Categoria: Opinião

  • Quer saber o que se esconde atrás das historietas das falsas urgências? Uma verdadeira carnificina de doentes agudos

    Quer saber o que se esconde atrás das historietas das falsas urgências? Uma verdadeira carnificina de doentes agudos


    Com a pandemia da covid-19 a dar as “últimas” – com uma taxa de letalidade de 0,1%, por via da Ómicron, por muito que certos media e peritos lhe tentem arranjar descendentes, incluindo “netas” perigosíssimas –, regressaram à normalidade os fluxos hospitalares. Por outras palavras: o caos no Serviço Nacional de Saúde (SNS).

    Por muito que o Governo (agora socialista, mas poderia ser outro qualquer) apresente números de investimento, e mais médicos e mais enfermeiros e mais auxiliares, sabemos que fica sempre aquém do desejável para cuidar de uma população que teve o azar de conseguir que lhe “dessem” mais anos de vida, mas no país errado.

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    Sucede assim que, num país com mais de um milhão de pessoas sem médico de família, e que mais do que duplicou a sua população de super-idosos em apenas duas décadas – o grupo dos maiores de 85 anos passou de 152 mil, no ano 2000, para 328 mil, em 2020 –, não deveria surpreender que os hospitais (e os serviços de urgência, em particular) fossem o primeiro e o último reduto para quem, repentinamente, se sente doente e desamparado. Ainda mais sabendo-se que a literacia sobre saúde é fraca, e as alternativas económicas de ter uma resposta privada rápida não é grande.

    Enfim, mas sabemos que, quando o fluxo aperta – isto é, a procura supera a oferta de serviço –, o Governo é lesto a convencer certa imprensa que a culpa é sempre da procura. E da má procura: ou seja, daqueles masoquistas que, supostamente não estando doentes, querem perder tempo e esgotar a paciência indo às urgências pela noite dentro, e madrugada fora, só chatear o Camões.   

    Evolução dos episódios emergentes (pulseira vermelha) entre 2017 e 2022. Fonte: SNS. Análise: PÁGINA UM.

    Sempre assim foi, antes da pandemia; e sempre assim será, agora que saímos da pandemia.

    Mas, na verdade, falar hoje nas estafadas falsas urgências é esquecer, é mesmo querer esquecer, aquilo que sucedeu nos últimos três anos, período em que praticamente não se falou de falsas urgências.

    De facto, não houve falsas urgências: houve sim, uma torrente de falsas informações e de umas quantas manipulações durante o triénio da dita pandemia – que teve o corolário com as ambulâncias em fila no Hospital de Santa Maria em certa (e única) noite de Dezembro de 2020 – com o trágico e execrável objectivo de desanuviar os serviços de urgência. E isso causou uma tragédia que jamais será investigada nem responsabilizada. É escondida. Mas mal-escondida; e por isso deve ser revelada.

    Evolução dos episódios muito urgentes (pulseira laranja) entre 2017 e 2022. Fonte: SNS. Análise: PÁGINA UM.

    Quando olhamos para os números de 2022 dos fluxos dos serviços de urgência em todo o SNS, verificamos, de facto, que se regressou quase à normalidade pré-pandémica, embora com um crescimento dos episódios pouco urgentes e não-urgentes. Ou seja, com, hélas, as chamadas falsas urgências.

    Comparando com o triénio 2017-2019, o ano de 2022 contabilizou mais 15,4% de pulseiras verdes (pouco urgente) e mais 12,7% de pulseiras azuis (não-urgentes). Foram mais cerca de 325 mil assistências que, efectivamente, poderiam ter tido atendimento em outros locais.

    Porém, aquilo que o Governo parece querer que esqueçamos – para além de um crescimento em 2022 da ordem dos 5,7% dos doentes muito urgentes (pulseira laranja) face à média do triénio pré-pandémico – é o “bonito” resultado dos apelos da Doutora Graça Freitas e dos responsáveis políticos do Ministério da Saúde para que os portugueses não fossem aos hospitais durante 2020 e 2021 para assim se aliviarem os serviços médicos para o tratamento da covid-19.

    Evolução dos episódios urgentes (pulseira amarela) entre 2017 e 2022. Fonte: SNS. Análise: PÁGINA UM.

    Hoje, sabemos que, com excepção dos profissionais adstritos ao tratamento dos doentes-covid – sujeitos a um esforço que merecia melhores recompensas do que um “bater palmas” –, a generalidade dos serviços hospitalares teve um inusitado alívio, por via da suspensão de muitas cirurgias, diagnósticos e consultas. A estratégia de afastar os utentes dos hospitais foi intencional e sem justificação, sobretudo depois do segundo trimestre de 2020.

    Contudo, depois desse período inicial, até meio do ano de 2020, nada justificou a quase perpetuação de uma estratégia que quis deliberadamente afastar as pessoas das urgências, através do medo e da intimidação. Ir a um hospital por uma urgência passou a ser quase um acto de falta de civismo e de irresponsabilidade. E tanto assim se fez que fugiram dali mesmo as pessoas que tinham no hospital o único local que as poderia salvar em caso de doença súbita.

    Evolução dos episódios pouco urgentes (pulseira verde) entre 2017 e 2022. Fonte: SNS. Análise: PÁGINA UM.

    Olho para os números de 2020 e de 2021 relativos aos episódios emergentes (pulseira vermelha) e sobretudo os muito urgentes (pulseira laranja) e mesmo os urgentes (pulseira amarela), e não me custa imaginar um sem número de caixões que se fecharam de forma desnecessária e criminosa. A conta – ou pelo menos uma estimativa – poderia ser feita se o Ministério da Saúde libertasse informação.

    Comparando estes dois anos (2020 e 2021) com a média do triénio 2017-2019 (e com 2022, cujos valores são praticamente similares ao período pré-pandémico), constata-se que houve menos 8.518 episódios de emergência (vermelha), menos 256.615 episódios muito urgentes (laranja) e menos 1.502.493 episódios urgentes (laranja). Em termos relativos registou-se assim decréscimos de 22%, 23% e 29%, respectivamente.

    Evolução dos episódios não-urgentes (pulseira azul) entre 2017 e 2022. Fonte: SNS. Análise: PÁGINA UM.

    Ora, tendo em conta que não existe nenhum factor relevante que possa ter feito diminuir em 2020 e 2021 a prevalência de doenças agudas de média e extrema gravidade – que justifique uma redução tão significativa destes casos nos serviços de urgência –, aquilo que sucedeu parece muito simples de inferir: durante os dois primeiros anos da pandemia, os apelos da DGS, dos políticos, de certos “peritos” e dos media mainstream conseguiram convencer as pessoas a “aguentar”; a não irem saturar os hospitais, “coitadinhos”. Tinha de se ser solidário, aguentar em prol de todos, até porque, no fim, “vai ficar tudo bem”.

    Muitos destes, mulheres e homens que responderam de forma solidária e humanista, estão agora nas estatísticas do excesso de mortalidade. E coloca-se uma pedra no assunto. E continua-se com o folclore das falsas urgências, porque nos convenceram que temos de ser nós a salvar o SNS; e não o SNS a salvar-nos.


    Nota: Não analisei os episódios de pulseira branca e cinzenta, uma vez que a sua utilização pelos hospitais têm, em muitos casos, razões administrativas que não afectam os serviços de urgência. Em todo o caso, genericamente os anos de 2020 e 2021 registaram menos episódios do que nos período pré-pandémico, embora não seja comparável a complexidade dos episódios.

  • Os falsos jornalistas sobre as verdadeiras urgências

    Os falsos jornalistas sobre as verdadeiras urgências


    Começa a ser escandalosa a qualidade do jornalismo mainstream português. E, aliás, não surpreende por isso que a redação da RTP tenha elegido António Costa como Figura do Ano.

    Pois bem: na RTP justifica-se os tempos de espera no Hospital de Santa Maria, em Lisboa, por via de “falsas urgências”. Ou seja, a “culpa” é das pessoas que, por um resfriado ou maleita fútil, entopem os hospitais, e isto só para complicarem a vida do senhor Costa e do senhor Pizarro.

    Ao jornalista da RTP que faz este tipo de fretes – e à sua direcção editorial – nem sequer vale a pena consultar dados online do Tempo de Espera que indicam que tipo de doentes estão, neste preciso momento, no Hospital de Santa Maria (e em outros). E se é verdade que aquilo está entupido por “falsos doentes”.

    Pois eu digo, daqui sentado: estão, neste preciso momento, 85 doentes nas urgências do Santa Maria. Destes, um é muito urgente e 54 urgentes, Todos estes casos clínicos são triados por profissionais de saúde (não é a opinião do doente), e não me parece que, assim, sejam “falsas urgências”.

    São pessoas, sim, com problemas de saúde a pedir intervenção rápida, que pagam impostos, mas que graças a um Governo sem prioridades tem de aguardar horas e horas a fio, porque faltam médicos, faltam enfermeiros, faltam auxiliares… só não faltam os muitos contratos chorudos com farmacêuticas, que são escondidos do público.

    Tempo de espera às 18:15 horas de 3 de Janeiro de 2023. Fonte; SNS.

    Aquilo que este tipo de jornalismo pretende é afastar as pessoas dos hospitais, mesmo quando estas apresentam sintomas graves. A ideia deste tipo de jornalismo é fazer com que as pessoas morram longe, sem incomodar um Serviço Nacional de Saúde que está um caco autêntico. O envelhecimento da população e o “descompensamento” dos últimos anos dá este tipo de porcarias.

