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  • Blinken, o amigo do genocídio

    Blinken, o amigo do genocídio


    Quando ouvi Antony Blinken, secretário de Estado de Biden, afirmar que os Estados Unidos (EUA) tinham traçado um plano de paz com o qual Israel concordara e, que agora, esperavam o mesmo do Hamas, fiquei ligeiramente desconfiado. Só para não dizer que sorri.

    É, no mínimo, estranho que seja uma das partes do conflito a elaborar uma proposta para o fim desse mesmo conflito. E mais estranho seria se esse documento fosse sequer algo justo para ambos os lados.

    E antes que a discussão se alargue, digo sim: os EUA são uma das partes integrantes deste conflito no Médio Oriente. Aliás, de quase todos aqueles de que me lembro na região. Ou com as botas no terreno – como aconteceu no Kuwait, Síria e Iraque – ou, no caso israelita, patrocinando com armas, dinheiro, soldados e porta-aviões por perto, as chacinas feitas durante décadas ao povo da Palestina.

    Benjamin Netanyahu. Foto: DR

    Netanyahu discursa regularmente no Senado norte-americano, onde recebe palmas de conforto e donativos para derramar sangue palestiniano. Nesse sentido, é difícil ver os EUA noutro papel que não o de apoiante ao que se vai passando em Gaza.

    Anteontem, dia 20 de Agosto, julgo que no novo canal informativo NOW, passou uma reportagem sobre os seis corpos de reféns resgatados pelo exército israelita. Estavam mortos, entenda-se, e por isso tiveram direito a nome, idade, fotografia e entrevista com as famílias que falaram sobre eles e sobre o abandono a que foram votados pelo governo de Netanyahu – recordemo-nos que o governo israelita nunca quis qualquer acordo para a troca de reféns pelas centenas de palestinianos que vão apodrecendo nas suas prisões.

    Parece-me um óptimo princípio o de que a vida humana tenha relevo e importância, que seja respeitada tanto enquanto o coração bate como a partir do momento em que os olhos se fecham. Ao contrário da Helena Ferro Gouveia, que é uma das vozes mais activas em Portugal na defesa das forças ocupantes em Gaza, eu acho que o respeito pela vida é devido a um refém israelita, a um combatente do Hamas, a um soldado das Forças de Defesa de Israel (IDF), a um general russo ou a um ucraniano do batalhão Azov. Morrer em guerras que somente servem aos interesses de países imperialistas ou defendem a economia de alguns lobbys, é sempre um desperdício, venha de que lado vier.

    Finda a reportagem dos reféns, surgiu outra sobre os dois últimos bombardeamentos a escolas em Gaza. No primeiro, morreram 18 pessoas e, no segundo, mais 10. Há imagens de pedaços de carne sem qualquer identificação a serem arrastados dos escombros, e também de uma senhora, aos gritos e em pânico, dizendo que estavam ali quietos, julgando estarem seguros e, de repente, morreram todos. A mesmíssima reportagem que todos vemos em Gaza e na Cisjordânia desde o dia em que nascemos. Não há nomes, muito menos famílias ou histórias de vida. Há apenas mais 28 para somar aos outros 44 mil mortos, números assim redondos para parecerem mera e fria estatística. Crianças, mulheres, combatentes, homens que estavam por ali, civis que passavam, famílias que julgavam estar em zona segura. Não interessa, ninguém quer saber quem eles são. São 44 mil mortos em 319 dias, uma média de 138 por dia, dizimados por bombas.

    “Destruição metódica de um grupo étnico ou religioso pela exterminação dos seus indivíduos” é a forma como o dicionário descreve genocídio. Se alguém encontrar alguma diferença para o que está a acontecer em Gaza, pode fazer o favor de informar.

    Lembram-se quando o mundo parou, durante dois anos e meio, porque em cada país morriam 20 ou 30 pessoas, diariamente, com complicações respiratórias? Pois… em Gaza isso não acontece, respiram todos bem, pelo menos até lhes cair uma bomba no telhado.

    Aquilo que eu imagino quando ouço falar num plano de paz para a região é, obviamente, a criação de dois Estados e o fim do regime de prisões controladas por Israel, que consistem, essencialmente, nos actuais dois territórios da Palestina. Com lógico foco para Gaza, onde há 20 anos se assiste ao absoluto atropelo a qualquer coisa que se pareça com direitos humanos. Já disse e repito isto: Gaza é uma faixa de 60 quilómetros com dois milhões de pessoas que vivem entre muros, vigiados e proibidos de circular pela potência ocupante. A primeira exigência que qualquer plano de paz, digno desse nome, deve ter é a imediata destruição daqueles muros.

    Faixa de Gaza. Foto: D.R.

    Mas o que dizia afinal o plano de Blinken com o qual Netanyahu, afinal, até fez o favor de concordar? Entre outras coisas, que as IDF ficariam em Gaza depois do cessar-fogo, que o território seria dividido em Norte e Sul, com as IDF a controlar as passagens e que todo o corredor de passagem para o Egipto teria o controlo dos olhos e armas do exército israelita. Em resumo, o plano de paz sugerido pelos EUA e por Israel para Gaza não é derrubar muros ou pacificar a região: é apenas, e só, aumentar o nível de segurança na prisão onde os palestinianos estão encerrados há décadas.

    Agora, como perceberão, vão tentar vender-vos a ideia de que o Hamas, os ‘terroristas deste filme’, lembrem-se, não vai aceitar o plano, apenas porque a paz não lhe interessa. E no fim de tudo, quando as mortes ultrapassarem as 50 mil e os quadros do Hamas não pararem de crescer, é certo e sabido que a culpa será, hoje e sempre, de quem não quer passar a vida na prisão.

    Tiago Franco é engenheiro de desenvolvimento na EcarX (Suécia)


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  • Kamala & Calor & Marta Temido

    Kamala & Calor & Marta Temido


    Alterações Mediáticas, o podcast da jornalista Elisabete Tavares sobre os estranhos comportamentos e fenómenos que afectam o ‘mundo’ anteriormente conhecido como Jornalismo. No quinto episódio, analisa-se a cobertura que a imprensa portuguesa faz da corrida à Casa Branca. Em análise, também as notícias sobre o calor e o fenómeno do novo “Marcelo” a banhos no Verão em que se transformou a eurodeputada Marta Temido.

    Acesso: LIVRE, mas subscreva o P1 PODCAST com um donativo mensal de 2,99 euros. Ajude o PÁGINA UM a amplificar o seu trabalho.

  • Silly season

    Silly season

    Calor.

    Nada para fazer.

    O tédio era uma palavra ainda tida em conta e vinha no dicionário. Ligava-se a televisão em horário nobre, e a notícia principal era… o calor.

    Lembro-me, há pelo menos vinte anos, de todos os telejornais abrirem em prime time, num dia normal de Agosto, com os repórteres perguntando às pessoas comuns que estavam nas praias do país, nomeadamente Carcavelos e praia da Rocha (ainda hoje essas praias servem para as mesmas reportagens), sobre o que achavam do tempo que fazia.

    O pôr-do-sol ao pôr-do-sol

    Invariavelmente, as pessoas olhavam para o céu, e a resposta era sempre a mesma – que estava calor, que o sol brilhava em pleno e a água, embora estivesse um bocadinho fria, no caso de Carcavelos, ornamentava-se sempre de uma temperatura bastante convidativa para o mergulho. E assim foi durante anos a fio. Todos os anos lá iam os pobres dos repórteres às mesmas praias fazer as mesmas perguntas nos mesmos dias de sol. Tanto que já não conseguíamos passar sem isso. Numa ou noutra época, podia haver uma ou outra variante balnear, como o famoso arrastão de Carcavelos, que até se veio a revelar mentiroso ou exagerado. Mas nada de novo debaixo do sol.

    A repórter invariavelmente falava na temperatura, normalmente acima dos trinta graus e incentivava estupidamente os telespectadores a irem até lá, esquecendo-se que a maioria da população estava a trabalhar ou não morava na zona da linha do Estoril ou em Portimão. Depois passava para o pivot, que já podia ser o Rodrigo Guedes de Carvalho ou a Clara de Sousa, e se não houvesse algum incêndio espectacular digno do envio de piquetes, a notícia seguinte podia mesmo tratar-se de uma tartaruga-de-couro salva nas Caraíbas por um grupo de excursionistas japoneses, acompanhada por um piscar de olhos do José Rodrigues dos Santos, caso fosse a pública RTP ou de uma lamechice pegada com melodrama Moulinex à mistura do Rodrigo G. C., o famoso poeta da SIC.

    A TVI nos anos noventa andava a rezar noutras paróquias pela falta de audiências até ao milagre do BB e pouco acrescentava ao estilo dominante. 

    Lagosta azul insuflável

    Os leitores estarão a pensar que hoje também se fazem estas reportagens, e é certo, mas até certa altura elas eram totalitárias, conseguiam preencher um telejornal inteiro, não existiam alternativas e actualmente estas notícias e reportagens aparecem no meio de outras, diluídas em formatos informativos cada vez com menos audiência. Até aos anos 2000 (não é óbvio situar), o fenómeno da televisão era determinante, e parecia ser mais credível para os consumidores. Se havia Silly Seasons é porque o mundo estava em silly season e a democracia era tão certinha que se chegava ao pico do Verão e o mundo puro e duro ia de férias.

    Dava-se também importância às férias de famosos, por exemplo do Paulo Portas ou do Figo, e os portugueses pareciam gostar de vê-los a beber “refrescos de whiskey” no Algarve. Mais uma vez, é certo que hoje também existem essas reportagens, mas com credibilidade zero. O planeta-Verão já não é acompanhado por uma banda sonora de música ligeira. O mundo comprou outra novela e por isso a presença assídua de fantasmas nestas crónicas.

    Nessa época, ainda antes da nova moeda, Santana Lopes era capaz de transformar uma cidade normal como a Figueira, num Rio de Janeiro, tal era o incentivo à dívida e ao Carnaval permanente.

    Até o Eric Cantona nos Verões santanistas, não saía da Figueira, arrastando-se espectacularmente na areia do futebol de praia e nas pistas do Casino, antes de se dedicar ao cinema de autor. 

    Toda esta festarola era sempre acompanhada pelos diferentes canais que viam nessa cidade o exemplo colorido a seguir. O Santana Lopes e a Cinha Jardim tinham um rumo para o Verão dos portugueses. O futuro era para cima, diziam os mais optimistas, o próprio Santana Lopes até falava em altos astrais para a política, até bater com a cara de frente na Serra da Boa Viagem, claro…

    O sol a fazer scroll

    Nesse período de fim de século, avizinhava-se sempre o grande acontecimento do Pontal em que os protagonistas do PSD apareciam todos bronzeados em mangas de camisa branca, ou às riscas, a abrir as primeiras hostilidades da época contra o PS, pairando sempre a sombra do Cavaco, que podia aparecer com um carro novo a fazer rodagem, fosse qual fosse o contexto ou a função do algarvio. O Cavaco sempre meteu medo ao PSD.

    Neste Agosto também como sempre houve Pontal, e o elenco do costume andou por lá certamente, mas… Ninguém viu. O Pontal não funciona em 4K.

    Já nesses anos dourados, o campeonato de futebol começava e os primeiros jogos aconteciam sem grande significado. Convém lembrar que havia poucos canais e o mundo ocidental ainda navegava em algum romantismo ainda que abstrato, em que as coisas tinham nome de coisas.

    Mas também existiam Big Show Sics e a canção do Iran Costa, “É o Bicho”, animava as discotecas com coreografias estúpidas e infantilizadas, embora os psicólogos de serviço já adivinhassem ali algum erotismo inapropriado. Mas sempre dentro do mesmo género soft banana split.

    Também havia crises, claro, e pequenas nebulosas, tipo um súbito aparecimento de uma alga na Ria de Aveiro que punha em causa a apanha de amêijoa branca. Podíamos estar em 96 ou 97 e o mundo parecia uma fábula de Walt Disney, em Agosto, ainda com Brancas de Neve e Sete Anões contadas às crianças, houvesse ou não guerras, houvesse ou não hospitais febris, houvesse ou não Clintons com bombardeiros prontinhos a agredir países, ou houvesse mesmo uma pobreza encapotada típica de Portugal. As tartarugas e a venda de bronzeadores estavam primeiro, e as férias eram um direito adquirido, sobretudo em família. As crianças eram entrevistadas para dar boa disposição ao telejornal e 35 graus eram uma bênção da natureza, tornando-se urgente desfrutar a consolidação da euforia perpétua proposta. Hoje, os mesmos dizem tratar-se do Inferno.

    SUN-SET

    Acabavam sempre as reportagens acentuando o cuidado a ter com a hora de mais calor, incentivando os mais velhotes a ficar em casa uma horita ou outra e a beberem muita água, que pelos vistos havia por todo o lado. O mundo de Verão era um carrossel que era preciso manter oleado. Hoje, as horitas são dias a fio, e a água, dos velhotes e não só, é da Nestlé e custa os olhos da cara. O sol parece fazer sempre mal e os raios dourados já não lhes pertencem. O céu é da NASA e do Elon Musk.

    Portugal continuava a endividar-se, mas o futuro parecia trazer sempre luz e a dívida permanente era apenas assunto para conversa dos chefes de família enquanto bebiam umas cervejas e comiam uns tremoços nas esplanadas de praia, como se isso fosse uma brincadeira para meninos que desse apenas umas boas piadas de Verão com a finalidade de chatear os comunistas.

    A guerra da Jugoslávia só voltaria no Outono, parecia que fechava para férias também, e os grandes acontecimentos paravam porque era Verão, que curiosamente era sempre azul, como a série espanhola do Chanquete.

    Anos depois, o mais parecido, mas do lado inverso, foi a pandemia Covid, em que o mundo também fez férias todo ao mesmo tempo, parando guerras, massacres e catástrofes naturais, mas ao invés de as pessoas irem para a praia, foram para casa ver o sol aos quadradinhos. O céu, que fora outrora azul, ficou mais que cinzento e pleno de drones autoritários que até falavam. No fundo, a pandemia foi a Silly Season do Inverno. Ainda hoje não acredito que tenhamos vivido naquela dimensão.

    Só de pensar nas regras… do Fauci.

    Introduzir tex…

    No Verão de 2020 cheguei a ver na televisão, por exemplo, como numa praia do sul de Espanha, um funcionário balnear de megafone na mão assinalava quem devia ou não ir ao banho, tipo “agora a senhora de azul pode ir para a toalha, o senhor de calções pretos pode tirar a máscara e ir dar um mergulho, mas vá em segurança e tire o pano só na água. O menino aí da direita, afaste-se do outro menino, por favor, e deixe de jogar à bola”. Vi também um jihadista suicida a dizer que tinha mais medo duma constipação do que de um soldado da ONU. E que depois, caso fosse contaminado, queixava-se ele, não parava de espirrar para cima da avó, uma velha também jihadista. “Deixa mas é lá isto passar que depois volto a dar uns tiros de bazuca, posso ser jihadista, mas não sou parvo”.

    O vírus não foi só digital e assustou mesmo, se não foi de uma maneira, foi de outra. As máscaras do Carnaval da Figueira da Foz foram substituídas por outras bem mais fúnebres.

    E, paulatinamente, desde a crise de Setembro de 2001, acompanhada pelo aparecimento da nova euro-moeda, que tem sido um a-ver-se-te-avias digital.

    Primeiro, o aparecimento de canais tanto televisivos como na net, não deu descanso às férias, depois o aparecimento das redes sociais, generalizando-se o Facebook por exemplo lá para 2007 ou 2008, que também acompanharam a crise do subprime, começaram a fazer das suas e as comidas exóticas e mesmo o típico bife com ovo a cavalo passaram para o planeta digital para serem comidos com os olhos. Já para não falar dos pôres-do-sol que se viam ao espelho nas lentes empoeiradas dos mortais, tornando-se banais e menos laranja.

    De lá para cá, os Verões vão ficando mais “gélidos” (quentes, segundo a versão oficial), e o mundo ainda está mais fragmentado do que o computador de Hunter Biden.

    Como estamos em 2024, façamos um apanhado de um dia normal de Verão, englobando todos os media, em que qualquer semelhança com aquela realidade de outrora é pura ficção, como dizem os brasileiros.

    Trump é quase assassinado por um puto com três nomes, como é da praxe. Guerra iminente entre o Irão e Israel. Puigemont foge de Espanha para Waterloo, sem que os moços de esquadra deem por ela. Um adolescente mata três crianças no Reino Unido gerando uma onda de violência da extrema-direita. A polícia propõe aos emigrantes que troquem as facas por uma assinatura à borla da Netflix, devolvendo os objetos cortantes na polícia local em troca da subscrição. Mais uma pandemia assumida pela OMS, desta vez a varíola dos macacos.

    Portugal, Portugal…

    Mais uma data de mortos na Ucrânia. Apagão informático que põe em causa o funcionamento de aeroportos e as partidas de aviões. Musk fala no fim do mundo e ele mesmo entrevista Donald Trump. Não sei quantos mortos nas praias portuguesas. Praias interditadas com salmonela; o fantasma do dentista da TVI a continuar a assustar e a pairar nos dentes dos portugueses sem, contudo, ouvirmos uma palavra da Cristina Ferreira ou da Fátima Lopes, que bem o promoveram durante anos a fio. Discussões intermináveis de comentadores sobre orçamentos preocupantes. As eternas dívidas dos clubes, as dívidas do FCP, a falta de água e a seca no Alentejo de sempre, os recordes de temperatura em Bilbao, ainda que os autóctones achem normal. A demência de Biden, a vida cada vez mais cara. Os jogos olímpicos mais woke de sempre. As lástimas de Pichardo e o Benfica. O Fogo da Madeira que é o mais “quente” de sempre.

    Enfim, podia continuar até ao infinito.

    Mas o que vale é que é Verão. Ainda assim, se tiver sorte e para refrescar, uma vez que o calor me chateia, talvez caia um bocado de granizo lá pelo fim da tarde já que o tempo não anda para brincadeiras.

    Ruy Otero é artista media

    Ilustrações de Manuel Silva


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  • Casa Pia 3.0

    Casa Pia 3.0


    Ano novo – época nova – e problemas renovados, alguns agravados, talvez da idade, que me fez chegar ao estádio a pensar que o jogo começava às 20, quando era meia hora depois. Pior, à conta deste meu desacerto, julgando haver debandada geral, enviei uma foto das bancadas quase vazias a um lagarto que se estava deleitando pelo cristalino facto de o Sporting ter já despachado seis ‘secos’ ao Nacional da Madeira.

    Homem sem fé, assim me vejo. A ‘coisa’ – leia-se, bancadas – lá se compôs, não é ‘casa cheia’, enfim, mas não envergonha, apesar de subsistir um problema ‘velho’: houve novo tropeção na primeira jornada. E mais assobios ao Roger Schmidt, depois das palmas aos jogadores anunciados pelos altifalantes. Quer dizer, não estive com grande atenção, pelo que não posso confirmar que o nome do João Mário recebeu aplausos.

    (coloquemos aqui o início do jogo, embora se na época passada houve dúvidas sobre a veracidade da escrita em directo, agora ainda mais, não sendo a crónica publicada imediatamente a seguir ao apito final)

    Não é novidade para o Benfica começar um campeonato com uma derrota; são logo três pontos que à vida seguem, e geralmente nas competições cá do burgo um desaire é logo um terço dos desaires aceitáveis para se ser campeão. Excepto, claro, se se for o Giovanni Trapattoni, que nos devolveu as faixas onze anos depois no campeonato de 2004/2005, mesmo tendo ‘chupado’ oito empates e sete derrotas. Sim, foi nesse campeonato, o do cabeceamento do Luisão que, ou foi um ‘frango’ do Ricardo, ou foi falta de jeito do Ricardo – coisas de antanho, antes do VAR.

    Objectivamente, a 20 anos de distância, e comigo a poucos metros de distância (estava atrás da baliza), posso garantir que foi um belíssimo cruzamento do Petit, na sequência de um livre, logo ele que, por norma, marcava cantos sem conseguir levantar a bola, estranho nele que corria que nem pitbull. Enfim, bons tempos, que aquele campeonato soube a mel, depois de tão longo jejum com Vale e Azevedo à mistura.

    (e lá em baixo, andamos a pastar agora; tirando um remate do Casa Pia, para boa defesa do Trubin, nada de relevante, ou seja, uma pasmaceira)

    Acho que vou começar a fazer contas à vida, que, no meu caso, significa analisar as probabilidades de sermos campões. A jogarmos assim, zero. Tenho de começar a ter uma mentalidade britânica, que mesmo nos clubes da quinta divisão no fundo da tabela gritam amor até ao fim dos tempos. Se calhar não é uma honra, mas sim uma maldição ser benfiquista: contentamo-nos apenas com muito, e o pouco parece nada.

    (e nada saiu desta primeira parte)

    Enquanto anda ali uma confusão no topo sul, acho que na claque dos No Name Boys, estou aqui a pesquisar se uma derrota na primeira jornada é mesmo determinante. Ainda recorro ao ChatGPT, mas este ‘tipo’ não me parece de confiança na determinação do número de campeonatos em que o Benfica foi campeão mesmo perdendo na primeira jornada. Dá-me valores com ‘pinta’ de serem inventados.

    Uma coisa sei, sem ser necessário inteligência artificial: o jogo do Bessa, no ano passado, não augurou ‘coisa’ boa, pese embora tenha sido ao intervalo dessa partida, que assistia ali na Graça, que me lembrei, não sei se para bem ou mal dos meus pecados, de criar este Da Varanda da Luz. Enfim, o mal está feito, e arrepia-me a ideia de uma segunda época a ‘pão e água’, mesmo se acompanhado pelo já famoso farnel do Benfica que, pelo menos nesta jornada, surgiu com uma novidade: pãozinho tipo ‘bolo do caco’, besuntado de uma pasta de carne, em vez da sensaborona e ‘insuflável’ baguete.

    (e lá vamos para a segunda parte, que é sempre de esperança neste estádio, o que é mau prenúncio, porque significa que precisamos de melhorar, pois esta primeira metade não foi ‘grande espingarda’)

    Além de tudo isto, a caminho do estádio, talvez impressão somente minha, pairavam ares de ambiente fúnebre ou funesto, tantos eram os adeptos do Benfica trajando o equipamento alternativo, mais de pendor negro, em vez do glorioso encarnado. Enfim, pelo menos, os jogadores ali em baixo seguem com a tradicional camisola vermelha e calções brancos – e deveriam ser proibidas outras cores para não se manchar o simbolismo deste ‘sacrossanto manto’. Já nos bastou aquela época em que se meteram em ‘mariquices’ [posso agora usar essa expressão?!] com uma camisola cor-de-rosa: acho que foi no campeonato de 2007/2008, em que ficámos em quarto, atrás mesmo do Vitória de Guimarães, com quatro derrotas e 13 empates.

    Confesso também que, não sendo a confiança muita – e comungando o estado de espírito de qualquer benfiquista, entre o medo de mais um desaire e o pânico de continuarmos com o Roger Schmidt –, há o factor Casa Pia, de má memória para esta, mesmo assim, invicta crónica. Sim! Parecendo impossível, e mesmo com a transacta desgraça, como só escrevi Da Varanda da Luz para os jogos da Liga, nunca assisti ainda a qualquer derrota, e somente a dois empates, um dos quais com este mesmo Casa Pia.

    (começo a exasperar-me com a pobreza franciscana lá por baixo; e eu que me estava a preparar para glorificar o Pavlidis, com um trocadilho com as minhas iniciais, e o grego nada… haja fé com as substituições agora feitas, com uma vaia ao João Mário)

    Entretanto, como tive tempo, porque nada de relevo se passa, encontrei um campeonato épico onde começamos em desgraça e terminámos em apoteose. Época de 1976/1977, já eu nascido, e talvez já benfiquista, com o inglês John Mortimore aos comandos. Primeira jornada: derrota contra o Sporting, três ‘secos’ sem resposta. Segunda jornada: empate em casa, com o Braga, a dois golos…

    (golooooooooooooooooooooo… finalmente! O miúdo Tiago Gouveia com um grande cruzamento e o grego PAVlidis a facturar… caramba, haja esperança!)

    Bem, se ganharmos, então estaremos melhor do que na tal época do Mortimore, que à terceira jornada, no antigo Estádio da Luz, permitiu novo empate, dessa vez com o modesto Estoril, a uma bola. A primeira vitória só à quarta jornada, e bem magrinha foi (1-0), contra a Académica. No final, fomos campeões com nove pontos à frente do Sporting e deixámos o Porto a 10.

    A memória é boa para nos reconfortar, nas desgraças do presente, com as glórias do passado…

    (golooooooooooooooo… já está; aliviemo-nos. Depois de um susto, desconfiando eu que Nossa Senhora ajudou a deslocar a cabeça de um casapiano, de sorte a falhar a baliza, o nosso Tiago Gouveia [como é mesmo o nome daquele que foi para o PSG?!] garante, ai Jesus, assim espero, a nossa primeira vitória)

    Parece-me isto salvo. Já me deveria a experiência precaver que isto de escrever crónicas apaixonadas em directo não é fácil para um escriba, porquanto, convenhamos, esta minha paixão exige retribuição no amor, ou seja, golos, para a chama se manter acesa.

