Autor: Redacção PÁGINA UM

  • Notícias do Expresso sobre sondagens das Presidenciais com notas medíocres

    Notícias do Expresso sobre sondagens das Presidenciais com notas medíocres

    Relatório de avaliação do conjunto de notícias sobre a Sondagem Presidencial – Expresso (30 de Janeiro de 2025)


    1. Introdução

    Este relatório apresenta uma avaliação conjunta das três notícias publicadas pelo jornal Expresso no dia 30 de Janeiro de 2025, relativas à sondagem presidencial conduzida pelo ICS/ISCTE para o Expresso e a SIC. As peças analisadas são:

    1. Sondagem presidenciais: Gouveia e Melo destacado, Ventura pode ir à segunda volta.
    2. Mendes é considerado mais ‘à direita’ do que almirante.
    3. PS só tem lugar para um: Vitorino e Seguro seguem empatados, Centeno faria melhor.

    Estas três notícias fazem parte de uma única análise noticiosa sobre a sondagem, abordando diferentes aspectos do estudo. Assim, a avaliação conjunta permite identificar tendências, padrões e eventuais discrepâncias qualitativas entre os artigos.

    A avaliação foi conduzida com base na metodologia Rigor Jornalístico sobre Sondagens (RJS), previamente definida em articulação com o jornal PÁGINA UM e ajustada para dar maior peso à precisão dos dados (35%) e à transparência na apresentação da informação (30%). A análise de conteúdo e a quantificação dos critérios foram da exclusiva responsabilidade do ChatGPT. A avaliação foi realizada com exigência rigorosa, considerando os princípios do jornalismo transparente e informativo numa sociedade democrática.


    2. Metodologia de Avaliação

    A avaliação segue a estrutura RJS (Rigor Jornalístico sobre Sondagens) e abrange seis critérios essenciais, aplicados a cada uma das três notícias.

    A nota final de cada notícia resulta da aplicação destas ponderações às notas atribuídas a cada critério.


    2.1. Processo de Avaliação da Inteligência Artificial

    A avaliação das notícias foi realizada utilizando técnicas avançadas de processamento de linguagem natural (PLN) e avaliação contextual.

    O Processamento de Linguagem Natural (PLN) refere-se a um conjunto de técnicas que permitem a um modelo de inteligência artificial compreender, interpretar e analisar textos escritos de forma semelhante a um leitor humano. O PLN envolve análise sintáctica, semântica e pragmática, permitindo identificar factos, opiniões, dados estatísticos e omissões. No contexto desta avaliação, o modelo extrai e processa automaticamente as informações presentes na notícia, identificando padrões e verificando a completude dos dados.

    A avaliação contextual complementa o PLN ao interpretar o significado e a relevância das informações no contexto específico da cobertura noticiosa. Esta abordagem analisa a estrutura argumentativa do texto, a escolha de palavras e a ênfase dada a determinados aspectos da notícia, permitindo detectar enviesamentos subtis ou omissões estratégicas. O modelo compara o conteúdo da peça com boas práticas jornalísticas e identifica se a apresentação dos dados pode influenciar indevidamente a percepção pública sobre os resultados da sondagem.


    2.2. Etapas do Processo de Avaliação

    A avaliação das notícias seguiu três níveis estruturados:

    1. Segmentação e Extração de Informação
      • Identificação das percentagens apresentadas e verificação da sua completude.
      • Análise da manchete e do lead para detectar formulações enviesadas.
      • Verificação da presença e clareza da ficha técnica da sondagem.
    2. Comparação com os Padrões de Rigor Informativo
      • Análise de omissões relevantes e apresentação de dados.
      • Identificação de linguagem potencialmente influenciadora da percepção do leitor.
      • Comparação entre as três notícias para detectar diferenças qualitativas.
    3. Atribuição de Pontuações
      • Aplicação da escala de 0 a 20 pontos a cada critério, ponderando os resultados de acordo com a sua relevância.

    3. Avaliação das Notícias

    3. Avaliação das Notícias

    A seguir apresenta-se o quadro consolidado com as avaliações de cada critério para cada notícia:

    A análise dos resultados evidencia que todas as notícias analisadas falham em critérios fundamentais de rigor jornalístico, com nenhuma das três peças a alcançar uma avaliação satisfatória nos domínios da precisão e da transparência.

    A notícia “Sondagem presidenciais” obteve a pior avaliação global (7,85/20), com resultados particularmente críticos nos critérios de precisão (5/20) e transparência (4/20). A peça não apresenta a totalidade dos votos, omite valores essenciais como brancos e nulos e utiliza uma manchete que pode induzir uma percepção enganadora sobre a posição de Gouveia e Melo. A falta de contextualização dos números e a ausência de qualquer explicação sobre a margem de erro agravam ainda mais a falta de rigor informativo.

    A notícia “Mendes à direita” teve a melhor nota (13,2/20), mas ainda assim insuficiente para ser considerada uma peça jornalística de qualidade. Embora tenha atingido o mínimo aceitável no critério de imparcialidade (15/20), continua a falhar nos critérios essenciais de precisão (12/20) e transparência (10/20), comprometendo a integridade da informação veiculada. O artigo não apresenta a relação entre a percepção ideológica e as intenções de voto, omitindo dados essenciais para uma análise completa.

    A notícia “PS só tem lugar para um” obteve um resultado intermédio (11,6/20), demonstrando fragilidades tanto na precisão (10/20) quanto na transparência (8/20). A peça explora a divisão no PS, mas sem fornecer uma visão completa do impacto eleitoral desse factor. A ausência de um quadro comparativo e a omissão de cenários de segunda volta tornam a análise incompleta e pouco rigorosa.

    O critério de qualidade da análise e contextualização apresentou notas insuficientes em todas as peças (abaixo de 15/20), o que reforça a fragilidade interpretativa das notícias. Nenhuma das análises explorou de forma rigorosa os impactos dos cenários eleitorais alternativos, nem relacionou as tendências de intenção de voto com a evolução histórica do eleitorado.

    A linguagem e clareza obtiveram 18/20, demonstrando que a apresentação dos textos é acessível. Contudo, uma escrita clara não significa rigor informativo. O problema reside na seleção e estruturação das informações, que distorcem a percepção eleitoral ao omitir elementos fundamentais.

    O rigor metodológico e credibilidade recebeu 16/20, um valor relativamente elevado, mas ainda assim insuficiente para um padrão de excelência. A apresentação da ficha técnica da sondagem poderia ser mais clara e acessível, incluindo detalhes sobre a distribuição da amostra e ponderação dos resultados.


    4. Justificação das Avaliações

    A seguir apresenta-se a justificação detalhada para cada critério de avaliação aplicado a cada uma das três notícias.


