Autor: Pedro Almeida Vieira

  • Depois de nove dias sem precisar de Espanha, rede eléctrica portuguesa volta a ‘pôr-se a jeito’

    Depois de nove dias sem precisar de Espanha, rede eléctrica portuguesa volta a ‘pôr-se a jeito’

    Ainda não existem explicações definitivas nem garantias de que não ocorrerá novo apagão no sistema eléctrico português, causado por uma dependência artificial de electricidade importada de Espanha. Mas hoje regressou o business as usual. Ao décimo dia do colapso da rede eléctrica nacional, registado pelas 12h30 do dia 28 de Abril, Portugal começou a importar electricidade de Espanha, como se nada tivesse ocorrido.

    De acordo com os dados consultados pelo PÁGINA UM numa plataforma da Red Eléctrica de España, até às 19 horas de hoje (hora espanhola), o sistema eléctrico português já importara do país vizinho um total de 12.845 MWh, tendo o saldo importador passado a ser favorável a Espanha desde as 8h20. À hora da publicação desta notícia, Espanha estava a exportar para Portugal cerca de 800 MW.

    Mas esta “normalização” — que esteve na origem de cerca de dez horas de apagão — levanta uma questão cada vez mais difícil de ignorar: se o sistema eléctrico nacional conseguiu manter-se durante nove dias completamente independente de importações de Espanha, entre 29 de Abril e 7 de Maio, qual foi afinal a necessidade de estar a importar 8.000 MW de potência instantânea no momento do apagão do dia 28 de Abril? Além disso, não se pode sequer afirmar que Portugal estivesse à míngua de electricidade. Também segundo dados da Red Eléctrica de España, durante os últimos nove dias, Portugal ajudou o sistema eléctrico espanhol a estabilizar, através da exportação regular de electricidade.

    Segundo cálculos do PÁGINA UM, entre 29 de Abril e 7 de Maio, o sistema eléctrico português exportou 85.966 MWh para Espanha, com um pico no passado dia 3 de Maio de 24.512 MWh — um valor que corresponde a cerca de 16% do consumo médio diário de electricidade em Portugal, demonstrando existir folga suficiente não só para garantir o abastecimento nacional como também para apoiar o país vizinho.

    Mas a 28 de Abril, pouco antes do colapso, Portugal importava cerca de um terço da electricidade que, nesse momento, estava a ser consumida, através das interligações com Espanha. Tecnicamente, isso não constituiria problema se existissem garantias de redundância e de reserva imediata. Porém, como se verificou nesse dia, uma quebra súbita na produção espanhola impossibilitou compensar a falha portuguesa, que, por sua vez, não tinha unidades em prontidão para iniciar rapidamente a produção. Esta dependência mútua, sem planos de resposta em tempo real, resultou numa queda sincronizada: Portugal desligou-se integralmente da rede ibérica, num fenómeno designado por grande perda de sincronismo.

    a lit candle in the dark with a black background

    A restauração de um sistema eléctrico após um colapso total exige um processo designado por black start, que consiste no arranque progressivo da rede a partir de unidades capazes de operar sem depender da energia da rede. Estas unidades, normalmente hidroeléctricas ou térmicas específicas, devem estar preparadas para reactivar segmentos da rede em sequência, garantindo a estabilidade da frequência e da tensão a cada passo. Em Portugal, como noutros países europeus, este processo é tecnicamente exigente e moroso — agravado, neste caso, por perturbações no acoplamento com Espanha, que dificultaram a sincronização das redes.

    Nos dias seguintes ao apagão, a REN informou que as trocas comerciais com Espanha estavam suspensas, sendo apenas admitidas em situações técnicas excepcionais. Contudo, os dados mostram que Portugal continuou a exportar para Espanha durante quase todo o período entre 29 de Abril e 7 de Maio. E o fornecimento não foi pequeno: num total de 85.965,5 MWh exportados neste período de nove dias, os valores diários oscilaram entre 999,3 MWh, logo a 29 de Abril, e 1.447 MWh no dia seguinte. Nos primeiros três dias de Maio, as exportações totalizaram 59.756 MWh, descendo para 23.764 MWh entre os dias 4 e 7 de Maio. Já hoje, Portugal teve apenas um pequeno período de exportação durante a madrugada, num total de 559 MWh. No mesmo intervalo entre 29 de Abril e 7 de Maio, Portugal apenas importou 1.729 MWh — um valor residual, justificado apenas por necessidades técnicas.

    Uma das razões para a “ajuda” de Portugal à rede espanhola nos últimos nove dias parece residir na morosidade do reatamento das centrais nucleares espanholas após o apagão. Só hoje, 8 de Maio, os diagramas de carga — os chamados diagramas técnicos de balanço diário — revelam que a produção nas cinco centrais nucleares espanholas está finalmente ao nível do período pré-apagão. E com essa estabilização, o sentido do comércio inverteu-se.

