Categoria: Cultura

  • Rabo de Peixe

    Rabo de Peixe

    Título

    City on the Hill (2019)

    Género

    Drama: Crime

    País de origem

    Estados Unidos da América

    Plataforma

    HBO Max

    Criador

    Chuck Maclean

    Actores principais

    Fevin Bacon; Aldis Hedge; Jill Hennessy

    Nota

    7/10

    Recensão

    Originalmente distribuída pela rede de canais televisivos Showtime, em 2019, City on the hill é uma série norte-americana desenvolvida por Chuck Maclean, baseada numa história criada pelo famoso actor Ben Affleck, que, a par de Matt Damon, também a produz. Recordemos que esta dupla ganhou o Óscar Melhor Argumento em 1997 por O bom rebelde (Good will hunting), onde também se destacava o malogrado Robin Williams.

    City on the hill é um drama protagonizado por Kevin Bacon e Aldis Hodge, tendo como cenários os anos 90 na cidade de Boston, com a premissa de uma cooperação em constante conflito entre o agente do FBI Jackie Rohr (Bacon) e o Procurador-Geral Adjunto Decourcy Ward (Hodge). Conta ainda, em destaque, com a participação de Jill Hennessy, no papel de Jenny Rohr, mulher de Jackie.

    Bacon representa um agente veterano em final de carreira, cuja aprendizagem tem tudo de old school. Corrupção, abuso de drogas e maneirismos fazem de Jackie Rohr um polícia tão desprezível quanto necessário para a trama, onde a fronteira entre anti-herói e vilão se esvanece muitas vezes e só de quando em vez a moralidade aparece.

    Já Hedge é o oposto: ainda jovem, é um idealista, incorruptível, mas ambicioso, havendo linhas que não cruza, embora sabendo que , por vezes, há que “fechar os olhos” para apanhar criminosos e trazê-los à justiça.

    City on the hill não é, em todo o caso, uma história de detectives, nem um clichê típico de series de advogados. Junta sim dois aspectos conhecidos para criar um enredo bastante mais original e interessante, onde se explora a pobreza, o crime e até o racismo institucionalizado numa cidade como Boston.

    Não é propriamente surpreendente que a acção seja passada em Boston, porque tanto Maclean como Affleck e Damon foram criados nesta cidade do Estado de Massachussetts – e o Óscar que arrecadaram com O bom rebelde também tem aí o seu cenário.

    Disponível na plataforma HBO Max, City on the hill conta com três temporadas num tempo médio de 55 minutos por cada um dos seus 26 episódios. E se outros motivos não houvesse, aproveitem para assistir à brilhante representação da “decadência” de Kevin Bacon.

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  • Estante P1: Maio de 2023

    Estante P1: Maio de 2023

    Título

    Indignação

    Autor

    Philip Roth

    Editora

    Dom Quixote

    Sinopse

    Indignação é o vigésimo sétimo livro de Philip Roth, conta a história da educação do jovem Marcus Messner nas circunstâncias assustadoras e nas obstruções anómalas que a vida acarreta.É uma história de inexperiência, loucura, resistência intelectual, descoberta sexual, coragem e erro contada com toda a energia criativa e todo o engenho de que Roth é possuidor.É simultaneamente uma ruptura inesperada com as narrativas obsidiantes da velhice e suas experiências que são os seus livros mais recentes e um poderoso aditamento às investigações do autor sobre o impacto da história da América na vida do indivíduo vulnerável.

    Título

    Salvar o fogo

    Autor

    Itamar Vieira Junior

    Editora

    Dom Quixote

    Sinopse

    Depois de ter ficado órfão de mãe, Moisés vive com o pai e a sua irmã Luzia na Tapera do Paraguaçu, um povoado cujo domínio das terras pertence à Igreja, que ali detém um mosteiro desde o século XVII. Os irmãos partiram todos em busca de uma vida melhor, mas Luzia foi obrigada a ficar para cuidar do pai e do menino; estigmatizada pelos seus supostos poderes sobrenaturais, leva no entanto uma vida de profundo sentido religioso, trabalhando como lavadeira do mosteiro e educando Moisés rigidamente com o objetivo de o inscrever na escola dos padres e conseguir para ele a educação que nenhum deles pôde ter. Porém, a experiência dessa formação marcará o rapaz de tal modo que ele acabará por deixar intempestivamente a casa.Será só vários anos mais tarde, depois de um grave acontecimento que é o pretexto para a família toda se reunir, que Moisés reencontrará Luzia – uma Luzia arrependida dos silêncios e magoada pelas mentiras, mas simultaneamente combativa, lutando como nunca contra as injustiças, pela posse da terra dos seus antepassados.Épico e lírico, emocionando o leitor a cada nova página, Salvar o Fogo é um romance que mostra que muitas vezes os fantasmas de uma família não se distinguem dos fantasmas de um país. A ferida aberta pelo multipremiado Itamar Vieira Junior nesta obra-prima só o leitor poderá fechar.

    Título

    O piloto de Casablanca

    Autor

    José António Barreiros

    Editora

    Oficina do Livro

    Sinopse

    Durante a Segunda Guerra Mundial, quando voar era uma aventura arriscada, a ligação aérea entre Lisboa, Tânger e Casablanca, celebrizada num dos mais emblemáticos filmes de Hollywood, com Humphrey Bogart e Ingrid Bergman, era exclusivamente assegurada por Portugal, enquanto país neutro no conflito. O piloto que fazia essa rota, por vezes em condições de grande perigo, chamava-se José Cabral e era um comandante de marinha, corajoso e audaz.Graças a esta figura notável da aviação naval, com contactos nos serviços secretos britânicos e norte-americanos, refugiados de guerra salvaram-se da ameaça nazi e diplomatas e militares das forças Aliadas cumpriram missões na operação de desembarque no Norte de África, o princípio do fim do III Reich.Cabral viria a ser galardoado com a mais alta distinção concedida pelos EUA a militares estrangeiros, mas cairia no esquecimento no país onde nasceu. Resgatando a sua memória, José António Barreiros recorda a vida, a bravura e as missões clandestinas deste herói português.

    Título

    As primas 

    Autora

    Aurora Venturini

    Editora

    Alfaguara

    Sinopse

    A obra-prima de uma escritora catapultada para a fama literária mundial aos 85 anos. A história de uma família em que as mulheres procuram fugir à norma, com ecos de Lucia Berlin, Shirley Jackson e Carson McCullers.Na cidade argentina de La Plata, nos anos de 1940, conhecemos Yuna e Petra, duas primas que pertencem à mesma família disfuncional, precária e destinada à desgraça. Pela voz de Yuna, vemos um universo tortuoso de mulheres abandonadas à sua sorte, a braços com a pobreza, a deficiência, o delírio fantasmagórico e a pressão social.Para se evadir do cerco das histórias de ameaças, violações e homicídios, Yuna recorre à sua imaginação artística: a cada episódio de violência, pinta uma nova tela. Vendo na arte uma fuga ao estropiamento familiar, Yuna lança sobre o seu mundo um olhar selvático — ora cândido e perspicaz, ora violento e ensimesmado — e protagoniza uma história que desafia todas as convenções literárias.Aurora Venturini poderia ser uma das peculiares personagens dos seus romances, já que o seu percurso ficou marcado pelo fait-divers de ter vencido um concurso literário para novos talentos quando já tinha escrito dezenas de livros e se aproximava do fim da vida.

    Entre o romance de formação, a delirante autobiografia, o divertimento literário e a radiografia de uma época, As Primas é uma obra que celebra, ao mesmo tempo, as dimensões universal e privada da literatura, revelando a desconcertante originalidade de uma autora que ousa colocar perguntas quase sempre cuidadosamente mantidas em silêncio.

    Título

    Sob a estrela do outono

    Autor

    Knut Hamsun

    Editora

    Cavalo de Ferro

    Sinopse

    Sob a Estrela do Outono, até hoje inédita em português, é unanimemente considerada uma das obras fundamentais de Knut Hamsun.Fugido da “azáfama, dos jornais e das pessoas da cidade”, o protagonista deste romance, ao qual Hamsun empresta o seu próprio nome, Knut Pedersen, refugia-se no campo em busca da verdadeira vida, determinado a conquistar aí a calma e a paz interior.Senhor de si mesmo, vagueia de quinta em quinta, despoja-se da sua roupa elegante para desempenhar o ofício de pedreiro ou lenhador, dá asas à sua veia de inventor, enamora-se de uma mulher casada — um amor proibido que levará este vagabundo idealista de volta ao ponto de partida: um regresso à paixão, ao sofrimento e à cidade.

    Título

    Lucy à beira-mar

    Autor

    Elizabeth Strout

    Editora

    Alfaguara

    Sinopse

    Distinguida com o Prémio Pulitzer, a extraordinária escritora Elizabeth Strout regressa, neste romance, à sua icónica personagem Lucy Barton, protagonista de uma história de empatia, emoção, perda e esperança.Quando o medo pandémico se apodera da cidade, Lucy Barton abandona Manhattan e muda-se com William, o seu ex-marido, para uma pequena cidade costeira no Maine. nos meses que se seguem, os dois vivem numa casa perto do mar, experiência que vai revelar-se transformadora. Lucy e William voltam a ser os companheiros de há tantos anos — a diferença é que se encontram isolados do mundo em colapso, estando a sós com um complexo passado, com as suas memórias e com os seus desejos.Elizabeth Strout explora os interstícios do coração humano e compõe um retrato revolucionário e luminoso das relações íntimas durante os confinamentos. no cerne desta história estão os laços profundos que nos unem, mesmo quando separados: o vazio após a morte de alguém que amamos, ou o consolo de um antigo amor que afinal perdura.

    Título

    Agente Sonya 

    Autor

    Ben Macintyre

    Editora

    Dom Quixote

    Sinopse

    Em 1942, numa pacata aldeia da região verdejante de Cotswolds, no centro de Inglaterra, uma mulher magra e elegante vivia numa pequena casa de campo com os três filhos e o marido, que trabalhava nas imediações como maquinista. Ursula Burton era afetuosa, mas reservada, e falava inglês com um ligeiro sotaque forasteiro. Parecia viver uma vida simples, humilde. Os vizinhos de aldeia sabiam pouco sobre ela.Não sabiam que, na verdade, era uma oficial de alta patente da espionagem soviética. Não sabiam que o marido também era espião, nem que ela comandava uma poderosa rede de agentes a operar na Europa. Por detrás da fachada da sua vida pitoresca, Burton era uma comunista convicta, uma coronel soviética, uma agente experiente que recolhia segredos científicos que permitiriam à União Soviética construir a bomba atómica.Esta história verdadeira, de espionagem, é uma obra-prima sobre a mulher com nome de código «Sonya». Ao longo da sua carreira foi perseguida pelos chineses, japoneses e nazis, pelo MI5, MI6 e o FBI, sem nunca ter sido apanhada. A sua história reflete o grande confronto ideológico do século XX entre o comunismo, o fascismo e a democracia ocidental, e lança uma nova luz sobre as lutas e as lealdades instáveis dos espiões no nosso tempo.

    Título

    Imperatriz

    Autora

    Pearl S. Buck

    Editora

    Dom Quixote

    Sinopse

    Em Imperatriz, Pearl S. Buck dá vida à incrível história de Cixi, a concubina imperial que acabaria por liderar a dinastia Ching.Nascida numa família humilde, Cixi apaixona-se pelo seu primo Jung Lu, um belo guarda imperial – mas ainda em adolescente é escolhida, com a sua irmã e centenas de outras raparigas, para ir morar para a Cidade Proibida.Destacando-se pela sua beleza, Cixi está determinada a tornar-se a preferida do Imperador, e dedica todo o seu talento e astúcia à concretização desse objetivo. Quando o Imperador morre, Cixi encontra-se numa posição que lhe dá o poder supremo, que irá manter durante quase cinquenta anos, usando-o tanto para trazer paz ao império como para promover Jung Lu, a quem amará – em segredo – para sempre.Num mundo de intrigas liderado por homens, Cixi irá tomar a seu cargo várias decisões importantes e será responsável pela modernização da China, sem que nunca tenha recebido por isso o devido crédito. Muito foi escrito sobre Cixi, mas nenhum outro romance recria a sua vida – a sua extraordinária personalidade e, ao mesmo tempo, o mundo das intrigas da Corte e o período de tumulto nacional com o qual ela lidou – tão bem como Imperatriz.

    Título

    Um enfarte no alto do Parque

    Autor

    Francisco Moita Flores

    Editora

    Casa das Letras

    Sinopse

    Francisco Moita Flores preparava-se para iniciar uma sessão de autógrafos na Feira do Livro de Lisboa, de 2022, quando foi acometido por um enfarte agudo do miocárdio, ficando em estado de “morte súbita”. São raras as vítimas que sobrevivem a este estado clínico, caso não lhe sejam rapidamente ministradas manobras de reanimação.Graças à pronta reação de médicos, que se encontravam na Feira, e dos serviços do INEM, foi possível reverter a situação. Moita Flores seria operado de urgência no Hospital de Santa Marta com sucesso.Ainda na fase de convalescença, tendo sido informado do alarido que se criou em torno do caso, decidiu contar a história na qual é o principal personagem. Partindo da sua própria experiência de “morte súbita”, discorre bem-humorado sobre os acontecimentos que se desencadearam na Feira do Livro. O seu objetivo é ajudar na prevenção da doença cardíaca.Com uma narrativa, pontuada aqui e ali com observações engraçadas, muito ao seu estilo, dá o testemunho de quem “morreu” e “ressuscitou”, prendendo o leitor e prevenindo-o para que não sofra de igual ocorrência.

    Título

    Covid – Uma trágico-comédia

    Autor

    Bruno Barata

    Editora

    Edições Vieira da Silva

    Sinopse

    Covid – Uma trágico-comédia, um resumo em tom crítico utilizando o humor, com sarcasmo ilustrativo, à pandemia.Desde a forma como a comunicação social actuou logo no início, às medidas, estudos/recomendações que médicos e investigadores propuseram e governantes impuseram, e estratégias individuais que cada um adoptou, ninguém escapou a uma comédia global.Nada como analisar o comportamento da sociedade enquanto não vem o próximo fim do mundo.

