Já votei Bloco de Esquerda. Não vou votar agora nem sei se aguento votar em qualquer partido da esquerda, mesmo mantendo-me ideologicamente de esquerda. E não vou votar por variadíssimas razões, entre as quais destaco as sucessivas incongruências, os contínuos disparates ideológicos e sobretudo a hipocrisia.
Esta noite, citada pelo Público, Mariana Mortágua disse num comício que “ser jornalista é uma espécie de teimosia perante todas as adversidades”, assinalando que não só sofrem da “mesma desregulação e precariedade que a economia”, como da “concentração do poder económico”.
E apontou baterias à “extrema-direita [que] não perde uma oportunidade para intimidar jornalistas”, reforçando que a “extrema-direita odeia o jornalismo livre porque odeia a democracia”.
Acho muito curioso, para usar um eufemismo, que Mariana Mortágua tenha tecido loas ao “jornalismo livre” e tenha, em simultâneo, recusado conceder uma entrevista ao PÁGINA UM na rubrica HORA POLÍTICA, mesmo conhecendo a jornalista que a iria entrevistar há anos. O Bloco de Esquerda foi um entre apenas cinco partidos faltosos, três dos quais da esquerda (além do Bloco de Esquerda, recusaram Livre e Partido Socialista). Houve 19 partidos que aceitaram o jogo da democraticidade.
Se há um jornal que melhor encaixa no conceito de imprensa livre, esse é o PÁGINA UM: somos um jornal sem ‘empresários’ por detrás, sem agendas económicoas ou ideológicas escondidas, de acesso livre, contas transparentes, sem dívidas nem publicidade nem parcerias com entes públicos ou privados, e sobrevivendo apenas de donativos dos leitores. Fazemos aquilo que as nossas capacidade financeiras permitem, e preferimos ‘morrer’ a ‘vender-nos’. Mas que faz Mariana Mortágua? Recusa uma entrevista, mas tem tempo para ir a programas de graçolas.
Recusou Mariana Mortágua uma entrevista ao jornal que nos últimos dois anos apresentou cerca de duas dezenas de intimações no Tribunal Administrativo para aceder a informação escondida deliberadamente por entidades públicas.
Recusou Mariana Mortágua uma entrevista ao jornal que nos últimos dois anos denunciou as promiscuidades em empresas de media, as falhas ou compadrios na regulação (quando a situação da Global Media explodiu, o PÁGINA UM noticiava sobre o assunto há meses), e não vimos Mariana Mortágua incomodada pelos ataques cerrados da ERC e da CCPJ ao nosso trabalho.
Recusou Mariana Mortágua uma entrevista ao jornal que nos últimos meses mais casos suspeitos tem revelado de desbaratamento de dinheiros públicos em estranhos contratos.
Recusou Mariana Mortágua uma entrevista ao único jornal que deu voz, através de uma entrevista, à mulher de Julian Assange, fundador da Wikileaks, que arrisca ser extraditado para os Estados Unidos, sendo uma vítima do mais infame ataque político à liberdade de imprensa e de informação.
Recusou Mariana Mortágua uma entrevista ao único jornal onde os seus colunistas têm uma única condição: liberdade de expressão, e por esse motivo não poucas vezes o ‘amaldiçoado’ Chega foi e é vilipendiado. Mas é um jornal que não coloca o Chega (ou qualquer outro partido fora do arco de governação) como o principal perigo para a democracia – embora já lhe tenha apontado linhas vermelhas que ultrapassaram recentemente -, sendo aliás o contrário: é por os partidos tradicionais terem colocado a democracia em perigo (e vimos todos os atropelos sobre direitos básicos durante a pandemia) que, infelizmente (e digo isto do ponto de vista ideológico), há partidos populistas como o Chega em forte crescimento.
E estão em crescimento até a esquerda deixar de ser hipócrita. E passar verdadeiramente a defender os princípios que a definem, e não a arranjar bodes expiatórios.
PÁGINA UM – O jornalismo independente (só) depende dos leitores.
Nascemos em Dezembro de 2021. Acreditamos que a qualidade e independência são valores reconhecidos pelos leitores. Fazemos jornalismo sem medos nem concessões. Não dependemos de grupos económicos nem do Estado. Não temos publicidade. Não temos dívidas. Não fazemos fretes. Fazemos jornalismo para os leitores, mas só sobreviveremos com o seu apoio financeiro. Apoie AQUI, de forma regular ou pontual.
Enquanto o regulador – aka ERC – se entretém, de forma patética – como se pode ver aqui, mais aqui e ainda mais aqui– a fazer de conta que arbitra regras para uma equidade democrática inexistente nesta (como em outras) campanha eleitoral, o PÁGINA UM terminou ontem um projecto editorial de que me orgulharei sempre: propusemos a todos os 24 líderes dos partidos inscritos no Tribunal Constitucional uma entrevista para o HORA POLÍTICA.
Com uma redação de apenas três jornalistas – mas com o merecido destaque para a jornalista Elisabete Tavares –, o PÁGINA UM entrevistou em podcast e publicou em texto integral um total de 19 líderes partidários, desde o mais novo partido (Nova Direita), publicada no dia 12 de Fevereiro, até ao mais antigo (Partido Comunista Português), ontem publicada.
Questiono-me sobre a razão pela qual um órgão de comunicação social com apenas três jornalistas, enquanto estes ainda mantinham em curso as demais actividades do jornal (incluindo edição e paginação), fez aquilo que outros, com dezenas ou mesmo centenas de jornalistas – como a RTP ou a Lusa, que ainda detêm obrigações de serviço público –, não fizeram apenas por não quererem fazer?
Não querem, mas depois queixam-se de cátedra dos populismos e dos riscos para a democracia do surgimento de populistas e extremistas. Não aplicar a máxima ‘uma pessoa, um voto’ à outra máxima ‘um partido, uma mesma oportunidade’ é que coloca a democracia em perigo, e fomenta populismos e extremismos, porque a receita para se ‘chegar’ ao eleitorado não é fácil com o actual comportamento dos media.
Em todo o caso, confesso: o HORA POLÍTICA não foi um sucesso absoluto, porque cinco líderes partidários optaram por não conceder entrevistas ao PÁGINA UM, eventualmente por considerarem que o impacte mediático seria pequeno ou negligenciável. Curiosamente, dos cinco faltosos – os líderes do Livre, Bloco de Esquerda, PPM , PS e PSD –, quase todos arranjaram agenda para programas de entretenimento ou mesmo conversas com humoristas. Dar umas graçolas é para muitos destes líderes, fica-se assim a saber, mais importante do que falar de política e de propostas para o futuro de Portugal.
Sabíamos que um jornal independente, e sem o estatuto e compromissos da legacy media, teria muitas dificuldades em se tornar apelativo para os partidos mais relevantes, mas a ideia também era saber do grau de democraticidade de cada um dos líderes. Nesse aspecto, ficámos – e eu particularmente fiquei – a saber como Luís Montenegro, Pedro Nuno Santos, Gonçalo da Câmara Pereira (embora este seja um caso, enfim, que raia o anedótico), Mariana Mortágua e Rui Tavares olham para a democracia, para a imprensa e para o jogo político, onde parecem sentir-se bem com regras democráticas injustas desde que a injustiça os beneficie perante os outros.
Por regra, em Portugal o director de um órgão de comunicação social não revela a sua ideologia e o sentido de voto em eleições. No caso do PÁGINA Um, sempre me defini de esquerda (apesar de, há muito, ‘órfão’ do ponto de vista partidário), também não o farei, mas sempre poderei anunciar em quem não vou votar: AD, PS, Bloco de Esquerda e Livre. Estes partidos deixaram de ser hipótese para o meu voto, não por questões ideológicas – votei em dois deles em diversas eleições ao longo das últimas décadas –, mas por não revelarem o nível de democraticidade que lhes deve ser dirigido. É portanto, sem ressentimentos, por uma questão de princípio. E em democracia, os princípios são tudo.
Uma nota final: depois de uma aposta muito significativa no acompanhamento das eleições – que incluiu, além das entrevistas, o podcast sobre as eleições passadas e a série de vídeos ‘Indecisos’ –, o PÁGINA UM tem necessidade de uma reorganização nas próximas semanas, uma vez que também necessitará de encontrar novas instalações e de reorganizar-se.
Um projecto desta natureza – vivendo apenas de donativos e de acesso livre – pode fazer, de quando em vez, apostas numa tentativa de crescer, mas tendo a noção de ser necessário reafectar recursos se os efeitos não forem positivos. Do ponto de vista de esforço físico e financeiro, os projectos que desenvolvemos associados às eleições não tiveram o retorno que desejaríamos – tendo mesmo havido uma redução do número de apoiantes ao longo de Fevereiro –, pelo que, no sentido, de manter o equilíbrio financeiro do PÁGINA UM iremos fazer uma reformulação, que implicará, durante um prazo que esperamos curto, uma redução na produção quer de notícias quer de artigos de opinião, que passarão, para cada colunista, a uma periodicidade quinzenal.
