Etiqueta: Da Varanda da Luz

  • Estoril 3.1 (com eleições à mistura)

    Estoril 3.1 (com eleições à mistura)


    Aviso já. Cheguei uma hora antes do jogo. Uma vez para nunca mais, presumo. Na carruagem do metro, quase vazia, poucos cachecóis encarnados vislumbrei, embora o casal sentado à minha frente os tivesse; o cão, que traziam à coleira, não – imperdoável. Nos ‘torniquetes’ de saída da estação, nenhuma fila. O acesso ao estádio livre estava, se bem que nos comes-e-bebes a afluência fosse bem maior de trincadores de bifanas e afins, sem o aspecto do ‘cemitérios de despojos’ de guardanapos e copos de plástico que se espraiam minutos antes dos jogos. Isso vejo eu nos outros encontros, onde chego em cima da hora, por norma.

    Quanto ao estádio, nunca o vi assim. Quer dizer: já o vi várias vezes assim – muitas mesmo desde que escrevo esta Varanda da Luz –, mas depois da debandada geral, no fim dos jogos. Antes dos ditos, como por regra chego à pele, ou mesmo atrasado, entro sempre com a mole humana já bem atiçada. Ora, hoje, cheguei com meia dúzia de gatos pingados nas bancadas, o relvado ainda vazio (estão agora os jogadores a aquecer), e fui descansadamente buscar o farnel constituído, desta vez, por batatas fritas, garrafinha de água de pH básico e baguete de frango assado com espinafres. E uma banana. Melhor foi o almoço regado a Reserva 2018 de marca que agora esqueci, mas que me foi oferecido no meu aniversário pelo Luís Gomes. Sobrou uma, para próxima oportunidade.

    Vista está a razão desta minha chegada antecipada. O jogo começa 30 minutos depois do fecho das urnas nos Açores. E eu quis que esta crónica fosse histórica, no sentido de que, desconfio, nenhuma outra antes, em lado algum misturou, àquilo que for calhando numa crónica futebolística (como as referências ao farnel ofertado pelo Benfica ou outras relevantes minudências), os avanços de uma noite eleitoral. Mas, enfim, quando em 2010 escrevi o meu romance ‘Corja Maldita’ e meti um papa a interromper um diálogo para ir mijar, pensava que nunca ninguém fizera tal coisa, até poucos meses depois ter lido a setecentista ‘A Viagem Sentimental’, do inglês Laurence Sterne, que coloca uma senhora a mandar parar o coche para fazer as devidas necessidades fisiológicas. Tudo, na verdade, está inventado.

    Para colocar um pouco de ordem no desnorte que será esta crónica, vou então definir que os comentários sobre a bola ficarão entre parêntesis curvos…

    (aliás, entraram agora os jogadores do Benfica, onde estará no 11 o João Mário… e acrescento que, há pouco, o nome de Roger Scmidt ecoado nos altifalantes foi brindado por um pequeno coro de assobios, apesar de estar apenas ocupado um décimo das bancadas)

    … e os comentários da noite eleitoral ficarão entre parêntesis rectos com as palavras a negrito.

    [falta pouco para as primeiras projecções… nem sei o que vem aí, mas o meu palpite é ficarem três partidos na casa dos 20%]

    Se a noite aqui no estádio se prolongasse não sei que parêntesis teria para comentar a noite dos Oscars, embora a minha desgraçada vida tenha causado um rombo vergonhoso na minha cultura cinéfila ao ponto de não ter visto sequer um único filme dos ‘oscarizáveis’.

    [pronto, saiu uma projecção da SIC-Expresso, com um empate técnico entre AD e PS…]

    (espero bem que não haja empate ali em baixo)

    [embora com o limite inferior do intervalo a ser superior para a coligação liderada pelo Luís Montenegro, enquanto o Chega pode ‘chegar’ aos 20%, dando-lhe entre 44 e 54 deputados. Nos restantes partidos, uma grande incerteza, porque como tudo depende das respectivas votações nos maiores distritos, sobretudo em Lisboa; mas, aparentemente os pequenos partidos da esquerda tramaram-se com a campanha suave que fizeram contra os socialistas]

    Entretanto, reparo que ainda estamos a 20 minutos do início do jogo, ainda vai dar tempo para ver o voo da águia Vitória, o espectáculo de luzes para galvanizar o pessoal, embora o estádio esteja a meio – não sei se pelos extraordinários desempenho dos pupilos do Roger Schmidt nas últimas duas semanas (ou de todas) –, e depois a música das ‘papoilas saltitantes’ seguindo-se o ‘la la la la la’ com cachecóis a rodar.

    [tempo agora para ver as projecções de outros órgãos de comunicação social. A sondagem da RTP dá AD e PS com possibilidade de se ‘tocarem’ mas com vantagem para a coligação liderada por Luís Montenegro, com um intervalo de 29% a 33%, enquanto o PS de Pedro Nuno Santos tem uma projecção entre 25% e 29%. O Chega nesta fica-se entre os 14% e os 17%. E os restantes partidos com variações que não permitem saber se sairão derrotados ou muito derrotados]

    Entretanto, início de jogo antecedido por um minuto de silêncio em homenagem a Minervino Pietra, que me ‘viu’ tornar benfiquista, pois desde que tenho memória de gostar de futebol – e acompanhar então os relatos na rádio –, desde talvez os meus seis ou sete anos, lá estava ele: foi lateral direito de pedra e cal, e águia ao peito, com aquela sua cabeleira inconfundível, entre 1976 e 1987.

    (e começa o jogo, e vou continuar a ver as outras projecções eleitorais, depois de um livre marcado pelo Di Maria quase rasar o poste)

    [antes das projecções, vejo no site da RTP que já estão eleitos quatro deputados; ainda me lembro daqueles épicas noites eleitorais que se prolongavam madrugada adentro como os Oscars… Vejo que já estão apurados 62,2% dos votos, e a AD vai à frente com 31,85%, seguindo-se o PS com 28,94% e o Chega em terceiro com 19,28%… A surpresa vem com o ADN, acidental beneficiário da ‘confusão’ com a AD, que surge com 2,02%, à frente até do Livre… entretanto, já foram eleitos seis deputados, três para a AD e outros tantos para o PS… isto promete]

    Entretanto, com isto, ali em baixo segue o jogo já com 13 minutos, e eu ainda nem sequer vi bem quem está a jogar, e mesmo que estivesse atento, como ainda não fui mudar de lentes se calhar vou ter dificuldades… Mas garantido é estar o João Mário a jogar porque já vi passes para trás.

    [e o Chega elegeu entretanto o primeiro deputado… fui entretanto bisbilhotar a projecção da TVI/CNN, e também dá vitória da AD, com um intervalo entre os 28% e os 33%, mas em empate técnico com o PS…]

    (goloooooooooooooooo…. já está, derrotado o empate técnico entre Benfica e Estoril: marca o turco Kökçü, que agora reparo, ao sacar o seu nome com as tremas, a partir da Wikipedia, nasceu na Holanda e até jogou nas selecções jovens por aquele país… estou mesmo ‘out’ nestas coisas do futebol, uma desgraça)

    [… continuando pela noite eleitoral: as projecções da TVI/CNN dão o terceiro lugar ao Chega, que pode ir dos 16,6% até aos 21,6%… Mas na contagem a sério…]

    (raios m’partam: golo do Estoril. Remate de um estorilista, Trubin a socar para a frente e leva um balázio; portanto, por aqui estamos de novo com empate técnico na contagem a sério)

    Vou agora ver uns cinco minutos do jogo para descontrair e perceber as razões para se estar a assobiar tanto nas bancadas, que estão com imensas abertas. Já volto aqui, ou com um golo ou com os resultados eleitorais em curso, se entretanto chegar o intervalo. Ou com outra qualquer coisa que surgir… Também não posso estar sempre a escrever…

    Olha, vou comer a banana enquanto tremo com os contra-ataques do Estoril.

    Quer dizer, ainda deu para um breve telefonema com o nosso colunista Luís Gomes, entusiasmado com a noite eleitoral…

    Para estragar a festa, lançamento de very lights por parte de uma claque benfiquista… portanto, um multa a caminho.

    [e enquanto se aguarda que se disperse a fumaça, adianto que, neste preciso momento em que vos escrevo, com 78% dos votos apurados, estão eleitos 12 deputados da AD, nove do PS e quatro do Chega, mas, por conta do método de Hondt, só mais para o final se saberá a distribuição. Em todo o caso, parece garantida a vitória de Luís Montenegro; quanto a Pedro Nuno Santos saiu-se melhor do que eu esperaria, e a ‘coisa’ não está fácil para o PAN e para o Livre, sobretudo para o partido de Rui Tavares que aparentava querer ultrapassar um Bloco de Esquerda que tem em Mariana Mortágua um flop]

    Ali em baixo entretanto, está a precisar-se de um intervalo. Nos pouco momentos que olho para o jogo, constato que o Benfica continua a não me dar arrependimento por estar desatento. A continuarem assim, prevejo, sem necessidade de projecções, que as bancadas vão começar a esvaziar-se até ao final da época.

    (golooooooooooo… chiça! Nos descontos, parecia que ninguém queria cruzar para a área; lá se cruzou, não vi quem, e ao segundo poste Tiago Gouveia assiste Marcos Leonardo, que factura em cima da linha)

    Sem se saber ler nem escrever, lá chegou o intervalo com o Benfica a desfazer o empate, dando-me tempo agora para olhar melhor para os resultados eleitorais e fazer um ou outro telefonema.

    [portanto, neste momento, com 87% dos votos apurados – isto vai ser rápido! –, a AD conta 17 deputados, a que acresce mais um do PSD-CDS na Madeira; o PS vai em 15 e o Chega segue com nove. Ainda falta muito deputado a ganhar lugar, mas pelas percentagens, as ‘coisas’ não estão famosas para os pequenos partidos, pois todos estão abaixo dos 4%, por agora. A maior surpresa será o resultado do ADN, que com 1,81% provavelmente elegerá pelo menos um deputado em Lisboa, e encontra-se à frente do PAN e muito próximo do Livre, que andou a ‘cantar de galo’ na campanha e se calhar pouco mais terá do que o Rui Tavares no hemiciclo… Em todo o caso, vejo que no distrito de Lisboa, por agora, só estão apurados 37% dos votos, significando que há muita coisa ainda a decidir quanto aos pequenos partidos, sendo que, se se mantiver esta tendência, o Livre conseguirá eventualmente dois deputados, e o PAN e o ADN um cada, aumentando-se assim a representatividade partidária na Assembleia da República. Curiosamente, por agora, no distrito de Lisboa está o PS à frente, embora PS, AD e Chega estejam todos na casa dos 20%]

    Lá em baixo já se encontram no meio-campo os árbitros, chegam entretanto os jogadores e vai este joguinho morno recomeçar.

