Categoria: Imprensa

  • #TwitterFiles: Trump foi banido pela administração anterior do Twitter apenas por razões ideológicas

    #TwitterFiles: Trump foi banido pela administração anterior do Twitter apenas por razões ideológicas

    Sem motivos válidos para silenciar Donald Trump, no início de 2021 os executivos do Twitter definiram uma estratégia para suspenderem a conta do então ainda presidente dos Estados Unidos. A pressão de funcionários da rede social venceu e a conta de Trump foi suspensa a 8 de Janeiro do ano passado, dois dias após a invasão do Capitólio. Enquanto isso, as contas de outros líderes políticos mundiais não foram suspensas, apesar dos conteúdos gravíssimos de alguns dos seus tweets. Esta é a mais recente revelação dos chamados “Twitter Files”, que têm demonstrado ainda como a rede social censurou vozes conservadoras, protegeu o então candidato presidencial democrata Joe Biden, e silenciou cientistas de topo que se mostraram contra as medidas de combate à covid-19.


    O Twitter decidiu banir Donald Trump a 8 de Janeiro de 2021, dois dias após a invasão ao Capitólio, apesar de os funcionários terem reconhecido explicitamente, em mensagens internas, que o antigo presidente norte-americano não tinha violado nenhuma das regras da rede social com os seus dois últimos tweets.

    Nas publicações em causa, feitas durante a manhã do dia da sua suspensão, Trump informava que não estaria presente na cerimónia de inauguração de Joe Biden. Escreveu ainda: “Os 75.000.000 grandes Patriotas Americanos que votaram em mim, AMERICA FIRST [América em primeiro], e MAKE AMARICA GREAT AGAIN [fazer a América grande outra vez], terão uma VOZ GIGANTE no futuro. Não serão desrespeitados nem tratados injustamente de forma nenhuma!!!”.

    Divulgadas durante a tarde de ontem pela jornalista Bari Weiss, as novas informações da quinta parte de “Twitter Files”, revelam as conversas entre os executivos da empresa que resultariam na eliminação da conta de Trump. [Pode ler aqui a cobertura que o PÁGINA UM tem estado a fazer deste caso.]

    Donald Trump

    Entre exclamações e congratulações, a suspensão de Trump foi efusivamente celebrada pelos funcionários da rede social. “Well this feels like a piece of history” [“bem, isto parece histórico”, comentou um deles]. Com efeito, como adianta Bari Weiss, vários membros do staff consideravam mesmo que a decisão só pecou por tardia.

    Houve, no entanto, alguns funcionários que não aprovavam a decisão. Um deles explicou: “talvez porque venho da China, percebo muito bem como a censura pode destruir o debate público”. Ao que obteve como resposta de um colega: “eu compreendo esse receio (…), mas a censura pelo Governo é muito diferente de censura ao Governo”.

    Os funcionários do Twitter não escondiam a vontade de banir Trump da rede social, e mais de 300 chegaram a redigir uma carta aberta, publicada pelo Washington Post, que instava o então presidente-executivo da empresa, Jack Dorsey, a tomar essa decisão.

    Mas havia um problema. A deliberação da equipa do Twitter responsável por ‘avaliar’ os tweets era clara: Trump não tinha violado nenhuma regra. Anika Navaroli, uma executiva da rede social, informou o staff: “[o departamento de] Segurança analisou o tweet de DJT [Donald John Trump] e determinou que não houve, desta vez, nenhuma violação das nossas regras”. 

    white ipad on red textile

    Não satisfeitos com o comunicado, menos de duas horas depois, alguns funcionários argumentaram que Trump incitou à violência de forma “codificada”. Vijaya Gadde, chefe do departamento de “Leis, Políticas e Confiança”, lançou dúvidas sobre se, os “patriotas americanos”, que Trump disse que “não iriam ser desrespeitados nem tratados injustamente de forma nenhuma” seriam os “invasores” do Capitólio. Estava assim dado o mote. Algumas horas depois, o Twitter anunciaria a suspensão por tempo indeterminado de Trump devido a “risco de incitamento acrescido à violência”.

    Depois de finalmente atingirem o seu objectivo, os funcionários do Twitter já engendravam novos actos de censura. Um membro da equipa disse que a conta de Donald Trump Jr [filho de Trump] “tinha também de ser fechada”. Outros, por seu turno, congeminaram então um combate à alegada “desinformação médica”. 

    Como destaca a jornalista Bari Weiss, a decisão de banir o antigo presidente norte-americano por “incitamento à violência” acaba por ser caricato face à ausência de reacção de tweets de outros líderes políticos com apelos directos e explícitos à violência e à discriminação.

    selective focus photography of stop road sign

    Foi o caso de um tweet do antigo primeiro-ministro da Malásia, Mahathir Mohamad, que afirmou em Outubro de 2020 que “os muçulmanos têm o direito de estar zangados e a querer matar milhões de franceses”. O Twitter apenas removeu a publicação por “glorificar a violência”, mas Mohamad não foi expulso da rede social.

    E há mais. Em Fevereiro de 2021, o governo do primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, ameaçou deter funcionários do Twitter na Índia por terem readmitido centenas de contas que o criticavam. Também esta situação não mereceu a suspensão da conta de Modi.

    Para além destes, Weiss refere ainda casos de dualidade de critérios do Twitter, que envolvem, por exemplo, o líder supremo iraniano, Ayatollah Khamenei, o actual presidente da Nigéria, Muhammadu Buhari, e o primeiro-ministro da Etiópia, Abiy Ahmed.

    Os antigos executivos do Twitter nunca suspenderam a conta do líder supremo do Irão, Ayatollah Khamenei,
    apesar do conteúdo de alguns dos seus tweets.

    Após a suspensão da conta de Donald Trump, algumas figuras políticas internacionais – incluindo o presidente francês Emmanuel Macron e a antiga chanceler alemã Angela Merkel – ainda chegaram a condenar a decisão. E Alexei Navalny, líder da oposição russa, qualificou, na altura, a conduta do Twitter como “um acto inaceitável de censura”. Mas a antiga administração da rede social manteve o banimento.

    Bari Weiss concluiu a quinta parte de “Twitter Files” explicando que não são as “decisões executivas” de uma rede social que estão em causa nesta investigação, mas o “poder de uma mão cheia de pessoas de uma empresa privada para influenciar o debate público e a democracia”.

  • #TwitterFiles: Musk quer Fauci no banco dos réus

    #TwitterFiles: Musk quer Fauci no banco dos réus

    No dia em que o Twitter admitiu ter criado regras exclusivas para banir o antigo presidente dos Estados Unidos Donald Trump da rede social, Elon Musk partiu para um ataque contra Anthony Fauci. Numa curta mensagem (tweet), o novo dono do Twitter escreveu de forma irónica: “Os meus pronomes são Processar/Fauci”. Antes, Musk publicara um tweet com uma imagem cómica (meme), tendo Fauci como alvo. O conselheiro-chefe para a saúde do presidente dos Estados Unidos tem sido o rosto de defesa de medidas rígidas, sobretudo durante a Administração Biden, como os confinamentos e o uso de máscaras, e também da toma obrigatória das várias doses de vacinas contra a covid-19. Musk, que lidera também a Tesla, tem estado a divulgar indirectamente documentos internos do Twitter que mostram como a rede social aplicava técnicas de censura a contas e conteúdos, incluindo de cientistas que criticavam a gestão da pandemia.


    O Twitter admitiu hoje que criou uma política nova para poder banir da rede social o antigo presidente dos Estados Unidos Donald Trump. Mas, enquanto continuam a ser divulgados os “Twitter Files”, com as antigas práticas de censura aplicadas pela rede social, o novo dono do Twitter, Elon Musk, atraiu as atenções com um ataque feroz que lançou contra Anthony Fauci, o epidemiologista que abandona no final deste mês, dias depois de completar 82 anos, a liderança do Instituto de Doenças Infecciosas do país (NIAID, na sigla em inglês), e que aconselhou a Casa Branca no combate à pandemia de covid-19.

    O ataque de Musk a Fauci surge quando o Twitter está a divulgar as antigas práticas de censura aplicadas na rede social por ex-executivos, abrindo a especulação de que pode ter na manga informações sobre supressão de informação que tenha sido feita em torno do tema da pandemia de covid-19.

    Anthony Fauci, conselheiro-chefe de Joe Biden para a saúde.

    Musk, que é também co-fundador e líder da Tesla, fez na manhã deste domingo publicações provocadoras que visam Fauci, que se tornou no rosto das medidas drásticas e sem precedentes que têm sido aplicadas na pandemia de covid-19, como os confinamentos da população e a imposição de máscaras, bem como da toma das várias doses de vacinas, apesar de estas não impedirem nem a infecção nem o contágio. Fauci inspirou-se nas medidas implementadas na China no início de 2020.

    Além de ter partilhado um “meme” sugestivo com as figuras de Fauci e Joe Biden, onde se lê “Just one more lockdown, my king…” [“Só mais um confinamento, meu rei…”], Musk acrescentou uma hora depois um novo tweet: “My pronouns are Prosecute/Fauci” [Os meus pronomes são Processar/Fauci].

    Extremamente activo na sua rede social, Musk também escreveu que “o Twitter tem sido o Wormtongue para o Mundo”. Personagem (fictício) da obra do escritor J. R. R. Tolkien, O Senhor dos Anéis”, Wormtongue era o conselheiro-chefe do rei Théoden, representando alguém que não é de confiança.

    O ataque de Musk a Fauci acontece numa altura em que foram divulgados mais detalhes das operações de censura que o Twitter aplicava de forma vasta e tendenciosa ao longo dos últimos anos, e que teve como alvos desde um especialista de topo que era contra o confinamento na pandemia, como vozes do espectro político mais conservador.

    Nas informações mais recentes, tornadas públicas hoje, ficou a saber-se que os antigos executivos do Twitter criaram uma nova “política” com vista a poderem suspender permanentemente a conta do então presidente norte-americano Donald Trump, no rescaldo da invasão ao Capitólio no dia 6 de Janeiro de 2021, apesar da decisão ir contra os próprios termos da rede social.

    Estas são as principais informações que constituem a quarta parte da investigação denominada “Twitter Files”, publicada durante este sábado, e que expõe as reacções dos funcionários ao ataque ao Capitólio e subsequente escrutínio por parte de Trump e dos seus apoiantes, que foram acusados de difundir “teorias da conspiração” sobre uma alegada fraude eleitoral. Por “incitamento à violência”, o Twitter viria a expulsar o antigo presidente da plataforma em 8 de Janeiro do ano passado.

    Elon Musk tem vindo a delegar em jornalistas independentes, fora do mainstream, a tarefa de investigar e divulgar os documentos internos do Twitter. Os jornalistas têm também entrevistado funcionários da rede social. A divulgação da informação tem sido feita por partes, sempre através do Twitter, a única condição acordada entre os jornalistas independentes e Musk.

    [O PÁGINA UM tem acompanhado e divulgado as revelações tendo já publicado três notícias: sobre a primeira parte; a descoberta-surpresa que levou ao adiamento da publicação da segunda parte da informação; e sobre a segunda e terceira partes do caso.]

    A exposição de mais uma parte dos “arquivos do Twitter” ficou, desta vez, a cargo de Michael Shellenberger, activista climático e antigo candidato pelo Partido Democrata, depois dos documentos já revelados pelos jornalistas Matt Taibbi e Bari Weiss.

    A braços com pressões internas para banir Donald Trump da plataforma, o antigo CEO do Twitter, Jack Dorsey – que estava de férias na Polinésia Francesa na semana em que ocorreu o ataque ao Capitólio –, disse à sua equipa que a empresa “tinha de se manter consistente com as suas políticas, incluindo o direito dos utilizadores de regressarem ao Twitter após uma suspensão temporária”. No entanto, Dorsey acabaria por relegar grande parte das decisões a altos executivos, com destaque para Yoel Roth, antigo chefe do departamento de “Confiança e Segurança” da rede social.  

