Categoria: Opinião

  • O Pfizergate, o New York Times e o caso português do PÁGINA UM (a aguardar sentença há 28 meses)

    O Pfizergate, o New York Times e o caso português do PÁGINA UM (a aguardar sentença há 28 meses)


    Durante a pandemia, uma parte significativa do jornalismo português ajoelhou-se perante os altares da Comissão Europeia e dos Governos nacionais. A crítica, o contraditório e a investigação foram substituídas por uma militância sanitária que assumiu como missão promover vacinas, esconder contratos, silenciar dúvidas e rotular como perigosos ou irresponsáveis os que ousassem fazer perguntas.

    Por exemplo, logo após o nascimento do PÁGINA UM em Dezembro de 2021, a direcção editorial da CNN Portugal (com o apoio da Ordem dos Médicos) encomendou ao então estagiário Henrique Magalhães Claudino uma notícia para me associar aos ditos movimentos negacionistas da covid-19. Tive de lutar meses junto da ERC pela justeza da minha notícia rigorosa para, pelo menos, conseguir publicar direitos de resposta em alguns dos jornais que propalaram esta patifaria da CNN.

    Ursula von de Leyer com o CEO da Pfizer, Albert Bourla.

    Para evitar a publicação do direito de resposta, o jornal Público chegou mesmo a colocar, em meados de 2022, uma providência cautelar, através do advogado Francisco Teixeira da Mota – conhecido paladino da liberdade de imprensa –, em que se acusava que o PÁGINA UM “manifestamente, tinha tomado posições claramente atentatórias contra a necessidade de se criar consenso social em favor da vacinação, algo que o jornal [PÚBLICO] assumiu e defendeu desde a primeira hora”.

    Ou seja, durante a pandemia, a imprensa mainstream e muitos jornalistas não hesitaram em atribuir-me epítetos por não seguir linhas editoriais de propaganda vacinal e de gestão da pandemia, funcionando mais como departamentos de comunicação da DGS do que como órgãos de comunicação social que se exigem livres e plurais.

    Nesse contexto, não surpreende que a imprensa portuguesa — com raríssimas excepções — nunca tenha demonstrado qualquer interesse em saber o que realmente se passou nos bastidores das negociações das vacinas, tanto a nível europeu como nacional. Quando, em 2022, o The New York Times avançou com um processo contra a Comissão Europeia para obter as célebres mensagens trocadas entre Ursula von der Leyen e o CEO da Pfizer, Albert Bourla, a imprensa nacional mal lhe dedicou uma nota de rodapé. Uma ou duas linhas tímidas, e logo voltou ao conforto das pachorrentas conferências de imprensa, onde as perguntas difíceis eram proscritas.

    Agora, em Maio de 2025, o Tribunal Geral da União Europeia condenou a Comissão Europeia por violação dos princípios de boa administração ao recusar a entrega dessas mensagens – e os mesmos jornais que se calaram ou atacaram quem exigia transparência rejubilam agora. O Público até tem a ousadia de escrever que o “desfecho do caso Pfizergate é uma vitória para o The New York Times, a liberdade de imprensa e a transparência”.

    O Público agora rejubila com a vitória da liberdade de imprensa e da transparência…

    A hipocrisia na sua plenitude: quem ontem negou o jornalismo, hoje celebra o jornalismo dos outros — desde que venha com o selo do New York Times e sem incomodar os interesses nacionais.

    Mas mais grave do que esta hipocrisia mediática é o facto de, em Portugal, também haver um “caso Pfizergate” — ou melhor, um “caso DGSgate”, igualmente associado à compra de vacinas da covid-19, mas este, intentado pelo PÁGINA UM, arrasta-se há mais de dois anos, sem que o Tribunal Administrativo tenha decidido o que há muito já deveria estar resolvido. Ou melhor dizendo, porque os tribunais (e as suas decisões) são feitos por pessoas, pela juíza do processo, Telma Nogueira.

    Com efeito, em 22 de Novembro de 2022, requeri à DGS, ao abrigo da Lei de Acesso aos Documentos Administrativos, um pedido claro, inequívoco e fundamentado de acesso integral aos contratos celebrados com as farmacêuticas fornecedoras de vacinas contra a covid-19, incluindo todos os anexos, cadernos de encargos, guias de transporte e trocas de correspondência administrativa.

    A juíza associada à intimação do PÁGINA UM tem permitido ao Ministério da Saúde e à DGS um exercício prolongado de opacidade com verniz burocrático: quando está em causa decidir se existe legitimidade para o acesso, é permitido que se negue o inegável, que se traduzam documentos (sem se ver os originais), e expurguem partes, retirando qualquer valor informativo real. E, na verdade, ‘apenas’ se quer consultar os originais. E anda-se há 28 meses — a intimação foi apresentada no último dia de 2022 — numa encenação de transparência, onde se finge cooperação para, na prática, se negar o acesso à informação pública.

    E a juíza permanece, despacho após despacho, sem proferir sentença ao fim de 28 meses, num processo classificado de urgente. Ainda que fosse desfavorável, seria preferível uma sentença, porque, ao menos, seria possível recorrer ao tribunal superior.

    Ainda este mês, sabendo bem que aquilo que a DGS tem carreado para o processo em nada corresponde ao que foi solicitado em 2022, a juíza Telma Nogueira deu um despacho para que nos pronunciemos se estamos satisfeito com aquilo que temos. Anda-se neste ‘enrola-enrola’ há dois anos. Se o formalismo jurídico permitisse seguiria uma única palavra e em maiúsculas: NÃO. E a seguir, um rogo: “decida, se faz favor”.

    person holding white plastic bottle

    Talvez não seja de bom tom, com um caso em curso, estar a debruçar-me e a criticar a condução deste caso. Mas ao jornalismo cabe a obrigação da denúncia, mesmo se em casos que digam respeito ao próprio jornalista, porque, neste caso, existe interesse público. E a questão jurídica do Tribunal Administrativo nestes casos é simples: não lhe cabe ser árbitro entre o que o requerente pediu e aquilo que o requerido quer dar. Cabe-lhe dizer, com clareza e firmeza, se há ou não legitimidade no pedido, se a DGS tem ou não obrigação de entregar os documentos originais sem rasuras, se o cidadão e, em particular, o jornalista têm ou não o direito de escrutinar os contratos que foram pagos com dinheiro público em nome de uma emergência sanitária. E decidir com a celeridade que a lei determina para as intimações. E 28 meses são 28 meses — não há conceito lato de urgência que encaixe todo este tempo.

    Ao contrário do que muitos insinuaram durante a pandemia, não há qualquer pulsão negacionista em se querer saber como foram negociadas e contratadas as vacinas ou se geriu a pandemia. Aquilo que há é jornalismo — esse mesmo que agora tantos fingem celebrar quando a vitória é de um jornal estrangeiro.

    O ‘caso DGSgate’ – e um outro relacionado com uma base de dados dos internamentos, que se eterniza apesar de um acórdão do Supremo Tribunal Administrativo de 2023 – é, por isso, um teste à democracia. Se a Justiça portuguesa confirmar que a recusa da DGS foi ilegal, estará a dar uma resposta clara em favor da liberdade de informação e contra a opacidade institucional. Mas se continuar em silêncio, estará a dizer-nos que, em Portugal, certos contratos públicos estão acima da lei — e que, ao contrário do que se exige aos cidadãos, o Estado pode desobedecer impunemente àquilo que ele próprio legisla.

    Assim, se Von der Leyen foi condenada por esconder mensagens de WhatsApp, o que se deve dizer de uma DGS que esconde contratos inteiros, facturas, guias de remessa e cartas em papel timbrado? E o que dizer de uma Justiça que, passados mais de dois anos, ainda não respondeu?

    Enfim, não basta aplaudir o New York Times e dizer que a liberdade de imprensa venceu em Bruxelas. É tempo de exigir que a liberdade de imprensa também vença em Lisboa. E que se denuncie, em simultâneo, os hipócritas — sobretudo os escribas de certa imprensa, que tão maltrataram os princípios do jornalismo durante os anos da pandemia.

  • O regresso cego ao ‘business as usual’ e o preço da negligência energética

    O regresso cego ao ‘business as usual’ e o preço da negligência energética


    A cultura do business as usual é a mais insidiosa forma de irresponsabilidade institucional. Mais ainda no rescaldo de um apagão eléctrico que mergulhou Portugal na escuridão, depois de o MIBEL ter andado a ser ‘vendido’ como modelo de negócio com garantias de “segurança no abastecimento de electricidade”, ainda mais depois de Portugal ter encerrado a central a carvão do Pego, que embora causasse problemas ambientais, concedia inércia à rede electrica nacional, auxiliando o amortecimento de variações súbitas de frequência.

    Nas últimas duas semanas, a REN – a empresa monopolista de segurança e continuidade do serviço de eletricidade e pela gestão do sistema elétrico nacional – tem-se desdobrado em declarações à imprensa acrítica – sobre o apagão espanhol que colapsou Portugal como um baralho de cartas. Ouvem agora declarações de prudência e de monitorização “em permanência”, mas sem que se vislumbre uma explicação sobre as actuais fragilidades portuguesas e sem se mexer uma palha naquilo que verdadeiramente conta: a estrutura técnica do sistema. Enfim, fazem-se figas e toca a negociar de novo – em Portugal, o business as usual quer dizer irresponsabilidade.

    closeup photo of lighted bulb

    É certo que as investigações internacionais ainda decorrem e já há quem prognostique que as causas do ‘incidente’ do passado dia 28 de Abril demore meses – este prazo é muito conveniente para que a culpa se esqueça ou morra solteira. Mas não nos haja iluões: a morosidade processual é muitas vezes um biombo conveniente para adiar decisões e manter tudo como está – e confiar na sorte. E achar aceitável continuar a operar uma rede eléctrica com os mesmos erros que nos levaram, literalmente, ao colapso.