    Exportações para Espanha e importações a partir de Espanha do sector eléctrico português entre os dias 29 de Abril e 8 de Maio (até 19 horas de Espanha). Fonte: Red Eléctrica de España.

    Este regresso à ‘normalidade’, com electricidade a fluir com base em critérios estritamente comerciais, expõe um problema que permanece sem resposta pública: por que razão Portugal, com potência instalada mais do que suficiente para garantir os seus consumos internos, se coloca frequentemente numa posição de dependência, em tempo real, da produção espanhola?

    Se foi possível manter, durante nove dias, o abastecimento com recursos próprios — e ainda ajudar de forma significativa um vizinho em dificuldades —, talvez seja chegada a hora de rever as premissas operacionais do sistema eléctrico ibérico. Excepto se o objectivo futuro for continuar a andar sobre o fio da navalha… com ‘kits apagão’ em casa.

  • Justiça ‘torpedeia’ Gouveia e Melo: Supremo arrasa processos contra militares castigados

    Justiça ‘torpedeia’ Gouveia e Melo: Supremo arrasa processos contra militares castigados

    Fim de linha para o ‘justiceiro’ Gouveia e Melo. Um acórdão do Supremo Tribunal Administrativo (STA), particularmente demolidor para a cúpula da Marinha, anulou todos os processos disciplinares que castigaram 11 militares do navio de patrulha NRP Mondego, que se recusaram, em Março de 2023, a cumprir uma missão alegando falta de condições de segurança.

    No acórdão de 230 páginas, os juízes consideram inválido o processo desde a sua origem, apontando múltiplas ilegalidades e violações de direitos fundamentais, incluindo o direito à defesa, à produção de prova e à imparcialidade do processo. E consideram que o Tribunal Central Administrativo do Sul agiu correctamente quando declarou nulo um despacho de 1 de Julho de 2024 proferido pelo Chefe do Estado-Maior da Armada, Almirante Henrique Gouveia e Melo, que indeferiu o recurso hierárquico apresentado pelos militares, confirmando os castigos impostos pelo Comandante Naval.

    Agora, o tribunal superior considera tão graves as falhas legais — e mesmo constitucionais — que nem sequer permite qualquer “apreciação e qualificação do comportamento dos militares da Marinha” nos polémicos eventos de 2023. Recorde-se que Gouveia e Melo chegou a deslocar-se à Madeira para uma repreensão pública aos militares, observada in loco pela comunicação social.

    Em 11 de Março de 2023, quatro sargentos e nove praças do NRP Mondego recusaram embarcar numa missão de vigilância a um navio russo ao largo do Porto Santo, alegando falta de segurança. Dezasseis dias depois, nova missão falhou: embora o Mondego tenha largado do Funchal rumo às Selvagens, para render elementos da Polícia Marítima e do Instituto das Florestas, acabou por regressar ao Caniçal por problemas técnicos e de segurança.

    Gouveia e Melo, mesmo antes de qualquer acção de apuramento dos factos, criticou os militares, que foram logo alvo de penas disciplinares, com suspensões de serviço a variar entre os 10 e os 90 dias, segundo a categoria, posto e antiguidade de cada um. Em causa estaria o incumprimento de deveres militares previstos no regulamento de disciplina em vigor.

    Primeira página do acórdão do Supremo Tribunal Administrativo.

    Estas sanções seriam depois confirmadas pelo próprio Gouveia e Melo num despacho que indeferiu o recurso hierárquico interposto pelos advogados dos militares. Esse despacho do então Chefe do Estado-Maior da Armada foi agora arrasado pelos juízes-conselheiros do Supremo Tribunal Administrativo.

    No acórdão, o tribunal superior sublinha que o oficial instrutor do processo disciplinar esteve envolvido nos factos em causa — o que o tornaria legalmente impedido — e criticou ainda a recusa de provas requeridas pela defesa, bem como a ausência de informação aos arguidos sobre os seus direitos legais e constitucionais.

    O tribunal considerou também que o processo violou os princípios constitucionais do contraditório e do direito de audiência, impedindo um julgamento justo. Entre outras críticas, rejeita a recusa de reconstituição dos factos e de peritagens externas ao navio, bem como a argumentação da Marinha de que tal escrutínio colocaria em risco a segurança nacional. “A falta de informação aos arguidos, em sede de processo disciplinar militar, dos seus direitos e deveres, nomeadamente o direito a serem assistidos por advogado e o direito ao silêncio, constitui violação dos direitos de audiência e defesa”, salientam os juízes-conselheiros.

    NRP Mondego

    E dizem ainda que a existência de “diligências complementares de prova”, encetadas pela Marinha sem a garantia de defesa dos arguidos, constitui uma “nulidade insanável”.