    Título

    O parque dos cães

    Autora

    Sofi Oksanen

    Editora

    Alfaguara

    Sinopse

    Escritora multipremiada, Sofi Oksanen regressa com um romance sobre a condição feminina, a exploração do corpo da mulher, a maternidade e a teia criminosa e lucrativa em torno daquelas que tudo perderam.O Parque dos Cães oscila entre dois mundos: a Helsínquia da atualidade e a Ucrânia que conquistou a independência, após o colapso da União Soviética. Do cruzamento destas duas realidades, surge uma outra: a endémica corrupção do Leste, alimentando a ganância voraz do Ocidente. Nesta interseção, conhecemos duas mulheres que partilham uma história de lealdade, amor e confiança traída. Dão por si arrastadas para uma torrente de lutas de poder que opõe famílias influentes, mas que também opõe sexo feminino e sexo masculino. A razão é só uma: o corpo da mulher tem a capacidade de dar vida e, por causa disso, torna-se fonte de lucro.Sofi Oksanen lança-se mais uma vez num tema fraturante e incómodo do mundo atual, numa narrativa que oscila entre o thriller psicológico e a mais comovente humanidade. O Parque dos Cães retrata a vida de uma mulher que se descobre incapaz de fugir à memória do filho que perdeu, aos fantasmas que a assombram e às mentiras que lhe salvaram a vida.Esta é a história do lado negro da indústria da fertilidade, mas também do ponto a que todos somos capazes de chegar para concretizar sonhos impossíveis.

    Título

    O desertor

    Autor

    Abdulrazak Gurnah

    Editora

    Cavalo de Ferro

    Sinopse

    Obra representativa do talento de Abdulrazak Gurnah, O Desertor evoca o complexo ambiente social, religioso e cultural da África Oriental na época colonial através de duas histórias de amor, separadas pelo tempo, mas unidas pelo seu desfecho, evidenciando o intricado mosaico de uma África ainda desconhecida.Ao romper de mais uma manhã, Hassanali está a caminho da mesquita quando um forasteiro branco, vindo do deserto, desaba a seus pés. Hassanali decide ajudar aquele homem — um explorador e orientalista inglês de nome Martin Pearce — levando-o depois para casa de um oficial, seu conterrâneo.  Quando Pearce regressa para agradecer a Hassanali por lhe ter salvado a vida, também conhece a irmã dele, Rehana, com quem viverá uma história de amor proibido.

    Título

    Sempre

    Autor

    Morris Gleitzman

    Editora

    Fábula

    Sinopse

    “Manter a esperança — sempre. É o meu lema.”Felix, um órfão judeu, polaco, que sobreviveu aos horrores da Segunda Guerra Mundial, tem agora 87 anos. Um dia, aparece-lhe em casa, na Austrália, um menino de 10 anos, Wassim, vindo de um país da Europa de Leste, com um pedido de ajuda que ele não vai conseguir recusar. De alguma forma, a história de ambos está interligada e a inocência e a esperança de Wassim, perante problemas dramáticos, convencem Felix a envolver-se numa aventura que o leva a revisitar pessoas e memórias que pensava nunca mais ter de reviver.A narração desta obra é feita alternadamente por estes dois heróis, um idoso e uma criança, e é comovente como ambos são igualmente corajosos, solidários e determinados. Além do nazismo, aborda questões atuais como o racismo, a condição de refugiado e a violência no mundo moderno. Felizmente a maldade não sai sempre vencedora.O último livro da série juvenil sobre a vida de Felix, um órfão judeu marcado pela Segunda Guerra Mundial, sobre os horrores da guerra e as razões de esperança no melhor da humanidade. Tão emocionante, positivo, cativante e inspirador como os anteriores. 

    Título

    Linguagens da verdade – Ensaios 2003-2020

    Autor

    Salman Rushdie

    Editora

    Dom Quixote

    Sinopse

    Salman Rushdie é celebrado como “um mestre da narrativa contínua” (The New Yorker), iluminando verdades da nossa sociedade e cultura através da sua prosa deslumbrante e, muitas vezes, cáustica. Esta coletânea de textos de não-ficção reúne ensaios, críticas e discursos perspicazes e inspiradores, que se focam na relação de Rushdie com a palavra escrita e fortalecem o seu lugar como um dos pensadores mais originais do nosso tempo. 

    Linguagens da Verdade reúne textos escritos entre 2003 e 2020 e demonstra o envolvimento intelectual de Salman Rushdie com certos períodos de mudanças culturais. Mergulhando o leitor numa ampla variedade de assuntos, explora a natureza do ato de narrar como uma necessidade humana, e o resultado é uma carta de amor à literatura. Rushdie analisa o que obras de autores desde Shakespeare e Cervantes até Samuel Beckett, Eudora Welty e Toni Morrison significam para ele, tanto na página impressa como a nível pessoal. Ao mesmo tempo, tenta aprofundar a natureza da “verdade”, deleitando-se com a vibrante maleabilidade da linguagem e das linhas criativas que podem unir arte e vida, e revisita temas como a migração, o multiculturalismo e a censura.

    Título

    Como um marinheiro eu partirei

    Autor

    Nuno Costa Santos

    Editora

    Elsinore

    Sinopse

    Uma narrativa profundamente humana que revisita a carreira e a vida do famoso cantor belga Jacques Brel e a sua passagem crepuscular pelos Açores.”Um homem fuma um cigarro à proa de um iate, concentrado no som do mar.”Este homem é Jacques Brel, compositor e intérprete de canções de um lirismo e elaboração extraordinários, explosivas, contagiantes, que arrebatam audiências. De espírito rebelde e inconformado, no auge da sua popularidade, Brel toma a decisão intempestiva de abandonar para sempre os palcos.Romance, biografia, reportagem, reflexão sobre os nossos medos mais secretos, em Como um Marinheiro Eu Partirei, Nuno Costa Santos compõe com a força da Literatura uma indagação sobre a identidade pessoal.

    Título

    Amigos até ao fim

    Autor

    John Le Carré

    Editora

    Dom Quixote

    Sinopse

    No seguimento da guerra do Iraque, o inglês Edward “Ted” Mundy, filho de um major na reserva do antigo exército indiano, escritor falhado e guia turístico na Baviera, vê reaparecer o seu passado na pessoa de Sacha, o militante da Alemanha de Leste que ele encontrara nos finais dos anos 60 numa Berlim entregue à agitação revolucionária, e que tornou depois a ver no espelho embaciado dos espiões da Guerra Fria, para a montagem de uma operação de agente duplo. Mas os tempos mudaram, e a amizade dos dois, renovada em nome de um idealismo tornado obsoleto, vai ser minada pelas cínicas manobras de uma América mais imperialista do que nunca.

    Com este romance, Le Carré fez o epitáfio da espionagem à moda antiga e dos valores ultrapassados que estruturavam o universo dos agentes secretos; depois do 11 de Setembro, as “causas justas” perderam o seu valor quando a América de Bush impôs a todo o mundo a marcha forçada da sua autoglorificação triunfalista e hegemónica.Lançando um olhar cruelmente céptico sobre as manobras maquiavélicas de uma América envolta na sua boa consciência, le Carré denuncia também a cega mesquinhez do homem, e a sua mensagem desesperada perseguirá o leitor durante muito tempo após a leitura da última linha.

    Título

    A secretária de Churchill

    Autora

    Susan Elia Macneal

    Editora

    Saída de Emergência

    Sinopse

    Numa era de desafios sem precedentes, ela pode ser a única hipótese de vencer a guerra…Londres, 1940. Churchill chegou ao poder e a guerra alastra. Mas isso não detém Maggie Hope, uma jovem com um dom natural para decifrar códigos que rivaliza com as mentes mais brilhantes do governo. Em tempos conturbados e mortíferos, o acesso à Sala de Guerra do primeiro-ministro dá a Maggie a oportunidade única de desvendar as conspirações de um grupo determinado a alterar o curso da História.

    Enredada numa rede de espiões, homicídios e intriga, a jovem tem de trabalhar para equilibrar o seu dever com a Pátria e as suas oportunidades de sobreviver. E quando se vê envolvida num mistério que envolve a sua própria família, Maggie descobre que a sua inteligência é tudo o que se interpõe entre o plano mortal de um assassino e o próprio Churchill. 

    Uma estreia ambiciosa e uma personagem fascinante que promete tensão e mistério para os próximos volumes.

    Título

    Atlas do histórico do Mediterrâneo – Da Antiguidade aos nossos dias

    Autor

    Florian Louis

    Editora

    Guerra e Paz

    Sinopse

    Compreender este espaço compósito permite-nos compreender a história dos territórios e países que o delimitam e que com ele têm interagido desde a Antiguidade:• Um mar fértil, que viu nascer e crescer os grandes impérios mesopotâmico, grego e romano;• Um mar agitado, entre conquistas bizantinas, Cruzadas, Reconquista e estabelecimento do Império Otomano;• Um mar dominado por uma Europa hegemónica a partir do final do século XVIII;• Um mar turbulento onde estão em jogo grandes desafios contemporâneos – conflitos, crise migratória e questões ambientais.Perto de 90 mapas e documentos ajudam a recriar a história rica e viva deste frágil mosaico, que deve enfrentar o desafio de permanecer um elo entre as suas margens.

    Título

    Ensino superior e desenvolvimento

    Autor

    José Ferreira Gomes

    Editora

    Fundação Francisco Manuel dos Santos

    Sinopse

    Como tem evoluído o sistema português de ensino superior? Com que política e investimento estatais, rede institucional, procura estudantil e retrato de docentes? Como se incentiva, financia e produz ciência nas universidades e com que ligação à administração pública e ao setor produtivo privado?Neste livro faz-se uma análise do sistema de ensino superior e da investigação científica numa perspetiva de comparação internacional e de serviço público disponibilizado aos cidadãos. Descreve-se o enorme atraso educativo acumulado nos 150 anos anteriores à Primeira Guerra Mundial e a lenta recuperação até fins do século passado. na ciência, enquanto atividade profissionalizada, a nossa história não ultrapassa meio século. Tendo atingido hoje indicadores educativos e científicos comparáveis aos dos nossos pares europeus, interessa compreender as razões do seu moderado impacto no desenvolvimento económico e social do país.

    Título

    Receitas & estórias

    Autor

    Octávio Viana

    Editora

    Thorn Publishers

    Sinopse

    Nunca houve um livro de receitas como este, nem um livro de estórias que pudesse divertir tanto, ao mesmo tempo que ensina qualquer pessoa a cozinhar de forma simples, fácil e rápida.

    O autor, não sendo um chef e nem tão pouco versado na arte culinária, brinda-nos com receitas fáceis de executar por qualquer pessoa, mas que ainda assim são pratos espetaculares para levar até à mesa mais exigente.

    Nesta deliciosa obra, o autor resgata da sua memória receitas que revelam uma soberba e maravilhosa mistura de sabores, aromas e cores, acompanhadas sempre com uma pitada de fabulosas estórias e histórias que vão desde a origem do cioccolato cremino, em Torino, Itália, até às aventuras pessoais vividas por aí.

    As receitas tanto podem ser usadas para confecionar um almoço rápido, como um jantar soberbo e elaborado, uma deliciosa sobremesa conventual portuguesa ou um verdadeiro gelato artesanal italiano.

    Se quer descobrir os segredos de um bom risotto de trufa branca de Alba, receita da Paola, do tiramisù da pastelaria Nascimben, da mousse de chocolate da Inês, do gelato cremino da gelataria Ariosto, do pesto genovese da Chiara, do creme de pistacchio da Mariangela, entre outros deliciosos segredos, sempre com uma estória para cada receita (ou uma receita para cada estória), este é o livro certo).

    Título

    Pedro Páramo

    Autor

    Juan Ruflo

    Editora

    Cavalo de Ferro

    Sinopse

    O seminal Pedro Páramo, de Juan Rulfo, é considerado um dos livros mais influentes, enigmáticos e sublimes da Literatura universal.Hoje considerada uma Obra Representativa da Unesco e “um dos livros mais influentes do século”, a publicação de Pedro Páramo, em 1955, representou um ponto de viragem na literatura hispano-americana e mundial, que ajudou a renovar.”Álvaro Mutis subiu, a passos largos, os sete pisos da minha casa comum pacote de livros, separou do monte o mais pequeno e curto e disse-me, morto de riso:

    – Leia isto, carago, para que aprenda!

    Era Pedro Páramo

    Nessa noite não consegui adormecer enquanto não terminei a segunda leitura. Nunca, desde a noite tremenda em que li A Metamorfose, de Kafka, numa lúgubre pensão para estudantes em Bogotá – quase dez anos antes -, eu sofrera semelhante comoção (…).

    Não são muito mais de 300 páginas, mas são quase tantas, e creio que tão perduráveis, como aquelas que conhecemos de Sófocles.”Do texto introdutório de Gabriel García Márquez, Prémio Nobel de Literatura.A obra de Juan Rulfo influenciou de forma decisiva autores distinguidos com o Prémio Nobel de Literatura, como Gabriel García Márquez e Octávio Paz.

    Título

    Galileu em Pádua

    Autor

    Alessandro De Angelis

    Editora

    Gradiva

    Sinopse

    Quando, aos 28 anos, Galileu Galilei obtém a prestigiante cátedra de Matemática da Universidade de Pádua, tem tanta fama de cientista genial como de pessoa conflituosa.

    Não se licenciou, bebe demasiado, frequenta bordéis; um pequeno poema grosseiro contra os professores custou-lhe a renovação do contrato em Pisa, enquanto em Bolonha mentiu sobre o seu currículo. E, no entanto – sem descuidar os prazeres da vida, que adorará partilhar com o amigo Sagredo -, em Pádua, Galileu fará a sua entrada no milieu da cultura e da política mundial; verá nascer os seus três filhos; e apontará o cannocchiale para o céu nas suas primeiras observações, que mudarão a História do Mundo. 

    Alessandro de Angelis revela um Galileu pouco conhecido, imperfeito, memorável, num livro que, assentando numa rigorosa pesquisa história, joga com os mundos da ficção e da não ficção e narra os dezoito anos desregrados e tempestuosos que Galileu definirá como os melhores da minha vida.

    Título

    O homem sentimental

    Autor

    Javier Marías

    Editora

    Alfaguara

    Sinopse

    Decorreram quatro anos desde que o cantor lírico León de Nápoles viu pela primeira vez, no comboio entre Veneza e Madrid, Natalia Manur, acompanhada pelo marido, um abastado banqueiro, e pelo misterioso Dato. É nessa carruagem e entre estas quatro personagens que começa uma história de paixões levada até às últimas consequências.

    Em torno dos protagonistas, gravitam outras figuras: uma prostituta sempre com pressa, uma antiga estrela da ópera, um meticuloso viúvo, um velho amor. Quem será, no fim de contas, o «homem sentimental»?

    Um artista e pensador, ou um homem de negócios e de ação? Frequentemente comparado com obras de Proust e de Unamuno – pelo refinamento literário e pela engenhosa construção das personagens e do enredo – O homem sentimental é um romance de amor em que o amor não é visto nem vivido, mas antes intuído e relembrado, como se a sua essência fosse a melancolia e o mistério.

    Uma história cujo ritmo se acelera progressivamente, atravessada pela habitual ironia fina de Javier Marías, que a conduz a um imprevisível desfecho.