    Os sinais são, infelizmente, de um país a regressar tranquilamente à rotina. Portugal já retomou as importações de electricidade de Espanha, embora agora com supostas restrições nas horas de maior produção fotovoltaica. A medida, apresentada como prudente, nada resolve.

    Aliás, ao reduzir e condicionar a importação de electricidade fotovoltaica em função do período horário, a REN acaba por revelar, de forma implícita mas inequívoca, onde esteve a génese do apagão de 28 de Abril: na conjugação entre forte produção solar intermitente, demasiada importação de Espanha, baixa inércia do sistema nacional e ausência de mecanismos de resposta rápida. A própria REN, ao limitar agora as importações diurnas, indicia o risco que não ousa nomear frontalmente — e ao fazê-lo, reconhece tacitamente que o sistema eléctrico ibérico, e o português, não está preparado para absorver grandes fluxos renováveis sem ferramentas técnicas modernas.

    Limitar a importação solar, portanto, não é uma precaução neutra — é uma confissão técnica. E mais: é a manutenção deliberada de um sistema que falhou, à espera que falhe outra vez.

    Uma das grandes vantagens do apagão foi, em certa medida, permitir que muitos especialistas independentes pudessem expor as fragilidades do sistema eléctricio português, porque aparentemente temos uma Entidade Reguladora do Sector Energético que anda a vir navios.

    De entre as propostas que, não sendo eu especialista em detalhe nesta matéria – direi que ‘tenho umas luzes’ – se afiguram muito realistas e exequíveis, destaco as seguintes causas para estarmos continuamente sob risco de sucessivos apagões.

    Primeiro, a ausência de Fast Frequency Reserve (FFR), ou seja, de capacidade de injectar ou retirar potência da rede em milissegundos após uma perturbação. Esta reserva rápida, que actua como um “airbag” eléctrico, é hoje considerada essencial em redes com elevada penetração de renováveis. Portugal tem neste momento zero megawatts contratados, enquanto, por exemplo, a Irlanda opera com 330 MW e o Reino Unido gasta mais de 200 milhões de libras anuais para garantir este tipo de resposta.

    Foto: D.R./ REN

    Segundo, a persistência de relés de protecção mal calibrados, com valores de RoCoF (Rate of Change of Frequency) excessivamente conservadores. Com o actual limiar, variações superiores a 1 Hz/s disparam desligamentos automáticos de centrais e linhas devido à variação excessiva da frequência — uma resposta defensiva que, em vez de estabilizar, pode precipitar colapsos em cascata como o que ocorreu a 28 de Abril. A solução, consta, é simples e está estudada: reprogramar os relés para aceitar ±1 Hz/s, o que evitaria desligamentos prematuros. Mas nada foi feito.

    Terceiro, a actual baixa inércia do sistema, que se agravou com a substituição de centrais térmicas por fontes renováveis intermitentes. Esta fragilidade, não sendo recente, poderia ser mitigada com a chamada inércia sintética — conversores especiais ‘grid-forming’, baterias e até veículos eléctricos com tecnologia V2G. A REN sabe disto. O Governo também. E, no entanto, nenhuma meta foi definida, nenhum plano foi anunciado.

    Quarto, a ausência de digitalização e controlo dinâmico. A integração em tempo real de produção distribuída, pequenos produtores, veículos eléctricos e baterias requer uma infraestrutura de gestão moderna, com sistemas de gestão de energia (EMS) actualizados. Continuamos com uma infraestrutura pouco digitalizada e com baixa capacidade de resposta automatizada.

    light bulb

    Perante tudo isto, o mais grave é a tentativa de empurrar a responsabilidade para um vago “ainda não se sabe” ou para Espanha. Porque se sabe. Sabe-se, tecnicamente, que o sistema ibérico estava numa situação crítica às 11h33 de 28 de Abril.

    Sabe-se que houve uma quebra abrupta de 2200 MW na produção do sul de Espanha, provavelmente fotovoltaica, e que a ausência de FFR provocou uma queda de frequência tão rápida que os relés foram disparados em cascata. Sabe-se que os mecanismos de defesa do sistema — supostamente para o proteger — causaram precisamente o seu colapso.

    Se nada for feito, o próximo apagão é uma questão de estatística, não de surpresa. E, nessa altura, será lícito perguntar: quantas vezes precisa o país de cair para se lembrar de erguer os pés?

    black solar panels on purple flower field during daytime

    A REN, como operadora do sistema, tem a obrigação de preparar a rede para a realidade que já existe. E o Estado, como garante do interesse público, tem o dever de agir, regular e proteger. Aquilo que não pode suceder é continuar-se como se nada tivesse ocorrido, enquanto se esperam relatórios que apenas confirmarão o que os engenheiros e analistas já sabem de cor.

    Regressar ao business as usual serve os interesses dos operadores do MIBEL, mas é um luxo que portugueses já não podem pagar, até porque pagam já uma factura de electricidade já demasiada alta.

  • 10 vezes mais casos de sarampo na Europa em 2024: e a culpa também foi do Trump?

    10 vezes mais casos de sarampo na Europa em 2024: e a culpa também foi do Trump?


    Apesar de se terem registado na Europa dez vezes mais casos de sarampo na Europa em 2024 face ao ano anterior, eis que nos últimos meses, com o previsível automatismo ideológico, os holofotes da comunicação social viraram-se para os Estados Unidos. Ou melhor, para Robert F. Kennedy Jr. e Donald Trump por via de diversos pequenos surtos que contabilizam 935 casos e três mortes, até ao passado dia 1, num país de 340 milhões de habitantes – uma incidência de 2,75 casos por milhão, o segundo valor mais elevado na década, depois de 2019 (1.274 casos).

    Se observarmos o relatório publicado na semana passada pelo European Centre for Disease Prevention and Control, nos 30 países do Espaço Económico Europeu houve 23 com uma incidência maior do que registada até agora nos Estados Unidos, em algumas nações com números anormalmente elevados. Por exemplo, a Roménia registou no ano passado 30.692 casos de sarampo, o que representa uma incidência de 1.610,7 casos por milhão. A Áustria registou 59,5 por milhão, a Bélgica de 44,9, a Irlanda de 39,6, a Itália de 17,9 e até Portugal, com 35 casos, teve uma incidência de 3,3, ou seja, superior à dos Estados Unidos este ano.

    A evolução do sarampo na Europa mostra-se preocupante: em 2020 registou-se uma incidência de 4,6 casos por milhão, desceu depois em 2021 e 2022,e cresceu para 9,1 casos por milhão em 2023 para depois atingir os 77,4 por milhão. Note-se bem: se os Estados Unidos tivessem no presente ano esta incidência contabilizariam mais de 26.300 casos, não os 935 casos que registam.

    Mas ninguém deseja olhar para os números quando se quer imprimir uma narrativa já escrita de antemão: a culpa dos surtos de sarampo nos Estados Unidos deve ser assacada a Trump, a Robert Kennedy Jr., aos “populistas”, à “extrema-direita”, aos “negacionistas”. Pouco importa que os dados, as evidências, os relatórios oficiais e os avisos prévios desmontem essa simplificação vergonhosa. No jornalismo do nosso tempo e numa “ciência” cheia de tiques missionários, a verdade vem depois da manchete. E, às vezes, nem chega a vir.

    É certo que Robert Kennedy Jr., ao longo dos anos, tem manifestado publicamente dúvidas sobre alguns ingredientes e potenciais efeitos secundários das vacinas infantis, embora nada disto tenha mudado a postura actual do CDC. Aliás, esta entidade mostra um gráfico no seu site, que aqui apresento, onde a eficácia das vacinas contra o sarampo se revela de forma marcante na redução drástica de casos desde os anos 60 do século passado. É igualmente verdade que Trump tem mantido uma postura ambivalente sobre temas científicos, misturando intuições com políticas erráticas. Mas será intelectualmente honesto responsabilizar estas duas figuras por surtos de sarampo que decorrem num país com 340 milhões de habitantes, numa era em que as políticas públicas são decididas por múltiplos actores e factores?

    Evolução dos casos de sarampo nos Estados Unidos desde a introdução da vacina. Fonte: CDC.

    A resposta é, obviamente, não. Sejamos honestos: por mais que se antipatize com o estilo e acções de Trump, o surto de sarampo em curso nos Estados Unidos surge num contexto onde a Administração Biden esteve no poder durante quatro anos consecutivos, período durante o qual os próprios Centers for Disease Control and Prevention (CDC) lançaram vários alertas sobre a diminuição da cobertura vacinal em múltiplas áreas. Em Outubro de 2024 — sublinhe-se, ainda sob a presidência de Joe Biden —, investigadores do CDC reportavam que a cobertura nacional com as vacinas MMR (sarampo, papeira e rubéola), DTaP (difteria, tétano e tosse convulsa), varicela e polio entre crianças em idade de jardim-de-infância tinha descido para níveis abaixo dos 93%, após uma década estável nos 95%. A cobertura com a vacina MMR caiu para 92,7%, a DTaP para 92,3%, e contra a varicela para 92,4%.

