Etiqueta: Da Varanda da Luz

  • Futebol Clube do Porto 1.0

    Futebol Clube do Porto 1.0


    Vislumbro – melhor dizendo, até diviso – relevantes vantagens de se ser cronista. De futebol ou de outra qualquer coisa, mas neste caso falo nas belas-artes de matraquear bitaites sobre bola, que ademais nem sequer têm de ser sobre tácticas e incidências, sobre os quais agora me agarro por desfastio, descontração e descompressão.

    Por exemplo, por uma crónica futebolística, se eu meter o Lagardère (não é a Lagarde) no meio do título, para caracterizar uma forma destemida e irresponsável de gestão do jogo pelo árbitro, certamente não terei uma queixa na Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) nem outra a ser tratada pelo Provedor do Adepto do Rio Ave, que por uma daquelas circunstâncias infelizes preside também ao  Conselho Deontológico do Sindicato dos Jornalistas (CD-SJ) e, como a vida é feita de engulhos, há jovens que ainda o têm como professor.

    Por outro lado, presumo que, mesmo vindo a escrever de forma desfavorável sobre um qualquer agente desportivo, e venha ele a ser alvo de um inquérito disciplinar, não fará certamente como o Dr. Filipe Froes que por ter sido visado num inquérito disciplinar pela Inspecção-Geral das Actividades em Saúde (IGAS), no decurso de notícias em outros jornais, veio aos autos acusar-me de ser eu um dos “jornalistas negacionistas difamadores”, e daí difama-me, a despropósito, incluindo no seu processo uma queixa contra mim na ERC, estúpida e ridiculamente apresentada por ele próprio, e ainda, não satisfeito, um vergonhoso parecer do CD-SJ que vale tanto como quem o pariu: nada. Nem chegou a ser um aborto; saiu de lá o produto de uma gravidez histérica… Isto está tudo ligado – sou eu a dizer, que nem sequer sou de teorias da conspiração.

    Falemos de bola.

    (entretanto, lá começou o jogo; ambiente fantástico, mas o estádio não está lotado, pelo menos vislumbro, ou diviso, umas clareiras, sobretudo atrás da baliza do lado sul)

    Mas, já agora, a grandíssima vantagem de se ser cronista é aqui poder prescindir de certos princípios de isenção e eliminar exigências de credulidade, e daí, mesmo num escrito que será apenas publicado ao fim de 90 minutos – mais os 20 prováveis minutos de acréscimo que o Futebol Clube do Porto necessitar se lhe estiver a correr mal a vida –, poder usar, e até abusar, de uma certa linguagem mais criativa. E também me socorrerei de fontes anónimas, das mais suspeitas, como convém a uma crónica pouco objectiva e mais recreativa.

    (os very lights já estão a fazer das suas, e daqui da Varanda da Luz, uma fumaça das diabos enevoa o relvado; lá em baixo, jogo repartido, mas ainda não tive grande tempo para olhar o gramado)

    Portanto, tenho desde já que antecipar que, por fontes anónimas mas conhecedoras dos meandros mais esotéricos, me foi garantido que isto hoje vai dar para o torto.

    (não vão acreditar em mim, mas estava a escrever a palavra “torto” e o Fábio Cardoso dá uma sarrafada no David Neres, que se escapulia pela ala esquerda: directo para o balneário. O Cardoso, não o Neres, porque este recuperou. Estranho que em quatro minutos de sururu o Sérgio Conceição se mantenha no banco… O Porto já está a ganhar 1-0 em cartões vermelhos… Entretanto, livre sem perigo)

    Mas qual a razão de eu antecipar, por via das minhas fontes esotéricas, que isto – leia-se, jogo – vai dar para o torto, quando nem sequer terminou o primeiro quarto do jogo (ou o primeiro quinto, se estimarmos já os prováveis descontos à Porto)? E mais ainda: sem estar o Pepe a jogar?

