Etiqueta: Da Varanda da Luz

  • Atlético de Madrid 4.0

    Atlético de Madrid 4.0


    Há sempre uma primeira vez. Hoje, por exemplo, foi a primeira vez que vi uma pomba no metro, neste caso no átrio da estação do Marquês, cheio de ‘águias’. As verdadeiras águias, a Vitória e a Gloriosa, chamar-lhe-iam um figo, o que talvez não seja uma metáfora feliz, porquanto não consta que os indivíduos da espécie Haliaeetus leucocephalus sejam frugívoros. Em todo o caso, mesmo carnívoros, duvido que a Vitória ou a Gloriosa [por acaso, não sei se são machos ou fêmeas) metessem o dente – força de expressão – à sande de panado que tenho defronte de mim, a primeira que integra o mais famigerado farnel do futebol (FFF), que não sendo de deitar fora, ainda fica aquém daquela rechonchuda sandocha de leitão de Negrais que degluti, com bom proveito, no ‘estádio dos lagartos’.

    Por falar em primeira vez, também é a primeira vez, desde que nasceu este Da Varanda da Luz, que venho assistir a um jogo da Liga dos Campeões, que se deve, sobretudo, por ter faltado, hélas, pela primeira vez a um jogo da Liga Portuguesa, uma vez que estava em Roma no sábado passado, pelo que perdi uma vitória retumbante do Benfica, mesmo se com entrada em falso. Daí a razão para esta crónica não se chamar Gil Vicente 5.1, embora não desdenhe que se venha a titular Atético de Madrid 5.1. Veremos…

    (entretanto, deixei o jogo iniciar-se sem avisar, e o Oblak, meu grande traidor, salvou ao minuto 8 o Atlético de Madrid de sofrer o primeiro golo com uma defesa com a classe que se lhe reconhece desde que vestiu de vermelho; bom cabeceamento do meu ‘alter-grego’ PAVlidis)

    Estando na Cidade Eterna, como adiantei, ainda tentei substituir a crónica de sábado, não com uma visita ao Papa, mas com uma passagem no Estádio Olímpico, aproveitando o jogo entre o AS Roma e o Veneza para o Calcio. O Roma, que já foi de Mourinho e Rui Patrício – e agora é apenas de Svilar e de Cristante, que já foram ‘águias’ sem grandes voos – está como o Benfica esteve nos tempos daquele alemão de triste memória: a jogar mal. Não sei como jogou no sábado passado, porque me andaram a ‘emperrar’ a acreditação, até que não me deram, o que resultou na minha ‘represália’ sob a forma de bruxedo, que não foi assim tão forte, pois, apesar da AS Roma ter estado a perder, deu a volta ao resultado, terminando a ganhar à rasca por 2-1.

    (gooooooooolooooooooo!!!! Benfica!!! Com ascendente nos últimos minutos, marca o turco do duplo diacrítico, Aktürkoğlu, depois de uma excelente desmarcação, a passe do Aursnes)

    Enfim, e por falar mais uma vez na primeira vez: não foi a primeira vez que perdi um golo do Benfica enquanto estou na Varanda da Luz a tentar meter, por debaixo da mesa, a ficha no raio de tomadas muito mal colocadas. Ainda mais, fiz aqui uma distensão muscular na perna direito, porque por aqui está tudo cheio de jornalistas e tive de fazer alguma ginástica… e a idade já não perdoa a falta de alongamentos.  Vejamos se não fiz aqui uma daquelas microrroturas à futebolistas.

    (caraças!, bola na trave da baliza do Trubin; sem saber nem escrever, o Atlético de Madrid quase empatava)

    Também é a primeira vez que estou a assistir a um jogo ao lado da equipa de relatadores da TSF, que não conheço, mas que são tipos de boa visão e de boa técnica vocal. Enfim, só estreias e ineditismos…

    (e o Benfica quase marcava por PAVlidis, com a bola quase a roçar, do lado de fora, o poste esquerdo da baliza de Oblak, que espero vir a ter hoje uma noite infeliz)

    Entretanto chega o intervalo, e o Benfica fez, pela primeira vez desde há muito tempo [como se sabe uma primeira vez pode ser sempre um evento que se segue ao último, que assim deixa de ser o último], uma belíssima primeira parte.

    Estou esperançoso de uma segunda parte ao estilo do melhor Benfica. Sente-se nas bancadas uma euforia muito boa saudável boa onda, uma noite europeia e, se me permitem pela primeira vez não vou escrever mais nada nesta crónica especial Da Varanda da Luz, a não ser apontar os, espero, (muitos) mais golos do Benfica.

    (goloooooooo… minuto 52: 2-0, marca Di Maria de penalti, depois de o VAR ter alertado o árbitro para um pisão sobre PAVlidis)

    (goooolllooooo!!!! Mais um, ao minuto 75, marca Bah, de cabeça, ou coisa parecida, nio seguimento de um canto)

    Eu previa, pela primeira vez, que assistiria, como há muito não se via, pela primeira vez, talvez, na curta história deste Da Varanda da Luz, a uma daquelas épicas noites europeias. Pelo menos, não me recordo de um jogo em que todos os jogadores, sem excepção, tiveram prestações tão boas. Que grande Benfica se tem agora… sem o João Mário e o Roger Schmidt. E o Kökçü está um senhor jogador…

    Ao minuto 79, grita-se olé a cada passe dos jogadores do Benfica, depois de uma bela sequência de passes sem que os madrilenos tenham sequer o sonho de cheirar a chicha uma vez que seja… Respira-se uma gloriosa noite europeia e grita-se “só mais um!”

    (e… goloooooooooooo… de Kökçü, a concretizar a marcação de uma grande penalidade a punir falta sobre o suíço Amdouni. Minuto 84. ‘Granda’ cabazada!)

    Caramba, não cumpri o prometido: ainda pincelei a segunda parte com uns breves comentários, e saio daqui eufórico. Pela primeira vez, de facto, constato ser impossível escrever uma crónica isenta e independente sobre um clube do nosso coração quando este pratica bom futebol. Mas não regresses, Schmidt! Afinal, este Da Varanda da Luz nunca quis ser independente nem isento…

    Ah, e acho que a pomba do Marquês deu sorte!


    Comentário especial de Tiago Franco (a pedido expresso e escrito ‘a quente’)

    Praticamente com os mesmos jogadores que Robert Schmidt tinha à disposicão, Bruno Lage optou por aquilo que os brasileiros designam por “feijão com arroz”, ou seja, 11 jogadores nas suas posicões. Juntou-lhe uma pitada de motivação, substituições com sentido, leitura do jogo a partir do banco e, voilà, o básico para uma equipa profissional de futebol funcionar voltou a aparecer na Luz.

    A partir daí, foi deixar que os artistas fizessem o resto. Turcos, argentinos, ucranianos, espanhóis e nórdicos, numa mistura de talento imigrante que até o Ventura aprovaria, soltaram-se e voltaram a ter alegria de jogar. O Atlético de Madrid era, até agora, o desafio mais exigente da era Bruno Lage, e para quem, como eu, tinha algumas duvidas, ficaram dissipadas quando percebi como Carreras enchia o antigo corredor de Morato (lembram-se?) com a confianca de quem nunca ali tinha nascido.

    Num relvado com seis campeões do Mundo, foram os do Benfica que deram mais nas vistas. O Atlético ameaçou apenas no final da primeira parte, mas Simeone fez o favor de estragar tudo ao intervalo, tirando os melhores do meio-campo. A segunda parte foi de varridela total, acabando o jogo com 11 remates enquadrados contra ZERO dos espanhóis. Uma exibicão quase perfeita e que há dois meses seria absolutamente impensável. Que bom ver Kökçü no centro, Carreras na linha, um avançado (Pavlidis) em vez de um pino (Tengsted), um trinco (Florentino) com Aursnes ali por perto, e extremos que não passam apenas para trás. Em resumo, que bom ter a equipa de volta, um treinador no banco e 62 mil alegres almas na Catedral. Noite de Gala, finalmente.


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  • Santa Clara 4.1

    Santa Clara 4.1


    Na vida, como no futebol, há um antes e um depois…

    (golo do Santa Clara, uma chapelada logo a abrir, aos 20 segundos, antecedida de um pontapé na atmosfera do Otamendi; vamos fazer de conta que este jogo começa com um handicap a favor do Santa Clara apenas para ser mais emocionante)

    … e o depois é estarmos já a perder, apesar de nos termos livrado do alemão, do qual nem me recordo do nome [será Alzheimer?], de termos contratado mais um jogador turco de exóticos diacríticos no nome [Aktürkoğlu] e de o regressado Bruno Lage ter mudado meia-equipa, sendo que, mesmo assim, receio não fazer, com isso, uma equipa inteira.

    E, portanto, estamos aqui, na Varanda da Luz, como estivemos há umas semanas: na esperança que isto seja somente um pesadelo, o que parece ser mesmo, mas interminável. Até porque na semana que agora se finda ainda apanhámos mais a notícia de prejuízos de 31,36 milhões de euros na época transacta [até me mete medo analisar oi relatório e contas da SAD], e uma ‘aparição’ de Luís Filipe Vieira na CMTV a chorar-se de lhe terem estragado a dívida [acho que o BES não lhe deu os créditos que ele jugaria merecedor].

    (goloooooooooo…. marca o turco dos dois diacríticos, o Aktürkoğlu; quer dizer, o Kökçü tem duas tremas, mas apenas um diacrítico… enfim, o que conta é o golo de belo efeito, logo na estreia)

    Esperemos que entrada de sendeiro do novo Benfica à Lage tenha sido uma espécie de canto do cisne ao contrário, para assistirmos, no mesmo jogo, à redenção depois da perdição. Ou então a culpa foi da Vitória, que esta noite estava destrambelhada, e andou a cruzar os ares, antes do apito inicial, para pousar onde não devia: o no relvado, bem longe do tratador.

