Etiqueta: Da Varanda da Luz

  • Arouca 5.0 (com um sportinguista ao lado)

    Arouca 5.0 (com um sportinguista ao lado)


    Vamos esquecer a história das vindimas que só terminam com o lavar dos cestos, mote da minha última estapafúrdia crónica – ou penúltima, se esta for considerada a derradeira (desta época, convém acrescer) – , que na semana passada em Famalicão o “perdigão perdeu a pena”, e vamos a factos: o Sporting foi um justo campeão, e isso já é passado, pelo que, em sinal de reconhecimento, ou mesmo de homenagem, trouxe hoje comigo um empedernido sportinguista, o jornalista Carlos Enes, para colaborar nesta crónica, não sabemos ainda bem como. Decidimos, agora, que será em crónica autónoma. Uma vez para nunca mais… esta época, claro.

    Está ele, confessou-me, feliz da vida, ainda mais porque o Sporting acaba de vencer esta tarde a Oliveirense na final da Liga dos Campeões de Hóquei em Patins – que tem tanto prestígio internacional como o Mundial do Berlinde –, mas, mesmo sendo um dos excelentes jornalistas de investigação cá do burgo, está convencido que a Estatística é uma ciência esotérica, pelo que não imagina sequer que, ao ganhar este ano o campeonato, o Sporting hipotecou a chance de ser campeão no próximo ano. Passo a explicar…

    (interrompo apenas para assinalar que o jogo começou; com meia casa; algum entusiasmo; sem ninguém brindar, ainda, o Schmidt com nefastos destinos; o João Maria em campo a garantir bolas passadas para trás em número suficiente para não ser possível uma goleada; e dois jogadores no banco que eu nem sabia que existiam: Gianluca Prestianni e Diogo Spencer)

    … portanto, ia dizer, se considerarmos a contemporaneidade – isto é, basicamente, aquilo que não é História para mim, ou seja, o Mundo a partir de Novembro de 1969, e até deveria ser Dezembro de 1969, porquanto deu-me em nascer antes do tempo –, a probabilidade de o Sporting ser campeão na época de 2024/2005, portanto, de ser de novo campeão é… ZERO. Um redondo zero por cento.

    Vejamos então. A última – e tenho a sensação que será mesmo a última até ao bíblico ‘fim dos tempos’…

    (interrupção, por mor de uma ‘interrupção’ à margem das regras de um cruzamento, que dá origem a penalty… Vá lá, Di Maria: não falhes mais um… Golooooooooo!!!! Sem espinhas)

    Continuemos… Como dizia…

    (bolas, assim não dá: estava a aqui a consultar o histórico dos campeonatos desde os tempos da Outra Senhora, passam uns minutos, entoam as bancadas ao minuto 27 um cântico em honra do Rafa, e mais um penalty… a favor do Benfica. Este vai para o turco Kökçü que… goloooooooo!!!! É hoje que vai ser o 15 a zero, para fechar)

    Vamos lá aproveitar alguns segundos – ou, vá lá, minutos – antes de o Benfica espetar o terceiro para continuar a narrativa sobre as chances nulas de o Sporting ser bicampeão, para concretizar a minha tese (de esperança para as águias na próxima época), sem antes notar que, aqui ao meu lado, o Carlos Enes disfarça o seu êxtase pela honra de estar aqui na Varanda da Luz… O deslumbre é tão grande que, olhando-o de soslaio, e para o seu computador, apenas ele me escrevinhou meia dúzia de linhas, e nem sei bem o que dali sairá.

    (e grande fuzil do Rafa a carimbar o terceiro… acho que se reservaram para o último jogo)

    Camandro!, assim não consigo avançar… Vamos lá. Reza a História da Ludopédio Lusitano que, em 90 campeonatos (vamos começar na época de 1934/1935), o Sporting foi tricampeão nas épocas de 1946/1947 a 1948/1949, foi tetra nas épocas de 1950/1951 a 1953 a 1954. Significa isto várias coisas, segundo diversas perspectivas. Do ponto de vista ideológico, o Sporting nunca foi bicampeão em tempos de democracia, porquanto nos pouquíssimos anos em que o campeonato que, vá lá saber-se como (e em dois casos com um treinador que ‘aprendeu’ na Luz), lhe saiu na rifa desde a Revolução dos Cravos – sete, para ser preciso –, depois do sol na eira, seguiu-se a chuva no nabal.

    Carlos Enes em momento de 0-0…

    Sigamos. Do ponto de vista ‘cronológico’, convenhamos que, valendo as estatísticas o que valem, ter de recuar ao tempo dos ‘Cinco Violinos’ para encontrar uma série de mais de uma vitória em dois anos é ‘coisa’ ainda mais longínqua do que a famigerada Maldição de Béla Guttnann, que como é sabido constitui a única e infelizmente inquebrantável razão pela qual o Benfica nunca mais se fez campeão europeu.

    Tenhamos, portanto, benfiquistas, um sinal de desportiva empatia com os sportinguistas, que agora festejam, embora, estatisticamente falando, devam estar desesperançados de se tornarem bicampeões na próxima época. Aqui ao meu lado, o Carlos Enes, nascido nos idos de 73, não apenas jamais viu o Sporting bicampeão como só festejou quatro campeonatos desde que é maior e vacinado, andando a pedinchar por um título entre 2003 e 2020. Já eu, benfiquista de gema, festejei 11 campeonatos desde que sou maior, e ‘colecciono’ um tetra. Isto sem falar nos 10 campeonatos que ganhei enquanto menor de idade, incluindo dois tricampeonatos.

    (intervalo, vamos descansar, que para a segunda parte cheira-me haver mais uns quantos golos, para alívio do Schmidt que devo querer passar o jogo sem ninguém se aperceber que está no banco…)

    Enfim, mas estando resolvida esta questão – o que permite quantificar a esfuziante alegria dos lagartos, pouco atreitos a campeonatos em tempos democráticos –, convenhamos que há mais diferenças entre benfiquistas e sportinguistas, personificados em mim e aqui no meu ‘camarada de carteira’.

    Assim, convidou-me ele – ou desafiou-me – para assistir ao jogo do Sporting de ontem, como contrapartida ao meu convite para vir comigo à Varanda da Luz. Mas em vez de ser num estádio, levou-me para a sua casa. Está bem que o ecrã da televisão dele não é mau de todo, mas, enfim, nisto que se vê porque há uns tipos são benfiquistas e outros que acabam sportinguistas…

    (goloooooooo…. mais um do Rafa… está a despedir-se em grande)

    Ainda por cima, vindo o Carlos Enes ao estádio do Glorioso, ainda recebeu, como eu, o extraordinário repasto constituído por uma baguete de queijo flamengo + carne fumada + espinafres, uma barrita de chocolate, uma maçã e uma garrafinha de água de PH básico. Tudo de borla! Já eu, enfim…

    (golooooooooo…. entrou o Tengstedt, de má memória dos sportinguistas, e marcou… já vamos em cinco, não é?)

    Dizia eu que, enfim, em troca de honrosa estada na Varanda da Luz a assistir a excelente espectáculo desportivo e degustando opíparo farnel, o Carlos Enes somente me disponibilizou ontem – e, confesso, novamente hoje, pelo almoço – um singelo leitão assado, uma despretensiosa cachupa, um primitivo frango de churrasco, umas banalíssimas gambas, tudo antecedido por coxinha de alheira, queijos diversos, batatas doces e normais e outros modestos acepipes, tudo regado por tinto do Alentejo, que houve quem viesse de propósito de Alpalhão para, em Lisboa, assistir ali para os lados da Graça, a um jogo na televisão transmitido a partir do Estoril. Enfim, também aqui se destaca a diferença entre o Benfica e o Sporting…

    (ali em baixo, o jogo caminha para o fim, nada muito relevante, excepto as substituições onde se incluíram as saídas de Di Maria e do Rafa para as palmas)

    Carlos Enes em momento de 5-0, claramente ‘rendido’.

    E, pronto, haveria ainda mais umas quantas coisas a dizer, e a contar, sobre o Benfica – e sobre o Sporting –, mas fica, certamente, para a crónica ‘subsidiária’ do Carlos Enes, que agora me parece estar afanosamente a escrevinhar. Por mim, encerro a época; talvez para o ano tenhamos mais uma edição do Varanda da Luz, neste ou noutros moldes, que parece que ainda não irritei demasiadas pessoas, que nunca conseguem convencer-se que um jogo de futebol é apenas isso: onze gajos (neste caso são gajos) as pontapés e cabeçadas na bola, e caneladas às vezes, com o fito de a meterem nas balizas adversárias, ao qual se seguem sempre momentos onde apenas apetece brincar um pouco com os derrotados. E depois segue-se para a vida a sério… Até para a próxima época!

    (e acaba o jogo e as crónicas desta primeira época Da Varanda da Luz)

    Ah, um post scriptum: reparem que na Varanda da Luz nunca se relatou uma derrota do Benfica, e somente dois empates… Que se registe e se venha a conceder, no futuro, mais do que uma baguete de queijo flamengo + carne fumada + espinafres, que hoje até se leva para casa, porque vim cheio do almoço em casa do Carlos Enes…


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  • Sporting de Braga 3.1

    Sporting de Braga 3.1


    Mesmo sabendo que as inflorescências da videira ocorrem, no Hemisfério Norte, em meados de Maio – e assim, estando nós ainda em Abril, nem se pode sequer prognosticar como será a próxima vindima, até porque o chão esverdeado, ali em baixo, não anda a dar o fermento de outras épocas –, vamos acreditar que ainda há-de haver cestos para lavar. E terra para lavrar. O campeonato – vamos lá sonhar, e o sonho comanda a vida, como dizia o poeta António Gedeão – não são favas (ainda) contadas para o Sporting. Os milagres acontecem; os pesadelos também.Estou a lembrar-me do José Peseiro e o ‘seu’ Sporting em 2005. OK, também tivemos o nosso momento-pesadelo, com Jesus, mas agora “isso não interessa nada…”.

    Portanto, com este Braga, ainda se pode somar 12 pontos, o Sporting vai com sete à frente, matematicamente ainda podemos ficar com cinco pontos de vantagem. Basta, coisa simples, o Sporting perder amanhã nas Antas (nunca por menos de 5-0, já agora), depois escorregar com o Portimonense, o Estoril e o Chaves. Sendo certo que estes três últimos estão a lutar para não descer de divisão, enfim, haja esperança, a probabilidade não é zero. Também na pandemia a probabilidade de adolescentes morrerem de covid-10 era quase zero, mas não era zero, mas mesmo assim quis-se vacinar tudo como se a probabilidade de fenecimento de jovens causado pelo SARS-CoV-2 fosse, afinal, próxima da certeza.