    4.1 Precisão dos Dados Apresentados (35%)

    “Sondagem presidenciais” – 5/20

    A notícia apresenta dados incompletos e omite elementos fundamentais para a interpretação da sondagem. A ausência da distribuição total dos votos impede que o leitor compreenda a real dimensão dos indecisos, dos brancos e nulos e dos candidatos com menos expressão. Além disso, a manchete usa o termo “destacado” para descrever Gouveia e Melo, o que pode levar a uma percepção exagerada da sua vantagem eleitoral, quando, na realidade, tem apenas 25% dos votos num cenário altamente fragmentado. A falta de qualquer análise sobre a margem de erro e variações possíveis dos resultados torna a peça extremamente deficiente em precisão.

    “Mendes à direita” – 12/20

    Embora esta peça não apresente uma análise directa das intenções de voto, os dados que fornece sobre a percepção ideológica dos candidatos são apresentados de forma relativamente correcta. No entanto, falta-lhe uma relação entre essa percepção e a intenção de voto, o que compromete a interpretação dos números. O leitor não consegue inferir se a percepção de um candidato como “mais à direita” ou “mais ao centro” afecta a sua elegibilidade e competitividade eleitoral. A ausência de comparação com outras sondagens também limita a precisão dos dados ao não oferecer um quadro evolutivo das tendências eleitorais.

    “PS só tem lugar para um” – 10/20

    A notícia fornece percentagens sobre a disputa interna do PS, mas não contextualiza como essas percentagens se integram no panorama geral da corrida presidencial. O texto refere que Centeno teria melhor desempenho do que Vitorino e Seguro, mas não explica a base comparativa desse cenário, nem especifica como a amostra foi segmentada. Além disso, não são apresentados dados sobre a margem de erro, o que impede que o leitor compreenda se a diferença entre os candidatos socialistas é estatisticamente significativa ou apenas uma variação normal dentro da margem de erro.


    4.2 Transparência e Acesso à Informação Completa (30%)

    “Sondagem presidenciais” – 4/20

    A notícia omite a distribuição completa dos votos, dificultando a compreensão do peso real de cada candidato. Não há qualquer menção aos votos brancos, nulos e aos inquiridos que se declararam indecisos, o que impede uma leitura correcta da sondagem. Além disso, a ficha técnica da sondagem não é apresentada de forma clara e acessível ao leitor, e a ausência de referências detalhadas à metodologia usada no estudo compromete ainda mais a transparência da peça.

    “Mendes à direita” – 10/20

    A transparência desta peça é ligeiramente melhor, mas ainda deficitária. A notícia expõe algumas informações úteis sobre a percepção ideológica dos candidatos, mas não fornece um quadro claro sobre a distribuição total das respostas. Além disso, não há qualquer referência à margem de erro, à metodologia da recolha de dados ou à amostra utilizada para essa avaliação da percepção ideológica, o que prejudica a sua credibilidade.

    “PS só tem lugar para um” – 8/20

    A transparência desta notícia é insuficiente, embora um pouco superior à da peça sobre Gouveia e Melo. A peça fornece alguns números relevantes, mas não detalha a amostra utilizada para avaliar o impacto de cada candidato socialista nas eleições. A ausência de dados sobre o número total de inquiridos e a margem de erro torna a leitura dos números parcial e incompleta.


    4.3 Imparcialidade e Isenção (15%)

    “Sondagem presidenciais” – 10/20

    Embora a notícia não contenha ataques directos a qualquer candidato, a forma como apresenta os dados reforça uma percepção enviesada da corrida presidencial. A manchete e o lead enfatizam a “liderança” de Gouveia e Melo de maneira desproporcionada, sem destacar que 25% das intenções de voto num cenário de grande dispersão não significa uma vantagem decisiva. A falta de referências a outros candidatos menos expressivos também contribui para um enquadramento desequilibrado da informação.

    “Mendes à direita” – 15/20

    A notícia apresenta um enquadramento mais neutro, relatando apenas a percepção ideológica dos candidatos sem sugerir favoritismos. No entanto, a peça não faz qualquer esforço para contextualizar o impacto da percepção ideológica nas intenções de voto, o que pode limitar a compreensão do leitor sobre a relevância desses dados no cenário eleitoral.

    “PS só tem lugar para um” – 12/20

    A peça acentua a divisão interna do PS e pode sugerir uma crise no partido, ainda que não contenha ataques directos aos candidatos mencionados. A forma como apresenta Centeno como uma alternativa eleitoralmente mais viável pode influenciar a percepção do leitor, principalmente porque não são fornecidos dados suficientes para fundamentar essa conclusão.


    4.4 Qualidade da Análise e Contextualização (10%)

    “Sondagem presidenciais” – 12/20

    A análise centra-se exclusivamente na possibilidade de Ventura chegar à segunda volta, mas não explora outras hipóteses ou cenários alternativos, como o impacto de um crescimento de outro candidato de direita. A ausência de um enquadramento histórico ou de comparações com sondagens anteriores reduz a profundidade da análise.

    “Mendes à direita” – 14/20

    A peça apresenta um contexto interessante sobre a percepção ideológica dos candidatos, permitindo uma leitura mais aprofundada sobre o espectro político da eleição. No entanto, a análise não estabelece qualquer ligação entre essa percepção e as intenções de voto, o que a torna menos útil para o entendimento do impacto eleitoral dessa dinâmica.

    “PS só tem lugar para um” – 13/20

    A análise sobre a disputa interna do PS é relevante, mas falta-lhe uma exploração mais profunda das consequências desse cenário no contexto eleitoral mais amplo. O artigo não avalia cenários de segunda volta ou a redistribuição de votos caso o PS apresente um candidato diferente.


    4.5 Linguagem e Clareza (5%)

    Todas as três notícias obtiveram 18/20 neste critério, indicando que a linguagem utilizada é clara, directa e acessível ao público. No entanto, uma escrita clara não significa rigor informativo. A escolha de termos nas manchetes, sobretudo na peça sobre Gouveia e Melo, tem impacto na percepção pública e pode distorcer a interpretação dos leitores sobre a corrida eleitoral.


    4.6 Rigor Metodológico e Credibilidade (5%)

    As três notícias receberam 16/20 neste critério. Embora a ficha técnica da sondagem seja referida, falta uma explicitação detalhada sobre a metodologia utilizada, incluindo a ponderação dos votos e a forma como foram tratados os indecisos. A inclusão desses elementos teria aumentado a credibilidade da informação apresentada.