    (goloooooooo… boa, boa!, eis a reviravolta! Florentino, o único jogador anteriormente treinado por Lage, marca de cabeça, após uma assistência pelos ares de Otamendi)

    Agora sim. Finalmente, aos 34 minutos depois do apito inicial, posso então dissertar melhor sobre o antes e o depois, que não diz respeito somente ao despedimento do Robert Schmidt, que garante certamente mais um ano de prejuízos…

    (credooooooo…. remate ao poste direito da baliza do Trubin… isto não anda, de facto, nada fácil)

    Bem, continuamos. Quando comecei, com essa estória do antes e do depois, estava também a lembrar-me [como poderia esquecer] a minha ‘visita de trabalho’ ao estádio de Alvalade para ‘supervisionar’ o Carlos Enes. E… caramba! Como é possível que o Sporting não apenas tenha concedido uma recepção VIP ao PÁGINA UM (com lugar marcado com identificação a preceito) como, de forma retumbante, mete a sandes do farnel do Benfica num bolso. Uma bela e bem apetrechada sandes de leitão de Negrais? Rui Costa: por amor da santa! A partir de agora, só direi bem do ‘farnel da Luz’ quando me presentearam, e me apresentarem, uma sandes de leitão à Bairrada! Não menos…

    (intervalo… descansemos…)

    Enfim, mas bem sei quais as armas do ‘demo’, especialista em tentações – querem que eu vá de novo ao estádio do Sporting só por causa da sandocha de leitão de Negrais. Já não lhe bastava, ao demo, me ter ‘oferecido’ um jogo onde, hélas, se viu um belíssimo jogo.

    (entretanto, recomeça a segunda parte)

    Porém, estou esperançoso que hoje haja mesmo uma redenção, e após a entrada em falso no primeiro lance, se saía daqui com uma exibição de encher olho [a segunda metade da primeira parte mostrou-se já interessante) que ‘enterre’ mesmo o alemão…

    (golooooooo. 3-1: caramba, bela entrada… marca António Silva, na cobrança de um canto do turco do duplo diacrítico, o Kökçü)

    Entretanto, por desfastio, enquanto lá em baixo rola a bola em bom ritmo, e se ouvem cantorias e palmas [há muito tal não se ouviam com esta frequência e entusiasmo], desafio o Chat GPT para me compor o resto da crónica, ‘instruindo-o’ para incluir as referências a eventuais golos. O ‘homem’ entusiasma-se [ainda dizem que a inteligência artificial não tem emoções], metendo-me o Benfica a ganhar por 6-1, sem contar com um (inventado por ele) golo anulado, e somente com pequenos ‘lapsos’ como sejam os golos de Rafa e de João Neves.  

    (goloooooo! E este é real! Di Maria, com uma bela chapelada para facturar)

    Numa ‘coisa’ o Chat GPT parece já ter antecipado, ao escrever-me nessa ‘falsa crónica’ que as manchetes de amanhã dos jornais destacarão “Benfica avassalador” e ainda “Lage traz nova era”, embora caia na real, seguindo o meu estado de espírito: “Palavras fortes que, quem sabe, poderão ser apagadas se na próxima semana voltarmos a tropeçar, mas hoje… hoje tudo parece possível”.

    E parece que sim: ainda faltam 25 minutos, e o 6-1 previsto pelo meu ‘companheiro’ Chat GPT está aqui à mão de semear. Paremos aqui um pouco a crónica para assistir, de forma descontraída, a alguns minutos de jogo, até para ver se o suíço Zeki Amdouni é bom ou não.

    (tudo muito calmo lá em baixo; a única nota de relevo foi o anúncio da presença de 60.145 espectadores nas bancadas, portanto acima dos 60 mil, o que me parece ser a primeira vez que sucede esta época…)

    Como não me parece que haja muito mais para avançar nesta crónica, sucedendo-se as substituições no lado do Benfica, faltando nove minutos para terminar o jogo, já agora, vou fazer outro teste com o ChatGPT: estando o jogo com o Santa Clara em 4-1 aos 81 minutos, qual a probabilidade em percentagem de haver alteração do marcador.

    Responde-me que “considerando o estilo de jogo, a motivação dos jogadores e o desgaste do adversário, a probabilidade de o Benfica marcar mais um golo nos últimos 9 minutos pode ser estimada em 30%.”

    (e bola ao poste, achou eu, a remate de… não sei, estava a escrever…)

    Já o Benfica marcar ainda dois golos, o Chat GPT atira-me com 10% [acho que está a inventar já] e três golos entre 2% e 3%.

    (e grande perdida de… não reparei quem foi, estava a olhar não sei bem para onde)

    Bom, na verdade, pelo que fez o Benfica nos últimos minutos já podiam ter entrado dois…

    (três… grande livre de Amdouni, com a bola a embater com estrondo na barra; seria um grande golo)

    Na verdade, pode não entrar mais nenhum, mas acho que os benfiquistas fizeram hoje as pazes com a equipa. Bem-vindo, Bruno Lage! O futebol tem destas coisas: do desãnimo ao ânimo. Quando é que jogamos com o Sporting para lhe fazermos engolir duas ou três sandes de leitão de Negrais?


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  • Estrela da Amadora 1.0

    Estrela da Amadora 1.0


    No futebol, que não é o modelo para se levar pela vida, exponho-me como um ferrenho, no sentido de fé inquebrantável, dos presságios. Prefiro os bons, embora as mais das vezes se tornem maus, apesar de, com elevadíssima probabilidade, os supostos sinais antecipatórios sejam sempre tão relevantes como a francesa Linha Maginot foi para conter o Blitzkrieg da Alemanha Nazi.

    Porém, dizei-me, cépticos, incréus e demais descrentes: como ignorar, ao fim de 24 anos de sócio, que a águia Vitória (acho que, na verdade, era a Gloriosa) finalmente se cruza comigo? Isto é, a menos de um metro: eu a subir o elevador para a Varanda da Luz; ela, com o tratador, a sair do relvado… É certo que ela me pareceu um pouco alheia à minha presença, enquanto subíamos, e eu entabulava uma curta conversa com o seu tratador, sobre o desempenho (eventualmente) distinto das duas águias, mas, enfim, nem sempre os momentos históricos são apercebíveis por águias nem tão solenes como os do Anjo Gabriel e a Virgem Maria.

    (visto está, porque me cruzei com a Gloriosa [acho eu], que me atrasei, pelo que, somando o tempo do elevador, a ‘apanha’ do farnel e a subia a penantes da escadaria, cada vez mais íngreme, cheguei à Varanda da Luz já com cerca de cinco minutos de jogo)

    Além disso, talvez também por não me ter cruzado com tanta gente, que quase tudo estava dentro estádio, pareceu-me que hoje não havia tanta camisa negra, abrenúncio, que só o vermelho do Manto Sagrado, mesmo se por vezes sangrado, deveria merecer franquia de acesso.

    Enfim, avancemos. Convencido estou que, depois deste encontro, muito curto, surgirá uma vitória gloriosa, ou uma gloriosa vitória, várias, muitas, todas, até ao final da época, pelos séculos dos séculos; talvez sempre superiores, em bolas entradas, aos seis que o Sporting já mandou na Madeira, e, claro, dos cinco em Faro. Certo será que na hora em que lerem esta crónica, sabido já estará se foi o Sporting ou o Porto que não conseguiu a quarta vitória consecutiva, ou ambos, porquanto haverá ‘derby’ na próxima semana – que já será passado para quem agora me está a ler)

    Desconfio que mais provável seja, neste jogo e em muitos, que os cruzamentos da linha de golo sejam em menor número, sendo satisfatório que seja pelo menos e na da baliza adversária.

    (como habitual, lá em baixo, um jogo morno, sem intensidade)

    Mas, claro, quem precisa de intensidade quando temos a sublime arte de esperar por um milagre? A esperança é a última que morre, como se costuma dizer, mas cá entre nós, ela tem um jeito especial de se arrastar como o Schmidt lá em baixo, mão nos bolsos, numa noite de sábado.

    A fé no futebol é uma forma de optimismo que só rivaliza com as promessas de campanha dos políticos de que, no Verão, os planos de emergência em saúde vão fazer os obstetras suspirarem para que lhes cheguem mais grávidas, que as há poucas no Verão…

    (goloooooo… já estamos, finalmente, encaminhados: depois de dois remates fracos à baliza, lá temos o turco Kökçü lá acerta no fundo das redes, sob a forma de ‘franginho’ servido à la Brígido, o guarda do Estrela da Amadora)

    Continuemos a filosofar. Não sendo ateu, o futebol começa a ocupar agora, pelo menos para mim, e para mal dos meus pecados, a função da missa dominical da minha adolescência: ia por obrigação paterna (agora tem sido profissional), embora me esgueirasse depois, antes da comunhão, para o cemitério ver campas (agora vejo vídeos com momentos de glória).

    Convenhamos que, com o Schmidt, esta nossa Catedral está, daqui a nada, a parecer mais um necrotério do que local de celebração: raramente temos gritos, aplausos e a veneração. Bom, pelo menos não há muitos assobios hoje, porque o João Mário aparentemente já não jogará mais por aqui. Quer dizer, há pouco houve, por causa de um amarelo por protestos do Kökçü.

