Categoria: Opinião

  • Estrela da Amadora 2.0

    Estrela da Amadora 2.0


    E pensar que esta tarde estive a revelar as promiscuidades do Dr. Filipe Froes e mais as suas 324 colaborações com farmacêuticas desde 2013 e os 453.635,37 euros arrecadados, fora eventuais prebendas não declaradas no Portal da Transparência do Infarmed… e eis-me aqui, agora, no Estádio da Luz, para assistir ao primeiro jogo em casa do Benfica no campeonato de futebol da época da graça de 2023 e 2024. Numa varanda com boa vista.

    (Chiça: boa vista faz lembrar Boavista e a aziaga segunda-feira passada)

    Meto-me em tortuosos caminhos, seguindo por estes trilhos, quando os que tinha espinhosos já eram. Não exageremos. Meto-me porque quero. Ou sou impelido por certas forças, que não já as minhas. Enfim, “de um abismo ressoa para outro abismo o fragor das tuas cascatas; todas as tuas vagas e torrentes passaram sobre mim.”

    Exagero, mais uma vez. Sempre assim sucederá, prometo, daqui de onde vos escrevo: da Varanda do Benfica, ou da Varanda da Luz – logo me decidirei até ao fim do jogo. Se calhar intercalo. Ou calo-me.

    (entretanto, muito calmo, por aqui. Em 15 minutos, um livre do turco Köckü contra a barreira… e estava eu a escrever isto e quase marcava o Rafa, para grande defesa do guarda-redes do Estrela… e a seguir um remate bem esgalhado de…  acho eu, João Neves, ligeiramente ao lado… continuemos…)

    Portanto, tirando a impossibilidade de exagerar no resultado – que, por aí, terei de ser rigoroso, e isto por agora está num inquietante nulo –, servirá esta primeira crónica para, airosamente, com alguma aisance, assim espero, justificar aquilo que estou para aqui fazendo. E, ainda por cima, escrevendo. E prometendo repetir in saecula saeculorum.

    Primeiro, estou tentando juntar o útil ao agradável, não sabendo bem qual a parte da utilidade e a parte da agradabilidade – e isto, assumindo, por antecipação, que algum proveito e prazer daqui virá. Exige-me o corpo e a mente sair dos árduos labores das investigações jornalísticas, das burocracias, das arrelias, embora temperadas pelos apoios dos leitores (dá-lhes já graxa), e dessa sorte me pareceu ideia acertada aproveitar-me do estatuto de jornalista e sacar uma acreditação que, mais do que poupar dinheiro, me poupa tempo, porquanto o pedido de acreditação se faz em segundos, o levantamento da acreditação num ápice é, e depois um passeio de cão por vinha vindimada até à tribuna de imprensa – e ainda mais com direito a lanche de reforço. Um figo. Quer dizer, o sumo é de pêssego.

    (até porque, neste ínterim, se acumulam oportunidades para o Benfica; temo que o golo surja… ou não… já se escafederam 35 minutos e a asa do cântaro dos homens da Amadora [não lhes chamemos da Porcalhota, à antiga, mesmo se usando nesta narração, um estilo barroco] anda não se escaqueirou na fonte)

    Segundo, tenho o ensejo de me armar em cronista de banalidades e coisas fúteis nesta aventura pela crónica futebolística. Concretizo: não percebo grande coisa de tácticas – embora seja curioso das minudências dos intérpretes da bola (e, portanto, seguirei a novela da bernarda entre o Schmidt e o Vlachodimos, com a mesma curiosidade com que acompanhei os efeitos da birra do Sérgio Conceição) –, e nem se justificaria um relato de um jogo específico (ainda mais do meu clube) num jornal independente que anda por outros campeonatos e em outras modalidades. Portanto, isto será uma espécie de crónica à la Nelson Rodrigues, mas sem os conhecimentos do dito, sem o sotaque do dito e, provavelmente, sem a qualidade do dito – conquanto me divirta e me faça espairecer.

    (e temos o intervalo)

    Terceiro, tenho, perante o meu olhar – ou melhor, sou eu o observado –, a crítica inquisitiva de alguns leitores, que, prevejo já, me podem – e muito justamente – acusar de uma reles parceria comercial, sendo certo que, esses, enfim, só poderão ser uns lagartos invejosos e ou ciumentos tripeiros.

    (ai Jesus! Não… não é o do Al Hilal. É mesmo o do Céu: pênalti contra o Benfica… revertido pelo VAR. Ah, sportinguistas!: este VAR “pia” diferente; funciona bem…)

    Mas, continuando – e mesmo se brincando –, tenho consciência da existência de um conflito de interesses. Podendo, como jornalista, escrever em qualquer estádio, por que motivo escolho eu logo o Estádio da Luz? Caramba, desculpem-me o pecadilho: é pelas vistas;  também não me podem exigir clausura integral e absoluta imaculidade.

    (além disso, escrever aqui é um teste aos nervos, sobretudo se, como no jogo desta noite, o Benfica pensa que se ganha pelas oportunidades – e não pelos golos… e entretanto: GOLOOOOOO. Golo do Casper Tengstedt [como se pronuncia mesmo o nome deste dinamarquês?])

    Mesmo assim, e pelas tosses e prevenções, fiz já o trabalho de casa, e fui ler a Deliberação ERC/2023/266, divulgada este mês, da Entidade Reguladora para a Comunicação Social, sobre a renovação da licença da BenficaTV à cata de qualquer irregularidade grave para propagar aos sete ventos no PÁGINA UM. Mas daqui não consegui sacar o “alvará” da minha independência perante a dependência (desde a infância) clubística: a ERC escreve, na dita deliberação, que “em conclusão e face ao exposto considera-se que o operador Benfica TV, S.A., tem tido um desempenho, ao longo dos quinze anos de exercício de atividade, conformado e consentâneo com o normativo legal aplicável, sendo de conferir deferimento ao pedido de renovação da autorização para o exercício da atividade de televisão através do serviço de programas BTV 1”. Má, mas mesmo má, foi a recente avaliação à CMTV, similar no objectivo, feita pela mesma ERC. Estive a ler aquilo e ainda pensei que cassavam a licença à Cofina.

    (o estádio está mais aliviado; estranho jogo, que poderia ter dado para uma cabazada das antigas, e acaba numa coisa poucochinha)

    Mas deixemos o regulador em paz, cujos membros merecem terminar o mandato em tranquilidade. Em todo o caso, escrevi-lhes ontem…

     (e para fechar, parecendo coisa fácil, já nos descontos [que são agora à dúzia, os minutos] um golo de belo efeito de Rafa, com um ainda mais belo movimento e passe de David Neres… e logo a seguir, depois da reposição, quase seguia outro; bola ao poste esquerdo, remate do Rafa. Ó Rafa, os outros tipos querem ir a banhos e agora é que metes o gás todo?)

    Em todo o caso, ó Rui Costa, reparei, entretanto, que as entidades responsáveis pela Benfica TV (como registo da ERC nº 523392), pela BNews (com registo da ERC nº 127919) e pel’O Benfica (com o número de registo da ERC nº 101759) não preencheram ainda os indicadores financeiros e económicos no Portal da Transparência dos Media relativos ao ano passado. Os que lá estão vão até 2021. E sabes quem é o responsável máximo desta lacuna, não sabes?… Claro!

    Mas não te apoquentes em demasia: no teu campeonato há iguais e piores. A Avenida dos Aliados, do Porto Canal (vulgo, canal do FCP, com o registo da ERC nº 523388), também não entregou os dados económicos do ano passado. O jornal do Sporting (com registo da ERC nº 100313) não entrega contas na ERC desde 2019. Salva-se a empresa da Sporting TV (com registo da ERC nº 523408), que tem as contas em dia no regulador. E descansa que há pior onde nem seria de supor: nas empresas de media… e algumas até devem milhões ao Fisco…

     (fim do jogo: Benfica ganha por 2 a 0; talvez a parte mais interessante da primeira crónica de uma colecção cuja ideia “nasceu” quando o Benfica, na passada segunda-feira, ganhava ao intervalo ao Boavista…)

    Enfim, e com isto o estádio esvazia, e eu vou ter de me pôr na alheta. Só mais uns acertos. Não sei como me saí. Se mal me saí hoje, tentarei melhorar na próxima. Se não se endireitar – enfim, considerem isto como terapêutico: para mim, claro.