    Título

    Quem sai aos seus

    Autora

    Liane Moriarty

    Editora

    Asa

    Sinopse

    Vista de fora, a família Delaney é perfeita. Joy e o marido, Stan, são treinadores de ténis famosos e arrasam nos courts e fora deles. Os seus quatro filhos – Amy, Logan, Troy e Brooke – já são independentes. Após vidas ativas tão intensas, Joy e Stan decidem vender a sua reputada academia de ténis e desfrutar da tranquilidade da reforma.

    Mas quando uma mulher misteriosa entra inesperadamente na vida do casal e Joy desaparece sem explicação, deixando apenas uma mensagem enigmática, tudo é subitamente posto em causa.

    A polícia interroga Stan. Para alguém que se diz inocente, o marido parece ter muito a esconder. Dois dos filhos acreditam na inocência do pai, mas os outros dois não têm assim tanta certeza. Divididos, eles têm pela frente o desafio mais duro e a pergunta mais arrepiante das suas vidas: será que alguma vez conheceram verdadeiramente os pais?

    Está na hora de os irmãos Delaney reavaliarem a história da família…

    Os direitos para TV de Quem Sai aos Seus foram já adquiridos, após o estrondoso sucesso das adaptações televisivas das obras da mesma autora: Pequenas grandes mentiras e Nove perfeitos desconhecidos (ambas protagonizadas por Nicole Kidman).

    Título

    As emoções de Leopoldo

    Autora

    Deborah Marcero

    Editora

    Fábula

    Sinopse

    O Leopoldo não gosta de sentir medo. Nem tristeza, raiva, solidão ou vergonha.

    Por isso, tem uma ideia: guardar essas emoções em frascos, bem fechados, para não o perturbarem.

    Este livro maravilhoso, da mesma autora de Os tesouros do Leopoldo, pode contribuir para o processo de aprender a controlar as nossas emoções, pelo qual todos temos de passar.

    Título

    Não obedeças mais

    Autor

    Gustavo Santos

    Editora

    Alma dos Livros

    Recensão

    Quando iniciei a minha aventura literária a minha missão era levar amor-próprio a quem me lia. Não era, não é, e nunca será, ser aceite ou aclamado por todos.

    Com este livro aprofundo a necessidade de cada um se comprometer com a sua própria verdade, de forma que atinja a liberdade ilimitada que tem e que ninguém lhe pode dar ou roubar.

    Para isso há que tirar o medo da vontade, há que enfrentar o S.I.S.T.E.M.A., olhos nos olhos, porque se há um ponto fraco do medo, é, sem sombra de dúvida, ser olhado de frente.

    Nestas páginas, viverás o teu combate pessoal. Serás tão abanado como acolhido. Sentir-te-ás tão só como acompanhado; tão cansado como renovado; tão revoltado como apaziguado.

    Podem dizer que é polémico. Mas, também, num mundo cheio de mentiras, qualquer verdade é polémica.

    Título

    Sul

    Autor

    Ernest Shackleton

    Editora

    Alma dos Livros

    Sinopse

    Ano de 1914. Enquanto a sombra da guerra cai sobre a Europa, um grupo liderado pelo experiente explorador Ernest Shackleton propõe-se atravessar pela primeira vez o continente antártico. A distância de aproximadamente 2900 quilómetros será percorrida, em grande parte, sobre terreno desconhecido.

    A determinação inabalável, a lealdade e a resistência deste pequeno grupo de homens, isolado durante quase dois anos nos bastiões do gelo polar, esforçando‑se por levar a cabo a sua missão, são uma narrativa única na história da exploração da Antártida.

    Espera-os uma grande aventura de relatos inesquecíveis, dias extenuantes, noites de solidão e experiências únicas. O otimismo inicial é de curta duração e, à medida que uma vasta extensão de gelo envolve o navio no qual viajam apertando-o até quebrar, a tripulação de 28 homens é abandonada à sobrevivência na imensidão do gelo polar.

    Numa luta épica contra os elementos, Shackleton lidera a sua equipa numa busca angustiante pela sobrevivência nalguns dos terrenos mais inóspitos do mundo. Mares gelados e tempestuosos cheios de ondas gigantes, icebergues colossais, um frio atroz que não lhes dá tréguas e a fome sempre iminente são os inimigos mortais destes homens que lutam a todo o custo para permanecer vivos.

    A sua viagem será para sempre recordada como prova da força de vontade e do poder da resistência humana.

    Título

    A arte de vencer uma discussão sem precisar de ter razão

    Autor

    Arthur Schopenhauer

    Editora

    Alma dos Livros

    Sinopse

    Acontece com frequência uma pessoa estar objetivamente certa e, no entanto, aos olhos dos outros e, às vezes, aos seus próprios, sair-se pior numa discussão, sendo confundida ou refutada por argumentos meramente superficiais.

    Por exemplo, apresenta uma prova de alguma afirmação, mas o seu adversário refuta-a e, assim, parece ter refutado a afirmação para a qual, no entanto, pode haver outras provas. Neste caso, é claro, o adversário e a pessoa trocam de lugar – ele sai-se melhor, embora, na verdade, esteja errado.

    Assim, a vitória numa disputa deve-se muitas vezes não tanto à correção de um julgamento ao declarar uma afirmação, mas sim à astúcia e à argumentação com que ela foi defendida.

    Se o leitor perguntar como é que isto acontece, respondemos que é simplesmente a vileza natural da natureza humana. Se a natureza humana fosse inteiramente honrada, não deveríamos, em nenhum debate, ter outro objetivo que não a descoberta da verdade.

    Para vencer uma discussão não é fundamental ter razão, é apenas necessária a arte e o engenho de refutar as afirmações do adversário e conduzir a audiência a tomar o seu partido.

    A arte de vencer uma discussão sem precisar de ter razão é a arte de disputar uma conversa de modo a ganhar a contenda mantendo o seu ponto de vista, independentemente de estar certo ou errado.

    Arthur Schopenhauer propõe explicar de que maneira podemos fazer com que as nossas ideias tenham sucesso apesar da sua falsidade ou da sua inconsistência. O filósofo precursor do pessimismo aponta que a verdade objetiva de uma afirmação e a sua aprovação por aqueles que a discutem não são a mesma coisa. Devido à perversidade natural do ser humano, nas disputas quotidianas, de facto, o objetivo não é a descoberta da verdade, mas sim o desejo fútil de ter razão.

    Título

    O homem que plantava árvores

    Autor

    Jean Giono

    Editora

    Alma dos Livros

    Sinopse

    Uma parábola sobre a missão do ser humano no planeta e das virtudes da sua ação positiva sobre o meio onde vive. Conta-nos a história de um homem que, com o seu esforço solitário, constante e paciente, transforma a região onde vive num lugar especial.

    Com as próprias mãos e uma generosidade sem limites, faz, do nada, surgir uma floresta inteira – com um ecossistema rico e sustentável. Lembra-nos de como as nossas pequenas ações diárias podem ter um grande impacto com o decorrer dos anos. Um verdadeiro hino de esperança, de generosidade, de fé, de humildade, de perseverança e de amor à vida.

    O homem que plantava árvores, de Jean Giono, é uma narrativa breve, mas brilhante, uma verdadeira joia recheada de mensagens ecológicas e humanistas, que alcançou um enorme sucesso mundial. É uma parábola sobre a missão do ser humano no planeta e das virtudes da sua ação positiva sobre o meio onde vive.

    Conta-nos a história de um homem que, com o seu esforço solitário, constante e paciente, transforma a região onde vive num lugar especial.

    Título

    1177 a.C.: O ano em que a civilização colapsou

    Autor

    Eric H. Cline

    Editora

    Alma dos Livros

    Sinopse

    O ano de 1177 a. C. foi um ponto de viragem para o mundo antigo. Grupos conhecidos como Os Povos do Mar invadiram o Egito. O exército e a marinha dos faraós conseguiram vencê-los, mas a vitória enfraqueceu o território, que depressa entrou em declínio, arrastando consigo as civilizações vizinhas.

    Depois de séculos de evolução cultural e tecnológica, as regiões mediterrânicas conheceram uma paragem abrupta. Grandes impérios e pequenos reinos colapsaram subitamente. Mas, sozinhos, os Povos do Mar não poderiam ter causado um colapso tão generalizado. O que foi, então, que aconteceu?

    Apesar da distância que nos separa dessas civilizações ser superior a três milénios, são maiores os paralelismos do que se possa pensar à partida: embargos económicos, intrigas internacionais, desinformação militar deliberada, rebeliões, migrações e alterações climáticas.

    E se estivermos apenas no início de uma outra tempestade perfeita de fatores de stress nas nossas sociedades? Haverá mais eventos cataclísmicos a caminho? Teremos resistência suficiente para ultrapassar o mais que nos for atirado ou caminhamos para o colapso dos múltiplos elementos que compõem a nossa complexa sociedade global?

  • Estante P1: Março e Abril de 2023

    Estante P1: Março e Abril de 2023

    Título

    Indignação

    Autor

    Philip Roth

    Editora

    Dom Quixote

    Sinopse

    Indignação é o vigésimo sétimo livro de Philip Roth, conta a história da educação do jovem Marcus Messner nas circunstâncias assustadoras e nas obstruções anómalas que a vida acarreta.É uma história de inexperiência, loucura, resistência intelectual, descoberta sexual, coragem e erro contada com toda a energia criativa e todo o engenho de que Roth é possuidor.É simultaneamente uma ruptura inesperada com as narrativas obsidiantes da velhice e suas experiências que são os seus livros mais recentes e um poderoso aditamento às investigações do autor sobre o impacto da história da América na vida do indivíduo vulnerável.

    Título

    Salvar o fogo

    Autor

    Itamar Vieira Junior

    Editora

    Dom Quixote

    Sinopse

    Depois de ter ficado órfão de mãe, Moisés vive com o pai e a sua irmã Luzia na Tapera do Paraguaçu, um povoado cujo domínio das terras pertence à Igreja, que ali detém um mosteiro desde o século XVII. Os irmãos partiram todos em busca de uma vida melhor, mas Luzia foi obrigada a ficar para cuidar do pai e do menino; estigmatizada pelos seus supostos poderes sobrenaturais, leva no entanto uma vida de profundo sentido religioso, trabalhando como lavadeira do mosteiro e educando Moisés rigidamente com o objetivo de o inscrever na escola dos padres e conseguir para ele a educação que nenhum deles pôde ter. Porém, a experiência dessa formação marcará o rapaz de tal modo que ele acabará por deixar intempestivamente a casa.Será só vários anos mais tarde, depois de um grave acontecimento que é o pretexto para a família toda se reunir, que Moisés reencontrará Luzia – uma Luzia arrependida dos silêncios e magoada pelas mentiras, mas simultaneamente combativa, lutando como nunca contra as injustiças, pela posse da terra dos seus antepassados.Épico e lírico, emocionando o leitor a cada nova página, Salvar o Fogo é um romance que mostra que muitas vezes os fantasmas de uma família não se distinguem dos fantasmas de um país. A ferida aberta pelo multipremiado Itamar Vieira Junior nesta obra-prima só o leitor poderá fechar.

    Título

    O piloto de Casablanca

    Autor

    José António Barreiros

    Editora

    Oficina do Livro

    Sinopse

    Durante a Segunda Guerra Mundial, quando voar era uma aventura arriscada, a ligação aérea entre Lisboa, Tânger e Casablanca, celebrizada num dos mais emblemáticos filmes de Hollywood, com Humphrey Bogart e Ingrid Bergman, era exclusivamente assegurada por Portugal, enquanto país neutro no conflito. O piloto que fazia essa rota, por vezes em condições de grande perigo, chamava-se José Cabral e era um comandante de marinha, corajoso e audaz.Graças a esta figura notável da aviação naval, com contactos nos serviços secretos britânicos e norte-americanos, refugiados de guerra salvaram-se da ameaça nazi e diplomatas e militares das forças Aliadas cumpriram missões na operação de desembarque no Norte de África, o princípio do fim do III Reich.Cabral viria a ser galardoado com a mais alta distinção concedida pelos EUA a militares estrangeiros, mas cairia no esquecimento no país onde nasceu. Resgatando a sua memória, José António Barreiros recorda a vida, a bravura e as missões clandestinas deste herói português.

    Título

    As primas 

    Autora

    Aurora Venturini

    Editora

    Alfaguara

    Sinopse

    A obra-prima de uma escritora catapultada para a fama literária mundial aos 85 anos. A história de uma família em que as mulheres procuram fugir à norma, com ecos de Lucia Berlin, Shirley Jackson e Carson McCullers.Na cidade argentina de La Plata, nos anos de 1940, conhecemos Yuna e Petra, duas primas que pertencem à mesma família disfuncional, precária e destinada à desgraça. Pela voz de Yuna, vemos um universo tortuoso de mulheres abandonadas à sua sorte, a braços com a pobreza, a deficiência, o delírio fantasmagórico e a pressão social.Para se evadir do cerco das histórias de ameaças, violações e homicídios, Yuna recorre à sua imaginação artística: a cada episódio de violência, pinta uma nova tela. Vendo na arte uma fuga ao estropiamento familiar, Yuna lança sobre o seu mundo um olhar selvático — ora cândido e perspicaz, ora violento e ensimesmado — e protagoniza uma história que desafia todas as convenções literárias.Aurora Venturini poderia ser uma das peculiares personagens dos seus romances, já que o seu percurso ficou marcado pelo fait-divers de ter vencido um concurso literário para novos talentos quando já tinha escrito dezenas de livros e se aproximava do fim da vida.

    Entre o romance de formação, a delirante autobiografia, o divertimento literário e a radiografia de uma época, As Primas é uma obra que celebra, ao mesmo tempo, as dimensões universal e privada da literatura, revelando a desconcertante originalidade de uma autora que ousa colocar perguntas quase sempre cuidadosamente mantidas em silêncio.

    Título

    Sob a estrela do outono

    Autor

    Knut Hamsun

    Editora

    Cavalo de Ferro

    Sinopse

    Sob a Estrela do Outono, até hoje inédita em português, é unanimemente considerada uma das obras fundamentais de Knut Hamsun.Fugido da “azáfama, dos jornais e das pessoas da cidade”, o protagonista deste romance, ao qual Hamsun empresta o seu próprio nome, Knut Pedersen, refugia-se no campo em busca da verdadeira vida, determinado a conquistar aí a calma e a paz interior.Senhor de si mesmo, vagueia de quinta em quinta, despoja-se da sua roupa elegante para desempenhar o ofício de pedreiro ou lenhador, dá asas à sua veia de inventor, enamora-se de uma mulher casada — um amor proibido que levará este vagabundo idealista de volta ao ponto de partida: um regresso à paixão, ao sofrimento e à cidade.