    E jornalismo, como este da RTP, só ajuda a agravar o caos.

  • Finalmente, uma oposição a funcionar?

    Finalmente, uma oposição a funcionar?


    Mesmo os mais aguerridos adversários de António Costa reconhecem-lhe talento político.

    Mesmo os mais próximos dos companheiros do primeiro-ministro assumem que deve muito do seu sucesso à sorte.

    Um talento especial que tem, na base, anos de observação atenta dos bastidores da política, onde conviveu com alguns dos mais experientes políticos portugueses e, facilmente, apreendido as técnicas, a arte e as manhas que o transformaram em vencedor.

    Muitas das vezes esquecendo escrúpulos e amizades (lembro o caso Seguro, por exemplo) que pudessem fazer perigar, ou adiar, a chegada ao topo.

    Determinado, confiante, frio, tenta disfarçar, em público, todo o seu autoritarismo com um ar de descontração e optimismo que se percebe ser inexistente em privado.  

    António Costa é o exemplo acabado do político português com sucesso.

    A sorte que o bafeja, há que reconhecer, tem muito de preparada e trabalhada.

    Mas o inesperado joga, frequentemente, a seu favor.

    Chega à liderança do seu partido por ter convencido os militantes que o seu antecessor, que tinha ganho as últimas eleições, se devia demitir por o ter conseguido por margem pequena.

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    Perde as eleições seguintes, mas chega à liderança de um Governo democrático por ter beneficiado, numa situação irrepetível, do apoio das lideranças do Bloco de Esquerda e, principalmente, do Partido Comunista, que apostaram em lhe dar, no Parlamento, a maioria que precisava para governar.

    Finalmente, conta com as guerras intestinas dos partidos de direita, que levaram ao afastamento de nomes fortes, passando a ser geridos por rematados incompetentes, o que leva a que ninguém tome a sério as poucas críticas feitas à sua gestão.

    Com a esquerda a apoiar, ou a não contestar, as suas decisões e uma direita mais preocupada com a sua sobrevivência (que não conseguiu), todas as muitas falhas, suficientes para, em termos normais, fazer cair 10 Governos, foram sendo desculpadas e, até aceites.

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    Por outro lado, um sem número de situações de extrema gravidade (a covid-19, a guerra da Ucrânia, etc.) fazem com que os problemas do país passem para segundo plano.

    Tudo isto, há que reconhecer, com o apoio de uma fantástica e eficaz máquina promocional apoiada numa comunicação social dependente de patrocínios de vária ordem.

    Com a aproximação de novas eleições, numa jogada política inteligentíssima, aposta numa “guerra intestina” no principal partido da oposição com um apoio mal disfarçado, mas cirúrgico, ao partido populista de direita que podia tornar aquele ainda mais frágil.  

    E António Costa, mais do que o PS, consegue uma maioria absoluta.

    Mérito extraordinário, há que reconhecer, só comparável à completa cegueira política do Povo português.

    Para se manter em “estado de graça”, António Costa tenta rodear-se de todos os que lhe querem suceder, seguindo a velha máxima “ter os amigos perto e os inimigos ainda mais perto”.

    Só que, esta regra tem, sempre, como perigo acoplado, a possibilidade de lutas internas com o despertar da “vontade de ir ao pote” sem aguardar pelo tempo certo.

    Erros de cálculo, por precoces, de Marta Temido, Fernando Medina e principalmente Pedro Nuno Santos, unicamente por se quererem antecipar aos seus “rivais”, colocaram holofotes nas inúmeras fragilidades do Governo PS.

    Inúmeros erros, constantes trapalhadas, ilegalidades sem conta, favorecimentos diários aos membros da família socialista, promessas incumpridas, começaram a ser relatadas diariamente.

    O que, numa primeira fase, destrói os putativos sucessores acaba por fazer perder a confiança no líder já que ninguém acreditará que todos os erros denunciados foram cometidos à sua revelia e sem o seu conhecimento e concordância.

    Pode aparecer, finalmente, uma oposição a António Costa.

    De onde ele menos esperaria.

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    De dentro do seu próprio partido.

    O que nem sequer é original, como ele próprio concordará se analisar o seu percurso.

    A história repete-se, dirão alguns.

    O “karma” não falha, garantirão outros.

    Eu, mais pessimista e menos dado à metafísica, limito-me a aguardar por mais um golpe de sorte que vai salvar António Costa de todos estes problemas.

    Vítor Ilharco é secretário-geral da APAR – Associação Portuguesa de Apoio ao Recluso


    N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.

  • 2023: trilhando as veredas de um desastre económico e financeiro

    2023: trilhando as veredas de um desastre económico e financeiro


    O Banco Central Europeu (BCE), liderado pela inefável e cadastrada Christine Lagarde, voltou a subir a taxa directora; desta vez, em 50 pontos base. De imediato, as taxas de juro Euribor, os principais indexantes dos empréstimos à habitação na Zona Euro, subiram para máximos de 14 anos.

    Vamos já ao que interessa: a Euribor a 12 meses encontra-se em máximo de 14 anos, cotando acima dos 3%. Esta subida teve lugar a partir do início de 2022, quando se tornou evidente que o agravamento da taxa de inflação não era transitória e vinha para ficar.

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    Qual será o impacto desta recente subida para a maioria das famílias portuguesas, em particular aquelas com um crédito à habitação indexado a uma taxa variável, como é o caso da Euribor a 12 meses?

    A situação afigura-se dramática. Analisemos o impacto da recente subida (+3,1%) e comparemos com os valores no final de 2021 (-0,5%), usando o exemplo de um crédito à habitação de 150 mil euros, indexado à Euribor a 12 meses e com um spread de 1,5%, usando dois cenários: (i) financiamento a 30 anos; e (ii) a 40 anos.

    No caso do cenário de financiamento a 30 anos, o acréscimo da prestação é de 283 euros, resultando numa subida de 60%, passando de uma renda mensal de 482 euros para 765 euros. O cenário de financiamento a 40 anos apresenta um pior agravamento, dado que a renda mensal sobe 80%, passando de 379 euros para 680 euros!

    Evolução da taxa de juro Euribor a 12 meses (%) entre Janeiro de 2020 e Dezembro de 2022. Fonte: Euribor. Análise do autor.

    A pergunta que se coloca é a seguinte: será que tudo isto foi deliberado? Será que tudo assenta num plano para destruir a população, tornando-a insolvente, dependente do Estado e em risco de perder a sua propriedade mais preciosa: a sua casa?

    Para se controlar uma população, importa eliminar as pessoas com um rendimento independente. Quem é mais independente: o dono de um café que depende apenas dos seus clientes ou um funcionário público que depende do Estado? É óbvio que o segundo, dado que este depende de uma entidade terceira, em lugar de procurar a satisfação das necessidades dos seus clientes.

    Por essa razão, os regimes comunistas são particularmente difíceis de derrubar, precisamente por não existirem pessoas com rendimento independente: todos se encontram na folha salarial do Estado, atendendo que este detém todos os meios de produção. É sempre difícil revoltar-me contra aquele que me põe a comida no prato!

    Fonte: Euribor. Análise do autor.

    Aparentemente, parece ser esse o propósito do escol das sociedades ocidentais: tornar a população dependente, obnóxia e subserviente ao Estado.

    Para esse fim, é necessário destruir todos os pequenos negócios; precisamente o que foi feito durante a suposta pandemia durante os dois últimos anos e meio: encerrá-los, endividá-los e desesperá-los, por forma a que se alistem nas filas de esmolas estatais.

    Já repararam que o actual Governo não reduz impostos, permitindo que as pessoas fiquem com mais dinheiro no seu bolso; em seu lugar, temos a caridade, proveniente da cobrança coerciva de impostos. Primeiro pagas; se te portares bem, talvez recebas uma esmola!

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    Mas isto não era suficiente, era necessário mais. Muitas franjas das sociedades ocidentais ainda possuem um grande apreço ao livre mercado, ao empreendedorismo e à liberdade. Era necessário criar uma inflação massiva, visando confiscar vasta quantidade de recursos dos cidadãos a favor do Estado. Desta forma, este poderia passar a distribuir sinecuras e benefícios à sua clientela partidária e, medida suprema e emblemática, criar o rendimento mínimo universal.

    Em 2020, à boleia da fraude pandémica, anunciando-se a salvação da população de uma recessão iminente, colocaram-se as rotativas do BCE a funcionar a toda a velocidade; até existiram uns apaniguados do regime a pedir tal acção aos quatro-ventos: “Hora de ligar as rotativas do BCE sem limites”.

    Eles pediram, a Sra. Lagarde deu-lhes: imprimindo 3,8 biliões de euros (12 zeros), cerca de 19 vezes o Produto Interno Bruto português, entre o início de 2020 e o final de 2022, tal como podemos observar na próxima imagem.

    Evolução do balanço do Banco Central Europeu (BCE) entre Janeiro de 2008 e Novembro de 2011 (Unidade: biliões €). Fonte: St. Louis Fed. Análise do autor.

    Esta loucura monetária teve obviamente consequências nefastas, com a maioria das matérias-primas a registar expressivas subidas de preços a partir do início destes “estímulos monetários”, com destaque para as energéticas, como o Petróleo e o Gás Natural que subiram 283% e 272% respectivamente, entre Março de 2020 e Dezembro de 2022.