    Queiram, portanto, leitores benévolos (ou beneméritos, que melhores serão), abrir as vossas piedosas portas da compreensão e acender a lâmpada da vossa paciência, para que a minha saúde melhore com a escrita destas crónicas, enquanto vejo futebol. E se não fizer bem à saúde (prevejo que o Benfica vai ter um campeonato trémulo), pelo menos que o meu ego se exalte, que arredado anda de carícias literárias.

    Ah, e decidi-me por Da Varanda da Luz. É título mais esotérico.

    E reparo que nem sequer tive tempo para comentar as incidências dos meus colegas de carteira, sobretudo o do lado esquerdo, muito compenetrado no relato para uma rádio (local, presumo…). Inveja: ele parecia conhecer todos os jogadores. Ou, pelo menos, inventou com convicção. E sem gaguejos.

    Entretanto, lá em baixo, treinam os jogadores do Benfica que não entraram, as bancadas estão vazias, tirando dois ou três jornalistas, enquanto na televisão os treinadores palram. Esta vida não me parece má de todo. Talvez regresse mesmo daqui a duas semanas. Acho que será contra o Vitória de Guimarães. Qualquer um servirá para este desiderato…

  • A testemunha (da degradação do SNS)

    A testemunha (da degradação do SNS)


    Eu sou um artigo em si mesmo, porque não consigo explicar e descrever todas as dúvidas e constrangimentos que me assaltam em relação ao Serviço Nacional de Saúde (SNS).

    Escrevi e descrevi inúmeras situações que careciam de mudança. Tentei explanar, de modo claro, as opções que nos conduziam a erros de postura e de funcionamento no ideológico e idealizado serviço de prestação pública que dá pela sigla SNS.

    Vi como gente dedicada se fartou, testemunhei o cansaço dos prestadores, a destruição de instituições de referência. Não importava ter ganhado prémios, ter sido o melhor, ter apresentado resultados fantásticos, havia sempre almas destruidoras que chegavam e tomando de assalto o poder decidiam pelo arraso e a destruição.

    Empty long corridor of modern hospital

    Recordo a construção da cirurgia de ambulatório do Santo António, gerida pelo Dr. Paulo Lemos. Demitido sem razão lógica após a construção. Eu próprio fui afastado da liderança daquilo que ajudei a construir com centenas de horas de dádiva aos Covões – por mim e internos e jovens especialistas. Servi para a construção, já para a manutenção foi o vê-se-te-avias. Só que dei centenas de horas ao Estado e à instituição que defendia.

    Arrependimento não mata – ou estava fulminado! Fiz parte do grupo que viu premiado o Hospital de Águeda em 2005. Fechado como instituição. Fiz parte do grupo que elevou o Hospital José Luciano de Castro, em Anadia, a melhor hospital nacional, aferido pelos doentes em 2013 e 2014. Foi entregue à gestão da Misericórdia em 2016, sem nunca mais se atingir este padrão.

    Sou testemunha da destruição do projecto do Hospital de São Sebastião na Vila da Feira. Vi como se acabou com o melhor hospital português em 2018 – Braga.

    Urgências exemplares, tivemos uma nos Covões e outra em São José. Ambas sofreram reduções e compromissos que as limitaram. No caso dos Covões, estamos mais ou menos ao nível do enterrado, o subaquático.

    empty building pathway

    O SNS foi arrasado por gestão inadequada, falta de prestação de contas, falta de exigência sobre os que abusavam do estatuto de funcionário público. Há uma infeliz sequência de premiar os comportamentos desadequados e não apoiar os prestadores interessados e com espírito de serviço e de missão.

    O prémio para muitos chegou antes do trabalho realizado. A construção de Centros de Responsabilidade Integrados (CRI) foi uma lambada no empenho dos que ficaram fora das mamas de distribuir dinheiro. Os centros hospitalares demonstraram à saciedade como instituições se tornavam ingovernáveis.

    O encerramento de serviços de atendimento permanente e de pequenas urgências, associados com a falta de consultas abertas nos Centros de Saúde e nas Unidades de Saúde Familiar (USF), conduziu à demência de atendimentos nas urgências. Há milhares de pessoas que recorrem a urgências para ver resolvido o seu pequeno problema, mas a minha dor é sempre um “por maior”, e é intransmissível, e é condutora de ansiedade.

    Podíamos resolver esta questão, mas há um desinteresse evidente da tutela e dos actores políticos. Compromissos inconfessáveis com a privada? Opção pela destruição progressiva do SNS? Antes havia mais hospitais, mais camas, mais atendimentos, menos médicos e menos enfermeiros, muito poucos técnicos de saúde, diminuta presença de administradores de carreira e, de facto, entre 1975 e 2001, nunca ouvi encerramentos de instituições nem programas de mudança de lugar de atendimento.

    alley of abandoned building

    As instituições são muito o resultado das pessoas que aí trabalham, e, se permitimos o absentismo, não colocamos limite às ausências e às baldas a preguiça corrói. A liderança vigiada, que presta contas, implica a presença de capacidades de decisão, de qualidades de gestão e de opções financeiras e ainda algumas escolhas de protagonistas.

    A incoerência é outra das traves mestras do constrangimento. Criam-se fronteiras ao desempenho de alguns e depois roga-se pelas suas habilidades numa porta ao lado onde faltam os certificados e os da primazia. A saúde ruma para um paradigma que não me agrada, mas infelizmente o problema começa a parecer-me transversal.  

    Diogo Cabrita é médico


    N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.

  • Os incêndios são um negócio?

    Os incêndios são um negócio?


    Esta é a pergunta que os portugueses fazem amiúde.

    Na realidade, como se pode justificar o número de incêndios em Portugal.

    Claro que o fogo pode deflagrar, em qualquer local, pelas mais diversas razões, e sabemos ser praticamente impossível evitar todas as ignições ao longo do país.

    Mas quando, durante a noite, vários focos acontecem numa mesma mata, dificilmente se aceitará que não haja intervenção de mão criminosa.

    Quando os especialistas analisam a situação conseguem apontar alguns problemas graves e de relativamente fácil solução.

    Fire Fighters

    Segundo um trabalho, do “Blogger” Francisco Lampreia, publicado em Agosto de 2022, “nas últimas duas décadas, de acordo com o relatório “O Mediterrâneo Arde”, de 2019, a média de área ardida do nosso país mais do que duplicou em comparação com a época de 1980 a 1989.

    Será esse o resultado do surgimento de uma onda de piromaníacos em Portugal? Talvez.

    Ou estará Portugal cada vez mais vulnerável a incêndios?

    Se olharmos para o FWI (um índice de perigo de incêndio rural que quantifica o efeito da humidade do combustível e do vento no comportamento do fogo) de Portugal, disponível no site do IPMA, é possível ver que praticamente todo o país apresenta um índice de FWI muito elevado.”

    A Polícia Judiciária, todavia, não descartava a hipótese de fogo posto.

    O diretor nacional adjunto da Polícia Judiciária, igualmente em Agosto de 2022 (dia 18) revelava que, “este ano, está a registar-se um aumento das ignições” e informava que “com a época de incêndios ainda a meio, Portugal é, nesta altura, o terceiro país da União Europeia com a maior área ardida. Crimes muitas vezes cometidos por pessoas de idades diferentes, mas com um perfil semelhante.”

    Aproveitou para, contrariando as notícias mais frequentes, garantir que “quando os alegados incendiários são presentes às autoridades, as medidas de coação aplicadas costumam levar a mais detenções do que noutros tipos de crimes.”

    Por sua vez a TSF emitiu, a 4 de Março do corrente ano de 2023, uma reportagem intitulada “Metade dos incêndios florestais em Portugal tiveram origem criminosa”.

    Outdoor Fireplace during Nighttime

    O que deixava sobressaltado qualquer cidadão atento.

    Segundo os jornalistas, “os dados revelados pela Agência para a Gestão Integrada dos Fogos Rurais (AGIFR) mostram que houve 4892 fogos com origem criminosa e foram detidas 51 pessoas pelo crime de incêndio florestal.

    A AGIFR apresentou o relatório de balanço do ano onde adianta que se registaram em 2020, 6.257 autos, 4.892 crimes e 51 detidos por crime de incêndio florestal, num ano que existiram 9.690 incêndios rurais, dos “quais resultaram 67 mil hectares de área ardida”.