    Título

    Lucy à beira-mar

    Autor

    Elizabeth Strout

    Editora

    Alfaguara

    Sinopse

    Distinguida com o Prémio Pulitzer, a extraordinária escritora Elizabeth Strout regressa, neste romance, à sua icónica personagem Lucy Barton, protagonista de uma história de empatia, emoção, perda e esperança.Quando o medo pandémico se apodera da cidade, Lucy Barton abandona Manhattan e muda-se com William, o seu ex-marido, para uma pequena cidade costeira no Maine. nos meses que se seguem, os dois vivem numa casa perto do mar, experiência que vai revelar-se transformadora. Lucy e William voltam a ser os companheiros de há tantos anos — a diferença é que se encontram isolados do mundo em colapso, estando a sós com um complexo passado, com as suas memórias e com os seus desejos.Elizabeth Strout explora os interstícios do coração humano e compõe um retrato revolucionário e luminoso das relações íntimas durante os confinamentos. no cerne desta história estão os laços profundos que nos unem, mesmo quando separados: o vazio após a morte de alguém que amamos, ou o consolo de um antigo amor que afinal perdura.

    Título

    Agente Sonya 

    Autor

    Ben Macintyre

    Editora

    Dom Quixote

    Sinopse

    Em 1942, numa pacata aldeia da região verdejante de Cotswolds, no centro de Inglaterra, uma mulher magra e elegante vivia numa pequena casa de campo com os três filhos e o marido, que trabalhava nas imediações como maquinista. Ursula Burton era afetuosa, mas reservada, e falava inglês com um ligeiro sotaque forasteiro. Parecia viver uma vida simples, humilde. Os vizinhos de aldeia sabiam pouco sobre ela.Não sabiam que, na verdade, era uma oficial de alta patente da espionagem soviética. Não sabiam que o marido também era espião, nem que ela comandava uma poderosa rede de agentes a operar na Europa. Por detrás da fachada da sua vida pitoresca, Burton era uma comunista convicta, uma coronel soviética, uma agente experiente que recolhia segredos científicos que permitiriam à União Soviética construir a bomba atómica.Esta história verdadeira, de espionagem, é uma obra-prima sobre a mulher com nome de código «Sonya». Ao longo da sua carreira foi perseguida pelos chineses, japoneses e nazis, pelo MI5, MI6 e o FBI, sem nunca ter sido apanhada. A sua história reflete o grande confronto ideológico do século XX entre o comunismo, o fascismo e a democracia ocidental, e lança uma nova luz sobre as lutas e as lealdades instáveis dos espiões no nosso tempo.

    Título

    Imperatriz

    Autora

    Pearl S. Buck

    Editora

    Dom Quixote

    Sinopse

    Em Imperatriz, Pearl S. Buck dá vida à incrível história de Cixi, a concubina imperial que acabaria por liderar a dinastia Ching.Nascida numa família humilde, Cixi apaixona-se pelo seu primo Jung Lu, um belo guarda imperial – mas ainda em adolescente é escolhida, com a sua irmã e centenas de outras raparigas, para ir morar para a Cidade Proibida.Destacando-se pela sua beleza, Cixi está determinada a tornar-se a preferida do Imperador, e dedica todo o seu talento e astúcia à concretização desse objetivo. Quando o Imperador morre, Cixi encontra-se numa posição que lhe dá o poder supremo, que irá manter durante quase cinquenta anos, usando-o tanto para trazer paz ao império como para promover Jung Lu, a quem amará – em segredo – para sempre.Num mundo de intrigas liderado por homens, Cixi irá tomar a seu cargo várias decisões importantes e será responsável pela modernização da China, sem que nunca tenha recebido por isso o devido crédito. Muito foi escrito sobre Cixi, mas nenhum outro romance recria a sua vida – a sua extraordinária personalidade e, ao mesmo tempo, o mundo das intrigas da Corte e o período de tumulto nacional com o qual ela lidou – tão bem como Imperatriz.

    Título

    Um enfarte no alto do Parque

    Autor

    Francisco Moita Flores

    Editora

    Casa das Letras

    Sinopse

    Francisco Moita Flores preparava-se para iniciar uma sessão de autógrafos na Feira do Livro de Lisboa, de 2022, quando foi acometido por um enfarte agudo do miocárdio, ficando em estado de “morte súbita”. São raras as vítimas que sobrevivem a este estado clínico, caso não lhe sejam rapidamente ministradas manobras de reanimação.Graças à pronta reação de médicos, que se encontravam na Feira, e dos serviços do INEM, foi possível reverter a situação. Moita Flores seria operado de urgência no Hospital de Santa Marta com sucesso.Ainda na fase de convalescença, tendo sido informado do alarido que se criou em torno do caso, decidiu contar a história na qual é o principal personagem. Partindo da sua própria experiência de “morte súbita”, discorre bem-humorado sobre os acontecimentos que se desencadearam na Feira do Livro. O seu objetivo é ajudar na prevenção da doença cardíaca.Com uma narrativa, pontuada aqui e ali com observações engraçadas, muito ao seu estilo, dá o testemunho de quem “morreu” e “ressuscitou”, prendendo o leitor e prevenindo-o para que não sofra de igual ocorrência.

    Título

    Covid – Uma trágico-comédia

    Autor

    Bruno Barata

    Editora

    Edições Vieira da Silva

    Sinopse

    Covid – Uma trágico-comédia, um resumo em tom crítico utilizando o humor, com sarcasmo ilustrativo, à pandemia.Desde a forma como a comunicação social actuou logo no início, às medidas, estudos/recomendações que médicos e investigadores propuseram e governantes impuseram, e estratégias individuais que cada um adoptou, ninguém escapou a uma comédia global.Nada como analisar o comportamento da sociedade enquanto não vem o próximo fim do mundo.

    Título

    O parque dos cães

    Autora

    Sofi Oksanen

    Editora

    Alfaguara

    Sinopse

    Escritora multipremiada, Sofi Oksanen regressa com um romance sobre a condição feminina, a exploração do corpo da mulher, a maternidade e a teia criminosa e lucrativa em torno daquelas que tudo perderam.O Parque dos Cães oscila entre dois mundos: a Helsínquia da atualidade e a Ucrânia que conquistou a independência, após o colapso da União Soviética. Do cruzamento destas duas realidades, surge uma outra: a endémica corrupção do Leste, alimentando a ganância voraz do Ocidente. Nesta interseção, conhecemos duas mulheres que partilham uma história de lealdade, amor e confiança traída. Dão por si arrastadas para uma torrente de lutas de poder que opõe famílias influentes, mas que também opõe sexo feminino e sexo masculino. A razão é só uma: o corpo da mulher tem a capacidade de dar vida e, por causa disso, torna-se fonte de lucro.Sofi Oksanen lança-se mais uma vez num tema fraturante e incómodo do mundo atual, numa narrativa que oscila entre o thriller psicológico e a mais comovente humanidade. O Parque dos Cães retrata a vida de uma mulher que se descobre incapaz de fugir à memória do filho que perdeu, aos fantasmas que a assombram e às mentiras que lhe salvaram a vida.Esta é a história do lado negro da indústria da fertilidade, mas também do ponto a que todos somos capazes de chegar para concretizar sonhos impossíveis.

    Título

    O desertor

    Autor

    Abdulrazak Gurnah

    Editora

    Cavalo de Ferro

    Sinopse

    Obra representativa do talento de Abdulrazak Gurnah, O Desertor evoca o complexo ambiente social, religioso e cultural da África Oriental na época colonial através de duas histórias de amor, separadas pelo tempo, mas unidas pelo seu desfecho, evidenciando o intricado mosaico de uma África ainda desconhecida.Ao romper de mais uma manhã, Hassanali está a caminho da mesquita quando um forasteiro branco, vindo do deserto, desaba a seus pés. Hassanali decide ajudar aquele homem — um explorador e orientalista inglês de nome Martin Pearce — levando-o depois para casa de um oficial, seu conterrâneo.  Quando Pearce regressa para agradecer a Hassanali por lhe ter salvado a vida, também conhece a irmã dele, Rehana, com quem viverá uma história de amor proibido.

    Título

    Sempre

    Autor

    Morris Gleitzman

    Editora

    Fábula

    Sinopse

    “Manter a esperança — sempre. É o meu lema.”Felix, um órfão judeu, polaco, que sobreviveu aos horrores da Segunda Guerra Mundial, tem agora 87 anos. Um dia, aparece-lhe em casa, na Austrália, um menino de 10 anos, Wassim, vindo de um país da Europa de Leste, com um pedido de ajuda que ele não vai conseguir recusar. De alguma forma, a história de ambos está interligada e a inocência e a esperança de Wassim, perante problemas dramáticos, convencem Felix a envolver-se numa aventura que o leva a revisitar pessoas e memórias que pensava nunca mais ter de reviver.A narração desta obra é feita alternadamente por estes dois heróis, um idoso e uma criança, e é comovente como ambos são igualmente corajosos, solidários e determinados. Além do nazismo, aborda questões atuais como o racismo, a condição de refugiado e a violência no mundo moderno. Felizmente a maldade não sai sempre vencedora.O último livro da série juvenil sobre a vida de Felix, um órfão judeu marcado pela Segunda Guerra Mundial, sobre os horrores da guerra e as razões de esperança no melhor da humanidade. Tão emocionante, positivo, cativante e inspirador como os anteriores. 

    Título

    Linguagens da verdade – Ensaios 2003-2020

    Autor

    Salman Rushdie

    Editora

    Dom Quixote

    Sinopse

    Salman Rushdie é celebrado como “um mestre da narrativa contínua” (The New Yorker), iluminando verdades da nossa sociedade e cultura através da sua prosa deslumbrante e, muitas vezes, cáustica. Esta coletânea de textos de não-ficção reúne ensaios, críticas e discursos perspicazes e inspiradores, que se focam na relação de Rushdie com a palavra escrita e fortalecem o seu lugar como um dos pensadores mais originais do nosso tempo. 

    Linguagens da Verdade reúne textos escritos entre 2003 e 2020 e demonstra o envolvimento intelectual de Salman Rushdie com certos períodos de mudanças culturais. Mergulhando o leitor numa ampla variedade de assuntos, explora a natureza do ato de narrar como uma necessidade humana, e o resultado é uma carta de amor à literatura. Rushdie analisa o que obras de autores desde Shakespeare e Cervantes até Samuel Beckett, Eudora Welty e Toni Morrison significam para ele, tanto na página impressa como a nível pessoal. Ao mesmo tempo, tenta aprofundar a natureza da “verdade”, deleitando-se com a vibrante maleabilidade da linguagem e das linhas criativas que podem unir arte e vida, e revisita temas como a migração, o multiculturalismo e a censura.

    Título

    Como um marinheiro eu partirei

    Autor

    Nuno Costa Santos

    Editora

    Elsinore

    Sinopse

    Uma narrativa profundamente humana que revisita a carreira e a vida do famoso cantor belga Jacques Brel e a sua passagem crepuscular pelos Açores.”Um homem fuma um cigarro à proa de um iate, concentrado no som do mar.”Este homem é Jacques Brel, compositor e intérprete de canções de um lirismo e elaboração extraordinários, explosivas, contagiantes, que arrebatam audiências. De espírito rebelde e inconformado, no auge da sua popularidade, Brel toma a decisão intempestiva de abandonar para sempre os palcos.Romance, biografia, reportagem, reflexão sobre os nossos medos mais secretos, em Como um Marinheiro Eu Partirei, Nuno Costa Santos compõe com a força da Literatura uma indagação sobre a identidade pessoal.

    Título

    Amigos até ao fim

    Autor

    John Le Carré

    Editora

    Dom Quixote

    Sinopse

    No seguimento da guerra do Iraque, o inglês Edward “Ted” Mundy, filho de um major na reserva do antigo exército indiano, escritor falhado e guia turístico na Baviera, vê reaparecer o seu passado na pessoa de Sacha, o militante da Alemanha de Leste que ele encontrara nos finais dos anos 60 numa Berlim entregue à agitação revolucionária, e que tornou depois a ver no espelho embaciado dos espiões da Guerra Fria, para a montagem de uma operação de agente duplo. Mas os tempos mudaram, e a amizade dos dois, renovada em nome de um idealismo tornado obsoleto, vai ser minada pelas cínicas manobras de uma América mais imperialista do que nunca.

    Com este romance, Le Carré fez o epitáfio da espionagem à moda antiga e dos valores ultrapassados que estruturavam o universo dos agentes secretos; depois do 11 de Setembro, as “causas justas” perderam o seu valor quando a América de Bush impôs a todo o mundo a marcha forçada da sua autoglorificação triunfalista e hegemónica.Lançando um olhar cruelmente céptico sobre as manobras maquiavélicas de uma América envolta na sua boa consciência, le Carré denuncia também a cega mesquinhez do homem, e a sua mensagem desesperada perseguirá o leitor durante muito tempo após a leitura da última linha.

    Título

    A secretária de Churchill

    Autora

    Susan Elia Macneal

    Editora

    Saída de Emergência

    Sinopse

    Numa era de desafios sem precedentes, ela pode ser a única hipótese de vencer a guerra…Londres, 1940. Churchill chegou ao poder e a guerra alastra. Mas isso não detém Maggie Hope, uma jovem com um dom natural para decifrar códigos que rivaliza com as mentes mais brilhantes do governo. Em tempos conturbados e mortíferos, o acesso à Sala de Guerra do primeiro-ministro dá a Maggie a oportunidade única de desvendar as conspirações de um grupo determinado a alterar o curso da História.

    Enredada numa rede de espiões, homicídios e intriga, a jovem tem de trabalhar para equilibrar o seu dever com a Pátria e as suas oportunidades de sobreviver. E quando se vê envolvida num mistério que envolve a sua própria família, Maggie descobre que a sua inteligência é tudo o que se interpõe entre o plano mortal de um assassino e o próprio Churchill. 

    Uma estreia ambiciosa e uma personagem fascinante que promete tensão e mistério para os próximos volumes.

    Título

    Atlas do histórico do Mediterrâneo – Da Antiguidade aos nossos dias

    Autor

    Florian Louis

    Editora

    Guerra e Paz

    Sinopse

    Compreender este espaço compósito permite-nos compreender a história dos territórios e países que o delimitam e que com ele têm interagido desde a Antiguidade:• Um mar fértil, que viu nascer e crescer os grandes impérios mesopotâmico, grego e romano;• Um mar agitado, entre conquistas bizantinas, Cruzadas, Reconquista e estabelecimento do Império Otomano;• Um mar dominado por uma Europa hegemónica a partir do final do século XVIII;• Um mar turbulento onde estão em jogo grandes desafios contemporâneos – conflitos, crise migratória e questões ambientais.Perto de 90 mapas e documentos ajudam a recriar a história rica e viva deste frágil mosaico, que deve enfrentar o desafio de permanecer um elo entre as suas margens.