    Por ser Lua cheia. Ainda mais uma super-Lua cheia, a última do ano, como bem avisa o sempre atento Público, mais rigoroso em assuntos astrológicos – ou astrais ou astronómicos, eu sei lá, para eles deve ser o mesmo – do que a quantificar verdadeiramente os desperdícios financeiros dos negócios das vacinas.

    Bem sei não ser conveniente a um jornal sério, e defensor da Ciência, como se arroga o PÁGINA UM, alegar agora com questões astronómicas, às quais estão também associadas assuntos da Astrologia – embora, hélas, o nosso Galileu Galilei até foi, além de tudo aquilo que se sabe, um profundo estudioso dessas matérias ditas esotéricas, sendo famosas as cartas astrológicas que delineou para as suas filhas e muitos poderosos.

    (ui, isto está mesmo a ficar lindo… Rafa a meter o turbo, pelo lado direito, uma alegada sarrafada de David Carmo, que corta um possível isolamento. O árbitro dá apenas amarelo; é chamado pelo VAR para possível vermelho. João Pinheiro mantém a decisão, mas dá outro amarelo a Taremi por protestos; temos assunto para a semana nas tertúlias futebolísticas)

    Enfim, já nem vale a pena estar a fazer previsões sobre o caldo entornado, porque agora já só falta o Benfica marcar um golo…

    (e ia sendo um, chuto em esforço de David Neres ao lado, com Rafa a estorvar)

    … para que tudo fique num pandemónio.

    Neste momento, em abono da verdade, já só espero que não se comprove as “previsões” do cronista do PÁGINA UM, Diogo Cabrita, que no Facebook ainda agora vaticinou: “O meu sonho agora era: jogo quezílento, três vermelhos, estádio da Luz interdito por very lights, Sérgio Conceição três jogos de suspensão, resultado final dois a dois, adeptos dos dois lados tristes, frango do ucraniano…”

    (intervalo… ah, entretanto, lembram-se da última crónica sobre o fresquinho de Setembro, que convidava a trazer um casaquinho da próxima vez? Assim fiz: está um calor de ananases!)

    Entretanto, entre descer esta Varanda da Luz, de onde vos escrevo e o reabastecimento de água, passa-se o intervalo, Então ‘amlá ver‘ – como o nosso cronista Tiago Franco, indefectível benfiquista diz que o António Costa fala – esta segunda parte… Ou isto anima ou vou ter de encontrar tema paralelo para dissertar… Vou dar uns minutos, entre pôr o olho no relvado, onde o Benfica porfia poucochinho, e as fotos que vou seleccionar, entre as quais um muro das lamentações em redor da estação de metropolitano do Alto dos Moinhos, onde um montão de benfiquistas se foi lamentar, fisiologicamente falando, de ser humano. Em pé, claro…

    (já agora, sobre os meus colegas de varanda de hoje, isto é, os da bancada de imprensa, tudo muito calmo e contido. E o Benfica a começar a perder oportunidades, agora mesmo foi o Otamendi a rematar para fora sem oposição, às tantas a recordar-se dos cortes defensivos quando estava no Porto; e antes disso, o Diogo Costa a fazer uma excelente mancha a remate subtil de Neres)

    Enfim, ou isto melhora, ou vai haver noite desagradável, e não é por ser eu benfiquista, que somente satisfeito se fica com uma vitória, ainda mais sobre o grande rival. Digo isto porque, enfim, vivendo um benfiquista com uma portista, mesmo se ma non troppo

    (e pronto: goloooooo! Di Maria! Grande regresso. O homem está a fazer aquele percurso do bom filho à casa retorna…. Agora é que isto vai aquecer. Imaginemos a cabeça do Sérgio Conceição… Ouve-se pirotecnia; o que significa que a Liga esfrega as mãos com a multa a aplicar ao Benfica; talvez devesse ser como noutros países para haver mais controlo de entradas)

    Esta crónica está a ficar mesmo gira, pelo menos para mim, porquanto se começo a dissertar sobre um tema, sucede algo que muda o rumo.