    A questão que importava esclarecer era se o número de pirómanos, em Portugal, era mais elevado do que nos restantes países ou se, pelo contrário, os incêndios podiam ser “encomendados” a delinquentes e, nesse caso, por quem?

    É que, se tal acontecesse, a prisão dos incendiários não resolveria, por si só, o problema já que seriam facilmente substituídos.

    A solução seria, também aqui, seguir o rasto do dinheiro.

    Tentar saber quem ganha com os incêndios.

    A “vox populi” acusa, sempre, os madeireiros.

    Qual a realidade?

    bare trees on rocky hill under white sky during daytime

    É verdade que, por exemplo, depois dos fogos em Pedrogão, o preço da madeira queimada baixou de modo acentuado (de 36 para 27 euros a tonelada, menos de 25%) mas com as Associações destes empresários, que a compram aos produtores, a garantir que os preços eram impostos pela indústria.

    O Presidente da Associação de Produtores Florestais de Vila de Reis garantia que “É um mito que apareceu e ainda não morreu. Para os madeireiros isto não é nada interessante. Podem fazer um bom negócio agora, mas são precisos anos para que a floresta volte a crescer. Para quê aproveitar agora para comprar madeira queimada mais barata se isso acaba e se ficam anos sem nada, nada para ninguém?”

    A notícia que, acreditava eu, iria ser um grande choque, mas que depressa foi esquecida, veio de Espanha, em 2017.

    O Jornal “El Mundo” publicou, então, um artigo sobre os concursos para aquisição de meios de combate ao fogo em Portugal com o título “Quem ganha dinheiro quando arde Portugal?”.

    Aí escrevia, preto no branco, que “Portugal recorre ao sector privado para ter apoio aéreo no combate aos fogos, mas que o problema, conhecido da Polícia Judiciária Portuguesa, está em que as empresas manipulam os concursos públicos o que, nos últimos 12 anos, teria rendido 821 milhões de euros.”

    a red plane is flying over a mountain

    Continuando sem se saber quem ganha muito com os fogos, podemos dizer, todavia, e com toda a segurança, quem ganha pouco: os Bombeiros.

    Um Bombeiro Sapador aufere menos de mil euros por mês.

    Um Bombeiro Voluntário recebe 2,5 euros por hora ou 61 euros por dia, mas desde que trabalhe as 24 horas!

    Para além disso, claro, todos os elogios dos políticos que enchem a boca de extraordinários adjectivos sempre que qualificam o trabalho dos “Soldados da Paz”.

    Vítor Ilharco é secretário-geral da APAR – Associação Portuguesa de Apoio ao Recluso


    N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.

  • Tecido: crónica dos materiais

    Tecido: crónica dos materiais

    Já estivemos bem mais embrulhados, em panos, rodeados por fibras, delicada ou grosseiramente entrançadas, a cobrir todos os objectos e todos os cantos e recantos. Mas eles, os panos, ainda lá estão.

    Estão descidos sobre as nossas janelas, estão repousados sob os nossos pés, estão embrulhados em cadeiras e sofás, capturados entre o colchão e a cama, até invisivelmente entalados em recheios de paredes e tectos. Lã de rocha, lã de vidro.

    Como a roupa que escolhemos para nos envolver, as casas pedem o carinho do tecido. O abafo de roupa pesada, gramagem alta, ou a frescura de malhas, finas e abertas.

    White, Black, and Red Textile

    O tecido rodeia-nos, para dar silêncio. Poucos se apercebem que o tecido nos foi sendo retirado das vidas, quando fomos recusando os naperons de crochet que avós tricotavam, para ali pousarem, na televisão, no aparador, na mesa. Despimos as casas, e elas, nuas, se envergonham agora de frio, com gritos a baterem contra a sua pele e a atordoarem-nos os ouvidos.

    Deixem a vossa casa vestir-se, e ela absorverá o som, e dar-vos-à sossego.

    O fio de algodão em nós, padronizados em matemática, encostavam-se aos vidros para filtrar luz e a temperatura.

    O peso ondulado da cortina, em queda junto à parede, guardava-nos o pudor, nos resguardava a intimidade.

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    O laço do felpo cobrindo o chão em alcatifa.

    O ponto apertado do tapete, a fita leve da passadeira.

    A nódoa de vinho tinto naquela toalha de mesa.

    Os pêlos da gata no canto das mantas, na cama.

    O vaivém das flanelas e dos linhos, em picos, nas primaveras e nos outonos.

    Pano. E aquele respirar junto com o mundo, no balançar do cósmico vazio.

    brown and white rug

    E no fim, a mortalha, embrulhem-me em musselina, e enterrem-me de pé, com uma árvore plantada na moleirinha.

    Quero sair da terra depois de morta e espreguiçar os braços no ar…

    … e no meio, o toque gentil do tecido, subindo o corpo. E só retirado se me puder vestir contigo.

    Mariana Santos Martins é arquitecta


    N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.

  • 1640: janela fora com o negócio do pânico; acreditem na Ciência, seus medrosos!

    1640: janela fora com o negócio do pânico; acreditem na Ciência, seus medrosos!


    Há dias, na rede social X li um tweet da jornalista do DN Fernanda Câncio – uma das muitas vozes jornalísticas que me chamariam (chamaram) negacionista – a anunciar que tinha covid-19. O rol de comentários e as reacções da dita jornalista fizeram-me, em simultâneo, rir e lamentar: a pandemia – chamemos-lhe assim, porque houve efeitos graves em termos de Saúde Pública, tanto pelo SARS-CoV-2 como pela gestão política – ainda vive como o maior dos pânicos na cabeça de muita gente. E continuar a viver na cabeça de jornalistas medrosos é uma grande merda, porque serão estes primeiros que vão andar aos gritos a dizer que o bicho está vivo, ressuscitou e vem ainda mais enfurecido…

    Entretanto, de quando em vez, surgem novas sobre a covid-19 – como aconteceu agora com Eris, uma conveniente variante para se continuar a vacinar. Ou até sobre novas e certas pandemias, daquelas que ainda nem existem, mas que supostamente estão já com curas a caminho. Por exemplo, se este título – Cientistas tentam impedir nova pandemia. Doença ainda não existe, mas cura já está a caminho – não tivesse sido feito em dia de calor forte, eu pensaria que estávamos ainda no dia 1 de Abril.

    Sou hoje um opositor nato sobre a vacinação contra a covid-19. Primeiro, porque claramente se escondem os efeitos adversos das vacinas e até mesmo os negócios obscuros em seu redor. Segundo, porque, a par do obscurantismo em redor das reacções adversas e dos negócios, este fármaco mostra-se completamente desnecessário para a esmagadora maioria da população,a começar pelos jovens saudáveis e a estender-se por aqueles que já tiveram contacto quer com as diversas variantes do SARS-CoV-2 quer com algumas (espero que poucas) doses de vacinas.

    Na verdade, quem teve covid-19 ou foi já inoculado, aquilo que mais deve desejar é ser “visitado” com regularidade pelo “bicho”. Quantas mais vezes e mais frequentemente, melhor. Quantas mais vezes e mais frequentemente, menos sentirá a “visita”.

    Falo pela minha experiência. E vou contá-la, porque está quantificada.

    Há precisamente dois anos, estava então a recuperar de um longo internamento hospitalar, fruto da covid-19 misturada por um sedentarismo imposto, que me afectara as defesas imunitárias, por uma pneumonia bacteriana nosocomial e por uma negligência médica (fio de cateter alojado no coração).

    Sobrevivi, porque a Ciência e os médicos também “existem” para isso: para nos salvarem se estivermos no lado mais improvável das estatísticas. Na verdade, não seria suposto que alguém da minha idade, com poucas comorbilidades – para além dos efeitos do sedentarismo imposto por uma péssima gestão política de uma pandemia – padecesse consequências tão gravosas.

    white and red train in train station

    Mas aconteceu e sobrevivi. Um dia isto não correrá tão bem, mas parece ser essa a Lei da Vida. Porém, esta percepção da morte e da nossa finitude não deve afectar o direito ao livre-arbítrio com base no conhecimento, e por isso jamais emparceirei com o maior inimigo da racionalidade: o pânico. E sobretudo do pânico colectivo que, tantas vezes, empurra indivíduos inteligentes para as turbas ululantes que correm em direcção ao populismo – que pode vir de um suposto filantropo nos corredores da OMS, de um marinheiro com ego maior que um submarino, de um médico insuflado pelas farmacêuticas ou até de jornalistas travestidos de missionários.