    As conversas agora divulgadas entre Yoel Roth e um funcionário cuja identidade não foi revelada, mostram o seu contentamento quando Jack Dorsey finalmente dá o seu aval para a criação do estatuto de “repeat offender”, que determinaria a suspensão permanente de um utilizador do Twitter após cinco “strikes” “[violações]” das normas, e que viria a ser aplicado para suspender a conta de Trump.

    Donald Trump era ainda presidente dos Estados Unidos quando foi alvo de políticas de censura por parte de ex-executivos do Twitter. A censura foi aplicada inclusive durante a campanha para as eleições presidenciais que acabaram por dar a vitória ao candidato do Partido Democrata, Joe Biden. O Twitter admitiu, no âmbito dos “Twitter Files”, que protegeu Biden, ao impedir a partilha de informação sobre o escândalo em torno do portátil de Hunter Biden, do filho do atual presidente dos Estados Unidos. O Twitter também censurou contas de utilizadores do espectro político conservador.

    No entanto, esta decisão foi tomada em “contra-mão” com as normas desta rede social. Como explica Shellenberger, havia uma “política de excepção” que permitia que os governantes se mantivessem na plataforma, mesmo se as suas publicações violassem as regras, pois estaria em causa matéria de interesse para o público.

    As mensagens reveladas mostram que Roth queria suspender também a conta de Matt Gaetz, um político conservador. Mas faltava-lhe um motivo. Assim, decidiu utilizar a mesma justificação que usou para expulsar Trump: “conspiração que incita à violência”.

    Além destes aspectos, a quarta parte dos “Twitter Files” revelou o pedido de Yoel Roth a um colega para que acrescentasse “stopthesteal” [“páremoroubo”] e “kraken” às “listas negras” de hashtags a serem censuradas. “Stopthesteal” aludia à manipulação das eleições que Trump e os seus apoiantes diziam ter ocorrido, e os funcionários do Twitter consideravam “notícias falsas”. Por seu turno, “kraken” foi um termo usado por proponentes da famigerada conspiração intitulada “QAnon”. 

    Shellenberger afirmou que os funcionários do Twitter utilizavam muitas vezes o termo “one-off”, e explicou que “O seu uso frequente revela discrição significativa dos funcionários sobre quando e se aplicar rótulos de advertência em tweets e ‘strikes‘ aos utilizadores.”

    Elon Musk comprou o Twitter em Outubro passado por 44 mil milhões de dólares e prometeu revelar antigas práticas de censura desta rede social.

    O “plano” encetado para suspender o antigo presidente da rede social mereceu, na altura, a reprovação de apenas um membro júnior da equipa, que declarou: “Pode ser uma opinião pouco popular, mas decisões ad hoc como esta, que não estão sustentadas na nossa política, são areias movediças (…) e reflectem um problema alternativo igualmente ditatorial (…)”. No passado, várias figuras públicas, incluindo a antiga primeira-dama, Michelle Obama, já tinham apelado a que as grandes tecnológicas de “Sillicon Valley” banissem Donald Trump das suas plataformas.

    Para contextualizar esta actuação contra Trump por parte dos executivos do Twitter, Michael Shellenberger lembrou que a cúpula da empresa é maioritariamente “progressista” [termo frequentemente utilizado para designar a esquerda radical] e que mais de 95% dos donativos políticos feitos pelos funcionários em 2018, 2020 e 2022 foram para democratas.

  • #TwitterFiles: ‘As pessoas normais não sabem o quanto fazemos’. Twitter confessa antigas práticas de censura, incluindo a Trump

    #TwitterFiles: ‘As pessoas normais não sabem o quanto fazemos’. Twitter confessa antigas práticas de censura, incluindo a Trump

    Novas revelações do “Twitter Files” — sobre as práticas de censura implementadas pelos antigos executivos do Twitter — mostram que a rede social criou “listas negras secretas” e aplicou ferramentas de censura à conta do antigo presidente dos Estados Unidos Donald Trump, que acabou mesmo por ser banido em Janeiro de 2021. As contas de utilizadores incluídas nas “listas negras” eram sujeitas a mecanismos que limitavam a sua visibilidade e alcance. O Twitter também impedia que certos tweets se tornassem populares — ou numa tendência, como é designada a popularidade na rede social — e limitava a visibilidade de determinados tópicos, incluindo temas relacionados com a pandemia de covid-19. Um grupo secreto de responsáveis do Twitter, ao mais alto nível, escrutinava as contas consideradas mais sensíveis. A investigação e divulgação destas informações está a ser feita por um grupo de jornalistas independentes, aos quais Elon Musk, novo dono do Twitter, deu acesso a documentos internos da rede social.


    Antigos executivos do Twitter criaram “listas negras secretas” para censurar contas e conteúdos e mantiveram reuniões regulares com o FBI e agências secretas dos Estados Unidos enquanto decidiam o que censurar na rede social.

    Nas mais recentes revelações da investigação denominada “Twitter Files”, também foi exposta a forma como executivos do Twitter usaram ferramentas de censura na conta de Donald Trump, quando ainda era presidente dos Estados Unidos, nos meses que antecederam as últimas eleições presidenciais nos Estados Unidos, em 2020, as quais deram a vitória ao actual presidente norte-americano, Joe Biden.

    Antes de banir Trump no dia 6 de Janeiro de 2021 (J6), executivos do Twitter já aplicavam ferramentas que limitavam a visibilidade e alcance da conta do antigo presidente do Estados Unidos.

    Trump acabou mesmo por ser banido do Twitter a 8 de Janeiro de 2021, dois dias após a invasão do Capitólio. A investigação encontrou documentos internos que mostram que, nos meses anteriores à decisão de banir Trump, existia já um padrão de comportamento instalado, com uma deterioração das políticas da empresa, e os executivos do Twitter já violavam as regras enquanto reuniam com agências federais.

    Estas são as principais revelações da segunda parte e terceira parte de divulgação de informações produzidas por uma investigação conhecida como “Twitter Files”, conduzida por jornalistas independentes, com destaque para Matt Taibbi e Bari Weiss. A investigação é baseada em documentos que foram disponibilizados por Elon Musk, novo dono do Twitter, e também entrevistas a funcionários da rede social. As mais recentes revelações foram feitas entre quinta-feira e este Sábado.

    As próximas revelações, que serão feitas durante o fim-de-semana, vão debruçar-se sobre os momentos e dias que se seguiram à expulsão do antigo presidente norte-americano do Twitter.

    Twitter assume que houve política de censura sobre Donald Trump

    Segundo Weiss, a publicação de novas informações, em primeira mão, é sempre feita através do Twitter e essa foi a única condição acordada com Musk, tendo os jornalistas acesso livre a toda a documentação.

    Na segunda parte dos “Twitter Files” foi revelado como os executivos da rede social criaram “listas negras secretas”. Uma das contas que foi colocada em listas negras foi a de Jay Bhattacharya. Este reputado professor da Universidade norte-americana de Stanford, onde ocupa o cargo de director do Centro de Demografia e Economia de Stanford para a Saúde e Envelhecimento, foi uma das primeiras vozes a mostrarem-se contra a estratégia de confinamento, alertando que os lockdowns seriam muito prejudiciais para as crianças. Bhattacharya foi um dos três especialistas que escreveu a Great Barrington Declaration, a qual reuniu assinaturas de cientistas e médicos de topo em defesa de uma estratégia de combate à pandemia “focada na protecção”, mas que viria a ser censurada pela generalidade da imprensa mainstream, incluindo a portuguesa.

    Na primeira parte da divulgação de informação das antigas práticas do Twitter, revelado pelo jornalista independente Matt Taibbi, ficou exposto como antigos funcionários do Twitter executaram indicações da campanha presidencial de Joe Biden, para censurar informação sobre o caso polémico em torno do portátil de Hunter Biden, filho do actual presidente dos Estados Unidos.

    Documentos internos do Twitter revelaram como os executivos da rede social começaram a deixar para trás algumas regras da empresa e a implementar as medidas que desejavam.

    Entretanto, Bari Weiss ficou encarregue da divulgação dos “Twitter Files 2”, o que fez através da sua conta no Twitter e também via The Fress Press (A Imprensa Livre, em tradução livre), um órgão de comunicação social fundado por esta jornalista que foi editora no The Wall Street Journal e do The New York Times.

    No primeiro tweet de uma série de 30 tweets sobre o tema, Bari Weiss escreveu: “Uma nova investigação #TwitterFiles revela que equipas de funcionários do Twitter construíram listas negras, impediram que os tweets não apreciados se tornassem uma tendência e limitaram ativamente a visibilidade de contas inteiras ou mesmo tópicos de tendência — tudo em segredo, sem informar os utilizadores”.

    No caso do professor de Stanford Jay Bhattacharya, o primeiro exemplo que Weiss dá, “o Twitter colocou-o secretamente numa “Lista Negra das Tendências”, o que impediu que os seus tweets se tornassem uma tendência”.

    A jornalista dá outro exemplo como o da conta do apresentador de um popular talk show com uma orientação política de direita, Dan Bongino que foi incluído na “Lista Negra de Pesquisa”. Em outro exemplo, o activista conservador Charlie Kirk foi colocado numa lista negra de contas com ordem para não amplificar a sua visibilidade.

    Mas, destaca Weiss, o Twitter assumira sempre que jamais fizesse “estas coisas”, ou seja, que a política desta rede social nunca discriminaria ninguém. E a jornalista recorda mesmo que, em 2018, Vijaya Gadde, então responsável de Política Legal e Confiança do Twitter, e Kayvon Beykpour, director de Produto, garantiram que “não fazemos shadow ban (acto de reduzir visibilidade de contas e conteúdos)”. E reforçaram: “E certamente não fazemos shadow ban baseada em pontos de vista políticos ou ideologias.”

    A investigação da Bari Weiss apurou ainda que aquilo a que “muitas pessoas chamam de shadow ban, executivos e funcionários do Twitter chamam de Filtragem de Visibilidade ou VF [nas iniciais em inglês]”, aditando que “várias fontes de alto nível confirmaram o seu significado” aos jornalistas dos “Twitter Files”.

    A rede social, antes da entrada de Elon Musk na empresa, usou assim a VF para “bloquear pesquisas de utilizadores individuais; limitar o âmbito de descoberta de um determinado tweet; bloquear publicações selecionadas de utilizadores de alguma vez aparecerem na página tendências; e da inclusão em pesquisas de hashtag [tópicos começados com o símbolo #]”.

    Dois funcionários da rede social garantiram ainda aos jornalistas dos Twitter Files que controlavam “bastante a visibilidade e amplificação do seu conteúdo”, acrescentando que “as pessoas normais não sabem o quanto fazemos”.

    Para a prossecução destas práticas, o Twitter tinha um grupo que decidia quais as contas cujo alcance e visibilidade seriam limitados, baptizada de “Equipa de Resposta Estratégica” (Global Escalation Team, em inglês, ou SRT-GET). Este grupo “lidava frequentemente com até 200 casos por dia”, relatou Weiss.

    Mas existia ainda um segundo nível de decisão, além dos moderadores que seguiam a política da empresa que estava estabelecida “no papel”. Este segundo nível era conhecido como “Política de Integridade do Site, Suporte à Escalada de Políticas”, ou “SIP-PES”, nas iniciais em inglês. Este grupo secreto “incluía Vijaya Gadde, Yoel Roth, responsável Global de Confiança e Segurança, os presidentes-executivos subsequentes Jack Dorsey e Parag Agrawal, entre outros”.

    Elon Musk comprou o Twitter em Outubro passado por 44 mil milhões de dólares e prometeu revelar antigas práticas de censura desta rede social.

    Uma das contas escrutinada ao nível deste grupo secreto foi a Libs of TikTok — uma conta que estava na “Lista Negra das Tendências” e foi designada como “não tome medidas sobre o utilizador sem consultar com o SIP-PES”. Aquela conta — “que Chaya Raichik [a quem a conta é atribuída] começou em Novembro de 2020 e tem agora mais de 1,4 milhões de seguidores — foi alvo de seis suspensões só em 2022″. Em cada suspensão, a conta ficado impedida de publicar por uma semana.