    (entretanto, mais uma “boa” intervenção do Otamendi: remate isolado na grande área, depois de uma jogada de canto estudada, mas para cima. Com o Otamendi, como há uns anos, a baliza do Porto fica segura!)

    Queria eu dizer que, coabitando benfiquista com portista – um escândalo o wokismo não defender que eu seja benfiquistO e um homem como o Luís Gomes não seja um portistO; a sociedade tem muito a evoluir… – nunca um empate, parecendo um dividir o mal pelas aldeias, é um bom desfecho. Um empate vale sempre como derrota, pelo que haja sempre um vencedor, e fé em Deus para não irritar em demasia o perdedor…

    (entretanto, três substituições em simultâneo do Benfica ao minuto 84, incluindo Di Maria para a ovação, e Roger Schmidt a congeminar estratégia de contenção para os últimos 30 minutos de jogo…)

    Veremos entretanto como será a minha recepção caseira depois dos 96 minutos (deram só seis minutos… mais um escândalo que alimentará debates pela semana), se janto, na verdade, porquanto a porção do farnel do Benfica aos jornalistas se esfumou sem se perder a esfaima.

    (e pronto, antes de acabar, o Francisco Conceição dá uma cuzada em pleno ar contra o Otamendi… foi cómico, porque o filho do Sérgio Conceição tem um metro e setenta, enquanto o brutamontes do Otamendi, que lhe mandou beijinhos em troca, um metro e oitenta e três. Serenou tudo; afinal não se confirmaram os prognósticos da super-Lua cheia)

    E pronto: סליתא וסליתא – está consumado. Giro: o WordPress aceita caracteres de aramaico.

    (e a equipa do Futebol Clube do Porto lá foi fazer o seu número de provocação, com gritos de união, junto às claques do Benfica; coro normal de assobios e vaias dos adeptos benfiquistas, muito teatro, mas eu até compreendo os jogadores e equipa técnica do FCP: os assobios dos nossos antagonistas, mesmo quando parecemos derrotados, são o que nos dá força para continuar… portanto, força, Porto: queremos ganhar-vos na segunda volta, convosco fortes, mas, claro, atrás de nós na classificação. Como agora justamente estão…)

    Tenham todos uma boa noite. Mesmo os portistas. E sobretudo os portistas. E sobretudo um aviso: isto é só um jogo; coisas a sério é aquilo que vou escrevendo durante os dias da semana… Não levem tão a sério o futebol.

  • Vitória de Guimarães 4.0

    Vitória de Guimarães 4.0


    A experiência é um posto – um lugar-comum que, vistas as coisas como são, se usa (o lugar-comum) por isso mesmo: por se aplicar em muitos casos, e ainda melhor no caso em apreço deste cronista, eu, que, ainda esta tarde, munido da experiência, andei à caça dos abusos em ajustes directos em contratos públicos, e agora aqui estou, muito célere na viagem, graças à experiência, de já saber todos os ritos, neste preciso momento, a ver a aquilina Vitória (que já foi buzzard) esvoaçando.

    Sinal, portanto, de chegada bem antes do apito inicial, e sem ter de encetar jornada duas horas antes para compensar percalços e engulhos. Ou seja, já calejado pela experiência anterior, mais lesto e em passo decidido me vi, e mais quem quis ver (que deve ter sido só os seguranças), assomar à tribuna de imprensa, não direi em apoteose, mas já munido do corriqueiro e usual, mas mesmo assim aconchegante, lanchezinho para recuperar as energias derretidas nas escadarias. Não tive de descer para o ir buscar como há duas semanas, que me esquecera de pedir a senha.

