Categoria: Opinião

  • Reuters, Roche & Público: a mulher de César que não parece séria, e talvez não seja

    Reuters, Roche & Público: a mulher de César que não parece séria, e talvez não seja


    Regresso ao tema. O Jornalismo não é credível apenas porque grita que é sério e independente. Tem de mostrar, demonstrar, estar acima de qualquer suspeita. Significa isto que, no quotidiano, quando um leitor folheia um jornal, um ouvinte sintoniza o noticiário, um telespectador se senta perante um telejornal, ou um internauta passa os olhos pelo ecrã, não pode jamais desconfiar dos propósitos (directos e indirectos) de um artigo noticioso.

    Aliás, para começar, as pessoas não podem sequer ter a mínima dúvida de que uma notícia feita por um jornalista seja mais do que uma notícia feita por um jornalista.

    Só que começaram. E têm motivos para que a “mínima dúvida” se transmute em “mínima certeza”.

    two people shaking hands

    Para mal dos pecados do Jornalismo, tenho andado cada vez mais a desconfiar do Jornalismo. Não há mal nenhum na desconfiança. Na verdade, é uma das maiores virtudes de um jornalista: olhar para a verdade que se (nos) apresenta(m) e colocar sempre a hipótese de não ser a realidade. Bem sei que um jornalista que coloca dúvidas, que exige comprovativos, que necessita de olhar para os dados em bruto não seja muito popular. Mas, mesmo assim tem de desconfiar.

    Porém, o meu “drama” não é duvidar: é confirmar que tinha motivos para desconfiar, e ainda bem que desconfiei. Lamentavelmente, desconfiar de jornalistas e acertar na desconfiança é péssimo para o Jornalismo.

    Ora, vem isto a propósito de uma notícia publicada no Público na quarta-feira passada intitulada “Porque se tem detectado poliomielite em Londres, Nova Iorque e Jerusalém? E quão perigosa é?”. A notícia destaca os 230 casos de poliomielite no Mundo, explicando as causas e a relevância da vacina.

    Ponto prévio: não há qualquer dúvida, nos dias que correm, que a vacina contra a poliomielite – uma doença incapacitante e letal em crianças, considerada um horror até há meio século – tem contribuído decididamente para a erradicação do vírus, que está quase.

    Notícia do Público não informa os leitores em que circunstâncias o artigo original da Reuters foi produzido.

    Sendo eu um adepto da vacinação em sentido genérico, tal como sou de todos os outros medicamentos, acabo agora sempre a desconfiar dos timings de certas notícias sobre vacinas (já perfeitamente estabilizadas quanto ao perfil de eficácia e de segurança) e das suas encapotadas motivações.

    É certo que a notícia publicada pelo Público sobre a poliomielite está genericamente bem construída, didáctica, rigorosa.

    Mas, tendo já reparado que nas últimas semanas se tem noticiado várias vezes supostos surtos de poliomielite (2.300 casos a nível mundial, o que não é nada), começa sempre a parecer-me que querem vestir o “hábito” de vacinas bem-sucedidas a todas as outras.

    Aliás, todos nós sabemos que o marketing político e das farmacêuticas (arrigementando “peritos”) procurou, ao longo da pandemia, usar a boa fama de outras vacinas – com décadas e décadas de existência, na maior parte dos casos – para a colar às vacinas contra a covid-19, sobre as quais cada vez surgem mais dúvidas relativamente à eficácia e aos efeitos secundários [esconder a informação, como faz o Infarmed em Portugal, convenhamos, não ajuda].

    E, por isso mesmo, quando li a notícia no Público – e a referência à Reuters –, desconfiei. E fui à procura da notícia original daquela agência noticiosa.

    E voilà: o artigo original da Reuters (copiado pelo Público) não é uma notícia “tradicional”; é um conteúdo explicitamente patrocinado [Sponsored] pela farmacêutica Roche.

    É certo que a Roche nem produz vacinas contra a poliomielite. As farmacêuticas que a produzem são a Sanofi Pasteur, a GlaxoSmithKline, a Bilthoven Biologicals e o Staten Serum Institute. É também certo que no artigo patrocinado na Reuters surge o seguinte aviso: “Sponsors are not involved in the creation of this or any other Reuters news articles”.

    Mas é isto música para os ouvidos: temos aqui a mulher de César a gritar que é séria para evitar que a acusem, pelo seu patente comportamento, que não é séria.

    Caramba!, custa-me a entender por que tem a Roche ou outra qualquer farmacêutica ou outra qualquer empresa de outro qualquer ramo de actividade a necessidade de sponsorizar jornalismo, e depois garantir que jamais influencia, jamais mete um dedo sequer em nada do que seja a linha editorial de um órgão de comunicação social.

    Não lhes bastaria fazer anúncios separados claramente das notícias? Como antigamente?

    Porque têm agora as marcas cada vez maior necessidade de estarem associadas a notícias? Exigem que tal seja feito.

    E qual o motivo de os órgãos de comunicação aceitarem as “novas regras” em que os anunciantes passaram a ser patrocinadores de jornalistas?

    Ninguém entende o perigo para a credibilidade disto para os órgãos de comunicação social?

    Ninguém quer perceber como, de forma, subliminar (ou até explícita) funcionará a prazo este tipo de sponsorizações para a liberdade editorial dos órgãos de comunicação social?

    Ninguém percebe o risco para a independência real e percepcionada dos jornalistas por parte dos cidadãos?

    black and silver stethoscope on brown wooden table

    E como se explica que um artigo da Reuters patrocinado por uma farmacêutica possa viralizar em outros órgãos de comunicação social “transformando-se” num artigo noticioso banal? O Público não sabia que estava a publicar um artigo sponsorizado? Sabia, mas optou por não avisar os seus leitores?

    Não está aqui, repito, o caso concreto do conteúdo deste artigo (poliomielite) patrocinado pela Roche à Reuters, e que acaba como notícia normal no Público, mas sim o actual modus operandi da feitura de muitas notícias sem que os consumidores de notícias se apercebam.

    A dependência económica do Jornalismo perante os seus anunciantes – agora patrocinadores – está a dar cabo da sua credibilidade e independência. E isto, no futuro, não será bom nem para o Jornalismo nem para as empresas.

    Se todos, na imprensa mainstream, continuarem a assobiar para o ar e a bater no peito clamando serem muito independentes, a confiança dos cidadãos continuará a ser minada. E atingirá um nível tão elevado que, um dia, pouco valerá à mulher de César gritar e esbracejar que é séria e que parece séria. Ninguém já nela acreditará, porque, no passado, não pareceu séria, e talvez não tivesse mesmo sido.

  • Um ‘requiem’ pelo jornalismo de investigação?

    Um ‘requiem’ pelo jornalismo de investigação?


    As caras da grande investigação jornalística estão a desaparecer dos grandes ecrãs. A última foi Sandra Felgueiras, que esta semana assina uma muito ilustrativa capa da revista Sábado.

    Em boa verdade, a grande investigação passou agora para os on-line, de que é exemplo o PÁGINA UM. Aderi há pouco, e orgulho-me de ver tamanha resiliência.