    A autora da conta foi sendo informada de que a suspensão se devia a conduta de ódio, mas a investigação de Bari Weiss encontrou uma nota do grupo secreto “SIP-PES”, de Outubro de 2022, após a sétima suspensão, admitindo que a conta “não adoptou diretamente nenhum comportamento que violasse a política de Conduta de Ódio”.

    Weiss revelou também que o grupo justificou internamente as suspensões, alegando que os tweets da Libs of TikTok encorajavam o assédio online de “hospitais e prestadores médicos” ao insinuar que “os cuidados de saúde de afirmação de género equivalem a abuso ou aliciamento infantil”. Mas quando a morada e uma foto da residência de Raichik foram divulgados, o Twitter considerou que nenhuma regra tinha sido violada e permitiu que o conteúdo permanecesse online.

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    Entretanto, soube-se ao longo desta semana que a divulgação da segunda parte dos “Twitter Files” sofreu um adiamento depois de se ter descoberto que James Baker, um antigo advogado do FBI (Federal Bureau of Investigation), contratado pela anterior administração do Twitter em 2020, esteve envolvido no processo de selecção de documentos a serem fornecidos aos jornalistas que estavam a trabalhar nos “Twitter Files”.

    Segundo revelou Matt Taibbi, o advogado James Baker “é uma figura controversa”, é uma “espécie de Zelig de controvérsias do FBI, que remontam a 2016, desde o Dossier Steele até à confusão do Alfa-Server”. Taibbi lembrou ainda que Baker saiu do FBI em 2018, após uma investigação sobre fugas de informação para a imprensa.

    Musk acabou por demitir Baker e garantiu que iria divulgar toda a informação que encontrasse sobre as práticas de censura praticadas pelo Twitter no passado, admitindo que parte dos dados pudessem já ter sido apagados.

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    A divulgação das antigas práticas de censura do Twitter está a incomodar certos meios políticos, sobretudo do Partido Democrata, nos Estados Unidos, e também está a causar desconforto entre os media tradicionais, os quais se viram completamente postos de lado nesta investigação. Musk, que também lidera a Tesla, tem frequentemente criticado a actuação da generalidade dos media mainstream, os quais, em geral, têm recusado publicar notícias sobre os “Twitter Files”, com algumas excepções.

    Até agora, a documentação interna do Twitter já revelada mostra uma maior inclinação de antigos responsáveis e funcionários da rede social para censurar e perseguir contas e conteúdos de ideologia mais conservadora. Elon Musk veio recentemente já levantar a forte suspeita de que as práticas antigas do Twitter poderão ter favorecido a esquerda nas eleições no Brasil, embora até agora não tenha apresentado provas.

  • #TwitterFiles: Antigo funcionário do FBI, despedido por Elon Musk, estaria a condicionar libertação de documentos comprometedores

    #TwitterFiles: Antigo funcionário do FBI, despedido por Elon Musk, estaria a condicionar libertação de documentos comprometedores

    A divulgação de novos dados dos denominados #TwitterFiles sofreu um atraso inesperado, com a descoberta de que um antigo funcionário do FBI, James Baker, esteve envolvido no processo de selecção de documentos a tornar públicos, uma promessa de Elon Musk. Este advogado, contratado pela anterior administração do Twitter em 2020, acabou por ser despedido do Twitter, mas o novo dono desta rede social teme que haja documentos comprometedores que tenham sido apagados.


    Elon Musk, o novo dono do Twitter, garantiu hoje que continuará a divulgação de documentos internos desta rede social que provam actos de censura durante a anterior gestão, que visavam esconder informação comprometedora e influenciar a opinião pública.

    Esta é a mais recente reacção do multimilionário sobre os já denominados Twitter Files, que esta semana deveriam ter tido novas revelações, que foram suspensas após se descobrir que um dos membros da equipa responsável pela seleccção dos documentos, a entregar aos jornalistas, era o advogado James Baker, um antigo funcionário do FBI (Federal Bureau of Investigation), contratado em 2020 pela anterior administração da rede social.

    Elon Musk comprou o Twitter em Outubro passado por 44 mil milhões de dólares e prometeu revelar antigas práticas de censura desta rede social.

    O envolvimento de James Baker foi denunciado por Matt Taibbi, o jornalista independente, aparentemente escolhido por Musk, para revelar como, durante a campanha para as últimas eleições presidenciais nos Estados Unidos, o Twitter executou um pedido da equipa de Joe Biden para censurar a divulgação de notícias sobre o famoso escândalo do portátil de Hunter Biden, filho do atual presidente norte-americano, e as suas ligações na Ucrânia.

    Taibbi revelou anteontem num tweet que “o processo para a produção dos ‘TwitterFiles’ envolveu a entrega [de documentos] a dois jornalistas [Bari Weiss e o próprio Taibbi], através de um advogado próximo da nova administração”, acrescentando que “depois do lote inicial, as coisas [novas entregas] tornaram-se complicadas”.

    Bari Weiss – uma jornalista independente que foi editora do The New York Times entre 2017 e 2020, resignando através de uma carta muito crítica às práticas dos media mainstream – foi quem descobriu a participação de James Baker. Taibbi revelou num tweet que Weiss teve uma reacção peculiar: “O meu maxilar bateu no chão”.

    O jornalista independente Matt Taibbi revelou a primeira série dos chamados Twitter Files.

    De facto, segundo revelações de Matt Taibbi, o advogado James Baker “é uma figura controversa”, é “uma “espécie de Zelig de controvérsias do FBI, que remontam a 2016, desde o Dossier Steele até à confusão do Alfa-Server”. Taibbi lembrou ainda que Baker “se demitiu [do FBI] em 2018 após uma investigação sobre fugas de informação para a imprensa”.

    Saliente-se que Baker trabalhou no FBI quando o diretor era James Comey, tendo tido um papel central nas revelações sobre o alegado conluio em 2016 entre a campanha presidencial de Trump e a Rússia, e que vieram a ser consideradas falsas. Baker trabalhou no FBI com operacionais como Peter Strzok e Lisa Page que assumiram uma postura anti-Trump.

    O advogado James Baker, antigo funcionário do FBI, e contratado pelo Twitter em 2020, estaria a condicionar a divulgação de documentos prometidos por Ellon Musk. Foi entretanto demitido.

    Elon Musk, aparentemente ignorava a presença de James Baker na equipa que estava responsável pela entrega dos documentos aos jornalistas. Anteontem, Musk disse num tweet que apenas soubera da participação daquele antigo funcionário do FBI no domingo passado, tendo depois acrescentado que o demitiu.

    Integrado num seu tweet, em que informava ser necessário mais algum tempo para novas revelações, e em resposta a um comentário do ex-presidente executivo do Twitter, Jack Dorsey, que apelava para serem revelados todos os documentos “sem filtro”, Elon Musk disse que “os dados mais importantes foram escondidos”, até mesmo a Dorsey, e que temia que “alguns podem ter sido apagados”. E garantia que tudo o que fosse encontrado seria revelado na íntegra.

    A primeira série dos Twitter Files puseram a nu a forma como a equipa do então candidato presidencial Joe Biden articulou com o Twitter a censura e supressão de informação sobre o famoso caso dos conteúdos do portátil do filho do actual presidente dos Estados Unidos, Hunter Biden, que mostravam as suas ligações comprometedoras à Ucrânia.

    Nesta fase, as revelações foram realizadas via conta do Twitter de Matt Taibbi, através de uma série de 36 tweets, também traduzidos para português e publicados no PÁGINA UM. A segunda fase da divulgação de informação vai ser agora feita pela jornalista Bari Weiss.

    A divulgação do despedimento de Baker e do seu envolvimento na selecção de documentos a divulgar ao público pelo Twitter atraiu alguma atenção da imprensa mainstream, que tem estado largamente a recusar publicar notícias sobre os Twitter Files. Na imprensa internacional, entre as excepções estão o The New York Post, a CNN Internacional e a Forbes.

    Troca de comentários entre Jack Dorsey, ex-presidente executivo do Twitter, e Elon Musk sobre a revelação dos documentos sobre antigas práticas de censura desta rede social.

    Contudo, após a demissão de James Baker a atenção mediática da imprensa mainstream internacional tem aumentado, mas não na imprensa nacional, que continua a ignorar um caso com repercussões políticas incalculáveis. Em todo o caso, observa-se um grande incómodo no sector dos media por estas revelações estarem a ser feitas por jornalistas independentes. Alguns jornalistas e responsáveis de media mainstream têm mesmo atacado Taibbi, com uma grande parte a repetir as mesmas expressões, acusando-o de estar a prestar um serviço de relações públicas a Musk.

    Até agora, a documentação interna do Twitter já revelada mostra uma maior inclinação de antigos responsáveis e funcionários da rede social para proteger o Partido Democrata nos Estados Unidos, censurando contas de personalidades com visões mais conservadoras. Essa postura da rede social estaria a ser escondida até do antigo CEO, Jack Dorsey, que aparentemente desconhecia os actos de censura cometidos sobre as notícias verídicas em relação a Hunter Biden.

    Elon Musk veio também já levantar a forte suspeita de que as práticas antigas do Twitter poderão ter favorecido a esquerda nas eleições no Brasil, embora até agora não tenha apresentado provas.

  • Conteúdo comercial ilegal: Público diz que só destacou Tabaqueira como “promotora de inovação tecnológica e do desenvolvimento sustentável”

    Conteúdo comercial ilegal: Público diz que só destacou Tabaqueira como “promotora de inovação tecnológica e do desenvolvimento sustentável”

    A Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) concluiu que o jornal Público violou mesmo a lei que proíbe a publicidade ao tabaco, e arrisca um multa até 250 mil euros. Em causa estão conteúdos comerciais pagos pela Tabaqueira e publicados pelo jornal da Sonae no início de Outubro. A ERC também anunciou que vai informar a Direcção-Geral da Saúde sobre a ilegalidade cometida pelo jornal dirigido pelo jornalista Manuel Carlos Carvalho (CP 963), que se defendeu dizendo que o conteúdo comercial pretendeu apenas potenciar a Tabaqueira como “entidade promotora de inovação tecnológica e do desenvolvimento sustentável”.


    O Conselho Regulador da Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) abriu um processo de contraordenação ao jornal Público por violação da lei que proíbe publicidade ao tabaco, depois de o jornal ter publicado, no início de Outubro, conteúdos comerciais da Tabaqueira.

    A informação surge numa deliberação da ERC, tomada em 16 de Novembro, no seguimento de um processo de averiguações suscitadas por um pedido de esclarecimento do PÁGINA UM (vd. nota da direcção no final do texto). O jornal do Grupo Sonae arrisca assim uma coima que pode ir até aos 250 mil euros. A ERC anuncia também, na sua deliberação, que vai informar a Direcção-Geral da Saúde da violação da lei por parte do Público, como manda a legislação.

    woman standing while blowing smoke

    Em causa está a violação da Lei 37/2007, mais concretamente o artigo 14º-E, referente a publicidade e patrocínio dos cigarros electrónicos e recargas, e o artigo 18º, relativo ao tema do patrocínio, que a ERC considera susceptível de constituir “uma contraordenação económica muito grave punível nos termos do Regime Jurídico das Contraordenações Económicas”.

    Como o PÁGINA UM noticiou no dia 14 de Outubro passado, o regulador abrira um “procedimento” para averiguar a eventual ilegalidade do Público por inserir um conteúdo comercial da Tabaqueira, que elogiava as tecnologias do tabaco aquecido e que coincidiu com um novo sistema daquela empresa.

    A divulgação da ilegalidade foi feita pelo PÁGINA UM, e não é caso único. Na mesma semana de Outubro em que a ERC indicou ao PÁGINA UM que tinha aberto um “procedimento” contra o Público, o regulador anunciou também a abertura de outro processo de contraordenação à Global Media pela inserção de quatro conteúdos patrocinados pela Tabaqueira: dois no Jornal de Notícias, um no Diário de Notícias e outro no Dinheiro Vivo, todos publicados este ano.

    Conteúdo comercial da Tabaqueira foi aceite pelo Público como “conteúdo comercial” três dias após o lançamento do IQOS Iluma. ERC diz ser publicidade ilegal a produtos de tabaco.