    (começa o jogo; o Schmidt não meteu o Tengstedt, preferindo o Arthur Cabral, mas em compensação escolheu o João Mário para o meio-campo, garantindo assim uma boa dose de atrasos… de vida)

    Por agora, o Benfica precisa de ‘despachar’ este Braga (que em vez de vestido à Arsenal, traz hoje um equipamento de azul cueca), que, apesar de ser sempre ‘chato’, tem anos que dá umas ‘alegrias à malta’. Numa consulta a sites especializados, a probabilidade de derrota anda nos 4% e o empate nos 18%. Mas neste ganhar ou perder, a mim só me fica o ganhar por muito. No futebol, o massacre é aceitável. Aliás, é o objectivo. De contrário, transformava-se num jogo de xadrez, onde só há vitória, derrota ou empate, sendo que até se antecipa a derrota quando se observa que essa é a certeza nas jogadas seguintes.

    (lá em baixo, jogo animado, mas a faltar eficácia; o Braga também não está na retranca, prevendo-se assim um jogo complicado… o habitual, nesta época)

    Ai memória! Que saudades daquela cabazada de 6-1 em Novembro de 2021, com o primeiro golo do novo campeão alemão, o Grimaldo, e quando o Rafa andava com as pilhas todas e tínhamos pontas-de-lança decentes (Darwin Núñez). Mesmo assim, melhor ainda, pelo espectáculo e por ter assistido ao vivo, foi o 6-2 em Dezembro de 2018. Até porque, nessa época ficámos em primeiro, e na de 2021-2022 quedámo-nos na terceira posição a 17 pontos do Porto.

    (e pronto, lá vamos nós ter uma tarde desgraçada: marca o Braga por Ricardo Horta, depois de una fífia da defesa benfiquista, que um cruzamento atrasado para o coração da área, onde o ‘arsenalista’ vestido de azul cueca tem sorte no remate a passar pela ‘rata’ do Trubin)

    E, portanto, cá estamos com meia hora de jogo, a fazer contas à vida, ou, melhor dizendo a fazer contas para a próxima época, onde, entre outras coisas, teremos de saber como formar uma equipa decente.

    Talvez a pensar nisso, mas com estúpidas acções, estará uma das claques benfiquistas, metidos atrás da baliza, lançam tochas para a área do Trubin, desdobram tarjas contra o Rui Costa, e fica o jogo interrompido por minutos. E a garantia de mais uma multa para os cofres da Liga.

    Pelo andar da carruagem, quais cestos, quais vinhas, quais carapuças: o Sporting vai sacar já o vinho este fim-de-semana…

    (como fiz gazeta durante uns minutos, o intervalo chega, para ambição de muitos, esperançosos de que um pequeno descanso traga outro alento)

    Aproveitando o ensejo de estar a combinar o regresso do podcast O Estrago da Nação, interrompido por razões as mais diversas nas últimas semanas, aproveito para pedir uma opinião ao Tiago Franco sobre as incidências desta lamentável primeira parte, O Tiago tem o especial condão de ser um óptimo cronista a desancar quando as coisas correm mal, algo que tem sido demasiado frequente esta época.

    Também ele, acidamente, está já a pensar na próxima época: “Mau ensaio neste segundo jogo de pré-época onde se nota a desmotivação de quem joga para nada. Se pudesse falar com Roger Schmidt perguntar-lhe-ia a razão de ter jogado com João Mário, Morato e Tengstedt quando disputava títulos e, no fim, perto de perder tudo (ou mesmo depois de perder), lá se virou para Florentino, Neres e Cabral”.

    (recomeça o jogo… vamos ver se isto inverte)

    Continua a análise do Tiago Franco: “Carreras depois de um bom jogo em Faro, volta para o banco; Aursnes demora a chegar ao meio-campo e continua a fazer de ‘tapa-buracos’; e João Mário, contra um combativo meio-campo bracarense, pautua todos os passos para o lado que o leitor possa imaginar”. E lá continua a língua viperina. “Pior do que Schmidt e a equipa, só aquele grupo de adeptos que travou qualquer hipótese de reacção ao golo do Braga com uma interrupção de jogo por lançamento de tochas. É bom saber que estamos todos no mesmo comprimento de onda: treinador, equipa e adeptos”, acrescenta o Tiago, para concluir: “Ninguém acerta uma”.

    (para já, o Schmidt parece que ficou com as orelhas quentes, e substituiu antes do minuto 70, metendo mesmo o Carreras por troca do Bah… Carrega Benfica)

    Eu acho, sinceramente, que o Tiago Franco deveria ser rapidamente contratado pelo Departamento de Psicologia do SLB: quando as coisas estivessem um desastre, seguia para o balneário e dava uma descasca monumental naquele pessoal para os espicaçar… Até eu sinto que vai haver uma mudança. Tem de haver uma mudança… Não venho aqui para a Varanda da Luz para ver uma derrota (em abono da verdade, ainda não a vi): já me chegará perder campeonato.

    (goloooooooooo… Marcos Leonardo, marca um minuto depois de substitui o apagado Rafa… isto ainda lá vai porque correram logo com a bola para o centro do terreno)

    De facto, uma das coisas que aprecio no futebol é exactamente podermos partir do desânimo à euforia, e vice-versa. Assisto, aliás, com alguma comiseração aos resumos de jogos que acabam, por exemplo, num humilhante 1-7, sendo que o derrotado marcou o primeiro golo entre festejos que jamais antecipam o desastre em hora e meia de peleja.

    Portanto, ainda faltam 20 minitos, isto com mais umas substituições ainda lá vamos… As inflorescências das videiras, mesmo com a alterações climáticas, sempre vingarão, e os cestos ainda são passíveis, e possíveis, de serem levados depois da vindima… Carrega lá, Benfica…

    (olha, e carregou mesmo: golooooooooooo. David Neres, nos seus gigantes 1,75 metros, a facturar de cabeça ao segundo poste na sequência de um daqueles cruzamentos teleguiados do Di Maria)

    Pronto, reviravolta. O nosso Schmidt, convenhamos, concede-nos sempre jogos animados, onde só há uma certeza: a incerteza de um final feliz. Por agora, quer queiram quer não, e tendo eu decidido que a Varanda da Luz somente se destina aos jogo da Luz, ainda não assisti a nenhum desaire completo, embora aqueles empates contra o Casa Pia e o Farense custaram-nos bem caro.

    (entretanto, a vitória está assegurada, com o ‘momento Big Brother’: uma sarrafada ao Di Maria dá direito a vermelho directo ao lateral direito do Braga, Victor Gómez)

    E cá estamos nos descontos, são sete os minutos, e assegurado está, parece-me, que ainda há uma probabilidade, remota que seja, de irmos lavar cestos…

    (e goloooooo… Marcos Leonardo: não há uma sem duas bolas lá dentro; aos cinco minutos da compensação)

    Pronto, de repente, uma vitória sem espinhas. Quem diria que, em 20 minutos, um potencial desastre se trnsformaria num resultado confortável. Só não percebo porque razão não se mete o gás todo nos primeiros 20 minutos e se fica depois a gerir a ‘coisa’ nos 70 minutos finais. Enfim, talvez seja o Schmidt a querer dar-nos emoção até ao fim. Só pode mesmo…

    P.S. Ah, já agora: só esta tarde reparei que as sandes de couratos, nas tasquinhas nas imediações do Estádio da Luz, estão a ser vendidas a 4,5o euros por unidade. Bolas, o índice de preços ao consumidor (IPC) de certeza absoluta que não considera a sandes de couratos no cabaz de compras. Uma sandes de couratos a 900 escudos na moeda antiga! Só se em vez de pão for em brioches. E mesmo assim! Está tudo doido?


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  • Moreirense 3.0

    Moreirense 3.0


    Após os funestos acontecimentos da passada semana, soubesse eu tocar mais do que campainhas de porta – e já pouco treinado ando, que quase nenhumas há agora –, e tivesse eu guitarra, já a teria metido esta época no saco, e andava agora a banhos que agora está bom tempo para isso. Mas compromissos são compromissos, já nem sequer estou aqui como cronista comprometido (de águia ao peito desde que se conhece) e compenetrado (em ser de novo campeão, que uma vez mais nunca é demais), mas sim como ‘escravo’ de uma promessa. Assim não chego a político.

    Estou assim, confesso-vos, tão entusiasmado esta noite quantos as dezenas de milhares de adeptos benfiquistas que deixaram, ali em baixo, excelentes cadeiras vazias em plena bancada central mesmo no enfiamento da linha do meio-campo.

    (cheguei ligeiramente atrasado, já nem vi a águia Vitória, que deveria fazer gazeta sob protesto)

    Em todo o caso, mantenho-me empedernidamente profissional, e mesmo se seduzido por amiga para assistir a estre jogo em camarote com pitéus suculentos e fartas viandas, mas acho que já estou viciado na baguete – hoje acompanhada por snacks de milho frito com sabor a queijo, uma maçã e a habitua água pH 9,5 – com que me banqueteio – estou a exagerar, embora ainda fosse pior se escrevesse “com que me lambuzo” – desde Agosto. Em todo o caso, envia-me ela uma fotografia de uma panacota de manga que me faz o gosto. Também havia pipis… e filetes de tilápia com molho de citrinos e cama de legumes e batata. Mais um peixe do qual nunca tinha ouvido sequer falar quanto mais provar.

    (golooooooo… Kökçü numa boa jogada de contra-ataque em triangulação)

    Reparo agora melhor na equipa do Benfica – grande cronista que saio, que venho ver um jogo de bola completamente impreparado (sem falar que estou para mudar de graduação há dois meses) – e noto que está mais de meia equipa não habitualmente titular, incluindo o guarda-redes Samuel Soares. Até o Morato e o João Mário estão a jogo, o que garantidamente dará uma crise de nervos ao nosso colunista (recém-regressado de férias) Tiago Franco.

    Na verdade, e isso não é propriamente uma boa notícia, a equipa ali em baixo do Benfica – que não tem Otamendi nem Aursnes (que nem no banco estão; o segundo a cumprir castigo) nem Rafa nem Di Maria nem Florentino nem Tengstedt (e ainda bem) – nem se está a portar mal, apesar de um ou outro calafrio na defesa. Até mais solta, remata mais (bela ‘bomba’ de Arthur Cabral à barra, e um remate bem intencional em arco do lateral esquerdo Carreras). Claro, está o João Neves a jogar, o que vale meia equipa.

    Entretanto, o intervalo aproxima-se e…

    (goloooo… Tomás Araújo em insistência depois de mais um canto… esta quase não queria entrar)

    E pronto, intervalo, vai tudo descansar. E eu também; aliás, deveria era estar a dormir, que hoje descansei pouco. Ando em processo de ‘trasladação’ da minha biblioteca pessoal para a nova redacção do PÁGINA UM, e entre escrita de artigos e outras burocracias, tem-me tomado tempo de sono.

    Entretanto – e este ‘entretanto’ não vai ter golo –, começa a segunda parte, com três substituições de uma assentada, nem parece ‘coisa’ do alemão, incluindo Neres e João Neves, o que não me parece boa ideia. sobretudo por ser manter João Mário. Assegura-se assim uma segunda parte de contenção. Sonolenta, portanto. Barbitúrica, mesmo.

    Acho que vou começar a paginar a crónica, fazer o upload das fotografias… Hoje, terei de me despachar que seguirei depois para a Worten, ali no Colombo, para reclamar de uma máquina de lavar loiça Indesit que, pela segunda vez no prazo de um ano, me dá um erro F1 e nicles… Nem água mete. Volto aqui se, com um entretanto, o Benfica por um milagre marcar um golo, havendo lugar a canonização se for da autoria do João Mário.