    A jornalista Sandra Felgueiras era o rosto televisivo de um último programa de grande impacto, o Sexta às 9. Emigrou descontente da grande terra da liberdade (que ainda é a RTP) para o grupo Cofina – que tem hoje o Correio da Manhã, fundado a 19 março de 1979 por um grupo de 15 jornalistas de que fiz parte.

    Sandra Felgueiras

    Vínhamos de A Luta comandada por Raul Rego e Vítor Direito, contra a asfixia da Imprensa imposta pelo PREC – Processo Revolucionário em Curso. Vítor Direito estivera no Diário de Lisboa (DL) e depois na República e de seguida em A Luta. Era um mago do jornalismo.

    Um dia surpreendeu-me, tristemente, quando não quis reeditar o suplemento literário “A Mosca” do DL, porque era “dar pérolas a porcos” (sic). Ou quando, em Dezembro de 1980, não quis publicar a minha longa entrevista ao dissidente Altino Dias de Oliveira, onde ele denunciava o grupo terrorista PRP-BR de Carlos Antunes e Isabel do Carmo a roubar bancos, sem saber onde ia parar o dinheiro, e a planear o 25 de novembro. O Expresso agarrou e encheu a sua Revista.

    Outros tempos.

    printing machine

    Agora, já desapareceu Felícia Cabrita, Ana Leal e aconteceu parcialmente com Alexandre Borges. Para citar três casos de jornalistas recentes e mediáticos. Mas não esqueçamos José Barata-Feyo [actual provedor do leitor do Público] ou a já falecida Margarida Marante, entre muitos.

    O jornalismo de investigação necessita de leitores e espectadores interessados. Infelizmente, lê-se pouco, jantamos a olhar para as TV’s. E por isso a Imprensa perde financiamento independente.

    Um dia destes ficamos a falar com a parede… do muro que está a cercar a nossa Democracia.

    José Ramos e Ramos é jornalista (CP 214)


    N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.

  • Jogo sujo: uma queixa-crime da Ordem dos Médicos, um joguete de Guimarães, Froes & Ca. Lda.

    Jogo sujo: uma queixa-crime da Ordem dos Médicos, um joguete de Guimarães, Froes & Ca. Lda.


    A Ordem dos Médicos é uma associação profissional com um activo de mais de 58 milhões de euros, receitas anuais que rondam os 12 milhões de euros e acabou 2021 com um lucro de 2,4 milhões. É um Golias, presidida, conjuntural e efemeramente, pelo urologista Miguel Guimarães.

    Ora, esta associação profissional, está neste momento em litígio no Tribunal Administrativo de Lisboa com o director do PÁGINA UM – jornal digital com um capital social de 10 mil euros e um orçamento mensal de poucos milhares de euros –, por causa do acesso a pareceres técnicos que o bastonário Miguel Guimarães insiste em esconder (já ganho em primeira instância), e à contabilidade de uma campanha de angariação de fundos mal-escrutinada em redor da pandemia.

    O PÁGINA UM é, assim, um David – que tem como “funda” os seus leitores.

    Ana Paula Martins, antiga bastonária da Ordem dos Farmacêuticos (que trabalha agora para a Gilead), e Miguel Guimarães, bastonário da Ordem dos Médicos (na entrega dos Prémios Almofariz 2020), recusaram acesso a documentos administrativos de campanha milionária

    Apesar dessa diferença de escala financeira, o PÁGINA UM – e particularmente eu – tem incomodado alguns senhores doutores que, desde 2020, foram cirandando pelos corredores do poder, dos hospitais e da imprensa, vendendo alegadas “opiniões independentes”, enquanto também se “vendiam” (ou vendiam os seus conhecimentos) às farmacêuticas e ao Governo.

    O PÁGINA UM nasceu para ser um jornal independente e fazer jornalismo de âmbito nacional e genérico. Mas não esquece parte da sua motivação inicial. Durante dois anos, muitos calaram-se ou foram calados. Agora, com a acutilância de um jornalismo isento e sem cedências, queremos respostas, saber o que os mobilizou, saber como foram “alimentando” uma narrativa, conhecer os motivos para terem sido tão lestos a criar pânico e tão lentos a reivindicarem soluções para os verdadeiros problemas de Saúde Pública do país.

    O PÁGINA UM não quer que se repita 2020 e 2021. Não quer que 2022 seja um sucedâneo, nem que o futuro confirme a perda de direitos e o crescimento do obscurantismo e falta de transparência. Por isso, fazemos este tipo de jornalismo, que vai até às últimas consequências legais.

    Até ao Tribunal Administrativo.

    Mas jogamos de forma limpa e com ética. Para fomentar a transparência não é necessário criar inimigos; mas não nos importamos de os ter se para tal for necessário. E consideramos que os tribunais são o palco para dirimir as questões, mas usando “armas” limpas.

    Surge este editorial porque, enfim, no meio da sua defesa num dos processos administrativos envolvendo a Ordem dos Médicos (e também a Ordem dos Farmacêuticos) – o acesso aos documentos da campanha Todos por Quem Cuida –, ficámos ontem a saber que foram “depositadas”, como argumento (chamemos assim) da dita Ordem dos Médicos, 42 páginas de uma suposta queixa-crime por difamação contra mim.

    Esta alegada queixa-crime terá sido apresentada no DIAP em 16 de Fevereiro passado, tendo como queixosos a própria Ordem dos Médicos, o bastonário Miguel Guimarães, o pediatra Luís Varandas e o pneumologista Filipe Froes.

    [Filipe Froes ser um queixoso é piada que se faz sozinha]

    Note-se: até ontem, esta queixa era completamente desconhecida tanto por mim como pelo meu advogado.

    Nunca fui notificado para prestar declarações.

    Não sou arguido.

    António Guterres depôs em campanha que a Ordem dos Médicos e a Ordem dos Farmacêuticos insistem em esconder de escrutínio.

    Pela leitura do arrazoado, aquela queixa tem, num país democrático que (espero) preza a liberdade de expressão, tem tantas pernas para andar como as de um caracol.

    Mas, perguntem-me: que faz uma queixa-crime num processo administrativo?

    Nada. Juridicamente, não serve para nada. Deve ser desentranhado. Nunca sequer deveria apresentado.

    Porém, o senhor urologista Miguel Guimarães decidiu que aquilo era uma boa “arma” para tentar convencer uma juíza do Tribunal Administrativo de Lisboa a não conceder-me o direito de escrutinar as contas e as operações de uma campanha de angariação de fundos de 1,4 milhões de euros, rodeada de muitos secretismos.

    Foi jogo sujo, simples e lamentável.

    Não vou aqui sequer explanar sobre esta queixa-crime em concreto que, aparentemente, sobre mim pende – patrocinada pelas quotas da mais de meia centena de milhar de médicos do país.

    Até porque ainda acho que, num país decente e que preza a liberdade de expressão (ainda mais quando se questionam aspectos éticos e de promiscuidade com farmacêuticas, suportados em dados da Plataforma da Transparência e Publicidade do Infarmed), esta queixa-crime tem menos pernas para andar do que as de um caracol.

    Mas devo lamentar, e de forma veemente, este jogo sujo do bastonário, porque esta queixa quis servir um único propósito: influenciar uma juíza através de uma “manobra de diversão”, colocando a Ordem dos Médicos (e médicos) como “vítimas” de um alegado difamador.

