Categoria: Sociedade

  • Banco de Portugal: Cuatrecasas é incompetente para tratar dossier Novo Banco, mas já é a única capaz de tratar dossier BANIF

    Banco de Portugal: Cuatrecasas é incompetente para tratar dossier Novo Banco, mas já é a única capaz de tratar dossier BANIF


    No dia 27 de Outubro, o Banco de Portugal fez um ajuste directo com a Vieira de Almeida, considerando, sem se preocupar em fundamentar, que era a única capaz de a assessorar no dossier Novo Banco; mas três dias depois, tacitamente, passou-lhe um atestado de incompetência ao entregar um outro ajuste directo à Cuatrecasas, para assessoria ao dossier BANIF. A mesma Cuatrecasas tinha, implicitamente, sido considerada incapaz de tratar do dossier Novo Banco, daí nem sequer lhe ter sido dada oportunidade de mostrar as suas capacidades em concurso público. Pior, contudo, estão centenas e centenas de sociedades de advogados, sistematicamente incapacitados a participarem em concursos públicos, porque o regulador de Mário Centeno sempre invoca a inexistência de concorrência por “motivos técnicos” para ir entregando ajustes directos de milhões de euros de uma assentada sempre aos mesmos – leia-se: quase sempre à Vieira de Almeida e à Cuatrecasas.


    O título deste artigo poderia, em alternativa, ser “Banco de Portugal: Sociedade de advogados Vieira de Almeida é incompetente para tratar dossier BANIF, mas já é a única capaz de tratar dossier Novo Banco”. E isto porque, em dois contratos por ajuste directo, com uma distância temporal de três dias, o Banco de Portugal usou o mesmo argumento para a celebração de ajustes directos – a alegada inexistência de “concorrência por motivos técnicos” para escolher ora a Vieira de Almeida, para um, ora a Cuatrecasas, para outro.

    E, no entanto, os objectos de ambos os contratos, na assessoria jurídica na área da banca, e até a experiência de ambos as sociedades, são bastante similares. No contrato assinado no dia 27 de Outubro, como aliás o PÁGINA UM já noticiara, o regulador escolheu por ajuste directo a Vieira de Almeida para o acompanhamento, entre outros, da execução de acordo parassocial e do contrato de compra e venda e de subscrição de acções do Novo Banco entre o Fundo de Resolução e a Nani Holdings, do Acordo de Capitalização Contingente e do acordo de servicing, celebrados entre o Fundo de Resolução e o Novo Banco. Para este ajuste directo, o regulador decidiu definir um preço de 600 mil euros (sem IVA) por ano, sendo que somente estão garantidos os primeiros dois anos, sendo o terceiro, de igual montante, opcional.

    Mário Centeno, governador do Banco de Portugal desde Julho de 2020.

    Este contrato teve a particularidade de ter efeitos retroactivos, ou seja, a Vieira de Almeida estava a trabalhar para o Banco de Portugal desde Dezembro de 2022 sem estar suportado em qualquer contrato, embora a decisão para avançar com o contrato no valor global previsto de cerca de 2,2 milhões de euros (IVA incluído) tivesse sido tomada apenas a 19 de Setembro deste ano pela Comissão Executiva para os Assuntos Administrativos e de Pessoal do regulador presidido por Mário Centeno. Ou seja, terá havido uma combinação prévia para que esta sociedade de advogados começasse a executar tarefas antes da celebração de um contrato público, mas havendo garantia de ser paga sem ter de competir contra outros concorrentes.

    Mas o mais curioso é que a suprema experiência e a excelsa capacidade da sociedade Vieira de Almeida, para tratar de assuntos relacionados com o dossier Novo Banco – tão reconhecidas pelo Banco de Portugal, sendo esse o motivo por nem sequer ter valido a pena a abertura de um concurso público por inexistência de concorrência por motivos técnicos –, não são pergaminhos suficientes para tratar de assuntos similares relacionados com o dossier BANIF.

    Com efeito, o mesmo Banco de Portugal que considerou que a Vieira de Almeida era a única sociedade capaz de tratar do dossier Novo Banco, veio três dias depois ‘passar um atestado de incompetência’ para similares funções no dossier BANIF, uma vez que entregou essa função à Cuatrecasas por um motivo comprometedor: “não existe concorrência por motivos técnicos.

    De facto, conforme estabelece o caderno de encargos do ajuste directo entre o Banco de Portugal e a Cuatrecasas, assinado no dia 30 de Outubro, e publicado ontem no Portal Base, o objecto do contrato, além de incluir em questões correlacionadas com o outro contrato entregue à Vieira de Almeida associado ao Novo Banco e ao Fundo de Resolução do Banco Espírito Santo (BES) – nomeadamente “o patrocínio forense do Banco de Portugal/Fundo de Resolução, no âmbito dos processos instaurados”, e dos que o possam vir a ser, na sequência da Resolução do BES, em particular dos processos”, onde se destaca o diferendo da “Oak Finance” –, tem como objectivo a “assessoria jurídica ao Departamento de Resolução no acompanhamento dos assuntos extracontencioso relacionados com o BANIF/Oitante“.

    Em nenhum dos documentos incluídos nas várias peças dos procedimentos, em cada um dos dois contratos, se encontrou qualquer listagem de advogados ou de especialistas, tanto da Vieira de Almeida como da Cuatrecasas onde se comprove, sem margem para dúvidas e em prol da transparência na gestão de dinheiros públicos, que, nos respectivos contratos entregues, sejam imbatíveis. E se se assume que são imbatíveis nas funções de assessoria para o contrato que ganharam, não há nada que explique porque foram depois considerados incapazes para o outro concurso.

    Nos documentos integrantes dos dois processos que levaram aos dois ajustes directos nada consta sobre a fundamentação, em concreto e de facto, da inexistência, da concorrência por motivos técnicos, algo que constitui à partida um atestado de incompetência a centenas de sociedades de advogados que têm sido sistematicamente preteridas pelo Banco de Portugal em assessorias jurídicas.

    book lot on black wooden shelf

    Conforme o PÁGINA UM constatou em consulta ao Portal Base, a ‘regra’ do Banco de Portugal, detentora de um departamento jurídico próprio e de um orçamento generoso, tem sido entregar contratos por ajuste directo a sociedades de advogados, sendo evidentes as preferências pela Vieira de Almeida e a Cuatrecasas, sempre invocando urgência e/ ou ausência de concorrência.

    Até agora, a Vieira de Almeida destaca-se, com larga distância, da concorrência em contratos de ‘mão-beijada’: desde 2014 já facturou um total de 27,3 milhões de euros em serviços jurídicos desta natureza, dos quais quase 18 milhões desde 2018. Com o mais recente contrato de 2,8 milhões de euros (IVA incluído), a Cuatrecasas ultrapassou a fasquia dos 10 milhões de euros em ajustes directos: desde 2015, os nove contratos desta natureza com o Banco de Portugal permitiram-lhe uma facturação que se aproximará dos 12 milhões de euros.

    O contrato entre o Banco de Portugal e a Cuatrecasas integra o Boletim P1 da Contratação Pública e Ajustes Directos que agrega os contratos divulgados entre a passada sexta-feira e domingo. Desde Setembro, o PÁGINA UM apresenta uma análise diária aos contratos publicados no dia anterior (independentemente da data da assinatura) no Portal Base. De segunda a sexta-feira, o PÁGINA UM faz uma leitura do Portal Base para revelar os principais contratos públicos, destacando sobretudo aqueles que foram assumidos por ajuste directo.

    PAV


    Ontem, dia 7 de Novembro, no Portal Base foram divulgados 714 contratos públicos, com preços entre os 2,40 euros – para fornecimento de ferramentas, utensílios e electricidade, pelo Ministério da Defesa Nacional – Marinha, através de concurso público – e os 3.039.607,20 euros – para aquisição de medicamentos, pelo Centro Hospitalar Universitário de Santo António, através de ajuste directo.

    Com preço contratual acima de 500.000 euros, foram publicados 15 contratos, dos quais 10 por concurso público, três ao abrigo de acordo-quadro e dois por ajuste directo.

    Por ajuste directo, com preço contratual superior a 100.000 euros, foram publicados 11 contratos, pelas seguintes entidades adjudicantes: Centro Hospitalar Universitário de Santo António (com a Alnypt, Sociedade Unipessoal, no valor de 3.039.607,20 euros); Banco de Portugal (com a Cuatrecasas, Gonçalves Pereira & Associados, Sociedade de Advogados, no valor de 2.300.000,00 euros); Município da Trofa (com a Quadrocale – Obras de Arte, no valor de 223.000,00 euros); Metropolitano de Lisboa (com o Laboratório Nacional de Engenharia Civil, no valor de 190.000,00 euros); três do Município de Lisboa (dois com a Projecto 83, um no valor de 183.451,40 euros e outro no valor de 183.451,40 euros, e um com a Monocapa, Lda., no valor de 170.468,80 euros); Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Norte (com a Vertex Pharmaceuticals, no valor de 167.351,03 euros); Autoridade Tributária e Aduaneira    (com a Gartner Portugal, no valor de 162.000,00 euros); Município da Guarda (com a ETUG – Empresa de Transportes Urbanos da Guarda, no valor de 150.000,00 euros); e o Centro Hospitalar do Oeste (com a Cepheid Iberia, no valor de 144.567,00 euros).


    TOP 5 dos contratos públicos divulgados no dia 7 de Novembro

    (todos os procedimentos)

    1 Aquisição de medicamentos

    Adjudicante: Centro Hospitalar Universitário de Santo António

    Adjudicatário: Alnypt, Sociedade Unipessoal

    Preço contratual: 3.039.607,20 euros

    Tipo de procedimento: Ajuste directo


    2Empreitada de construção de ERPI, designado CIBES – Centro Integrado de Bem Estar e Saúde 

    Adjudicante: ASMAN – Associação de Solidariedade Social Mouta Azenha Nova

    Adjudicatário: Costa & Carreira, Lda.

    Preço contratual: 2.445.000,00 euros

    Tipo de procedimento: Concurso público


    3Aquisição de serviços de assessoria jurídica e de patrocínio judiciário           

    Adjudicante: Banco de Portugal       

    Adjudicatário: Cuatrecasas, Gonçalves Pereira & Associados, Sociedade de Advogados

    Preço contratual: 2.300.000,00 euros

    Tipo de procedimento: Ajuste directo


    4Empreitada de construção de empreendimento habitacional multifamiliar na Ilha de São Miguel

    Adjudicante: Vice-Presidência do Governo Regional

    Adjudicatário: Caetano & Medeiros – Sociedade de Construção Imobiliária

    Preço contratual: 2.141.569,23 euros

    Tipo de procedimento: Concurso público


    5Aquisição de medicamentos diversos   

    Adjudicante: Unidade Local de Saúde de Matosinhos

    Adjudicatário: Merck Sharp & Dohme

    Preço contratual: 1.884.810,47 euros

    Tipo de procedimento: Ao abrigo de acordo-quadro (artº 259º)


    TOP 5 dos contratos públicos por ajuste directo divulgados no dia 7 de Novembro

    1 Aquisição de medicamentos

    Adjudicante: Centro Hospitalar Universitário de Santo António

    Adjudicatário: Alnypt, Sociedade Unipessoal

    Preço contratual: 3.039.607,20 euros


    2Aquisição de serviços de assessoria jurídica e de patrocínio judiciário           

    Adjudicante: Banco de Portugal       

    Adjudicatário: Cuatrecasas, Gonçalves Pereira & Associados, Sociedade de Advogados

    Preço contratual: 2.300.000,00 euros


    3Aquisição de escultura de Alberto Carneiro

    Adjudicante: Município da Trofa

    Adjudicatário: Quadrocale – Obras de Arte

    Preço contratual: 223.000,00 euros


    4Assessoria técnica especializada para acompanhamento de empreitada no âmbito da expansão do Metropolitano de Lisboa

    Adjudicante: Metropolitano de Lisboa

    Adjudicatário: Laboratório Nacional de Engenharia Civil

    Preço contratual: 190.000,00 euros


    5Intervenção urgente para a criação de medidas de segurança na Creche “O Palhaço”

    Adjudicante: Município de Lisboa

    Adjudicatário: Projecto 83

    Preço contratual: 183.451,40 euros

    MAP

  • Expo 2025 em Osaka: Governo assinou contrato de 13,6 milhões de euros para obra efémera

    Expo 2025 em Osaka: Governo assinou contrato de 13,6 milhões de euros para obra efémera


    Em Setembro, o Governo garantiu que a comissária-geral para a participação de Portugal na Expo 2025, na cidade japonesa de Osaka, seria pro bono, mas qualquer que fosse a remuneração de Joana Gomes Cardoso seria sempre uma gota de água nos custos previstos. E o maior, envolvendo 13,6 milhões de euros, foi assumido na sexta-feira passada com a celebração do contrato de concepção, construção, manutenção, desmontagem e demolição do pavilhão português.