    Para melhor ilustrar, no final de Março de 2020, um barril de petróleo custava 19 euros; agora, custa mais de 71 euros, uma subida de 283%!

    Não bastava criar mais massa monetária à “procura da mesma quantidade de bens e serviços”, era necessário também destruir a oferta; como? Aplicando sanções económicas ao maior exportador de matérias-primas do mundo: a Rússia.

    Como justificá-las? A Rússia tinha invadido um país soberano, obviamente condenável; no entanto, estranha-se que não tenha ocorrido o mesmo aos perpetradores de invasões e bombardeamentos ao Camboja, ao Vietname, a Granada, ao Iraque, ao Afeganistão, à Sérvia, à Líbia, à Síria – a lista é infindável.

    Variação (%) das principais Matérias-Primas entre 31 de Março de 2020 e 19 de Dezembro de 2022. Fonte: Yahoo Finance. Análise do autor.

    Além disso, os mesmos que agora lançam sanções económicas apoiaram um golpe de estado em 2014 na Ucrânia, depondo um líder democraticamente eleito e colocando em seu lugar um regime que bombardeou desde então a população de cultura russa e que ameaçou aderir à Nato, visando aceitar bases de mísseis apontados a Moscovo. Alguém imaginava tal situação no Canadá, México ou Cuba; alguém se recorda da crise dos mísseis em 1962? Os Estados Unidos alguma vez aceitaram tal ameaça ao seu território?

    Mas não foi só um choque de procura e oferta a provocar a subida inexorável do preço da energia com base em combustíveis fósseis, foi também o omnipresente culto das “alterações climáticas”, da diabolização do gás da vida: o dióxido de carbono (CO2). Apesar de ser invisível e inodoro, associam-no ao fumo dos escapes e chaminés das fábricas!

    Neste ambiente esquizofrénico, todos os novos projectos de extracção de gás e petróleo e gás são cancelados e gasodutos são destruídos, tudo em nome do “combate às alterações climáticas”.

    Segundo os sacerdotes do culto das “alterações climáticas”, necessitamos de substituir os carros de combustão por eléctricos, apesar de estes serem um enorme desastre ambiental – extracção de metais pesados para a sua construção altamente poluentes, armazenamento de baterias em fim de vida poluentes, montanhas despojadas de árvores para a extracção do lítio – e humano – trabalho infantil em África para extrair cobalto.

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    Também necessitamos de aumentar a produção de energias renováveis a todo o custo, em particular a eólica e a solar, onde a China é precisamente o maior produtor de equipamentos, apesar de também ser o maior poluente. A incongruência de tudo isto não tem fim!

    Para além do cataclismo económico das populações ocidentais, começa-se agora a implementar mecanismos de controlo da população inimagináveis há décadas. Para isso, importa seguir o tudo de ensaio de tudo isto, a China, reforçando-a economicamente e tratando-a como o modelo a seguir – ver as declarações de Klaus Schwab, líder do Fórum Económico Mundial a este respeito.

    Estes mecanismos de controlo passam por conhecer todos os aspectos da vida em sociedade de cada ser humano: quem são, onde estão, o que pensam, onde gastam, quanto gastam, por onde se deslocam, que quantidade de impostos é possível extrair; estas e outras perguntas ocorrem permanentemente na mente destes tiranos.

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    Tentativas de controlo não são novidade: os censores romanos, sempre que uma nova província era conquistada pelo Império, serviam para realizar um levantamento dos dados da população ocupada, por forma a conhecer a sua localização, identidade e capacidade fiscal; apenas não dispunham das actuais ferramentas tecnológicas, mas o propósito era o mesmo.

    Os passaportes de vacinas, os códigos QR, a inteligência artificial, visando identificar em tempo real cada cidadão nas suas deambulações por uma cidade, as moedas digitais dos bancos centrais, os sistemas de créditos sociais, onde cada cidadão recebe pontos de acordo com o “seu comportamento”, os carros eléctricos dependentes de um computador e condução autónoma, podendo-se remotamente impedir a pessoa de se deslocar, são tudo ferramentas há muito testadas na China e que já foram aplicadas parcialmente durante a putativa pandemia.

    Para além destas ferramentas, também se recorre à propaganda – a imprensa mainstream não é mais que propaganda e manipulação -, à censura – os “Twitter Files” tornaram evidente que os lápis azuis estão em toda a parte – e, em particular, ao cancelamento dos dissidentes, usando essa infame expressão: negacionista!

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    Temos agora os negacionistas climáticos, os negacionistas de eleições – alguém acredita que o Biden foi eleito com o maior número de votos na história das eleições norte-americanas?! -, negacionistas da covid-19, negacionistas do 11 de Setembro, negacionistas da “Ciência e das vacinas”, negacionistas da “bondade da guerra na Ucrânia”, um sem fim de negacionistas, que, enfim, limitam-se a questionar a narrativa oficial e a colocar questões, recebendo em troca toda a espécie de insultos: conspiracionista, chalupa e negacionista!

    Os direitos constitucionais das populações também estão a ser obliterados ou não respeitados; se a constituição de um dado país não permite a implementação da ditadura, mude-se a mesma, nem que seja de forma ilegal.

    Por outro lado, assistimos à destruição do Estado-Nação e à transferência de soberania para instituições transnacionais como a União Europeia – que publica legislação ao quilograma e destrói os pequenos negócios -, o Fundo Monetário Internacional, o Banco Mundial, a Organização das Nações Unidas e a Organização Mundial da Saúde – aquela organização que irá emitir os passaportes vacinais para podermos circular pelo mundo.

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    A despersonalização da população é outro objectivo, tal como se faziam aos escravos nas praias de Angola antes do embarque para as Américas: separar as famílias, eliminando todos os laços familiares e raízes do indivíduo, por forma a torná-lo descrente, resignado e submisso. É precisamente o desiderato dos inúmeros géneros recém-criados – diria inventados – , retirar ao indivíduo todas as suas raízes e integrá-lo num novo grupo.

    Por fim, o doutrinamento das crianças através da escola pública, tornando-as propriedade do Estado e fazendo-as crer que o Estado é uma entidade magnânima, de bem, a quem se deve obedecer e pagar impostos sem questionar.

    Está na hora de nos levantarmos, caso contrário, estamos a caminho de uma tirania nazi, desta vez ditada por um grupo de globalistas sem rosto. 

    Luís Gomes é gestor (Faculdade de Economia de Coimbra) e empresário


    N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do PÁGINA UM.

  • New Year, New Me? Nem por isso…

    New Year, New Me? Nem por isso…


    O diretor do PÁGINA UM cometeu o erro: pediu um balanço do ano de 2022 a alguém que não vê grandes diferenças entre o 31 de Dezembro e o primeiro dia de Janeiro. Nunca dei grande importância à mudança de ano e os balanços acontecem, na minha cabeça, sem hora ou dia marcado.

    Acho que estou a tentar perceber o que se tem passado desde Abril de 2020, altura em que me juraram que vivia num país (Suécia) onde o Governo matava velhinhos para poupar nas pensões de reforma. De modo que, aqui para nós, ando a fazer contas à vida pessoal, profissional e aquela que me rodeia há quase três anos.

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    Entre dúvidas dos caminhos que devo seguir e das opções que a emigração me impõe, tenho duas certezas, que nem por isso me ajudam muito. Os últimos três anos foram os melhores da minha vida profissional e os piores do Mundo como eu o conhecia. Ou como achava que conhecia.

    O ano de 2022 foi um espelho dessa realidade. A minha vida profissional deu uma volta onde tudo, bem, quase tudo, o que esperava finalmente aconteceu, e, quase em paralelo, a vida no continente europeu foi-se degradando em cada semana, com o alargamento da guerra na Ucrânia e as facturas que entretanto chegaram após dois anos erráticos de confinamentos.

    A população empobreceu. A população que andou a fazer o que os governantes mandaram, em nome de um ridículo “vamos todos ficar bem”, passaram 2022 a ouvir que, “as long as it takes“, teriam de continuar a pagar uma guerra que não escolheram, e assim continuar o caminho iniciado em 2020 que resultou num condicionamento da liberdade individual, desemprego, aumento do custo de vida, endividamento dos países, mais impostos, inflação, salários devorados e aumentos insuficientes. Numa palavra: empobrecimento.

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    Como será em 2023?

    Em princípio pior.

    A guerra parece não ter fim à vista e, como nos mostraram os directos, há um regozijo geral em ver Zelensky a receber mísseis Patriot no Senado norte-americano. Alguém achará que isto é o bem comum: a defesa da União Europeia e mais uma série de balelas que nos vão vendendo para justificar a negociata. Como acharão outros que devem continuar a comprar energia russa e a alimentar a economia de guerra. No fundo, se cada nação fizer o seu negócio, o que lhes importa o sofrimento alheio?

    No caderno de História da minha filha via os loucos anos 20 do século passado. Por lá, o historiador de serviço classificava as várias consequências do resultado da Primeira Guerra Mundial. Dizia-se que “a Europa saía endividada e os Estados Unidos credores”. Ora, 100 anos depois estamos no mesmíssimo filme com a diferença de acharmos, nós europeus, que nos estão a fazer um favor ao segurar os russos no Donbass.