    Título

    Ensino superior e desenvolvimento

    Autor

    José Ferreira Gomes

    Editora

    Fundação Francisco Manuel dos Santos

    Sinopse

    Como tem evoluído o sistema português de ensino superior? Com que política e investimento estatais, rede institucional, procura estudantil e retrato de docentes? Como se incentiva, financia e produz ciência nas universidades e com que ligação à administração pública e ao setor produtivo privado?Neste livro faz-se uma análise do sistema de ensino superior e da investigação científica numa perspetiva de comparação internacional e de serviço público disponibilizado aos cidadãos. Descreve-se o enorme atraso educativo acumulado nos 150 anos anteriores à Primeira Guerra Mundial e a lenta recuperação até fins do século passado. na ciência, enquanto atividade profissionalizada, a nossa história não ultrapassa meio século. Tendo atingido hoje indicadores educativos e científicos comparáveis aos dos nossos pares europeus, interessa compreender as razões do seu moderado impacto no desenvolvimento económico e social do país.

    Título

    Receitas & estórias

    Autor

    Octávio Viana

    Editora

    Thorn Publishers

    Sinopse

    Nunca houve um livro de receitas como este, nem um livro de estórias que pudesse divertir tanto, ao mesmo tempo que ensina qualquer pessoa a cozinhar de forma simples, fácil e rápida.

    O autor, não sendo um chef e nem tão pouco versado na arte culinária, brinda-nos com receitas fáceis de executar por qualquer pessoa, mas que ainda assim são pratos espetaculares para levar até à mesa mais exigente.

    Nesta deliciosa obra, o autor resgata da sua memória receitas que revelam uma soberba e maravilhosa mistura de sabores, aromas e cores, acompanhadas sempre com uma pitada de fabulosas estórias e histórias que vão desde a origem do cioccolato cremino, em Torino, Itália, até às aventuras pessoais vividas por aí.

    As receitas tanto podem ser usadas para confecionar um almoço rápido, como um jantar soberbo e elaborado, uma deliciosa sobremesa conventual portuguesa ou um verdadeiro gelato artesanal italiano.

    Se quer descobrir os segredos de um bom risotto de trufa branca de Alba, receita da Paola, do tiramisù da pastelaria Nascimben, da mousse de chocolate da Inês, do gelato cremino da gelataria Ariosto, do pesto genovese da Chiara, do creme de pistacchio da Mariangela, entre outros deliciosos segredos, sempre com uma estória para cada receita (ou uma receita para cada estória), este é o livro certo).

    Título

    Pedro Páramo

    Autor

    Juan Ruflo

    Editora

    Cavalo de Ferro

    Sinopse

    O seminal Pedro Páramo, de Juan Rulfo, é considerado um dos livros mais influentes, enigmáticos e sublimes da Literatura universal.Hoje considerada uma Obra Representativa da Unesco e “um dos livros mais influentes do século”, a publicação de Pedro Páramo, em 1955, representou um ponto de viragem na literatura hispano-americana e mundial, que ajudou a renovar.”Álvaro Mutis subiu, a passos largos, os sete pisos da minha casa comum pacote de livros, separou do monte o mais pequeno e curto e disse-me, morto de riso:

    – Leia isto, carago, para que aprenda!

    Era Pedro Páramo

    Nessa noite não consegui adormecer enquanto não terminei a segunda leitura. Nunca, desde a noite tremenda em que li A Metamorfose, de Kafka, numa lúgubre pensão para estudantes em Bogotá – quase dez anos antes -, eu sofrera semelhante comoção (…).

    Não são muito mais de 300 páginas, mas são quase tantas, e creio que tão perduráveis, como aquelas que conhecemos de Sófocles.”Do texto introdutório de Gabriel García Márquez, Prémio Nobel de Literatura.A obra de Juan Rulfo influenciou de forma decisiva autores distinguidos com o Prémio Nobel de Literatura, como Gabriel García Márquez e Octávio Paz.

    Título

    Galileu em Pádua

    Autor

    Alessandro De Angelis

    Editora

    Gradiva

    Sinopse

    Quando, aos 28 anos, Galileu Galilei obtém a prestigiante cátedra de Matemática da Universidade de Pádua, tem tanta fama de cientista genial como de pessoa conflituosa.

    Não se licenciou, bebe demasiado, frequenta bordéis; um pequeno poema grosseiro contra os professores custou-lhe a renovação do contrato em Pisa, enquanto em Bolonha mentiu sobre o seu currículo. E, no entanto – sem descuidar os prazeres da vida, que adorará partilhar com o amigo Sagredo -, em Pádua, Galileu fará a sua entrada no milieu da cultura e da política mundial; verá nascer os seus três filhos; e apontará o cannocchiale para o céu nas suas primeiras observações, que mudarão a História do Mundo. 

    Alessandro de Angelis revela um Galileu pouco conhecido, imperfeito, memorável, num livro que, assentando numa rigorosa pesquisa história, joga com os mundos da ficção e da não ficção e narra os dezoito anos desregrados e tempestuosos que Galileu definirá como os melhores da minha vida.

    Título

    O homem sentimental

    Autor

    Javier Marías

    Editora

    Alfaguara

    Sinopse

    Decorreram quatro anos desde que o cantor lírico León de Nápoles viu pela primeira vez, no comboio entre Veneza e Madrid, Natalia Manur, acompanhada pelo marido, um abastado banqueiro, e pelo misterioso Dato. É nessa carruagem e entre estas quatro personagens que começa uma história de paixões levada até às últimas consequências.

    Em torno dos protagonistas, gravitam outras figuras: uma prostituta sempre com pressa, uma antiga estrela da ópera, um meticuloso viúvo, um velho amor. Quem será, no fim de contas, o «homem sentimental»?

    Um artista e pensador, ou um homem de negócios e de ação? Frequentemente comparado com obras de Proust e de Unamuno – pelo refinamento literário e pela engenhosa construção das personagens e do enredo – O homem sentimental é um romance de amor em que o amor não é visto nem vivido, mas antes intuído e relembrado, como se a sua essência fosse a melancolia e o mistério.

    Uma história cujo ritmo se acelera progressivamente, atravessada pela habitual ironia fina de Javier Marías, que a conduz a um imprevisível desfecho.

    Título

    Quem sai aos seus

    Autora

    Liane Moriarty

    Editora

    Asa

    Sinopse

    Vista de fora, a família Delaney é perfeita. Joy e o marido, Stan, são treinadores de ténis famosos e arrasam nos courts e fora deles. Os seus quatro filhos – Amy, Logan, Troy e Brooke – já são independentes. Após vidas ativas tão intensas, Joy e Stan decidem vender a sua reputada academia de ténis e desfrutar da tranquilidade da reforma.

    Mas quando uma mulher misteriosa entra inesperadamente na vida do casal e Joy desaparece sem explicação, deixando apenas uma mensagem enigmática, tudo é subitamente posto em causa.

    A polícia interroga Stan. Para alguém que se diz inocente, o marido parece ter muito a esconder. Dois dos filhos acreditam na inocência do pai, mas os outros dois não têm assim tanta certeza. Divididos, eles têm pela frente o desafio mais duro e a pergunta mais arrepiante das suas vidas: será que alguma vez conheceram verdadeiramente os pais?

    Está na hora de os irmãos Delaney reavaliarem a história da família…

    Os direitos para TV de Quem Sai aos Seus foram já adquiridos, após o estrondoso sucesso das adaptações televisivas das obras da mesma autora: Pequenas grandes mentiras e Nove perfeitos desconhecidos (ambas protagonizadas por Nicole Kidman).

    Título

    As emoções de Leopoldo

    Autora

    Deborah Marcero

    Editora

    Fábula

    Sinopse

    O Leopoldo não gosta de sentir medo. Nem tristeza, raiva, solidão ou vergonha.

    Por isso, tem uma ideia: guardar essas emoções em frascos, bem fechados, para não o perturbarem.

    Este livro maravilhoso, da mesma autora de Os tesouros do Leopoldo, pode contribuir para o processo de aprender a controlar as nossas emoções, pelo qual todos temos de passar.

    Título

    Não obedeças mais

    Autor

    Gustavo Santos

    Editora

    Alma dos Livros

    Recensão

    Quando iniciei a minha aventura literária a minha missão era levar amor-próprio a quem me lia. Não era, não é, e nunca será, ser aceite ou aclamado por todos.

    Com este livro aprofundo a necessidade de cada um se comprometer com a sua própria verdade, de forma que atinja a liberdade ilimitada que tem e que ninguém lhe pode dar ou roubar.

    Para isso há que tirar o medo da vontade, há que enfrentar o S.I.S.T.E.M.A., olhos nos olhos, porque se há um ponto fraco do medo, é, sem sombra de dúvida, ser olhado de frente.

    Nestas páginas, viverás o teu combate pessoal. Serás tão abanado como acolhido. Sentir-te-ás tão só como acompanhado; tão cansado como renovado; tão revoltado como apaziguado.

    Podem dizer que é polémico. Mas, também, num mundo cheio de mentiras, qualquer verdade é polémica.

    Título

    Sul

    Autor

    Ernest Shackleton

    Editora

    Alma dos Livros

    Sinopse

    Ano de 1914. Enquanto a sombra da guerra cai sobre a Europa, um grupo liderado pelo experiente explorador Ernest Shackleton propõe-se atravessar pela primeira vez o continente antártico. A distância de aproximadamente 2900 quilómetros será percorrida, em grande parte, sobre terreno desconhecido.

    A determinação inabalável, a lealdade e a resistência deste pequeno grupo de homens, isolado durante quase dois anos nos bastiões do gelo polar, esforçando‑se por levar a cabo a sua missão, são uma narrativa única na história da exploração da Antártida.

    Espera-os uma grande aventura de relatos inesquecíveis, dias extenuantes, noites de solidão e experiências únicas. O otimismo inicial é de curta duração e, à medida que uma vasta extensão de gelo envolve o navio no qual viajam apertando-o até quebrar, a tripulação de 28 homens é abandonada à sobrevivência na imensidão do gelo polar.

    Numa luta épica contra os elementos, Shackleton lidera a sua equipa numa busca angustiante pela sobrevivência nalguns dos terrenos mais inóspitos do mundo. Mares gelados e tempestuosos cheios de ondas gigantes, icebergues colossais, um frio atroz que não lhes dá tréguas e a fome sempre iminente são os inimigos mortais destes homens que lutam a todo o custo para permanecer vivos.

    A sua viagem será para sempre recordada como prova da força de vontade e do poder da resistência humana.

    Título

    A arte de vencer uma discussão sem precisar de ter razão

    Autor

    Arthur Schopenhauer

    Editora

    Alma dos Livros

    Sinopse

    Acontece com frequência uma pessoa estar objetivamente certa e, no entanto, aos olhos dos outros e, às vezes, aos seus próprios, sair-se pior numa discussão, sendo confundida ou refutada por argumentos meramente superficiais.

    Por exemplo, apresenta uma prova de alguma afirmação, mas o seu adversário refuta-a e, assim, parece ter refutado a afirmação para a qual, no entanto, pode haver outras provas. Neste caso, é claro, o adversário e a pessoa trocam de lugar – ele sai-se melhor, embora, na verdade, esteja errado.

    Assim, a vitória numa disputa deve-se muitas vezes não tanto à correção de um julgamento ao declarar uma afirmação, mas sim à astúcia e à argumentação com que ela foi defendida.

    Se o leitor perguntar como é que isto acontece, respondemos que é simplesmente a vileza natural da natureza humana. Se a natureza humana fosse inteiramente honrada, não deveríamos, em nenhum debate, ter outro objetivo que não a descoberta da verdade.

    Para vencer uma discussão não é fundamental ter razão, é apenas necessária a arte e o engenho de refutar as afirmações do adversário e conduzir a audiência a tomar o seu partido.

    A arte de vencer uma discussão sem precisar de ter razão é a arte de disputar uma conversa de modo a ganhar a contenda mantendo o seu ponto de vista, independentemente de estar certo ou errado.

    Arthur Schopenhauer propõe explicar de que maneira podemos fazer com que as nossas ideias tenham sucesso apesar da sua falsidade ou da sua inconsistência. O filósofo precursor do pessimismo aponta que a verdade objetiva de uma afirmação e a sua aprovação por aqueles que a discutem não são a mesma coisa. Devido à perversidade natural do ser humano, nas disputas quotidianas, de facto, o objetivo não é a descoberta da verdade, mas sim o desejo fútil de ter razão.

    Título

    O homem que plantava árvores

    Autor

    Jean Giono

    Editora

    Alma dos Livros

    Sinopse

    Uma parábola sobre a missão do ser humano no planeta e das virtudes da sua ação positiva sobre o meio onde vive. Conta-nos a história de um homem que, com o seu esforço solitário, constante e paciente, transforma a região onde vive num lugar especial.

    Com as próprias mãos e uma generosidade sem limites, faz, do nada, surgir uma floresta inteira – com um ecossistema rico e sustentável. Lembra-nos de como as nossas pequenas ações diárias podem ter um grande impacto com o decorrer dos anos. Um verdadeiro hino de esperança, de generosidade, de fé, de humildade, de perseverança e de amor à vida.

    O homem que plantava árvores, de Jean Giono, é uma narrativa breve, mas brilhante, uma verdadeira joia recheada de mensagens ecológicas e humanistas, que alcançou um enorme sucesso mundial. É uma parábola sobre a missão do ser humano no planeta e das virtudes da sua ação positiva sobre o meio onde vive.

    Conta-nos a história de um homem que, com o seu esforço solitário, constante e paciente, transforma a região onde vive num lugar especial.

    Título

    1177 a.C.: O ano em que a civilização colapsou

    Autor

    Eric H. Cline

    Editora

    Alma dos Livros

    Sinopse

    O ano de 1177 a. C. foi um ponto de viragem para o mundo antigo. Grupos conhecidos como Os Povos do Mar invadiram o Egito. O exército e a marinha dos faraós conseguiram vencê-los, mas a vitória enfraqueceu o território, que depressa entrou em declínio, arrastando consigo as civilizações vizinhas.

    Depois de séculos de evolução cultural e tecnológica, as regiões mediterrânicas conheceram uma paragem abrupta. Grandes impérios e pequenos reinos colapsaram subitamente. Mas, sozinhos, os Povos do Mar não poderiam ter causado um colapso tão generalizado. O que foi, então, que aconteceu?

    Apesar da distância que nos separa dessas civilizações ser superior a três milénios, são maiores os paralelismos do que se possa pensar à partida: embargos económicos, intrigas internacionais, desinformação militar deliberada, rebeliões, migrações e alterações climáticas.