    (olha… houve mesmo golo; marca um tipo que eu tenho de ir ver como se escreve para não me enganar: Rollheiser; isso)

    E nisto vamos no minuto 80, e eu aqui em troca de mensagem com um lagarto que anda de peito feito por mor do iminente título sem qualquer eminência. Como já devem ter desconfiado, esta crónica hoje está em serviços mínimos. Mesmo assim deverá merecer as habituais críticas sobre a independência do PÁGINA UM por se meter na bola. Amanhã é outro dia, e o PÁGINA UM UM meter-se-á com a Santa Casa da Misericórdia de XXXXXX, e depois na terça-feira com a Câmara Municipal de YYYYYYY e seguir na quarta-feira com a ZZZZZZ ZZZZZ, e por fim… assim se mostra a nossa ‘dependência’…

    Falta quatro minutos para terminar uma noite descansada. Jogo morninho. Insosso. Ou insonso, como queiram.

    E terminou. E assim cessa esta crónica. Há dias melhores; e outros bem piores, como o do dia 6. Pelo menos que em Marselha o Schmidt, sempre à rasquinha, nos conceda alegrias semelhantes às da mão do Vata em 1990, sob batuta do grande Sven-Göran Eriksson.


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  • Chaves 1.0

    Chaves 1.0


    Depois de uma crónica em dia de eleições, outra em ‘dia da crucificação’ de Jesus, não o JJ. O futebol, sabido está, é quando os homens (e mulheres) querem, e portanto o que vale um sufrágio democrático ou a quadra pascal quando há tantos golos a marcar e frustrações a terminar. Ou a falhar e a criar.

    Hoje, declaro já, só um 15 a zero me deixará satisfeito. Ou menos irritado. Quer dizer, menos abespinhado, porque agastadiço já estou. Neste momento, preciso, para ser exacto. Então não é que chega este vosso escriba às imediações da Varanda da Luz, e uma sádica amiga lhe envia um magote de fotografias de rangos sem fins na bancada VIP do estádio, a saber: sandes de leitão, caril de galinha e legumes, arroz de cardamomo (que, confesso, fui ver o que era), bacalhau à lagareiro, massas, pães, bolos, mais bebidas à discrição – e eu, enfim, levo com o farnel costumeiro, mudando-se apenas a baguete para o recheio de atum, se calhar por causa da quadra pascal.

    (o jogo entrentanto começou, já vai em cinco minutos, uma oportunidade de golo, mas nada…)

    Em todo o caso, sabem já bem os meus (poucos) leitores que, em questões essenciais, como sejam jogos de bola, tento sempre encontrar, para prever resultados, sinais racionais, onde as leis da probabilidade funcionam, e também outros sinais mais esotéricos, como sejam fezadas. Por vezes, misturam-se.

    Do ponto de vista objectivo, o 15 a zero é possível, atendendo que o Desportivo das Chaves é o último, com a pior defesa, tendo já empratado 56 golos. Bem, isto dá ‘só’ uma média de 2,15 golos sofridos por jogo, longe dos 15 que merece hoje levar terras transmontanas, mas convenhamos que se o Farense e o Arouca já lhe meteram cinco cada, e o Boavista e o Estoril quatro cada, então não é impossível para o Glorioso. Basta jogar um bocadinho melhor do que o Porto… que só lhes ganhou 1-0 nas Antas, no final de Dezembro.

    Talvez a contribuir para aumentar as chances do 15-0 estará o João Mário, porque hoje, pelo menos até aos 65 minutos – altura em que o Roger Schmidt costuma fazer as substituições – em grande parte do tempo de jogo ocupará a posição de extremo quieto… no banco. Acho que o nosso colunista Tiago Franco, que o ‘adora’, estará, por estas alturas, particularmente feliz.

    (penalty… é mesmo penalty! caramba, estava difícil o árbitro descortinar uma cotovelada de um defesa do Chaves na cara do Bah, nem com o VAR o homem se decidia… Anda lá, Angelito, o 15 a zero já é mais uma miragem, que quimera se mostra, pois já vamos no minuto 25, mas pelo menos faz o gosto ao pé e descansa a malta… mas que merda foi esta? Porra: até eu não faria pior; um chutezo para o lado direito do guarda-redes que nem sequer teve de se esforçar muito)

    Como isto vai, temos então em perspectiva mais um jogo de caca, passe a expressão – que passará, que eu não censuro palavras –, pelo que nem sei bem se vale já a pena elencar os supostos alegados eventuais esotéricos sinais que me esperançaram, antes do apito inicial, a ver um 15 a zero. Bem, não perco nada, até porque são coisas parvas referem-se ao número da minha acreditação de hoje ser o 55 e o número da senha do ‘farnel do Benfica’ ser o 10…

    Bem, nem eu sei bem que lógica (ou ilógico raciocinio) me poderia servir para fazer que um 55 e um 10 fosse dar, por artes de haríolo, num 15 a zero. Podia juntar um dos 5 ao 1 e ficava com o 0 do outro lado, mas o que faria com o outro 5? Escafedia-se.

    (e nestas andanças se fez uma miserável primeira parte, condizente com um tempo de porcaria, para não dizer de merda, ao qual responde, ou corresponde, bancadas a meio gás)

    Com o intervalo morno, se calhar caía-me bem agora era uma sandocha de leitão, mas tinha de ser da minha Bairrada… Enfim, mas também não me posso vender. Ou assim por tão pouco…

    Bem, como isto se escrevinha em tempo real, sempre terei agora um tempinho, que esta crónica – a última em que falarei do meu desejo de ver um 15 a zero – está uma bosta e já nem sei bem que dizer, para divulgar nas redes sociais a ‘nossa’ (do PÁGINA UM) análise sobre as duas dezenas de Resolução de Conselho de Ministros de António Costa que condicionam o Governo de Luís Montenegro. Escrito esta tarde, antes de vir para esta malfadada Varanda.

    (a segunda parte recomeçou… tudo como dantes no Quartel de Abrantes, ou seja, segue parca ou porcamente mal)

    Isto está tão fraco que, na verdade, acho que houve um sinal, sim, mas aziago, que é a poça de água ao fim das escadas de acesso aos elevadores da comunicação social aqui do estádio. E eu até fotografei o aviso de piso escorregadio…

    Passa o tempo e vem a desesperança. Eu sei que não deveria dizer isto numa crónica ‘comprometida’, que não é jornalística: o Benfica este ano só ganha o campeonato por milagre! E isto aplica-se também a este jogo, parece-me.

    (olha, outro penalty, e indicado pelo VAR, que ainda por cima agora anuncia a ‘coisa’ pelos altifalantes… vamos lá, Arthur Cabral, não faças o mesmo que o Di Maria, chuta mellhor… mas que merda é esta?… falhou; está tudo doido)

    Ainda por cima, envergonho-me perante o sportinguista Bruno Cecílio – com quem estava ao telefone, quando o Arthur Cabral se preparava para rematar, de sorte a combinarmos a hora para amanhã continuarmos a montagem de estantes na nova redacção do PÁGINA UM na rua… –, que ainda por cima teve o desplante de dizer que, e cito, “isso deve ser tudo uma roubalheira”.

    (bom, não sei é ou não, houve, é certo, um jogador do Chaves a invadir ligeiramente a área entes de o Arthur Cabral ter rematado, e, enfim, o VAR assinala repetição da grande penalidade… vá, segunda chance, Arthur Cabral: não nos lixes! Fornicou-nos! Falhou outra vez! Inacreditável. Cepos!)

    Vou desistir da crónica. Há dias da manhã que um cronista à tarde não pode pensar escrever à noite.

    E, sendo eu cada vez menos crente, apesar de baptizado e com comunhão, vou dedicar estes últimos 25 minutos a rezar, não pelo Benfica, que assim não tem remissão possível, mas por mim, para que venha um qualquer golito, um à Vata contra o Marselha há mais de três décadas, e dessa sorte não ser, como benfiquista, gozado por lagartos e tripeiros…

    (olha, golooooooooo…. do baixote João Neves [quer dizer, é mais alto uns seis centímetros do que eu], que ‘penteia’ ligeiramente um centro do Di Maria, e enfia a bola mesmo no cantinho da baliza)

    Pronto, se não houver mais nenhuma surpresa, fico-me por aqui. Daqui a nada de certeza que entra o João Mário e, assim, com probabilidade elevadíssima, manteremos a vitória… por 1 a zero… Foi você que pediu mesmo um 15 a zero?

    (dito e feito, entrou o João Mário ao minuto 82, e tudo ficou como estava, com ele a fazer cerimónia e a falhar novo golo)

    Temo, ou lamento, ter sido uma fortuna a minha decisão de somente escrever as crónicas da Varanda da Luz em dias de jogo da Liga. Terça-feira, a jogar assim na segunda-mão das meias-finais, contra o Sporting, não me parece que fosse ver milagres como o sucedido aqui em Novembro passado.


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  • Estoril 3.1 (com eleições à mistura)

    Estoril 3.1 (com eleições à mistura)


    Aviso já. Cheguei uma hora antes do jogo. Uma vez para nunca mais, presumo. Na carruagem do metro, quase vazia, poucos cachecóis encarnados vislumbrei, embora o casal sentado à minha frente os tivesse; o cão, que traziam à coleira, não – imperdoável. Nos ‘torniquetes’ de saída da estação, nenhuma fila. O acesso ao estádio livre estava, se bem que nos comes-e-bebes a afluência fosse bem maior de trincadores de bifanas e afins, sem o aspecto do ‘cemitérios de despojos’ de guardanapos e copos de plástico que se espraiam minutos antes dos jogos. Isso vejo eu nos outros encontros, onde chego em cima da hora, por norma.

    Quanto ao estádio, nunca o vi assim. Quer dizer: já o vi várias vezes assim – muitas mesmo desde que escrevo esta Varanda da Luz –, mas depois da debandada geral, no fim dos jogos. Antes dos ditos, como por regra chego à pele, ou mesmo atrasado, entro sempre com a mole humana já bem atiçada. Ora, hoje, cheguei com meia dúzia de gatos pingados nas bancadas, o relvado ainda vazio (estão agora os jogadores a aquecer), e fui descansadamente buscar o farnel constituído, desta vez, por batatas fritas, garrafinha de água de pH básico e baguete de frango assado com espinafres. E uma banana. Melhor foi o almoço regado a Reserva 2018 de marca que agora esqueci, mas que me foi oferecido no meu aniversário pelo Luís Gomes. Sobrou uma, para próxima oportunidade.

    Vista está a razão desta minha chegada antecipada. O jogo começa 30 minutos depois do fecho das urnas nos Açores. E eu quis que esta crónica fosse histórica, no sentido de que, desconfio, nenhuma outra antes, em lado algum misturou, àquilo que for calhando numa crónica futebolística (como as referências ao farnel ofertado pelo Benfica ou outras relevantes minudências), os avanços de uma noite eleitoral. Mas, enfim, quando em 2010 escrevi o meu romance ‘Corja Maldita’ e meti um papa a interromper um diálogo para ir mijar, pensava que nunca ninguém fizera tal coisa, até poucos meses depois ter lido a setecentista ‘A Viagem Sentimental’, do inglês Laurence Sterne, que coloca uma senhora a mandar parar o coche para fazer as devidas necessidades fisiológicas. Tudo, na verdade, está inventado.