    O contrato foi ganho pela sucursal japonesa da Rimond, uma empresa de construção italiana com sede em Milão, que derrotou as propostas da kpm-3 (Suíça), da SPI (Emirados Árabes Unidos) e das portuguesas GEMA e Unloop. Tendo como adjudicatário a Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AIECP), ainda não existem muitos pormenores sobre o pavilhão, sabendo-se apenas que o tema é o habitual: os oceanos.

    A Expo Osaka-Kansai 2025 remodelará por completo a ilha artificial de Yumeshima, uma zona portuária com um extenso parque de painéis fotovoltaicos.

    De acordo com o contrato, o início efetivo dos trabalhos de construção deverá suceder logo após a consignação da obra, previsivelmente antes de meados de Abril do próximo ano, com o compromisso de estarem concluídas até, no máximo, 15 de Fevereiro de 2025.

    Nesse ínterim, até meados de Julho do próximo ano já deverão estar feitas as fundações e os elementos estruturais do Pavilhão de Portugal, de modo a serem objeto de vistoria pela organização da Expo 2025 Osaka Kansai. O contrato também incluiu a própria gestão do pavilhão e o seu posterior desmantelamento. Ou seja, estamos perante uma obra efémera de 13,6 milhões de euros.

    A Expo Osaka-Kansai 2025 decorrerá em Yumeshima, uma ilha artificial na baía de Osaka, entre 13 de Abril a 13 de Outubro daquele ano, estando prevista a participação de 153 países e oito organizações internacionais. E tem como tema genérico “Desenhar a sociedade do futuro nas nossas vidas”.

    Pormenor da ilha de Yumeshima.

    O contrato por concurso público para o pavilhão português na Expo 2025 em Osaka integram o Boletim P1 da Contratação Pública e Ajustes Directos que agrega os contratos divulgados entre a passada sexta-feira e domingo. Desde Setembro, o PÁGINA UM apresenta uma análise diária aos contratos publicados no dia anterior (independentemente da data da assinatura) no Portal Base. De segunda a sexta-feira, o PÁGINA UM faz uma leitura do Portal Base para revelar os principais contratos públicos, destacando sobretudo aqueles que foram assumidos por ajuste directo.

    PAV


    Nos últimos três dias, de sexta-feira passada até ontem, no Portal Base foram divulgados 855 contratos públicos, com preços entre os 10,74 euros – para aquisição de material eléctrico, pela Águas do Norte, ao abrigo de acordo-quadro – e os 13.600.000,00 euros – para aquisição de serviços de concepção, construção, manutenção, desmontagem e demolição de pavilhão na Expo 2025, pela Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal, através de concurso público.

    Com preço contratual acima de 500.000 euros, foram publicados 18 contratos, dos quais 12 por concurso público, cinco ao abrigo de acordo-quadro e um por ajuste directo.

    Por ajuste directo, com preço contratual superior a 100.000 euros, foram publicados 14 contratos, pelas seguintes entidades adjudicantes: Entidade Reguladora da Saúde (com a Ubiquity, no valor de 515.200,00 euros); Município de Coimbra (com a JMC – Serviços de Limpeza, no valor de 480.000,00  euros); Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Norte (com a Biogen Portugal, no valor de 394.556,67 euros); Infraestruturas de Portugal (com a Ascendi O&M, no valor de 343.790,00 euros); Município de Cascais (com a Ideia Matriz – Arquitectura e Urbanismo, no valor de 303.120,00 euros); Hospital Professor Doutor Fernando Fonseca (com a Noite e Dia – Vigilância, no valor de 189.413,88 euros); Unidade Local de Saúde do Alto Minho (com a ITAU – Instituto técnico de Alimentação Humana, no valor de 172.075,11 euros); Escola Secundária Antero de Quental (com a Auto Viação Micaelense, no valor de 165.132,17  euros); três do Município de Lisboa (um com a Monocapa, no valor de 156.068,80 euros, outro com a Vítor Lança Construções, no valor de 154.210,73 euros, e outro com a VNZ – Construção, no valor de 119.033,46 euros); Instituto de Acção Social das Forças Armadas (com a Noi, Lda., no valor de 152.627,93 euros); Centro Hospitalar Tondela-Viseu (com a Abbvie, no valor de 144.000,00 euros); e o Município de Monchique (com Leonel António de Jesus Duarte Timóteo, no valor de 110.168,30 euros). 


    TOP 5 dos contratos públicos divulgados no período de 3 a 5 de Novembro

    (todos os procedimentos)

    1 Concepção, construção, manutenção, desmontagem e demolição do Pavilhão de Portugal na Expo 2025

    Adjudicante: Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal

    Adjudicatário: RIMOND Japan

    Preço contratual: 13.600.000,00 euros

    Tipo de procedimento: Concurso público


    2Empreitada “Linha do Vouga – Reabilitação da Superestrutura de Via entre Oliveira de Azeméis e Sernada do Vouga”

    Adjudicante: Infraestruturas de Portugal      

    Adjudicatário: Mota-Engil

    Preço contratual: 4.536.990,90 euros

    Tipo de procedimento: Concurso público


    3Empreitada de abastecimento de água à Guarda e Celorico da Beira

    Adjudicante: Águas do Vale do Tejo

    Adjudicatário: António Saraiva e Filhos, Lda.          

    Preço contratual: 4.336.000,00 euros

    Tipo de procedimento: Concurso público


    4Unidade de produção fotovoltaica para autoconsumo

    Adjudicante: APS – Administração dos Portos de Sines e do Algarve

    Adjudicatário: Américo R. Rolo – Construções; Greenvolt Next Portugal   

    Preço contratual: 3.387.960,72 euros

    Tipo de procedimento: Concurso público


    5Empreitada de construção do Pavilhão Municipal de Vilar do Paraíso

    Adjudicante: Município de Vila Nova de Gaia         

    Adjudicatário: Edivalor – Construção e Obras Públicas

    Preço contratual: 2.602.944,80 euros

    Tipo de procedimento: Concurso público


    TOP 5 dos contratos públicos por ajuste directo divulgados no período de 3 a 5 de Novembro

    1 Aquisição de serviços para transformação digital da ERS e suporte

    Adjudicante: Entidade Reguladora da Saúde         

    Adjudicatário: Ubiquity          

    Preço contratual: 515.200,00 euros


    2Aquisição de serviços de limpeza das instalações municipais e dos estabelecimentos de ensino

    Adjudicante: Município de Coimbra 

    Adjudicatário: JMC – Serviços de Limpeza

    Preço contratual: 480.000,00 euros


    3Aquisição de medicamentos

    Adjudicante: Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Norte

    Adjudicatário: Biogen Portugal

    Preço contratual: 394.556,67 euros


    4Prestação de serviços de cobrança de portagens

    Adjudicante: Infraestruturas de Portugal

    Adjudicatário: Ascendi O&M

    Preço contratual: 343.790,00 euros


    5Aquisição de serviços para elaboração de projectos de urbanização e de infraestruturas e/ou de edificação

    Adjudicante: Município de Cascais  

    Adjudicatário: Ideia Matriz – Arquitectura e Urbanismo

    Preço contratual: 303.120,00 euros

    MAP

  • Fim de festa: SEF revela, em catadupa, ajustes directos engavetados há meses, e até anos

    Fim de festa: SEF revela, em catadupa, ajustes directos engavetados há meses, e até anos


    Na hora de arrumar gavetas, na transição para o novel Agência para a Integração, Migração e Asilo, a direcção do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras andou numa azáfama a divulgar no Portal Base um vasto conjunto de ajustes directos que há meses aguardavam a sua divulgação. Ou seja, eram desconhecidos. E em alguns casos sempre às mesmas empresas.

    Só na semana passada foram finalmente publicitados na plataforma da contratação pública 16 contratos celebrados por ajuste directo pelo SEF em 2022. E até há dois que foram assinados em 2021, e que só agora se tornam conhecidos. Mesmo nos contratos assinados este ano, o atraso é, na maior parte das vezes significativo: o Código dos Contratos Públicos determina a sua divulgação no prazo de 20 dias, mas somente dois, de entre os 31 contratos analisados com preço superior a 40 mil euros, cumpriram essa norma.

    Ao centro, Paulo Leitão Batista, último director do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras.

    Os contratos em causa são sobretudo ajustes directos para a aquisição de serviços de vigilância, de alimentação, de limpeza e de viagens, sendo o de maior valor o celebrado em 20 de Julho deste ano com a Securitas, para dois meses, no valor de 802.600 (sem IVA). Este contrato demorou assim 100 dias para ser revelado. Os quatro maiores ajustes directos são, aliás, com aquela empresa de segurança. O segundo mais valioso é de 644.425 euros e demorou 278 dias a ser conhecido. O terceiro é de 503.668 euros, tendo sido assinado há quase um ano (7 de Novembro de 2022). E o quarto teve um valor de 475.346 euros, e ainda é mais antigo: foi celebrado em 3 de Junho de 2022, demorando assim 512 dias a ser conhecido no Portal Base.

    O PÁGINA UM já tinha revelado na passada semana alguns dos contratos do SEF divulgados com atraso, mas sem sequer se imaginar então que se estava perante a ponta do icebergue: se na notícia de 26 de Outubro se revelava que o antecessor da AIMA se esquecera de divulgar quatro ajuste directos no valor global de 900 mil euros durante mais de um ano, na verdade se consideramos os contratos acima de 100 mil euros já se contabilizam 11. Estes contratos com mais de um ano ‘empoeirados’ totalizam 2.535.806 euros, que se transformam em mais de 3,1 milhões de euros se se incluir o IVA.

    No total dos contratos com preço superior a 40 mil euros divulgados pelo SEF na semana passada, apenas quatro foram antecedidos por concurso público, todos no sector das viagens, embora a Top Atlântico tenha sacado um ajuste directo de 300.000 euros, que foi assinado em 18 de Janeiro do ano passado, demorando assim 646 longos dias a ser colocado no Portal Base.

    Securitas acumulou contratos por ajuste directo para vigiar instalações de uma força de segurança do Estado.

    Considerando apenas os ajustes directos acima dos 40 mil euros, o preço contratual total atinge quase 6,8 milhões de euros. O maior beneficiário dos ajustes directos do SEF nesta amostra foi a Securitas com 13 contratos, e um valor global (sem IVA) de 4.548.705 euros. Segue-se a empresa de limpeza Fine Facility Services, com quatro ajustes directos e 720.595 euros em caixa, e as empresas de refeições ICA e ITAU, com três cada, embora a primeira tenha arrecadado um pouco menos de 250 mil euros e a segunda um pouco mais de 514 mil euros. .

    A agência de viagens Top Atlântico também conta três contratos agora divulgados pelo SEF, embora dois tenham sido por concurso público. Significa quase 890 mil euros amealhados, cerca de 590 mil foram por ganhos após vencer a concorrência. A Creative Minds foi a empresa com menos facturação no lote destes contratos, mas o seu contrato bate o recorde de atraso: 898 dias: o ajuste directo foi assinado em 11 de Maio de 2021.

    Recorde-se que o SEF, criado em 1986, foi oficialmente extinto este domingo, dando lugar à AIMA, presidida por Luís Goes Pinheiro, concretizando a materialização de uma decisão política anunciada pelo Governo há três anos na sequência do homicídio de um ucraniano no aeroporto de Lisboa. As valências que este organismo de segurança concentrava, no âmbito do controlo das fronteiras, ficarão agora a cargo de cinco entidades, para onde irão migrar os seus 1.708 trabalhadores: a Polícia Judiciária, a PSP, a GNR, a AIMA e o Instituto dos Registos e Notariado.

    Lista de contratos celebrados pela SEF com preço superior a 400 mil euros e divulgados na semana passada. Fonte: Portal Base. Análise: PÁGINA UM.

    Ainda está a ser ponderada a passagem de alguns funcionários para a Autoridade Tributária ou para a Unidade de Coordenação de Fronteiras e Estrangeiros.