    E se estivermos apenas no início de uma outra tempestade perfeita de fatores de stress nas nossas sociedades? Haverá mais eventos cataclísmicos a caminho? Teremos resistência suficiente para ultrapassar o mais que nos for atirado ou caminhamos para o colapso dos múltiplos elementos que compõem a nossa complexa sociedade global?

  • James Bond, 60 anos

    James Bond, 60 anos


    Há uma semana, no dia 8 de Maio, completou-se 60 anos da estreia em Portugal de Dr. No, o primeiro filme de James Bond, talvez a maior saga do cinema anglo-saxónico, que ainda hoje perdura. A estreia em território português fez-se no mesmo dia em que foi visto pela primeira vez nos Estados Unidos. No Reino Unido, o filme estreara em Outubro de 1962.

    Protagonizado pelo já falecido actor escocês Sean Connery, este filme é exibido em plena Guerra Fria e já numa altura onde o império britânico é substituído pelos Estados Unidos naquilo que é a hegemonia política, social e cultural.

    Dr. No começa com a morte de um agende do MI6 na Jamaica, obrigando a uma investigação pelo Governo britânico através do seu agente 007. Aqui é introduzida a personagem americana Felix Leiter, um agente da CIA que, por um lado, representará, ao longo dos vários filmes da saga, uma amizade entre o Reino Unido e os Estados Unidos, mas, por outro, cria também uma sensação de superioridade dos serviços secretos britânicos. E a propaganda se inicia.

    No decurso desta investigação é introduzida a personagem Honey Ryder, (Ursula Andress), sendo que aqui que começa o estereótipo da Bond girl. A sexualização de Ryder é obvia, quer pelo fato de banho que usa, pela forma de sair da água como que se de uma sereia se tratasse.

    Esta erotização das Bond girls, como uma espécie de objecto para ser olhado, como sugere Laura Mulvey na sua formulação do male gaze, torna-se prática comum nesta saga ao longo de várias décadas.

    Porém, se a erotização é uma constante das personagens femininas, não é menos constante a sua dependência e sujeição aos desejos do agente secreto e à sua perícia para a sobrevivência. Assim, as mulheres de Bond obedecem aos valores do pós-guerra, em que a mulher serve para ser olhada e o homem é quem toma as rédeas da acção e sucesso – e, por isso, lhe é superior.

    Bond é assim uma representação do modelo do hyper másculo, que consegue tudo o que o homem comum anseia. O sucesso com as mulheres, vencer todas as lutas, disparar a arma (um claro sinal fálico), que é melhor do que as outras, e finalmente conduzir o carro que todos querem. Bond é, assim, aquele que todos querem ser e, por isso mesmo, o homem impossível, o que o torna num paradoxo.

    Dr. No introduz também os temas da guerra espacial e da ameaça nuclear. A personagem Dr. Julius No deseja sabotar o lançamento espacial em Cape Canaveral, o local nos Estados onde são lançadas as naves hegemónicas.

    Como parte do seu arsenal de sabotagem Dr. No, tem um reactor nuclear que ameaça a paz mundial. A missão de 007 é impedir que o vilão atinja o seu objectivo.

    Naturalmente, a implicação da missão de James Bond representa a sagacidade dos serviços secretos britânicos que são os únicos que conseguem salvar o mundo da ameaça nuclear. Salvam também os “pobres” americanos que apesar da sua pretensa superioridade, precisam da determinação e das habilidades de 007.

    Neste sentido, James Bond mostra-se claramente um produto de propaganda britânica num mundo que mudou a seguir à II Guerra Mundial. É também uma salvaguarda dos valores de então.

    Porém, e muito devido à sua longevidade, esta saga tornou-se numa montra histórica onde se pode ver as mudanças da cultura ocidental. Se é verdade que começa com bastante misoginia, frieza e distanciamento emocional, 007 vai, ao longo dos anos, sofrendo mudanças que reflectem os zeitgeists.

    Por exemplo, Roger Moore é já um actor que traz algum humor aos écrans. Tem um riso mais fácil e os one-liners típicos destes filmes resultam melhor, muito embora a misoginia se mantenha.

    Com Daniel Craig, introduzido em 2006 em Casino Royale, notam-se as principais diferenças desta personagem complexa, e que se observam também nos seus inimigos.

    Estamos já longe do inimigo soviético, do General Gogol, ou da luta dos mujahideens – temas que nos anos 80 e 90 ainda faziam parte dos filmes com Roger Moore e Timothy Dalton.

    Em Casino Royale, a Bond girl, protagonizada pela actriz de origem francesa, Eva Green, é já uma mulher mais autónoma e, embora a erotização se mantenha, é já uma arma ao serviço da feminidade. Bond apaixona-se e, por isso, assistimos a um lado emocional da personagem, a sua vulnerabilidade e por sua vez, a fragilidade que assim o humaniza e o aproxima do homem comum.

    Introduz-se assim alguma paridade – que já antes havia sido tentada no último filme de Piers Brosnan, onde a Bond girl, Jinx, (Halle Berry) é uma agente da CIA que entra nos confrontos físicos e protagoniza sequências de acção independentes de Bond.

    Curiosamente, Casino Royale é o primeiro livro do autor Ian Fleming e, se deixarmos de lado a comedia de Peter Sellers em 1967, somente no século XXI o filme acaba por ser produzido.

    De acordo com um documentário da BBC de 2020, este livro é baseado nos tempos vividos em Portugal por Ian Fleming, quando era soldado britânico na II Guerra Mundial.

    Sean Connery, o pimeiro James Bond, e o escritor Ian Fleming (1908-1964), “pai” da saga 007.

    Alegadamente, o autor esteve hospedado num hotel da zona do Estoril, perto do Casino onde terá conhecido um espião de nome Dusko Popov, servindo de inspiração para criar 007. Fleming nunca chegou a confirmar esta alegação, e em 1964 com mais de 20 livros escritos morre, aos 56 anos.

    Daniel Craig é também o primeiro Bond a introduzir o tema da morte do agente secreto, ao ser o primeiro 007 a cair em combate num filme, e assim parece confirmar a teoria que Bond é um nome atribuído a um agente, e não um nome próprio.

    James Bond tem agora 60 anos, 27 filmes e continuará. Está para breve o anúncio do próximo actor que substituirá Daniel Craig. De qualquer forma, seguro é que continuará a chegar aos cinemas e a reflectir os temas da cultura actual. Talvez por, pelo menos, mais 60 anos. E ainda bem!

  • Night Agent

    Night Agent

    Título

    City on the Hill (2019)

    Género

    Drama: Crime

    País de origem

    Estados Unidos da América

    Plataforma

    HBO Max

    Criador

    Chuck Maclean

    Actores principais

    Fevin Bacon; Aldis Hedge; Jill Hennessy

    Nota

    7/10

    Recensão

    Originalmente distribuída pela rede de canais televisivos Showtime, em 2019, City on the hill é uma série norte-americana desenvolvida por Chuck Maclean, baseada numa história criada pelo famoso actor Ben Affleck, que, a par de Matt Damon, também a produz. Recordemos que esta dupla ganhou o Óscar Melhor Argumento em 1997 por O bom rebelde (Good will hunting), onde também se destacava o malogrado Robin Williams.

    City on the hill é um drama protagonizado por Kevin Bacon e Aldis Hodge, tendo como cenários os anos 90 na cidade de Boston, com a premissa de uma cooperação em constante conflito entre o agente do FBI Jackie Rohr (Bacon) e o Procurador-Geral Adjunto Decourcy Ward (Hodge). Conta ainda, em destaque, com a participação de Jill Hennessy, no papel de Jenny Rohr, mulher de Jackie.

    Bacon representa um agente veterano em final de carreira, cuja aprendizagem tem tudo de old school. Corrupção, abuso de drogas e maneirismos fazem de Jackie Rohr um polícia tão desprezível quanto necessário para a trama, onde a fronteira entre anti-herói e vilão se esvanece muitas vezes e só de quando em vez a moralidade aparece.

    Já Hedge é o oposto: ainda jovem, é um idealista, incorruptível, mas ambicioso, havendo linhas que não cruza, embora sabendo que , por vezes, há que “fechar os olhos” para apanhar criminosos e trazê-los à justiça.

    City on the hill não é, em todo o caso, uma história de detectives, nem um clichê típico de series de advogados. Junta sim dois aspectos conhecidos para criar um enredo bastante mais original e interessante, onde se explora a pobreza, o crime e até o racismo institucionalizado numa cidade como Boston.

    Não é propriamente surpreendente que a acção seja passada em Boston, porque tanto Maclean como Affleck e Damon foram criados nesta cidade do Estado de Massachussetts – e o Óscar que arrecadaram com O bom rebelde também tem aí o seu cenário.

    Disponível na plataforma HBO Max, City on the hill conta com três temporadas num tempo médio de 55 minutos por cada um dos seus 26 episódios. E se outros motivos não houvesse, aproveitem para assistir à brilhante representação da “decadência” de Kevin Bacon.

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  • Mayor of Kingstown

    Mayor of Kingstown

    Título

    City on the Hill (2019)

    Género

    Drama: Crime

    País de origem

    Estados Unidos da América

    Plataforma

    HBO Max

    Criador

    Chuck Maclean

    Actores principais

    Fevin Bacon; Aldis Hedge; Jill Hennessy

    Nota

    7/10

    Recensão

    Originalmente distribuída pela rede de canais televisivos Showtime, em 2019, City on the hill é uma série norte-americana desenvolvida por Chuck Maclean, baseada numa história criada pelo famoso actor Ben Affleck, que, a par de Matt Damon, também a produz. Recordemos que esta dupla ganhou o Óscar Melhor Argumento em 1997 por O bom rebelde (Good will hunting), onde também se destacava o malogrado Robin Williams.

    City on the hill é um drama protagonizado por Kevin Bacon e Aldis Hodge, tendo como cenários os anos 90 na cidade de Boston, com a premissa de uma cooperação em constante conflito entre o agente do FBI Jackie Rohr (Bacon) e o Procurador-Geral Adjunto Decourcy Ward (Hodge). Conta ainda, em destaque, com a participação de Jill Hennessy, no papel de Jenny Rohr, mulher de Jackie.

    Bacon representa um agente veterano em final de carreira, cuja aprendizagem tem tudo de old school. Corrupção, abuso de drogas e maneirismos fazem de Jackie Rohr um polícia tão desprezível quanto necessário para a trama, onde a fronteira entre anti-herói e vilão se esvanece muitas vezes e só de quando em vez a moralidade aparece.

    Já Hedge é o oposto: ainda jovem, é um idealista, incorruptível, mas ambicioso, havendo linhas que não cruza, embora sabendo que , por vezes, há que “fechar os olhos” para apanhar criminosos e trazê-los à justiça.

    City on the hill não é, em todo o caso, uma história de detectives, nem um clichê típico de series de advogados. Junta sim dois aspectos conhecidos para criar um enredo bastante mais original e interessante, onde se explora a pobreza, o crime e até o racismo institucionalizado numa cidade como Boston.

    Não é propriamente surpreendente que a acção seja passada em Boston, porque tanto Maclean como Affleck e Damon foram criados nesta cidade do Estado de Massachussetts – e o Óscar que arrecadaram com O bom rebelde também tem aí o seu cenário.

    Disponível na plataforma HBO Max, City on the hill conta com três temporadas num tempo médio de 55 minutos por cada um dos seus 26 episódios. E se outros motivos não houvesse, aproveitem para assistir à brilhante representação da “decadência” de Kevin Bacon.

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  • Nação valente

    Nação valente

    Título

    City on the Hill (2019)

    Género

    Drama: Crime

    País de origem

    Estados Unidos da América

    Plataforma

    HBO Max

    Criador

    Chuck Maclean

    Autores principais

    Fevin Bacon; Aldis Hedge; Jill Hennessy

    Nota

    7/10

    Recensão

    Originalmente distribuída pela rede de canais televisivos Showtime, em 2019, City on the hill é uma série norte-americana desenvolvida por Chuck Maclean, baseada numa história criada pelo famoso actor Ben Affleck, que, a par de Matt Damon, também a produz. Recordemos que esta dupla ganhou o Óscar Melhor Argumento em 1997 por O bom rebelde (Good will hunting), onde também se destacava o malogrado Robin Williams.

    City on the hill é um drama protagonizado por Kevin Bacon e Aldis Hodge, tendo como cenários os anos 90 na cidade de Boston, com a premissa de uma cooperação em constante conflito entre o agente do FBI Jackie Rohr (Bacon) e o Procurador-Geral Adjunto Decourcy Ward (Hodge). Conta ainda, em destaque, com a participação de Jill Hennessy, no papel de Jenny Rohr, mulher de Jackie.

    Bacon representa um agente veterano em final de carreira, cuja aprendizagem tem tudo de old school. Corrupção, abuso de drogas e maneirismos fazem de Jackie Rohr um polícia tão desprezível quanto necessário para a trama, onde a fronteira entre anti-herói e vilão se esvanece muitas vezes e só de quando em vez a moralidade aparece.

    Já Hedge é o oposto: ainda jovem, é um idealista, incorruptível, mas ambicioso, havendo linhas que não cruza, embora sabendo que , por vezes, há que “fechar os olhos” para apanhar criminosos e trazê-los à justiça.

    City on the hill não é, em todo o caso, uma história de detectives, nem um clichê típico de series de advogados. Junta sim dois aspectos conhecidos para criar um enredo bastante mais original e interessante, onde se explora a pobreza, o crime e até o racismo institucionalizado numa cidade como Boston.

    Não é propriamente surpreendente que a acção seja passada em Boston, porque tanto Maclean como Affleck e Damon foram criados nesta cidade do Estado de Massachussetts – e o Óscar que arrecadaram com O bom rebelde também tem aí o seu cenário.

    Disponível na plataforma HBO Max, City on the hill conta com três temporadas num tempo médio de 55 minutos por cada um dos seus 26 episódios. E se outros motivos não houvesse, aproveitem para assistir à brilhante representação da “decadência” de Kevin Bacon.

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  • Great Yarmouth: Provisional Figures

    Great Yarmouth: Provisional Figures

    Título

    City on the Hill (2019)

    Género

    Drama: Crime

    País de origem

    Estados Unidos da América

    Plataforma

    HBO Max

    Criador

    Chuck Maclean

    Autores principais

    Fevin Bacon; Aldis Hedge; Jill Hennessy

    Nota

    7/10

    Recensão

    Originalmente distribuída pela rede de canais televisivos Showtime, em 2019, City on the hill é uma série norte-americana desenvolvida por Chuck Maclean, baseada numa história criada pelo famoso actor Ben Affleck, que, a par de Matt Damon, também a produz. Recordemos que esta dupla ganhou o Óscar Melhor Argumento em 1997 por O bom rebelde (Good will hunting), onde também se destacava o malogrado Robin Williams.

