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  • Visão política ao correr da pena

    Visão política ao correr da pena


    Há muitas soluções para governar uma casa! Reduzir despesa ou aumentar eficiência nos rendimentos, trabalhar mais horas, rentabilizar o espaço onde se vive. Há uma criatividade, sobretudo na pobreza, que constrói soluções para a necessidade. Encontramos isso em África e na América do Sul, onde a segurança social quase não ajuda. Não vemos tanto os vendedores de rua e as multiplicidades mercantilistas na Europa e na América, onde o Estado Social reduz a rua como sustento.

    Portugal é um país a meio de tudo. Tem Estado Social pobre. Tem gente muito pobre sem qualquer ambição, que se aguenta com os pagamentos-esmola a que damos nome de apoios sociais. E temos um desconhecido César Boaventura que tem património de mil milhões que lhe choveu nas contas. Não sabe como nem de onde. Já tínhamos muitos no passado, do BES e do BPN. Ninguém sabia como ficava rico.

    Entretanto, dizer mal do Chega é o desporto demagógico do momento. O César Boaventura vale fundos de página apesar de representar tudo o que é incompreensível a quem trabalha. O Chega tem dezenas de comentadores constantes.

    Se o próximo Governo reabrir as centrais a carvão do Pego e de Sines, recupera 6 mil milhões que pagamos a Espanha por energia a carvão… Estranha decisão do Governo da geringonça.

    Se esse Governo reduzir a torrente de turismo que nos dilacera os preços das rendas e a habitação, não necessita aeroporto nenhum e trabalha para um sustentabilidade ecológica realmente contabilizável, e poupa oito mil milhões em obras públicas. Turismo é rendimento fácil e não garantido. Turismo é bom, mas está associado a paquetes e aviões altamente poluentes. Reduzir rendas e ter casas para os portugueses é bom.

    Se o próximo Governo reduzir impostos e trouxer as empresas que preferem pagar na Holanda o IRC, recupera perto de 25 mil milhões de euros. O IRC elevado tem sido uma hemorragia de capitais.
    Se o governo incentivar uma fiscalização à fuga fiscal recupera 20 mil milhões…

    Dinheiro desbaratado pelo PS não falta!!

    Se introduzir as parcerias público-privadas (PPP) na Saúde, apenas de onde as retirou, já melhora o desastre actual do Serviço Nacional de Saúde (SNS).

    O regime populista e demagógico instalado decidiu que as frases feitas contra o Chega eram a música da vitória, mas a realidade é que ele parece estar a crescer. Cresce porque descobertas idiotas como Sebastião Bugalho, estranhos regressos como o de Relvas, ocupam espaço televisivo a denegrir com cegueira. Ventura apresentou medidas para Portugal que são como todas as outras, promessas! Não são vazias nem mentiras. Prometeu reverter a história do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF). Não duvido que o fará. Prometeu fiscalização dos que recebem benficios sociais. Não vejo mal nisso. Nunca disse que os terminava. Prometeu reduzir impostos e aumentar pensões. Fez o que fizeram todos os outros, só que a promessa do Partido Socialista (PS) não tem respaldo pelo acréscimo brutal de impostos nos últimos oito anos, pela redução brutal do poder de compra, mesmo que com aumentos de salários, e numa falsidade que é a chuva de  contribuições de milhares de salários baixos que chegam de emigração em trânsito. Mas estão em trânsito até à consolidação burocrática. Parece que entraram 700 mil nos últimos cinco anos. Não estão cá!

    Mas os Bugalhos não falam disto. Os comentários ao discurso de André Ventura no encerramento do congresso são uma das mais encenadas farsas da política portuguesa. Uma série de apoucadores da realidade dos factos. Ventura diz o mesmo que o bloco sobre o enriquecimento ilícito. Ventura diz o mesmo do Partido Social Democrata (PSD) sobre redução de impostos. E dizia mais barbaridades no passado que agora, já percebeu que não trazem vantagem competitiva. A realidade desgovernada chega para os portugueses estarem cansados e perdidos.

    Nunca se fala da criminal destruição da democracia que foi ter um CDS com cem mil votos e sem representação parlamentar. Deu assim maioria ao PS. O regime eleitoral mantido pelo PS e PSD serviu agora para cidades como Coimbra, Viana do Castelo, Castelo Branco, Beja, Covilhã… só puderem escolher entre três partidos que elegem. O Chega é um deles. Quem criou esta importância para o Chega? Eles! Os dois burros que nos governam desde 1975. Os outros votos serão lixo. A 10 de Março há um momento complexo que pode redundar em instabilidade ou em uma definição clara do caminho. Os portugueses vão escolher independentemente dos bugalhos. Mas forçados por uma ausência da reforma eleitoral que já devia ter acontecido e que agora mata as opções mais pequenas.

    Os corpos de polícia estão revoltados com as medidas sem transversalidade e sem coerência que surgiram para a PJ. Não esquecem que polícia morto a cumprir o seu dever vale muito menos que outras indemnizações sem coerência com a jurisprudência do país.

    Polícia atropelado tem menos moldura penal que atropelo de gato. Jovem de 16 anos pode escolher sexo e não pode conduzir camião ou votar… A estupidez e a ilógica têm consequências!!!
    Governar uma casa tem de ter critérios lógicos, coerentes, pratos iguais para todos, regras semelhantes.

    Diogo Cabrita é médico


    N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.

  • O rei vai nu

    O rei vai nu

    Pode-se, de uma maneira geral, confiar na confissão de um desesperado, e, como nem todos se confessam à hora da morte, a capacidade de desespero é só concedida a alguns e eu não era um deles.

    Graham Greene

    OS COMEDIANTES (1966)


    Aquilo que me foi dado ver pareceu-me uma valente porcaria de impacto deveras duvidoso, uma autêntica fábula moral daquelas em que só as crianças inocentes e os sábios videntes ousam dizer que o rei vai nu. Parecia tanto que concluí que devia ser mesmo. Mas, não vá o diabo tecê-las, decidi partilhar a história convosco. Pode ser que me tenha escapado algum grãozinho de areia que torne logo esta fábula menos degradante. E, como tal, muitíssimo menos deprimente.


    O grande feito passou esta semana nas notícias,  encavalitado entre reportagens de encontros literários e previsões de tristeza e abandono para a próxima Feira do Livro em Lisboa. A primeira coisa que me ocorre é que não estamos propriamente perante um feito – e que, mesmo que o fosse, nunca seria assim tão grande como isso. Portanto, parece-me que estes pesos e medidas ditam logo à cabeça a conclusão lógica de que esta historieta nem sequer mereceria aparecer ensanduichada nas notícias culturais do dia. Mas como isto é apenas o que me parece a mim, e eu nem sempre sigo a construção destes grandes feitos tão atentamente quanto deveria, respeitei a responsabilidade de escrever para milhares de leitores provavelmente ainda menos informados do que eu; e, antes de mais nada, tratei de organizar uma pesquisa mais séria e mais sistemática sobre o assunto.

    people having a bonfire

    Descobri logo que não há assim grande informação sobre o grande feito, o que já de si é um péssimo sinal. Não me parece que nenhuma informação deva ser promovida ao estatuto de notícia[1] se os espectadores não tiverem, caso fiquem interessados[2], mais informação disponível para começarem a saber com o que é que contarão dali em diante – neste caso específico, em termos de publicações. A editora propõe-se oferecer-nos uma colecção de quinze “grandes clássicos da literatura portuguesa”, pelo amor de Deus. Era bom sabermos qual foi o critério de escolha desses clássicos[3], e, presumindo que a resposta não é “à balda,” com que regularidade se prevê disfrutarmos do seu lançamento no mercado livreiro.