    Costumo dizer que não me chocou o comportamento das massas durante a pandemia, quando se assistia aos maiores dislates na perseguição de outras visões, mas sim as atitudes insanas e as cobardias dos “intelectuais”. Chocou-me sobretudo as posições de muitos jornalistas, demasiados. Então nas direcções editoriais não há um só que me mereça, neste momento, o mínimo de respeito: em vez de se assumirem como os bastiões da democracia, comportaram-se como os bastões de um fascismo asséptico e moralista.

    Não foram períodos muito dignificantes para muitas pessoas – mesmo que o neguem agora. A opressão e a perseguição nunca defendem boas causas.

    Portanto, continuando: poucas semanas depois da minha saída do hospital, enquanto subia a Calçada da Estrela e a Calçada do Combro para recuperar fôlego e para demonstrar que isso da “covid longa” dependia mais da mente do que do corpo, andava eu já a receber chamadas dos centros de vacinação para levar a “pica”. Mesmo antes dos supostos seis meses que então dava à “imunidade natural”, provinda do contacto com o “vírus selvagem”.

    covid 19, coronavirus, dystopia

    Não aceitei a dádiva, e mais do que nunca li sobre esta matéria. Artigos científicos, claro. Sobre efeitos das vacinas mas sobretudo sobre o risco de uma reinfecção tão ou mais grave – neste último caso, sempre se mostrou virtualmente próxima de zero.

    Assim, mesmo com a imposição anticonstitucional e carente de qualquer ética do acesso a locais públicos e a viagens a não ser que se fosse vacinado, não tive qualquer dúvida em não me vacinar.

    Não o fiz por pirraça ou por ideologia. Nem por ser “negacionista” (como poderia ser?) nem para irritar os marketeers Froes & Guimarães ou pelos despautérios da doutora Graça Freitas, que ficará na História do século XXI por ser uma Autoridade Nacional da Saúde que orgulhosamente anunciava não saber mexer num computador. Também não recusei por concordar com o princípio enunciado por Friedrich Nietzsche de que aquilo que não nos mata torna-nos mais fortes.

    Não me vacinei por causa da Ciência. E pelo princípio, muito da Medicina – que parece ter sido Ciência invadida por dogmas, a ponto de se tornar numa religião inquisitorialmente gerida à bastonada por um bastonário – primum non nocere: primeiro, não prejudicar.

    A Document with QR Code

    Recusei, mas sem recusar, contudo, a possibilidade de estar errado: de que a imunidade natural – dos efeitos benéficos por um contacto prévio com o vírus não ser suficientemente duradouro e forte para “aguentar” novo embate, mesmo sabendo-se que as variantes Ómicron se mostraram muito menos “agressivas”.

    Por isso, segui a Ciência: aquela que, por exemplo, costumava recomendar só tomar um fármaco se o risco compensar eventuais prejuízos. E, ainda mais, no caso da vacina contra a covid-19, a qual ainda não se conhecem todos os efeitos adversos. E a postura das autoridades de Saúde – reféns dos Governos e dos lobbies – em esconder informação não abona para a confiança.

    Daí que, meio ano depois da minha primeira infecção – e das outras maleitas –, fiz então um teste serológico IgG para apurar os níveis de imunidade. A análise deu 427 BAU/ml, sendo que 33,8 BAU/ml é o valor de referência para a existência de uma resposta imunitária à covid -19.

    Ainda pedi, vejam lá, à Direcção-Geral da Saúde comentários sobre o assunto para saber se recomendavam a vacinação nessas circunstâncias. Responderam-me? Claro que não. E não foi por falta de insistência, porque além de um e-mail em 28 de Dezembro de 2021, houve mais dois em Janeiro de 2022.

    Resultados dos meus testes serológicos IgG em 20 de Dezembro de 2021 e em 24 de Março de 2022

    Três meses mais tarde, novo teste serológico para “testar” a durabilidade da imunidade: em 24 de Março de 2022, o valor foi de 438 BAU/ml. Em vez de descer até subiu um pouco. Terá havido novo contacto: não sei; se houve, não senti.

    Outros três meses se passaram, e em Junho de 2022 nova amostra de sangue, e o resultado saiu: 331 BAU/ml. Baixou em relação ao trimestre anterior, mas bem acima dos 33,8 BAU/ml de valor de referência.

    Poucas semanas depois, sucedeu algo que me “beneficiou”: tive confirmadamente covid-19, com dores de garanta, um pouco de mal-estar geral. Tive muitas gripes muito piores. Passou em dois dias. Que fiz: novo teste serológico para saber – tinha de fazer isso para ser Ciência – como evoluíram os anticorpos IgG. Pois bem, subiram para 846 BAU/ml. Terá sido, enfim, o equivalente a um “booster” natural, certo?

    Confesso que nunca mais pensei no assunto. E só por causa da jornalista Fernanda Câncio – e o pavor que se vislumbra ainda em muitas cabecinhas jornalísticas (a ponto de embandeiram logo no “circo das vacinas” que se têm de escoar) – fui fazer, na sexta-feira passada, novo teste serológico IgG. O resultado tem algo de simbólico: 1640 BAU/ml, que remete para um feliz ano para os portugueses, que arremessaram da janela o jugo castelhano.

    Resultados dos meus testes serológicos IgG em 22 de Junho e em 26 de Julho de 2022 e em 11 de Agosto de 2023

    Acho que, enfim, é tempo de os jornalistas começarem a ser jornalistas. E acabarem com o festim dos lobbies que nos querem manter sequestrados pelo medo, sem questionar reacções adversos de fármacos, sem questionar dinheiros escandalosamente pagos enquanto o SNS cai de podre e cresce o número de portugueses sem sequer médico de família, e que sofrem (e morrem) por um sem-número de doenças evitáveis e curáveis.

    Entretanto, tenho andado aqui a pensar em que momento terei eu contactado novamente com o SARS-CoV-2 a ponto de chegar aos 1640 BAU/ml sem sequer ter dado por sintomas. Terá sido há três semanas com aquela garganta raspada que me “obrigou” a comprar uns rebuçados Dr. Bayard?

  • A “pandemia” em (des)construção na imprensa (sur)real

    A “pandemia” em (des)construção na imprensa (sur)real


    Há dias, os órgãos de propaganda fizeram regressar dos mortos o covid-19! Foi assim anunciada umaa ressurreição:  “Casos de covid aumentaram 80% a nível mundial, com a nova subvariante a dominar”, como bradou, por exemplo, o Diário de Notícias, a partir da Agence France-Presse (AFP).

    Trata-se, como sempre, de uma nova variante, desta vez de seu nome Eris – criatividade para nomes não lhes falta! –, “descendente” da variante Ómicron. Reparem: isto já se tornou uma grande família, tipo família Addams – e até me admiro não haver ainda a variante Addams – em que uma ninhada de filhos e netos está sempre a aparecer. E sendo prometido que, invariavelmente, será mais terrível que as gerações anteriores – a cada descendência a coisa “melhora”!

    yellow and black heavy equipment

    Apesar de tudo, neste caso, não nos informam se o Eris é mais perigoso que o “vírus” original. E este tinha, feitas as contas, uma perigosidade inexpressiva para a maioria da população, segundo uma análise publicada no início deste ano na revista científica Environmental Research, que conta como co-autor com John Ioannidis, o epidemiologista mais citado do Mundo. De acordo com esta análise, a Taxa de Mortalidade por Infecção (IFR) da covid-19 durante 2020 – anterior às inoculações experimentais de manipulação genética – foi inferior a 0,1% para quem tinha menos de 70 anos, algo semelhante a uma gripe!

    Atente-se: em nome de uma quase “constipação”, a classe política, coadjuvada pelos órgãos de propaganda falidos, e sem qualquer suporte científico, decidiu atropelar todos os nossos direitos constitucionais, decretando a nossa prisão domiciliária durante vários meses. Teria sido para aceitarmos de forma resignada o carácter salvífico de inoculações experimentais de manipulação genética que vinham a caminho?