Mas, relembrando Mark Twain, o PÁGINA UM está ainda muito longe da sua morte – pelo contrário, a redução do esforço de edição de artigos de opinião, crónicas, entrevistas e mesmo da secção de cultura, permitirá optimizar o nosso ‘core business’: as investigações e as notícias que os outros não dão ou não querem dar.
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Em Janeiro passado, a revista científica ESC Heart Failure, pertencente à Sociedade Europeia de Cardiologia, publicou um artigo intitulado “Autopsy findings in cases of fatal COVID-19 vaccine-induced myocarditis“, que constitui “uma revisão sistemática de todos os relatórios de autópsia publicados envolvendo miocardite induzida pela vacinação contra a covid-19 até 3 de Julho de 2023”. Há largos meses que, nos meios científicos, o tema da segurança das vacinas contra a covid-19 deixou de ser tabu. Pelo contrário.
Por exemplo, na conceituada revista científica Vaccines, actualmente, todos os 10 artigos mais lidos são sobre a vacina contra a covid-19, sendo que oito investigam efeitos adversos ou questões de segurança. Em 26 de Junho de 2021 – ou seja, em pleno programa de vacinação – não havia nenhum artigo científico sobre as vacinas contra a covid-19 nos mais lidos da Vaccines, nem sobre segurança nem sobre outra qualquer questão. Nessa altura, em 2021, e até 2023, essas vacinas eram ‘endeusadas’ e seria uma ‘blasfémia’ questionar aspectos de segurança ou apelar a avaliações estratificadas de benefício-dano potencial.
Mas vamos ao artigo do ESC Heart Failure. Os autores salientam que, “no momento em que o artigo [científico] foi escrito, uma pesquisa no PubMed [base de dados do National Library of Medicine, nos Estados Unidos], usando os termos “miocardite” e “vacinação contra a covid-19” forneceu 994 resultados, indicando amplo interesse entre os pesquisadores na miocardite induzida pela vacina contra a covid-19”. Salientam também que “até 16 de Junho de 2023, o Sistema de Notificação [norte-americano] de Eventos Adversos de Vacinas (VAERS) incluía 1.569.668 notificações de eventos adversos associados às vacinas contra a covid-19, incluindo 35.487 mortes, 27.229 notificações de miocardite e pericardite e 20.184 notificações de ataque cardíaco”, salientando a credibilidade desta base de dados por, antes da pandemia, 86% dos registos serem “preenchidos por pessoal médico ou fabricantes de vacinas e apenas 14% foram feitas pelo paciente ou pela sua família.”
Citando já vasta bibliografia científica, os autores começam por elencar uma série de potenciais efeitos adversos: “Existe uma alta probabilidade de uma ligação causal entre a vacinação com mRNA contra a covid-19 e a miocardite, a doença neurodegenerativa, a trombocitopenia imunológica, a paralisia de Bell, a doença hepática, a imunidade adaptativa prejudicada, a resposta prejudicada a danos no ADN e a tumorigénese. Além disso, um estudo recente descobriu que a vacinação repetida contra a covid-19 com vacinas baseadas em mRNA leva à produção de concentrações anormalmente elevadas de anticorpos imunoglobulina G4 (IgG4). Estes anticorpos podem não conseguir neutralizar a proteína spike, que demonstrou circular durante pelo menos 28 dias, causar supressão imunitária e promover o desenvolvimento de doenças autoimunes, incluindo miocardite.”
Passada a histeria pandémica – promovida por governos, imprensa e peritos associados a farmacêuticas –, não há hoje nenhum investigador sério que possa auto-censurar-se ou aceitar censura sobre as vacinas contra a covid-19, que não queira questionar(-se), que não apele à investigação, que prescinda em reclamar a necessidade de se apurar a verdade sem dogmas nem preconceitos, sobretudo se surgirem sinais de preocupação. Há um pouco menos de dois anos, o PÁGINA UM fez uma breve resenha histórica de 10 fármacos concebidos para tratar de doenças, mas que correram mal. Muitos até salvaram vidas, embora tenham sido retirados do mercado por falhas de segurança ou desaconselhados a determinadas pessoas face à relação benefícios-danos potenciais. Em muitos casos, a descoberta de problemas de segurança deve-se ao trabalho meticuloso (e odiado pelos visados) do jornalismo de investigação.
Foi sempre essa a minha postura como jornalista e como director do PÁGINA UM face às vacinas contra a covid-19: pesquisar e questionar, procurando o rigor. Sobre as reacções adversas das vacinas, o PÁGINA UM foi o único órgão de comunicação social português que procurou ter acesso à base de dados das reacções adversas (Portal RAM), não para especular nem para mentir, mas para relatar com verdade. Um jornalista não deve nem endeusar nem diabolizar. Até agora não o conseguimos, porque o Infarmed recusa e o caso está ainda nos tribunais administrativos. Tudo aquilo que tenho escrito como jornalista – mesmo quando opino – baseia-se sempre em artigos ou, como sucedeu já no ano passado, com uma análise (morosa) à base de dados da Eudravigilance, gerida pela Agência Europeia do Medicamento, incorporando artigos científicos, sempre artigos científicos publicados em revistas científicas.
Ora, mas em Portugal, isso não basta a um jornalista. Se se sair da “linha oficial”, sai a ‘polícia dos costumes’, ou do costume.
Não basta a um jornalista – se tivermos, como temos, empresários ao serviço das farmacêuticas, como sócio da Terras & Froes, pneumologista a ‘tempo parcial’ no Serviço Nacional de Saúde mas com tempo para fazer uma queixa a um regulador que, por sua vez, está desejoso de tirar desforço de um órgão de comunicação social independente que, em diversas ocasiões, já provou que esse regulador anda ‘a ver navios’ ou é conivente com a promiscuidade entre media, Estado e empresas.
Filipe Froes, o queixoso, fez gala da deliberação da ERC antes mesmo de esta ter sido enviada ao PÁGINA UM.
Diga-se que a queixa foi apresentada ou assumida pela ERC como uma queixa anónima – como convém.
Ora, só hoje me chegou formalmente, e por ter sido solicitada à ERC – a decência não os levou a enviá-la antes do meu pedido – a dita deliberação. E a conclusão a retirar é que a infâmia dos membros do Conselho Regulador (Helena Sousa, Pedro Correia Gonçalves, Telmo Gonçalves, Carla Martins e Rita Rola) não tem limites e desta vez será resolvida nos bancos dos tribunais. Serão acompanhados pelo Doutor Filipes Froes. Todos por injúria e por difamação.
Vejamos: a ERC até chega, no ponto 30 da sua infame deliberação, a listar as “fontes de informação” que usei: 1) a base de dados Eudravigilance; o documentário Died Suddenly [o que até é falso; refiro que “as mortes súbitas associadas às vacinas contra a covid-19 não serão certamente tão frequentes como apontou há dois anos o documentário Died Suddenly, mas não são zero. Nem meia dúzia.”, ou seja, está longe de ser uma fonte]; 3) a revista científica Vaccines; 4) um editorial na revista científica Journal of American Physicians and Surgeons do Verão de 2023; 5) o banco de dados PubMed da Biblioteca Nacional de Medicina; e 6) o relatório de farmacovigilância da vacinação contra a covid-19 do Infarmed.
Convém salientar que ambas as notícias se basearam em pesquisas morosas e detalhadas na Eudravigilance. No caso da segunda notícia foi analisados, durante três dias, os registos individuais de 914.536 reacções adversas expostas no portal do EudraVigilance, tendo-se sido identificados 1.241 registos de mortes súbitas, todas indicadas por farmacêuticas ou reguladores, ou seja, depois de previamente ‘triados’ para apurar uma associação com a vacina.
Este foi uma das tabelas apresentadas no artigo de 11 de Agosto, através de uma análise exaustiva dos dados da EudraVigilance, onde se conseguiu apurar o número de mortes súbitas associadas à vacinação contra a covid-19 (por vacina e por ano).
Porém, para a ERC eu cometi um crime capital – para além de ter incluído uma fotografia de Tedros Ghebreyesus “a rir para a câmara” e outra uma “avestruz com a cabeça enfiada na terra”, bem como de usar “adjetivação muito marcada”, “substantivos conotados” e uma “expressão em castelhano” sobre a existência de bruxas. E esse erro capital é o seguinte, textualmente: “O ângulo adotado pelo Página Um de que a vacina anti-COVID-19 é a provável causa das mortes súbitas leva à reiteração de que a sua segurança para a saúde pública deve ser investigada pelos governos e autoridades”.
Isto mesmo: perante o silêncio de um Governo e de um regulador dos fármacos (Infarmed), que escondem informação e não investigam (lembram-se do relatório do excesso de mortalidade prometido por Marta Temido em Agosto de 2022?), a ERC acha inadmissível que um jornalista queira que a questão da segurança das vacinas seja investigada.