    Ainda dentro do pelouro dos desagrados de menor incómodo, a notícia disse-nos que a colecção vai ser oferecida aos portuguesas por uma editora chamada LEVOIR, que, neste caso, irá trabalhar em conjunto com a RTP[4]. De facto, a senhora que apareceu a mostrar um pouco mais de entusiasmo ao falar destes quinze livros, recordando-nos que “ainda nunca se tinha feito em Portugal nenhuma colectânea de grandes clássicos portugueses,[5]” falava português com um sotaque francês carregado. Um pouco mais de investigação, e descobrimos que as edições LEVOIR são um subsector da ALMEDINA, embora nenhum subtexto nos explique o que distingue a casa-mãe da sua filha afrancesada[6]. Enfim. Se conseguimos chegar até aqui calmamente, a culpar-nos a nós, e não aos outros, por tudo o que nos incomoda nestas modernices, agora a seguir vem de lá a parte pior.

    Estes quinze grandes clássicos não se destinam a difundir em Portugal o prazer das belas letras.

    turned on desk lamp beside pile of books

    A primeira obra a publicar será a MENSAGEM, de Fernando Pessoa, mas o livro não foi concebido para nos levar, silenciosamente, à luz da vela e em passos de veludo que não dispersem quase uma centena de anos de colónias de morcegos[7], até ao fundo do mundo interior do poeta. É mais que vai ser enfiado num funil e empurrado à força pela garganta das pessoas, mesmo com toda a força, mesmo até ao fundo.

    Nesta colecção de Grandes Clássicos da LEVOIR, fiquem sabendo que tanto a acção como o texto hão de cair-vos em cima… em banda desenhada.

    Ai, não.

    Não, não, não, não.

    Enfiar o universo da MENSAGEM numa banda desenhada de recorte pueril[8] não é nenhuma forma de “estimular entre os jovens o prazer da leitura,” ou qualquer outra parvoíce que possa dizer-se a esse respeito. Os jovens, coitados, têm sempre as costas largas. Este género de esforço é tão abominável, e tão inútil, como as tirinhas de BD de História de Portugal que constavam do manual de 6º ano dos meus filhos: alguém achava – mesmo – que os miúdos de nove e dez anos que foram criados pela televisão[9] conseguem compreender o sentido dos rostos contorcidos à frente e com grandes incêncios atrás que constam dos quadradinhos relativos ao Grande Terramoto de 1755? Quantas vezes é que pensam que eu apanhei com as perguntas fatídicas “o que é isto, mãe?”, ou “o que é isto, Clara?”, ou “Ou o que é isto, Professora?”, porque os fenómenos em causa estavam descritos em banda desenhada?

    woman in black, blue, and red shirt lying on surface while reading magazine

    E agora o ataque dos Grandes Eventos explicados em BD é direitinho à literatura, a demonstrar que já nada é sagrado, mesmo.

    Se mais ninguém disser que o rei vai nu, eu, por mim, chego-me já à frente. Querem o exemplo acabado de um projecto que não é bom para ninguém? Ponham os olhos neste.

    Não estou para aqui a resmungar. Estou apenas, com toda a tranquilidade possível, a reafirmar que existem áreas separadas. Se podemos argumentar com uma grande parte de verdade que as pessoas deixaram de ter tempo e de ter espaço, tanto exteriores como interiores, para continuarem a ler boa literatura[10], então devemos procurar uma forma produtiva de fazer frente a esta falta de contexto. Não é propriamente apresentar-lhes um resumosinho da história, como acontece tantas vezes na Wikipedia e na escola, que poderá, alguma vez, devolver-lhes o prazer como não há outro de serem parte integrante de uma obra de arte, já que cada livro é ele mesmo e o seu leitor – um livro que não estiver a ser lido é um livro que não existe.

    woman standing in front of mirror

    A boa BD é uma coisa. A boa literatura é outra coisa. Os formatos de suporte para cada uma destas duas coisas não podiam ser mais diferentes. É vergonhoso, positivamente vergonhoso, andarem a refugiar-se atrás de pretextos inúteis, tais como “atrair os jovens.[11]” E não poderiam inventar uma forma mais saloia de homenagear os nossos “grandes clássicos”.

    Que, à excepção do primeiro da lista, ninguém nos disse quais são.

    Mal feito, mal feito, mal feito.

    Clara Pinto Correia é bióloga, professora universitária e escritora


    [1] E note-se que era uma notícia de mais de cinco minutos, que passou numa quarta-feira – ou seja, era uma notícia grande e passou mesmo a meio da semana, em plena competição por espaço e tempo característica dos dias úteis.

    [2] E olhem que era uma notícia concebida para espectadores muitíssimo impenitentes. Estava positivamente feita com os pés, sem o carinho e a beleza que a literatura exige para ela própria se levar a sério; e,  embora aparecessem diversas personalidades a debitar bastantes balelas, chegava-se ao fim sem sequer se perceber se o formato vai ser o do livro ou o do fascículo. Acrescente-se que o material que está postado online também não nos tira qualquer uma destas dúvidas.

    [3] A menos que a resposta seja apenas, e tão laconicamente quanto possível, “eram livros que já estavam no domínio público.

    [4] Estou a simplificar. O “em conjunto com a RTP” já foi informação que encontrei online. A notícia da televisão era mesmo minimal.

    [5] Hm? Mas… mas…

    [6] De certeza que a ALMEDINA também pertence, por seu turno, a outra grande editora qualquer; mas isso não está esclarecido em lado nenhum. Nem eu gosto de ir fazer investigação para depois voltar de lá deprimida.

    [7] A data da primeira publicação da MENSAGEM foi 1934. Vamos em 90 anos passados sobre este marco literário. E, já agora, aproveitamos para oferecer factoides aos nossos leitores.

    [8] Apareciam páginas do livro na peça informativa. Isto não é um juízo de valor sobre o talento do artista que as fez. É um grande aperto no peito quando pensamos na forma como todo este material será tratado.

    [9] Quando eu adoptei os meus filhos já não podia fazer grande coisa a esse respeito. Mas dei-me rapidamente conta de que todos os colegas e amigos deles, na escola e na rua, tinham sido criados da mesma maneira.

    [10] Até o meu Sebastião, que interioriza com grande rapidez os comportamentos-chave das pessoas, começa a dar alguns sinais de impaciência ao fim de dez minutos, quando eu estou a ler na cama, e – assim lhe parece – gaita, raios me partam, a grande malvada da mulher nunca mais apaga a luz.

    [11] A sério. É horrível. Eu já fui jovem, e lembro-me muito bem destas políticas. Tudo o que fosse destinado aos “jovens” era fatidicamente medíocre. Meu, que sufoco. Tirem as patas e deixem-nos em paz.


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  • PPM: Partido Para Menorizar

    PPM: Partido Para Menorizar


    A poucos dias das Eleições Legislativas, os Partidos preocupam-se em estudar todas as hipóteses que possibilitem o aumento das suas votações.

    Se é certo que todos os votos são importantes, de um modo geral, é imprescindível uma atenção redobrada quando as sondagens apontam para uma grande proximidade entre os candidatos. O que parece ser o caso.

    Luís Montenegro tomou, nesse sentido, duas importantes medidas.

    Em primeiro lugar, alterou completamente, e para surpresa de muitos, o sistema habitualmente usado na constituição das listas do PSD.

    Gonçalo da Câmara Pereira, presidente do Partido Popular Monárquico.

    Começou por chamar, para lugares de destaque, nomeadamente para cabeças de lista do Porto e Santarém, alguns independentes (figuras conhecidas e respeitadas nas suas áreas).

    Uma medida que não foi tomada por António Costa, quando conseguiu uma maioria absoluta, o que, com toda a certeza, lhe teria permitido um reforço na qualidade dos seus Ministros e um desempenho muito acima do conseguido unicamente com a “prata da casa”.

    Sendo esta uma medida que promete bons resultados, não deixa de ter, também, alguns contras.

    Desde logo a revolta de militantes que se julgavam donos de lugares elegíveis e se viram relegados para posições subalternas.