    Despachado isto está. O Marcos Leonardo, que entrou com o Tiago Gouveia, quase fazia o gostinho ao pé, mas fiquemos satisfeitos, porquanto, na verdade, com este resultado mostramos até mais força do que na época passada, considerando que então empatámos aqui com este Casa Pia e perdemos em Famalicão, por sinal também por 2-0…

    (e é goloooooooooooooo… bolas, acordaram na segunda metade da derradeira parte; se isto fosse como no basquetebol, com quatro partes, isto ainda ia parar num quimérico 15 a zero)

    Acabemos a crónica aqui. O árbitro acaba de apitar para o fim do jogo. Finalizemos o texto; hoje nem sequer tive de meter já o texto e as fotos, e assim regresso mais cedo ao lar, doce lar, apesar de lá viver uma portista…


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  • O Alexandre, que não é grande ‘coisa’ na arte da escrita

    O Alexandre, que não é grande ‘coisa’ na arte da escrita

    Correio Mercantil foi um periódico brasileiro do século XIX (1848-1868), onde o grande Machado de Assis deu os seus primeiros passos. Pareceu assim oportuno ao PÁGINA UM, no contexto da actual mercantilização da imprensa portuguesa, ‘contratar’ o protagonista do romance Memórias Póstumas de Brás Cubas para umas epístolas quinzenais. Desta vez, o piparote de Brás Cubas vai para Alexandre Évora, um pivot com ares de comunicador, que decidiu assassinar o português, a língua.


    Neste vosso tempo, com a poderosa espada da turba digital e o escudo do cancelamento impondo uma superioridade moral, sem sair do conforto de cadeiras ergonómicas, ou do sofá, temo ser incompreendido ao preparar-me, eu um branquela, embora enegrecido por quase um século e meio de cadáver, para dar uns petelecos no jornalista Alexandre Évora. E vejam que é um mero peteleco, nem sequer é um tabefe, e muito menos umas chibatadas, mesmo se metaforicamente merecidas no caso em juízo por conta de se tratar de um jornalista a maltratar a língua portuguesa.

    Convenhamos que seria, passe a intencional redundância, mais conveniente ser o meu criador, o próprio Machado de Assis, homem de tez mais bronzeada do que a minha, a curvar a ponta do indicador até apoiar a unha sobre a cabeça do polegar e desferir-lhe o tal peteleco na orelha, para pelo menos aprender a não envergonhar mais a língua de Camões, enegrecida em grau superlativo pela má casta de jornaleiros.

    Enfim, em abono da verdade, longa vida desejo a Alexandre Évora, porque, salvo todos os horrores, sempre me deleito com os monumentos ao pedantismo gramatical e ao descaso sintático, especialmente provindo de alguém impecavelmente vestido, lencinho no bolso do paletó, mãos depostas como vem nos livros de fotogenia, barba e cabelo à medida, e gravata a matar tanto quanto ele chacina o seu instrumento de trabalho: a língua.

    Enalteçamos este hino ao disparate: em apenas uma frase de apresentação, Alexandre Évora não apenas tropeça, mas se esparrama de forma desajeitada numa cacofonia de vírgulas mal colocadas, se colocadas, redundâncias desnecessárias e uma estrutura que faria corar de vergonha até o mais complacente dos revisores.

    Detalhemos, para o retalhar. Comecemos pela própria essência da frase: “Pessoa que tem por profissão trabalhar no domínio da informação, num órgão de informação social numa publicação periódica escrita ou na televisão, na rádio, na Internet.” O sujeito, uma suposta “pessoa” cuja profissão é trabalhar no tal “domínio da informação”, já nos faz arquear sobrancelhas, e rezar pelos anjinhos.

    Que definição brilhante, que originalidade esta, do majestático homem da moderna televisão, que jamais poderia simplificar aquilo que cabia numa única palavra… como, deixem cá ver… já sei: jornalista. Não: Alexandre Évora quis-nos presentear com a sua definição de jornalista, e ele é, lá está, pessoa com aversão patológica à simplicidade. Qual o motivo para se usar uma palavra quando se pode enrolar o leitor numa teia de descrições redundantes e tautológicas, não é mesmo?

    A estrutura da frase é, com efeito, uma jóia rara. Imaginem o processo de pensamento de Alexandre Évora: o sujeito começa com uma tentativa de definir “pessoa”, mesmo não sendo claro por que motivo essa definição seria necessária. Depois, Alexandre Évora perde-se num labirinto de preposições e complementos que, ao invés de esclarecer, obscurecem. “Domínio da informação” é tão vago que não diz absolutamente nada, somente usada para dar ares de erudição. Afinal, que jornalista de verdade não se sentiria tentado a elevar a trivialidade da sua ocupação a (vejam se não soa melhor?) um “domínio”?

    Ah, mas não paremos por aqui! O uso indiscriminado de vírgulas, complementado aos ares de bacoca erudição, é mui digno de nota, ou talvez mais digno de um prémio de desrespeito à pontuação. A vírgula, aquela invenção gramatical que serve para separar elementos da oração de maneira lógica e coerente, é jogada por Alexandre Évora como se fosse sal lançado aleatoriamente num prato. Maravilha: “No domínio da informação, num órgão de informação social numa publicação periódica escrita ou na televisão, na rádio, na Internet.” Notem como a vírgula é tratada com um desprezo quase heróico. Uma vírgula antes de “num órgão de informação social”? Pra quê, não é mesmo? A regra da clareza deve ter sido abolida por decreto particular.

    A repetição do termo “informação” é outra faceta da vaidade deste texto. É como se o autor estivesse se certificando de que o leitor compreendesse, de uma vez por todas, que estamos, de facto, falando de informação. E caso houvesse alguma dúvida sobre isso, ele faz questão de enfiar essa palavra na nossa garganta várias vezes, até que estejamos sufocados com a obviedade.

    E que tal a menção à “publicação periódica escrita ou na televisão, na rádio, na Internet”? Aqui vemos o autor se embrenhando numa selva de conectivos que não têm destino certo. Se um jornalista escreve “ou”, talvez seja prudente não seguir com uma lista tão desconexa. Primeiro, “publicação periódica escrita” parece estar sozinho, um conceito isolado na sua magnificência sem ser contrastado com “televisão, rádio, internet”. E se tivermos a audácia de analisar o conteúdo, perceberemos o quão inútil essa separação é: óbvio será, menos talvez para o próprio Alexandre Évora, que as informações se espalham por esses meios; não havia ‘nexecidade’ de um elenco que mais parece conta de padeiro.

    E então chegamos ao grande final. Este Alexandre, que não é Grande ‘coisa’ na arte da escrita, aventura-se por uma selva de conectivos, cada um mais perdido do que o outro. “Publicação periódica escrita ou na televisão, na rádio, na Internet” – escreve ele, num elenco desconexo que não vai a lugar nenhum, a não ser talvez ao prémio de confusão gramatical. E para finalizar com chave de ouro, esquece até a última vírgula antes da conjunção “e”. Sim, até essa vírgula se sacrificou no altar da incompetência gramatical.

    Resumindo, uma frase a figurar como exemplo negativo em qualquer manual de estilo, jornalístico ou da antiga quarta classe, com direito à palmatoada com a ‘menina dos cinco olhos‘. Mas, no fim, sempre a lição se perpetuará: por mais vaidoso que seja o jornalista, por mais elevado que ele se considere no seu “domínio da informação”, a superciliosa empáfia jamais compensará a falta de habilidade em escrever de forma decente.

    Até breve, e um piparote. Ou um peteleco.

    Brás Cubas


    N.D. O título Correio Mercantil é uma marca nacional do PÁGINA UM em processo de aprovação de registo no Instituto Nacional de Propriedade Industrial. Quanto ao nome do autor (Brás Cubas), será o pseudónimo usado em exclusivo por Pedro Almeida Vieira nestas crónicas, constituindo apenas uma humilde homenagem a Machado de Assis e ao seu personagem. Tal não deve ser interpretado como sinal de menor rigor na análise crítica que aqui se apresenta, independentemente do carácter jocoso, irónico ou sarcástico.


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  • Obama & ‘Monedas’, ou o provincianismo pacóvio

    Obama & ‘Monedas’, ou o provincianismo pacóvio


    Obama & ‘Monedas’, ou o provincianismo pacóvio

    Barack Obama, apesar do seu estatuto de reformado, é homem ocupado, como todos saberão. Apesar de as horas de um dia lhe passarem como aos demais, os seus minutos são escassos: daí que ouvir Carminho a despachar o fado ‘O Quarto’ em 1 minuto e 16 segundos no filme ‘Pobres criaturas’ lhe pareceu bastante para a integrar na sua playlist estival no Spotify, em vez de sugerir a versão integral de 3 minutos e 20 segundos.

    Pormenores. Afinal, um ex-presidente dos Estados Unidos, democrata como convém nos tempos de hoje, ir ao cinema e ficar deliciado com uma voz exótica que lhe deve soar vagamente ao espanhol de Porto Rico, é mais do que motivo para o Expresso ir a correr ‘gritar hossanas nas alturas’, que Deus seja glorificado para todo o sempre. Ou melhor, que Carminho seja glorificada nas páginas do semanário de Balsemão na secção “Altos”, e por bênção de Barack Hussein Obama II, e só por isso – e nem sequer por ter editado o álbum onde se insere aquela canção já no longínquo Março de 2023 em Portugal e em Novembro seguinte nos Estados Unidos.

    Portanto, esclarecidos fiquemos sobre o conceito de validação cultural: Barack Obama e a sua playlist de Verão ‘sacada’ de uma sala de cinema.

    Talvez exagere. Os portugueses sempre apreciaram que, do estrangeiro, gostem deles. E, portanto, se nos próximos tempos, a distinta fadista cair nas graças de Trump lá teremos mais um altar erguido em honra de Carminho nas páginas do Expresso, certo? E se for Bolsonaro? Ou Lula? Ou se for Putin? Ou se for Zelensky? Ou Kim Jong-un, que em jovem até teve passaporte brasileiro? Infindáveis possibilidades que auguram uma secção própria, e adequada, para solenizar os encómios estrangeiros à nossa cultura.

    Mas o desmesurado orgulho ao que vem do estrangeiro – que quase se confunde com provincianismo pacóvio – atingiu o zénite no passado sábado com o alcaide de Lisboa Carlos Monedas.

    Perdão, falo de Carlos Moedas, presidente da Câmara Municipal de Lisboa, que pensava eu ser capital da República Portuguesa, mas que, pelo entusiasmo com ele esteve a promover a etapa inicial da Vuelta a España, mais me pareceu que recuáramos ao Verão de 1640, aos tempos de Miguel de Vasconcelos.

    De Gira em punho – e teve muita sorte de estar a funcionar –, lá vimos ‘Monedas’ glorificar a La Vuelta, orgulhoso por se iniciar na ‘província’ mais oeste de Madrid. E isto quando não me recordo de o ter visto na chamada Volta a Portugal, que somente passou fugaz e discretamente por Lisboa, em 26 de Julho, porque o presidente de uma junta, a de Marvila, achou por bem ‘despachar’ 90 mil euros para a organização da triste prova lusitana meter Lisboa no mapa, em vez de os direccionar em desnecessárias melhorias dos seus fregueses.

    Foi ver onde parou Moedas nesse dia, em que não teve tempo para dar um saltinha à chegada da Vuelta a Portugal no município que preside. Tarefa fácil, porque a agenda do nosso alcaide está agora sempre bem patente e presente no X: esteve a ‘inaugurar’ o plantio de 20o árvores em Sete Rios, na Praça Marechal Humberto Delgado, assassinado pela PIDE em Espanha. Olé!


    Carta de amor de Valentina ao Valentão

    Nem ao leitor mais desatento terá passada desapercebida uma certa dedicada e carinhosa prosa, que o tempo e a História tratará de fazer ombrear com as missivas de Mariana Alcoforado ao militar francês Noël Bouton, Marquês de Chamilly. Não foi em formato de carta secreta, é certo, embora a condição de ‘notícia’ num jornal que vende mil exemplares a coloque num grau de sigilo quase similar, além de em nada retirar o merecido e enternecedor mérito à paixão.

    Publicada no dia 20 de Julho no Diário de Notícias, não tivemos aqui uma pena de uma freira do Convento da Nossa Senhora da Conceição, na alentejana cidade de Beja, mas sim o teclado de uma jornalista de não menor fervor e afeição pelo seu amado: Valentina Marcelino, uma jornalista já considerada a maior especialista mundial em ‘Gouveia e Melo’, conseguiu transformar um simples relato sobre a alocução de um militar a convivas de uma jantarada de oníricos elogios em visceral fogo que incandesce a alma e sublima o espírito temperado com essências vibrantes que transcendem a mera existência. A bem-dizer, escreveu ela uma carta de amor.

    silhouette of person's hands forming heart

    Valentina mal escondeu, na sua notícia, os suspiros e os tremores que, por certo, espraiou no Clube Militar Naval ao ver o seu ‘Chamilly’ sem farda, mas podemos imaginá-los pela prosa enlevada e fascinada perante aquele militar de branca e rala barba, que me lembra sempre um senhor que promove um conhecido pescado que garante apenas uma espinha em cada 41.000 unidades, o que sempre me parece mais seguro do que as vacinas contra a covid-19.

    Enfim, certo é que na leitura, em menos de sete minutos, o leitor cruza-se com encantatórias palavras, sempre meigas, sempre elogiosas, sentindo-se sempre um aroma a maresia, um sabor a grandeza. No início vai logo à espinha, para logo seguir para o coração: “Descontraído, comunicativo e até com umas tiradas de humor, o almirante Gouveia e Melo escolheu o tema da liderança para falar a uma plateia de auditores de Defesa Nacional, militares e deputados, convidados de um jantar-palestra realizado no Clube Militar Naval, em Lisboa, na última quinta-feira.” Prossegue, e logo citando as palavras, sempre modestas, sempre humildes, de um Grande Líder, que menos do que Grande Almirante não poderia ser: “Um chefe militar tem de ter coragem. Ser honesto com o poder político e, quando necessário, vir a público dar a cara. É isso que faço. Se calhar, os chefes militares eram mais do tipo Português Suave, mas eu sou de um género nada suave”.

    Como não se deslumbrar com alguém que se anuncia como sendo o oposto do Português Suave. Até eu acho que o nosso Almirante está, efectivamente, longe do Português Suave; ele é mais Kentucky, o famoso ‘mata-ratos’… Ou será mata-velhos? Não sei. Acho que isso era mais os quadriciclos

    Não nos desviemos. A prosa flui, a partir daqui, dando eco ao lamento do putativo aspirante a ocupar o lugar de Marcelo, por “a Defesa ter estado praticamente fora dos debates da campanha para as Eleições Europeias, apesar da guerra na Europa com impacto em todos países, incluindo Portugal”. E recorda uma entrevista DN-TSF, onde o almirante “chamou a atenção” para a necessidade de “preparar os jovens” para serem, um dia, carne enviada por políticos para enfrentarem canhões em cenários de guerra (perfeitos para lavar dinheiro).

    No parágrafo seguinte, Valentina já não aguenta: “vestido à civil o Chefe de Estado-Maior da Armada (CEMA) aproveitou a oportunidade para partilhar das dificuldades no recrutamento para a Marinha”.

    E, claro, não podia faltar, no texto de uma amante – no sentido de admiradora, não sejam más-línguas – doces palavras de saudades à pandemia do ‘vai ficar tudo bem’: “A task force da vacinação e a sua estratégia como coordenador, era o foco da sua intervenção, em que frisou que a coragem, ter valores, assumir a responsabilidade e honestidade são algumas das qualidades que, no seu entender, devem fazer parte de um líder”. Tanta modéstia.

    Ficámos a saber, pela querida ‘almirantenete’ que Gouveia e Melo não é de ferro nem de pedra, tem sentimentos, é um homem que teme os desafios que somente os gestores de logística dos frescos do Modelo Continente, e outros perecíveis, enfrentam: “confessou não ter dormido “toda a noite” quando foi convidado para liderar o processo de vacinação”.  E, escreve ainda Valentina, que um dos motivos por que passou a andar sempre de camuflado, não foi para fazer suspirar as ‘almirantenetes, apesar da justificação oficial de ser “a farda partilhada pelos três ramos” que integravam a task force, foi sobretudo para evidenciar a “guerra contra um vírus”. Ah, e era mesmo guerra, porque nisto não havia lugar para pacifistas, medricas, refugiados, deslocados ou desertores. “As pessoas tinham de escolher um lado. Quem estava contra tinha de se vacinar”, disse o nosso Almirante, e assim redigiu a nossa Valentina. Para quê seguir a Ciência quando se pode antes seguir as palavras de um especialista em faróis e submarinos, ainda por cima humilde, modesto, imbuído de bom-senso, como fica patente no mui ‘patenteado’ Gouveia e Melo?

    Assim sendo, não surpreende que todo o restante texto seja escrito, e descreva, sempre envolto em elegância e admiração, para enaltecer as qualidades de alguém destronou, com grande facilidade, um Diogo Cão, um Bartolomeu Dias, um Pedro Álvares Cabral, um Vasco da Gama, um Afonso de Albuquerque, um Fernão de Magalhães… esse não, que se ofereceu a Castela.

    Embevecida, Valentina recorda, aliás, um outro artigo que escreveu sobre o seu ídolo com o singelo e muy imparcial título: “O que vai ficar para a história da liderança de Gouveia e Melo”. Neste artigo, “alguns dos mais importantes especialistas em liderança elogiaram as opções do almirante”, escreveu Valentina. Nem faltou a opinião de um especialista para meter o nosso Almirante na gávea de proa desta navio chamado Portugal, destacando a sua “genuinidade”, que transmitiu “calma, confiança no trabalho da sua equipa”, ou a de outro que lhe viu “visão estratégica clara”. Aos jornais ainda lhes falta meter na tinta música de violino.

    No panegírico de Valentina ao seu Valentão, não faltou menção à “mesa do CEMA” neste jantar “com lotação esgotada”, onde pontificava Miguel Guimarães, deputado do PSD e ex-bastonário da Ordem dos Médicos, envolvido na polémica das ilegalidades cometidas numa campanha de solidariedade financiada quase exclusivamente por grandes farmacêuticas. Curiosamente, nessa mesma campanha de solidariedade foram desviadas vacinas para médicos não-prioritários, mas isso não interessa nada, Provavelmente, Noël Bouton também tinha os seus pecados e pecadilhos, e a sua Mariana Alcoforado também se calou. O amor é sempre lindo, talvez por ser cego.



    SEMANA 30/2024

    Marrar na parede? Não: é mesmo cair no abismo

    O Francisco Balsemão, não o José (pai) nem o Maria (meio-irmão), mas o Pedro, é o CEO da Impresa, outrora grupo de media que trabalhava para o (e tinha foco no) bem dos leitores e telespectadores. Com esse antigo serviço, credível e atraente, vinha o brinde: as empresas punham-se em fila para publicitar nas ‘plataformas’ da Impresa os seus produtos para serem comprados e usufruídos pelos consumidores que eram atraídos pela informação credível e pelos conteúdos comunicacionais de qualidade. E como era filão apetecível, e não havia espaço para todos, pagava-se bem para anunciar. Ganhavam então todos: leitores / telespectadores, os anunciantes e a própria Impresa.

    Mas isso é coisa do passado. Os produtos (notícias e conteúdos comunicacionais) descredibilizaram-se, e já nem se consegue distinguir o jornalismo da promoção e do marketing empresarial – ao ponto de o próprio CEO da Impresa andar a fazer ‘entrevistas’ numa mixórdia de funções – e como as audiências por tudo isto descambaram, abriu-se a possibilidade às maiores promiscuidades numa fuga para a frente, para onde não há sequer uma parede para marrar mas somente um abismo para cair.

    Post no LinkedIn do CEO da Impresa

    Assim sendo, nem sequer deveria surpreender muito que na apresentação de mais um resultados semestrais desastrosos – 4 milhões de euros de prejuízo, sobretudo pelo agravamento do serviço da dívida por via do endividamento completamente absurdo -, o Pedro (para que se consiga distinguir dos outros dois Francisco Balsemão) continue alegremente a dizer que “vamos continuar a trazer mais valor para anunciantes e agências, reforçando a nossa posição enquanto grupo de media português com mais investimento publicitário”.

    Nem uma palavra para os leitores e telespectadores. Nem uma palavra para o jornalismo. Nada. A Impresa hoje só quer dar “mais valor” aos anunciantes, apresentando cada vez menor qualidade nas ‘plataformas’, e às agências (deduzo que também de comunicação), que querem passar comunicação empresarial como se fosse notícias.

    Deve ser giro um CEO de uma empresa fazer um podcast para o jornal como se fosse mesmo um jornalista…

    Presumo que a estratégia para o desastre vai continuar quando o nosso Pedro acrescenta que “adicionalmente, vamos manter a nossa estratégia de expansão digital e diversificação de fontes de receitas, nomeadamente através da concretização de apostas já anunciadas como a realização do Tribeca Festival em Lisboa e a nossa nova parceria na área da bilhética online com a BOL”. Diversificar significa aqui, presumo, arranjar mais umas ideias para fazer de conta que na Impresa ainda se faz jornalismo e comunicação social.



    SEMANA 29/2024

    Paxlovid!, dizem os democratas. Ivermectina!, dizem os republicanos

    Se considerarmos que o primeiro ano de vida de um gato é aproximadamente igual a 15 anos humanos, que o segundo é igual a 9 anos humanos e que cada ano adicional é igual a 4 anos humanos, então o Biden é um ano mais velho do que eu, sabendo-se – e se não souberem, sabem agora – ter eu nascido no dia 13 de Junho de 2008. Estamos ambos idosos, mas ainda me lembro do que sucedeu há dois anos, talvez porque, nessa altura, contava 72 e não 80 anos.

    Posto isto, mesmo sabendo que Joe Biden está mesmo desmemoriado, e já nem saiba o que lhe dão, acho que, a existir uma cabala nos Estados Unidos, esta não é contra o Trump, mas sim contra o actual Presidente. Não é que logo no dia em que ele coloca a hipótese de sair da corrida eleitoral se houvesse decisão médica, surge com um teste positivo à covid-19? E que lhe fazem? Dão-lhe o mesmíssimo medicamento – o Paxlovid, da Pfizer – que ficou conhecido por ser como o Melhoral (não faz bem, nem faz mal) com a agravante de causar recaídas, como lhe sucedeu em 2022. Lembram-se? Ele, se calhar, não.

    Notícia de Julho de 2022: Biden teve uma recaída depois de lhe ser administrado Paxlovid. Dois anos depois, dão-lhe novamente Paxlovid.

    Enfim, já estou a imaginar nos próximos tempos uma titânica luta ideológica, que nada tem a ver com simpatias terapêuticas: os democratas a quererem à força que Biden tome Paxlovid, para ter recaídas até abandonar a candidatura (e se não resultar, às tantas ainda lhe darão lixívia…), enquanto os republicanos a querem se ele recupere rápido, dando-lhe vitamina D e ivermectina, de sorte a ele se manter na corrida a colecionar gaffes até Novembro. Tempos interessantes, sem dúvida.


    SEMANA 28/2024

    Leonor de Todos los Santos de Borbón y Ortiz e o seu súbdito Marcelo

    A sinistra (é canhota) Alteza Real Leonor de Todos los Santos de Borbón y Ortiz, Princesa de Asturias, Princesa de Gerona, Princesa de Viana, Duquesa de Montblanch, Condessa de Cervera e Señora de Balaguer, visitou aos 18 anos um rectângulo na Península Ibérica que, para mal dos pecados do Senhor do Morgado de Fonte Boa (um tal Miguel, de Brito, da parte do pai, e Vasconcelos, da parte da mãe), continua a falar a língua de Camões, e não a língua de Cervantes.

    E muito bem fez a jovem herdeira do trono de Espanha em, pisada esta terra, se pôr a discursar em castelhano na sua visita a Belém, onde muito bem teceu, e se entendeu, uns belíssimos considerandos sobre Portugal, apenas usando, para dar mais ‘salero’, uma palavra na língua de Pessoa – ‘saudade’ – para destacar os nobres sentimentos de seus pais sobre o país vizinho.

    Já Marcelo Rebelo de Sousa – ou será Marcelo Revelo de Sosa? – fez o que um súbdito deve fazer perante a (sua futura) rainha: brindou em castelhano, embora com tão terrível pronúncia que, vos garanto, o Cervantes, lá no sepulcro do Convento de las Trinitarias Descalzas de San Ildefonso, deu ‘erizado’ umas quantas acrobacias, apenas não uns saltos mortais, porque defunto já ele está. Em todo o caso, em resposta ao brinde de Marcelo (ou Marcelo, em castelhano), o Rocinante relinchou ‘iiirrrrí‘ e o Rucio zurrou ‘inhóóó inhóóó‘.