    A publicidade directa ou indirecta aos produtos de tabaco em toda a imprensa está proibida desde 2005. No caso das televisões e rádios, a proibição remonta a 1980. Foram, entretanto, sendo implementadas outras restrições em termos de divulgação de marcas, incluindo em provas desportivas.

    No caso concreto do conteúdo comercial pago pela Tabaqueira que foi publicado no Público, o texto termina mesmo com uma foto claramente de carácter publicitário, com a apresentação do novo sistema de tabaco aquecido por indução IQOS Iluma. Este equipamento é uma grande aposta comercial da Philip Morris neste sector, e que começara a ser comercializado três dias antes da inserção do conteúdo patrocinado no Público.

    Em resposta ao procedimento aberto pela ERC, que levou agora à instauração do processo de contraordenação, o jornal do Grupo Sonae defendeu que estes conteúdos, embora comerciais, “não traduz qualquer incentivo, publicidade ou mesmo promoção aos produtos de tabaco”.

    E diz mesmo que a intenção é mesmo a inversa, ou seja, que o conteúdo comercial, que coincidiu com o lançamento do IQOS Iluma, “teve por principal e único objetivo potenciar a notoriedade e posicionamento da marca ‘Tabaqueira’, enquanto entidade promotora de inovação tecnológica e do desenvolvimento sustentável, procurando o envolvimento da comunidade neste movimento transformacional, que visa promover soluções mais sustentáveis”.

    Porém, para a ERC, não existem dúvidas de que “o texto é inequivocamente promocional, sendo inclusivamente patrocinado por uma empresa que tem como atividade principal a venda e distribuição de produtos de tabaco, com ou sem combustão.

    O regulador deita por terra todos os argumentos utilizados pelo Público, o que pode, desde já, induzir à “condenação” no processo de contraordenação. Segundo a ERC, é completamente diferente escrever-se um artigo sobre os benefícios para a saúde da disponibilização de dispositivos de combustão sem nicotina patrocinada por entidades para fins de prevenção do consumo de tabaco e promoção de saúde. Ainda mais quando os conteúdos em questão são patrocinados por uma empresa de venda de produtos de tabaco.

    Assim, para a ERC, “estes conteúdos visam um posicionamento das marcas e dos produtos, através de uma prática social encapotada, que não revela os malefícios dos produtos”, assentando “numa mensagem claramente promocional, onde se reforça a imagem de uma empresa socialmente consciente e atenta aos potenciais consumidores”.

    Sede da ERC, em Lisboa.

    A ERC sustenta ainda que, apesar de não se tratar de publicidade tradicional, o conteúdo veiculado não deixa de ser patrocinado por uma empresa sob a qual é proibida a publicidade directa e indirecta, concluído que no conteúdo comercial do Público “existe a finalidade de promover uma marca, uma imagem, e, consequentemente, os produtos/ serviços por esta distribuídos, promovendo o engagement do leitor com a marca”.

    Por fim, o regulador também esclarece que, apesar de os conteúdos editoriais estarem separados dos comerciais, o Público “não pode desvincular-se da propriedade do espaço em que os mesmos se encontram publicados”.


    N.D. A deliberação da ERC refere que “em 12 de Setembro [na verdade, foi a 12 de Outubro] de 2022, com registo nº 2022/7327, deu entrada na ERC, um pedido de esclarecimento da publicação Página Um relativo à publicação periódica Público, nomeadamente à alegada publicidade/ patrocínio a uma tecnologia de cigarros electrónicos (…). Deve esclarecer-se que o PÁGINA UM pediu apenas um “comentário” à ERC sobre a situação detectada, pelo que se lamenta que, numa deliberação, a ERC deixe ficar a ideia de que o PÁGINA UM faz uma queixa contra o Público ou contra outro qualquer jornal. Aliás, acresce que o PÁGINA UM apenas contactou a ERC, para a obtenção do desejado comentário, após a indicação da Direcção-Geral do Consumidor, que tinha sido questionada pelo nosso jornal no dia 10 de Outubro.

  • Ricardo Araújo Pereira pode boicotar políticos no seu programa, mas SIC tem de encontrar formas de compensação

    Ricardo Araújo Pereira pode boicotar políticos no seu programa, mas SIC tem de encontrar formas de compensação

    A Entidade Reguladora para a Comunicação Social aceita que um humorista pode, em plena campanha eleitoral, convidar quem achar por bem, mas que o canal televisivo tem de compensar eventuais desequilíbrios em matéria de igualdade de oportunidades e de tratamento de candidaturas. A deliberação do regulador foi espoletado por duas queixas junto do regulador, uma das quais por causa da ausência de André Ventura no programa de Ricardo Araújo Pereira (RAP) em que entrevistou nove dirigentes políticos. RAP tem assumido que nunca convidará o líder do Chega para o seu programa por razões ideológicas. Mas o regulador também mostra que o tempo dedicado por RAP a cada dirigente foi muito distinto: António Costa foi aquele que teve mais “tempo de antena” em “Isto é gozar com quem trabalha”.


    A Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) aceita que um humorista pode, em plena campanha eleitoral, convidar quem achar por bem, mas que o canal televisivo tem de compensar eventuais desequilíbrios em matéria de igualdade de oportunidades e de tratamento de candidaturas. O caso foi espoletado por duas queixas junto do regulador, uma das quais por causa da ausência de André Ventura no programa de Ricardo Araújo Pereira (RAP) em que entrevistou nove dirigentes políticos. RAP tem assumido que nunca convidará o líder do Chega para o seu programa por razões ideológicas.

    Ricardo Araújo Pereira (RAP) pode ser um excelente comediante, mas a ERC não achou piada ao facto de o humorista ter beneficiado alguns partidos políticos no seu programa na SIC “Isto é gozar com quem trabalha” em plena campanha eleitoral das últimas legislativas.

    Por razões ideológicas, Ricardo Araújo Pereira recusa sentar André Ventura è mesa do seu programa.

    Entre 17 e 28 de Janeiro deste ano, o humorista decidiu, de forma explícita, excluir o líder do partido Chega, André Ventura, quando fez uma série de entrevistas diárias a dirigentes de partidos então com assento parlamentar (Bloco de Esquerda, PCP, PSD, Iniciativa Liberal, PAN, CDS e Partido Socialista) no seu programa especial dedicado às eleições legislativas.

    RAP apenas convidou dirigentes de dois outros partidos então sem assento parlamentar Rui Tavares, do Livre (que deixara de ter deputados com a “desfiliação” de Joacine Katar Moreira) e Vitorino Silva, do RIR). Já em 2020, RAP boicotara André Ventura nas Presidenciais de 2020, brincando com o facto de que o líder do Chega “não aguentaria a experiência”.

    Em deliberação divulgada na sexta-feira passada, a ERC até achou que RAP tem, como “célebre comediante” e “protagonista central” de um “programa de autor”, o direito a “uma maior discricionariedade na forma como é abordado o período eleitoral”, mas que não vale tudo em plena época eleitoral. E que, por isso, a SIC deverá, em futuras ocasiões, “compensar, na restante programação, os desequilíbrios gerados num determinado programa em matéria de igualdade de oportunidades e de tratamento de candidaturas”.

    António Costa foi o dirigente político com mais “tempo de antena” no programa humorístico de RAP em plena campanha eleitoral.

    Saliente-se, aliás, que de acordo com a contabilização da ERC, António Costa foi, nas entrevistas de RAP, o político com mais “tempo de antena” com 19 minutos e 16 segundos, enquanto Catarina Martins teve direito a apenas a 10 minutos e 52 segundos e Inês Sousa Real a 11 minutos e 12 segundos. Rui Rio teve menos 6 minutos e 4 segundos do que o líder do PS. Os restantes entrevistados (Vitorino Silva, Rui Tavares, João Oliveira, João Cotrim Figueiredo, Inês Sousa Real e Francisco Rodrigues dos Santos) estiveram sentados defronte a RAP entre 13 e 16 minutos.

    Na sua análise, a ERC considerou que “num programa em que a política se cruza com o entretenimento e em que os candidatos convidados para o programa beneficiam de grande visibilidade para apresentar os seus programas eleitorais, convicções e personalidade, a escolha de determinados entrevistados, com a exclusão de outros, deve ser objeto de especial ponderação, de modo a respeitar os princípios que enformam a atividade dos órgãos de comunicação social durante o período eleitoral”.

    O regulador não acolheu assim quaisquer dos argumentos da SIC que defendeu que o programa de RAP era “entretenimento de cariz humorístico” e que o autor tem “total independência”, pelo que, não se tratando de “um programa informativo, não está adstrito ao cumprimento das normas da Lei da Televisão e dos Serviços Audiovisuais a Pedido e das leis eleitorais dirigidas a programas de atualidade informativa e serviços noticiosos”. O canal do Grupo Impresa advogou que “o critério de escolha dos convidados [era] também, por isso, do humorista, o qual tem total liberdade de conformação em relação a quem deseja [e a quem não deseja] receber no seu programa”.

    Catarina Martins teve pouco mais de metade do “tempo de antena” de António Costa.

    Admitindo que o boicote a Ventura e ao Chega foi intencional, a SIC defendeu RAP, dizendo que “o humorista tem total liberdade para não querer dar espaço, num programa de humor da sua autoria, à defesa de ideias que, do seu ponto de vista, atentem contra a dignidade da pessoa humana, igualdade e direitos, liberdades e garantias”.

    Esta defesa acabou mesmo por ser duramente criticada pela ERC: “O argumento aduzido pela SIC parece não ter cabimento, uma vez que, no que respeita aos vários partidos sem representação parlamentar, o programa apenas privilegiou o Partido RIR, não parecendo crível” que todos os partidos excluídos – num total de 12, uma vez que participaram 21 partidos nas legislativas deste ano – “atentam contra a dignidade da pessoa humana, igualdade e direitos, liberdades e garantias”.

    Quanto ao argumento de que o programa de RAP não é informativo, pelo que não tem de cumprir os mesmos preceitos legais dos programas informativos no que toca às campanhas eleitorais, a ERC também destrói a defesa da SIC, lembrando que a lei não circunscreve “o princípio da igualdade de oportunidades e de tratamento das diversas candidaturas à cobertura jornalística da campanha ou a programas de atualidade informativa e a serviços noticiosos”.

    ERC defende que canais de televisão devem compensar desequilíbrios, mesmo se causados por programas de entretenimento.

    Assim, o regulador defende que “num programa em que a política se cruza com o entretenimento, em que os candidatos convidados para o programa beneficiam de uma visibilidade para apresentar os seus programas, convicções e personalidade, o operador não pode deixar de fazer uma reflexão sobre a escolha de determinados entrevistados, com a exclusão de outros, nos seus diversos programas”.

    Mais. A ERC frisa que “um programa de entretenimento, apesar de beneficiar de uma maior margem de discricionariedade na forma como aborda o período eleitoral, não pode – atento o seu potencial para conferir visibilidade aos candidatos e influenciar o sentido de voto –, deixar de ser objeto de avaliação de acordo com os princípios que enformam a atividade dos órgãos de comunicação social durante o período eleitoral”.

    O regulador recorda “que a SIC, enquanto serviço de programas televisivos, está obrigada a assegurar o princípio da igualdade de oportunidades e de tratamento das diversas candidaturas e a garantir o pluralismo político-partidário”.

    Por isso, conclui que “o facto de se optar por não convidar determinadas candidaturas para o programa ‘Isto É Gozar Com Quem Trabalha’ imporia à SIC um especial cuidado em compensar desequilíbrios surgidos em virtude de opções editoriais no âmbito dos seus programas de entretenimento”.

