Categoria: Opinião

  • Querem saber o que são os impostos? Um assalto!

    Querem saber o que são os impostos? Um assalto!


    Perguntam-me, o que são os impostos?

    Eu digo-vos já: trata-se de um assalto de tais proporções que nem mesmo o mais arguto criminoso seria capaz de conceber tal coisa. A violência estatal sobre o cidadão – ameaçando e coagindo com prisão, multas, penhoras, congelamento de activos… – é infinitamente superior à exercida por um assaltante de pistola em punho. O assalto é permanente, até à morte, uma agressão à propriedade privada sem fim.

    Façamos o seguinte exercício: no final de Agosto de 2022, a receita fiscal e as contribuições para a Segurança Social – sim, são impostos, trata-se de um confisco dos trabalhadores activos a favor dos pensionistas – cifravam-se em 54,3 mil milhões de euros; com o mesmo ritmo mensal até ao final do ano, estima-se que 2022 terminará em 81,4 mil milhões de euros, o que representa 7.900 euros aproximadamente por cada um dos 10,3 milhões de portugueses.

    Imaginemos então que em lugar de pagarmos IRS, IVA, Segurança Social, seja do empregador ou do trabalhador, ISP e mais uma centena de outros impostos, o Estado apenas apresentava uma conta única. No final do ano, com tudo. E assim, no final do ano, uma família de quatro pessoas recebia uma conta 31.600 euros (7.900 × 4)!

    Alguém no seu perfeito juízo imaginaria tal coisa possível? Seguramente uma revolução teria lugar no momento seguinte à apresentação da conta.

    Por isso, tudo é cobrado de forma sub-reptícia.

    As empresas substituem-se aos cobradores fiscais, retendo a colaboradores e clientes uma panóplia de impostos, com os seus representantes legais a serem responsabilizados pela correcta retenção, guarda e entrega ao Estado. Caso não actuem desta forma, correm o risco de calabouço, penhora e o pagamento de pesadas multas, pois, com o ladrão-mor ninguém se mete!

    Quem inventou tal método, em lugar de se aplicar um único pagamento anual num dado mês?  Nada mais nada menos que esse grande “liberal” da Escola de Chicago, Milton Friedman, nos idos anos 40 do século transacto. Aliás, agora compreendemos bem porque tantos políticos o bajulavam: foi o “cozinheiro” para um grande banquete que ainda hoje dura.

    O “contribuinte” – um eufemismo para designar uma vaca cheia de leite – é confundido e enganado da forma mais inventiva possível. Através de um exemplo, vejamos de que forma um assalariado é depenado sem quaisquer contemplações. Na figura seguinte podemos observar que para um salário bruto de 1.500 euros – um milionário nos dias que correm –, o empregador paga 1.856 euros e o colaborador recebe apenas 60% desse valor, ou seja, 1.116 euros, ficando o restante, 40%, para o salteador Estado.

    Incidência de contribuições e IRS num salário de 1.500 euros brutos (casado, com dois dependentes; taxas de retenção de 2022). Análise: Luís Gomes.

    Tudo embrulhado em vários conceitos, tipo “onde está a bolinha”, em que se dá entender que a Segurança Social do empregador é paga por este, enquanto o IRS e a Segurança Social são pagas por este último, quando na prática saem sim 1.856 euros do bolso do empregador, em que 40% é para o bandido e 60% para o trabalhador.

    Tomemos atenção ao seguinte, que é importante: mesmo antes de o trabalhador começar a consumir, terá ainda de pagar IVA, ISP, IMT, IMI. Nada na vida do cidadão escapa a este gigantesco esquema de extorsão: rendimento, consumo, poupança, património, em alguns casos, até a morte.

    Em lugar de uma conversa com um padre, todos os cidadãos no segundo trimestre de cada ano fazem a sua confissão junto do bandido: “Excelência, ganhei tanto, está aqui, envie-me a conta”.

    Em muitos casos, existem tansos que ficam felizes com as “devoluções”, esquecendo-se de que foram assaltados sem apelo nem agravo ao longo do ano. Emprestaram dinheiro ao Estado sem juros. É uma agressão sem fim da privacidade, onde todos os segredos da vida financeira devem ser revelados a burocratas sem rosto.

    10 and 20 euro banknotes

    Para incrementar a confusão, até dizem que os colaboradores do trabuqueiro – vulgo funcionários públicos e políticos – pagam impostos! No nosso exemplo, ao Estado custa-lhe apenas 1.116 euros, enquanto o empregador paga 1.856 euros (mais 66%) por cada funcionário, actuando com uma clara vantagem – para ele é tudo mais barato!

    A manipulação é tal que até nos fazem crer que há uma luta sem tréguas entre “ricos” e “pobres”, em que o sistema tudo faz para “espremer” os primeiros e dar aos segundos, quando, na verdade, o que existe são duas classes: (i) os beneficiários do saque, receptores líquidos de impostos (políticos, funcionários, empresas com licenças do Estado, monopólios públicos, clientela política, reguladores, burocratas…); e (ii) os assaltados, os otários da história. O opróbrio sobre os segundos é total quando tentam evitar o roubo – não pagou impostos!

    A propaganda paga com o fruto do saque até tem o despudor de afirmar que o assalto representa a Civilização! A doutrinação até começa cedo na escola, um dos exemplos é este livro infame, com o título:  A Joaninha e os Impostos!

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    Aquilo que se deveria explicar às crianças seriam os valores que tornaram a Civilização Ocidental especial: respeito pela propriedade privada, moeda séria e poupança; o que não é consumido da produção do período é dedicado à poupança, servindo para ser aplicada em bens de capital. É isto que torna uma sociedade próspera. Ninguém vai poupar e investir se é assaltado em todas as esquinas. Não é uma casualidade que Cuba, Coreia do Norte e Venezuela sejam uma sociedade de miseráveis; tudo reverte para o assaltante.

    Imaginemos um indivíduo analfabeto numa ilha deserta, sem bens de capital, qual a diferença de produtividade em relação a um engenheiro nessa mesma ilha deserta? Nenhuma. Para produzir bens de capital, como uma cana, uma vara ou instrumentos de caça, o indivíduo tem de recolher alimentos numa quantidade superior ao seu consumo por forma a sustentar-se nos dias em que se dedica à produção de bens de capital. Sem poupança não há civilização. A tributação é a destruição da poupança, impedindo a prosperidade das sociedades e gerando uma montanha de pobres.

    Em relação a Portugal, desde 1973 que a tributação não pára de crescer em percentagem do PIB, enquanto as taxas de crescimento da nossa carteira não cessam de diminuir. Em 1973, o crescimento anual do PIB per capita foi de 11% e o peso das receitas fiscais (não inclui contribuições) no PIB era inferior a 10%; em 2020, em percentagem do PIB, as receitas fiscais eram superiores a 22%, enquanto o PIB per capita decrescia quase 9% em resultado de um confinamento criminoso da população.

    Evolução desde 1973 do crescimento das receitas fiscais (em percentagem) do PIB e do crescimento anual per capita do PIB. Fonte: Banco Mundial. Análise: Luís Gomes.

    Quanto mais pobres, maior a justificação para mais impostos: “temos que redistribuir”, diz-nos o ladrão. “Não se preocupem, pois irei devolver parte do saque pelos famélicos e desfavorecidos, através de serviços ‘gratuitos’ à população”, acrescenta. E muitos, mesmo muitos, acreditam. Estamos na presença de uma população com o Síndrome de Estocolmo: “eles, afinal, até são bonzinhos, vão ajudar os pobres e dar-lhes serviços gratuitos”!

    Esquecem-se é de explicar que a tributação diminui a poupança e a acumulação de capital, impedindo a subida de salários, lucros, oportunidades de investimento e emprego, essenciais à melhoria das condições de vida dos mais desfavorecidos…

    Mas atiram-nos: e então os países escandinavos, onde é tudo uma espécie de “Alice no País das Maravilhas”?

    Como podemos constatar na figura seguinte, até aos anos 50 do século transacto, a Suécia era um país de reduzida tributação, com um capitalismo pujante, tornando-se num dos países mais ricos do Mundo, graças a mercados livres, reduzida regulação e tributação.

    Evolução das receitas fiscais e contribuições para a segurança social em percentagem do PIB na Suécia entre 1860 e 2010. Fonte: Magnus Henrekson e Mikael Stenkula

    Brincar ao socialismo desde então teve consequências nefastas para a Suécia, que desde 1970 apresenta taxas de crescimento ridículas, em que em muitos anos são expressivamente negativas, como em 1977, 1991-1993, 2009 e 2020. Ainda hoje, a Suécia está a viver da prosperidade obtida durante a maior parte do século XX, em particular na sua primeira metade.

    Vamos agora ao “Estado Social”, onde nos prometem a “redistribuição” – apesar de ninguém lhes ter pedido nada –, através de serviços “gratuitos”, como a Educação, a Saúde e as pensões, que são um esquema em pirâmide ao melhor estilo Madoff. Se há coisa que ficou provada com o colapso da União Soviética foi a ineficácia do planeamento central.

    Vamos supor que aplicávamos o actual modelo estalinista da Saúde no sector da alimentação, igualmente “essencial” à população – felizmente, o capitalismo conseguiu praticamente eliminar a fome nas sociedades ocidentais. Teríamos então cantinas públicas, com um único menu, com uma contratação e recrutamento centralizados.

    Evolução (%) entre 1961 e 2020 do crescimento anual per capita do PIB da Suécia. Fonte: Banco Mundial. Análise: Luís Gomes.

    Os cozinheiros, os empregados de mesa, os administrativos, tudo seria contratado por um burocrata sentado num ministério. Estão a ver o desastre que isto seria, certo? Corrupção – não lhes custou a ganhar o dinheiro, as receitas são fruto de um assalto – a rodos, ineficiência e desperdício sem fim. Por que razão vamos achar que isto irá funcionar na Educação e na Saúde? Aliás, durante a putativa pandemia, foi notório o desnorte das baratas tontas que estavam à frente da coisa.