    Mas isto também mostra um sinal de aflição da Ordem dos Médicos.

    Para Miguel Guimarães já vale tudo para influenciar a decisão num processo administrativo, onde apenas está em causa a aplicação da lei e de direitos de cidadãos.

    woman holding pistol

    Qual é afinal o temor de Miguel Guimarães?

    Teme a transparência?

    Teme que esta juíza lhe conceda uma segunda derrota na primeira instância do Tribunal Administrativo, obrigando-o a divulgar como foi feita a gestão de 1,4 milhões de euros de uma campanha de angariação de fundos?

    Teme que não consiga silenciar um jornalista como conseguiu silenciar muitos médicos com processos disciplinares?

    Quem é este senhor, afinal, que assume a Ordem dos Médicos como seu feudo, para seu uso e dos apaniguados?

    Em que página da História querem os médicos que fique os mandatos do senhor Miguel Guimarães? E a democracia, em que sítio o que colocar?


    N.D. Sejamos, porém, pragmáticos, o PÁGINA UM está consciente do risco de vir a sofrer de SLAPP – acrónimo, que faz lembrar estalo (slap), para Strategic Lawsuit Against Public Participation. A denúncia destes casos, ainda mais quando está em causa um projecto de jornalismo completamente independente, mostra-se fundamental. Embora com meios incomensuravelmente menores, o PÁGINA UM não vergará na sua luta em prol da transparência e do acesso à informação. No caso dos processos judiciais, os apoios podem ser concedidos ao FUNDO JURÍDICO. Para o apoio ao trabalho jornalístico, podem apoiar através de várias modalidades.

  • A traficância de elogios: os ‘spin doctors’ e o caso exemplar da demógrafa Maria João Valente Rosa

    A traficância de elogios: os ‘spin doctors’ e o caso exemplar da demógrafa Maria João Valente Rosa


    Existem guiões, e os spin doctors sabem bem da poda. Durante meses, o Ministério da Saúde andou a esconder vergonhosamente o caos do Serviço Nacional de Saúde, não se importando em manipular informação, mutilar bases de dados e recusar documentos administrativos. O PÁGINA UM tem já vastíssima experiência nesta matéria. Tem lutado praticamente sozinho. Tem apresentado processos de intimação no Tribunal Administrativo para contrariar este estado de coisas.

    Nesta linha, o PÁGINA UM esteve na linha da frente para denunciar o absurdo excesso de mortalidade deste ano. Com base em análises rigorosas, foi o primeiro órgão de comunicação social a apontar para a inédita sequência mensal de óbitos sempre acima dos 10.000 desde Novembro, com recordes absolutos em Maio, Junho e Julho. Mas também a denunciar que esse morticínio atingia proporções inconcebíveis no grupo etário mais idoso – um autêntico e criminoso gerontocídio – e que apresentava uma “consistência” não compatível com eventos climáticos ou circunstanciais.

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    Durante demasiado tempo, assobiou-se para o ar.

    E só de mansinho, quando o silêncio se mostrava ensurdecedor, veio a comunicação social dita mainstream abordar a temática, mas numa primeira fase sem citar o PÁGINA UM. Dedo dos spin doctors. A razão não se deveu apenas à falta de ética jornalística – existe uma regra de “convivência” na imprensa que “obriga” a citar o primeiro que destaca um tema fruto de investigação. De facto, ignorar a investigação do PÁGINA UM – que, desde o início, apelou para a realização de uma investigação que não ouvisse a “raposa sobre como morreu a galinha” –, serviu também para formar e consolidar uma “narrativa oficial”.

    Por “narrativa oficial”, leia-se dissertações e especulações da Direcção-Geral da Saúde e de “peritos de serviço” – estes últimos predispondo-se a usarem as suas universidades como “cátedra” e o seu estatuto de cientistas como “bengala” para distribuírem bitaites convenientes ao Governo (porque nunca sustentados em dados mas apenas em meras opiniões, por vezes absurdas).

    Lamentavelmente, os dois últimos anos vieram politizar e mercantilizar a Ciência – e um bom (no sentido de mau) exemplo encontramos no presidente do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge. Perante tantas evidências da existência de um mastodôntico elefante – excesso grotesco de mortalidade – veio Fernando Almeida em auxílio do obscurantismo do Governo defender que esse excesso de mortalidade não se pode fazer “comparado apenas números” e avisando que “é impossível fazer uma análise séria e cientificamente consistente em dois ou três meses”.

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    Claro que pode. E não só pode, como deve. Basta começar olhar, com transparência e rigor, para as causas de morte no Sistema de Informação dos Certificados (SICO). Está lá tudo, diariamente, semanalmente, anualmente. Pode-se fazer comparações, analisar com detalhe os desvios mais relevantes das causas das mortes, detectar em que faixas etárias tal sucede, que regiões ou mesmo concelhos se observam os casos anómalos. Pode-se fazer tudo isto, com tecnologia informática e especialistas independentes (e que querem mesmo saber e não esconder), em muito pouco tempo.

    Mas o tempo – esse escultor e esse julgador – é o grande problema para os políticos. Num país que ainda nem sequer disponibilizou estatísticas decentes e rigorosas sobre as causas de morte em 2020 (aquilo que está disponível no INE é uma vergonha, e a Doutora Graça Freitas tratou há cerca de um ano de eliminar uma base de dados criada em 2019, a Plataforma da Mortalidade, cujo “cadáver” jaz aqui), tem-se horror à informação hoje, porque pode sempre ser comprometedora.

    Deixe-se morrer hoje pessoas, que amanhã lamentaremos estatísticas – parece ser esse o lema do Governo. Mas não deveria ser auxiliado por cientistas.

    Mas há quem se disponibilize sempre para tais tarefas. Por isso, haverá sempre quem, nas universidades, apoie o Governo a furtar-se ao escrutínio da sociedade, conseguir duas coisas: garantir o controlo absoluto sobre uma suposta investigação e definindo a priori o seu timing.

    Marta Temido, ministra da Saúde, ao centro.

    Nos tempos que correm, o Governo consegue sistematicamente atingir esse objecto com recursos a dois “instrumentos”: uma imprensa mainstream fofinha (que não questiona demasiado) e o suporte de peritos supostamente independentes, mas que estão, na verdade, comprometidos até ao tutano.

    Nos últimos dias, tivemos mais um destes “pratos” servido: o Ministério da Saúde anunciou na sexta-feira passada, pela noitinha, ao sempre disponível Público (que, entretanto, teve a “amabilidade” de corrigir o seu texto original, passando agora a citar o PÁGINA UM) a realização de um “estudo aprofundado” sobre “os excessos de mortalidade mais recentes”, nomeadamente “os que coincidem com a maior intensidade epidémica da covid-19 e do calor”.

    Spin doctors a trabalhar: dois dias depois, novo anúncio, no mesmo Público, dizia-se que o relatório só ficaria concluído em 2023. Para as calendas, portanto.

    Não tugiu nem mugiu a imprensa. Nem investigadores contra esta descarada estratégia do Ministério da Saúde: o anúncio de um estudo que serve exactamente para não se estudar nada de forma independente e rápida. Morra-se hoje para se lamentar nos livros de História.

    woman covering her face with white book

    Os spin doctors ainda fizeram mais: em artigo à parte, sempre no Público, arranjaram uma especialista de confiança para consolidar esta estratégia. E assim assistimos à conceituada demógrafa, Maria João Valente Rosa – professora da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa e ex-directora do Pordata – a congratular-se com este “estudo” (chamemos-lhe assim).