    Alguns deles com destaque no partido.

    Bastará lembrar que 44 dos actuais deputados do PSD (cerca de 57%) ficam de fora das listas.

    Entre os que estão de saída contam-se, por exemplo, Duarte Pacheco, deputado desde 1991, e Fernando Negrão, no Parlamento desde 2002 e Presidente da Primeira Comissão.

    A segunda medida foi a aposta no regresso à AD, aliando-se ao CDS-PP e ao Partido Popular Monárquico.

    Os votos desses dois mini-partidos não aumentarão, em mais de 2%, a votação que o PSD conseguiria se concorresse sozinho.

    Ainda assim, com os votos do CDS-PP, pode conseguir (para além de, em alguns círculos, eleger mais uns deputados) melhorar a qualidade da “bancada” com a entrada de gente competente deste partido.

    Já no que diz respeito ao “Partido Popular Monárquico” a decisão foi recebida com surpresa e desagrado, nas hostes dos sociais-democratas, e gozo nos restantes partidos.

    Tudo porque, é sabido, o PPM, em termos reais, não existe.

    Tem uma Sede completamente destruída e os poucos que acompanham o seu líder são membros da sua família (mulher, ex-cunhada, filhas, primo e irmãos).

    Gonçalo da Câmara Pereira é considerado um elemento “infrequentável”, pelos meios ligados à Causa Real, segundo testemunho prestado à revista “Sábado” e o partido, que se diz monárquico, não é reconhecido pelos membros daquela que, aliás, se recusam veementemente a votar nele.

    O adjectivo que melhor pode definir Gonçalo da Câmara Pereira é “tonto”.

    Deve ser dos poucos portugueses que consegue a extraordinária proeza de dizer uma parvoíce sempre que abre a boca.

    É líder deste PPM (embora o seu mandato já tenha terminado em Janeiro de 2023, há um ano, portanto).

    Depois de, em 2005, ter anunciado que se podia candidatar a Presidente da República, foi impedido de o fazer pelo seu irmão Nuno que lhe terá conseguido explicar, a muito custo, que havia ali uma incompatibilidade. Para além, obviamente, da que resultava da sua saúde mental.

    A 21 de Dezembro de 2023 garantiu ao “Público” que não aceitava que o PPM aderisse à AD porque “Luís Montenegro e Nuno Melo são líderes fracos e não têm visão para o que se está a passar no país”.

    Lembrei-me de Groucho Marx quando recusou o convite para ser sócio de um Clube selecto dizendo que “nunca aceitarei pertencer a um clube tão pouco exigente que me aceite como sócio”.

    Na realidade, maior prova da incompetência daqueles dois políticos do que convidarem o PPM a integrar a coligação será difícil de conseguir.

    Tentaram corrigir, mais tarde, quando colocaram o rapaz numa posição inelegível e proibindo-o de falar em qualquer cerimónia da AD, mas fica a dúvida: então porque incluíram o PPM na coligação?

    Ainda assim, penso que deviam aproveitar o moço autorizando-o a fazer campanha em tabernas, por exemplo.

    Em cima: Freitas do Amaral, Sá Carneiro e Ribeiro Telles. Em baixo: Nuno Melo, Luís Montnegro e Gonçalo da Câmara Pereira.

    Já o imagino a conseguir umas dezenas de votos de outros “grunhos”, por solidariedade, depois de escutarem algumas das suas mensagens:

    As mulheres bonitas são, normalmente, burras”.

    “A mulher é para o que nasce, fica com as mãos macias se lavar a louça”.

    “Sou romântico, sou sensível e não sou larilas”.

    “Já estou como diz o outro: quando cansado das outras vou para casa”.

    Fora das tascas era seguir o conselho de um elemento do Conselho Nacional do partido:

    “É mais do que evidente que terá que ter uma mordaça durante a campanha eleitoral”.

    Resta saber se a tentação de repetir uma estratégia vencedora (a AD), sem ter em conta a diferença abissal entre os protagonistas (comparar Sá Carneiro, Freitas do Amaral e Ribeiro Teles com Montenegro, Nuno Melo e Câmara Pereira seria um ultraje para os primeiros), não faz sair o tiro pela culatra eliminando, inclusivamente, as vantagens que a primeira das medidas acima indicadas poderia trazer.

    O que, diga-se, também não traria grande mal ao nosso mundo.

    Vítor Ilharco é assessor


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  • Boavista 2.0

    Boavista 2.0


    São 20h32, e estou na estação dos Restauradores. Se tudo correr bem, linha directa até à saída no Alto dos Moinhos, seguindo-se visita ao ‘guichet’ das acreditações [GRATUITAS, ouviste, Pedro Coelho?] para aceder ao estádio [pertença de uma sociedade anónima desportiva: será espaço público ou privado? tenho de ir perguntar aos membros da ERC que, desde a identificação do autárquico Cinema São Jorge como local privado, se mostram sapientíssimos nestes assuntos], e ala que se faz tarde… Prevejo demorar, neste percurso e processo, uns 30 minutos até me assentar na Varanda da Luz, onde espero, não só deliciar-me com o farnel do Benfica nem apenas com os golos do Cabral e do outro tipo que foi contratado ao Santos (e do qual não me lembro agora o nome de cabeça), desforrar-me da triste e única derrota neste campeonato, no Bessa, logo na primeira jornada.

    Vou a tempo, por certo, de assistir aos primeiros minutos… da segunda parte!!!

    Segunda parte!!! Como é possível?! Como foi possível? Como é que se eclipsou da mente o jogo hoje do Benfica. Que se passou na minha cachimónia?! Metade do jogo perdido!

    Ou antes: que grande sorte a minha; afinal, é uma vantagem trabalhar num órgão de comunicação social de redacção diminuta, onde sendo eu um cronista pouco zeloso de compromissos futeboleiros, tenho um  director a quem responder… que sou eu próprio… que, por sua vez, responde, em termos de despesas, ao gerente… que sou eu.

    Linda promiscuidade, esta minha. Deve estar o Pedro Coelho, jornalista da SIC e presidente do comité organizador do congresso dos jornalistas, a fazer ‘tssss-tssss’, abanando a cabeça em óbvia desaprovação desta minha conduta, enquanto assina as cartas de agradecimento à Brisa, à REN, à Mota-Engil, ao Santander, ao Milenium BCP, à Delta, à Mercadona… pelo financiamento concedido, e conta as notas dos jornalistas que, pagando-lhe(s) [as entidades organizadoras são o Sindicato dos Jornalistas, o Clube dos Jornalistas e a Casa da Imprensa], fazem ainda a cobertura sobre as desgraças onde muitos meteram o Jornalismo. Se a moda pega, esta Da Varanda da Luz vai passar a ser orçamentada. Adiante…

    (chego ao estádio, dois minutos antes do fim da primeira parte, já nem vale a pena subir, decido perguntar se ainda há farnel, há sim, senhor, vamos lá então subir para a Varanda da Luz, com a sandes & companhia, enquanto descem os adeptos para o intervalo, assobiando ruidosamente, acho que não pela minha chegada [a menos que todos os que assobiem sejam ‘altos quadros’ da CCPJ e da ERC]; parece-me mais por causa da equipa de arbitragem)

    Desculpado que estou por mim próprio pela falta de presença na primeira parte, que seguiu sem golos (talvez para me agradarem), espero que os leitores mostrem condescendência – ou pelo menos, a meia dúzia daqueles que me lê, sendo que uma parte deles o fazem para me criticarem de não investigar os “podres do Benfica” –, porque hoje mal dormi…

    (recomeça a segunda parte, nem sei se o Benfica jogou bem ou mal na primeira parte)