    Inevitavelmente, a parte mais hilariante do anúncio do regresso da covid-19 estava precisamente reservada para as inoculações experimentais. Para debelar o “flagelo Eris”, a propaganda fornecia-nos uma vez mais a miraculosa panaceia: “A vacinação continua a ser fundamental e a OMS considerou na quarta-feira como fundamental ‘intensificar os esforços para aumentar a cobertura da vacinação’. Embora as vacinas anticovid percam a eficácia com o tempo em relação aos contágios, continuam a funcionar como um meio de proteção. Para melhor adaptação às mutações do vírus, os grupos farmacêuticos Pfizer/ BioNTech, Moderna e Novavax estão a preparar vacinas direcionadas a esta nova variante, como recomendou a OMS na primavera.” Assim reza o já referido artigo do Diário de Notícias a partir da AFP.

    An Abandoned Wooden House

    Importa recordar os resultados dos ensaios clínicos destas “vacinas”, e em particular a mais famosa de todas: a Pfizer/ BioNTech. Felizmente, o público teve acesso a estes documentos, apesar do regulador norte-americano, a FDA, ter afirmado junto de um juiz de que necessitaria de 75 anos para os publicar! O que estariam eles a esconder?!

    Nestes ensaios clínicos participaram 44.047 pessoas, em que 22.026 foram “vacinadas” e 22.021 receberam um placebo (ver página 43 do documento). Em torno de 55% tinham entre os 16 e os 55 anos e o restante (45%) mais de 55 anos (ver página 340 do documento).

    Em primeiro lugar, a amostra destes ensaios clínicos não representava tão pouco a população que supostamente morria de covid-19, dado que mais de 85% tinha uma idade igual ou superior a 70 anos! A pergunta persiste: em nome de quem prenderam toda a população em casa?

    E quais foram os resultados destas milagrosas “vacinas”? No grupo dos vacinados ocorreu uma morte por covid-19, enquanto no grupo placebo ocorreram dois óbitos covid-19 (ver página 219 do documento). Apesar de não ser possível retirar qualquer conclusão estatística (0,005% óbitos em 22 mil pessoas), é inevitável parodiar tal fracasso: são necessárias 22 mil inoculações para salvar uma pessoa de morrer da “terrível” doença covid-19.

    Green 2-storey House

    No caso de Portugal, com uma população de 10 milhões de pessoas, assumindo 100% de cobertura “vacinal”, salvar-se-iam 450 pessoas de uma morte “covid-19”! Atendendo ao custo destas inoculações para Portugal, cerca de 1,5 mil milhões de euros – estimativa por baixo –, significaria que cada vida “salva” da morte covid-19 custaria mais de 3,3 milhões de euros! Vale a pena? Se calhar valia mais a pena, se a ideia é “salvar o SNS”, isto é, os portugueses, encontrar médicos de família para os 1,6 milhões que não os têm… por suposta falta de recursos financeiros do Estado.

    Voltando aos testes. Este desastre não se fica por aqui. Nos documentos dos ensaios clínicos, pode-se constatar que faleceram 15 pessoas no grupo vacinado e 14 no grupo placebo; no entanto, passados uns meses, a FDA veio-nos dizer que afinal não era bem assim: “Desde a Dose 1 até a data de corte, 13 de março de 2021, houve um total de 38 mortes, sendo 21 no grupo vacinado e 17 no grupo placebo”. A diferença passou de uma morte para quatro mortes desfavorável ao milagroso produto, igualmente uma conclusão sem qualquer relevância estatística – mas foi com isto que aprovaram a tal substância experimental.

    Assim, assumindo mais uma vez uma cobertura “vacinal” de 100%, para Portugal representou um acréscimo de 1.800 óbitos face à opção de não vacinar ninguém; isto depois das farmacêuticas se terem enchido com 1.500 milhões de euros extorquidos directamente dos nossos bolsos. Brilhante: temos mais óbitos e menos 1.500 milhões de euros no bolso.

    brown brick building on green grass field under blue sky and white clouds during daytime

    Com estes dados, é no mínimo hilariante, para não dizer indecoroso, que os órgãos de propaganda continuem a promover tais produtos: será que estão comprados ou estão falidos e com medo? A pergunta é inevitável! Apesar de tudo, seguimos de mentira em mentira. Primeiro, evitavam a transmissão, justificando o passaporte nazi; no entanto, nunca compreendemos o medo dos “vacinados”, atendendo que estavam plenamente “protegidos”; o que temiam? Seriam negacionistas das vacinas? Depois, nunca tinham sido concebidas para evitar a transmissão!, mas apenas doença grave. No final, já todos podiam morrer de covid-19, apesar de “estarem vacinados”!

    Para preparar a nova temporada de “vacinação”, neste caso a época 2023/2024, nada como continuar a incutir medo e terror à população; desta vez, a propaganda trouxe-nos o caso do homem com “covid longa” – uma nova doença! – que desenvolveu uma doença – outra! – que torna as “pernas azuis”! Atenção, eles têm a certeza que é da “covid longa” e não das inoculações experimentais; talvez porque se baseiam no famoso teste PCR, que segundo o seu inventor e prémio Nobel, Kary Mullis, é inapropriado para identificar uma infecção viral! Temos assim uma “terrível doença” identificada por um teste que “não identifica”!

    Recado 1 – O buraco cada vez mais fundo em que se enterram os órgãos de propaganda teve nos últimos dias um novo episódio. Desta vez, tivemos o Dinheiro Vivo, propriedade do grupo Global Media e que deu um calote ao Estado de 7 milhões de euros só no último ano, a dizer-nos que a dona da CNN Portugal, a Media Capital, passou de lucro a um prejuízo colossal. É como o nu a falar do roto!

    black and gold sewing machine

    Recado 2 – A cereja no bolo: a agência de propaganda do Estado deu-nos a notícia dos resultados das eleições na Argentina. Foi assim: “Populista de extrema-direita e admirador de Trump vence primárias na Argentina.” Esta gente sabe o que é extrema-direita? Recordemo-nos de uma máxima de Mussolini: “Tudo no Estado, nada fora do Estado, nada contra o Estado”.

    O que anuncia Javier Milei, o candidato mas votado nas eleições primárias realizadas na Argentina no último 13 de Agosto? Acabar com a casta parasitária e inútil. Terminar com o modelo de castas, baseado nos direitos positivos, como, por exemplo, o “direito à habitação”, que significa que alguém tem de ser confiscado para que outro possa ter uma casa. Terminar com a ideologia da “justiça social”, que implica um tratamento desigual do cidadão perante a lei, precedida de um roubo. Acabar com a pesada carga tributária e regulação excessiva, que apenas serve para enriquecer a casta parasitária e destruir a iniciativa dos cidadãos.

    Perante estas ideias, por que razão se lança o inevitável anátema da “extrema-direita” a qualquer promotor da liberdade? Javier Milei responde-nos: o respeito pelo projecto de vida do próximo, baseado no princípio da não agressão, a defesa da vida, da liberdade e da propriedade privada, são ideias que terminam com o modelo de roubo dos políticos e com os profissionais da mentira. Eu acrescento: terminam com as mentiras dos órgãos de propaganda falidos!

    Luís Gomes é gestor (Faculdade de Economia de Coimbra) e empresário


    N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.

  • Justiça no futebol: uma treta

    Justiça no futebol: uma treta


    O futebol, como se sabe, há muito deixou de ser um desporto-espectáculo para passar a uma das mais lucrativas indústrias a nível global.

    Os contratos feitos diariamente, em todo o mundo, só terão paralelo com as áreas onde o dinheiro se conta pelos biliões (armas, petróleo, drogas lícitas e ilícitas).

    Pensar que um clube pode oferecer, pela contratação de um jogador, para o período de um ano, mil milhões de euros, sendo trezentos milhões para o seu clube e setecentos milhões para o atleta, é algo que soa a irreal.

    three white-and-black soccer balls on field

    E esse foi o valor que um clube (um país, na realidade) ofereceu a Kylian Mbappé para, durante um ano, envergar a camisola de uma equipa de futebol.

    Para percebermos bem, o atleta receberia cerca de dois milhões de euros… por dia!

    Estes exageros escandalosos poderão resultar na morte de uma galinha de ovos de ouro se os responsáveis máximos da FIFA e UEFA não colocarem um travão a estes absurdos.

    O problema maior é que a justiça desportiva consegue, por incrível que pareça, ser ainda pior do que a que rege a vida na sociedade civil.

    Os negócios das contratações, principalmente, com milhões de euros a serem distribuídos por empresários e dirigentes, sem um controle apertado das autoridades desportivas, são de todos conhecidos, mas ficam, sempre, impunes.