    Cito o Público: “O estudo ‘aprofundado’ sobre ‘os factores determinantes da mortalidade’ e sobre os ‘excessos de mortalidade’ observados desde o início da pandemia – que sexta-feira foi anunciado pelo Ministério da Saúde – merece os aplausos da demógrafa Maria João Valente Rosa. ‘Finalmente‘ vai ser dada ‘maior atenção às causas de morte’, reage a professora da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa.” Mais adiante, refere a especialista que “há aqui [no excesso de mortalidade] uma responsabilidade social que não importa descartar”.

    Nem mais: um elogio, para começar, seguida de uma dica para descartar responsabilidades – e logo por uma conceituadíssima especialista, créditos firmados… e independente.

    Claro que sim.

    Somos todos independentes, e uns mais (in)dependentes do que outros.

    Na verdade, começa a encanitar-me observar especialistas travestidos de independentes que, na verdade, deveriam pensar duas vezes antes de prestar declarações, ou avisar os jornalistas dos seus conflitos de interesses.

    Maria João Valente Rosa, demógrafa, professora da Universidade Nova de Lisboa e sócia da Koali e VR&DC Consulting, com relações comerciais com a Direcção-Geral da Saúde.

    Com efeito, não está aqui – como em muitos outros casos que se passaram durante a pandemia – questões legais, mas éticas e de transparência.

    Ao elogiar o anúncio de um estudo político sobre um excesso de mortalidade que poderá ter (ou terá mesmo) causas relacionadas com política governamental – acabando também por anuir no prazo da sua conclusão e indicando até hipóteses para dar a culpa a todos e a ninguém em particular –, Maria João Valente Rosa sabe que não é uma demógrafa, embora lhe interesse que a sua mensagem soe como uma demógrafa independente.

    Mas ela não é só, perante o Ministério da Saúde, apenas uma demógrafa; é também uma empresária, sócia com familiares (inclusive com uma filha, que se apresenta ainda como consultora da DGS) da Koaki (que tem como marca a Social Data Lab) e da VR&DC Consulting.

    Ora, no caso da Koaki, desde 2020, estabeleceu já três contratos com a DGS no valor total de 91.280 euros, a que acrescente um contrato já este ano com o INEM no valor de 39.450 euros, e mais um com a Lusa, no valor de 12.000 euros.

    No caso da VR&DC Consulting há ainda um contrato com a DGS no valor de 15.00 euros (em 2019), mas mantém fortes relações comerciais com a Lusa (três contratos no valor total de 36.000 euros desde 2019) e com o AICEP (quatro contratos no valor de 193.127 euros).

    person holding brown eyeglasses with green trees background

    Todos os contratos foram por ajuste directo ou por mera consulta prévia.

    Sendo legítimo que especialistas possam explorar e manter relações comerciais com entidades da Administração Pública, talvez comece a ser hora de reflectirmos se podem eles “vestir” a pele de professores universitários independentes para dissertarem sobre temas delicados, sem que se saiba se os comentários são isentos ou afinal comprometidos. Se estão a fazer Ciência ou afinal acções de marketing, piscando o olho a futuros contratos.


    N.D. Sobre esta matéria, coloquei questões à Professora Maria João Valente Rosa, que me respondeu. Porque se considera relevante para a reflexão que aqui se propõe, tomo a liberdade de colocar, na íntegra, tanto as perguntas como a resposta.

    Exma. Senhora Professora Maria João Valente Rosa:

    Sou jornalista e director do jornal digital PÁGINA UM.

    Tendo lido as suas declarações de elogio à Direcção-Geral da Saúde pela realização de um estudo sobre a causa do excesso de mortes, mas que, ao contrário daquilo que seria expectável (até pela informação que existentes nos dados discriminados do SICO), só deverá ser conhecido em 2023, gostaria de ter a sua opinião sobre se considera que esse prazo é razoável ou se poderiam ser conhecidos resultados mais rapidamente.

    Por outro lado, gostaria de saber se alguma das duas empresas de que é sócia foram contactadas pela DGS ou outra qualquer entidade no sentido de integrarem o estudo anunciado, tanto assim que em outras oportunidades tanto a Koaki como a VR&DC Consulting já tiveram contratos com a DGS.

    Por outro lado, gostaria que me dissesse se, quando contactada pelos jornalistas, referiu (ou eles tinham conhecimento) das suas relações comerciais com a DGS.

    Ficando a aguardar uma resposta, e estando disponível para receber outros quaisquer esclarecimentos, queira aceitar os melhores cumprimentos.

    Pedro Almeida Vieira

    15 de Agosto de 2022


    Muito boa tarde.

    Em resposta ao seu email, informo que, enquanto cientista e investigadora na área da população/demografia, respondi a uma jornalista do jornal Público a respeito de uma notícia que dizia que o Ministério da Saúde tinha decidido avançar com “um estudo aprofundado” sobre “os excessos de mortalidade mais recentes”, nomeadamente “os que coincidem com a maior intensidade epidémica da covid-19 e do calor”. Na qualidade de demógrafa, considero muito importante a produção de conhecimento acerca do que se está a passar sobre as mortes em Portugal. Como tal, todas as análises ou estudos que contribuam para o efeito são de saudar, neste contexto.

    Quanto às relações comerciais das empresas, não faço comentários sobre os clientes Koaki ou VR&DC Consulting.

    Cumprimentos,

    Maria João Valente Rosa

    Faculdade de Ciências Sociais e Humanas/Universidade Nova de Lisboa

    16 de Agosto de 2022

  • O Sérgio e a pasta ‘se fores apanhado, usa esta’

    O Sérgio e a pasta ‘se fores apanhado, usa esta’


    O trabalho está a dar-me gastura. Não sei bem o que significa esta palavra, mas a minha avó, sempre que a usava, franzia os olhos e massajava a barriga para ilustrar. Sei sim que é mais ou menos a sensação que tenho quando penso na minha equipa da “apanha da azeitona”.

    Estimo que 75% é formada por pessoas que gerem cenas e organizam coisas; os outros 25% são aqueles que fazem, de facto, essas coisas. Somos quatro. Eu tenho gastura, portanto. Deixo as contas para os Antunes desta vida.

    Sérgio Figueiredo

    Penso muito naquela imagem das obras, com nove gajos em redor do buraco a olhar e dar indicações e um outro com a picareta nas mãos a bulir. Mas, enfim, menos queixume, porque sou eu que me meto nestes comboios.

    A parte que realmente quero trazer para aqui é que isto: do ponto de vista de gestão, tudo isto é uma péssima utilização de recursos. Gasta-se dinheiro a mais e produz-se a menos. Contudo, como é investimento privado (e chinês, já agora) ninguém está interessado em poupanças. Por mim, tudo bem, que não sou de grandes complicações. Desde que a Pelosi deixe de chatear e a China não tenha que investir em canhões de longo alcance, em princípio, os outros 75% da minha equipa podem continuar a esfregar a micose nos PowerPoint.

    Agora, com o Sérgio Figueiredo, já não é bem assim.