    Para além do “Estado Social”, também temos a “justiça social”, onde se utilizam taxas progressivas nos impostos directos. Onde prefere um assaltante praticar um assalto? A um bairro de ricos ou de pobres? Claro está, a um bairro de ricos.

    Como dizia um membro de um partido trotskista do regime: “Temos de perder a vergonha de ir buscar a quem está a acumular dinheiro”. Há muito que perderam a vergonha, não é de agora.

    Ainda temos aquela expressão altissonante, em particular vindo daqueles que se propõem a “reformar” ou a modificar as leis tributárias: “os impostos têm de ser justos”. Como é que um assalto, uma agressão à propriedade privada, alguma vez pode ser justo?

    close-up photo of assorted coins

    Pergunta-me agora o leitor? Mas está contra qualquer tributação?

    Não, na minha opinião deve existir alguma taxa, paga por todos os cidadãos, que permita garantir que o Estado proteja a propriedade privada (polícia, defesa, notários…) e assegure o cumprimento dos contratos (tribunais). Nada mais.

    Por fim, a assistência àqueles que ficaram para trás, incapazes de se alimentarem e terem um tecto. Numa sociedade livre, sem estar refém de uma classe parasitária, essas pessoas serão uma pequena franja, devendo a comunidade organizar-se para as ajudar. Não é difícil, numa sociedade de mentalidade católica como a nossa, seguramente funcionará.

    Luís Gomes é gestor (Faculdade de Economia de Coimbra) e empresário


    N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do PÁGINA UM.

  • Uma viagem rara: da Jordânia à Arábia Saudita – parte II

    Uma viagem rara: da Jordânia à Arábia Saudita – parte II

    O dia amanheceu tranquilo e mal imaginávamos o dia que nos esperava. Adivinhando as dificuldades de entrada na Arábia Saudita, que só abriu portas ao turismo em 2019, um mês antes desloquei-me à sua embaixada em Lisboa. Ninguém me recebeu, mas o segurança deu-me um e-mail para onde poderia colocar todas as questões.

    Enviei um e-mail com os nomes de todos os viajantes, os vistos que iríamos tirar, avisando que tencionávamos passar a fronteira de Tabuque. Só me esqueci de referir que íamos guiando um carro no trajeto.

    Quando alugámos o carro, em lado nenhum perguntava se pretendíamos atravessar a fronteira de um país e, graças às boas relações entre os países, achei que seria pacífico. Só que não!

    A cerca de uma hora da fronteira, um dos carros parou numa aldeia para abastecer, pois já estava com pouco combustível. Ainda gritei: “confirma se é gasóleo ou gasolina”, mas todos concordaram que uma carrinha de 9 lugares funciona a gasóleo…

    Seguimos viagem e, já estávamos a 800 metros da fronteira, quando recebemos uma mensagem a dizer que o carro não andava… Bruxa! A nossa maré de sorte tinha começado. O carro avariou no meio de nenhures, mesmo em frente à única oficina mecânica do deserto.

    Limparam o motor, fizeram todos os truques de magia que só os mecânicos sabem fazer e 1h30 depois tínhamos a carrinha pronta para andar. Otimistas, seguimos confiantes rumo à fronteira, tentando recuperar o tempo perdido.

    Na fronteira, ainda do lado jordano, mas já com véus na cabeça e sem falarmos com os homens, mostrámos toda a documentação, vistos comprovativos de alojamento. Olhando para o carro, disseram: este carro não pode passar. Têm visto para o carro? NÃO TÍNHAMOS!

    Ligámos para a rent a car que nos disse que nenhum carro particular ou alugado podia pedir visto para passar a fronteira. É sempre necessário cruzar a fronteira com um guia ou motorista credenciado e fluente em árabe para nos acompanhar na viagem…

    E agora? Desistir não era opção. Era o ponto alto da viagem, o pretexto para voltar a Petra, mas o objetivo principal. Ao nosso lado, chegou um táxi para passar a fronteira. Rapidamente pedimos ajuda para encontrarmos um táxi, ou melhor, dois.

    Fez uns telefonemas e consegue. “Têm de ir até Ma´na, a 1h30 daqui. Vão encontrar Zaccaria que vos arranja os carros. Vêm de Amã, demoram 2 horas”.

    No caminho, a gasolina era pouca, pelo que optámos por parar num dos postos de controlo da polícia pedindo para nos ajudarem a chamar alguém que pudesse trazer a gasolina. Mais 1 hora de espera. Ali fomos recebidos pelos guardas como visitas. Ofereceram-nos o seu almoço, as suas maçãs. A hospitalidade jordana é única e valorizam a importância dos visitantes para o desenvolvimento do país.

    Chegou a gasolina e seguimos para Ma´na, onde rezávamos para encontrar os nossos motoristas ou quase estarem a chegar. Numa loja – onde não percebíamos bem qual o negócio – orientaram-nos para entrar. Algumas pessoas do grupo estavam a achar o momento estranho. Não falavam inglês, recorriam ao tradutor. Muito difícil, a conversação. Depois de 10 minutos de dialetos, conseguimos falar com alguém do outro lado do telefone e, decorridos 5 minutos de negociação, garantiram-nos 2 carros dali a 2 horas.

    As 2 horas passaram a 3 horas e meia. O cansaço era muito, já tínhamos perdido as atividades pagas na Arábia Saudita e vislumbrávamos cada vez mais longe a chegada.

    Chegou o primeiro motorista que estava com vontade de iniciar a viagem, mas optámos por seguir juntos. Mais 1 hora e eis que chegou o segundo motorista. Tirámos as malas e seguimos viagem. Chegámos novamente à fronteira, onde os guardas admiravam a nossa persistência.

    Horas depois, e já de noite, atravessávamos a fronteira. Os motoristas estavam nervosos, os guardas do lado Saudita não eram afáveis e nem sequer nos olhavam bem. Passámos o primeiro controle e os restantes que culminavam com cães guarda a farejarem as nossas malas.

    Passámos a fronteira. Era tempo de abastecer os carros, comprar chocolates, águas e sumos para nos ajudarem na viagem. A primeira estrada era boa mas a condução na Arábia Saudita é assustadora. Vemos carros em fúria a ultrapassarem pelas bermas, uma condução Fast and Furious nunca vista.

    Parámos em Tabuque e começámos a outra parte da viagem por estradas piores, com sinalética de possibilidade de camelos na estrada. Estávamos de rastos, mas como qualquer deserto, depois de ultrapassado, chegámos ao oásis.

    Mais do que um oásis, chegámos ao Habitas Alula, um hotel destino integrado nas paisagens naturais de Alula. É ali a porta de entrada para Hegra, o mais recente património da UNESCO, a cidade dos nabateus na Arábia Saudita, encontrada em 2008 e que apenas em 2019 abriu portas ao turismo.

    Chegados ao Habitas Alula, foi como se tivéssemos chegado ao paraíso. Para mim, é o melhor exemplo de beleza, conjugando a simplicidade com o luxo da natureza. Um projeto sustentável e o futuro das tendências para a hotelaria que valoriza o lifestyle e a sustentabilidade.

    Habitas, o nome do grupo, significa Casa que é como toda a equipa tentou fazer-nos sentir. A magia das estrelas num céu azul profundo, um calor do deserto e a sensação de que tudo valeu a pena e, sem dúvida, que toda a sincronicidade de acontecimentos foi para nos trazer aqui.

    Acordámos no paraíso. O pequeno-almoço era dos deuses e aproveitámos a piscina mais bonita do mundo e o hotel que mais queria conhecer de sempre. Expectativas? Altamente superadas.

    Era tempo de tentar mais um milagre, pois as tours compradas para a véspera, se não comparecêssemos, não eram reembolsáveis nem reagendáveis. Fui para a recepção. Num país rigoroso e rígido como a Arábia Saudita, tentar apelar à excepção… desconfio que não conheçam a prática do termo.

    Mas no Habitas todos conheciam a nossa história. A equipa uniu esforços para me ajudar a ter o reagendamento da tour em Land Rover Vintage e reembolso das Heli Tours, que apenas operavam de quarta a domingo e, como era segunda, não conseguíamos o reagendamento.

    Durante 1h30 de espera, falei com Rasha Faris que, estando de folga, me deu o conforto de estarem a tentar ajudar-nos. Disse-me que falaríamos com Ahmad Alblawi que, na ausência dela, nos tentaria ajudar com a empresa parceira, para o reagendamento das atividades.

    Ahmad ligou-me, dizendo que precisava de um documento que provasse o problema que tivemos, pois sem prova não aceitariam o nosso pedido. Falámos com o Zaccaria e, milagrosamente, no seu modus lento, em menos de 1 hora, chegou o documento em árabe explicando o sucedido. Li na expressão de Ahmad que, como eu, estava admirado de termos conseguido. Nunca menosprezar um tuga!

    Na recepção, Fahad tratou de nos entreter e fazer com que o tempo de espera não fosse sentido. De 5 em 5 minutos recebíamos café, chá, frutas, sumos, pulseiras, livros. Olhei o relógio e percebi que tinha passado 1 hora e meia.

    Era altura de fazer a visita ao hotel com o diretor, que nos apresentou o conceito e os fatores diferenciadores do Grupo Habitas para os restantes grupos. Terminada a visita, almoçámos junto à piscina e ali recebemos a resposta afirmativa ao pedido para reagendamento da Tour a Hegra.

    Escoltados pelos nossos motoristas, seguimos para o Winter Park, de onde saem as tours. Estava deserto. Apenas os 2 Land Rover vintage à nossa espera. Mais um sonho realizado, imaginando como seria Petra há 30 anos atrás, como Hegra, com muito poucos visitantes.