    Quer dizer… sei lá eu se isso será diferente ou não. Provavelmente em 1913 também alguém andava a dizer que aquele Francisco Fernando estava a pedi-las e era um agente secreto dos bolcheviques. E aposto que uma trisavó da Helena Ferro Gouveia defendia em 1905 que vender ferro aos alemães era imperioso, porque eles seriam o tampão à expansão dos Czares russos na Península Ibérica. Imagino que, em todas as eras, existam sempre os visionários com informações privilegiadas que atiram um pouco (ou muito) ao lado.

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    Bom… mas já me desviei do tema – como é, infelizmente, meu apanágio.

    Hoje, 1 de Janeiro de 2023, o que se espera de diferente dos 365 dias do ano anterior? Muito pouco.

    Eu estou a contar com incêndios em Agosto e cheias em Novembro.

    Conto ver mais uns abusos do Erário Público e uns quantos secretários de Estado de bolsos cheios. Imagino mais umas quantas machadadas no Serviço Nacional de Saúde (SNS) e um batalhão de gajos da Medicare a chatear o pessoal nos centros comerciais.

    [Um deles, em Almada, abordou-me para me informar que, além do seguro de saúde, ainda tinha descontos na Adidas. Embrulha, SNS!]

    Vou ver mais uns quantos putos, fresquinhos das universidades e com zero dias na carreira contributiva em Portugal, a pegarem na mala que a Linda de Suza acabou de deixar vazia.

    Rezo aos santos, quaisquer que sejam, para a taxa de juro não ultrapassar os 5% (como se isso fosse um valor aceitável), e espero mesmo que, no meio da loucura geral, os chineses não sejam arrastados para confusões em Taiwan. O meu emprego depende do investimento chinês na Europa, portanto perdoem-me este momento de algum egoísmo, mas a mim, até ver, ninguém perdoa créditos.

    [Também não é culpa vossa que não os tenha pedido ao BES; aceito essa falha da minha parte.]

    woman riding escalator

    Imagino manifestações todos os meses e salários cada vez mais miseráveis. Aliás, acho mesmo que chegámos a um ponto em que se esgotaram as hipóteses de negociação com as elites. São poucos, muitos poucos, os que conseguem ter uma vida confortável em Portugal e não parecem, em momento algum, querer abdicar disso pela via da negociação e da repartição justa de riqueza.

    Em suma, minhas caras amigas e meus caros amigos, acho que 2022 foi, em geral, uma merda. E imagino que 2023 não mude de aroma.

    Confesso que não ando muito optimista. Diz agora o estimado leitor: “olha, nem tinha reparado!”.

    E mais digo: este é o tipo de pensamentos que me ocupa a mente grande parte do dia. Todos os dias, semanas e meses – desde que entrámos neste novo normal de empobrecer, pedir licença para sair de casa ou achar normal não poder tocar em familiares mais velhos.

    Entretanto, anteontem descia eu a rua principal da “minha ilha” quando o repórter da RTP Açores me abordou de câmara ao ombro. Digo o repórter porque só existe um, e todos sabemos quem ele é. São menos de cinco mil habitantes e identificamos, por nome ou família, quem faz o pão ou nos martela a cerca, quem bate na chapa do carro ou quem nos arranja as pontas secas do cabelo. Em poucos segundos e sem que eu esperasse, ele diz: “Desejos para 2023 e uma mensagem de Ano Novo…”.

    black condenser microphone

    Eu, sem pensar muito, disse: “Saúde para todos, fim da guerra na Ucrânia e a baixa das taxas de juro”. São os três temas que influenciam a vida de maior parte das pessoas, julgo eu. Tendo consciência disso ou não, somos todos afectados pelas decisões de Bruxelas, Washington e Moscovo.

    Adorava ser aquele gajo que chega ao primeiro de Janeiro e vive a personagem do “New Year, New Me”, e nos enche de optimismo daquele mundo das misses. Mas não sou.

    Prometo muito voltar a tentar em 2024.

    Até lá, para quem trabalha e depende disso para uma vida com dignidade, não desistam de lutar.

    Um bom ano para todos!

    Tiago Franco é engenheiro de desenvolvimento na EcarX (Suécia)


    N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.

  • Meguinha

    Meguinha

    Os seus olhos, que tiveram já muitas visões, viram

    quase tudo o que há para ver neste mundo e no outro.

    João Paulo Borges Coelho

    As duas sombras do rio


    Em 1982 as redacções dos jornais eram sítios aguerridos, barulhentos, de secretárias e máquinas de escrever muito velhas encavalitadas onde quer que houvesse espaço, pilhas de papel normativo a que toda a gente chamava com todas as letras linguados e nunca laudas, telefones fixos atirados para cima de qualquer espaço livre, e neste cenário estava sempre alguém aos berros, e a toda a volta estava toda a gente a fumar, toda a gente a engatar, e sobretudo toda a gente a mandar vir, a mandar vir, a mandar vir perdidamente num grande festival de liberdade. No nosso caso, levantávamos ainda mais a voz quando saíamos a terreiro em defesa do que queríamos escrever a seguir, durante as nossas longas reuniões de redacção de sexta feira, depois de já termos apanhado os comboios e posto o semanário O JORNAL[1] à venda em todas as bancas portuguesas. Eu era uma miúda que ainda estava a estudar Biologia e ainda nem sequer fumava nem bebia copos, mas defendia as minhas convicções com tanta energia como qualquer outro daqueles colegas que eu aliás considerava autênticos fósseis vivos[2]; e nesse tempo podia ter opiniões tanto ou melhor do que qualquer outra pessoa, desde que o meu trabalho fosse bom. Nunca disse isto a ninguém porque estava demasiado ocupada a defender-me ao palavrão de todos aqueles engatatões de terceira[3], mas tinha orgulho em nós. Éramos uma grande equipa. O António Mega Ferreira veio jogar connosco nessa altura, numa posição algo confusa mas que se subentendia visar com avidez o avançado-centro. Como era nosso costume, descartámos o António e começámos logo a tratá-lo por Mega Ferreira. Isto simplificou-se rapidamente para Mega. Foi assim que o tratei durante o nosso primeiro ano e meio de convívio digamos que laboral, cada vez mais divertido, e rapidamente carregado de insinuações cada vez menos veladas.


    A questão dos nomes que nos habituamos a chamar àqueles que nos são mais queridos é para ser levada muito a sério, porque é aí que instalamos, quase sem darmos por isso, as nossas mais profundas e mais seguras zonas de conforto. De maneira que, quando começámos a namorar, pareceu-me perfeitamente pífio, e subsequentemente por demais desconfortável, trocar-lhe o nome de Mega para António, como seria de esperar se isto fosse uma história normal. Muito pelo contrário, o que realmente se passou comigo, logo a seguir à enorme ventosa escaldante do nosso primeiro beijo[4], foi um desenvolvimento lógico que me aconteceu a quente, de uma forma nunca antes minimamente premeditada, mas que nessa altura acabou por fazer História.

    Em menos de uma semana de amor, os meus melhores instintos já lhe tinham atenuado o Mega de carácter laboral para o Meguinha de carácter afectivo. Até a minha sogra delirou com este desenvolvimento, e então o nome dele ficou Meguinha de vez, e era Meguinha em tudo, mesmo nas nossas piores discussões[5]. As pessoas que nos rodeavam apropriaram-se num instante desse Meguinha, de tal forma que a minha família nem chegou a conhecer-lhe outro nome: a única diferença, para os meus pais, para as minhas irmãs, e para os meus sobrinhos, foi sempre entre Meguinha ou Tio Meguinha. E toda a gente se riu muito quando eu, outra vez de instinto, comecei a abreviar este Meguinha para Guinha, às vezes até mesmo para Gui. Ele gostava de me tratar por Pretinha, um dos meus mais antigos e mais queridinhos nomezinhos de infância. Isto fez com que as pessoas nos chamassem Pretinha e Guinha. As nossas variações desse tempo foram um fantástico mundo de aventuras.

    Finalmente, depois de um ano maravilhoso de vida em absoluto e perdido estado de pecado na porta giratória da Rua de São Mamede[6], só nós os dois e o Zé Matos e o meu boxer Sebastião aos pés da nossa cama, e as noites dos jardins de Lisboa onde íamos passear com ele, apanhámos toda a gente de surpresa com o cheque-mate mais colorido deste mundo. Sem dizer nada a ninguém, voltei a vestir, com muito orgulho e algumas lágrimas, o vestido cor de pérola da minha Mãe, da minha tia, e da minha irmã mais velha antes de mim; e foi assim que fomos casar-nos à igrejinha tranquila da aldeia dos meus avós. Foi tudo escolhido em cumprimento de uma promessa muito séria que eu fizera vários anos antes aos caseiros do meu avô, durante as vindimas, no intervalo do almoço de um dia quente e abafado de fins de Setembro.

    O Senhor Zé Serrão estava para ali a praguejar que trabalhar com eles nos campos aos quinze anos era uma coisa[7], mas que mais tarde eu havia de ser uma grande doutora muito rica, havia de casar-me com algum outro doutor da mesma laia, e nunca mais iria querer saber daqueles dois pobres velhos para ali votados ao esquecimento sem fim.

    E então eu jurei, perante todas as testemunhas do nosso rancho, que, quando chegasse a hora, ele e a Senhora Amélia seriam os meus padrinhos, fosse onde fosse que entretanto eu tivesse ido parar, na arbitrariedade total dos acasos deste mundo.