    Hiiiiii… cá ganda volta foste dar migaaaaa!!

    Exacto. Eu não gosto de ir directo ao assunto, e umas flores no ramalhete nunca ficaram mal.

    Fernando Medina, ao centro, ministro das Finanças.

    O Sérgio Figueiredo é o novo ofendido da Praça Pública, e, por isso mesmo, defendeu-se com um longo texto no Jornal de Negócios, anunciando que desistia do contrato de consultoria arranjado com o Medina para o Ministério das Finanças.

    E porque pia mais fino o enredo do Sérgio, quando comparado com o desperdício dos meus amigos chineses? Por causa dos mercados, fiéis amigos, para o bem e para o mal. O Sérgio não estava inserido neles, seria pago com dinheiro público e, portanto, está sujeito ao escrutínio dos pobres.

    A prosa de defesa, feita pelo próprio, é retirada de uma minuta disponível em todas as Secretarias de Estado e arquivada nos servidores do Governo dentro da pasta “se fores apanhado, usa esta”.

    Começa com “não aguento mais as calúnias, acusações e difamações”; continua com “blá, blá, blá“; pelo meio há sempre um “injustiças e poderes instalados”; e termina-se com “por isso abdico” e “na defesa do meu bom nome”. Assina-se. E está feito.

    O Ministério das Finanças anunciou a contratação de Sérgio Figueiredo para a função de consultor na área da avaliação das políticas públicas, com um salário de 140 mil euros por dois anos de contrato. Cerca de 5.800 euros por mês, mais do que o salário do próprio ministro.

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    Como o Governo já tinha criado um centro de competências para as políticas públicas (chamado PlanApp), o pagode ficou ligeiramente desconfiado de Medina contratar um consultor, durante dois anos, e dar-lhe um salário de piloto, para fazer essencialmente o que um centro inteiro já fazia.

    Claro que, a partir daqui, o Ministério das Finanças apressou-se a justificar a diferença de trabalho que Sérgio, jornalista de carreira sem experiência em políticas públicas, faria, quando comparado com os demais ocupantes desses lugares no PlanApp. Aparentemente, ou melhor, alegadamente, não faria nada porque não percebia da poda.

    E foi aí que a pobretada que sabe ler se indignou e pensou: “tu queres ver que isto é o Medina a pagar favores pelo palanque que teve na TVI?”

    O barulho ficou ensurdecedor e o desgraçado do Sérgio lá teve que abdicar do cargo, mostrando ao mundo aquela ponta de dignidade só ao alcance dos ilustres que são apanhados entre maroscas colossais.

    Isto vai um pouco na linha do turista espacial, que nos pedia orgulho por ter feito uma excursão de luxo enquanto carpia por 40 milhões de euros de ajuda ao erário público, e que depois, também ofendido, lá acabou por desistir de nos sugar mais uns cobres.

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    Sebastian Maniscalco, um comediante que aprecio, dizia um dia sobre a nova moda em Hollywood com os centros de reabilitação para homens viciados em sexo: “não existem viciados nesses sítios, só maridos que foram apanhados”.

    De cada vez que um Sérgio ficar ofendido e largar a teta do erário público, nós, sociedade civil, cumprimos o nosso papel.

    Mas aquilo que me continua a aborrecer, e fazer pensar, enquanto agarro na minha picareta, são os milhares de Sérgios que vão passando entre os pingos da chuva.

    Tiago Franco é engenheiro de desenvolvimento na EcarX (Suécia)


    N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.

  • PSP: ordem pública ou “esquadrão da porrada”?

    PSP: ordem pública ou “esquadrão da porrada”?


    Volta que não volta, zás! Lá temos um vídeo da Polícia de Segurança Pública (PSP) a “malhar à farta” em alguém, e desta vez é um homem negro, imobilizado à bastonada e a pontapé, e com um joelho em cima do pescoço.

    O vídeo circula na internet e o comando da PSP publicou já um blá blá para enrolar as imagens brutais. Parece estarmos de volta aos execráveis “quadrilheiros” de D. Fernando I. Pouco mais de 20 criminosos arregimentados no fatídico ano de 1383, para “assegurar a ordem”.

    Muitos dos elementos da PSP não perceberam que são funcionários de um departamento do Ministério da Administração Interna (MAI)… do Governo eleito por portugueses de todas as cores.

    Ainda estão frescas as imagens da PSP a “malhar” num homem que não queria sair do comboio.

    Ou de uma jovem com a cara rebentada num autocarro à frente da filha por três polícias em Janeiro de 2020 na Amadora por causa de um mero título de transporte.

    Também não esquecemos o rol de polícias que foram a tribunal por causa da “malhação” no bairro da Cova da Moura.

    Ou a carga policial Rua Garret acima em 2012.

    Ou do pai espancado à frente ao filho menor, perto de um campo de futebol.

    Ou a sexagenária puxada do meio da manifestação pacífica de apoio ao juiz anti-vacinas para levar uns valentes tabefes de exemplo!

    Fiquemos por aqui. Temos visto isto tudo graças às TVs e aos telemovéis.

    Há uns anos fiz “Casos de Polícia”, na RTP. Vi a forma agressiva como cidadãos menos favorecidos eram tratados por alguns polícias. E deixei o programa.

    Esta gente mancha a honra de milhares de elementos da PSP, que é um dos garantes da segurança e respeito dos cidadãos.

    A PSP é uma direção do MAI, é bom sublinhar. E foi criada para manter a ordem pública e executar ordens de tribunal. Não é um “esquadrão da porrada”. Ponto final.

    José Ramos e Ramos é jornalista (CP 214)


    N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.

  • Jornalismo ‘zombie’: o grande drama

    Jornalismo ‘zombie’: o grande drama


    Em tempos, os jornalistas eram temidos pela sua tenacidade em investigar e expor os corruptos. Hoje, são os jornalistas, em geral, que têm medo. Estão reféns do medo e manietados por um corporativismo tóxico e por uma cultura bafienta do “só se critica em privado”. E assim não se investiga nada, e evita-se também resolver os problemas, limpar o sector dos media dos interesses e personagens que o tolhem.

    O medo é um dos fatores que hoje em dia mais reduz jornalistas a meros agentes de comunicação ao serviço de governantes e empresa. Há vários medos.

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    Houve e há jornalistas com medo (pânico mesmo) de apanhar covid-19. Então, por causa disso, esquecem o que é ser jornalista. Noticiavam e noticiam apenas e somente o que diz a Direcção-Geral da Saúde (DGS), a Organização Mundial de Saúde (OMS), Graça de Freitas, Marta Temido e os “especialistas autorizados” (na maioria, consultores a lucrar com serviços a farmacêuticas e entidades públicas do sector da saúde).

    Reduzem a sua atividade a espalharem a linha de comunicação das farmacêuticas, ávidas de vender produtos aos Estados e à população, e de quem tem ligações a esta indústria. Recusam investigar. Recusam fazer perguntas inteligentes e de interesse para a população.

    Uma colega jornalista em pânico de apanhar covid-19 chegou mesmo a dizer-me que “nós precisamos praticar um Jornalismo responsável”, que, na visão dela, corresponde a espalhar propaganda de entidades públicas e farmacêuticas. A espalhar também desinformação que tem sido veiculada sob o disfarce de “política de saúde”, “combate à pandemia” e medidas que visam “o bem comum”.