    O novo modelo português, que não encontra paralelo na União Europeia e que levanta muitas dúvidas quanto à sua eficácia, ainda está a arrancar ainda em modo de meio-gás. Embora as funções administrativas se tenham iniciado ontem, a AIMA ainda nem sequer dispõe de uma plataforma online, e desconhece-se qual a data exacta do seu lançamento.

    Entretanto, a inexistência de um site significa que certos processos administrativos por via online ficam em suspenso, não sendo possível, por exemplo, a potenciais imigrantes avançar com pedidos de Autorização de Residência.

    Mas não é só no plano digital que esta nova agência ainda não se encontra a funcionar em pleno. Também no que respeita a balcões físicos, que serão 34 a nível nacional, não foram ainda divulgadas quaisquer moradas. Com esta restruturação, a AIMA fica com mais de 300 mil pedidos de legalização de imigrantes em mãos.

    Um total de 15 contratos integram o Boletim P1 da Contratação Pública e Ajustes Directos que agrega os contratos divulgados entre a passada sexta-feira e domingo. Desde Setembro, o PÁGINA UM apresenta uma análise diária aos contratos publicados no dia anterior (independentemente da data da assinatura) no Portal Base. De segunda a sexta-feira, o PÁGINA UM faz uma leitura do Portal Base para revelar os principais contratos públicos, destacando sobretudo aqueles que foram assumidos por ajuste directo.

    PAV/MAP


    Nos últimos três dias, de sexta-feira passada até ontem, no Portal Base foram divulgados 835 contratos públicos, com preços entre os 13,54 euros – para aquisição de medicamentos, pela Unidade Local de Saúde de Matosinhos, ao abrigo de acordo-quadro – e os 3.046.000,00 euros – para empreitada de reabilitação e reconstrução de cemitério, pelo Município de Machico, através de concurso público.

    Com preço contratual acima de 500.000 euros, foram publicados 15 contratos, dos quais sete por concurso público, um ao abrigo de acordo-quadro, seis por ajuste directo e um através de consulta prévia.

    Por ajuste directo, com preço contratual superior a 100.000 euros, foram publicados 30 contratos, pelas seguintes entidades adjudicantes: Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo (com a Interlimpe – Facility services, no valor de 2.750.210,99 euros); Banco de Portugal (com a Vieira de Almeida & Associados – Sociedade de Advogados, no valor de 1.800.000,00 euros), que já foi abordado nesta notícia; 15 do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (com a Securitas – Serviços e Tecnologia e Segurança, um no valor de 802.599,52 euros, outro no valor de 664.425,28 euros, outro no valor de 503.668,41 euros, outro no valor de 475.345,70 euros, outro no valor de 273.595,72 euros, outro no valor de 273.461,82 euros, outro no valor de 273.329,74 euros, outro no valor de 272.265,67 euros, outro no valor de 236.188,84 euros e outro no valor de 142.316,66 euros; com a Alive Portugal – Agência de Viagens, no valor de 300.000,00 euros; com a Fine Facility Services, um no valor de 284.742,00 euros, outro no valor de 199.319,40 euros, e outro no valor de 179.584,96 euros); três do Hospital de Braga (um com a Biogen Portugal, no valor de 725.558,42 euros, outro com a Astellas Farma, no valor de 172.800,00 euros, e outro com a Novartis Farma, no valor de 125.007,85 euros); Unidade Local de Saúde de Matosinhos (com a Daiichi Sankyo, no valor de 489.600,00 euros); Fundação INATEL (com a Enforcesco S.A., no valor de 372.270,81 euros); Autoridade Tributária e Aduaneira (com a Opensoft Soluções Informáticas, no valor de 343.200,00 euros); Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central (com a Vertex Pharmaceuticals, no valor de 299.747,47 euros); dois do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (um com a Alexion Pharma Spain, no valor de 170.734,00 euros, e outro com a Octapharma, no valor de117.000,00 euros); Águas do Tejo Atlântico (com a A2O – Água, Ambiente e Organização, no valor de 144.593,87 euros); Município de Aveiro (com a Arfus – Sociedade de Construções, no valor de 135.805,00 euros); RSTJ – Gestão e Tratamento Resíduos (com a Betão Liz, S.A., no valor de 135.728,50 euros); Aquanena – Empresa Municipal de Águas e Saneamento de Alcanena (com a Teletejo – Energia e Comunicações, no valor de 134.800,00 euros); e o Laboratório Nacional de Engenharia Civil (com a Rui Pena, Arnaut & Associados – Sociedade De Advogados, no valor de 112.500,00 euros).


    TOP 5 dos contratos públicos divulgados no período de 27 a 29 de Outubro

    (todos os procedimentos)

    1 Reabilitação e reconstrução do Cemitério do Porto da Cruz

    Adjudicante: Município de Machico 

    Adjudicatário: Socicorreia – Engenharia

    Preço contratual: 3.046.000,00 euros

    Tipo de procedimento: Concurso público


    2Aquisição de consumíveis e locação de robot para cirurgias   

    Adjudicante: Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central

    Adjudicatário: Excelência Robótica Portugal           

    Preço contratual: 2.759.862,28 euros

    Tipo de procedimento: Concurso público


    3Aquisição de serviços de higiene e limpeza

    Adjudicante: Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo

    Adjudicatário: Interlimpe – Facility services 

    Preço contratual: 2.750.210,99 euros

    Tipo de procedimento: Ajuste directo


    4Aquisição de serviços de assessoria jurídica    

    Adjudicante: Banco de Portugal       

    Adjudicatário: Vieira de Almeida & Associados – Sociedade de Advogados         

    Preço contratual: 1.800.000,00 euros

    Tipo de procedimento: Ajuste directo


    5Reabilitação de estrada municipal

    Adjudicante: Resulima – Valorização e Tratamento de Resíduos Sólidos

    Adjudicante: Duque & Duque – Terraplanagens

    Preço contratual: 1.148.923,05 euros

    Tipo de procedimento: Concurso público


    TOP 5 dos contratos públicos por ajuste directo divulgados no período de 27 a 29 de Outubro

    1 Aquisição de serviços de higiene e limpeza

    Adjudicante: Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo

    Adjudicatário: Interlimpe – Facility services 

    Preço contratual: 2.750.210,99 euros


    2Aquisição de serviços de assessoria jurídica    

    Adjudicante: Banco de Portugal       

    Adjudicatário: Vieira de Almeida & Associados – Sociedade de Advogados         

    Preço contratual: 1.800.000,00 euros


    3Serviços de vigilância e segurança humana

    Adjudicante: Serviço de Estrangeiros e Fronteiras 

    Adjudicatário: Securitas – Serviços e Tecnologia e Segurança

    Preço contratual: 802.599,52 euros


    4Aquisição de medicamentos

    Adjudicante: Hospital de Braga

    Adjudicatário: Biogen Portugal         

    Preço contratual: 725.558,42 euros


    5Serviços de vigilância humana   

    Adjudicante: Serviço de Estrangeiros e Fronteiras 

    Adjudicatário: Securitas – Serviços e Tecnologia e Segurança

    Preço contratual: 664.425,28 euros

    MAP

  • Banco de Portugal: Sociedade de advogados começa sempre a trabalhar sem contratos para depois facturar milhões

    Banco de Portugal: Sociedade de advogados começa sempre a trabalhar sem contratos para depois facturar milhões


    Podia ser só de vez em quando, uma excepção a quebrar a regra. Mas não. O contrato assinado na quinta-feira passada, neste caso para assessoria jurídica no processo do Novo Banco, entre o Banco de Portugal e a sociedade de advogados Vieira de Almeida segue uma regra basilar: primeiro, dá-se ‘luz verde de boca’ para se começar a prestar serviços jurídicos, por vezes durante meses ou até mais de um ano, e a seguir assina-se um ajuste directo com efeitos retroactivos, argumentando-se com excepções do Código dos Contratos Públicos. Este expediente sui generis de muito duvidosa legalidade e de ética mais do que questionável tem sido proveitoso para a Vieira de Almeida: sem concorrência, acumula 27,3 milhões de euros em 10 contratos desde 2014. A Cuatrecasas, a segunda sociedade na lista de favoritos do Banco de Portugal em ajustes directos, está a 17 milhões de euros de distância.


    A sociedade de advogados Vieira de Almeida esteve, desde Dezembro de 2022 até à quinta-feira passada, a prestar assessoria jurídica ao Banco de Portugal sem estar suportado em qualquer contrato. Um ajuste directo assinado na quinta-feira passada, para um período de três anos, no valor global de cerca de 2,2 milhões de euros (IVA incluído), foi o expediente usado para tentar legalizar este procedimento, mas nos documentos a que o PÁGINA UM teve acesso verifica-se que a decisão do contrato somente foi tomada há cerca de um mês, em 19 de Setembro, pela Comissão Executiva para os Assuntos Administrativos e de Pessoal do regulador presidido por Mário Centeno. Ou seja, terá havido uma combinação prévia para que esta sociedade de advogados começasse a executar tarefas antes da celebração de um contrato público, mas havendo garantia de ser paga sem ter de competir contra outros concorrentes.

    Tudo numa base de confiança, até porque esta não é a primeira vez que tal sucede – é já a 10ª vez, pelo menos. Mas já lá vamos.

    No caso do mais recente ajuste directo, em causa está a assessoria jurídica ao Banco de Portugal para o acompanhamento, entre outros, da execução acordo parassocial e do contrato de compra e venda e de subscrição de acções do Novo Banco entre o Fundo de Resolução e a Nani Holdings, do Acordo de Capitalização Contingente e do acordo de servicing, celebrados entre o Fundo de Resolução e o Novo Banco. O Banco de Portugal decidiu definir um preço de 600 mil euros (sem IVA) por ano, sendo que somente estão garantidos os primeiros dois anos, sendo o terceiro, de igual montante, opcional.

    Embora haja referência no caderno de encargos deste contrato a um preço hora pelos serviços, não se encontra nos documentos no Portal Base qualquer valor em concreto do preço a cobrar por hora em função da experiência dos advogados. Em contratos similares, um advogado sénior de uma grande sociedade pode cobrar mais de 300 euros, enquanto os serviços de um estagiário ou de um recém advogado acenderá aos 100 euros.

    Mas como não se coloca nenhum valor, deduz-se assim que a Vieira de Almeida garantirá um valor muito próximo do máximo contratualizado – como tem sido prática nos mais recentes contratos com o Banco de Portugal já integralmente executados. Para fazer o quê em concreto dentro do vago objecto deste contrato? Também não se sabe, mas será certamente assessoria jurídica que nenhuma outra sociedade de advogados seria capaz.

    Mário Centeno, governador do Banco de Portugal desde Julho de 2020.

    Isto pelo menos a atender ao facto de o Banco de Portugal aludir à norma do Código dos Contratos Públicos onde se justifica que o ajuste directo pode ser o procedimento legal caso “não exista concorrência por motivos técnicos”. Ou seja, sem explicitar em concreto o que a Vieira de Almeida tem de especial, o Banco de Portugal passa um atestado de incompetência a todas as outras sociedades de advogados.

    Como tem sido hábito em outros contratos destacados pelo PÁGINA UM, o Banco de Portugal simplesmente invoca uma norma de excepção, para evitar um concurso público (com livre e justa concorrência, que visa a melhor qualidade-preço), não procurando sequer ocupar uma linha com uma justificação concreta para a inexistência de concorrência por motivos técnicos.

    Este não é, como já se disse, o primeiro ajuste directo entre o Banco de Portugal e a Vieira de Almeida. E nem sequer o único que comete o ‘pecado’ de usar o mesmo expediente: os advogados começam a trabalhar para o regulador sem qualquer contrato e depois, passados uns quantos meses, por vezes mais de um ano, surge então um contrato por ajuste direito com recurso às excepções para não se ter de fazer concurso público.

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    Assim, desde 2011, esta conhecida sociedade de advogados já celebrou 12 contratos sem o incómodo da concorrência, isto é, por ajuste directo. O novo contrato da quinta-feira passada nem sequer é o mais chorudo. Em Junho de 2018 foi assinado um contrato de 5,97 milhões de euros (IVA incluído), por um prazo de três anos, para serviços de assessoria jurídica e de patrocínio jurídico, que se desconhecem por não constarem no Portal Base. Este contrato abrangeu logo os 179 dias de trabalho anteriores, uma vez que foi assinado em 25 de Junho de 2018, mas entrou em vigor retroactivamente a partir de 28 de Dezembro do ano anterior.