    Mais ainda: o relatório da CDC mostrava que 14 estados tinham no ano passado isenções vacinais acima de 5%, e que as excepções não-médicas representavam mais de 93% dos casos, revelando um fenómeno de desconfiança ideológica — não necessariamente religiosa ou científica — para com a vacinação em geral. Ou seja, muito antes de Trump voltar a ocupar o centro do palco político ou de Kennedy Jr. assumir qualquer papel relevante no debate institucional, já se verificava um declínio estatisticamente significativo da vacinação tradicional nos Estados Unidos. Os dados estavam disponíveis, públicos e sublinhados pela própria autoridade federal de saúde. Os surtos deste ano nos Estados Unidos não são o reflexo da eleições de Trump: surgem de trás.

    Então, qual a razão para não se discutir com seriedade as verdadeiras causas da retracção de uma vacina que apresenta, contra o sarampo, mais de 60 anos de sucesso? Porque seria necessário encarar, com honestidade, os efeitos colaterais da estratégia político-mediática durante a pandemia da covid-19. E isso não interessa nem ao jornalismo mainstream nem à elite político-científica que dela se alimentou.

    Evolução do número de casos de sarampo nos Estados Unidos desde o ano 2000.Valores de 2025 até 1 de Maio.Fonte: CDC.

    A verdade desconfortável — e já admitida timidamente pela CDC — é que existe uma transferência de hesitação vacinal da covid-19 para as vacinas tradicionais. E para compreender isso, é preciso fazer o que quase ninguém faz: distinguir o que é, tecnicamente, uma vacina tradicional daquilo que foram os ‘produtos farmacêuticos’ contra a covid-19.

    Durante mais de um século, a vacinação baseou-se na administração de agentes biológicos inactivados, atenuados ou purificados que imitavam a infecção natural e conferiam imunidade duradoura, frequentemente com um ou dois reforços. A vacina da poliomielite, por exemplo, usa vírus inactivado; a DTaP utiliza toxinas tratadas quimicamente; a MMR recorre a vírus atenuados. Estas vacinas não apenas conferem protecção pessoal, como também reduzem significativamente a transmissão, construindo o tal ‘escudo comunitário’ da imunidade de grupo.

    Em contraste, por muito que se tenha propalado inicialmente o contrário, as chamadas “vacinas contra a covid-19” de tecnologia mRNA (como a da Pfizer e Moderna) ou de vector viral (como a da AstraZeneca e Janssen) não usam qualquer forma do vírus inactivado ou atenuado, nem conferem imunidade duradoura no modelo tradicional. Mais importante: não impediram a infecção nem a transmissão viral — e lembremo-nos como se impôs o vergonhoso certificado digital para excluir não-vacinados, mesmo aqueles com imunidade natural adquirida —, tendo-se tornado evidente, ao fim de poucos meses, que seria necessário revacinar ciclicamente. Enfim, sabe-se hoje que, independentemente da discussão sobre eficácia e segurança, a natureza destes produtos é, na verdade, mais próxima de terapias profilácticas temporárias do que de vacinas clássicas.

    a baby being examined by a doctor and nurse

    Porém, a confusão incutida e mesmo alimentada foi tanta que, em 2021, o próprio CDC alterou a definição oficial de vacina, eliminando a referência a “imunidade” e substituindo-a por “protecção” — uma mudança sem precedentes, feita discretamente, para adaptar a linguagem institucional ao insucesso clínico da nova tecnologia quanto à componente da imunidade. Onde antes se dizia que uma vacina era “um produto que estimula o sistema imunitário a produzir imunidade contra uma doença específica”, passou a dizer-se que é “um produto que estimula a resposta imunitária contra uma doença”. É a diferença entre garantir e tentar.

    Esta manobra semântica — e politicamente conveniente — gerou um dano profundo no capital de confiança das vacinas como conceito científico e instrumento de saúde pública. Muitos cidadãos, perplexos com a multiplicidade de doses, a ausência de eficácia sustentada e os relatos de efeitos adversos (alguns graves, outros silenciados), passaram a questionar todas as vacinas, mesmo aquelas com décadas de provas dadas.

    E quando, por pressão política e empresarial, a definição de “vacina” foi alargada sem distinção clara entre tecnologias, arrastou-se para o descrédito todo o edifício construído em torno das vacinas tradicionais, que durante décadas demonstraram segurança, eficácia e aceitação pública.

    baby under purple blanket

    Hoje, enfrentamos as consequências dessa imprudência. Famílias expostos a meses de propaganda acrítica e depois a notícias de efeitos adversos das chamadas ‘vacinas contra a covid-19’ ocultados ou relativizados, passaram a desconfiar do conceito de vacina como um todo. Sucedeu em todo o Mundo — e sucedeu nos Estados Unidos, e aqui não porque tenham lido Robert Kennedy Jr. nem porque votaram em Donald Trump, mas porque sentiram na pele a quebra do contrato de confiança entre Ciência, política e cidadania.

    É esta quebra que a comunicação social se recusa a discutir. Prefere a narrativa do bode expiatório. Prefere a facilidade do insulto ao rigor do inquérito. Mas quem quiser, com seriedade, evitar futuros surtos — de sarampo ou de pensamento binário — deve começar por recuperar a distinção entre tecnologias, reconstituir a credibilidade perdida e, talvez o mais importante, reverter a redefinição oportunista do que é uma vacina. A confiança não se impõe por decreto nem se reconquista por censura. Constrói-se com transparência, memória e verdade. E, já agora, sem ‘ideologite’ e sabendo um pouco (ou muito) de Matemática.

  • Spinumviva: o jornalismo da esponja e a nódoa que persiste

    Spinumviva: o jornalismo da esponja e a nódoa que persiste


    Em democracia, há momentos em que a história se repete, não como farsa, mas como ensaio da decadência. A queda do Governo de Luís Montenegro, provocada por um escândalo ético (pelo menos) envolvendo a sua empresa familiar Spinumviva -cujo único activo era ele próprio, não pelo conhecimento jurídico mas influência política –, parecia inaugurar um momento de depuração cívica.

    Mas bastaram poucos dias para que se reinstalasse o mecanismo rotineiro da absolvição mediática, essa máquina bem oleada que, em vez de investigar, serve para enxaguar a nódoa. Luís Rosa, jornalista do Observador, que se apresenta como repórter de investigação, apresentou uma suposta investigação jornalística que serviu para uma narrativa muito conveniente para uma ‘limpeza ética’ de Luís Montenegro e preparar um nível de vitimização para ‘desaconselhar’ um enfoque no caso Spinumviva.

    A peça assinada por Luís Rosa e João Paulo Godinho, publicada em tom triunfal no dia 19 de Março, garantia ter sido baseada na consulta de mais de mil documentos sobre a actividade da Spinumviva — documentos que alegadamente comprovavam, de forma irrefutável, que os serviços prestados tinham sido reais, substanciais, legítimos. Porém, o leitor mais atento — e qualquer jornalista com um mínimo de exigência — deparou-se com uma ausência total de provas visíveis: na peça não surgia nenhum fac-símile, nenhum relatório, nenhum contrato, nenhum e-mail, nenhuma factura, nada. Apenas o anúncio da existência dos documentos, talvez por fé, talvez por conveniência. Em vez de jornalismo de investigação, tivemos jornalismo de proclamação.

    Não há desculpa plausível para um jornal digital, que opera sem os constrangimentos de espaço do papel, não apresentar aos seus leitores, nem que fosse em anexo, uma pequena amostra dos tais documentos. E as imagens publicadas, com dossiês e folhas amontoadas, pareciam mais uma produção estética do ChatGPT do que uma prova documental genuína. Não se vislumbrava sequer uma citação, nada.

    A operação foi tudo menos inocente: serviu para projectar a ideia de que o caso estava encerrado, de que Montenegro era uma vítima da má-língua e do “clima de suspeição”, e de que tudo não passava de uma cabala. A imprensa convencional não perdeu tempo: replicou a narrativa sem pestanejar, sem escrutinar, sem perguntar.

    Imagens destacadas na peça do Observador de 19 de Março sobre a Spinumviva com os dossiês usados na investigação jornalística. Não foi apresentrado qualquer documentos concreto. Foto: DR.

    E assim se passou, durante algum tempo, uma esponja sobre a razão primordial da queda do Governo: a promiscuidade entre funções públicas e interesses privados, a opacidade das avenças, o potencial conflito de interesses, e a recusa em afastar-se de uma empresa familiar com ligações activas a entidades com relações com o Estado. E mais:percebeu-se também que, por coincidência, um cliente da Spinumviva é pai de um candidato do PSD à Câmara de Braga.

    Nestas eleições, mais do que confirmar ou não um sistema político de governos minoritários – o que, numa democracia, até deveria ser saudável e saudado –, está em causa se o eleitorado sanciona ou não aquilo que representa o caso Spinumviva. Não foi a oposição que forçou a queda do Governo: foi o próprio Luís Montenegro que apresentou uma moção de confiança. Caiu não por perseguição política, mas porque perdeu a legitimidade ética.

    Agora, já em vésperas da campanha eleitoral, surgiu afinal uma nova lista de empresas que constam como clientes da Spinumviva, com destaque para a ITAU e a Sogenave – ambas do ramo alimentar e que têm contratos volumosos com entidades estatais que, por exemplo, fornecem cantinas de escolas e hospitais em ajustes directos – e ainda a Portugalenses Transportes, a metalomecânica bracarense Beetsteel, a consultora espanhola INETUM Portugal, e a Grupel, que actua no sector da energia.

