Etiqueta: Da Varanda da Luz

  • Rio Ave 4.1

    Rio Ave 4.1


    Devia começar por falar numa tarde invernal, embora somente com uns pingos, onde somente os mais corajosos vão à Catedral, em vez de ficarem no quentinho das suas casas – se tiverem dinheiro para a conta da electricidade. Mas não: vou contar uma ‘história’ da minha infância em redor do futebol que ia para além de ouvir os relatos na Rádio Ranscença do Artur Agostinho e Ribeiro Cristóvão.

    Na minha infância, à conta da inexistência de PlayStation e do FIFA– não só por ainda não estar inventada, mas também, se estivesse, estaria eu na ala contrária à da família do Pedro Nuno Santos, apesar de essa “desigualdade” lhe ir fazer grande “confusão” depois de nascer –, eu entretinha-me a inventar campeonatos de futebol, com jogos entre todas as equipas, a duas voltas, claro, e os golos eram determinados pelos números inseridos em pedacinhos de papel com números de 1 a 10, que eu desenrolava para definir o resultado final.

    Nessa altura, pouco entendido em probabilidades – ignorando que deveria meter mais números pequenos do que grandes na bolsa do ‘sorteio’–, os resultados acabavam por se pareceram mais a um campeonato de hóquei em patins do que ao de um de futebol, tantos eram os 5-3, os 6-9 e os 4-4, e até as chances de um 9-9 eram, na verdade, sem eu o saber, similares à de um monótono 0-0.

    Para a coisa ser ainda mais inverosímil, criava nomes, os mais estapafúrdios (a ponto de, me recordar de alguns, quatro décadas mais tarde), para não se dar o caso de, escolhendo clubes conhecidos, o meu preferido (o Benfica, claro) não ser surpreendido com um 0-9 do Penafiel ou do Tirsense… ou do Rio Ave.

    (e estando a escrever isto, e já lá vamos ao motivo, e vamos ver se isto não me vai correr mal, o Rio Ave marcou ao minuto 9; e, além disto, já não será desta que assistirei ao desejado 15-0)

    Isto para dizer que cresci sempre com o desejo de vencer. Adoro ganhar. Mas o “adoro ganhar” não significa que não tenha a noção de que, de quando em vez, se pode perder. Mas, escolhendo-se o Benfica, pelo menos tem-se maior probabilidade de se vencer muitíssimo mais. Pelo menos, na primeira metade da minha vida – ou, vá lá, até aos meus 20 anos em 1990, quando perdemos a última final da Liga dos Campeões contra o Milão.

    Ora, mas no futebol de verdade, o prazer de ganhar não advém só da vitória nem tão-pouco de confraternizar com os nossos correligionários. Saborear uma vitória sozinho é uma chatice, e com os nossos adeptos é satisfatório. Na verdade, uma vitória somente se torna sublime, atinge outro patamar de prazer, se se tivermos alguém para ‘brincar’ da situação, ou seja, com um antagonista.

    Por isso, se uma vitória contra o Porto se mostra mais satisfatória do que contra o Portimonense, mesmo valendo ambos três pontos, ainda é melhor se tivermos um amigo portista para gozar. Por isso, este campeonato, sobretudo por se andar a jogar mal em demasiadas ocasiões, vai saber melhor porque tenho um amigo sportinguista que anda a enviar-me fotos do cão com um cachecol verde e branco, pensando ilusoriamente que o benfiquista Rubem Amorim lhe vai dar uma segunda alegria.

    (para me aliviar, o Di Maria, a passe de Rafa, faz um golo de belo efeito; reposta a igualdade; vamos lá à imprescindível vitória, por numerosos expressivos, para esta crónica ao vivo não redundar numa vergonha para mim, ao estilo ‘vais tosquiar e sais tosquiado’)

    Digo isto para poder acrescentar que, por norma e princípio, não aprecio ‘brincar’ ou gozar com pessoas de quem não sou amigo pelos desaires dos adversários do Benfica, mas hoje, neste jogo em particular, contra o Rio Ave, abri uma excepção. E até antecipei o gozo, trazendo ‘acompanhamento’ condigno: um alvarinho Palácio da Brejoeira. Quero dar uns bons goles, pelo menos três por cada golo, em honra ao ‘Senhor Alvarinho’.

    O Senhor Alvarinho, assim se apresenta, nem deu boa avaliação ao Palácio da Brejoeira (6/10), mas também o senhor tem bico que não se satisfaz com pouco: para se ter direito a um 9/10, como na última ‘recensão’ do Alvorone, da Quinta de Soalheira, tem de se despachar 45 euros por garrafa, se não se receber, claro, uma descomprometida oferta do produtor.

    (depois do intervalo, recomeça o jogo, e o sofrimento do Benfica; por duas vezes, bola ao poste, uma das quais após fífia de Trubin; deixa-me é beber alvarinho para ver se acalmo os nervos)

    Ora, mas se eu trouxe alvarinho – não na garrafa, por ser proibido vidro, mas sim num ‘bidon’ verde, para disfarçar com o famoso e imperdível farnel do Benfica, mesmo não sendo suposto um jornalista, ainda mais ‘bem comportadinho’ como eu, arremessar objectos da Varanda da Luz –; dizia eu, trouxe para aqui um alvarinho por maldade: o Senhor Alvarinho é, na verdade, nas horas vagas sem névoa etílica de alvarinhos, um denodado Provedor do Adepto do Rio Ave, cargo curioso, que pode mesmo causar espanto, porque existindo a função se assume a existência de adeptos do Rio Ave… Bom, na verdade, não é pela existência de padres que se comprova a existência de Deus… Enfim, acreditando ou crendo que o Provedor do Adepto do Rio Ave aqui está, gostaria então de o brindar com um alvarinho mesmo se um de quinta categoria para o seu gosto.

    (expulsão do defesa Aderllan Santos, do Rio Ave, por acumulação de amarelos… Já estou a ver os meus amigos portistas e benfiquistas a dizerem que o Benfica só ganha contra 10… e olha, três minutos depois e… goloooooooooo… António Silva, à ponta de lança, depois de uma grande confusão na grande área)

    Bom, já se está a coisa a compor, entretanto o Schmidt decide por umas substituições para animar, fazendo entrar o reforço Marcos Leonardo, o Florentino Luís e o Tiago Gouveia, e parece-me que isto está garantido. E, portanto, posso finalmente desvendar a inspiração desta crónica e quem é o Senhor Alvarinho, que é também o Senhor Provedor do Adepto do Rio Ave, a quem desejo – porque isto, no futebol, é permitido algum sadismo – que venha a ser, na próxima época, o Provedor dos Adeptos dos Clubes da Segunda Liga. Portanto, o Senhor Alvarinho, simultaneamente Senhor Provedor do Adepto do Rio Ave e eventual futuro Provedor dos Adeptos dos Clubes da Segunda Liga é…

    (golooooooooooooooo…. 3-1… Marcos Leonardo, estreia a marcar na estreia com um belo cabeceamento)

    Chupa, João Paulo Meneses… é isso mesmo: o actual presidente do meu ‘mui querido’ Conselho Deontológico do Sindicato dos Jornalistas, um tal de João Paulo Meneses, que no último ano andou a fazer um frete à doutora Licínia Girão e ao Hospital de Braga contra o PÁGINA UM, em vez de andar preocupado em criticar as promiscuidades de jornalistas e directores editoriais que tanto mal têm causado ao jornalismo. Toma lá, provedor. Já jorro alvarinho como champanhe!

    E agora, se me dão licença, vou ver um bocadinho com mais atenção o final do jogo.

    (golooooooooo… 4-1… marca João Mário)

    Chupa, João Paulo Meneses!

    E dedica-te aos alvarinhos, que acho que tens muito mais jeito para isso: na verdade, o Palácio da Brejoeira não é lá grande ‘espingarda’. Prometo, se o Rio Ave descer de divisão no final desta época, perder o amor a 45 euros (pois não tenho um produtor amigo) e bebo um Alvorone, da Quinta de Soalheira em honra da tua desdita. E acompanhado com salmão fumado, como bem aconselhas no teu Senhor Alvarinho. Vai saber-me que nem ginjas…


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  • Famalicão 3.0

    Famalicão 3.0


    Tenho um carinho especial pelo Famalicão, benfiquista me confesso. E já agora também confesso ser um adepto (secundário) do Leixões – não me perguntem a razão, não tenho dali quaisquer raízes, mas vem de infância, talvez porque a equipa de futebol tinha um tipo que dava cambalhotas quando marcava golos (o Folha), além de um guarda-redes chamado Tibi, e ainda um médio habilidoso chamado Frasco. Talvez também por os chamarem de ‘bebés de Matosinhos’, se bem que os fervorosos adeptos no Estádio do Mar fossem mais conhecidos por cascar até em árbitros. Além disso, o emblema é estranho, por meter uma raquete de ténis, um pau de críquete e uma bola que mais parece de basquetebol, embora o clube seja mais famoso no voleibol, com vários títulos de campeão.