    (e termina a primeira parte sem chama, tirando o ‘frango’)

    Em todo o caso, sempre se mostrará mais sensato, mesmo numa época a começar mal, ter fé em ser campeão do que acreditar na política fiscal eficaz do Governo ou de que o plano de emergência para a saúde resolva o que quer que seja, excepto engrossar os bolsos de alguns com dinheiros públicos.

    Mas sigamos que, também ali em baixo, pouco se anda a fazer para resolver os ‘problemas’ dos benfiquistas, a saber: não conseguem assistir a um ‘jogo de gala’, de se tirar o chapéu, há muito tempo.

    (recomeça o jogo; renova-se a esperança similar à possibilidade de Cristo descer à Terra)

    Interessante que, confrontando-o com a religião e a própria política, o futebol acaba por ser, com toda a sua bagagem de tradições e rituais, o último bastião da superstição moderna. Entre o ‘penteado da sorte’, o ‘ritual do chuto para o lado direito’ e o ‘cruzamento com a águia no elevador’, a crença nos presságios é a única maneira de manter a esperança viva, apesar dos dados frios da realidade.

    Na verdade, a águia (Vitória ou Gloriosa, pouco importa) é o símbolo de sonhos frustrados, uma metáfora voadora da Esperança, porque se tudo estivesse a correr bem não iria acreditar que será uma rapina a alinhar o universo para uma vitória benfiquista.

    (e acho que também, pela amostra, não será o Renato Sanches, que entra, e que mais parece o Elijah Price, do filme O Protegido, realizado pelo M. Night Shyamalan)

    Enfim, já me estou aqui a arrastar em filosofias baratas, de encher chouriços, cada vez mais irritado, e desanimado, porque o meu ‘encontro’ com a água, mesmo se por breves momentos, merecia noite mais gloriosa. Espero, e já rezo, vejam lá, para que, pelo menos, não ‘voe’ a vitória (pouco gloriosa) que se surgiu de um ‘frango’.

    Com a aproximação do fim deste pobre jogo, garantido fica que a tendência para se forçar um significado aos encontros fortuitos, com águias ou com o que quer que seja (talvez com excepção de Deus), é tanto uma maneira de enfrentar o absurdo da existência como do absurdo de um segundo campeonato pelas mãos do Roger Schmidt.

    (e terminou isto, sem qualquer jogada digna desse nome durante toda a segunda parte, de parte a parte, Benfica e Estrela da Amadora; há pelejas de casados contra solteiros mais animadas)

    Conclui-se assim, acabando ‘isto’ num ‘Estrela da Amadora 1.0’ (ainda pior do que na época transacta), que um jogo morno nos pode ensinar algo: contentemo-nos com o que temos, sobretudo se o Rui Costa ainda precisa de mais para abrir os cordões à bolsa e ‘despechar’ o alemão…

    P.S. Esta crónica, acredite-se ou não, foi escrita antes do jogo contra o Moreirense, e o consequente ‘despedimento’ de Roger Schmidt. Entretanto, também houve um jogo, convenientemente ‘analisado’ pelo Carlos Enes, e com a minha ‘supervisão’, enquanto me deliciava com um ‘farnel’ na Varanda do Varandas que deveria envergonhar o Benfica. Mas esse ‘ajuste de contas’ fica para a próxima crónica…


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  • Casa Pia 3.0

    Casa Pia 3.0


    Ano novo – época nova – e problemas renovados, alguns agravados, talvez da idade, que me fez chegar ao estádio a pensar que o jogo começava às 20, quando era meia hora depois. Pior, à conta deste meu desacerto, julgando haver debandada geral, enviei uma foto das bancadas quase vazias a um lagarto que se estava deleitando pelo cristalino facto de o Sporting ter já despachado seis ‘secos’ ao Nacional da Madeira.

    Homem sem fé, assim me vejo. A ‘coisa’ – leia-se, bancadas – lá se compôs, não é ‘casa cheia’, enfim, mas não envergonha, apesar de subsistir um problema ‘velho’: houve novo tropeção na primeira jornada. E mais assobios ao Roger Schmidt, depois das palmas aos jogadores anunciados pelos altifalantes. Quer dizer, não estive com grande atenção, pelo que não posso confirmar que o nome do João Mário recebeu aplausos.

    (coloquemos aqui o início do jogo, embora se na época passada houve dúvidas sobre a veracidade da escrita em directo, agora ainda mais, não sendo a crónica publicada imediatamente a seguir ao apito final)

    Não é novidade para o Benfica começar um campeonato com uma derrota; são logo três pontos que à vida seguem, e geralmente nas competições cá do burgo um desaire é logo um terço dos desaires aceitáveis para se ser campeão. Excepto, claro, se se for o Giovanni Trapattoni, que nos devolveu as faixas onze anos depois no campeonato de 2004/2005, mesmo tendo ‘chupado’ oito empates e sete derrotas. Sim, foi nesse campeonato, o do cabeceamento do Luisão que, ou foi um ‘frango’ do Ricardo, ou foi falta de jeito do Ricardo – coisas de antanho, antes do VAR.

    Objectivamente, a 20 anos de distância, e comigo a poucos metros de distância (estava atrás da baliza), posso garantir que foi um belíssimo cruzamento do Petit, na sequência de um livre, logo ele que, por norma, marcava cantos sem conseguir levantar a bola, estranho nele que corria que nem pitbull. Enfim, bons tempos, que aquele campeonato soube a mel, depois de tão longo jejum com Vale e Azevedo à mistura.

    (e lá em baixo, andamos a pastar agora; tirando um remate do Casa Pia, para boa defesa do Trubin, nada de relevante, ou seja, uma pasmaceira)

    Acho que vou começar a fazer contas à vida, que, no meu caso, significa analisar as probabilidades de sermos campões. A jogarmos assim, zero. Tenho de começar a ter uma mentalidade britânica, que mesmo nos clubes da quinta divisão no fundo da tabela gritam amor até ao fim dos tempos. Se calhar não é uma honra, mas sim uma maldição ser benfiquista: contentamo-nos apenas com muito, e o pouco parece nada.

    (e nada saiu desta primeira parte)

    Enquanto anda ali uma confusão no topo sul, acho que na claque dos No Name Boys, estou aqui a pesquisar se uma derrota na primeira jornada é mesmo determinante. Ainda recorro ao ChatGPT, mas este ‘tipo’ não me parece de confiança na determinação do número de campeonatos em que o Benfica foi campeão mesmo perdendo na primeira jornada. Dá-me valores com ‘pinta’ de serem inventados.

    Uma coisa sei, sem ser necessário inteligência artificial: o jogo do Bessa, no ano passado, não augurou ‘coisa’ boa, pese embora tenha sido ao intervalo dessa partida, que assistia ali na Graça, que me lembrei, não sei se para bem ou mal dos meus pecados, de criar este Da Varanda da Luz. Enfim, o mal está feito, e arrepia-me a ideia de uma segunda época a ‘pão e água’, mesmo se acompanhado pelo já famoso farnel do Benfica que, pelo menos nesta jornada, surgiu com uma novidade: pãozinho tipo ‘bolo do caco’, besuntado de uma pasta de carne, em vez da sensaborona e ‘insuflável’ baguete.

    (e lá vamos para a segunda parte, que é sempre de esperança neste estádio, o que é mau prenúncio, porque significa que precisamos de melhorar, pois esta primeira metade não foi ‘grande espingarda’)

    Além de tudo isto, a caminho do estádio, talvez impressão somente minha, pairavam ares de ambiente fúnebre ou funesto, tantos eram os adeptos do Benfica trajando o equipamento alternativo, mais de pendor negro, em vez do glorioso encarnado. Enfim, pelo menos, os jogadores ali em baixo seguem com a tradicional camisola vermelha e calções brancos – e deveriam ser proibidas outras cores para não se manchar o simbolismo deste ‘sacrossanto manto’. Já nos bastou aquela época em que se meteram em ‘mariquices’ [posso agora usar essa expressão?!] com uma camisola cor-de-rosa: acho que foi no campeonato de 2007/2008, em que ficámos em quarto, atrás mesmo do Vitória de Guimarães, com quatro derrotas e 13 empates.

    Confesso também que, não sendo a confiança muita – e comungando o estado de espírito de qualquer benfiquista, entre o medo de mais um desaire e o pânico de continuarmos com o Roger Schmidt –, há o factor Casa Pia, de má memória para esta, mesmo assim, invicta crónica. Sim! Parecendo impossível, e mesmo com a transacta desgraça, como só escrevi Da Varanda da Luz para os jogos da Liga, nunca assisti ainda a qualquer derrota, e somente a dois empates, um dos quais com este mesmo Casa Pia.

    (começo a exasperar-me com a pobreza franciscana lá por baixo; e eu que me estava a preparar para glorificar o Pavlidis, com um trocadilho com as minhas iniciais, e o grego nada… haja fé com as substituições agora feitas, com uma vaia ao João Mário)

    Entretanto, como tive tempo, porque nada de relevo se passa, encontrei um campeonato épico onde começamos em desgraça e terminámos em apoteose. Época de 1976/1977, já eu nascido, e talvez já benfiquista, com o inglês John Mortimore aos comandos. Primeira jornada: derrota contra o Sporting, três ‘secos’ sem resposta. Segunda jornada: empate em casa, com o Braga, a dois golos…

    (golooooooooooooooooooooo… finalmente! O miúdo Tiago Gouveia com um grande cruzamento e o grego PAVlidis a facturar… caramba, haja esperança!)

    Bem, se ganharmos, então estaremos melhor do que na tal época do Mortimore, que à terceira jornada, no antigo Estádio da Luz, permitiu novo empate, dessa vez com o modesto Estoril, a uma bola. A primeira vitória só à quarta jornada, e bem magrinha foi (1-0), contra a Académica. No final, fomos campeões com nove pontos à frente do Sporting e deixámos o Porto a 10.