    (e recomeçou mesmo, morninho, tanto assim que nas bancadas quase não se ouve nada, e daqui onde estou até consigo ouvir um jornalista, que está na bancada acima daquela onde me encontro, a relatar o jogo para uma rádio)

    [Entretanto, estou a divertir-me com os resultados do ADN que consegue mais de 3% no distrito de Viseu, e ‘arrisca’ eleger no Porto… neste momento os ‘gajos’ da AD devem estar a chamar-se estúpidos com a lembrança de ‘ressuscitarem’ a Aliança Democrática de Sá Carneiro, Freitas do Amaral e Ribeiro Teles… pobre alma do Ribeiro Teles, substituído pelo ‘desaparecido’ Gonçalo da Câmara Pereira]

    (golooooooooooo… 3-1. Belo remate cruzado de Tiago Gouveia. Aqui, pelo menos as coisas estão a clarificar-se)

    No meio disto, diz-me o Ruy Otero, um dos co-autores (e, para ser justo, o principal autor) da (imperdível) série ‘Indecisos’, que o PÁGINA UM publicou no seu novo canal do Youtube, que já está a pensar na nova remessa para daqui a uns seis meses, com as novas eleições. Vamos lá  ver como estão os resultados, que isto muda agora muito de repente…

    [Pois bem, com 93% dos votos apurados, AD conta com 32 mandatos, se incluirmos o deputado da Madeira eleito pelo PSD-CDS, enquanto o PS vai com 29. Um quase empate, por agora. O Chega vai com 14 e 18,88% dos votos, e os restantes partidos estão ainda a aguardar que o ‘amigo’ Hondt se decida com as contas finais. Neste momento, a IL está com 4,23%, Bloco de Esquerda com 3,95%, CDU com 2,96%, Livre com 2,30%, ADN com 1,77% e PAN com 1,61%… Enfim, acho que vamos mesmo daqui a pouco para eleições novamente, excepto se o Montenegro quiser ‘engolir’ um sapo chamado Ventura]

    E ali em baixo estamos no minuto 60, tudo calmo, vai haver um canto a favor do Benfica, e anda-se ali a passar o tempo. Houve um remate mas nada se especial. Nem as habituais substituições do Schmidt ao minuto 60 foram feitas. Já que estamos em noite de eleições, e houve sondagens e projecções, e agora resultados quase finais, vou alvitrar um palpite: sem jogar a ponta de um corno, o Benfica ainda vai ganhar 5-1.

    [E como estou com curiosidade, vejamos a evolução dos resultados eleitorais, a esta hora, isto é ao minuto 64 do Benfica-Estoril. Apurados 95% dos votos, há finalmente dois deputados eleitos fora dos ‘três grandes’: IL e Bloco de Esquerda contam o primeiro.  Quanto à AD vai…]

    (entretanto, jogada a ser revista pelo VAR por possível penalty… segue jogo)

    […a AD ia com 35, se contássemos com a Madeira, mas entretanto, por causa da espera do VAR, vai agora já com 38, porque acrescem agora dois na Madeira para o PSD-CDS. O PS segue perto, com 37; o Chega tem já uns impressionantes 22]

    Esta crónica está, como seria previsível, bastante esquisita. Ainda por cima, como director de um jornal que até foi inovador na cobertura da campanha eleitoral – por ter sido o único que se predispôs a ouvir todos os líderes partidários, havendo apenas cinco faltosos em 24 ‘convocados’ – deveria estar a fazer uma ‘noite eleitoral’ à moda antiga, talvez em directo, que não nos faltam excelentes comentadores políticos, como sejam o Tiago Franco e o Luís Gomes; mas enfim, foi uma semana complicada, e não dá para tudo. E sobretudo não dá porque não nos podemos dar ao luxo da Impresa, o luxo de acumular mais oito milhões de euros de dívidas para contabilizar depois dois milhões de euros de prejuízos à conta do pagamento de juros.

    (anunciam-se 48.964 espectadores no estádio… bem me parecia que hoje ficávamos abaixo dos 50 mil, e não sei se foi por causa da noite eleitoral)

    [noto, entretanto, que apesar de estarem apurados 96% dos votos a nível nacional, ainda há um grande atraso nos distritos que decidem. Em Lisboa estão apurados apenas 59%, e em Setúbal 76%. Noto também que, em Beja, o Chega ganha um deputado e fica mesma à frente da AD. Em Évora ficará um deputado para cada um dos ‘três grandes’ e em Portalegre o Chega ‘rouba’ surpreendentemente o deputado à AD. E nisto, o Alentejo já foi chão que deu votos aos comunistas… Ficam a zero pela primeira vez. Saramago dá voltas na tumba]

    E nisto do jogo, estamos no minuto 88, e o meu palpite do 5-1 falhou, tal como têm falhado todos os meus desejos de…

    (bola ao poste… era o 4-1… e no contra-ataque foi uma sorte não ser o 3-2… vai haver cinco minutos de compensação)

    … ver um jogo empolgante. Quer dizer: ver, não vejo, não apenas por nunca mais aviar as dioptrias de que necessito; não apenas por, escrevendo crónicas em directo, ser complicado acompanhar o jogo; mas porque, enfim, esta equipa anda longe de empolgar os seus adeptos. Mas gostava de, pelo menos, sentir a vibração nas bancadas, e acabar a escrever uma crónica em branco porque lá em baixo me ‘agarraram’…

    [E enquanto o árbitro não finaliza isto, vamos lá ver as novidades eleitorais nesta noite em que poucos vão gritar vitória. Pois bem…]

    (não deu para ver ainda, porque o árbitro acabou isto… vamos lá agora para as eleições)

    [Neste preciso momento, às 22h28, faltam apenas apurar os resultados totais de 28 concelhos e de 2% dos votos, mas isto resulta numa indecisão sobre os partidos de 86 futuros deputados. Mas vejamos como a coisa está, por agora, distribuída: 54-54 no despique entre a AD (com PSD-CDS na Madeira) e o PS, depois segue-se o Chega com 34 deputados (e será o único a cantar vitória), e muito mais atrás a IL contabiliza três deputados, e o Bloco de Esquerda e o Livre já conseguiram um… Mas, como digo, ainda falta distribuir muita coisa… Vou aqui paginar esta estranhíssima crónica, e já regresso para os resultados finais. Se os houver]

    Tudo paginado à trouxe-mouxe, reparando que não tirei assim muitas fotos durante o jogo, e atendendo que são daqui a nada 23:00 horas, e vendo ainda que hoje já nem houve sequer umas corridas dos suplentes não utilizados, vamos lá acabar com isto, olhando uma derradeira vez para os resultados.

    [com parênteseis rectos?]

    Tanto faz. Vai assim: terminada a escrita desta crónica às 23h06 do dia 10 de Março do ano da graça de 2024, tendo 99% dos votos apurados e 297 concelhos definidos, mas faltando assim distribuir, à conta do Hondt e dos círculos distritais, ainda 45 dos 230 mandatos (farei depois uma adenda), a AD lidera com 68 deputados (contando com os três ganhos pelo PSD-CDS na Madeira), o PS conta 65, o Chega vai com 41, e depois, bem cá para trás, a IL tem cinco e Bloco de Esquerda, CDU e Livre estão com dois, cada um. O PAN tem uma votação de 1,88% a nível nacional, mas elegerá Inês Sousa Real em Lisboa, onde tem 2,49%. O ADN vai com 1,65% e dificilmente elegerá alguém porque em Lisboa (onde há 48 mandatos) está com apenas 1,49%.

    E pronto, temos uma situação política assaz interessante! Decididamente, mais interessante do que os jogos do Benfica.


    PÁGINA UM – O jornalismo independente (só) depende dos leitores.

    Nascemos em Dezembro de 2021. Acreditamos que a qualidade e independência são valores reconhecidos pelos leitores. Fazemos jornalismo sem medos nem concessões. Não dependemos de grupos económicos nem do Estado. Não temos publicidade. Não temos dívidas. Não fazemos fretes. Fazemos jornalismo para os leitores, mas só sobreviveremos com o seu apoio financeiro. Apoie AQUI, de forma regular ou pontual.

  • Portimonense 4.0

    Portimonense 4.0


    Um cronista tem, sobre si, qual espada de Dâmocles, um temor: o bloqueio da folha em branco, consequência (supondo que o cronista sabe escrever) do bloqueio de assunto. Nem sempre calha ter tema inicial para o jogo que venho aqui assistir (se bem que ninguém precise de mim, embora até agora esta Da Varanda da Luz esteja a manter o Benfica invencível).

    Começar sempre com o quimérico 15-0 também já aborrece, exactamente por parecer que o introduzo por falta de matéria. Falar do farnel ofertado também já se mostra maçante, pese embora hoje tenha variado; trocaram a barrita de cereais por um chocolate Mars, e saiu uma banana na vez de uma maçã. Por isso, olhem, começo a desejar que hoje o Benfica consiga ‘desentupir’ o jogo melhor do que eu consegui desentupir, com o famoso truque da esfregona, a sanita da minha casa de banho…

    (entretanto, começa o jogo, antecedido por um minuto de silêncio em homenagem ao antigo jogador e treinador Artur Jorge, mais feliz no FCP do que aqui na Luz, que foi, além de tudo, homem erudito, coisa ainda rara na Arte da Ludopédia)

    Além disso, também espero que nenhum dos jogadores ali em campo (do Benfica, claro), esteja como eu estou hoje: no estado de alguém com mais de 25 anos de vida do que quase todos eles (sou apenas dois anos mais novo que o Roger Schmidt), e ainda por cima meio entrevado por um ‘mau jeito’ na coluna (parece que a probabilidade dos ‘maus jeitos’ aumenta com a idade, não sei bem porquê).

    Enfim, de igual modo, espero sempre que as incidências do jogo, ou algo menos normal, me auxiliem em encarreirar uma crónica que, por um lado, não me comprometa no final (por exemplo, cantar vitória logo no início, e a ‘coisa’ redundar num fracasso), e por outro não transforme isto numa coisa desenxabida, sem préstimo nem para quem é benfiquista (que os outros, presumo, nem me lêem).

    (o jogo tem sido, até agora, uma sucessão de oportunidade perdidas, quando já estão perdidos 35 minutos… para se chegar ao 15-0 teria de haver um golo em pouco mais de três minutos e meio; portanto, percamos, neste jogo, essa esperança)

    Isto não está, com efeito, nada fácil, e como tive uma tarde algo stressante, a cuidar da canalização de uma sanita, não estou a conseguir, confesso, obrar (pôr em obra, atenção!) coisa de jeito. Nem sempre sai, da pena de um escriba, palavras em jactância. Por vezes, sucede uma certa prisão… enfim, isto já está a ficar demasiado escatológico, e não no sentido teológico do termo.

    A primeira parte, neste ínterim, está a terminar, e pode ser que o intervalo me ajude a conjecturar uma melhor linha condutora para a segunda parte. E quanto ao Benfica, eu queria evitar ter de pedir uma ajuda ao Tiago Franco para comentar as perfomances do João Mário…

    (intervalo; vejo as estátisticas, enquanto oiço a Mariza Liz cantar “carrega, Benfica”: 70,3% de posse de bola. Lá carregar, carregou-se, e deu para 10 remates, mas só três a chegarem à baliza, e nenhum ao fundo das redes)

    Para animar as hostes (e, espero, como incentivo), enquantos os jogadores recarregam as ‘baterias’, homenageia-se o nadador (benfiquista) Diogo Ribeiro, medalha de ouro nos Mundiais de Natação em 50 e 100 metros mariposa. Vamos lá ver se, daqui a nada, o Benfica voa como uma mariposa, ou como soberba águia, sobre este Portimonense de trazer por casa…

    (e começa a segunda parte, com o Benfica a começar logo a porfiar… mas sem sucesso; Roger Schmidt, não referi, por não ser este o objecto principal da crónica, decidiu inventar mais do que o habitual e não meteu ainda nenhum ponta de lança: Arthur Cabral e Marcos Leonardo estão no banco, e o Tengstedt estará doente e nem convocado foi)

    Quer dizer, já passaram seis minutos nesta segunda parte, já houve dois bruaás, mas tudo está um bocado morno. Ó Roger Schmidt; queres mesmo que eu peça um comentário ao Tiago Franco para ficares com as orelhas a arder? Não te chegou esta semana o jogo lastimável com o Toulouse, que anda a lutar para não descer na Liga francesa?