    Mantivémos o evento limitado às dimensões da casa do Avô Jacob e da Avó Pinta, só mesmo com as famílias imediatas e os amigos mais próximos. O nosso casamento pertencia ao foro da alma. Penetra não entra.

    Isto, para mim, era uma questão de honra, e com igual intensidade uma profunda questão de fé. Pelo seu lado, o Meguinha, que nem sequer era católico, adorou aquela linda canção de embalar com a promessa feita pela doutorinha às pessoas do povo durante as vindimas, apropriou-se logo dela, retocou-a e puxou-lhe o lustro, repetiu-a à sua Mãe e aos seus amigos que sabiam do grande segredo[8], e viajou lá dentro enquanto autêntico passageiro feliz, de medidas cumuladas por tanto pitoresco.

    Nas três semanas de preparação para o domingo do enlace ele andou ocupadíssimo a esmiuçar as inúmeras impossibilidades do catolicismo com os padres inteligentes que se divertiram à grande com a tarefa insana de irem lá a casa para debaterem e rirem com gosto enquanto se sentavam connosco à mesa que eu punha com todos os cuidados[9], bebiam ali uns bons copos de um Vinho Verde soberbo e petiscavam uns belos de uns petisquinhos que eu lhes trazia da cozinha como quem não quer a coisa, e de caminho nos ajudavam a tornar toda aquela anarquia viável[10]. Por isso eu tive que tratar das alianças sozinha[11]. A minha dizia CLARA, como seria de esperar. E a dele dizia mesmo, assumidamente, MEGUINHA. Entre nós, já ninguém se lembrava de que ele antes tivera outras vidas, onde porventura fora outra pessoa e recebera outros cognomes.

    Cinco anos depois, o nosso telefone tocou no escuro, pouco passava das seis da manhã e sabe-se logo que um som destes não é um bom sinal. Fui atender assustadíssima, mas o meu cunhado recusou-se a falar comigo. Quando finalmente o Meguinha lhe atendeu, ainda tonto de sono e a protestar que eu era louca, cheguei a ouvir a voz do outro lado da linha a dizer “o nosso sogro está muito doente”. A seguir sentei-me na cama num silêncio de absoluta consternação. Murmurei, apenas, “pronto, acabou.”

    A velocidade destas coisas é cruel ao ponto de nos deixar mudos.

    Pouco depois estava o meu Pai a morrer de cancro aos 56 anos, quando acabava de revolucionar completamente a sua vida e se tinha, por fim, transformado num homem tão feliz que nos emocionava e contagiava a todos na inspiração única da sua figura carismática que agora era maior do que a vida.

    Só foi feliz durante um ano, e o cancro reclamou-o em sete meses.

    Logo a seguir ao funeral, finalmente desfeita que ficou com ele a historinha exemplar Pretinha e Guinha, parti eu também para as neves eternas de Buffalo. Foi a minha vez de revolucionar de alto a baixo o meu pequeno mundo na grande gesta de concluir o doutoramento. Foi ali que vivi, por fim, a emoção de arrancar histórias ainda completamente desconhecidas ao grande silêncio das bancadas dos laboratórios, sempre em imenso esforço, e sempre, sempre debaixo de tanto gelo e tanto frio que nunca consegui olhar para trás. Durante muitos anos, nunca mais voltei a ver a Rua de São Mamede. Aliás, nunca mais soube da data precisa da floração simultânea dos jacarandás em todas as ruas que vão lá ter, a grande explosão psicadélica do mais vibrante púrpura que marca infalivelmente o início de cada Verão[12]. Quando, por fim, defendi as minhas provas no Instituto Abel Salazar, já o primeiro ministro era o Cavaco Silva, que já nos tinha ordenado, numa sobranceria que a gente dantes não usava, “deixem-nos trabalhar”. Havia boçalidade. Notava-se por todo o lado a presença indecorosa de um dinheiro que no entanto ninguém tinha, só me falavam de arrancar oliveiras e de destruir barquinhos da frota de pesca artesanal, aquilo não pressagiava nada de bom e o meu País, crivado de IPs e de portagens, estava por demais irreconhecível.

    O conto de fadas, no entanto, nunca deixou de existir, tal como ficou gravado para sempre, com toda a nitidez, nos anais da memória afectiva de São Mamede.

    É que, sabem, contei-vos esta história toda pelo que vale enquanto documento. Tenho presente, sem qualquer margem para dúvidas, que os anos de São Mamede, quando o Meguinha era o Padrinho e eu era a Mãe e absolutamente tudo era possível, não se limitam ao conto de fadas.

    Na realidade, são o testemunho bem sucedido de uma época dourada em que ainda não existia a Europa, e nós ainda estávamos a testar a nossa liberdade[13]. Nos anos de São Mamede tinha eu começado a publicar os meus primeiros romances sob a vigilância atenta e delirante do Meguinha, existiam ainda verdadeiros críticos literários que defendiam as suas opiniões com verdadeiro brilhantismo, e Portugal era orgulhosamente o País que muito bem quisesse ser. Sabíamos que podíamos fazer tudo, desde que déssemos mesmo o litro e oferecêssemos mesmo o nosso melhor aos outros. E então a embalagem do nosso delírio criativo fazia nascer em São Mamede, de volta dos meus jantares lendários e sob a égide regalada do Meguinha, livros, ilustrações, fotografias a preto e branco pintadas por cima a cores, canções, espectáculos inteiros testados e rodados em palco para grande exuberância das audiências e felicidade sumamente grata do Meguinha[14], quadros a óleo, aguarelas, programas de rádio, tudo feito de raíz e tudo experimentado pela primeira vez. Perante os nossos resultados finais vi por vezes o Meguinha chorar de alegria[15] em público e sem reservas, num pranto de comoção assumida e puramente estética. Na altura era o melhor dos seus agradecimentos, e tudo fazia perfeito sentido. Íamos para a sala beber digestivos e fumar charros, a deixar correr a noite numa grande alvorada de ideias. Era um País ainda sem autoestradas que era muito bonito e estava feito mesmo à nossa medida, um País feliz e independente, cheio de leveza e de possibilidades.

    Portugal era então um País que já não há.

    Nunca mais volta a haver[16].

    Vive sempre em nós, no entanto, a imagem grata do Meguinha a pôr as cuecas na cabeça em sinal de protesto[17].

    Na contracapa da colectânea A MÚSICA DAS ESFERAS, já muitos anos passados sobre a ocorrência, volta a aparecer esta jovem Pretinha numa foto paternal do Guinha. Foi primeiro tirada por mero acidente aos pés do Corcovado durante uma viagem festiva ao Rio e a Minas Gerais, quando fomos os padrinhos de casamento da Ana, que ainda hoje é a minha melhor amiga. Substancialmente mais tarde, veio a estrear, de forma discreta, na contracapa do romance ADEUS, PRINCESA. A seguir foi circulando de contracapa em contracapa como se o tempo não passasse, sobre uma vida real feita de enlaces e desenlaces, partidas e cegadas, casamentos e divórcios. E fez todo este percurso sem nunca incomodar ninguém, porque observou sempre um total anonimato em relação ao seu autor. E, sobretudo, porque era uma foto que oferecia total confiança, em toda e qualquer data, para toda e qualquer contracapa. Tinha o Selo de Garantia da Marca Meguinha.
    O Meguinha foi a primeira pessoa a ver-me começar a escrever um romance que parecia literalmente vindo do nada, e o primeiro a entusiasmar-se perdidamente, sem qualquer disfarce, com o que considerou desde o primeiro dia a grande qualidade da minha escrita. Depois leu algumas das melhores passagens do AGRIÃO! aos amigos reunidos em São Mamede numa das nossas jantaradas homéricas, onde tanto estavam os jovens prodígios musicais da minha banda como estavam o António Alçada e o Hermínio Monteiro. Nessa altura maravilhosa não houve nada que não nos fosse possível, porque vivíamos num País de grande felicidade e independência do qual já não restam hoje os menores vestígios.

    Clara Pinto Correia é bióloga, professora universitária e escritora


    [1] Mais tarde, O JORNAL daria origem à presente assépsia da VISÃO, mas são obras representativas de galáxias completamente diferentes, cada vez mais distantes na expansão imparável do nosso Universo.

    [2] Pouquíssimos anos antes, no final do liceu e ainda em pleno PREC, fui uma militante toda vivaça das temíveis BEFS. As Brigadas de Extermínio aos Fósseis especializavam-se em telefonar para casa dos fascistas, aterrorizando as mães deles com contundentes “Brigadas de Extermínio aos Fósseis! O seu filho que não saia de casa hoje! Não voltamos a avisar!”, e outros avisos assim. Muito fascista chumbou por faltas devido à nossa obra.

    [3] Numa noite de fecho, completamente grosso, o Joaquim Lobo chegou a saltar para cima da minha secretária – e depois ficou lá perdido, em pé, desamparado e infeliz, sem enxergar sequer uma sequência lógica para a parvoíve inútil daquele gesto ébrio. Eu nem disse nada, e limitei-me a ir continuar a trabalhar para outra secretária. Aquilo era bom. Éramos verdadeiramente um filme.

    [4] E então? Há azar?

    [5] Tínhamos os dois imensas convicções, e para benefício do seu próprio personagem o Meguinha imaginava a meu respeito cenários insultuosos que me enchiam de revolta. Portanto discutíamos imenso, e sempre com imensa paixão. Eram fogos-fátuos, no entanto. Eu fartava-me depressa, calava-me – e depois ficava ali de espectadora, assaz fascinada, a espiar minuciosamente todos os incríveis teatros do Meguinha. Irresistível, louquíssimo, deveras arrebatador. Estava ali, decerto, um homem capaz de dar com o Maquiavel em doido. Não há assim para aí muita gente que possa gabar-se de possuir os mesmos dons.