  • #TwitterFiles: Elon Musk “desnuda” antigas práticas de censura

    #TwitterFiles: Elon Musk “desnuda” antigas práticas de censura

    Elon Musk, novo dono do Twitter, decidiu divulgar documentos internos da empresa tecnológica que comprovam como a rede social censurou, suprimiu informação e fechou contas de utilizadores para influenciar a opinião pública. Musk publicou um ‘tweet’ com uma ligação para a conta de um jornalista independente que começou a divulgar a “primeira parte” dos ‘Twitter Files’. No seu curto texto, Musk escreveu apenas: “Here we go!”, acrescentando a imagem de dois baldes de pipocas. Esta noite, no espaço de pouco mais de uma hora, numa série de 36 ‘tweets’, o jornalista e autor Matt Taibbi revelou os primeiros documentos. A informação interna do Twitter, que agora foi tornada pública, mostra como, durante a campanha para as últimas eleições presidenciais nos Estados Unidos, o Twitter executou um pedido da equipa de Joe Biden para censurar a divulgação de notícias sobre o famoso escândalo do portátil de Hunter Biden, filho do atual presidente norte-americano, e as suas ligações na Ucrânia. Musk assegurou que a divulgação de informação interna no âmbito do que apelidou de “Twitter Files” vai continuar. O PÁGINA UM publica, neste artigo, a série de ‘tweets’ de Taibbi, relativa à primeira parte dos ‘Twitter Files’, em português, e vai acompanhar a divulgação dos próximos documentos internos do Twitter.


    Tweet 1

    Série: Os Ficheiros do Twitter


    Tweet 2

    O que está prestes a ler é a primeira versão de uma série, baseada em milhares de documentos internos obtidos por fontes no Twitter.


    Tweet 3

    Os Ficheiros do Twitter contam uma história incrível de dentro de uma das maiores e mais influentes plataformas de redes sociais do mundo. É um conto frankensteiniano de um mecanismo construído pelo homem que cresceu fora do controlo do seu designer.


    Tweet 4

    O Twitter era, na sua concepção, uma ferramenta brilhante para permitir a comunicação instantânea em massa, tornando possível uma verdadeira conversa global em tempo real, pela primeira vez.


    Tweet 5

    Originalmente, o Twitter mais do que cumpriu a sua declaração de missão, dando às pessoas “o poder de criar e partilhar ideias e informações instantaneamente, sem barreiras”.


    Tweet 6

    No entanto, à medida que o tempo ia avançando, a empresa foi lentamente forçada a adicionar essas barreiras. Algumas das primeiras ferramentas para controlar o discurso [dos utilizadores] foram concebidas para combater os gostos do spam e dos promotores de fraudes financeiras.


    Tweet 7

    Lentamente, com o passar do tempo, os funcionários e executivos do Twitter começaram a encontrar cada vez mais usos para estas ferramentas. Pessoas externas ao Twitter começaram a pedir à empresa que também manipulasse o discurso [de utilizadores permitido na rede social]: primeiro um pouco, depois mais frequentemente, depois constantemente.


    Tweet 8

    Em 2020, os pedidos de “atores” ligados [a responsáveis do Twitter] para apagar tweets eram rotineiros. Um executivo escreveria a outro: “Mais para rever da equipa Biden.” A resposta voltaria: “Tratado” [“handled”, em inglês].


    Tweet 9

    Contas de celebridades e de outras pessoas podem ser removidas ou revistas a mando de um partido político:


    Tweet 10

    Ambas as partes [do espectro político nos Estados Unidos] tinham acesso a estas ferramentas. Por exemplo, em 2020, tanto os pedidos vindos da Casa Branca de Trump, como da campanha de Biden, foram recebidos e honrados. Todavia:


    Tweet 11

    Este sistema não era equilibrado. Era baseado em contactos. Como o Twitter era e é esmagadoramente constituído por pessoas [funcionários] de uma orientação política, havia mais canais, mais formas de reclamar, abertos à esquerda (bem, democratas) do que à direita [Link].


    Tweet 12

    A inclinação resultante nas decisões de moderação de conteúdo está visível nos documentos que está prestes a ler. No entanto, é também a avaliação que fazem múltiplos executivos atuais e antigos de alto nível.


    Tweet 13

    Ok, havia mais informação sobre o processo, mas que se lixe, vamos saltar para a frente


    (Não existem os tweets 14 e 15)

    Tweet 16

    Os Ficheiros do Twitter, Primeira Parte: Como e Porquê o Twitter Bloqueou a História do Portátil de Hunter Biden


    Tweet 17

    Em 14 de outubro de 2020, o New York Post publicou o artigo EMAILS SECRETOS BIDEN, uma notícia baseada no conteúdo do portátil abandonado de Hunter Biden:


    Tweet 18

    O Twitter levou a cabo medidas extraordinárias para suprimir a história, removendo links e publicando avisos de que podia ser “inseguro”. Até bloquearam a sua partilha através de mensagem direta, uma ferramenta até então reservada a casos extremos, como, por exemplo, pornografia infantil.


    Tweet 19

    A [então] porta-voz da Casa Branca, Kaleigh McEnany, ficou sem poder entrar na sua conta por tweettar sobre a história, o que originou uma carta furiosa do funcionário da campanha de Trump, Mike Hahn, que dizia: “Pelo menos, finja que se importa com os próximos 20 dias”.


    Tweet 20

    Isto levou a responsável de política externa [do Twitter], Caroline Strom, a lançar uma consulta WTF [acrónimo inglês para ‘willing to fail‘, que corresponde a uma política de tomada de riscos numa empresa]. Vários funcionários observaram que havia tensão entre as equipas de comunicação/política, que tinham pouco/menos controlo sobre a moderação, e as equipas de segurança/confiança:


    Tweet 21

    A nota de Strom gerou a resposta de que a história do portátil tinha sido removida por violação da política de “materiais hackeados [pirateados informaticamente]” da empresa:


    Tweet 22

    Apesar de várias fontes se recordarem de ter existido naquele Verão um aviso “geral” da polícia federal sobre possíveis ataques piratas informáticos estrangeiros, não há provas – que eu tenha visto – de qualquer envolvimento do Governo na história do portátil. Na verdade, pode ter sido esse o problema…


    Tweet 23

    A decisão foi tomada nos mais altos níveis da empresa, mas sem o conhecimento do CEO [presidente-executivo] Jack Dorsey, com a ex-responsável pela área Jurídica, Política e Confiança, Vijaya Gadde, a desempenhar um papel fundamental.


    Tweet 24

    “Eles apenas o fizeram por conta própria”, é como um ex-funcionário caracterizou a decisão. “A pirataria informática foi a desculpa, mas em poucas horas, praticamente todos perceberam que isso não ia aguentar [ou manter-se de pé a desculpa]. Mas ninguém teve a coragem de revertê-lo.


    Tweet 25

    Pode ver a confusão na seguinte longa troca [de e-mails], que acaba por incluir Gadde e o ex-chefe de Confiança e Segurança, Yoel Roth. O funcionário da área de Comunicação, Trenton Kennedy, escreve: “Estou a lutar para compreender a base política para marcar isto como inseguro”:


    Tweet 26

    Por esta altura “toda a gente sabia que isto estava lixado”, disse um antigo funcionário, mas a resposta foi essencialmente para errar do lado de… continuando a errar.


    Tweet 27

    O ex-vice-presidente Global de Comunicação, Brandon Borrman, pergunta: “Podemos afirmar sinceramente que isto faz parte da política?”


    Tweet 28

    Ao que o ex-adjunto do administrador da área jurídica, Jim Baker, parece aconselhar a manter o curso, porque “a cautela é justificada”:


    Tweet 29

    Um problema fundamental com as empresas tecnológicas e a moderação de conteúdos: muitas pessoas responsáveis pelo discurso sabem/preocupam-se pouco com o discurso, e têm de ser informados sobre o básico por pessoas externas. A saber:


    Tweet 30

    Numa troca humorística no dia 1, o congressista democrata Ro Khanna contacta Gadde para sugerir gentilmente que falem ao telefone. Khanna foi o único [congressista] democrata que encontrei nos ficheiros que expressava preocupação.


    Tweet 31

    Gadde responde rapidamente, mergulhando imediatamente nas intrincada política do Twitter, desconhecendo que Khanna está mais preocupado com a Declaração de Direitos:


    Tweet 32

    Khanna tenta redirecionar a conversa para a Primeira Emenda, menção que é geralmente difícil de encontrar nos ficheiros:


    Tweet 33

    No espaço de um dia, a responsável pela Política Pública, Lauren Culbertson, recebe uma carta/relatório medonho de Carl Szabo da empresa de investigação NetChoice, que já tinha inquirido 12 membros do Congresso – 9 Republicanos e 3 Democratas, desde “a Comissão Judiciária da Câmara ao Gabinete da Rep. [Representante] Judy Chu”.


    Tweet 34

    A NetChoice deixa o Twitter saber que haverá um “banho de sangue” nas próximas audições[no Congresso], com os membros a dizerem que é um “ponto de viragem”, queixando-se que as tecnológicas “cresceram tanto que nem conseguem regular-se, por isso o Governo pode ter de intervir”.


    Tweet 35

    Szabo relata no Twitter que algumas figuras no Congresso estão a caracterizar a história do portátil como “o momento de Access Hollywood da tecnologia” [escândalo]:


    Tweet 36

    Os ficheiros do Twitter continuaram:
    “A PRIMEIRA EMENDA NÃO É ABSOLUTA”
    A carta de Szabo contém passagens arrepiantes que transmitem as atitudes dos legisladores democratas. Querem “mais” moderação e, quanto à Declaração de Direitos, “não é absoluta”


    Tweet 1 extra de Matt Taibbi

    Um incrível enredo paralelo, no caso Twitter/portátil de Hunter Biden, foi o que foi feito sem o conhecimento do CEO [do Twitter] Jack Dorsey e quanto tempo demorou para a situação ficar “resolvida” [‘unfucked’ na expressão em inglês usada no tweet] (como um ex-funcionário disse), mesmo depois de Dorsey ter intervindo.


    Tweet 2 extra de Matt Taibbi

    Há múltiplos exemplos nos ficheiros em que Dorsey intervém para questionar suspensões e outras ações de moderação em contas de todo o espectro político

  • Por 31 mil euros, Expresso e SIC usam jornalistas para divulgação de congresso luxuoso da Ordem dos Contabilistas

    Por 31 mil euros, Expresso e SIC usam jornalistas para divulgação de congresso luxuoso da Ordem dos Contabilistas

    É proibido, mas os reguladores dos media e dos jornalistas continuam a fechar os olhos aos lucrativos e enganadores contratos comerciais para a divulgação de “notícias”. Em mais um exemplo da mercantilização de notícias, o PÁGINA UM revela os detalhes da “parceria comercial” para a cobertura do luxuoso 7º Congresso da Ordem dos Contabilistas Certificados (OCC) pelo Grupo Impresa, que teve a colaboração directa de jornalistas da SIC Notícias e do Expresso. Alguns detalhes deste acordo comercial de 31 mil euros são desconhecidos, porque no Portal Base a OCC “esqueceu-se” de incluir o caderno de encargos. Mas sabe-se que a Impresa garantiu contratualmente sigilo por tempo indeterminado. Nas notícias que foram apresentadas aos telespectadores e leitores nunca surge a referência a estar-se perante um contrato comercial; quando muito, o Expresso escreveu que “se associou” ao congresso da OCC. Na SIC Notícias, além de peças sobre o evento, a bastonária Paula Franco surgiu em antena, numa entrevista de mais de oito minutos, no próprio dia em que o contrato foi assinado.


    E se pudesse pagar a jornais e televisões, como o Expresso e a SIC, para fazerem notícias sobre temas específicos? É uma possibilidade – ilegal, é certo –, mas que, nos últimos tempos, se tornou normal, mesmo uma “norma”, nos diversos grupos de media mainstream. Para empresas, Governo, autarquias e organizações de índole pública tem-se mostrado uma excelente forma de fazer “sair” notícias, controladas e sem laivos de crítica, que, de outro modo, ou não chegariam ao público ou chegariam, mas, possivelmente, com contraditório ou pouco favoráveis.

    Com um congresso à porta, e muitos euros para abrilhantar o evento, contratar a imprensa foi uma solução de marketing ideal para a Ordem dos Contabilistas Certificados (OCC). A decisão de avançar com o contrato os órgãos de comunicação social do Grupo Imprensa, através de ajuste directo, foi aprovada pelo Conselho Directivo desta Ordem – que, por deter funções públicas é obrigada a cumprir as regras de contratação das entidades públicas – no passado 15 de Setembro, em vésperas do seu 7º Congresso Nacional.