    Bom, vou-te dar cinco minutos…

    (golooooooooooo…. já está! Desentupida a baliza do Portimonense: Rafa com uma trivela esquisita)

    Era isto que faltava! Agora deve ser como a minha sanita quando o truque da esfregona resultou na minha sanita.

    (goloooooooo… vai tudo; nem demorou dois minutos; numa correria desenfreada, aguentando tudo, David Neres contorna o goleiro e factura!)

    Caramba! Nem de propósito. A metáfora do desentupimento está mesmo a funcionar… Doi golos em dois minutos.

    (golooooooooooo… que é que é isto, minhas senhoras e meus senhores!!! Desentupiu-se mesmo tudo! 3-0, desta vez, Angel Di Maria, a ser diabólico para o Portimonense)

    Portanto, sem imaginar, porque estas crónicas (acredite-se ou não) são mesmo escritas em directo, não são pré-fabricadas e vão ao sabor da pena (ou dos dedos), e da minha confusa e conturbada vida, estou muito satisfeito desta imagem muito pouco, convenhamos, agradável de se imaginar: um cano cheio de, digamos assim, resíduos sólidos que não deixam sequer passar água límpida, mas tanto se pressiona, tanto se carrega, que, quando se desobstrói, o fluxo tudo leva à frente. Foi assim também neste jogo contra o Portimonense, que até está mais de branco do que de preto.

    Vitória garantida, presumo. Tudo se acalma. Nas bancadas há umas cantorias, batem-se palmas à saída do David Neres e do João Neves (para as entradas do Florentino e do Tiago Gouveia); está a ser, portanto, e afinal, uma tarde (princípio de noite) bem passada, apenas a precisar agora de mais um golito para equilibrar a crónica, que estou a acabar o segundo parágrafo.

    Ia sendo mais um, acabou em canto, mas ainda estou esperançoso que, correndo anda o minuto 73 ainda calhem mais dois golitos, para que, não se chegando ao 15-0, pelo menos que seja por causa do 1: o 1 das dezenas, claro.

    (golooooooo… enquanto eu estava agachado a meter a ficha do computador na tomada aqui da Varanda da Luz… não vi o 4-0, mas foi marcado pelo Rafa)

    O intervalo fez muito bem ao Benfica. Uma belíssima segunda parte. Tenho de dar umas bicadas ao Roger Schmidt durante o jogo, que parece que funciona. Vou tentar ver se com a ‘ameaça’ dos comentários do Tiago Franco, os jogos se desempecem.

    Acho que não há muito mais a contar. Ainda entrou o Arthur Cabral, a substituir o João Mário (para alegria, presumo, do Tiago Franco), e eu fico ainda a aguardar o golito final da praxe, enquanto arrumo as fotografias e acerto a crónica; tenho de me despachar daqui que ainda esta noite vou ter de gravar o podacast O Estrago da Nação, com o Luís e o Tiago, e meter em linha mais uns textos, que a minha vida (infelizmente) não é futeboladas.

    (e acabou; tudo fica bem, quando acaba bem… mesmo quando parecia, em determinado momento, que ia ficar a cheirar mal)


    PÁGINA UM – O jornalismo independente (só) depende dos leitores.

    Nascemos em Dezembro de 2021. Acreditamos que a qualidade e independência são valores reconhecidos pelos leitores. Fazemos jornalismo sem medos nem concessões. Não dependemos de grupos económicos nem do Estado. Não temos publicidade. Não temos dívidas. Não fazemos fretes. Fazemos jornalismo para os leitores, mas só sobreviveremos com o seu apoio financeiro. Apoie AQUI, de forma regular ou pontual.

  • Vizela 6.1

    Vizela 6.1


    Sendo certo que, mais uma vez, cheguei uns minutos atrasado, ao ponto de no elevador do piso -2 para o piso +3 – para se chegar à edénica Varanda da Luz tenho de passar sempre pelo ‘inferno’ de descer ao -2 para seguir para o +3 –, ter sabido pelo intercomunicador de um polícia que o jogo já começara, daí só ter começado a escrever esta crónica ao minuto 13 (oh! diabo), porque tive de ir ainda buscar o farnel, dar dois dedos de conversa a uma leitora confessa do PÁGINA UM, e subir umas escadaria de causar enfartes, estou hoje com um feeling – vá lá, à portuguesa, uma fezada – de ser este o dia para me deslumbrar com o almejado 15 a 0.

    (goloooooooo…. já está: depois de uma cena do típico goleiro de pés cegos, perante a proximidade de um avançado, a defesa do Vizela aos papéis, e à segunda insistência lá marca o David Neres)

    Bom, faltando 14, e já com um falhanço de permeio, explico as razões da fé: primeiro, está bom tempo. Não é o empapado de Guimarães, que ‘roubou’ dois pontos na semana. Ou contribuiu, porque a outra parte se deveu a não se ter feito um corno para se ganhar, mesmo com o habitual ‘Big Brother’, ou seja, a expulsão (e merecida, sem faccionismos) de um adversário. Depois, hoje deram-me um cartão de acreditação que está guilhotinado no canto inferior direito. Será, de certeza, um sinal de boaventura – calma, não é o César Boaventura, condenado na semana passada por corrupção a favor do Benfica sem, oh claro, o Benfica saber, mesmo se a palavra Benfica é citada 64 vezes na sentença do juiz. E, se se confirmar o 15-0, deverá depois haver também uma explicação científica para o fenómeno do cartão guilhotinado, pelo menos equivalente à ciência do Doutor Filipe Froes sobre a tripla pandemia que ele anunciou em Novembro de 2022, e que nunca se viu. Depois, porque…

    (goloooooooo… Otamendi, nas alturas, a facturar, como se diz)

    Nem me deram tempo de explicar tudo. Assim não há condições. Estava para dizer que a terceira razão era o infortúnio do Vizela, que acabou de perder por lesão o seu guardião principal, Fabijan Buntic. Se antes deste jogo já tinham encaixado 38 golos na Liga desta época com o efectivo, imagino que terão uma média pior com o suplente. Aliás, entrou, levou logo um. Além disso…

    (golooooooo… Tiago Gouveia… 3-0. O regressado Tengstedt faz um chapéu para o poste, mas o miúdo não falha na recarga. É melhor pôr o resultado sempre que o Benfica marcar, de contrário arrisco perder-se a conta).

    E já agora, antes de continuar, um agradecimento ao Tengstedt por ter falhado um golo de calcanhar, e também ao fora de jogo do Rafa, que marcou, mas foi anulado. Se se metem a marcar de empreitada, esta crónica, escrita em tempo real, fica completamente atípica. Se repararem, nas outras, tento sempre escrever dois ou três parágrafos entre comentários às incidências do jogo, mas com golos à cadência de cinco minutos isto não fica fácil ao escriba compor um texto em estilo digno.

    Portanto, e finalmente com a possibilidade de escrever um segundo parágrafo sem acrescer nada sobre as incidências do jogo, lá em baixo no gramado, continuo: a quarta razão para a grande fé num 15-0 é por o Vizela ser o ‘lanterna vermelha’, um lugar propício para uma infernal gloriosa tarde de cabazada à antiga portuguesa. Se o Sporting até já consegue meter oito golos ao Dumiense e ao Casa Pia, mais fácil será enfiar mais 12 ao Vizela…

    (11, pá! 11… já só faltam 11… golooooooooooo… 4-0. David Neres numo belo remate corrido em assistência primorosa do Rafa)

    Agora a sério. Isto está a correr melhor do que eu pensava. Vou mesmo acreditar na história do cartão de acreditação guilhotinado no canto inferior direito… Além disso, os árbitros hoje vestiram-se de preto, lembrando os gloriosos tempos, antes do wokismo, em que um homem do apito que era homem do apito apenas de preto vestia, e nada mais. E o Benfica sempre se deu bem com árbitros que apitam de negro…

    (golooooooooo… 5-0. Rafa a marcar numa das suas arrancadas…)

    Qual acreditar? Qual fé, qual carapuça! É evidência! Vou passar a exigir ao Benfica que me passe a guilhotinar o cartão de acesso quando aqui vier escrever a crónica. E já agora: prefiro um ‘sumito’ à água engarrafada da Serra de Monchique que andam a fornecer no farnel. Tem pH de 9,5; demasiado alcalina.

    (e pronto!, intervalo; toda a gente satisfeita por aqui, excepção à equipa do Vizela, presumo, e aos duzentos adeptos que andaram 348 quilómetros para empochar este vexame que se anuncia)

    Entretanto, começa a segunda parte e, enquanto não surge novo golo, estou aqui a meter uma nova entrevista do Hora Política no Spotify e a descarregar as fotos para o WordPress. Enfim, enquanto aguardo pelo 15-0, o trabalho por aqui tem de avançar, que o PÁGINA UM não é só futeboladas.

    (porca miséria! Como é possível? Golo do Vizela! Como é possível!)

    Já me estragaram a tarde. Eu bem achei estranho que a segunda parte começasse quase em silêncio, sem as cantorias das claques. Entrou-se descontraído, e pronto: lá se foi pelo cano abaixo o meu sonho da crónica do 15-0, do ‘eu estava lá’, para inveja dos vindouros. Pelo menos que façam então um 16-1, que menos do que isto sempre será pouco. E mais do que isso já nem apaga o deslustre de apanhar um golo de uma equipa que, nesta época, é a menos concretizadora da Liga (20, agora). Caramba: ainda há menos de um mês levaram cinco sem resposta do Arouca!

    Enfim, respiremos fundo: sempre é bom lembrar as dificuldades passadas. Se hoje, daqui do alto de um descontraído 5-1, já damos mais que certo os três pontos, apesar das invenções do Roger Schmidt…

    (penalti a favor do Vizela… defendido pelo Trubin; acreditem, isto estava tão morno nas bancadas que eu, entretido numas pesquisas, só me apercebi de ter havido grande penalidade após a defesa guarda-redes do Benfica por via de um bruaá quase semelhante a um golo dos nossos)  

    Bem, continuemos. Falemos então das dificuldades passadas, que a quimera por hoje já foi. Na última vez que se defrontou o Vizela na Luz para a Liga, em 2 de Setembro de 2022, ganhámos apenas por 2-1, com um golo de penálti do João Mário aos 12 minutos de compensação, e esteve-se a perder entre os minuto 20 e 76. E na época anterior, em Março desse mesmo ano, não se fez melhor do que um empate a uma bola, e andou-se também atrás do prejuízo, ‘ó tio, ó tio’, depois do Taarabt ter feito das suas e sido expulso logo ao minuto 8. Por falar em expulsões: esta noite ainda não houve o momento ‘Big Brother’; ainda ninguém foi expulso. Só dois ou três amarelos. Além disso, aquele Vizela era do Álvaro Pacheco… Aquele boné tinha alguma coisa de mago, como o computador do Carlos Antunes a fazer previsões durante a pandemia.

    (e o jogo, lá em baixo, decorre morno; o Benfica ainda não teve, pelo que vi, uma única oportunidade de golo nesta segunda parte, e já vamos no minuto 87)

    Enfim, acho que encerro por aqui esta crónica; a crónica sobre o insucesso de se escrever uma crónica sobre o quimérico, o utópico 15-0.

    (caraças!, devia ter feito o lamento mais cedo: Marcos Leonardo marca o 6-1… sempre empatamos na segunda parte).