    5. Conclusão detalhada

    A avaliação detalhada das três notícias do Expresso sobre a sondagem presidencial de 30 de Janeiro de 2025 revela falhas estruturais graves na apresentação e interpretação dos dados eleitorais, comprometendo a sua transparência e o rigor informativo esperado num jornalismo de qualidade. Nenhuma das peças analisadas atingiu um nível aceitável nos critérios essenciais de precisão dos dados e transparência na exposição das intenções de voto, e todas apresentaram deficiências na imparcialidade e na contextualização das informações.

    A principal crítica global é a omissão da distribuição total dos votos, um elemento fundamental para uma análise rigorosa da sondagem. Sem essa informação, os leitores não conseguem interpretar correctamente a posição relativa de cada candidato, nem compreender o impacto real dos indecisos, dos votos brancos e nulos e das oscilações entre os diferentes cenários eleitorais. Esta ausência de dados configura uma grave falha jornalística, pois limita o acesso do público a uma leitura completa e isenta dos resultados da sondagem.

    As notas finais atribuídas a cada notícia demonstram que todas apresentam problemas sérios na forma como estruturam a informação e comunicam os resultados eleitorais:

    Com base nestes resultados, destaca-se que:

    • A notícia “Sondagem presidenciais” obteve a avaliação mais baixa (7,85/20), com falhas graves nos critérios de precisão (5/20) e transparência (4/20). A omissão de informações essenciais sobre a distribuição total dos votos e a construção de uma narrativa que enfatiza a “liderança” de Gouveia e Melo sem o devido enquadramento quantitativo configuram erros inaceitáveis para uma cobertura informativa deste tipo.
    • A notícia “Mendes à direita” teve a melhor avaliação (13,2/20), mas não atinge um patamar aceitável de rigor jornalístico. Embora seja menos enviesada na sua estrutura, a falta de uma relação entre a percepção ideológica e as intenções de voto compromete a sua utilidade informativa. A ausência de contextualização histórica e de cenários alternativos impede que a peça seja considerada um exemplo de jornalismo rigoroso.
    • A notícia “PS só tem lugar para um” ficou com uma nota intermédia (11,6/20), sendo penalizada por falhas na transparência (8/20) e na precisão dos dados (10/20). A peça apresenta números relativos à disputa interna do PS, mas não explica o impacto dessa divisão no contexto eleitoral geral, nem fornece elementos que permitam uma interpretação objectiva dos dados.

    Em termos de linguagem e clareza, todas as notícias obtiveram avaliações elevadas (18/20), o que demonstra que os textos são acessíveis ao público. No entanto, uma escrita clara não é sinónimo de rigor informativo, e a forma como a informação é estruturada e selecionada pode influenciar percepções eleitorais de maneira subtil, mas relevante.

    O rigor metodológico e credibilidade das peças foi insuficiente (16/20 em todas as notícias), pois a ficha técnica da sondagem não foi devidamente destacada nem explicada em profundidade. A ausência de informações sobre a ponderação dos dados e sobre a forma como foram tratados os indecisos limita a credibilidade das notícias.


    5.1 Considerações Finais

    A avaliação global da cobertura do Expresso sobre a sondagem presidencial indica uma abordagem deficiente no que diz respeito à transparência e ao rigor da apresentação dos dados eleitorais. As três peças analisadas falham em apresentar um panorama completo e objectivo da corrida presidencial, deixando lacunas significativas que podem afectar a percepção dos leitores sobre a realidade eleitoral.

    A falta de um quadro comparativo completo das intenções de voto compromete a análise global da sondagem, e a escolha de manchetes e leads sem a devida sustentação quantitativa introduz um viés na percepção pública, ainda que de forma implícita.

    Se estas deficiências fossem corrigidas, as notícias poderiam atingir notas entre 16 e 18 em 20, garantindo um padrão informativo adequado ao jornalismo de qualidade e ao dever de transparência perante os leitores.

    A presente avaliação sublinha a importância do rigor na apresentação de sondagens eleitorais, um elemento central para garantir que os cidadãos tenham acesso a informação completa, fiável e imparcial.

  • Despesismo e opacidade na CCPJ são alvos de intimação no Tribunal Administrativo

    Despesismo e opacidade na CCPJ são alvos de intimação no Tribunal Administrativo

    Contra o obscurantismo, a Justiça. O PÁGINA UM apresentou uma intimação junto do Tribunal Administrativo de Lisboa contra a Comissão da Carteira Profissional de Jornalista (CCPJ), exigindo acesso a processos disciplinares arquivados por amnistia e às actas do Secretariado e do Plenário. Os documentos, cuja divulgação tem sido recusada pela presidente da CCPJ, Licínia Girão, incluem discussões sobre despesismo e irregularidades administrativas. Licínia Girão invoca o “direito ao esquecimento” e o Regulamento Geral de Proteção de Dados (RGPD), argumentos que o PÁGINA UM contesta, uma vez que são contrários à jurisprudência e à Lei do Acesso aos Documentos Administrativos.


    A Comissão da Carteira Profissional de Jornalista (CCPJ) vai ter de explicar ao Tribunal Administrativo de Lisboa as razões para manter secretos os processos disciplinares contra jornalistas arquivados no âmbito da amnistia papal, bem como as actas do Secretariado e do Plenário, onde se terá discutido questões relacionadas com o despesismo da sua presidente, Licínia Girão. Numa dessas actas terá havido pressões dos outros membros para que a Licínia Girão devolvesse seis mil euros que esta entidade pública terá suportado para pagar advogados que patrocinaram queixas contra o director do PÁGINA UM.

    A intimação do PÁGINA UM, apresentada na semana passada, visa exigir o acesso aqueles documentos administrativos, após recusas formais da CCPJ. No caso dos processos disciplinares arquivados, Licínia Girão insistir na recusa mesmo após a Comissão de Acesso aos Documentos Administrativos (CADA) ter dado um parecer que concedia esse direito, embora com alguns expurgos.

    Licínia Girão, presidente da CCPJ.

    Este novo conflito, justificado por mais um acto de falta de transparência da CCPJ, constituída por nove jornalistas, remonta a Setembro passado, quando o PÁGINA UM solicitou acesso a 15 processos disciplinares encerrados ao abrigo da Lei nº 38-A/2023, que concedeu amnistia no âmbito da visita do Papa Francisco. A CCPJ alegou que esses documentos estão protegidos pelo “direito ao esquecimento”, impedindo a sua divulgação.

    Contudo, o PÁGINA UM sustenta que, uma vez arquivados, os processos passam a ter natureza administrativa, sendo de acesso público nos termos da Lei do Acesso aos Documentos Administrativos (LADA). O parecer da CADA reforçou esta interpretação, ao considerar que o acesso poderia ser concedido com expurgo de dados pessoais sensíveis. No entanto, Licínia Girão recusou acatar a recomendação, argumentando que a divulgação causaria danos irreversíveis a interesses patrimoniais, sem especificar quais.