    Para colocar um pouco de ordem no desnorte que será esta crónica, vou então definir que os comentários sobre a bola ficarão entre parêntesis curvos…

    (aliás, entraram agora os jogadores do Benfica, onde estará no 11 o João Mário… e acrescento que, há pouco, o nome de Roger Scmidt ecoado nos altifalantes foi brindado por um pequeno coro de assobios, apesar de estar apenas ocupado um décimo das bancadas)

    … e os comentários da noite eleitoral ficarão entre parêntesis rectos com as palavras a negrito.

    [falta pouco para as primeiras projecções… nem sei o que vem aí, mas o meu palpite é ficarem três partidos na casa dos 20%]

    Se a noite aqui no estádio se prolongasse não sei que parêntesis teria para comentar a noite dos Oscars, embora a minha desgraçada vida tenha causado um rombo vergonhoso na minha cultura cinéfila ao ponto de não ter visto sequer um único filme dos ‘oscarizáveis’.

    [pronto, saiu uma projecção da SIC-Expresso, com um empate técnico entre AD e PS…]

    (espero bem que não haja empate ali em baixo)

    [embora com o limite inferior do intervalo a ser superior para a coligação liderada pelo Luís Montenegro, enquanto o Chega pode ‘chegar’ aos 20%, dando-lhe entre 44 e 54 deputados. Nos restantes partidos, uma grande incerteza, porque como tudo depende das respectivas votações nos maiores distritos, sobretudo em Lisboa; mas, aparentemente os pequenos partidos da esquerda tramaram-se com a campanha suave que fizeram contra os socialistas]

    Entretanto, reparo que ainda estamos a 20 minutos do início do jogo, ainda vai dar tempo para ver o voo da águia Vitória, o espectáculo de luzes para galvanizar o pessoal, embora o estádio esteja a meio – não sei se pelos extraordinários desempenho dos pupilos do Roger Schmidt nas últimas duas semanas (ou de todas) –, e depois a música das ‘papoilas saltitantes’ seguindo-se o ‘la la la la la’ com cachecóis a rodar.

    [tempo agora para ver as projecções de outros órgãos de comunicação social. A sondagem da RTP dá AD e PS com possibilidade de se ‘tocarem’ mas com vantagem para a coligação liderada por Luís Montenegro, com um intervalo de 29% a 33%, enquanto o PS de Pedro Nuno Santos tem uma projecção entre 25% e 29%. O Chega nesta fica-se entre os 14% e os 17%. E os restantes partidos com variações que não permitem saber se sairão derrotados ou muito derrotados]

    Entretanto, início de jogo antecedido por um minuto de silêncio em homenagem a Minervino Pietra, que me ‘viu’ tornar benfiquista, pois desde que tenho memória de gostar de futebol – e acompanhar então os relatos na rádio –, desde talvez os meus seis ou sete anos, lá estava ele: foi lateral direito de pedra e cal, e águia ao peito, com aquela sua cabeleira inconfundível, entre 1976 e 1987.

    (e começa o jogo, e vou continuar a ver as outras projecções eleitorais, depois de um livre marcado pelo Di Maria quase rasar o poste)

    [antes das projecções, vejo no site da RTP que já estão eleitos quatro deputados; ainda me lembro daqueles épicas noites eleitorais que se prolongavam madrugada adentro como os Oscars… Vejo que já estão apurados 62,2% dos votos, e a AD vai à frente com 31,85%, seguindo-se o PS com 28,94% e o Chega em terceiro com 19,28%… A surpresa vem com o ADN, acidental beneficiário da ‘confusão’ com a AD, que surge com 2,02%, à frente até do Livre… entretanto, já foram eleitos seis deputados, três para a AD e outros tantos para o PS… isto promete]

    Entretanto, com isto, ali em baixo segue o jogo já com 13 minutos, e eu ainda nem sequer vi bem quem está a jogar, e mesmo que estivesse atento, como ainda não fui mudar de lentes se calhar vou ter dificuldades… Mas garantido é estar o João Mário a jogar porque já vi passes para trás.

    [e o Chega elegeu entretanto o primeiro deputado… fui entretanto bisbilhotar a projecção da TVI/CNN, e também dá vitória da AD, com um intervalo entre os 28% e os 33%, mas em empate técnico com o PS…]

    (goloooooooooooooooo…. já está, derrotado o empate técnico entre Benfica e Estoril: marca o turco Kökçü, que agora reparo, ao sacar o seu nome com as tremas, a partir da Wikipedia, nasceu na Holanda e até jogou nas selecções jovens por aquele país… estou mesmo ‘out’ nestas coisas do futebol, uma desgraça)

    [… continuando pela noite eleitoral: as projecções da TVI/CNN dão o terceiro lugar ao Chega, que pode ir dos 16,6% até aos 21,6%… Mas na contagem a sério…]

    (raios m’partam: golo do Estoril. Remate de um estorilista, Trubin a socar para a frente e leva um balázio; portanto, por aqui estamos de novo com empate técnico na contagem a sério)

    Vou agora ver uns cinco minutos do jogo para descontrair e perceber as razões para se estar a assobiar tanto nas bancadas, que estão com imensas abertas. Já volto aqui, ou com um golo ou com os resultados eleitorais em curso, se entretanto chegar o intervalo. Ou com outra qualquer coisa que surgir… Também não posso estar sempre a escrever…

    Olha, vou comer a banana enquanto tremo com os contra-ataques do Estoril.

    Quer dizer, ainda deu para um breve telefonema com o nosso colunista Luís Gomes, entusiasmado com a noite eleitoral…

    Para estragar a festa, lançamento de very lights por parte de uma claque benfiquista… portanto, um multa a caminho.

    [e enquanto se aguarda que se disperse a fumaça, adianto que, neste preciso momento em que vos escrevo, com 78% dos votos apurados, estão eleitos 12 deputados da AD, nove do PS e quatro do Chega, mas, por conta do método de Hondt, só mais para o final se saberá a distribuição. Em todo o caso, parece garantida a vitória de Luís Montenegro; quanto a Pedro Nuno Santos saiu-se melhor do que eu esperaria, e a ‘coisa’ não está fácil para o PAN e para o Livre, sobretudo para o partido de Rui Tavares que aparentava querer ultrapassar um Bloco de Esquerda que tem em Mariana Mortágua um flop]

    Ali em baixo entretanto, está a precisar-se de um intervalo. Nos pouco momentos que olho para o jogo, constato que o Benfica continua a não me dar arrependimento por estar desatento. A continuarem assim, prevejo, sem necessidade de projecções, que as bancadas vão começar a esvaziar-se até ao final da época.

    (golooooooooooo… chiça! Nos descontos, parecia que ninguém queria cruzar para a área; lá se cruzou, não vi quem, e ao segundo poste Tiago Gouveia assiste Marcos Leonardo, que factura em cima da linha)

    Sem se saber ler nem escrever, lá chegou o intervalo com o Benfica a desfazer o empate, dando-me tempo agora para olhar melhor para os resultados eleitorais e fazer um ou outro telefonema.

    [portanto, neste momento, com 87% dos votos apurados – isto vai ser rápido! –, a AD conta 17 deputados, a que acresce mais um do PSD-CDS na Madeira; o PS vai em 15 e o Chega segue com nove. Ainda falta muito deputado a ganhar lugar, mas pelas percentagens, as ‘coisas’ não estão famosas para os pequenos partidos, pois todos estão abaixo dos 4%, por agora. A maior surpresa será o resultado do ADN, que com 1,81% provavelmente elegerá pelo menos um deputado em Lisboa, e encontra-se à frente do PAN e muito próximo do Livre, que andou a ‘cantar de galo’ na campanha e se calhar pouco mais terá do que o Rui Tavares no hemiciclo… Em todo o caso, vejo que no distrito de Lisboa, por agora, só estão apurados 37% dos votos, significando que há muita coisa ainda a decidir quanto aos pequenos partidos, sendo que, se se mantiver esta tendência, o Livre conseguirá eventualmente dois deputados, e o PAN e o ADN um cada, aumentando-se assim a representatividade partidária na Assembleia da República. Curiosamente, por agora, no distrito de Lisboa está o PS à frente, embora PS, AD e Chega estejam todos na casa dos 20%]

    Lá em baixo já se encontram no meio-campo os árbitros, chegam entretanto os jogadores e vai este joguinho morno recomeçar.

    (e recomeçou mesmo, morninho, tanto assim que nas bancadas quase não se ouve nada, e daqui onde estou até consigo ouvir um jornalista, que está na bancada acima daquela onde me encontro, a relatar o jogo para uma rádio)

    [Entretanto, estou a divertir-me com os resultados do ADN que consegue mais de 3% no distrito de Viseu, e ‘arrisca’ eleger no Porto… neste momento os ‘gajos’ da AD devem estar a chamar-se estúpidos com a lembrança de ‘ressuscitarem’ a Aliança Democrática de Sá Carneiro, Freitas do Amaral e Ribeiro Teles… pobre alma do Ribeiro Teles, substituído pelo ‘desaparecido’ Gonçalo da Câmara Pereira]

    (golooooooooooo… 3-1. Belo remate cruzado de Tiago Gouveia. Aqui, pelo menos as coisas estão a clarificar-se)

    No meio disto, diz-me o Ruy Otero, um dos co-autores (e, para ser justo, o principal autor) da (imperdível) série ‘Indecisos’, que o PÁGINA UM publicou no seu novo canal do Youtube, que já está a pensar na nova remessa para daqui a uns seis meses, com as novas eleições. Vamos lá  ver como estão os resultados, que isto muda agora muito de repente…

    [Pois bem, com 93% dos votos apurados, AD conta com 32 mandatos, se incluirmos o deputado da Madeira eleito pelo PSD-CDS, enquanto o PS vai com 29. Um quase empate, por agora. O Chega vai com 14 e 18,88% dos votos, e os restantes partidos estão ainda a aguardar que o ‘amigo’ Hondt se decida com as contas finais. Neste momento, a IL está com 4,23%, Bloco de Esquerda com 3,95%, CDU com 2,96%, Livre com 2,30%, ADN com 1,77% e PAN com 1,61%… Enfim, acho que vamos mesmo daqui a pouco para eleições novamente, excepto se o Montenegro quiser ‘engolir’ um sapo chamado Ventura]

    E ali em baixo estamos no minuto 60, tudo calmo, vai haver um canto a favor do Benfica, e anda-se ali a passar o tempo. Houve um remate mas nada se especial. Nem as habituais substituições do Schmidt ao minuto 60 foram feitas. Já que estamos em noite de eleições, e houve sondagens e projecções, e agora resultados quase finais, vou alvitrar um palpite: sem jogar a ponta de um corno, o Benfica ainda vai ganhar 5-1.