    Enfim, mas se o carinho pelo Leixões e por Matosinhos vem da infância e não é explicável, já o do Famalicão vem também da infância e é explicável, embora nada tenha a ver com futebol e com Vila Nova de Famalicão, de onde vêm os jogadores que agora mesmo começaram a pelejar com o Benfica, esperando eu que levem o mesmo número de golos que o número do ticket do meu farnel: 14.

    (por agora, 11 minutos, duas ameaças para marcar, mas ainda faltam 14 golos… o melhor é dar uma trinca na baguete de panado de aves com alface)

    Portanto, vamos à explicação sobre a minha infância e Famalicão. Como não há apenas uma Maria na Terra, também não há somente um Famalicão (ou uma…. ou será ‘ume’?) em Portugal, e dessa sorte a ‘minha’ Famalicão, ali no concelho de Anadia, é terra que viu os meus pais conhecerem-se nos idos de 50 (século passado, claro) – e tenho a impressão de que isso me foi favorável – e também onde se localiza(va) a escola primária onde estive três anos, não sendo preciso o quarto (‘gaba-te cesto’ por teres feito a primeira e segunda classe em apenas um ano).

    Assim sendo, aqui fica a minha homenagem a Famalicão (de Anadia), e à sua escola que me viu começar a contar e a escrever (não foi bem assim, porque, ‘gaba-te cesto’ outra vez, já lia legendas da TV e contava pelos dedos antes da ida para a primária).

    (goloooooooooo… Arthur Cabral, já com veia goleadora… o que faz um dedo do meio)

    Continuemos depois deste introito do primeiro do Benfica contra este Famalicão que não me interessa nada, excepto quando joga contra o Sporting, o Porto e o Braga. Aí sou adepto ‘deste’ Famalicão desde pequenino.

    Escola primária de Famalicão, no concelho de Anadia.

    Já que estamos aqui numa de recordar a infância, e para isto ter a ver com bola, e sobretudo, com o Benfica, informo também que ‘este’ (ou ‘esta’ ou… espera… como uso, neste caso pronome demonstrativo inclusivo?) Famalicão ficava paredes-meias com a Malaposta, aldeia atravessada pela famosa Estrada Nacional, então percorrida (antes da auto-estrada) por todos aqueles que queriam ir para o Norte (e para o Sul, claro), entre os quais os jogadores do Benfica, que, nos tempos da minha infância, tinham como habitual poiso para almoço (os jogos eram quase sempre ao domingo à tarde, todos à mesma hora) o restaurante Pompeu do Frangos, famoso pelos churrascos em terras de leitão à Bairrada. Acredito que por recomendação de um senhor de seu nome António José Conceição Oliveira, Toni para os amigos (e todos os demais, onde me incluo), nado e criado em Mogofores, a menos de 500 metros onde morei até aos 10 anos.

    (entretanto, sem glória, e desesperançado dos 14 a zero, e vejam como já nem almejo o mítico 15 a zero, acaba a primeira parte; menos mal, estamos a ganhar)

    Adiantada que vai a crónica, fui gastar os 15 minutos de intervalo a contornar as filas para a casa de banho e para os comes-e-bebes, até dar um abraço ao nosso colunista Tiago Franco, que das terras suecas (e de Santa Maria, de quando em vez), aqui está pela Grande Lisboa, e não perde oportunidade para se exasperar ao vivo e in loco com as opções do Robert Schmidt, enquanto zurze na ‘tosquicidade’ do João Mário e de mais uns quantos…

    Aspecto de um bom arroz de molho pardo.

    (e a segunda parte avança enquanto escrevo, e tirando um ‘tiro ao boneco’, leia-se ao guarda-redes, do Arthur Cabral, que devia ter feito melhor, o melhor que se viram foram as defesa do Trubin, por sinal guarda-redes benfiquista, que contribui para que do 14 a zero desejado, pelo menos que no zero à direita se acerte)

    Como bons benfiquistas, este um a zero não nos satisfaz nada. ‘Parece que estão todos de férias como o Di Maria na Argentina’, digo-lhe, enquanto lhe peço dois ‘linguados’ (gíria jornalística) para compor esta crónica para ficar com maior sapiência na arte do bitate futebolês.

    Escreve-me ele, na bancada Emirates, de esguelha, por ser o sector 4, que “durante toda a semana a discussão centrou-se no casamento da irmã de Di Maria”, que eu ignorava, avisando que “se déssemos tamanha atenção ao nosso próprio matrimónio, a taxa de divórcios no país cairia a pique”. E remata dizendo que agora percebe afinal, “aqui no estádio, qual era o real problema da ausência do astro argentino” nesse do jogo contra o Famalicão.

    Tiago Franco, comigo numa selfie, em pleno intervalo, sempre pouco satisfeito com as exibições do Benfica.

    E concretiza: “A julgar pela amostra dos primeiros 45 minutos”, opina ainda o Tiago, “o Di Maria seria provavelmente o único com disponibilidade para jogar”, pois “em campo estão nove rapazes a passar um serão entre amigos, Trubin a defender os poucos ataques do Famalicão, e anda ali o João Neves a jogar sozinho outra partida, a uma velocidade totalmente diferente”.

    Como a escrever sobre Famalicão, Malaposta, Mogofores e o Pompeu dos Frangos (onde há uns anos lá comi um arroz de molho pardo, que é como se chama ao arroz de cabidela, de se chorar por mais…), quase não vi a primeira parte, vou aproveitar todos os comentários do Tiago. Ainda me diz que o seu homónimo, o jovem Tiago Gouveia, “está a desperdiçar esta oportunidade, enquanto o Rafa, para lá dos arranques, falha em tudo o resto”.

    Quanto ao Arthur Cabral, afiança-me o Tiago que ele “consegue tropeçar mais na bola do que correr com ela”, e sobre o João Mário, ó surpresa?, digo eu, não é mais meigo: “continua a passar para trás com uma elegância sublime”. Na defensiva, diz ainda que o “Morato, a quem ninguém passa a bola, não tem culpa porque, como diz o meu colega de bancada, ‘ele não sabe mais’”.

    Deu para o farnel, mas não deu para o desejado 14 a zero.

    (eu confesso que, enquanto escrevo as crónicas não tenho muito tempo para perceber estes detalhes, além de que não detenho o sarcasmo futebolístico do Tiago em falar mal de quem se ama)

    Enfim, bela análise, Tiago. Depois disto, vou mesmo tentar ver como consigo que venhas para a bancada de imprensa, para esta Varanda da Luz, fazer análises futebolísticas com direito ao competente farnel (a maçã hoje está um pouco ‘farinácea’ ao contrário do habitual). Talvez envie um e-mail à Presidência da República, e, se não der a cunha, vou então falar directamente com o Lacerda Sales, ou com outro qualquer que prove que Marcelo Rebelo de Sousa é imune a cunhas, venham elas do Doutor Nuno ou de outro qualquer mafarrico.

    (goloooooooo! Rafa com um remate de belíssimo efeito… Vá, Tiago, diz mal agora do nosso Rafinha, que conta, segundo o speaker, 300 jogos de encarnado vestido, made in Luz, porque ainda teve uns quantos pelo Braga)

    Finalmente, estou mais aliviado. Já não aguentava mais nenhum empate com este tipo de equipas, como sucedeu com o Casa Pia e o Farense. Esta época, o Benfica consegue fazer jogos num ritmo sonambúlico, mas que permite, paradoxalmente, pelos sucessivos calafrios causados pelos ataques adversários (de qualquer um), manter-nos sempre activos, na expectativa… de um desastre… ou de uma alegria. Rafa lá consegue garantir-nos descanso ao minuto 85… espero…

    (goloooooo. Musa!, aos 89 minutos…ai agora, quando isto está a acabar?!)

    Enfim, ufa! Não está nada mal, afinal: 3-0 parece-me bem.

    (e só não foi o quarto antes do apito final porque não calhou… ou, melhor dizendo, o Musa falhou escandalosamente na cara do guarda-redes)

    E tu, que me dizes agora, Tiago? Valeu a pena?

    Ai agora já não me dizes nada?

    (…)

    Tarde, mas ainda a tempo, porque ainda demora alinhavar o texto, escolher fotos, e editar tudo, e enquanto os suplentes não utilizados andam ali a correr no relvado, com as bancadas vazias e o Paulo Gonzo aos berros nos altifalantes, responde-me o Tiago:

    “Nunca fico satisfeito com serviços mínimos, mas agrada-me ver o Rafa no papel de herói. Há cinco anos que o ataque depende das arrancadas dele e, enfim, se precisa de 10 oportunidades para concretizar uma… paciência. Se a eficácia fosse outra, nunca teria cumprido 300 jogos (hoje) de águia ao peito [porque seria contratado por um ‘tubarão europeu’, digo eu] . Agora satisfeito, mesmo satisfeito, era se hoje tivesse sido a despedida do João Mário e do Jurasek”.