    Mas nem me estava muito a lembrar de experiências deste jaez; nesta minha novel e nobre função de cronista da bola tenho ainda muito a aprender, a saber: trazer um casaquinho a partir de Setembro, que aqui na Varanda da Luz, ventando, já faz um fresquinho incómodo…

    (entretanto, começa o jogo; podem ver a concorrência para conhecerem as formações iniciais das equipas…)

    Na verdade, falava mais na “bagagem” que trouxe, na mochila, para tema a propósito, ou ter um tema de propósito: sendo a peleja contra Vitória Sport Clube, achei que poderia haver algum alinhamento favorável, não sei bem a quê, se trouxesse o livro saído do prelo e dado sogrinha mesmo à estampa pela Kathartika, uma editora de Guimarães, sobre um certo espanhol do mundo de futebol vítima de alopecia totalis.

    (ai, ai, ai, ai, que o Vitória quase marcava… bola ao poste; estivesse o Vlachodimos na baliza e com o azar do grego seria golo, e o Roger Schmidt culpá-lo-ia da abébia do defesa benfiquista… e às tantas ainda era golo.

    Entretanto, como não posso estar a interromper a escrita em cada parágrafo, acrescento só agora que, minutos atrás, o Di Maria quis fazer um chapéu ao Bruno Varela, mais outro antigo guarda-redes do Benfica algo maltratado, mas saiu-lhe copa baixa).

    Retomando a meada ao fio. Não, não estou a falar do famigerado ou facinoroso Luis Rubiales, mas sim do mais comedido e discreto Roberto Martínez, o agora seleccionador português de quem sei muito pouco, ou quase nada, a não ser que fora um mediano médio do Wigan, e de outros clubes secundários das Terras de Sua Majestade, antes de enveredar pela carreira de treinador da Bélgica, e nos ter eliminado no Europeu de 2020, que afinal foi no ano seguinte. Enfim, estranho mundo da Ludopédia, onde se contratam os generais que outrora nos derrotaram os sonhos…   

    (Goloooo… caraças, grande trivela do Di Maria, e excelente cabeçada de Jorge Fernandes, cuja folha salarial ainda por cima não é assinada pelo Rui Costa mas sim pelo presidente do Vitória de Guimarães, que não sei quem é [fui ver: chama-se António Miguel Cardoso; eu desde o filósofo Pimenta “o que hoje é verdade, amanhã é mentira” Machado que pouco sei das lideranças vimaranenses)

    Tenho a insuspeita esperança de não ter tempo de dar uma leitura ou folheadela nesta biografia do espanhol, escrita por um jornalista belga (Benoit Delhauteur), mesmo se adianto que, por curiosidade, já vi que tem bonecos (fotos) e que termina na actualidade, porquanto fala no CR7, e garante já que Portugal está apurado e que, por isso, aparentemente o jogo da próxima na Eslováquia será a feijões. “Marquemos então encontro para assistir ao episódio seguinte da saga, na Alemanha, onde terá lugar o próximo Campeonato da Europa, em 2024” – esta é a derradeira frase…

    (tenho um feeling que não vou ter tempo, porque entretanto um [imprudente] golpe de artes marciais do João Mendes sobre o Otamendi, com o competente cartão vermelho subsequente, leva-me a pensar que isto hoje vai ser mais fácil do que as três vitórias do Vitória nas três primeiras jornadas do campeonato poderiam pressagiar)

    Até porque, na verdade, trazia aqui preparado um discurso sobre treinadores espanhóis que, no caso do Benfica, não trazem boas memórias: José António Camacho, que andou por aqui duas épocas há duas décadas, não conseguindo melhor do que o segundo lugar na Liga – o que para um benfiquista que se preze é um rotundo fracasso –, e Quique Flores, que, em 2008-2009, melhor não fez, com um triste terceiro lugar, apesar do então apoio da Orsi Fehér

    (olha, dito e feito: golo do Di Maria. Isto promete ser jogo fácil, até porque, enfim, mesmo em ritmo pouco intenso [isto sou eu aqui a dizer, refastelado numa cadeira], o Benfica está agora a jogar bem, com bom entrosamento [caramba, já escrevo futebolês à segunda crónica] e objectividade)

    Diga-se, também, que o Porto teve os “seus” espanhóis: estava aqui a pesquisar, na memória e na Internet, e apanho o Víctor Fernández, na época de 2004-2005, e sobretudo o Julen Lopetegui, entre 2014 e 2016, que deveria ter ficado mais anos para maior felicidade do Jorge Jesus aqui na Luz.