    SEMANA 28/2024

    Salomé e a cabeça da Verdade numa bandeja

    Há agora um novo desporto nos media mainstream: malhar em Lucília Gago e zurzir na Procuradoria-Geral da República, esse malévolo ente que ia dando cabo da vida do nosso querido Costa, o nosso ai Jesus que agora dará mais alegrias ao povo português do que o Ronaldo, já anda a pensar em pousar chuteiras, tornando-se o mais mais inteligente presidente do Conselho Europeu, PNS dixit.

    Ora, na recente entrevista à RTP, Lucília Gago disse que não se sentia responsável pela queda do Governo em Novembro passado, que fora uma decisão pessoal de António Costa, que “poderia continuar a exercer as suas funções” como, exemplificou, aconteceu com Ursula von der Leyen e com Pedro Sánchez. “Não é automático que a instauração de uma investigação tenha como consequência uma demissão”, defendeu.

    Que foi ela dizer, caramba! Caiu logo nas malhas do Polígrafo, o arguto fact-checker com uma impressionante densidade de under-30 na sua redacção, e que agora até já ‘contrata’ under-20, o que, convenhamos, poupa dinheiro em salários, mas mostra-se arriscado porque, geralmente, a memória destas gentes, tal como a idade, é curta.

    Portanto, assentando nisto, lá tivemos o Polígrafo com a jornalista Salomé Leal a pôr a Dona Lucília Gago em ordem, dando-lhe um raspanete, porque, segundo esta veneranda (nada veterana) fact checker, não é comparável a situação de Ursula von der Leyen com a de António Costa, porque, havendo um caso de alegada “interferência em funções públicas, destruição de SMS, corrupção e conflito de interesses” nas negociações de vacinas entre a presidente da Comissão Europeia e o CEO da Pfizer, a senhora alemã “não ponderou em momento algum abandonar o cargo apesar da investigação, mas também não foi, ainda, acusada da prática de qualquer crime”.

    Pintura exposta no Museu Nacional de Arte Antiga da autoria de Lucas Cranach, o Velho.

    Isto é uma chatice quando se anda a fazer fact-checking como se fosse gente grande, e depois, vai-se a ver, e entrou-se no jornalismo em 2020. E, portanto, que interessa a Salomé Leal tudo o que sucedeu antes desse prodigioso ano, incluindo, portanto, as acusações (e investigações) que ainda pendiam sobre von der Leyen em 2019 como ministra alemã da Defesa, quando então foi escolhida para a presidência da Comissão Europeia? E não seriam essas situações passadas sobre as quais Lucília Gago se estaria a referir?

    Nanja! Nada!

    brown tabby cat lying on white textile

    Para Salomé Leal, só se deve ver, com antolhos, para a frente de 2020. Para Salomé Leal, só há Político a partir de 2020 (e em particular, para apanhar o ‘erro’ de Lucília Gago, através da notícia do Político de 1 de Abril de 2024, que ela refere como ‘prova’); não há Político antes de 2020, nem existência, nem mundo, nem memória, somente o vazio a.S.L. (ante Salomé Leal).

    Dona Lucília Gago, para a próxima se precaveja: não queira, matusamelicamente, confundir as mentes juvenis, invocando o passada da nossa Ursula von de Leyen antes do Pfizergate; não queira relembrar casos, ‘casinhos’ e ‘casões’ que teve como ministra alemã da Defesa entre 2013 e 2019, como, hélas, se pode ver no período pré-histórico do Político (aqui, aqui, aqui e aqui).

    Enfim, a ignorância é muito atrevida, diz-se – mas numa fact checker armada em paladina da verdade, a ignorância torna-se apenas lamentável. A culpa, parece-me, nem é da Salomé, mas certo é que, com estes fact checkings, a Verdade nos surge assim decepada numa bandeja.


    SEMANA 26/2024

    Gouveia e Melo apanha Putin no cimo do ‘caralho’ (calma: é termo náutico)

    Na Teoria do Caos diz-se que pequenas alterações nas condições iniciais de um sistema complexo podem resultar em grandes e imprevisíveis eventos futuros. Conhecido por Efeito Borboleta, este conceito foi popularizado pelo meteorologista Edward Lorenz nos anos 1960, e é frequentemente ilustrada com a metáfora de que o bater de asas de uma borboleta na Amazónia poderia desencadear uma tempestade no Pacífico.

    Em Portugal, desde que o submarinista Gouveia e Melo se meteu na ‘cesta de gávea’ (também conhecida, em tempos antigos, por ‘caralho‘), a mandar postas de pescada como Chefe do Estado-Maior da Armada, sabemos por isso que, quando uma qualquer embarcação da Rússia levanta âncora de um qualquer porto e cruza águas portuguesas, nos arriscamos a ter a III Guerra Mundial. E por isso, temos de combater o ‘Efeito Borboleta’ com o ‘Efeito Gouveia e Melo’.

    Não tenham dúvidas sobre o ‘Efeito Gouveia e Melo’ para a paz mundial. A III Guerra não sucedeu ainda porque, claro, a Marinha Portuguesa ‘almirantada’ pelo mestre-da-logística-vacineira, putativo candidato a Presidente da República, coloca sempre toda a ‘infantaria náutica’, que ainda flutua, a postos para controlar os malvados espiões russo. Apenas por causa de Gouveia e Melo os russos não sabem ainda como podem sair vitoriosos de um conflito global, porque jamais conseguem vasculhar em descanso o fundo do mar português. São corridos.

    Que o Putin deixe de se armar em carapau de corrida, e tire as mãos da sardinha – com Gouveia e Melo não há cá caldeiradas. Que o Putin se entretenha com o esturjão, que se contente com o caviar. Se não se portar bem, às tantas, leva é uma solha do nosso Almirante… ou uns douraditos da Iglo (passe a publicidade).

    Por tudo isto, celebremos Gouveia e Melo. Celebremos a Marinha Portuguesa que bem viu que o ‘General Skobelev’ não era um banal petroleiro russo com destino a Kalinenegrado, nem que o ‘Akademik Ioffe’ não era um corriqueiro navio russo de passageiros com destino à Libéria, nem o ‘Nikolav Chiker’ um singelo quebra-gelo saído do porto de Mariel em Cuba, onde sabemos que nem há neve. Eram sim uns malvados “navios-espiões russos”, como noticia o Correio da Manhã depois de um comunicado do gabinete de imprensa do nosso Almirante, que só não deram início à III Guerra Mundial porque a nossa bendita Marinha cometeu uma heróica “missão de 90 horas”.

    Imagens retiradas hoje do Marine Traffic com a localização de embarcações, bem como a localização actual do Akademik Ioffe que segue para a Libéria. Cada triângulo representa a localização de uma embarcação de grande porte.

    Feito isto – e que grande feito de Gouveia e Melo comparado com os vulgares ‘passeios’ de Diogo Cão, de Bartolomeu Dias, de Vasco da Gama, de Afonso de Albuquerque e do ‘traidor’ Fernão de Magalhães –, somente se me coloca uma dúvida: será que o Putin não deveria mudar de estratégia, e em vez de mandar navios-espiões com bandeira russa, não deveria antes alugar um embarcação de outro qualquer país para espiolharem as nossas águas territoriais ou a nossa Zona Económica e Exclusiva (ZEE)?

    É que assim isto não tem muita piada! São sempre apanhados pelo olho do Gouveia e Melo, que no cima do ‘caralho’ nada deixa escapar. Dá-lhe, camarada Putin, pelo menos algum trabalho, enquanto ele não segue para Belém: há centenas de navios a cruzarem os mares portugueses, como podes ver ali em cima nas imagens retiradas do Marine Traffic. Escolhe um, para que Gouveia e Melo apanhe todos. Se o homem até já venceu um vírus


    SEMANA 25/2024

    Força Aérea: um zero à esquerda a meter dois zeros à direita

    Na aviação, um número conta muito. Por exemplo, em 1989, um voo da Varig, caiu sem combustível na floresta amazónica, só por por causa de o piloto ter inserido a direcção 027 graus, em vez de 270 graus. Um zero mal metido. Mas esse lamentável caso foi na aviação civil; na Força Aérea, como se viu desde pelo menos o Top Gun, não se brinca em serviço. Um número é um número. Rigor absoluto.

    E daí que se começou a salivar aqui no PÁGINA UM, que muito já viu em contratação pública, quando se detectou, no início desta semana, um ajuste directo celebrado há quase dois anos, mas somente agora publicitado no Portal Base, pelo Estado-Maior da Força Aérea para aquisição de apoio de engenharia relativo a um sistema de comunicações. Valor da ‘coisa’: 7.326.000 euros, ou seja, um ajuste directo de mais de 7,3 milhões de euros, montante que, com IVA, ultrapassaria os 9 milhões de euros. Ainda por cima, sem sequer existir contrato escrito, invocando uma norma inadequada para estes casos.

    man driving helicopter

    Já se imaginava as parangonas – mas vieram as relações públicas estragar a ‘cacha’, confessando um erro, corrigido depois do contacto do PÁGINA UM. Afinal, o contabilista da Força Aérea, talvez um zero à esquerda, tinha inserido dois zeros à direita, a mais. Ou seja, onde antes se lia 7.326.000 euros, passou a ler-se 73.260 euros. E lá se foi a ‘cacha’.

    O director do PÁGINA UM ainda anda a matutar se não deveria ter perguntado por comprovativos que demonstrem que nunca erros deste quilate quando se digitam números nas ordens de transferência. Às tantas, ainda se descobria, no contrato de 2021 (que só foi publicitado este ano) para fornecimento de combustíveis, que o Estado-Maior da Força Aérea em vez de ter pagado 57.276.950,99 euros à Petrogal, afinal enviou-lhe, vá lá, apenas 57,27 euros – ou, para arredondar, 57,27 euros. Erros acontecem: quem não…


    SEMANA 24/2024

    Carlos, o Papa Moedas

    Carlos Moedas já nos habituou a falar na primeira pessoa do plural sempre que, em bicos de pés, quer falar da obra que julga ser só sua: “entregámos chaves de casa”; “homenageámos fulano de tal”; “visitámos a estrada da Beira e a beira da estrada”; “distribuímos isto e aquilo”, “condecorámos sicrano e beltrano”, e hoje [sic, neste caso] “Casámos os noivos de Santo António”.

    Mas, calma, não se pense que nesta função casamenteira, o presidente da Câmara de Lisboa tenha exercido o ministério de sacristão ou de diaconato – que ofensa seria! E, para quem é, nunca aceitável seria o múnus do presbiterado, que isto de ser pároco, cónego, vigário-geral ou monsenhor é coisa de pobre. Merecia Carlos Moedas não menos do que a função, ou título, de bispo, de arcebispo, de cardeal ou de patriarca. Mas como isto seria sempre pouco, acho mesmo que este, hélas, nosso edil deveria estar mesmo no topo da hierarquia, até para fazer jus à função que melhor desempenha com o dinheiro dos contribuintes para se promover: Papa – o nosso Papa Moedas.


    SEMANA 22/2024

    Costa, o Ricardo, sem tempo para ler sobre prémio das estantes IKEA

    O jornalista Ricardo Costa tem quatro relevantes pecularidades biográficas: é cumulativamente director de informação da SIC e director-geral de informação do Grupo Impresa (dona do Expresso); é primo em segundo grau de José Alberto Castelo Branco da Silva Vieira; é irmão de António Luís Santos da Costa; e tem raízes orientais, o que, garantidamente, na douta e constitucionalíssima tese do nosso actual Presidente da República, o tornará “lento”. Só a segunda é irrelevante para a minha ‘arranhadela’.

    Sendo “lento”, ‘marceloscamente’ falando, e tendo tão elevadas funções na direcção de tantos órgãos de comunicação social, compreende-se que Ricardo Costa só leia as ‘gordas’ e que os seus olhos não comam mais do que o primeiro ‘linguado‘, porquanto, como sabe, a partir daí tudo é palha para encher chouriços.

    Por esse motivo, compreende-se que Ricardo Costa tenha vindo a correr dar uma alfinetada no Governo Montenegro por ter eliminado um rectângulo verde, um círculo amarelo e um quadrado vermelho como logótipo da Nação, uma vez que a ‘obra’ acabou de ganhar um prémio de design.

    Confirma-se, assim que Costa, o Ricardo, nem sequer leu a curta notícia da SIC, televisão do qual é director de informação, a qual destaca no seu tweet no X, para criticar “as guerras culturais [quando] chegam ao design”. Se assim não fosse, teria visto que o Grande Prémio CCP 2024, e que deveria ter merecido o máximo destaque, foi entregue à não menos famosa publicidade da estante IKEA: “Boa para guardar livros. Ou 75.800€“, alusiva ao dinheiro encontrado no gabinete de Vítor Escária, chefe de gabinete do Costa, o seu António, e que tanto frisson causou às sensibilidades políticas do PS.

    Já agora, bem vistas as coisas, às tantas os 75.800 euros do Escária eram legais: serviriam para pagar ao designer os 74.000 euros do logótipo, e o resto seria para cerveja e tremoços, que para gambas já não daria.


    SEMANA 21/2024

    Mais um frete do Polígrafo; mais um prego no caixão do jornalismo

    A vida anda difícil para todos, e até também para o Polígrafo, apesar dos mais de 400 mil euros por ano que encaixa do Facebook para fazer de cão-de-fila pelas redes sociais. E se quando esteve desempregado, o seu director, Fernando Esteves, fez uma perninha em final de 2018 para sacar quase 20 mil euros num centro hospitalar de Lisboa (sem haver sinal de ter feito ‘coisa’ alguma), mais facilmente pode o Polígrafo fazer fretes – desde que, claro, receba dinheiro. Pregar pregois no caixão do jornalismo, isso é um pormenor…

    Como se sabe, o Polígrafo orgulha-se de ser um órgão de comunicação social exclusivamente de fact-checking, que teve o seu período de ouro na pandemia, com uma função mui útil para consolidar ‘narrativas’, metendo no mesmo saco gente destemperada e racional (desde que ambos os grupos não aceitassem as ‘narrativas’, em versão low cost, porquanto metia estagiários geralmente de Comunicação Social a mandar postas de pescadas sobre complexas questões de Epidemiologia e outras ciências, muitas vezes com especialistas em migrações de sardinhas ou peritos em hidrogeografia que andaram a lançar búzios com modelos matemáticos de vão-de-escada.

    Mas estamos em 2024, e embora haja muita mentira a ser desvendada em campanhas eleitorais, a safra deve andar fraca – e, portanto, o que vier à rede é peixe. E esta semana saiu assim no Polígrafo uma notícia ‘normal’, mas nada habitual num ‘fact checker’, sobre um banal “encontro com jornalistas, esta terça-feira, em Lisboa”, onde Elisa Ferreira, a comissária portuguesa ns Comissão von der Leyen, notou que quando existe “um alargamento da União Europeia há normalmente um impulso brutal da economia” dos países que acabam de aderir ao bloco europeu”. Toda a notícia soa a pé de microfone: a comissária diz, a jornalista anota.

    E, acrescenta ainda a jornalista Ema Gil Pires, com um curioso número de carteira profissional – 7999, que, por ser nova, nem sequer deve saber o que é a cláusula de consciência, que a livra de fazer fretes a mando do ‘patrão’ –, que Elisa Ferreira notou, assim, a “grande oportunidade” que tal seria para o “processo de reconstrução da própria Ucrânia”, numa altura em que se perspectiva “uma eventual inclusão de Kiev no leque de Estados-membros”. E blá blá até ao fim.

    E é bem no fim que se vê o seguinte texto, que deve ser lido ao som de violinos, ou de marcha fúnebre em memória do jornalismo: “Este artigo foi desenvolvido pelo Polígrafo no âmbito do projeto ‘EUROPA’. O projeto foi cofinanciado pela União Europeia no âmbito do programa de subvenções do Parlamento Europeu no domínio da comunicação. O Parlamento Europeu não foi associado à sua preparação e não é de modo algum responsável pelos dados, informações ou pontos de vista expressos no contexto do projeto, nem está por eles vinculado, cabendo a responsabilidade dos mesmos, nos termos do direito aplicável, unicamente aos autores, às pessoas entrevistadas, aos editores ou aos difusores do programa. O Parlamento Europeu não pode, além disso, ser considerado responsável pelos prejuízos, diretos ou indiretos, que a realização do projeto possa causar“.


    SEMANA 20/2024

    As reuniões do Grande Líder Moedas

    Carlos Moedas, o Presidente da Câmara de Lisboa – ou, antes disso, como salienta na sua conta do X, é “Mayor of Lisbon” e, além disso, também “Maire de Lisbonne” (e direi eu, de igual modo, que será লিছবন চহৰ পৰিষদৰ সভাপতি, em língua assamesa), é um líder. Perdão: é um Líder. Penitência: um Grande Líder. Misericórdia (não a freguesia onde nasci no longínquo ano de 2008): O GRANDE LÍDER!

    O único! Mas nunca sozinho.

    Moedas surge, feito vedeta, a oferecer casas, a acompanhar obras, a distribuir subsídios, a condecorar o periquito, mas nunca o faz sozinho. Usa sempre o plural: oferecemos, acompanhamos, distribuímos, condecoramos. E nós pagamos.

    São pormenores: afinal, o Grande – metonímia para Grande Líder Moedas – liderará sempre COM as pessoas, como titula a sua ‘magnum opus’, dirão os seus empolgados idólatras. E o Macron, que diz de Moedas o que o Maomé dizia de Meca: que “servirá para encorajar e até formar as próximas gerações de cidadãos que queiram fazer viver os seus ideais”.

    Mas calma. Nem sempre o Grande – o Grande Líder Moedas – lidera com as pessoas. Tem de se ter estatuto para se estar COM o Líder. Até em reuniões que, na verdade, servirão para ele – leia-se, Ele – expor a sua liderança. Por exemplo, Moedas reúne COM o presidente da Câmara Municipal do Porto, mas já reúne OS presidentes das autarquias que integram a Área Metropolitana de Lisboa. Mesmo quando se está na mesma sala do Grande não significa que se esteja ao mesmo nível – que assim conste in saecula saeculorum.


    SEMANA 20/2024

    Das invasões do colonialismo às invasões do doutor Nuno Rebelo de Sousa

    Se os filhos vivos têm de pagar pelas invasões cometidas pelos pais mortos, conforme defende o Presidente da República Marcelo Rebelo de Sousa, parece-me bastante lógico que os pais vivos possam também pagar por invasões dos filhos vivos. E isso pode ser visto ao nível de uma geração ou de dezenas de gerações.

    Assim, enquanto andarmos então a contabilizar, por invasões desde o século XV pelos nossos antepassados, quanto deveremos pagar ao Brasil, à Angola, a Moçambique e a tantos outros territórios dos quatro cantos do Mundo que os nossos pais (no sentido lato do termo) palmilharam, também não nos devemos esquecer de apurar a quem endereçar as facturas pelas invasões ao nosso território ‘perpetradas’ pelos fenícios, pelos gregos, pelos cartagineses, pelos romanos, pelos visigodos, pelos suevos, pelos mouros, pelos espanhóis (sessenta anos) e até pelos franceses (e até dos ingleses que nos vieram ajudar por causa do Napoleão, e não quiseram ir embora facilmente).

    Já agora, talvez fosse boa ideia incluirmos as invasões das nossas antigas colónias – que tínhamos tomado a outros – pelos espanhóis, pelos ingleses, pelos holandeses, pelos alemães, etc.. Talvez não fosse má ideia pedir-lhes indemnizações agora. Ou, pelo menos, reverter péssimos acordos de paz, como aquele em Haia, no ano de 1661, onde se concordou em compensar com 63 toneladas de ouro a República das Sete Províncias Unidas dos Países Baixos pelas mais-valias por eles criadas no Nordeste brasileiro, apesar de os termos derrotado no campo da batalha. Ainda lhe entregámos o Ceilão (Sri Lanka).

    Bem mais fácil, na verdade, será obrigar os pais a pagarem pelas invasões dos filhos. Por exemplo, o Doutor Nuno, vindo do Brasil, invadiu Portugal, dirigiu-se ao Serviço Nacional de Saúde e, com isto, desapareceram perto de quatro milhões de euros. O Doutor Marcelo Rebelo de Sousa deveria indemnizar o país por isto, não acham?


    SEMANA 14/2024

    (Ainda) Rosália Amorim & outras histórias (com acentos graves)

    Se a Comissão da Carteira Profissional de Jornalista (CCPJ) demorou quase dois meses a retirar a referência da Rosália Amorim na sua base de dados, depois desta ‘sair do armário’ e se assumir como uma marketeer, também eu posso, atendendo à minha felídea idade, preguiçar e nada escrever. E assim por isso, assim ficou o nome da Rosália Amorim, para escarmento, aqui pespegado nesta rubrica por três semanas.

    Enfim, agora vai ficar mais uns dias, porque não achei suficientemente apelativo para justificar um título em destaque a façanha dos ‘jornalistas do oráculo’ da RTP, que titularam, no rescaldo do Sporting-Benfica das meias-finais da Taça de Portugal, sobre os titulares das equipas mas com acento no I; mesmo tendo sido agudo. E nem foi uma vez – que sempre daria para conceder o benefício da dúvida de se tratar de um ‘corvacho’ – mas logo duas, e se calhar até foram três para ser como a conta que Deus fez.

    Enfim, também poderia brincar – não gozar, porque este é um senhor muito distinto e respeitável – com o Professor Jorge Miranda que no Público, à força de querer defender o estapafúrdio Acordo Ortográfico que mete o Pacto de Varsóvia ao nível do Pato à Pequim, acaba a escrever heróico com acento à moda antiga. Mas já nem vale a pena porque o nosso colunista Manuel Monteiro, também ali na concorrência, já lhe disse das muito boas, além de aproveitar para contar deliciosas histórias em redor das palavras como a do menino italiano que ‘inventou’ o petaloso.

    De resto, podia sempre gozar com a Filomena Martins, a meteorojornalista – não é só James Joyce que funde palavras, ó Manel – de serviço do Observador que, desde a minha última arranhadela, já escreveu sobre “chuva de lama“, sobre a depressão Nélson que diz ser “a primeira do rosário de tempestades até à Páscoa” passada, sobre mais poeiras e calor, e sobre a “tempestade Olívia” que vai trazer mais uma “enorme massa de poeira que pode chegar à Suécia“. Ou não. E isto já sem incluir os dois sismos, porque se é para mostrar que o Mundo literalmente está em convulsões, não há melhor mesmo do que a Filomena Martins.


    SEMANA 11/2024

    Rosália Amorim, uma potencial grevista na Ernst & Young?

    Desde que a minha taça com Royal Canin esteja bem apetrechada, sou solidário com todos, incluindo jornalistas em greve, mesmo nos jornais que pensam que uma greve deve servir “para mostrar à sociedade a importância de uma comunicação social livre, actuante e sustentável” (direcção do Público dixit), como se a sociedade não o soubesse, e não para protestar contra a existência de empresários ‘pato bravo’ como aqueles que orquestram despedimentos canalhas, do qual o último exemplo (mas não derradeiro) sucedeu ainda ontem à direcção editorial e a vários jornalistas do DN, mas este episódio lamentável foi já visto, desta vez, com ‘mais classe’ (e sem alarido), porque uma coisa é um despedimento feito pelo ‘chefe do galinheiro’, outra é se a coisa se congemina por um papalvo fundo das Bahamas.

    Mas, verdadeiramente, mais do que saber qual o grau de adesão à greve dos jornalistas ou os efeitos da dita (que vai ser nenhum, excepção ao alívio das consciências, um alívio semelhante a uma mijadela na caixa de areia), a minha felina curiosidade centra-se apenas no comportamento de uma pessoa: será que a actual directora de marketing e marcas da Ernst & Young (EY), Rosália Amorim – que foi orgulhosamente enterrando o DN, quando directora, com as suas parcerias comerciais e fretes que tais -, também vai hoje fazer greve?

    É certo que ela não consta da lista dos ‘238 magníficos jornalistas’ que decidiram mostrar à História, através de uma carta aberta fechada aos outros cinco mil camaradas, que a profissão está ‘sem papel’, mas a nossa magnífica Rosália Amorim mantém incólumes, por falta de vergonha, todos os seus direitos, isto é, a sua bela carteira profissional de jornalista número 1788, porque ainda está activa na CCPJ. Activíssima ainda hoje (pelo menos até às 12h19), 28 esplêndidos dias após ter assumido que anda agora a vender marcas na EY, contratada que foi pela sua excelsa experiência em funções similares no DN e TSF.


    SEMANA 10/2024

    Meteorologia & eu, o gato de Pavlov

    Um felídeo não costuma ser tão estúpido como um canídeo, mas confesso que perante um qualquer anúncio de banal ‘anomalia meteorológica’, que pode ser só sol ou chuva, funciona em mim como a sineta nos cães do russo Ivan Pavlov.

    Quer dizer, não me ponho a salivar, mas vou a correr ao site do Observador, em busca dos textos da Filomena Martins. Nunca falha!

    Por isso, quando hoje li um texto no Público de uns três mil caracteres da Marta Leite Ferreira – que vem da escola do Observador – a anunciar que o “tempo vai piorar nas próximas horas“, vi-me impelido, por forças que jamais controlarei, a ir em busca das previsões da directora-adjunta do Observador. Nunca desilude! Encontrei aquilo que nunca se esconde: nesta segunda-feira houvera escrito meteorológico.