    És terrível, Tiago, és terrível. Se estivesses aqui no meu lugar, já te tinham posto estricnina na baguete…


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  • Farense 1.1

    Farense 1.1


    Isto de ser um jornal independente, logo de parca capacidade de endividamento – o que, por norma, significa depois ter de se pagar em juros ou em ‘serviços’ –, traz como consequência problemas de agenda quando a Liga, o Glorioso e o… deixa-me ver com está ali no relvado… Farense, decidem marcar um jogo para as 18 horas, mesmo se num feriado, mesmo se santo, mesmo se em honra de Nossa Senhora de Fátima (também conhecida por Imaculada Conceição). Não dá para tudo, mesmo se o percurso entre o PÁGINA UM se faz célere em modo ‘sardinha em lata’ nas carruagens do metropolitano.

    Entre análises, leituras, edições de artigos de opinião, e um prazenteiro almoço com um dos mais consagrados ‘jornalistas de guerra’ (e outras coisas mais) da nossa praça – e sobre o qual teremos novidades em breve aqui no PÁGINA UM –, não consegui acabar o artigo sobre a Global Media, as rescisões e a desastrosa evolução das vendas dos ‘seus’ Diário de Notícias e Jornal de Notícias. Esteve quase pronto, mas ainda sem edição. Teve de ficar para este sábado.

    Lamento-me à Elisabete que não aprecio manter uma manchete no PÁGINA UM por mais de um dia. “Metes a tua crónica do Benfica”, sugere-me. “Não me parece”, respondo: “Só se suceder algo anormal, um 15 a zero; isso sim”. E aqui estou agora, portanto, esperançoso em assistir ao quimérico 15 a zero, aqui da varanda da Luz, embora milagres sejam milagres por raros serem, e por aqui já tivemos um há quase um mês com os dois golos nos descontos contra o Sporting. Melhor será que corram em vez de confiarem na Virgem.

    (além disso, entre ir buscar o ‘farnel’, subir as escadarias, passar por um colega mais ‘avantajado’ na tribuna, assentar arrais, incluindo ligar o computador à corrente, dar umas mordidas na ‘sandocha’, desta vez de paio e queijo, e escrever os três primeiros parágrafos da crónica, já se passaram 27 minutos, e o ‘melhor’ que veio foi um golo anulado por evidente fora-de-jogo do Tengstedt, mais uns habituais falhanços do Rafa)

    Deixemos a utopia, e desçamos à triste e actual realidade que é ambicionar ganhar apenas, apenas ganhar, sendo que agora, neste nosso Benfica, nem com três golos nos primeiros 45 minutos as coisas estão garantidas – o que até se mostra mais emocionante… e irritante.

    Enquanto ali em baixo se continua num rame-rame – que ‘anunciam’ os 15 golos do Benfica somente para a segunda parte –, quero deixar aqui um registo que muito me apraz, e que talvez me tenha passado desapercebido nos outros jogos: muita criançada veio à bola. Temo, porém, que a jogarmos assim, e com os tempos agrestes que se avizinham do ponto de vista financeiro – com a fraquíssima receita da Liga dos Campeões e um grande punhado de jogadores que nem à Imaculada Conceição e ao seu filho interessam –, não tenham muitas alegrias na adolescência, isto para não irmos já para umas décadas mais avançadas.

    (portanto, vamos então ter necessidade de marcar um golo em cada três minutos para os 15 a zero, já que não se conseguiu nenhum em quarenta e cinco)

    Entretanto, como o jogo esteve mesmo uma porcaria, em 17 remates nem um golo, e eu não sei quem foi o mais desastrado – se o Tengstedt, se o Rafa, se o João Mário, se o Kökçü, se o Di Maria, ou se o árbitro ou o VAR –, vou ali ao Facebook ver em quem está o nosso colunista e benfiquista Tiago Franco a desancar.

    Ora bolas! Acabou ele de escrever um post mas apenas para divulgar a sua crónica de hoje no PÁGINA UM. Sobre a Ucrânia. Vale a pena ler

    (raios!, começa a segunda parte com um falhanço incrível do Rafa; ainda ali houve uma carambola, e a bola não entra porque vai parar às mãos do guarda-redes caído… e entretanto, mais uma grande defesa do guarda-redes do Farense… isto nos primeiros três minutos da segunda parte)

    Vou pedir uma opinião por Messenger ao Tiago sobre as ‘incidências’ do jogo…

    (não sei se vale a pena… deve estar agora furibundo com o golo do Farense, por ironia marcado por um Falcão…não é o Radamel, aquele que foi do Porto e agora se arrasta pelo Rayo Vallecano, na segunda metade da tabela classificativa da La Liga)

    Enquanto aguardo pelo comentário do Tiago, e sabendo já que o mais próximo possível da utopia será ganhar agora por 15 a um, convenhamos, os meus fracos conhecimentos de bola me permitem garantir que começa a ser confrangedor assistir à ineficácia atacante deste Benfica, tudo aos repelões, passes mal medidos, centros esquizofrénicos, uma total ausência de um ponta de lança de jeito, ninguém sabe cabecear…

    (assobiadela monumental com as substituições engendradas pelo Robert Schmidt, que manda o João Neves para o banco, além do Tengstedt, por troca com Musa e Gonçalo Guedes… acho que o alemão se está a candidatar à indemnização por despedimento)

    O Tiago, entretanto, assegura-me que o João Mário e o Morato fazem uma ala esquerda que não entrava sequer na equipa do Carcavelinhos, que convém dizer ganhou o Campeonato de Portugal na época de 1927/28 e foi extinto em 1942. E diz-me também que o Tengstedt nos marcou o golo mais caro – o 2-1 contra o Sporting –, presumo que por assim ir jogar muitas mais vezes e falhar ainda mais.

    (goloooooooooooooooooo!!! Rafa!!! Ao décimo remate marca… grita-se Glorioso SLB, julgo que os mesmo que vaiaram o Schmidt há minutos)

    Só faltam agora 14 para o 15 a um… Ou mais um para vencermos à rasca. Pergunto ao Tiago, por Messenger, se está esperançoso. Diz que sim: “Golo do Guedes”, que posso ir escrevendo isso mesmo, e mais se lamenta pelas perdas de tempo.

    (por agora estamos com 88 minutos de jogo, mas com tantas perdas de tempo, os descontos só podem ser uns 10 minutos)

    Portanto, aqui temos mais uma crónica atípica, com o Benfica a deixar o escriba nervoso, e a querer assistir a mais um milagre… Assim, deixo desta vez a sorte ou a desdita do Glorioso nas mãos da Imaculada Conceição nestes… sete minutos de desconto concedidos pelo árbitro. ‘Hora’ para me concentrar, ou pior, minutos para me concentrar. Ou rezar.

    (um desperdício do Musa incrível!!!)

    (e mais outro falhanço, desta vez no fim da festa, nem sei bem de quem; apenas sei de alguém com falta de jeito)

    E pronto: não houve milagre. O Tiago manda entretanto dizer que “este alemão dá-me vontade de partir coisas”. Fica dito. E eu mal visto, porque meti-me em ‘caganças’ com o 15 a zero, e sai-me um empate destes, com o Benfica a rematar 14 bolas à baliza e outras tantas para fora…

    E aquilo que me custa mais é saber que isto não é azar: é aselhice. Mas como o masoquismo faz parte da vida de um adepto, e eu quis armar-me em cronista da bola, levo com estes miseráveis jogos, e ainda tenho de escrever sobre eles. Bem feito… para aprender a dedicar-me, aqui no PÁGINA UM, apenas àquilo que sei: o jornalismo.

    Portanto, até daqui a três semanas, quando voltar a escrever nova crónica que, assim espero, venha a titular Famalicão 15.0… Haja esperança! De milagres, claro.

  • Sporting 2.1

    Sporting 2.1


    Hoje, nem um piu sobre ser eu talismã, até porque para se ser amuleto devemos ter um comportamento à água Vitória, esvoaçando uma meia hora antes do apoio, e não chegar 12 minutos atrasado, por vergonhosas vicissitudes e demais afazeres (sempre me valeu uma conversa sobre o Brasileirão, com o condutor do Uber, adepto do Cruzeiro, que anda pelas ruas da amargura, sob risco de descida), embora ainda a tempo de assistir ao remate do Rafa à barra da baliza do Sporting – quer dizer, a baliza é do Benfica.