    [E como estou com curiosidade, vejamos a evolução dos resultados eleitorais, a esta hora, isto é ao minuto 64 do Benfica-Estoril. Apurados 95% dos votos, há finalmente dois deputados eleitos fora dos ‘três grandes’: IL e Bloco de Esquerda contam o primeiro.  Quanto à AD vai…]

    (entretanto, jogada a ser revista pelo VAR por possível penalty… segue jogo)

    […a AD ia com 35, se contássemos com a Madeira, mas entretanto, por causa da espera do VAR, vai agora já com 38, porque acrescem agora dois na Madeira para o PSD-CDS. O PS segue perto, com 37; o Chega tem já uns impressionantes 22]

    Esta crónica está, como seria previsível, bastante esquisita. Ainda por cima, como director de um jornal que até foi inovador na cobertura da campanha eleitoral – por ter sido o único que se predispôs a ouvir todos os líderes partidários, havendo apenas cinco faltosos em 24 ‘convocados’ – deveria estar a fazer uma ‘noite eleitoral’ à moda antiga, talvez em directo, que não nos faltam excelentes comentadores políticos, como sejam o Tiago Franco e o Luís Gomes; mas enfim, foi uma semana complicada, e não dá para tudo. E sobretudo não dá porque não nos podemos dar ao luxo da Impresa, o luxo de acumular mais oito milhões de euros de dívidas para contabilizar depois dois milhões de euros de prejuízos à conta do pagamento de juros.

    (anunciam-se 48.964 espectadores no estádio… bem me parecia que hoje ficávamos abaixo dos 50 mil, e não sei se foi por causa da noite eleitoral)

    [noto, entretanto, que apesar de estarem apurados 96% dos votos a nível nacional, ainda há um grande atraso nos distritos que decidem. Em Lisboa estão apurados apenas 59%, e em Setúbal 76%. Noto também que, em Beja, o Chega ganha um deputado e fica mesma à frente da AD. Em Évora ficará um deputado para cada um dos ‘três grandes’ e em Portalegre o Chega ‘rouba’ surpreendentemente o deputado à AD. E nisto, o Alentejo já foi chão que deu votos aos comunistas… Ficam a zero pela primeira vez. Saramago dá voltas na tumba]

    E nisto do jogo, estamos no minuto 88, e o meu palpite do 5-1 falhou, tal como têm falhado todos os meus desejos de…

    (bola ao poste… era o 4-1… e no contra-ataque foi uma sorte não ser o 3-2… vai haver cinco minutos de compensação)

    … ver um jogo empolgante. Quer dizer: ver, não vejo, não apenas por nunca mais aviar as dioptrias de que necessito; não apenas por, escrevendo crónicas em directo, ser complicado acompanhar o jogo; mas porque, enfim, esta equipa anda longe de empolgar os seus adeptos. Mas gostava de, pelo menos, sentir a vibração nas bancadas, e acabar a escrever uma crónica em branco porque lá em baixo me ‘agarraram’…

    [E enquanto o árbitro não finaliza isto, vamos lá ver as novidades eleitorais nesta noite em que poucos vão gritar vitória. Pois bem…]

    (não deu para ver ainda, porque o árbitro acabou isto… vamos lá agora para as eleições)

    [Neste preciso momento, às 22h28, faltam apenas apurar os resultados totais de 28 concelhos e de 2% dos votos, mas isto resulta numa indecisão sobre os partidos de 86 futuros deputados. Mas vejamos como a coisa está, por agora, distribuída: 54-54 no despique entre a AD (com PSD-CDS na Madeira) e o PS, depois segue-se o Chega com 34 deputados (e será o único a cantar vitória), e muito mais atrás a IL contabiliza três deputados, e o Bloco de Esquerda e o Livre já conseguiram um… Mas, como digo, ainda falta distribuir muita coisa… Vou aqui paginar esta estranhíssima crónica, e já regresso para os resultados finais. Se os houver]

    Tudo paginado à trouxe-mouxe, reparando que não tirei assim muitas fotos durante o jogo, e atendendo que são daqui a nada 23:00 horas, e vendo ainda que hoje já nem houve sequer umas corridas dos suplentes não utilizados, vamos lá acabar com isto, olhando uma derradeira vez para os resultados.

    [com parênteseis rectos?]

    Tanto faz. Vai assim: terminada a escrita desta crónica às 23h06 do dia 10 de Março do ano da graça de 2024, tendo 99% dos votos apurados e 297 concelhos definidos, mas faltando assim distribuir, à conta do Hondt e dos círculos distritais, ainda 45 dos 230 mandatos (farei depois uma adenda), a AD lidera com 68 deputados (contando com os três ganhos pelo PSD-CDS na Madeira), o PS conta 65, o Chega vai com 41, e depois, bem cá para trás, a IL tem cinco e Bloco de Esquerda, CDU e Livre estão com dois, cada um. O PAN tem uma votação de 1,88% a nível nacional, mas elegerá Inês Sousa Real em Lisboa, onde tem 2,49%. O ADN vai com 1,65% e dificilmente elegerá alguém porque em Lisboa (onde há 48 mandatos) está com apenas 1,49%.

    E pronto, temos uma situação política assaz interessante! Decididamente, mais interessante do que os jogos do Benfica.


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  • Portimonense 4.0

    Portimonense 4.0


    Um cronista tem, sobre si, qual espada de Dâmocles, um temor: o bloqueio da folha em branco, consequência (supondo que o cronista sabe escrever) do bloqueio de assunto. Nem sempre calha ter tema inicial para o jogo que venho aqui assistir (se bem que ninguém precise de mim, embora até agora esta Da Varanda da Luz esteja a manter o Benfica invencível).

    Começar sempre com o quimérico 15-0 também já aborrece, exactamente por parecer que o introduzo por falta de matéria. Falar do farnel ofertado também já se mostra maçante, pese embora hoje tenha variado; trocaram a barrita de cereais por um chocolate Mars, e saiu uma banana na vez de uma maçã. Por isso, olhem, começo a desejar que hoje o Benfica consiga ‘desentupir’ o jogo melhor do que eu consegui desentupir, com o famoso truque da esfregona, a sanita da minha casa de banho…

    (entretanto, começa o jogo, antecedido por um minuto de silêncio em homenagem ao antigo jogador e treinador Artur Jorge, mais feliz no FCP do que aqui na Luz, que foi, além de tudo, homem erudito, coisa ainda rara na Arte da Ludopédia)

    Além disso, também espero que nenhum dos jogadores ali em campo (do Benfica, claro), esteja como eu estou hoje: no estado de alguém com mais de 25 anos de vida do que quase todos eles (sou apenas dois anos mais novo que o Roger Schmidt), e ainda por cima meio entrevado por um ‘mau jeito’ na coluna (parece que a probabilidade dos ‘maus jeitos’ aumenta com a idade, não sei bem porquê).

    Enfim, de igual modo, espero sempre que as incidências do jogo, ou algo menos normal, me auxiliem em encarreirar uma crónica que, por um lado, não me comprometa no final (por exemplo, cantar vitória logo no início, e a ‘coisa’ redundar num fracasso), e por outro não transforme isto numa coisa desenxabida, sem préstimo nem para quem é benfiquista (que os outros, presumo, nem me lêem).

    (o jogo tem sido, até agora, uma sucessão de oportunidade perdidas, quando já estão perdidos 35 minutos… para se chegar ao 15-0 teria de haver um golo em pouco mais de três minutos e meio; portanto, percamos, neste jogo, essa esperança)

    Isto não está, com efeito, nada fácil, e como tive uma tarde algo stressante, a cuidar da canalização de uma sanita, não estou a conseguir, confesso, obrar (pôr em obra, atenção!) coisa de jeito. Nem sempre sai, da pena de um escriba, palavras em jactância. Por vezes, sucede uma certa prisão… enfim, isto já está a ficar demasiado escatológico, e não no sentido teológico do termo.

    A primeira parte, neste ínterim, está a terminar, e pode ser que o intervalo me ajude a conjecturar uma melhor linha condutora para a segunda parte. E quanto ao Benfica, eu queria evitar ter de pedir uma ajuda ao Tiago Franco para comentar as perfomances do João Mário…

    (intervalo; vejo as estátisticas, enquanto oiço a Mariza Liz cantar “carrega, Benfica”: 70,3% de posse de bola. Lá carregar, carregou-se, e deu para 10 remates, mas só três a chegarem à baliza, e nenhum ao fundo das redes)

    Para animar as hostes (e, espero, como incentivo), enquantos os jogadores recarregam as ‘baterias’, homenageia-se o nadador (benfiquista) Diogo Ribeiro, medalha de ouro nos Mundiais de Natação em 50 e 100 metros mariposa. Vamos lá ver se, daqui a nada, o Benfica voa como uma mariposa, ou como soberba águia, sobre este Portimonense de trazer por casa…

    (e começa a segunda parte, com o Benfica a começar logo a porfiar… mas sem sucesso; Roger Schmidt, não referi, por não ser este o objecto principal da crónica, decidiu inventar mais do que o habitual e não meteu ainda nenhum ponta de lança: Arthur Cabral e Marcos Leonardo estão no banco, e o Tengstedt estará doente e nem convocado foi)

    Quer dizer, já passaram seis minutos nesta segunda parte, já houve dois bruaás, mas tudo está um bocado morno. Ó Roger Schmidt; queres mesmo que eu peça um comentário ao Tiago Franco para ficares com as orelhas a arder? Não te chegou esta semana o jogo lastimável com o Toulouse, que anda a lutar para não descer na Liga francesa?

    Bom, vou-te dar cinco minutos…

    (golooooooooooo…. já está! Desentupida a baliza do Portimonense: Rafa com uma trivela esquisita)

    Era isto que faltava! Agora deve ser como a minha sanita quando o truque da esfregona resultou na minha sanita.

    (goloooooooo… vai tudo; nem demorou dois minutos; numa correria desenfreada, aguentando tudo, David Neres contorna o goleiro e factura!)

    Caramba! Nem de propósito. A metáfora do desentupimento está mesmo a funcionar… Doi golos em dois minutos.

    (golooooooooooo… que é que é isto, minhas senhoras e meus senhores!!! Desentupiu-se mesmo tudo! 3-0, desta vez, Angel Di Maria, a ser diabólico para o Portimonense)

    Portanto, sem imaginar, porque estas crónicas (acredite-se ou não) são mesmo escritas em directo, não são pré-fabricadas e vão ao sabor da pena (ou dos dedos), e da minha confusa e conturbada vida, estou muito satisfeito desta imagem muito pouco, convenhamos, agradável de se imaginar: um cano cheio de, digamos assim, resíduos sólidos que não deixam sequer passar água límpida, mas tanto se pressiona, tanto se carrega, que, quando se desobstrói, o fluxo tudo leva à frente. Foi assim também neste jogo contra o Portimonense, que até está mais de branco do que de preto.

    Vitória garantida, presumo. Tudo se acalma. Nas bancadas há umas cantorias, batem-se palmas à saída do David Neres e do João Neves (para as entradas do Florentino e do Tiago Gouveia); está a ser, portanto, e afinal, uma tarde (princípio de noite) bem passada, apenas a precisar agora de mais um golito para equilibrar a crónica, que estou a acabar o segundo parágrafo.