    Jornalistas dominados pelas emoções, pelo medo, deveriam ter suspendido a carteira profissional enquanto não voltassem a ser jornalistas de verdade, com domínio das emoções e usando a lógica, o raciocínio como ferramentas. Sem usar a lógica, o raciocínio, aquilo que resulta é um Jornalismo zombie que se alimenta de sucessivos atropelos ao Código Deontológico e ao Estatuto do Jornalista.

    Destes jornalistas dominados pelo pânico, houve mesmo alguns que, sempre que podiam, espalharam o ódio e defenderam a perseguição criminosa de todos os portugueses e famílias que compreenderam melhor do que eles a real situação em que temos vivido. Uma realidade dominada por medidas sem qualquer fundamentação científica, medidas absurdas, irracionais, ilegais, inconstitucionais. E medidas que provocaram o caos no Serviço Nacional de Saúde (SNS) e levaram à deterioração da saúde, não só dos mais vulneráveis, como também das crianças e jovens.

    Os resultados estão à vista no número elevadíssimo de casos positivos em Portugal (apesar da campanha agressiva de vacinação) e nas mortes em excesso por todas as causas, sem explicação até hoje e sem uma investigação independente no horizonte.

    A cultura de censura e pensamento único que se instalou nas redações contribuiu para deixar o Jornalismo moribundo, em coma, durante dois anos. Naturalmente, houve jornalistas que ficaram em silêncio e pactuaram com a legião de fanáticos e zombies da propaganda sobre covid/vacinação, com medo de serem chamados de negacionistas e serem alvo de segregação. Ficaram calados, mesmo quando os meios onde trabalham publicaram disparates, notícias falsas e de incentivo ao ódio.

    Estes jornalistas ficaram com medo de perderem o emprego, se falassem, se fizessem Jornalismo. Ficaram com medo de serem mal vistos, de ficarem à parte. De não serem promovidos. De deixarem de ser convidados para almoços, jantares. Para ir tomar café. Para ir fumar o cigarro.

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    Estes jornalistas ficaram com medo de não terem como pagar a renovação da cozinha. De pagar as prestações da casa. De não conseguir cumprir com a pensão de alimentos. De não conseguirem manter os filhos em colégios/universidades caros. De não conseguirem construir a piscina na casa de campo.  De perderem “o respeito” nas redações e os amigos jornalistas que viraram zombies na pandemia.

    Ter medo é normal. Mas, ser jornalista é conseguir viver e trabalhar tendo medo de todas essas coisas. Ter medo de apanhar covid-19. Ter medo de ser posto de lado. Ter medo de ser enxovalhado por colegas ignorantes, incompetentes e que viraram fanáticos da propaganda de “especialistas” (e de “estudos” pagos por empresas que lucraram como nunca desde 2020) e também da propaganda de governantes – que viram na pandemia uma oportunidade para fazerem novas leis e reforçarem o seu poder de forma inadmissível em democracia (como tentar eliminar o direito à liberdade de expressão e de manifestação).

    Ser jornalista é poder ter medo – e, ainda assim, fazer perguntas. É investigar, mesmo quando estamos perante uma epidemia. Quem diz uma epidemia, diz uma guerra. Uma crise financeira. Uma crise energética. Uma crise climática.

    Portugal tem excelentes jornalistas, como tem outros menos bons. Mas tem hoje, sobretudo, jornalistas desmoralizados. Tem jornalistas com medo. Medo de falar nas redações. Medo de falar em público. Medo de questionar, de criticar, de “levantar ondas”.

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    Nos últimos dois anos, procurei expor a desinformação e as campanhas anti-jornalismo e anti-democracia que vários media passaram para o público em geral. “És a ovelha negra do Jornalismo em Portugal”, disse-me um dia um profissional de comunicação. Pois, talvez. Certo é que recebi também mensagens de incentivo de colegas jornalistas e ex-jornalistas. Recebi telefonemas de alguns que estavam (e estão) simplesmente em choque com tudo o que se passou desde 2020. O clima de medo que se instalou. O clima de censura que se instalou.

    O problema do Jornalismo não é a sua morte. É o seu suicídio. Está a ser morto por dentro. Pelo corporativismo. Pelos jornalistas fanáticos e zombies. Pela cultura portuguesa do “fala, mas só entre amigos”. Pelo facto de o sector viver numa bolha e de braços dados com políticos e empresas. Pelo baixo nível de literacia sobre Saúde, Ciência e análise de dados – que ficou evidente desde 2020 nas notícias pavorosas e falsas que foram divulgadas.

    Também pelas chamadas “parcerias comerciais” entre empresas, Governo e grupos de media.  Há uns anos, ouvi numa redacção um colega a queixar-se do facto de os conteúdos “patrocinados” estarem a roubar cada vez mais espaço aos trabalhos dos jornalistas. Prontamente, o diretor respondeu: “Podem não gostar desses conteúdos, mas são eles que pagam os salários”.

    Pois, mas estão também a contribuir para matar o Jornalismo.

    Não seria preferível deixar as empresas de media fecharem do que matar o Jornalismo e ter jornalistas a viver desanimados dia após dia? Além disso, convém dizer que este discurso de “poupança” não engloba as avenças chorudas pagas a amigos comentadores e os salários e condições principescas de alguns dirigentes.

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    Assisti a jornalistas a ganhar perto do salário mínimo, a recibos verdes, a dividirem minúsculos apartamentos com os amigos. Enquanto isso, eram contratados novos quadros e comentadores, pagos a peso de ouro, e que, no final, nada acrescentaram, nem trouxeram mais leitores nem mais qualidade ao meio.

    E, sim, mesmo no sector dos media há “tachos” para amigos do partido A ou B. Do amigo C ou D.

    É assim.

    Os jornalistas perderam o seu poder.

    Em parte, porque se renderam aos medos.

    Em parte, porque esqueceram o que é ser jornalista.

    Em parte, porque se calam perante as desigualdades salariais e os gastos excessivos com alguns quadros e comentadores.

    Em parte, porque alguns se venderam ao poder e ao dinheiro.

    E, em parte, porque alguns se tornaram fanáticos defensores de uma religião anti-ciência que nasceu em 2020, que se baseia em premissas falsas, sem qualquer fundamentação na ciência verdadeira – a que não obedece a interesses políticos ou de empresas. 

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    E devido a tudo isto junto, no global, na soma, está-se a matar o Jornalismo.

    Junta-se a este cenário, o silêncio e inacção da Comissão Profissional da Carteira de Jornalista (CCPJ), sobretudo perante a atitude indigna daqueles que promoveram e incentivaram o ódio e fizeram manchetes /aberturas falsas de telejornais e jornais.

    Nem mesmo quando a Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) enviou à CCPJ casos de jornalistas da CNN que divulgaram uma notícia falsa e difamatória para eventual abertura de um processo pela Comissão, a CCPJ quis logo actuar. Ficou, de forma cobarde, em silêncio e recusou, por agora, abrir processos.