    Paralelamente, o PÁGINA UM requereu, em finais de Novembro, as actas de reuniões do Plenário e do Secretariado da CCPJ realizadas entre Junho de 2023 e Dezembro de 2024. A presidente da CCPJ admitiu, em resposta formal, no início deste mês, que o Secretariado, composto por três membros, nem sequer elabora atas, uma situação em flagrante violação do Código do Procedimento Administrativo (CPA). Com efeito, este diploma legal estipula que todas as reuniões de órgãos colegiais devem ser registadas, incluindo a ordem de trabalhos, as deliberações tomadas e os resultados das votações. A ausência de actas compromete a validade das decisões do Secretariado da CCPJ, tornando-as juridicamente nulas e expondo os responsáveis a potenciais responsabilidades financeiras, disciplinares e penais.

    Presidente da CCPJ assume com naturalidade que tem funcionado sem actas no funcionamento do Secretariado, um órgão colegial, em flagrante violação do Código do Procedimento Administrativo, pelo que as decisões são nulas e passíveis de responsabilidade financeira, disciplinar e penal.

    A actuação da CCPJ, e particularmente da sua presidente, tem sido alvo de críticas crescentes, especialmente depois da renúncia de três membros do Plenário, em Outubro passado. Miguel Alexandre Ganhão, Anabela Natário e Isabel Magalhães abandonaram os seus cargos, denunciando práticas de centralismo e despesismo por parte de Licínia Girão.

    Num episódio particularmente controverso, as ex-membros revelaram que a presidente apresentou, em nome pessoal, queixas contra o diretor do PÁGINA UM junto do Conselho Deontológico e do Ministério Público, sem consultar o Plenário. Apesar de ter retirado as queixas, as condições que tentou impor foram rejeitadas pelos colegas, mas terá deixado uma factura de seis mil euros para ser paga.

    Para além dos conflitos internos, a CCPJ tem vindo a aplicar de forma enviesada o Regulamento Geral de Proteção de Dados (RGPD), utilizando-o como argumento para limitar o acesso de jornalistas a informações de interesse público. Esta posição contrasta com decisões judiciais anteriores, como um acórdão de 2021 do Tribunal Central Administrativo do Norte, que estabelece que dados pessoais só estão protegidos se envolverem informações sensíveis, como origem racial, saúde ou convicções religiosas. A jurisprudência confirma ainda que, no caso de pedidos feitos por jornalistas acreditados, a proteção de dados não pode prejudicar o direito à liberdade de expressão e de imprensa.

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    O PÁGINA UM, através da intimação apresentada ao Tribunal Administrativo, exige que a CCPJ disponibilize os documentos solicitados num prazo máximo de 10 dias, sob pena de sanção pecuniária diária de 82 euros em caso de incumprimento. O valor da causa foi fixado em 30.000 euros, refletindo a importância do caso para a transparência administrativa e o escrutínio público.

    Este caso representa mais um capítulo de um já longo historial de controvérsias envolvendo a CCPJ e a sua presidente, Licínia Girão, cuja actuação tem levantado dúvidas sobre a independência e integridade da entidade. A decisão do tribunal será crucial para definir os limites da transparência administrativa e o papel da CCPJ como garante da ética e da disciplina no jornalismo português. Se a intimação for bem-sucedida, poderá estabelecer um precedente importante para reforçar a liberdade de imprensa e o direito de acesso a documentos administrativos.

    Esta nova intimação do PÁGINA UM foi possível, tal como as outras duas dezenas que têm sido apresentadas desde 2022, com o apoio financeiro dos leitores, através do financiamento do FUNDO JURÍDICO.


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  • Balanço de 2024

    Balanço de 2024


    Após um longo interregno, Pedro Almeida Vieira e Luís Gomes reencontram-se para o derredeiro Os economistas do diabo… de 2024, prometendo mais para 2025.

    Para balanço do ano, neste episódios, e sempre numa tónica sobretudo económica, percorrerm-se as eleições nacionais e norte-americanas, o impulso do mercado das criptomoedas d o primeiro de Milei na Argentina, terminando com as perspectivas económicas para 2025..

    Acesso: LIVRE, mas subscreva o P1 PODCAST com um donativo mensal de 2,99 euros. Ajude o PÁGINA UM a amplificar o seu trabalho.

  • Gouveia e Melo à civil em encontro nocturno com Nuno Melo

    Gouveia e Melo à civil em encontro nocturno com Nuno Melo


    O bar Cockpit, na discreta e pouco movimentada Avenida Sacadura Cabral, em Lisboa, está a ser, neste preciso momento, perto da meia-noite desta terça-feira, o cenário escolhido para um encontro não-oficial entre o ministro da Defesa, Nuno Melo, e o almirante Gouveia e Melo, chefe do Estado-Maior da Armada, numa altura em que se mantém, na ordem do dia, a eventual recondução no topo da Marinha do homem que liderou a task force do programa de vacinação contra a covid-19. Ou a sua saída para lançar a campanha para as Presidenciais de 2025.

    O encontro, fora do radar oficial e num momento de incremento na tensão na Europa de Leste, aparenta nada ter de protocolar, atendendo até que o ministro evitou, há cerca de duas semanas, falar sobre o ‘destino’ do almirante à frente da Marinha.

    O encontro neste espaço de convívio nocturno, numa zona reservada no primeiro piso, teve também outras pecularidades: Gouveia e Melo chegou ao local de táxi, sem aparato e em trajes civis, contrastando com o ministro da Defesa, que abordou o bar em automóvel oficial, acompanhado apenas pelo seu motorista. A chegada foi praticamente simultânea, como o PÁGINA UM confirmou, tendo os dois homens se cumprimentado de forma calorosa, e entraram juntos no bar por volta das 22h47.

    Apesar deste encontro informal, o momento surge numa altura em que a relação entre o Governo e o putativo candidato às Presidenciais de 2025 tem sido alvo de especulação, sobretudo após declarações evasivas de Nuno Melo, e também das diversas declarações de Gouveia e Melo, em especial na entrevista à RTP 3 em Setembro passado. A incógnita quanto ao futuro do almirante, que pode vir a receber apoio dos partidos do Governo em caso de candidatura às eleições presidenciais, ocorre num momento em que a liderança militar portuguesa enfrenta desafios crescentes, tanto no reforço da NATO como na modernização das forças navais.