    Foi a partir de 2018 que a facturação da Vieira de Almeida com o Banco de Portugal passou para outros patamares. No primeiro ajuste directo, em 2011, a sociedade de advogados conseguiu apenas previsão de facturar 800 mil euros (IVA incluído), mas acabou por receber um pouco menos de 200 mil euros, porque tudo foi contabilizado à hora. O mesmo sucedeu com o contrato de 2013, que estava previsto atingir também os 800 mil euros, mas ficou-se pelos 100 mil. Nestes dois contratos não é possível saber se tiveram efeitos retroactivos porque não constam documentos no Portal Base.

    Entre 2014 e 2017, a Vieira de Almeida começou a ter direito, por rotina, a assinar um contrato por ano no valor máximo de 1,85 milhões de euros, tendo arrecadado praticamente toda a verba. E foi aqui que começou o expediente de começar a trabalhar antes para garantir o ajuste directo depois. No contrato de 2014, a Vieira de Almeida trabalhou 144 dias antes da assinatura do contrato, no de 2015 foram 266 dias, no de 2016 contabilizam-se 207 dias e no de 2017 são 244 dias. Em 2015 ainda houve um pequeno ajuste directo, que se previa de 246 mil euros, mas a sociedade de advogados só facturou pouco mais de 36 mil. Até neste o início da prestação de serviços é anterior à data do contrato: 75 dias antes.

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    Com o contrato de 2018, no valor de 5,97 milhões de euros, subiu-se a parada, até porque se foram acumulando contratos em vigor. Por exemplo, quando foi assinado o contrato de 2018, ainda não tinham sido integralmente executados os contratos de 2016 e 2017, uma vez que estes abrangiam três anos.

    Assim, embora em 2019 não tivesse sido assinado qualquer contrato, ainda estavam em vigor dois. Na verdade, estariam três, mas um deles só se soube em 2020: em 31 de Janeiro desse ano foi celebrado mais um ajuste directo, no valor de 1,1 milhões de euros, mas o Banco de Portugal considerou que a prestação de serviços começara 609 dias antes, em 1 de Junho de 2018. Ou seja, um ano e oito meses!

    Independentemente de se saber ao certo, em determinada data quantos contratos afinal estavam em vigor, certo é que em 2021 o Banco de Portugal entregou dois contratos à Vieira de Almeida. O primeiro foi assinado em Fevereiro, no valor de quase 5,4 milhões de euros e com duração de três anos; e o segundo assinado em Novembro no valor de cerca de 3,1 milhões de euros e com a duração de dois anos. Mas, enfim, ambos já tinham afinal começado no ano anterior, respectivamente em 1 de Dezembro e 1 de Agosto.

    Data dos contratos por ajuste directo entre o Banco de Portugal e a Vieira de Almeida, as datas de início de vigência, os dias de prestação de serviços sem contrato e os valores financeiros envolvidos em euros. Fonte: Portal Base. Análise: PÁGINA UM.

    Para se ter uma ideia da trapalhada legal, se no dia 31 de Dezembro de 2020 alguém quisesse saber quantos contratos existiam entre o Banco de Portugal e a Vieira de Almeida, a resposta seria: um – o contrato de três anos que se iniciara em 1 de Junho de 2018. Porém, no dia 2 de Fevereiro de 2021 afinal ficou-se a saber que havia outro, que se iniciara em 1 de Dezembro, e depois, em 31 de Novembro de 2021 ficou-se também a saber, por um outro contrato, que afinal no dia 31 de Dezembro de 2020 havia em vigor um terceiro contrato. Confuso, não? Ou dever-se-á dizer antes que é ilegal?

    O segundo contrato de 2021, no valor de quase 3,1 milhões de euros, constitui o cúmulo da irregularidade jurídica na contratação pública: sendo assinado em 18 de Novembro de 2021, a cláusula segunda que diz que “o contrato reporta os seus efeitos a 1 de Agosto de 2020 e mantém-se em vigor pelo prazo máximo de 2 (de dois anos)” Ou seja, quando foi assinado um contrato de dois anos, afinal já teriam sido executados serviços ao longo dos 15 meses e 18 dias anteriores.

    Tudo somado, e mesmo sabendo-se que o Banco de Portugal possui um departamento de serviços jurídicos, a Vieira de Almeida já sacou, com estes expedientes sob a forma de ajustes directos desde 2014 um total de 27,3 milhões de euros em serviços jurídicos, dos quais quase 18 milhões desde 2018.

    De acordo com a consulta do PÁGINA UM ao Portal Base, a Vieira de Almeida destaca-se, com larga distância, da concorrência em contratos de mão-beijada: a segunda sociedade com mais ajustes directos com o regulador é a Cuatrecasas que, desde 2015, ‘só’ conseguiu oito contratos desta natureza no valor global de 9 milhões de euros (IVA incluído).

    Suceder tudo isto com o regulador do sector financeiro e bancário e envolvendo uma das mais conceituadas sociedades de advogados, perante a passividade do Tribunal de Contas e do Ministério Público, mostra bem o estado da gestão dos dinheiros públicos. E parecendo isto ser uma opinião jornalística, é na verdade a conclusão honesta com base em factos comprovados por documentos oficiais.

  • Sporting de Braga: Empresa municipal de água, lixos e esgotos gasta 60.855 euros para ir à bola em camarote

    Sporting de Braga: Empresa municipal de água, lixos e esgotos gasta 60.855 euros para ir à bola em camarote


    Criada em 1999, para suceder aos Serviços Municipalizados de Águas e Saneamento, a empresa municipal AGERE foi fazendo, ao longo de mais de duas décadas, o seu trabalho habitual: distribuir água potável, tratar dos esgotos e gerir os lixos urbanos. E assim sempre fizeram, sem interrupções.

    Mas no passado dia 18 de Agosto, porventura para desfastio das horas encerrados em gabinetes, o Conselho de Administração tomou uma solene decisão: deliberou a abertura de um procedimento para a celebração de um contrato para aquisição do… “direito de utilização de um camarote ao Sporting Clube de Braga (SCB) – Futebol, SAD. (Época 2023/2024)”. Nem mais, para ir à bola em camarote num estádio que, formalmente, é propriedade da Câmara Municipal de Braga e arrendado ao clube da cidade por 500 euros por mês. Enquanto tratavam de águas e esgotos, a administração da AGERE demorou a concluir os procedimentos, e o contrato avançou, tendo sido ontem assinado.

    De acordo com o contrato assinado por ajuste directo, a AGERE comprometeu-se a pagar à SAD do Sporting de Braga um total de 60.885 euros (IVA incluído) para a utilização de um camarote no estádio minhoto até ao final da época desportiva em Junho do próximo ano. Contas feitas, como a Administração já ‘perdeu’ quatro jogos em casa do Braga para a Liga, então os 13 restantes jogos vão custar à AGERE, através de dinheiros públicos, quase 4.700 euros por cada 90 minutos de tempo regulamentar. Se consideramos a duração temporal, dará um custo mensal de 7.500 euros para a empresa municipal pelo usufruto do camarote integrado num estádio municipal arrendado por 500 euros ao Braga.

    Embora os preços dos camarotes esteja “sob consulta”, no site do Sporting de Braga apresentam-se fotos de algumas destas instalações, um dos quais tem uma mesa para 10 pessoas, mais do que suficiente para, por exemplo, fazer reuniões do Conselho de Administração da AGERE.

    Para seduzir os interessados, o Sporting de Braga elenca também um extenso rol de mordomias para aquilo que é caracterizado como um “espaço privilegiado para a realização de negócios através do contacto direto com os nossos parceiros”: serviços de catering com direito a hospedeiras, “hospitality account dedicado”, lugares de estacionamento, e a possibilidade de utilização do espaço em outros dias que não os dos jogos.

    E não se esquecem também deliciosos ‘brindes & ofertas’ como camisolas oficiais, cachecóis, canetas e pins, duas viagens para jogos das competições europeias, “oportunidade de tirar uma fotografia com o seu jogador favorito na zona mista” e ainda “possibilidade de um familiar, até 11 anos, entrar em campo com um jogador”. Tudo isto ficará agora à disposição dos administradores da empresa municipal AGERE e mais os seus convidados por 60.885 euros, que correspondem, na verdade, a mais de 250 lugares cativos (Lugar Guerreiro) de época para o estádio bracarense.

    O contrato foi assinado, da parte da SAD do Braga, pelo director financeiro Cláudio Couto e pelo administrador João Pedro Carvalho, enquanto do lado da AGERE as assinaturas são apenas dos administradores Paula Nívea Campos e António Almeida Silva. O presidente da empresa municipal, Rui Morais, chegou a ser economista do Sporting de Braga há duas décadas, não apôs a sua assinatura no contrato.

    Mesmo tendo em conta ineditismo deste contrato – o PÁGINA UM não descobriu qualquer outro similar para uma entidade pública assistir a espectáculos desportivos, muito menos em camarote –, a fundamentação avançada pelo Conselho de Administração da AGERE para este ajuste directo atinge a excentricidade: foi a inexistência de “concorrência por motivos técnicos”, ou seja, a subalínea ii) do artigo 24º do Código dos Contratos Públicos, que se invocou para, com dinheiros públicos, não se lançar um concurso público para a aquisição de um camarote para assistir à bola. Visto está que a Administração da AGERE queria ver jogos do Braga e só do Braga.

    Paula Nívea Campos, assinou o contrato para o camarote no estádio do Braga. O presidente da AGERE, Rui Morais, que já trabalhou no Sporting de Braga, optou por não assinar.

    Além disto, há informações omitidas no Portal Base, mesmo se a AGERE até foi lesta a publicitar o seu ajuste directo, no mesmo dia em que foi assinado, algo que não é frequente em outras entidades públicas. Por lei, a divulgação deve ser feita no prazo de 20 dias. Com efeito, a versão disponibilizada não oferece detalhes adicionais sobre os termos do contrato, nem inclui o respectivo Caderno de Encargos. Assim, desconhecem-se as condições acordadas entre a empresa municipal e o clube desportivo, designadamente o número de lugares de acesso e outras eventuais mordomias. O PÁGINA UM contactou a Administração da AGERE pedindo esclarecimentos sobre este contrato e os motivos para o pagamento, mas não obteve resposta.

    Recorde-se que o Estádio de Braga vai acumulando polémicas desde que foi construído para o Euro 2004: Depois de ter já custado a módica quantia de 200 milhões de euros ao erário público, quando a estimativa inicial apontava para apenas 29,9 milhões de euros, como refere uma investigação recente do Público.

    Os custos para a Câmara agora liderada pelo social-democrata Ricardo Rio são tantas que a autarquia quer vender o estádio. Apesar de elogiada a sua arquitectura por estar integrada numa antiga pedreira, e ter sido da autoria de Souto Moura, este é o estádio português mais caro de sempre, mas nem sequer terá condições para integrar os equipamentos do Mundial de 2030, uma vez que tem menos de 40 mil lugares.

    Agora, e sendo certo que não estamos a falar de milhões, mas sim de 60.885 euros, a Pedreira (como popularmente chamado), pode passar a ser também conhecido como primeiro estádio português onde uma empresa pública pagou para assistir a jogos de futebol. E de camarote.

    Este contrato não está incluído neste Boletim P1 da Contratação Pública e Ajustes Directos, mas pelo facto de ser mais um caso paradigmático de má utilização dos dinheiros públicos, consideramos relevante divulgá-lo. Desde Setembro, o PÁGINA UM apresenta uma análise diária aos contratos publicados no dia anterior (independentemente da data da assinatura) no Portal Base. De segunda a sexta-feira, o PÁGINA UM faz uma leitura do Portal Base para revelar os principais contratos públicos, destacando sobretudo aqueles que foram assumidos por ajuste directo.

    PAV/MAP


    Ontem, dia 26 de Outubro, no Portal Base foram divulgados 678 contratos públicos, com preços entre os 8,57 euros – para aquisição de serviço de comunicações fixas, pelo Ministério da Defesa Nacional – Marinha, através de ajuste directo – e os 67.696.893,79 euros – para empreitadas de linhas de Muito Alta Tensão, pela REN – Rede Eléctrica Nacional, através de procedimento de negociação.

    Com preço contratual acima de 500.000 euros, foram publicados 19 contratos, dos quais 15 por concurso público, um ao abrigo de acordo-quadro, um através de procedimento de negociação e dois por ajuste directo.