    Confesso que sou, porém, um optimista, porque, mesmo trazendo algum trabalho feito de casa e alinhavado umas ideias sobre aquilo que seria uma crónica sobre este jogo contra o Vitória, esta se mostra difícil de compor quando se tem de “tener un ojo al gato y otro al garabato” – expressão que melhor fica aqui, não só por andar em castelhanices, mas sobretudo por, desta sorte, evitar o uso do mais problemático “ter um olho no burro e outra no cigano” –, porque as “incidências” até estão a ser agradáveis, e pouco apetece tirar os olhos do relvado.

    (e nem de propósito, o turco Köckü faz um golo de “belo efeito” [estou a ficar lindo, com repetidos idiotismos futebolísticos] ao “fechar do pano” [irra!] já nos descontos, que agora são à meia dúzia, mesmo quando na primeira parte)

    Entretanto, o intervalo sempre serve para ir dando uma mirada no texto já escrito e para sacar incorrecções e gralhas, bem como para complementar um ou outro “apontamento”. E…

    (e… o Aursnes nem me dá tempo para escrever mais um parágrafo para compor melhor a estrutura da crónica, marcando o quarto para o Benfica logo a abrir o segundo tempo. Será hoje o mítico 15 a 0?)

    Isto hoje, de facto, vai ser uma crónica estranha – se é que seria suposto não ser –, o que agrava as expectativas para as seguintes, porque saindo-me mal nesta segunda da presente época, por não conseguir estancar o entusiasmo de lampião por uma noite agradável, acabo por hipotecar as seguintes, porque vou granjear ódios de leitores portistas, sportinguistas – e quiçá, vimaranenses, se forem muitos (acho que não) –, e não demonstro um pingo de equidistância e independência clubística. Ao cuidado da CCPJ e da ERC…

    Que seja! Ganho por 4, ganho por mil.

    Enfim, e logo eu que até estava a pensar, depois de falar mais do livro do Roberto Martínez – ainda por cima com a capa onde se destaca o vermelho e branco, apenas com o dito espanhol com parte da cabeça em perfil –, que ainda teria tempo para abordar a situação financeira do jornal desportivo A Bola, que tem jornalistas e o Sindicato em polvorosa por os novos donos, os suíços da Ringier Sports Media Group, quererem mandar dois terços da força de trabalho para o olho da rua.

    Pudera! A empresa de A Bola está em piores trabalhos do que o Vitória de Guimarães hoje na Luz, e nem sequer vê uma luz salvadora ao fundo do túnel. Pelo que vejo das contas do ano passado (e trouxe os papéis para cotejar o “desastre”), tem um capital próprio negativo de quase 1,7 milhões de euros, contabilizou receitas de 8,6 milhões de euros, e depois gastos de cerca de 3,6 milhões de euros para pessoal e um pouco mais de 3,9 milhões de euros em serviços externos, além de um serviço da dívida (devido ao elevado endividamento) que lhe “comeu” o parco valor positivo dos resultados operacionais. Tem ainda uma dívida ao Estado de 252 mil euros. Já vimos pior, não vimos, Luís Delgado? Já vimos pior, não vimos, Marco Galinha?

    A empresa de A Bola parece uma equipa de futebol português, com a diferença de que a administração de um clube de futebol não despede dois terços dos jogadores esperando que as receitas se mantenham e os lucros venham… Enfim, voltarei ao tema nas páginas normais do PÁGINA UM sobre a situação financeira das empresas de media.