    Últimas substituições ali em baixo, onde, enfim, fiquei a saber que o Benfica tem um jogador chamado Benjamim Rollheiser! Ando mesmo afastado destas questões da bola. Fui agora ver: é um argentino de 23 anos, contratado no mercado de Inverno ao River Plate, e que até já jogara três minutos contra o Estrela da Amadora, mais quatro contra o Gil Vicente, e agora mais um minuto neste jogo, porque, entretanto, o homem de negro [engraçado, ontem revi, por acaso, quase todo o filme Homens de Negro, aquele dos alienígenas, com o Will Smith, antes da chapada, e o Tommy Lee Jones] apita para o fim do jogo. E pronto: mais três pontos, crónica concluída.

    Para a semana há mais. Portimonense: és o próximo candidato ao 15-0. Estás a ouvir-me, Roger Schmidt?Mas antes, vê lá se nos passas o Toulouse…

    Sim, Schmidt, tu aí que estás ainda a falar para os meus comparsas de profissão, enquanto eu, aqui de luzes vermelhas acesas, na Varanda da Luz, acabo de meter esta crónica online no PÁGINA UM: ainda acredito que sejas o ‘patinho feio’ que nos vais presentear com um 15-0. Mas, e digo eu que nem treinador de bancada sou, convém ser a jogar as duas partes como se fez hoje na primeira. Se queres a glória, jamais será sem um 15-0. E hoje perdeste uma boa oportunidade.


    PÁGINA UM – O jornalismo independente (só) depende dos leitores.

    Nascemos em Dezembro de 2021. Acreditamos que a qualidade e independência são valores reconhecidos pelos leitores. Fazemos jornalismo sem medos nem concessões. Não dependemos de grupos económicos nem do Estado. Não temos publicidade. Não temos dívidas. Não fazemos fretes. Fazemos jornalismo para os leitores, mas só sobreviveremos com o seu apoio financeiro. Apoie AQUI, de forma regular ou pontual.

  • Gil Vicente 3.0

    Gil Vicente 3.0


    Já sabia, pela ‘meteorologista’ Filomena Martins, directora-adjunta do Observador, que hoje não teríamos o danado “rio atmosférico” a pairar pela Luz – só chega pela quinta-feira –, mas vi-me obrigado a consultar o ‘boletim da saúde policial’ para confirmar se alguma indisposição colectiva impedia o jogo, acrescido de uma pesquisa pelas ‘má-afamadas’ redes sociais, de sorte a perceber a probabilidade de ocorrência de uma saraivada de cadeiras e pedras pelos ares.

    Tudo bem. Segui seguro, qual Leonor pela verdura, para a Luz, ainda a tempo de um cafézinho, no Columbia, paredes-meias com o Alto dos Moinhos, que por estas horas vende mais cerveja que cafés.

    E cá estou a tempo ainda de recepcionar o farnel do Benfica (embora hoje esteja um bocado cheio, por causa de um almoço tardio), e de subir as cada vez mais íngremes escadas para esta Varanda da Luz antes do apito inicial, por via de um tempo extra por se fazer um minuto de silêncio não sei pela alma de quem… vou daqui a nada ver…

    (golooooooo… isto hoje nem me deram tempo de descansar um pouco, ligar o computador e escrever uns parágrafos iniciais… Arthur Cabral, a tornar-se um ‘matador’ num canto ‘teleguiado’ do Di Maria; e na verdade, podia ser o segundo golo de cabeça, porque o brasileiro já mandara uma bola ao poste logo aos 5 minutos)

    Entretanto, já fui ver: o minuto de silêncio foi uma homenagem a Palmeiro Antunes, um antigo jogador do Benfica da segunda metade dos anos 50, que conquistou um campeonato e duas Taças de Portugal. Tinha 87 anos.

    E por falar em glórias de outros tempos, e estas ainda maiores do que os futebolistas, deu-me finalmente para, após tantos anos de ‘primeira divisão’, ver o motivo pelo qual o Gil Vicente, sendo Barcelos tão famosa pelo milagre de Santiago que fez cantar o galo assado para salvar o(s) inocente(s) peregrino(s) – não se sabe se foi um ou dois; e nem é certo ter havido milagre algum –, se chama Gil Vicente e não Santiago, e os gilistas não são afinal conhecidos por ‘galistas’.    

    (entretanto, com o jogo ‘morninho’, ligam-se no estádio uma série de ecrans com o nome do malogrado Miklos Feher, acompanhada da mensagem “20 anos de saudade”. Hoje estamos ‘numa’ de homenagens)

    Até porque, continuando, que eu soubesse nada na vida do verdadeiro Gil Vicente, do dramaturgo, esteve associado a Barcelos, descontando um tal Frei Pedro de Poiares que para ali lhe atribui o berço, mas nestas ‘coisas’ até o Padre Rei, o pároco da terra da minha adolescência (Moita, no concelho de Anadia), garantia que o Camões estava enterrado na ‘sua igreja.

    (goloooooo… oportuníssimo, o miúdo João Neves, sagaz na insistência, embora com alguma sorte… isto hoje, desconfio, tornar-se uma Barca do Inferno para este Gil Vicente)

    Enfim, há quem diga que foi em Guimarães o berço de Gil Vicente, outros asseguram que afinal foi em Lisboa, mas muitos estudiosos garantem ainda que ele terá sido nado e criado nas Beiras, não se sabe se no interior ou litoral, por causa de alguns personagens dos seus autos. Mas também pouco importa. Não estou aqui para compor uma crónica biográfica, que na Varanda da Luz estou, nem me apetece andar em conjecturas que me levariam a pendengas como aquela entre Camilo Castelo Branco e Teófilo de Braga sobre se o Gil Vicente dramaturgo era ou não o Gil Vicente ourives que compôs a Custódia de Belém.

    (entretanto, nisto se meteu o intervalo, e o início da segunda parte)

    Passaram, portanto, 45 minutos e eu ainda não revelei aos leitores – e presumo que, dos muitos que não sabem, haja poucos que estejam interessados – a causa de o Gil Vicente, que acabaria os seus dias na cidade de Évora, dar o nome ao Gil Vicente. Ao clube, claro, porque o outro, o verdadeiro, se chamou assim por escolha dos pais e apelido do pai.

    (golooooo… 3-0, o habitual golito do Rafa. Acho que o Gil Vicente vai sair daqui de Lisboa como a Maria Parda, em pranto, vergado por uma goleada)

    Bom, despachemos isto, vista está a garantia da vitória – o Gil, o de Barcelos, mostra-se inofensivo –, e o topo da Liga está já alcançado, mesmo se de forma virtual, por obra e graça da PSP e de uns arruaceiros. O Gil Vicente chama-se Gil Vicente porque, enfim, lá pelos anos 20 do século passado uns barcelenses jogavam à bola em frente do teatro começado a construir umas décadas pela Empresa Teatral Gil Vicente.

    (depois do terceiro golo do Benfica, tudo muito lento, quebrado por uma série de substituições; nada a anotar excepto as palmas dos adeptos e uma boa estirada do Trubin para manter ‘invioladas as suas redes’… estes jargões futebolísticos são mesmo engraçados)

    Chegado aqui, perguntem-me: então, e qual a razão para a Empresa Teatral Gil Vicente se chamar Empresa Teatral Gil Vicente? E aqui não respondo porque não sei, mas se soubesse receio que entrássemos numa espiral de descobertas e inquirições que nos levariam ao início dos tempos. Em todo o caso, presumo que no final do século XIX, o tempo áureo do teatro português, não haveria ainda muitos dramaturgos clássicos, daí que Gil Vicente fosse o mais óbvio, talvez apenas seguido pelo Almeida Garrett, que faleceu em 1854. Talvez por um triz o Varzim, que já militou em tempos na primeira divisão, não se chama Almeida Garrett, visto que tem um cineteatro em sua homenagem.

    (e o jogo, neste rame rame, lá acabou, e ainda bem, que eu tenho de despachar a crónica; uma vitória simples, sem sobressaltos desta vez, tudo limpinho limpinho)

    E desvendado que fica a razão para se ter dado o nome do Gil Vicente ao Gil Vicente, apenas um último apontamento, tendo em conta a raridade de um clube usar personalidades da Cultura: que raio deu aos dirigentes do histórico Desportivo Francisco de Holanda – fundado na cidade de Guimarães, em 1943, por alunos da escola secundária com o nome deste humanista do século XVI (e que me ‘serviu’ de narrador para o meu romance Nove Mil Passos) – para cederem os direitos desportivos a um clube com a obtusa denominação Clube Desportivo Xico Andebol? O Francisco de Holanda agora é o Xico Andebol?! Ensandeceram?! Incultos!

    Daqui a nada ainda vamos ver o Gil Vicente transformar-se em Gigi Futebol Clube, é?

    Aliás, a propósito de incultura, e como não consegui encaixar com aisance, aproveito para contar algo sobre Almada Negreiros, artista multifacetado e que até teatro compôs, que deixo ao critério do Polígrafo averiguar da veracidade.

    Certa vez, num inquérito para auscultar os conhecimentos culturais do povo, e numa altura em que era muito popular o programa televisivo de apostas desportivas “Vamos Jogar no Totobola”, perguntaram a alguém: “Então, o que acha do Almada Negreiros?”. Resposta: “Bom, Almada Negreiros… Almada Negreiros… acho que vou pelo X”.

    Até à próxima. Por uns dias, mesmo se na ‘secretaria’, o Benfica vê finalmente o Sporting pelo espelho retrovisor. Alegremo-nos, benfiquistas!


    PÁGINA UM – O jornalismo independente (só) depende dos leitores.

    Nascemos em Dezembro de 2021. Acreditamos que a qualidade e independência são valores reconhecidos pelos leitores. Fazemos jornalismo sem medos nem concessões. Não dependemos de grupos económicos nem do Estado. Não temos publicidade. Não temos dívidas. Não fazemos fretes. Fazemos jornalismo para os leitores, mas só sobreviveremos com o seu apoio financeiro. Apoie AQUI, de forma regular ou pontual.

  • Boavista 2.0

    Boavista 2.0


    São 20h32, e estou na estação dos Restauradores. Se tudo correr bem, linha directa até à saída no Alto dos Moinhos, seguindo-se visita ao ‘guichet’ das acreditações [GRATUITAS, ouviste, Pedro Coelho?] para aceder ao estádio [pertença de uma sociedade anónima desportiva: será espaço público ou privado? tenho de ir perguntar aos membros da ERC que, desde a identificação do autárquico Cinema São Jorge como local privado, se mostram sapientíssimos nestes assuntos], e ala que se faz tarde… Prevejo demorar, neste percurso e processo, uns 30 minutos até me assentar na Varanda da Luz, onde espero, não só deliciar-me com o farnel do Benfica nem apenas com os golos do Cabral e do outro tipo que foi contratado ao Santos (e do qual não me lembro agora o nome de cabeça), desforrar-me da triste e única derrota neste campeonato, no Bessa, logo na primeira jornada.

    Vou a tempo, por certo, de assistir aos primeiros minutos… da segunda parte!!!

    Segunda parte!!! Como é possível?! Como foi possível? Como é que se eclipsou da mente o jogo hoje do Benfica. Que se passou na minha cachimónia?! Metade do jogo perdido!

    Ou antes: que grande sorte a minha; afinal, é uma vantagem trabalhar num órgão de comunicação social de redacção diminuta, onde sendo eu um cronista pouco zeloso de compromissos futeboleiros, tenho um  director a quem responder… que sou eu próprio… que, por sua vez, responde, em termos de despesas, ao gerente… que sou eu.