    Por ajuste directo, com preço contratual superior a 100.000 euros, foram publicados 10 contratos, pelas seguintes entidades adjudicantes: Infraestruturas de Portugal (com a Alstom Ferroviária Portugal, no valor de 829.166,20 euros); Município de Albufeira (com a Távola Nostra – Eventos Globais, no valor de 532.000,00 euros); Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (com a Top Atlântico Viagens e Turismo, no valor de 300.000,00 euros); Instituto Português de Oncologia do Porto Francisco Gentil (com a Novartis Farma, no valor de 276.100,00 euros); Centro Hospitalar de Trás-os-Montes  Alto Douro (com a Philips, no valor de 149.246,00 euros); Município de Fafe (com a CP – Comboios de Portugal, no valor de 132.749,00 euros); Município de São João da Pesqueira (com a Transdev Interior, no valor de 126.736,84 euros); Banco de Portugal (com a BT Global ICT Business Spain, no valor de 116.100,00 euros); Município de Leiria (com a Fusion Originale International Projects, no valor de 106.070,00 euros); e a Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo (com a Precise, no valor de 104.334,00 euros).


    TOP 5 dos contratos públicos divulgados no dia 26 de Outubro

    (todos os procedimentos)

    1 Empreitadas de linhas de Muito Alta Tensão

    Adjudicante: REN – Rede Eléctrica Nacional

    Adjudicatário: CME – Construção e Manutenção Electromecânica; EIP – Serviços

    Preço contratual: 67.696.893,79 euros

    Tipo de procedimento: Procedimento de negociação


    2Aquisição de energia eléctrica em Alta, Média e Baixa Tensão

    Adjudicante: EPAL – Empresa Portuguesa das Águas Livres

    Adjudicatário: Iberdrola Portugal

    Preço contratual: 7.037.817,94 euros

    Tipo de procedimento: Concurso público


    3Aquisição de energia eléctrica em Alta, Média e Baixa Tensão

    Adjudicante: Águas do Vale do Tejo

    Adjudicatário: Iberdrola Portugal

    Preço contratual: 4.903.430,46 euros

    Tipo de procedimento: Concurso público


    4Fornecimento de energia em Baixa Tensão Normal (BTN)

    Adjudicante: Município de Albufeira 

    Adjudicatário: Endesa Energia         

    Preço contratual: 4.528.000,00 euros

    Tipo de procedimento: Concurso público


    5Modernização da infraestrutura tecnológica de centros de dados

    Adjudicante: Secretaria Regional das Finanças     

    Adjudicatário: MC – Computadores  

    Preço contratual: 3.599.835,42 euros

    Tipo de procedimento: Concurso público


    TOP 5 dos contratos públicos por ajuste directo divulgados no dia 26 de Outubro

    1 Aquisição de balizas para alteração dos troços Faro/Vila Real de Santo António e Tunes/Lagos    

    Adjudicante: Infraestruturas de Portugal

    Adjudicatário: Alstom Ferroviária Portugal

    Preço contratual: 829.166,20 euros


    2Aquisição do evento Albufeira Carpe Nox 2024

    Adjudicante: Município de Albufeira 

    Adjudicatário: Távola Nostra – Eventos Globais

    Preço contratual: 532.000,00 euros


    3Serviços de viagens (transporte aéreo, alojamento e aluguer de viaturas)     

    Adjudicante: Serviço de Estrangeiros e Fronteiras 

    Adjudicatário: Top Atlântico Viagens e Turismo

    Preço contratual: 300.000,00 euros


    4Aquisição de medicamentos

    Adjudicante: Instituto Português de Oncologia do Porto Francisco Gentil

    Adjudicatário: Novartis Farma          

    Preço contratual: 276.100,00 euros


    5Substituição de ampolas de TAC e Raio-X

    Adjudicatário: Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro

    Adjudicatário: Philips

    Preço contratual: 149.246,00 euros

    MAP

  • Serviço de Estrangeiros e Fronteiras divulga ajustes directos de 900 mil euros ‘esquecidos’ durante mais de um ano

    Serviço de Estrangeiros e Fronteiras divulga ajustes directos de 900 mil euros ‘esquecidos’ durante mais de um ano


    Quem desespera pela lentidão do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) nos aeroportos ou em outros processos banais, saiba que há outro tipo de ‘lentidões’, mas estas ilegais. Apesar de o Código dos Contratos Públicos estipular um prazo de 20 dias para a inserção de contratos no Portal Base, o SEF só esta semana divulgou naquela plataforma quatro ajustes directos de montante elevado que foram celebrados no ano passado. O valor global destes contratos é de 900 mil euros.

    Três destes contratos foram publicados ontem no Portal Base. Dois deles destinaram-se a alimentação, mas com adjudicatários diferentes, e a demora não foi igual. Com a ITAU – Instituto Técnico de Alimentação Humana, o contrato no valor de 298.762 euros foi celebrado em 26 de Janeiro de 2022, ou seja, acabou por ser conhecido 637 dias depois. Como teve uma duração de 183 dias, nem memória se tem das migalhas.

    Por sua vez, com a ICA – Indústria e Comércio Alimentar, o contrato serviu para fornecer refeições no centro de instalação temporária do aeroporto do Porto e da unidade habitacional de Santo António. O ajuste directo foi feito em 26 de Janeiro do ano passado por um montante de164.468 euros. Demorou, portanto, 637 dias para ser conhecido, sabendo-se agora que esteve em vigor até Dezembro de 2022.

    O terceiro ajuste directo conhecido ontem foi para serviços de vigilância humana, que beneficiou a Securitas. O contrato só vigorou por um mês (Janeiro de 2022), mas mesmo assim custou ao erário público 300.000 euros. A liderança do SEF achou por bem “esperar” 645 dias para lhe dar conhecimento público. Curiosamente, desde a assinatura do contrato. Este nem foi o maior ajuste directo à Securitas concedido pelo SEF: desde 2021 contabilizam-se sete contratos desta natureza, sendo que o de maior montante foi assinado em Fevereiro de 2022 por um milhão de euros com uma duração de quatro meses, ou seja, 250.000 euros por mês. Por sinal este contrato demorou menos de três meses a ser colocado no Portal Base.

    Por ajuste directo, o contrato de segurança mais recente entre estas duas entidades ocorreu já este mês, no valor de 232.200 euros, por um prazo de 92 dias, mas acabou por demorar apenas 14 dias a ser colocado no Portal Base. Neste caso, o contrato tem um prazo de 92 dias, ou seja, cerca de 77 mil euros por mês,

    No Boletim P1 que divulgámos ontem, também constava um ajuste directo daquele órgão de segurança – que se encontra em processo de desmantelamento – assinado com a ITAU, mais precisamente em Setembro de 2022.

    Os contratos do SEF constam no Boletim P1 da Contratação Pública e Ajustes Directos, que abaixo se apresenta, agregando os contratos divulgados ontem no Portal Base. Desde Setembro, o PÁGINA UM apresenta uma análise diária aos contratos publicados no dia anterior (independentemente da data da assinatura) no Portal Base. De segunda a sexta-feira, o PÁGINA UM faz uma leitura do Portal Base para revelar os principais contratos públicos, destacando sobretudo aqueles que foram assumidos por ajuste directo.

    PAV/MAP


    Nota: entretanto, no dia 27, conforme evidenciamos no Boletim P1, o SEF colocou mais um relevante ajuste directo, no valor de 300.000 euros, que foi assinado em 18 de Janeiro de 2022, já durante o período de vigência, que decorreu entre 1 de Janeiro e 31 de Maio daquele ano. Ou seja, demorou 647 dias a ser divulgado, e quando divulgado já há quase 17 meses que o contrato tinha sido executado. O beneficiário foi a empresa Top Atlântico.


    Ontem, dia 25 de Outubro, no Portal Base foram divulgados 690 contratos públicos, com preços entre os 4,02 euros – para aquisição de contraceptivos orais, pelo Centro Hospitalar de Leiria, ao abrigo de acordo-quadro – e os 83.309.929,50 euros – para empreitadas de linhas de Muito Alta Tensão, pela REN – Rede Eléctrica Nacional, através de procedimento de negociação.

    Com preço contratual acima de 500.000 euros, foram publicados 14 contratos, dos quais nove por concurso público, dois ao abrigo de acordo-quadro, um através de procedimento de negociação e dois por ajuste directo.

    Por ajuste directo, com preço contratual superior a 100.000 euros, foram publicados 16 contratos, pelas seguintes entidades adjudicantes: Instituto do Emprego e Formação Profissional (com a Alpibre, Lda., no valor de 530.301,35 euros); Unidade Local de Saúde do Alto Minho (com a ITAU – Instituto Técnico de Alimentação Humana, no valor de 516.225,34 euros); três do Município de Oeiras (com a Parques e Jardins, Lda., um no valor de 433.508,84 euros, outro no valor de 420.449,76 euros, e com a Arquijardim, no valor de 306.001,26 euros); Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (com a Bool Software Consulting, no valor de 424.947,48 euros); quatro do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (um com a Securitas – Serviços e Tecnologia de Segurança, no valor de 300.000,00 euros, outro com a ITAU – Instituto Técnico de Alimentação Humana, no valor de 298.762,20 euros, outro com a ICA – Indústria e Comércio Alimentar, no valor de 164.468,40 euros, e outro com a Keptone, no valor de 108.000,00 euros); Unidade Local de Saúde de Matosinhos (com a Merck, no valor de 232.993,95 euros); Fundação INATEL (com a Enforcesco, no valor de 206.155,00 euros); dois do SPMS – Serviços Partilhados do Ministério da Saúde (um com a Timestamp – Sistemas de Informação, no valor de 201.801,60 euros, e outro com a Sérvulo & Associados – Sociedade de Advogados, no valor de 190.000,00 euros); Autoridade Tributária e Aduaneira (com a Saphety Level, no valor de 125.250,00 euros); e o Ministério da Defesa Nacional – Marinha (com a Leonardo MW LTD, no valor de 118.895,33 euros).


    TOP 5 dos contratos públicos divulgados no dia 25 de Outubro

    (todos os procedimentos)

    1 Empreitadas de linhas de Muito Alta Tensão

    Adjudicante:  REN – Rede Eléctrica Nacional

    Adjudicatário: Elecnor, S.A.; Omninstal – Electricidade; Proef Eurico Ferreira Portugal, S.A.; Visabeira Infraestruturas

    Preço contratual: 83.309.929,50 euros

    Tipo de procedimento: Procedimento de negociação


    2Prestação de serviços de gestão de eficiência energética       

    Adjudicante: Município do Montijo    

    Adjudicatário: Isete – Inovação, Soluções Económicas e Tecnologia Ecológica, Lda.; Ondas Constantes; Amener – Eficiência Energética

    Preço contratual: 10.827.901,38 euros

    Tipo de procedimento: Concurso limitado por prévia qualificação


    3Aquisição de serviços de higiene e limpeza

    Adjudicante: Administração Regional de Saúde do Norte

    Adjudicatário: Sá Limpa – Facility Services

    Preço contratual: 2.336.653,44 euros

    Tipo de procedimento: Concurso público


    4Aquisição de serviços de comunicações e serviços conexos no âmbito da criação de nova infraestrutura para a rede de comunicações interna          

    Adjudicante: Autoridade Tributária e Aduaneira      

    Adjudicatário: Vodafone Portugal – Comunicações Pessoais

    Preço contratual: 2.289.997,80 euros

    Tipo de procedimento: Ao abrigo de acordo-quadro (artº 259º)


    5Repavimentação da E.M. 511 entre Beja e Salvada     

    Adjudicante: Município de Beja        

    Adjudicatário: Construções J. J. R. & Filhos

    Preço contratual: 2.184.510,19 euros

    Tipo de procedimento: Concurso público


    TOP 5 dos contratos públicos por ajuste directo divulgados no dia 25 de Outubro

    1 Serviços de higiene e limpeza – Região Alentejo          

    Adjudicante: Instituto do Emprego e Formação Profissional          

    Adjudicatário: Alpibre, Lda.

    Preço contratual: 530.301,35 euros


    2Serviços de confeção, fornecimento e distribuição de alimentação

    Adjudicante: Unidade Local de Saúde do Alto Minho

    Adjudicatário: ITAU – Instituto Técnico de Alimentação Humana

    Preço contratual: 516.225,34 euros


    3Manutenção de espaços verdes de Oeiras

    Adjudicante: Município de Oeiras    

    Adjudicatário: Parques e Jardins, Lda.        