    A memória é boa para nos reconfortar, nas desgraças do presente, com as glórias do passado…

    (golooooooooooooooo… já está; aliviemo-nos. Depois de um susto, desconfiando eu que Nossa Senhora ajudou a deslocar a cabeça de um casapiano, de sorte a falhar a baliza, o nosso Tiago Gouveia [como é mesmo o nome daquele que foi para o PSG?!] garante, ai Jesus, assim espero, a nossa primeira vitória)

    Parece-me isto salvo. Já me deveria a experiência precaver que isto de escrever crónicas apaixonadas em directo não é fácil para um escriba, porquanto, convenhamos, esta minha paixão exige retribuição no amor, ou seja, golos, para a chama se manter acesa.

    Despachado isto está. O Marcos Leonardo, que entrou com o Tiago Gouveia, quase fazia o gostinho ao pé, mas fiquemos satisfeitos, porquanto, na verdade, com este resultado mostramos até mais força do que na época passada, considerando que então empatámos aqui com este Casa Pia e perdemos em Famalicão, por sinal também por 2-0…

    (e é goloooooooooooooo… bolas, acordaram na segunda metade da derradeira parte; se isto fosse como no basquetebol, com quatro partes, isto ainda ia parar num quimérico 15 a zero)

    Acabemos a crónica aqui. O árbitro acaba de apitar para o fim do jogo. Finalizemos o texto; hoje nem sequer tive de meter já o texto e as fotos, e assim regresso mais cedo ao lar, doce lar, apesar de lá viver uma portista…


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  • Um benfiquista com nove dobradinhas foi ver um sportinguista perder uma

    Um benfiquista com nove dobradinhas foi ver um sportinguista perder uma


    Daqui da bancada de imprensa do Estádio do Jamor, venho, desde já, anunciar – que digo: proclamo –, por ex scientia et experientia incontrovertibilis, que a ‘sportinguite’ não é transmissível. Sem uso de fogueiras em ruas, sem salvas de artilharia, sem música estridente, porque as vibrações afastam o ar corrupto, sem caixas pendentes no nariz com soluções de vinagre, e sem máscaras de Froes, tenho passado incólume por turbas de ‘lagartos’, aos montes, de todas as idades e feitios, mais esguios e mais rechonchudos. Isto depois do sucedido na semana passada, onde, com intrépida valentia me arremessei pelo Estádio de Alvalade, invadindo um lugar da bancada central para retirar a alegria dos festejos de um sportinguista.

    Mantendo-me, garanto-vos, benfiquista saudável, de língua rosácea, narinas desentupidas, garganta suave, bons fígados, melhores rins e sem bílis negra. E bom palato. Tanto assim que posso também confirmar que, enfim, a qualidade dos farnéis fornecidos pelos organizadores de jogos da lusitana Ludopédia têm um nível de progressão tão elevado como a Turquia no mercado de trabalho… isto, claro, se consideramos que a Turquia, afinal, é o 49º país (ou território) na produtividade do trabalho, e não o CR7 do mercado de trabalho, como pensa a esquerda partidária cá do burgo.

    O sportinguista Carlos Enes, ao lado de Pedro Almeida Vieira, que perdeu o campeonato depois de andar a gastar o tempo a escrever 17 crónicas da Varanda da Luz. Por motivos de ‘indisposição’ momentânea, a sua crónica deste jogo será publicada apenas amanhã… se possível.

    Um destes dias ainda me meto a fazer uma crítica gastronómica sobre lanches futebolísticos por esse mundo fora. Mas, pela amostra – apenas dois locais, convenhamos –, deve ser tudo corrido a sandes, uma peça de fruta, um sumo ou água, e um ou outro acepipe. Desde já, a quantidade fornecida pela Federação Portuguesa de Futebol é mais folgada. Pau (pão duro) com chouriço, que parece ter sido insuflado, mais uma baguete de presunto com queijo, em aparente similar condição, uma banana, um pacotinho de batatas fritas, e ainda uma barra contendo 27% de chocolate de leite recheado de caramelo e 32% de leite maltado, ignorando, por não constar na ‘ficha técnica’, que mixórdias estão nos restantes 41% deste Mars.

    Avancemos, porque convém também assinalar que esta é a minha estreia absoluta em jogos no Jamor, também não há muitos – mas nunca antes me deu para vir, e desta deu-me, porque acedi ao desafio do Carlos Enes, e vai daí fiz-me de VIP, pedidos de acreditação, com direito a parque, e siga, que foi num pulinho que aqui chegámos, apesar de um acidente perto da saída – ou entrada – de Queijas.

    Entrámos pela ala norte, só se viam verdes: árvores e lagartos, sendo que estes últimos até um porco estavam a assar. A festa, presumo, terá começado cedo, com comes e muitos bebes, música pimba, ou parecida. Nem dragões nem tripeiros nas imediações. Presumi, para em seguida confirmar no estádio, que aqui não há lugar a misturas; os portistas ficaram todos no topo sul, em menor número com portas de acesso e diversões noutra ala.

    O estádio é catita – é mesmo catita, e agora percebo a razão de se mantê-lo, mais de 50 anos depois do fim do Estado Novo, como cenário da festa da Taça de Portugal. Rodeado de verde, encaixado numa encosta, somente com uma bancada central completa, num enquadramento paisagístico deslumbrante. Nem sequer compreendo assim a razão de se falar tanto no estádio do Braga concebido pelo Souto Moura.

    Este vetusto estádio, que no próximo mês perfaz 80 anos, teve dois ‘pais’ dos melhores: o arquitecto Jacobetty Rosa e o arquitecto paisagista Francisco Caldeira Cabral. As cerimónias ante-jogo também têm o seu-não-sei-quê de Estado Novo com muita juventude, muito bem organizada com uma encenação a raiar a Mocidade Portuguesa. Também se apela, nos altifalantes, a que toda a gente de levante enquanto se entoa A Portuguesa. Mantenho-me traiçoeiramente sentado, antevendo o que se segue depois deste acto de patriotismo bacoco: música saindo dos altifalantes em altos berros … em língua estrangeira.

    Confesso que aquilo que menos me interessa é o jogo. Não está cá o Benfica – nem o Leixões ou o Anadia, que são os meus clubes secundários, e portanto é-me indiferente o que saía daqui, embora sempre que o Porto perde, mesmo se a feijões, há sempre uma, pelo menos, alegria sádica só de imaginar a cabeça do Sérgio Conceição. Se não tivesse vindo cá, para uma inusitada crónica, ao lado do por certo descendente do cronista Gomes E(a)nes de Zurara, provavelmente nem sequer estaria a ver este jogo na televisão. Provavelmente, estaria a escrever uma investigação para publicar hoje no PÁGINA UM… e ver depois sair como manchete plagiada no Correio da Manhã daqui a 13 dias… Como sucedeu hoje

    Avancemos.

    Em todo o caso, não me arrependo desta demanda. O jogo saiu animado, logo aos primeiros minutos houve ocasiões de ambas as partes, o ritmo amainou um pouco, houve depois, um golo para cada lado, e a seguir o momento ‘Big Brother’ em que foi expulso um central holandês chamado Saint Juste, que, segundo me diz o Carlos Enes, não foi justa.

    A segunda parte foi praticamente de sentido único, com o Porto a atacar e o Sporting a fazer contas à vida, e a contar os minutos para aguentar a igualdade. Interiormente, já me queixo, porque o Carlos Enes está aqui ao meu lado de fraco ânimo, dizendo-se pouco inspirado. Pudera: já deve estar a sentir-se o Pep Guardiola que viu o seu City perder ontem por 2-1 com os toscos do United do ten Hag no duelo dos dois Manchester na Taça da Inglaterra.

    Terminaram os 90 minutos. Mais 30 minutos. O Carlos Enes queixa-se do frio – eu nem tanto, porque ele me emprestou uma camisola, por sinal, verde. Já me diz que, se calhar, acaba a crónica no quentinho da casa. A minha sai assim…

    (… e sai também um penalty para o Porto, uma saída em falso do miúdo Diogo Pinto, guarda-redes do Sporting, que estava a ser um ‘esteio’ na baliza, e acaba a dar um murro no Eavanilson; azares, o miúdo arriscava-se a ser o man of the match…)

    E marca o Porto, e o Sérgio Conceição, talvez para não festejar em campo o golo do Taremi, faz-se expulsar pelo árbitro. Certamente mais uma injustiça… Deve já estar próximo das 30 cartões vermelhos em toda a carreira de treinador – de jogador não deve ter ficado longe. Faço pesquisa rápida: o homem tem menos cinco anos do que eu, por certo vai suplantar o Miguel Herrera, um treinador mexicano de 56 anos que, ‘diz-me’ o ChatGPT, detém o recorde de treinador de futebol mais expulso do Mundo, com 46 cartões vermelhos. Não consegui confirmar em local idóneo, mas é garantido que o ‘nosso’ Sérgio Conceição, fique ou não no Porto, vai ultrapassar o mexicano.

    Caminha, entretanto, o prolongamento para o final. Canta-se “Campões! Campeões! Nós somos Campeões” na bancada do Sporting, como para suavizar esta derrota inglória. Os portistas devem estar nas suas sete quintas: afinal, sempre conseguem ganhar troféus sem o Pinto da Costa.

    E pronto, factum est! Termina o jogo, faz já um ventinho desagradável, o mau perder do Carlos Enes já exige uma saída rápida antes da entrega da taça, deduzo que já não vai haver comezaina do ‘Grupo da Garagem’, e assim sendo levo para casa as duas chouriças para assar que trouxe no carro.

