-19 do Infarmed.

    Convém salientar que ambas as notícias se basearam em pesquisas morosas e detalhadas na Eudravigilance. No caso da segunda notícia foi analisados, durante três dias, os registos individuais de 914.536 reacções adversas expostas no portal do EudraVigilance, tendo-se sido identificados 1.241 registos de mortes súbitas, todas indicadas por farmacêuticas ou reguladores, ou seja, depois de previamente ‘triados’ para apurar uma associação com a vacina.

    Este foi uma das tabelas apresentadas no artigo de 11 de Agosto, através de uma análise exaustiva dos dados da EudraVigilance, onde se conseguiu apurar o número de mortes súbitas associadas à vacinação contra a covid-19 (por vacina e por ano).

    Porém, para a ERC eu cometi um crime capital – para além de ter incluído uma fotografia de Tedros Ghebreyesus “a rir para a câmara” e outra uma “avestruz com a cabeça enfiada na terra”, bem como de usar “adjetivação muito marcada”, “substantivos conotados” e uma “expressão em castelhano” sobre a existência de bruxas. E esse erro capital é o seguinte, textualmente: “O ângulo adotado pelo Página Um de que a vacina anti-COVID-19 é a provável causa das mortes súbitas leva à reiteração de que a sua segurança para a saúde pública deve ser investigada pelos governos e autoridades”.

    Isto mesmo: perante o silêncio de um Governo e de um regulador dos fármacos (Infarmed), que escondem informação e não investigam (lembram-se do relatório do excesso de mortalidade prometido por Marta Temido em Agosto de 2022?), a ERC acha inadmissível que um jornalista queira que a questão da segurança das vacinas seja investigada.

    Pior, a ERC diz que cometo uma “falta de rigor informativo, sobretudo pela insuficiência na demonstração de um nexo de causalidade entre a toma das vacinas e as mortes e na ausência de fontes de informação diversificadas, que permitiriam a apresentação de perspetivas contrastantes sobre o tema”. Estamos a falar de membros de um regulador que têm um nível de formação em epidemiologia, em análise de base de dados em Saúde Pública ou em estatística similar à de uma batata. Ou de uma barata.

    Até o uso de uma avestruz numa foto é criticada pela ERC, que diz “indicia[r] uma conduta em que se deixa de lado qualquer dever de isenção”.

    Não deixa, aliás, de ser curiosa esta interpretação da ERC relativamente a “perspectivas contrastantes sobre o tema”. Por exemplo, quando o Doutor Filipe Froes falava profusamente na imprensa sobre os benefícios das vacinas, nunca vi a ERC preocupada por a generalidade dos jornalistas nunca falar sobre os riscos-benefícios (a começar nos menores de idades) nem sobre os seus conflitos de interesse com farmacêuticas. Também agiram contra órgãos de comunicação social que deram eco às opiniões do Doutor Filipe Froes (e outros ‘delegados de propaganda médica’) sobre medicamentos de farmacêuticas onde ele trabalhava, e que mais tarde foram suspensos por ineficazes ou por falhas de segurança? Será que só há falta de rigor quando não se endeusa um fármaco do agrado do Doutor Filipe Froes ou das senhoras e dos senhores da ERC indicados pelo PS e pelo PSD?

    Será que os jornalistas que falaram noutros casos de fármacos com problemas, deveriam sempre ‘equilibrar’ com os benefícios obtidos? Por exemplo, o DDT trouxe benefícios; deve falar-se dos benefícios. Os CFC também; deve enquadrar-se com os benefícios. A talidomida idem; deve falar-se da maioria das grávidas que passaram a gravidez sem enjoos e com filhos perfeitos. Ou até, se falarmos da vacina contra a covid-19 da Astrazeneca (uma farmacêutica cliente do Doutor Froes) que foi suspensa pelas autoridades da Suécia, da Noruega e da Finlândia por razões de segurança em Outubro de 2021, deve-se destacar que, mesmo assim, salvaram vida (e se calhar até muitíssimas mais do que aquelas que mataram)?