    … durante a noite e ao longo da manhã, deixei um artigo pronto a publicar sobre a Start Sines Campus (que parece estar bem da vida, depois de causar um ‘terramoto político’), meti online o oitavo episódio do podcast O Estrago da Nação (onde o Tiago Franco e o Luís Gomes), divulguei a análise ao cartaz do PSD feita pela Sara Battesti, que aconselho imenso…

    (golooooooooo… anulado! Bolas. Di Maria marca, ainda se festeja, mas o VAR chama o árbitro, que anula por mão prévia de João Mário)

    … continuando:  revi a edição da Maria Peixoto (que, entretanto, fez uma entrevista ao economista Nuno Palma, da Universidade de Manchester, a sair na próxima semana) ao texto da coluna semanal do Tiago Franco sobre a Europa, acertei com a Elisabete Tavares detalhes de um interessantíssimo projecto em mãos…

    (golooooooo… desta conta: Di Maria, com centro venenoso em arco, daqueles em que ninguém toca, muito menos o guarda-redes, com a bola a entrar no cantinho)

    … continuando: ainda fiz um ‘artigo’ sobre a cobertura ‘possível’ ao Congresso dos Jornalistas, face à minha recusa em pagar para fazer cobertura noticiosa: quatro rectângulos negros sobre os temas previstos no programa parecerem-me bem simbólicos. Ah, e também enviei a minha pronúncia à CCPJ sobre o processo disciplinar que Girão & Godinho decidiram presentear-me, e enderecei umas questões à ERC sobre umas ‘falhazitas’ que por lá constam no pouco transparente Portal da Transparência dos Media. Faltou-me tempo para paginar a Deriva dos Continentes, da Clara Pinto-Correia, que deve estar, com razão, furibunda pelo adiamento de uma necessária conversa para acertarmos umas agulhas. Sairá este sábado o texto, e a conversa.

    (lá em baixo, no relvado, a Benfica porfia mas não marca, e, tirando ali um calafrio, o Boavista não ameaça… mas nunca fiando, no Boavista, nem confiando no Benfica)

    Enfim, mas, na verdade, o meu ‘esquecimento’ da hora do jogo (ou mesmo do jogo) do Benfica não se deveu a estes afazeres, mas sim a um ‘banho de cultura’, misturado de boa conversa e melhor almoço (cabo-verdiano) com um bom punhado de boas pessoas, incluindo a ‘minha’ Elisabete e o ‘nosso’ Rui Araújo: visitei a casa-biblioteca de Daniel Nunes, um homem de uma vida excepcional e detentor de um espólio de pasmar. Tão de pasmar que, obviamente, terei de regressar, e talvez fazer mesmo umas conversas gravadas. E prolongou-se tanto esse ‘mergulho’ por conversas e livros antigos que se escafedeu o jogo…

    (goloooooooooooo…. Marcos Leonardo, que marca o segundo golo na segunda vez vestido de vermelho… já na parte final dos descontos… Consummatum est).

    E eu também. Ainda bem que jogo terminou. Estou estafado, ainda por cima venta por aqui um frio gélido, nesta Varanda da Luz, e eu quero ver se me meto na cama. Por hoje, fecho a loja. A crónica não está nenhuma ‘espingarda’, mas sempre me parece melhor do que o estado do lusitano Jornalismo. Mas, descansem: o Pedro Coelho vai salvar o Jornalismo do fosso, através da criação, como propôs num programa da RTP, de financiamentos similares aos da academia, por via de análise de projectos realizada por ‘peritos’ (quem?! A Mota-Engil? A Brisa? A REN? O Santander?…), que entregarão ou não dinheiro aos jornalistas. Já estou a imaginar uns ‘projectos’: “inspeccionar a acção do Governo”. CHUMBADO. “Fazer jornalismo credível e independente”. CHUMBADO. “Lamber botas”. APROVADO…


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  • ‘Quo vadis’ União Europeia?

    ‘Quo vadis’ União Europeia?


    Não é raro ficarmos espantados com as prioridades dos nossos governantes e o seu desfasamento com a realidade das populações. Eu, pelo menos, pergunto-me frequentemente em que mundo viverá a classe política? Do Parlamento nacional ao Parlamento Europeu, não raras vezes fico com a sensação que quem define as regras não vê notícias.

    A União Europeia lançou-se numa sequência de trapalhadas nos últimos quatro anos que, honestamente, piorou a vida de quem vive dentro das fronteiras dos 27.

    Primeiro, foi a pandemia que nos trouxe confinamento em quase todos os países, cancelamento das liberdades individuais, aquele inenarrável passaporte digital, perda de empregos e uma factura gigante transformada em impostos que ainda hoje pagamos. Ainda me lembro de ver noticiários com pessoas a bater palmas à janela e a histeria de quem achava que ficar em casa iria salvar vidas. Isto, enquanto milhões de pessoas dos serviços fundamentais ou do sector produtivo continuavam a trabalhar fora de casa todos os dias. O Capital, aparentemente, nunca passou pela pandemia.

    Seguiu-se a guerra na Ucrânia patrocinada pela União Europeia (UE), onde Rússia e Estados Unidos decidem o destino da Ucrânia. A não eleita Ursula Von der Leyen apressou-se a anunciar o empobrecimento obrigatório dos cidadãos europeus para pagarem as loucuras do impérios “as long as it takes“. Não sei se se lembram das delirantes conferências de imprensa dos líderes europeus que, sucessivamente, iam anunciando mais e mais pacotes de sanções à Rússia. Como consequência disso, os custos da energia dispararam no Continente e a guerra, em si, passou a ser causa (e desculpa) para o aumento dos preços generalizado. A UE escolheu financiar uma guerra que nos empobreceu duas vezes. Primeiro com o desvio dos Orçamentos do Estado para o sector bélico e, em seguida, com a inflação resultante da escalada nos preços da energia ou dos bens de consumo.

    Os Estados Unidos trataram dos seus interesses. Venderam armas, substituíram os russos no fornecimento de energia e ainda foram enfraquecendo um adversário directo à custa dos mortos ucranianos. Os russos também trataram da vida. Voltaram ao palco das decisões 20 anos
    depois, substituíram o mercado europeu com o asiático, trouxeram definitivamente a China para o seu ‘quintal’ e conseguiram, ainda assim, deixar a UE mais isolada. Até dentro da própria UE, a Rússia conseguiu apoio quando, há dois anos, nos tentavam vender a ideia de que estaria isolada.

    Já a União Europeia limitou-se a fazer a triste figura de fantoche dos Estados Unidos, sem força e opinião própria, e foi despejando dinheiro na guerra quando a isso foi ordenada, sem por momento algum defender os cidadãos europeus que, em última análise, até elegeram aquele parlamento.

    A mesma União Europeia que nos viu empobrecer ainda mais com as medidas do Banco Central Europeu e a subida das taxas de referência sem, uma vez mais, fazer fosse o que fosse para evitar a perda da qualidade de vida, o poder de compra e até o direito a ter uma casa, da generalidade dos europeus.

    Eis que chega o “direito a defesa de Israel” e, uma vez mais, Ursula Von der Leyen a fazer a triste figura de ter a UE a apoiar directamente aquilo que se está a tornar um genocídio. 1.000 mortos do lado israelita que já vão, três meses depois, em 25.000 mortos palestinianos e mais bombas despejadas do que aquelas que os Estados Unidos depositaram no Iraque. É uma carnificina onde os representantes europeus, uma vez mais, falam para se colocarem do lado errado da história.

    Depois de quatro anos a saltar de catástrofe em catástrofe, o que imaginaria eu que fariam os governantes europeus? Resolver qualquer coisa. Fosse o que fosse. Contribuir para a paz na Ucrânia ou em Israel. Não começar a ensaiar novas pandemias como parece que estão a tentar com a “X”. Intervir na questão das energias. Controlar as taxas de juro. Não deixar que a população dos países europeus, em especial os mais pobres, ficassem completamente reféns de políticas económicas. Tantos telhados que vão ardendo em simultâneo que, certamente, “em querendo”, como diz a minha avó, poderiam dedicar-se a fazer algo para melhorar a vida dos eleitores daquele inútil Parlamento Europeu.