    Em conclusão, ficamos assim como estávamos no que diz respeito a ‘dobradinhas’ de campeonato-taça: Benfica tem nove, o Sporting manteve as seis e o Porto anda com três.

    Publique-se, portanto.


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  • Crónica de um benfiquista que tirou uma alegria a um sportinguista

    Crónica de um benfiquista que tirou uma alegria a um sportinguista


    Tenho-me por pessoa empática – outros não o dirão – imbuído de cultura judaico-cristã, que nos incute (nem sei bem se para mal dos pecados nossos e demais pecadilhos) o conceito do bem e do mal (nem sempre fáceis de destrinçar). Mas não sou de ferro. Há momentos da vida em que temos, diria, a obrigação de cometer uma maldade – e certamente o Criador me perdoará no Juízo Final, sobretudo se for por consequência, ou necessidade, de justa retaliação sobre uma ‘tribo’ cujo representante pretendeu, enfim, oferecer-me convite envenenado para gozar com um benfiquista.

    Vinguei-me, portanto, num sportinguista. Lamentavelmente, não sei quem era. E nem o consigo sequer descrever, nem sequer indicar o género nem idade. Sei apenas que, por certo, vestia – ou vestiria – de verde, com cachecol a preceito, talvez indicando o estatuto de campeão 2023/2024. E deveria estar, mas não esteve, no lugar 23, da fila 23 do sector A5. Estive eu: um benfiquista. Na impossibilidade de conseguir que nenhum sportinguista comemorasse ontem o campeonato no minúsculo Estádio José Alvalade, em comparação ao do Glorioso, pelo menos evitei que um festejasse ali a ‘coisa’: ocupei-lhe o lugar!

    Quero, contudo, imaginar – se é para se ser mau, que se seja com intenção, na plenitude da racionalidade – que seria um miúdo que ficaria naquele lugar, se eu não o tivesse roubado. Um miúdo como um que, atrás de mim, entoou em pulmões escancarados o nome de cada jogador chamado pelo speaker. Compreendo esta irritante criança: deve ter uns oito anos; será o seu primeiro campeonato em idade de raciocínio.

    Com o passar dos anos há-de-se-lhe alargar a laringe sem apetite para gritar nomes de lagartos e crescer-lhe-á a mação-de-adão sem mais festejos – pelo menos deglutirá melhor os sapos, lamentando a inconsciência da infância, enquanto assiste, choroso, às gloriosas vitórias das águias nos tempos vindouros. Presumo ainda que a criança que me azucrinou os tímpanos venha, daqui a umas décadas, contar aos seus netos as ancestrais façanhas do Gyökeres, que parecerão a todos tão quiméricas quantas as do Peyroteo por estes dias.

    Em todo o caso, encarei a festa sportinguista com abnegado espírito científico. Sociologicamente falando, esta é uma tribo que nos merece respeito. Ou compaixão – confundo emoções. Estiveram ali, a gritar cantorias – e têm muitas – como se estivessem para o futebol como os turcos para o trabalho, que, como se sabe, são os melhores do Mundo … E dizer o contrário é ser-se racista, preconceituoso, desrespeitoso do Império Otomamo, mesmo que o ex-agente desportivo Aguiar Branco nos permitisse dizer que, enfim, os turcos se encontram na 49ª posição mundial (países e territórios) em termos de produtividade do trabalho em função da hora trabalhada e tendo em conta a paridade do poder de compra.

    Mas, enfim, eles pensam que são “a maior potência desportiva nacional desde 1906”, segundo uma tarja ainda não vistoriada pela decência e o Polígrafo. Serão tanto como a Turquia é uma potência no mundo do trabalho.

    Chiu!

    Bom, estou aqui a botar postas de pescada, mas ali estive calado que nem um fuso. Ou uma pedra. Não esperassem que eu, mesmo julgando-me corajoso, fosse ali gritar que se estava perante uma reles desinformação. Apesar do meu companheiro de lides profissionais tudo ter tentado para me denunciar naquela bancada como um intrépido benfiquista, eu mantive-me discreto e sereno, disfarçando com um inusitado interesse em tudo fotografar para não ser demasiado suspeitoso a minha falta de entusiamo, sem um bater palmas sem uns gritinhos a cada jogada de perigo, sem um orgasmo das vezes que se marcaram golos a uma equipa já condenada a descer de divisão, e que ainda teve de jogar com 1o por uma expulsão instigada por um sportinguista.

    Na verdade, durante o jogo, apenas acedi, ou cedi, a tirar umas fotos, que espero não serem demasiado comprometedoras, com um cartaz que serviu optimamente para limpar as solas das botas, e fazer outras poses sorridentes… Dizem que eles, por vezes, são perigosos, se não lhes fizermos as vontades…

    Estoicamente assim aguentei um belíssimo jogo de futebol, em final de época, com tudo decidido, que explica bem a razão pela qual os lagartos limparam o campeonato sem espinhas. Por uma vez para não se repetir, aviso já!

    A tarde, enfim, até estava a ser agradável para o meu desenvolvimento empírico – é sempre frutuoso observar sentidas e genuínas alegrias de gentes que tão poucas alegrias tiveram nas suas amarguradas e tristonhas vidas desportivas, mesmo os já septuagenários. Pensava eu que seriam apenas cerca de duas horas de sacrifício para recolher um punhado de fotos para guardar e mostrar daqui a 20 anos aos netos, para que eles vissem como fora o último jogo do último campeonato que teve o Sporting por campeão…

    Mas… o quê?

    Vão entregar ainda a taça?!

    Chiça penico!

    Por esta é que não esperava: ainda tive de aguentar os discursos de despedida do Antonio  Adán e do Luís Neto, mais o tempo de entrevistas para as televisões, mais a banhoca dos jogadores, até que entregaram o caneco aos jogadores, chamados um a um, até ao uruguaio Coates. Seguiu-se um pífio fogo de artifício que só me entusiasmou por uns lampejos de vermelho. A coisa demorou, sei lá, qualquer segundo pareceu a etenidade.

    E a seguir: liberdade! E fui para casa. Alívio…

    P.S. E durante o meu intranquilo sono desta noite tive um pavoroso pesadelo: estava num tétrico silo do Alvaláxia, no piso -1 do parque de estacionamento, onde avultava uma mão-cheia de Mercedes. Uns tempos depois, surgiu um grupo de sportinguistas, homens e mulheres, felizes da vida, a cantar e a dançar, e viram-me e me sequestraram. Diziam ser o famigerado ‘Núcleo da Garagem’. E abriram a bagageira de um Jaguar, e daí retiraram uma mesa, que abriram ali mesmo, e puxaram de pão, e de azeitonas, e de queijo de Nisa e outros fermentados, e de mais cacholeiras de Alpalhão, e de alheiras de Chaves, e de chouriços, que assaram ali em álcool, e de vinhos vários, e de omeletes, e de pastéis de bacalhau e de outros acepipes. E me obrigaram a com eles confraternizar. E a comer. E a beber. E a conversar, como se eu não fosse um glorioso benfiquista e eles uns lagartos da pior espécie. E tirámos fotografias juntos. E rimos. E nos despedimos com abraços. E… depois acordei. Foi apenas um pesadelo. Alívio…


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  • Arouca 5.0 (com um sportinguista ao lado)

    Arouca 5.0 (com um sportinguista ao lado)


    Vamos esquecer a história das vindimas que só terminam com o lavar dos cestos, mote da minha última estapafúrdia crónica – ou penúltima, se esta for considerada a derradeira (desta época, convém acrescer) – , que na semana passada em Famalicão o “perdigão perdeu a pena”, e vamos a factos: o Sporting foi um justo campeão, e isso já é passado, pelo que, em sinal de reconhecimento, ou mesmo de homenagem, trouxe hoje comigo um empedernido sportinguista, o jornalista Carlos Enes, para colaborar nesta crónica, não sabemos ainda bem como. Decidimos, agora, que será em crónica autónoma. Uma vez para nunca mais… esta época, claro.

    Está ele, confessou-me, feliz da vida, ainda mais porque o Sporting acaba de vencer esta tarde a Oliveirense na final da Liga dos Campeões de Hóquei em Patins – que tem tanto prestígio internacional como o Mundial do Berlinde –, mas, mesmo sendo um dos excelentes jornalistas de investigação cá do burgo, está convencido que a Estatística é uma ciência esotérica, pelo que não imagina sequer que, ao ganhar este ano o campeonato, o Sporting hipotecou a chance de ser campeão no próximo ano. Passo a explicar…

    (interrompo apenas para assinalar que o jogo começou; com meia casa; algum entusiasmo; sem ninguém brindar, ainda, o Schmidt com nefastos destinos; o João Maria em campo a garantir bolas passadas para trás em número suficiente para não ser possível uma goleada; e dois jogadores no banco que eu nem sabia que existiam: Gianluca Prestianni e Diogo Spencer)

    … portanto, ia dizer, se considerarmos a contemporaneidade – isto é, basicamente, aquilo que não é História para mim, ou seja, o Mundo a partir de Novembro de 1969, e até deveria ser Dezembro de 1969, porquanto deu-me em nascer antes do tempo –, a probabilidade de o Sporting ser campeão na época de 2024/2005, portanto, de ser de novo campeão é… ZERO. Um redondo zero por cento.