    Ia sendo mais um, acabou em canto, mas ainda estou esperançoso que, correndo anda o minuto 73 ainda calhem mais dois golitos, para que, não se chegando ao 15-0, pelo menos que seja por causa do 1: o 1 das dezenas, claro.

    (golooooooo… enquanto eu estava agachado a meter a ficha do computador na tomada aqui da Varanda da Luz… não vi o 4-0, mas foi marcado pelo Rafa)

    O intervalo fez muito bem ao Benfica. Uma belíssima segunda parte. Tenho de dar umas bicadas ao Roger Schmidt durante o jogo, que parece que funciona. Vou tentar ver se com a ‘ameaça’ dos comentários do Tiago Franco, os jogos se desempecem.

    Acho que não há muito mais a contar. Ainda entrou o Arthur Cabral, a substituir o João Mário (para alegria, presumo, do Tiago Franco), e eu fico ainda a aguardar o golito final da praxe, enquanto arrumo as fotografias e acerto a crónica; tenho de me despachar daqui que ainda esta noite vou ter de gravar o podacast O Estrago da Nação, com o Luís e o Tiago, e meter em linha mais uns textos, que a minha vida (infelizmente) não é futeboladas.

    (e acabou; tudo fica bem, quando acaba bem… mesmo quando parecia, em determinado momento, que ia ficar a cheirar mal)


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  • Vizela 6.1

    Vizela 6.1


    Sendo certo que, mais uma vez, cheguei uns minutos atrasado, ao ponto de no elevador do piso -2 para o piso +3 – para se chegar à edénica Varanda da Luz tenho de passar sempre pelo ‘inferno’ de descer ao -2 para seguir para o +3 –, ter sabido pelo intercomunicador de um polícia que o jogo já começara, daí só ter começado a escrever esta crónica ao minuto 13 (oh! diabo), porque tive de ir ainda buscar o farnel, dar dois dedos de conversa a uma leitora confessa do PÁGINA UM, e subir umas escadaria de causar enfartes, estou hoje com um feeling – vá lá, à portuguesa, uma fezada – de ser este o dia para me deslumbrar com o almejado 15 a 0.

    (goloooooooo…. já está: depois de uma cena do típico goleiro de pés cegos, perante a proximidade de um avançado, a defesa do Vizela aos papéis, e à segunda insistência lá marca o David Neres)

    Bom, faltando 14, e já com um falhanço de permeio, explico as razões da fé: primeiro, está bom tempo. Não é o empapado de Guimarães, que ‘roubou’ dois pontos na semana. Ou contribuiu, porque a outra parte se deveu a não se ter feito um corno para se ganhar, mesmo com o habitual ‘Big Brother’, ou seja, a expulsão (e merecida, sem faccionismos) de um adversário. Depois, hoje deram-me um cartão de acreditação que está guilhotinado no canto inferior direito. Será, de certeza, um sinal de boaventura – calma, não é o César Boaventura, condenado na semana passada por corrupção a favor do Benfica sem, oh claro, o Benfica saber, mesmo se a palavra Benfica é citada 64 vezes na sentença do juiz. E, se se confirmar o 15-0, deverá depois haver também uma explicação científica para o fenómeno do cartão guilhotinado, pelo menos equivalente à ciência do Doutor Filipe Froes sobre a tripla pandemia que ele anunciou em Novembro de 2022, e que nunca se viu. Depois, porque…

    (goloooooooo… Otamendi, nas alturas, a facturar, como se diz)

    Nem me deram tempo de explicar tudo. Assim não há condições. Estava para dizer que a terceira razão era o infortúnio do Vizela, que acabou de perder por lesão o seu guardião principal, Fabijan Buntic. Se antes deste jogo já tinham encaixado 38 golos na Liga desta época com o efectivo, imagino que terão uma média pior com o suplente. Aliás, entrou, levou logo um. Além disso…

    (golooooooo… Tiago Gouveia… 3-0. O regressado Tengstedt faz um chapéu para o poste, mas o miúdo não falha na recarga. É melhor pôr o resultado sempre que o Benfica marcar, de contrário arrisco perder-se a conta).

    E já agora, antes de continuar, um agradecimento ao Tengstedt por ter falhado um golo de calcanhar, e também ao fora de jogo do Rafa, que marcou, mas foi anulado. Se se metem a marcar de empreitada, esta crónica, escrita em tempo real, fica completamente atípica. Se repararem, nas outras, tento sempre escrever dois ou três parágrafos entre comentários às incidências do jogo, mas com golos à cadência de cinco minutos isto não fica fácil ao escriba compor um texto em estilo digno.

    Portanto, e finalmente com a possibilidade de escrever um segundo parágrafo sem acrescer nada sobre as incidências do jogo, lá em baixo no gramado, continuo: a quarta razão para a grande fé num 15-0 é por o Vizela ser o ‘lanterna vermelha’, um lugar propício para uma infernal gloriosa tarde de cabazada à antiga portuguesa. Se o Sporting até já consegue meter oito golos ao Dumiense e ao Casa Pia, mais fácil será enfiar mais 12 ao Vizela…

    (11, pá! 11… já só faltam 11… golooooooooooo… 4-0. David Neres numo belo remate corrido em assistência primorosa do Rafa)

    Agora a sério. Isto está a correr melhor do que eu pensava. Vou mesmo acreditar na história do cartão de acreditação guilhotinado no canto inferior direito… Além disso, os árbitros hoje vestiram-se de preto, lembrando os gloriosos tempos, antes do wokismo, em que um homem do apito que era homem do apito apenas de preto vestia, e nada mais. E o Benfica sempre se deu bem com árbitros que apitam de negro…

    (golooooooooo… 5-0. Rafa a marcar numa das suas arrancadas…)

    Qual acreditar? Qual fé, qual carapuça! É evidência! Vou passar a exigir ao Benfica que me passe a guilhotinar o cartão de acesso quando aqui vier escrever a crónica. E já agora: prefiro um ‘sumito’ à água engarrafada da Serra de Monchique que andam a fornecer no farnel. Tem pH de 9,5; demasiado alcalina.

    (e pronto!, intervalo; toda a gente satisfeita por aqui, excepção à equipa do Vizela, presumo, e aos duzentos adeptos que andaram 348 quilómetros para empochar este vexame que se anuncia)

    Entretanto, começa a segunda parte e, enquanto não surge novo golo, estou aqui a meter uma nova entrevista do Hora Política no Spotify e a descarregar as fotos para o WordPress. Enfim, enquanto aguardo pelo 15-0, o trabalho por aqui tem de avançar, que o PÁGINA UM não é só futeboladas.

    (porca miséria! Como é possível? Golo do Vizela! Como é possível!)

    Já me estragaram a tarde. Eu bem achei estranho que a segunda parte começasse quase em silêncio, sem as cantorias das claques. Entrou-se descontraído, e pronto: lá se foi pelo cano abaixo o meu sonho da crónica do 15-0, do ‘eu estava lá’, para inveja dos vindouros. Pelo menos que façam então um 16-1, que menos do que isto sempre será pouco. E mais do que isso já nem apaga o deslustre de apanhar um golo de uma equipa que, nesta época, é a menos concretizadora da Liga (20, agora). Caramba: ainda há menos de um mês levaram cinco sem resposta do Arouca!

    Enfim, respiremos fundo: sempre é bom lembrar as dificuldades passadas. Se hoje, daqui do alto de um descontraído 5-1, já damos mais que certo os três pontos, apesar das invenções do Roger Schmidt…

    (penalti a favor do Vizela… defendido pelo Trubin; acreditem, isto estava tão morno nas bancadas que eu, entretido numas pesquisas, só me apercebi de ter havido grande penalidade após a defesa guarda-redes do Benfica por via de um bruaá quase semelhante a um golo dos nossos)  

    Bem, continuemos. Falemos então das dificuldades passadas, que a quimera por hoje já foi. Na última vez que se defrontou o Vizela na Luz para a Liga, em 2 de Setembro de 2022, ganhámos apenas por 2-1, com um golo de penálti do João Mário aos 12 minutos de compensação, e esteve-se a perder entre os minuto 20 e 76. E na época anterior, em Março desse mesmo ano, não se fez melhor do que um empate a uma bola, e andou-se também atrás do prejuízo, ‘ó tio, ó tio’, depois do Taarabt ter feito das suas e sido expulso logo ao minuto 8. Por falar em expulsões: esta noite ainda não houve o momento ‘Big Brother’; ainda ninguém foi expulso. Só dois ou três amarelos. Além disso, aquele Vizela era do Álvaro Pacheco… Aquele boné tinha alguma coisa de mago, como o computador do Carlos Antunes a fazer previsões durante a pandemia.

    (e o jogo, lá em baixo, decorre morno; o Benfica ainda não teve, pelo que vi, uma única oportunidade de golo nesta segunda parte, e já vamos no minuto 87)

    Enfim, acho que encerro por aqui esta crónica; a crónica sobre o insucesso de se escrever uma crónica sobre o quimérico, o utópico 15-0.

    (caraças!, devia ter feito o lamento mais cedo: Marcos Leonardo marca o 6-1… sempre empatamos na segunda parte).

    Últimas substituições ali em baixo, onde, enfim, fiquei a saber que o Benfica tem um jogador chamado Benjamim Rollheiser! Ando mesmo afastado destas questões da bola. Fui agora ver: é um argentino de 23 anos, contratado no mercado de Inverno ao River Plate, e que até já jogara três minutos contra o Estrela da Amadora, mais quatro contra o Gil Vicente, e agora mais um minuto neste jogo, porque, entretanto, o homem de negro [engraçado, ontem revi, por acaso, quase todo o filme Homens de Negro, aquele dos alienígenas, com o Will Smith, antes da chapada, e o Tommy Lee Jones] apita para o fim do jogo. E pronto: mais três pontos, crónica concluída.

    Para a semana há mais. Portimonense: és o próximo candidato ao 15-0. Estás a ouvir-me, Roger Schmidt?Mas antes, vê lá se nos passas o Toulouse…

    Sim, Schmidt, tu aí que estás ainda a falar para os meus comparsas de profissão, enquanto eu, aqui de luzes vermelhas acesas, na Varanda da Luz, acabo de meter esta crónica online no PÁGINA UM: ainda acredito que sejas o ‘patinho feio’ que nos vais presentear com um 15-0. Mas, e digo eu que nem treinador de bancada sou, convém ser a jogar as duas partes como se fez hoje na primeira. Se queres a glória, jamais será sem um 15-0. E hoje perdeste uma boa oportunidade.


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  • Gil Vicente 3.0

    Gil Vicente 3.0


    Já sabia, pela ‘meteorologista’ Filomena Martins, directora-adjunta do Observador, que hoje não teríamos o danado “rio atmosférico” a pairar pela Luz – só chega pela quinta-feira –, mas vi-me obrigado a consultar o ‘boletim da saúde policial’ para confirmar se alguma indisposição colectiva impedia o jogo, acrescido de uma pesquisa pelas ‘má-afamadas’ redes sociais, de sorte a perceber a probabilidade de ocorrência de uma saraivada de cadeiras e pedras pelos ares.