    Linda promiscuidade, esta minha. Deve estar o Pedro Coelho, jornalista da SIC e presidente do comité organizador do congresso dos jornalistas, a fazer ‘tssss-tssss’, abanando a cabeça em óbvia desaprovação desta minha conduta, enquanto assina as cartas de agradecimento à Brisa, à REN, à Mota-Engil, ao Santander, ao Milenium BCP, à Delta, à Mercadona… pelo financiamento concedido, e conta as notas dos jornalistas que, pagando-lhe(s) [as entidades organizadoras são o Sindicato dos Jornalistas, o Clube dos Jornalistas e a Casa da Imprensa], fazem ainda a cobertura sobre as desgraças onde muitos meteram o Jornalismo. Se a moda pega, esta Da Varanda da Luz vai passar a ser orçamentada. Adiante…

    (chego ao estádio, dois minutos antes do fim da primeira parte, já nem vale a pena subir, decido perguntar se ainda há farnel, há sim, senhor, vamos lá então subir para a Varanda da Luz, com a sandes & companhia, enquanto descem os adeptos para o intervalo, assobiando ruidosamente, acho que não pela minha chegada [a menos que todos os que assobiem sejam ‘altos quadros’ da CCPJ e da ERC]; parece-me mais por causa da equipa de arbitragem)

    Desculpado que estou por mim próprio pela falta de presença na primeira parte, que seguiu sem golos (talvez para me agradarem), espero que os leitores mostrem condescendência – ou pelo menos, a meia dúzia daqueles que me lê, sendo que uma parte deles o fazem para me criticarem de não investigar os “podres do Benfica” –, porque hoje mal dormi…

    (recomeça a segunda parte, nem sei se o Benfica jogou bem ou mal na primeira parte)

    … durante a noite e ao longo da manhã, deixei um artigo pronto a publicar sobre a Start Sines Campus (que parece estar bem da vida, depois de causar um ‘terramoto político’), meti online o oitavo episódio do podcast O Estrago da Nação (onde o Tiago Franco e o Luís Gomes), divulguei a análise ao cartaz do PSD feita pela Sara Battesti, que aconselho imenso…

    (golooooooooo… anulado! Bolas. Di Maria marca, ainda se festeja, mas o VAR chama o árbitro, que anula por mão prévia de João Mário)

    … continuando:  revi a edição da Maria Peixoto (que, entretanto, fez uma entrevista ao economista Nuno Palma, da Universidade de Manchester, a sair na próxima semana) ao texto da coluna semanal do Tiago Franco sobre a Europa, acertei com a Elisabete Tavares detalhes de um interessantíssimo projecto em mãos…

    (golooooooo… desta conta: Di Maria, com centro venenoso em arco, daqueles em que ninguém toca, muito menos o guarda-redes, com a bola a entrar no cantinho)

    … continuando: ainda fiz um ‘artigo’ sobre a cobertura ‘possível’ ao Congresso dos Jornalistas, face à minha recusa em pagar para fazer cobertura noticiosa: quatro rectângulos negros sobre os temas previstos no programa parecerem-me bem simbólicos. Ah, e também enviei a minha pronúncia à CCPJ sobre o processo disciplinar que Girão & Godinho decidiram presentear-me, e enderecei umas questões à ERC sobre umas ‘falhazitas’ que por lá constam no pouco transparente Portal da Transparência dos Media. Faltou-me tempo para paginar a Deriva dos Continentes, da Clara Pinto-Correia, que deve estar, com razão, furibunda pelo adiamento de uma necessária conversa para acertarmos umas agulhas. Sairá este sábado o texto, e a conversa.

    (lá em baixo, no relvado, a Benfica porfia mas não marca, e, tirando ali um calafrio, o Boavista não ameaça… mas nunca fiando, no Boavista, nem confiando no Benfica)

    Enfim, mas, na verdade, o meu ‘esquecimento’ da hora do jogo (ou mesmo do jogo) do Benfica não se deveu a estes afazeres, mas sim a um ‘banho de cultura’, misturado de boa conversa e melhor almoço (cabo-verdiano) com um bom punhado de boas pessoas, incluindo a ‘minha’ Elisabete e o ‘nosso’ Rui Araújo: visitei a casa-biblioteca de Daniel Nunes, um homem de uma vida excepcional e detentor de um espólio de pasmar. Tão de pasmar que, obviamente, terei de regressar, e talvez fazer mesmo umas conversas gravadas. E prolongou-se tanto esse ‘mergulho’ por conversas e livros antigos que se escafedeu o jogo…

    (goloooooooooooo…. Marcos Leonardo, que marca o segundo golo na segunda vez vestido de vermelho… já na parte final dos descontos… Consummatum est).

    E eu também. Ainda bem que jogo terminou. Estou estafado, ainda por cima venta por aqui um frio gélido, nesta Varanda da Luz, e eu quero ver se me meto na cama. Por hoje, fecho a loja. A crónica não está nenhuma ‘espingarda’, mas sempre me parece melhor do que o estado do lusitano Jornalismo. Mas, descansem: o Pedro Coelho vai salvar o Jornalismo do fosso, através da criação, como propôs num programa da RTP, de financiamentos similares aos da academia, por via de análise de projectos realizada por ‘peritos’ (quem?! A Mota-Engil? A Brisa? A REN? O Santander?…), que entregarão ou não dinheiro aos jornalistas. Já estou a imaginar uns ‘projectos’: “inspeccionar a acção do Governo”. CHUMBADO. “Fazer jornalismo credível e independente”. CHUMBADO. “Lamber botas”. APROVADO…


    PÁGINA UM – O jornalismo independente (só) depende dos leitores.

    Nascemos em Dezembro de 2021. Acreditamos que a qualidade e independência são valores reconhecidos pelos leitores. Fazemos jornalismo sem medos nem concessões. Não dependemos de grupos económicos nem do Estado. Não temos publicidade. Não temos dívidas. Não fazemos fretes. Fazemos jornalismo para os leitores, mas só sobreviveremos com o seu apoio financeiro. Apoie AQUI, de forma regular ou pontual.

  • Rio Ave 4.1

    Rio Ave 4.1


    Devia começar por falar numa tarde invernal, embora somente com uns pingos, onde somente os mais corajosos vão à Catedral, em vez de ficarem no quentinho das suas casas – se tiverem dinheiro para a conta da electricidade. Mas não: vou contar uma ‘história’ da minha infância em redor do futebol que ia para além de ouvir os relatos na Rádio Ranscença do Artur Agostinho e Ribeiro Cristóvão.

    Na minha infância, à conta da inexistência de PlayStation e do FIFA– não só por ainda não estar inventada, mas também, se estivesse, estaria eu na ala contrária à da família do Pedro Nuno Santos, apesar de essa “desigualdade” lhe ir fazer grande “confusão” depois de nascer –, eu entretinha-me a inventar campeonatos de futebol, com jogos entre todas as equipas, a duas voltas, claro, e os golos eram determinados pelos números inseridos em pedacinhos de papel com números de 1 a 10, que eu desenrolava para definir o resultado final.

    Nessa altura, pouco entendido em probabilidades – ignorando que deveria meter mais números pequenos do que grandes na bolsa do ‘sorteio’–, os resultados acabavam por se pareceram mais a um campeonato de hóquei em patins do que ao de um de futebol, tantos eram os 5-3, os 6-9 e os 4-4, e até as chances de um 9-9 eram, na verdade, sem eu o saber, similares à de um monótono 0-0.

    Para a coisa ser ainda mais inverosímil, criava nomes, os mais estapafúrdios (a ponto de, me recordar de alguns, quatro décadas mais tarde), para não se dar o caso de, escolhendo clubes conhecidos, o meu preferido (o Benfica, claro) não ser surpreendido com um 0-9 do Penafiel ou do Tirsense… ou do Rio Ave.

    (e estando a escrever isto, e já lá vamos ao motivo, e vamos ver se isto não me vai correr mal, o Rio Ave marcou ao minuto 9; e, além disto, já não será desta que assistirei ao desejado 15-0)

    Isto para dizer que cresci sempre com o desejo de vencer. Adoro ganhar. Mas o “adoro ganhar” não significa que não tenha a noção de que, de quando em vez, se pode perder. Mas, escolhendo-se o Benfica, pelo menos tem-se maior probabilidade de se vencer muitíssimo mais. Pelo menos, na primeira metade da minha vida – ou, vá lá, até aos meus 20 anos em 1990, quando perdemos a última final da Liga dos Campeões contra o Milão.

    Ora, mas no futebol de verdade, o prazer de ganhar não advém só da vitória nem tão-pouco de confraternizar com os nossos correligionários. Saborear uma vitória sozinho é uma chatice, e com os nossos adeptos é satisfatório. Na verdade, uma vitória somente se torna sublime, atinge outro patamar de prazer, se se tivermos alguém para ‘brincar’ da situação, ou seja, com um antagonista.

    Por isso, se uma vitória contra o Porto se mostra mais satisfatória do que contra o Portimonense, mesmo valendo ambos três pontos, ainda é melhor se tivermos um amigo portista para gozar. Por isso, este campeonato, sobretudo por se andar a jogar mal em demasiadas ocasiões, vai saber melhor porque tenho um amigo sportinguista que anda a enviar-me fotos do cão com um cachecol verde e branco, pensando ilusoriamente que o benfiquista Rubem Amorim lhe vai dar uma segunda alegria.

    (para me aliviar, o Di Maria, a passe de Rafa, faz um golo de belo efeito; reposta a igualdade; vamos lá à imprescindível vitória, por numerosos expressivos, para esta crónica ao vivo não redundar numa vergonha para mim, ao estilo ‘vais tosquiar e sais tosquiado’)

    Digo isto para poder acrescentar que, por norma e princípio, não aprecio ‘brincar’ ou gozar com pessoas de quem não sou amigo pelos desaires dos adversários do Benfica, mas hoje, neste jogo em particular, contra o Rio Ave, abri uma excepção. E até antecipei o gozo, trazendo ‘acompanhamento’ condigno: um alvarinho Palácio da Brejoeira. Quero dar uns bons goles, pelo menos três por cada golo, em honra ao ‘Senhor Alvarinho’.

    O Senhor Alvarinho, assim se apresenta, nem deu boa avaliação ao Palácio da Brejoeira (6/10), mas também o senhor tem bico que não se satisfaz com pouco: para se ter direito a um 9/10, como na última ‘recensão’ do Alvorone, da Quinta de Soalheira, tem de se despachar 45 euros por garrafa, se não se receber, claro, uma descomprometida oferta do produtor.

    (depois do intervalo, recomeça o jogo, e o sofrimento do Benfica; por duas vezes, bola ao poste, uma das quais após fífia de Trubin; deixa-me é beber alvarinho para ver se acalmo os nervos)

    Ora, mas se eu trouxe alvarinho – não na garrafa, por ser proibido vidro, mas sim num ‘bidon’ verde, para disfarçar com o famoso e imperdível farnel do Benfica, mesmo não sendo suposto um jornalista, ainda mais ‘bem comportadinho’ como eu, arremessar objectos da Varanda da Luz –; dizia eu, trouxe para aqui um alvarinho por maldade: o Senhor Alvarinho é, na verdade, nas horas vagas sem névoa etílica de alvarinhos, um denodado Provedor do Adepto do Rio Ave, cargo curioso, que pode mesmo causar espanto, porque existindo a função se assume a existência de adeptos do Rio Ave… Bom, na verdade, não é pela existência de padres que se comprova a existência de Deus… Enfim, acreditando ou crendo que o Provedor do Adepto do Rio Ave aqui está, gostaria então de o brindar com um alvarinho mesmo se um de quinta categoria para o seu gosto.