    (seria divertido as equipas trazerem, além do equipamento, a própria baliza; só assim faria verdadeiro sentido a expressão ‘golo na própria baliza’)

    Parece que perdi outra oportunidade anterior, aos 9 minutos, mas de oportunidades perdidas é o que o Benfica mais tem feito nos últimos meses, a começar por perder quatro jogos na Champions. Enfim, mas o lance do Rafa foi antes de eu pegar a minha senha, com o número 15 – faz-me sempre lembrar a rábula do 15 a zero dos Gato Fedorento – para sacar veniaga… não! Isso é outra coisa! A senha é para sacar o tradicional lanche, o ‘clássico’ repasto daqui da Varanda da Luz, o qual diga-se ainda não conferi, porquanto assentei arraiais e comecei a adiantar serviço. E, além disso, nas três tribunas da imprensa está tudo bem composto.

    A minha chegada tardia sempre permitiu ter uma perspectiva diferente das imediações do estádio, entendendo que há gente que só vem pela bejeca e sandes de courato. E de ver que, mesmo num jogo desta natureza, há uns poucos retardatários, como eu.

    (lá em baixo, o jogo está, estranhamente, em ritmo frenético, nem parece um jogo do campeonato português, com excepção da eficácia das assistências ou dos remates à baliza, não tanto do Sporting, mas especialmente do Benfica)

    Confesso que nem sequer sei bem que enquadramento devo a esta crónica no decurso de um derby histórico, enquanto tivemos uma semana complicada para o ânimo do país, a saber: a quarta derrota do Benfica na Champions. Dinheiro a voar e, se a fase dos oitavos já é uma miragem, um rombo financeiro para a época já está garantido.

    Ah, e parece que houve também um governo que caiu, acho que de podre, porque quando se encontram 78.500 euros em notas no gabinete do chefe de gabinete do primeiro-ministro, o grau de depravação de uma democracia atinge o fundo… ou o topo.

    (e pronto, estava o intervalo a avizinhar-se, e sai-me isto: João Mário perde a bola e lá seguiu um contra-ataque até ao sueco Gyokeres que, sem perguntar a Trubin ‘para onde a queres’, mandou um fuzil às redes da baliza do Benfica)

    E, pronto, chega o intervalo, e eu atrasado, e estremunhado, ainda nem sequer consegui delinear um fio condutor a esta crónica. Devia ter seguido a minha preguiçosa sugestão interna, anunciando que somente escreveria a partir do primeiro golo do Benfica na baliza do Adán – quer dizer, a baliza é um activo fixo do Benfica, ou imobilizado como se dizia em tempos de antanho (esta ficou-me desta notícia) . Enfim, estou agora aqui de cima, durante o intervalo com pena das valorosas jogadoras da equipa de futsal e de andebol e também dos pujantes (ou pulantes) jogadores de voleibol, que ganharam as respectivas supertaças, mas que são silenciosamente recebidos por um público ainda em choque com o fuzil do sueco.

    (recomeça entretanto a segunda parte)

    Volto a confessar – segunda confissão na mesma crónica (bom seria que outras pessoas sobre outros assuntos mais prementes e relevantes para a democracia portuguesa confessassem também, mas não a um padre para evitar o segredo da confissão) – que estou hoje pouco animado e esperançado neste jogo. Cheira a fim de ciclo e ao início de um período nebuloso para as hostes benfiquistas. Se isto não se endireita, prevejo que, esgotados os dois dérbis, até ao fim do campeonato vai isto andar em meia-casa.

    (Deus existe e é benfiquista, embora com limitações, porquanto não conseguindo que o Musa dê uma para a caixa, sempre permite que o sportinguista Gonçalo Inácio se permita a levar o segundo amarelo, e a sair para o banho mais cedo)

    Mesmo contra 10, o meu ânimo não é muito. Nem me apetece escrever, a bem da verdade. Fico a assistir a uns minutos de jogo sem escrever para ver a reacção do Benfica à superioridade numérica, mas nada: nenhum lampejo. Olho para a cobertura para ver se há ali uma nesga para uma intervenção divina.

    Enfim, para compor a crónica, recorro ao Tiago Franco, também aqui presente, mas na bancada defronte (BTV). Escreve ele no Facebook não ser “um génio da estatística”, mas que está “em condições de afirmar que o João Mário perdeu todas, repito todas, as bolas que disputou”, sendo assim “o principal municiador do contra-ataque lagarto. Alguma teria que entrar.” E acrescenta que “no terceiro anel, qualquer pessoa com dois olhos percebe que o jogo termina nas alas. João Mário é menos um e Di Maria, hoje, também. Florentino está reduzido a passes de cinco metros e João Neves joga sozinho contra o meio-campo do Sporting (e por incrível que pareça, chega)”.

    Ainda diz que “o jogo está a pedir Tiago Gouveia e [Gonçalo] Guedes por troca com João Mario e Di Maria. Agora, já, não aos 83 minutos. O jogo também pedia um treinador no banco do Benfica, mas não entremos em extravagâncias”.

    Em corrosivo post scriptum, adita, por fim, que “com o Sporting reduzido a 10 e mais espaço para jogar, [Roger Schmidt] deixa o Guedes e o Gouveia no banco e mete o Tengstedt, o maior manco que chegou à Luz depois do Pringle. Se isto não é justa causa para o despedimento, não sei o que será”.

    E não escrevendo eu tão bem como ele sobre matérias futebolísticas, concedo que tenha razão.

    (concedo o caraças! Golo do menino João Neves, ao quarto minuto dos descontos. Ufa,ufa, ufa!)

    Acho que devia retirar tudo o que o Tiago escreveu, até porque me informa ter saído do estádio, envergonhado, ainda antes dos descontos… Um incréu! Mas, enfim, eis o problema de uma crónica em directo: os seus comentários despacharam-me umas boas linhas, que agora teria de substituir. Além disso, o golo do miúdo Neves não muda um triste desempenho. Um empate do Benfica, ainda mais na Luz, sabe sempre a pouco, ó Roger! Como se fosse uma derrota…

    (GOLOOOOOOOOOOOOOOOOO!!!! MILAGREEEEEEEE!!!!)

    Ai coração! Tive de censurar uns palavrões… Marcou fora de jogo o fiscal-de-linha. Não pode ser!… Espera, o Soares Dias em conversações com o VAR… ai ai ai ai, tu queres lá ver que o VAR vai ver melhor?

    (GOLOOOOOOOOOOOOOOOOO!!! É mesmo golo. Deus existe. Existe porque escolheu o ‘manco’ dinamarquês Tengstedt para revelar mais um milagre)

    Tiago, estás despedido! De comentador de futebol daqui da Varanda da Luz, só, claro! Mas já te serviu não teres assistido à maior reviravolta dos tempos recentes. Roger é, afinal, grande! Ou Deus, talvez.

    Vou desandar. Prefiro as minhas investigações jornalísticas…

  • Casa Pia 1.1

    Casa Pia 1.1


    Algo transformar-se, no decurso do tique-taque do universo, num clássico não é, na verdade, necessariamente positivo. Por exemplo, o farnel com que sou presenteado nas minhas visitas à Varanda da Luz, para escrever esta crónica, é chapa-três: baguette, barrita de cereais, peça de fruta e água ou sumo. Hoje foi água. Não me estou a queixar, apenas a constatar que tem sido sempre a mesma ementa, qualquer que seja o jogo, Porto ou Casa Pia – ou seja, sempre a mesma coisa quer nos jogos mais fáceis quer nos jogos mais difíceis. Por esta ordem.

    Eu estou verdadeiramente confiante que, com o tal tique-taque em curso, discorrendo o tempo, a realidade ilumine o córtex, os lobos temporal, parietal e occipital, os gânglios de base e o corpo caloso, mesmo dos mais cépticos e crédulos, incluindo os adversários do Benfica, de sorte que a todos assim fique patente a minha capacidade de talismã – ou seja, estando eu na Varanda da Luz, sai sempre vitória…

    (nem de propósito, esvoaça a águia Vitória, não sei se com reforço alimentar)

    … e que, provando-se isso, e quero que seja com critérios objectivos, revistos pelos pares, comecem a ofertar-me acepipes a preceito, a saber: caviar de beluga ou sevruga do Mar Cáspio, foie gras Mont d’Or, salmão defumado escocês, que o da Noruega dá-me azia, e uns queijinhos Roquefort, Gruyère e Parmigiano-Reggiano; e para molhar o bico, talvez um Dom Pérignon e um Moët & Chandon, para não ser demasiado exigente, e talvez também um Bordeuax à falta de um Château Mouton-Rothschild. Dispenso uísque e bourbon.

    (entretanto, começa o jogo… Di Maria no banco, Arthur Cabral como terceiro central do Casa Pia)

    Já estou a imaginar os leitores, incrédulos, aqueles poucos que acompanham futebol (e fazem muito bem): então, mas o Benfica já não vai em quatro derrotas esta época em jogos oficiais? Claro que vai! Uma desgraça… Ainda mais porque bem perdidos, porque muito mal jogados… Mas eu nunca assisti ao vivo a nenhuma desses desaires, nem àquelas duas que já ali em baixo sucederam, no caseiro gramado, onde, aliás, se desenrola um jogo de passes falhados e pouca objectividade.