    Congresso da Ordem dos Contabilistas Certificados contou com a presença do Presidente da República, três ministros e um secretário de Estado.

    No dia seguinte, a bastonária Paula Franco assinaria o contrato com o Grupo Impresa para a cobertura noticiosa do evento em troca da módica quantia de 31 mil euros, a que acresceu o IVA, sem espinhas. Da parte da Impresa Publishing e da SIC, assinaram o contrato, os administradores Nuno Conde e Paulo dos Reis. E uma grande coincidência: no mesmo dia, 16 de Setembro, a bastonária Paula Franco surge na SIC Notícias, durante mais de oito minutos, a ser entrevistada por uma jornalista sobre várias medidas de apoio às empresas.

    O contrato, que pode ser consultado no Portal Base, visava expressamente a “aquisição de serviços para a Divulgação do 7º Congresso da OCC, nos Media do Grupo Impresa”, que decorreu entre 21 e 23 de Setembro deste ano, no Altice Arena, na zona da Expo, em Lisboa. No programa constavam, como oradores, o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, três ministros e um secretário de Estado, entre outras individualidades.

    Num evento de luxo, a fatia paga pela OCC ao Grupo Impresa acabou até por ser pequena, comparando com outros gastos sumptuosos.

    No mesmo dia em que a Ordem dos Contabilistas Certificados assinou contrato de 31.000 euros com a Impresa, a bastonária Paula Franco é entrevistada na SIC Notícias.

    Na verdade, a Ordem dos Contabilistas não foi nada “poupadinha” e “abriu os cordões à bolsa” sem andar de lápis atrás da orelha para saber onde poderia cortar custos: 281.405 euros foram gastos no aluguer do Altice Arena; 360.00 euros em serviços de catering; 470.000 euros em serviços audiovisuais; 62.200 euros na criação de um espetáculo; 6.100 euros em serviços de pirotecnia; 8.500 euros em serviços de apresentação e representação artística; 15.000 euros na aquisição de jogos à Science4you; e 55.200 euros na compra de caixas de acrílico para medalhas, entre outras despesas.

    Na “ementa”, os oradores podem ter contado muito, mas a parte social teve muito mais brilho. Por exemplo, os jantares à luz de velas foram abrilhantados com concertos exclusivos de Pedro Abrunhosa e Mariza. No total, o evento de três dias teve uma contabilidade fácil de fazer, sempre a somar: uma despesa total de cerca de 1,25 milhões de euros. Na parte da receita, cada contabilista pagou 50 euros de inscrição.

    O congresso propriamente dito contou com dois “mestres de cerimónia” especiais e inusitados: jornalistas. Marta Atalaya (CP 2502) e Rodrigo Pratas (CP 3979), ambos pivots da SIC Notícias, predispuseram-se a contribuir para a execução do contrato comercial entre a sua entidade patronal e a OCC, apresentando e moderando o evento. No programa impresso tiveram até direito exclusivo a fotografia. Não se sabe se a sua participação foi uma exigência do Caderno de Encargos, embora o PÁGINA UM saiba, por outros eventos, que a Impresa costuma indicar jornalistas disponíveis para essas tarefas.

    Programa do 7º Congresso da Ordem dos Contabilistas Certificados.

    Saliente-se já que o Estatuto do Jornalista considera incompatíveis as “funções de angariação, concepção ou apresentação, através de texto, voz ou imagem, de mensagens publicitárias” e também as “funções de marketing, relações públicas, assessoria de imprensa e consultoria em comunicação ou imagem, bem como de planificação, orientação e execução de estratégias comerciais”.

    Na parte do contrato disponível, sabe-se que à Impresa coube “fornecer os serviços à entidade adjudicante, OCC, conforme as características técnicas e requisitos constantes do presente Caderno de Encargos e da proposta adjudicada”, que não consta no Portal Base. O grupo liderado por Francisco Pedro Balsemão ficou também obrigado a “recorrer a todos os meios humanos e materiais” que fossem “necessários e adequados à execução do contrato”.

    Como geralmente sucede em contratos já revelados pelo PÁGINA UM relativos a “parcerias comerciais” entre grupos de media e entidades públicas e privadas, a Impresa ficou, neste caso, ainda obrigada a “manter sigilo e garantir a confidencialidade, durante a vigência do presente contrato e após a sua cessação, respeitantes à entidade adjudicante ou a quaisquer outras pessoas, singulares ou coletivas, que com estas se relacionem, nomeadamente, bastonária e demais membros dos órgãos sociais, trabalhadores, fornecedores, parceiros e contabilistas certificados inscritos na Ordem”.

    O jornalista Rodrigo Pratas foi um dos “mestres-de-cerimónia” para cumprimento do contrato comercial da Impresa. A sua colega Marta Atalaya é já uma habitué na função..

    Assim, segundo o contrato, os meios de comunicação social da Impresa ficaram obrigados a não “divulgar quaisquer informações que obtenham no âmbito da formação e da execução do contrato, nem utilizar as mesmas para fins alheios àquela execução, designadamente, extrair cópias, divulgá-las ou comunicá-las a terceiros, abrangendo esta obrigação todos os seus agentes, funcionários, colaboradores ou terceiros que nelas se encontrem envolvidos”.

    Mais: ainda de acordo com o contrato, “o dever de sigilo (…) mantém-se em vigor indefinidamente, até autorização expressa em contrário da Ordem”, acrescentando-se que, em “caso de violação de qualquer um dos deveres (…), obriga-se o adjudicatário [Impresa] a comunicar a situação à Comissão Nacional de Proteção de Dados no prazo máximo de 72 horas, assim como a informar a entidade adjudicante [OCC] dos factos, em igual período”.

    O PÁGINA UM detectou, no decurso da vigência deste contrato, pelo menos seis notícias no Expresso. A primeira surgiu no dia 20 de Setembro, onde se anunciava a realização do 7º Congresso da OCC, mas num estilo noticioso, focando sobretudo o impacto da sustentabilidade na contabilidade das empresas.

    Pormenor do Congresso dos Contabilistas na sua componente mais social

    Esta notícia, não assinada, tem no cabeçalho a indicação “Projetos Expresso”, que constitui uma ambígua secção do jornal Expresso usada em especial para parcerias comerciais de âmbito empresarial, embora escritas por jornalistas. Neste caso, a notícia serviu sobretudo para detalhar quem seriam os oradores e indicar que o congresso poderia ser acompanhado na página do Expresso no Facebook. Na notícia, destacava-se que o Expresso “se associou” ao evento, sem mencionar a verba de 31.000 euros paga pela OCC ao grupo Impresa para a “divulgação”.  

    A segunda notícia foi publicada pelo Expresso, no dia seguinte, abordando a necessidade de rejuvenescimento da profissão de contabilista certificado. Publicada também no site do semanário fundado por Francisco Pinto Balsemão, a notícia tem no cabeçalho a referência a Exclusivo da secção de Economia do jornal e está assinada pela jornalista Rita Robalo Rosa (CP 7992). A notícia está disponível apenas para os assinantes do jornal ou para os leitores que tenham comprado a edição impressa do jornal.

    Outra notícia foi publicada no site do jornal no dia 22 de setembro, assinada pela jornalista Ana Baptista (CP 4430), com o título a citar António Costa Silva, ministro da Economia, que foi orador no congresso: “Temos um modelo económico e social que é predador dos recursos do planeta”.

    Artigos noticiosos, escritos por jornalistas mas pagos pela entidade abordada na notícia, começa a ser uma norma no Expresso, que diz sempre que “se associou” a eventos.

    No dia seguinte, mais uma notícia no Expresso, assinada pela mesma jornalista e com fotos de João Girão (CP 3072), foi publicada na edição online e em papel, com o título: Empresas sob “pressão” para serem mais sustentáveis. A notícia apresenta no cabeçalho da página a indicação “Projectos Expresso” e ainda “Contabilidade”.

    Mas, apesar desta indicação, no final da notícia publicada na edição em papel, o endereço de e-mail indicado é o da secção de Economia do jornal, em vez de um e-mail da área comercial do grupo ou da área de “Projectos Expresso”.

    Com a mesma data, saiu uma notícia assinada pela mesma jornalista, no site do jornal, com a referência a “Projectos Expresso” e com o título: Se as empresas não forem verdes, o financiamento pode desaparecer ou diminuir.

    Depois, no dia 28 de setembro, o Expresso publicou no seu site uma nova notícia, sob o título: A sustentabilidade das empresas para garantir o futuro da economia e da sociedade. Esta notícia vem com a indicação no cabeçalho de ser da área de “Projectos Expresso”. Na entrada, pode ler-se: As declarações dos protagonistas do 7º Congresso da Ordem dos Contadores Certificados, uma iniciativa que o Expresso se associou.

    Ora, aqui a notícia contém uma informação que pode induzir o leitor em erro, visto que o Expresso recebeu dinheiro, através da Impresa, para fazer a divulgação do Congresso da OCC. Não “se associou”, já que o que fez foi sim uma prestação de serviços contratualizada com a OCC.

    Além da já referida entrevista à bastonária na SIC Notícias, o PÁGINA UM apurou que a SIC cobriu o encerramento do Congresso da OCC dando-lhe honras de destaque no Jornal da Noite, a pretexto da presença de Marcelo Rebelo de Sousa. O pivot Bento Rodrigues (CP 1270) apresentou a peça, da autoria dos jornalistas Débora Henriques (CP 5674) e Afonso Guedes (CP 7857), com a duração de três minutos, onde se mostrou a exuberância de um espectáculo cénico no decurso do evento..

    Entre notícias e entrevista, pelo menos oito trabalhos jornalísticos no Expresso e na SIC para cumprimento de um contrato comercial sem aviso aos leitores e telespectadores, e de legalidade mais do que duvidosa.

    Contudo, apesar de ser proibido aos jornalistas fazerem marketing ou publicarem conteúdos patrocinados, os reguladores do sector continuam a fechar os olhos às chamadas “parcerias comerciais”. Estas “parcerias” são, na realidade, contratos de prestação do serviço de publicação de “notícias” pagas e organização de eventos, com a participação de jornalistas, sem que os cadernos de encargos sejam públicos.

    A SIC deu destaque ao 7º Congresso da OCC no Jornal da Noite. A peça, com duração de três minutos, abordou o discurso de encerramento do Presidente da República, e mostrou partes do evento, incluindo o espectáculo de pirotecnia.

    Os meios de comunicação social que celebram estes contratos, envolvem, muitas vezes, alguns dos seus jornalistas sem sequer os informarem que estão a cumprir uma “parceria comercial”. Mas o PÁGINA UM sabe que alguns jornalistas se disponibilizam e beneficiam de um pagamento extra por parte da sua entidade patronal.

    Certo é que estes contratos contribuem para o aumento da promiscuidade não só porque podem obstruir investigações jornalísticas como afectam a independência e credibilidade dos órgãos de comunicação social envolvidos. E não apenas das empresas que aceitam as “parcerias comerciais”, porque se enraíza a percepção social de que o rigor e isenção do sector dos media e da classe jornalística podem ser sempre “contornadas” através de pagamento de notícias favoráveis ou por ausência de notícias desfavoráveis.

    Porém, nem a Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) nem a Comissão da Carteira Profissional do Jornalista (CCPJ) demonstraram, até agora, grande preocupação com estes contratos envolvendo notícias pagas e ligações promíscuas entre órgãos de comunicação social e entidades públicas e privadas. Ainda anteontem, o PÁGINA UM insistiu junto da ERC no sentido de saber se foi aberto algum processo aos grupos de media que assinaram mais de meia centena de contratos com entidades públicas, no decurso de uma investigação revelada em Maio passado.

    A bastonária Paula Franco e a ministra Ana Mendes Godinho durante o jantar de gala no Meo Arena. Pelo serviço de catering durante o congresso, a Ordem dos Contabilistas Certificados pagou 350 mil euros. Ignora-se quanto custaram as velas…

    A apatia e permissividade dos reguladores torna-se ainda mais preocupante no caso de contratos durante a pandemia que envolveram farmacêuticas, Governo, autoridades de saúde e organizações “amigas” da indústria do medicamento.