    A “justiça desportiva”, e em especial no futebol, é uma treta aceitando sem o mais pequeno sinal de desagrado, as maiores vergonhas que se possam imaginar.

    Desde logo não reage ao aumento constante de uma violência vergonhosa porque assente no facciosismo.

    Impedir, por exemplo, que uma criança, por pequena que seja, possa entrar num estádio vestindo a camisola do seu clube, somente porque este é o adversário da equipa “da casa”, é inconcebível.

    Mas acontece, todas as semanas, em dezenas de campos, mesmo nos das equipas de topo.

    A falta de rigor na vigilância à entrada dos estádios, principalmente em dias de jogos entre equipas de conhecida rivalidade, é outro problema grave porque permite a entrada de objectos e artefactos que a Lei proíbe e que põem em causa a segurança dos espectadores.

    O aumento escandaloso dos preços de bilhetes para adeptos do clube rival, muitas vezes enviados para as zonas com pior visibilidade são, também, habituais sem a intervenção de quem de direito.

    Mas o pior de todos os males é, sem dúvida, o desdém com que os Conselhos de Disciplina (?) analisam e “punem” futebolistas, treinadores e dirigentes que não cumprem a Lei nem, muitas vezes, as regras mais básicas da educação e do desportivismo.

    a large crowd of people

    Aceitar que se lute pela vitória usando uma “agressividade” que roça a violência, os insultos mais soezes, as ameaças mais criticáveis, é inadmissível.

    Tanto mais que se sabe que tudo isso é visto, hoje em dia, por milhões de pessoas em todo o mundo.

    Isto para não falar das substâncias ilícitas que algumas equipas dão aos seus atletas com o único intuito de poderem aumentar, no momento, os seus índices físicos ainda que tal possa provocar males irreparáveis à saúde destes num futuro próximo.

    A vitória num jogo sobrepõe-se, para alguns, a tudo o mais incluindo a vida dos seus próprios atletas.

    O discurso do ódio e as atitudes irracionais dentro dos estádios, por vezes em jogos transmitidos para todo o mundo, são frequentes e, também elas, punidas com pequenas reprimendas ou castigos menores.

    Tudo isto pode levar a afastar, dos campos de futebol, milhares de adeptos ou simples apreciadores de futebol.

    Ninguém, no seu perfeito juízo, quer correr o risco de levar a família, principalmente crianças, para locais onde, a qualquer momento, pode haver uma luta entre dezenas de energúmenos.

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    Tudo isto porque a Justiça Desportiva é branda com os prevaricadores.

    Várias vezes escrevi que os clubes deveriam deixar entrar, gratuitamente, em todos os jogos, as crianças, e jovens, até 15 anos.

    Encheriam estádios, na maior parte das vezes vazios, valorizando o espectáculo, para além de criarem futuros fiéis espectadores.  

    De uma coisa estou seguro, enquanto os responsáveis máximos não criarem regras que impeçam, de uma vez, a impunidade de todos quantos incumprem em relação a todas as regras de civismo e desportivismo no futebol, este não deixará de perder adeptos.

    Vítor Ilharco é secretário-geral da APAR – Associação Portuguesa de Apoio ao Recluso


    N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.

  • A página 5 da edição do Expresso e um rabo de palha a arder

    A página 5 da edição do Expresso e um rabo de palha a arder


    Quem, na mais recente edição semanal do Expresso (4 de Agosto), lesse na página 5 uma Nota da Direcção, terá, talvez, ficado intrigado. Num longo texto, expunha-se um esclarecimento sobre o artigo 19 do Código de Conduta dos seus jornalistas, repetindo as supostas regras de deontologia e de ética quando o jornal se põe a organizar eventos, promove iniciativas e publica conteúdos que resultam de parcerias que, em muitos casos, são acordos comerciais – leia-se, prestação de serviços.

    O Expresso veio jurar aos seus leitores que as entidades envolvidas em acções de apoio ou de media partner “não têm qualquer intervenção na elaboração de conteúdos”. E querem que acreditemos.

    E querem que os seus leitores acreditem. Passivamente. Acriticamente. Ingenuamente. Para que tudo continue na mesma.

    Nota da Direcção do Expresso publicada na página 5 da edição em papel do dia 4 de Agosto de 2023.

    Vamos ser claros – e a “culpa” não é do PÁGINA UM por fazer denúncias publicamente nem por pressionar os reguladores a agir: nos últimos anos, a promiscuidade entre órgãos de comunicação social e empresas privadas ou entidades públicas (incluindo autarquias e Governo) tem crescido de forma intensa e pornográfica.

    Dantes, existia uma clara distinção entre marketing e jornalismo. Aplicava-se a máxima cristã: ao marketing o que é do marketing; ao jornalismo o que é do jornalismo. Isto significava uma coisa muito simples, e que está na Lei da Imprensa e no Estatuto do Jornalismo: não pode haver ingerências externas directas ou indirectas na linha editorial; e a um jornalista é proibido escrever conteúdos que resultem em contratos externos ou no uso da sua imagem ou do seu trabalho para a execução de textos de marketing (no conceito lato do termo, que vai para além da publicidade).

    Por isso, as declarações de intenções da Direcção do Expresso, secundado por um Conselho de Redacção atávico, são ocas – ou pelo menos ambíguas, porque não garantem algo muito simples: que todos os textos noticiosos, assinados por um jornalista, foram fruto de decisões editoriais, e não de negociações entre o departamento de marketing da Impresa e entidades externas plasmadas, preto no branco, num caderno de encargos.

    Conteúdo pago pelo Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas, tutelado pelo Ministério do Ambiente, e escrito por um jornalista.

    Isso não aparece escrito porque não é intenção do Expresso – e de muitos outros órgãos de comunicação social – acabar com uma prática daninha que tem corroído a credibilidade do jornalismo, que se anda a mercadejar. E um jornalismo que se mercadeja é um jornalismo que se prostitui.

    Nem de propósito – para se aquilatar a “sinceridade” do Expresso –, 19 páginas à frente desse “Esclarecimento” surge um conteúdo pago – Projeto Expresso – patrocinado (sem se saber por quanto) pelo Pingo Doce e escrito por um jornalista com carteira profissional, mas que, na verdade, o melhor que tem feito é um sem-número de fretes travestido de jornalismo.

    O dito Esclarecimento da página 5 da edição passada do Expresso tenta abafar algo indelével: as promiscuidades são imensas, frequentes, constantes. Ainda no mês passado, no dia 14 de Julho, o PÁGINA UM noticiava que o Expresso fez um contrato de prestação de serviços com a Direcção-Geral da Saúde para cobrir o Plano Nacional de Literacia em Saúde, ainda mais com um contrato forjado. Como pode um jornalista do Expresso criticar agora a existência de contratos por ajuste directo e contratos combinados que já foram executados antes de o serem?

    Mas se isso fosse uma excepção… Assim de uma só assentada, estou a lembrar-me de um congresso da Ordem dos Contabilistas, em Setembro do ano passado. Ou de um evento de biodiversidade pago pelo Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas, em Março do ano passado. Ou o contrato de prestação de serviços para divulgar um programa governamental, o Programa Operacional Capital Humano (POCH), em Junho de 2021. E estou para fazer, há meses, um levantamento exaustivo das mais infames promiscuidades entre jornalismo e marketing: o Projeto Expresso, onde jornalistas com carteira profissional cobrem temas por encomendas patrocinadas por empresas de determinados sectores, onde se destacam as farmacêuticas.

    Mas aquilo que mais me chocou, como jornalista – e até como ex-jornalista do Expresso – e como leitor, foi o simulacro, a encenação, de independência da Direcção Editorial do Expresso tendo um gigantesco rabo de palha cá fora. E esse rabo de palha está a arder, depois de ter sido apanhado, mesmo que de uma forma branda, pela Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC).

    Tal como sucedeu com outros órgãos de comunicação social da Global Notícias, da Trust in News, da Cofina, do Público e da SIC, numa avaliação de uma série de contratos, identificado apenas a título exemplificativo pelo PÁGINA UM, a ERC apanhou também a Impresa – detentora do Expresso – na rede de promiscuidades.