    ‘Investigação jornalística selectiva’: sem revelar fonte nem mostrar qualquer documentação em concreto, Luís Rosa ‘sentenciou’ que a Spinumviva não era empresa de fachada, mas ficam agora em aberto várias questões essenciais. Em (supostas) mil páginas de documentos da Spinumviva, nada constava das ‘novas’ empresas agora conhecidas? Não era suposto ter tido acesso a toda a documentação? Aceitou fazer revelações taxativas sem ter tido acesso a todos os contratos da empresa de Montenegro?

    Estranhamente, ou talvez não, esta informação surgiu através de uma declaração do próprio Luís Montenegro à Entidade para a Transparência – que supostamente o primeiro-ministro pensaria que viesse a ser confidencial – não veio pela mão de Luís Rosa. Nem do Observador. Nem de qualquer outro órgão que tenha ecoado, sem filtro, a narrativa de reabilitação.

    Recordemos para memória futura; Luís Rosa garantiu em Março passado ter lido acesso a mais de mil páginas de documentos sobre a Spinumviva. E então, não recebeu a informação sobre esta (novas) empresas. Ou não a quis mostrar? O que é pior? Ter sido ingénuo e manipulado por fontes próximas de Luís Montenegro – ou pelo próprio –, acreditando que tinha toda a verdade? Ou ter recebido apenas parte da informação e, mesmo assim, ter decidido avançar, consciente de que servia uma operação de maquilhagem? Em qualquer dos casos, fica manchada a integridade jornalística.

    A função do jornalismo de investigação não é salvar políticos caídos em desgraça, nem reescrever as razões das suas quedas, nem participar em operações de cosmética eleitoral. É perguntar, duvidar, incomodar. Não há investigação jornalística sem provas, mas estas têm de ser apresentadas como critério e seriedade. E não há jornalismo sério quando se confunde o acesso exclusivo com a fidelidade à fonte. Luís Rosa, neste episódio, não foi jornalista; foi transmissor.

    O Observador ‘lamenta’ agora que se está de novo a discutir o caso da Spinumviva (que justificou a queda do Governo), “enquanto o que interessa ao país não é discutido”. Não interessa ao país discutir a ética por detrás de um primeiro-ministro?

    Se Montenegro ganhar as próximas eleições, não será por ter explicado de forma clara os contornos da ligação da Spinumviva aos seus clientes e sobre as razões da sua contratação. Será porque a imprensa — a começar pelo Observador — contribuiu para apagar, na consciência colectiva, o escândalo que levou à dissolução da Assembleia. Será porque uma parte do jornalismo português continua a ver os políticos como aliados ou como clientes, não como sujeitos a escrutínio. Será porque a exigência democrática se diluiu no espectáculo da vitimização e da propaganda.

    É neste exacto ponto que a nossa democracia desce mais uns graus na escala da decência. Não porque o cidadão vota mal, mas porque lhe mentem; porque lhe ocultam; porque lhe vendem moral em troca de prestígio editorial. E porque, no final de contas, quem escreve não responde pelos actos de quem governa, mas deveria, no mínimo, prestar contas pelo silêncio conveniente e pelas investigações de papel.

    Neste caso da Spinumviva, a esponja (do jornalismo) está gasta; e aquilo que resta é a nódoa.

  • O apagão e o bandido estacionário

    O apagão e o bandido estacionário


    Na passada segunda-feira, Portugal, o país dos 133 mil milhões de euros em receitas estatais anuais – confiscados sob ameaça a uma população que trabalha de sol a sol –, converteu-se num autêntico Burkina Faso durante algumas horas. Sem energia, sem serviços, sem Estado funcional.

    Um buraco negro institucional a que chamam “serviço público”. Quem confiava na omnipotência estatal percebeu, mesmo que só por momentos, que o rei vai nu, muito nu. O Leviatã que tudo prometia é um colosso com pés de barro.

    light bulb

    É nestes momentos que vale a pena lembrar a analogia do bandido estacionário, conceito desenvolvido pelo economistra norte-americano Mancur Olson no século passado. Porque se há imagem que melhor sintetiza o Estado, é essa: o ladrão que deixou de fugir e decidiu ficar.

    Imaginemos um vale fértil, habitado por camponeses laboriosos. Um Éden terrestre, onde a riqueza brota do suor e da terra. Os camponeses vivem em paz, trocam entre si, cultivam os campos, constroem famílias e vida. Um dia, das montanhas, descem uns salteadores: armados, sedentos de ouro e mulheres, disparam, assaltam, saqueiam. Mas, como qualquer ladrão, fogem. Saquear e fugir, essa é a essência do bandido tradicional.

    Mas eis que surge um novo tipo de bandido. Um que, ao olhar o vale fértil, pensa diferente: “E se ficasse? Se, em vez de fugir, ficasse aqui para sempre a saqueá-los? Mais eficiente, mais contínuo, menos arriscado.” Assim fez: instalou-se no vale, autoproclamou-se rei, distribuiu títulos nobiliárquicos pelos seus lacaios e instituiu a primeira taxa: 10% de tudo o que os camponeses produzissem. Nascia assim o Estado. O roubo organizado, institucionalizado, perpétuo. O bandido estacionário deixara de ser bandido: tornara-se governante.

    a lit candle in the dark with a black background

    Mas este novo tipo de ladrão tinha um problema: a aritmética. Os camponeses eram muitos, os bandidos eram poucos. Como evitar a revolta? Como manter o saque sem resistência? A resposta foi tão velha quanto genial: a dissimulação. A força bruta não bastava. Era preciso convencer as vítimas de que não estavam a ser roubadas. Era necessário construir um véu de legitimidade, de inevitabilidade, de justiça. Nascia assim a propaganda.

    Ao longo da história, o bandido estacionário serviu-se de tudo. Da religião (“o rei governa por vontade divina”), da inflação (“não é roubo, é política monetária”), da manipulação simbólica (as colunas de Trajano, os hinos patrióticos, os retratos oficiais, as estátuas dos governantes), da pedagogia da servidão (as escolas públicas, os manuais de “cidadania”). A arte do parasita é sofisticada: quanto mais complexa for a estrutura, menos perceptível será o roubo. É por isso que as vítimas, hoje, nem sabem o que lhes está a acontecer.

    Depois, o golpe de mestre: o contrato social. Um documento que ninguém viu, ninguém assinou, mas que supostamente legitima tudo. Reza a fábula que homens livres e selvagens, felizes no planeta Terra, se reuniram voluntariamente para estabelecer um acordo com o seu opressor. O resultado? Um monopólio do uso da força, dos tribunais, da justiça. Quem rouba julga. Quem abusa legisla. Um prodígio de circularidade lógica que até faria rir o Diabo. É como se o lobo passasse a decidir litígios entre as ovelhas e as suas próprias dentadas.

    Numa fase inicial, nos tempos da monarquia absoluta, o saque era mais honesto. Sabíamos quem nos roubava. Era um homem, com nome, cara e trono. O roubo era concentrado. O povo via o ouro, os bailes, as orgias palacianas, e, de vez em quando, revoltas e revoluções despontavam. Quando Maria Antonieta sugeriu que dessem bolos ao povo, o povo respondeu com guilhotinas. A visibilidade do parasitismo era o seu maior inimigo.

    Com a democracia, o golpe foi ainda mais brilhante. Agora, todos, em teoria, podemos ser ladrões. Todos podemos aceder ao pote. O roubo democratizou-se. A ilusão é que há participação. Mas o resultado é idêntico: o dinheiro vai para o mesmo lado.

    A diferença? O trajecto. Na monarquia, o saque ia do povo para o rei. Na democracia, vai do povo para o “público” – esse conceito abstracto e gaseificado – e depois, pelas vias do compadrio, escorre até ao bolso dos novos duques: os administradores de empresas públicas, os assessores autárquicos, os gestores de monopólios subsidiados, os parasitas eleitos. Gente que não sabe estrelar um ovo, mas que aparece todos os meses com salários de cinco dígitos para “servir o interesse comum”.

    E onde entram as causas ambientais nesta equação? Ora, onde sempre entraram as causas nobres: como camuflagem. O CO2, o alimento das plantas, tornou-se o novo Satã. Como nas indulgências da Igreja, em que se pagava para salvar a alma, agora paga-se para salvar o planeta. É o mesmo mecanismo medieval, agora com verniz ecológico. Um pretexto para confiscar mais. O gado confuso aceita tudo: imposto sobre combustíveis, imposto sobre automóveis a combustão, imposto sobre o plástico, imposto sobre energia fóssil. Tudo em nome da salvação!

    Onde se gasta esse dinheiro? Nas empresas de energias renováveis, claro. Não porque estas sejam viáveis, mas porque são a nova galinha dos ovos de ouro do saque bem-pensante. Os amigos do regime aparecem como administradores dessas empresas, recebem subsídios, benefícios fiscais, contratos garantidos, financiamento verde, directamente da impressora do BCE. É o milagre da multiplicação do saque. É o assalto com arco-íris e painéis solares. Tudo com um sorriso e uma propaganda impecável. Porque, lembremos, a arte do bandido estacionário não é roubar com violência, mas sim com consentimento.

    Eis, portanto, a realidade nua: vivemos num sistema de pilhagem institucionalizada, sofisticada, pacífica e contínua. O apagão de Segunda-feira foi apenas uma breve revelação. Uma janela para o que acontece quando o bandido estacionário “falha” por umas horas: o caos. Mas o caos não é a ausência do Estado. O caos é o Estado em acção, quando deixa cair a máscara de eficiência e se mostra na sua forma crua: um parasita gigantesco a sugar a vida de milhões, em nome do bem comum.

    clear light bulb lot

    Portugal não precisa de mais Estado. Precisa de menos. Não precisa de mais democracia, precisa de mais liberdade. Não precisamos de novos líderes, precisamos de menos ladrões. O bandido estacionário não se reforma. Só desaparece quando o povo se recusar a ser vítima. Quando entende que não deve tributo ao seu assaltante, nem vassalagem ao seu algoz.