    Tudo bem. Segui seguro, qual Leonor pela verdura, para a Luz, ainda a tempo de um cafézinho, no Columbia, paredes-meias com o Alto dos Moinhos, que por estas horas vende mais cerveja que cafés.

    E cá estou a tempo ainda de recepcionar o farnel do Benfica (embora hoje esteja um bocado cheio, por causa de um almoço tardio), e de subir as cada vez mais íngremes escadas para esta Varanda da Luz antes do apito inicial, por via de um tempo extra por se fazer um minuto de silêncio não sei pela alma de quem… vou daqui a nada ver…

    (golooooooo… isto hoje nem me deram tempo de descansar um pouco, ligar o computador e escrever uns parágrafos iniciais… Arthur Cabral, a tornar-se um ‘matador’ num canto ‘teleguiado’ do Di Maria; e na verdade, podia ser o segundo golo de cabeça, porque o brasileiro já mandara uma bola ao poste logo aos 5 minutos)

    Entretanto, já fui ver: o minuto de silêncio foi uma homenagem a Palmeiro Antunes, um antigo jogador do Benfica da segunda metade dos anos 50, que conquistou um campeonato e duas Taças de Portugal. Tinha 87 anos.

    E por falar em glórias de outros tempos, e estas ainda maiores do que os futebolistas, deu-me finalmente para, após tantos anos de ‘primeira divisão’, ver o motivo pelo qual o Gil Vicente, sendo Barcelos tão famosa pelo milagre de Santiago que fez cantar o galo assado para salvar o(s) inocente(s) peregrino(s) – não se sabe se foi um ou dois; e nem é certo ter havido milagre algum –, se chama Gil Vicente e não Santiago, e os gilistas não são afinal conhecidos por ‘galistas’.    

    (entretanto, com o jogo ‘morninho’, ligam-se no estádio uma série de ecrans com o nome do malogrado Miklos Feher, acompanhada da mensagem “20 anos de saudade”. Hoje estamos ‘numa’ de homenagens)

    Até porque, continuando, que eu soubesse nada na vida do verdadeiro Gil Vicente, do dramaturgo, esteve associado a Barcelos, descontando um tal Frei Pedro de Poiares que para ali lhe atribui o berço, mas nestas ‘coisas’ até o Padre Rei, o pároco da terra da minha adolescência (Moita, no concelho de Anadia), garantia que o Camões estava enterrado na ‘sua igreja.

    (goloooooo… oportuníssimo, o miúdo João Neves, sagaz na insistência, embora com alguma sorte… isto hoje, desconfio, tornar-se uma Barca do Inferno para este Gil Vicente)

    Enfim, há quem diga que foi em Guimarães o berço de Gil Vicente, outros asseguram que afinal foi em Lisboa, mas muitos estudiosos garantem ainda que ele terá sido nado e criado nas Beiras, não se sabe se no interior ou litoral, por causa de alguns personagens dos seus autos. Mas também pouco importa. Não estou aqui para compor uma crónica biográfica, que na Varanda da Luz estou, nem me apetece andar em conjecturas que me levariam a pendengas como aquela entre Camilo Castelo Branco e Teófilo de Braga sobre se o Gil Vicente dramaturgo era ou não o Gil Vicente ourives que compôs a Custódia de Belém.

    (entretanto, nisto se meteu o intervalo, e o início da segunda parte)

    Passaram, portanto, 45 minutos e eu ainda não revelei aos leitores – e presumo que, dos muitos que não sabem, haja poucos que estejam interessados – a causa de o Gil Vicente, que acabaria os seus dias na cidade de Évora, dar o nome ao Gil Vicente. Ao clube, claro, porque o outro, o verdadeiro, se chamou assim por escolha dos pais e apelido do pai.

    (golooooo… 3-0, o habitual golito do Rafa. Acho que o Gil Vicente vai sair daqui de Lisboa como a Maria Parda, em pranto, vergado por uma goleada)

    Bom, despachemos isto, vista está a garantia da vitória – o Gil, o de Barcelos, mostra-se inofensivo –, e o topo da Liga está já alcançado, mesmo se de forma virtual, por obra e graça da PSP e de uns arruaceiros. O Gil Vicente chama-se Gil Vicente porque, enfim, lá pelos anos 20 do século passado uns barcelenses jogavam à bola em frente do teatro começado a construir umas décadas pela Empresa Teatral Gil Vicente.

    (depois do terceiro golo do Benfica, tudo muito lento, quebrado por uma série de substituições; nada a anotar excepto as palmas dos adeptos e uma boa estirada do Trubin para manter ‘invioladas as suas redes’… estes jargões futebolísticos são mesmo engraçados)

    Chegado aqui, perguntem-me: então, e qual a razão para a Empresa Teatral Gil Vicente se chamar Empresa Teatral Gil Vicente? E aqui não respondo porque não sei, mas se soubesse receio que entrássemos numa espiral de descobertas e inquirições que nos levariam ao início dos tempos. Em todo o caso, presumo que no final do século XIX, o tempo áureo do teatro português, não haveria ainda muitos dramaturgos clássicos, daí que Gil Vicente fosse o mais óbvio, talvez apenas seguido pelo Almeida Garrett, que faleceu em 1854. Talvez por um triz o Varzim, que já militou em tempos na primeira divisão, não se chama Almeida Garrett, visto que tem um cineteatro em sua homenagem.

    (e o jogo, neste rame rame, lá acabou, e ainda bem, que eu tenho de despachar a crónica; uma vitória simples, sem sobressaltos desta vez, tudo limpinho limpinho)

    E desvendado que fica a razão para se ter dado o nome do Gil Vicente ao Gil Vicente, apenas um último apontamento, tendo em conta a raridade de um clube usar personalidades da Cultura: que raio deu aos dirigentes do histórico Desportivo Francisco de Holanda – fundado na cidade de Guimarães, em 1943, por alunos da escola secundária com o nome deste humanista do século XVI (e que me ‘serviu’ de narrador para o meu romance Nove Mil Passos) – para cederem os direitos desportivos a um clube com a obtusa denominação Clube Desportivo Xico Andebol? O Francisco de Holanda agora é o Xico Andebol?! Ensandeceram?! Incultos!

    Daqui a nada ainda vamos ver o Gil Vicente transformar-se em Gigi Futebol Clube, é?

    Aliás, a propósito de incultura, e como não consegui encaixar com aisance, aproveito para contar algo sobre Almada Negreiros, artista multifacetado e que até teatro compôs, que deixo ao critério do Polígrafo averiguar da veracidade.

    Certa vez, num inquérito para auscultar os conhecimentos culturais do povo, e numa altura em que era muito popular o programa televisivo de apostas desportivas “Vamos Jogar no Totobola”, perguntaram a alguém: “Então, o que acha do Almada Negreiros?”. Resposta: “Bom, Almada Negreiros… Almada Negreiros… acho que vou pelo X”.

    Até à próxima. Por uns dias, mesmo se na ‘secretaria’, o Benfica vê finalmente o Sporting pelo espelho retrovisor. Alegremo-nos, benfiquistas!


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  • Boavista 2.0

    Boavista 2.0


    São 20h32, e estou na estação dos Restauradores. Se tudo correr bem, linha directa até à saída no Alto dos Moinhos, seguindo-se visita ao ‘guichet’ das acreditações [GRATUITAS, ouviste, Pedro Coelho?] para aceder ao estádio [pertença de uma sociedade anónima desportiva: será espaço público ou privado? tenho de ir perguntar aos membros da ERC que, desde a identificação do autárquico Cinema São Jorge como local privado, se mostram sapientíssimos nestes assuntos], e ala que se faz tarde… Prevejo demorar, neste percurso e processo, uns 30 minutos até me assentar na Varanda da Luz, onde espero, não só deliciar-me com o farnel do Benfica nem apenas com os golos do Cabral e do outro tipo que foi contratado ao Santos (e do qual não me lembro agora o nome de cabeça), desforrar-me da triste e única derrota neste campeonato, no Bessa, logo na primeira jornada.

    Vou a tempo, por certo, de assistir aos primeiros minutos… da segunda parte!!!

    Segunda parte!!! Como é possível?! Como foi possível? Como é que se eclipsou da mente o jogo hoje do Benfica. Que se passou na minha cachimónia?! Metade do jogo perdido!

    Ou antes: que grande sorte a minha; afinal, é uma vantagem trabalhar num órgão de comunicação social de redacção diminuta, onde sendo eu um cronista pouco zeloso de compromissos futeboleiros, tenho um  director a quem responder… que sou eu próprio… que, por sua vez, responde, em termos de despesas, ao gerente… que sou eu.

    Linda promiscuidade, esta minha. Deve estar o Pedro Coelho, jornalista da SIC e presidente do comité organizador do congresso dos jornalistas, a fazer ‘tssss-tssss’, abanando a cabeça em óbvia desaprovação desta minha conduta, enquanto assina as cartas de agradecimento à Brisa, à REN, à Mota-Engil, ao Santander, ao Milenium BCP, à Delta, à Mercadona… pelo financiamento concedido, e conta as notas dos jornalistas que, pagando-lhe(s) [as entidades organizadoras são o Sindicato dos Jornalistas, o Clube dos Jornalistas e a Casa da Imprensa], fazem ainda a cobertura sobre as desgraças onde muitos meteram o Jornalismo. Se a moda pega, esta Da Varanda da Luz vai passar a ser orçamentada. Adiante…

    (chego ao estádio, dois minutos antes do fim da primeira parte, já nem vale a pena subir, decido perguntar se ainda há farnel, há sim, senhor, vamos lá então subir para a Varanda da Luz, com a sandes & companhia, enquanto descem os adeptos para o intervalo, assobiando ruidosamente, acho que não pela minha chegada [a menos que todos os que assobiem sejam ‘altos quadros’ da CCPJ e da ERC]; parece-me mais por causa da equipa de arbitragem)

    Desculpado que estou por mim próprio pela falta de presença na primeira parte, que seguiu sem golos (talvez para me agradarem), espero que os leitores mostrem condescendência – ou pelo menos, a meia dúzia daqueles que me lê, sendo que uma parte deles o fazem para me criticarem de não investigar os “podres do Benfica” –, porque hoje mal dormi…

    (recomeça a segunda parte, nem sei se o Benfica jogou bem ou mal na primeira parte)

    … durante a noite e ao longo da manhã, deixei um artigo pronto a publicar sobre a Start Sines Campus (que parece estar bem da vida, depois de causar um ‘terramoto político’), meti online o oitavo episódio do podcast O Estrago da Nação (onde o Tiago Franco e o Luís Gomes), divulguei a análise ao cartaz do PSD feita pela Sara Battesti, que aconselho imenso…

    (golooooooooo… anulado! Bolas. Di Maria marca, ainda se festeja, mas o VAR chama o árbitro, que anula por mão prévia de João Mário)

    … continuando:  revi a edição da Maria Peixoto (que, entretanto, fez uma entrevista ao economista Nuno Palma, da Universidade de Manchester, a sair na próxima semana) ao texto da coluna semanal do Tiago Franco sobre a Europa, acertei com a Elisabete Tavares detalhes de um interessantíssimo projecto em mãos…

    (golooooooo… desta conta: Di Maria, com centro venenoso em arco, daqueles em que ninguém toca, muito menos o guarda-redes, com a bola a entrar no cantinho)

    … continuando: ainda fiz um ‘artigo’ sobre a cobertura ‘possível’ ao Congresso dos Jornalistas, face à minha recusa em pagar para fazer cobertura noticiosa: quatro rectângulos negros sobre os temas previstos no programa parecerem-me bem simbólicos. Ah, e também enviei a minha pronúncia à CCPJ sobre o processo disciplinar que Girão & Godinho decidiram presentear-me, e enderecei umas questões à ERC sobre umas ‘falhazitas’ que por lá constam no pouco transparente Portal da Transparência dos Media. Faltou-me tempo para paginar a Deriva dos Continentes, da Clara Pinto-Correia, que deve estar, com razão, furibunda pelo adiamento de uma necessária conversa para acertarmos umas agulhas. Sairá este sábado o texto, e a conversa.