    Êxtase absoluto. Tudo ali é irresistível. Empolgante. Anteontem, Filomena Martins até evocou (ou invocou, já nem sei) tempos e terras de vikings, fazendo-nos, logo no lead, vislumbrar um “bloqueio na Escandinávia [que] abre um corredor para as tempestades chegarem à Península Ibérica”.

    Calma! – ou melhor, não vai haver calma atmosférica alguma. Isto é só a pele. A ‘carnicha’ encontra-se no meio do artigo, aí se revelando que ficará aberto “um enorme e largo corredor para entrarem várias frentes chuvosas e frias pela Península Ibérica adentro: a maior, que se deve transformar numa tempestade de forte impacto, [e que] chega esta quinta, [e] mantém-se sexta, e arrasta mais uma massa de ar polar frio, cujos efeitos se prolongam até ao fim de semana eleitoral”.

    a long boat with two people in it on a lake

    Vai ser uma semana de montanha russa meteorológica. Perdão: repito, para meter aspas, porque a frase anterior é da autoria de Filomena Martins e não quero ser acusado de plágio: “Vai ser uma semana de montanha russa meteorológica.” Até porque parece que o tal corredor vai ficar aberto – “quer na horizontal (para as frentes vindas do lado da Gronelândia, com massas de ar polar), quer até quase na vertical (para as frentes que se formam já junto às ilhas britânicas)” –, assim “permitindo [a negrito no original] comboios de tempestades que entram de forma contínua na Península, umas vezes muito juntas, outras a espaços“.

    Eu acho que isto é mais um carrossel do que uma montanha russa, mas, enfim, deixemos a Filomena Martins meter mais água.


    SEMANA 09/2024

    O farnel dos lagartos deve ter pouco tabaco

    Foi jogo emocionante, o de ontem, no Estádio de Alvalade, onde se defrontou o Sporting e o Benfica, mas mais interessante, por certo, teria sido assistir à cobertura realizada pelos repórteres do jornal Record, que agora têm o Cristiano Ronaldo como o ‘patrão’ principal, com 30% da Medialivre.

    Oficialmente, houve três golos: ao minuto 9 marcou o sportinguista Pedro Gonçalves, depois ao minuto 54 o sportinguista Viktor Gyökeres e, por fim, ao minuto 68 o benfiquista Fredrik Aursnes. De permeio, houve ainda um golo anulado ao benfiquista Di Maria ao minuto 71 (que daria o 2-2) e outro ao sportinguista Nuno Santos ao terceiro minuto de compensação (que daria o 3-1).

    Porém, talvez embalados pelo farnel que, por certo, o Sporting também ofertará aos jornalistas – tal como sucede na Varanda da Luz –, mas com ingredientes especiais, os jornalistas do Record foram ‘relatando’ um ‘desenrolar do marcador’ muito peculiar.

    Ao minuto 55, estava afinal 4-0 para o Sporting.

    Ao minuto 68, o Record fez com que o o golo do Aursnes valesse por dois, colocando um empate na ‘coisa’, porque, para além do golo do norueguês ter valido por dois, acabou também por ‘sacar’ dois golos aos quatro do Sporting. Portanto, 2-2.

    Mas não satisfeito com um empate, os jornalistas concederam no minuto 74, um terceiro golo ao Benfica, colocando o marcador em 2-3 favorável ao Benfica.

    Pena esta vantagem benfiquista ter sido ‘noite de pouca dura’, porque, ao fim de quatro minutitos, houve alguém, talvez o VAR, que retirou dois golos ao Benfica, estabelecendo o resultado final, coincidente com o real.

    Em todo o caso, atenção: não vai haver, afinal, segundo o Record, é mentira que haja um segundo jogo marcado na Luz no início de Abril. Na verdade, ainda sob a influência do ‘farnel dos lagartos’, os jornalistas do Record indicaram que, depois do 2-1 do Sporting, o resultado agregado (das duas mãos) ficou já estabelecido: 5-0 a favor do Benfica.


    A dorsal anticiclónica do Observador

    Somos, por aqui, adeptos incondicionais da jornalista Filomena Martins que, sendo director-adjunta do Observador, desunha-se em fazer jus ao título: observa meticulosamente o tempo, neste caso não numa perspectiva filosófica, mas somente meteorológica, presenteando-nos sempre um Armagedão à primeira lufada ou ao segundo chovisco.

    Em todo o caso, confessamos a nossa desilusão sobre o texto de hoje em que ela anuncia, para a próxima sexta-feira, a denominada Primavera meteorológica, pois nada nos mostra a jornalista-meteorologista mais famosa do país e os seus terríveis rios atmosféricos, nem as tenebrosas ciclogéneses explosivas nem os temíveis ciclones bomba nem os tétricos comboios de tempestades. Só frio, chuva, três massas de ar polar e uma dorsal anticiclónica. Muito pouco. Assim, nunca mais chega o Fim do Mundo!


    SEMANA 08/2024

    Testículos & pénis

    O Correio da Manhã (CM) perde, com este nosso texto, o monopólio de meter genitálias em títulos, mas não poderíamos perder a oportunidade de felicitar a sorte danada dos editores deste jornal de referência (e o mais lido do país) por o método de coacção de um auxiliar de acção médica do Hospital Garcia de Orta consistir em meter a mão numa componente da genitália masculina da vítima de dimensão mais curta – mais curta no sentido do número de letras.

    De facto, por agora, sabíamos, através do nosso CM, que ataques às genitálias masculinas se faziam, por regra, segurando o saco escrotal e apertando as gónadas. Além da dor, já deu títulos bombásticos em cenários nada agradáveis só de imaginar.

    Por exemplo, em 29 de Junho de 2017, “Morre depois da nora lhe esmagar os testículos com as mãos”.

    Também em 28 de Abril de 2016, “Evita morte ao apertar testículos de agressor”.

    Ou, mais recentemente, em 26 de Abril de 2023, “Mulher arranca testículos de vizinho que atacou filha em Angola

    Na verdade, testículos em títulos é um must, garantia de voyeurismo baboso. Como não ler a notícia “Doente internado no Hospital Amadora-Sintra arranca o próprio testículo”? Ou esta: “Homem atira-se à mulher errada e cortam-lhe os testículos com faca enferrujada”? Ou mais esta ainda: “Arranca testículo do ‘ex’ com os dentes por ter negado sexo a três”?

    Mas não há bela sem senão. Jornalisticamente falando, os testículos têm um problema: são grandes demais, ocupam um grande volume num título. São 10 letrinhas monstruosas, não dá jeito nenhum em determinadas situações.

    Por exemplo, imaginem se o tal auxiliar do Hospital Garcia de Orta tivesse apertado os testículos a um idoso para lhe “sacar o código do cartão multibanco”, e comprar depois “bens de elevado valor, como relógios, TV, perfumes, e outros como azeite”. Não cabia. Por sorte, apertou-lhe o pénis, que tem apenas cinco letrinhas, fica pela metade. Cabe na perfeição no desenho da página. Concluindo, apertar um pénis em vez dos testículos é não apenas menos doloroso como muito mais cómodo para a difícil arte de titular um jornal. É um dois em um.


    Ribeiro de bocas, em enxurrada

    Dia 19 de Fevereiro

    Descobrimos ontem para que serve meter uma dezena de candidatos de pequenos partidos numa ‘linha’ a fazer de conta que a televisão pública é muito democrática e dá voz a todos.

    Aquilo serve para, como nas feiras, se mandar uns tirinhos nos bonecos. Sobretudo se se é jornalista. E sobretudo se se é um jornalista do quilate do Luís Ribeiro, que já foi apontado pela Entidade Reguladora para a Comunicação Social de ser um ‘jornalista comercial’ por fazer trabalhos de prestação de serviços a empresas externas (parceiros) numa revista (Visão) que integra uma empresa unipessoal de 10 mil euros que tem 10 milhões de euros de dívida ao Estado. Divertiu-se muito ontem, o Ribeiro, em enxurrada de bocas no X. Hoje, divirto-me.


    ‘todOs’ é menor que ‘todEs’

    Afinal, para o jornal Público, o ‘todes’ não é um símbolo de linguagem inclusiva, mas sim um termo para unir, colocando em pé de igualdade, os partidos com representação parlamentar com aqueles que, coitados, ainda não têm (e alguns nunca terão, pelo andar democrático da carruagem) assento parlamentar.

    Assim, está a jornalista Sofia Neves, hoje no Público, a ser rigorosíssima quando nos garante que “todOs os partidos defendem não existir uma só solução para a crise da habitação”, e depois acaba a listar somente as propostas da Aliança Democrática (PSD, CDS e PPM), Bloco de Esquerda, Chega, Iniciativa Liberal, Livre, PAN, Partido Comunista Português (sem PEV, apesar de coligados) e Partido Socialista.

    Já se tivesse escrito que “todEs os partidos defendem não existir uma só solução para a crise da habitação”, então aí teria mais trabalho, porque se fossem mesmo ‘todEs’ (e não apenas ‘todos’) teria ela que listar as propostas não apenas do grupo do ‘todOs’ mas também as propostas do PCTP/MRPP, do Alternativa Democrática Nacional (ADN), do Volt Portugal, do Juntos pelo Povo (JPP), do Partido Ecologista Os Verdes (esquecido na CDU), do Ergue-te, do Nós, Cidadãos, do Reagir Incluir Reciclar (RIR), da Nova Direita, do Alternativa 21 (Partido da Terra e Aliança) e do Partido Trabalhista Português (PTP).

    Donde se conclui que se mostra muito conveniente, a partir de agora, usar o ‘todOs’ mesmo quando não se trata da ‘totalidade’ (e vejam que termina com E) sem se ser acusado de falta de rigor, porque ‘todOs’ é, assim nos mostra o Público, inferior a ‘todES’. Pode sempre dizer-se que há uma discriminação, mas isso, em campanha para eleições democráticas, e quando são os órgãos de comunicação social a fazer, não conta.


    SEMANA 07/2024

    Dia 17 de Fevereiro

    Abrunhosa, o Senhor da Palavra, e o triste fim de um plagiador

    Esqueçam D. Dinis, o Rei Poeta.

    Reneguem Fernão de Oliveira, João de Barros, Pêro Magalhães de Gândavo e Duarte Nunes de Leão, Príncipes da Gramática.

    Olvidem Luís Vaz de Camões, o Vate de ‘Os Lusiédas’ (versão Porto Canal).

    Omitam Rafael Bluteau, na pena, e Padre António Vieira, na oratória, Imperadores da Língua.

    Menoscambem Camilo, Eça, Saramago e toda a catrefa de Escribas da Lusitânia.

    Posterguem Pedro José da Fonseca, Antonio de Moraes e Antonio Houaiss, Imperadores dos nossos dicionários.

    Não! Nanja. Nenhum destes merece o panteão nem sequer sob a forma de cenotáfio. Todas e quaisquer palavras e fonemas a um só Ente as devemos. Por exemplo:

    “Vamos” – foi ele que inventou.

    “Fazer” – também.

    “O” – com e sem som de U, idem.

    “Que” – de igual modo.

    “Ainda” – claro.

    ”Não” – sim, foi ele.

    ”Foi” – obviamente, foi ele.

    ”Feito” – por ele, e com grande precisão.

    Claro está que este Singular Ser só se deu em ajuntar estas palavras (quer dizer, as que coloquei entre aspas), nesta concreta e sábia sequência, no ano da graça de 2010 (que, no futuro, será conhecido, por bula Inter gravíssimas, como 50 Anno Abrunhosi), através da letra de uma música cantada à cana rachada, pelo que faz todo o sentido o Bloco de Esquerda ser agora condenado por blasfémia não apenas por usar algumas (que digo!, todas) mas sobretudo por deturpar as Palavras do Senhor.

    O filósofo e pedagogo brasileiro Paulo Freire atreveu-se a usar em 1982 as palavras do título de uma música de Pedro Abrunhosa de 2010. Sabem o que lhe sucedeu?

    ”Fazer o que nunca foi feito”? Ó Mariana Mortágua! Que foste tu e o teu partido fazer. Atiçaste as Fúrias! Ainda por cima uma blasfémia em que, com a mudança no tempo verbal, especificamente do pretérito perfeito composto do indicativo para o pretérito perfeito simples do indicativo, alteras o foco temporal da frase, indicas que o Senhor (Pedro Abrunhosa) foi impreciso na temporalidade do acto jamais feito.

    Tu já viste no que te meteste? Sabes as consequências?

    Olha, Mariana Mortágua, o filósofo e pedagogo brasileiro Paulo Freire atreveu-se em 1982, num texto sobre política educativa, a usar as exactas palavras que o Pedro Abrunhosa deu ao título da sua música em 2010 (“Fazer o que ainda não foi feito”), e sabes o que lhe aconteceu? Está morto! E desde 1997, uns 13 anos antes da música do Pedro Abrunhosa. Assim, incréus, se alcança o poder do Senhor.

    E consta que outros intentaram, nos anos 80 do século passado, escrever também “fazer o que ainda não foi feito” no número 10 da revista Educação em Debate, sem autorização do Senhor Pedro Abrunhosa, e hoje, 17 de Fevereiro de 2024, se mortos não estão, de muito boa saúde não estarão.


    Dia 13 de Fevereiro de 2024

    Ruir ou não roer, that is the question

    Tem mais de quatro séculos o famoso solilóquio de Hamlet, reflectindo sobre a natureza da existência e os dilemas perante o sofrimento da vida e o seu fim no vazio da morte. “To be, or not to be, that is the question“.

    De facto, os ingleses (ou anglófonos) devem ser mais dados do que nós, latinos, às perplexidades, porquanto nunca sabem bem quando são ou quando estão. Mas não pensem que os portugueses não têm também suas dubiedades, nem que seja no acto da escrita.

    Por exemplo, no Correio da Manhã, ou pelo menos o jornalista Rui Pando Gomes, quando se decidiu escrever sobre a final do Super Bowl, teve um dilema: “ruir, ou não roer, that is the question“. De facto, o que poderia acontecer às unhas da Taylor Swift enquanto via o seu namorado, Travis Kelce, tight end do Kansas City Chiefs, bater os San Francisco 49ers? Serem roídas ou ruírem-se?

    Obviamente, o resultado literal de roer unhas – julgo que tal acto implica necessariamente o uso de dentes, pelo que será redundante acrescentar “com os dentes” – é ficar-se com as “unhas roídas”, mas não menos verdade sucede, por extensão de sentido, que roídas em demasia, as unhas podem ficar em perigo de ruir, o que, com algum esforço e vontade, pode dar origem a “unhas ruídas”.

    Portanto, perante o dilema “unhas ruídas, ou unhas roídas, that’s the question“, o jornalista e os editores do Correio da Manhã acharam por bem decidir a favor das “unhas ruídas”. Opção legítima, claro.


    SEMANA 06/2024

    Dia 10 de Fevereiro de 2024

    Isso não se faz! Então não é que hoje, bem no topo da primeira página, logo abaixo do seu nome, e no lado esquerdo de uma menina de lingerie vermelha, o Correio da Manhã (CM) titula: “Comboio Alfa da CP usado em filme pornográfico“, levando, imagino, uma percentagem superior a 0% dos leitores (reparem no nosso extremo rigor, jamais nos podem chamar de exagerados) a correr à página 29, nem sequer reparando, à primeira vista, que a cabeça do Ricardo Salgado (que dizem não estar já ‘bom’ da cabeça) quase tapa o ‘porn’ do pornográfico.

    E depois, olhem: ‘ejaculação precoce’. Afinal, não foi nada daquilo que, naquelas fracções de segundo pela busca sôfrega da página 29, pensariam as pecaminosas e babosas mentes perversas. Na verdade, aquilo que sucedeu foi que “um filme pornográfico com cerca de uma hora tem partes da sua ação filmada dentro da carruagem de comboios da CP”, mas, desgraça, “as cenas mais ‘hardcore’ não se passam dentro da carruagem”. Só temos “a protagonista da película filmada a percorrer [a] composição de um Alfa Pendular”.

    Ora bolas! Pólvora seca. Nadinha mais! Apenas uma senhora vestida de vermelho a passear-se na carruagem, e ao contrário da outra menina que surge na capa do CM (já agora, é a Lusinha Oliveira) nem sequer mostra qualquer lingerie vermelha. Ou de outra cor. Está sempre completamente vestida.

    Em todo o caso, o autor desta ‘linda peça’ de non sense noticioso, o jornalista Miguel Alexandre Ganhão – editor do CM e membro da Comissão da Carteira Profissional do Jornalista – ainda escreve que “não deixa de ser curioso que a empresa pública apareça associada a este tipo de obra cinematográfica”.

    Aqui, já estamos a imaginar a ilimitada possibilidade de títulos ‘bombásticos’ que este estilo de jornalismo proporciona, se surgirem imagens (não autorizadas, presume-se) de protagonistas de “obra cinematográfica” do estilo hardcore a passearem por locais ou zonas públicas ou privadas antes de, em local mais recatado, mostrarem ‘acção mais concreta’. Eis alguns exemplos:

    Torre Eiffel usada em filme pornográfico

    Mercado da Ribeira usado em filme pornográfico

    Marquês de Pombal usado em filme pornográfico

    Correio da Manhã usado em filme pornográfico

    Bom, se calhar estamos a exagerar. No Correio da Manhã seria impossível. No Correio da Manhã, jamais: é um ‘santificado’ jornal, onde nunca nos passaria pela cabeça associar a ‘badalhoquices’, mesmo se de forma involuntária, não é? Claro que não, caramba! Mesmo que haja por aí imagens que metem classificados com a marca CM, onde surge a divulgar os seus atributos uma “mulata meiga”, uma “bomboca sensual”, uma “loura fogosa” ou uma “gostosa quentinha”. Tudo isto só pode ser uma montagem! E o site no canto superior direito destes classificados (que se calhar o Polígrafo até concluirá ser falso) nem sequer, às tantas, funciona! Tudo fake.


    Dia 6 de Fevereiro de 2024

    Ontem, foi um dia feliz para a imprensa portuguesa com o justo e desejado anúncio da promoção de Rosália Amorim para directora de marketing e comunicação da Ernst & Young (EY), uma consultora que muito trabalhinho tem feito para entidades públicas: contamos no Portal Base 356 contratos de 19,7 milhões de euros.

    Somos apreciadores das qualidades, inatas, de Rosália Amorim na promoção de marcas. Viu-se isso enquanto esteve como directora do Dinheiro Vivo, do Diário de Notícias e na TSF, e também na sua breve passagem na administração da Global Media.

    Na verdade, promover marcas foi o que ela melhor fez nestes cargos de direcção editorial, sobretudo através da sua presença na concretização de parcerias comerciais, mas também na subtileza de algumas notícias ou entrevistas, de tal sorte que nem sempre se conseguia perceber quais eram as que tinham sido pagas ou não. Só não conseguiu promover bem uma marca – ou melhor, conseguiu promovê-la, mas mal: os órgãos de comunicação social da Global Media, e por acrescento o Jornalismo. Aliás, não sou eu, Serafim, que o diz: ainda em Setembro passado, o Conselho de Redacção da TSF se opôs à sua nomeação para a direcção editorial desta rádio, dizendo, preto no branco (como as cores do meu pêlo), que “levanta[va] legítimas dúvidas quanto à sua real capacidade de manutenção de uma política editorial independente”. E ela, mesmo assim, aceitou.

    Por isso, embora haja sempre o ‘risco’ de um qualquer canal televisivo a contratar como ‘comentarista isentíssima’, a sua ida para a EY como directora de marketing e comunicação de uma consultora, além de um justo prémio para uma verdadeira marketeer que vivia no sufoco de ter de parecer jornalista, acaba por ser uma ‘clarificação’ de funções, e sobretudo ‘areja’ o ambiente.

    Ah, e já agora, até para que a notícia do Jornal Económico fique correcta (identifica Rosália Amorim como “ex-jornalista), convém que ela suspenda mesmo a carteira na Comissão da Carteira Profissional de Jornalista: às 16h18 de hoje ainda estava activa. Não se esqueça, que já vai tarde.


    Dia 5 de Fevereiro de 2024

    De repente, todos estão preocupados com o estado da imprensa, sobre a crise da imprensa, os males da imprensa, e mais não sei o quê da imprensa. E assim sendo, por que não haveria o Centro de Arbitragem Administrativa de encaixar numa sua conferência – dedicada à política da Justiça e ao mediatismo dos casos judiciais – um tempinho para contribuir para uma reposta à magna questão: “Para onde vai o jornalismo?

    Ora, poupem o vosso tempo. Não é preciso ir assistir, porque o programa dá já a resposta, quer no formato, quer nos intervenientes: em meia hora, “Para onde vai o jornalismo” é, basicamente, uma entrevista (como é apresentado) feita por André Macedo a Nuno Santos.

    Sucede que André Macedo – que andou a cirandar, não se sabe por que méritos, pelas direcções do Diário de Notícias e da própria RTP, entre outros lugares de topo em redacções – já nem sequer é jornalista, sendo consultor de empresas de comunicação (sobretudo de apetecíveis farmacêuticas que se fartam de fazer parcerias comerciais), apesar de quando em vez surgir a comentar assuntos na imprensa (de certeza absoluta de forma isentíssima). Eis o futuro do jornalismo: alguém que fez pela vida aproveitando-se do jornalismo, acaba numa empresa de consultadoria de imprensa a entrevistar um jornalista, neste caso Nuno Santos, director da CNN Portugal.

    André Macedo, no canto inferior direito de um painel de comentadores da CNN Portugal, onde Nuno Santos é director editorial.

    Quer dizer: Nuno Santos é, na verdade, um jornalista, mas desde 2011 só ‘de vez em quando’. Na última década, tem sido mais executivo e produtor de conteúdos do que propriamente jornalista – e isso também mostra “para onde vai o jornalismo”.

    Esteve na África do Sul entre 2013 e 2016 como director de conteúdos de um conglomerado de media – onde “a sua paixão e os seus conhecimentos sobre o mundo das telenovelas e do futebol” foram muito elogiados –  e depois seguiu para Espanha para fazer as mesmas tarefas por mais uns anos. Está agora, depois de ter ido montar o Canal 11 da Federação Portuguesa de Futebol e de ser director-geral da TVI (um cargo não-jornalístico), como director editorial da CNN Portugal. Tanto é assim que só muito recentemente Nuno Santos recuperou a sua carteira profissional de jornalista, tendo agora uma numeração (7185) próxima dos ex-estagiários.

    Portanto, sem dúvida, muito oportuno e esclarecedor este evento do Centro de Arbitragem Administrativa: André Macedo e Nuno Santos foram bem escolhidos, embora provavelmente fosse mais adequado que a ‘rubrica’ se intitulasse: “Olhem para onde levámos o jornalismo”.


    SEMANA 05/2024

    Dia 3 de Fevereiro de 2024

    Dizem-me que em antanho, quer dizer em tempos passados, havia a chuva, o sol, o Anthímio de Azevedo, as nuvens, mais as altas e baixas pressões, mais o Costa Alves, mais o anticiclone dos Açores, mais as tempestades e furacões, mais o Costa Malheiro, mais os aguaceiros e as geadas, mais a Sofia Cerveira para algegrar as vistas nos anos 90, e antes a Teresa Abrantes, mais ondulações e mar alterado, mais o José Figueiras, e mais relâmpagos e trovoadas, e mais um sem número de simples fenómenos meteorológicos, que, no passado, nos orientavam, com muita probabilidade de erro, sobre se se deveria levar ou não chapéu de chuva, ou mais ou menos agasalho, também consoante os doutos conselhos das mãezinhas.

    Mas agora, que há todos os satélite e computadores, potentíssimos, já não temos apenas chuva ou sol, vento ou acalmia. Agora temos também a Filomena Martins, directora-adjunta do Observador que é, sem dúvida, a grande jornalista especializada em assuntos meteorológicos, na variante “rio atmosférico”.

    silhouette of trees and purple lightning

    De facto, não sei como ainda sobrevivemos a este ‘novi-clima’ com tanto “rio atmosférico” anunciado pela ‘meteojornalista’ Filomena Martins. Ou, na verdade, não sei como sobreviver à própria Filomena Martins.

    No seu currículo noticioso mais recente, encontro seis notícias a titular o famigerado “rio atmosférico”, sempre num estilo mui peculiar: “Portugal vai ser regado por um rio atmosférico. Vem aí muita chuva já esta terça-feira e deve ficar até meio da próxima semana” (17/10/2022); “Oscar: vem aí uma tempestade rara para esta altura do ano. E pode trazer um ‘rio atmosférico’ na quarta-feira” (4/6/2023); “Uma frente Atlântica, duas tempestades e a hipótese de um rio atmosférico. A chuva volta esta sexta-feira, 13” (11/10/2023); “Rio atmosférico atravessa centro do país. Avisos da proteção civil para chuva e vento: sete distritos sob aviso laranja” (25/10/2023); “Quinta-feira chega um rio atmosférico. E a partir de sexta-feira, dezembro entra gelado” (29/10/2023); “Vem aí mais um rio atmosférico esta quinta (há três distritos sob aviso laranja e cinco a amarelo). Mas o frio vai embora” (5/12/2023); “Um rio atmosférico no final da semana. E um Carnaval molhado e já com frio” (2/2/2024).