    (objectividade: lá estou eu com os jargões futebolísticos)

    Portanto, não vi a derrota no Boavista, em Agosto, nem as derrotas contra o Salzburgo, em Setembro, e em Milão, contra o Inter, e nem sequer a derrota desta semana contra a Real Sociedad. Comigo aqui sentadinho, a escrevinhar bitates, só vitórias… E assim se escreverá daqui a cerca de uma hora… Espero, senão desespero.

    (vamos lá ver se não me estatelo com esta minha decisão de hoje dissertar sobre ser eu um porta-sorte para o Benfica… ali em baixo, o jogo já vai nos 38 minutos, e, apesar de umas boas oportunidades, falta-nos um Gonçalo Ramos, ou um Félix do Barça)

    Está, de facto, o intervalo a chegar – e eu a ver isto mal encaminhado…

    (goloooooooo… chiça, estava difícil… ainda por cima, um remate de belo efeito, mais um jargão, do João Mário, que nos jogos mais recentes andava que metia nojo)

    Ufa! Agora que estou mais calmo – e a vitória se começa a desenhar –, vou revelar porque estava, e estou, tão confiante, pelo menos neste jogo em concreto, sobre a minha presença nesta Catedral manter a invencibilidade, melhor ainda, ser-se invicto. Hm! invicto, não! Isso faz lembrar a coragem do Porto nas Guerras Liberais do século XIX, e agora estamos no século XXI e quem fala de Porto numa crónica futebolística, logo se remete para o Futebol Clube do Porto, que aqui na Luz deu, há umas poucas semanas, menos trabalho do que este Casa Pia. Fiquemo-nos, enfim, por imbatível.

    (entretanto, lá temos a segunda parte a começar)

    A confiança provém, na verdade, da Estatística que, no futebol, não ganha golos mas é um ‘posto’…

    (merda! O Florentino a fazer porcaria com uma rasteira clássica dentro da grande área; nesta nem VAR é preciso, que até eu míope daqui de cima vi… E estava eu confiante… esqueço-me da existência de jogadores com paragens cerebrais… ai… ai… ai… GRANDA DEFESA DO Trubin!!! Como se chamava mesmo aquele grego que foi recambiado para o Nottingham Forest?)

    Portanto, continuando isto em versão Casa Pia 1.0, expliquemos que, pela Estatística, o Benfica tem 100% de probabilidades de vencer este jogo…

    (Jesus! Maria! José! Isto hoje vai ser só sobressaltos. Mais uma grande intervenção do Trubin)

    Repitamos, que já me estou a irritar: o Benfica já antes defrontou o Casa Pia por 11 vezes, embora apenas três vezes neste século. Não interessa: sempre vitórias, sendo que a duas últimas foram na época passada e a mais recente em Fevereiro passado, com um seco 3-0. Presumo, pelo andar da carruagem, mesmo se agora entrou o Di Maria, que isto chegue a esse patamar sequer. E não vai ser, desta vez, que trucidamos com um 10-1, como as águias fizeram aos pobres casapianos no longínquo 16 de Abril de 1939, pouco mais de quatro meses antes de Hitler invadir a Polónia…

    (e agora se não se importam, interrompo isto um bocadinho, para dar uma olhadela mais atenta ao jogo, e começar a paginar, que hoje ainda tenho de ir a um jantar e discursar sobre liberdade de expressão, informação e jornalismo)

    Faltam 15 minutos, e agora já só me interessa a vitória, para manter a esperança no ‘meu’ beluga no saquinho do farnel….

    (e lá se vai o beluga… depois de fazer excelentes defesas, incluindo um penalty, o Trubin leva com um remate defensável por baixo da ‘rata’… Regressa Vlachodimos, que estás perdoado!)

    Enfim, faltam sete minutos até aos 90, e já que a Estatística não resolve, e nem os jogadores, e muito menos o Schmidt, comecemos a ter Fé… num milagre.

    (entretanto, sete minutos de desconto para que Deus Nosso Senhor tenha piedade do Benfica, mesmo se o adversário é o Casa Pia)

    Não houve milagres…

    Sai um coro de assobios para a mesa do Roger Schmidt e jogadores, à conta de um péssimo jogo com pior resultado. Mas têm a minha promessa de regresso no próximo jogo, com direito, espero, ao farnel habitual… que está sempre muito saboroso e aconchega, diga-se. Parafraseando Ilsa Lund, interpretada por Ingrid Bergman no filme Casablanca, aqui na Varanda da Luz, mesmo com maus resultados, “we’ll always have baguette“…

  • Futebol Clube do Porto 1.0

    Futebol Clube do Porto 1.0


    Vislumbro – melhor dizendo, até diviso – relevantes vantagens de se ser cronista. De futebol ou de outra qualquer coisa, mas neste caso falo nas belas-artes de matraquear bitaites sobre bola, que ademais nem sequer têm de ser sobre tácticas e incidências, sobre os quais agora me agarro por desfastio, descontração e descompressão.

    Por exemplo, por uma crónica futebolística, se eu meter o Lagardère (não é a Lagarde) no meio do título, para caracterizar uma forma destemida e irresponsável de gestão do jogo pelo árbitro, certamente não terei uma queixa na Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) nem outra a ser tratada pelo Provedor do Adepto do Rio Ave, que por uma daquelas circunstâncias infelizes preside também ao  Conselho Deontológico do Sindicato dos Jornalistas (CD-SJ) e, como a vida é feita de engulhos, há jovens que ainda o têm como professor.

    Por outro lado, presumo que, mesmo vindo a escrever de forma desfavorável sobre um qualquer agente desportivo, e venha ele a ser alvo de um inquérito disciplinar, não fará certamente como o Dr. Filipe Froes que por ter sido visado num inquérito disciplinar pela Inspecção-Geral das Actividades em Saúde (IGAS), no decurso de notícias em outros jornais, veio aos autos acusar-me de ser eu um dos “jornalistas negacionistas difamadores”, e daí difama-me, a despropósito, incluindo no seu processo uma queixa contra mim na ERC, estúpida e ridiculamente apresentada por ele próprio, e ainda, não satisfeito, um vergonhoso parecer do CD-SJ que vale tanto como quem o pariu: nada. Nem chegou a ser um aborto; saiu de lá o produto de uma gravidez histérica… Isto está tudo ligado – sou eu a dizer, que nem sequer sou de teorias da conspiração.

    Falemos de bola.

    (entretanto, lá começou o jogo; ambiente fantástico, mas o estádio não está lotado, pelo menos vislumbro, ou diviso, umas clareiras, sobretudo atrás da baliza do lado sul)

    Mas, já agora, a grandíssima vantagem de se ser cronista é aqui poder prescindir de certos princípios de isenção e eliminar exigências de credulidade, e daí, mesmo num escrito que será apenas publicado ao fim de 90 minutos – mais os 20 prováveis minutos de acréscimo que o Futebol Clube do Porto necessitar se lhe estiver a correr mal a vida –, poder usar, e até abusar, de uma certa linguagem mais criativa. E também me socorrerei de fontes anónimas, das mais suspeitas, como convém a uma crónica pouco objectiva e mais recreativa.

    (os very lights já estão a fazer das suas, e daqui da Varanda da Luz, uma fumaça das diabos enevoa o relvado; lá em baixo, jogo repartido, mas ainda não tive grande tempo para olhar o gramado)

    Portanto, tenho desde já que antecipar que, por fontes anónimas mas conhecedoras dos meandros mais esotéricos, me foi garantido que isto hoje vai dar para o torto.

    (não vão acreditar em mim, mas estava a escrever a palavra “torto” e o Fábio Cardoso dá uma sarrafada no David Neres, que se escapulia pela ala esquerda: directo para o balneário. O Cardoso, não o Neres, porque este recuperou. Estranho que em quatro minutos de sururu o Sérgio Conceição se mantenha no banco… O Porto já está a ganhar 1-0 em cartões vermelhos… Entretanto, livre sem perigo)

    Mas qual a razão de eu antecipar, por via das minhas fontes esotéricas, que isto – leia-se, jogo – vai dar para o torto, quando nem sequer terminou o primeiro quarto do jogo (ou o primeiro quinto, se estimarmos já os prováveis descontos à Porto)? E mais ainda: sem estar o Pepe a jogar?

    Por ser Lua cheia. Ainda mais uma super-Lua cheia, a última do ano, como bem avisa o sempre atento Público, mais rigoroso em assuntos astrológicos – ou astrais ou astronómicos, eu sei lá, para eles deve ser o mesmo – do que a quantificar verdadeiramente os desperdícios financeiros dos negócios das vacinas.