    [6] Entrava e saía muita gente à procura de abrigo, e, sobretudo, de carinho e de calor. Uma das melhores especialidades da casa, que ainda tinha aposentos de criada e para onde eu ainda tinha contratado uma daquelas mulheres-a-dias mesmo de todos os dias que nós tínhamos na altura, foi a de albergar amigos em estado de terrível crise. Entravam perdidamente desfeitos, descansavam, começavam a rir connosco, vinham à praia na minha carrinha 4L novinha em folha, de caminho apreciavam devidamente o teatro bestial em que o Meguinha, sempre sentado no lugar do morto com o Sebastião ao colo porque não sabia guiar, via o cartaz enorme a dizer “SEIXAL SAÚDA-O” e bradava em tom perfeito de oratória parlamentar  “Mas eu não quero ser saudado pelo Seixal!”, atordoavam-se com as nossas colecções discográficas que não eram iguais às de mais ninguém, nem queriam acreditar nas pessoas que apareciam por ali à hora de jantar todas como quem não quer a coisa, e acabavam por sair absolutamente refeitos, gratos para sempre.

    [7] O Senhor Zé Serrão estava sempre a praguejar. Nem sabia falar de outra maneira. Só não praguejava com a Senhora Amélia, que ainda era linda e ele ainda amava com todo o coração. E também nunca praguejava com a mula, que vivia em casa com eles e entendia tudo o que o dono lhe dizia.

    [8] Depois de já estarmos casados repetiu-a com gosto a toda a gente educada e culta que o quis ouvir. Era uma história cada vez mais bonita e acrescida do poder metafórico de verdadeiros jogos luminotécnicos como os que são usados nas óperas, porque o Meguinha sempre se preocupou cuidadamente com a construção e colocação em perspectiva de todos os seus cenários.

    [9] Toda a gente se lambia com os meus peixinhos da horta de alho francês mornos e crocantes, que eram, em segredo, mais uma variação sobre a tempura do que um sinal de respeito por qualquer tradição portuguesa. E claro, bastava engrossar a massa e picar bem o alho para oferecer também aos convivas umas verdadeiras pataniscas de luxo. Eu chamava-lhes mesmo assim, para proteger o seu segredo: “experimentem as minhas pataniscas de luxo”. É um legume integrante das bancadas de alquimia, o misterioso alho francês. Cura gripes, restaura forças, e assume sabores inesperados conforme as ligações que se lhe oferecem. Trata-se bem, e com devida paciência. Não há cá segredos descobertos de um dia para o outro, e aliás as minhas primeiras experiências saldaram-se em desastres de monta.

    [10] Inicialmente, o Meguinha parecia nem sequer ter certificado de baptismo, de tão anticlerical que fora a sua família. Isto obviamente inviabilizaria qualquer casamento católico, pelo que ainda chegámos a considerar a hipótese hilariante de o baptizarmos antes de o casarmos. Finalmente, com a ajuda da minha sogra, lá consegui descobrir o documento numa junta de freguesia perdida pelas ruas paralelas da Baixa, e acabou-se logo ali a galderice.

    [11] Também as paguei sozinha. Nem pensei no caso, porque estas situações eram a regra daquela altura. O Meguinha dedicava-se voluptuosamente a projectos fascinantes que lhe apareciam pela frente com grande frequência como cantos de sereia, entregava-se-lhes de corpo e alma, sonhava acordado, subia todos os degraus até aos píncaros, e depois não era pago. Na revolta justiceira desencadeada por estes desfechos de mau gosto, verificava num olhar automático se eu estava bem vestida e bem penteada, agarrava-me pelo braço, e arrastava-me para jantar na esplanada amena de um dos restaurantes mais caros das redondezas. Pedia entradas e sobremesas, no fim bebia ritualmente mais do que um balão do seu tradicional Cutty Sark com duas pedras de gelo, e o vinho era sempre muito bom e muito caro. Este período de anarquia esconde a primeira e única vez em que eu fui ter com o meu Pai ao consultório, morta de vergonha, para lhe pedir dinheiro emprestado porque nos últimos dias já tinha esgotado de vez as várias potencialidades secretas da minha lata de Atum Tenório, não me restava absolutamente mais nada lá em casa, e se o Meguinha soubesse disto íamos logo outra vez para um restaurante de luxo esbanjar com grandes faustos imenso dinheiro que não tínhamos. Pedi uma daquelas pequeninas notinhas de vinte escudos, nunca mais me esqueço. O Pai ficou tão aflito que insistiu em dar-me antes vinte contos. Depois ofereceu-se para falar ele com o Meguinha. Foi assim que a estabilidade começou por fim a penetrar nas nossas vidas, e também isto pertence aos toques colaterais mais comoventes da história.

    [12] Por acaso, a floração dos jacarandás é um bom exemplo de pequena história científica que, desde que muito bem contada, fazia o Meguinha lacrimejar de alegria.

    [13] Por exemplo, aos 25 anos conquistei à custa de muito berro e muito insulto o direito a celebrar o Dia Mundial da Mulher com uma grande reportagem sobre a vida das lésbicas. Já estávamos a quase nove anos do 25 de Abril, mas a homosexualidade ainda era um segredo, e ainda nenhum jornalista lhe tinha oferecido nenhuma reportagem. E muito menos às mulheres. Na altura, ainda valiam muitíssimo menos que os homens. Estávamos longe de já termos conquistado tudo. Ilustrativamente, o Meguinha, quando soube desta reportagem, ficou furioso porque estava atento a tudo. Detestava aqueles meus “comportamentos marginais”, porque a minha imagem de “miúda malcriada” se reflectia negativamente nele.

    [14] Este era um cenário bizarro e raríssimo, cheio de sabores e texturas experimentais, delicados e inebriantes, daqueles que acompanhavam maravilhosamente o seu percurso.

    [15] O que é que foi, pá? Outra vez?

    [16] Nesse País perdido o Meguinha era o nosso único Cappo, e só ele é que podia ditar regras. Podia repreender-nos à vontade quando nos considerava imaturos, ou descontrolados – ou, muito pior do que todas as outras falsas partidas deste mundo, medíocres mesmo. Quer isto dizer que, ao serviço da arbitragem cultural, nos punha os pés à parede com grande frequência. Depois enfatizava esses gestos com um olhar indignado da mais pura revista à portuguesa no seu melhor, que lhes dava um toquezinho Beatriz Costa e os rematava na perfeição. Aquilo, connosco a ver, era do melhor que havia. Dava-nos logo vontade de fazer melhor.

    Ah sim, pois foi. Pois foi. Criou algumas assinaturas únicas, o Meguinha.

    [17] Eram mesmo cuecas, porque na altura ainda nem sequer existiam os boxers. E todas as cuecas eram brancas, como mandavam as leis do mais elementar decoro no trajar da roupa interior. Pessoal, vamos lá a atinar, quando nós nos casámos ainda nem sequer existiam as lojas dos chineses, então – e, no princípio deste conto de fadas, ainda nem sequer existia a Feira de Carcavelos! Onde é que vocês queriam que eu lhe comprasse cuecas coloridas?

    Aliás, e que comprasse. O Meguinha nunca as usaria. Não as consideraria de bom-tom.

  • De que falamos quando elogiamos Graça Freitas?

    De que falamos quando elogiamos Graça Freitas?


    Graça Freitas vai reformar-se. É com as mãos na cabeça que assisto aos elogios e agradecimentos ao trabalho que Graça Freitas fez na liderança da Direcção-Geral de Saúde. É com assombro que vejo os retratos angelicais e endeusados que muitos dos media mainstream – transformados hoje em autênticas máquinas de marketing político e corporativo – fazem de Graça Freitas.

    O legado daquela que tem sido a directora-geral da Saúde não é só terrível: é trágico, e vai afectar a saúde e os bolsos dos portugueses durante largos e largos anos.

    Mas, ficando eu estupefacta com tanta gente que faz vénias a Graça Freitas, também concluo que fica explicado como é possível haver em Portugal casos como o da TAP. E casos como o de Alexandra Reis.

    Se, depois de quase três anos de decisões catastróficas para o país, há portugueses gratos a Graça Freitas, o caso da “indemnização de 500 mil euros” está explicado.

    Das duas uma: ou o povo que está grato a Graça Freitas vive totalmente alheado da realidade; ou é mesmo sadomasoquista. Sendo uma hipótese ou outra, entende-se que seja fácil haver, neste país, casos de Alexandras Reis em cada gaveta de empresas públicas ou companhias como a TAP – ligada a máquinas e alimentada com o dinheiro de todos nós há anos e anos.