    Até lá, continuará a pagar a factura do assalto…com apagão incluído. Porque, como já perceberam, até a luz que o ilumina serve para alimentar o parasita.

    Luís Gomes é gestor (Faculdade de Economia de Coimbra) e empresário


    N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.

  • A vaidade e as dívidas de Gouveia e Melo

    A vaidade e as dívidas de Gouveia e Melo


    Como é evidente para quem o conhece há décadas, e apesar da recomendação de vários dos seus apoiantes, Gouveia e Melo (GM), não consegue manter-se “em silêncio” e fora do palco mediático: “Não me sinto obrigado a ficar calado”. Já previ (por exemplo, aqui e aqui) que a vaidade de GM o leva a buscar promoção mediática. E não faltam comentadores, jornalistas e editores que lha dão, sem escrutínio, e sem ser claro se estão a informar ou a manipular.

    É curioso que muitos dos que dizem apoiar GM, por estarem fartos da vaidade e do excesso de mediatismo de Marcelo Rebelo de Sousa (MRS), que entendem nefastos num Presidente da República (PR), desconsideram, e chegam a negar, o que está à vista: mediatismo e exposição de vaidade desde 2021 (mas sem afeto), como nunca ocorreram, pelo menos, com um chefe militar, que nem se destacou em feitos militares.

    Depois da “entrada em falso” de dois destacados maçons na campanha de apoio a GM, que este afastou despudoradamente, e da declaração de apoio de Ângelo Correia, revelou-se a elite de apoiantes; e GM vai andando “por aí”, expondo-se aos media sempre à sua espera. Por isso, não admira que seja destacado em sondagens com baixas taxas de resposta

    Enquanto GM falou das matérias em que estava profissionalmente envolvido, ainda que só por vaidade ou até quando exorbitou funções (como na incompetente insistência na vacinação de crianças contra o SARS-COV-2; ou no combate ao tráfico de droga, competência exclusiva da Polícia Judiciária, como tem sido assinalado e explicado), só os especialistas estavam equipados para perceber que GM projetava uma imagem diferente da substância e da realidade. Mas, este ano, GM já se pôs a fazer declarações políticas gerais, e cada vez mais pessoas percebem que “o rei vai nu”. Daí os apoiantes sentirem necessidade de vir aos media ditar as interpretações “autênticas” – para evitarem que fujam as massas do centrão?

    Não pode surpreender que alguém que passou 45 anos na vida militar, mesmo que há dois ou três a intervir na política, diga “generalidades e culatras”, ou tenha um discurso inconsequente com o cargo político que ambiciona – ou que foi convencido a ambicionar?

    É improvável que aprenda num ano o espírito e a letra das normas jurídicas que definem e regulam o regime na Constituição (CRP), com todas as suas subtilezas, e que saiba interpretá-las bem. Mesmo com bons assessores é duvidoso que seja capaz de dialogar com eles sobre os casos que surgirão; por isso, ficará totalmente dependente deles no exercício do cargo.

    Este ponto não é menor: GM recusou várias vezes entrar na vida política; obviamente, mudou. As declarações da elite de apoiantes tornam legítimo acreditar que foram eles a fazê-lo mudar. Esta mudança de posição mostra (a quem não sabe) que as convicções de GM se desfazem ante a bajulação e o “cheiro” a poder. Como tantos fracos políticos…

    É muito difícil aprender as normas jurídicas e a política do cargo de PR em poucos meses. É muito mais fácil aprender, e debitar, chavões bem-sonantes sobre governação; é o que mais importa às massas de eleitores (incluindo muitos diferenciados), situadas ao centro, onde se conquistam as vitórias eleitorais (o centrão).

    E, usando a imagem construída ao longo de 4 anos nos media, em especial em sondagens sem valor político ou sociológico, apostará que as massas não percebem que, afinal, é um político como aqueles que elas menosprezam: quer o poder, pouco sabe, pouco diz de concreto, diz o que mais jeito lhe dá em cada instante, mas entusiasma com banalidades bem-sonantes; e está longe das virtudes atribuídas na propaganda mediática. Isto é, GM nada traz de novo na substância; só pratica a demagogia que diz rejeitar noutros e oferece uma imagem que deixa os mais superficiais impressionados.

    Para ganhar eleições, explicar-lhe-ão, tem de tornar-se um político convencional, tentando não o parecer; e isso é o que, disfarçadamente e com desvios ao “argumento”, GM vem fazendo:

    – assumiu uma conduta belicista quando distribuiu as vacinas, mesmo depois de já estar fora das funções, e explicitamente autoritária no Caso Mondego (contrariando o princípio básico da disciplina militar de elogiar em público e repreender em privado; e repreendendo a guarnição publicamente por inteiro e sem processo prévio); agora, dá-lhe jeito afastar-se do autoritarismo e do radicalismo que foi a sua “imagem de marca” na Armada durante décadas;

    – depois de negar interesse em intervir na vida política, admitiu interesse em cargos políticos (PR e ministro do mar), voltou a negar, e agora diz que “é para servir o país”; com tantas opções para servir o país (voluntariado nos hospitais, recolher lixo no mar, limpar florestas…) tem logo de ser no cargo com mais mediatismo, mais mordomias e mais benesses?

    defendeu a conscrição; depois, como isso lhe prejudicou a popularidade, recuou.

    A condecoração, com muito duvidosa legalidade, de um seu destacado apoiante, ou o uso que fez de recursos do Estado para se autopromover, indiciam o modo como GM encara o Estado e o Direito. Por isso, não me surpreende que GM diga que se deve falar de programas e não de pessoas: soa bem; mas sobretudo visa afastar o escrutínio da sua própria conduta, a qual diz muito sobre o seu caráter, e não auspicia nada de bom se exercer um cargo político, como já defendi. E os media, com raras exceções, evitam fazer esse escrutínio, como é seu dever.

    Embarque no submarino Arpão

    Todavia, o passado é o melhor indicador ao dispor dos eleitores para anteverem como se vai comportar o titular de um órgão unipessoal. É muito elucidativo ver que os seus apoiantes “fogem como o diabo foge da cruz” a falar do passado de GM, exceto quanto à distribuição de vacinas – como se fosse só obra dele, “hipnotizados” pela sua abundante exposição mediática, e os demais intervenientes, sobretudo o Kaizen Institute, são ignorados ou menorizados…

    Merece atenção o aglomerado de pessoas que revelaram o seu apoio a GM: chamo-lhes “os despeitados dos partidos”, sobretudo do PSD, porque parece que apoiam GM não pelo que ele vale (com a sua mundividência, perceberão que vale pouco para PR), mas pelo dano que pensarão causar aos seus partidos por estes não lhes darem o que eles acharão que merecem. Recentes declarações de Ângelo Correia e Isaltino Morais dão razão a quem defende que a recente campanha contra Luís Montenegro surgiu por vários tipos de despeito, e foi agravada pela recusa em apoiar GM para PR – que os “despeitados” do PSD não lhe perdoarão.

    Esta conclusão firmou-se com o elogio da superficialidade, expresso por Alberto João Jardim: disse que numa conversa de menos de duas horas concluiu que “Gouveia e Melo […] é um homem mais capaz, porque ele tem capacidade político-cultural, que eu lhe reconheço, para ser o impulsionador de grandes mudanças em Portugal, no pleno respeito da Constituição da República.” Ele quer mesmo que alguém vivido, ou prudente, acredite nisto? Como pode dizer “no pleno respeito da Constituição” sobre alguém que humilhou a guarnição de um navio da Armada perante os media, chamados para exibir em direto e registar o “raspanete”? E como pode alguém que foi uma das caras da “partidocracia” em Portugal insurgir-se contra ela?

    Impressionou-me também a superficialidade da constitucionalista Teresa Violante, sobretudo nos aspetos que realçou em recente entrevista:

    – Reduziu a revisão constitucional de 1982 às opções sobre o Tribunal Constitucional, e desvalorizou a opção política de fundo, de corte com um passado de quase dois séculos de presença militar na política e na segurança interna, que incluiu a eliminação do conceito de “inimigo interno”. Teresa Violante achará que isso foi só um ataque ao então PR militar, e não um contributo decisivo para valorizar qualquer democracia? Achará GM parecido com Eanes?

    – Não percebo como uma constitucionalista, que nota, e bem, o papel de moderador do PR na CRP e no regime, pode achar que as qualidades de liderança de GM (?) são uma vantagem para PR – liderar o quê? E depois nota que é o Governo que conduz a política do país…

    – Tratou de interpretar afirmações de GM sobre a dissolução do parlamento no sentido dos desejos dela; mas os termos vagos em que GM expressou a sua opinião, no estilo populista de seduzir eleitores descontentes e superficiais, não devia causar a maior preocupação, sobretudo a uma constitucionalista?

    – Como Alberto João Jardim, Teresa Violante acha que uns contactos na “guerra do croquete” lhe permitem valorizar o seu conhecimento pessoal, menosprezando o passado de GM. Pelo menos valida o conhecimento pessoal – e espero que seja consequente e reconheça que quem o conhecer mais saberá melhor do que ela quem é de facto GM.