    Esta atitude integra-se no corporativismo tóxico e nefasto existente no sector. Entidades como a CCPJ integram a “bolha” em que muitos jornalistas vivem – alheios ao dever de informar, noticiar a verdade, de forma objetiva e rigorosa. A CCPJ partilha da cultura dos “bons costumes”, da cultura que confunde crítica fundamentada com o acto de “falar mal” de alguém ou de uma entidade. A cultura do “todos precisam proteger-se uns aos outros”, mesmo que isso esteja a matar o Jornalismo. Porque tudo isto é veneno para o Jornalismo e os jornalistas.

    Sobra o Sindicato de Jornalistas, que tem procurado actuar para a melhoria das condições no sector e para recomendar boas práticas. Mas tem muito a fazer, nomeadamente no escândalo que envolve as chamadas “parcerias comerciais” – em que jornalistas lucram para participar em eventos de natureza comercial.

    Foto do encontro entre Augusto Santos Silva, presidente da Assembleia da República, e membros da Comissão da Carteira Profissional de Jornalista em 14 de Julho de 2022.

    Também poderia ter-se manifestado de forma mais assertiva perante as notícias falsas e incentivo ao ódio que foi promovido por diversos jornalistas e vários órgãos de comunicação social desde 2020, nomeadamente através do tempo antena que deram a personalidades apresentadas como médicos ou especialistas, mas que na prática escondiam interesses pessoais e profissionais.

    O seu silêncio quanto à praga das notícias recicladas – sobretudo com origem na agência Lusa – é preocupante. Quando o jornalismo está a afundar, a CCPJ pode até dormir, mas o Sindicato, estando mais desperto, não pode deixar de defender o bom jornalismo. Mesmo que doa a muita gente no sector.

    Sobre a ERC, o seu actual Conselho Regulador tomou posições favoráveis ao bom jornalismo. Mas falhou rotundamente – e soube que falhou – quando tomou, recentemente, uma decisão baseada em premissas falsas, numa denúncia que visou apenas condicionar as investigações de um jornalista. A ERC tomou a decisão a favor da vingança do denunciante sem ouvir de forma justa e isenta o jornalista cujas notícias levaram à abertura de um processo de contra-ordenação contra o visado pelas notícias, e que foi afastado da função de consultor pelo Infarmed.

    Contribui ainda para o estado vegetativo em que se encontra o jornalismo, os sucessivos “congressos de jornalistas”, que debatem os desafios do sector. Porém, com poucas ou nenhumas consequências práticas para uma maior justiça salarial, igualdade do género, boas práticas e o fim das contratações de amigos comentadores com remunerações chorudas completamente desadequadas para um sector “em crise” eterna. 

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    Se há uma crise no Jornalismo em Portugal, como a que atravessamos hoje, deve-se falar dela, sim. E em público. Para que se possam resolver os problemas e permitir que os jornalistas ganhem autoestima e tenham consciência do seu verdadeiro poder para noticiar a verdade e investigar os que lucram à custa do bem-estar da população. À custa de enganar a população.

    Os jornalistas devem manifestar-se nas redações, e publicamente, e baterem-se por melhores condições de trabalho e maior investimento em jornalismo verdadeiro, que investiga.

    Voltar a ganhar paixão pela profissão.

    Os jornalistas não precisam ser temidos por fazerem o seu trabalho. Mas precisam voltar a ser respeitados.  Para isso, terão de ajudar os media a limparem-se e a livrarem-se dos hábitos e das más práticas que se infiltraram de forma nefasta no sector – no sector onde quem manda hoje são interesses políticos e os “clientes” das “parcerias comerciais”. E os medos.

  • Um café Figueiredo servido pelo ‘garçon’ Medina ou a democracia apodrecida

    Um café Figueiredo servido pelo ‘garçon’ Medina ou a democracia apodrecida


    Em Abril de 2016, após João Soares, então ministro da Cultura, ter ameaçado dois colunistas do Público (Augusto M. Seabra e Vasco Pulido Valente) com queirosianas “salutares bofetadas”, veio de imediato o primeiro-ministro anunciar ao país que os ministros “nem à mesa do café podem deixar de se lembrar que são membros do Governo”.

    Por causa da polémica, João Soares pediria a demissão, aceite “naturalmente” pelo primeiro-ministro.

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    Os tempos são outros, e ficámos agora a saber que as bofetadas alegóricas já podem até ser dadas – não em dois cidadãos, mas em 10 milhões de portugueses; e não doendo na face, moem a democracia.

    O episódio do “convite” de Fernando Medina a Sérgio Figueiredo para o assessorar – leia-se, um pagamento de favores, que já vêm de longe –, à falta de enquadramento criminal suficiente, deveria constituir um evidente caso para se aplicar a máxima de há seis anos proferida por António Costa: “nem à mesa do café podem [os ministros] deixar de se lembrar que são membros do Governo”.

    Ou seja, numa democracia amadurecida (mas não podre), com valores de decência, o convite a Sérgio Figueiredo deveria ter levado à imediata demissão de Fernando Medina.

    Mas não levou, como sabemos. E não levou porque António Costa já pensa que tem o país no bolso, o que constitui um prenúncio que o seu “regime” está decrépito de valores e de ética, perdeu a cultura democrática.

    Jamais pode um ministro – ainda por cima um que ainda há meses recebeu um inusitado “prémio” por ter sido o pior presidente da autarquia de Lisboa, ainda por cima no melhor período económico da capital (aumento das receitas do Imposto Municipal sobre Imovéis por via da actualização do valor patrimonial e boom turístico) – contornar as normas da contratação do seu gabinete para, de forma descarada, dar a “mão” – e o dinheiro dos contribuintes – a um ex-jornalista, que o foi apoiando quando director de informação da TVI.

    O caso Sérgio Figueiredo parece, aliás, combinação feita “à mesa do café” entre si e o seu amigo Medina. E António Costa não pode fazer de conta que não lhe diz respeito.

    Diz respeito – e muito –, porque podem os amigos combinar, entre si, os negócios que bem lhe aprouverem.

    Porém, não um ministro. Não um ministro do seu Governo.

    E não pode parecer, como efectivamente é (qual o currículo de Figueiredo para aquelas funções?!), um negócio de amigos, um pagamento de favores.

    Ainda mais envolvendo um antigo jornalista com as responsabilidades na TVI que Sérgio Figueiredo teve – director de informação entre Janeiro de 2015 e Julho de 2021.

    Aliás, Sérgio Figueiredo – que sempre mostrou uma promiscuidade imprópria de um jornalista isento, com passagens na direcção de jornais económicos e na TVI em permeio com cargos executivos na EDP e outras sinecuras – acaba, ao aceitar este cargo, por dar mais uma estocada na já fraca credibilidade da imprensa mainstream, embora não o esteja a ver demasiado preocupado com esse efeito.

    A partir de agora, poderemos sempre tentar adivinhar qual será o próximo director de um jornal, de uma rádio ou de uma televisão que seguirá para um cargo especial governamental a ganhar cinco mil euros sem exclusividade e sem horário.

    E ainda, depois deste impune caso Sérgio Figueiredo, podemos passar a ler os editoriais ou a linha editorial de um órgão de comunicação social mainstream tentando perscrutar se não estará ali alguém, por detrás da pena, mais preocupado em salvaguardar o seu futuro do que em informar os leitores.