    Preço contratual: 433.508,84 euros


    4Aquisição de serviços para desenvolvimento aplicacional na plataforma RUBUS

    Adjudicante: Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas

    Adjudicatário: Bool Software Consulting      

    Preço contratual: 424.947,48 euros


    5Manutenção de espaços verdes de Oeiras

    Adjudicante: Município de Oeiras    

    Adjudicatário: Parques e Jardins, Lda.

    Preço contratual: 420.449,76 euros

    MAP

  • Carreira de tiro: queixas de PSP e GNR contra ilustradora da RTP falham alvo

    Carreira de tiro: queixas de PSP e GNR contra ilustradora da RTP falham alvo


    É através de ‘mais discurso’, e não da repressão do discurso, que poderá ser rebatido o pensamento expresso no cartoon. Esta é a conclusão de uma deliberação da Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) como reacção a queixas formais da direcção da PSP e da GNR, e de quase uma centena de pessoas, que não apreciaram um cartoon que colocava a tónica do racismo das forças policiais. A ilustradora Cristina Sampaio, que concebeu o vídeo no rescaldo da morte, em Junho passado, de um jovem magrebino francês pelas autoridades policiais, diz-se “satisfeita” por a ERC ter reconhecido que “a essência do cartoon é a sátira e o humor, que devem ser exercidos em total liberdade” numa sociedade democrática.


    Que se discuta, mas que não se reprima – este é o sentido de uma deliberação da Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC), hoje divulgada na íntegra, sobre o polémico cartoon que aborda o racismo nas intervenções policiais, transmitido pela RTP no passado dia 7 de Julho, no intervalo da emissão televisiva do NOS Alive. A deliberação surge como efeito de queixas formais da Guarda Nacional Republicana (GNR) e da Polícia de Segurança Pública (PSP), que também apresentou já uma queixa no Ministério Público, mas que acaba por ficar ‘esvaziada’ com a análise do regulador dos media.

    O cartoon, em formato vídeo, da autoria da experiente e ilustradora Cristina Sampaio – que integra o colectivo Spam Cartoon – retratava um polícia numa carreira de tiro a disparar contra vários alvos, constatando-se por fim uma gradação comprometedora gradação no nível de “acerto”: o primeiro alvo. representando um homem branco, tinha apenas um tiro, mas ao lado do corpo, enquanto o quarto “alvo”, representando um homem negro, estava ‘fulminado” com certeiros sete tiros na cabeça e 11 tiros no tronco.

    Embora o cartoon fizesse alusão ao jovem francês Nahel, de 17 anos, de origem magrebina, morto a tiro pela polícia de Nanterre, no passado dia 27 de Junho, e independentemente da hora tardia da transmissão do cartoon, os dirigentes da Polícia de Segurança Pública (PSP) e da Guarda Nacional Republicana (GNR) não apreciaram, o mesmo sucedendo com diversos partidos políticos como o PSD e o CDS, e ainda o Chega, que chegou a propor audições parlamentares da RTP e ERC.

    O próprio Governo mostrou então desconforto, com o ministro da Administração Interna a dizer que contactara o presidente do Conselho de Administração da RTP “para manifestar desagrado com o facto de um ‘cartoon’ daquela natureza ter sido exibido num festival que tem tantos milhares de jovens”.

    A própria direcção da PSP anunciou mesmo, três dias depois da emissão do cartoon de Cristina Sampaio, ter avançado com uma queixa-crime ao Ministério Público por considerar que “propala[va] factos inverídicos, capazes de ofender a credibilidade, o prestígio e a confiança devida” àquela força policial. Em comunicado, a PSP disse então que fora já “elaborado auto de notícia (…) com referência aos factos apurados até ao momento e à informação que consideramos ter relevância criminal”.

    Tal como também prometera, a direcção da PSP formalizou uma queixa na ERC, o mesmo tendo-se verificado com a GNR. Aliás, além destas, o regulador foi ‘metralhado’ com quase uma centena de queixas particulares. A primeira entidade sustentava que “o vídeo, ao apresentar os polícias como xenófobos e racistas, não contribui para a desejável paz social, podendo, pelo contrário, contribuir para uma perceção de ilegitimidade do uso da força pública, com potencial para afetar a desejável paz e harmonia social, que os polícias da PSP diariamente se esforçam por manter e defender.”

    A GNR, por sua vez, seguiu o mesmo diapasão, referindo, de igual modo, que o vídeo fora “transmitido quando a audiência é essencialmente jovem, com grande capacidade de divulgação através de redes sociais” e que tinha potencial de “forte projeção pública”, sendo “facilmente acessível na internet ou através da respetiva aplicação móvel”. E acrescentava ainda que, mesmo “reconhecendo a liberdade de imprensa e meios de comunicação social”, se deveria “repudiar este vídeo que afronta coletivamente e individualmente todos aqueles que exercem funções policiais em Portugal”.

    Esta força militar acrescentava que o cartoon transmitiu ao público a ideia de “existência de uma organização e metodologia para tratamento de grupos sociais de forma diversa, o que atenta gravemente contra toda e qualquer prática atual na GNR, que vem incrementando, nos últimos anos, a formação em matéria de Direitos Fundamentais, facilmente comprovável pelos programas dos diversos cursos e parcerias estabelecidas com instituições de ensino e de defesa dos Direitos Humanos nacionais e, inclusivamente, internacionais.”

    Apesar de toda esta argumentação, os membros do Conselho Regulador da ERC concluíram que, embora o “cartoon objeto das participações tenha uma crítica forte e assertiva, não comporta um teor de humilhação ou vexatório, nem visa gerar o ódio ou desestabilizar a paz social”

    Na sua análise, o regulador considerou, na linha do que já era seu entendimento, que o Spam Cartoon é um micro-programa, tendo mesmo “um genérico de abertura (…) e um genérico de fecho”, que se enquadra no “macrogénero ‘entretenimento’ e no género ‘humor’”, e que nessa linha “integram um género que é, por natureza, transgressor de limites, que recorre à caricatura, ao exagero, ao humor para transmitir uma opinião sobre determinado assunto”.

    Nessa linha, a ERC defende que “o humor, a sátira, os cartoons – entre outros meios de manifestação da liberdade criativa – são formas de expressão do pensamento que não devem estar amarradas às sensibilidades subjetivas e gostos pessoais do público, de modo a permitir a crítica a grupos e figuras da sociedade, comportamentos, estereótipos, pensamentos, etc.”, pelo que, “nesta medida, gozam de um espaço mais alargado no que respeita aos limites à liberdade de expressão e de programação.” Daí salientam que “a violência policial e o racismo são temas que merecem reflexão e que podem, legitimamente, ser o mote para cartoons”.

    Morte de jovem magrebino em França foi mote para o cartoon de Cristina Sampaio, mas PSP e GNR ‘dispararam’ logo com queixas judiciais e na ERC.

    E conclui assim que a RTP1, ao transmitir o cartoon de Cristina Sampaio, “não violou a ética de antena, nem ultrapassou os limites à liberdade de programação”, destacando ainda que “é através de ‘mais discurso’, e não da repressão do discurso, que poderá ser rebatido o pensamento expresso no cartoon.”

    Contactado pelo PÁGINA UM, a Cristina Sampaio diz estar “satisfeita por a ERC ter reconhecido que o cartoon tem um papel fundamental na comunicação social de uma sociedade democrática e que a essência do cartoon é a sátira e o humor, que devem ser exercidos em total liberdade.” A ilustradora, cujos trabalhos marcam também presença frequente no jornal Público, releva também o “apoio incondicional” que tiveram da RTP, cuja administração é presidida por Nicolau Santos.

  • Segurança à ‘base da confiança’: Securitas começa a prestar serviços ao Fisco antes de se definir preços

    Segurança à ‘base da confiança’: Securitas começa a prestar serviços ao Fisco antes de se definir preços


    Já passaram quase 20 meses desde que o Ministério das Finanças publicou em Diário da República um anúncio de procedimento para aquisição de serviços de vigilância das instalações da Autoridade Tributária e Aduaneira, mas ninguém aparenta grande preocupação em concluir o concurso público, sobretudo a Securitas e Nélson Roda Inácio, subdirector-geral da máquina fiscal do Estado, que nos últimos anos tem vindo a assinar a generalidade dos chorudos ajustes directos.

    Tanto assim que, paulatinamente, desde 2021 já foram celebrados 12 ajustes directos entre a ATA e a Securitas, com periodicidades distintas, mas os últimos dois, ambos deste ano, com montantes apreciáveis. Mas se recuarmos mais, desde finais de 2016 a Securitas arrecadou 17 contratos de vigilância com um montante próximo dos 12,5 milhões de euros, sendo que apenas numa situação, há dois anos, teve concorrência. Foi uma excepção na regra.

    O mais recente contrato, assinado anteontem, e publicado ontem no Portal Base, tem o valor de 992.591 euros – que ultrapassa os 1,2 milhões de euros incluindo IVA –, tendo a particularidade de ter sido assinado com efeitos retroactivos. Ou seja, de uma forma irregular, mesmo se invocando uma norma do Código dos Contratos Públicos, a ATA assumiu que o contrato com a Securitas, actualmente em curso – mesmo se apenas assinado no dia 18 de Outubro deste ano, e estando em vigor até finais de Dezembro –, “produz[iu] efeitos a partir de 1 de Julho de 2023”.

    O mais curioso é a ATA assumir no próprio contrato que a “condição de eficácia” é a “sua publicitação prévia” no Portal Base, para efeitos de quaisquer pagamentos. Significa assim que a ATA – que se mostra inflexível em matérias fiscais – vai pagar serviços à Securitas, que também implicam pagamentos de IVA, nos meses de Julho, Agosto, Setembro e em 17 dias de Outubro, quando ainda nem sequer havia suporte contratual. E a Securitas devolverá o IVA em Novembro por serviços que, na realidade, prestou em Julho, Agosto e Setembro.

    Mas este procedimento é, na verdade, já corriqueiro na ATA, pelo menos desde que Nélson Roda Inácio tem poderes delegados para este tipo de contratações, mesmo em serviços envolvendo o pagamento de mais de meio milhão de euros.

    Assim, por exemplo, no ajuste directo anterior com a Securitas, que abrangeu o primeiro semestre deste ano, e por um valor de 990 mil euros (sem IVA), o subdirector-geral também só assinou o contrato em Fevereiro, 52 dias depois do início dos serviços de segurança.

    Mas recuando para os anos anteriores, observa-se similar procedimento que evidencia um impune à-vontade por parte da entidade que zela pelo cumprimento escrupuloso dos deveres fiscais dos contribuintes.

    Assim, no contrato para os dois últimos meses de 2022, no valor de mais de 302 mil euros, a ATA celebrou o ajuste directo no dia 15 de Dezembro. O contrato mensal de Outubro, com duração de 31 dias, foi apenas assinado no dia 28, ou seja, a três dias de expirar. Dizia respeito a um serviço de 151 mil euros, o que para a máquina fiscal são peanuts. Já o contrato anterior a este, que por cerca de 453 mil euros serviu para pagar à Securitas a vigilância do terceiro trimestre de 2022 (Julho a Setembro), a data da assinatura é de seis de Agosto.  

    Para não se ser fastidioso, acrescente-se que os três contratos de vigilância com a Securitas que cobriram o primeiro semestre de 2022, envolvendo verbas da ordem dos 906 mil euros (sem IVA), foram sempre celebrados já com o período de vigência em curso.

    Embora estes contratos não identifiquem os locais a vigiar – remetem para cadernos de encargos que não foram colocados no Portal Base –, na lista de 2021 surge um bastante sui generis. Com um valor de cerca de 208 mil euros (IVA incluído), este contrato é algo diferente dos outros, porque explicita que se refere à “aquisição de serviços de locação operacional, assistência técnica, manutenção programada, reparação ou substituição de equipamentos de sistemas instalados de circuito fechado de televisão (CCTV), sistemas de deteção de intrusão (SDI), sistemas automáticos de deteção de incêndios (SADI), controle de acessos (CA) e cancelas”, identificando os locais: ATA do Parque das Nações, da Guarda, a Direcção de Finanças de Santa Catarina, no Porto, e ainda os Serviços Centrais.