Pior, a ERC diz que cometo uma “falta de rigor informativo, sobretudo pela insuficiência na demonstração de um nexo de causalidade entre a toma das vacinas e as mortes e na ausência de fontes de informação diversificadas, que permitiriam a apresentação de perspetivas contrastantes sobre o tema”. Estamos a falar de membros de um regulador que têm um nível de formação em epidemiologia, em análise de base de dados em Saúde Pública ou em estatística similar à de uma batata. Ou de uma barata.
Até o uso de uma avestruz numa foto é criticada pela ERC, que diz “indicia[r] uma conduta em que se deixa de lado qualquer dever de isenção”.
Não deixa, aliás, de ser curiosa esta interpretação da ERC relativamente a “perspectivas contrastantes sobre o tema”. Por exemplo, quando o Doutor Filipe Froes falava profusamente na imprensa sobre os benefícios das vacinas, nunca vi a ERC preocupada por a generalidade dos jornalistas nunca falar sobre os riscos-benefícios (a começar nos menores de idades) nem sobre os seus conflitos de interesse com farmacêuticas. Também agiram contra órgãos de comunicação social que deram eco às opiniões do Doutor Filipe Froes (e outros ‘delegados de propaganda médica’) sobre medicamentos de farmacêuticas onde ele trabalhava, e que mais tarde foram suspensos por ineficazes ou por falhas de segurança? Será que só há falta de rigor quando não se endeusa um fármaco do agrado do Doutor Filipe Froes ou das senhoras e dos senhores da ERC indicados pelo PS e pelo PSD?
Será que os jornalistas que falaram noutros casos de fármacos com problemas, deveriam sempre ‘equilibrar’ com os benefícios obtidos? Por exemplo, o DDT trouxe benefícios; deve falar-se dos benefícios. Os CFC também; deve enquadrar-se com os benefícios. A talidomida idem; deve falar-se da maioria das grávidas que passaram a gravidez sem enjoos e com filhos perfeitos. Ou até, se falarmos da vacina contra a covid-19 da Astrazeneca (uma farmacêutica cliente do Doutor Froes) que foi suspensa pelas autoridades da Suécia, da Noruega e da Finlândia por razões de segurança em Outubro de 2021, deve-se destacar que, mesmo assim, salvaram vida (e se calhar até muitíssimas mais do que aquelas que mataram)?
O resto da deliberação da ERC é um chorrilho de tiques da Outra Senhora, onde os ditos infames ‘conselheiros’ acham que devem tecer considerações sobre estilos jornalísticos, focando a alegada “ausência de uma clara demarcação entre factos e opinião”, o que parece ridículo porque conseguem identificar bem, nos meus textos jornalísticos, aquilo que são factos e aquilo que é a interpretação de factos (opinião). Bem sei que o regulador – e os políticos – apreciam um jornalista que não interprete os factos na notícia, mas uma coisa é não apreciarem na sua cabeça; outra é, de forma infame, considerarem isso uma falha jornalística. A ERC não tem um poder regulatório sobre estilos.
O uso de uma foto pelo PÁGINA UM no artigo de Maio do ano passado também foi criticada pela ERC por “estar a rir para a câmara”.
Termino com uma citação do artigo da ESC Heart Fail (página 12) e a promessa de que a ERC, o Doutor Filipe Froes e outras ‘indecentes e más figuras’ não me calarão, e os verei em tribunal para defender a minha honra:
“Um excesso de mortes não causadas pela COVID-19 foi identificado em todo o mundo após o início dos programas de vacinação em massa contra a covid-19, indicando a presença de uma nova exposição prejudicial entre as populações. Pantazatos e Seligmann extrapolaram que os relatórios do VAERS são subnotificados por um fator de 20. Quando este factor se aplica à contagem do relatório de óbitos no VAERS de 16 de Junho de 2023, que é de 35.487, o número de mortes nos Estados Unidos e em outros países que usam o sistema VAERS passa a 709.740. Deve ter-se em conta que esta extrapolação é uma estimativa geral e pode não ser precisa. No entanto, se um número considerável de mortes for confirmado, as vacinas contra a covid-19 constituiriam o maior desastre de segurança biológica da História da Humanidade”.
Não sei se será, mas é a obrigação de um jornalista procurar saber, investigando. Até para que possa sossegar os leitores se não houver afinal qualquer problema relevante. É essa a função do jornalismo.
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O historiador António Araújo ostenta, como nota curricular de particular destaque, ter sido assessor político de Cavaco Silva e de Marcelo Rebelo de Sousa, algo que lhe deveria conceder o opróbrio dos outros, ou então o recato do próprio, quando se decide a falar dos actos dos demais.
Ora, mas António Araújo arrojou-se, desde há uns tempos, em chafurdar na intimista vida de figuras públicas, tecendo longos perfis sob a forma de coluna no Diário de Notícias, onde, supostamente com um olhar clínico de historiador, vai dissecando virtudes e polémicas dos visados, mas com a verve bem afiada nos supostos defeitos, nos quais ele, olimpicamente, e no alto da sua cátedra de puro sem mácula, dá as suas bicadas.
Já eu ficara com olhos de esguelha quando, há uma semanas, António Araújo traçou um perfil de Fernando Nobre, enlameando as posições (legítimas) deste notável médico sobre a pandemia, que contrariavam uma narrativa (corrente) e unanimista (imposta), e que resultou em perseguições de clínicos e muitos outros especialistas, e que deveriam envergonhar uma qualquer democracia.
Porém, ontem, António Araújo foi ainda mais longe; longe demais. Não apenas por usar o mesmo estilo de bota-abaixo, a conspurcar, no mínimo de forma deselegante, o perfil de mais uma pessoa notável – Clara Pinto Correia – como, à boleia, quis conspurcar o PÁGINA UM.
Vejamos um trecho desta lamentável prosa de António Araújo:
“Depois, por uma cruel sucessão de desastres, uns próprios, outros alheios, a fama cobriu-se de lama, Clara entrou em perda e em queda, despenhou-se dali abaixo – e hoje é colunista do Página Um”.
Eu sei que gente como António Araújo vive numa bolha, onde todos se consideram a melhor bolacha do pacote. Mas… que coisa é esta: a “fama” de Clara Pinto Correia “cobriu-se de lama” e “despenhou-se dali abaixo” e a tal ponto que “hoje é colunista do Página Um”?! Não ficava António Araújo satisfeito em atirar ‘apenas’ lama a uma pessoa, ao melhor estilo misógino, e quis meter ainda no seu lamaçal um projecto como o PÁGINA UM – a mim e a mais uns quantos bons punhados de pessoas muito válidas –, que trouxe uma lufada de ar fresco à putrefacta lusa imprensa?
O PÁGINA UM é um modelo daquilo que deveria ser um órgão de comunicação social: independente, na essência e na prática quotidiana. Vive com o apoio exclusivo dos seus leitores, não tem publicidade nem parcerias comerciais com entidades públicas ou privadas, não tem dívidas ao Estado nem empréstimos bancários. E faz investigações sem complexos; e tem muitos mais processos de intimação, junto dos tribunais administrativos, para obtenção de informação escondida por entidades públicas do que TODA a outra comunicação social.
Será o PÁGINA UM algo tão baixo para se ser colunista? Ou será o PÁGINA UM, antes, um órgão de comunicação de excelência para, sem falsos puritanismos, aproveitar o melhor que uma cronista da qualidade da Clara Pinto Correia pode dar?
Mas afinal, quem é hoje António Araújo, e onde é ele colunista?
É colunista de um vetusto jornal que, perdida a glória de antanho, vende agora menos de 1.200 exemplares em banca.
É colunista de um vetusto jornal que integra um grupo ainda dominado por um fundo manhoso das Bahamas, sendo que a sede do accionista maioritário é uma caixa de correio de um cowork no Saldanha.
É colunista de um vetusto jornal que integra um grupo que deve 7,5 milhões de euros ao Fisco.
É colunista de um vetusto jornal que integra um grupo com prejuízos de 50 milhões de euros desde 2017.
É também António Araújo – além de colunista do Diário de Notícias, onde expele puritanismos de cátedra – um dos membros executivos do Conselho de Administração de uma fundação que compra jornalistas – ou dá-lhes dinheiro – para elaborarem à peça, para o seu site, supostos artigos noticiosos independentes, supostas entrevistas independentes, supostas moderações de debates independentes e promoção de supostos podcasts independentes, numa promiscuidade inqualificável, nas barbas da ERC e da CCPJ, e que tem contribuído para a degradação da credibilidade da imprensa.
É também António Araújo – além de colunista do Diário de Notícias, onde expele puritanismos de cátedra – um dos membros executivos do Conselho de Administração de uma fundação que olha para a imprensa meramente como um ‘parceiro de negócios’, para si e para o seu ‘patrono’ (a Jerónimo Martins), a tal ponto que tem o descaramento de quantificar, em euros, o produto das notícias (boas, claro) que sobre si são feitas.