    City on the hill é um drama protagonizado por Kevin Bacon e Aldis Hodge, tendo como cenários os anos 90 na cidade de Boston, com a premissa de uma cooperação em constante conflito entre o agente do FBI Jackie Rohr (Bacon) e o Procurador-Geral Adjunto Decourcy Ward (Hodge). Conta ainda, em destaque, com a participação de Jill Hennessy, no papel de Jenny Rohr, mulher de Jackie.

    Bacon representa um agente veterano em final de carreira, cuja aprendizagem tem tudo de old school. Corrupção, abuso de drogas e maneirismos fazem de Jackie Rohr um polícia tão desprezível quanto necessário para a trama, onde a fronteira entre anti-herói e vilão se esvanece muitas vezes e só de quando em vez a moralidade aparece.

    Já Hedge é o oposto: ainda jovem, é um idealista, incorruptível, mas ambicioso, havendo linhas que não cruza, embora sabendo que , por vezes, há que “fechar os olhos” para apanhar criminosos e trazê-los à justiça.

    City on the hill não é, em todo o caso, uma história de detectives, nem um clichê típico de series de advogados. Junta sim dois aspectos conhecidos para criar um enredo bastante mais original e interessante, onde se explora a pobreza, o crime e até o racismo institucionalizado numa cidade como Boston.

    Não é propriamente surpreendente que a acção seja passada em Boston, porque tanto Maclean como Affleck e Damon foram criados nesta cidade do Estado de Massachussetts – e o Óscar que arrecadaram com O bom rebelde também tem aí o seu cenário.

    Disponível na plataforma HBO Max, City on the hill conta com três temporadas num tempo médio de 55 minutos por cada um dos seus 26 episódios. E se outros motivos não houvesse, aproveitem para assistir à brilhante representação da “decadência” de Kevin Bacon.

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  • The Big Lebowski: 25 anos da imprevisível magia do cinema

    The Big Lebowski: 25 anos da imprevisível magia do cinema


    Celebrou-se em Março os 25 anos do filme The Big Lebowski (TBL), primeiramente lançado nos cinemas a 6 de Março de 1998 nos Estados Unidos, mas chegado a Portugal apenas a 30 de Outubro desse ano.

    Dir-se-ia que foi só mais um filme, e perguntar-se-á o motivo de se escrever sobre este em particular quando tantos outros também celebram anos de existência. Pois bem: The Big Lebowski não é um filme qualquer, e os fenómenos que foi gerando à sua volta, ao longo dos anos, tornaram-se maiores do que ele próprio.

    Jeff Bridges, o Dude, em The Great Lebowski.

    Dois anos antes, os dois realizadores, os irmãos Cohen (Joel e Ethan), tinham dado à luz o aclamado Fargo, que venceu o Óscar pelo melhor argumento e melhor actriz, para uma magnífica Frances McDormand, a fazer de polícia grávida naquela pacata cidade do Dakota do Norte. A expectativa à volta do que viria a seguir era assim grande.

    Porém, nas bilheteiras The Big Lebowski foi uma desilusão e as receitas mal cobriram as despesas. As críticas também não foram meigas e apareceram as bad reviews que pareciam confirmar ser este um filme a ficar sem História.

    David Denby escreveu para a New York Magazine a defender que The Big Lebowski era filme demasiado incoerente para se poder explicar e que o protagonista, Jeff Bridges, se tinha sacrificado pelo conceito derrotista dos Cohen.

    O falecido Roger Ebert disse, por sua vez, em 1998 que The Big Lebowski era um filme que corria em todas as direcções e acabava por não ir para lado algum. Peter Howell escreveu, no Toronto Star, ser difícil aceitar que os realizadores eram os mesmos de Fargo.

    Daphne Merkin, na sua recensão para o The NewYorker era mais uma destas vozes negativas e, embora fizesse elogios à performance de Bridges, criticava a falta de estrutura narrativa, o exagero das referências ao judaísmo e a falta de senso comum de Joel e Ethan. Dave Kehr chamou-lhe uma ideia cansada e um filme episódico e despreocupado.

    Enfim, tudo parecera falhar, e The Big Lebowski estava aparentemente destinado a ser um filme que os irmãos Cohen desejariam que o Mundo esquecesse.

    Porém, é o tempo que cria os clássicos, e o hoje é um mau julgador.

    Existe alguma ambivalência no que toca à definição de filmes de culto. Certo é que há filmes que criaram uma legião de “cultistas” que ainda hoje perdura – isto independentemente do seu sucesso ou falta deste, nas bilheteiras.

    De qualquer forma, se a “alta cultura” inicialmente condenou The Big Lebowski, automaticamente também criou as sementes para uma “baixa cultura” que não se revê nas críticas de peritos ou nas expectativas de intelectuais.

    Esta “baixa cultura” é normalmente formada por pessoas que vêem os chamados midnight movies que, como indica o nome, são filmes B, transmitidos a hora tardia, geralmente com o orçamento baixo, que tiveram origem nos anos 50, mas que depois do sucesso de filmes como El topo (1970) e mais tarde The Rocky Horror Picture Show (1975) começaram a atrair mais e maiores audiências.

    Ainda assim, esta legião de fãs configura uma oposição à “alta cultura” e ao mainstream, vendo-se a si mesma como “transgressora” que visiona filmes nas zonas suburbanas dos Estados Unidos a horas também elas desobedientes dos horários ditos normais, criando assim uma ritualização. 

    The Big Lebowski foi um desses filmes transmitidos nos midnight movies, desde o New Beverly Cinema no ano 2000, Nickelodeon Theatre em 2002, e em 2007 no New York City’s Sunshine Cinema, Milwaukee’s Rosebud Cinema Drafthouse, e no San Francisco’s Clay Theatre, cruzando assim várias regiões dos Estados Unidos.

    Em 2002 na cidade de Louisville, no Estado do Kentucky, foi assim criado o primeiro Lebowski Festival a partir da ideia de dois fãs, Will Russell e Scott Shuffitt. Não foi propriamente um grande festival, uma vez que só apareceram 150 pessoas e não se podia vender bebidas alcoólicas.

    Mas a semente germinou, e actualmente é um festival organizado em mais de 30 cidades americanas, com a presença dos actores principais, e onde os participantes mascaram-se com as indumentárias das personagens do filme, jogam bowling e citam frases do filme uns aos outros.

    No mesmo ano do primeiro festival foi feito o lançamento de DVD de The Big Lebowski em conjunto com outro filme que abordava o tema do consumo de marijuana. Três anos depois, em 2005, foi lançado o Collector’s Edition e o Achiever’s Edition, este último já com o nome que os fãs do filme davam já a si mesmos, certificando assim The Big Lebowski como um filme de culto.

    No décimo aniversário saiu mais um DVD que vendeu perto de 2,5 milhões de unidades. No vigésimo aniversário, em 2018, essas vendas duplicaram. O estatuto de filme de culto estava criado. The Big Lebowski tinha ganhado mais que uma segunda vida, era agora um fenómeno. Talvez uma vida eterna.

    Mainpage do culto Dudeism.

    Mas as particularidades não se ficam por aqui. The Big Lebowski conseguiu a proeza de servir de inspiração para a “criação” de uma religião e filosofia de vida, que dá pelo nome de Dudeism – reconhecida pelo Governo norte-americano e conta com mais de 600 mil padres ordenados.

    Oliver Benjamin, o seu criador, baseia esta religião no conceito de abiding, ou seja, viver no presente, sem se preocupar com o futuro, e vai buscar semelhança a filosofias orientais como o Taoismo, Budismo e Sofismo. Há apenas uma grande regra a seguir: “não sejas um idiota, trata bem as pessoas”.  No website deste “culto”, por uns trocos pode tornar-se um padre, aceder a livros e até tirar um curso na Abide University.

    A influência de The Big Lebowski faz-se sentir também no continente europeu. Desde restaurantes em Glasgow e Edinburgh, sob o nome Lebowskis, onde as bebidas têm o nome das personagens do filme, até ao Grand Café Lebowski em Utrecht, passando em Paris pelo Le Dude e em Dresden pelo Lebowski Bar.

    É de salientar que alguns dos críticos originais de 1998 fizeram, entretanto, o seu mea culpa, e reviram os seus textos. Houve até quem dissesse, na sua revisão, que poderia ter sido consequência de falta de oxigénio e cansaço, que não lhe permitiu escrever uma recensão em condições.

    Joel e Ethan Cohen, a dupla que realizou The Great Lebowski.

    Hoje, The Big Lebowski integra o National Film Registry, que é um corpo que escolhe filmes todos os anos para preservação futura devido à sua importância cultural, histórica ou estética. Ganhou, portanto, um lugar na História do Cinema.

    E sobretudo mostrou que um filme pode sobreviver ao seu tempo, às (más) críticas iniciais, e não obedecer a muitas regras para ser bom. 

    Por outro lado, mostra-se interessante observar as diversas catalogações deste filme. Agora, uns consideram-no uma comédia, outros metem-lhe um pouco de neo-noir.  De qualquer forma, não é fácil dizer qual é o tema deste filme, até porque não é a sua história que tanto fã agremiou. Foram sobretudo as personagens, os seus diálogos e o bowling. E há mais o resto, que é tudo o que se quiser inventar.

  • A festa continua, viva, e recomenda-se

    A festa continua, viva, e recomenda-se

    O PÁGINA UM esteve a acompanhar o Fantasporto no renovado Cinema Batalha. Leia as impressões de uma semana de cinema fantástico no Porto sob o olhar de Frederico Duarte Carvalho.


    Vamos ser claros: o Fantasporto não é um festival de cinema de terror, mas sim, como o nome o indica, é de cinema fantástico. Existe desde 1981, graças a dois nomes incontornáveis da cultura portuense: Mário Dorminsky e Beatriz Pacheco Pereira. Há terror nas salas, claro, pois o cinema é feito de emoções e o medo é uma das mais básicas de todas. Também há sangue, e muito. Mas ao ser mostrado numa tela, presumimos que é falso. É toda uma encenação a retratar a vida real, e um realizador não precisa de saber a quantidade exacta de sangue jorrado quando alguém morre na vida real: ele sabe que nunca será o suficiente.

    Aliás, foi essa a pergunta que fiz ao realizador belga Karim Ouelhaj: se não haveria demasiado sangue em algumas das cenas do seu filme sobre os dois filhos de um serial killer que repetiam as façanhas do pai. Ele sorriu e respondeu, com ar de menino inocente, que pretendia apenas fazer uma “expiação” de sangue. No fundo, o que lhe interessava, como artista, era criar imagens. E a conversa seguiu depois para os quadros de Caravaggio e a cena final, onde, num sofá, a irmã segura um bebé recém-nascido enquanto é abraçada pelo irmão, que acabara de matar homens que a tinham violado, incluindo o pai da criança. Enfim, um dia normal no Fantasporto.

    Megalomaniac, do realizador belga Karim Ouelhaj.

    Naquela altura em que conversávamos, estávamos longe de imaginar que o filme Megalomaniac iria vencer os dois prémios mais importantes do festival: Melhor Filme e Melhor Realizador. Mas já se intuía que o de Melhor Actriz poderia ir para a “mãe” da criança, Eline Shumacher, como se veio a confirmar. “Houve muita confiança entre nós para fazer este filme”, contou-me Karim. Não era fácil fazer o papel de empregada de limpeza numa fábrica e violada por colegas e que tem de se manter discreta em casa, enquanto o irmão rapta e mata mulheres. A assistente social que é morta por fazer demasiadas – e inúteis – perguntas que o diga…

    De origem marroquina, Karim é um realizador belga que, ao visitar o Porto durante a 43ª edição do “Fantas”, descobriu uma cidade pela qual se enamorou e onde gostaria de regressar: “Desta vez, para fazer uma história de amor”, como revelou. Ele não quer ficar preso a um género, como o terror que imprimiu em Megalomaniac.

    A história que venceu a edição deste ano do histórico festival portuense é baseada no caso de um serial killer da vida real conhecido como O carniceiro de Mons, a cidade belga onde, entre Janeiro de 1996 e Julho de 1997, apareceram os corpos desmembrados de cinco mulheres. Um crime ainda por resolver e que levou Karim a imaginar: “E se o carniceiro morreu, mas teve filhos que, passados 20 anos, retomaram as mortes”? A ideia deu um filme premiado e, agora, o filme que Karim pretende fazer no Porto, se vier a ser uma história de amor, poderá, quem sabe, dar mais prémios.

    Karim Ouelhaj

    Em competição, embora sem ter vencido nenhum prémio – excepto a honra de ter estado presente na selecção oficial à primeira tentativa –, esteve o filme S.Ó.S, do jovem realizador português (33 anos) Tiago Santos. Nascido em Lisboa, mas a viver em Viseu há quase 30 anos, o realizador é músico profissional e freelancer na arte do vídeo. Fundador de “A Toca do Lobo”, fez, entre outros, a curta-metragem Alpha – história sobre lobisomens, filmada em Lafões (Viseu), “terra de Lobisomens também”, como destacou.

    Para o Fantasporto, juntamente com os co-produtores João Silva – mais ativo atrás das câmaras, com efeitos visuais e concepção de arte e design –, e Ivo Saraiva, mais activo à frente da câmara, Tiago trouxe um filme com um título ambíguo – entre um apelo de emergência e a aventura de um homem sozinho num cenário pós-apocalipse – esta produção tem ainda a particularidade de ter sido feita com “zero” de orçamento: “O material de vídeo era material já usado por mim na minha vida de freelancer na videografia. Foi filmado com uma Sony a6400 e duas lentes, uma 16mm e uma 50mm. A caracterização do Ivo foi feita com roupas dele e outras minhas. Os acessórios foram emprestados por amigos que praticam airsoft. Filmámos literalmente em frente de minha casa, num parque da cidade – felizmente, Viseu tem bastantes. A casa é uma que está para venda, cedida pelo Luís Pinto, personagem principal do ‘Alpha’. Era do seu avô e fica relativamente perto do centro de Viseu”.

    E assim se consegue ter o sonho de fazer cinema em Portugal…

    Ainda mais impressionante, visualmente, foi um dos cenários deste filme de Tiago: o parque aquático do Almargem, um espaço abandonado e que o realizador português caracteriza como “a nossa pequena Chernoby”. Pediu-se aos donos a autorização de filmagem, mas não chegou qualquer resposta.