    A guia fez uma visita muito interessante. Só lhe víamos os olhos, mas adivinhávamos a sua doçura e simpatia.

    Hegra é uma antiga cidade situada a norte de Hejaz, na Arábia Saudita. Dista 22 quilómetros da cidade de al-Ula e está a cerca de 320 quilómetros de Petra, na Jordânia. Em conjunto, as duas localidades são um testemunho histórico da arquitetura dos povos da região, sobretudo os nabateus.

    Na Antiguidade, a região – denominada Hegra, – era habitada pelos tamudis e nabateus. Os monumentos tumulares apresentam inscrições e gravações do século II a.C., sendo que foram construídos até ao século I d.C., pelos nabateus. Outras relíquias da arquitectura histórica da região datam de períodos posteriores, coincindentes com as civilizações tamudi e liã.

    O Sítio Arqueológico de al-Hijr foi declarado Património Mundial, em 2008, tornando-se a primeira localidade na Arábia Saudita a integrar a Lista do Património Mundial da UNESCO.

    Madaim Salé é, a seguir a Petra, considerada o mais importante testemunho vivo da cultura e arquitectura do povo nabateu. Foram descobertos 131 túmulos esculpidos nas rochas, muralhas, torres e várias esculturas, ao longo de uma área de 16 quilómetros.

    Seguimos de coração cheio de regresso à Jordânia para a reta final desta viagem e 10 horas depois chegaríamos ao Kempinski Hotel, no Mar Morto. Ali dormimos nas melhores camas da viagem e, mesmo num sono supersónico, sentimos o conforto da cama e da roupa que a vestia e nos confortava.

    O Kempinski Hotel Mar Morto é um hotel inspirado nos jardins suspensos da Babilónia. Apresenta um serviço irrepreensível. Tem nove piscinas e acesso ao Mar Morto com grande conforto. Aproveitámos todo o dia no hotel. Outra parte do grupo visitou o local de baptismo de Jesus e participou na cerimónia de baptismo no Rio Jordão.

    Foi um momento alto no final desta viagem que trouxe o aconchego que precisávamos, depois de tantas noites mal dormidas e algumas preocupações. Celebrámos mais um final de dia com um bonito pôr-do-sol nas montanhas israelitas, um cenário de sonho e uma paisagem que não dá para esquecer.


    No final do dia, foi tempo de passearmos pela capital, Amã, onde degustámos os doces tradicionais e nos deixámos levar pelos sons e luzes da cidade ao anoitecer. No caminho para o hotel, passámos pela zona nobre e sofisticada: o Boulevard.

    O dia amanheceu e iniciámos a viagem de regresso a casa, já descomprimidos e com pressa de chegar. Mas ainda tínhamos um dia inteiro em Chipre – mais um país para a coleção.

    Ainda no aeroporto de Amã, quando passei o controlo das malas, um polícia chamou-me pediu-me para abrir a carteira. Fez uma série de perguntas sobre as moedas dos nabateus. Queria ficar com uma delas ao que eu disse, prontamente, que não. Chegou a Interpol e, depois, mais alguns polícias. Perceberam que o horário do voo estava a aproximar-se e pediram o meu número de telefone. Fotografaram a moeda e o meu passaporte.

    Em Chipre, alugámos um carro (parte do grupo regressava via Paris e já não teve tempo de visitar Chipre). Deixámos parte do grupo no Beach Club, onde íamos passar o dia a recuperar as energias, com mergulhos de mar e banhos de sol.

    Seguimos para o Túmulo dos Reis, um parque arqueológico também património da UNESCO, em Paphos, e a apenas 10 minutos da praia onde escolhemos passar o dia.

    Foi um dia de praia muito divertido. A amizade, cooperação e os momentos que passámos e ultrapassámos juntos, fizeram de nós pessoas mais ricas e com a perfeita noção da sincronicidade dos acontecimentos que o Universo tratou por nós, em que tudo acaba bem.

    Que aventura, que viagem! Umas das viagens sem regresso nem repetição.

    Nota: Dedico este artigo a todos e a cada um dos meus companheiros de viagem! Aos beduínos de Petra, em especial Raaed e Ibrahim que trago no coração e que espero continuem a conseguir viver em liberdade e a tornar mágicos os momentos de quem visita a cidade rosa. Dedico também o artigo a Rasha Faris, Ahmad Alblawi, Fahad do Habitas Alula que fizeram tudo para tornar a nossa estadia na Arábia Saudita memorável. Conseguiram!

    Raquel Rodrigues é gestora, viajante e criadora da página R.R. Around the World no Facebook e no Instagram.

  • Uma viagem rara: da Jordânia à Arábia Saudita – parte I

    Uma viagem rara: da Jordânia à Arábia Saudita – parte I

    Rara e desafiante. Esta foi a viagem exclusiva que mais trabalho me deu a organizar e a fazer cumprir. Foram vários dias para preparar um roteiro que orgulhosamente, posso dizer, ninguém fez e nenhuma agência de viagens tem para oferecer.

    Éramos 12 e acabámos por viajar 11. Um destino que em parte conheço bem: foi a minha terceira visita ao Reino da Jordânia. Mais de 2000 quilómetros, em oito dias. Aventuras, imprevistos, algum stress, planos B, partilha, contemplação, amizade e amor. E a mais difícil fronteira terrestre que alguma vez atravessei.

    Foi uma viagem sem preço, onde o céu do deserto abana as estruturas enquanto a riqueza cultural que trazemos no regresso a casa, não tem tamanho.

    Apertem os cintos, preparem as pipocas e deliciem-se com uma das minhas maiores aventuras de sempre.

    Partimos do Aeroporto de Lisboa, Terminal 2, Lisboa-Ciampino (Roma, Itália), com a Ryanair, a companhia aérea que não ofende, não quer ser mais do que o que é e, normalmente, chega sempre a horas.

    De Roma, depois de uma pasta pomodoro no centro da cidade, seguimos para o Chipre, onde passámos a primeira noite antes de um voo de 1h30 nos colocar no Reino da Jordânia.

    Da janela do avião vislumbram-se as pedras rosas, os terrenos áridos e tinha-se a sensação de se chegar a outro planeta.

    Depois de recolhermos os dois carros, um de nove e outro de cinco lugares, iniciámos a nossa viagem com uma pequena paragem em Little Petra que, como o nome indica é uma Petra em ponto pequeno.

    Estávamos perto da hora de encerramento, portanto estivemos com os monumentos só para nós. À saída, cruzamo-nos com autocarros que traziam turistas para jantar em frente aos monumentos, um sinal da afluência turística e do vale quase tudo por estas bandas.

    Mais 20 minutos de caminho e chegávamos ao Infinity Lodge, onde reencontrei o meu guia das últimas duas vezes em Petra, agora com uma filha de dois anos, a mulher e proprietário do Hotel Small World, também em Petra.

    Serviram-nos um jantar típico, com frango e borrego e algumas entradas, alguns doces do Médio Oriente, chá e café.

    Petra by Night estava quase a começar e lá fomos nós – desde o centro de visitantes são quase 30 minutos – pelos canyons outrora iluminados com velas e hoje com efeitos sonoros especiais, turistas barulhentos e lanternas de telemóveis a iluminar o caminho.

    Ninguém quer saber e chegados ao Treasury, o beduíno que outrora tocava flauta num silêncio que nos levava para outra dimensão, foi substituído por amplificadores e um sistema de luz que mais parecia o Museu do Futuro no Dubai.

    Havia polícias a controlar os beduínos, que costumavam fazer as honras da cidade perdida. Um terraço com guarda-sóis, lojas e até carrinhos de golfe para facilitar o caminho, de forma sustentável (dizem eles).

    A Petra by Night que tive o privilégio de conhecer não existe mais e não vale a pena do bilhete nem a caminhada.

    Regressámos ao hotel onde terminei as últimas combinações com Ali, o beduíno que nos levaria a Petra pelo sentido contrário, para assim conseguirmos apreciar a cidade com o mínimo de pessoas possível.

    Depois de um pequeno-almoço do Médio Oriente – ou seja, mistura de salgado e doce, regado a sumos de laranja, chá e café – começámos a nossa aventura. Como habitual, à hora combinada, chegamos à Beduin Village e dali partimos em duas carrinhas pickup para a entrada de Petra, que nos levaria até ao Monastery.

    Foi cerca de uma hora de caminhada, com grau de dificuldade médio, grau este agravado pelo calor que começava a fazer-se sentir, mas, a vista compensava. A caminhada por entre canyons, vistas de cortar a respiração e o deserto de Aqaba como derradeiro vislumbre. Um sonho!

    Parámos numa tenda a meio do caminho onde retemperámos energias com água, café, chá e fizemos algumas compras. Eu apenas comprei duas moedas dos Nabateus.

    Chegámos ao Monastery. A vista era inacreditável e a afluência já era grande. Os cafés de outrora tinham o dobro do caminho, os sumos de romã, laranja ou lima não continuam a cumprir o seu propósito.

    Reencontro o Beduíno que me guiou nas últimas vezes. Não se lembra de mim, desculpa-se dizendo: “é muita gente todos os dias”. Sentimo-nos uma versão fast da humanidade: os turistas iguais a todos enquanto nós os levamos nas memórias e no coração. Conta que casou com a namorada dinamarquesa. O amigo Raaed vive com uma italiana. Um mistério e tradição antiga, os beduínos casarem com ocidentais.

    Começámos a descida para o centro da cidade de Petra, onde almoçámos num género de cantina com capacidade para servir 100 pessoas de cada vez. Indescritível a proliferação de visitantes a Petra.

    Agora era o momento de nos cruzarmos com a quantidade de turistas que seguia para o Monastery e quando chegámos ao Treasury, ainda que com muitos visitantes, eram muito menos dos que chegaram de manhã, desde o momento da abertura de portas.

    Ali, Ibrahim esperava por nós para nos levar a uma das vistas mais bonitas para o Treasury: o monumento mais emblemático de Petra.