    Assim, vale a pena citar a deliberação de 11 de Maio da ERC, porque está associada ao Esclarecimento da Direcção do Expresso, ajudando assim a enquadrar aquilo que, verdadeiramente, está em causa:

    Tendo sido analisado um conjunto de conteúdos publicados no âmbito de cinco contratos celebrados entre a empresa Impresa Publishing, SA, e entidades públicas, no período compreendido entre 26 de fevereiro de 2020 e 20 de maio de 2022, o Conselho Regulador da ERC, ao abrigo das atribuições e competências de regulação constantes do artigo 6.º, artigo 7.º, alínea d), artigo 8.º, alínea c), artigo 24.º, n.º 3, alínea q), dos Estatutos da ERC, aprovados pela Lei n.º 53/2005, de 8 de novembro, delibera:

    Verificar que o Expresso publicou conteúdos no âmbito de contratos estabelecidos com o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas; a Secretaria-Geral da Educação e Ciência; a Secretaria-Geral do Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social; e a EMEL – Empresa Municipal de Mobilidade e Estacionamento de Lisboa, E.M., que não identificam de forma adequada e suficiente a relação comercial estabelecida, contrariando a obrigação constante do n.º 2 do artigo 28.º da Lei de Imprensa;

    2. Evidenciar que a publicidade, independentemente do subgénero em que se reifique, se reconhece sempre pela sua natureza sinalagmática (não necessariamente pecuniária), o que fundamenta as obrigações de identificação e separação face aos conteúdos editoriais;

    Deliberação de Maio deste ano da ERC, que decidiu abrir um processo de contra-ordenação por causa da tipologia de contratos entre a Impresa, dona do Expresso, e entidade públicas. Mas pormenores das relações comerciais com jornalismo à mistura com sector privado são completamente desconhecidos.

    3. Notar que a não identificação da natureza contratual estabelecida, bem como da entidade adjudicante, é suscetível de comprometer a independência do órgão de comunicação social perante interferências do plano económico;

    4. Constatar que tal atuação é também passível de inobservar o livre exercício do direito à informação, garantido no artigo 37.º da Constituição da República Portuguesa, e previsto na alínea d) do n.º 2 do artigo 2.º da Lei de Imprensa;

    5. Verificar ainda que o Expresso publicou conteúdos no âmbito de contratos estabelecidos com o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas; a Secretaria-Geral da Educação e Ciência; a Secretaria-Geral do Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social; e a EMEL – Empresa Municipal de Mobilidade e Estacionamento de Lisboa, E.M., que são assinados por jornalistas com título habilitador, comprometendo os seus direito[s] e dever à autonomia e independência, em inobservância ao disposto na alínea a) do n.º 1 do artigo 3.º e na alínea c) do n.º 1 do artigo 14.º, do Estatuto do Jornalista;

    6. Constatar a existência de indícios de incumprimento das normas de contratação pública, previstas no Código dos Contratos Públicos, por se verificar que a publicação do dossiê anexo à edição de 7 de dezembro de 2019 do jornal Expresso é anterior à data de celebração do respetivo contrato (EMEL – Empresa Municipal de Mobilidade e Estacionamento de Lisboa E.M.);

    Em sequência e tudo ponderado:

    7. Recomendar ao jornal Expresso a criação de um mecanismo de autorregulação eficaz que preveja as regras aplicáveis à produção de conteúdos que configuram alguma forma de relação comercial com entidades externas;

    8. Advertir o Expresso para a necessidade de garantir que os conteúdos publicados ao abrigo de contratos com entidades externas não sejam concebidos, nem assinados, por jornalistas;

    9. Recomendar que o Expresso identifique, a todo o momento e de forma transparente, a qualidade em que os autores não-jornalistas assinam conteúdos produzidos no âmbito de relações contratuais com contrapartidas monetárias;

    10. Determinar, ao abrigo da alínea b) do n.º 1 do artigo 35.º e do artigo 36.º da Lei de Imprensa, a instauração de um processo de contraordenação contra a Impresa Publishing, SA, proprietária da publicação periódica Expresso, por violação do disposto no n.º 2 do artigo 28.º da Lei de Imprensa;

    11. Enviar o presente relatório para a Comissão da Carteira Profissional de Jornalista para averiguação de eventual incumprimento dos deveres profissionais dos jornalistas, designadamente aqueles previstos na alínea a) do n.º 1 do artigo 3.º, e na alínea c) do n.º 1 do artigo 14.º, do Estatuto do Jornalista, no que se refere aos conteúdos publicados no âmbito dos contratos com o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas; a Secretaria-Geral da Educação e Ciência; a Secretaria-Geral do Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social; e a EMEL – Empresa Municipal de Mobilidade e Estacionamento de Lisboa E.M.;

    12. Enviar o presente relatório para o Tribunal de Contas para avaliação de eventual violação das normas do Código dos Contratos Públicos no que se refere ao contrato celebrado com a EMEL – Empresa Municipal de Mobilidade e Estacionamento de Lisboa, E.M.;

    13. Recomendar a promoção de uma iniciativa de corregulação e/ou autorregulação, nos termos do artigo 9.º dos Estatutos da ERC, em face da insuficiência de alguns dos termos constantes da Diretiva 1/2009, aprovada pela ERC, face ao atual panorama mediático.

    Dado tratar-se de decisão condenatória (cf. Alínea a) do nº 1 do artigo 11º do Regime de Taxas da ERC, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 103/2006, de 7 de junho, alterado pelo DecretoLei nº 70/2009, de 31 de março, e retificado pela Declaração de Retificação n.º 36/2009, de 28 de maio), é devida taxa por encargos administrativos, no montante de 4,5 unidades de conta, nos termos do disposto na verba 31 do Anexo V que incide sobre o Expresso.

    Agora entende-se melhor o conteúdo do Esclarecimento do Expresso, certo?

  • JMJ: Tudo está bem para “todos, todos, todos”, e o Mundo está, obviamente, melhor…

    JMJ: Tudo está bem para “todos, todos, todos”, e o Mundo está, obviamente, melhor…


    Na passada semana, Lisboa foi palco das Jornadas Mundiais da Juventude (JMJ) e que contaram com a presença do Papa Francisco, um argentino nascido Jorge Mario Bergoglio. Segundo os órgãos de propaganda, o evento, que se prolongou por vários dias e teve lugar em vários locais, foi um retumbante sucesso, contando no último dia com a presença de 1,5 milhões de pessoas.

    Em sequência, os órgãos de propaganda foram pródigos em encómios ao Papa Francisco e à Igreja Bergogliana. Um discurso mereceu destaque, em particular quando Jorge Mario Bergoglio proferiu em castelhano as seguintes palavras: “…todos, todos, todos…na Igreja há lugar para todos”. De tão entusiasmado, o Papa Francisco até apelou à multidão a respectiva repetição do “todos, todos, todos”.

    Os excelsos “jornalistas” e “fazedores de opinião” de imediato desataram a elogiar as palavras do Papa Francisco. Tratava-se de um claro apelo à inclusão, onde se rematava que ninguém deve ser excluído de participar. Em tom emocionado, a comentadora Helena Ferro Gouveia dizia-nos, na CNN Portugal, que “…é uma igreja que quer estar próxima daquilo que pensam os leigos…uma igreja aberta”. Recordemo-nos que há dois anos e meio a senhora lançava rasgados elogios a um instrumento de segregação: o certificado digital. As portas do céu estão abertas a todos, mas nem todos as podiam atravessar.

    A comentadora Maria João Marques, num artigo do Público, não ficou atrás na sequência de panegíricos ao Papa Francisco, apesar de há dois anos dizer-nos que a sociedade deviapôr numa redoma essas pessoas que não querem tomar a vacina…de certa maneira tornaram-se perigosas”, ao afirmar que a reacção da “esquerda” às JMJ tinha sido um surto de jacobinismo agudo, numa óbvia crítica à intolerância!

    Miguel Esteves Cardoso, também no Público, congratulava-se pelo trabalho do Papa Francisco em favor da inclusividade. Afinal, ao contrário do que se possa pensar, os insignes comentadores são perfeitamente coerentes com a Igreja Bergogliana, dado que esta há dois anos restringiu a entrada na cidade do Vaticano apenas a pessoas na posse do Certificado Digital. As portas da Casa de Deus, mais uma vez, apenas se abriam para alguns.

    Tudo isto faz-nos lembrar o romance satírico de George Orwell, O triunfo dos porcos, onde uma das regras da quinta, depois da tirania imposta pelos porcos, tinha sido ajustada de “Todos os animais são iguais” para “Todos os animais são iguais, mas alguns são mais iguais que outros”.