    (expulsão do defesa Aderllan Santos, do Rio Ave, por acumulação de amarelos… Já estou a ver os meus amigos portistas e benfiquistas a dizerem que o Benfica só ganha contra 10… e olha, três minutos depois e… goloooooooooo… António Silva, à ponta de lança, depois de uma grande confusão na grande área)

    Bom, já se está a coisa a compor, entretanto o Schmidt decide por umas substituições para animar, fazendo entrar o reforço Marcos Leonardo, o Florentino Luís e o Tiago Gouveia, e parece-me que isto está garantido. E, portanto, posso finalmente desvendar a inspiração desta crónica e quem é o Senhor Alvarinho, que é também o Senhor Provedor do Adepto do Rio Ave, a quem desejo – porque isto, no futebol, é permitido algum sadismo – que venha a ser, na próxima época, o Provedor dos Adeptos dos Clubes da Segunda Liga. Portanto, o Senhor Alvarinho, simultaneamente Senhor Provedor do Adepto do Rio Ave e eventual futuro Provedor dos Adeptos dos Clubes da Segunda Liga é…

    (golooooooooooooooo…. 3-1… Marcos Leonardo, estreia a marcar na estreia com um belo cabeceamento)

    Chupa, João Paulo Meneses… é isso mesmo: o actual presidente do meu ‘mui querido’ Conselho Deontológico do Sindicato dos Jornalistas, um tal de João Paulo Meneses, que no último ano andou a fazer um frete à doutora Licínia Girão e ao Hospital de Braga contra o PÁGINA UM, em vez de andar preocupado em criticar as promiscuidades de jornalistas e directores editoriais que tanto mal têm causado ao jornalismo. Toma lá, provedor. Já jorro alvarinho como champanhe!

    E agora, se me dão licença, vou ver um bocadinho com mais atenção o final do jogo.

    (golooooooooo… 4-1… marca João Mário)

    Chupa, João Paulo Meneses!

    E dedica-te aos alvarinhos, que acho que tens muito mais jeito para isso: na verdade, o Palácio da Brejoeira não é lá grande ‘espingarda’. Prometo, se o Rio Ave descer de divisão no final desta época, perder o amor a 45 euros (pois não tenho um produtor amigo) e bebo um Alvorone, da Quinta de Soalheira em honra da tua desdita. E acompanhado com salmão fumado, como bem aconselhas no teu Senhor Alvarinho. Vai saber-me que nem ginjas…


    PÁGINA UM – O jornalismo independente (só) depende dos leitores.

    Nascemos em Dezembro de 2021. Acreditamos que a qualidade e independência são valores reconhecidos pelos leitores. Fazemos jornalismo sem medos nem concessões. Não dependemos de grupos económicos nem do Estado. Não temos publicidade. Não temos dívidas. Não fazemos fretes. Fazemos jornalismo para os leitores, mas só sobreviveremos com o seu apoio financeiro. Apoie AQUI, de forma regular ou pontual.

  • Famalicão 3.0

    Famalicão 3.0


    Tenho um carinho especial pelo Famalicão, benfiquista me confesso. E já agora também confesso ser um adepto (secundário) do Leixões – não me perguntem a razão, não tenho dali quaisquer raízes, mas vem de infância, talvez porque a equipa de futebol tinha um tipo que dava cambalhotas quando marcava golos (o Folha), além de um guarda-redes chamado Tibi, e ainda um médio habilidoso chamado Frasco. Talvez também por os chamarem de ‘bebés de Matosinhos’, se bem que os fervorosos adeptos no Estádio do Mar fossem mais conhecidos por cascar até em árbitros. Além disso, o emblema é estranho, por meter uma raquete de ténis, um pau de críquete e uma bola que mais parece de basquetebol, embora o clube seja mais famoso no voleibol, com vários títulos de campeão.

    Enfim, mas se o carinho pelo Leixões e por Matosinhos vem da infância e não é explicável, já o do Famalicão vem também da infância e é explicável, embora nada tenha a ver com futebol e com Vila Nova de Famalicão, de onde vêm os jogadores que agora mesmo começaram a pelejar com o Benfica, esperando eu que levem o mesmo número de golos que o número do ticket do meu farnel: 14.

    (por agora, 11 minutos, duas ameaças para marcar, mas ainda faltam 14 golos… o melhor é dar uma trinca na baguete de panado de aves com alface)

    Portanto, vamos à explicação sobre a minha infância e Famalicão. Como não há apenas uma Maria na Terra, também não há somente um Famalicão (ou uma…. ou será ‘ume’?) em Portugal, e dessa sorte a ‘minha’ Famalicão, ali no concelho de Anadia, é terra que viu os meus pais conhecerem-se nos idos de 50 (século passado, claro) – e tenho a impressão de que isso me foi favorável – e também onde se localiza(va) a escola primária onde estive três anos, não sendo preciso o quarto (‘gaba-te cesto’ por teres feito a primeira e segunda classe em apenas um ano).

    Assim sendo, aqui fica a minha homenagem a Famalicão (de Anadia), e à sua escola que me viu começar a contar e a escrever (não foi bem assim, porque, ‘gaba-te cesto’ outra vez, já lia legendas da TV e contava pelos dedos antes da ida para a primária).

    (goloooooooooo… Arthur Cabral, já com veia goleadora… o que faz um dedo do meio)

    Continuemos depois deste introito do primeiro do Benfica contra este Famalicão que não me interessa nada, excepto quando joga contra o Sporting, o Porto e o Braga. Aí sou adepto ‘deste’ Famalicão desde pequenino.

    Escola primária de Famalicão, no concelho de Anadia.

    Já que estamos aqui numa de recordar a infância, e para isto ter a ver com bola, e sobretudo, com o Benfica, informo também que ‘este’ (ou ‘esta’ ou… espera… como uso, neste caso pronome demonstrativo inclusivo?) Famalicão ficava paredes-meias com a Malaposta, aldeia atravessada pela famosa Estrada Nacional, então percorrida (antes da auto-estrada) por todos aqueles que queriam ir para o Norte (e para o Sul, claro), entre os quais os jogadores do Benfica, que, nos tempos da minha infância, tinham como habitual poiso para almoço (os jogos eram quase sempre ao domingo à tarde, todos à mesma hora) o restaurante Pompeu do Frangos, famoso pelos churrascos em terras de leitão à Bairrada. Acredito que por recomendação de um senhor de seu nome António José Conceição Oliveira, Toni para os amigos (e todos os demais, onde me incluo), nado e criado em Mogofores, a menos de 500 metros onde morei até aos 10 anos.

    (entretanto, sem glória, e desesperançado dos 14 a zero, e vejam como já nem almejo o mítico 15 a zero, acaba a primeira parte; menos mal, estamos a ganhar)

    Adiantada que vai a crónica, fui gastar os 15 minutos de intervalo a contornar as filas para a casa de banho e para os comes-e-bebes, até dar um abraço ao nosso colunista Tiago Franco, que das terras suecas (e de Santa Maria, de quando em vez), aqui está pela Grande Lisboa, e não perde oportunidade para se exasperar ao vivo e in loco com as opções do Robert Schmidt, enquanto zurze na ‘tosquicidade’ do João Mário e de mais uns quantos…

    Aspecto de um bom arroz de molho pardo.

    (e a segunda parte avança enquanto escrevo, e tirando um ‘tiro ao boneco’, leia-se ao guarda-redes, do Arthur Cabral, que devia ter feito melhor, o melhor que se viram foram as defesa do Trubin, por sinal guarda-redes benfiquista, que contribui para que do 14 a zero desejado, pelo menos que no zero à direita se acerte)

    Como bons benfiquistas, este um a zero não nos satisfaz nada. ‘Parece que estão todos de férias como o Di Maria na Argentina’, digo-lhe, enquanto lhe peço dois ‘linguados’ (gíria jornalística) para compor esta crónica para ficar com maior sapiência na arte do bitate futebolês.

    Escreve-me ele, na bancada Emirates, de esguelha, por ser o sector 4, que “durante toda a semana a discussão centrou-se no casamento da irmã de Di Maria”, que eu ignorava, avisando que “se déssemos tamanha atenção ao nosso próprio matrimónio, a taxa de divórcios no país cairia a pique”. E remata dizendo que agora percebe afinal, “aqui no estádio, qual era o real problema da ausência do astro argentino” nesse do jogo contra o Famalicão.

    Tiago Franco, comigo numa selfie, em pleno intervalo, sempre pouco satisfeito com as exibições do Benfica.

    E concretiza: “A julgar pela amostra dos primeiros 45 minutos”, opina ainda o Tiago, “o Di Maria seria provavelmente o único com disponibilidade para jogar”, pois “em campo estão nove rapazes a passar um serão entre amigos, Trubin a defender os poucos ataques do Famalicão, e anda ali o João Neves a jogar sozinho outra partida, a uma velocidade totalmente diferente”.

    Como a escrever sobre Famalicão, Malaposta, Mogofores e o Pompeu dos Frangos (onde há uns anos lá comi um arroz de molho pardo, que é como se chama ao arroz de cabidela, de se chorar por mais…), quase não vi a primeira parte, vou aproveitar todos os comentários do Tiago. Ainda me diz que o seu homónimo, o jovem Tiago Gouveia, “está a desperdiçar esta oportunidade, enquanto o Rafa, para lá dos arranques, falha em tudo o resto”.

    Quanto ao Arthur Cabral, afiança-me o Tiago que ele “consegue tropeçar mais na bola do que correr com ela”, e sobre o João Mário, ó surpresa?, digo eu, não é mais meigo: “continua a passar para trás com uma elegância sublime”. Na defensiva, diz ainda que o “Morato, a quem ninguém passa a bola, não tem culpa porque, como diz o meu colega de bancada, ‘ele não sabe mais’”.

    Deu para o farnel, mas não deu para o desejado 14 a zero.

    (eu confesso que, enquanto escrevo as crónicas não tenho muito tempo para perceber estes detalhes, além de que não detenho o sarcasmo futebolístico do Tiago em falar mal de quem se ama)

    Enfim, bela análise, Tiago. Depois disto, vou mesmo tentar ver como consigo que venhas para a bancada de imprensa, para esta Varanda da Luz, fazer análises futebolísticas com direito ao competente farnel (a maçã hoje está um pouco ‘farinácea’ ao contrário do habitual). Talvez envie um e-mail à Presidência da República, e, se não der a cunha, vou então falar directamente com o Lacerda Sales, ou com outro qualquer que prove que Marcelo Rebelo de Sousa é imune a cunhas, venham elas do Doutor Nuno ou de outro qualquer mafarrico.

    (goloooooooo! Rafa com um remate de belíssimo efeito… Vá, Tiago, diz mal agora do nosso Rafinha, que conta, segundo o speaker, 300 jogos de encarnado vestido, made in Luz, porque ainda teve uns quantos pelo Braga)

    Finalmente, estou mais aliviado. Já não aguentava mais nenhum empate com este tipo de equipas, como sucedeu com o Casa Pia e o Farense. Esta época, o Benfica consegue fazer jogos num ritmo sonambúlico, mas que permite, paradoxalmente, pelos sucessivos calafrios causados pelos ataques adversários (de qualquer um), manter-nos sempre activos, na expectativa… de um desastre… ou de uma alegria. Rafa lá consegue garantir-nos descanso ao minuto 85… espero…

    (goloooooo. Musa!, aos 89 minutos…ai agora, quando isto está a acabar?!)

    Enfim, ufa! Não está nada mal, afinal: 3-0 parece-me bem.

    (e só não foi o quarto antes do apito final porque não calhou… ou, melhor dizendo, o Musa falhou escandalosamente na cara do guarda-redes)

    E tu, que me dizes agora, Tiago? Valeu a pena?

    Ai agora já não me dizes nada?