    Tapetes, almofadas e sofás tornavam as pedras acolhedoras e com os beduínos sentimo-nos em casa.

    Os beduínos são a alma de Petra, a sua generosidade, disponibilidade e amizade é algo que levo comigo para sempre. O seu jeito nómada e livre faz de Petra um dos lugares mais genuínos de sempre e onde o passado, o presente e o futuro se cruzam ao mesmo tempo. A cidade rosa perdida que sempre adorarei.

    O regresso até aos carros foi feito de burro, uma beleza de caminho e ver as faces dos companheiros de viagem que já não eram os mesmos que entraram na cidade. Petra não deixa ninguém indiferente.

    Seguimos duas horas de caminho até ao deserto, onde vivemos uma das experiências mais incríveis de sempre. Ficámos no local onde foi filmado o filme Perdido em Marte e, era a Marte que parecia termos chegado.

    A tenda dome dava um carácter especial. Ali, definitivamente, o menos é mais. E a noite quente e o céu estrelado foram o palco perfeito para uma contemplação única. A energia das estrelas tirou o sono a quase todos, mas sentíamo-nos energizados quase como por magia. Ali estamos frente a frente para o cosmos, e é ali onde nos sentimos mais perto da eternidade. Uma noite para a história das nossas vidas.

    No silêncio do dia que amanhecia tivemos uma aula de ioga muito especial, adequada ao momento que vivemos, e preparamo-nos para um dia de aventura no deserto. Passeio de Jipe 4×4, almoço, tarde no deserto do Lawrence das Arábias, com final de tarde de camelo até ao local onde avistávamos um pôr-do-sol memorável.

    Dali seguimos para um agradável Aladin Beduin Camp, onde jantámos e pernoitámos para, no dia seguinte, muito cedo partirmos rumo à Arabia Saudita.

    Raquel Rodrigues é gestora, viajante e criadora da página R.R. Around the World no Facebook e no Instagram.

  • Casos gritantes, exasperantes, e muitíssimo inquietantes da péssima comunicação social: 2ª parte

    Casos gritantes, exasperantes, e muitíssimo inquietantes da péssima comunicação social: 2ª parte

    Continuando, de coração apertado, a catastrófica falta de informação sobre a morte do Archie a tentar suster a respiração mais tempo que todos os outros adolescentes em jogo.

    Se ninguém fizer nada em relação aos jogos assassinos do TikTok, já estou a imaginar a próxima catástrofe irresistivelmente apelativa, destinada diretamente e sem vergonha às criancinhas propriamente ditas, que acham sempre muita graça a estas grandes surpresas da História Natural: PUTOS DO MUNDO INTEIRO! Embora fazer um concurso para ver quem é que consegue ultrapassar o recorde do urso polar, que chega a aguentar-se três minutos sem respirar debaixo da água gelada[1], quando fecha as narinas e mergulha atrás das focas!


    … É muito fácil espicaçar as criancinhas para quererem mesmo ganhar um desafio desta envergadura.

    Hey, ganhar aos outros rapazes é uma vitória – mas ganhar aos ursos polares, os maiores e mais fortes ursos do mundo, isso não é só uma vitória, meu, isso é mesmo uma puta glória!

    E então, enquanto os pais se maravilhavam com esta espantosa nova informação – “três minutos? De narinas fechadas? Honey, estou parvo. Já viste bem o que é o poder da evolução?” – era ver as criancinhas a correrem para a praia mais próxima, tirarem a roupa, e mergulharem na água gelada até ao mais longe possível da costa[2]… e morrerem, claro. Não só por falta terminal de Oxigénio, mas também por hipotermia. E atenção, que para mergulhos em mares gelados não é propriamente preciso ir ao Ártico, onde se pode partilhar com o urso polar o seu habitat natural: a água das praias é gelada em praticamente todo o Norte da Europa, sobretudo para mergulhos de quatro minutos.

    Imagina-se facilmente o cenário seguinte, e o que a nossa Comunicação Social nos diria.

    Lá teriam os presidentes de todos os países da Alemanha para cima de decretar três dias de bandeiras nacionais a meia haste. Lá ouviríamos nós sempre as mesmas partes dos mesmos discursos. Lá ficariam os espectadores de Agosto, todos repimpados nas suas espreguiçadeiras, a emborcar uns destilados de fim de dia enquanto se gozavam sempre das mesmas imagens de meia dúzia de progenitores chorosos, falantes de diversas línguas, e de dezenas de corpinhos muito branquinhos dados à praia. E, uma vez mais, nunca haveria mais nada para dizer. Os espectadores em férias seriam a banda sonora.

    C’um caraças, Tó! Olha aqueles, olha aqueles, já viste aqueles putos pequeninos ali na rocha, todos completamente mortos?” – “Ai pai, não gosto nada quando tu dizes os putos” – “Filhota, caladinha se fachavor, o pai agora está a falar com o tio sobre os putos todos mortos[3].

    Clarinha e as outras dores. Algures durante os trinta anos em que foi normal ter uma casinha alugada no Penedo para férias e fins-de-semana da família, Clarinha mostra-nos exemplarmente que ela, ao menos, nunca deixou de ter presentes as dores dos outros e as suas causas

    Estas imagens sem debate eram ainda mais parecidas com uma série de aventuras mórbidas porque, ao longe, se viam outros corpinhos que ainda estavam a ser recolhidos por barcos e mergulhadores, antes que chegassem os tubarões, para que as famílias pudessem dar-lhes uma “despedida condigna”. E lá ouviríamos de meia em meia hora, em imagens da Finlândia aparentemente capturadas por um qualquer Smartfone deveras amador, os pais da pequena Aicha, com um ar destroçado, repetir o dia inteiro “ela sempre foi muito competitiva, e na nossa família sempre tivemos a tradição de mergulhar dentro do gelo…

    Mas alguém discutiu a legitimidade do TikTok para propor concursos virais de morte certa às criancinhas?

    Desculpem, era só uma pergunta retórica.

    Feita apenas porque DEVIA ter sido feita – e, no entanto, NINGUÉM a fez.

    Raios me partam, que isto era material com tantas pontas por onde se lhe pegasse. O que a nossa Comunicação Social desperdiça. E, em consequência, o que todos os Portugueses perdem.

    Clara Pinto Correia é bióloga, professora universitária e escritora


    [1] Isto já é manipular grosseiramente os dados, porque estamos a falar do mergulho mais longo observado até à data: 3 minutos e 10 segundos. Mas, por regra, o mergulho do urso polar fica-se entre um ou dois minutos, não mais.

    [2] Com um bocado de sorte, ainda apanhavam também uma foca…

    [3] A esta hora o pai já lhe tinha chegado bem nos destilados. E, como a maior parte da população deste século, tinha uma dificuldade crescente em distinguir entre realidades e filmes quando estava a ver televisão.

  • O Pacto de Silêncio dos media mainstream vai rebentar quando?

    O Pacto de Silêncio dos media mainstream vai rebentar quando?


    Se um dia nos tivessem dito que iríamos testemunhar uma onda de supressão de informação de relevo para a população, por parte dos maiores grupos de comunicação social, daríamos uma gargalhada. Diríamos que jamais isso aconteceria a não ser que Portugal deixasse, obviamente, de ser uma Democracia. Que a Europa, por qualquer catástrofe, se transformasse numa espécie de “Federação” totalitária. Pois, era isso que faríamos. Mas enganar-nos-íamos, porque esse dia chegou.

    Assistimos nas últimas duas semanas – pelo menos – à divulgação de informação crucial, que em outros tempos seria abertura de noticiários e faria manchete nos diários. Informação tão relevante que tem gerado a indignação de milhões em todo o Mundo.

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    O que fez a imprensa mainstream? Fez aquilo que tem feito nos últimos dois anos. Manteve o Pacto de Silêncio. Simplesmente fingiu e finge que nada aconteceu. Que nenhuma revelação foi feita. Manteve o seu Pacto de Silêncio também com as gigantes tecnológicas. E se um órgão de comunicação social independente ou um jornalista independente noticiasse a informação – como fez em alguns destes casos o PÁGINA UM –, esperava-o o ostracismo e a censura nas redes sociais. Mesmo agências noticiosas – cuja função é noticiar a actualidade e fornecer notícias aos restantes meios de comunicação social – fingem que nada se passa.

    E pur si muove! – assim terá dito Galileu Galilei, quando foi obrigado a renegar a visão heliocêntrica do Universo perante o santo Ofício. Apesar deste Pacto de Silêncio, apesar da censura, passa-se algo. Mesmo que os principais media finjam que não, as pessoas vão acabar por descobrir a informação que está a ser sonegada pela imprensa mainstream, de uma maneira ou de outra.

    Comecemos pelo “segredo” mais mal guardado, porque não se passou numa esconsa cave de uma aldeia recôndita, mas no Parlamento Europeu. Trata-se da audição de uma responsável da farmacêutica norte-americana Pfizer perante os eurodeputados de uma comissão sobre a gestão da pandemia de Covid-19. 

    Audição de Janine Small no Parlamento Europeu

    A representante da Pfizer, Janine Small, admitiu, sem pestanejar, que a farmacêutica norte-americana nunca testou a sua “vacina” contra a covid-19 para apurar se evitaria a transmissão do vírus SARS-CoV-2 quando foi pedida a autorização do uso de emergência para este fármaco. Recorde-se que, há mais de um ano, assumindo que o dito fármaco conseguiria “estancar” a transmissão entre vacinados, foi criado o impensável certificado digital covid, que segregava a população que optava por não se vacinar, quer porque acreditava na imunidade natural, quer porque considerava não estar em grupo de risco, quer por receio dos efeitos adversos, quer por outras quaisquer razões.