    Graça Freitas geriu a pandemia como se tem gerido o país: com muito marketing; manipulação de informação com ajuda dos media; e dinheiro a rodos para muita gente. O rasto de despesa e sofrimento, ficou para o Estado (nós) e para os mais vulneráveis, como sempre.

    person lying on bed and another person standing

    Passo a explicar. Vejamos os “feitos” daquela que tem sido a directora-geral da Saúde:

    1. Portugal é um dos piores casos de excesso de mortalidade da Europa! Não há explicação, sobretudo porque aumenta também a mortalidade nos mais jovens. Mas há portugueses gratos a Graça Freitas.
    2. Portugal é dos países europeus com mais mortes acumuladas com covid-19 por milhão de habitantes também dos que registam mais casos positivos. Isto, apesar do marketing em torno da elevada taxa de vacinação. Mas há portugueses que agradecem a Graça Freitas.
    3. Os portugueses, incluindo os jornalistas, estão impedidos de aceder a documentos públicos e bases de dados de relevo sobre saúde em Portugal. Reina a opacidade e o esconde-esconde no Ministério da Saúde e na DGS de Graça Freitas (lá saberá porque esconde o que esconde). Mas há portugueses que elogiam Graça Freitas.
    4. A manipulação de dados sobre a covid-19 por parte da DGS foi algo que ocorreu desde o início da pandemia. Contando com a ajuda da imprensa mainstream – a tal máquina de marketing oficial –, apenas foi dada ao público informação tosca e ao gosto do que interessava à DGS, não aos portugueses. Mas há portugueses gratos a Graça Freitas.
    5. A DGS cometeu ilegalidades, e Graça Freitas assinou documentos ilegais, com medidas sem fundamentação nem na Lei nem na Ciência (quarentenas, fecho de supermercados concentrando todos no mesmo local e à mesma hora, etc., etc., etc.). Mas portugueses agradecem a Graça Freitas.
    6. A DGS liderou campanhas de desinformação e arranjou até influencers para lhe fazer o trabalho de marketing local. Mas portugueses elogiam Graça Freitas.
    7. Graça Freitas e a DGS promoveram e compraram com o nosso dinheiro um medicamento que vale zero para a covid-19: o Remdesivir. Mas portugueses admiram Graça Freitas.
    8. Graça Freitas alberga na DGS peritos como Filipe Froes, um contratado por farmacêuticas com milhares de euros mensais de vencimento “extra”. Mas portugueses louvam Graça Freitas.
    9. Graça Freitas promoveu a vacinação para crianças e jovens, quando pediatras e outros especialistas alertavam para os elevados riscos e as dúvidas sobre se as novas vacinas seriam seguras e eficazes para os mais novos. Graça Freitas fê-lo, sabendo o que estava a fazer, e sabendo que as crianças e jovens estão fora do grupo de risco da covid-19. Agora, começa a ver-se um rasto de miocardites e outros efeitos adversos nos mais jovens. A procissão vai no adro. Mas portugueses adoram Graça Freitas.
    10. Graça Freitas ajudou a desacreditar médicos e peritos, ao fechar os olhos em processos da Ordem dos Médicos e a muitas outras situações inaceitáveis, quando questionaram as medidas sem precedentes e erradas que foram implementadas em Portugal. Mas portugueses fazem vénias a Graça Freitas.
    girl covering her face with both hands

    Em resumo, Graça Freitas abriu uma Caixa de Pandora em várias frentes.

    Pôs em causa a saúde de crianças e jovens.

    Contribuiu para destruir a Ciência – que é distinta da religião dogmática que Graça Freitas promoveu.

    Deixa um rasto de mortalidade covid e não-covid em Portugal – sem explicação ainda.

    E abriu as portas para a implementação definitiva de um estado policial em Portugal e uma tirania sanitária e segregacionista, sem base científica e sem qualquer eficácia em termos de Saúde Pública, sobretudo se avançarem as alterações à Constituição a que se juntará o ameaçador e terrível Tratado Internacional sobre Pandemias.

    E alguns portugueses dizem: “mas ela não tinha alternativa”; “foi o melhor que soube fazer”, etc., etc.

    Errado! Preferiu a via da cobardia (ou da preguiça) e, em vez de fazer o que fez a autoridade de saúde na Suécia – que, efectivamente, seguiu a Ciência e não o marketing político –, adoptou medidas que destruíram a economia portuguesa (devido aos confinamentos e fecho de actividades) e que afectaram a saúde dos portugueses numa dimensão gravíssima, e ainda não totalmente conhecida.

    Anders Tegnell, reputado epidemiologista sueco, liderou a resposta da Suécia à pandemia de covid-19 com um grande sucesso. O país, ao contrário de outros, como Portugal, regista um excesso de mortalidade residual. A Suécia recusou aplicar, em geral, confinamentos e o uso generalizado de máscara facial.

    Mas o que é que isto tem a ver com a TAP e Alexandra Reis?

    Tem tudo a ver.

    Um povo que fica grato a uma directora-geral da Saúde que deixa um rasto de destruição e catástrofe, como fez Graça Freitas, é um povo que não consegue compreender como tem sido gerida grande parte do país, nomeadamente na esfera pública. Ou não percebe e ignora a realidade, ou gosta de sofrer e de ter carrascos.

    Seja como for, espero apenas que sejam muitos os portugueses que compreendam bem que o que Graça Freitas fez nos últimos quase três anos não é para elogiar, e muito menos para se estar grato. Só se for por estar de saída.

    red and white no smoking sign

    O que Graça Freitas fez foi algo de tão terrível e tirânico que desejo que nunca mais se repita. Há quem possa considerar que foi mesmo um crime, sobretudo na recomendação de vacinas com riscos a crianças e jovens saudáveis que não precisavam delas, perante os alertas de pediatras e estudos.

    Penso que, mesmo com toda a informação que a DGS, o Governo e o Infarmed estão a esconder sobre o que se passa com a saúde dos portugueses (e a mortalidade em excesso), Graça Freitas não poderá dormir descansada. Não haverá marketing e media mainstream suficientes para agora parar a informação real e verdadeira que, mais tarde ou mais cedo, irá surgir.

    Mas o pior será para os que sofrem e para os que sofreram devido a Graça Freitas. E pior para os que ainda irão sofrer. Mas enquanto a máquina de marketing funcionar, haverá gratidão. Haverá TAPs e Alexandras Reis. E todos dormirão descansados. Porque o povo – eles sabem – o povo é grato. Sempre muito grato.

  • Pedro Nuno Santos, esse!, o homem da Causa Pública…

    Pedro Nuno Santos, esse!, o homem da Causa Pública…


    Já foi noticiada e analisada, até à exaustão, a demissão do ministro Pedro Nuno Santos (PNS), talvez o rosto mais conhecido do Partido Socialista (PS) depois de António Costa.

    Os saudosistas deste agora ex-ministro, como Ana Gomes, comentaram a sua saída do Governo de forma pungente, apelando até ao seu regresso com a maior brevidade, talvez numa manhã de nevoeiro: “PNS sai, como sempre esteve no Governo: com seriedade, convicção e dignidade. E com ambição para o País. A tempo de revigorar o Partido Socialista, espero.”

    Também temos despedidas mais singelas, como o “Obrigada” da deputada Isabel Moreira, co-autora do ilegal projecto de revisão constitucional do PS, o tal que propõe, quase cinco décadas depois da instauração da “democracia”, umas quantas alterações aos direitos, liberdades e garantias da Constituição da República que estão vetadas pelo seu artigo 288º.

    Pedro Nuno Santos, vulgo PNS

    Mas coloca-se uma questão premente: a que se devem tantos encómios, laudas, ditirambos, panegíricos e tantos carpidos agradecimentos ao copioso esforço laboral do “nosso” PNS, apodado como o verdadeiro defensor da causa pública? Que digo?! Com o cognome de Causa Pública.

    Este é, convenhamos, um dos principais mistérios do mundo contemporâneo: o interesse público. Mas, afinal, o que é isso do interesse público?, que tantas vezes escutámos durante a putativa pandemia: o interesse colectivo tem de estar acima do indivíduo – até parecia que estávamos num congresso do PCP.

    Na verdade, o interesse público acaba por ser uma espécie de tirania da maioria, tantas vezes utilizada pela classe política para justificar o atropelo aos nossos direitos: vejam lá, a maioria está connosco, tens de te submeter.

    E se, por exemplo, a maioria decidir que os obesos não podem entrar nos restaurantes? Se, por exemplo, a maioria decide que todos os que possuem depósitos bancários superiores a 500 mil euros devem ser confiscados em 50% a favor do Estado? Ou 100% até, porque não? E se, por exemplo, a maioria entende que a correspondência pessoal de certos profissionais deve ser pública?

    PNS no último Natal, entre António Costa e Marcelo Rebelo de Sousa.

    Por vezes esquecemo-nos que as cartas constitucionais servem precisamente para proteger os interesses dos indivíduos da tirania da maioria: o direito a não ser discriminado, o direito à propriedade, o direito à privacidade seriam a resposta óbvia às anteriores perguntas.

    No fundo, o Estado deverá servir apenas para assegurar a nossa segurança e arbitrar os conflitos que derivam dos interesses particulares de cada um. Não serve para ser o Robin dos Bosques – na verdade saca aos pobres a favor dos ricos, vejam o escândalo da “nossa” Alexandra Reis –, nem tão pouco para gerir empresas de aviação.