    (…)

    Tarde, mas ainda a tempo, porque ainda demora alinhavar o texto, escolher fotos, e editar tudo, e enquanto os suplentes não utilizados andam ali a correr no relvado, com as bancadas vazias e o Paulo Gonzo aos berros nos altifalantes, responde-me o Tiago:

    “Nunca fico satisfeito com serviços mínimos, mas agrada-me ver o Rafa no papel de herói. Há cinco anos que o ataque depende das arrancadas dele e, enfim, se precisa de 10 oportunidades para concretizar uma… paciência. Se a eficácia fosse outra, nunca teria cumprido 300 jogos (hoje) de águia ao peito [porque seria contratado por um ‘tubarão europeu’, digo eu] . Agora satisfeito, mesmo satisfeito, era se hoje tivesse sido a despedida do João Mário e do Jurasek”.

    És terrível, Tiago, és terrível. Se estivesses aqui no meu lugar, já te tinham posto estricnina na baguete…


    PÁGINA UM – O jornalismo independente (só) depende dos leitores.

    Nascemos em Dezembro de 2021. Acreditamos que a qualidade e independência são valores reconhecidos pelos leitores. Fazemos jornalismo sem medos nem concessões. Não dependemos de grupos económicos nem do Estado. Não temos publicidade. Não temos dívidas. Não fazemos fretes. Fazemos jornalismo para os leitores, mas só sobreviveremos com o seu apoio financeiro. Apoie AQUI, de forma regular ou pontual.

  • Farense 1.1

    Farense 1.1


    Isto de ser um jornal independente, logo de parca capacidade de endividamento – o que, por norma, significa depois ter de se pagar em juros ou em ‘serviços’ –, traz como consequência problemas de agenda quando a Liga, o Glorioso e o… deixa-me ver com está ali no relvado… Farense, decidem marcar um jogo para as 18 horas, mesmo se num feriado, mesmo se santo, mesmo se em honra de Nossa Senhora de Fátima (também conhecida por Imaculada Conceição). Não dá para tudo, mesmo se o percurso entre o PÁGINA UM se faz célere em modo ‘sardinha em lata’ nas carruagens do metropolitano.

    Entre análises, leituras, edições de artigos de opinião, e um prazenteiro almoço com um dos mais consagrados ‘jornalistas de guerra’ (e outras coisas mais) da nossa praça – e sobre o qual teremos novidades em breve aqui no PÁGINA UM –, não consegui acabar o artigo sobre a Global Media, as rescisões e a desastrosa evolução das vendas dos ‘seus’ Diário de Notícias e Jornal de Notícias. Esteve quase pronto, mas ainda sem edição. Teve de ficar para este sábado.

    Lamento-me à Elisabete que não aprecio manter uma manchete no PÁGINA UM por mais de um dia. “Metes a tua crónica do Benfica”, sugere-me. “Não me parece”, respondo: “Só se suceder algo anormal, um 15 a zero; isso sim”. E aqui estou agora, portanto, esperançoso em assistir ao quimérico 15 a zero, aqui da varanda da Luz, embora milagres sejam milagres por raros serem, e por aqui já tivemos um há quase um mês com os dois golos nos descontos contra o Sporting. Melhor será que corram em vez de confiarem na Virgem.

    (além disso, entre ir buscar o ‘farnel’, subir as escadarias, passar por um colega mais ‘avantajado’ na tribuna, assentar arrais, incluindo ligar o computador à corrente, dar umas mordidas na ‘sandocha’, desta vez de paio e queijo, e escrever os três primeiros parágrafos da crónica, já se passaram 27 minutos, e o ‘melhor’ que veio foi um golo anulado por evidente fora-de-jogo do Tengstedt, mais uns habituais falhanços do Rafa)

    Deixemos a utopia, e desçamos à triste e actual realidade que é ambicionar ganhar apenas, apenas ganhar, sendo que agora, neste nosso Benfica, nem com três golos nos primeiros 45 minutos as coisas estão garantidas – o que até se mostra mais emocionante… e irritante.

    Enquanto ali em baixo se continua num rame-rame – que ‘anunciam’ os 15 golos do Benfica somente para a segunda parte –, quero deixar aqui um registo que muito me apraz, e que talvez me tenha passado desapercebido nos outros jogos: muita criançada veio à bola. Temo, porém, que a jogarmos assim, e com os tempos agrestes que se avizinham do ponto de vista financeiro – com a fraquíssima receita da Liga dos Campeões e um grande punhado de jogadores que nem à Imaculada Conceição e ao seu filho interessam –, não tenham muitas alegrias na adolescência, isto para não irmos já para umas décadas mais avançadas.

    (portanto, vamos então ter necessidade de marcar um golo em cada três minutos para os 15 a zero, já que não se conseguiu nenhum em quarenta e cinco)

    Entretanto, como o jogo esteve mesmo uma porcaria, em 17 remates nem um golo, e eu não sei quem foi o mais desastrado – se o Tengstedt, se o Rafa, se o João Mário, se o Kökçü, se o Di Maria, ou se o árbitro ou o VAR –, vou ali ao Facebook ver em quem está o nosso colunista e benfiquista Tiago Franco a desancar.

    Ora bolas! Acabou ele de escrever um post mas apenas para divulgar a sua crónica de hoje no PÁGINA UM. Sobre a Ucrânia. Vale a pena ler

    (raios!, começa a segunda parte com um falhanço incrível do Rafa; ainda ali houve uma carambola, e a bola não entra porque vai parar às mãos do guarda-redes caído… e entretanto, mais uma grande defesa do guarda-redes do Farense… isto nos primeiros três minutos da segunda parte)

    Vou pedir uma opinião por Messenger ao Tiago sobre as ‘incidências’ do jogo…

    (não sei se vale a pena… deve estar agora furibundo com o golo do Farense, por ironia marcado por um Falcão…não é o Radamel, aquele que foi do Porto e agora se arrasta pelo Rayo Vallecano, na segunda metade da tabela classificativa da La Liga)

    Enquanto aguardo pelo comentário do Tiago, e sabendo já que o mais próximo possível da utopia será ganhar agora por 15 a um, convenhamos, os meus fracos conhecimentos de bola me permitem garantir que começa a ser confrangedor assistir à ineficácia atacante deste Benfica, tudo aos repelões, passes mal medidos, centros esquizofrénicos, uma total ausência de um ponta de lança de jeito, ninguém sabe cabecear…

    (assobiadela monumental com as substituições engendradas pelo Robert Schmidt, que manda o João Neves para o banco, além do Tengstedt, por troca com Musa e Gonçalo Guedes… acho que o alemão se está a candidatar à indemnização por despedimento)

    O Tiago, entretanto, assegura-me que o João Mário e o Morato fazem uma ala esquerda que não entrava sequer na equipa do Carcavelinhos, que convém dizer ganhou o Campeonato de Portugal na época de 1927/28 e foi extinto em 1942. E diz-me também que o Tengstedt nos marcou o golo mais caro – o 2-1 contra o Sporting –, presumo que por assim ir jogar muitas mais vezes e falhar ainda mais.

    (goloooooooooooooooooo!!! Rafa!!! Ao décimo remate marca… grita-se Glorioso SLB, julgo que os mesmo que vaiaram o Schmidt há minutos)

    Só faltam agora 14 para o 15 a um… Ou mais um para vencermos à rasca. Pergunto ao Tiago, por Messenger, se está esperançoso. Diz que sim: “Golo do Guedes”, que posso ir escrevendo isso mesmo, e mais se lamenta pelas perdas de tempo.

    (por agora estamos com 88 minutos de jogo, mas com tantas perdas de tempo, os descontos só podem ser uns 10 minutos)

    Portanto, aqui temos mais uma crónica atípica, com o Benfica a deixar o escriba nervoso, e a querer assistir a mais um milagre… Assim, deixo desta vez a sorte ou a desdita do Glorioso nas mãos da Imaculada Conceição nestes… sete minutos de desconto concedidos pelo árbitro. ‘Hora’ para me concentrar, ou pior, minutos para me concentrar. Ou rezar.

    (um desperdício do Musa incrível!!!)

    (e mais outro falhanço, desta vez no fim da festa, nem sei bem de quem; apenas sei de alguém com falta de jeito)

    E pronto: não houve milagre. O Tiago manda entretanto dizer que “este alemão dá-me vontade de partir coisas”. Fica dito. E eu mal visto, porque meti-me em ‘caganças’ com o 15 a zero, e sai-me um empate destes, com o Benfica a rematar 14 bolas à baliza e outras tantas para fora…

    E aquilo que me custa mais é saber que isto não é azar: é aselhice. Mas como o masoquismo faz parte da vida de um adepto, e eu quis armar-me em cronista da bola, levo com estes miseráveis jogos, e ainda tenho de escrever sobre eles. Bem feito… para aprender a dedicar-me, aqui no PÁGINA UM, apenas àquilo que sei: o jornalismo.

    Portanto, até daqui a três semanas, quando voltar a escrever nova crónica que, assim espero, venha a titular Famalicão 15.0… Haja esperança! De milagres, claro.

  • Sporting 2.1

    Sporting 2.1


    Hoje, nem um piu sobre ser eu talismã, até porque para se ser amuleto devemos ter um comportamento à água Vitória, esvoaçando uma meia hora antes do apoio, e não chegar 12 minutos atrasado, por vergonhosas vicissitudes e demais afazeres (sempre me valeu uma conversa sobre o Brasileirão, com o condutor do Uber, adepto do Cruzeiro, que anda pelas ruas da amargura, sob risco de descida), embora ainda a tempo de assistir ao remate do Rafa à barra da baliza do Sporting – quer dizer, a baliza é do Benfica.

    (seria divertido as equipas trazerem, além do equipamento, a própria baliza; só assim faria verdadeiro sentido a expressão ‘golo na própria baliza’)

    Parece que perdi outra oportunidade anterior, aos 9 minutos, mas de oportunidades perdidas é o que o Benfica mais tem feito nos últimos meses, a começar por perder quatro jogos na Champions. Enfim, mas o lance do Rafa foi antes de eu pegar a minha senha, com o número 15 – faz-me sempre lembrar a rábula do 15 a zero dos Gato Fedorento – para sacar veniaga… não! Isso é outra coisa! A senha é para sacar o tradicional lanche, o ‘clássico’ repasto daqui da Varanda da Luz, o qual diga-se ainda não conferi, porquanto assentei arraiais e comecei a adiantar serviço. E, além disso, nas três tribunas da imprensa está tudo bem composto.

    A minha chegada tardia sempre permitiu ter uma perspectiva diferente das imediações do estádio, entendendo que há gente que só vem pela bejeca e sandes de courato. E de ver que, mesmo num jogo desta natureza, há uns poucos retardatários, como eu.

    (lá em baixo, o jogo está, estranhamente, em ritmo frenético, nem parece um jogo do campeonato português, com excepção da eficácia das assistências ou dos remates à baliza, não tanto do Sporting, mas especialmente do Benfica)

    Confesso que nem sequer sei bem que enquadramento devo a esta crónica no decurso de um derby histórico, enquanto tivemos uma semana complicada para o ânimo do país, a saber: a quarta derrota do Benfica na Champions. Dinheiro a voar e, se a fase dos oitavos já é uma miragem, um rombo financeiro para a época já está garantido.

    Ah, e parece que houve também um governo que caiu, acho que de podre, porque quando se encontram 78.500 euros em notas no gabinete do chefe de gabinete do primeiro-ministro, o grau de depravação de uma democracia atinge o fundo… ou o topo.