    As pessoas que não tinham certificado foram impedidas de viajar, de entrar em restaurantes ou espectáculos, olhadas com desdém ou censura social, colocadas como entes insensíveis, irresponsáveis ou até criminosas. Pessoas foram ameaçadas. Trabalhadores perderam os seus empregos. Cidadãos foram forçados a tomar as novas vacinas para poderem circular, trabalhar, estudar…

    Numa conferência de imprensa realizada ontem, seis eurodeputados exigiram, de novo, que seja fornecida mais informação sobre as vacinas contra a covid-19, muita da qual se mantém secreta. O PÁGINA UM continua a ser o único órgão de comunicação em Portugal que tem lutado por conhecer essa informação, que o Infarmed continua a sonegar desde Dezembro do ano passado e que o Tribunal Administrativo anda para decidir desde Abril.

    Também foi pedida a realização de uma comissão de inquérito sobre a gestão da covid-19 para que os cidadãos europeus possam ser informados sobre a verdade que se mantém escondida em torno da segurança e eficácia das vacinas contra a Covid-19 e os contratos secretos feitos entre a Comissão Europeia e as farmacêuticas.

    Para as pessoas que não tomaram as novas vacinas e que foram perseguidas e discriminadas, apurar a verdade é crucial. Mas o apuramento dos factos é ainda mais importante para os milhões de europeus que foram levados a tomar as novas vacinas, muitos sob coacção.

    Neste tópico, até se compreende que os media mainstream queiram meter a cabeça na areia. Afinal, eles desempenharam um papel fundamental em “vender” as novas vacinas à população e a quase “criminalizar” todos os que não as tomaram.

    Entretanto, do outro lado do Atlântico, no estado norte-americano da Califórnia, uma nova lei prevê a punição dos médicos que se oponham ou meramente questionem as políticas de saúde oficiais. Sim, leu bem. O estado da Califórnia tornou ilegal que qualquer médico discorde do governo em matérias sobre saúde. Se ainda não está chocado, vamos prosseguir.

    Na Califórnia, médicos podem ser punidos se discordarem das orientações políticas.

    Até porque, entretanto, na Florida, as autoridades de Saúde lançaram uma nova recomendação no sentido de não se vacinarem os homens com idades entre os 18 e 39 anos com vacinas mRNA. 

    A recomendação está fundamentada num estudo científico oficial do Departamento de Saúde da Florida que apurou a a ocorrência de um aumento de 84% de incidência de mortes relacionadas com problemas cardíacos entre os homens dentro daquela faixa etária nos 28 dias após a vacinação. Adiantou que, “com o elevado nível de imunidade à covid-19 que existe a nível global, o benefício de vacinar é inferior a este risco anormal de mortes por problemas cardíacos entre os homens neste grupo de idades”. Joseph Ladapo – cirurgião-geral da Florida, homónima da “nossa” Graça Freitas –, doutorado em Políticas de Saúde na Universidade de Harvard, partilhou essa recomendação na sua conta oficial na rede social Twitter

    E o que aconteceu logo? Seguindo a perigosa tendência de censura das grandes tecnológicas, o Twitter apagou-lhe a recomendação oficial. Assim. A onda de choque que o acto de censura gerou fez com que o Twitter voltasse a repor o tweet. Mas o mal estava feito e o sinal dado: já não vivemos numa democracia e foi eliminada a liberdade de expressão no mundo dito ocidental.

    Mas, perguntam: isto saiu em algum órgão de comunicação social mainstream em Portugal? Não vimos nada.

    A prova definitiva – se é que era necessária – de estarmos numa época de censura, ainda mais “apadrinhada” pela imprensa mainstream, chegou após a publicação, no final de Setembro, de um artigo cientifico de um reputado médico e especialista em Medicina Baseada em Evidência. O artigo, que foi revisto por pares, pedia a suspensão da administração das vacinas contra a covid-19 por questões de segurança. O autor do estudo, Aseem Malhotra, até promoveu a toma das vacinas contra a covid-19, mas mudou de opinião devido aos seus efeitos adversos, sobretudo nos mais jovens e jovens adultos, e à baixa eficácia observada na prevenção da infecção e transmissão do SARS-COV-2.

    O Facebook suspendeu a conta do reputado cardiologista por três dias, mas no futuro poderá suspender por muito mais tempo. Malhotra acusou entretanto o Facebook de ser “uma ameaça à democracia” por “deliberadamente suprimir a liberdade de expressão e a verdade sobre o produto mRNA” e frisou que Mark Zuckerberg é um inimigo da democracia e que “é assim que deve ser mencionado”.

    Facebook tem aplicado, nas últimas semanas, “castigos” por causa de posts com referências à covid-19, mesmo se citando artigos científicos.

    Aliás, o PÁGINA UM noticiou as conclusões do artigo científico e foi alvo de censura no Facebook, que apagou também o post sobre a notícia, num aparente “processo de silenciamento em curso“.

    Estas censuras nas redes sociais são tornadas possíveis com a ajuda dos media tradicionais e de supostas empresas de “verificação de factos”, cujas análises, muitas vezes erradas e pobres, conduzem à censura de informação nas plataformas como o Facebook.

    Vale a pena lembrar que as grandes tecnológicas financiam empresas e media para fazerem “verificação de factos”. Ora, estas empresas seguem as guidelines das grandes tecnológicas. Muitas são financiadas quase na íntegra pelas tecnológicas, como sucede com o português Polígrafo que recebeu 860 mil euros do Facebook em apenas dois anos. Isto significou 91% do total das receitas. Ou seja, o Polígrafo trabalha para o Facebook, não para os seus potenciais leitores.

    Ou seja, aquilo que aparentemente seria positivo – a luta contra a desinformação – está a ser o alimento de um “monstro”, promovendo a censura mesmo de factos e informações verídicas, bastando que contrariem aquilo que é “aceite” como “verdade” pelos “verificadores de factos” e as grandes tecnológicas.

    Mas há casos cada vez mais graves, e que transcendem matérias de Saúde e as redes sociais. Na semana passada, a Repórtes Sem Fronteiras denunciou que o Tribunal do Comércio francês ordenou que o jornal Reflets parasse de publicar artigos sobre o grupo Altice e o seu presidente-executivo, Patrick Drahi. A RSF considera a decisão uma “violação da lei da Imprensa”, não apenas porque “o tribunal impõe uma proibição em relação a artigos ainda não publicados” mas também por recusar “aplicar a excepção jornalística especificada na lei sobre segredo comercial”.

    O jornal francês veio já, contudo, garantir que não respeitará o tribunal, mas e aqui: alguém escreveu sobre este tema na imprensa mainstream? Não.

    Para terminar, outra notícia de relevo que praticamente passou despercebida em Portugal – somente o Observador abordou hoje o tema – é a revelação de que a empresa de comunicação e relações públicas Weber Shandwick tanto trabalha para a Pfizer e a Moderna como para a poderosa CDC – Centers for Disease Control and Prevention, a agência de saúde norte-americana, que muito tem promovido a vacinação contra a covid-19, incluindo de crianças.

    Repórteres Sem Fronteiras denunciaram proibição ilegalmente decretada pelo Tribunal de Comércio francês

    Note-se que a revelação foi feita por um pequeno órgão de comunicação social, o The DisInformation Chronicle.

    O óbvio conflito de interesses existente está a gerar celeuma, com a CDC a ser criticada pela contratação daquela firma que está comprometida com as duas fabricantes de vacinas contra a covid-19. A empresa disse ao Daily Mail que levou a cabo um “processo completo de verificação e mitigação para evitar conflitos de interesse”, mas isso parece-nos música para os ouvidos.

    Acontecimentos e informações como os descritos acima, e muitos outros, não são mencionados na maioria dos principais órgãos de comunicação social, os quais são grandes aliados das tecnológicas que operam redes sociais. Estas duas indústrias criaram uma simbiose artificial, alimentada por financiamento e interesses mútuos, para agradar ao grande poder económico e às “autoridades” que dependem de políticos.

    Que existe um Pacto de Silêncio entre os grandes grupos de media nacionais e internacionais e as tecnológicas, que de forma dominadora e em oligopólio operam redes sociais, disso não há qualquer dúvida. Que esse Pacto de Silêncio é já óbvio para muitos, também não há dúvida.

    Quanto tempo vai levar até que essa barragem de censura nacional e global rebente, é a dúvida que permanece.

    A batalha pelo jornalismo, os factos, a transparência, essa vai prosseguir. E todos temos responsabilidade para que o desfecho seja apenas um: a vitória da liberdade e da verdade. O PÁGINA UM não quer apenas testemunhar esse evento; quer agir para que suceda.

  • Os pesos, dois, e as medidas, várias 

    Os pesos, dois, e as medidas, várias 


    O relato desta guerra nas “nossas” televisões (ou noutras, como a impoluta BBC, por exemplo) parece um derby comentado na Sporting TV nos saudosos tempos do Bruno de Carvalho. Não sei se passaram por essa experiência de parcialidade doentia, mas, para quem gosta de tesourinhos, recomendo.

    Ora, sobre um conflito entre dois (ou três) países estrangeiros, eu esperaria nas redacções menos paixão e mais factos. É mesmo mas mesmo difícil encontrar informação dos dois lados. Não ligo muito a propaganda russa ou ucraniana; porém, gostava honestamente de ter algumas notícias credíveis. Esperava, pelo menos que na União Europeia nos deixassem saber o que se vai passando nesta guerra, que a todos afecta. Sem perceber o que lá se passa é quase impossível perceber para onde caminhamos. Sim, porque nesta miséria vamos caminhando juntos.

    green trees under white clouds and blue sky during daytime

    Há dois ou três generais que, nas televisões portuguesas, nos vão dizendo que “no lado mau” não estão todos mortos ainda, enquanto a esmagadora maioria das notícias e dos comentadores passam as 24 horas do dia a explicar como a Rússia está encostada às cordas.