    Bem sei não ser conveniente a um jornal sério, e defensor da Ciência, como se arroga o PÁGINA UM, alegar agora com questões astronómicas, às quais estão também associadas assuntos da Astrologia – embora, hélas, o nosso Galileu Galilei até foi, além de tudo aquilo que se sabe, um profundo estudioso dessas matérias ditas esotéricas, sendo famosas as cartas astrológicas que delineou para as suas filhas e muitos poderosos.

    (ui, isto está mesmo a ficar lindo… Rafa a meter o turbo, pelo lado direito, uma alegada sarrafada de David Carmo, que corta um possível isolamento. O árbitro dá apenas amarelo; é chamado pelo VAR para possível vermelho. João Pinheiro mantém a decisão, mas dá outro amarelo a Taremi por protestos; temos assunto para a semana nas tertúlias futebolísticas)

    Enfim, já nem vale a pena estar a fazer previsões sobre o caldo entornado, porque agora já só falta o Benfica marcar um golo…

    (e ia sendo um, chuto em esforço de David Neres ao lado, com Rafa a estorvar)

    … para que tudo fique num pandemónio.

    Neste momento, em abono da verdade, já só espero que não se comprove as “previsões” do cronista do PÁGINA UM, Diogo Cabrita, que no Facebook ainda agora vaticinou: “O meu sonho agora era: jogo quezílento, três vermelhos, estádio da Luz interdito por very lights, Sérgio Conceição três jogos de suspensão, resultado final dois a dois, adeptos dos dois lados tristes, frango do ucraniano…”

    (intervalo… ah, entretanto, lembram-se da última crónica sobre o fresquinho de Setembro, que convidava a trazer um casaquinho da próxima vez? Assim fiz: está um calor de ananases!)

    Entretanto, entre descer esta Varanda da Luz, de onde vos escrevo e o reabastecimento de água, passa-se o intervalo, Então ‘amlá ver‘ – como o nosso cronista Tiago Franco, indefectível benfiquista diz que o António Costa fala – esta segunda parte… Ou isto anima ou vou ter de encontrar tema paralelo para dissertar… Vou dar uns minutos, entre pôr o olho no relvado, onde o Benfica porfia poucochinho, e as fotos que vou seleccionar, entre as quais um muro das lamentações em redor da estação de metropolitano do Alto dos Moinhos, onde um montão de benfiquistas se foi lamentar, fisiologicamente falando, de ser humano. Em pé, claro…

    (já agora, sobre os meus colegas de varanda de hoje, isto é, os da bancada de imprensa, tudo muito calmo e contido. E o Benfica a começar a perder oportunidades, agora mesmo foi o Otamendi a rematar para fora sem oposição, às tantas a recordar-se dos cortes defensivos quando estava no Porto; e antes disso, o Diogo Costa a fazer uma excelente mancha a remate subtil de Neres)

    Enfim, ou isto melhora, ou vai haver noite desagradável, e não é por ser eu benfiquista, que somente satisfeito se fica com uma vitória, ainda mais sobre o grande rival. Digo isto porque, enfim, vivendo um benfiquista com uma portista, mesmo se ma non troppo

    (e pronto: goloooooo! Di Maria! Grande regresso. O homem está a fazer aquele percurso do bom filho à casa retorna…. Agora é que isto vai aquecer. Imaginemos a cabeça do Sérgio Conceição… Ouve-se pirotecnia; o que significa que a Liga esfrega as mãos com a multa a aplicar ao Benfica; talvez devesse ser como noutros países para haver mais controlo de entradas)

    Esta crónica está a ficar mesmo gira, pelo menos para mim, porquanto se começo a dissertar sobre um tema, sucede algo que muda o rumo.

    (entretanto, mais uma “boa” intervenção do Otamendi: remate isolado na grande área, depois de uma jogada de canto estudada, mas para cima. Com o Otamendi, como há uns anos, a baliza do Porto fica segura!)

    Queria eu dizer que, coabitando benfiquista com portista – um escândalo o wokismo não defender que eu seja benfiquistO e um homem como o Luís Gomes não seja um portistO; a sociedade tem muito a evoluir… – nunca um empate, parecendo um dividir o mal pelas aldeias, é um bom desfecho. Um empate vale sempre como derrota, pelo que haja sempre um vencedor, e fé em Deus para não irritar em demasia o perdedor…

    (entretanto, três substituições em simultâneo do Benfica ao minuto 84, incluindo Di Maria para a ovação, e Roger Schmidt a congeminar estratégia de contenção para os últimos 30 minutos de jogo…)

    Veremos entretanto como será a minha recepção caseira depois dos 96 minutos (deram só seis minutos… mais um escândalo que alimentará debates pela semana), se janto, na verdade, porquanto a porção do farnel do Benfica aos jornalistas se esfumou sem se perder a esfaima.

    (e pronto, antes de acabar, o Francisco Conceição dá uma cuzada em pleno ar contra o Otamendi… foi cómico, porque o filho do Sérgio Conceição tem um metro e setenta, enquanto o brutamontes do Otamendi, que lhe mandou beijinhos em troca, um metro e oitenta e três. Serenou tudo; afinal não se confirmaram os prognósticos da super-Lua cheia)

    E pronto: סליתא וסליתא – está consumado. Giro: o WordPress aceita caracteres de aramaico.

    (e a equipa do Futebol Clube do Porto lá foi fazer o seu número de provocação, com gritos de união, junto às claques do Benfica; coro normal de assobios e vaias dos adeptos benfiquistas, muito teatro, mas eu até compreendo os jogadores e equipa técnica do FCP: os assobios dos nossos antagonistas, mesmo quando parecemos derrotados, são o que nos dá força para continuar… portanto, força, Porto: queremos ganhar-vos na segunda volta, convosco fortes, mas, claro, atrás de nós na classificação. Como agora justamente estão…)

    Tenham todos uma boa noite. Mesmo os portistas. E sobretudo os portistas. E sobretudo um aviso: isto é só um jogo; coisas a sério é aquilo que vou escrevendo durante os dias da semana… Não levem tão a sério o futebol.

  • Vitória de Guimarães 4.0

    Vitória de Guimarães 4.0


    A experiência é um posto – um lugar-comum que, vistas as coisas como são, se usa (o lugar-comum) por isso mesmo: por se aplicar em muitos casos, e ainda melhor no caso em apreço deste cronista, eu, que, ainda esta tarde, munido da experiência, andei à caça dos abusos em ajustes directos em contratos públicos, e agora aqui estou, muito célere na viagem, graças à experiência, de já saber todos os ritos, neste preciso momento, a ver a aquilina Vitória (que já foi buzzard) esvoaçando.

    Sinal, portanto, de chegada bem antes do apito inicial, e sem ter de encetar jornada duas horas antes para compensar percalços e engulhos. Ou seja, já calejado pela experiência anterior, mais lesto e em passo decidido me vi, e mais quem quis ver (que deve ter sido só os seguranças), assomar à tribuna de imprensa, não direi em apoteose, mas já munido do corriqueiro e usual, mas mesmo assim aconchegante, lanchezinho para recuperar as energias derretidas nas escadarias. Não tive de descer para o ir buscar como há duas semanas, que me esquecera de pedir a senha.

    Mas nem me estava muito a lembrar de experiências deste jaez; nesta minha novel e nobre função de cronista da bola tenho ainda muito a aprender, a saber: trazer um casaquinho a partir de Setembro, que aqui na Varanda da Luz, ventando, já faz um fresquinho incómodo…

    (entretanto, começa o jogo; podem ver a concorrência para conhecerem as formações iniciais das equipas…)

    Na verdade, falava mais na “bagagem” que trouxe, na mochila, para tema a propósito, ou ter um tema de propósito: sendo a peleja contra Vitória Sport Clube, achei que poderia haver algum alinhamento favorável, não sei bem a quê, se trouxesse o livro saído do prelo e dado sogrinha mesmo à estampa pela Kathartika, uma editora de Guimarães, sobre um certo espanhol do mundo de futebol vítima de alopecia totalis.

    (ai, ai, ai, ai, que o Vitória quase marcava… bola ao poste; estivesse o Vlachodimos na baliza e com o azar do grego seria golo, e o Roger Schmidt culpá-lo-ia da abébia do defesa benfiquista… e às tantas ainda era golo.

    Entretanto, como não posso estar a interromper a escrita em cada parágrafo, acrescento só agora que, minutos atrás, o Di Maria quis fazer um chapéu ao Bruno Varela, mais outro antigo guarda-redes do Benfica algo maltratado, mas saiu-lhe copa baixa).