    Vejamos então. A última – e tenho a sensação que será mesmo a última até ao bíblico ‘fim dos tempos’…

    (interrupção, por mor de uma ‘interrupção’ à margem das regras de um cruzamento, que dá origem a penalty… Vá lá, Di Maria: não falhes mais um… Golooooooooo!!!! Sem espinhas)

    Continuemos… Como dizia…

    (bolas, assim não dá: estava a aqui a consultar o histórico dos campeonatos desde os tempos da Outra Senhora, passam uns minutos, entoam as bancadas ao minuto 27 um cântico em honra do Rafa, e mais um penalty… a favor do Benfica. Este vai para o turco Kökçü que… goloooooooo!!!! É hoje que vai ser o 15 a zero, para fechar)

    Vamos lá aproveitar alguns segundos – ou, vá lá, minutos – antes de o Benfica espetar o terceiro para continuar a narrativa sobre as chances nulas de o Sporting ser bicampeão, para concretizar a minha tese (de esperança para as águias na próxima época), sem antes notar que, aqui ao meu lado, o Carlos Enes disfarça o seu êxtase pela honra de estar aqui na Varanda da Luz… O deslumbre é tão grande que, olhando-o de soslaio, e para o seu computador, apenas ele me escrevinhou meia dúzia de linhas, e nem sei bem o que dali sairá.

    (e grande fuzil do Rafa a carimbar o terceiro… acho que se reservaram para o último jogo)

    Camandro!, assim não consigo avançar… Vamos lá. Reza a História da Ludopédio Lusitano que, em 90 campeonatos (vamos começar na época de 1934/1935), o Sporting foi tricampeão nas épocas de 1946/1947 a 1948/1949, foi tetra nas épocas de 1950/1951 a 1953 a 1954. Significa isto várias coisas, segundo diversas perspectivas. Do ponto de vista ideológico, o Sporting nunca foi bicampeão em tempos de democracia, porquanto nos pouquíssimos anos em que o campeonato que, vá lá saber-se como (e em dois casos com um treinador que ‘aprendeu’ na Luz), lhe saiu na rifa desde a Revolução dos Cravos – sete, para ser preciso –, depois do sol na eira, seguiu-se a chuva no nabal.

    Carlos Enes em momento de 0-0…

    Sigamos. Do ponto de vista ‘cronológico’, convenhamos que, valendo as estatísticas o que valem, ter de recuar ao tempo dos ‘Cinco Violinos’ para encontrar uma série de mais de uma vitória em dois anos é ‘coisa’ ainda mais longínqua do que a famigerada Maldição de Béla Guttnann, que como é sabido constitui a única e infelizmente inquebrantável razão pela qual o Benfica nunca mais se fez campeão europeu.

    Tenhamos, portanto, benfiquistas, um sinal de desportiva empatia com os sportinguistas, que agora festejam, embora, estatisticamente falando, devam estar desesperançados de se tornarem bicampeões na próxima época. Aqui ao meu lado, o Carlos Enes, nascido nos idos de 73, não apenas jamais viu o Sporting bicampeão como só festejou quatro campeonatos desde que é maior e vacinado, andando a pedinchar por um título entre 2003 e 2020. Já eu, benfiquista de gema, festejei 11 campeonatos desde que sou maior, e ‘colecciono’ um tetra. Isto sem falar nos 10 campeonatos que ganhei enquanto menor de idade, incluindo dois tricampeonatos.

    (intervalo, vamos descansar, que para a segunda parte cheira-me haver mais uns quantos golos, para alívio do Schmidt que devo querer passar o jogo sem ninguém se aperceber que está no banco…)

    Enfim, mas estando resolvida esta questão – o que permite quantificar a esfuziante alegria dos lagartos, pouco atreitos a campeonatos em tempos democráticos –, convenhamos que há mais diferenças entre benfiquistas e sportinguistas, personificados em mim e aqui no meu ‘camarada de carteira’.

    Assim, convidou-me ele – ou desafiou-me – para assistir ao jogo do Sporting de ontem, como contrapartida ao meu convite para vir comigo à Varanda da Luz. Mas em vez de ser num estádio, levou-me para a sua casa. Está bem que o ecrã da televisão dele não é mau de todo, mas, enfim, nisto que se vê porque há uns tipos são benfiquistas e outros que acabam sportinguistas…

    (goloooooooo…. mais um do Rafa… está a despedir-se em grande)

    Ainda por cima, vindo o Carlos Enes ao estádio do Glorioso, ainda recebeu, como eu, o extraordinário repasto constituído por uma baguete de queijo flamengo + carne fumada + espinafres, uma barrita de chocolate, uma maçã e uma garrafinha de água de PH básico. Tudo de borla! Já eu, enfim…

    (golooooooooo…. entrou o Tengstedt, de má memória dos sportinguistas, e marcou… já vamos em cinco, não é?)

    Dizia eu que, enfim, em troca de honrosa estada na Varanda da Luz a assistir a excelente espectáculo desportivo e degustando opíparo farnel, o Carlos Enes somente me disponibilizou ontem – e, confesso, novamente hoje, pelo almoço – um singelo leitão assado, uma despretensiosa cachupa, um primitivo frango de churrasco, umas banalíssimas gambas, tudo antecedido por coxinha de alheira, queijos diversos, batatas doces e normais e outros modestos acepipes, tudo regado por tinto do Alentejo, que houve quem viesse de propósito de Alpalhão para, em Lisboa, assistir ali para os lados da Graça, a um jogo na televisão transmitido a partir do Estoril. Enfim, também aqui se destaca a diferença entre o Benfica e o Sporting…

    (ali em baixo, o jogo caminha para o fim, nada muito relevante, excepto as substituições onde se incluíram as saídas de Di Maria e do Rafa para as palmas)

    Carlos Enes em momento de 5-0, claramente ‘rendido’.

    E, pronto, haveria ainda mais umas quantas coisas a dizer, e a contar, sobre o Benfica – e sobre o Sporting –, mas fica, certamente, para a crónica ‘subsidiária’ do Carlos Enes, que agora me parece estar afanosamente a escrevinhar. Por mim, encerro a época; talvez para o ano tenhamos mais uma edição do Varanda da Luz, neste ou noutros moldes, que parece que ainda não irritei demasiadas pessoas, que nunca conseguem convencer-se que um jogo de futebol é apenas isso: onze gajos (neste caso são gajos) as pontapés e cabeçadas na bola, e caneladas às vezes, com o fito de a meterem nas balizas adversárias, ao qual se seguem sempre momentos onde apenas apetece brincar um pouco com os derrotados. E depois segue-se para a vida a sério… Até para a próxima época!

    (e acaba o jogo e as crónicas desta primeira época Da Varanda da Luz)

    Ah, um post scriptum: reparem que na Varanda da Luz nunca se relatou uma derrota do Benfica, e somente dois empates… Que se registe e se venha a conceder, no futuro, mais do que uma baguete de queijo flamengo + carne fumada + espinafres, que hoje até se leva para casa, porque vim cheio do almoço em casa do Carlos Enes…


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  • Sporting de Braga 3.1

    Sporting de Braga 3.1


    Mesmo sabendo que as inflorescências da videira ocorrem, no Hemisfério Norte, em meados de Maio – e assim, estando nós ainda em Abril, nem se pode sequer prognosticar como será a próxima vindima, até porque o chão esverdeado, ali em baixo, não anda a dar o fermento de outras épocas –, vamos acreditar que ainda há-de haver cestos para lavar. E terra para lavrar. O campeonato – vamos lá sonhar, e o sonho comanda a vida, como dizia o poeta António Gedeão – não são favas (ainda) contadas para o Sporting. Os milagres acontecem; os pesadelos também.Estou a lembrar-me do José Peseiro e o ‘seu’ Sporting em 2005. OK, também tivemos o nosso momento-pesadelo, com Jesus, mas agora “isso não interessa nada…”.

    Portanto, com este Braga, ainda se pode somar 12 pontos, o Sporting vai com sete à frente, matematicamente ainda podemos ficar com cinco pontos de vantagem. Basta, coisa simples, o Sporting perder amanhã nas Antas (nunca por menos de 5-0, já agora), depois escorregar com o Portimonense, o Estoril e o Chaves. Sendo certo que estes três últimos estão a lutar para não descer de divisão, enfim, haja esperança, a probabilidade não é zero. Também na pandemia a probabilidade de adolescentes morrerem de covid-10 era quase zero, mas não era zero, mas mesmo assim quis-se vacinar tudo como se a probabilidade de fenecimento de jovens causado pelo SARS-CoV-2 fosse, afinal, próxima da certeza.

    (começa o jogo; o Schmidt não meteu o Tengstedt, preferindo o Arthur Cabral, mas em compensação escolheu o João Mário para o meio-campo, garantindo assim uma boa dose de atrasos… de vida)

    Por agora, o Benfica precisa de ‘despachar’ este Braga (que em vez de vestido à Arsenal, traz hoje um equipamento de azul cueca), que, apesar de ser sempre ‘chato’, tem anos que dá umas ‘alegrias à malta’. Numa consulta a sites especializados, a probabilidade de derrota anda nos 4% e o empate nos 18%. Mas neste ganhar ou perder, a mim só me fica o ganhar por muito. No futebol, o massacre é aceitável. Aliás, é o objectivo. De contrário, transformava-se num jogo de xadrez, onde só há vitória, derrota ou empate, sendo que até se antecipa a derrota quando se observa que essa é a certeza nas jogadas seguintes.

    (lá em baixo, jogo animado, mas a faltar eficácia; o Braga também não está na retranca, prevendo-se assim um jogo complicado… o habitual, nesta época)

    Ai memória! Que saudades daquela cabazada de 6-1 em Novembro de 2021, com o primeiro golo do novo campeão alemão, o Grimaldo, e quando o Rafa andava com as pilhas todas e tínhamos pontas-de-lança decentes (Darwin Núñez). Mesmo assim, melhor ainda, pelo espectáculo e por ter assistido ao vivo, foi o 6-2 em Dezembro de 2018. Até porque, nessa época ficámos em primeiro, e na de 2021-2022 quedámo-nos na terceira posição a 17 pontos do Porto.