    – Teresa Violante disse ter simpatia por um PR que não venha dos partidos. Não explicou e não consegui perceber: os partidos, e os cargos no Governo, são a melhor base de formação e de experiência política; e muito raramente alguém ganha sem partidos (MRS, o único candidato a consegui-lo, de facto, tinha uma enorme experiência política e partidária, e “esmagou” o seu principal concorrente notando a sua falta de currículo político). Claro que cada caso é um caso; mas esta rejeição prévia sugere um preconceito – ou um despeito…

    A associação “espontânea” até já ostenta uma fotografia profissional de marketing pessoal de Gouveia e Melo.

    Felizmente, evitou entoar odes às virtudes de GM… Enfim, só mais uma entre os elogiantes de GM, além do próprio GM, que muito falam mas sem explicarem como é que, alguém famoso por ser executivo (um líder, dizem!…) e por não ser político, pode exercer bem o cargo menos executivo e mais político do regime. Manuel Castro Almeida deu voz ao bom-senso: “Quem não quer ser político não deve querer ser Presidente”. Há, pois, fundamento para conjeturar sobre as razões de facto que levam os elogiantes de GM a quererem vê-lo em PR. A “bicada” nos partidos dar-lhes-á muita satisfação; mas é possível que os elogiantes estejam a apostar forte em poder ou sinecuras.

    A independência face a partidos não é boa em si mesmo, nem significa independência de facto (nem existe independência total). Os elogiantes de GM estarão a criar-lhe dívidas pessoais e pouco transparentes, que não acabam com a eleição. Aliás, só podem crescer, porque a fraca preparação política de GM exige mais intenso apoio e assessoria. Posições de assessoria ao PR ajudam a fazer campanha contra os partidos, ajudam a criar um partido contra eles e a torná-lo o partido dominante, quiçá o “partido único” chefiado pelo “grande líder” aspirante a “caudilho”. E nada nas palavras dos elogiantes acalma as preocupações e afasta o risco deste cenário.

    Com a postura messiânica que GM encarna desde 2021 (de cuja sinceridade duvido, pois ele diz que rejeita o sebastianismo, mas não se cansa de se gabar), o ataque que se adivinha que ele e os elogiantes farão ao regime semipresidencial, aos demais partidos, à separação de poderes e aos direitos, liberdades e garantias constitucionais, só pode ser prejudicial para o país e o bem-estar dos cidadãos em Portugal.

    Jorge Silva Paulo é doutorado em Políticas Públicas


    N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.

  • O Estado desertou. A energia nacional é hoje um negócio estrangeiro. E pagámos o preço

    O Estado desertou. A energia nacional é hoje um negócio estrangeiro. E pagámos o preço


    O apagão de 28 de Abril não foi um incidente imprevisto. Foi a manifestação física de uma política energética leviana, de uma estratégia de privatizações cegas e da rendição sistemática do Estado português aos interesses financeiros internacionais.

    Portugal entregou, voluntariamente, uma das suas infraestruturas mais críticas — a gestão da rede eléctrica nacional — a entidades cujo único objectivo é maximizar lucros. A REN, concessionária da rede de transporte de electricidade, foi separada da produção no ano 2000 para cumpri um objectivo da União Europeia de liberalização do mercado energético com a separação jurídica de empresas para não existirem conflitos de interesses e haver maior transparência e competividade.

    transmission towers and wind turbines on the field

    De boas intenções estáo inferino chei. E em pouco anos, um sector vital para a Economia portuguesa não só sai do controlo do Estado português como de empresas nacionais. Hoje, a REN é detida em 25% pela State Grid do Governo da China, em 12% pela Pontegadea Inversiones do espanhol Amancio Ortega, em 7,7% pelo fundo norte-americano Lazard Asset Management, em 5,3% pela Fidelidade (também de capitais chineses), e em 5% pela Red Eléctrica de Espanha (Redeia). O resto dispersa-se entre fundos privados. Em termos de investidores institucionais somente 11% do capital está em mãos portuguesas, embora com parcelas disperas. E o Estado português? Um espectador impotente.

    Esta situação, criada e consolidada sobretudo sob o Governo de Pedro Passos Coelho, não apenas retirou capacidade soberana de decisão sobre o funcionamento da rede nacional — expôs o país a uma vulnerabilidade estrutural que ontem explodiu em toda a sua crueza.

    No final da manhã de ontem, Portugal operava com cerca de 30% da sua carga eléctrica abastecida através de importações de Espanha. Esta dependência diária, quase invisível para a maioria da população, é a herança directa do encerramento das centrais térmicas nacionais — primeiro as de carvão, depois o progressivo esvaziamento da capacidade de resposta das centrais a gás — em nome de uma “transição energética” feita sem cautela, sem reservas e sem responsabilidade.

    silver round accessory on black textile

    Mas a irresponsabilidade não parou aí. Aquilo que ontem aconteceu foi ainda mais grave, porque demonstra que a REN procura maximizar o lucro em detrimento da segurança, no sentido do fornecimento de electricidade sem riscos de apagão. Ontem, independentemente da causa, aquilo que poderia ser um mero incidente descambou num colapso de todo o sistena eléctrico nacional.

    Com efeito, ao amanhecer, num dia de previs+ivel forte incidência solar, as centrais hidroeléctricas nacionais — um dos poucos activos capazes de garantir flexibilidade e estabilidade ao sistema, agora cheias com as chuvas dos últimos meses — foram deliberadamente desligadas. Porquê? Para maximizar a importação de electricidade de Espanha a preços mais baixos e, em boa parte, canalizar essa electricidade para processos de armazenamento, como a bombagem hidroeléctrica.

    Mas o sistema eléctrico, importa sublinhar, não distingue consumo final de armazenamento. Para a rede, tudo é carga. Tudo consome energia em tempo real. Quando o somatório da procura — doméstica, industrial e de armazenamento — ultrapassa a geração disponível, a rede desestabiliza: a frequência baixa perigosamente e, sem resposta rápida, desencadeia-se o apagão geral. Foi exactamente isso que sucedeu.

    white windmill during daytime

    Portugal passou a operar o seu sistema eléctrico no fio da navalha: altamente dependente de importações, com a produção interna dominada por renováveis intermitentes (solar e eólica) e sem uma capacidade de resposta interna suficiente para lidar com falhas externas. Um modelo que qualquer manual de engenharia de sistemas eléctricos classificaria como imprudente — e que ontem demonstrou, sem misericórdia, a sua falência.

    Pior ainda: tratou-se de uma falência por opção consciente. Um Estado que não controla a sua infraestrutura energética; uma operadora que gere o sistema com critérios de maximização de margens financeiras; uma política energética que sacrificou a segurança pela cosmética da “transição verde” a qualquer custo.

    Ontem, não faltou apenas electricidade. Faltou soberania. Faltou competência. Faltou prudência. Faltou Estado.

    No sector energético há três S fundamentais que estão a falhar: segurança, soberania e sustentabilidade. A Segurança energética exige a existência de uma capacidade firme de produção nacional, uma gestão prudente e responsável das redes eléctricas, bem como a manutenção de reservas de contingência prontas a ser activadas em caso de necessidade.

    black solar panels on purple flower field during daytime

    A Soberania implica que um país preserve o controlo efectivo sobre os seus activos estratégicos, recusando a sua entrega a capitais estrangeiros cuja lógica é movida apenas pelo lucro e não pelo interesse nacional.

    Já a Sustentabilidade, se for verdadeira e madura, exige uma transição energética realizada com inteligência e prudência, respeitando o equilíbrio técnico do sistema e não sacrificando, em nome de modas políticas, as bases que garantem a sua estabilidade e resiliência.

    E a responsabilidade não é apenas da REN nem dos operadores privados, porque esses visam o lucro legítimo. Ela recai directamente sobre os decisores políticos que, com leviandade e voluntarismo, abdicaram de proteger o interesse nacional em nome de interesses económicos de curto prazo.

    Se nada for feito — se o Estado não recuperar instrumentos de controlo, se não se reconstruir uma capacidade de reserva energética interna robusta e independente —, o apagão de 28 de Abril não será recordado como um acidente isolado, mas como o prelúdio de colapsos futuros. Não é uma questão de “se”. É já apenas uma questão de “quando”.

    clear light bulb lot

    A energia de um país não é um bem comum qualquer. É o sangue que corre nas suas veias económicas e sociais. Entregá-la a lógicas puramente financeiras, sem responsabilidade, sem estratégia e sem soberania, é um acto de autodestruição.

    O Estado desertou. Os apagões, agora, são apenas a consequência natural.

  • Brincar às sondagens: entre quotas, ponderações esdrúxulas e deprimentes taxas de resposta

    Brincar às sondagens: entre quotas, ponderações esdrúxulas e deprimentes taxas de resposta


    Vivemos num país onde a arte de brincar às sondagens se tornou, mais do que um passatempo estatístico, um ritual mediático. As redacções, sedentas de manchetes fáceis e previsões eleitoralistas, agarram-se a números que mais parecem tirados de um jogo de bingo do que resultantes de ciência rigorosa. E o exemplo que agora se serve à opinião pública, com pompa académica e chancela universitária, ilustra de forma cristalina como se pode mascarar fragilidade metodológica com o verniz das quotas e das ponderações pós-modernas.

    A recente sondagem para o Expresso e SIC, sob a égide do ICS-ULisboa e do Iscte-IUL, e operacionalizada pela GfK Metris, recolheu a intenção de voto dos portugueses através de entrevistas presenciais em lares, recorrendo ao sistema CAPI e com simulação de voto em urna. Até aqui, tudo parece denotar rigor, mas a substância revela-se bem mais volátil.