    Retomando a meada ao fio. Não, não estou a falar do famigerado ou facinoroso Luis Rubiales, mas sim do mais comedido e discreto Roberto Martínez, o agora seleccionador português de quem sei muito pouco, ou quase nada, a não ser que fora um mediano médio do Wigan, e de outros clubes secundários das Terras de Sua Majestade, antes de enveredar pela carreira de treinador da Bélgica, e nos ter eliminado no Europeu de 2020, que afinal foi no ano seguinte. Enfim, estranho mundo da Ludopédia, onde se contratam os generais que outrora nos derrotaram os sonhos…   

    (Goloooo… caraças, grande trivela do Di Maria, e excelente cabeçada de Jorge Fernandes, cuja folha salarial ainda por cima não é assinada pelo Rui Costa mas sim pelo presidente do Vitória de Guimarães, que não sei quem é [fui ver: chama-se António Miguel Cardoso; eu desde o filósofo Pimenta “o que hoje é verdade, amanhã é mentira” Machado que pouco sei das lideranças vimaranenses)

    Tenho a insuspeita esperança de não ter tempo de dar uma leitura ou folheadela nesta biografia do espanhol, escrita por um jornalista belga (Benoit Delhauteur), mesmo se adianto que, por curiosidade, já vi que tem bonecos (fotos) e que termina na actualidade, porquanto fala no CR7, e garante já que Portugal está apurado e que, por isso, aparentemente o jogo da próxima na Eslováquia será a feijões. “Marquemos então encontro para assistir ao episódio seguinte da saga, na Alemanha, onde terá lugar o próximo Campeonato da Europa, em 2024” – esta é a derradeira frase…

    (tenho um feeling que não vou ter tempo, porque entretanto um [imprudente] golpe de artes marciais do João Mendes sobre o Otamendi, com o competente cartão vermelho subsequente, leva-me a pensar que isto hoje vai ser mais fácil do que as três vitórias do Vitória nas três primeiras jornadas do campeonato poderiam pressagiar)

    Até porque, na verdade, trazia aqui preparado um discurso sobre treinadores espanhóis que, no caso do Benfica, não trazem boas memórias: José António Camacho, que andou por aqui duas épocas há duas décadas, não conseguindo melhor do que o segundo lugar na Liga – o que para um benfiquista que se preze é um rotundo fracasso –, e Quique Flores, que, em 2008-2009, melhor não fez, com um triste terceiro lugar, apesar do então apoio da Orsi Fehér

    (olha, dito e feito: golo do Di Maria. Isto promete ser jogo fácil, até porque, enfim, mesmo em ritmo pouco intenso [isto sou eu aqui a dizer, refastelado numa cadeira], o Benfica está agora a jogar bem, com bom entrosamento [caramba, já escrevo futebolês à segunda crónica] e objectividade)

    Diga-se, também, que o Porto teve os “seus” espanhóis: estava aqui a pesquisar, na memória e na Internet, e apanho o Víctor Fernández, na época de 2004-2005, e sobretudo o Julen Lopetegui, entre 2014 e 2016, que deveria ter ficado mais anos para maior felicidade do Jorge Jesus aqui na Luz.

    Confesso que sou, porém, um optimista, porque, mesmo trazendo algum trabalho feito de casa e alinhavado umas ideias sobre aquilo que seria uma crónica sobre este jogo contra o Vitória, esta se mostra difícil de compor quando se tem de “tener un ojo al gato y otro al garabato” – expressão que melhor fica aqui, não só por andar em castelhanices, mas sobretudo por, desta sorte, evitar o uso do mais problemático “ter um olho no burro e outra no cigano” –, porque as “incidências” até estão a ser agradáveis, e pouco apetece tirar os olhos do relvado.

    (e nem de propósito, o turco Köckü faz um golo de “belo efeito” [estou a ficar lindo, com repetidos idiotismos futebolísticos] ao “fechar do pano” [irra!] já nos descontos, que agora são à meia dúzia, mesmo quando na primeira parte)

    Entretanto, o intervalo sempre serve para ir dando uma mirada no texto já escrito e para sacar incorrecções e gralhas, bem como para complementar um ou outro “apontamento”. E…

    (e… o Aursnes nem me dá tempo para escrever mais um parágrafo para compor melhor a estrutura da crónica, marcando o quarto para o Benfica logo a abrir o segundo tempo. Será hoje o mítico 15 a 0?)

    Isto hoje, de facto, vai ser uma crónica estranha – se é que seria suposto não ser –, o que agrava as expectativas para as seguintes, porque saindo-me mal nesta segunda da presente época, por não conseguir estancar o entusiasmo de lampião por uma noite agradável, acabo por hipotecar as seguintes, porque vou granjear ódios de leitores portistas, sportinguistas – e quiçá, vimaranenses, se forem muitos (acho que não) –, e não demonstro um pingo de equidistância e independência clubística. Ao cuidado da CCPJ e da ERC…

    Que seja! Ganho por 4, ganho por mil.

    Enfim, e logo eu que até estava a pensar, depois de falar mais do livro do Roberto Martínez – ainda por cima com a capa onde se destaca o vermelho e branco, apenas com o dito espanhol com parte da cabeça em perfil –, que ainda teria tempo para abordar a situação financeira do jornal desportivo A Bola, que tem jornalistas e o Sindicato em polvorosa por os novos donos, os suíços da Ringier Sports Media Group, quererem mandar dois terços da força de trabalho para o olho da rua.

    Pudera! A empresa de A Bola está em piores trabalhos do que o Vitória de Guimarães hoje na Luz, e nem sequer vê uma luz salvadora ao fundo do túnel. Pelo que vejo das contas do ano passado (e trouxe os papéis para cotejar o “desastre”), tem um capital próprio negativo de quase 1,7 milhões de euros, contabilizou receitas de 8,6 milhões de euros, e depois gastos de cerca de 3,6 milhões de euros para pessoal e um pouco mais de 3,9 milhões de euros em serviços externos, além de um serviço da dívida (devido ao elevado endividamento) que lhe “comeu” o parco valor positivo dos resultados operacionais. Tem ainda uma dívida ao Estado de 252 mil euros. Já vimos pior, não vimos, Luís Delgado? Já vimos pior, não vimos, Marco Galinha?

    A empresa de A Bola parece uma equipa de futebol português, com a diferença de que a administração de um clube de futebol não despede dois terços dos jogadores esperando que as receitas se mantenham e os lucros venham… Enfim, voltarei ao tema nas páginas normais do PÁGINA UM sobre a situação financeira das empresas de media.

    (depois do quarto golo, tudo mais calmo… vou agora descansar um pouco, e desfrutar da Varanda da Luz, enquanto termino o lanche)

    Entretanto, isto animou aqui para os lados da tribuna da imprensa, ao minuto 76, onde estou rodeado por radialistas, que agora confirmo serem garantidamente de Guimarães, porquanto um atabalhoado golo do Vitória acaba de ser celebrado com um entusiasmo semelhante ao relato de Victor Hugo Morales do “El Gol del Siglo”, com que Maradona sentenciou a vitória da Argentina no Mundial de 1986. Enfim, pena que o resultado já estava no 4 a 0; e 4 a 0 continuará, porque o Nélson da Luz (Luz, caramba!, os astros estão todos ao favor da Luz) meteu mão à bola. Valeu pela foto que tirei ao radialista, que até veste vermelho, e que não parecia tão empenhado a gritar golo quando foram os outros quatro do Benfica. E esses valeram…

    (e, passando o tempo, a acertar mais uns pormenores, um penalti a favor do Benfica; Di Maria já com a bola na mão para facturar o bis… e o VAR anula a decisão. Bolas: era uma mão-cheia hoje)

    Fica para a próxima. E por aqui me fico, que ainda se tem de fazer mais uns acertos e caçar gralhas – e eu nem tenho olhos de águia. E meter isto no site do PÁGINA UM ainda demora uns minutos, e se não me despacho ainda me apagam… a Luz.

    Ah! e a próxima crónica, se não me engano, será com o Futebol Clube do Porto… se me deixarem vir ou se me concederem a devida acreditação.

    As luzes vermelhas, entretanto, ainda continuam acesas, só vejo ali um companheiro em escritas, e eu tenho de regressar a casa para descansar, e estar também com quem desejo estar, que a vida não é só futebol… Digo eu, que não paro de escrever.

  • Estrela da Amadora 2.0

    Estrela da Amadora 2.0


    E pensar que esta tarde estive a revelar as promiscuidades do Dr. Filipe Froes e mais as suas 324 colaborações com farmacêuticas desde 2013 e os 453.635,37 euros arrecadados, fora eventuais prebendas não declaradas no Portal da Transparência do Infarmed… e eis-me aqui, agora, no Estádio da Luz, para assistir ao primeiro jogo em casa do Benfica no campeonato de futebol da época da graça de 2023 e 2024. Numa varanda com boa vista.