    No Portal Base surge a referência de o prazo de execução ser de 365 dias, mas formalmente o contrato explicita que o prazo de execução decorre “até 31 de Dezembro de 2021”, sendo que foi celebrado no dia 28 de Dezembro. Portanto, ou o contrato de 208 mil euros teve uma duração de apenas quatro dias (bastante bem pago) ou então foi assinado 362 dias depois do efectivo início da prestação de serviços, ou por outras palavras, a quatro dias de terminar..

    Helena Borges, directora-geral da Autoridade Tributária e Aduaneira, e Nuno Santos Félix, secretário de Estado dos Assuntos Fiscais.

    Nem sempre a Securitas, mesmo em contratos por ajuste directo, beneficiou destes facilitismos, como o de começar a prestar serviços enquanto negociava preços com o adjudicante, o que significa que se foi estabelecendo relações ‘à base da confiança’, algo que, com dinheiros públicos, é de ética questionável e de legalidade muito duvidosa. Por exemplo, um contrato de 300 dias celebrado para serviços de vigilância nos primeiros 10 meses de 2017 só entrou em vigor depois da sua assinatura e podia ser denunciado a cada quatro meses.

    No meio destas relações de evidente privilégio, a ATA apenas teve de considerar propostas de concorrentes à Securitas por uma vez, em 2019, através de um concurso ao abrigo de um acordo-quadro. Esse contrato – que vigorou entre 1 de Maio de 2019 e 31 de Dezembro do ano seguinte – acabou por ser ganho pela Securitas, que derrotou as propostas de outras sete empresas. Desde essa data, tudo na ‘paz do Senhor’: a Securitas assegura sempre a manutenção dos serviços de vigilância.

    Porquê e até quando? Não se sabe, porque o Ministério das Finanças, contactado pelo PÁGINA UM, não deu quaisquer esclarecimentos. Repetindo, aliás, a mesma (não) reacção face aos estranhos contratos de limpeza com a empresa francesa Samsic, também por ajuste directo e também assinados pelo subdirector-geral Nélson Roda Inácio.

    Nélson Roda Inácio, à esquerda (cumprimentando em 2016 o então presidente da autarquia de Pombal) foi nomeado subdirector-geral da Autoridade Tributária e Aduaneira em 2015, tendo assinado todos os polémicos ajustes directos com a Securitas e também com a Samsic.

    O mais recente contrato por ajuste directo entre a Autoridade Tributária e Aduaneira e a Securitas é um dos destaques do Boletim P1 da Contratação Pública e Ajustes Directos que agrega os contratos divulgados ontem. Desde Setembro, o PÁGINA UM apresenta uma análise diária aos contratos publicados no dia anterior (independentemente da data da assinatura) no Portal Base. De segunda a sexta-feira, o PÁGINA UM faz uma leitura do Portal Base para revelar os principais contratos públicos, destacando sobretudo aqueles que foram assumidos por ajuste directo.

    PAV


    Ontem, dia 19 de Outubro, no Portal Base foram divulgados 778 contratos públicos, com preços entre os 1,02 euros – para aquisição de caixa de plástico, pelo The Cricket Farming Co, através de ajuste directo simplificado – e os 4.719.874,65 euros – para requalificação e ampliação de complexo escolar, pelo Município de Alcobaça, através de concurso público. 

    Com preço contratual acima de 500.000 euros, foram publicados 10 contratos, dos quais nove por concurso público, um ao abrigo de acordo-quadro e um por ajuste directo. Por ajuste directo, com preço contratual superior a 100.000 euros, foram publicados nove contratos, pelas seguintes entidades adjudicantes: Autoridade Tributária e Aduaneira (com a Securitas – Serviços e Tecnologia de Segurança, no valor de 992.591,04 euros); Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Norte (com a Gilead Sciences, no valor de 327.000,00 euros); dois da Escola Básica e Secundária Padre Manuel Álvares (um com a Porto Editora, no valor de 305.724,72 euros, e outro com a RODOESTE – Transportadora Rodoviária da Madeira, no valor de 104.761,90 euros); Direção-Geral de Alimentação e Veterinária (com a CZ Veterinária, no valor de 303.480,00 euros); Centro Hospitalar Universitário do Porto (com a Profarin, no valor de 258.461,28 euros); Hospital Garcia de Orta (com a Efago – Manutenção Hospitalar, no valor de 232.436,46 euros); Escola Secundária da Lagoa (com a Porto Editora, no valor de 171.681,45 euros); e a Escola Básica e Secundária da Madalena (com a Porto Editora, no valor de 124.061,67 euros).


    TOP 5 dos contratos públicos divulgados no dia 19 de Outubro

    (todos os procedimentos)

    1 Requalificação e ampliação de complexo escolar

    Adjudicante: Município de Alcobaça

    Adjudicatário: Nova Gente – Empreitadas

    Preço contratual: 4.719.874,65 euros          

    Tipo de procedimento: Concurso público


    2Construção de Estrutura Residencial de Pessoas Idosas       

    Adjudicante: Casa do Povo de Alcofra        

    Adjudicatário: António Lopes Pina, Unipessoal, Lda.          

    Preço contratual: 2.572.652,99 euros

    Tipo de procedimento: Concurso público


    3Empreitada de reabilitação de edifício de novo Comando Sub-regional de Emergência e Proteção Civil

    Adjudicante: Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil           

    Adjudicatário: Isidovias – Investimentos

    Preço contratual: 1.362.927,06 euros

    Tipo de procedimento: Concurso público


    4Aquisição de vacinas e tuberculinas      

    Adjudicante: Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo

    Adjudicatário: GlaxoSmithKline

    Preço contratual: 1.296.720,00 euros

    Tipo de procedimento: Ao abrigo de acordo-quadro (artº 259º)


    5Empreitada de plano de intervenção em edificado disperso

    Adjudicante: Município de Lisboa    

    Adjudicatário: Tosvec – Sociedade de Empreitadas e Construções          

    Preço contratual: 1.182.572,39 euros

    Tipo de procedimento: Concurso público


    TOP 5 dos contratos públicos por ajuste directo divulgados no dia 19 de Outubro

    1 Aquisição de serviços de vigilância e segurança

    Adjudicante: Autoridade Tributária e Aduaneira      

    Adjudicatário: Securitas – Serviços e Tecnologia de Segurança

    Preço contratual: 992.591,04 euros


    2Aquisição de medicamentos      

    Adjudicante: Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Norte

    Adjudicatário: Gilead Sciences

    Preço contratual: 327.000,00 euros


    3Aquisição de manuais escolares digitais, bens e serviços conexos

    Adjudicante: Escola Básica e Secundária Padre Manuel Álvares 

    Adjudicatário: Porto Editora

    Preço contratual: 305.724,72 euros


    4Aquisição de doses de tuberculina bovina e tuberculina aviária          

    Adjudicante: Direção-Geral de Alimentação e Veterinária  

    Adjudicatário: Veterinária, S.A.

    Preço contratual: 303.480,00 euros


    5Aquisição de medicamentos

    Adjudicante: Centro Hospitalar Universitário do Porto

    Adjudicatário: Profarin

    Preço contratual: 258.461,28 euros

    MAP

  • Contentores enterrados: Ambiolhão tem ‘olho’ para ajustes directos

    Contentores enterrados: Ambiolhão tem ‘olho’ para ajustes directos


    Em Olhão não houve um sem dois, nem dois sem três, nem três sem quatro. Na verdade, já se vai em oito ajustes directos entre a empresa municipal de ambiente, a Ambiolhão – presidida pelo próprio presidente da autarquia, o socialista António Miguel Pina –, e a multinacional Sotkon, que tem uma sucursal no Entroncamento, especializada na instalação de ‘ilhas ecológicas’ subterrâneas em espaço urbano, mais concretamente ecopontos enterrados. O último contrato foi assinado anteontem, e publicado ontem no Portal Base. São mais 334.025,20 euros, numa conta por ajustes directos que já vai em mais de 941 mil euros, usando as mais mirabolantes justificações para tais procedimentos.

    Tal como nos anteriores contratos, a autarquia não esboçou qualquer sinal de interesse em avançar para um concurso público para a instalação de contentores. E alega mesmo uma estranha justificação para o ajuste directo: que se mostra “necessário proteger direitos exclusivos [da Sotkon], incluindo direitos de propriedade intelectual”.

    O primeiro destes oito ajustes directos com a Sotkon ocorreu em 2014, já com António Pina a liderar o município e a empresa municipal, embora de pequena monta: seis contentores enterrados no valor de 40.800 euros. A justificação que surge no Portal Base para o ajuste directo não se enquadra no Código dos Contratos Públicos, uma vez que faz referência a concursos públicos ou concurso limitado por prévia qualificação.

    O presidente da Câmara Municipal de Olhão deve ter ficado satisfeito com o ajuste directo, porque nos dois anos seguintes fez mais dois com a Sotkon, mas ainda com valores relativamente pequenos: 62.467,12 euros, em 2015, e mais 24.000 euros, em 2016, para instalar mais 12 e quatro contentores, respectivamente.

    Em 2019 surgiu, porém, um contrato mais chorudo no valor de 253.088 euros. A justificação para o ajuste directo neste caso ainda é mais rebuscado. A empresa municipal justifica o recurso directo através de uma norma do Código dos Contratos Públicos que diz que “para a formação de contratos sem valor (…) pode ser adotado qualquer um dos procedimentos”, ou seja, um concurso público, uma consulta prévia ou um ajuste directo. Não se consegue compreender como um ajuste directo de 253.088 euros pode ser considerado um “contrato sem valor”. Saliente-se que este contrato não contém, no Portal Base, o caderno de encargos, pelo que se ignora quantos ecopontos enterrados terão sido instalados. No entanto, atendendo ao contrato de 2016 terão sido 42.

    Dois anos mais tarde, a Ambiolhão quis ter mais ecopontos da Sotkon. E assim lá tivemos António Miguel Pina a fazer mais dois contratos por ajuste directo com a empresa do Entroncamento: o primeiro de pouco mais de 21 mil euros e o segundo de quase 200 mil euros, neste caso para o fornecimento e instalação de quatro dezenas de contentores enterrados para resíduos indiferenciados e de recolha selectiva.

    Antes do mais recente contrato, a Ambiolhão ainda gastou mais 5.465 euros num ajuste directo para a compra de um simples ecoponto: um só, assim. O contrato foi executado em três dias, conforme consta no Portal Base.

    No total, temos assim oito contratos por ajuste directo entre a Ambiolhão e a Sotkon, todos assinados pelo presidente da autarquia e usando variados expedientes para não lançar qualquer concurso público.

    Não se pense, contudo, que Olhão seja, sobretudo no Algarve, a única autarquia com óptimas e desburocratizadas relações comerciais com a Sotkon, uma empresa que tem, mesmo no mercado português, uma forte concorrência.

    Na verdade, consultando o Portal Base, a empresa do Entroncamento tem acumulado contratos públicos sobretudo com autarquias e empresas municipais. Até agora estabeleceu 359 contratos envolvendo cerca de 27,6 milhões de euros. Embora a instalação de ecopontos enterrados seja uma tarefa que dificilmente se enquadre numa urgência que justifique o recurso sistemático aos ajustes directos, certo é que cerca de 10,7 milhões de euros, correspondentes a 262 contratos, dizem respeito a este modalidade.

    Curiosamente, com excepção da empresa municipal de ambiente de Cascais – com quem já celebrou 16 ajustes directos no valor de 2,4 milhões de euros –, os melhores clientes da Sotkon são do Algarve. Melhores não apenas na facturação como em não lhe meterem concorrência de permeio.

    Assim, numa análise do PÁGINA UM, a Ambiolhão é, na região algarvia, apenas o terceiro melhor cliente a ‘enterrar’ contentores da Sotkon. O município de Lagoa lidera, tendo já recorrido à Sotkon em 31 ocasiões, gastando já 1,83 milhões de euros. Seis desses contratos têm um valor superior a 100 mil euros, sendo que o maior (quase 801 mil euros), assinado em 2016, foi por ajuste directo. Em todo o caso, saliente-se que os dois contratos seguintes (em 2020, no valor de cerca de 394 mil euros; e em 2022, no valor de 121 mil euros) foram precedidos de concurso público.

    António Miguel Pina, presidente da autarquia de Olhão e da Ambiolhão.

    A EMARP, empresa municipal de ambiente de Portimão, recebe a ‘medalha de prata’, por já ter estabelecido 32 contratos com a Sotkon, todos por ajuste directo para contentores, no total de 1,52 milhões de euros. Dois desses contratos foram celebrados no ano passado, totalizando 876 mil euros. Com um valor também relevante (quase 800 mil euros) encontra-se o município de Lagos, com 17 compras à Sotkon.