    Mas não. Com o mundo em chamas, o que se discute em Bruxelas? Um novo projecto de lei que proíbe a reparação de carros com mais de 15 anos. Em nome do ambiente, claro. Devo dizer que a estupidez humana não pára de me surpreender.

    Não acho estranho que o lobby da indústria automóvel tente passar este tipo de leis. Faz parte do processo a que, resumidamente, chamamos capitalismo. Mas ver pessoas das classes trabalhadoras a defenderem esta “transição energética” como algo ambientalista é deveras alarmante.

    Nem me importa se a lei será aprovada ou não. Importa é discutir como é que um disparate destes vai sequer a votos?

    Devo fazer uma declaração de interesses, uma vez que há seis anos que trabalho no desenvolvimento de carros eléctricos e, portanto, contra o meu ganha-pão falo. Transição energética não é retirar 50 pessoas de carros a combustão e colocá-los em carros eléctricos. É, quando muito, meter essas 50 pessoas dentro do mesmo autocarro. Aí sim, há alguma preocupação ambiental. Isto, claro, para quem sabe que o lítio não cresce nas árvores.

    O que estas leis fazem, essencialmente, é dar um gigantesco impulso à indústria automóvel para vender carros caríssimos com uma autonomia baixíssima, e sem que o problema da extracção do lítio e tratamento das baterias esteja sequer perto de estar resolvido.

    black and white car door

    Mas pior do que a discussão da lei em si, é o alheamento da realidade que é necessário para que, num momento destes, se discutam temas destes no Parlamento Europeu.

    Uma pessoa pensa que a miséria dirigente se esgota na politiquice nacional mas, se observarmos com algum cuidado, percebemos que estamos entregues à bicharada, também, além-fronteiras.

    Estamos a um Trump de distância do absoluto caos no planeta.

    Tiago Franco é engenheiro de desenvolvimento na EcarX (Suécia)


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  • PSD: ‘Unir Portugal’

    PSD: ‘Unir Portugal’

    A corrida eleitoral ainda não começou oficialmente e os actores políticos já estão no aquecimento. De entre mais de duas dezenas de partidos reconhecidos pelo Tribunal Constitucional, é de antever que nem todos participarão. Ainda não temos informações sobre quem serão os titulares, os suplentes ou os não convocados. E até ao encerramento do mercado, muitas contratações vão surgir.

    Nos bastidores das democracias ocidentais, temos assistido desde a década de 90 a um fenómeno marcante: o aumento da volatilidade e da instabilidade no eleitorado. A ausência de reconhecimento mútuo entre representantes e representados impulsiona esta mudança, tornando o cenário eleitoral mais permeado por incerteza e apatia.

    Cartaz do Partido Social Democrata exposto na Rua da República, em Lisboa. Fotografia: © PSD

    A crescente quantidade de eleitores indecisos torna-os intrinsecamente mais susceptíveis à influência das campanhas eleitorais, uma tendência ainda mais expressiva nas camadas mais jovens, como os millennials, também conhecida como geração Y, que além de estarem mais distantes da coisa pública, revelam uma maior receptividade à informação via meios digitais em detrimento dos tradicionais e desgastados meios convencionais. A progressiva perda de ligação partidária é o ponto de partida para o aumento da abstenção, um fenómeno que por natureza pode enfraquecer o nosso sistema democrático, construído sobre valores e princípios fundamentais como a liberdade e a igualdade. Atravessamos um perigoso niilismo que abre o flanco a totalitarismos. Para combater a abstenção, as campanhas precisam atrair uma massa heterogénea de eleitores. Neste contexto, proponho-me analisar a campanha do PSD intitulada ‘Unir Portugal’.

    No verão de 2022, o Partido Social Democrata (PSD) lançou uma campanha nacional com o slogan “Acreditar” que, ironicamente, tornou-se alvo de chacota. Com a antecipação das eleições, introduziu um novo cartaz agora com a mensagem “Unir Portugal”. Apesar de uma abordagem mais afirmativa, o impacto da mensagem é prejudicado por fragilidades gráficas que não permitem alcançar um posicionamento distintivo, como o uso de uma fonte comum de código aberto e o emprego excessivo de maiúsculas de diferentes tamanhos, o que se torna pouco elegante.

    Com o objectivo de se diferenciar do principal adversário, o novo slogan que faz apelo ao vínculo nacional, acaba por ser genérico e redundante em relação ao slogan do Partido Socialista, “Portugal inteiro“. O líder social-democrata, que inclui no seu currículo longa carreira política, não tem demonstrado eloquência ou clareza nas suas intervenções mediáticas, o que acaba por prejudicar a credibilidade do slogan assim como minar a capacidade de reconquistar o eleitorado.

    Cartaz do Partido Social Democrata exposto na Rua da República, em Lisboa. Fotografia de Sara Battesti.

    Sendo o partido com maior presença em outdoors, é surpreendente a escassa utilização da cor laranja pelo PSD como elemento identitário que o distingue. O laranja é relegado para uma pequena caixa no canto superior direito, onde abriga discretamente o símbolo do partido, posição essa que carece de impacto visual. Quanto ao símbolo composto por três setas que historicamente estão associadas à luta contra o nazismo e ideologias totalitárias, este cristaliza os valores fundamentais do PSD — liberdade, igualdade e solidariedade. É desconcertante verificar como esse elemento essencial fica com um papel tão secundário, especialmente nos tempos que correm.

    O PSD, que se posiciona tradicionalmente como um partido dialogante, deveria dar mais relevância ao seu símbolo, cuja autoria é frequentemente atribuída ao caricaturista e ilustrador Augusto Cid. Até porque este símbolo expressa o desejo de ascensão para um futuro diferente, algo que poderia representar uma promessa atractiva, especialmente para um eleitorado afectado nos últimos tempos por uma significativa erosão do poder de compra.

    Em termos de composição visual, é dado ao rosto de Luís Montenegro um destaque desproporcional que não permite disfarçar o seu ar ligeiramente insosso e pouco carismático, tornando-o numa espécie de Zé Pereira do Brasil. Em contrapartida, o seu sorriso natural e olhar franco transmitem empatia e frontalidade, e nesse aspecto a fotografia consegue ser bastante eficaz. Ainda que a escolha do fundo azul marinho seja uma opção clássica associada ao requinte simbolizando serenidade, confiança e estabilidade, a sua execução atabalhoada destaca predominantemente uma linguagem corporal passiva pouco compatível com a assertividade desejada para uma liderança.

    Arquivo de cartazes históricos do PSD.

    Com uma abordagem comercial agressiva, a campanha perde força ao adoptar uma mensagem pouco diferenciadora em relação ao seu principal oponente. Num partido que, desde 2013, tem enfrentado um acumular de derrotas e cujas intenções de voto estão a descer de 33% para 29%, de acordo com a sondagem do Centro de Estudos e Sondagens de Opinião da Universidade Católica (Novembro de 2023), o apelo à união parece demasiado suave para ser verdadeiramente mobilizador.

    Com a criação da nova Aliança Democrática, é de crer que as lógicas de comunicação da candidatura sejam revistas, mas, até lá, esta campanha carece de originalidade e criatividade, adoptando um design pouco aprimorado e uma estratégia escassamente persuasiva. Isso, por um lado, impede afirmar uma vitalidade criativa que fora demonstrada no passado, e, por outro, prejudica a capacidade de promoção uma imagem de solidez capaz de cativar votos.