    (depois do quarto golo, tudo mais calmo… vou agora descansar um pouco, e desfrutar da Varanda da Luz, enquanto termino o lanche)

    Entretanto, isto animou aqui para os lados da tribuna da imprensa, ao minuto 76, onde estou rodeado por radialistas, que agora confirmo serem garantidamente de Guimarães, porquanto um atabalhoado golo do Vitória acaba de ser celebrado com um entusiasmo semelhante ao relato de Victor Hugo Morales do “El Gol del Siglo”, com que Maradona sentenciou a vitória da Argentina no Mundial de 1986. Enfim, pena que o resultado já estava no 4 a 0; e 4 a 0 continuará, porque o Nélson da Luz (Luz, caramba!, os astros estão todos ao favor da Luz) meteu mão à bola. Valeu pela foto que tirei ao radialista, que até veste vermelho, e que não parecia tão empenhado a gritar golo quando foram os outros quatro do Benfica. E esses valeram…

    (e, passando o tempo, a acertar mais uns pormenores, um penalti a favor do Benfica; Di Maria já com a bola na mão para facturar o bis… e o VAR anula a decisão. Bolas: era uma mão-cheia hoje)

    Fica para a próxima. E por aqui me fico, que ainda se tem de fazer mais uns acertos e caçar gralhas – e eu nem tenho olhos de águia. E meter isto no site do PÁGINA UM ainda demora uns minutos, e se não me despacho ainda me apagam… a Luz.

    Ah! e a próxima crónica, se não me engano, será com o Futebol Clube do Porto… se me deixarem vir ou se me concederem a devida acreditação.

    As luzes vermelhas, entretanto, ainda continuam acesas, só vejo ali um companheiro em escritas, e eu tenho de regressar a casa para descansar, e estar também com quem desejo estar, que a vida não é só futebol… Digo eu, que não paro de escrever.

  • Estrela da Amadora 2.0

    Estrela da Amadora 2.0


    E pensar que esta tarde estive a revelar as promiscuidades do Dr. Filipe Froes e mais as suas 324 colaborações com farmacêuticas desde 2013 e os 453.635,37 euros arrecadados, fora eventuais prebendas não declaradas no Portal da Transparência do Infarmed… e eis-me aqui, agora, no Estádio da Luz, para assistir ao primeiro jogo em casa do Benfica no campeonato de futebol da época da graça de 2023 e 2024. Numa varanda com boa vista.

    (Chiça: boa vista faz lembrar Boavista e a aziaga segunda-feira passada)

    Meto-me em tortuosos caminhos, seguindo por estes trilhos, quando os que tinha espinhosos já eram. Não exageremos. Meto-me porque quero. Ou sou impelido por certas forças, que não já as minhas. Enfim, “de um abismo ressoa para outro abismo o fragor das tuas cascatas; todas as tuas vagas e torrentes passaram sobre mim.”

    Exagero, mais uma vez. Sempre assim sucederá, prometo, daqui de onde vos escrevo: da Varanda do Benfica, ou da Varanda da Luz – logo me decidirei até ao fim do jogo. Se calhar intercalo. Ou calo-me.

    (entretanto, muito calmo, por aqui. Em 15 minutos, um livre do turco Köckü contra a barreira… e estava eu a escrever isto e quase marcava o Rafa, para grande defesa do guarda-redes do Estrela… e a seguir um remate bem esgalhado de…  acho eu, João Neves, ligeiramente ao lado… continuemos…)

    Portanto, tirando a impossibilidade de exagerar no resultado – que, por aí, terei de ser rigoroso, e isto por agora está num inquietante nulo –, servirá esta primeira crónica para, airosamente, com alguma aisance, assim espero, justificar aquilo que estou para aqui fazendo. E, ainda por cima, escrevendo. E prometendo repetir in saecula saeculorum.