Para não haver dúvidas, citemos o último parágrafo do relatório de actividades de 2022 da dita Fundação – que ainda por cima quer tornar-se um think tank, talvez com a ajuda dos jornalistas e órgãos de comunicação social a quem vai pagando:
“As atividades da Fundação geraram 4.813 notícias, mais 10% do que em 2021, que originaram um AAV (Automatic Advertising Value) de 157 milhões de euros, mais 80% do que no ano anterior. Além deste crescimento, a Fundação atingiu o terceiro lugar no que respeita à notoriedade das Fundações, ultrapassando a Fundação Mário Soares, que ocupava anteriormente esse lugar”.
Portanto, quando António Araújo voltar a falar em Clara Pinto Correia ou no jornalismo do PÁGINA UM, tenha alguma noção. A começar pela noção do ridículo. A acabar pela noção de humanidade. Clara Pinto Correia não está no fundo; nem estará, certamente, enquanto colaborar no PÁGINA UM. Ao contrário do António Araújo, de quem – e parafraseando Nietzsche, que ele até cita de forma infamemente cruel no vil perfil deste domingo no Diário de Notícias – não se espera qualquer renovação nem que o metam antes em cinzas.
N.B. Este editorial foi escrito antes sequer de falar com a Clara Pinto Correia sobre este assunto.
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No ano passado, nas minhas deambulações pela plataforma da contratação pública – o Portal Base – deparei-me com o ‘comportamento’ muito sui generis do Hospital de Braga, uma das mais importantes unidades de saúde do país, que somente em despesas correntes gasta, por ano, cerca de 260 milhões de euros. E fui investigar . E deu notícias.
A primeira notícia foi publicada em 12 de Junho e destacava sobretudo contratos de sete milhões de euros escondidos durante mais de dois anos. Meses mais tarde, em Setembro, já no âmbito do Boletim P1 da contratação pública – em que analisamos os contratos publicados no Portal Base – dei à estampa nova notícia em que destacava que só naquele mês o Hospital de Braga celebrara 393 ajustes directos, muitos dos quais usando este procedimento sem justificação plausível.
Num país decente, este tipo de investigação jornalística teria consequências para os administradores hospitalares. Ainda mais quando, na verdade, e como na investigação jornalística que o PÁGINA UM publica nesta terça-feira, o Hospital de Braga escondeu 1.354 ajustes directos de 47 milhões de euros por mais de dois anos, para além de outros detalhes de bradar aos céus.
E, portanto, deveria estar a decorrer uma auditoria no Tribunal de Contas, talvez na Inspecção-Geral das Finanças, e talvez mesmo uma investigação pelo Ministério Público.
Mas Portugal não é um país normal. E mais ainda para o jornalismo independente de investigação. Quer dizer, não estamos ao nível da Coreia do Norte, da China ou do Irão, ou mesmo da Rússia, da Palestina ou do Brasil, onde o risco de morte e prisão é uma realidade.
Consciente do (pouco) impacte público das notícias do PÁGINA UM em Junho e Setembro do ano passado sobre si e o (seu) Hospital de Braga, João Porfírio Oliveira, que foi ‘premiado’ recentemente com a presidência da Unidade Local de Saúde do Alto Minho, decidiu ‘contra-atacar’. E apresentou duas queixas: uma ao Conselho Deontológico do Sindicato dos Jornalistas – cujo presidente, por uma certa coincidência, é investigador da Universidade do Minho, em Braga – e outra à Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) – cuja presidente, por mais uma certa coincidência, é professora da Universidade do Minho… em Braga.
João Porfírio Oliveira: como reagir a uma investigação jornalística? Queixar-se a ‘reguladores’ amigos.
E, ó surpresa, tanto a CCPJ como a ERC, mesmo não descobrindo um único erro, um único lapso, e baseando-se todas as notícias numa base de dados oficial (Portal Base, gerida e validada por uma entidade pública, o IMPIC) e sendo os registos feitos pela própria entidade adjudicante (neste caso, o Hospital de Braga), acharam por bem, e sem vergonha na cara, censurar o meu trabalho.
No caso do CDSJ, os seus membros (que se rotulam de jornalistas) consideraram que existiam “nos artigos publicados ‘expressões, afirmações e conclusões’ suscetíveis de ‘qualificar de forma absurdamente desproporcional os membros do Conselho de Administração’ do Hospital”, e recomendaram que eu seguisse “escrupulosamente o Código Deontológico dos Jornalistas, ouvindo as partes com interesses atendíveis no caso, deixando bem clara aos olhos do público a distinção entre factos e opiniões (Ponto 1) e abstendo-se de fazer acusações (Ponto 2), sem o total apuramento dos factos”.
No caso da ERC, uma recente deliberação, chega a ser risível pelo absurdo, ao considerar que a simples análise de registos de contratos colocados pelo próprio Hospital de Braga exigia um contraditório. E considerava também que, cruzando as informações dos registos com o determinado pela lei, nunca poderia dizer que havia uma ilegalidade porque “não houve uma decisão nesse sentido de qualquer entidade habilitada para o efeito”.
Ou seja, para o regulador, o jornalista jamais pode denunciar uma ilegalidade enquanto não houver uma entidade oficial que assim o determine – no limite, uma sentença transitada em julgado. Daqui a nada só falta a ERC ‘decretar’ no alto da sua nescidade, que um jornal só poderá, interpretando dados meteorológicos, informar que choveu 5 milímetros em 24 horas depois de uma “entidade habilitada para o efeito” – neste caso, o Instituto Português do Mar e da Atmosfera – assim o determinar.
Bem sei, com ou sem articulação, qual foi o propósito do Hospital de Braga, da CDSJ e da ERC – que o PÁGINA UM parasse com as investigações. Não parou, nem vai parar. E até vai fazer algo que nem é função do jornalismo, mas que passa a ser uma necessidade de defesa do PÁGINA UM aos sistemáticos ataques à liberdade de imprensa perpetrados pelos dois ‘reguladores’ (ERC e CDSJ por motivos cavilosos): enviar todos os elementos desta investigação ao Tribunal de Contas, solicitando a sua intervenção.
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Nascemos em Dezembro de 2021. Acreditamos que a qualidade e independência são valores reconhecidos pelos leitores. Fazemos jornalismo sem medos nem concessões. Não dependemos de grupos económicos nem do Estado. Não temos publicidade. Não temos dívidas. Não fazemos fretes. Fazemos jornalismo para os leitores, mas só sobreviveremos com o seu apoio financeiro. Apoie AQUI, de forma regular ou pontual.
No ‘Arranhadelas’, a rubrica do Serafim, o Mascot aqui no PÁGINA UM, glosava-se hoje, gozando, com o facto de o Público, tal como a generalidade dos media, ignorar os pequenos partidos (ainda) sem assento parlamentar. E esse desprezo assume-se em pleno, quando se mostra pacífico, nas televisões, que apenas os partidos com deputados (numa Assembleia da República) já dissolvida merecem participar em debates do tipo duelo, concedendo ainda por cima um duelo especial para os dois partidos de um ‘Bloco Central’ que se perpetua.
Compreendo as razões deste modelo – seria quase impraticável a realização de 153 debates, se se incluíssem duelos com os 18 partidos e coligações (contabilizando os participantes no círculo de Lisboa) –, mas não menos relevante é apontar a responsabilidade da comunicação social em manter um espírito democrático numa… democracia.
Na democracia, não se aplica somente o princípio ‘uma pessoa, um voto’; isso é pouco, ou quase nada, para consolidar esse regime. A imprensa não pode, em Portugal, em período eleitoral, fazer de conta que, na hora da cobertura, nem sequer tem de fazer os trabalhos mínimos.
Tem sido, na minha opinião, as enormes dificuldades ‘impostas’ pela imprensa em ‘ouvir’ novas propostas, que tem mantido no poder, quase ininterruptamente dois partidos que, ao fim de 50 anos, deixam mais do que um amargo de boca a uma geração que nasceu ou cresceu em Liberdade. Os Governos PS e PSD (com umas coligações à mistura), com ou sem maioria, conduziram-nos a um país de compadrios, de partidocracia, de esquemas, de obscurantismo, de impunidade política e criminal.
Não se ter contrariado ao longo de décadas este bipartidarismo – pelo contrário, a media mainstream promoveu-o –, com as dificuldades de crescimento de novos partidos e movimentos políticos (com novas ideias), descambou no “estado a que chegámos”, parafraseando Salgueiro Maia. E, por triste ironia, abriu portas a um crescente descontentamento colectivo, que primeiro se foi ‘escoando’ para a abstenção, mas que agora se vira para o voto, um voto no populismo que, começando por uma linha de xenofobia, se foi amenizando para recolher todos os descontentes. E são muitos.
Talvez após o dia 10 de Março, mesmo que não se confirme a ascensão de um populismo – e que, se surgir, não perigará os alicerces do sistema democrático, se a Justiça (Tribunal Constitucional, Tribunal de Contas, tribunais administrativos e judiciais, e Procuradoria Geral da República) estiver atenta, activa e preventiva –, a imprensa faça uma reflexão.