    Sara Battesti é estratega e especialista em Comunicação


    Avaliação do cartaz

    Design: 3/5

    Impacte: 3/5

    Eficácia: 1/5

    Média: 2,3/5


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  • O ‘Governo’ de Davos e as vidas de oito mil milhões

    O ‘Governo’ de Davos e as vidas de oito mil milhões

    Uma vez mais, a elite mundial encontra-se, esta semana, nos Alpes suíços, em Davos, para discutir o que será feito dos muitos milhões de almas cujas vidas estão à mercê desta pequena agremiação de líderes políticos e magnatas. É a reunião anual do “Fórum Económico Mundial”, criado pelo economista suíço-alemão Klaus Schwab em 1971.

    Embora os olhos do Mundo devessem estar postos nesta cimeira, e o escrutínio sobre aqueles que por lá passam devesse ser implacável – porque são eles que, assemelhando-se a Deuses no Olimpo, tomam as derradeiras decisões que afectam todos nós -, a maior parte das pessoas não sabe nem sonha a dimensão do poder concentrado nestes “escolhidos”. Escolhidos, é uma maneira de dizer, pois constituem literalmente apenas um “punhado” não eleito de pessoas: este ano, o encontro contará com 2.800 convidados. Um número reduzido comparando com os cerca de oito mil milhões de pessoas a habitar o planeta, e sobre os quais os 2.800 participantes exercem um poder desmesurado.

    man in black suit pointing in blue screen on wall

    Num vídeo de 2016, entretanto removido da sua página oficial (mas ainda disponível no Facebook), o Fórum Económico Mundial fazia oito previsões para o Mundo em 2030, e vaticinava que o cidadão comum “não terá nada e será feliz”, pois tudo será “alugado”. Tradução: abolição da propriedade privada.

    Também se previa o fim dos combustíveis fósseis, e dos Estados Unidos como potência mundial hegemónica, e o consumo de carne apenas como um “regalo ocasional”. Tudo isto faria parte da construção de um “mundo melhor”. Atendendo ao poder desta elite para determinar os destinos do globo, convenhamos que estas não são ‘previsões’, mas planos traçados e já em marcha, conforme, de resto, nos vão informando as ‘notícias’ diárias. Ainda hoje, soubemos que a União Europeia tenciona acabar com os veículos com mais de 15 anos.

    Não são poucas as ideias macabras já lançadas nestas cimeiras. Uma delas, envolvia o desenvolvimento de uma tecnologia que visa o registo da “pegada ecológica individual”. Trata-se de uma plataforma para inventariar tudo aquilo que comemos, consumimos, e os locais e a forma como viajamos. Um mundo onde cada passo que damos fica registado no ‘digital’ – é difícil imaginar uma distopia mais tenebrosa.

    No seu discurso desta terça-feira, o enviado especial norte-americano para o clima, Jonh Kerry, afirmou que não importa quem saia vencedor das presidenciais de 2024, a “neutralidade carbónica será alcançada”, pois está em curso uma “revolução económica” acima de qualquer político ou cidadão. Uma assumpção de que a plebe, tendo o direito ao voto, não tem, de facto, voto na matéria?

    Annual Meeting 2019

    Reclamar-se a preservação da democracia é incompatível com uma atitude indiferente face a este projecto denominado “Fórum Económico Mundial”; um democrata só pode condenar a sua existência. Com efeito, aquilo que esta cimeira representa é uma obscena e antidemocrática concentração de poderes e uma medonha promiscuidade entre o poder político e o económico. Não importa que se vistam com pele de cordeiro, apregoando bandeiras agradáveis ao ouvido, como a erradicação da fome e a igualdade de género; é indefensável que as elites reunidas na Suíça tenham o bem colectivo em mente. Utilizam eufemismos para desígnios duvidosos, como a “luta contra a desinformação”, que, obviamente, irá desembocar na censura e na supressão da liberdade de expressão.

    Como é tradição, os media noticiam o encontro com a leveza de quem faz um boletim meteorológico. De resto, mantém-se um registo idêntico ao dos artigos sobre a reunião do famoso grupo Bilderberg em Portugal em Maio do ano passado. Conferências aparatosas organizadas pelos mais poderosos do mundo, onde a política e o “Grande Capital” estão de mãos dadas (ou mais que isso), não fazem soar quaisquer alarmes aos “guardiões da democracia”. Nem suscitam ponta de desconfiança. Não. A cobertura noticiosa esgota-se num estilo ‘panfletário’. E depois, claro, ficam muito surpresos e de queixo caído, porque já ninguém compra jornais.

    Dos partidos políticos, também não se ouve, por estes dias, uma palavra de desconfiança para com as figuras que esta semana aterraram em Davos – muitas delas em jactos privados, para depois dissertar sobre as alterações climáticas. Nem da ala direita, tipicamente mais sensível à defesa da soberania nacional, nem da ala esquerda, sempre mais vigilante com os poderes instituídos. 

    World Economic Forum

    Não é nos “senhorios”, nem na classe média ou nos donos de alojamento local, amiúde alvos da ‘esquerda’, que reside o capitalismo malévolo e nocivo, mas nas instituições representadas pelas personalidades que aterram em Davos. Estes, sim, são os verdugos que nos manuseiam como marionetas, fomentando guerras, inflacção e crises económicas que resultam em transferências de riqueza estratosféricas.

    Estas são as elites que cometem o ‘assassinato’, para depois fingirem o papel de agentes policiais. São os causadores de problemas, que, de seguida, se apresentam perante nós como portadores de respostas e soluções. No entanto, não é preciso muito para concluir que, longe de zelar pela ‘plebe’, aquilo que ambicionam é uma interferência crescente e cada vez mais ruinosa nas nossas vidas, sem sequer terem passado pelo ‘crivo’ eleitoral para esse efeito.

    Maria Afonso Peixoto é jornalista


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  • Porto: crónica dos lugares

    Porto: crónica dos lugares

    Nina,

    Ponto final nessa conversa estragada que nos leva a juventude e nos põe em causa. A velhice fica-nos bem e ainda agora começou, mais vale começar a vesti-la enquanto está engomada, que isto, depois de se engelhar, custa mais a vestir e vai daí estamos nós aos saltinhos a puxar as calças nas coxas, a ver se passa, a ver se escorrega (e a propósito de escorregar, o que escorregava mesmo bem era uma nova garrafa de vinho fino, que se vier neste comboio na volta nem estraga, vem sossegadinha e ao desembocarmos em Campanhã até subimos até à Igreja de Santa Clara num trago só, a pagar a promessa do meu avô, pois que sim, aprendi a falar, não se vê logo?, pelos cotovelos tripeiros que tomei emprestados à nascença antes de me puxarem para a Cova a ver se medrava em sementeira rasa!)

    boats docked near seaside promenade]

    Pois que então reportemos as dores, as agruras, as desilusões (e houve ilusões), o relatório médico com palavras ásperas a vaticinar-nos tratamentos e sentenças (desilusões?) para, logo em seguida, afogarmos a mágoa no Douro e sermos estridentes como mais ninguém nos deixa ser, só no granito percebem que voz alta e palavrão não magoa, é dito assim para viajar por penedos e estevas e chegar à outra margem. De que outra forma esperam respirar, assim baixinho não dá! De todo! Há que falar alto, quando alto deve ser falado, que enquanto programas a máquina para entrançar malhas coloridas dos casacos da nova colecção.

    (E Nina, entrou aqui agora uma senhora vestida de verde relva, dos pés à cabeça, quer ver, vê lá tu, as pedras, e já agora o resto também, pontua cada resposta minha com um “aaaah…” reticente, assim mesmo, e repete baixinho o fim das minhas frases porque se apressa – baixinho – já percebeu que o tempo é corrido, como os nós, e assim mesmo baixinho confunde-se quem fala o quê, um mistério, um paraquedismo que não se aguenta!)