    O resto da deliberação da ERC é um chorrilho de tiques da Outra Senhora, onde os ditos infames ‘conselheiros’ acham que devem tecer considerações sobre estilos jornalísticos, focando a alegada “ausência de uma clara demarcação entre factos e opinião”, o que parece ridículo porque conseguem identificar bem, nos meus textos jornalísticos, aquilo que são factos e aquilo que é a interpretação de factos (opinião). Bem sei que o regulador – e os políticos – apreciam um jornalista que não interprete os factos na notícia, mas uma coisa é não apreciarem na sua cabeça; outra é, de forma infame, considerarem isso uma falha jornalística. A ERC não tem um poder regulatório sobre estilos.

    O uso de uma foto pelo PÁGINA UM no artigo de Maio do ano passado também foi criticada pela ERC por “estar a rir para a câmara”.

    Termino com uma citação do artigo da ESC Heart Fail (página 12) e a promessa de que a ERC, o Doutor Filipe Froes e outras ‘indecentes e más figuras’ não me calarão, e os verei em tribunal para defender a minha honra:

    Um excesso de mortes não causadas pela COVID-19 foi identificado em todo o mundo após o início dos programas de vacinação em massa contra a covid-19, indicando a presença de uma nova exposição prejudicial entre as populações. Pantazatos e Seligmann extrapolaram que os relatórios do VAERS são subnotificados por um fator de 20. Quando este factor se aplica à contagem do relatório de óbitos no VAERS de 16 de Junho de 2023, que é de 35.487, o número de mortes nos Estados Unidos e em outros países que usam o sistema VAERS passa a 709.740. Deve ter-se em conta que esta extrapolação é uma estimativa geral e pode não ser precisa. No entanto, se um número considerável de mortes for confirmado, as vacinas contra a covid-19 constituiriam o maior desastre de segurança biológica da História da Humanidade”.

    Não sei se será, mas é a obrigação de um jornalista procurar saber, investigando. Até para que possa sossegar os leitores se não houver afinal qualquer problema relevante. É essa a função do jornalismo.


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  • O lamaçal de António Araújo, colunista do DN e administrador da Fundação Francisco Manuel dos Santos

    O lamaçal de António Araújo, colunista do DN e administrador da Fundação Francisco Manuel dos Santos


    O historiador António Araújo ostenta, como nota curricular de particular destaque, ter sido assessor político de Cavaco Silva e de Marcelo Rebelo de Sousa, algo que lhe deveria conceder o opróbrio dos outros, ou então o recato do próprio, quando se decide a falar dos actos dos demais.

    Ora, mas António Araújo arrojou-se, desde há uns tempos, em chafurdar na intimista vida de figuras públicas, tecendo longos perfis sob a forma de coluna no Diário de Notícias, onde, supostamente com um olhar clínico de historiador, vai dissecando virtudes e polémicas dos visados, mas com a verve bem afiada nos supostos defeitos, nos quais ele, olimpicamente, e no alto da sua cátedra de puro sem mácula, dá as suas bicadas.

    man lying on green grass soaked with mud

    Já eu ficara com olhos de esguelha quando, há uma semanas, António Araújo traçou um perfil de Fernando Nobre, enlameando as posições (legítimas) deste notável médico sobre a pandemia, que contrariavam uma narrativa (corrente) e unanimista (imposta), e que resultou em perseguições de clínicos e muitos outros especialistas, e que deveriam envergonhar uma qualquer democracia.

    Porém, ontem, António Araújo foi ainda mais longe; longe demais. Não apenas por usar o mesmo estilo de bota-abaixo, a conspurcar, no mínimo de forma deselegante, o perfil de mais uma pessoa notável – Clara Pinto Correia – como, à boleia, quis conspurcar o PÁGINA UM.

    Vejamos um trecho desta lamentável prosa de António Araújo:

    Depois, por uma cruel sucessão de desastres, uns próprios, outros alheios, a fama cobriu-se de lama, Clara entrou em perda e em queda, despenhou-se dali abaixo – e hoje é colunista do Página Um”.