    E não são apenas os “rios atmosféricos” que a ‘nossa’ Filomena Martins nos concede para nos assustar.Há tudo, menos uns aguaceiros, ou um frio de rachar; já nem temos direito a um calor de ananases, nem tão-pouco a uma saraivada de partir janelas. Nos textos da Filomena Martins, temos sim, além dos rios atmosféricos, as ciclogéneses explosivas, os ciclones bomba e até os comboios de tempestades. Tudo pavoroso. Um Armagedom.

    painting of man walking down a road holding umbrella

    Mudemos, portanto, a protectora do mau tempo, a Santa Bárbara, certamente incapaz de nos precaver contras os malefícios de tamanhas mudanças meteorológicas. Elejamos, em segura alternativa, a Santa Filomena, e oremos a preceito:

    Ó Santa Filomena, que sois mais forte que as torres das fortalezas e a violência dos rios atmosféricos, fazei com que as ciclogéneses explosivas não me atinjam, os ciclones bomba não me assustem e o comboio de tempestades não me abalem a coragem e a bravura“.


    Dia 1 de Fevereiro de 2024

    Os números! Ai os números, esses malvados que interagem com uma coisa chamada Matemática que serve apenas para infernizar a vida de muitos jovens que, fugindo deles (números) e dela (Matemática), escolhem Letras, e em seguida, em estudos superiores (upa! upa!), acabam por se sentar em Comunicação Social, e daí a nada estão a escrever em jornais onde o 8 e o 80, para eles, são iguais. E quem diz 8 e 80, também pode dizer um e mil.

    Ora, é exactamente um erro de 1.000 que, em catadupa, a nossa imprensa cometeu quando ontem quis falar das exportações de canábis medicinal. Ainda no passado mês de Outubro, o Jornal de Notícias tinha falado sobre o tema, com dados do Infarmed, onde se destacou “os 9271 quilos exportados no ano passado [2022]”, acrescentando-se ainda que os números mostravam não haver “sinais de abrandamento”.

    Ora, a nossa Agência Lusa decidiu actualizar a notícia, com dados finais de 2023, e vai daí, pimba: escolheu alguém que mete pouco tabaco na ‘coisa’, e saiu-lhe porcaria, transformando Portugal numa espécie de Afeganistão de outros tempos. Com efeito, o jornalista da Lusa, certamente por uma névoa nos seus neurónios, não achou estranho que, de repente, se andasse a produzir em Portugal 26.000 toneladas de canábis medicinal. Atenção: notem: 26.000 toneladas. Aqui por casa não se fuma, mas 26.000 toneladas são 26.000.000 quilogramas (26 milhões de quilos) ou 26.000.000.000 gramas (26 mil milhões de gramas). Isto dava para muitas trips, presumo.

    Presumo, não: vamos a contas, mas sem a ajuda do jornalista da Lusa. Como um douto acórdão ensina, um ‘cigarrinho’ feito a preceito leva 0,5 gramas; assim, a produção cá do burgo daria para 52 mil milhões de ganzas, mais de seis ganzas por cada alminha desta Terra. E ainda dá para meia, compartilhada com um parceiro, para se ser preciso. E isto, hélas, incluindo crianças e velhos.

    Nenhuma alminha – leia-se, editor da Lusa – reparou neste disparate, e pior: ao belo estilo do churnalism vai daí e acaba tudo publicado, sem ninguém mais reparar, em tudo o que é jornal da praça (Diário de Notícias, Observador, Expresso, Eco, etc.) como se fosse verdade que Portugal exportou 26.000 toneladas, quando, na verdade, foram apenas 26 toneladas (ou seja, 26.000 quilogramas). Mais tabaco, por favor!


    Dia 31 de Janeiro de 2024

    Se achavam que a Nelma Serpa Pinto, a ‘cara bonita’ da SIC Notícias, atingira o zénite na famosa entrevista em que encalacrou Pedro Nuno Santos, desenganem-se. Muitos e elevados voos se lhe auguram. Ou agoiram, acho eu.

    Um deles foi ontem, como moderadora de um ‘estranho’ debate, em prime time da SIC Notícias, sobre longevidade, que é tema agora mui querido da estação e do jornal (Expresso) da família Balsemão. Nelma brilhou como sempre, colocando em discussão a situação dos pobres velhos sem médico de família, daqueles que caíram que nem tordos no início deste Inverno, os lares inumanos e tantos outros temas candentes da Terceira Idade… Nah! Nanja. Foi um debate fofinho. Tinha de ser um debate fofinho. Até porque àquela hora ainda havia crianças levantadas.

    Avise-se. Aquele debate em tom fofinho de prime time na SIC Notícias (com uma jornalista em espaço informativo), ou ainda as dezenas de artigos sobre longevidade no Expresso nos últimos tempos, nada tem a ver com a existência de uns desinteressados ‘parceiros de projecto’ que dão pelo nome de Novartis (farmacêutica) e Fidelidade (seguradora).

    Certamente, que sem este ‘apoiozito’ (misturado com uns cobres) teríamos visto à mesma a Nelma a moderar aquele debate fofinho com aquelas sumidades, onde se destacavam a ex-ministra da Saúde e candidata a deputada pelo PS, mais um coordenador de um projecto governamental, mais uma demógrafa com ligações à DGS.

    Acho que daqui a umas semanitas, a Nelma sobe ainda mais alto, e irá moderar mais um debate na SIC Notícias, sempre em prime time, e em espaço informativo, com a bênção do ‘mano’ Costa (distinto jornalista), desta vez sobre a pesca do bacalhau… com o apoio da Riberalves, da Oliveira da Serra, do Zêzerovo, da Cooperativa Agrícola de Alhos Vedros e da Casa Ermelinda Freitas…


    Dia 30 de Janeiro de 2024

    Dizem-me que o presidente do Sindicato dos Jornalistas escreve n’A Bola, mas não consegui apurar se se dedica mais a desportos de pés ou de mãos. Pouco interessa. O mais relevante é dizer que está em crise. Neste caso, “o mais relevante é dizer que está em crise” tem três leituras possíveis: pode-se aplicar ao presidente do Sindicato dos Jornalistas, ao próprio Sindicato (por metonímia) e ao jornal A Bola. E todas são verdadeiras.

    Já quanto ao sentido de um comunicado de imprensa do Sindicato dos Jornalistas sobre a violência contra estes profissionais, hoje divulgado, onde se fala de um deles que foi “agarrado pelas pernas e pelos braços”, para se ser claro, será obrigatório dizer que tamanha falta de clareza (se involuntária) se deveu ao facto de ter sido escrito com os pés. Senão, atendamos à seguinte frase desta ‘peça’:

    A agressão a um jornalista do ‘Expresso’, que foi retirado à força, agarrado pelas pernas e pelos braços, de uma conferência na Universidade Católica, em Lisboa, com a participação de André Ventura, e a agressão a uma equipa de reportagem do Porto Canal, à porta de uma fábrica em São João da Madeira, são os dois exemplos mais recentes das ameaças físicas à segurança dos profissionais da Comunicação Social, comunicadas no âmbito do programa sobre a segurança dos jornalistas da OSCE.

    De facto, há aqui duas hipóteses sobre a participação de André Ventura, a saber:

    1) “A agressão a um jornalista do ‘Expresso’, que foi retirado à força, agarrado pelas pernas e pelos braços, de uma conferência na Universidade Católica, em Lisboa, com a participação de André Ventura […]”

    2) ou simplesmente “[n]uma conferência na Universidade Católica, em Lisboa, com a participação de André Ventura […]”, onde, causado por outras pessoas, entre as quais um militante da Iniciativa Liberal, ocorreu “a agressão a um jornalista do ‘Expresso’, que foi retirado à força, agarrado pelas pernas e pelos braços […]”

    No primeiro caso, o André Ventura é um cúmplice.

    No segundo caso, o André Ventura é um azarado.

    E o jornalismo, assim escrito, é um desastre, independentemente de o visado ser o dono da malograda Acácia, ainda mais quando sai da pena do Sindicato dos Jornalistas, que deveria dar o exemplo de rigor, de clareza, de objectividade e de isenção. O jornalista que escreveu este comunicado merecia, metaforicamente falando, ser “agarrado pelas pernas e pelos braços” e arrastado para longe. Com doçura, claro.


    Dia 29 de Janeiro de 2024

    Uma simpatia, a Cristina Freitas. Empática também. Parece que esteve para ser obstetra e depois veterinária. Acabou jornalista, na SIC Porto, com a carteira profissional 5393, predicados suficientes para hoje estar a ser mestre-de-cerimónias do Encontro Fora da Caixa, um evento que serve para a Caixa Geral de Depósitos também ‘financiar’ de forma completamente descomprometida a nossa independente imprensa. Bem esteve, por isso, a nossa empática e simpática Cristina Freitas quando, ao chamar Paulo Moita de Macedo, o CEO da benemérita CGD, vislumbrou uma plateia indiferente e lhe deu, pois bem, um raspanete a preceito: “uma salva de palmas, por favor!” É assim mesmo. A Imprensa e o Jornalismo nasceram para isto: para bater palmas a quem merece!


    Serafim é o Mascot do PÁGINA UM, conveniente e legalmente identificado na Ficha Técnica e na parte da Direcção Editorial, possível pela douta interpretação da Entidade Reguladora para a Comunicação Social. Qualquer semelhança entre os assuntos relatados e a realidade é pura factualidade.


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  • Rondadas com flic-flac e dois giros e meio no ar

    Rondadas com flic-flac e dois giros e meio no ar

    Correio Mercantil foi um periódico brasileiro do século XIX (1848-1868), onde o grande Machado de Assis deu os seus primeiros passos. Pareceu assim oportuno ao PÁGINA UM, no contexto da actual mercantilização da imprensa portuguesa, ‘contratar’ o protagonista do romance Memórias Póstumas de Brás Cubas para umas epístolas quinzenais. Desta vez, o piparote de Brás Cubas vai para os jornalistas que fazem rondadas com flic-flac e dois giros e meio no ar, enquanto mercadejam notícias.


    Ao contemplar, do meu etéreo descanso, o cenário contemporâneo da vossa Pátria, sou agora levado, caro leitor, a comparar a intricada dança entre jornalistas no meio da arena política e financeira com as rondadas seguidas de um flic-flac e dois giros e meio no ar com que Rebeca Andrade perfumou as Olimpíadas de Paris. A minha patrícia arrecadou merecido ouro, depois de anos de esforço, enquanto os jornalistas portugueses não param de o arrecadar.

    Ah, mas os jornalistas portugueses são, convenhamos, mais discretos na sua arte; não andam aos pulos, nem recebem palmas nem a palma, embora se mostrem exímios acrobatas, gingando graciosamente como donzelas num baile! Enfim, estrelam em noite de gala, convivendo com os demais, seguindo os conselhos de Erasmo de Roterdão. Permitam-me, pois, vestir a máscara da ironia e empunhar a pena do sarcasmo, ao melhor estilo que um defunto autor possa compor, para vos narrar a promíscua relação que ora se desenrola, quase mesmo defronte dos vossos olhos.

    Imaginem, se quiserem, um jornalista dos vossos dias. Chamemo-lo D.A., embora ele seja mais adepto de receber. Como outros, D.A. é homem astuto – e se fosse mulher, seria astuta –, de olhar penetrante e sorriso fácil, bem-vestido e melhor falante, dotado de uma rara habilidade de transitar entre a notícia e a bajulação, com o negócio no nariz. Dir-se-ia que D.A. nasceu para a arte de bem-dizer, mesmo mal sabendo escrever. Na verdade, para entes do seu quilate, basta ser versado na arte de bem entreter, desde que os seus artigos fiquem carregados de um verniz de imparcialidade, enquanto dali escorre a mensagem que deseja para benefício dos políticos e dos homens de negócios de sua feição ou afeição.

    Eis, portanto, que depois de muita tarimba, D.A. recebe os convites para jantares. Não uns jantares quaisquer, mas com as altas esferas do poder. Lá estão, à mesa, políticos de renome, senhores de negócios e outros pássaros raros da fauna social. As taças tilintam, as risadas ecoam, e D.A., qual cortesão do Ancien Régime, desliza suavemente, entre uma e outra conversa, pescando informações e semeando as suas pretensas influências.

    “Ah, senhor doutor D.A,,” diz-lhe um ministro, “as suas palavras são sempre um bálsamo para nossos eleitores, digo, leitores. Precisamos de homens como o senhor, que saibam compreender as nuances do poder e as expliquem ao povo; essa é a verdadeira função do jornalismo independente como alicerce da democracia.” Convém que isto seja acompanhado com música de violino, mas não é necessário.

    E D.A., com ar sisudo mas sorriso nos olhos, sempre responderá: “Fazemos o que podemos, digo, o que devemos, senhor Ministro, pelo bem da Nação, claro está, e do povo, contra a desinformação velhaca, que deve ser atacada pelo Estado, através de mecanismos de promovam o justo equilíbrio e sustentabilidade deste nosso serviços público”. E blá blá blá…

    E depois ajunta-se-lhes um homem de negócios. E a ladainha: “Ah, senhor doutor D.A,,” diz-lhe, “as suas palavras são sempre um bálsamo para a clientela, digo, leitores. Precisamos de homens como o senhor, que saibam compreender as nuances da economia e das finanças, e as expliquem ao povo; essa é a verdadeira função do jornalismo independente como alicerce do negócio.” Convém que isto seja acompanhado com o Money, a música dos Pink Floyd do álbum The Dark Side of the Moon, mas não é necessário.

    E D.A., com ar sisudo mas sorriso nos olhos, sempre responderá: “Fazemos o que podemos, digo, o que devemos, senhor Administrador, pelo bem da Nação, claro está, e do povo, contra a desinformação velhaca, que deve ser atacada pelos investidores, através de mecanismos de promovam o justo equilíbrio e sustentabilidade deste nosso serviços público”. E blá blá blá…

    Entretanto, meus caros, a verdade é outra. O “a bem da Nação’, essa enteléquia abstracta, é na realidade uma moeda de troca, uma mercadoria negociável em jantares e encontros furtivos. O jornalista, outrora um paladino da verdade, é agora um mercador de favores, um intermediário entre o público e os poderosos. Ele vende, a preço de ouro, a sua influência, a sua capacidade de moldar a opinião pública.

    Os homens da política e dos negócios, por sua vez, compreendem a utilidade desse intermediário. Sabeis vós que um artigo bem colocado, uma reportagem subtilmente favorável, pode valer mais que mil campanhas publicitárias e mais que mil panfletos eleitorais? D.A., o nosso astuto jornalista, sabe disso melhor que ninguém, e por isso recebe. Ele aceita de bom grado os mimos e as benesses que lhe são oferecidos, convencendo-se, enquanto conduz o seu carro, remodela a cozinha da sua nova vivenda, e passa férias numa ilha grega, de que está, no fundo, a contribuindo para o progresso da sociedade. E a lutar contra a desinformação… E, já agora, contra as alterações climáticas. E a favor da Ciência, sempre; sobretudo daquela apoiada pelos políticos e pelas farmacêuticas…

    Mas também não sejamos injustos, ainda andam por aí uns românticos, mas esses são uns líricos, uns Dom Quixote lutando contra moinhos de vento, acreditando na sacralidade da verdade. O que é a verdade, já perguntava Pilatos, sem que Cristo lhe desse resposta… Ah!, mas são já raros, esses, quase extintos, em vias de desaparecimento. Paz à sua alma; serão os heróis trágicos deste vosso tempo, que feneceram perante o pragmatismo do novi-jornalismo, que em coordenação com os reguladores, trataram de condenar ao ostracismo ou à insignificância o velho e decadentes jornalismo de outrora.

    Até breve, e um piparote.

    Brás Cubas


    N.D. O título Correio Mercantil é uma marca nacional do PÁGINA UM em processo de aprovação de registo no Instituto Nacional de Propriedade Industrial. Quanto ao nome do autor (Brás Cubas), será o pseudónimo usado em exclusivo por Pedro Almeida Vieira nestas crónicas, constituindo apenas uma humilde homenagem a Machado de Assis e ao seu personagem. Tal não deve ser interpretado como sinal de menor rigor na análise crítica que aqui se apresenta, independentemente do carácter jocoso, irónico ou sarcástico.


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  • Carta de amor de Valentina ao Valentão

    Carta de amor de Valentina ao Valentão


    SEMANA 32/2024

    Carta de amor de Valentina ao Valentão

    Nem ao leitor mais desatento terá passada desapercebida uma certa dedicada e carinhosa prosa, que o tempo e a História tratará de fazer ombrear com as missivas de Mariana Alcoforado ao militar francês Noël Bouton, Marquês de Chamilly. Não foi em formato de carta secreta, é certo, embora a condição de ‘notícia’ num jornal que vende mil exemplares a coloque num grau de sigilo quase similar, além de em nada retirar o merecido e enternecedor mérito à paixão.

    Publicada no dia 20 de Julho no Diário de Notícias, não tivemos aqui uma pena de uma freira do Convento da Nossa Senhora da Conceição, na alentejana cidade de Beja, mas sim o teclado de uma jornalista de não menor fervor e afeição pelo seu amado: Valentina Marcelino, uma jornalista já considerada a maior especialista mundial em ‘Gouveia e Melo’, conseguiu transformar um simples relato sobre a alocução de um militar a convivas de uma jantarada de oníricos elogios em visceral fogo que incandesce a alma e sublima o espírito temperado com essências vibrantes que transcendem a mera existência. A bem-dizer, escreveu ela uma carta de amor.

    silhouette of person's hands forming heart

    Valentina mal escondeu, na sua notícia, os suspiros e os tremores que, por certo, espraiou no Clube Militar Naval ao ver o seu ‘Chamilly’ sem farda, mas podemos imaginá-los pela prosa enlevada e fascinada perante aquele militar de branca e rala barba, que me lembra sempre um senhor que promove um conhecido pescado que garante apenas uma espinha em cada 41.000 unidades, o que sempre me parece mais seguro do que as vacinas contra a covid-19.

    Enfim, certo é que na leitura, em menos de sete minutos, o leitor cruza-se com encantatórias palavras, sempre meigas, sempre elogiosas, sentindo-se sempre um aroma a maresia, um sabor a grandeza. No início vai logo à espinha, para logo seguir para o coração: “Descontraído, comunicativo e até com umas tiradas de humor, o almirante Gouveia e Melo escolheu o tema da liderança para falar a uma plateia de auditores de Defesa Nacional, militares e deputados, convidados de um jantar-palestra realizado no Clube Militar Naval, em Lisboa, na última quinta-feira.” Prossegue, e logo citando as palavras, sempre modestas, sempre humildes, de um Grande Líder, que menos do que Grande Almirante não poderia ser: “Um chefe militar tem de ter coragem. Ser honesto com o poder político e, quando necessário, vir a público dar a cara. É isso que faço. Se calhar, os chefes militares eram mais do tipo Português Suave, mas eu sou de um género nada suave”.

    Como não se deslumbrar com alguém que se anuncia como sendo o oposto do Português Suave. Até eu acho que o nosso Almirante está, efectivamente, longe do Português Suave; ele é mais Kentucky, o famoso ‘mata-ratos’… Ou será mata-velhos? Não sei. Acho que isso era mais os quadriciclos

    Não nos desviemos. A prosa flui, a partir daqui, dando eco ao lamento do putativo aspirante a ocupar o lugar de Marcelo, por “a Defesa ter estado praticamente fora dos debates da campanha para as Eleições Europeias, apesar da guerra na Europa com impacto em todos países, incluindo Portugal”. E recorda uma entrevista DN-TSF, onde o almirante “chamou a atenção” para a necessidade de “preparar os jovens” para serem, um dia, carne enviada por políticos para enfrentarem canhões em cenários de guerra (perfeitos para lavar dinheiro).

    No parágrafo seguinte, Valentina já não aguenta: “vestido à civil o Chefe de Estado-Maior da Armada (CEMA) aproveitou a oportunidade para partilhar das dificuldades no recrutamento para a Marinha”.

    E, claro, não podia faltar, no texto de uma amante – no sentido de admiradora, não sejam más-línguas – doces palavras de saudades à pandemia do ‘vai ficar tudo bem’: “A task force da vacinação e a sua estratégia como coordenador, era o foco da sua intervenção, em que frisou que a coragem, ter valores, assumir a responsabilidade e honestidade são algumas das qualidades que, no seu entender, devem fazer parte de um líder”. Tanta modéstia.

    Ficámos a saber, pela querida ‘almirantenete’ que Gouveia e Melo não é de ferro nem de pedra, tem sentimentos, é um homem que teme os desafios que somente os gestores de logística dos frescos do Modelo Continente, e outros perecíveis, enfrentam: “confessou não ter dormido “toda a noite” quando foi convidado para liderar o processo de vacinação”.  E, escreve ainda Valentina, que um dos motivos por que passou a andar sempre de camuflado, não foi para fazer suspirar as ‘almirantenetes, apesar da justificação oficial de ser “a farda partilhada pelos três ramos” que integravam a task force, foi sobretudo para evidenciar a “guerra contra um vírus”. Ah, e era mesmo guerra, porque nisto não havia lugar para pacifistas, medricas, refugiados, deslocados ou desertores. “As pessoas tinham de escolher um lado. Quem estava contra tinha de se vacinar”, disse o nosso Almirante, e assim redigiu a nossa Valentina. Para quê seguir a Ciência quando se pode antes seguir as palavras de um especialista em faróis e submarinos, ainda por cima humilde, modesto, imbuído de bom-senso, como fica patente no mui ‘patenteado’ Gouveia e Melo?

    Assim sendo, não surpreende que todo o restante texto seja escrito, e descreva, sempre envolto em elegância e admiração, para enaltecer as qualidades de alguém destronou, com grande facilidade, um Diogo Cão, um Bartolomeu Dias, um Pedro Álvares Cabral, um Vasco da Gama, um Afonso de Albuquerque, um Fernão de Magalhães… esse não, que se ofereceu a Castela.

    Embevecida, Valentina recorda, aliás, um outro artigo que escreveu sobre o seu ídolo com o singelo e muy imparcial título: “O que vai ficar para a história da liderança de Gouveia e Melo”. Neste artigo, “alguns dos mais importantes especialistas em liderança elogiaram as opções do almirante”, escreveu Valentina. Nem faltou a opinião de um especialista para meter o nosso Almirante na gávea de proa desta navio chamado Portugal, destacando a sua “genuinidade”, que transmitiu “calma, confiança no trabalho da sua equipa”, ou a de outro que lhe viu “visão estratégica clara”. Aos jornais ainda lhes falta meter na tinta música de violino.

    No panegírico de Valentina ao seu Valentão, não faltou menção à “mesa do CEMA” neste jantar “com lotação esgotada”, onde pontificava Miguel Guimarães, deputado do PSD e ex-bastonário da Ordem dos Médicos, envolvido na polémica das ilegalidades cometidas numa campanha de solidariedade financiada quase exclusivamente por grandes farmacêuticas. Curiosamente, nessa mesma campanha de solidariedade foram desviadas vacinas para médicos não-prioritários, mas isso não interessa nada, Provavelmente, Noël Bouton também tinha os seus pecados e pecadilhos, e a sua Mariana Alcoforado também se calou. O amor é sempre lindo, talvez por ser cego.



    SEMANA 30/2024

    Marrar na parede? Não: é mesmo cair no abismo

    O Francisco Balsemão, não o José (pai) nem o Maria (meio-irmão), mas o Pedro, é o CEO da Impresa, outrora grupo de media que trabalhava para o (e tinha foco no) bem dos leitores e telespectadores. Com esse antigo serviço, credível e atraente, vinha o brinde: as empresas punham-se em fila para publicitar nas ‘plataformas’ da Impresa os seus produtos para serem comprados e usufruídos pelos consumidores que eram atraídos pela informação credível e pelos conteúdos comunicacionais de qualidade. E como era filão apetecível, e não havia espaço para todos, pagava-se bem para anunciar. Ganhavam então todos: leitores / telespectadores, os anunciantes e a própria Impresa.

    Mas isso é coisa do passado. Os produtos (notícias e conteúdos comunicacionais) descredibilizaram-se, e já nem se consegue distinguir o jornalismo da promoção e do marketing empresarial – ao ponto de o próprio CEO da Impresa andar a fazer ‘entrevistas’ numa mixórdia de funções – e como as audiências por tudo isto descambaram, abriu-se a possibilidade às maiores promiscuidades numa fuga para a frente, para onde não há sequer uma parede para marrar mas somente um abismo para cair.

    Post no LinkedIn do CEO da Impresa

    Assim sendo, nem sequer deveria surpreender muito que na apresentação de mais um resultados semestrais desastrosos – 4 milhões de euros de prejuízo, sobretudo pelo agravamento do serviço da dívida por via do endividamento completamente absurdo -, o Pedro (para que se consiga distinguir dos outros dois Francisco Balsemão) continue alegremente a dizer que “vamos continuar a trazer mais valor para anunciantes e agências, reforçando a nossa posição enquanto grupo de media português com mais investimento publicitário”.