    Neste particular, estou a ficar um fã assumido de Helena Ferro Gouveia, porque me faz sonhar, e alegra a minha vida com pacotes de felicidade de 10 horas. Normalmente, este é o tempo que demoramos a perceber que a Helena não sabe nada do que está para ali a dizer, e que a realidade lhe acaba a mostrar que aquele seu curso de liderança na Academia Militar não faz, enfim, nem fez, pois bem, milagres.

    Antes do ataque à ponte de Kerch, dizia a comentadora, repetindo uma ideia antiga, que os russos estavam com tanta falta de equipamento que andavam a desempacotar caixotes da II Guerra Mundial. No dia seguinte, o exército russo incendiou 17 cidades ucranianas com cerca de 180 misseis, alguns para entreter as defesas aéreas, e outros, de alta precisão, para alvos específicos.

    blue and yellow flag on pole

    Se era este tipo de material que o Putin tinha nos caixotes que voltaram de Berlim em 1945, já compreendo como é que se safaram com o Hitler. Estavam 70 anos à frente do seu tempo tecnológico.

    Seguiu-se o Rogeiro, com uma teoria que o ataque à ponte com o camião armadilhado poderia ser um trabalho interno russo que justificasse o ataque do dia seguinte. É um raciocínio legítimo e até caricato. A avaliar pela ironia e alegria de Zelensky, que fez piadas sobre o céu nublado da Crimeia, posso então acrescentar, à Teoria Rogeiroana, que não só os russos rebentaram a própria ponte e mataram cidadãos seus, como ainda disseram ao Zelensky que tinha sido obra dos serviços secretos ucranianos, para que ele não perdesse o orgulho nos seus.

    Virá alguém agora dizer que é uma técnica clássica de contra-informacão da Guerra Fria, muito típica do KGB. E quem é que estava no KGB na Guerra Fria? Pois… o Vladimir. E assim forma-se um enredo à James Bond em menos de nada – é só querer muito.

    Mas melhor do que nos dizerem que aos russos já só restam pedras e catapultas, vendo-os a disparar 180 mísseis no dia seguinte do Donbass a Lviv, é a forma como se festeja a morte de uns – os que se afogaram na explosão da ponte – e se condena a morte de outros – resultado dos mísseis de resposta.

    black barbwire in close up photography during daytime

    No Leste europeu, as questões de moral e os valores estão bem definidos. Russos morrem aos magotes, e porque querem; ucranianos morrem, poucos, e só se tiverem azar. Festejamos as primeiras, lamentamos as segundas.

    O que se diria, no Ocidente civilizado, se famílias desfilassem para tirar fotografias em frente a um quadro comemorativo com a ponte a arder?

    Cheguei a ouvir que o ataque à ponte tinha sido “espectacular” e a resposta “bárbara”. No fim, e como sempre, o que vejo há alguns meses são diferentes formas de escalada no conflito e uma vontade ardente dos Estados Unidos, Reino Unido e União Europeia de continuar a armar um lado da guerra, como disseram os seus três líderes, “pelo tempo que for necessário”. Na verdade, é uma metáfora para dizer “enquanto os povos europeus conseguirem pagar”.

    Discute-se agora também a proporcionalidade dos ataques. É o mesmo tipo de argumento que usam quando os palestinianos respondem com pedras a carros blindados. Um dia disse-me um israelita, sem se rir: “que culpa temos nós de ter investido no melhor sistema de defesa anti-aérea do mundo e de não sermos afectados pelos rockets de Gaza? Eles que investissem também!!”. E continuou com grande eloquência, dizendo: “se eles só têm fisgas e pedras, que não ataquem alguém com um arsenal maior!”

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    Nesse caso em concreto, é bom lembrar, ninguém quer saber quem invade quem. Ninguém paga para o invadido se defender. E não, não é whataboutismo… é sem tirar nem pôr a mesma situação. Com um início semelhante, um invasor e um invadido, e um fim ligeiramente diferente. O invasor é que recebe o apoio da comunidade internacional e o invadido vai viver para uma gaiola, sem piar muito.

    Já no Donbass e na Crimeia essa teoria não funciona. Quem tem o maior arsenal não o deve utilizar sob pena de entrar no “clube das bombas pela guerra”, uma vez que já todos sabemos quem tem a patente das “bombas pela paz”.

    Mas o que mais me impressiona é o espanto e a indignação que por cá se faz com a resposta russa. Andam há meses a dizer que a extrema-direita e a oligarquia do Putin dominam o poder na Rússia – é um facto. Que o homem não é de confiança – é outro facto. E que tem, para além de armamento nuclear e um exército enorme, aspirações imperialistas – também parece real. Mas, mesmo assim… acham boa ideia “cutucar onça com vara curta”, como diriam os nossos irmãos brasileiros.

    Não percebo. Todos parecem, de facto, achar que os russos estão fracos e sem botas para os soldados. E não sei bem como…

    Entretanto, para ajudar na “festa”, com a escalada da violência, e mísseis apontados agora a outras cidades europeias e americanas, entra o lunático do Lukashenko em cena. Alguns dos mísseis deste último ataque partiram de território bielorusso, oficializando de certa forma a aliança que já era mais do que assumida.

    gray and brown camouflage nutshell helmet on table

    Numa comunicação feita para que Zelensky e a NATO percebessem os passos seguintes, Lukashenko afirmou que o ataque de resposta à ponte pareceria uma brincadeira, comparado com o que ele faria caso os ucranianos tocassem num metro que fosse da Bielorrússia; e para o seu povo disse que a Ucrânia e a NATO preparavam uma invasão à Bielorrússia.

    Não é difícil perceber, pelo tamanho da alucinação, que Lukashenko está a ler um discurso preparado por Putin, e que, a partir de agora, o seu envolvimento no conflito será real. Portanto, a cada semana que nos dizem que os russos estão desmoralizados e sem armas, eles sobem um nível e rebentam mais qualquer coisa.

    Enquanto isso, começo a achar que as análises da Helena Ferro Gouveia já passam em horário nobre, e com legendas, em Kiev. E o Zelensky não deve perder uma.

    Tiago Franco é engenheiro de desenvolvimento na EcarX (Suécia)


    N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.

  • Um crime saído de onde menos se esperaria: uma Resolução do Conselho de Ministros

    Um crime saído de onde menos se esperaria: uma Resolução do Conselho de Ministros


    Não, não se trata do Pedro Nuno e dos contratos manhosos do pai, nem se trata da Ana e dos contratos manhosos do marido, nem sequer se trata do Costa e da compra de apartamento em Lisboa, nem se trata das golas, nem do SIRESP, nem do Ministro da Saúde e da sua empresa de consultoria na área da saúde.

    Nada disso. Trata-se de legislação, cozinhada durante meses, que teve contributos de muitos sectores, que teve contributos de cidadãos moradores das zonas onde esta nova legislação terá mais impacto e de outros que se interessam pelo futuro que nos estão a traçar.

    E eis que, de repente, na véspera de um feriado, sai para a luz do dia aquilo que dificilmente não se pode deixar de classificar como um crime.

    E o crime vem de dentro do local de que menos podíamos suspeitar. De dentro da Presidência do Conselho de Ministros. E o crime chama-se Programa da Orla Costeira (POOC) de Espichel-Odeceixe, aprovado pela Resolução do Conselho de Ministros n.º 87-A/2022 de 4 de Outubro de 2022, publicado no número 192 do Diário da República, 1.ª série.

    Eis um pequeno excerto:

    Em modelo territorial foi identificada uma Área Crítica de Contenção, na península de Tróia, onde importa adequar os regimes de salvaguarda definidos, com a prossecução de objetivos de manutenção do equilíbrio do sistema costeiro e preservação da linha de costa. Trata-se de um setor com dinâmica dunar de elevada complexidade e equilíbrio frágil, na qual o coberto vegetal desempenha um papel primordial. Pretende-se, assim, garantir a proteção dos valores biofísicos e funções ecológicas associadas, com vista à contenção de qualquer alteração de carga no sistema e à preservação do cordão dunar existente, e sua evolução natural, enquanto primeira linha de proteção face aos fenómenos de erosão e de galgamento, assumindo particular relevância em cenários de alterações climáticas e impactos associados às incertezas nas projeções do clima futuro.

    Este pequenino trecho é bem indicativo do cinismo com que esta legislação foi criada e da total falta de vergonha de quem a aprovou.

    Senão vejamos.

    A área de que se fala é uma zona que em breve vai ser destruída às mãos do projecto denominado Conjunto Turístico “Na Praia”. À conta deste projecto, vamos assistir à destruição de uma das dunas mais bem preservadas da Europa, à destruição de vários endemismos lusitânicos, a maior pressão sobre o território, a maior pressão sobre os recursos hídricos.

    Ou seja, vamos assistir a tudo aquilo que se pretende prevenir e pretende compatibilizar. Sim, porque as cabeças que conceberam esta legislação, como não têm a coragem de proibir determinados usos do território, tentam compatibilizar tudo, como se tudo fosse compatível com tudo. Não é verdade.

    Mas ao mesmo tempo que faz isto, o legislador comete o crime de ver o território, única e exclusivamente, de uma perspectiva utilitarista. O território é suporte de actividades económicas, o território é suporte de recursos, potenciador de recreio, de turismo, de actividades agrícolas, etc.… etc.… e o território a tudo tem de se adaptar, os ecossistemas tudo têm de suportar, os recursos hídricos são infinitos.

    greenhouse interior

    E faz tudo isto sob o manto dos princípios da precaução e da prevenção, invocando o princípio da sustentabilidade e da, imagine-se, solidariedade intergeracional, da coesão e da equidade. É preciso não ter vergonha…

    E, senhores e senhoras, a cereja no topo do bolo é a abertura mais despudorada, a mais criminosa das legalizações da ilegalidade a que se assistiu nos últimos tempos. Uma verdadeira amnistia ao crime que se pratica no parque natural do sudoeste alentejano.