    Foi, aliás, a partir de 2020, que a generalidade dos principais grupos de media em Portugal promoveu opiniões próximas às da indústria farmacêutica e do Governo, evitando divulgar opiniões diferentes. Os media mainstream, em geral, apoiaram e promoveram o clima de censura e até de perseguição que se instalou contra cientistas, médicos, académicos e todos os que apresentavam outras visões e soluções sobre a gestão da pandemia, com muitas a comprovarem ser acertadas.

    Por outro lado, os media, em geral, promoveram estudos e opiniões em linha com a chamada “narrativa oficial”, incluindo relatórios alegadamente científicos, mas de qualidade muito duvidosa, e opiniões de personalidades que são pagas por farmacêuticas ou que têm esse ou outro tipo de incompatibilidades, as quais têm sido expostas pelo PÁGINA UM.

    ERC não revela se já concluiu qualquer análise sobre a legalidade de contratos de prestação de serviços travestidos de notícias em parcerias de duvidosa legalidade. A CCPJ não intervém sobre a promiscuidade que afecta a credibilidade e idoneidade de toda a classe.

    Em contrapartida, por estes serviços, os media mainstream somaram contratos comerciais para a divulgação de eventos do sector farmacêutico, executados por jornalistas na maioria dos casos. Ainda na edição em papel da passada sexta-feira, o Expresso apresentou duas “notícias pagas”, e assinadas por jornalistas, pelas farmacêuticas Pfizer e Sanofi.

  • Pandemia: media mainstream tiveram ‘um papel central’ na perseguição de cientistas

    Pandemia: media mainstream tiveram ‘um papel central’ na perseguição de cientistas

    É um cenário de terror, aquele que é descrito por um estudo feito por cinco investigadores de universidades de Israel e da Austrália. Os investigadores entrevistaram cientistas e médicos de renome a nível mundial que contestaram as políticas seguidas na gestão da pandemia de covid-19 e apresentaram outras soluções. O que descobriram é perturbador: foram usadas tácticas de censura “extremas e sem precedentes” contra aqueles reputados cientistas e médicos. Além da supressão e censura das suas publicações e declarações públicas, outras tácticas foram usadas, como a difamação e perseguição de várias formas, incluindo pelos media mainstream, e a eliminação das suas contas em redes sociais. O estudo conclui que os grupos de comunicação social tiveram aliás um “papel central” na perseguição de ‘opositores’ às políticas que foram seguidas, com as tecnológicas, como Facebook, Google, Twitter e LinkedIn, a terem um papel especial. Conclui também que entidades públicas e farmacêuticas estiveram envolvidas na censura que foi levada a cabo. Mas, as tácticas extremas de censura usadas e a falta de transparência têm tido o efeito oposto do pretendido, levando a população a desconfiar das autoridades de saúde e das políticas seguidas.


    Tácticas de censura “extremas e sem precedentes” foram utilizadas para calar cientistas e médicos de topo a nível mundial que manifestaram posições discordantes das medidas políticas de gestão da pandemia da covid-19. Os media mainstream tiveram um papel central na perseguição das vozes ‘dissidentes’, a par das tecnológicas, como Facebook e Google, estando Governos e farmacêuticas envolvidos em actos de censura.

    Estas são algumas das conclusões de um estudo publicado na prestigiada revista científica Minerva uma publicação especializada em estudos sociológicos do grupo Springer por cinco investigadores de universidades de Israel e da Austrália. O estudo detalha como cientistas e médicos de topo a nível mundial foram visados por acções difamatórias, de censura e perseguição em larga escala.

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    Os investigadores Yaffa Shir-RazEty ElishaBrian MartinNatti Ronel e Josh Guetzkow, destacam no seu artigo intitulado Censorship and Suppression of Covid-19 Heterodoxy: Tactics and Counter-Tactics, que os métodos e tácticas usadas na pandemia foram anti-científicos e podem colocar em risco a vida de pessoas e a saúde pública, constituindo também uma ameaça à liberdade individual e liberdade de expressão. E avisam que a censura acabou por ter um efeito contrário, aumentando a desconfiança pública nas políticas seguidas.

    “Criar um falso consenso, censurando informação e impedindo debates científicos, pode levar os cientistas, e, portanto, também os decisores políticos, a afundarem-se no paradigma dominante, fazendo com que ignorem outras opções mais eficazes para lidar com a crise ou talvez até a impeçam”, alertam.

    Além da censura, que se tornou “a norma” na pandemia, os cientistas e médicos que apresentaram soluções alternativas às oficiais para gerir a pandemia foram alvo de técnicas de difamação e perseguição.

    A metodologia dos investigadores, para a prossecução desta análise, incluiu entrevistas a “13 médicos e cientistas bem estabelecidos [12 homens e 1 mulher], de diferentes países do mundo (nomeadamente, Austrália, Canadá, República Checa, Alemanha, Israel, Reino Unido e Estados Unidos]”.

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    Os media mainstream, a par das tecnológicas, executaram campanhas de perseguição a médicos e cientistas, incluindo classificando as suas pesquisas como “desinformação”, não os entrevistando, e eliminando as suas contas nas redes sociais.

    Destes médicos e cientistas, destacam os investigadores, “11 têm formação médica formal de diversas áreas [por exemplo, epidemiologia, radiologia, oncologia, cardiologia, pediatria, ginecologia, gestão das urgências] e dois são cientistas de investigação sem diplomas médicos [nas áreas da gestão de riscos e psicologia]”. Aqueles especialistas, frisam, “têm um mestrado ou doutoramento, e quatro têm ambos”, sendo que a maioria deles “é bem conhecida nas suas áreas, com um acervo de investigação comprovado que inclui muitas publicações académicas”.

    Os investigadores utilizaram “um método de amostragem propositado, ou seja, uma amostragem não probabilística, segundo a qual é feita uma seleção deliberada de indivíduos que nos podem ensinar sobre o fenómeno em estudo” e, “para preservar o anonimato dos inquiridos, são omitidos detalhes que podem levar à sua identificação”.

    À semelhança de situações anteriores em que houve censura e perseguição de cientistas e médicos, também na pandemia de covid-19 “os resultados de investigação indicam um envolvimento significativo dos meios de comunicação social e do establishment médico na censura e supressão de dissidentes”.

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    Mas salientam que houve “três grandes diferenças” que ocorreram na perseguição e censura de cientistas e médicos durante a pandemia de covid-19.

    Segundo o estudo, “em primeiro lugar, no que diz respeito ao conhecimento relacionado com a covid-19, as tácticas de censura utilizadas contra dissidentes foram extremas e sem precedentes na sua intensidade e extensividade, com revistas científicas e instituições académicas e médicas a participarem na censura de vozes críticas”.

    Por exemplo, um dos participantes do estudo referiu que “até páginas de publicação de estudos ainda não revistos por pares e sites de colaboração académica censuraram artigos e estudos científicos que não estavam alinhados com a narrativa mainstream“, acrescentando que se foi observando”, e isto parece ser “uma tendência crescente”.

    Os investigadores citam também um exemplo recente que ocorreu com um estudo que analisou um inquérito de mais de 300 mil pessoas em 175 países que decidiram não tomar as vacinas contra a covid-19. O estudo “foi removido da página ResearchGate.net nove dias depois de ter sido publicado, citando quebra dos seus termos e condições”.

    Mas o estudo publicado na Minerva apresenta mais preocupantes casos: “o que os nossos inquiridos descrevem vai muito além da censura, e inclui um vasto leque de métodos de supressão destinados a destruir a sua reputação e carreira, apenas porque se atreveram a tomar uma posição diferente da ditada pelo establishment médico”.

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    Os media mainstream também ajudaram a espalhar o medo pela população durante a pandemia,
    criando um clima de desespero e mesmo de pânico, em algumas situações.

    Em segundo lugar, outra diferença face a outras situações de censura, é que “embora estudos anteriores também tenham isolado casos em que investigadores e médicos com currículos impecáveis e até mesmo estatuto académico ou médico sénior foram censurados quando se atreveram a expressar opiniões divergentes, o estudo actual mostra que, no caso da covid-19, censurar médicos e investigadores de estatura tornou-se um fenómeno regular”.

    Os autores do estudo fazem ainda um alerta: “os participantes no nosso estudo, bem como os mencionados na introdução e muitos outros não incluídos na nossa amostra, não são cientistas à margem”. Isto porque, “a maioria são figuras de destaque: investigadores e médicos que antes da era covid-19 tinham um estatuto respeitável, com muitas publicações na literatura científica, algumas delas com livros e centenas de publicações, alguns a liderar departamentos académicos ou médicos, alguns deles editores de revistas médicas, e alguns tinham ganho prémios significativos”.

    A terceira diferença “proeminente”, destacada no artigo da Minerva, “é o papel significativo desempenhado pelas organizações de media durante a pandemia da covid-19, e especialmente as empresas de informação tecnológica, na censura de posições contrárias”. São estas organizações comunicação social e donas de redes sociais que “a nível prático”, detêm o poder, “têm maior capacidade e oportunidades para controlar o conhecimento e a divulgação de informação, e através disso, definir e controlar a agenda”.

    Os investigadores apontam que “documentos recentemente divulgados de processos judiciais indicam que pelo menos parte desta censura é orquestrada por funcionários do Governo”. “As nossas conclusões também apontam indirectamente para outras partes interessadas envolvidas no fenómeno da censura evidente na atual crise, especialmente as empresas farmacêuticas”, revelam.

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    Apesar deste estudo não se ter debruçado especificamente sobre o envolvimento de partes interessadas na censura, diversos relatórios, “tanto antes da era covid-19, como mais recentemente, (…) indicam o envolvimento extensivo de empresas farmacêuticas e de tecnologias de informação em silenciar informações e estudos que podem ser desfavoráveis para eles”.

    Para os investigadores, “dado o papel central destas empresas ao lado dos decisores políticos nas autoridades de saúde e nos governos a nível global, uma grande preocupação é que interesses substanciais, incluindo financeiros e políticos, bem como interesses relacionados com a reputação e a carreira, possam estar por detrás dos esforços de repressão”.

    E salientam ainda que “o interesse das empresas farmacêuticas em controlar o discurso em relação ao covid-19 é evidente”. Por exemplo, foram impostas “medidas altamente incomuns” para impedir que médicos pudessem utilizar medicamentos já existentes no mercado na fase inicial de infecção pelo SARS-CoV-2. Recorde-se que a utilização de medicamentos existentes inviabilizaria a aprovação para uso de emergência de outros fármacos, como é o caso das actuais vacinas.

    Citando um outro estudo publicado este ano, os investidores destacam que a proibição de um debate inicial poderá ter tido consequências económicas [luz verde para vacinas e novos fármacos sob autorização de uso de emergência], financeiras [lucros enormes para grandes empresas] e políticas [restrições globais de liberdades individuais]”.

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    Segundo este estudo, as tecnológicas “também têm fortes interesses em controlar o discurso sobre a pandemia covid-19” e os autores citam um caso exemplar: “em Junho de 2021, foi revelado que a Google, que foi acusada de silenciar a teoria que o vírus SARS-CoV-2 teve origem no Instituto Wuhan de Virologia, financiou, durante mais de uma década, pesquisas de vírus levadas a cabo por um cientista ligado a Wuhan, Peter Daszak, através do seu ‘braço’ de caridade, Google.org”. Além disso, a Google também “investiu um milhão de dólares numa empresa que usa epidemiologistas e análises de big data para prever e rastrear surtos de doenças”, referem os autores.

    Por outro lado, também o British Medical Journal revelou que o processo de fact-checking do Facebook e do YouTube [da Google] assenta em parcerias com verificadores de factos de terceiros, reunidas sob a égide da International Fact-Checking Network. Acontece que “esta organização é gerida pelo Poynter Institute for Media Studies, uma escola de jornalismo sem fins lucrativos cujos principais apoiantes financeiros incluem a Google e o Facebook”. Saliente-se que todos os fact-checkers portugueses, com destaque para o Polígrafo, mas também as rubricas do Público e do Observador, estão associados ao Poynter Institute.