    Nem uma palavra para os leitores e telespectadores. Nem uma palavra para o jornalismo. Nada. A Impresa hoje só quer dar “mais valor” aos anunciantes, apresentando cada vez menor qualidade nas ‘plataformas’, e às agências (deduzo que também de comunicação), que querem passar comunicação empresarial como se fosse notícias.

    Deve ser giro um CEO de uma empresa fazer um podcast para o jornal como se fosse mesmo um jornalista…

    Presumo que a estratégia para o desastre vai continuar quando o nosso Pedro acrescenta que “adicionalmente, vamos manter a nossa estratégia de expansão digital e diversificação de fontes de receitas, nomeadamente através da concretização de apostas já anunciadas como a realização do Tribeca Festival em Lisboa e a nossa nova parceria na área da bilhética online com a BOL”. Diversificar significa aqui, presumo, arranjar mais umas ideias para fazer de conta que na Impresa ainda se faz jornalismo e comunicação social.



    SEMANA 29/2024

    Paxlovid!, dizem os democratas. Ivermectina!, dizem os republicanos

    Se considerarmos que o primeiro ano de vida de um gato é aproximadamente igual a 15 anos humanos, que o segundo é igual a 9 anos humanos e que cada ano adicional é igual a 4 anos humanos, então o Biden é um ano mais velho do que eu, sabendo-se – e se não souberem, sabem agora – ter eu nascido no dia 13 de Junho de 2008. Estamos ambos idosos, mas ainda me lembro do que sucedeu há dois anos, talvez porque, nessa altura, contava 72 e não 80 anos.

    Posto isto, mesmo sabendo que Joe Biden está mesmo desmemoriado, e já nem saiba o que lhe dão, acho que, a existir uma cabala nos Estados Unidos, esta não é contra o Trump, mas sim contra o actual Presidente. Não é que logo no dia em que ele coloca a hipótese de sair da corrida eleitoral se houvesse decisão médica, surge com um teste positivo à covid-19? E que lhe fazem? Dão-lhe o mesmíssimo medicamento – o Paxlovid, da Pfizer – que ficou conhecido por ser como o Melhoral (não faz bem, nem faz mal) com a agravante de causar recaídas, como lhe sucedeu em 2022. Lembram-se? Ele, se calhar, não.

    Notícia de Julho de 2022: Biden teve uma recaída depois de lhe ser administrado Paxlovid. Dois anos depois, dão-lhe novamente Paxlovid.

    Enfim, já estou a imaginar nos próximos tempos uma titânica luta ideológica, que nada tem a ver com simpatias terapêuticas: os democratas a quererem à força que Biden tome Paxlovid, para ter recaídas até abandonar a candidatura (e se não resultar, às tantas ainda lhe darão lixívia…), enquanto os republicanos a querem se ele recupere rápido, dando-lhe vitamina D e ivermectina, de sorte a ele se manter na corrida a colecionar gaffes até Novembro. Tempos interessantes, sem dúvida.


    SEMANA 28/2024

    Leonor de Todos los Santos de Borbón y Ortiz e o seu súbdito Marcelo

    A sinistra (é canhota) Alteza Real Leonor de Todos los Santos de Borbón y Ortiz, Princesa de Asturias, Princesa de Gerona, Princesa de Viana, Duquesa de Montblanch, Condessa de Cervera e Señora de Balaguer, visitou aos 18 anos um rectângulo na Península Ibérica que, para mal dos pecados do Senhor do Morgado de Fonte Boa (um tal Miguel, de Brito, da parte do pai, e Vasconcelos, da parte da mãe), continua a falar a língua de Camões, e não a língua de Cervantes.

    E muito bem fez a jovem herdeira do trono de Espanha em, pisada esta terra, se pôr a discursar em castelhano na sua visita a Belém, onde muito bem teceu, e se entendeu, uns belíssimos considerandos sobre Portugal, apenas usando, para dar mais ‘salero’, uma palavra na língua de Pessoa – ‘saudade’ – para destacar os nobres sentimentos de seus pais sobre o país vizinho.

    Já Marcelo Rebelo de Sousa – ou será Marcelo Revelo de Sosa? – fez o que um súbdito deve fazer perante a (sua futura) rainha: brindou em castelhano, embora com tão terrível pronúncia que, vos garanto, o Cervantes, lá no sepulcro do Convento de las Trinitarias Descalzas de San Ildefonso, deu ‘erizado’ umas quantas acrobacias, apenas não uns saltos mortais, porque defunto já ele está. Em todo o caso, em resposta ao brinde de Marcelo (ou Marcelo, em castelhano), o Rocinante relinchou ‘iiirrrrí‘ e o Rucio zurrou ‘inhóóó inhóóó‘.


    SEMANA 28/2024

    Salomé e a cabeça da Verdade numa bandeja

    Há agora um novo desporto nos media mainstream: malhar em Lucília Gago e zurzir na Procuradoria-Geral da República, esse malévolo ente que ia dando cabo da vida do nosso querido Costa, o nosso ai Jesus que agora dará mais alegrias ao povo português do que o Ronaldo, já anda a pensar em pousar chuteiras, tornando-se o mais mais inteligente presidente do Conselho Europeu, PNS dixit.

    Ora, na recente entrevista à RTP, Lucília Gago disse que não se sentia responsável pela queda do Governo em Novembro passado, que fora uma decisão pessoal de António Costa, que “poderia continuar a exercer as suas funções” como, exemplificou, aconteceu com Ursula von der Leyen e com Pedro Sánchez. “Não é automático que a instauração de uma investigação tenha como consequência uma demissão”, defendeu.

    Que foi ela dizer, caramba! Caiu logo nas malhas do Polígrafo, o arguto fact-checker com uma impressionante densidade de under-30 na sua redacção, e que agora até já ‘contrata’ under-20, o que, convenhamos, poupa dinheiro em salários, mas mostra-se arriscado porque, geralmente, a memória destas gentes, tal como a idade, é curta.

    Portanto, assentando nisto, lá tivemos o Polígrafo com a jornalista Salomé Leal a pôr a Dona Lucília Gago em ordem, dando-lhe um raspanete, porque, segundo esta veneranda (nada veterana) fact checker, não é comparável a situação de Ursula von der Leyen com a de António Costa, porque, havendo um caso de alegada “interferência em funções públicas, destruição de SMS, corrupção e conflito de interesses” nas negociações de vacinas entre a presidente da Comissão Europeia e o CEO da Pfizer, a senhora alemã “não ponderou em momento algum abandonar o cargo apesar da investigação, mas também não foi, ainda, acusada da prática de qualquer crime”.

    Pintura exposta no Museu Nacional de Arte Antiga da autoria de Lucas Cranach, o Velho.

    Isto é uma chatice quando se anda a fazer fact-checking como se fosse gente grande, e depois, vai-se a ver, e entrou-se no jornalismo em 2020. E, portanto, que interessa a Salomé Leal tudo o que sucedeu antes desse prodigioso ano, incluindo, portanto, as acusações (e investigações) que ainda pendiam sobre von der Leyen em 2019 como ministra alemã da Defesa, quando então foi escolhida para a presidência da Comissão Europeia? E não seriam essas situações passadas sobre as quais Lucília Gago se estaria a referir?

    Nanja! Nada!

    brown tabby cat lying on white textile

    Para Salomé Leal, só se deve ver, com antolhos, para a frente de 2020. Para Salomé Leal, só há Político a partir de 2020 (e em particular, para apanhar o ‘erro’ de Lucília Gago, através da notícia do Político de 1 de Abril de 2024, que ela refere como ‘prova’); não há Político antes de 2020, nem existência, nem mundo, nem memória, somente o vazio a.S.L. (ante Salomé Leal).

    Dona Lucília Gago, para a próxima se precaveja: não queira, matusamelicamente, confundir as mentes juvenis, invocando o passada da nossa Ursula von de Leyen antes do Pfizergate; não queira relembrar casos, ‘casinhos’ e ‘casões’ que teve como ministra alemã da Defesa entre 2013 e 2019, como, hélas, se pode ver no período pré-histórico do Político (aqui, aqui, aqui e aqui).

    Enfim, a ignorância é muito atrevida, diz-se – mas numa fact checker armada em paladina da verdade, a ignorância torna-se apenas lamentável. A culpa, parece-me, nem é da Salomé, mas certo é que, com estes fact checkings, a Verdade nos surge assim decepada numa bandeja.


    SEMANA 26/2024

    Gouveia e Melo apanha Putin no cimo do ‘caralho’ (calma: é termo náutico)

    Na Teoria do Caos diz-se que pequenas alterações nas condições iniciais de um sistema complexo podem resultar em grandes e imprevisíveis eventos futuros. Conhecido por Efeito Borboleta, este conceito foi popularizado pelo meteorologista Edward Lorenz nos anos 1960, e é frequentemente ilustrada com a metáfora de que o bater de asas de uma borboleta na Amazónia poderia desencadear uma tempestade no Pacífico.

    Em Portugal, desde que o submarinista Gouveia e Melo se meteu na ‘cesta de gávea’ (também conhecida, em tempos antigos, por ‘caralho‘), a mandar postas de pescada como Chefe do Estado-Maior da Armada, sabemos por isso que, quando uma qualquer embarcação da Rússia levanta âncora de um qualquer porto e cruza águas portuguesas, nos arriscamos a ter a III Guerra Mundial. E por isso, temos de combater o ‘Efeito Borboleta’ com o ‘Efeito Gouveia e Melo’.

    Não tenham dúvidas sobre o ‘Efeito Gouveia e Melo’ para a paz mundial. A III Guerra não sucedeu ainda porque, claro, a Marinha Portuguesa ‘almirantada’ pelo mestre-da-logística-vacineira, putativo candidato a Presidente da República, coloca sempre toda a ‘infantaria náutica’, que ainda flutua, a postos para controlar os malvados espiões russo. Apenas por causa de Gouveia e Melo os russos não sabem ainda como podem sair vitoriosos de um conflito global, porque jamais conseguem vasculhar em descanso o fundo do mar português. São corridos.

    Que o Putin deixe de se armar em carapau de corrida, e tire as mãos da sardinha – com Gouveia e Melo não há cá caldeiradas. Que o Putin se entretenha com o esturjão, que se contente com o caviar. Se não se portar bem, às tantas, leva é uma solha do nosso Almirante… ou uns douraditos da Iglo (passe a publicidade).

    Por tudo isto, celebremos Gouveia e Melo. Celebremos a Marinha Portuguesa que bem viu que o ‘General Skobelev’ não era um banal petroleiro russo com destino a Kalinenegrado, nem que o ‘Akademik Ioffe’ não era um corriqueiro navio russo de passageiros com destino à Libéria, nem o ‘Nikolav Chiker’ um singelo quebra-gelo saído do porto de Mariel em Cuba, onde sabemos que nem há neve. Eram sim uns malvados “navios-espiões russos”, como noticia o Correio da Manhã depois de um comunicado do gabinete de imprensa do nosso Almirante, que só não deram início à III Guerra Mundial porque a nossa bendita Marinha cometeu uma heróica “missão de 90 horas”.

    Imagens retiradas hoje do Marine Traffic com a localização de embarcações, bem como a localização actual do Akademik Ioffe que segue para a Libéria. Cada triângulo representa a localização de uma embarcação de grande porte.

    Feito isto – e que grande feito de Gouveia e Melo comparado com os vulgares ‘passeios’ de Diogo Cão, de Bartolomeu Dias, de Vasco da Gama, de Afonso de Albuquerque e do ‘traidor’ Fernão de Magalhães –, somente se me coloca uma dúvida: será que o Putin não deveria mudar de estratégia, e em vez de mandar navios-espiões com bandeira russa, não deveria antes alugar um embarcação de outro qualquer país para espiolharem as nossas águas territoriais ou a nossa Zona Económica e Exclusiva (ZEE)?

    É que assim isto não tem muita piada! São sempre apanhados pelo olho do Gouveia e Melo, que no cima do ‘caralho’ nada deixa escapar. Dá-lhe, camarada Putin, pelo menos algum trabalho, enquanto ele não segue para Belém: há centenas de navios a cruzarem os mares portugueses, como podes ver ali em cima nas imagens retiradas do Marine Traffic. Escolhe um, para que Gouveia e Melo apanhe todos. Se o homem até já venceu um vírus


    SEMANA 25/2024

    Força Aérea: um zero à esquerda a meter dois zeros à direita

    Na aviação, um número conta muito. Por exemplo, em 1989, um voo da Varig, caiu sem combustível na floresta amazónica, só por por causa de o piloto ter inserido a direcção 027 graus, em vez de 270 graus. Um zero mal metido. Mas esse lamentável caso foi na aviação civil; na Força Aérea, como se viu desde pelo menos o Top Gun, não se brinca em serviço. Um número é um número. Rigor absoluto.

    E daí que se começou a salivar aqui no PÁGINA UM, que muito já viu em contratação pública, quando se detectou, no início desta semana, um ajuste directo celebrado há quase dois anos, mas somente agora publicitado no Portal Base, pelo Estado-Maior da Força Aérea para aquisição de apoio de engenharia relativo a um sistema de comunicações. Valor da ‘coisa’: 7.326.000 euros, ou seja, um ajuste directo de mais de 7,3 milhões de euros, montante que, com IVA, ultrapassaria os 9 milhões de euros. Ainda por cima, sem sequer existir contrato escrito, invocando uma norma inadequada para estes casos.

    man driving helicopter

    Já se imaginava as parangonas – mas vieram as relações públicas estragar a ‘cacha’, confessando um erro, corrigido depois do contacto do PÁGINA UM. Afinal, o contabilista da Força Aérea, talvez um zero à esquerda, tinha inserido dois zeros à direita, a mais. Ou seja, onde antes se lia 7.326.000 euros, passou a ler-se 73.260 euros. E lá se foi a ‘cacha’.

    O director do PÁGINA UM ainda anda a matutar se não deveria ter perguntado por comprovativos que demonstrem que nunca erros deste quilate quando se digitam números nas ordens de transferência. Às tantas, ainda se descobria, no contrato de 2021 (que só foi publicitado este ano) para fornecimento de combustíveis, que o Estado-Maior da Força Aérea em vez de ter pagado 57.276.950,99 euros à Petrogal, afinal enviou-lhe, vá lá, apenas 57,27 euros – ou, para arredondar, 57,27 euros. Erros acontecem: quem não…


    SEMANA 24/2024

    Carlos, o Papa Moedas

    Carlos Moedas já nos habituou a falar na primeira pessoa do plural sempre que, em bicos de pés, quer falar da obra que julga ser só sua: “entregámos chaves de casa”; “homenageámos fulano de tal”; “visitámos a estrada da Beira e a beira da estrada”; “distribuímos isto e aquilo”, “condecorámos sicrano e beltrano”, e hoje [sic, neste caso] “Casámos os noivos de Santo António”.

    Mas, calma, não se pense que nesta função casamenteira, o presidente da Câmara de Lisboa tenha exercido o ministério de sacristão ou de diaconato – que ofensa seria! E, para quem é, nunca aceitável seria o múnus do presbiterado, que isto de ser pároco, cónego, vigário-geral ou monsenhor é coisa de pobre. Merecia Carlos Moedas não menos do que a função, ou título, de bispo, de arcebispo, de cardeal ou de patriarca. Mas como isto seria sempre pouco, acho mesmo que este, hélas, nosso edil deveria estar mesmo no topo da hierarquia, até para fazer jus à função que melhor desempenha com o dinheiro dos contribuintes para se promover: Papa – o nosso Papa Moedas.


    SEMANA 22/2024

    Costa, o Ricardo, sem tempo para ler sobre prémio das estantes IKEA

    O jornalista Ricardo Costa tem quatro relevantes pecularidades biográficas: é cumulativamente director de informação da SIC e director-geral de informação do Grupo Impresa (dona do Expresso); é primo em segundo grau de José Alberto Castelo Branco da Silva Vieira; é irmão de António Luís Santos da Costa; e tem raízes orientais, o que, garantidamente, na douta e constitucionalíssima tese do nosso actual Presidente da República, o tornará “lento”. Só a segunda é irrelevante para a minha ‘arranhadela’.

    Sendo “lento”, ‘marceloscamente’ falando, e tendo tão elevadas funções na direcção de tantos órgãos de comunicação social, compreende-se que Ricardo Costa só leia as ‘gordas’ e que os seus olhos não comam mais do que o primeiro ‘linguado‘, porquanto, como sabe, a partir daí tudo é palha para encher chouriços.

    Por esse motivo, compreende-se que Ricardo Costa tenha vindo a correr dar uma alfinetada no Governo Montenegro por ter eliminado um rectângulo verde, um círculo amarelo e um quadrado vermelho como logótipo da Nação, uma vez que a ‘obra’ acabou de ganhar um prémio de design.

    Confirma-se, assim que Costa, o Ricardo, nem sequer leu a curta notícia da SIC, televisão do qual é director de informação, a qual destaca no seu tweet no X, para criticar “as guerras culturais [quando] chegam ao design”. Se assim não fosse, teria visto que o Grande Prémio CCP 2024, e que deveria ter merecido o máximo destaque, foi entregue à não menos famosa publicidade da estante IKEA: “Boa para guardar livros. Ou 75.800€“, alusiva ao dinheiro encontrado no gabinete de Vítor Escária, chefe de gabinete do Costa, o seu António, e que tanto frisson causou às sensibilidades políticas do PS.

    Já agora, bem vistas as coisas, às tantas os 75.800 euros do Escária eram legais: serviriam para pagar ao designer os 74.000 euros do logótipo, e o resto seria para cerveja e tremoços, que para gambas já não daria.


    SEMANA 21/2024

    Mais um frete do Polígrafo; mais um prego no caixão do jornalismo

    A vida anda difícil para todos, e até também para o Polígrafo, apesar dos mais de 400 mil euros por ano que encaixa do Facebook para fazer de cão-de-fila pelas redes sociais. E se quando esteve desempregado, o seu director, Fernando Esteves, fez uma perninha em final de 2018 para sacar quase 20 mil euros num centro hospitalar de Lisboa (sem haver sinal de ter feito ‘coisa’ alguma), mais facilmente pode o Polígrafo fazer fretes – desde que, claro, receba dinheiro. Pregar pregois no caixão do jornalismo, isso é um pormenor…

    Como se sabe, o Polígrafo orgulha-se de ser um órgão de comunicação social exclusivamente de fact-checking, que teve o seu período de ouro na pandemia, com uma função mui útil para consolidar ‘narrativas’, metendo no mesmo saco gente destemperada e racional (desde que ambos os grupos não aceitassem as ‘narrativas’, em versão low cost, porquanto metia estagiários geralmente de Comunicação Social a mandar postas de pescadas sobre complexas questões de Epidemiologia e outras ciências, muitas vezes com especialistas em migrações de sardinhas ou peritos em hidrogeografia que andaram a lançar búzios com modelos matemáticos de vão-de-escada.

    Mas estamos em 2024, e embora haja muita mentira a ser desvendada em campanhas eleitorais, a safra deve andar fraca – e, portanto, o que vier à rede é peixe. E esta semana saiu assim no Polígrafo uma notícia ‘normal’, mas nada habitual num ‘fact checker’, sobre um banal “encontro com jornalistas, esta terça-feira, em Lisboa”, onde Elisa Ferreira, a comissária portuguesa ns Comissão von der Leyen, notou que quando existe “um alargamento da União Europeia há normalmente um impulso brutal da economia” dos países que acabam de aderir ao bloco europeu”. Toda a notícia soa a pé de microfone: a comissária diz, a jornalista anota.

    E, acrescenta ainda a jornalista Ema Gil Pires, com um curioso número de carteira profissional – 7999, que, por ser nova, nem sequer deve saber o que é a cláusula de consciência, que a livra de fazer fretes a mando do ‘patrão’ –, que Elisa Ferreira notou, assim, a “grande oportunidade” que tal seria para o “processo de reconstrução da própria Ucrânia”, numa altura em que se perspectiva “uma eventual inclusão de Kiev no leque de Estados-membros”. E blá blá até ao fim.

    E é bem no fim que se vê o seguinte texto, que deve ser lido ao som de violinos, ou de marcha fúnebre em memória do jornalismo: “Este artigo foi desenvolvido pelo Polígrafo no âmbito do projeto ‘EUROPA’. O projeto foi cofinanciado pela União Europeia no âmbito do programa de subvenções do Parlamento Europeu no domínio da comunicação. O Parlamento Europeu não foi associado à sua preparação e não é de modo algum responsável pelos dados, informações ou pontos de vista expressos no contexto do projeto, nem está por eles vinculado, cabendo a responsabilidade dos mesmos, nos termos do direito aplicável, unicamente aos autores, às pessoas entrevistadas, aos editores ou aos difusores do programa. O Parlamento Europeu não pode, além disso, ser considerado responsável pelos prejuízos, diretos ou indiretos, que a realização do projeto possa causar“.


    SEMANA 20/2024

    As reuniões do Grande Líder Moedas

    Carlos Moedas, o Presidente da Câmara de Lisboa – ou, antes disso, como salienta na sua conta do X, é “Mayor of Lisbon” e, além disso, também “Maire de Lisbonne” (e direi eu, de igual modo, que será লিছবন চহৰ পৰিষদৰ সভাপতি, em língua assamesa), é um líder. Perdão: é um Líder. Penitência: um Grande Líder. Misericórdia (não a freguesia onde nasci no longínquo ano de 2008): O GRANDE LÍDER!

    O único! Mas nunca sozinho.

    Moedas surge, feito vedeta, a oferecer casas, a acompanhar obras, a distribuir subsídios, a condecorar o periquito, mas nunca o faz sozinho. Usa sempre o plural: oferecemos, acompanhamos, distribuímos, condecoramos. E nós pagamos.

    São pormenores: afinal, o Grande – metonímia para Grande Líder Moedas – liderará sempre COM as pessoas, como titula a sua ‘magnum opus’, dirão os seus empolgados idólatras. E o Macron, que diz de Moedas o que o Maomé dizia de Meca: que “servirá para encorajar e até formar as próximas gerações de cidadãos que queiram fazer viver os seus ideais”.

    Mas calma. Nem sempre o Grande – o Grande Líder Moedas – lidera com as pessoas. Tem de se ter estatuto para se estar COM o Líder. Até em reuniões que, na verdade, servirão para ele – leia-se, Ele – expor a sua liderança. Por exemplo, Moedas reúne COM o presidente da Câmara Municipal do Porto, mas já reúne OS presidentes das autarquias que integram a Área Metropolitana de Lisboa. Mesmo quando se está na mesma sala do Grande não significa que se esteja ao mesmo nível – que assim conste in saecula saeculorum.


    SEMANA 20/2024

    Das invasões do colonialismo às invasões do doutor Nuno Rebelo de Sousa

    Se os filhos vivos têm de pagar pelas invasões cometidas pelos pais mortos, conforme defende o Presidente da República Marcelo Rebelo de Sousa, parece-me bastante lógico que os pais vivos possam também pagar por invasões dos filhos vivos. E isso pode ser visto ao nível de uma geração ou de dezenas de gerações.

    Assim, enquanto andarmos então a contabilizar, por invasões desde o século XV pelos nossos antepassados, quanto deveremos pagar ao Brasil, à Angola, a Moçambique e a tantos outros territórios dos quatro cantos do Mundo que os nossos pais (no sentido lato do termo) palmilharam, também não nos devemos esquecer de apurar a quem endereçar as facturas pelas invasões ao nosso território ‘perpetradas’ pelos fenícios, pelos gregos, pelos cartagineses, pelos romanos, pelos visigodos, pelos suevos, pelos mouros, pelos espanhóis (sessenta anos) e até pelos franceses (e até dos ingleses que nos vieram ajudar por causa do Napoleão, e não quiseram ir embora facilmente).

    Já agora, talvez fosse boa ideia incluirmos as invasões das nossas antigas colónias – que tínhamos tomado a outros – pelos espanhóis, pelos ingleses, pelos holandeses, pelos alemães, etc.. Talvez não fosse má ideia pedir-lhes indemnizações agora. Ou, pelo menos, reverter péssimos acordos de paz, como aquele em Haia, no ano de 1661, onde se concordou em compensar com 63 toneladas de ouro a República das Sete Províncias Unidas dos Países Baixos pelas mais-valias por eles criadas no Nordeste brasileiro, apesar de os termos derrotado no campo da batalha. Ainda lhe entregámos o Ceilão (Sri Lanka).

    Bem mais fácil, na verdade, será obrigar os pais a pagarem pelas invasões dos filhos. Por exemplo, o Doutor Nuno, vindo do Brasil, invadiu Portugal, dirigiu-se ao Serviço Nacional de Saúde e, com isto, desapareceram perto de quatro milhões de euros. O Doutor Marcelo Rebelo de Sousa deveria indemnizar o país por isto, não acham?


    SEMANA 14/2024

    (Ainda) Rosália Amorim & outras histórias (com acentos graves)

    Se a Comissão da Carteira Profissional de Jornalista (CCPJ) demorou quase dois meses a retirar a referência da Rosália Amorim na sua base de dados, depois desta ‘sair do armário’ e se assumir como uma marketeer, também eu posso, atendendo à minha felídea idade, preguiçar e nada escrever. E assim por isso, assim ficou o nome da Rosália Amorim, para escarmento, aqui pespegado nesta rubrica por três semanas.