    Primeiro, a taxa de resposta: dos 2815 lares elegíveis contactados, apenas 803 entrevistas válidas foram obtidas – ou seja, um anémico 29% de adesão. Isto significa que mais de sete em cada dez portugueses recusaram participar ou não chegaram sequer a concluir a entrevista. E mesmo entre os que inicialmente mostraram disponibilidade, a taxa de cooperação foi de uns escassos 44%. Estes números deviam ser suficientes para qualquer jornalista ou editor colocar em dúvida a representatividade da amostra. Mas não: os dados são engolidos acriticamente, como se estivéssemos perante um oráculo infalível.

    Segundo, o método de selecção dos inquiridos recorreu a quotas, baseando-se numa matriz de Sexo, Idade, Instrução, Região e Habitat. Ora, as quotas, embora úteis em certas circunstâncias, não substituem o valor de uma amostra aleatória rigorosa. São, no fundo, uma forma artificial de impor proporcionalidade a um processo já condicionado pelas recusas massivas. Não se trata de amostragem probabilística, mas sim de uma engenharia demográfica, onde se tenta colar à força uma estrutura populacional a um grupo que, na realidade, é auto-seleccionado.

    Terceiro, e aqui reside o ponto mais alarmante, os resultados foram ponderados com base em frequência de prática religiosa e pertença a sindicatos ou associações profissionais, usando dados do European Social Survey (Ronda 11). Esta opção, que mais parece saída de uma tese académica ansiosa por originalidade, levanta sérias dúvidas. Desde quando a prática religiosa ou a filiação sindical são os eixos centrais da ponderação de intenções de voto em Portugal? E por que não ponderar, como é habitual, por critérios como voto anterior, escolaridade ou rendimentos?

    Este tipo de ponderação é um verdadeiro exercício de alquimia estatística, onde se tenta corrigir uma amostra fraca com factores que pouco ou nada têm a ver com a realidade eleitoral do país. É brincar à estatística com ares de ciência. Acresce que os dados do European Social Survey podem não reflectir com exactidão o estado actual da sociedade portuguesa, servindo como uma muleta desactualizada para sustentar números instáveis.

    Por fim, temos a proverbial margem de erro: anunciam, com ares de certeza, um valor de ±3,5% para a amostra de 803 inquiridos. Mas este valor pressupõe uma amostra aleatória simples, o que manifestamente não é o caso. Com as quotas, as recusas elevadas e as ponderações desviantes, a verdadeira margem de erro – se fosse honestamente calculada – seria substancialmente maior. Só que ninguém o diz. Nem a ficha técnica, nem os responsáveis pela sondagem, muito menos os jornalistas que a publicam com ar grave e títulos bombásticos.

    Tudo isto mostra, mais uma vez, que em Portugal se continua a brincar às sondagens, servindo números com pouca fiabilidade a um público cada vez mais descrente, mas ainda vulnerável à manipulação mediática. O rigor que se exige à ciência é aqui substituído por um jogo de aparências, onde se prefere manter a ficção de que tudo está controlado, tudo é medido, tudo é previsível.

    Enquanto não se fizer uma análise crítica séria e fundamentada a este estado de coisas, aceitando a passividade da Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC), continuaremos a assistir ao desfile de percentagens ilusórias, sem que ninguém se pergunte: quem é que realmente respondeu? E que valor têm estas respostas?

    Enfim, a brincar também se fazem eleições e se manipula o eleitorado. E depois, caso os resultados não batam certo, culpar-se-á, claro, os eleitores, repetindo-se a ‘brincadeira’ nas eleições seguintes: e vamos ter autárquicas e presidenciais nos próximos meses.

  • A palhaçada, ou a ‘sondagem’ com um erro (escondido) de 9% que dá uma ‘vitória’ ao Chega

    A palhaçada, ou a ‘sondagem’ com um erro (escondido) de 9% que dá uma ‘vitória’ ao Chega


    Se uma empresa de sondagens, a Pitagórica, pode colocar 400 inquiridos a votar “de certeza” em 1.032 ocasiões, distribuindo a respectiva escolha (que deveria ser única) por vários proto-candidatos presidenciais, então qual o problema de uma outra empresa de sondagens, a Aximage, permitir que um inquérito com 116 inquiridos na Área Metropolitana de Lisboa (AML), num universo de 2,5 milhões de eleitores, possa ser usado pelo jornal de um partido (Chega) para dizer que vence a concorrência sem ‘avisar’ que a margem de erro ultrapassa os 9%?

    Num país de fraca numeracia, de má ética e de pior regulação, já tudo vale, mesmo se temos uma Lei das Sondagens, e se grita loas à democracia. A permissividade, que combina imprudência mediática com laxismo regulatório, está a transformar as sondagens de opinião em instrumentos de distorção da realidade política e de manipulação da opinião pública. E daqui a dias vão todos descer a Avenida da Liberdade de cravo na mão e na lapela – e a gritar ‘Fascismo nunca mais!”, em vez de lamentar ‘Democracia nunca mais chega, de verdade!”

    Não é função de um órgão de comunicação social fazer participações, vulgo queixas – mas também não era suposto de tivéssemos necessidade de recorrer mais de duas dezenas de vezes aos tribunais para aceder a documentos públicos. Por vezes, um jornal não serve apenas para dar notícias. E, por isso, perante mais do que passividade geral – eu já digo que é conluio –, apresentei hoje uma nova queixa formal na Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) contra a Aximage e o jornal Folha Nacional por divulgarem resultados regionais com base numa amostra estatisticamente irrelevante, sem sequer qualquer nota de salvaguarda sobre a elevada margem de erro. Uma margem de erro de 9%, significa, por exemplo, que um partido com 2% das intenções de voto (ou seja, duas pessoas na tal amostra de 116) pode ter, afinal, entre 0% e 11%. Acham isto uma sondagem?

    A ‘notícia’ da Folha Nacional – que, apesar de contar com mais de 90% de ‘takes’ da Lusa, publicada ainda uns artigos não assinados, e é considerado pela ERC um jornal – dá o CHEGA como vencedor destacado na AML, com 28,8% das intenções de voto, apoiando-se em apenas 116 inquiridos. Com esta quantidade, uma oscilação de meia dúzia de respostas bastaria para alterar radicalmente esse cenário.

    Com uma margem de erro superior a 9%, os três partidos principais — CHEGA, AD e PS — estão tecnicamente empatados. No entanto, o jornal, omitindo este dado essencial, converteu uma incerteza estatística numa certeza política, sendo aproveitada por André Ventura e os seus correligionários para fazerem propaganda. Uma sondagem política não pode ser usada desta forma – nem deveria ser permitido que um órgão de comunicação social detido por um partido a pudesse encomendar e divulgar.

    Este caso não é único. Junta-se à sondagem presidencial da Pitagórica, difundida em Janeiro pela TVI, CNN Portugal, TSF, JN e O Jogo, e alvo de anterior queixa apresentada também pelo PÁGINA UM. Nessa sondagem, os 400 inquiridos manifestaram voto “de certeza” em múltiplos candidatos, resultando numa soma absurda de 1.032 intenções firmes. Cada pessoa votou, em média, em 2,58 candidatos — um cenário aritmeticamente impossível em eleições reais. E, apesar dessa aberração metodológica, a ERC optou por ilibar todos os envolvidos, não detectando qualquer violação legal ou deontológica. Uma indigência estatística e uma irresponsabilidade dos membros do Conselho Regulador da ERC.

     Esta decisão tem agora consequências directas. Se o caso da Pitagórica, bastante grave, passou sem censura, então como poderá a ERC justificar uma posição diferente relativamente à sondagem da Aximage? A entidade reguladora ficará presa ao seu próprio precedente? Ou reconhece que errou na primeira deliberação? Ou aceita como legítima a degradação progressiva das práticas estatísticas no espaço mediático português?

    Neste contexto, é fundamental alargar o foco da crítica. As empresas de
    sondagens não são simples prestadoras de serviços técnicos isentas de
    responsabilidade. Quando entregam os seus estudos a órgãos de
    comunicação social — seja a grandes grupos generalistas, seja a jornais ideologicamente associados a partidos — sabem perfeitamente qual será o uso mediático dos seus dados. Não podem, pois, lavar as mãos quanto às interpretações que facilitam ou silenciosamente legitimam. Ao permitirem extrapolações abusivas sem esclarecimentos públicos, participam na distorção informativa que dizem querer evitar.

    Mais preocupante ainda é o facto de não existirem, em Portugal,
    mecanismos reais de verificação independente das sondagens. A ERC não exige acesso aos microdados, não fiscaliza a realização efectiva das
    entrevistas, não valida a correspondência entre os métodos declarados e os processos seguidos. Uma empresa, na prática, pode construir uma
    sondagem apenas com folhas Excel, ajustar os valores a um cenário
    plausível, redigir uma ficha técnica formalmente correcta — e ninguém
    lhe pedirá provas.

    Neste quadro de opacidade e permissividade, as sondagens correm o risco de se tornarem peças ficcionais com aparência de ciência. Gráficos
    coloridos, percentagens com casas decimais e manchetes definitivas
    constroem realidades que nem sempre correspondem ao país que os
    eleitores conhecem — mas que influenciam percepções, moldam debates e até definem votos.