    Em conclusão, apenas existem interesses individuais, não existe o tal absurdo interesse público. Cada ser humano é único, com virtudes, defeitos e ambições individuais, mesmo se legítimas. Se ocorrer uma verdadeira pandemia, nenhuma pessoa com dois palmos de testa necessita que lhe digam que a mesma existe; bastará ver os seus próximos a adoecer, e a tombar, para que desate a procurar defender-se e proteger-se: não necessita da tutela do Estado, nem das ordens da senhora Freitas – que, aliás, também se vai embora, vejamos para onde…

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    Para muitos membros da casta, o “nosso” Pedro é o verdadeiro paladino da Causa Pública – assim mesmo em maiúsculas, mesmo não se sabendo lá muito bem o que será tal coisa. Não sei explicar o porquê. Para além dos cargos políticos, não se lhe conhece qualquer emprego, empresa que tenha fundado com dinheiro do seu bolso, ou entrevista de emprego que tenha realizado. Trata-se de um homem público que sempre viveu da cobrança coerciva de impostos, o que até explicará o seu absoluto desprezo pelo dinheiro dos outros.

    Esse desprezo levou-o, por exemplo, a enterrar mais de 3,5 mil milhões de euros na bancarroteira nacional, TAP de seu nome. Isto dá 360 euros por português, incluindo idosos, adultos e crianças, ou seja, 10,3 milhões de almas. Para uma família de quatro pessoas significa mais de 1.400 euros; isto tudo num país onde o salário médio não ultrapassará os mil euros.

    Em defesa da sua dama, o Pedro afirmava que a “TAP é do povo português para o bem e para o mal”. Engraçado, até hoje nunca recebi qualquer título de propriedade, nem tão pouco qualquer dividendo. Mas há quem tenha recebido chorudos salários e indemnizações à conta do Joaquim do Café, da Maria do Cabeleireiro e do João do Bate-Chapas, que vão continuar a pagar uma dívida pública colossal, através de uma carga fiscal sem precedentes, que tem servido ao longo de décadas para alimentar a casta.

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    O Pedro nunca nos alertou que, depois das falências e vendas forçadas causadas pela casta onde ele milita, e que nos explora há mais de 48 anos – quem não se recorda da Portugal Telecom, da ANA, do BES –, a bancarroteira nacional era (e é, e ainda, para mal dos nossos pecados, será) um dos últimos redutos de sinecuras e de contratos pornográficos para prestação de serviços (com pouco trabalho) para amigos e apaniguados.

    Lacerda Machado, Stephanie Sá Silva, Isabel Nicolau, Miguel Frasquilho e Pedro Rebelo de Sousa foram alguns dos que conhecemos. E certamente que devem existir dezenas de ilustres desconhecidos que estão a gracejar com a nossa servidão e miséria.

    Num país que, na União Europeia, está nos primeiros lugares a contar do fim no indicador PIB per capita, corrigido pela paridade do poder de compra (PPP), esperançado em caminhar para o último lugar, agora que a (ex-ditadura comunista) Roménia se apresta para nos passar a perna, o Pedro Nuno alimentou-se (e alimentou muita gente, obviamente com o nosso bolso) do grandiloquente sonho de possuir uma Companhia de Bandeira.

    Ninguém disse ao Pedro que a maioria dos países europeus, certamente bem “mais pobres do que nós” (como todos sabem…), já não usufruem desse luxo: Iberia, Swiss Air, Sabena, Alitalia, British Airways, apenas para citar alguns exemplos, foram à vida. Ou seja, fecharam ou foram definitivamente alienadas a privados.

    Em tempos, até tivemos o chefe do Pedro (agora ex-chefe), o verdadeiro prócere do regime, a anunciar que “a TAP é fundamental pois, na era da globalização, tem a importância que as caravelas tiveram na era dos Descobrimentos”. Isto tudo daria para rir a bandeiras despregadas, caso eles não zombassem de nós há décadas, pois escravizam-nos e, pasme-se, ainda votamos neles! 

    O Pedro, depois de me ter assaltado em 1.400 Euros, sairá em glória, não tenho dúvidas. Terá toda a camarilha que come no prato do Orçamento do Estado há décadas a suplicar pelo seu pronto regresso, pois o Homem da Causa Pública não nos pode abandonar! Há muitos que vão andar por aí como órfãos… até ao seu, Deus me benza!, regresso.

    Luís Gomes é gestor (Faculdade de Economia de Coimbra) e empresário


    N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do PÁGINA UM.

  • #TwitterFiles: da vergonha e da liberdade

    #TwitterFiles: da vergonha e da liberdade


    Desde o dia 2 de Dezembro, o PÁGINA UM tem acompanhado detalhadamente os #TwitterFiles, a súmula de documentos disponibilizados por Elon Musk sobre as práticas da anterior administração do Twitter sobre liberdade de expressão, propaganda e manipulação de massas.

    escrevemos 11 artigos sobre esta matéria, fazendo um esforço suplementar de acompanhamento destas revelações, através das notícias das jornalistas Elisabete Tavares e Maria Afonso Peixoto.

    Elon Musk

    A imprensa mainstream, internacional e nacional, vê o elefante na sala e nota-se o incómodo no silêncio. Consigo imaginar a sua consciência a remoer, já no vazio. É fácil ignorar uma notícia, uma investigação, uma história… Mas como conseguir isso perante uma catadupa de provas sobre interferências ao mais alto nível de instituições ditas democráticas que colidem com os mais básicos direitos e garantias de sociedades democráticas?

    Mas a imprensa conseguiu isso. Uma vez, duas vezes, já vai na casa da primeira dezena de vezes. Os jornalistas da imprensa mainstream olham e não vêem. Pior: não querem ver porque se recusam a olhar. Ou pior ainda: não querem ver porque lhes dizem que não devem olhar para ali. E muito obedientemente assim agem.

    Como jornalista, pergunto aos outros jornalistas da dita imprensa mainstream: não sentem vergonha de estarem ostensivamente a desviar os olhos de algo como os #TwitterFiles, que são apenas a ponta do icebergue de algo tenebroso que a classe jornalística deveria combater?

    white ipad on red textile

    De forma passiva, mas também activa por isso, pactuam V. Exas. com o “apagamento” das revelações, censurando assim as notícias da censura? Ignorando as manipulações feitas, “desculpando-as” no pressuposto de que os meios justificam bons fins, esquecendo que esses mesmos maus meios servem sempre maus fins?

    São vocês jornalistas? Querem que os leitores vos considerem credíveis depois disto? Têm a noção do suicídio?

    Não tenho por vós comiseração alguma: enquanto se envergonham, eu tenho um imenso orgulho no PÁGINA UM. No trabalho que fazemos. E na liberdade alcançada a pensar nos leitores. Sem a hipocrisia de ocas declarações de fé sobre independência e coisas que tais.

  • Um gato no chuveiro e um Governo em pedaços

    Um gato no chuveiro e um Governo em pedaços


    Pelo que vou lendo por aí, há uma certa alegria no facto de Pedro Nuno Santos ter apresentado a sua demissão. Confesso que não entendo bem o motivo de tantos sorrisos pela queda do único ministro que ainda se preocupava com a coisa pública.

    Uma coisa é ele não ter alternativa; outra é acharmos que isso é bom para o Governo ou sequer para o país.

    Na dúvida sobre onde está a razão, há que seguir a regra de polegar aplicada ao Ventura: se ele grita e tenta atirar ao chão, então, em princípio, é algo que nos fará falta; se ele fica em silêncio, e finge que não é nada com ele, é porque estamos a ser assaltados sem dar por ela. Certinho como o Enzo Fernández já não vestir de vermelho em Janeiro (maldito Mundial).

    Pedro Nuno Santos, ex-ministro das Infraestruturas e Habitação

    E reparem na ironia que recai sore Medina, o delfim do Costa, que também já tem as suas clientelas estabelecidas (alô Serginho!) e, só por acaso, tirou a Xana Maria da NAV e a encaixou no Governo. O que lhe acontece? Nada, absolutamente nada. Vai passar por isto como um gato num chuveiro. Nem uma pinga lhe toca. Não só se livra de um opositor à sucessão do Costa como aguenta o lugar que lhe foi oferecido depois da estrondosa derrota em Lisboa.

    Medina é a garantia que temos Homem do Regime para a próxima travessia do deserto do PS (Ventura e Montenegro, eventualmente, chegarão lá) e a estocada final na discussão de quão à esquerda se situava este Governo. Está ali firme, muito firme, ao centro e a secar o PSD no seu próprio território.

    Num Governo absolutamente entupido de escândalos e má gestão de dinheiro público (para não lhe chamar outra coisa), havia um ministro (Pedro Nuno Santos) que ainda se preocupava com o lado certo da questão. Ou que, pelo menos, fazia o que podia para defender o interesse público e o investimento em estruturas, que, de alguma forma, nos pudessem beneficiar enquanto sociedade contribuinte.

    Não era por aquele lado que se distribuía dinheiro público pelas clientelas ou, sequer, que se favoreciam alguns grupos ou amigos na distribuição dos subsídios europeus.

    Fernando Medina, ministro das Finanças.

    Levantou a voz quando tinha de levantar e aceitou algumas humilhações, quando, provavelmente, deveria ter batido com a porta. Parecia-me um homem que nos servia em vez de se servir. Não é um detalhe nos tempos que correm.

    Agora está fora. Ficam os distribuidores de jogo, os garantes de que os impostos continuam a beneficiar uma minoria, uma elite que enriquece às nossas custas. E o melhor? É ver a opinião pública a achar que ficámos melhor, ou a direita a cavalgar a onda do populismo, sabendo perfeitamente que os boys ficam exactamente no mesmo sítio.

    Visto assim, aquela de se venderem cortes nas pensões como se fossem aumentos, até me parece de bom gosto.

    Tiago Franco é engenheiro de desenvolvimento na EcarX (Suécia)


    N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.