    Enfim, agora vai ficar mais uns dias, porque não achei suficientemente apelativo para justificar um título em destaque a façanha dos ‘jornalistas do oráculo’ da RTP, que titularam, no rescaldo do Sporting-Benfica das meias-finais da Taça de Portugal, sobre os titulares das equipas mas com acento no I; mesmo tendo sido agudo. E nem foi uma vez – que sempre daria para conceder o benefício da dúvida de se tratar de um ‘corvacho’ – mas logo duas, e se calhar até foram três para ser como a conta que Deus fez.

    Enfim, também poderia brincar – não gozar, porque este é um senhor muito distinto e respeitável – com o Professor Jorge Miranda que no Público, à força de querer defender o estapafúrdio Acordo Ortográfico que mete o Pacto de Varsóvia ao nível do Pato à Pequim, acaba a escrever heróico com acento à moda antiga. Mas já nem vale a pena porque o nosso colunista Manuel Monteiro, também ali na concorrência, já lhe disse das muito boas, além de aproveitar para contar deliciosas histórias em redor das palavras como a do menino italiano que ‘inventou’ o petaloso.

    De resto, podia sempre gozar com a Filomena Martins, a meteorojornalista – não é só James Joyce que funde palavras, ó Manel – de serviço do Observador que, desde a minha última arranhadela, já escreveu sobre “chuva de lama“, sobre a depressão Nélson que diz ser “a primeira do rosário de tempestades até à Páscoa” passada, sobre mais poeiras e calor, e sobre a “tempestade Olívia” que vai trazer mais uma “enorme massa de poeira que pode chegar à Suécia“. Ou não. E isto já sem incluir os dois sismos, porque se é para mostrar que o Mundo literalmente está em convulsões, não há melhor mesmo do que a Filomena Martins.


    SEMANA 11/2024

    Rosália Amorim, uma potencial grevista na Ernst & Young?

    Desde que a minha taça com Royal Canin esteja bem apetrechada, sou solidário com todos, incluindo jornalistas em greve, mesmo nos jornais que pensam que uma greve deve servir “para mostrar à sociedade a importância de uma comunicação social livre, actuante e sustentável” (direcção do Público dixit), como se a sociedade não o soubesse, e não para protestar contra a existência de empresários ‘pato bravo’ como aqueles que orquestram despedimentos canalhas, do qual o último exemplo (mas não derradeiro) sucedeu ainda ontem à direcção editorial e a vários jornalistas do DN, mas este episódio lamentável foi já visto, desta vez, com ‘mais classe’ (e sem alarido), porque uma coisa é um despedimento feito pelo ‘chefe do galinheiro’, outra é se a coisa se congemina por um papalvo fundo das Bahamas.

    Mas, verdadeiramente, mais do que saber qual o grau de adesão à greve dos jornalistas ou os efeitos da dita (que vai ser nenhum, excepção ao alívio das consciências, um alívio semelhante a uma mijadela na caixa de areia), a minha felina curiosidade centra-se apenas no comportamento de uma pessoa: será que a actual directora de marketing e marcas da Ernst & Young (EY), Rosália Amorim – que foi orgulhosamente enterrando o DN, quando directora, com as suas parcerias comerciais e fretes que tais -, também vai hoje fazer greve?

    É certo que ela não consta da lista dos ‘238 magníficos jornalistas’ que decidiram mostrar à História, através de uma carta aberta fechada aos outros cinco mil camaradas, que a profissão está ‘sem papel’, mas a nossa magnífica Rosália Amorim mantém incólumes, por falta de vergonha, todos os seus direitos, isto é, a sua bela carteira profissional de jornalista número 1788, porque ainda está activa na CCPJ. Activíssima ainda hoje (pelo menos até às 12h19), 28 esplêndidos dias após ter assumido que anda agora a vender marcas na EY, contratada que foi pela sua excelsa experiência em funções similares no DN e TSF.


    SEMANA 10/2024

    Meteorologia & eu, o gato de Pavlov

    Um felídeo não costuma ser tão estúpido como um canídeo, mas confesso que perante um qualquer anúncio de banal ‘anomalia meteorológica’, que pode ser só sol ou chuva, funciona em mim como a sineta nos cães do russo Ivan Pavlov.

    Quer dizer, não me ponho a salivar, mas vou a correr ao site do Observador, em busca dos textos da Filomena Martins. Nunca falha!

    Por isso, quando hoje li um texto no Público de uns três mil caracteres da Marta Leite Ferreira – que vem da escola do Observador – a anunciar que o “tempo vai piorar nas próximas horas“, vi-me impelido, por forças que jamais controlarei, a ir em busca das previsões da directora-adjunta do Observador. Nunca desilude! Encontrei aquilo que nunca se esconde: nesta segunda-feira houvera escrito meteorológico.

    Êxtase absoluto. Tudo ali é irresistível. Empolgante. Anteontem, Filomena Martins até evocou (ou invocou, já nem sei) tempos e terras de vikings, fazendo-nos, logo no lead, vislumbrar um “bloqueio na Escandinávia [que] abre um corredor para as tempestades chegarem à Península Ibérica”.

    Calma! – ou melhor, não vai haver calma atmosférica alguma. Isto é só a pele. A ‘carnicha’ encontra-se no meio do artigo, aí se revelando que ficará aberto “um enorme e largo corredor para entrarem várias frentes chuvosas e frias pela Península Ibérica adentro: a maior, que se deve transformar numa tempestade de forte impacto, [e que] chega esta quinta, [e] mantém-se sexta, e arrasta mais uma massa de ar polar frio, cujos efeitos se prolongam até ao fim de semana eleitoral”.

    a long boat with two people in it on a lake

    Vai ser uma semana de montanha russa meteorológica. Perdão: repito, para meter aspas, porque a frase anterior é da autoria de Filomena Martins e não quero ser acusado de plágio: “Vai ser uma semana de montanha russa meteorológica.” Até porque parece que o tal corredor vai ficar aberto – “quer na horizontal (para as frentes vindas do lado da Gronelândia, com massas de ar polar), quer até quase na vertical (para as frentes que se formam já junto às ilhas britânicas)” –, assim “permitindo [a negrito no original] comboios de tempestades que entram de forma contínua na Península, umas vezes muito juntas, outras a espaços“.

    Eu acho que isto é mais um carrossel do que uma montanha russa, mas, enfim, deixemos a Filomena Martins meter mais água.


    SEMANA 09/2024

    O farnel dos lagartos deve ter pouco tabaco

    Foi jogo emocionante, o de ontem, no Estádio de Alvalade, onde se defrontou o Sporting e o Benfica, mas mais interessante, por certo, teria sido assistir à cobertura realizada pelos repórteres do jornal Record, que agora têm o Cristiano Ronaldo como o ‘patrão’ principal, com 30% da Medialivre.

    Oficialmente, houve três golos: ao minuto 9 marcou o sportinguista Pedro Gonçalves, depois ao minuto 54 o sportinguista Viktor Gyökeres e, por fim, ao minuto 68 o benfiquista Fredrik Aursnes. De permeio, houve ainda um golo anulado ao benfiquista Di Maria ao minuto 71 (que daria o 2-2) e outro ao sportinguista Nuno Santos ao terceiro minuto de compensação (que daria o 3-1).

    Porém, talvez embalados pelo farnel que, por certo, o Sporting também ofertará aos jornalistas – tal como sucede na Varanda da Luz –, mas com ingredientes especiais, os jornalistas do Record foram ‘relatando’ um ‘desenrolar do marcador’ muito peculiar.

    Ao minuto 55, estava afinal 4-0 para o Sporting.

    Ao minuto 68, o Record fez com que o o golo do Aursnes valesse por dois, colocando um empate na ‘coisa’, porque, para além do golo do norueguês ter valido por dois, acabou também por ‘sacar’ dois golos aos quatro do Sporting. Portanto, 2-2.

    Mas não satisfeito com um empate, os jornalistas concederam no minuto 74, um terceiro golo ao Benfica, colocando o marcador em 2-3 favorável ao Benfica.

    Pena esta vantagem benfiquista ter sido ‘noite de pouca dura’, porque, ao fim de quatro minutitos, houve alguém, talvez o VAR, que retirou dois golos ao Benfica, estabelecendo o resultado final, coincidente com o real.

    Em todo o caso, atenção: não vai haver, afinal, segundo o Record, é mentira que haja um segundo jogo marcado na Luz no início de Abril. Na verdade, ainda sob a influência do ‘farnel dos lagartos’, os jornalistas do Record indicaram que, depois do 2-1 do Sporting, o resultado agregado (das duas mãos) ficou já estabelecido: 5-0 a favor do Benfica.


    A dorsal anticiclónica do Observador

    Somos, por aqui, adeptos incondicionais da jornalista Filomena Martins que, sendo director-adjunta do Observador, desunha-se em fazer jus ao título: observa meticulosamente o tempo, neste caso não numa perspectiva filosófica, mas somente meteorológica, presenteando-nos sempre um Armagedão à primeira lufada ou ao segundo chovisco.

    Em todo o caso, confessamos a nossa desilusão sobre o texto de hoje em que ela anuncia, para a próxima sexta-feira, a denominada Primavera meteorológica, pois nada nos mostra a jornalista-meteorologista mais famosa do país e os seus terríveis rios atmosféricos, nem as tenebrosas ciclogéneses explosivas nem os temíveis ciclones bomba nem os tétricos comboios de tempestades. Só frio, chuva, três massas de ar polar e uma dorsal anticiclónica. Muito pouco. Assim, nunca mais chega o Fim do Mundo!


    SEMANA 08/2024

    Testículos & pénis

    O Correio da Manhã (CM) perde, com este nosso texto, o monopólio de meter genitálias em títulos, mas não poderíamos perder a oportunidade de felicitar a sorte danada dos editores deste jornal de referência (e o mais lido do país) por o método de coacção de um auxiliar de acção médica do Hospital Garcia de Orta consistir em meter a mão numa componente da genitália masculina da vítima de dimensão mais curta – mais curta no sentido do número de letras.

    De facto, por agora, sabíamos, através do nosso CM, que ataques às genitálias masculinas se faziam, por regra, segurando o saco escrotal e apertando as gónadas. Além da dor, já deu títulos bombásticos em cenários nada agradáveis só de imaginar.

    Por exemplo, em 29 de Junho de 2017, “Morre depois da nora lhe esmagar os testículos com as mãos”.

    Também em 28 de Abril de 2016, “Evita morte ao apertar testículos de agressor”.

    Ou, mais recentemente, em 26 de Abril de 2023, “Mulher arranca testículos de vizinho que atacou filha em Angola

    Na verdade, testículos em títulos é um must, garantia de voyeurismo baboso. Como não ler a notícia “Doente internado no Hospital Amadora-Sintra arranca o próprio testículo”? Ou esta: “Homem atira-se à mulher errada e cortam-lhe os testículos com faca enferrujada”? Ou mais esta ainda: “Arranca testículo do ‘ex’ com os dentes por ter negado sexo a três”?

    Mas não há bela sem senão. Jornalisticamente falando, os testículos têm um problema: são grandes demais, ocupam um grande volume num título. São 10 letrinhas monstruosas, não dá jeito nenhum em determinadas situações.

    Por exemplo, imaginem se o tal auxiliar do Hospital Garcia de Orta tivesse apertado os testículos a um idoso para lhe “sacar o código do cartão multibanco”, e comprar depois “bens de elevado valor, como relógios, TV, perfumes, e outros como azeite”. Não cabia. Por sorte, apertou-lhe o pénis, que tem apenas cinco letrinhas, fica pela metade. Cabe na perfeição no desenho da página. Concluindo, apertar um pénis em vez dos testículos é não apenas menos doloroso como muito mais cómodo para a difícil arte de titular um jornal. É um dois em um.


    Ribeiro de bocas, em enxurrada

    Dia 19 de Fevereiro

    Descobrimos ontem para que serve meter uma dezena de candidatos de pequenos partidos numa ‘linha’ a fazer de conta que a televisão pública é muito democrática e dá voz a todos.

    Aquilo serve para, como nas feiras, se mandar uns tirinhos nos bonecos. Sobretudo se se é jornalista. E sobretudo se se é um jornalista do quilate do Luís Ribeiro, que já foi apontado pela Entidade Reguladora para a Comunicação Social de ser um ‘jornalista comercial’ por fazer trabalhos de prestação de serviços a empresas externas (parceiros) numa revista (Visão) que integra uma empresa unipessoal de 10 mil euros que tem 10 milhões de euros de dívida ao Estado. Divertiu-se muito ontem, o Ribeiro, em enxurrada de bocas no X. Hoje, divirto-me.


    ‘todOs’ é menor que ‘todEs’

    Afinal, para o jornal Público, o ‘todes’ não é um símbolo de linguagem inclusiva, mas sim um termo para unir, colocando em pé de igualdade, os partidos com representação parlamentar com aqueles que, coitados, ainda não têm (e alguns nunca terão, pelo andar democrático da carruagem) assento parlamentar.

    Assim, está a jornalista Sofia Neves, hoje no Público, a ser rigorosíssima quando nos garante que “todOs os partidos defendem não existir uma só solução para a crise da habitação”, e depois acaba a listar somente as propostas da Aliança Democrática (PSD, CDS e PPM), Bloco de Esquerda, Chega, Iniciativa Liberal, Livre, PAN, Partido Comunista Português (sem PEV, apesar de coligados) e Partido Socialista.

    Já se tivesse escrito que “todEs os partidos defendem não existir uma só solução para a crise da habitação”, então aí teria mais trabalho, porque se fossem mesmo ‘todEs’ (e não apenas ‘todos’) teria ela que listar as propostas não apenas do grupo do ‘todOs’ mas também as propostas do PCTP/MRPP, do Alternativa Democrática Nacional (ADN), do Volt Portugal, do Juntos pelo Povo (JPP), do Partido Ecologista Os Verdes (esquecido na CDU), do Ergue-te, do Nós, Cidadãos, do Reagir Incluir Reciclar (RIR), da Nova Direita, do Alternativa 21 (Partido da Terra e Aliança) e do Partido Trabalhista Português (PTP).

    Donde se conclui que se mostra muito conveniente, a partir de agora, usar o ‘todOs’ mesmo quando não se trata da ‘totalidade’ (e vejam que termina com E) sem se ser acusado de falta de rigor, porque ‘todOs’ é, assim nos mostra o Público, inferior a ‘todES’. Pode sempre dizer-se que há uma discriminação, mas isso, em campanha para eleições democráticas, e quando são os órgãos de comunicação social a fazer, não conta.


    SEMANA 07/2024

    Dia 17 de Fevereiro

    Abrunhosa, o Senhor da Palavra, e o triste fim de um plagiador

    Esqueçam D. Dinis, o Rei Poeta.

    Reneguem Fernão de Oliveira, João de Barros, Pêro Magalhães de Gândavo e Duarte Nunes de Leão, Príncipes da Gramática.

    Olvidem Luís Vaz de Camões, o Vate de ‘Os Lusiédas’ (versão Porto Canal).

    Omitam Rafael Bluteau, na pena, e Padre António Vieira, na oratória, Imperadores da Língua.

    Menoscambem Camilo, Eça, Saramago e toda a catrefa de Escribas da Lusitânia.

    Posterguem Pedro José da Fonseca, Antonio de Moraes e Antonio Houaiss, Imperadores dos nossos dicionários.

    Não! Nanja. Nenhum destes merece o panteão nem sequer sob a forma de cenotáfio. Todas e quaisquer palavras e fonemas a um só Ente as devemos. Por exemplo:

    “Vamos” – foi ele que inventou.

    “Fazer” – também.

    “O” – com e sem som de U, idem.

    “Que” – de igual modo.

    “Ainda” – claro.

    ”Não” – sim, foi ele.

    ”Foi” – obviamente, foi ele.

    ”Feito” – por ele, e com grande precisão.

    Claro está que este Singular Ser só se deu em ajuntar estas palavras (quer dizer, as que coloquei entre aspas), nesta concreta e sábia sequência, no ano da graça de 2010 (que, no futuro, será conhecido, por bula Inter gravíssimas, como 50 Anno Abrunhosi), através da letra de uma música cantada à cana rachada, pelo que faz todo o sentido o Bloco de Esquerda ser agora condenado por blasfémia não apenas por usar algumas (que digo!, todas) mas sobretudo por deturpar as Palavras do Senhor.

    O filósofo e pedagogo brasileiro Paulo Freire atreveu-se a usar em 1982 as palavras do título de uma música de Pedro Abrunhosa de 2010. Sabem o que lhe sucedeu?

    ”Fazer o que nunca foi feito”? Ó Mariana Mortágua! Que foste tu e o teu partido fazer. Atiçaste as Fúrias! Ainda por cima uma blasfémia em que, com a mudança no tempo verbal, especificamente do pretérito perfeito composto do indicativo para o pretérito perfeito simples do indicativo, alteras o foco temporal da frase, indicas que o Senhor (Pedro Abrunhosa) foi impreciso na temporalidade do acto jamais feito.

    Tu já viste no que te meteste? Sabes as consequências?

    Olha, Mariana Mortágua, o filósofo e pedagogo brasileiro Paulo Freire atreveu-se em 1982, num texto sobre política educativa, a usar as exactas palavras que o Pedro Abrunhosa deu ao título da sua música em 2010 (“Fazer o que ainda não foi feito”), e sabes o que lhe aconteceu? Está morto! E desde 1997, uns 13 anos antes da música do Pedro Abrunhosa. Assim, incréus, se alcança o poder do Senhor.

    E consta que outros intentaram, nos anos 80 do século passado, escrever também “fazer o que ainda não foi feito” no número 10 da revista Educação em Debate, sem autorização do Senhor Pedro Abrunhosa, e hoje, 17 de Fevereiro de 2024, se mortos não estão, de muito boa saúde não estarão.


    Dia 13 de Fevereiro de 2024

    Ruir ou não roer, that is the question

    Tem mais de quatro séculos o famoso solilóquio de Hamlet, reflectindo sobre a natureza da existência e os dilemas perante o sofrimento da vida e o seu fim no vazio da morte. “To be, or not to be, that is the question“.

    De facto, os ingleses (ou anglófonos) devem ser mais dados do que nós, latinos, às perplexidades, porquanto nunca sabem bem quando são ou quando estão. Mas não pensem que os portugueses não têm também suas dubiedades, nem que seja no acto da escrita.

    Por exemplo, no Correio da Manhã, ou pelo menos o jornalista Rui Pando Gomes, quando se decidiu escrever sobre a final do Super Bowl, teve um dilema: “ruir, ou não roer, that is the question“. De facto, o que poderia acontecer às unhas da Taylor Swift enquanto via o seu namorado, Travis Kelce, tight end do Kansas City Chiefs, bater os San Francisco 49ers? Serem roídas ou ruírem-se?

    Obviamente, o resultado literal de roer unhas – julgo que tal acto implica necessariamente o uso de dentes, pelo que será redundante acrescentar “com os dentes” – é ficar-se com as “unhas roídas”, mas não menos verdade sucede, por extensão de sentido, que roídas em demasia, as unhas podem ficar em perigo de ruir, o que, com algum esforço e vontade, pode dar origem a “unhas ruídas”.

    Portanto, perante o dilema “unhas ruídas, ou unhas roídas, that’s the question“, o jornalista e os editores do Correio da Manhã acharam por bem decidir a favor das “unhas ruídas”. Opção legítima, claro.


    SEMANA 06/2024

    Dia 10 de Fevereiro de 2024

    Isso não se faz! Então não é que hoje, bem no topo da primeira página, logo abaixo do seu nome, e no lado esquerdo de uma menina de lingerie vermelha, o Correio da Manhã (CM) titula: “Comboio Alfa da CP usado em filme pornográfico“, levando, imagino, uma percentagem superior a 0% dos leitores (reparem no nosso extremo rigor, jamais nos podem chamar de exagerados) a correr à página 29, nem sequer reparando, à primeira vista, que a cabeça do Ricardo Salgado (que dizem não estar já ‘bom’ da cabeça) quase tapa o ‘porn’ do pornográfico.

    E depois, olhem: ‘ejaculação precoce’. Afinal, não foi nada daquilo que, naquelas fracções de segundo pela busca sôfrega da página 29, pensariam as pecaminosas e babosas mentes perversas. Na verdade, aquilo que sucedeu foi que “um filme pornográfico com cerca de uma hora tem partes da sua ação filmada dentro da carruagem de comboios da CP”, mas, desgraça, “as cenas mais ‘hardcore’ não se passam dentro da carruagem”. Só temos “a protagonista da película filmada a percorrer [a] composição de um Alfa Pendular”.

    Ora bolas! Pólvora seca. Nadinha mais! Apenas uma senhora vestida de vermelho a passear-se na carruagem, e ao contrário da outra menina que surge na capa do CM (já agora, é a Lusinha Oliveira) nem sequer mostra qualquer lingerie vermelha. Ou de outra cor. Está sempre completamente vestida.

    Em todo o caso, o autor desta ‘linda peça’ de non sense noticioso, o jornalista Miguel Alexandre Ganhão – editor do CM e membro da Comissão da Carteira Profissional do Jornalista – ainda escreve que “não deixa de ser curioso que a empresa pública apareça associada a este tipo de obra cinematográfica”.

    Aqui, já estamos a imaginar a ilimitada possibilidade de títulos ‘bombásticos’ que este estilo de jornalismo proporciona, se surgirem imagens (não autorizadas, presume-se) de protagonistas de “obra cinematográfica” do estilo hardcore a passearem por locais ou zonas públicas ou privadas antes de, em local mais recatado, mostrarem ‘acção mais concreta’. Eis alguns exemplos:

    Torre Eiffel usada em filme pornográfico

    Mercado da Ribeira usado em filme pornográfico

    Marquês de Pombal usado em filme pornográfico

    Correio da Manhã usado em filme pornográfico

    Bom, se calhar estamos a exagerar. No Correio da Manhã seria impossível. No Correio da Manhã, jamais: é um ‘santificado’ jornal, onde nunca nos passaria pela cabeça associar a ‘badalhoquices’, mesmo se de forma involuntária, não é? Claro que não, caramba! Mesmo que haja por aí imagens que metem classificados com a marca CM, onde surge a divulgar os seus atributos uma “mulata meiga”, uma “bomboca sensual”, uma “loura fogosa” ou uma “gostosa quentinha”. Tudo isto só pode ser uma montagem! E o site no canto superior direito destes classificados (que se calhar o Polígrafo até concluirá ser falso) nem sequer, às tantas, funciona! Tudo fake.


    Dia 6 de Fevereiro de 2024

    Ontem, foi um dia feliz para a imprensa portuguesa com o justo e desejado anúncio da promoção de Rosália Amorim para directora de marketing e comunicação da Ernst & Young (EY), uma consultora que muito trabalhinho tem feito para entidades públicas: contamos no Portal Base 356 contratos de 19,7 milhões de euros.

    Somos apreciadores das qualidades, inatas, de Rosália Amorim na promoção de marcas. Viu-se isso enquanto esteve como directora do Dinheiro Vivo, do Diário de Notícias e na TSF, e também na sua breve passagem na administração da Global Media.

    Na verdade, promover marcas foi o que ela melhor fez nestes cargos de direcção editorial, sobretudo através da sua presença na concretização de parcerias comerciais, mas também na subtileza de algumas notícias ou entrevistas, de tal sorte que nem sempre se conseguia perceber quais eram as que tinham sido pagas ou não. Só não conseguiu promover bem uma marca – ou melhor, conseguiu promovê-la, mas mal: os órgãos de comunicação social da Global Media, e por acrescento o Jornalismo. Aliás, não sou eu, Serafim, que o diz: ainda em Setembro passado, o Conselho de Redacção da TSF se opôs à sua nomeação para a direcção editorial desta rádio, dizendo, preto no branco (como as cores do meu pêlo), que “levanta[va] legítimas dúvidas quanto à sua real capacidade de manutenção de uma política editorial independente”. E ela, mesmo assim, aceitou.

    Por isso, embora haja sempre o ‘risco’ de um qualquer canal televisivo a contratar como ‘comentarista isentíssima’, a sua ida para a EY como directora de marketing e comunicação de uma consultora, além de um justo prémio para uma verdadeira marketeer que vivia no sufoco de ter de parecer jornalista, acaba por ser uma ‘clarificação’ de funções, e sobretudo ‘areja’ o ambiente.

    Ah, e já agora, até para que a notícia do Jornal Económico fique correcta (identifica Rosália Amorim como “ex-jornalista), convém que ela suspenda mesmo a carteira na Comissão da Carteira Profissional de Jornalista: às 16h18 de hoje ainda estava activa. Não se esqueça, que já vai tarde.


    Dia 5 de Fevereiro de 2024

    De repente, todos estão preocupados com o estado da imprensa, sobre a crise da imprensa, os males da imprensa, e mais não sei o quê da imprensa. E assim sendo, por que não haveria o Centro de Arbitragem Administrativa de encaixar numa sua conferência – dedicada à política da Justiça e ao mediatismo dos casos judiciais – um tempinho para contribuir para uma reposta à magna questão: “Para onde vai o jornalismo?