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  • História Global da Literatura Portuguesa

    História Global da Literatura Portuguesa


    A obra ‘História Global da Literatura Portuguesa‘, com direcção de Annabela Rita, Isabel Ponce de Leão, José Eduardo Franco e Miguel Real, constitui uma releitura da Literatura Portuguesa em contexto internacional: 100 autores oferecem 100 focais de diálogos que atravessam as habituais fronteiras do espaço e do tempo, da periodologia e da genologia, das letras, das artes e das ciências. O PÁGINA UM apresenta os textos das intervenções de Annabela Rita (moderadora) e Alberto Manguel (conferencista) no Seminário Internacional de Estudos Globais (Universidade Aberta, Salão Nobre do Palácio Ceia), no passado dia 11 de Novembro, em uma das apresentações que se estão a suceder pelo país.


    NOTA DE ABERTURA – ANNABELA RITA

    Saudações ao Professor Alberto Manguel, ao Professor José Eduardo Franco, Director do CEG da UAb, à Dra. Guilhermina Gomes, representante da Editora Temas & Debates, a todos os presentes, dirigentes institucionais, Colegas, Alunos, Amigos, e, enfim, aos que tornaram possível a HGLP.

    Agradeço ao Professor José Eduardo Franco o honroso convite para moderar esta sessão.

    A minha tarefa começa com um gesto desnecessário e algo irreverente: apresentar Alberto Manguel, grande personalidade das Letras mundiais.

    Vou evitar a dupla impertinência desse gesto, optando por homenageá-lo com algumas evocações expressivas do pensamento que nos motivou a convidá-lo para apresentar a nossa História Global da Literatura Portuguesa, que agradecemos aos seus Directores, Coordenadores, Colaboradores e Conselheiros, para já não mencionar as instituições que a patrocinaram, apoiaram e editaram.

    Em 2014, na conferência que proferiu no ciclo Fronteiras do Pensamento (Brasil), Alberto Manguel

    “Contou que uma vez, ao conversar com um taxista na Espanha, se viu inquirido a confirmar se havia mesmo lido Dom Quixote. “Todo mundo fala que leu, mas ninguém chegou ao final deste livro, pois ele é composto de muitos volumes”, disse o incrédulo e mal informado motorista. Partindo desta anedota, Manguel afirmou ser esta a metáfora que exemplifica nossa biblioteca imaginária: ela é formada por “entesouramentos” de tudo o que ouvimos, conversamos, lemos, lembramos e imaginamos. “Usamos a palavra imaginário como algo inexistente e que por si só parece não possuir materialidade. Mas o que pertence à imaginação tem raízes muito profundas na realidade, pois é assim que a conhecemos. Nós imaginamos as experiências, e quando as colocamos no papel contribuímos para esta biblioteca imaginária universal”, explicou Manguel.[1] E continua: “”A biblioteca de cada um de nós está na identidade individual, criada pelo que pensamos que somos e por nosso palimpsesto de recordações – episódios, personagens, frases, palavras.” [2]

    Annabela Rita, Alberto Manguel e José Eduardo Franco.

    Alberto Manguel é mestre já de gerações académicas, autor de Uma história da leitura, A biblioteca à noite, Dicionário de lugares imaginários, No bosque do espelho – Ensaios sobre as palavras e o mundo, A cidade das palavras – As histórias que contamos para saber quem somos, etc., Oficial da Ordem das Artes e das Letras do Ministério da Cultura da França, e Prémio Grinzane Cavour e Roger Caillois, e, hoje, Conselheiro Científico da e-Letras com Vida — Revista de Estudos Globais: Humanidades, Ciências e Artes [e-LCV]. Fundou, recentemente, “Espaço Atlântida – Para os Leitores do Mundo”, que dirige e onde se propõe partilhar

    “uma biblioteca (40 000 títulos) de descobertas fortuitas das expressões dos escritores de diferentes línguas, culturas e contextos, que encoraj[a] o diálogo e question[a] a mente” [3]

    Ora, este mestre da palavra, Alberto Manguel, confessou que o que mais admira na biblioteca imaginária: o bibliotecário invisível que percebeu habitar o seu cérebro, e que “sempre tem palavras à disposição, algumas, inclusive, que eu não sabia que dariam voz aos meus desejos mais antigos, às minhas lembranças mais inefáveis.” [4], pois

    “A história da literatura, tal como consagrada nos manuais escolares e nas bibliotecas oficiais, parecia-me não passar da história de certas leituras — /…/ dependentes do acaso e das circunstâncias.” (HL, p. 24)

    Na sua História da Leitura[5], conta uma experiência infantil fundadora:

    “Então, um dia, da janela de um carro (o destino daquela viagem está agora esquecido), vi um cartaz na beira da estrada. A visão não pode ter durado muito; /…/ o suficiente para que eu lesse, grandes, gigantescas, certas formas semelhantes às do meu livro, mas formas que eu nunca vira antes. E, contudo, de repente eu sabia o que eram elas; escutei-as em minha cabeça, elas se metamorfosearam, passando de linhas pretas e espaços brancos a uma realidade sólida, sonora, significante. Eu tinha feito tudo aquilo sozinho. Ninguém realizara a mágica para mim. Eu e as formas estávamos sozinhos juntos, revelando-nos em um diálogo silenciosamente respeitoso. Como conseguia transformar meras linhas em realidade viva, eu era todo-poderoso. Eu podia ler.” (HL, p. 9)

    E avança na reflexão, afirmando:

    “em cada caso é o leitor que confere a um objeto, lugar ou acontecimento uma certa legibilidade possível, ou que a reconhece neles; é o leitor que deve atribuir significado a um sistema de signos e depois decifra-o. Todos lemos a nós e ao mundo à nossa volta para vislumbrar o que somos e onde estamos. Lemos para compreender, ou para começar a compreender. Não podemos deixar de ler. Ler, quase como respirar, é nossa função essencial.” (HL, p. 10)

    Assim, na história da leitura de um texto ao longo da vida de cada um de nós, projecta-se a nossa própria autobiografia ou fragmentos de um diário descontínuo ou, ainda, um palimpsesto de auto-representações (a dos autores lidos e as do leitor que as lê).

    A obra de Alberto Manguel é uma notável demonstração disso: toda a reflexão é embebida por projecções suas, revisitações mnésicas.

    Neste caso, fragmentos dos autorretratos temporalmente datados dos leitores que convergiram nesta História Global da Literatura Portuguesa.

    “Lemos e escrevemos para entender a experiência antes de tê-la e para ativar a nossa própria experiência, para dizer que essa é a forma como sentimos e entendemos, para que as gerações futuras possam sabê-lo.”

    Por isso, talvez, os leitores são sempre subversivos (HL, p. 25), como afirma nessa sua/nossa Bíblia da Leitura.