Uma reflexão sobre a sua (perdida) acção de ‘fiscalização’ da acção governativa, que perdeu.
Uma reflexão sobre o seu (perdido) papel de denunciador das falhas governativas ou das injustiças sociais, tornando-se um agente promotor do ‘agenda setting’, e não um mero comunicador das mensagens e narrativas governamentais e empresariais.
Uma reflexão sobre o seu (perdido) papel de estimulador das actividades cívicas e até políticas dos diversos agentes sociais.
E, por fim, uma reflexão sobre a forma como nunca concedeu as mesmas oportunidades ao surgimento de partidos alternativos aos ‘mesmos do costume’, mesmo que seja no curto período das campanhas eleitorais.
Nesse último aspecto, com os parcos meios ao seu alcance, o PÁGINA UM mostra, com um singelo mas simbólico contributo, como é uma democracia plena: ouvir todos em pé de igualdade. A oitava entrevista da HORA POLÍTICA, que hoje publicamos, iniciativa que inclui partidos com assento parlamentar (Iniciativa Liberal e Chega) e sem assento parlamentar (Nova Direita, Volt Portugal, RIR, Aliança, PURP e Nós, Cidadãos), é um exemplo do papel sério que se ‘exige’ à comunicação social num sistema democrático.
A caminho da segunda semana da HORA POLÍTICA, apenas faço votos pessoais para que, até dia 4 de Março (com a derradeira entrevista ao mais antigo partido, o PCP), consigamos o pleno. Seria também um sinal de que todos os partidos (sobretudo aqueles com assento parlamentar) compreendem as regras leais do ‘jogo democrático’.
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Apresentemos, brevemente, o Doutor Filipe Froes como cientista: no Scopus – uma base de dados que avalia o impacte científico – tem um h-index de 17, fruto de 62 artigos e 899 citações. É, temos de admitir, um desempenho bastante aceitável, embora a pandemia o tenha ajudado bastante: 31 artigos e 707 citações são posteriores a 2019.
Apresentemos, brevemente, o Doutor Filipe Froes como marketeer: desde 2013 prestou-se, mesmo com exclusividade no SNS – e aproveitando-se de um regime especial dos médicos sindicalizados –, a fazer 342 serviços a farmacêuticas para lhes “vender o peixe” ou fazer lobby ou participar em brainstormings com o intuito de obter autorizações e negócios com o Estado. Ganhou, oficialmente, pelo menos, 475.519 euros [valores actualizados, a partir daqui, e tendo como fonte a pouco escrutinada plataforma do Infarmed). As suas relações com as farmacêuticas, depois de um inquérito a brincar da IGAS, estão agora a ser investigadas pelo Infarmed, conforme confirmação do respectivo Conselho Directivo ao PÁGINA UM em Novembro do ano passado, embora, enfim, a probabilidade de se querer apurar responsabilidades deverá ser inversamente proporcional ao aumento dos seus rendimentos provenientes das farmacêuticas.
E vai daí, para contrariar um artigo científico – tratando-o por “texto” – lança-se logo aos autores, ao velho estilo do ataque ao mensageiro face à incapacidade de atacar a mensagem, reputando-os de “um dos grupos habituais de negacionistas”. Esta estratégia do Dr. Filipe Froes pode ter dado frutos nos idos de 2020, 2021 e até 2022, mas já não colhe em 2024. Não pode colher. Não pode ele dizer barbaridades e sair airoso, como naquela ocasião em que ‘explicou’ à Júlia Pinheiro que a fase endémica assim se chamava porque era o fim (END, em inglês) da pandemia. O seu tempo de vendilhão tem de terminar. A sua ‘Ciência’ tem os dias contados, mas exige-se, se não decência (que nunca a teve), pelo menos humildade.
Por isso, aqui vamos tratar do Doutor Filipe Froes.
Texto do Doutor Filipe Froes na rede social Facebook.
O Doutor Filipe Froes lança-se particularmente a Peter A. McCullough, dizendo ser “sobejamente conhecido por ter vários artigos despublicados por erros metodológicos e conclusões não fundamentados”. Pesquisa-se e somente se encontra um seu artigo retirado (Withdrawn), sem ser apresentada a justificação, na revista na Current in Cardiology em Outubro de 2021, quando falar de efeitos adversos (neste caso, miocardites) era um ‘crime de lesa majestade’.
No mês passado, Janeiro de 2024, sendo outros os tempos, um artigo de Peter A. McCullough (com Jessica Rose e Nicolas Hulscher), intitulado “Determinants of COVID-19 vaccine-induced myocarditis“, sensivelmente similar ao outro, foi publicado na revista científica Therapeutic Advances in Drug Safety. E aí concluiu que o número de notificações de miocardite após a vacinação contra a covid-19 em 2021 foi 223 vezes superior à média de todas as vacinas combinadas nos últimos 30 anos. Isto representou um aumento de 2500% no número absoluto de notificações no primeiro ano da campanha quando se comparam os valores históricos anteriores a 2021.
Enfim, mas vejamos: que tipo de “negacionista anti-ciência” será então este Peter A. McCullough, tão ostracizado, desprezado e espezinhado pelo Doutor Filipe Froes? Pois bem, é um médico cardiologista bastante conceituado antes da pandemia, com um h-index de 107, fruto de 750 artigos científicos e 48.756 citações.
Recordemos o status do Dr. Filipe Froes: um h-index de 17, fruto de 62 artigos e 899 citações.
Estamos conversados.
Registo actual do Scopus de Peter A. McCullough, um dos co-autores do artigo da Cureus.
Ou não.
Porque o Doutor Filipe Froes não fica só atrás de Peter A. McCullough no que concerne à credibilidade e desempenho científico. Dois outros dos co-autores do artigo científico, que ele quis menosprezar, têm valores bem mais elevados no Scopus: Stephanie Seneff, uma investigadora do MIT (Cambridge), contabiliza um h-index de 36, fruto de 191 artigos e 4.837 citações, enquanto Kris Denhaerynck, um investigador da Universidade de Basel apresenta um h-index de 35, fruto de 127 artigos e 4.229 citações.
Vamos lá recordar a performance do Dr. Flipe Froes: h-index de 17, fruto de 62 artigos e 899 citações.
Portanto, estamos triplamente conversados.
Mas há mais.
O Doutor Filipe Froes usa o triste ‘argumento da maioria’ para concluir a ‘narrativa imposta’ de que as vacinas contra a covid-19 são seguras e eficazes, enquanto, por um lado, o Infarmed continua a esconder os dados do Portal RAM com os registos dos efeitos adversos (questão que se encontra em recurso no Tribunal), e quer ignorar diversos outros estudos que colocam em causa a estratégia de vacinação. Veja-se, aliás, o recente estudo científico desenvolvido na Áustria e com participação do norte-americano John Ioannidis, o mais prestigiado e citado epidemiologista mundial, que questiona a estratégia de se vacinar sucessivamente a população, em geral, com novos reforços.
Registo actual do Scopus do Doutor Filipe Froes.
Como co-autor, Ioannidis publicou no European Journal of Clinical Investigation, esse estudo que analisou epidemiologicamente a população daquele país europeu em função do estatuto vacinal e da ocorrência de infecção prévia por SARS-CoV-2, tendo concluído que a eficácia de uma quarta dose para prevenir a morte por covid-19 era fraca. E também já escrevera em finais de 2022 sobre a necessidade de rever a estratégia de vacinação.
Convém dizer que John Ionnidis tem um h-index de 188, completamente estratosférico face ao h-index de 17 do Doutor Filipe Froes.
Aliás, e ainda convém dizer também que o Doutor Filipe Froes foi um dos ‘peritos’ que andou a endeusar o molnupiravir, da sua ‘querida’ MSD, em Novembro de 2021, que veio a ser retirado do mercado nacional em Julho de 2023, sabendo-se pouco depois, em dois artigos da Nature, em Setembro e ainda em Outubro, que causava e acelerava mutações no SARS-CoV-2. Pior a emenda do que o soneto.
E o Doutor Filipe Froes, consultor e marketeer da MSD (e da Pfizer e da AstraZeneca e de mais duas dezenas de farmacêuticas) caladinho que nem um fuso.
Aliás, além de promotor de vacinas contra a covid-19 para todas as idades (e quantas mais melhor, ignorando até a eficaz imunidade natural), o Doutor Filipe Froes fartou-se também de ser o marketeer de anticorpos monoclonais e antivirais (Evusheld, Paxlovid, etc.) que, ou foram sendo abandonados por ineficazes, ou passaram a ser um mero negócio mesmo perante a evidência dos seus fraquíssimos resultados a partir da Omicron.
E o Doutor Filipe Froes caladinho que nem um fuso.
O antiviral elogiado pelo Doutor Filipe Froes acabou por ser retirado do mercado, e mais tarde concluiu-se que criava e acelerava mutações no SARS-CoV-2.