    A melhor parte estava reservada para o comentário económico: João Franco, na CNN Portugal, falava-nos da “Economia de Francisco”: “É evidente a denúncia da teoria neoliberal dos mercados de regulação mínima, transformada em dogma de fé”. A inevitável pergunta coloca-se: em que planeta vive este personagem? Hoje, não há actividade económica sem restrições no acesso, seja através de taxas ou licenciamentos, que não esteja sujeita a pesadas regulações, ou até mesmo debaixo de órgãos supervisores com capacidade de inspeccionar, condenar e multar, e sempre sujeita a um pesadíssimo confisco, obviamente, garantido por actuações em cartel. O que há de verdade de novo ou inovador?

    João Ferreira, membro do Partido Comunista Português, até nos dava a entender que Mario Bergoglio é um fervoroso comunista – talvez seja!, não sabemos -, citando um dos seus escritos: “…a propriedade privada deve estar sempre subordinada ao destino universal dos bens e ao bem público. A este respeito, importa recordar um antecessor de Bergoglio no trono de São Pedro, João Pio XII, em especial a sua carta encíclica, Divini Redemptoris, publicada a 19 de março de 1937.

    Na referida carta, apresenta-se tal ideologia totalitária como uma “…doutrina nefanda do chamado comunismo, sumamente contrária ao próprio direito natural, a qual, uma vez admitida, levaria à subversão radical dos direitos, das coisas, das propriedades de todos e da própria sociedade humana”. Esta é há séculos a posição da Igreja Católica, desde sempre uma defensora dos direitos naturais (direito à vida, direito ao fruto do trabalho, direito à liberdade), pelo que o confisco do fruto do nosso trabalho a favor de um colectivo imaginário nunca foi um caminho que a sociedade devesse trilhar segundo esta, apesar de aparentemente ser esse o desejo de João Ferreira e Mario Bergoglio.

    O ramalhete das virtudes de Mario Bergoglio não estaria completo sem a “guerra às alterações climáticas”. Lá tivemos um manifesto entregue ao Papa Francisco pelo seminarista Tomás Virtuoso – o apelido diz tudo -, no âmbito da Jornada Mundial da Juventude, em que este explicou que o documento “deseja resolver o problema do ambiente e das alterações climáticas a partir do que o homem tem de mais grandioso”.

    Estranha-se que todos estejam absolutamente alinhados no mesmo discurso: a Igreja Bergogliana, a propaganda e os políticos. Talvez por isso a bancarroteira Visão – o grupo que a detém tem um calote ao Estado de 11,4 milhões de Euros – brindou-nos em uma das suas recentes edições com a fotografia do Papa Francisco, com o título: “O Papa da esperança e da mudança”.

    Esta é a mesma revista que há dias afirmava que “Julho foi o mês mais quente alguma vez registado na Terra”. Atenção, não é um máximo de 20 anos ou 40 anos, é mesmo um máximo desde que o planeta Terra existe! Talvez se tenha esquecido de dizer que é o mês com a temperatura mais elevada desde 1979, altura em que se começaram a utilizar satélites. Também se devem ter esquecido dos 50 graus registados em Paris em 1930; ou que a terceira década do século transacto foi a mais quente do século XX. Talvez seja ignorância ou desconhecimento; desconhecemos.

    Na verdade, não há qualquer esperança ou perspectivas de mudança vindas do Papa Francisco, da Igreja Bergogliana ou dos órgãos de propaganda nesta nova tentativa de manipular as populações.

    O objectivo é comum: entregar as nossas vidas, a nossa soberania, a um governo mundial. Reparem que a agenda é a mesma, a manipulação é a mesma. A inclusividade serve apenas alguns. O Estado apenas quer o nosso bem. As taxas de carbono e a destruição das fontes de energia barata servem unicamente o propósito de salvar o planeta e evitar que ardamos no inferno. As inoculações experimentais são um acto de amor. Tudo o que nos recomendam serve o bem comum!

    red and white pen on green textile

    Não se esqueçam, a Igreja Bergogliana dizia-nos há dois anos que estávamos a viver uma “terrível pandemia” e que a “vacina” era a nossa única salvação. Esta “ciência” foi desmontada pelo mais recente estudo de John Ioannidis, o médico mais citado do mundo, sobre a taxa de letalidade por infecção (IFR) da Covid-19 por idade, onde este estimou que a IFR do Covid-19 na era pré-inoculações experimentais era inferior a 0,1% para aqueles com menos de 70 anos!

    Após a festa das JMJ temos que dar-nos por satisfeitos: a casta parasitária perpetrou um novo assalto ao nosso bolso, os órgãos de propaganda reconciliaram-se com a Igreja Bergogliana, atendendo aos panegíricos sem fim que temos visto, e o mundo irá estar muito melhor com as ideias terceiro-mundistas do Papa Francisco, na verdade, um comunismo reciclado em palavras estéreis como inclusividade ou ecologia integral. Enfim, mais propaganda, mais manipulação, nada mais.

    Luís Gomes é gestor (Faculdade de Economia de Coimbra) e empresário


    N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.

  • A subida aos Céus não vai de Schindler nem de ThyssenKrupp

    A subida aos Céus não vai de Schindler nem de ThyssenKrupp


    Ascender ao Céu é a aposta de muitos na aproximação às igrejas. Buscam na sua ignorância o que a Igreja não promete: o paraíso após a vida.

    As igrejas são um local de encontro colectivo com Deus, ou deuses, e onde se procura a força do grupo para garantir os preceitos e as crenças. Tenhamos presente, contudo, que a fé é individual, única, invisível e intransmissível.

    Como qualquer necessidade, a fé não tem ajuda, nem pode ser levada por outro. Recordo as cruzes que transporta um bem-aventurado que realiza a promessa alheia. Os deuses nunca pediram promessas nem fizeram negócios. Os deuses nunca ofereceram mais que silêncio profundo. Nunca pediram oferendas.

    Anonymous person pressing button of lift

    Quem faz dessas coisas são homens e mulheres que representam deuses na Terra. De facto, desde Abraão, são pessoas que carregam profecias e mandamentos. Antes era o deslumbre da Natureza que endeusava o Sol, ou a Lua, ou as tempestades, ou os fogos. Os seres humanos utilizavam as crenças em seu benefício e ofereciam sacrifícios para espiar os seus erros e pedir favores. Sempre a ideia de divindades ao balcão da loja.

    Os profetas e os santos representam a humanização de Deus e, normalmente, as suas vidas são revoluções do indivíduo em prol dos outros. O eu projectado ao serviço da comunidade. A maior parte são obsessões ideológicas que se procuravam impor aos povos. A ideia de espalhar a fé a ferro e fogo, a ideia de catequizar pelo medo, só podia ser humana e nunca de um deus maior.

    Não espanta, pois, que a ascensão sonhada se tenha convertido nas igrejas em elevador social. Um erro de interpretação que São Francisco tentou expiar e explicar na simplicidade e humildade inerentes à dádiva e nunca à ascenção na vida terrena.

    View of Palm Trees on Beach

    O problema de todas as igrejas está no fanatismo de quem interpreta a mensagem. A obsessão por espalhar a fé, fazer com que outros carreguem a cruz, cumpram os preceitos do profeta.
    No caso do Corão, há um rígido descritivo de comportamentos e uma tabela de impossibilidade que lembra as obrigações de Maomé para a grande caminhada. São lideranças humanas que se iluminam de um discurso messiânico.

    Nas igrejas como estruturas organizativas de representação de Deus, já os homens se deliciam na conquista de poder, gestão de corredores, truques de secretaria, jogos de cintura, facadas na costas, para uma Ascenção mundana sob o desígnio da outra que é divina.

    A subida aos Céus não vai de Schindler nem de ThyssenKrupp; é sem elevador, sem escadas. O centro da modalidade que parece existir na região frontal dos nossos cérebros, condiciona comportamentos educados, de aceitação do outro, de beneficiência, de altruísmo que se esfumam quando um AVC ou um trauma comprometem este pedaço do cérebro.

    Hands Holding a Brown Prayer Beads

    Deus materializado na Ciência, definindo uma forma de perceber o conceito numa evidência anatómico/comportamental indiscutível.

    O elevador das igrejas, das empresas, dos partidos é frequentemente a confusão dos críticos. Há Ascenção de fé construída, e há ascenção e poder e ganhos secundários que são coisa de gente. Gente, certamente!

    Diogo Cabrita é médico


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