    (e pronto, estava o intervalo a avizinhar-se, e sai-me isto: João Mário perde a bola e lá seguiu um contra-ataque até ao sueco Gyokeres que, sem perguntar a Trubin ‘para onde a queres’, mandou um fuzil às redes da baliza do Benfica)

    E, pronto, chega o intervalo, e eu atrasado, e estremunhado, ainda nem sequer consegui delinear um fio condutor a esta crónica. Devia ter seguido a minha preguiçosa sugestão interna, anunciando que somente escreveria a partir do primeiro golo do Benfica na baliza do Adán – quer dizer, a baliza é um activo fixo do Benfica, ou imobilizado como se dizia em tempos de antanho (esta ficou-me desta notícia) . Enfim, estou agora aqui de cima, durante o intervalo com pena das valorosas jogadoras da equipa de futsal e de andebol e também dos pujantes (ou pulantes) jogadores de voleibol, que ganharam as respectivas supertaças, mas que são silenciosamente recebidos por um público ainda em choque com o fuzil do sueco.

    (recomeça entretanto a segunda parte)

    Volto a confessar – segunda confissão na mesma crónica (bom seria que outras pessoas sobre outros assuntos mais prementes e relevantes para a democracia portuguesa confessassem também, mas não a um padre para evitar o segredo da confissão) – que estou hoje pouco animado e esperançado neste jogo. Cheira a fim de ciclo e ao início de um período nebuloso para as hostes benfiquistas. Se isto não se endireita, prevejo que, esgotados os dois dérbis, até ao fim do campeonato vai isto andar em meia-casa.

    (Deus existe e é benfiquista, embora com limitações, porquanto não conseguindo que o Musa dê uma para a caixa, sempre permite que o sportinguista Gonçalo Inácio se permita a levar o segundo amarelo, e a sair para o banho mais cedo)

    Mesmo contra 10, o meu ânimo não é muito. Nem me apetece escrever, a bem da verdade. Fico a assistir a uns minutos de jogo sem escrever para ver a reacção do Benfica à superioridade numérica, mas nada: nenhum lampejo. Olho para a cobertura para ver se há ali uma nesga para uma intervenção divina.

    Enfim, para compor a crónica, recorro ao Tiago Franco, também aqui presente, mas na bancada defronte (BTV). Escreve ele no Facebook não ser “um génio da estatística”, mas que está “em condições de afirmar que o João Mário perdeu todas, repito todas, as bolas que disputou”, sendo assim “o principal municiador do contra-ataque lagarto. Alguma teria que entrar.” E acrescenta que “no terceiro anel, qualquer pessoa com dois olhos percebe que o jogo termina nas alas. João Mário é menos um e Di Maria, hoje, também. Florentino está reduzido a passes de cinco metros e João Neves joga sozinho contra o meio-campo do Sporting (e por incrível que pareça, chega)”.

    Ainda diz que “o jogo está a pedir Tiago Gouveia e [Gonçalo] Guedes por troca com João Mario e Di Maria. Agora, já, não aos 83 minutos. O jogo também pedia um treinador no banco do Benfica, mas não entremos em extravagâncias”.

    Em corrosivo post scriptum, adita, por fim, que “com o Sporting reduzido a 10 e mais espaço para jogar, [Roger Schmidt] deixa o Guedes e o Gouveia no banco e mete o Tengstedt, o maior manco que chegou à Luz depois do Pringle. Se isto não é justa causa para o despedimento, não sei o que será”.

    E não escrevendo eu tão bem como ele sobre matérias futebolísticas, concedo que tenha razão.

    (concedo o caraças! Golo do menino João Neves, ao quarto minuto dos descontos. Ufa,ufa, ufa!)

    Acho que devia retirar tudo o que o Tiago escreveu, até porque me informa ter saído do estádio, envergonhado, ainda antes dos descontos… Um incréu! Mas, enfim, eis o problema de uma crónica em directo: os seus comentários despacharam-me umas boas linhas, que agora teria de substituir. Além disso, o golo do miúdo Neves não muda um triste desempenho. Um empate do Benfica, ainda mais na Luz, sabe sempre a pouco, ó Roger! Como se fosse uma derrota…

    (GOLOOOOOOOOOOOOOOOOO!!!! MILAGREEEEEEEE!!!!)

    Ai coração! Tive de censurar uns palavrões… Marcou fora de jogo o fiscal-de-linha. Não pode ser!… Espera, o Soares Dias em conversações com o VAR… ai ai ai ai, tu queres lá ver que o VAR vai ver melhor?

    (GOLOOOOOOOOOOOOOOOOO!!! É mesmo golo. Deus existe. Existe porque escolheu o ‘manco’ dinamarquês Tengstedt para revelar mais um milagre)

    Tiago, estás despedido! De comentador de futebol daqui da Varanda da Luz, só, claro! Mas já te serviu não teres assistido à maior reviravolta dos tempos recentes. Roger é, afinal, grande! Ou Deus, talvez.

    Vou desandar. Prefiro as minhas investigações jornalísticas…

  • Casa Pia 1.1

    Casa Pia 1.1


    Algo transformar-se, no decurso do tique-taque do universo, num clássico não é, na verdade, necessariamente positivo. Por exemplo, o farnel com que sou presenteado nas minhas visitas à Varanda da Luz, para escrever esta crónica, é chapa-três: baguette, barrita de cereais, peça de fruta e água ou sumo. Hoje foi água. Não me estou a queixar, apenas a constatar que tem sido sempre a mesma ementa, qualquer que seja o jogo, Porto ou Casa Pia – ou seja, sempre a mesma coisa quer nos jogos mais fáceis quer nos jogos mais difíceis. Por esta ordem.

    Eu estou verdadeiramente confiante que, com o tal tique-taque em curso, discorrendo o tempo, a realidade ilumine o córtex, os lobos temporal, parietal e occipital, os gânglios de base e o corpo caloso, mesmo dos mais cépticos e crédulos, incluindo os adversários do Benfica, de sorte que a todos assim fique patente a minha capacidade de talismã – ou seja, estando eu na Varanda da Luz, sai sempre vitória…

    (nem de propósito, esvoaça a águia Vitória, não sei se com reforço alimentar)

    … e que, provando-se isso, e quero que seja com critérios objectivos, revistos pelos pares, comecem a ofertar-me acepipes a preceito, a saber: caviar de beluga ou sevruga do Mar Cáspio, foie gras Mont d’Or, salmão defumado escocês, que o da Noruega dá-me azia, e uns queijinhos Roquefort, Gruyère e Parmigiano-Reggiano; e para molhar o bico, talvez um Dom Pérignon e um Moët & Chandon, para não ser demasiado exigente, e talvez também um Bordeuax à falta de um Château Mouton-Rothschild. Dispenso uísque e bourbon.

    (entretanto, começa o jogo… Di Maria no banco, Arthur Cabral como terceiro central do Casa Pia)

    Já estou a imaginar os leitores, incrédulos, aqueles poucos que acompanham futebol (e fazem muito bem): então, mas o Benfica já não vai em quatro derrotas esta época em jogos oficiais? Claro que vai! Uma desgraça… Ainda mais porque bem perdidos, porque muito mal jogados… Mas eu nunca assisti ao vivo a nenhuma desses desaires, nem àquelas duas que já ali em baixo sucederam, no caseiro gramado, onde, aliás, se desenrola um jogo de passes falhados e pouca objectividade.

    (objectividade: lá estou eu com os jargões futebolísticos)

    Portanto, não vi a derrota no Boavista, em Agosto, nem as derrotas contra o Salzburgo, em Setembro, e em Milão, contra o Inter, e nem sequer a derrota desta semana contra a Real Sociedad. Comigo aqui sentadinho, a escrevinhar bitates, só vitórias… E assim se escreverá daqui a cerca de uma hora… Espero, senão desespero.

    (vamos lá ver se não me estatelo com esta minha decisão de hoje dissertar sobre ser eu um porta-sorte para o Benfica… ali em baixo, o jogo já vai nos 38 minutos, e, apesar de umas boas oportunidades, falta-nos um Gonçalo Ramos, ou um Félix do Barça)

    Está, de facto, o intervalo a chegar – e eu a ver isto mal encaminhado…

    (goloooooooo… chiça, estava difícil… ainda por cima, um remate de belo efeito, mais um jargão, do João Mário, que nos jogos mais recentes andava que metia nojo)

    Ufa! Agora que estou mais calmo – e a vitória se começa a desenhar –, vou revelar porque estava, e estou, tão confiante, pelo menos neste jogo em concreto, sobre a minha presença nesta Catedral manter a invencibilidade, melhor ainda, ser-se invicto. Hm! invicto, não! Isso faz lembrar a coragem do Porto nas Guerras Liberais do século XIX, e agora estamos no século XXI e quem fala de Porto numa crónica futebolística, logo se remete para o Futebol Clube do Porto, que aqui na Luz deu, há umas poucas semanas, menos trabalho do que este Casa Pia. Fiquemo-nos, enfim, por imbatível.

    (entretanto, lá temos a segunda parte a começar)

    A confiança provém, na verdade, da Estatística que, no futebol, não ganha golos mas é um ‘posto’…

    (merda! O Florentino a fazer porcaria com uma rasteira clássica dentro da grande área; nesta nem VAR é preciso, que até eu míope daqui de cima vi… E estava eu confiante… esqueço-me da existência de jogadores com paragens cerebrais… ai… ai… ai… GRANDA DEFESA DO Trubin!!! Como se chamava mesmo aquele grego que foi recambiado para o Nottingham Forest?)

    Portanto, continuando isto em versão Casa Pia 1.0, expliquemos que, pela Estatística, o Benfica tem 100% de probabilidades de vencer este jogo…

    (Jesus! Maria! José! Isto hoje vai ser só sobressaltos. Mais uma grande intervenção do Trubin)

    Repitamos, que já me estou a irritar: o Benfica já antes defrontou o Casa Pia por 11 vezes, embora apenas três vezes neste século. Não interessa: sempre vitórias, sendo que a duas últimas foram na época passada e a mais recente em Fevereiro passado, com um seco 3-0. Presumo, pelo andar da carruagem, mesmo se agora entrou o Di Maria, que isto chegue a esse patamar sequer. E não vai ser, desta vez, que trucidamos com um 10-1, como as águias fizeram aos pobres casapianos no longínquo 16 de Abril de 1939, pouco mais de quatro meses antes de Hitler invadir a Polónia…

    (e agora se não se importam, interrompo isto um bocadinho, para dar uma olhadela mais atenta ao jogo, e começar a paginar, que hoje ainda tenho de ir a um jantar e discursar sobre liberdade de expressão, informação e jornalismo)

    Faltam 15 minutos, e agora já só me interessa a vitória, para manter a esperança no ‘meu’ beluga no saquinho do farnel….

    (e lá se vai o beluga… depois de fazer excelentes defesas, incluindo um penalty, o Trubin leva com um remate defensável por baixo da ‘rata’… Regressa Vlachodimos, que estás perdoado!)

    Enfim, faltam sete minutos até aos 90, e já que a Estatística não resolve, e nem os jogadores, e muito menos o Schmidt, comecemos a ter Fé… num milagre.

    (entretanto, sete minutos de desconto para que Deus Nosso Senhor tenha piedade do Benfica, mesmo se o adversário é o Casa Pia)

    Não houve milagres…

    Sai um coro de assobios para a mesa do Roger Schmidt e jogadores, à conta de um péssimo jogo com pior resultado. Mas têm a minha promessa de regresso no próximo jogo, com direito, espero, ao farnel habitual… que está sempre muito saboroso e aconchega, diga-se. Parafraseando Ilsa Lund, interpretada por Ingrid Bergman no filme Casablanca, aqui na Varanda da Luz, mesmo com maus resultados, “we’ll always have baguette“…