    Pregamos em estilo Santa Catarina (tantas santas), ou Bolhão, ou tanto dá, Fernandes Tomás acima, ou abaixo, que nem aves canoras roucas pelos cigarros que ficaram a viver aqui dentro, ai os desarranjos urbanísticos e as reformas, ai os autarcas e os vereadores (e o raio que os partam a todos) e os nossos buracos continuam por tapar (e as contas também) e lá vem mais uma multa porque, enfim, existimos, e tínhamos de parar o carro ali, ainda para mais se ali vivemos, que coisa do demo.

    a train pulling into a tunnel

    Mas enfim, senta-te depressa, mais cedo, na estação de São Bento quando ainda não a tinham colonizado. Uma ou duas horas antes do comboio arrancar, para baixar a ansiedade que nos deprime e abafa e, mais a mais, até podes assim escolher um dos bancos que se vire para a frente ao seguir a linha do rio, e fugir à carruagem do motor senão logo ali ao virar Caíde já estamos certamente a assar, como as uvas, e sabes bem que te vou remoer baixinho que em tempos idos sempre podia ir para junto dos tropas no entre vagões, fumar mais um cigarrito com a perna estendida de fora quase a tocar na margem do rio até ganhar fôlego nas arribas e rezar pela chegada ao Pocinho por volta do pôr do sol. Em princípio, o pica já nem chateava.

    Depois disso resta rezar por um triste táxi que me faça o transbordo a Moncorvo, a ver se ainda janto os peixinhos no cigano (que não é cigano, a mulher é que é) do Sabor, antes que os gaviões do betão apareçam e dêem conta disto tudo e depois, que nem aspiradores, nos levem o peixe todo, de modo que só nos ficam barbatanas decepadas por pás que imagino existirem na tripa da barragem, a girar violentamente, para – dizem – nos alumiar a todos, mesmo que a linha termine ali e se quede o destino, não mais além – mesmo Barca d’Alva, onde está? –, que para além dali já não é nosso e bem difícil foi impedirem-me de investigar os famosos túneis de Mós, quando ainda era imortal e podia andar nessas aventuras de urzes roxas e terra vermelha, a testar a resistência e a dolência também.

    green and brown mountain beside body of water during daytime

    De modo que, Nina, agora que já pesam anos e já não somos imortais e quando te falo sabes que fico assim, como quem vende tralha de papel no quiosque de São Lázaro, quando ainda existia esse São Lázaro sabes? (tantos santos e santas), a contar histórias muito depressa antes que se me acabe a tinta e as folhas pautadas – que demorei a saber o que eram, demorei a perceber que eram pautas de outro tipo de música, a música do Porto que entrega aguça ao lápis rombo, pede lanche misto na confeitaria com Compal na montra e chama mil folhas a um bolo que não é o mil folhas e Napoleão ao que deveria ser, que em terra de molete a gente faz aquilo que quiser e a vida continua –, para que nos levem ao prado do Repouso a ver as águas a correr na mesma, com o estremecer da locomotiva ali na escarpa, e assim, dormimos, um dia.

    Mariana Santos Martins é arquitecta


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  • Diálogos hodiernos: eu, eu, eu e mais eu

    Diálogos hodiernos: eu, eu, eu e mais eu


    Gosto de observar o comportamento humano.

    Gosto de anotar diálogos para os usar na ficção. Porquê? Porque gosto de que sejam o mais verosímeis possível.

    Ultimamente, noto que as pessoas interrompem mais as outras para pôr o seu ego em cima da mesa. Tem a minha amostra significância estatística? Não sei. Pelo que ouço e observo (actividades a que me dedico com suficiente interesse e entrega), mais pessoas sentem o mesmo que eu.

    woman using telescope

    Já ouvi um indivíduo contar, aflito, a experiência que tivera no fim-de-semana, a sensação de ver a morte a abeirar-se enquanto surfava, o medo e a sombra que ainda o acompanhavam, e ser subitamente interrompido a meio da história por outro:

    — Isso não é nada. Eu já estive em ondas de oito e dez metros. Uma vez, em África… [E começou uma longa história com decénios, matando a possibilidade de o outro fazer a catarse do seu medo.]

    Já ouvi pessoas a interromper outras que contam uma história cheia de mistério e drama a um grupo, para introduzir pormenores de absoluta irrelevância:

    — E a senhora estava a esvair-se em sangue na margem da estrada. Saí do carro, fui ver o que podia fazer, liguei para o 112, e saiu um tipo de um descapotável azul para me gritar que eu não podia estar ali parado, e então tive de…

    — Não, o carro não era azul, era cinzento. Tenho a certeza, porque tenho muito boa memória visual. Já na escola me elogiavam a memória visual. Com nomes, não sou tão bom.

    Já ouvi anedotas que não chegaram ao fim, porque foram interrompidas por aquele que tem de ser sempre o ocupante-mor do palco:

    — Eu conheço essa, é muito antiga.

    people having a bonfire

    Num ápice, abreviou a anedota e revelou o final. Acrescentou de seguida:

    — Muito melhor do que essa é aquela… [E daí em diante, substituiu o orador da anedota, desatando a contar anedotas em que ria mais do que todos os ouvintes e marcando o ritmo com a invariável frase: «Esta é muito boa, não é?»]

    Já ouvi pessoas dizer que fazem anos nesse dia, esperando receber, no mínimo, os parabéns, e que, em lugar de receberem umas palavras sobre o seu aniversário, ouviram:

    — Curioso, o meu filho também faz anos no dia vinte e seis como tu, mas em Outubro. E a minha filha faz três dias antes, no dia vinte e três, mas também faz noutro mês: faz em Janeiro. E o meu irmão faz no dia vinte e um de Maio. Fazem todos entre vinte e um e vinte e seis com dois, três e cinco dias de intervalo cada um.

    Recentemente, tomei nota do seguinte diálogo:

    — Estou doente.

    — Olha, eu estive doente há dois meses. Não foi bem há dois meses. Foi há um mês e meio. Mês e meio, dois meses. Sim, por aí. Estava com uma dor de cabeça, uma sensação estranha pelo corpo. Quando pensava que estava curado, baixei a guarda e… olha… tive uma recaída. Fiquei com a vida suspensa, ainda hoje tenho coisas atrasadas. Estou para aqui a tratar de coisas que deixei penduradas.

    white ceramic mug on white table beside black eyeglasses

    — Eu estou com…

    — Pois, agora há uma série de coisas, é só pessoas com vírus, gripes, alergias. Conheço tanta gente que está doente.

    — Nem me deixaste dizer com o que é que estou.

    — Não te irrites.

    — Dizer-te que não me deixaste dizer com o que é estou é a expressão de um facto.

    — Que raio de linguagem é essa com um amigo? «É a expressão de um facto»? Parece que estou no tribunal.

    — Tu não me deixaste dizer sequer o que tenho. Tu só falas de ti.

    — Bem, hoje decidiste sentar-me no banco dos réus. Só falo de mim? Até estava a falar de pessoas que conheço. Isso que disseste é bastante injusto. Olha, estou agora a tratar de uma série de problemas da vida dos outros. Estava a tentar animar-te, tu é que disseste que eu só falava de mim. Porque sentiste necessidade de me atacar? Compreendo, estás doente. Mas não é a atacares quem é teu amigo e te ajuda que vais melhorar. Quando eu estava doente, nunca ataquei ninguém. Antes pelo contrário! É que não adianta mesmo nada atacares quem te ajuda.

    man in black shirt sitting beside woman in white shirt

    — Quem é amigo ouve, especialmente na doença, que ainda nem sabes qual é. Se eu te dissesse que me tinha morrido um ente querido, procurando desabafar contigo, também me dirias a lista de conhecidos teus a quem morreu um ente querido?

    — Tenho a paciência de um santo. É o segundo insulto e a segunda mentira. Só falo de mim, primeira mentira. Não sou amigo, segunda mentira. Estás a ser extremamente estúpido e extremamente injusto.

    — Isso não é um insulto?