    (e pronto, lá vamos nós ter uma tarde desgraçada: marca o Braga por Ricardo Horta, depois de una fífia da defesa benfiquista, que um cruzamento atrasado para o coração da área, onde o ‘arsenalista’ vestido de azul cueca tem sorte no remate a passar pela ‘rata’ do Trubin)

    E, portanto, cá estamos com meia hora de jogo, a fazer contas à vida, ou, melhor dizendo a fazer contas para a próxima época, onde, entre outras coisas, teremos de saber como formar uma equipa decente.

    Talvez a pensar nisso, mas com estúpidas acções, estará uma das claques benfiquistas, metidos atrás da baliza, lançam tochas para a área do Trubin, desdobram tarjas contra o Rui Costa, e fica o jogo interrompido por minutos. E a garantia de mais uma multa para os cofres da Liga.

    Pelo andar da carruagem, quais cestos, quais vinhas, quais carapuças: o Sporting vai sacar já o vinho este fim-de-semana…

    (como fiz gazeta durante uns minutos, o intervalo chega, para ambição de muitos, esperançosos de que um pequeno descanso traga outro alento)

    Aproveitando o ensejo de estar a combinar o regresso do podcast O Estrago da Nação, interrompido por razões as mais diversas nas últimas semanas, aproveito para pedir uma opinião ao Tiago Franco sobre as incidências desta lamentável primeira parte, O Tiago tem o especial condão de ser um óptimo cronista a desancar quando as coisas correm mal, algo que tem sido demasiado frequente esta época.

    Também ele, acidamente, está já a pensar na próxima época: “Mau ensaio neste segundo jogo de pré-época onde se nota a desmotivação de quem joga para nada. Se pudesse falar com Roger Schmidt perguntar-lhe-ia a razão de ter jogado com João Mário, Morato e Tengstedt quando disputava títulos e, no fim, perto de perder tudo (ou mesmo depois de perder), lá se virou para Florentino, Neres e Cabral”.

    (recomeça o jogo… vamos ver se isto inverte)

    Continua a análise do Tiago Franco: “Carreras depois de um bom jogo em Faro, volta para o banco; Aursnes demora a chegar ao meio-campo e continua a fazer de ‘tapa-buracos’; e João Mário, contra um combativo meio-campo bracarense, pautua todos os passos para o lado que o leitor possa imaginar”. E lá continua a língua viperina. “Pior do que Schmidt e a equipa, só aquele grupo de adeptos que travou qualquer hipótese de reacção ao golo do Braga com uma interrupção de jogo por lançamento de tochas. É bom saber que estamos todos no mesmo comprimento de onda: treinador, equipa e adeptos”, acrescenta o Tiago, para concluir: “Ninguém acerta uma”.

    (para já, o Schmidt parece que ficou com as orelhas quentes, e substituiu antes do minuto 70, metendo mesmo o Carreras por troca do Bah… Carrega Benfica)

    Eu acho, sinceramente, que o Tiago Franco deveria ser rapidamente contratado pelo Departamento de Psicologia do SLB: quando as coisas estivessem um desastre, seguia para o balneário e dava uma descasca monumental naquele pessoal para os espicaçar… Até eu sinto que vai haver uma mudança. Tem de haver uma mudança… Não venho aqui para a Varanda da Luz para ver uma derrota (em abono da verdade, ainda não a vi): já me chegará perder campeonato.

    (goloooooooooo… Marcos Leonardo, marca um minuto depois de substitui o apagado Rafa… isto ainda lá vai porque correram logo com a bola para o centro do terreno)

    De facto, uma das coisas que aprecio no futebol é exactamente podermos partir do desânimo à euforia, e vice-versa. Assisto, aliás, com alguma comiseração aos resumos de jogos que acabam, por exemplo, num humilhante 1-7, sendo que o derrotado marcou o primeiro golo entre festejos que jamais antecipam o desastre em hora e meia de peleja.

    Portanto, ainda faltam 20 minitos, isto com mais umas substituições ainda lá vamos… As inflorescências das videiras, mesmo com a alterações climáticas, sempre vingarão, e os cestos ainda são passíveis, e possíveis, de serem levados depois da vindima… Carrega lá, Benfica…

    (olha, e carregou mesmo: golooooooooooo. David Neres, nos seus gigantes 1,75 metros, a facturar de cabeça ao segundo poste na sequência de um daqueles cruzamentos teleguiados do Di Maria)

    Pronto, reviravolta. O nosso Schmidt, convenhamos, concede-nos sempre jogos animados, onde só há uma certeza: a incerteza de um final feliz. Por agora, quer queiram quer não, e tendo eu decidido que a Varanda da Luz somente se destina aos jogo da Luz, ainda não assisti a nenhum desaire completo, embora aqueles empates contra o Casa Pia e o Farense custaram-nos bem caro.

    (entretanto, a vitória está assegurada, com o ‘momento Big Brother’: uma sarrafada ao Di Maria dá direito a vermelho directo ao lateral direito do Braga, Victor Gómez)

    E cá estamos nos descontos, são sete os minutos, e assegurado está, parece-me, que ainda há uma probabilidade, remota que seja, de irmos lavar cestos…

    (e goloooooo… Marcos Leonardo: não há uma sem duas bolas lá dentro; aos cinco minutos da compensação)

    Pronto, de repente, uma vitória sem espinhas. Quem diria que, em 20 minutos, um potencial desastre se trnsformaria num resultado confortável. Só não percebo porque razão não se mete o gás todo nos primeiros 20 minutos e se fica depois a gerir a ‘coisa’ nos 70 minutos finais. Enfim, talvez seja o Schmidt a querer dar-nos emoção até ao fim. Só pode mesmo…

    P.S. Ah, já agora: só esta tarde reparei que as sandes de couratos, nas tasquinhas nas imediações do Estádio da Luz, estão a ser vendidas a 4,5o euros por unidade. Bolas, o índice de preços ao consumidor (IPC) de certeza absoluta que não considera a sandes de couratos no cabaz de compras. Uma sandes de couratos a 900 escudos na moeda antiga! Só se em vez de pão for em brioches. E mesmo assim! Está tudo doido?


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  • Moreirense 3.0

    Moreirense 3.0


    Após os funestos acontecimentos da passada semana, soubesse eu tocar mais do que campainhas de porta – e já pouco treinado ando, que quase nenhumas há agora –, e tivesse eu guitarra, já a teria metido esta época no saco, e andava agora a banhos que agora está bom tempo para isso. Mas compromissos são compromissos, já nem sequer estou aqui como cronista comprometido (de águia ao peito desde que se conhece) e compenetrado (em ser de novo campeão, que uma vez mais nunca é demais), mas sim como ‘escravo’ de uma promessa. Assim não chego a político.

    Estou assim, confesso-vos, tão entusiasmado esta noite quantos as dezenas de milhares de adeptos benfiquistas que deixaram, ali em baixo, excelentes cadeiras vazias em plena bancada central mesmo no enfiamento da linha do meio-campo.

    (cheguei ligeiramente atrasado, já nem vi a águia Vitória, que deveria fazer gazeta sob protesto)

    Em todo o caso, mantenho-me empedernidamente profissional, e mesmo se seduzido por amiga para assistir a estre jogo em camarote com pitéus suculentos e fartas viandas, mas acho que já estou viciado na baguete – hoje acompanhada por snacks de milho frito com sabor a queijo, uma maçã e a habitua água pH 9,5 – com que me banqueteio – estou a exagerar, embora ainda fosse pior se escrevesse “com que me lambuzo” – desde Agosto. Em todo o caso, envia-me ela uma fotografia de uma panacota de manga que me faz o gosto. Também havia pipis… e filetes de tilápia com molho de citrinos e cama de legumes e batata. Mais um peixe do qual nunca tinha ouvido sequer falar quanto mais provar.

    (golooooooo… Kökçü numa boa jogada de contra-ataque em triangulação)

    Reparo agora melhor na equipa do Benfica – grande cronista que saio, que venho ver um jogo de bola completamente impreparado (sem falar que estou para mudar de graduação há dois meses) – e noto que está mais de meia equipa não habitualmente titular, incluindo o guarda-redes Samuel Soares. Até o Morato e o João Mário estão a jogo, o que garantidamente dará uma crise de nervos ao nosso colunista (recém-regressado de férias) Tiago Franco.

    Na verdade, e isso não é propriamente uma boa notícia, a equipa ali em baixo do Benfica – que não tem Otamendi nem Aursnes (que nem no banco estão; o segundo a cumprir castigo) nem Rafa nem Di Maria nem Florentino nem Tengstedt (e ainda bem) – nem se está a portar mal, apesar de um ou outro calafrio na defesa. Até mais solta, remata mais (bela ‘bomba’ de Arthur Cabral à barra, e um remate bem intencional em arco do lateral esquerdo Carreras). Claro, está o João Neves a jogar, o que vale meia equipa.

    Entretanto, o intervalo aproxima-se e…

    (goloooo… Tomás Araújo em insistência depois de mais um canto… esta quase não queria entrar)

    E pronto, intervalo, vai tudo descansar. E eu também; aliás, deveria era estar a dormir, que hoje descansei pouco. Ando em processo de ‘trasladação’ da minha biblioteca pessoal para a nova redacção do PÁGINA UM, e entre escrita de artigos e outras burocracias, tem-me tomado tempo de sono.