Mas o Doutor Filipe Froes, julgando-se ainda um ‘protegido’ da imprensa mainstream – que saudades terá ele desses nefastos tempos de inquisição –, acha que pode dizer todas as alarvidades em modo impune.
Diz ele, para desancar, que a Cureus “divulga no seu site que demora em média 1,5 dias para a primeira decisão e 33 dias para publicar um artigo”, e que isso são “prazos irreais no mundo das verdadeiras publicações científicas”.
Então, se assim é, que tal incluir nesse lote o famoso protocolo Corman-Drosten que validou a metodologia dos polémicos testes de detecção do SARS-CoV-2? O artigo que o consagrou foi submetido à revista Eurosurveillance em 21 de Janeiro de 2020, foi aceite em 22 de Janeiro de 2020 e publicado no dia 23 de Janeiro de 2020. Entre a submissão e a publicação passaram três dias. Portanto, isto já não são “prazos irreais no mundo das verdadeiras publicações científicas”, pois não, Doutor Filipe Froes?
Fanfarronices à Froes para papalvos.
Mas vamos lá ver o que é, efectivamente, a revista Cureus, tão desprezada pelo Doutor Filipe Froes.
A Cureus foi fundada em 2009 em Silicon Valley como uma plataforma líder no movimento editorial de Acesso Aberto (Open Acess) com uma filosofia que enfatizava a credibilidade científica em detrimento do impacto percebido. Com uma gestão de peer review expedito publicou cerca de 32 mil artigos até ser adquirida pela Springer Nature, o grupo editorial responsável por dezenas de revistas científicas, entre as quais a Nature. E manteve a filosofia.
Em Novembro de 2022, a ‘ciência’ de Filipe Froes garantiu uma “pandemia tripla”, um mix de covid-19, gripe e VSR. Nada sucedeu de anormal.
Sobre a credibilidade da Cureus – que o Doutor Filipe Froes cataloga como uma das “revistas de ‘vão de escada’ que vivem destes expedientes para ter visibilidade” –, citemos as palavras de Joachim Krieger, director administrativo da Springer Nature Health quando a adquiriu em Dezembro de 2022:
“Estamos muito satisfeitos em receber Cureus na família Springer Nature. Com a sua abordagem à publicação centrada na comunidade e o novo pensamento e cultura inovadores que trarão, estou ansioso por trabalhar em conjunto para criar um repositório dinâmico e aberto de conhecimento médico acessível a todo o Mundo”.
O ‘caixote de lixo’ no “vão de escada” do Doutor Filipe Froes não parece afinal cheirar assim tão mal ao executivo da Springer Nature. Pelo contrário.
Mas, já agora, convém acrescentar que o fundador da Cureus, e ainda seu co-editor-chefe, de seu nome John R. Adler, é, enfim, um catedrático emérito da, enfim, Universidade de Stanford. No Scopus tem ele um h-index de 64. Que tal?
Lembram-se do h-index do Doutor Filipe Froes? Exacto: apenas 17 (e nem é mau de todo). Falta-lhe é humildade. Pelo menos…
Já agora, só para chatear mais: o outro co-editor-chefe da Cureus, o alemão Alexander Muacevic, tem um h-index de 37.
Página de John R. Adler, professor da Universidade de Stanford, fundador da Cureus e actual co-editor-chefe, mesmo depois da sua aquisição pela Springer Nature.
Portanto, vejam a bazófia do Doutor Filipe Froes no ataque a um artigo científico que não lhe dá jeito. Lança lama a quem muitíssimos melhores atributos detém.
Mas voltemos ao artigo da Cureus sobre os efeitos adversos das vacinas contra a covid-19, que terão causado 14 vezes mais mortes do que as vidas por si salvas. Será que teve uma revisão assim tão apressada?
Vejamos: a revisão começou em 11 de Agosto de 2023 e terminou em 23 de Janeiro de 2024, e o artigo foi publicado no dia seguinte. Portanto, o peer review demorou afinal 173 dias, ou seja, mais de cinco vezes o tempo médio criticado pelo Doutor Filipe Froes (e que ele quis fazer crer que fora o tempo da revisão do artigo sobre os efeitos adversos das vacinas).
Mas mesmo assim: 173 dias, será pouco ou muito tempo?
O tempo é uma medida sempre relativa (e até subjectiva), por isso nada melhor do que ver na perspectiva dos tempos de revisão dos próprios artigos científicos do Doutor Filipe Froes…
Vamos a isso.
O seu mais recente artigo, como nono co-autor, publicado na BMC Infectious Diseases, teve um tempo de revisão de… 173 dias. Acreditem, igualzinho: foi recebido pela revista em 19 de Abril do ano passado e acabou aceite em 9 de Outubro.
Caramba: terá sido bem revisto pelos pares? Será a BMC Infectious Diseases também uma revista de ‘vão de escadas’? Claro que não! A BMC Infectious Diseases é uma revista da Springer Nature… tal como a Cureus.
Primeira página do artigo da Cureus, onde surge a data do início da revisão (11 de Agosto de 2023) e do fim da revisão (23 de Janeiro de 2024).
Vamos então ao segundo mais recente artigo científico do Doutor Filipe Froes – onde ele surge como 33º de entre 37 autores (estas ‘molhadas’ em Ciência são muitos normais para melhorar o CV) – publicado na Intensive Care Medicine. Oh, diabo! Também é do grupo Springer Nature, a mesma da Cureus. Vamos a contas: foi recebido em 21 de Abril de 2023 e, depois de revista pelos pares, acabou aceite em 22 de Agosto do mesmo ano. Isto dá 123 dias. Ora bolas! Menos tempo do que o tal artigo da ‘péssima’ Cureus.
Ora, nem por acaso, o primeiro autor deste artigo (supostamente) científico é o Doutor Miguel Guimarães, então ainda bastonário da Ordem dos Médicos. Estava tudo em casa, portanto.
E assim, por artes mágicas, este fabuloso artigo científico do Doutor Filipe Froes – o mesmo homem que chamou revista de ‘vão de escadas’ a uma revista da Springer Nature por se gastar ‘apenas’ 173 dias a aceitar um artigo – demorou cinco dias apenas a ser aceite na extraordinária Acta Médica Portuguesa. Cinco dias, atenção, que incluíram um fim-de-semana: o dia 4 de Fevereiro de 2023 foi sábado e 5 foi domingo. Portanto , uma ‘revisão’ em três dias úteis.
Isto já é Ciência para o Doutor Filipe Froes.
Referências aos prazos de recepção de um artigo que tem Filipe Froes e o ex-bastonário Miguel Guimarães que saiu publicado na própria revista científica da Ordem dos Médicos. A revisão demorou cinco dias.
E se formos para os artigos da Pulmonology, a revista da Sociedade Portuguesa de Pneumologia, onde o Doutor Filipe Froes também publica muito, a coisa não é muito melhor. Por exemplo, um recente artigo dele – que tem como co-autor o próprio presidente da Sociedade Portuguesa de Pneumologia, António Morais (os currículos científicos também se fazem assim, sem grandes preocupações de conflito de interesse) – foi recebido a 10 de Outubro do ano passado e aceite logo a 14 de Novembro, ou seja, 35 dias.
Isto já é Ciência para o Doutor Filipe Froes.
Mas vamos ser claros. Os tempos de ‘revisão’ são um falacioso indicador de qualidade [veja-se esta resposta de John Adler]. Em todo o caso, se algo de mal traz então abrangeu sobretudo a profusa publicação de artigos científicos em redor do uso de certos medicamentos contra a covid-19 com Ciência de duvidosa qualidade, e que muitas vezes contribuíram para calar vozes dissonantes. A eficácia dos lockdowns e das restrições, a implementação dos passaportes sanitários, a administração da vacinação em crianças e jovens, bem como a decisão de gastar milhões e milhões de euros em medicamentos patenteados, vieram de muitos artigos científicos ‘turbinados’ com ‘peer reviews’ à la carte.
Uma interessante análise comparativa sobre a duração do processo de aceitação de artigos científicos durante a pandemia – e há muitas mais sobre o mesmo tema – comprova que diversas conceituadas revistas reduziram consideravelmente os prazos do processo de publicação. Por exemplo, a Eurosurveillance – onde foi publicado o polémico famoso protocolo Corman-Drosten – demorava cerca de 168 dias no processo de publicação e 106 dias na fase de revisão no período anterior à pandemia, mas durante a pandemia os prazos foram encurtados para 10 e 8 dias, respectivamente.
Das 14 conceituadas revistas científicas alvo dessa análise, fica-se a saber que, antes da pandemia, o tempo médio para todo o processo de publicação era de 117,4 dias e o de revisão de 95,9 dias, mas passou, durante a pandemia, para 60,3 e 51 dias, respectivamente. Além da Eurosurveillance, o Journal of Hospital Infection (10 dias), o Journal of Medical Virology (10,3 dias), o Travel Medicine and Infection Disease (12,6 dias) passaram a demorar menos de 20 dias no processo de revisão.