    (Chiça: boa vista faz lembrar Boavista e a aziaga segunda-feira passada)

    Meto-me em tortuosos caminhos, seguindo por estes trilhos, quando os que tinha espinhosos já eram. Não exageremos. Meto-me porque quero. Ou sou impelido por certas forças, que não já as minhas. Enfim, “de um abismo ressoa para outro abismo o fragor das tuas cascatas; todas as tuas vagas e torrentes passaram sobre mim.”

    Exagero, mais uma vez. Sempre assim sucederá, prometo, daqui de onde vos escrevo: da Varanda do Benfica, ou da Varanda da Luz – logo me decidirei até ao fim do jogo. Se calhar intercalo. Ou calo-me.

    (entretanto, muito calmo, por aqui. Em 15 minutos, um livre do turco Köckü contra a barreira… e estava eu a escrever isto e quase marcava o Rafa, para grande defesa do guarda-redes do Estrela… e a seguir um remate bem esgalhado de…  acho eu, João Neves, ligeiramente ao lado… continuemos…)

    Portanto, tirando a impossibilidade de exagerar no resultado – que, por aí, terei de ser rigoroso, e isto por agora está num inquietante nulo –, servirá esta primeira crónica para, airosamente, com alguma aisance, assim espero, justificar aquilo que estou para aqui fazendo. E, ainda por cima, escrevendo. E prometendo repetir in saecula saeculorum.

    Primeiro, estou tentando juntar o útil ao agradável, não sabendo bem qual a parte da utilidade e a parte da agradabilidade – e isto, assumindo, por antecipação, que algum proveito e prazer daqui virá. Exige-me o corpo e a mente sair dos árduos labores das investigações jornalísticas, das burocracias, das arrelias, embora temperadas pelos apoios dos leitores (dá-lhes já graxa), e dessa sorte me pareceu ideia acertada aproveitar-me do estatuto de jornalista e sacar uma acreditação que, mais do que poupar dinheiro, me poupa tempo, porquanto o pedido de acreditação se faz em segundos, o levantamento da acreditação num ápice é, e depois um passeio de cão por vinha vindimada até à tribuna de imprensa – e ainda mais com direito a lanche de reforço. Um figo. Quer dizer, o sumo é de pêssego.

    (até porque, neste ínterim, se acumulam oportunidades para o Benfica; temo que o golo surja… ou não… já se escafederam 35 minutos e a asa do cântaro dos homens da Amadora [não lhes chamemos da Porcalhota, à antiga, mesmo se usando nesta narração, um estilo barroco] anda não se escaqueirou na fonte)

    Segundo, tenho o ensejo de me armar em cronista de banalidades e coisas fúteis nesta aventura pela crónica futebolística. Concretizo: não percebo grande coisa de tácticas – embora seja curioso das minudências dos intérpretes da bola (e, portanto, seguirei a novela da bernarda entre o Schmidt e o Vlachodimos, com a mesma curiosidade com que acompanhei os efeitos da birra do Sérgio Conceição) –, e nem se justificaria um relato de um jogo específico (ainda mais do meu clube) num jornal independente que anda por outros campeonatos e em outras modalidades. Portanto, isto será uma espécie de crónica à la Nelson Rodrigues, mas sem os conhecimentos do dito, sem o sotaque do dito e, provavelmente, sem a qualidade do dito – conquanto me divirta e me faça espairecer.

    (e temos o intervalo)

    Terceiro, tenho, perante o meu olhar – ou melhor, sou eu o observado –, a crítica inquisitiva de alguns leitores, que, prevejo já, me podem – e muito justamente – acusar de uma reles parceria comercial, sendo certo que, esses, enfim, só poderão ser uns lagartos invejosos e ou ciumentos tripeiros.

    (ai Jesus! Não… não é o do Al Hilal. É mesmo o do Céu: pênalti contra o Benfica… revertido pelo VAR. Ah, sportinguistas!: este VAR “pia” diferente; funciona bem…)

    Mas, continuando – e mesmo se brincando –, tenho consciência da existência de um conflito de interesses. Podendo, como jornalista, escrever em qualquer estádio, por que motivo escolho eu logo o Estádio da Luz? Caramba, desculpem-me o pecadilho: é pelas vistas;  também não me podem exigir clausura integral e absoluta imaculidade.

    (além disso, escrever aqui é um teste aos nervos, sobretudo se, como no jogo desta noite, o Benfica pensa que se ganha pelas oportunidades – e não pelos golos… e entretanto: GOLOOOOOO. Golo do Casper Tengstedt [como se pronuncia mesmo o nome deste dinamarquês?])

    Mesmo assim, e pelas tosses e prevenções, fiz já o trabalho de casa, e fui ler a Deliberação ERC/2023/266, divulgada este mês, da Entidade Reguladora para a Comunicação Social, sobre a renovação da licença da BenficaTV à cata de qualquer irregularidade grave para propagar aos sete ventos no PÁGINA UM. Mas daqui não consegui sacar o “alvará” da minha independência perante a dependência (desde a infância) clubística: a ERC escreve, na dita deliberação, que “em conclusão e face ao exposto considera-se que o operador Benfica TV, S.A., tem tido um desempenho, ao longo dos quinze anos de exercício de atividade, conformado e consentâneo com o normativo legal aplicável, sendo de conferir deferimento ao pedido de renovação da autorização para o exercício da atividade de televisão através do serviço de programas BTV 1”. Má, mas mesmo má, foi a recente avaliação à CMTV, similar no objectivo, feita pela mesma ERC. Estive a ler aquilo e ainda pensei que cassavam a licença à Cofina.

    (o estádio está mais aliviado; estranho jogo, que poderia ter dado para uma cabazada das antigas, e acaba numa coisa poucochinha)

    Mas deixemos o regulador em paz, cujos membros merecem terminar o mandato em tranquilidade. Em todo o caso, escrevi-lhes ontem…

     (e para fechar, parecendo coisa fácil, já nos descontos [que são agora à dúzia, os minutos] um golo de belo efeito de Rafa, com um ainda mais belo movimento e passe de David Neres… e logo a seguir, depois da reposição, quase seguia outro; bola ao poste esquerdo, remate do Rafa. Ó Rafa, os outros tipos querem ir a banhos e agora é que metes o gás todo?)

    Em todo o caso, ó Rui Costa, reparei, entretanto, que as entidades responsáveis pela Benfica TV (como registo da ERC nº 523392), pela BNews (com registo da ERC nº 127919) e pel’O Benfica (com o número de registo da ERC nº 101759) não preencheram ainda os indicadores financeiros e económicos no Portal da Transparência dos Media relativos ao ano passado. Os que lá estão vão até 2021. E sabes quem é o responsável máximo desta lacuna, não sabes?… Claro!

    Mas não te apoquentes em demasia: no teu campeonato há iguais e piores. A Avenida dos Aliados, do Porto Canal (vulgo, canal do FCP, com o registo da ERC nº 523388), também não entregou os dados económicos do ano passado. O jornal do Sporting (com registo da ERC nº 100313) não entrega contas na ERC desde 2019. Salva-se a empresa da Sporting TV (com registo da ERC nº 523408), que tem as contas em dia no regulador. E descansa que há pior onde nem seria de supor: nas empresas de media… e algumas até devem milhões ao Fisco…

     (fim do jogo: Benfica ganha por 2 a 0; talvez a parte mais interessante da primeira crónica de uma colecção cuja ideia “nasceu” quando o Benfica, na passada segunda-feira, ganhava ao intervalo ao Boavista…)

    Enfim, e com isto o estádio esvazia, e eu vou ter de me pôr na alheta. Só mais uns acertos. Não sei como me saí. Se mal me saí hoje, tentarei melhorar na próxima. Se não se endireitar – enfim, considerem isto como terapêutico: para mim, claro.

    Queiram, portanto, leitores benévolos (ou beneméritos, que melhores serão), abrir as vossas piedosas portas da compreensão e acender a lâmpada da vossa paciência, para que a minha saúde melhore com a escrita destas crónicas, enquanto vejo futebol. E se não fizer bem à saúde (prevejo que o Benfica vai ter um campeonato trémulo), pelo menos que o meu ego se exalte, que arredado anda de carícias literárias.

    Ah, e decidi-me por Da Varanda da Luz. É título mais esotérico.

    E reparo que nem sequer tive tempo para comentar as incidências dos meus colegas de carteira, sobretudo o do lado esquerdo, muito compenetrado no relato para uma rádio (local, presumo…). Inveja: ele parecia conhecer todos os jogadores. Ou, pelo menos, inventou com convicção. E sem gaguejos.

    Entretanto, lá em baixo, treinam os jogadores do Benfica que não entraram, as bancadas estão vazias, tirando dois ou três jornalistas, enquanto na televisão os treinadores palram. Esta vida não me parece má de todo. Talvez regresse mesmo daqui a duas semanas. Acho que será contra o Vitória de Guimarães. Qualquer um servirá para este desiderato…