    Entretanto – e este ‘entretanto’ não vai ter golo –, começa a segunda parte, com três substituições de uma assentada, nem parece ‘coisa’ do alemão, incluindo Neres e João Neves, o que não me parece boa ideia. sobretudo por ser manter João Mário. Assegura-se assim uma segunda parte de contenção. Sonolenta, portanto. Barbitúrica, mesmo.

    Acho que vou começar a paginar a crónica, fazer o upload das fotografias… Hoje, terei de me despachar que seguirei depois para a Worten, ali no Colombo, para reclamar de uma máquina de lavar loiça Indesit que, pela segunda vez no prazo de um ano, me dá um erro F1 e nicles… Nem água mete. Volto aqui se, com um entretanto, o Benfica por um milagre marcar um golo, havendo lugar a canonização se for da autoria do João Mário.

    (olha… houve mesmo golo; marca um tipo que eu tenho de ir ver como se escreve para não me enganar: Rollheiser; isso)

    E nisto vamos no minuto 80, e eu aqui em troca de mensagem com um lagarto que anda de peito feito por mor do iminente título sem qualquer eminência. Como já devem ter desconfiado, esta crónica hoje está em serviços mínimos. Mesmo assim deverá merecer as habituais críticas sobre a independência do PÁGINA UM por se meter na bola. Amanhã é outro dia, e o PÁGINA UM UM meter-se-á com a Santa Casa da Misericórdia de XXXXXX, e depois na terça-feira com a Câmara Municipal de YYYYYYY e seguir na quarta-feira com a ZZZZZZ ZZZZZ, e por fim… assim se mostra a nossa ‘dependência’…

    Falta quatro minutos para terminar uma noite descansada. Jogo morninho. Insosso. Ou insonso, como queiram.

    E terminou. E assim cessa esta crónica. Há dias melhores; e outros bem piores, como o do dia 6. Pelo menos que em Marselha o Schmidt, sempre à rasquinha, nos conceda alegrias semelhantes às da mão do Vata em 1990, sob batuta do grande Sven-Göran Eriksson.


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  • Chaves 1.0

    Chaves 1.0


    Depois de uma crónica em dia de eleições, outra em ‘dia da crucificação’ de Jesus, não o JJ. O futebol, sabido está, é quando os homens (e mulheres) querem, e portanto o que vale um sufrágio democrático ou a quadra pascal quando há tantos golos a marcar e frustrações a terminar. Ou a falhar e a criar.

    Hoje, declaro já, só um 15 a zero me deixará satisfeito. Ou menos irritado. Quer dizer, menos abespinhado, porque agastadiço já estou. Neste momento, preciso, para ser exacto. Então não é que chega este vosso escriba às imediações da Varanda da Luz, e uma sádica amiga lhe envia um magote de fotografias de rangos sem fins na bancada VIP do estádio, a saber: sandes de leitão, caril de galinha e legumes, arroz de cardamomo (que, confesso, fui ver o que era), bacalhau à lagareiro, massas, pães, bolos, mais bebidas à discrição – e eu, enfim, levo com o farnel costumeiro, mudando-se apenas a baguete para o recheio de atum, se calhar por causa da quadra pascal.

    (o jogo entrentanto começou, já vai em cinco minutos, uma oportunidade de golo, mas nada…)

    Em todo o caso, sabem já bem os meus (poucos) leitores que, em questões essenciais, como sejam jogos de bola, tento sempre encontrar, para prever resultados, sinais racionais, onde as leis da probabilidade funcionam, e também outros sinais mais esotéricos, como sejam fezadas. Por vezes, misturam-se.

    Do ponto de vista objectivo, o 15 a zero é possível, atendendo que o Desportivo das Chaves é o último, com a pior defesa, tendo já empratado 56 golos. Bem, isto dá ‘só’ uma média de 2,15 golos sofridos por jogo, longe dos 15 que merece hoje levar terras transmontanas, mas convenhamos que se o Farense e o Arouca já lhe meteram cinco cada, e o Boavista e o Estoril quatro cada, então não é impossível para o Glorioso. Basta jogar um bocadinho melhor do que o Porto… que só lhes ganhou 1-0 nas Antas, no final de Dezembro.

    Talvez a contribuir para aumentar as chances do 15-0 estará o João Mário, porque hoje, pelo menos até aos 65 minutos – altura em que o Roger Schmidt costuma fazer as substituições – em grande parte do tempo de jogo ocupará a posição de extremo quieto… no banco. Acho que o nosso colunista Tiago Franco, que o ‘adora’, estará, por estas alturas, particularmente feliz.

    (penalty… é mesmo penalty! caramba, estava difícil o árbitro descortinar uma cotovelada de um defesa do Chaves na cara do Bah, nem com o VAR o homem se decidia… Anda lá, Angelito, o 15 a zero já é mais uma miragem, que quimera se mostra, pois já vamos no minuto 25, mas pelo menos faz o gosto ao pé e descansa a malta… mas que merda foi esta? Porra: até eu não faria pior; um chutezo para o lado direito do guarda-redes que nem sequer teve de se esforçar muito)

    Como isto vai, temos então em perspectiva mais um jogo de caca, passe a expressão – que passará, que eu não censuro palavras –, pelo que nem sei bem se vale já a pena elencar os supostos alegados eventuais esotéricos sinais que me esperançaram, antes do apito inicial, a ver um 15 a zero. Bem, não perco nada, até porque são coisas parvas referem-se ao número da minha acreditação de hoje ser o 55 e o número da senha do ‘farnel do Benfica’ ser o 10…

    Bem, nem eu sei bem que lógica (ou ilógico raciocinio) me poderia servir para fazer que um 55 e um 10 fosse dar, por artes de haríolo, num 15 a zero. Podia juntar um dos 5 ao 1 e ficava com o 0 do outro lado, mas o que faria com o outro 5? Escafedia-se.

    (e nestas andanças se fez uma miserável primeira parte, condizente com um tempo de porcaria, para não dizer de merda, ao qual responde, ou corresponde, bancadas a meio gás)

    Com o intervalo morno, se calhar caía-me bem agora era uma sandocha de leitão, mas tinha de ser da minha Bairrada… Enfim, mas também não me posso vender. Ou assim por tão pouco…

    Bem, como isto se escrevinha em tempo real, sempre terei agora um tempinho, que esta crónica – a última em que falarei do meu desejo de ver um 15 a zero – está uma bosta e já nem sei bem que dizer, para divulgar nas redes sociais a ‘nossa’ (do PÁGINA UM) análise sobre as duas dezenas de Resolução de Conselho de Ministros de António Costa que condicionam o Governo de Luís Montenegro. Escrito esta tarde, antes de vir para esta malfadada Varanda.

    (a segunda parte recomeçou… tudo como dantes no Quartel de Abrantes, ou seja, segue parca ou porcamente mal)

    Isto está tão fraco que, na verdade, acho que houve um sinal, sim, mas aziago, que é a poça de água ao fim das escadas de acesso aos elevadores da comunicação social aqui do estádio. E eu até fotografei o aviso de piso escorregadio…

    Passa o tempo e vem a desesperança. Eu sei que não deveria dizer isto numa crónica ‘comprometida’, que não é jornalística: o Benfica este ano só ganha o campeonato por milagre! E isto aplica-se também a este jogo, parece-me.

    (olha, outro penalty, e indicado pelo VAR, que ainda por cima agora anuncia a ‘coisa’ pelos altifalantes… vamos lá, Arthur Cabral, não faças o mesmo que o Di Maria, chuta mellhor… mas que merda é esta?… falhou; está tudo doido)

    Ainda por cima, envergonho-me perante o sportinguista Bruno Cecílio – com quem estava ao telefone, quando o Arthur Cabral se preparava para rematar, de sorte a combinarmos a hora para amanhã continuarmos a montagem de estantes na nova redacção do PÁGINA UM na rua… –, que ainda por cima teve o desplante de dizer que, e cito, “isso deve ser tudo uma roubalheira”.

    (bom, não sei é ou não, houve, é certo, um jogador do Chaves a invadir ligeiramente a área entes de o Arthur Cabral ter rematado, e, enfim, o VAR assinala repetição da grande penalidade… vá, segunda chance, Arthur Cabral: não nos lixes! Fornicou-nos! Falhou outra vez! Inacreditável. Cepos!)

    Vou desistir da crónica. Há dias da manhã que um cronista à tarde não pode pensar escrever à noite.

    E, sendo eu cada vez menos crente, apesar de baptizado e com comunhão, vou dedicar estes últimos 25 minutos a rezar, não pelo Benfica, que assim não tem remissão possível, mas por mim, para que venha um qualquer golito, um à Vata contra o Marselha há mais de três décadas, e dessa sorte não ser, como benfiquista, gozado por lagartos e tripeiros…

    (olha, golooooooooo…. do baixote João Neves [quer dizer, é mais alto uns seis centímetros do que eu], que ‘penteia’ ligeiramente um centro do Di Maria, e enfia a bola mesmo no cantinho da baliza)

    Pronto, se não houver mais nenhuma surpresa, fico-me por aqui. Daqui a nada de certeza que entra o João Mário e, assim, com probabilidade elevadíssima, manteremos a vitória… por 1 a zero… Foi você que pediu mesmo um 15 a zero?

    (dito e feito, entrou o João Mário ao minuto 82, e tudo ficou como estava, com ele a fazer cerimónia e a falhar novo golo)

    Temo, ou lamento, ter sido uma fortuna a minha decisão de somente escrever as crónicas da Varanda da Luz em dias de jogo da Liga. Terça-feira, a jogar assim na segunda-mão das meias-finais, contra o Sporting, não me parece que fosse ver milagres como o sucedido aqui em Novembro passado.


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