    Quanto aos interesses pessoais dos decisores políticos, o estudo revela que “um grupo de observadores do Governo dos Estados Unidos tem vindo a exigir dados-chave sobre a história financeira e profissional do Dr. Anthony Fauci”, alegando que “durante a pandemia, o Dr. Fauci tem beneficiado generosamente do seu emprego federal, royalties, regalias de viagem e ganhos de investimento”.

    Mas a informação sobre qual foi o seu salário durante os últimos dois anos nunca se tornou pública, tal como as acções e títulos que comprou e vendeu em 2020 e 2021 no mercado financeiro, apesar de Fauci ter influenciado as políticas da covid-19. Também não se sabe o que recebeu — ou não recebeu — em royalties.

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    Aquilo que se sabe, na sequência de um pedido de acesso a informação [FOIA], nos Estados Unidos, é que “Fauci foi instruído por Francis Collins, então chefe do NIH (National Institutes of Health), para desacreditar a Great Barrington Declaration e desvalorizar os seus autores”.

    Mas o artigo da Minerva cita ainda outros casos de conflitos de interesses, incluindo de médicos que assumiram publicamente posições em linha com a narrativa. Em Portugal, um dos casos mais gravosos é o de Filipe Froes, que ganhou largas somas de farmacêuticas, e continua frequentemente a ser citado e destacado pelos media mainstream, nunca sendo referida a sua posição como consultor de empresas farmacêuticas, mas ao invés é destacado o seu papel como consultor da Direcção-Geral da Saúde.

    Os investigadores israelitas e australianos revelam também que, com este estudo, pretenderam “sensibilizar para o uso crescente de práticas de censura e tácticas agressivas de supressão, visando até figuras de relevo que se atrevem a criticar ou duvidar do ‘consenso’ que é imposto”. E avisam: “a censura e as práticas de silenciamento podem ter consequências de grande alcance, manifestadas na violação da liberdade de expressão e dos princípios éticos, prejudicando a ciência e potencialmente arriscando a saúde e segurança públicas”.

    Os investigadores recomendam, por fim, que sejam realizados mais estudos sobre as implicações da censura e tácticas de perseguição de cientistas e médicos durante a pandemia, concluindo que “a censura e o dogma não fazem parte da verdadeira Ciência e têm de ser abandonados e substituídos por um debate justo e aberto”.

  • Sentença: PÁGINA UM ganha processo em prol da transparência contra Entidade Reguladora para a Comunicação Social

    Sentença: PÁGINA UM ganha processo em prol da transparência contra Entidade Reguladora para a Comunicação Social

    Em Agosto passado, o regulador dos media acusou o director do PÁGINA UM de ser um “cidadão” que se intitulava jornalista e que tinha “comportamentos nos quais, consideramos, que a classe jornalística não se revê”. E tinha razão: nunca nenhum outro jornalista foi tão longe para obrigar a Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) a mostrar documentos administrativos que queria esconder. O Tribunal Administrativo de Lisboa acaba de conceder a quinta vitória do PÁGINA UM em processos em prol da transparência da Administração Pública.


    Como habitual, tudo valeu. A sociedade de advogados contratada pela Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) – a Vaz Mendes & Associados – até chegou a alegar que o requerimento do PÁGINA UM para o processo de intimação no Tribunal Administrativo de Lisboa do PÁGINA UM não cumpria as regras, porque “ao invés de numerais ordinais, usualmente utilizados no articulado legal, o Requerente utiliza numeração composta por numerais cardinais”.

    Mas, nem esse comezinho expediente surtiu efeito: na sentença decretada esta semana pela juíza Maria Carolina Duarte o Tribunal é bastante claro e pouco abonatório para a entidade que regula os media e que, ainda por cima, é presidida por um juiz conselheiro: a ERC vai mesmo ter de revelar os documentos onde consta a identidade de todas as empresas de comunicação social (e argumentos aduzidos) que solicitaram confidencialidade de dados financeiros no Portal de Transparência dos Media, de modo a esconder relações de dependência económica.

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    A sentença determina que, nos processos já concluídos, a ERC poderá, no máximo, apagar “dados pessoais e outros que revelem segredos comerciais ou sobre a vida interna das empresas, mas terá sempre de justificar, caso a caso, “o motivo do expurgo”. Relativamente aos processos não concluídos, a sentença permite que se possa diferir “a entrega dos documentos até à tomada da decisão ou ao arquivamento do processo”, embora dentro de um limite temporal específico.

    Este é o culminar de mais um processo litigioso em prol da transparência protagonizado pelo PÁGINA UM, neste caso incidindo no modus operandi da ERC. Em finais de Julho, o PÁGINA UM solicitara ao juiz conselheiro Sebastião Póvoas, presidente do regulador desde Dezembro de 2017, “o acesso a cópia digital ou analógica de todos os requerimentos – desde 2017 até à data – das empresas de comunicação social que solicita[ram] confidencialidade dos principais fluxos financeiros e identificação das pessoas singulares ou colectivas que representam mais de 10% dos rendimentos totais e mais de 10% do montante total de passivos no balanço e dos passivos contingentes.”

    A promoção da transparência da titularidade, da gestão e dos meios de financiamento das entidades que prosseguem atividades de comunicação social tem sido uma das matérias mais sensíveis nos últimos anos no sector da comunicação social. Em 2015, uma lei aprovada na Assembleia da República estipulou que as empresas detentoras de órgãos de comunicação social disponibilizassem, no denominado Portal da Transparência dos Media, a relação de titulares e de detentores, discriminando as percentagens de participação social e identificando toda a cadeia de entidades a quem uma participação de pelo menos 5% pudesse ser imputada.

    Por outro lado, ficou também estipulada a obrigatoriedade de comunicar à ERC a informação relativa aos principais fluxos financeiros daquelas entidades (com contabilidade organizada). Esta obrigação deveria, por lei, incluir “a relação das pessoas individuais ou coletivas que tenham, por qualquer meio, individualmente contribuído em, pelo menos, mais de 10% para os rendimentos apurados nas contas de cada uma daquelas entidades ou que sejam titulares de créditos suscetíveis de lhes atribuir uma influência relevante sobre a empresa”, mas em “termos a definir no regulamento da ERC”.

    Efectivamente, a ERC criaria um regulamento em Outubro de 2020, onde, além de estabelecer a obrigação do envio do relatório anual de governo societário (RGS), concedia excepções arbitrárias que, na prática, destruíam o princípio da transparência. Com efeito, no artigo 8º do regulamento – que não teve de passar pela Assembleia da República – refere-se que “atendendo à sensibilidade e ao caráter sigiloso de alguns dados solicitados, as entidades poderão solicitar à ERC a aplicação do regime de exceção”.

    Em 6 de Julho passado, no decurso de um pedido de confidencialidade da TVI S.A. – empresa detentora da TVI e da CNN Portugal –, que o PÁGINA UM noticiou em primeira mão, a ERC não quis identificar quais as outras empresas que solicitaram igual tratamento.

    Última página da sentença favorável ao PÁGINA UM contra a Entidade Reguladora para a Comunicação Social.

    O regulador adiantou então apenas que “os pedidos podem incidir sobre informação muito específica ou cumulativamente sobre vários elementos comunicados em cumprimento das obrigações legais da transparência”, acrescentando ainda que “os requerentes invocam, genericamente, (…) a sensibilidade dos dados e antecipam impactos negativos resultantes da sua divulgação, relacionados com estratégias de negócio, estruturas de receitas e a sustentabilidade económico-financeira do meio, em particular em mercados locais.”

    A ERC também não indicava o número absoluto de pedidos entre 2017 e 2021, dando somente dados relativos. Segundo o regulador, naquele quinquénio, mais de três quartos dos pedidos de confidencialidade (77%) tinham sido indeferidos pelo Conselho Regulador, “que entendeu que os argumentos apresentados não justificavam a não disponibilização da informação”.

    Perto de 12% dos pedidos foram deferidos, “salientando-se que uma parte incidia sobre uma informação muito específica, como a percentagem que representa um cliente relevante”. Em perto de 11% das situações o Conselho Regulador concedeu deferimento parcial. No entanto, não sabe o número absoluto que esses 23% representam nem que dados ficaram assim escondidos e porquê.

    Já quanto ao presente ano, no início de Julho a ERC informava que recebera 22 pedidos de confidencialidade submetidos por entidades de comunicação social, que incluía o da TVI S.A., que veio entretanto a ser indeferido. No entanto, desconhece-se a identidade das outras 21 empresas, e quais foram as decisões da ERC.

    Por esse motivo, o PÁGINA UM decidiu, em finais de Julho, formalizar um pedido expresso ao abrigo da Lei do Acesso aos Documentos Administrativos. Inicialmente, a ERC nem reagiu ao requerimento, tendo optado por iniciar uma campanha de descredibilização do PÁGINA UM, fabricando inopinados incidentes envolvendo o seu director.

    Recorde-se que num comunicado em 9 de Agosto, a ERC chegou a acusar explicitamente o director do PÁGINA UM de “insultar os membros do Conselho Regulador” e de “exercer coação sobre os funcionários que o atendem” a pretexto da consulta de outros processos naquela entidade reguladora. A ERC conseguiu mesmo que a agência Lusa fizesse uma notícia, através de um comunicado de imprensa, em que identificava o director do PÁGINA UM como um “cidadão” que “intitulando-se jornalista (…) tenta legitimar comportamentos nos quais, consideramos, que a classe jornalística não se revê”.

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    Mais tarde, já com o processo de intimação no Tribunal Administrativo, O presidente da ERC acabou por defender a pretensão do PÁGINA UM por razões de “inutilidade, desrazoabilidade e não economia processual”.

    Porém, em sede de Tribunal Administrativo, nem o pedido do PÁGINA UM foi considerado, inútil, nem desrazoável, nem a juíza Maria Carolina Duarte encontrou razões para se invocar qualquer preceito relacionado com economia ou deseconomia processual.

    Na extensa sentença de 35 páginas, a juíza relembra o papel da comunicação social como “um dos pilares da democracia”, defendendo também que a sua natureza “justifica que os agentes que nele operam estejam adstritos a especiais deveres de reporte de informação e transparência”, para depois admitir que, embora a ERC possa permitir a confidencialidade de alguma informação, esse “argumento não legitima a recusa de acesso in totum”, ou seja, no seu todo. E depois determina as condições para que o regulador forneça a informação que tem vindo a recusar.

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    Além da condenação ao pagamento das custas processuais, a juíza determinou a notificação da sentença ao “Dr. Sebastião José Coutinho Póvoas e ao Dr. Pedro Correia Gonçalves, membros da direção executiva da entidade requerida [ERC], advertindo-os de que devem diligenciar pelo cumprimento da intimação, sob pena de não o fazendo, sem justificação aceitável, poderem vir a ser condenados em sanção pecuniária compulsória (…), sem prejuízo do apuramento da responsabilidade civil, disciplinar e criminal a que haja lugar”.

    A ERC tem um prazo de 10 dias para cumprir esta sentença, podendo também – tanto mais que gere dinheiros públicos e aqueles que são provenientes das taxas da comunicação social – optar pelo recurso para o Tribunal Central Administrativo Sul, pagando assim também mais 42,88 euros, a que acresce IVA à taxa legal em vigor, à sociedade de advogados Vaz Mendes & Associados, que foi quem patrocinou a causa em primeira instância.


    Todos os encargos do PÁGINA UM nos processos administrativos, incluindo taxas de justiça e honorários de advogado, têm sido suportados pelos leitores e apoiantes, através do FUNDO JURÍDICO. Até ao momento, o PÁGINA UM está envolvido em 14 processos de intimação, quatro dos quais em segunda instância, e ainda em duas providências cautelares. Até ao momento foram angariados 12.115 euros, um montante que começa a ser escasso face à dimensão e custos envolvidos nos processos. Saliente-se que o PÁGINA UM tem de garantir uma “provisão” para as situações em que possa ter sentenças desfavoráveis, o que acarretará o pagamentos de custas que podem ser elevadas por cada processo perdido.

    Na secção TRANSPARÊNCIA começámos a divulgar todas as peças principais dos processos em curso no Tribunal Administrativo. Este processo específico da Entidade Reguladora para a Comunicação Social ficará disponível nos próximos dias.