E depois a Cureus é que é uma revista de ‘vão de escada’, Doutor Filipe Froes?
Atine, homem!
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A actual legislação sobre a cobertura jornalística das campanhas eleitorais, criada em 2015, estipula que “os órgãos de comunicação social devem observar equilíbrio, representatividade e equidade no tratamento das notícias, reportagens de factos ou acontecimentos de valor informativo relativos às diversas candidaturas, tendo em conta a sua relevância editorial e de acordo com as possibilidades efetivas de cobertura de cada órgão”.
Em princípio, esta formulação, numa primeira análise, demonstra um conceito de liberdade editorial e de informação – que é um dos apanágios das democracias –, porque, em abono da verdade, permite a mais completa liberdade à comunicação social. Mas a liberdade de imprensa não constitui apenas um direito; é uma responsabilidade. E essa responsabilidade cumpre-se em não deixar definhar a democracia.
Mal estariam as democracias se significassem apenas ‘uma pessoa, um voto’; na verdade, a grande vantagem da democracia é conceder o direito de expressar os nossos pensamentos por actos e palavras, e no limite deter um papel para exercer funções na res publica.
Porém, o princípio de ‘uma pessoa, um potencial governante’ somente se aplicará se a comunicação social – como pilar de um sistema democrático – não fizer um tratamento jornalístico discriminatório às diversas candidaturas e candidatos. Bem sei ser um objectivo quimérico equilibrar as coberturas das campanhas eleitorais – até por os eventos e os dinamismos serem muitos distintos, quando temos os partidos (do poder) com orçamentos acima de dois milhões, enquanto outros contam os euros. Por isso, do ponto de vista editorial, as iniciativas de campanha de um partido como o PS e o PSD serão, por agora, em maior número e de superior interesse público (mesmo que possam não ser interessantes) em comparação com as de um pequeno partido sem assento parlamentar. Isso é aceitável, sobretudo dentro do espírito da liberdade editorial.
Contudo, a liberdade editorial de um órgão de comunicação social não pode esquecer uma contínua ‘dívida de gratidão’ à democracia como sistema (não tanto aos políticos), e que pode ser ‘paga’ em duas ou três semanas de campanha eleitoral concedendo o direito de se conhecer as ideias e propostas de todos.
Por isso, mostra-se intolerável que a comunicação social generalista, em época de eleições, coloque determinados partidos numa primeira divisão (com cobertura exaustiva), outros numa segunda divisão (com cobertura mediana e direito a ‘jogos de taça’ com os ‘grandes’, leia-se debates televisivos e radiofónicos), e outros ainda (os pequenos partidos) nem do ‘banco’ saem, ignorados que ficam durante semanas, para depois serem ‘enviados’ a uma espécie de ‘arena’ televisiva, à molhada, para que debitem nuns poucos minutos alguns ‘soundbites’ e umas quantas larachas mais ou menos tontas.
Este espectáculo pouco dignificante numa democracia – e lesivo, porque nem ‘areja’ os partidos de maior dimensão – sempre me chocou, mesmo se, caso a memória não me esteja a falhar, na generalidade das eleições votei em partidos com representação parlamentar. Tenho a convicção que uma democracia (bem) amadurecida é aquela que dá voz a todas as propostas, mesmo, ou sobretudo, àquelas que nada nos dizem ou sobre as quais discordamos frontalmente. As nossas convicções e as nossas opiniões reforçam-se mais quando ouvimos as partes contrárias.
Foi imbuído desta filosofia democrática – uma pessoa, um voto; e igualdade de oportunidades para todos – que o PÁGINA UM decidiu criar a HORA POLÍTICA, uma nova secção deste jornal independente, que lançou o desafio aos líderes partidários, à totalidade dos 24 partidos inscritos no Tribunal Constitucional para uma entrevista de (até) uma hora, realizada pela jornalista Elisabete Tavares.
Como já anunciado (vd., lista em baixo), a sua divulgação será feita a partir da próxima segunda-feira, dia 12, e prolongar-se-á até 6 de Março. Neste momento, já foram realizadas 15 entrevistas, estando já garantido a sequência dos 10 primeiros partidos (até ao dia 21), aguardando-se ainda a marcação das restantes durante as duas próximas semanas.
Mas o PÁGINA UM não fica por aqui, mesmo se a nossa redacção é diminuta. Hoje mesmo começamos a divulgar o podcast ‘As nossas eleições’, onde eu e o também jornalista Frederico Duarte Carvalho passaremos ‘revista’ aos anos de sufrágio e aos Governos que foram passando pela democracia, embora o episódio de hoje tenha o foco numas ‘eleições’ muito peculiares do ano de 1969.
‘As nossas eleições’, o podcast de Frederico Duarte Carvalho e Pedro Almeida Vieira, integrado no ‘Hora Política’.
Não perca, por isso, dia sim, dia não, este conjunto de 12 episódios, que terão ainda um extra mais próximo de 10 de Março.
Fazemos tudo isto para os nossos leitores, mas também pela democracia, a única forma que temos de fazer (ainda) o jornalismo que fazemos: sem publicidade, sem parcerias comerciais e apenas com donativos independente como nós.
DATAS DE DIVULGAÇÃO DAS ENTREVISTAS
Nova Direita (2024) – 12 de Fevereiro
Volt Portugal (2020) – 13 de Fevereiro
Reagir Incluir Reciclar (2019) – 14 de Fevereiro
Chega (2019) – 15 de Fevereiro
Aliança (2018) – 16 de Fevereiro
Iniciativa Liberal (2017) – 17 de Fevereiro
Partido Unido dos Reformados e Pensionistas (2015) – 18 de Fevereiro
Nós, Cidadãos (2015) – 19 de Fevereiro
Alternativa Democrática Nacional (2015) – 20 de Fevereiro
Juntos pelo Povo (2015) – 21 de Fevereiro
Livre (2014) – 22 de Fevereiro
Movimento Alternativa Socialista (2013) – 23 de Fevereiro
Pessoas-Animais-Natureza (2011) – 24 de Fevereiro
Partido Trabalhista Português (2009) – 25 de Fevereiro
Bloco de Esquerda (1999) – 26 de Fevereiro
Partido da Terra (1993) – 27 de Fevereiro
Ergue-te (1985) – 28 de Fevereiro
Partido Ecologista Os Verdes (1982) – 29 de Fevereiro
Partido Popular Monárquico (1975) – 1 de Março
Partido Comunista dos Trabalhadores Portugueses (1975) – 2 de Março
Partido Socialista (1975) – 3 de Março
Partido Social Democrata (1975) – 4 de Março
CDS – Partido Popular (1975) – 5 de Março
Partido Comunista Português (1974) – 6 de Março
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Para o PÁGINA UM todos os meses são cruciais. Ainda há dias fizemos 25 meses de existência, e sentimos que temos uma obrigação moral de dizer OBRIGADO aos nossos leitores que nos acompanham e estimulam a fazer um jornal de acesso livre. E também um MUITO OBRIGADO aquele grupo (crescente) dos leitores que, contrariando a falaciosa ideia de o trabalho jornalístico necessitar de promíscuas parcerias comerciais para sobreviver, nos têm apoiado financeiramente.
Em Dezembro do ano passado, o PÁGINA UM foi ‘escrito’ (leia-se, apoiado) por 478 leitores. No mês passado, em Janeiro, com novo apelo, chegámos aos 541 leitores a conceder-nos apoio financeiro.
O crescimento do PÁGINA UM faz-se através dos leitores, mas também sabemos que o ‘incentivo’ tem de partir de nós, que necessitamos de ‘provar’ que fazemos um jornalismo independente, e que merecemos a confiança dos leitores. Queremos, em cada dia, que nos vejam como uma suficientemente credível para nos concederem recursos para fazer mais.
E se no mês passado já fizemos mais, este mês faremos ainda mais.
Em Janeiro, passámos a contar com mais colunistas, que se juntaram aos que já tínhamos. Destaco aqui o Manuel Matos Monteiro, a Sara Battesti (com as suas análises semanais aos cartazes políticos), o Ruy Otero e o Bruno Cecílio. Daqui também sairá em breve mais novidades com ‘movimento’ e muita crítica.
Mas este mês vamos dedicar uma especial atenção às eleições e à actividade política. Como anunciámos no passado dia 22, estamos a preparar a Hora Política. Pela primeira vez, pelo menos nos últimos 30 anos, o PÁGINA UM será o primeiro órgão de comunicação social português a querer ouvir, em é de igualdade, os líderes dos 24 partidos inscritos no Tribunal Constitucional. As entrevistas – daqueles que aceitarem (sendo que este será também um teste ao nível de ‘democraticidade’ dos partidos) –, conduzidas sempre pela jornalista Elisabete Tavares, começarão a ser divulgadas, por ordem crescente de antiguidade, a partir do dia 12 de Fevereiro, com a Nova Direita, e estender-se-ão até 6 de Março, com o Partido Comunista Português.
Neste momento, já foram gravadas sete entrevistas, duas das quais com partidos com actual assento parlamentar, estando já agendadas outras para as próximas semanas.