    Mais um trecho:

    Considerando a importância socioeconómica das atividades agrícolas e florestais em algumas zonas da área de intervenção, o programa deverá contribuir para salvaguardar e potenciar o desenvolvimento sustentável destes setores, assumindo como principais desafios: assegurar a compatibilidade das atividades e usos agrícolas e florestais com outros usos; salvaguardar as áreas correspondentes a infraestruturas de apoio que servem de suporte a estas atividades (nomeadamente estufas); promover condições regulamentares favoráveis à concretização das potencialidades reconhecidas no domínio da agricultura, nomeadamente na região do sudoeste alentejano; promover a articulação e a defesa dos interesses dos diversos agentes, de modo a preservar a prática agrícola e florestal.

    three children playing at the beach

    A área em causa, já não é a península de Tróia, mas o Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina, mais concretamente, o perímetro de rega do Mira, que agora fica com aquilo que não tinha. A legalização da actividade predatória que ali é desenvolvida. O completo desrespeito pelo território, pela biodiversidade, pelos recursos naturais, pelas populações agora colocado em letra de forma, num diploma legal, aprovado por todos os ministros desta República.

    Sempre a mesma visão utilitária, a protecção de sectores que se comportam como predadores, e uma protecção explícita do plástico que invade a costa vicentina e com este empurrão, ganhará certamente nova força. “Salvaguardar as áreas correspondentes a infraestruturas de apoio que servem de suporte a estas actividades (nomeadamente estufas)”. Completamente de cócoras…

    “Se a injustiça é parte inevitável do atrito produzido pela máquina do Governo, que seja! (…) No entanto, se a natureza desse mecanismo exigir que nos tornemos agentes da injustiça, então não há que hesitar: a lei não deve ser cumprida. Há que agir contra a máquina e pará-la. Não podemos, de modo algum, transformar-nos nos agentes da injustiça que condenamos” – assim escreveu há 160 anos o filósofo e naturalista Henry David Thoreau na sua obra Desobediência civil.

    purple flowers in tilt shift lens

    Estas palavras escritas nunca se mostraram tão actuais. É necessário resistir contra leis injustas como é o caso desta Resolução de Conselho de Ministros. Não nos podemos tornar, por omissão, agentes da injustiça.

    Resistir é, desde logo, denunciar. Mas é, igualmente, fazer tudo para destruir este diploma iníquo. As associações ambientalistas, os movimentos de cidadãos, as populações devem mobilizar-se.

    Rui Amores é advogado.


    N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.

  • A saúde nas prisões 

    A saúde nas prisões 


    Quando se criticam os maus cuidados de saúde nas cadeias portuguesas, a resposta mais usual é a de que, de um modo geral, não é grande a diferença entre os cuidados prestados aos utentes reclusos e aos cidadãos em liberdade.

    Ainda que tal fosse verdadeiro – mas não é – o problema é que, estando o cidadão em reclusão ao cuidado do Estado, e sem possibilidade de recorrer a cuidados diferentes daqueles que o Sistema Prisional lhe confere, este terá de lhe garantir um tratamento eficaz e digno.

    O que, habitualmente, não acontece.

    man in black long sleeve shirt raising his right hand

    O facto dos reclusos não poderem beneficiar, na íntegra, do Serviço Nacional da Saúde, o que, há que reconhecer, é de difícil aceitação, ajuda a perceber a origem de muitos problemas.

    Um enfermeiro especialista, que já prestou serviço em vários Estabelecimentos Prisionais, considerou que o recurso a “outsourcing para necessidades permanentes” é um “flagelo”.

    Deu como exemplo uma proposta de trabalho, que recebeu por parte de uma empresa de trabalho temporário, a “CV Healthcare Solutions”, denunciando que “as empresas pagam menos de 5 euros à hora aos enfermeiros”, o que “desmotiva e desqualifica o serviço”, contribuindo para a “situação dramática existente nos estabelecimentos prisionais ao nível dos cuidados de saúde”.

    Nada de estranhar se tivermos em conta a falta de cuidado na análise às propostas das empresas concorrentes à “exploração” das enfermarias das quarenta e nove cadeias portuguesas.

    black and gray stethoscope

    Como prova o facto de a que ganhou o concurso, não há muitos anos, ser propriedade de um recluso, no Estabelecimento Prisional de Coimbra, que a geria a partir da cadeia.    

    Em Julho de 2017, o então director-geral dos Serviços Prisionais, Dr. Celso Manata, dizia à Rádio Renascença que as prisões tinham “menos de metade dos enfermeiros de que precisavam”.

    E acrescentava: “A nível operatório temos unidades completamente fechadas. Os médicos que estão aqui, e os enfermeiros, têm sido heróis, porque praticamente têm feito omeletes sem ovos”.

    Nada disse, como é habitual, sobre o resultado que tais falhas tiveram no que concerne aos reclusos doentes.

    Talvez esperando que o cidadão normal pense que ficou tudo bem graças a heroicidade dos profissionais de saúde.

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    Não querendo pôr em causa a qualidade técnica e o empenho pessoal dos mesmos (que, bem ao contrário, faço questão de realçar) a verdade é que não podemos esperar “ad aeternum” que essa entrega seja suficiente para resolver, por si, problemas de extrema gravidade.

    Até para defesa dos próprios médicos e enfermeiros que aceitam correr riscos por falta de alternativa. 

    Contrariamente ao que seria de supor os próprios responsáveis pelo Sistema Prisional são críticos desta solução.

    O Dr. Celso Manata confessou, publicamente, que “do ponto de vista económico, as empresas médicas, nas cadeias, são uma má resposta porque como o médico está sempre a rodar, não conhece a pessoa, pede os exames todos e prescreve toda a medicação que lhe é pedida”.

    Outra medida nunca devidamente explicada foi a decisão de substituição da Central de Compras de Medicamentos (que tinha sede no Hospital Prisional de Caxias) pela possibilidade de os diversos Estabelecimentos Prisionais comprarem muita da medicação destinada aos seus reclusos.

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    Não só os medicamentos ficaram mais caros – por ser diferente adquiri-los através de uma central de compras ou por quarenta e nove Estabelecimentos, alguns deles com umas dezenas de reclusos – como a ruptura de stocks se tornou, em muitos deles, mais frequente. Para não dizer constante.

    À APAR – Associação Portuguesa de Apoio ao Recluso chegam diversas queixas, de muitos reclusos, contra a falta de alguns medicamentos e, mais estranho, contra o facto de terem de ser os seus familiares a comprar alguma da medicação que necessitam.

    Incluindo a receitada pelos médicos dos Estabelecimentos Prisionais.

    Algo que pensávamos proibido mas que é, de qualquer modo, incompreensível e condenável a todos os títulos.

    Seria importante saber se os Ministérios da Justiça e da Saúde têm conhecimento desta situação e se concordam com a mesma.

    A entrega de medicamentos fora de prazo, ou sem data de validade visível, ou com rótulos e documentação em língua estrangeira, tudo ilegalidades de extrema gravidade, é comum em todos as prisões e foi profusamente documentada por um Delegado da “APAR”, farmacêutico, que dessas situações deu conta a todas às entidades sem resultado algum.

    A dispensa de medicamentos, feita por enfermeiros e guardas, sem luvas, retirando-os do “blister” e entregando-os na mão do preso, é a rotina diária que tem, como consequência, a alteração da composição qualitativa e quantitativa provocada pelo contacto directo com a luz, humidade, calor e conspurcação das mãos.

    Resultado de tudo isto – e de muito mais com que poderia encher dezenas de páginas – são os trágicos números de mortes nas cadeias portuguesas: 50 por 10.000 reclusos.

    O dobro da média europeia, segundo as “Estatísticas Penais Anuais do Conselho da Europa” que comparam a situação prisional nos 47 países membros e podem ser consultadas em relatórios anuais.

    Nos últimos cinco anos morreram, nas nossas cadeias, 303 reclusos.

    Inexplicavelmente, só seis dessas mortes foram investigadas pela Polícia Judiciária, embora a Lei obrigue a que sejam todas.

    Nada de grave.

    Falamos de presos que, todos sabemos, são cidadãos de segunda e não dão votos.

    Vítor Ilharco é secretário-geral da APAR – Associação Portuguesa de Apoio ao Recluso


    N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.

  • Os fact-checkers e o suicídio da Ciência: os mosquitos agora andam sempre por cordas

    Os fact-checkers e o suicídio da Ciência: os mosquitos agora andam sempre por cordas


    Antes, os debates científicos faziam-se na academia e nas revistas científicas. Sempre. Era modo lento, mas eficaz. A Ciência não evolui segundo a espuma dos dias. Outros tempos. Agora, a Ciência impõe-se na Internet, consolida-se nas redes sociais. O debate científico ganha-se no imediato, elimina-se uma tese em meia dúzia de dias, bastando para a vitória que se tenha a possibilidade de decretar um veredicto, geralmente através de um popular fact-checking reconhecido, por exemplo, pelo Facebook.

    Isto a pretexto de um artigo científico do cardiologista Aseem Malhotra, publicado em 26 de Setembro passado no Journal of Insulin Resistance, e da sua validade científica.

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    O PÁGINA UM divulgou-o três dias mais tarde, pela relevância da temática, e porque começam a surgir cada vez mais estudos independentes sobre os efeitos adversos das vacinas contra a covid-19. A restante imprensa mainstream ignorou completamente. Se juntarmos a postura obscurantista das farmacêuticas e das entidades de regulação – veja-se o exemplo do Infarmed –, dar destaque a este tipo de estudos visa sobretudo lançar o debate.

    Porém, não pode ser tolerável a manutenção do modus operandi dos dois primeiros anos da pandemia que impuseram um unanimismo e uma ausência de debate, através da ostracização e mesmo perseguição de todos aqueles que, muitas vezes com argumentos sólidos, procuraram “dar luz” a um problema.