    (lá em baixo, no relvado, a Benfica porfia mas não marca, e, tirando ali um calafrio, o Boavista não ameaça… mas nunca fiando, no Boavista, nem confiando no Benfica)

    Enfim, mas, na verdade, o meu ‘esquecimento’ da hora do jogo (ou mesmo do jogo) do Benfica não se deveu a estes afazeres, mas sim a um ‘banho de cultura’, misturado de boa conversa e melhor almoço (cabo-verdiano) com um bom punhado de boas pessoas, incluindo a ‘minha’ Elisabete e o ‘nosso’ Rui Araújo: visitei a casa-biblioteca de Daniel Nunes, um homem de uma vida excepcional e detentor de um espólio de pasmar. Tão de pasmar que, obviamente, terei de regressar, e talvez fazer mesmo umas conversas gravadas. E prolongou-se tanto esse ‘mergulho’ por conversas e livros antigos que se escafedeu o jogo…

    (goloooooooooooo…. Marcos Leonardo, que marca o segundo golo na segunda vez vestido de vermelho… já na parte final dos descontos… Consummatum est).

    E eu também. Ainda bem que jogo terminou. Estou estafado, ainda por cima venta por aqui um frio gélido, nesta Varanda da Luz, e eu quero ver se me meto na cama. Por hoje, fecho a loja. A crónica não está nenhuma ‘espingarda’, mas sempre me parece melhor do que o estado do lusitano Jornalismo. Mas, descansem: o Pedro Coelho vai salvar o Jornalismo do fosso, através da criação, como propôs num programa da RTP, de financiamentos similares aos da academia, por via de análise de projectos realizada por ‘peritos’ (quem?! A Mota-Engil? A Brisa? A REN? O Santander?…), que entregarão ou não dinheiro aos jornalistas. Já estou a imaginar uns ‘projectos’: “inspeccionar a acção do Governo”. CHUMBADO. “Fazer jornalismo credível e independente”. CHUMBADO. “Lamber botas”. APROVADO…


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  • Rio Ave 4.1

    Rio Ave 4.1


    Devia começar por falar numa tarde invernal, embora somente com uns pingos, onde somente os mais corajosos vão à Catedral, em vez de ficarem no quentinho das suas casas – se tiverem dinheiro para a conta da electricidade. Mas não: vou contar uma ‘história’ da minha infância em redor do futebol que ia para além de ouvir os relatos na Rádio Ranscença do Artur Agostinho e Ribeiro Cristóvão.

    Na minha infância, à conta da inexistência de PlayStation e do FIFA– não só por ainda não estar inventada, mas também, se estivesse, estaria eu na ala contrária à da família do Pedro Nuno Santos, apesar de essa “desigualdade” lhe ir fazer grande “confusão” depois de nascer –, eu entretinha-me a inventar campeonatos de futebol, com jogos entre todas as equipas, a duas voltas, claro, e os golos eram determinados pelos números inseridos em pedacinhos de papel com números de 1 a 10, que eu desenrolava para definir o resultado final.

    Nessa altura, pouco entendido em probabilidades – ignorando que deveria meter mais números pequenos do que grandes na bolsa do ‘sorteio’–, os resultados acabavam por se pareceram mais a um campeonato de hóquei em patins do que ao de um de futebol, tantos eram os 5-3, os 6-9 e os 4-4, e até as chances de um 9-9 eram, na verdade, sem eu o saber, similares à de um monótono 0-0.

    Para a coisa ser ainda mais inverosímil, criava nomes, os mais estapafúrdios (a ponto de, me recordar de alguns, quatro décadas mais tarde), para não se dar o caso de, escolhendo clubes conhecidos, o meu preferido (o Benfica, claro) não ser surpreendido com um 0-9 do Penafiel ou do Tirsense… ou do Rio Ave.

    (e estando a escrever isto, e já lá vamos ao motivo, e vamos ver se isto não me vai correr mal, o Rio Ave marcou ao minuto 9; e, além disto, já não será desta que assistirei ao desejado 15-0)

    Isto para dizer que cresci sempre com o desejo de vencer. Adoro ganhar. Mas o “adoro ganhar” não significa que não tenha a noção de que, de quando em vez, se pode perder. Mas, escolhendo-se o Benfica, pelo menos tem-se maior probabilidade de se vencer muitíssimo mais. Pelo menos, na primeira metade da minha vida – ou, vá lá, até aos meus 20 anos em 1990, quando perdemos a última final da Liga dos Campeões contra o Milão.

    Ora, mas no futebol de verdade, o prazer de ganhar não advém só da vitória nem tão-pouco de confraternizar com os nossos correligionários. Saborear uma vitória sozinho é uma chatice, e com os nossos adeptos é satisfatório. Na verdade, uma vitória somente se torna sublime, atinge outro patamar de prazer, se se tivermos alguém para ‘brincar’ da situação, ou seja, com um antagonista.

    Por isso, se uma vitória contra o Porto se mostra mais satisfatória do que contra o Portimonense, mesmo valendo ambos três pontos, ainda é melhor se tivermos um amigo portista para gozar. Por isso, este campeonato, sobretudo por se andar a jogar mal em demasiadas ocasiões, vai saber melhor porque tenho um amigo sportinguista que anda a enviar-me fotos do cão com um cachecol verde e branco, pensando ilusoriamente que o benfiquista Rubem Amorim lhe vai dar uma segunda alegria.

    (para me aliviar, o Di Maria, a passe de Rafa, faz um golo de belo efeito; reposta a igualdade; vamos lá à imprescindível vitória, por numerosos expressivos, para esta crónica ao vivo não redundar numa vergonha para mim, ao estilo ‘vais tosquiar e sais tosquiado’)

    Digo isto para poder acrescentar que, por norma e princípio, não aprecio ‘brincar’ ou gozar com pessoas de quem não sou amigo pelos desaires dos adversários do Benfica, mas hoje, neste jogo em particular, contra o Rio Ave, abri uma excepção. E até antecipei o gozo, trazendo ‘acompanhamento’ condigno: um alvarinho Palácio da Brejoeira. Quero dar uns bons goles, pelo menos três por cada golo, em honra ao ‘Senhor Alvarinho’.

    O Senhor Alvarinho, assim se apresenta, nem deu boa avaliação ao Palácio da Brejoeira (6/10), mas também o senhor tem bico que não se satisfaz com pouco: para se ter direito a um 9/10, como na última ‘recensão’ do Alvorone, da Quinta de Soalheira, tem de se despachar 45 euros por garrafa, se não se receber, claro, uma descomprometida oferta do produtor.

    (depois do intervalo, recomeça o jogo, e o sofrimento do Benfica; por duas vezes, bola ao poste, uma das quais após fífia de Trubin; deixa-me é beber alvarinho para ver se acalmo os nervos)

    Ora, mas se eu trouxe alvarinho – não na garrafa, por ser proibido vidro, mas sim num ‘bidon’ verde, para disfarçar com o famoso e imperdível farnel do Benfica, mesmo não sendo suposto um jornalista, ainda mais ‘bem comportadinho’ como eu, arremessar objectos da Varanda da Luz –; dizia eu, trouxe para aqui um alvarinho por maldade: o Senhor Alvarinho é, na verdade, nas horas vagas sem névoa etílica de alvarinhos, um denodado Provedor do Adepto do Rio Ave, cargo curioso, que pode mesmo causar espanto, porque existindo a função se assume a existência de adeptos do Rio Ave… Bom, na verdade, não é pela existência de padres que se comprova a existência de Deus… Enfim, acreditando ou crendo que o Provedor do Adepto do Rio Ave aqui está, gostaria então de o brindar com um alvarinho mesmo se um de quinta categoria para o seu gosto.

    (expulsão do defesa Aderllan Santos, do Rio Ave, por acumulação de amarelos… Já estou a ver os meus amigos portistas e benfiquistas a dizerem que o Benfica só ganha contra 10… e olha, três minutos depois e… goloooooooooo… António Silva, à ponta de lança, depois de uma grande confusão na grande área)

    Bom, já se está a coisa a compor, entretanto o Schmidt decide por umas substituições para animar, fazendo entrar o reforço Marcos Leonardo, o Florentino Luís e o Tiago Gouveia, e parece-me que isto está garantido. E, portanto, posso finalmente desvendar a inspiração desta crónica e quem é o Senhor Alvarinho, que é também o Senhor Provedor do Adepto do Rio Ave, a quem desejo – porque isto, no futebol, é permitido algum sadismo – que venha a ser, na próxima época, o Provedor dos Adeptos dos Clubes da Segunda Liga. Portanto, o Senhor Alvarinho, simultaneamente Senhor Provedor do Adepto do Rio Ave e eventual futuro Provedor dos Adeptos dos Clubes da Segunda Liga é…

    (golooooooooooooooo…. 3-1… Marcos Leonardo, estreia a marcar na estreia com um belo cabeceamento)

    Chupa, João Paulo Meneses… é isso mesmo: o actual presidente do meu ‘mui querido’ Conselho Deontológico do Sindicato dos Jornalistas, um tal de João Paulo Meneses, que no último ano andou a fazer um frete à doutora Licínia Girão e ao Hospital de Braga contra o PÁGINA UM, em vez de andar preocupado em criticar as promiscuidades de jornalistas e directores editoriais que tanto mal têm causado ao jornalismo. Toma lá, provedor. Já jorro alvarinho como champanhe!

    E agora, se me dão licença, vou ver um bocadinho com mais atenção o final do jogo.

    (golooooooooo… 4-1… marca João Mário)

    Chupa, João Paulo Meneses!

    E dedica-te aos alvarinhos, que acho que tens muito mais jeito para isso: na verdade, o Palácio da Brejoeira não é lá grande ‘espingarda’. Prometo, se o Rio Ave descer de divisão no final desta época, perder o amor a 45 euros (pois não tenho um produtor amigo) e bebo um Alvorone, da Quinta de Soalheira em honra da tua desdita. E acompanhado com salmão fumado, como bem aconselhas no teu Senhor Alvarinho. Vai saber-me que nem ginjas…


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