    — Não. É a expressão de um facto! Além disso, quem é que começou a insultar? E outra coisa: o que eu disse é verdade, ao contrário do que tu disseste, que é mentira. E eu disse «estás», não disse «és»!

    — Não vou discutir mais, porque não adianta e porque estou com trinta e nove de febre.

    — Não adianta, não, sabes que tenho razão.

    — Mudando de assunto, para a semana, faço anos e vou celebrar o meu aniversário. Se melhorar, claro. Marca já na agenda o dia 10, O. K.?

    — Vê lá se queres um não-amigo na tua festa.

    Minions toy on railings

    Termino com uma nota para todos os escrevinhadores inflados que querem publicar a sua escrita sem nunca ter lido um livro, para os influenciadores de toda a espécie e pinta que usam «eu» em todas as frases, para os teorizadores que pensam que a sua vida permite extrapolar máximas e teorias para todos (que, coitados, não terão vida), para os egomaníacos que escoam a vida para as redes sociais, sejam as fraldas do bebé, os pratos que comem, seja o gato, sejam desabafos diarísticos: não é por ter acontecido a ti que isso é importante para o mundo.

    Manuel Matos Monteiro é escritor e director da Escola da Língua


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  • Chega, esse (também) partido socialista

    Chega, esse (também) partido socialista


    Segundo nos informam os órgãos de propaganda, este fim-de-semana teve lugar a Convenção Nacional do terrível partido de “extrema-direita”: o Chega. Não dei assim tanto por isso, pois não vejo televisão, mas acabo por ter acesso às propostas mirabolantes que dali saem via redes sociais, em particular da rede X, onde nos últimos tempos a “censura em nome do bem-comum” já não tem lugar.

    Vamos lá ver então aquilo que propõe o partido da “verdadeira direita”?

    Primeiro, redireccionar 400 milhões de Euros para “um fundo de apoio às forças de segurança e aos ex-combatentes” em lugar de utilizá-los para “promover a igualdade de género”. Não se lhe ocorreu devolver esses fundos às vítimas, vulgo contribuintes, talvez estas saibam melhor que destino dar ao fruto do seu trabalho.

    Outra das medidas consiste em “equiparar pensões mais baixas ao salário mínimo em seis anos”, ou seja, as pensões de 200 e 300 Euros seriam incrementadas para os actuais valores do salário mínimo: 820 Euros. Se tivermos em conta que estes pensionistas são aproximadamente 2 milhões de pessoas, estamos a falar de um impacto anual superior a 14 mil milhões de Euros no Orçamento de Estado – um pouco mais do que quatro bancarroteiras nacionais (TAP).

    Sabemos que os partidos socialistas do regime (PS e PSD) continuam a confiscar os cidadãos produtivos – talvez por isso muitos, cada vez mais fujam daqui a sete pés – para comprar os votos de uma população cujos rendimentos estão totalmente dependentes de demagogos, salteadores e socialistas. É assim que o principal partido socialista do regime (PS) tem ganho eleições atrás de eleições, manipulando uma população que foi e é vítima de um embuste chamado Estado Social.

    Esse partido foi Governo 21 anos desde 1995 (75% do tempo) e tem alimentado um conflito de gerações sem precedentes, abusando de um esquema fraudulento, ao melhor estilo Dona Branca, para se perpetuar no poder com os votos desta população, infelizmente com pouca literacia e facilmente manipulável. Por essa razão, até o segundo partido socialista, o PSD, também promove o esbulho de cidadãos produtivos para comprar o seu voto. Todos o fazem, qual a diferença para o partido da “extrema-direita”?

    Não nos esqueçamos que o actual regime socialista vive dos pobres e da sua ignorância, por essa razão tornou-se uma fábrica de excelência na sua produção por forma a perpetuar-se no poder, atirando-nos para o último lugar da literacia financeira na Europa e o sétimo país mais pobre da União Europeia, a caminho de ser o quinto.

    A ignorância é monstruosa, em que simples cálculos não são enxergados. Um cidadão que ganhe um miserável salário de 1.000 Euros no sector privado, o seu empregador entrega 347,5 Euros todos os meses à “Segurança Social” – que nem Segura nem é Social. Ora, tendo em conta que os mercados de capitais proporcionaram um retorno médio anual de 7% em termos reais desde 1973 (50 anos), tal significaria que esse cidadão tinha a preços actuais no momento da reforma (43 anos de “descontos”) 1,14 milhões de Euros! Se a sua esperança média de vida é de 15 anos após essa data, estamos a falar de 6.300 Euros/mês – sem o dinheiro aplicado!, apenas levantado esse valor todos os meses.

    Esta ignorância dos portugueses é explorada pelo regime socialista: a incapacidade de a população fazer simples contas e compreender o quanto é enxovalhada, humilhada e roubada. Não espanta pois que todos explorem este filão: “melhores pensões para todos”, roubando os mesmos de sempre.

    Voltando às medidas do partido da “extrema-direita”, também tivemos o anúncio para mais uma famigerada “taxa sobre os lucros da banca”, ao melhor estilo Mortágua, que também parece que irá dar para pagar um novo aeroporto! Mais uma vez a manipulação socialista: confiscar uma minoria para comprar os votos de uma maioria.

    Nunca se lhes ocorre abolir a fraude chamada reservas fraccionadas, alterando o Código Civil, nem tão pouco os Bancos Centrais, os únicos responsáveis pela inflação que vivemos e responsáveis pela redistribuição de riqueza a favor de uma minoria de 1%. O lucro é uma palavra abominável para um socialista, há que combatê-lo a todo o custo. Bom mesmo são os prejuízos, e se forem aos milhares de milhões como foram os da TAP tanto melhor.

    Em resumo, tudo aquilo que saiu da convenção do Chega é de ideologia socialista, por isso não se compreende o “perigo da extrema-direita”. A única coisa que resta mesmo é o discurso “racista e xenófobo”, que, analisando bem, talvez seja a única coisa em que tenham razão.

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    Parece-me evidente que a imigração tem de ter regras, sem nada daí ser racista ou xenófobo: na minha opinião, deve ser exigido um contrato de trabalho válido, o empregador deve assegurar um alojamento não sobrelotado (por condições humanas) e pagar um seguro de responsabilidade civil (para eventuais indemnizações a pagar a vítimas, no caso de roubos ou crimes), enquanto o imigrante deve deixar uma caução à entrada para pagar o seu eventual repatriamento.

    Isto não é xenofobia nem racismo, isto é parcialmente exigido por países como a Suíça, Irlanda e Estados Unidos, como bem referiu o líder da “extrema-direita”.

    Não se compreende que estas medidas possam ser inconstitucionais, como diz o irmão do grande líder num dos órgãos de propaganda. Aquilo que estamos a alimentar são empresários sem escrúpulos, que contratam pessoas em condições sub-humanas, beneficiando de lucros anormais e não suportando os custos reflectidos sobre toda a sociedade: infra-estruturas sobrelotadas, preços de arrendamento exorbitantes, etc.

    É natural que os socialistas sejam favoráveis às fronteiras abertas, e por uma razão: esperam que estes imigrantes tapem o buraco do esquema em pirâmide chamado Estado Social, ou seja, estão em pânico que a população se dê conta do embuste em que vive. Por outro lado, as cenas deploráveis que vemos no Martim Moniz em Lisboa e em outras cidades do país nunca lhes irão bater à porta, pois as escolas dos filhos e sua saúde são privados.

    Ficam apenas indignados que os portugueses com um palmo de testa se pirem daqui para simplesmente não serem mais roubados por esta camarilha socialista. Em resumo, e tal como tenho dito várias vezes: todos os partidos da Assembleia da República são socialistas. E nada irá melhorar a partir de 10 de Março; apenas piorar, até aos portugueses, tais como os argentinos, se darem conta que estão completamente falidos por anos e anos de socialismo.

    Luís Gomes é gestor (Faculdade de Economia de Coimbra) e empresário


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