    Primeiro, estou tentando juntar o útil ao agradável, não sabendo bem qual a parte da utilidade e a parte da agradabilidade – e isto, assumindo, por antecipação, que algum proveito e prazer daqui virá. Exige-me o corpo e a mente sair dos árduos labores das investigações jornalísticas, das burocracias, das arrelias, embora temperadas pelos apoios dos leitores (dá-lhes já graxa), e dessa sorte me pareceu ideia acertada aproveitar-me do estatuto de jornalista e sacar uma acreditação que, mais do que poupar dinheiro, me poupa tempo, porquanto o pedido de acreditação se faz em segundos, o levantamento da acreditação num ápice é, e depois um passeio de cão por vinha vindimada até à tribuna de imprensa – e ainda mais com direito a lanche de reforço. Um figo. Quer dizer, o sumo é de pêssego.

    (até porque, neste ínterim, se acumulam oportunidades para o Benfica; temo que o golo surja… ou não… já se escafederam 35 minutos e a asa do cântaro dos homens da Amadora [não lhes chamemos da Porcalhota, à antiga, mesmo se usando nesta narração, um estilo barroco] anda não se escaqueirou na fonte)

    Segundo, tenho o ensejo de me armar em cronista de banalidades e coisas fúteis nesta aventura pela crónica futebolística. Concretizo: não percebo grande coisa de tácticas – embora seja curioso das minudências dos intérpretes da bola (e, portanto, seguirei a novela da bernarda entre o Schmidt e o Vlachodimos, com a mesma curiosidade com que acompanhei os efeitos da birra do Sérgio Conceição) –, e nem se justificaria um relato de um jogo específico (ainda mais do meu clube) num jornal independente que anda por outros campeonatos e em outras modalidades. Portanto, isto será uma espécie de crónica à la Nelson Rodrigues, mas sem os conhecimentos do dito, sem o sotaque do dito e, provavelmente, sem a qualidade do dito – conquanto me divirta e me faça espairecer.

    (e temos o intervalo)

    Terceiro, tenho, perante o meu olhar – ou melhor, sou eu o observado –, a crítica inquisitiva de alguns leitores, que, prevejo já, me podem – e muito justamente – acusar de uma reles parceria comercial, sendo certo que, esses, enfim, só poderão ser uns lagartos invejosos e ou ciumentos tripeiros.

    (ai Jesus! Não… não é o do Al Hilal. É mesmo o do Céu: pênalti contra o Benfica… revertido pelo VAR. Ah, sportinguistas!: este VAR “pia” diferente; funciona bem…)

    Mas, continuando – e mesmo se brincando –, tenho consciência da existência de um conflito de interesses. Podendo, como jornalista, escrever em qualquer estádio, por que motivo escolho eu logo o Estádio da Luz? Caramba, desculpem-me o pecadilho: é pelas vistas;  também não me podem exigir clausura integral e absoluta imaculidade.

    (além disso, escrever aqui é um teste aos nervos, sobretudo se, como no jogo desta noite, o Benfica pensa que se ganha pelas oportunidades – e não pelos golos… e entretanto: GOLOOOOOO. Golo do Casper Tengstedt [como se pronuncia mesmo o nome deste dinamarquês?])

    Mesmo assim, e pelas tosses e prevenções, fiz já o trabalho de casa, e fui ler a Deliberação ERC/2023/266, divulgada este mês, da Entidade Reguladora para a Comunicação Social, sobre a renovação da licença da BenficaTV à cata de qualquer irregularidade grave para propagar aos sete ventos no PÁGINA UM. Mas daqui não consegui sacar o “alvará” da minha independência perante a dependência (desde a infância) clubística: a ERC escreve, na dita deliberação, que “em conclusão e face ao exposto considera-se que o operador Benfica TV, S.A., tem tido um desempenho, ao longo dos quinze anos de exercício de atividade, conformado e consentâneo com o normativo legal aplicável, sendo de conferir deferimento ao pedido de renovação da autorização para o exercício da atividade de televisão através do serviço de programas BTV 1”. Má, mas mesmo má, foi a recente avaliação à CMTV, similar no objectivo, feita pela mesma ERC. Estive a ler aquilo e ainda pensei que cassavam a licença à Cofina.