    Vai daí, não estiveram de modas: “Embora não tenhamos recebido qualquer resposta ao nosso pedido para filmarmos, enviámos um termo de responsabilidade e sentimo-nos encorajados com outros testemunhos nas redes sociais. Decidimos arriscar ao estilho de ‘guerilla filmmaking’ e filmar lá. Achámos um desperdício não filmarmos na nossa pequena ‘Chernobyl’, embora sem autorização oficial. Não consigo dizer grandes detalhes sobre o local, apenas sei que era um grande projeto para a região e que foi abandonado, felizmente para nós”.

    Para provar ainda que é possível fazer produções cinematográficas em Portugal praticamente sem meios técnicos – e isto nem sequer se deveria dizer, pois depois ainda vão dizer que não se precisa gastar dinheiro na cultura –, temos o exemplo do trabalho do português Pedro Gil Vasconcelos que, com um telemóvel filmou a sua experiência num caminho de Santiago e também fez um pequeno filme nas férias na Turquia, tendo vencido já prémios de curta e micro filmes.

    Mas houve um português que ganhou um prémio internacional. Tito Fernandes, natural de Barcelos, a viver entre Hollywood e o Reino Unido, trabalhou nos efeitos especiais de filmes bem conhecidos como Star Wars – The Force Awakens, Interstellar e o The Dark Knight. Só que ele quer ter o nome debaixo do título do filme, em vez de aparecer apenas nos créditos finais e ser reconhecido pelos amigos. Subiu ao palco na noite da entrega dos prémios para receber o prémio internacional de Melhor Curta-Metragem, pelo filme Incubus, onde, durante 16 minutos, uma mulher debate-se contra os seus medos.

    O filme de Tito Fernandes demonstra um realizador já feito, do qual se espera com ansiedade o momento em que será possível aventurar-se em longas-metragens. No seu pequeno filme, o português usa efeitos especiais na construção de um monstro e fica-se a pensar como seria se a técnica evoluísse para uma ficção com assinatura portuguesa. O filme, que é também um alerta contra a violência doméstica – daí o trauma da mulher com os seus medos –, venceu ainda a categoria de melhor filme português.

    O Fantasporto tem de ser visto do princípio ao fim. Desde a cerimónia de abertura até ao encerramento, uma semana depois. Há quem consiga estar todos os dias na sala principal, com três – ou até quatro – sessões diárias. Que o diga, por exemplo, Pedro Afonso, natural dos Açores, técnico de desenho e cinéfilo, que dedicou uma semana de vida para alimentar o seu site Laxante Cultural com os resumos e apreciação de todos os filmes que passaram na sala principal do Fantasporto.

    Pedro Afonso, cinéfilo e autor do site Laxante Cultural.

    Regressar ao cinema Batalha, leva-nos a um dito muito portuense que é o “bai no Batalha”, assim mesmo, à Porto. Mário Dorminsky não gosta da expressão, pois acha-a depreciativa, visto a expressão designar algo que é uma “treta” – a origem é do tempo em que o cinema Batalha, como grande sala, simbolizava todo o cinema da cidade do Porto e, quando alguém refutava uma história que lhe era contada como sendo exagerada ou digna de ficção, o interlocutor rematava com o dito “bai no Batalha”, expressando o seu sentimento de descrédito do relato, sendo mais parecido com a trama de um qualquer filme de ficção projectado na tela do Batalha. Mas para o portuense, para o amante de cinema, é sempre um prazer ir ao Batalha.

    O novo Batalha recuperou – e bem – as pinturas originais de Júlio Pomar, mandadas esconder pela polícia do Estado Novo, contudo tem detalhes que precisam de ser revistos. O bar fecha a horas que não são as mais propícias ao ambiente de um festival. A zona dos corredores não permite um convívio após filmes. E os convidados internacionais, aqueles que irão depois falar bem ou mal da cidade, são confrontados com a sopa dos pobres à saída do edifício. A ficção da tela do “bai do Batalha” ganha outros contornos realistas quando se está na rua em frente. A lembrar-nos que esta é a sociedade que soubemos fazer.

    Uma sociedade onde a guerra na Ucrânia é também uma realidade e que, nesta edição do Fantasporto, esteve presente, ainda que de forma discreta e menos mortal do que aquela que se passa no terreno. Nem todos os que estiveram no Porto entre os dias 25 de Fevereiro e 5 de Março saberão que o consulado da Ucrânia no Porto enviou à direcção do Fantasporto uma queixa formal pela exibição de uma curta-metragem russa.

    Sleeping Beauty, o filme em questão, tem a particularidade de ter sido filmada debaixo de água. Conta a clássica história da bela adormecida através apenas de música clássica e bailado. Não é uma novidade cinematográfica, mas garante sempre um belo efeito, sobretudo neste caso em que a realizadora, Jana Nedzvetskaya, é uma conhecida designer de moda e responsável da marca Miss Lo – da palavra inglesa para amor, “love”. A curta insere-se em anteriores trabalhos levados a cabo pela designer russa, que é conhecida por ter feito apresentações de moda com a mesma técnica de filmagem.

    Acontece que para o consulado ucraniano no Porto, a exibição daquele filme russo suscitou “preocupação”, porque “o Kremlin usa várias armas, incluindo armas que matam as almas e destroem a consciência da gente. O Kremlin é conhecido há muito tempo por usar a cultura e o seu ‘poder’ de influência para manipulação e propaganda política. O Estado agressor faz amplo uso das ferramentas da diplomacia pública e cultural para expandir a sua influência nos círculos académicos e artísticos estrangeiros, bem com no público, em todo o mundo”, afima-se.

    A carta enviada à direcção do Fantasporto ainda acrescenta que “enquanto continua a guerra russa contra a Ucrânia e continua o sofrimento dos civis, enfatizamos a importância de encerrar a cooperação com todas a instituições no campo da cultura, bem como representantes da Rússia no estrangeiro”.

    Sleeping beauty, filme russo exibido, sob protesto do cônsul da Ucrânia.

    Frisa ainda a carta assinada pela cônsul da Ucrânia no Porto, Alina Ponomarenko, que “a cultura russa ou se manifesta apoiando a guerra iniciada pelo regime de Putin ou não considera necessário expressar uma posição clara, silenciando a guerra na Ucrânia”, terminando com o apelo de que “agora é necessário limitar a influência da cultura russa no mundo”, pois esta é “uma cultura que lançou as bases ideológicas desta guerra, uma cultura que pode justificar furtivamente a agressão da Rússia, uma cultura que a Rússia sabe usar para os seus próprios objectivos”.

    Em contraponto, a mesma carta expressava gratidão ao Fantasporto por ter exibido o filme ucraniano Sashenka, de Oleksandr Zhovna. Filmado a preto e branco, contrasta perfeitamente com o filme russo. Enquanto o primeiro é uma fábula colorida e conta uma história de príncipes e princesas, em “Sashenka” temos uma história centrada na União Soviética dos anos 70, sobre um rapaz obrigado a viver como se fosse uma rapariga – porque a irmã morrera antes do seu nascimento. Obra doentia, com uma interpretação igualmente perturbante do actor Dmitry Nizhelsky, deixou marcas, embora não o suficiente para garantir prémios.

    Menos polémico, mas igualmente de Leste, mais concretamente da Polónia, houve a oportunidade de apreciar em estreia europeia o mais recente filme do polaco Krzystof Zanussi, Perfect Number. Uma obra simples e perfeita sobre temas complicados como Deus, sentido da vida, acasos e matemática. Um realizador que caminha anónimo pelas ruas do Porto, passando por pessoas que ignoram que aquele homem, por exemplo, já venceu um Leão de Ouro em Veneza, em 1984 – com o filme “A Year of the Quiet Sun” – ou que foi ele que, em 1981, fez o primeiro documentário sobre a vida do cardeal polaco Karol Wojtyla até se tornar no Papa João Paulo II.

    Outra presença de peso cinematográfico neste festival – houve muitos mais, eu sei, mas que me perdoem os outros, como os participantes filipinos, japoneses, ingleses, húngaros, franceses, norte-americanos, colombianos, etc. –, foi certamente o britânico Anthony Waller. Digo britânico porque os seus pais são naturais da ilha das Brumas, mas ele nasceu em Beirute, fala alemão e russo e vive no Mónaco.

    Anthony Waller foi mais uma daquelas boas razões para o Porto e o seu festival fazer muito sentido. É seu o filme de 1995 Lobisomem americano em Paris, a sequela ao filme de John Landis, Lobisomem americano em Londres. Durante o Fantasporto houve ainda a oportunidade de assistir ao seu filme de 1994, em cópia restaurada, Mute witnessNão falarás. Um thriller com rasgos de emoção digna de Hitchcook, passado em Moscovo, onde uma norte-americana, assistente de produção de uma equipa de filmagens norte-americana, é testemunha de filmagens proibidas da máfia russa – os chamados filmes snuff, onde as mortes são reais. Só que ela tem um problema: é muda.

    Sashenka, filme ucraniano em competição.

    Uma das maiores atracções deste filme de Waller, no entanto, é o facto de ser um dos últimos filmes do grande actor britânico Alec Guiness. E a razão disso daria mais um filme. É um prazer ouvir o realizador contar como conseguiu ter aquela estrela no seu filme. Uma lição.

    Anos antes de fazer o filme, Anthony Waller estava a estudar cinema na Alemanha, graças a uma bolsa que vencera na escola de cinema do Reino Unido, como patrocínio do realizador John Schlesinger. Um dia aparece Alec Guiness a quem Waller diz que gostaria de o ter um dia num filme. O homem da Ponte do rio Kwai, o príncipe Faisal do Lawrence da Arábia e, finalmente, o Obi-Wan Kenobi do Star Wars, disse-lhe que isso até poderia acontecer, mas ele já estava com a agenda preenchida para os próximos dois anos. É então que Waller atira: “E amanhã de manhã, pode ser?”.

    Perante aquele desafio, Alec Guiness disse que sim e, durante a noite, Waller arranjou uma equipa e material. De manhã, gravou três cenas dentro de um carro nos anos 30. Inicialmente, seria um filme com gangsters em Chicago. As cenas são de noite e Alec Guinness faria o papel de um vilão, o The Ripper, onde diria algumas falas sobre “onde estava a rapariga” e a importância de não deixar testemunhas. Aquelas filmagens estiveram guardadas durante quase dez anos, até que, finalmente, foram montadas para uma história em Moscovo. O material original com Alec Guiness permitiu que, com a inversão da imagem em algumas cenas e diálogos com intercomunicadores, disfarçando a voz do actor, servissem para o dobro do tempo na edição final. Lição de cinema.

    Presente na qualidade de júri, Waller recebeu ainda o prémio de carreira, assim como o realizador da Estónia, Elmo Nuganen, cuja trilogia sobre o boticário da Idade Média, Melchior, fizeram as delícias de quem os viu. As obras do realizador da Estónia são marcadas por uma cinematografia de cores vivas e uma encenação cuidada. O próprio realizador é um reputado encenador e, quando subiu ao palco para receber o seu prémio, percebeu-se bem essa formação teatral. Sobretudo quando disse, na sua língua, como foi poder nadar no Atlântico. Mesmo sendo no Porto, em Março.

    Muito mais haveria para dizer, mas este relato das impressões da 43ª edição do Fantasporto não poderia deixar de mencionar o filme L’órafo (O ourives) do realizador italiano Vincenzo Ricchiuto. Ficou de fora da competição por ter chegado já fora do tempo, mas ainda assim decidiu-se, e bem, incluir na programação aquele que é a primeira longa-metragem de um realizador com mãos experientes.

    A história de um casal de reformados que monta uma armadilha a um grupo de três assaltantes, numa história com luz e fotografia cuidada, interpretações de algumas figuras conhecidas da cena artística italiana e com um guião que permite momentos de tensão e humor. Um filme bem conseguido e que mereceria ser visto por mais pessoas.

    O filme da sessão de encerramento é outro momento de destaque. Desta vez, a honra coube à primeira mulher turca a realizar um filme de ficção-científica. Serpii Altin trouxe à Invicta o filme Once upon a time in the future: 2121, uma versão turca de um 1984. Vale a pena pela partilha cultural – pois muito do cinema que passa no Fantasporto tem esse condão universalista –, com uma cinematografia a fazer lembrar a simetria de um Wes Anderson, referência assumida da realizadora. Mas o mais perturbador é a ideia da história, onde o tema são os mesmos de todo o mundo, onde não há a esperança um futuro radioso, mas sobra-nos aquele onde a sociedade está cada vez mais controlada.

    As pessoas vivem em habitações subterrâneas, submetidas à Lei da Escassez, onde o sistema controla a vida e a comida. O aspecto mais perturbador é que a sociedade culpa os mais idosos das guerras anteriores que destruíram o mundo e, as “novas gerações” – assim mesmo tratadas – são as mais protegidas. Aliás, quando nasce uma criança, a pessoa mais idosa da família é eliminada da sociedade.

    Uma teoria de substituição avançada. Para pensarmos na hora da despedida e enquanto não chega a edição de 2024, marcada no mesmo Batalha, para os dias 1 a 10 de Março. Está já na agenda!


    Os premiados de 2023 do Fantasporto

    Cinema Fantástico

    Grande Prémio – Megalomaniac, de Karim Ouelhaj, com produção de Florence Sâdi

    Melhor Realizador – Karim Ouelhaj (Megalomaniac)

    Melhor Actor – Tom Huges (Shephard)

    Melhor Actriz – Eline Shumacher (Megalomaniac)

    Prémio Especial do Júri – Demigod: the legend begins, de Chris Huang Wen-Chang

    Melhor Argumento – Convenience story, de Satoshi Miki

    Menção Especial – Stone turtle, de Woo Ming Jin

    Semana dos Realizadores

    Melhor Filme – Narcosis, de Martijn de Jong

    Prémio Especial – Kaymak, de Milcho Manchevski

    Melhor Realizador – Hans Herbots (Ritual)

    Melhor Argumento – The game, de Péter Fazakas

    Melhor Actor – Zsolt Nagy (The game)

    Melhor Actriz – Thekla Reuten (Narcosis)

    Menção Especial do Júri – The grandson, de Kristóf Deák

    Orient Express

    Melhor Filme – Kargo, de T. M. Malones

    Menção Especial – Stone turtle, de Woo Ming Jin

    Curtas Metragens

    Melhor Curta – Incubus, de Tito Fernandes

    Filme Português

    Melhor Filme – Incubus, de Tito Fernandes

    Melhor Filme Escola – Quando a terra sangra, de João Morgado

    Menção Especial – The space in between, de Joana Dantas

    Prémios não oficiais

    Prémio da Crítica – Immersion, de Takashi Shimizu

    Prémio do Público – Life of Mariko in Kabukicho, de Eiji Uchida e Shinzô Katayama

    Prémios de Carreira

    Ferdinand Lapuz

    Krzystof Zanussi

    Elmo Nuganen

    Anthony Waller