    Sobre o artigo de Malhotra – e até mais ainda o da autoria de um grupo de investigadores italianos, que o PÁGINA UM divulgou no passado dia 6 de Outubro –, esperar-se-ia um amplo debate. Mas tal não sucedeu.

    Aquilo que ocorreu foi um veredicto na Science Feedback feito por Iria Carballo-Carbajal, uma reputada especialista catalã… em doença de Parkinson, que determinou que o artigo de de Aseem Malhotra não tem “suporte científico” (Unsupported), acusando-o também de cometer cherry-picking.

    A análise do artigo de Aseeem Malhotra no Science Feedback (secção Health Feedback) foi feita apenas oito dias após a sua publicação original.

    Este tipo de veredictos fulminantes (nas palavras e na rapidez) supostamente científicos são, na verdade, a anti-Ciência no seu máximo esplendor, porque não são isentos nem ingénuos.

    A análise académica de um artigo científico não se faz em meia dúzia de dias nem é publicado num site de fact-checking. Até porque o site em causa, embora seja se apresentado como “uma organização apartidária e sem fins lucrativos dedicada à educação científica”, está longe de provar a sua independência.

    Com efeito, a Science Feedback, além de fazer recrutamento de cientistas para que ali escrevam, é membro da denominada Vacine Safety Net, promovida pela Organização Mundial da Saúde, e que tem como membros (financiadores) diversas entidades governamentais (como o CDC) ou dos lobbies associados ao sector farmacêutico, como a GAVI, ligada à Fundação Bill e Melinda Gates.

    Além disso, apesar de compor uns bonitos Communuty Standards, não revela quem são especificamente os seus responsáveis (apenas os editores), nem sequer tem um contacto físico ou um endereço de correio electrónico directo. A comunicação faz-se por mero formulário. Anda-se, enfim, a brincar com coisas sérias. A Ciência não se pode basear em coisas destas.

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    Pode até o estudo de Malhotra – e tantos outros – serem uma fraude, tal como foram muitos outros que apresentaram as vacinas como contribuindo para a imunidade de grupo – e que levaram à iníqua segregação de não-vacinados em Estados democráticos durante meses – ou que cantaram loas a absurdas medidas não-farmacológicas.

    Porém, uma coisa me parece evidente: para se “derrotar” uma tese ou um artigo científico dever-se-ia sempre seguir a “velha escola”, ser feita através de um debate na academia, e não através das redes sociais, onde fact-checkers, de mãos não completamente impolutas, sentenciam que determinado “herege” não merece falar e deve ser silenciado.

    A Ciência não pode continuar a portar-se assim. Será o seu suicídio.

  • Do processo de silenciamento em curso

    Do processo de silenciamento em curso


    Não sou adepto de teorias da conspiração.

    Acredito sim na relação causa-efeito, nas consequências da acção-reacção,

    Ora, perante isto, digo sem qualquer dúvida: o PÁGINA UM está sob ataque.

    Não estou surpreendido, mas apreensivo, porque sinto que se está perante um processo de silenciamento em curso – que esse processo em plena democracia venha a ter sucesso, significará que vivemos (já) afinal em ditadura.

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    Suspeito fortemente da razão desses ataques. Para não dizer que sei.

    Mesmo com meios ridiculamente baixos em comparação com os media mainstream, o PÁGINA UM tem causado dissabores ao status quo e provocado estremeções numa certa podridão que se vive na sociedade portuguesa – e que, infelizmente, não é fenómeno único na Europa, em especial desde 2020.

    Com independência, objectividade e rigor, o PÁGINA UM tem denunciado uma “narrativa mal-contada” durante a pandemia, com sonegação e manipulação de informação, a par de uma promiscuidade institucional no sector dos media – que extravasa a outras sectores fora da Saúde –, englobando a imprensa e órgãos reguladores, como a Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) e a Comissão da Carteira Profissional de Jornalista (CCPJ).

    Temos também colocado processos de intimação a diversas entidades com funções públicas por recusa de acesso a documentos administrativos. São já 13 casos, a que se adiciona uma providência cautelar. Juntam-se cerca de duas dezenas de queixas na Comissão de Acesso aos Documentos Administrativos. Não é nada normal este procedimento. Os jornalistas são, na verdade, com poucas excepções muito respeitadores do poder. Aceitam um não. Muitos. Ou nem sequer fazem as perguntas que merecem um não do poder.

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    Por isso, nunca se poderiam esperar, a não ser através do PÁGINA UM, processos de intimação no Tribunal Administrativo contra entidades como o Conselho Superior da Magistratura, o Ministério da Saúde, o Infarmed, a Ordem dos Médicos, a Entidade Reguladora para a Comunicação Social, o Instituto Superior Técnico, etc..

    Mostrámos também, nas últimas semanas, que o PÁGINA UM é capaz, mesmo com parcos meios financeiros, de fazer concorrência à grande imprensa mainstream, tendo feito “cachas” nos casos da ministra da Coesão Territorial e do ministro da Saúde. Faríamos mais, não duvidem, com mais meios financeiros; talvez com a introdução de publicidade ou de conteúdos pagos, mas queremos manter a filosofia da nossa criação. A nossa fragilidade é, na verdade, a nossa força. O PÁGINA UM quer mostrar que mesmo frágil se pode vencer.

    Porém, não somos ingénuos. O PÁGINA UM tem imensas fragilidades, sendo que a principal é estar dependente, para a divulgação das suas notícias e obtenção de apoio dos leitores, das redes sociais como meio de difusão.

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    E, de repente, nas últimas semanas, tenho recebido uma sequência inaudita de estranhas sanções provenientes das redes sociais, com destaque para o Facebook, afectando também directa e indirectamente o PÁGINA UM.

    Em 4 de Setembro passado levei um aviso do Facebook, porque escrevi sobre os efeitos adversos das vacinas contra a covid-19, citando um artigo científico publicado na revista Vaccine intitulado “Serious adverse events of special interest following mRNA COVID-19 vaccination in randomized trials in adults”.

    No dia 30 de Setembro, novo castigo do Facebook, desta vez com uma sanção de 24 horas de silenciamento, e ainda avisos de “desinformação” e castigos a quem tivesse partilhado o post do PÁGINA UM. Causa: divulgação de uma notícia baseada em mais um artigo científico na revista Journal of Insuline Resistance intitulado “Curing the pandemic of misinformation on covid-19 mRNA vacines through real evidence-based medicine”.

    A censura do Facebook foi feita num post em que se escrevera o seguinte: “Para ler agora no jornal PÁGINA UM, esperando que a divulgação desta rigorosa notícia de um órgão de comunicação social reconhecido pela ERC e escrito por dois jornalistas com carteira profissional há mais de 25 anos não seja alvo de qualquer tipo de censura ou shadow banning… Testemos também a Democracia em pleno século XXI.”

    Síntese das “castigos” aplicados pelo Facebook.

    E agora, nova sanção, esta madrugada, com a indicação de que a minha “publicação repete informações falsas sobre a covid-19 que desrespeitam os nossos Padrões da Comunidade”. E qual a causa? Um simples post com uma “memória” em que recordava que há um ano a Comissão de Trabalhadores da RTP tinha proposto uma segregação dos funcionários que não se tivessem vacinado, impedindo-os de usar espaços comuns. Apenas escrevi: “Foi há um ano. Alguém sabe se estes senhores jornalistas pediram já desculpa?” Nada mais.

    Foi servido um castigo de três dias.

    Próximo castigo será de sete dias, e depois de 30 dias, e provavelmente o silenciamento absoluto, tachado de “desinformação” ou de “perigo para a saúde pública” ou de “risco para o bem comum”.

    Neste momento, o Facebook faz a mais execrável e cobarde Censura, porque nas ventas de um Estado dito democrático, que nada faz para defender a liberdade de expressão e de imprensa, cometendo tudo isto através de torpes difamações e sem resposta (ainda) possível.

    O Facebook, tal como outras redes sociais, transformaram-se em monstros sem rosto (não há forma sequer de a contactar ou obter uma resposta) que minam a democracia – mas a culpa nem sequer é dele, mas das autoridades.

    Mas o Facebook é mais do que isso. É uma empresa que agora aprecia agradar aos Estados até para evitar mais multas por sucessivos atropelos legais na União Europeia e no Reino Unido.

    Não custa assim a acreditar que esta sequência de castigos – que não devem parar – seja uma manobra concertada para silenciar o PÁGINA UM. Não há coincidências. Se não for com a envolvência directa da empresa, pelo menos por via de um algoritmo que, de repente, se tornou absurdamente sensível na aceitação de denúncias dos haters, culminando em censura e castigos por dá-cá-esta-palha, mesmo quando se citam estudos científicos ou se recorda episódios absurdos de segregação do passado.

    E tudo isto se faz perante um silêncio cúmplice da imprensa mainstream. Acredito até que assistam com alguma satisfação. Compreendo-os: não os tenho também “poupado”, exactamente por, em muitas e variadas situações, não estar essa imprensa a honrar a nobre função do jornalismo. Se eles não denunciam tanta coisa que deveriam denunciar, porque motivo denunciariam um processo de silenciamentos em curso de alguém que os incomoda?

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    O PÁGINA UM vai tomar, com os meios possíveis, providências judiciais nem que seja para confirmar que vivemos numa República das Bananas, onde uma empresa pode censurar e difamar cidadãos e jornalistas, e restringir até a liberdade de expressão, sob princípios que nada têm de científico nem de bem comum.

    Até porque, ao longo deste seu ano de existência, o PÁGINA UM soube e quis sempre noticiar com responsabilidade e rigor. E também independência, que é algo que sempre incomodou o poder.

    E faço aqui uma promessa: apenas desistirei quando constatar que vivemos já em ditadura. Aí, confesso-vos, se tal desgraça suceder, emigro merecidamente, porque lutei até ao limite para não viver numa ditadura. E deixo neste rectângulo aqueles que nada fizeram para manter viva a democracia.


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