    Confirmado está também o óbito da máxima de António Costa. Agora, tudo se mostra possível. À mesa do café. Ou noutro qualquer lado. O povo já aguenta tudo, não é? A democracia apodrecida é isto mesmo: já tanto se nos faz.

  • Ucrânia: um rodapé do Pontal

    Ucrânia: um rodapé do Pontal


    Entendo que Zelensky não pode deixar que os holofotes se apaguem. O pior que pode acontecer ao povo ucraniano, depois da guerra que não se evitou, é serem esquecidos. No fundo, o pior que podemos fazer ao povo ucraniano é fazermos, essencialmente, o que fazemos a todos os outros povos: passar ao drama seguinte quando o sangue se torna velho.

    Assim que a cortina se fechar, os russos terão palco e espaço para agirem como bem lhes apetecer. A velha teoria de o tempo ser ainda o maior aliado do exército russo.

    Não tenho qualquer opinião formada sobre Zelensky, para lá de um rapaz que foi apanhado nos Panama Papers e que era governante de uma democracia pouco saudável quando os verdadeiros donos do Mundo resolveram usar o quintal dele.

    E antes que me apareçam os puritanos da ordem, asseguro que Putin só não está nos Panama Papers porque não precisa deles para nada: esconde o dinheiro que rouba na Sibéria. O Panamá é para totós que ainda não a sabem fazer bem feita.

    Noto o desinteresse na causa ucraniana a cada dia que passa. Já não é novidade, já não é tão dramático, já nem dá tantos directos. Na verdade, ainda é mais dramático, mas quem não vê é como quem não sente. A História do Mundo Ocidental.

    Pelo meio, Zelensky vai dando uns tiros nos pés como, por exemplo, exigir que todos os cidadãos russos sejam bloqueados onde quer que vão. O Zé e a Maria de Vladivostok, que nem sabem onde fica o Panamá, não podem ir ao Intermarché de Tóquio, que fica mais em caminho do que o Pingo Doce de Moscovo.

    Uma guerra feita por velhos ditadores que Zelensky, amigo dos cancelamentos de partidos, quer que seja culpa de populares.

    Até os mais acérrimos defensores da guerra começam, paulatinamente, a assinalar as vezes em que Zelensy mete água. Na Vogue, nos cancelamentos, nos pedidos de mais sanções.

    Diga-se que, ainda assim, eu concordo com ele: é preciso que não se deixe arrefecer o assunto e que se vá discutindo a causa. Venha de onde vier o tema, o que importa é não deixar cair no esquecimento.

    Mas, deste lado, as sanções já pesam. A malta das bandeirinhas também se aborrece com a inflação, com os juros, com os impostos, com o custo da energia. A Ucrânia começa a ter costas muito largas para a comoção diária que nos exige.

    É preciso lembrar que a nossa natureza é não querer saber. É olhar para o umbigo. É largar um “coitados”, e depois fazer scroll down.

    Ontem, enquanto Luís Delgado – o homem das análises se chove-molha – falava na SIC sobre a festa do Pontal, os apelos de Zelensky apareciam em rodapé. Mais sanções e exigências, ali a 200 à hora no fundo da televisão, e apareciam imagens em loop com Montenegro de camisa branca e dois dedos no ar.

    Quando algo já só surge em rodapé, ao mesmo tempo que se mostra a Festa do Pontal – que é tão relevante para o país como a Festa da Nossa Senhora da Aparição da Nazaré –, é porque já atingiu o estatuto de refugo noticioso.

    Como disse inicialmente, interessa-me pouco Zelensky ou os seus gritos. Como ainda menos me interessa Putin e as suas certezas ou loucuras imperialistas. Tenho é pena dos mesmos que, desde Fevereiro, vão perdendo casas, vidas, amigos e familiares, em nome de uma guerra que nunca foi sua.

    Tiago Franco é engenheiro de desenvolvimento na EcarX (Suécia)


    N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.

  • Uma apologia à couve… e não só

    Uma apologia à couve… e não só


    É verde, é resistente ao frio, é de folha grande e caule forte.

    A couve portuguesa é um alimento que nos pode transportar ao estrelato da nutrição. Tem propriedades anti-inflamatórias e tem apresentado, em estudos de laboratório, capacidade de aumentar a produção de anticorpos.

    A couve portuguesa usava-se para acompanhar o bacalhau cozido do Natal e é um alimento rico em inúmeras funções. O seu ferro é de fácil absorção, os seus componentes antioxidantes melhoram a resposta aos tóxicos que ingerimos em excesso e aos que nos expomos em quantidades astronómicas. As fibras dão saciedade e melhoram a obstipação que hoje afecta muita gente.

    Couve selvagem (Brassica oleracea var. oleracea), a base de uma grande variedade de couves usadas na alimentação humana.

    Além de minerais e vitaminas, a couve portuguesa tem um conteúdo baixíssimo de açúcares (hidratos de carbono) e tem a particularidade de não perder propriedades quando cozinhada. Em batidos detox, em pratos gourmet, em tabernas, e à mesa das famílias, devíamos promover a couve e o seu primo brócolo.

    Recentemente, a Ordem dos Médicos e alguns arautos do cientificamente correcto, apedrejaram o médico Manuel Pinto Coelho – quase sugeriam a sua cremação pública, e até a destruição do seu bom nome.

    Em boa verdade Pinto Coelho transporta para o espaço português ideias também divulgadas por Michael Greger, que é um comunicador fora de série.

    Os brócolos, investigados na Universidade de Aveiro por bioquímicos, deram doutoramentos sobre defesa imunitária e também sobre a produção de bioplástico. Estes produtos fabricados a partir de uma biomassa de amido de milho ou batata podem tornar-se muito mais resistentes e elásticos com a adição de substâncias identificadas no brócolo.

    A investigadora Sónia Ferreira, ao centro, concluiu em 2021 um doutoramento sobre as extraordinárias capacidades dos brócolos.

    A Brassica oleracea é uma hortícola com muitas variedades, de talos carnudos, podendo atingir até 90 centímetros de altura, e plantava-se em todos os quintais do Alto Minho na minha infância.

    E então, olhando para aquilo que o Dr. Pinto Coelho tem dito, porque desperta ele tantos ódios e até nas páginas do jornal Expresso? Porque chegou com ar novo a idoso? A Inveja? Porque sabe imenso de dietas? Os Ignorantes?

    A verdade é um cubo de que não conhecemos todas as faces, e portanto fiquei sempre surpreso das razões de tantos se empertigarem contra a informação que Pinto Coelho defende e aborda.

    Não se preocupam com as dietas falhadas que persistem em hospitais, a quantidade de hidratos de carbono que são fornecidos a doentes, a fraca presença de couve portuguesa no Serviço Nacional de Saúde, a falta de apoio à produção, venda e investigação, de um produto que carrega a nossa identidade.

    Manuel Pinto Coelho

    Não se preocupam com a insanidade dos hidratos de carbono que proliferam na alimentação dos portugueses, não fazem cartas nem recomendações contra a comida de plástico, a porcaria que se converteu em negócio dos cinemas.

    As salas de espera cheias, a simpatia e o sucesso de Pinto Coelho incomoda e intoxica alguns, e sobretudo move esse tratado da inépcia e da falta de coerência em que se tem convertido a Ordem dos Médicos.

    Diogo Cabrita é médico


    N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.