    Um dia, perguntou a Jorge Luís Borges: “Por que está sozinho?”. E Borges respondeu: “Eu nunca estou sozinho, tenho minha biblioteca.”

    Pois é, Professor Alberto Manguel, também nós (cada um a seu modo) sentimos a mágica da metamorfose estimulada pela imagem do verbo, sentimos que não estamos sós pela mesma companhia, fomos subversivos neste projecto e representámo-nos nesta História Global da Literatura Portuguesa. E, nessa cumplicidade, entregámo-la à sua leitura. Bem haja! A palavra é sua e a expectativa é nossa.


    APRESENTAÇÃO – ALBERTO MANGUEL

    Introdução à História Global da Literatura Portuguesa

    Possuo todas as qualificações para não fazer esta apresentação, que tão confiante e generosamente me convidaram a fazer. Possuo apenas um limitado conhecimento da língua portuguesa. Só um superficial conhecimento da vasta literatura escrita em português. Apenas um vislumbre da complexa história de Portugal e da sua aventurosa exploração do mundo. Vivo em Lisboa desde Setembro de 2020, o que é dificilmente tempo suficiente para perceber a sua secreta cultura. Tendo feito esta óbvia confissão, devo depender do que vim a conhecer como a sempre presente cortesia portuguesa, e responder ao vosso convite da melhor maneira que consigo.

             Confesso que o vosso projeto me atraiu imediatamente pela palavra ‘global’ no título. As histórias de literatura nacionais tendem a soar, se não estridentemente gabadas, pelo menos crédulas na sua convicção de que (como comentava Plutarco ironicamente) “a lua de Atenas é melhor do que a lua de Esparta”. Porque se há algo que define a literatura, é a falta de fronteiras, políticas e geográficas. Gil Vicente é considerado pelos espanhóis um escritor espanhol e Dante é um dos poetas nacionais da Albânia. Quando Saul Bellow, numa tentativa de menosprezar as literaturas do continente africano, perguntou “Quem é o Tolstoi dos Zulus?”, Wole Soyinka respondeu: “O Tolstoi dos Zulus é Tolstoi”. Felizmente, os escritores não têm de mostrar os passaportes cada vez que se sentam à secretária.

             A minha atração pela palavra “global” é parcialmente explicada pela minha convicção de que nenhum escritor é singular. Os escritores são como árvores cujas raízes se estendem pela sua inteira biblioteca e cujos ramos carregam novas vozes alimentadas pelas suas palavras. Jovens escritores aqui presentes, que, com bastante razão, desprezam o abuso de metáforas, irão sem dúvida tratar a minha com desdém, mas não deixa de ser verdade que a floresta da literatura é mais bem compreendida como uma selva de vozes individuais em que nenhuma árvore, nenhuma voz, é absolutamente única. Felizmente, penso eu, a língua portuguesa tem pouca paciência para a originalidade só pela originalidade. Não tem a obsessão francesa de tentar a todo o custo ser original, como se comprova pelo vocabulário de um Lacan ou Badiou.

             A questão da identidade de uma língua é, acredito, importantíssima. Assumo que a palavra “portuguesa” no vosso título não se refira à casualidade de um certificado de nascimento, mas sim à idiossincrasia essencial dada por uma língua nativa. Como todos sabemos, a língua que usamos, não importa quão imperfeitamente, molda os nossos pensamentos e, por isso, molda não só como dizemos algo mas determina também o que esse algo será. A língua é um prisma pelo qual vemos o mundo de uma determinada maneira, uma visão que é diferente se falarmos árabe ou swahili, tão diferente como a visão concedida ao olho humano ou ao olho de uma vespa. Por exemplo, ‘Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades’ não pode ser dito em inglês porque em português o verbo reflexivo desdobra o Tempo e a Vontade sobre si mesmos, tomando um papel ao mesmo tempo passivo e activo. Em inglês, talvez porque a Reforma decretou a brevidade e a precisão as mais importantes virtudes linguísticas, um conceito similar pudesse talvez ser pensado como “Times change, desires change” — perdendo no processo o entrelaçamento dos significados ‘arbítrio’ e ‘desejo’, implícitos em vontades, empobrecendo assim aquele profundo pensamento existencialista dos humanistas da Renascença. Shakespeare, em Inglaterra, foi levado a conceber algo parecido quando escreveu da sua Cleópatra: “Time has not withered nor custom stale/ her infinite variety”, versos que têm um tipo de riqueza muito diferente. Talvez seja por essa razão que Camões possa ser considerado um poeta português e Shakespeare um inglês. A sua língua, não a sua corda umbilical ou a época do seu nascimento, é o fator que os define.

             Datas são úteis, mas incertas convenções. A maioria dos historiadores da linguagem concordam que a consolidação daquilo a que chamamos a língua portuguesa pode ser datada a 1536, quando Fernão de Oliveira publicou a sua Gramática da Linguagem Portuguesa. O português, em comparação com o chinês ou o hindu é uma língua jovem, mas (graças à História Global da Literatura Portuguesa, por exemplo) podemos ver que as qualidades definidoras da língua portuguesa começam a aparecer e a enraizar-se muito mais cedo. Seria um exercício interessante tentar determinar algumas destas características primordiais da língua portuguesa presentes em épocas recentes, para descobrir as suas primeiras aparições na literatura. Pessoa, por exemplo, notou o desconforto da língua portuguesa com a ironia. Antero de Quental lamentou a sua relutância em quebrar com convenções passadas. Ana Hatherly mencionou a sua timidez para com o barroco. Eduardo Lourenço comentou o seu persistente e melancólico olhar interior. Eu não tenho nem o conhecimento nem o talento para empreender tamanha investigação, mas pode ser que seja útil, de forma a dar aos escritores portugueses um reflexo mais verdadeiro das suas identidades.

             A biblioteca que doei à Cidade de Lisboa e que agora constitui o centro do futuro Espaço Atlântida, inclui uma razoável quantidade de livros em Português. Comecei a ler literatura de língua portuguesa (em tradução, claro) muito antes de ter noção de uma literatura portuguesa. A criança que fui está para sempre grata a Monteiro Lobato e Sophia de Mello Breyner Andersen pelas suas mágicas histórias de aventuras. O leitor adolescente a Eurico Verissimo pelo seu Olhai os lírios do campo e a Eça de Queiroz por O Mandarim. Mais tarde vieram João Guimarães Rosa, Machado de Assis, José Eduardo Agualusa, Mia Couto, Lobo Antunes, Agustina Bessa Luís, José Saramago, Moacyr Scliar e muitos outros memoráveis. Não descobri Pessoa (mea culpa, mea maxima culpa) até ao fim dos anos oitenta quando o romancista Canadiano Graeme Gibson me recomendou o Livro do Desassossego. E depois vim para Portugal. Iniciação na literatura portuguesa, de António José Saraiva e recomendado pela minha amiga Joana Meirim, foi um guia esclarecedor.

    book lot on black wooden shelf

             O que me impressionou quando comecei a descobrir outros escritores aqui em Portugal foi a relutância que os Portugueses têm em se exibir. Com o Português do Brasil é ligeiramente menos restringido, mas, no geral, como leitor senti-me (e ainda me sinto) que conseguir que uma pessoa portuguesa elogie ou insulte um escritor português é quase tão mau como pedir-lhe que seja insultuoso para com um familiar ou convidado. Gide, quando lhe foi perguntado qual o melhor escritor francês, respondeu: “Hugo, hélas”. Nenhum português se atreveria a responder: “Pessoa, infelizmente”.