    Eu sei que gente como António Araújo vive numa bolha, onde todos se consideram a melhor bolacha do pacote. Mas… que coisa é esta: a “fama” de Clara Pinto Correia “cobriu-se de lama” e “despenhou-se dali abaixo” e a tal ponto que “hoje é colunista do Página Um”?! Não ficava António Araújo satisfeito em atirar ‘apenas’ lama a uma pessoa, ao melhor estilo misógino, e quis meter ainda no seu lamaçal um projecto como o PÁGINA UM a mim e a mais uns quantos bons punhados de pessoas muito válidas –, que trouxe uma lufada de ar fresco à putrefacta lusa imprensa?

    O PÁGINA UM é um modelo daquilo que deveria ser um órgão de comunicação social:  independente, na essência e na prática quotidiana. Vive com o apoio exclusivo dos seus leitores, não tem publicidade nem parcerias comerciais com entidades públicas ou privadas, não tem dívidas ao Estado nem empréstimos bancários. E faz investigações sem complexos; e tem muitos mais processos de intimação, junto dos tribunais administrativos, para obtenção de informação escondida por entidades públicas do que TODA a outra comunicação social.

    Será o PÁGINA UM algo tão baixo para se ser colunista? Ou será o PÁGINA UM, antes, um órgão de comunicação de excelência para, sem falsos puritanismos, aproveitar o melhor que uma cronista da qualidade da Clara Pinto Correia pode dar?

    Mas afinal, quem é hoje António Araújo, e onde é ele colunista?  

    É colunista de um vetusto jornal que, perdida a glória de antanho, vende agora menos de 1.200 exemplares em banca.

    É colunista de um vetusto jornal que integra um grupo ainda dominado por um fundo manhoso das Bahamas, sendo que a sede do accionista maioritário é uma caixa de correio de um cowork no Saldanha.

    É colunista de um vetusto jornal que integra um grupo que deve 7,5 milhões de euros ao Fisco.

    É colunista de um vetusto jornal que integra um grupo com prejuízos de 50 milhões de euros desde 2017.

    É também António Araújo –  além de colunista do Diário de Notícias, onde expele puritanismos de cátedra –  um dos membros executivos do Conselho de Administração de uma fundação que compra jornalistas – ou dá-lhes dinheiro – para elaborarem à peça, para o seu site, supostos artigos noticiosos independentes, supostas entrevistas independentes, supostas moderações de debates independentes e promoção de supostos podcasts independentes, numa promiscuidade inqualificável, nas barbas da ERC e da CCPJ, e que tem contribuído para a degradação da credibilidade da imprensa.

    É também António Araújo –  além de colunista do Diário de Notícias, onde expele puritanismos de cátedra –  um dos membros executivos do Conselho de Administração de uma fundação que olha para a imprensa meramente como um ‘parceiro de negócios’, para si e para o seu ‘patrono’ (a Jerónimo Martins), a tal ponto que tem o descaramento de quantificar, em euros, o produto das notícias (boas, claro) que sobre si são feitas.

    Para não haver dúvidas, citemos o último parágrafo do relatório de actividades de 2022 da dita Fundação – que ainda por cima quer tornar-se um think tank, talvez com a ajuda dos jornalistas e órgãos de comunicação social a quem vai pagando:

    As atividades da Fundação geraram 4.813 notícias, mais 10% do que em 2021, que originaram um AAV (Automatic Advertising Value) de 157 milhões de euros, mais 80% do que no ano anterior. Além deste crescimento, a Fundação atingiu o terceiro lugar no que respeita à notoriedade das Fundações, ultrapassando a Fundação Mário Soares, que ocupava anteriormente esse lugar”.

    Portanto, quando António Araújo voltar a falar em Clara Pinto Correia ou no jornalismo do PÁGINA UM, tenha alguma noção. A começar pela noção do ridículo. A acabar pela noção de humanidade. Clara Pinto Correia não está no fundo; nem estará, certamente, enquanto colaborar no PÁGINA UM. Ao contrário do António Araújo, de quem – e parafraseando Nietzsche, que ele até cita de forma infamemente cruel no vil perfil deste domingo no Diário de Notícias – não se espera qualquer renovação nem que o metam antes em cinzas.

    N.B. Este editorial foi escrito antes sequer de falar com a Clara Pinto Correia sobre este assunto.


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