    Ora, poupem o vosso tempo. Não é preciso ir assistir, porque o programa dá já a resposta, quer no formato, quer nos intervenientes: em meia hora, “Para onde vai o jornalismo” é, basicamente, uma entrevista (como é apresentado) feita por André Macedo a Nuno Santos.

    Sucede que André Macedo – que andou a cirandar, não se sabe por que méritos, pelas direcções do Diário de Notícias e da própria RTP, entre outros lugares de topo em redacções – já nem sequer é jornalista, sendo consultor de empresas de comunicação (sobretudo de apetecíveis farmacêuticas que se fartam de fazer parcerias comerciais), apesar de quando em vez surgir a comentar assuntos na imprensa (de certeza absoluta de forma isentíssima). Eis o futuro do jornalismo: alguém que fez pela vida aproveitando-se do jornalismo, acaba numa empresa de consultadoria de imprensa a entrevistar um jornalista, neste caso Nuno Santos, director da CNN Portugal.

    André Macedo, no canto inferior direito de um painel de comentadores da CNN Portugal, onde Nuno Santos é director editorial.

    Quer dizer: Nuno Santos é, na verdade, um jornalista, mas desde 2011 só ‘de vez em quando’. Na última década, tem sido mais executivo e produtor de conteúdos do que propriamente jornalista – e isso também mostra “para onde vai o jornalismo”.

    Esteve na África do Sul entre 2013 e 2016 como director de conteúdos de um conglomerado de media – onde “a sua paixão e os seus conhecimentos sobre o mundo das telenovelas e do futebol” foram muito elogiados –  e depois seguiu para Espanha para fazer as mesmas tarefas por mais uns anos. Está agora, depois de ter ido montar o Canal 11 da Federação Portuguesa de Futebol e de ser director-geral da TVI (um cargo não-jornalístico), como director editorial da CNN Portugal. Tanto é assim que só muito recentemente Nuno Santos recuperou a sua carteira profissional de jornalista, tendo agora uma numeração (7185) próxima dos ex-estagiários.

    Portanto, sem dúvida, muito oportuno e esclarecedor este evento do Centro de Arbitragem Administrativa: André Macedo e Nuno Santos foram bem escolhidos, embora provavelmente fosse mais adequado que a ‘rubrica’ se intitulasse: “Olhem para onde levámos o jornalismo”.


    SEMANA 05/2024

    Dia 3 de Fevereiro de 2024

    Dizem-me que em antanho, quer dizer em tempos passados, havia a chuva, o sol, o Anthímio de Azevedo, as nuvens, mais as altas e baixas pressões, mais o Costa Alves, mais o anticiclone dos Açores, mais as tempestades e furacões, mais o Costa Malheiro, mais os aguaceiros e as geadas, mais a Sofia Cerveira para algegrar as vistas nos anos 90, e antes a Teresa Abrantes, mais ondulações e mar alterado, mais o José Figueiras, e mais relâmpagos e trovoadas, e mais um sem número de simples fenómenos meteorológicos, que, no passado, nos orientavam, com muita probabilidade de erro, sobre se se deveria levar ou não chapéu de chuva, ou mais ou menos agasalho, também consoante os doutos conselhos das mãezinhas.

    Mas agora, que há todos os satélite e computadores, potentíssimos, já não temos apenas chuva ou sol, vento ou acalmia. Agora temos também a Filomena Martins, directora-adjunta do Observador que é, sem dúvida, a grande jornalista especializada em assuntos meteorológicos, na variante “rio atmosférico”.

    silhouette of trees and purple lightning

    De facto, não sei como ainda sobrevivemos a este ‘novi-clima’ com tanto “rio atmosférico” anunciado pela ‘meteojornalista’ Filomena Martins. Ou, na verdade, não sei como sobreviver à própria Filomena Martins.

    No seu currículo noticioso mais recente, encontro seis notícias a titular o famigerado “rio atmosférico”, sempre num estilo mui peculiar: “Portugal vai ser regado por um rio atmosférico. Vem aí muita chuva já esta terça-feira e deve ficar até meio da próxima semana” (17/10/2022); “Oscar: vem aí uma tempestade rara para esta altura do ano. E pode trazer um ‘rio atmosférico’ na quarta-feira” (4/6/2023); “Uma frente Atlântica, duas tempestades e a hipótese de um rio atmosférico. A chuva volta esta sexta-feira, 13” (11/10/2023); “Rio atmosférico atravessa centro do país. Avisos da proteção civil para chuva e vento: sete distritos sob aviso laranja” (25/10/2023); “Quinta-feira chega um rio atmosférico. E a partir de sexta-feira, dezembro entra gelado” (29/10/2023); “Vem aí mais um rio atmosférico esta quinta (há três distritos sob aviso laranja e cinco a amarelo). Mas o frio vai embora” (5/12/2023); “Um rio atmosférico no final da semana. E um Carnaval molhado e já com frio” (2/2/2024).

    E não são apenas os “rios atmosféricos” que a ‘nossa’ Filomena Martins nos concede para nos assustar.Há tudo, menos uns aguaceiros, ou um frio de rachar; já nem temos direito a um calor de ananases, nem tão-pouco a uma saraivada de partir janelas. Nos textos da Filomena Martins, temos sim, além dos rios atmosféricos, as ciclogéneses explosivas, os ciclones bomba e até os comboios de tempestades. Tudo pavoroso. Um Armagedom.

    painting of man walking down a road holding umbrella

    Mudemos, portanto, a protectora do mau tempo, a Santa Bárbara, certamente incapaz de nos precaver contras os malefícios de tamanhas mudanças meteorológicas. Elejamos, em segura alternativa, a Santa Filomena, e oremos a preceito:

    Ó Santa Filomena, que sois mais forte que as torres das fortalezas e a violência dos rios atmosféricos, fazei com que as ciclogéneses explosivas não me atinjam, os ciclones bomba não me assustem e o comboio de tempestades não me abalem a coragem e a bravura“.


    Dia 1 de Fevereiro de 2024

    Os números! Ai os números, esses malvados que interagem com uma coisa chamada Matemática que serve apenas para infernizar a vida de muitos jovens que, fugindo deles (números) e dela (Matemática), escolhem Letras, e em seguida, em estudos superiores (upa! upa!), acabam por se sentar em Comunicação Social, e daí a nada estão a escrever em jornais onde o 8 e o 80, para eles, são iguais. E quem diz 8 e 80, também pode dizer um e mil.

    Ora, é exactamente um erro de 1.000 que, em catadupa, a nossa imprensa cometeu quando ontem quis falar das exportações de canábis medicinal. Ainda no passado mês de Outubro, o Jornal de Notícias tinha falado sobre o tema, com dados do Infarmed, onde se destacou “os 9271 quilos exportados no ano passado [2022]”, acrescentando-se ainda que os números mostravam não haver “sinais de abrandamento”.

    Ora, a nossa Agência Lusa decidiu actualizar a notícia, com dados finais de 2023, e vai daí, pimba: escolheu alguém que mete pouco tabaco na ‘coisa’, e saiu-lhe porcaria, transformando Portugal numa espécie de Afeganistão de outros tempos. Com efeito, o jornalista da Lusa, certamente por uma névoa nos seus neurónios, não achou estranho que, de repente, se andasse a produzir em Portugal 26.000 toneladas de canábis medicinal. Atenção: notem: 26.000 toneladas. Aqui por casa não se fuma, mas 26.000 toneladas são 26.000.000 quilogramas (26 milhões de quilos) ou 26.000.000.000 gramas (26 mil milhões de gramas). Isto dava para muitas trips, presumo.

    Presumo, não: vamos a contas, mas sem a ajuda do jornalista da Lusa. Como um douto acórdão ensina, um ‘cigarrinho’ feito a preceito leva 0,5 gramas; assim, a produção cá do burgo daria para 52 mil milhões de ganzas, mais de seis ganzas por cada alminha desta Terra. E ainda dá para meia, compartilhada com um parceiro, para se ser preciso. E isto, hélas, incluindo crianças e velhos.

    Nenhuma alminha – leia-se, editor da Lusa – reparou neste disparate, e pior: ao belo estilo do churnalism vai daí e acaba tudo publicado, sem ninguém mais reparar, em tudo o que é jornal da praça (Diário de Notícias, Observador, Expresso, Eco, etc.) como se fosse verdade que Portugal exportou 26.000 toneladas, quando, na verdade, foram apenas 26 toneladas (ou seja, 26.000 quilogramas). Mais tabaco, por favor!


    Dia 31 de Janeiro de 2024

    Se achavam que a Nelma Serpa Pinto, a ‘cara bonita’ da SIC Notícias, atingira o zénite na famosa entrevista em que encalacrou Pedro Nuno Santos, desenganem-se. Muitos e elevados voos se lhe auguram. Ou agoiram, acho eu.

    Um deles foi ontem, como moderadora de um ‘estranho’ debate, em prime time da SIC Notícias, sobre longevidade, que é tema agora mui querido da estação e do jornal (Expresso) da família Balsemão. Nelma brilhou como sempre, colocando em discussão a situação dos pobres velhos sem médico de família, daqueles que caíram que nem tordos no início deste Inverno, os lares inumanos e tantos outros temas candentes da Terceira Idade… Nah! Nanja. Foi um debate fofinho. Tinha de ser um debate fofinho. Até porque àquela hora ainda havia crianças levantadas.

    Avise-se. Aquele debate em tom fofinho de prime time na SIC Notícias (com uma jornalista em espaço informativo), ou ainda as dezenas de artigos sobre longevidade no Expresso nos últimos tempos, nada tem a ver com a existência de uns desinteressados ‘parceiros de projecto’ que dão pelo nome de Novartis (farmacêutica) e Fidelidade (seguradora).

    Certamente, que sem este ‘apoiozito’ (misturado com uns cobres) teríamos visto à mesma a Nelma a moderar aquele debate fofinho com aquelas sumidades, onde se destacavam a ex-ministra da Saúde e candidata a deputada pelo PS, mais um coordenador de um projecto governamental, mais uma demógrafa com ligações à DGS.

    Acho que daqui a umas semanitas, a Nelma sobe ainda mais alto, e irá moderar mais um debate na SIC Notícias, sempre em prime time, e em espaço informativo, com a bênção do ‘mano’ Costa (distinto jornalista), desta vez sobre a pesca do bacalhau… com o apoio da Riberalves, da Oliveira da Serra, do Zêzerovo, da Cooperativa Agrícola de Alhos Vedros e da Casa Ermelinda Freitas…


    Dia 30 de Janeiro de 2024

    Dizem-me que o presidente do Sindicato dos Jornalistas escreve n’A Bola, mas não consegui apurar se se dedica mais a desportos de pés ou de mãos. Pouco interessa. O mais relevante é dizer que está em crise. Neste caso, “o mais relevante é dizer que está em crise” tem três leituras possíveis: pode-se aplicar ao presidente do Sindicato dos Jornalistas, ao próprio Sindicato (por metonímia) e ao jornal A Bola. E todas são verdadeiras.

    Já quanto ao sentido de um comunicado de imprensa do Sindicato dos Jornalistas sobre a violência contra estes profissionais, hoje divulgado, onde se fala de um deles que foi “agarrado pelas pernas e pelos braços”, para se ser claro, será obrigatório dizer que tamanha falta de clareza (se involuntária) se deveu ao facto de ter sido escrito com os pés. Senão, atendamos à seguinte frase desta ‘peça’:

    A agressão a um jornalista do ‘Expresso’, que foi retirado à força, agarrado pelas pernas e pelos braços, de uma conferência na Universidade Católica, em Lisboa, com a participação de André Ventura, e a agressão a uma equipa de reportagem do Porto Canal, à porta de uma fábrica em São João da Madeira, são os dois exemplos mais recentes das ameaças físicas à segurança dos profissionais da Comunicação Social, comunicadas no âmbito do programa sobre a segurança dos jornalistas da OSCE.

    De facto, há aqui duas hipóteses sobre a participação de André Ventura, a saber:

    1) “A agressão a um jornalista do ‘Expresso’, que foi retirado à força, agarrado pelas pernas e pelos braços, de uma conferência na Universidade Católica, em Lisboa, com a participação de André Ventura […]”

    2) ou simplesmente “[n]uma conferência na Universidade Católica, em Lisboa, com a participação de André Ventura […]”, onde, causado por outras pessoas, entre as quais um militante da Iniciativa Liberal, ocorreu “a agressão a um jornalista do ‘Expresso’, que foi retirado à força, agarrado pelas pernas e pelos braços […]”

    No primeiro caso, o André Ventura é um cúmplice.

    No segundo caso, o André Ventura é um azarado.

    E o jornalismo, assim escrito, é um desastre, independentemente de o visado ser o dono da malograda Acácia, ainda mais quando sai da pena do Sindicato dos Jornalistas, que deveria dar o exemplo de rigor, de clareza, de objectividade e de isenção. O jornalista que escreveu este comunicado merecia, metaforicamente falando, ser “agarrado pelas pernas e pelos braços” e arrastado para longe. Com doçura, claro.


    Dia 29 de Janeiro de 2024

    Uma simpatia, a Cristina Freitas. Empática também. Parece que esteve para ser obstetra e depois veterinária. Acabou jornalista, na SIC Porto, com a carteira profissional 5393, predicados suficientes para hoje estar a ser mestre-de-cerimónias do Encontro Fora da Caixa, um evento que serve para a Caixa Geral de Depósitos também ‘financiar’ de forma completamente descomprometida a nossa independente imprensa. Bem esteve, por isso, a nossa empática e simpática Cristina Freitas quando, ao chamar Paulo Moita de Macedo, o CEO da benemérita CGD, vislumbrou uma plateia indiferente e lhe deu, pois bem, um raspanete a preceito: “uma salva de palmas, por favor!” É assim mesmo. A Imprensa e o Jornalismo nasceram para isto: para bater palmas a quem merece!


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  • O ‘terrível’ mercado livre

    O ‘terrível’ mercado livre


    Recentemente, a Autoridade da Concorrência condenou diversos grupos laboratoriais e uma associação empresarial ao pagamento de 57,5 milhões de euros por formarem um cartel que fixou preços e repartiu o mercado de análises clínicas e testes COVID-19 entre 2016 e 2022.

    Segundo a fundamentação da sanção, o referido cartel aumentou o poder negocial dos laboratórios, obstaculizando qualquer tentativa de revisão de preços. O processo teve origem num pedido de clemência, resultando na dispensa de coima para a empresa denunciante.

    A Hormofuncional/Alves & Duarte (grupo Affidea) foram condenadas a pagar uma coima de 26,1 milhões de euros, a coima aplicada à Joaquim Chaves foi de 11,5 milhões de euros, a Germano de Sousa terá de pagar 9,3 milhões de euros, a Labeto 1,4 milhões de euros, a Redelab (e Jorge Leitão Santos) 300 mil euros e a ANL 10 mil euros. A a Synlab e a Unilabs decidiram pagar voluntariamente as coimas, respectivamente de 5 milhões e 3,9 milhões de euros.

    man in black crew neck shirt

    De imediato, houve um verdadeiro rasgar de vestes, com conhecidos políticos, comentadores e jornalistas a gritarem: “O mercado tem de ser controlado, o mercado deixado à solta é um perigo.”

    A mais exuberante, como sempre, foi a líder do Bloco de Esquerda, famosa por uma narrativa duvidosa sobre a possível expulsão da avó de uma casa com renda de favor, que nos presenteou com esta jóia de retórica e demagogia: “…cinco laboratórios privados foram multados pela Autoridade da Concorrência por terem formado um cartel, ou seja, enquanto no SNS todos os profissionais trabalhavam dias e horas a fio para salvar o país – na verdade os hospitais nunca estiveram tão vazios -, há cinco laboratórios privados que se sentam a uma mesa, não para discutir como salvar vidas (sic), mas para discutir como extorquir o Estado num momento de aflição e de preocupação.”

    Conclui de forma dramatúrgica a sua apreciação ao comportamento das cinco empresas multadas: “Se não nos pagarem o que nós queremos, nós não fazemos testes. Se não nos pagarem o que nós queremos, não fazemos as análises. Pensemos no que seria um SNS subjugado a este tipo de extorsão!”

    É imperativo esclarecer a senhora Mortágua do seguinte: num mercado verdadeiramente livre, desprovido de barreiras à entrada e à saída, onde não há regulação ou extorsão institucionalizada – mais conhecida por impostos –, a possibilidade de formação de um cartel é praticamente nula.

    Em tais condições, a resposta natural a lucros elevados é a entrada de novos concorrentes no mercado. A formação de um cartel pode até ser tentada, mas é inevitável o surgimento de novos competidores que rompam com o cartel, ou mesmo de membros do cartel que, ante a ameaça de novos entrantes, passem a ignorar o acordo. A dinâmica de um mercado livre torna a manutenção de cartéis insustentável e autodestrutiva, já que o incentivo ao lucro rapidamente desmantela qualquer tentativa de controlo colectivo de preços.

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    A intervenção estatal é a verdadeira facilitadora da formação de tais cartéis, podendo-se materializar de várias formas. Em primeiro lugar, temos o licenciamento, que limita de imediato o número de empresas no sector. O processo de obtenção de uma licença, regra geral, é frequentemente complexo e oneroso, desincentivando a entrada de novos competidores, o que reduz a concorrência e fortalece o poder de negociação entre as poucas empresas licenciadas.

    Também temos a regulação excessiva, exemplificada no sector financeiro, que eleva brutalmente os custos de entrada e operação nesta actividade. A conformidade com uma legislação intricada exclui pequenas empresas, que não possuem recursos suficientes para arcar com tais despesas. A forma mais eficaz de realizar esta exclusão é através da criação e proliferação de reguladores, que recebem autorização dos parlamentos para legislar sectorialmente – aqui não há representantes eleitos, apenas burocratas a decidir as regras.

    Este cenário de regulamentação desmesurada não só onera desproporcionalmente as pequenas empresas, tornando inviável a sua participação no mercado, como também favorece as grandes empresas que possuem os recursos necessários para navegar por este labirinto regulatório. Assim, cria-se um ambiente onde a competição é sufocada e a inovação é estagnada, tudo em nome de uma pretensa protecção do consumidor que, na prática, serve as grandes empresas já estabelecidas no mercado e permite a atribuição de salários milionários aos reguladores – hoje, os tachos proliferam por estas bandas.

    Há ainda o confisco direccionado a produtos específicos, como é caso, por exemplo, dos combustíveis fósseis, onde cerca de 60% do preço de um litro vai para o chefe da máfia, vulgarmente conhecido como Estado. Se um mercado vale 100 unidades monetárias, representando o que o consumidor pode pagar, no entanto, os operadores do sector recebem apenas 40 unidades monetárias, ainda antes de começar a pagar salários, infra-estrutura e matérias-primas, entre outros custos, o que significa a sobrevivência apenas das empresas gigantes, há muito estabelecidas e com vastos recursos financeiros.

    Outra forma perversa de intervenção estatal consiste na subsidiação selectiva de certas empresas ou indústrias, criando uma desigualdade concorrencial flagrante. Essa prática permite que as empresas favorecidas pelo Estado dominem o mercado e formem cartéis. Um exemplo notório são as empresas de comunicação social – hoje, apenas canais de propaganda estatal – que apresentam resultados financeiros desastrosos há anos, absolutamente falidas, mas que continuam a operar graças às subvenções estatais, evitando assim a sua saudável eliminação do mercado.

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    Existem outras formas de intervenção estatal que incentivam a criação de cartéis, como é o caso das concessões a monopólios privados. Tome-se como exemplo o sector dos casinos, onde a concessão consiste na atribuição de um monopólio numa determinada região por um período específico, em troca de um gigantesco pagamento; uma prática acessível apenas a empresas milionárias e “amigas do grande chefe”.

    Podia continuar a enumerar infindáveis truques e golpes de conluio entre o chefe da máfia e os seus predilectos jagunços, mas importa agora concentrarmo-nos nas multas milionárias ao negócios das análises clínicas que provocou o rasgar de vestes de muitos nos últimos dias. Neste caso em concreto, o cartel foi criado por um licenciamento complexo e oneroso.

    Considere-se o n.º 3 do artigo 11.º da Portaria n.º 392/2019, onde são listados os elementos instrutórios necessários para a obtenção de uma licença no negócio de análises clínicas, em particular o procedimento ordinário. Destacam-se a documentação técnica – projectos de arquitectura e especialidades! – e a lista de especificações técnicas dos equipamentos a utilizar – como se o empresário fosse incapaz de seleccionar o equipamento adequado sem a ajuda e a validação dos burocratas.

    Além disso, exige-se a identificação e qualificação do pessoal técnico – ou seja, a empresa já deverá ter muitos técnicos no seu quadro, obviamente a receber salário, desconhecendo se irá obter a licença e quando! –, a contratualização de seguros de responsabilidade civil – claramente para encarecer ainda mais o processo – e, cereja no topo do bolo, a entrega de “outros documentos”, julgados necessários pelas autoridades competentes – veja-se a arbitrariedade da situação!

    Este conjunto de requisitos não apenas onera desproporcionalmente as empresas que desejam entrar, especialmente as pequenas e médias, mas também cria um ambiente onde a incerteza e a arbitrariedade reinam. A exigência de “outros documentos” à discrição das autoridades competentes é um exemplo claro de como a regulação pode ser usada para exercer controlo excessivo e imprevisível sobre os empreendedores.

    A emissão da licença obriga a uma inspecção às instalações pelas autoridades competentes “para verificar se todas as condições técnicas e de segurança estão cumpridas”! Além disso, as autoridades podem alegar ad aeternum que os elementos apresentados pela empresa que solicita a licença não estão completos, fazendo com que o processo possa arrastar-se por anos a fio – se for indesejável pela pandilha, a coisa irá arrastar-se até à desistência.

    a couple of people wearing gloves and masks and gloves

    Por fim, as licenças não são definitivas e exigem a respectiva renovação ao fim de alguns anos, para que assistamos a novo enxovalho do “malvado privado”.

    Seguramente surgirá nas cabeças lavadas por propaganda estatal a seguinte pergunta: “para proteger a integridade física das pessoas, a saúde e a vida das pessoas, não deverá o Estado assegurar que os privados cumpram determinadas regras, para bem de todos nós?”

    Devo recordar que anteriormente a 1990, a actividade de laboratórios de análises clínicas em Portugal não tinha uma regulamentação específica, esta começou com o Decreto-Lei n.º 217/1989, de 1 de Julho, que visava introduzir o “licenciamento e supervisão por parte das autoridades de saúde e estabelecimento de normas para instalações, equipamentos e qualificação do pessoal técnico.”

    Ou seja, na década de 80 do século passado, quem se recorde, ninguém teve qualquer dificuldade em solicitar uma análise ao sangue num laboratório privado. Como sempre, desde então e ao longo de décadas, as empresas de análises clínicas estabelecidas “compraram” a salvífica regulação aos parasitas que elegemos “democraticamente”, vendido ao gado como um combate ao “mercado selvagem” e “a protecção da sua saúde”.

    Na verdade, a regulação é apenas um meio para a criação de cartéis, impedindo os pequenos empreendedores de entrarem em qualquer negócio – esses, em Portugal, limitam-se a abrir restaurantes, quiosques, lojas de roupa e, em tempos, alojamentos locais! Este modelo regulatório é um artifício cínico e bem orquestrado, destinado a garantir que apenas os amigos do poder possam operar sem a ameaça de concorrência significativa.

    close-up photo of assorted coins

    Na verdade, o que tivemos entre 2020-2023 foi uma pandemia que não existiu, criada a partir de um “vírus invisível”, para justificar um criminoso terrorismo de Estado, que tinha dois propósitos: colocar o gado a testar-se para saber se estava doente, através de um teste que nada testava; coagi-lo a inocular-se com uma substância experimental para não morrer ou ser infectado.

    Foi, assim, criada uma procura inteiramente artificial, em que o padrinho da máfia entregou as ruas a cinco sicários durante três anos, assegurando-lhes lucros fabulosos, através de preços combinados entre si. No final, os lucros foram tão fabulosos que este exigiu uma parte do “excesso” para si: eis as multas milionárias que agora conhecemos!

    Luís Gomes é gestor (Faculdade de Economia de Coimbra) e empresário


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  • Desporto feminino & Protestos no Reino Unido

    Desporto feminino & Protestos no Reino Unido


    Alterações Mediáticas, o podcast da jornalista Elisabete Tavares sobre os estranhos comportamentos e fenómenos que afectam o ‘mundo’ anteriormente conhecido como Jornalismo. No quarto episódio, analisa-se a ausência de contexto e até algum amadorismo na cobertura da polémica em torno de duas atletas autorizadas a competir no boxe feminino nos Jogos Olímpicos. Também em análise, a cobertura mediática dos protestos no Reino Unido.

    Acesso: LIVRE, mas subscreva o P1 PODCAST com um donativo mensal de 2,99 euros. Ajude o PÁGINA UM a amplificar o seu trabalho.


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