Em paralelo, a Hora Política terá ainda uma rubrica em podcast com a participação do jornalista Frederico Duarte Carvalho, onde se conversará sobre as eleições passadas em regime democrático, desde a primeira em 25 de Abril de 1975, para formar a Assembleia Constituinte. Ainda estamos em fase de gravação, mas contem com pelo menos uma dezena e meia de boas conversas que vamos colocando ao longo deste mês.
E de resto, continuaremos a ser o mesmo jornal que temos habituado os nossos leitores, fazendo investigações incómodas e abordando temas que os outros se esquecessem ou se fazem esquecidos.
Uma coisa posso garantir aos nossos leitores: gostávamos de fazer ainda muito mais. Mesmo muito mais. Mas para isso precisamos de dar mais passos, com os nossos leitores, garantindo a nossa sustentabilidade financeira. Para formar uma equipa com mais jornalistas independentes em condições salariais adequadas. Desejamos chegar, ainda este ano, aos 1.000 leitores apoiantes, e seguir em frente. No mês passado tivemos um crescimento de 63 apoiantes, embora estejamos ainda a pouco mais de meio caminho. E, por isso, o mês de Fevereiro, como todos, será para o PÁGINA UM o continuar de uma viagem desafiante.
PÁGINA UM – O jornalismo independente (só) depende dos leitores.
Nascemos em Dezembro de 2021. Acreditamos que a qualidade e independência são valores reconhecidos pelos leitores. Fazemos jornalismo sem medos nem concessões. Não dependemos de grupos económicos nem do Estado. Não temos publicidade. Não temos dívidas. Não fazemos fretes. Fazemos jornalismo para os leitores, mas só sobreviveremos com o seu apoio financeiro. Apoie AQUI, de forma regular ou pontual.
O Público – e falo do Público, porque fez ontem um trabalho sobre esta matéria – e outros órgãos de comunicação social ‘mainstream’ andam muito entusiasmados com a possibilidade de os ‘gigantes digitais’ combaterem a denominada ‘desinformação’ durante os actos eleitorais deste ano.
Contas feitas, ao longo de 2024 haverá mais de 80 países a irem às urnas, incluindo os Estados Unidos, o Reino Unido, a Rússia, a Ucrânia, a Índia e, claro, Portugal. Estão ‘todos’ – não sei bem quem são os ‘todos’, mas encabeçados pelos directores dos media ‘mainstream’ – preocupados com os malefícios da ‘desinformação’ nas campanhas políticas, como se o Mundo só agora tivesse descoberto a existência de mentiras, de manipulações, de promessas faraónicas feitas por certos políticos. Eu, sinceramente, pensava que sempre foi assim e por todos quadrantes. Neste frenesi, Otto von Bismarck deve estar a rir-se na sua sepultura em Friedrichsruh – isto se não for, hélas, uma mentira a frase que lhe atribuem: “nunca se mente tanto como antes de umas eleições, durante as guerras e depois das caçadas”.
Sabemos bem, pela amostra dos últimos anos, como os ‘gigantes digitais’ actuam, e a forma tentacular com que seduzem e envolvem os media ‘mainstream’ (que aceitam a ‘linha’ directora adoçada com financiamentos para supostos ‘fact checkings’), catalogando e tratando a ‘desinformação’ com critérios do poder. A verdade, em tristes épocas, sempre se impôs pelo poder, em vencer em vez de convencer. Antes, e num sistema verdadeiramente democrático, quando a credibilidade da imprensa valia por si, a verdade sobrepunha-se à mentira através do debate e sobretudo do papel intermediador dos jornalistas. E da pluralidade de opinião. Acabava por ser premiada, pelos leitores, a imprensa que ‘dizia’ a verdade; e penalizada a que mentia.
Agora, não! Tudo mudou. Agora, são os ‘gigantes tecnológicos’ que determinam a ‘verdade’, através de algoritmos comandados e manipulados à distância por ‘entes’ absolutamente nada democráticos (inalcançáveis e não-identificáveis), mas seguindo uma ‘narrativa’, determinando-se à priori se algo é verídico ou não, se algo é aceitável ou não, se algo é censurável ou não. Vimos isso na pandemia, onde, por exemplo, eu e muitos – e muitos com Ciência feita de décadas – fomos censurados por dá cá esta palha, sem apelo nem agravo.
Tão fácil que foi então, e agora continua a ser, rotular, catalogar, censurar. Se o Facebook bloqueava, era porque se era negacionista, lunático, chalupa. Ainda hoje, por exemplo, a minha conta do Facebook está condicionada por ter divulgado notícias do PÁGINA UM baseadas em artigos científicos de revistas científicas com peer review. Julgo que o ‘castigo’ terminará em Março, pelo que talvez consiga, depois disto, ultrapassar as agora 20 ou 30 reacções por post. Nunca houve sequer oportunidade de apelação. Os ‘gigantes digitais’ são inalcançáveis.
E vimos isso, depois da pandemia, na invasão da Rússia à Ucrânia, onde também se permitiu a imposição de uma absurda censura aos órgãos de comunicação social russos, como se a Comissão Europeia se achasse detentora de um mandato paternalista considerando-nos inaptos por ineptos em distinguir a verdade da mentira, os factos da ficção.
E vimos isso agora nas represálias de Israel à Faixa de Gaza, onde se ‘declarou’ como dogma que qualquer crítica aos israelitas será um discurso anti-semita e qualquer atitude de compaixão sobre os palestinianos passaria a ser considerada uma apologia ao terrorismo.
E vemos agora em todas as questões fracturantes (e.g., alterações climáticas, migrações, género, etc.), onde quem quer fracturar deseja partir literalmente os seus opositores, promovendo medidas de cancelamento, de ostracismo, de silenciamento, de perseguição – e isto enquanto batem no peito clamando as virtudes da democracia. Mesmo os artistas, agora já nem podem ser subversivos, provocadores, imperfeitos, de contrário perdem o sustento.
Por isso, quando vejo o entusiasmo da imprensa ‘mainstream’, da qual o Publico é um flagrante expoente nacional, congratulando-se orgasticamente pela intervenção censória dos ‘gigantes digitais’, identificando, desde logo a ‘desinformação’ como sinónimo (ou somente proveniente) do Trump, da extrema-direita e da Rússia, assusto-me com o triste caminho que estamos a trilhar.
A simplificação da origem da ‘desinformação’ tem um propósito: não é apenas calar (pela pior forma) opositores (mesmo que sejam pouco recomendáveis, como a extrema-direita ou regimes não-democráticos como a Rússia), mas validar como ‘verdades’ todas as mentiras, todas as manipulações, todas as promessas não cumpridas, todos os actos de corrupção moral e material dos políticos ‘mainstream’.
Fazer esquecer, aliás, que foram eles, os políticos ‘mainstream’, com os seus actos e omissões. ‘benzidos’ por uma imprensa comprometida e vendida, que deixou de ser o ‘watchdog’ dos cidadãos, que ‘empurraram’ uma cada vez maior franja da população portuguesa (e ocidental) para os braços dos partidos populistas, antissistema e até de extrema-direita. Os europeus (e os portugueses incluídos) não se tornaram de repente fascistas: estão é fartos dos políticos que usurparam a expressão ‘partidos democráticos’. E começam também a estar fartos de uma imprensa que acha bem uma ‘Censura do Bem’.
A ‘fúria’ em combater a ‘desinformação’ dos ‘outros’ com o borrão da censura, passando uma esponja pelas próprias mentiras, não é um acto democrático; é o acto próprio de uma ditadura. É um acto que deve ser denunciado pela Imprensa, nunca apoiado. É um ultraje aos princípios do Jornalismo achar que há ‘Censura do Bem’, ainda mais por ‘gigantes digitais’ que janelas opacas.
Convençam-se: permitir ‘regulação’ através de ‘gigantes digitais’ não é regulação: é uma ditadura. Não se substitui o papel de uma Justiça lenta e coxa através de empresas que ‘silenciam’ carregando num botão. Isso é uma ditadura mesmo que supostamente esteja imbuída de santos princípios.
Convençam-se: não há ‘Censura do Bem’. Não há ‘Ditaduras do Bem’. Uma ditadura é uma ditadura – sempre será má. E sobretudo quando apadrinhada, como anda a suceder, pela própria imprensa ‘mainstream’.
Convençam-se: a ‘desinformação’ combate-se sim com (boa) educação, (boa) formação e (boa) informação, para melhorarmos o entendimento das coisas por parte das pessoas, sem doutrinamentos nem dogmatismos; não se combate recorrendo à censura. E ver certa imprensa explicitamente a apoiar qualquer forma de censura faz-me dar voltas ao estômago. Por isso, camaradas jornalistas, preocupem-se, sim, em dar boa informação; apenas isso. E vigiem sim Governos e ‘gigantes digitais’. Já não será pouco. É muito – é, aliás, uma fundamental razão da existência do Jornalismo.
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