             A História Global da Literatura Portuguesa é também uma espécie de Gradus ad Parnassum para a Biblioteca Universal, iniciando um caminho que apenas alguns, poucos, escolhidos poderão tomar. Pedindo já perdão por recorrer agora à alegoria, sugiro que concebamos a Biblioteca Universal como um lugar visitado por dois, muito diferentes, leitores: a Justiça que, como nos ensinaram os clássicos, é cega, e a Sorte que, como declararam outros clássicos, é caprichosa e imprevisível. Na secção Portuguesa da Biblioteca Universal, a Justiça não vê o suficiente para selecionar sempre os autores certos, os que mais merecem reconhecimento e fama. A Sorte, no entanto, anda sem rumo entre as pilhas de livros, apanhando este ou aquele livro, guiada por uma capa peculiar, um título surpreendente, uma disposição particular. Na História global da literatura portuguesa encontramos, claro, a maior parte dos nomes esperados, assim como muitos outros que eu, na minha ignorância, não sabia existirem, mas há também alguns autores que se destacam saudosamente pela sua ausência. Nenhuma visão do mundo, nem uma verdadeiramente ‘global’ como esta de mais de 700 páginas, pode aspirar à omnisciência divina, e qualquer história da literatura, tal como qualquer biblioteca, está sempre acompanhada pela sombra daquilo que não inclui. A totalidade catequista, no mundo da literatura, é uma invenção imaginária e não permite aos leitores olhar entre as linhas e adicionar as suas próprias escolhas.

             Quero terminar esta introdução com uma palavra de agradecimento. A vossa História Global da Literatura Portuguesa é um trabalho colossal e magistral. Especialistas cuja profissão é implicar, sem dúvida encontrarão pequenos detalhes com os quais reclamar, mas, enquanto leitor comum, posso apenas expressar gratidão por ter nas mãos um guia tão essencial para o vasto, variado, introvertido e fundamental cosmos da literatura Portuguesa.

    Alberto Manguel, 11 novembro 2024

    (tradução de Flor Filgueiras)


    NOTA FINAL – ANNABELA RITA

    Professor Alberto Manguel, muito obrigada por esta magistral leitura de bibliotecário (in)visível da biblioteca imaginária colectiva que perscrutámos na HGLP!

    Afirmou no início da sua HL:

    “Dizem que nós, leitores de hoje, estamos ameaçados de extinção, mas ainda temos de aprender o que é a leitura. Nosso futuro — o futuro da história de nossa leitura — foi explorado por santo Agostinho, que tentou distinguir entre o texto visto na mente e o texto falado em voz alta; por Dante, que questionou os limites do poder de interpretação do leitor; pela senhora Murasaki, que defendeu a especificidade de certas leituras; por Plínio, que analisou o desempenho da leitura e a relação entre o escritor que lê e o leitor que escreve; pelos escribas sumérios, que impregnaram o ato de ler com poder político; pelos primeiros fabricantes de livros, que achavam os métodos de leitura de rolos (como os métodos que usamos agora para ler em nossos computadores) limitadores e complicados demais, oferecendo-nos a possibilidade de folhear as páginas e escrevinhar nas margens. O passado dessa história está adiante de nós, na última página daquele futuro admonitório descrito por Ray Bradbury em Fahrenheit 451, no qual os livros não estão no papel, mas na mente.” (HL, p. 27)

    Afinal, “/…/ ler é cumulativo e avança em progressão geométrica: cada leitura nova se baseia no que o leitor leu antes.” (HL, p. 23)

    Mais: essa progressão geométrica da escrita e da leitura combina-se intimamente com uma dinâmica estocástica, marcada pelo princípio da incerteza e da indeterminação, pelo movimento browniano, exponencialmente enriquecedor e redimensionador.

    Da esquerda para a direita.: Annabela Rita (uma das direcoras da HGLP), Alberto Manguel (apresentador), Carlos Carreto (um coordenador da HGLP), Guilhermina Gomes (editora da Temas e Debates) e José Eduardo Franco (um doos directores da HGLP)

    Lewis Thomas, na sua estimulante reflexão “Sobre o Pensamento” (A Medusa e o Caracol, 1979),descreve o seu processamento recorrendo à analogia da microbiologia, assinalando o modo como as ideias se vão conformando a partir de imprevisíveis movimentos de atracção que resolvem a dispersão inicial.

    Seria essa, também, uma excelente descrição do modo como esta HGLP se for construindo: perscrutando uma outra paisagem, implicada na que as anteriores Histórias da Literatura representa(ra)m, mas constituída por redes relacionais a partir de núcleos pregnantes, nós de ancoragem de movimentos exploratórios e relacionais de múltipla direccionalidade que se estendem para além dos horizontes. Sob a paisagem habitual que temos da Literatura Portuguesa, outra mais subtil, intrincada e “tabular” (J. Kristeva) foi surgindo, como num palimpsesto que vamos descobrindo com o deslumbramento dos investigadores que recorrem à IA para decifrarem papiros carbonizados (v. desafio conhecido como “Vesuvius Challenge”) ou para a arqueologia. A diferença é que a paisagem oferecida pela HGLP não pretende ser um mapeamento definido, nem definitivo, nem exclusivo, nem exaustivo: deseja-se signo-sinal estimulado pelo actual contexto do pensamento complexo (Edgar Morin) e da globalização anunciando a continuidade da aventura… a Odisseia continua…

    Agora, a História Global da Literatura Portuguesa, uma (re)leitura de (re)leituras feita, tem nesta sua apresentação, Professor Alberto Manguel, um belíssimo posfácio! E este é, no fundo, o meu encantado comentário de moderadora. Bem haja!


    [1] Cit de: conferências 2014 do Fronteiras do Pensamento em Porto Alegre [https://www.fronteiras.com/noticias/a-biblioteca-imaginaria-segundo-alberto-manguel].