    O PÁGINA UM tentou obter comentários sobre os contratos da Ambiolhão com a Sotkon, mas o presidente da autarquia e da empresa municipal, não respondeu.

    O contrato por ajuste directo da Ambiolhão é um dos destaques do Boletim P1 da Contratação Pública e Ajustes Directos que agrega os contratos divulgados ontem. Desde Setembro, o PÁGINA UM apresenta uma análise diária aos contratos publicados no dia anterior (independentemente da data da assinatura) no Portal Base. De segunda a sexta-feira, o PÁGINA UM faz uma leitura do Portal Base para revelar os principais contratos públicos, destacando sobretudo aqueles que foram assumidos por ajuste directo.

    PAV


    Ontem, dia 17 de Outubro, no Portal Base foram divulgados 822 contratos públicos, com preços entre os 1,01 euros – uma estranha aquisição de viagem/alojamento, pela Universidade de Aveiro, ao abrigo de acordo-quadro – e os 14.017.100,00 euros – para aquisição de 81 veículos pesados, pela Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil, através de concurso público. 

    Com preço contratual acima de 500.000 euros, foram publicados 24 contratos, dos quais 19 por concurso público, um ao abrigo de acordo-quadro e quatro por ajuste directo.

    Por ajuste directo, com preço contratual superior a 100.000 euros, foram publicados 14 contratos, pelas seguintes entidades adjudicantes: dois do Centro Hospitalar Universitário do Porto (um com a Profarin, no valor de 1.292.306,40 euros, e outro com a Biogen Portugal, no valor de 380.566,20 euros); Casa Pia de Lisboa (com a Interlimpe – Facility services, no valor de 674.690,40 euros); dois do Centro Hospitalar Vila Nova de Gaia – Espinho (um com a Boston Scientific Portugal, no valor de 563.456,00 euros, e outro com a Getinge Group, no valor de 230.490,00 euros);  Município de Alandroal (com a HCI – Construções, no valor de 556.255,00 euros); Ambiolhão – Empresa Municipal de Ambiente de Olhão (com a Sotkon Portugal – Sistemas de Resíduos, no valor de 334.205,20 euros); Hospital da Senhora da Oliveira Guimarães (com a Servier Portugal, no valor de 240.960,00 euros); Infraestruturas de Portugal (com a Pagaqui, S.A., no valor de 150.000,00 euros); Serviço de Saúde da Região Autónoma da Madeira (com a Roche Farmacêutica, no valor de 149.310,50 euros); Instituto Nacional da Propriedade Industrial (com a Clarivate Analytics Limited, no valor de 133.137,21 euros); Centro Hospitalar de Entre o Douro e Vouga (com a Getinge Group, no valor de 125.050,00 euros); Hospital Professor Doutor Fernando Fonseca (com a Proside – Concepção e Implementação de Soluções Informáticas, no valor de 125.000,00 euros); e o Município de Setúbal (com a Pirilampo Artes, no valor de 100.000,00 euros).


    TOP 5 dos contratos públicos divulgados no dia 17 de Outubro

    (todos os procedimentos)

    1 Aquisição de 81 veículos pesados

    Adjudicante: Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil           

    Adjudicatário: Jacinto Marques de Oliveira, Sucrs, Lda.

    Preço contratual: 14.017.100,00 euros

    Tipo de procedimento: Concurso público


    2Fornecimento de combustíveis líquidos a granel (gasóleo colorido)   

    Adjudicante: CP – Comboios de Portugal

    Adjudicatário: Petrogal

    Preço contratual: 5.986.000,00 euros

    Tipo de procedimento: Concurso público


    3Prestação de serviços para o estabelecimento de servidões

    Adjudicante: REN – Rede Eléctrica Nacional

    Adjudicatário: Flonopor, S.A.

    Preço contratual: 3.327.444,30 euros

    Tipo de procedimento: Concurso limitado por prévia qualificação


    4Prestação de serviços para o estabelecimento de servidões

    Adjudicante: REN – Rede Eléctrica Nacional

    Adjudicatário: ECOREDE – Engenharia e Serviços

    Preço contratual: 2.911.388,60 euros

    Tipo de procedimento: Concurso limitado por prévia qualificação


    5Prestação de serviços para o estabelecimento de servidões

    Adjudicante: REN – Rede Eléctrica Nacional

    Adjudicatário: Perene, S.A.

    Preço contratual: 2.706.935,45 euros

    Tipo de procedimento: Concurso limitado por prévia qualificação


    TOP 5 dos contratos públicos por ajuste directo divulgados no dia 17 de Outubro

    1 Aquisição de medicamentos

    Adjudicante: Centro Hospitalar Universitário do Porto

    Adjudicatário: Profarin

    Preço contratual: 1.292.306,40 euros


    2Serviços de higiene e limpeza

    Adjudicante: Casa Pia de Lisboa

    Adjudicatário: Interlimpe – Facility Services

    Preço contratual: 674.690,40 euros


    3Aquisição de material de Hemodinâmica

    Adjudicante: Centro Hospitalar Vila Nova de Gaia – Espinho

    Adjudicatário: Boston Scientific Portugal

    Preço contratual: 563.456,00 euros


    4Empreitada de obra pública denominada “Fortaleza de Juromenha”

    Adjudicante: Município de Alandroal

    Adjudicatário: HCI – Construções    

    Preço contratual: 556.255,00 euros


    5Aquisição de medicamentos

    Adjudicante: Centro Hospitalar Universitário do Porto

    Adjudicatário: Biogen Portugal

    Preço contratual: 380.566,20 euros

    MAP

  • Refugiados ucranianos: Câmara de Cascais paga 180 mil euros ao Continente por produtos que custam 14 mil

    Refugiados ucranianos: Câmara de Cascais paga 180 mil euros ao Continente por produtos que custam 14 mil


    O PÁGINA UM pegou numa calculadora e no “cabaz de compras” de um ajuste directo celebrado entre a autarquia de Carlos Carreiras e o Modelo Continente, e foi saber se era mesmo preciso gastar-se os cerca de 180 mil euros previstos num contrato assinado em Julho passado. E não era: contas feitas a cerca de uma centena de itens, um a um, de mercearia, frescos, congelados e produtos de higiene e drogaria, o total dava pouco mais de 14 mil euros, e já com IVA incluído. A autarquia não quis reagir e o Modelo Continente remete as perguntas do PÁGINA UM para o município. Recorde-se que a edilidade de Cascais já terá gastado mais de 925 mil euros só em alimentação para refugiados ucranianos, incluindo três ajustes directos à mesma empresa (ICA), com periodicidade aleatória, mas recusa mostrar elementos sobre esta actividade.


    Em Julho passado, mesmo tendo contratos de ajuste directo para fornecimento de refeições aos refugiados ucranianos, em número que não quer divulgar, o município de Cascais decidiu estabelecer um estranho contrato com a Modelo Continente no valor previsto de 166.124,88 euros, sem IVA incluído, para a entrega em períodos mensais, durante um ano, de cerca de uma centena de produtos. Com IVA, o contrato deverá aproximar-se dos 180 mil euros.

    No contrato exposto no Portal Base inclui-se, neste caso, o caderno de encargos com as especificações para a aquisição de bens essenciais para o Centro de Refugiados de Cascais, onde consta uma extensa lista de produtos alimentares e de higiene que a autarquia liderada por Carlos Carreiras devia receber do Modelo Continente.

    Carlos Carreiras, presidente da Câmara Municipal de Cascais.

    Nos produtos de mercearia surgem 35 itens, que vão desde 300 embalagens de leite UHT até 100 embalagens de chá de cidreira e camomila, passando por quantidades distintas de açúcar, massas e cereais diversos, feijão e o incontornável atum, cogumelos em lata, azeite e óleo, café diverso e 30 quilogramas de sal, entre grosso e fino.

    Na parte de produtos frescos – que, de acordo com as peças do contrato, deveriam ser entregues, tal como os outros produtos, com uma frequência semanal ao longo de 12 meses – encontram-se 25 itens, começando a lista por 500 embalagens de 600 gramas de jardineira de bovino para guisar e terminando em 60 quilogramas de beterraba sem rama. Pelo meio desta lista consta ainda carne picada, bifanas, salsichas frescas e costeletas de porco e outros produtos de frango e peru, tudo em doses de 50 quilogramas. No caso dos peixes – em quantidade de 10 quilogramas – estão listadas diversas espécies: carapau, cavala, pargo, dourada, robalo, salmão, truta, pota e choco. E depois ainda verduras, como batatas, cenoura, couve e cebola, além de ovos e manteiga.

    Acresciam ainda 13 produtos congelados em embalagens de pesos distintos, abrangendo quer peixes quer legumes. Nestes destacavam-se as 100 embalagens de 200 gramas de corvina e ainda as 48 embalagens de 210 gramas de garoupa.

    bunch of vegetables

    Por fim, no sector dos produtos de higiene, o caderno de encargos listava 25 itens – desde champôs e gel de banho até desodorizantes, sabonetes, tampões e lâminas –, e no sector da drogaria ficaram previstos nove itens, entre detergentes, esfregonas, baldes e vassouras.

    Enfim, a lista é extensa, mas mais do que as quatro páginas – e mais umas linhas de uma outra – com a listagem de produtos e quantidades, aquilo que verdadeiramente surpreende é que, mesmo assim, parece pouco para aquilo que foi combinado na parte financeira entre a Câmara Municipal de Cascais e o Modelo Continente.

    Com efeito, como contrapartida das quantidades listadas no caderno de encargos, a autarquia de Cascais comprometeu-se a pagar a pagar 166.980 euros, sem incluir IVA. Pareceu ao PÁGINA UM ‘fruta a mais’ – embora, curiosamente, só tenha ficado previsto a entrega de 150 embalagens de pêssego em calda com peso escorrido de 480 gramas e ainda 30 latas de polpa de maracujá de 565 gramas. E por isso “fomos às compras” – ou, melhor dizendo, conferimos os preços praticados na loja online do Continente para saber quanto se pagaria por aquele cabaz de compras.

    A pesquisa do PÁGINA UM realizou-se nos primeiros dias deste mês de Outubro. Apesar de nem todos os produtos constantes no caderno de encargos para o centro de refugiados da Ucrânia não se encontrarem à venda na loja online do Continente, procurou-se produtos similares ou os preços em outros hipermercados semelhantes.

    a pile of fish sitting on top of a pile of ice

    E assim, “conseguimos” o cabaz de compras de produtos de mercearia, já com IVA incluído, por 4.078,70 euros. Os produtos frescos ficaram por 5.052,60 euros. Os produtos congelados por 1.256,45 euros, os produtos de higiene por 3.201,86 euros e, por fim, os produtos de drogaria por 770,70 euros.

    Contas feitas, para uma lista de produtos para a qual a Câmara de Cascais assinou um contrato de 166.980 euros, sem incluir IVA (com IVA aproximar-se-á dos 180 mil euros), o PÁGINA UM – e qualquer outra pessoa, incluindo funcionários dos serviços da autarquia liderada por Carlos Carreiras – “faria a festa” por 14.360,37 euros. Ou, noutra perspectiva, compraria um cabaz mais de 10 vezes aquele que foi adquirido pelo município.

    O PÁGINA UM tentou obter comentários da autarquia de Cascais e do Modelo Continente sobre esta contrato pouco ortodoxo de solidariedade com os refugiados ucranianos com evidentes sinais de desperdício de dinheiros públicos. Não conseguiu sequer entrar em contacto com o gestor do contrato, obrigatório por lei, porque no documento constante no Portal o seu nome e função foi apagado. Este procedimento de rasurar nomes de funcionários públicos em exercício de funções públicas é profundamente ilegal, constituindo uma forma de obscurantismo.

    Parte inicial das especificações técnicas dos produtos a entregar pelo Modelo Continente à autarquia de Cascais para cumprimento do contrato.

    No caso da Câmara Municipal de Cascais solicitou-se mesmo a entrega de facturas das remessas de dois meses para conferir as quantidades entregadas e os preços unitários praticados.

    Por sua vez, o Modelo Continente reagiu através de uma agência de comunicação, indicando que as respostas deveriam ser dadas pelo município. Mas mesmo com insistência, a empresa do universo da Sonae não respondeu se foi ponderada a venda daqueles produtos, atendíveis os fins, sem a aplicação de margem de lucro ou uma doação de bens.