    (o estádio está mais aliviado; estranho jogo, que poderia ter dado para uma cabazada das antigas, e acaba numa coisa poucochinha)

    Mas deixemos o regulador em paz, cujos membros merecem terminar o mandato em tranquilidade. Em todo o caso, escrevi-lhes ontem…

     (e para fechar, parecendo coisa fácil, já nos descontos [que são agora à dúzia, os minutos] um golo de belo efeito de Rafa, com um ainda mais belo movimento e passe de David Neres… e logo a seguir, depois da reposição, quase seguia outro; bola ao poste esquerdo, remate do Rafa. Ó Rafa, os outros tipos querem ir a banhos e agora é que metes o gás todo?)

    Em todo o caso, ó Rui Costa, reparei, entretanto, que as entidades responsáveis pela Benfica TV (como registo da ERC nº 523392), pela BNews (com registo da ERC nº 127919) e pel’O Benfica (com o número de registo da ERC nº 101759) não preencheram ainda os indicadores financeiros e económicos no Portal da Transparência dos Media relativos ao ano passado. Os que lá estão vão até 2021. E sabes quem é o responsável máximo desta lacuna, não sabes?… Claro!

    Mas não te apoquentes em demasia: no teu campeonato há iguais e piores. A Avenida dos Aliados, do Porto Canal (vulgo, canal do FCP, com o registo da ERC nº 523388), também não entregou os dados económicos do ano passado. O jornal do Sporting (com registo da ERC nº 100313) não entrega contas na ERC desde 2019. Salva-se a empresa da Sporting TV (com registo da ERC nº 523408), que tem as contas em dia no regulador. E descansa que há pior onde nem seria de supor: nas empresas de media… e algumas até devem milhões ao Fisco…

     (fim do jogo: Benfica ganha por 2 a 0; talvez a parte mais interessante da primeira crónica de uma colecção cuja ideia “nasceu” quando o Benfica, na passada segunda-feira, ganhava ao intervalo ao Boavista…)

    Enfim, e com isto o estádio esvazia, e eu vou ter de me pôr na alheta. Só mais uns acertos. Não sei como me saí. Se mal me saí hoje, tentarei melhorar na próxima. Se não se endireitar – enfim, considerem isto como terapêutico: para mim, claro.

    Queiram, portanto, leitores benévolos (ou beneméritos, que melhores serão), abrir as vossas piedosas portas da compreensão e acender a lâmpada da vossa paciência, para que a minha saúde melhore com a escrita destas crónicas, enquanto vejo futebol. E se não fizer bem à saúde (prevejo que o Benfica vai ter um campeonato trémulo), pelo menos que o meu ego se exalte, que arredado anda de carícias literárias.

    Ah, e decidi-me por Da Varanda da Luz. É título mais esotérico.

    E reparo que nem sequer tive tempo para comentar as incidências dos meus colegas de carteira, sobretudo o do lado esquerdo, muito compenetrado no relato para uma rádio (local, presumo…). Inveja: ele parecia conhecer todos os jogadores. Ou, pelo menos, inventou com convicção. E sem gaguejos.

    Entretanto, lá em baixo, treinam os jogadores do Benfica que não entraram, as bancadas estão vazias, tirando dois ou três jornalistas, enquanto na televisão os treinadores palram. Esta vida não me parece má de todo. Talvez regresse mesmo daqui a duas semanas. Acho que será contra o Vitória de Guimarães. Qualquer um servirá para este desiderato…