    [2] Idem.

    [3] Cit. de: https://www.espacoatlantida.pt/sobre-nos/.

    [4] Cit. de: conferências 2014 do Fronteiras do Pensamento em Porto Alegre https://www.fronteiras.com/noticias/a-biblioteca-imaginaria-segundo-alberto-manguel

    [5] Alberto Manguel. Uma História da Leitura [HL], S. Paulo e R.J., Companhia das Letras, 2004 (ebook). Para maior comodidade do leitor, todas as citações desta obra serão feitas a partir desta edição.


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  • Parecer jurídico integral sobre processo disciplinar contra Pedro Almeida Vieira

    Parecer jurídico integral sobre processo disciplinar contra Pedro Almeida Vieira


    O PÁGINA UM pediu um parecer jurídico ao Professor Doutor José Melo Alexandrino em consequência da acusação do Secretariado da Comissão da Carteira Profissional de Jornalista (CCPJ), após a abertura de processo disciplinar aberto pelo Secretariado da mesma CCPJ no decurso de uma queixa de Henrique Eduardo Passaláqua de Gouveia e Melo, actual Chefe do Estado-Maior da Armada, por notícias publicadas no PÁGINA UM sobre as suas actividades como membro da task force da vacinação contra a covid-19, e quando em simultâneo ocupava funções de Adjunto para o Planeamento e Coordenação no Estado-Maior-General das Forças Armadas.

    Recomendamos a leitura integral do parecer do Professor José Melo Alexandrino, que pode ser acedido AQUI.

    Para descarregar a “Ata da Secção Disciplinar” e o “Relatório”, de 22 de Julho de 2024, subscrito pelo Relator Miguel Alexandre Ganhão, membro da Secção Disciplinar da CCPJ, aceda AQUI.

    Para ler (ou recordar a notícia do PÁGINA UM em causa), intitulada “Gouveia e Melo ‘mercadejou’ administração de vacinas a médicos não-prioritários uma semana após tomar posse na task force”, aceda AQUI.

    Os comentários de Pedro Almeida Vieira sobre este assunto e sobretudo sobre as absurdas falhas da instrução do processo disciplinar da CCPJ podem ser lidas no Editorial desta edição quinzenal, AQUI.


  • Trump & Biden & Ursula & Creches

    Trump & Biden & Ursula & Creches


    Com moderação de Pedro Almeida Vieira, regressa O Estrago da Nação, depois de um interregno, para o 20º episódio onde se confronta a visão de esquerda do Tiago Franco a a visão libertária do Luís Gomes.

    Hoje, fala-se do atentado contra Donald Trump e da desistência de Joe Biden como candidato democrata às próximas eleições norte-americanas em Novembro, e das consequências que daqui advirão.

    Discute-se também a (re)eleição (com ou sem aspas) de Ursula von der Leyen para a presidência da União Europeia e do caminho da democracia na Europa.

    Para terminar, aborda-se, com alguma dificuldade, a justeza de uma medida política votada dos Açores (pelo Chega e PSD) de retirar os filhos dos desempregados das creche públicas.

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  • Tentativa de assassinato de Trump: incompetência ou complot?

    Tentativa de assassinato de Trump: incompetência ou complot?

    O jornalista Frederico Duarte Carvalho, que esta semana lançou o livro ’10 conspirações para os próximos 100 anos’ (Oficina do Livro), conversa com Pedro Almeida Vieira sobre os sapatos de Trump e sobre o atentado contra o ex-presidente e candidato republicano às eleições norte-americanas de Novembro. Demasiada incompetência dos Serviços Secretos ou haverá ainda espaço para as mais rocambolescas teorias da conspiração?


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  • EMEL ‘encarece’ almoço de António Costa com bloqueio de automóvel em zona proibida

    EMEL ‘encarece’ almoço de António Costa com bloqueio de automóvel em zona proibida


    O antigo primeiro-ministro António Costa, saído do Governo no passado dia 2 de Abril depois de uma longa permanência de oito anos como chefe do poder executivo do Estado português, está agora a sofrer as amarguras de um cidadão comum lisboeta em automóvel: foi multado pela EMEL. Recorde-se que, pouco tempo antes da sua chegada à liderança do Governo, em Novembro de 2015, António Costa foi presidente da autarquia de Lisboa entre Agosto de 2007 e Abril de 2015, ou seja, ‘tutelando’, mesmo se de forma indirecta esta empresa municipal que regula o estacionamento da capital.

    De acordo com testemunhas contactadas pelo PÁGINA UM, o ex-primeiro-ministro foi ontem ‘caçado’ com o seu automóvel numa zona de estacionamento proibido, excepto para cargas e descargas, na Rua Ribeira Nova, no lado contrário ao número 62. junto ao Mercado da Ribeira (Time Out). Segundo se apurou, o Mercedes classe A de António Costa terá estado bloqueado durante pelo menos duas horas, durante o período do almoço, naquele local até à sua chegada.

    Foto nas redes sociais é verídica. António Costa foi mesmo multado. O PÁGINA UM retirou, por razões de privacidade, a matrícula.

    O PÁGINA UM confirmou já que uma fotografia que circula nas redes sociais, onde se vê António Costa a telefonar junto a um Mercedes bloqueado, é verídica. E, de facto, segundo testemunhas, no ‘acto de ‘libertação do automóvel’, António Costa pagou de imediato não apenas a coima mas também a taxa de desbloqueamento.

    O almoço do antigo primeiro-ministro terá assim ficado um pouco mais caro: a coima, para estes casos, é de 30 euros; a taxa de desbloqueio de 83. Tudo somado, 113 euros.


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  • Produtividade & Libertários & Decência

    Produtividade & Libertários & Decência


    Pedro Almeida Vieira e Luís Gomes reencontram-se, depois de algumas semanas de afastamento, para o 29º episódio de Os economistas do diabo.

    Desta vez, em cima da mesa, e a pretexto de “os turcos não são propriamente conhecidos por serem o povo mais trabalhador do Mundo” (Ventura, dixit), fala-se-se sobre o que é a produtividade e o que faz um povo tornar-se mais ou menos produtivo, e se isso tem a ver com o ser-se (um bom ou mau) trabalhador.

    Em seguida, Luís Gomes tenta, mais uma vez (os ouvintes dirão se com sucesso), ‘vender’ o seu modelo libertário em alternativa a um suposto ‘Estado ladrão’.

    Por fim, fala-se de decência, a pretexto de um artigo científico na BMJ Public Health sobre o excesso de mortalidade durante a pandemia e a necessidade de se estudar com honestidade as causas de morte com honestidade.

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