    Entendo que a seriedade democrática exige correcção urgente deste estado de coisas. As sondagens são ferramentas legítimas e importantes, mas a sua utilidade pública depende do rigor com que são feitas, da transparência com que são apresentadas e da responsabilidade com que são interpretadas. Se falharem nestes pontos, deixam de servir a democracia e passam a servir apenas as estratégias de quem quer dominar a narrativa sem passar pelo incómodo da verdade.

  • Vaticano: o intrigante 13 e as profecias de São Malaquias

    Vaticano: o intrigante 13 e as profecias de São Malaquias


    Foi em Novembro de 2013 que a editora Planeta lançou o meu livro “O Terceiro Bispo”, a primeira obra de ficção, a nível mundial, onde se mencionava a figura do Papa Francisco. Este livro começou a ser planeado em Fevereiro de 2013, quando o Papa Bento XVI anunciou a sua demissão. A eleição do Papa Francisco, a 13 de Março de 2013, com ele a declarar que viera do “fim do mundo”, veio depois confirmar a decisão e a necessidade de levar avante a missão de publicar a obra. Devo a Juan Mera e à Ana Maria Pereirinha a confiança depositada na altura.

    A trama de “O Terceiro Bispo”, em cuja capa temos uma foto escuro do perfil do Papa Francisco, com a imagem de Nossa Senhora de Fátima e a Basília de S. Pedro, é sobre um atentado contra o Papa para “cumprir o Terceiro Segredo de Fátima”. A razão era simples: o Papa João Paulo II não morrera no atentado de 13 de Maio de 1981, pelo que o terceiro segredo, aquele que menciona a morte do Bispo Branco, ainda estava por cumprir.

    person wearing white cap looking down under cloudy sky during daytime

    Muito da obra andava à volta do número 13, data das aparições de Fátima, em 1917, que ocorrerem entre 13 de Maio e 13 de Outubro. Uma das minhas fontes de consulta para aquela obra de ficção fora o livro “A Última Vidente de Fátima”, publicado em 2007 pelo cardeal Tarcisio Bertone, o secretário de Estado do Vaticano e pessoa que, em Abril de 2000, teve um encontro com a Irmã Lúcia para preparar vinda de João Paulo II a Fátima, altura em que foi revelado o Terceiro Segredo de Fátima.

    Bertone registou no seu livro as coincidências à volta do número 13, referindo-se ao facto de que o Papa João Paulo II, aquele que mais vezes visitara Fátima (1982, 1991 e 2000), falecera a 2 de Abril de 2005, uma data cuja soma individual dos seus algarismos, 2+4+2+5, dava um total de 13. Depois, Bertone também fez a mesma associação em relação à vidente de Fátima, a irmã Lúcia, falecida dois meses antes, a 13 de Fevereiro de 2005. E isso também deu o mesmo resultado: 1+3+2+2+5 é igual a 13.

    O livro de Tarcisio Bertone foi publicado quando o Papa era Bento XVI, pelo que, na altura, não se conhecia a data da morte do sucessor de João Paulo II. Sabe-se agora que Bento XVI faleceu a 31 de Dezembro de 2022 e, utilizando o método de contagem do cardeal Bertone, somando 3+1+1+2+2+2+2, temos novamente, como resultado total, o número 13.

    Então, e o Papa Francisco, qual era a sua relação com o número 13? Bem, essa tornara-se bem óbvia no dia sua eleição, pois o 13 de Março de 2013, para além de ter duas vezes o número 13, era também uma data onde a soma dos algarismos 1+3+3+2+1+3 alcançava um total de 13.

    Agora que sabemos a data da morte do Papa Francisco, será que podemos continuar a falar na coincidência do número 13? A soma dos algarismos do dia 21 de Abril de 2025 não nos dá esse valor. O resultado total de 2+1+4+2+2+5 é o número 16. Nem tirando ou acrescentando um algarismo iríamos obter 13.

    Será isso então suficiente para podemos concluir que o Papa Francisco não é um Papa que esteja debaixo da alçada do número 13? Poderíamos facilmente descartar as coincidências anteriores e continuar com a nossa vida sem muitas preocupações com o misticismo “made in Vaticano”. E os espíritos mais lógicos seguiriam mais descansados.

    Só que – e nem se trata de forçar conclusões – podemos usar o método de Tarcisio Bertone para olhar com detalhe os algarismos que surgem relacionados com a data da morte da morte do Papa Francisco. Através do recurso à contagem do tempo, via o site timeanddate.com, chegamos a números que nos podem fazer pensar de forma diferente.

    man statue beside concrete building during daytime

    Assim, se formos ver os anos e dias do Papa Francisco à frente dos destinos do Vaticano, reparamos que, entre 13 de Março de 2013 e 21 de Abril de 2025, decorreram 12 anos, 1 mês e 9 dias. A soma de 1+2+1+9 dá 13. Ao converter esse espaço temporal apenas em dias, isso atinge o número 4.423, sendo que a soma dos algarismos, 4+4+2+3, atinge, novamente, o 13.

    Um outro tema que o livro “O Terceiro Bispo” abordou em 2013 foram as profecias de São Malaquias, alegadamente escritas em 1140 e divulgadas publicamente em 1595. Dizem esses escritos que a destruição da Igreja irá acontecer quando chegar o Papa número 266.

    A eleição de Francisco, a 13 de Março de 2013, representou a eleição do Papa número 266 e, desde esse dia e até à sua morte, apesar de existir uma crise de Fé, o Vaticano não acabou. A Igreja Católica ainda vai mantendo a sua influência no mundo e, em breve, um novo conclave irá eleger o Papa número 267, superando assim os números previstos nas profecias do santo irlandês.

    brown and white ceiling with light fixture

    Só que quando o Papa Francisco foi eleito, o Papa Bento XVI ainda estava vivo. Uma situação pouco comum no Vaticano. Por isso, durante o pontificado do Papa Francisco, poderíamos considerar que este era, na realidade, a continuação do Papa 265, não sendo o 266 em todo a sua plenitude. Era, se quisermos assim ver, o Papa número 265-B.

    E, entre a morte do Papa Bento XVI, a 31 de Dezembro de 2022, e a morte de Francisco, no dia 21 de Abril de 2025, o sucessor de Bento manteve-se à frente do Vaticano durante 27 meses e 22 dias. O que, somados os algarismos 2+7+2+2, permite que se obtenha, de novo, o número 13.

    Podemos assim dizer, de forma inequívoca, que à semelhança de João Paulo II e Bento XVI, também Francisco viveu e morreu debaixo do número 13. E, ao ser o terceiro bispo de Roma a morrer debaixo do signo 13, foi assim a continuação dinástica do Papa 264, João Paulo II, mas ocupando o número 265-B. O Papa Francisco morreu com 88 anos, tendo isso acontecido 20 anos e 20 dias exactos após a morte de João Paulo II, o dito “Papa de Fátima”, que tinha 84 anos, menos 4 que Francisco.

    a statue of a man holding a cross in front of a church

    O próximo conclave irá agora ter de eleger um novo Papa. Um Papa que poderá não estar ligado ao número 13, mas que seria o 266º. De acordo com a profecias de São Malaquias, existe um nome para o novo Bispo de Roma: Petrus Romanus. Seria o Papa Pedro II, romano de origem. Para que tal aconteça, basta que o próximo chefe da Igreja seja de origem italiana, o que não acontece desde que o polaco João Paulo II foi eleito em 1978, sendo seguido por um alemão e um argentino.

    Na lista de 22 prováveis Papas – os Papabili – constam cinco nomes de candidatos oriundos de Itália. O primeiro, Angelo Bagnasco, de 82 anos de idade, é o Arcebispo Emérito de Génova. Depois, com 79 anos, está Fernando Filoni, Grão-Mestre da Ordem Equestre do Santo Sepulcro de Jerusalém. Segue-se o nome do secretário de Estado do Vaticano, Pietro Parolin, de 70 anos, que sucedeu a Tarcisio Bertone em 2013. O quarto candidato vindo de Itália tem 80 anos e chama-se Mauro Piacenza, sendo o actual Penitenciário-Mor Emérito do Supremo Tribunal da Penitenciária Apostólica. O quinto nome é o do Arcebispo de Bolonha, Matteo Zuppi, que tem 69 anos.

    Na lista não consta como sendo oriundo de Itália o nome de um outro candidato que, por acaso, nasceu em Itália. Trata-se do Patriarca Latino de Jerusalém, Pierbattista Pizzaballa, que nasceu em Cologno al Serio, na zona da Lombardia, e professou os seus votos solenes na Igreja de Santo António, em Bolonha, no ano de 1989. Chegou a Jerusalém a 7 de Outubro de 1990 – sim, a mesma data do ataque de 2023 pelo Hamas. Em 2014, ajudou a organizar o encontro no Vaticano entre o Papa Francisco, o presidente israelita Shimon Peres, o líder palestiniano Mahmoud Abbas e o Patriarca de Constantinopla. Nascido em 1965, cumpriu 60 anos a 21 de Abril, o mesmo dia do falecimento do Papa Francisco.

    Pierbattista Pizzaballa

    Se um destes italianos for eleito Papa e assumir o nome de Pedro II, então podemos começar a falar mais a sério sobre as profecias de São Malaquias. Por outro lado, pode ser que o mundo venha a ser surpreendido com a escolha de um Papa de origem portuguesa, vindo da terra de Fátima. José Tolentino de Mendonça, de 59 anos, é um dos nomes nos Papabili e, aí sim, quem sabe o Vaticano e a Fé Católica não viria a ter um outro destino.

    Fiquemos atentos, portanto, ao resultado do próximo conclave.


    N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.