    A decisão judicial, que aponta atropelos até constitucionais do ex-líder militar, coloca em ênfase a personalidade de Gouveia e Melo, quando se mostra cada vez mais evidente que apresentará uma candidatura à Presidência da República. Com efeito, a anulação do despacho de Gouveia e Melo e a declaração de nulidade de todo o processo disciplinar colocam em causa o exercício de autoridade do então Chefe do Estado-Maior da Armada num dos episódios mais mediáticos da sua liderança, abrindo também espaço para um debate sobre o respeito pelas garantias fundamentais no âmbito da justiça militar.

  • Comissão da Carteira de Jornalista admite que esteve a funcionar sem actas

    Comissão da Carteira de Jornalista admite que esteve a funcionar sem actas

    A Comissão da Carteira Profissional de Jornalista (CCPJ) reconheceu, num recurso entregue ao Tribunal Central Administrativo do Sul (TCAS), a contestar uma sentença favorável ao PÁGINA UM, que o seu Secretariado — o órgão colegial executivo e decisório composto, entre 2022 e o início deste ano, por Licínia Girão, Jacinto Godinho e Paulo Pinheiro — nunca produziu actas durante o mandato anterior, limitando-se a elaborar “ordens de trabalho”.

    Esta confissão, de enorme gravidade jurídica e institucional, demonstra que a CCPJ operou à margem da legalidade, violando de forma continuada o Código do Procedimento Administrativo (CPA) e os princípios estruturantes da Administração Pública.

    Foto: PÁGINA UM

    Com efeito, o Secretariado da CCPJ, enquanto órgão colegial de um organismo público, está sujeito à elaboração de actas em todas as reuniões com deliberações, as quais devem identificar os membros presentes, os assuntos discutidos, os votos emitidos e as decisões tomadas. Ora, nos órgãos colegiais, a única forma de exteriorizar validamente uma deliberação é a acta, pelo que a sua inexistência implica automaticamente a nulidade dos actos praticados, porque “care[ce]m em absoluto de forma legal

    A admissão pública da CCPJ de que o Secretariado deliberava sem quórum, sem registos formais e sem qualquer mecanismo transparente de controlo interno lança a suspeita sobre a validade de todos os actos administrativos por ele produzidos entre 2022 e 2025, incluindo emissões, renovações, suspensões e recusas de títulos profissionais de jornalista, bem como instauração de processos disciplinares e de contra-ordenação. O PÁGINA UM vai comunicar esta ilegalidade ao Ministério Público.

    Mas o escândalo institucional não termina aqui. A CCPJ — que aguarda a nomeação do seu novo presidente — não quer aceitar a sentença do Tribunal Administrativo de Círculo de Lisboa que determinou o acesso integral também às actas do Plenário da Comissão, composto por nove elementos, bem como aos processos disciplinares abrangidos pela Lei da Amninistia aquando da visita do Papa Francisco a Portugal em Agosto de 2023. Contesta essa decisão com o argumento inusitado de que deve poder apagar nomes constantes dessas actas, alegando pretensas questões de privacidade ou protecção pessoal.

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    Na prática, a CCPJ — que se apresenta como garante do rigor e da ética jornalística — defende em tribunal o direito a manipular documentos administrativos e a reescrever documentos oficiais, apagando rastos de decisões tomadas e anulando o princípio da responsabilidade individual em actos administrativos que podem ter produzido danos concretos a jornalistas. A intenção de expurgar nomes das actas é justificada com o receio de que os membros da CCPJ fiquem sujeitos a críticas ou escrutínio público.

    Este argumento é particularmente preocupante vindo de uma entidade composta exclusivamente por jornalistas, cuja profissão exige, em princípio, compromisso com a transparência, a prestação de contas e o interesse público. Porém, a CCPJ chega a tentar convencer os desembargadores do TCAS de que, nos pedidos de acesso às actas e também a processos disciplinares amnistiados, o director do PÁGINA UM não demonstrou sequer deter qualquer interesse concreto, jornalístico ou noticioso, nem em nome próprio nem da comunidade, e que não justificou a relevância da questão para efeitos de escrutínio público ou jornalístico.

    Ou seja, jornalistas eleitos por jornalistas e por empresas de comunicação, cuja acção pode e deve ser fiscalizada por outros jornalistas, defendem agora o obscurantismo para sua própria defesa.

  • 19 hastes curvas encimadas por um ‘anel de rubi’ custam 406 mil euros

    19 hastes curvas encimadas por um ‘anel de rubi’ custam 406 mil euros

    Escultores da casa podem não fazer milagres, mas podem fazer ‘desaparecer’ cerca de 406 mil euros do erário público para celebrar os 51 anos de um acontecimento histórico português que, ironicamente, para além da liberdade, concedeu igualdade de oportunidades.

    Na pequena cidade de Cantanhede, no distrito de Coimbra, a autarquia local decidiu escolher, sem qualquer pré-selecção, por ajuste directo, um escultor da terra, Celestino Alves André, para executar um ‘monumento de celebração’ ao 25 de Abril, que passou a estar exposto no parque urbano local.

    Nascido em 1959, Alves André destaca-se sobretudo como medalhista e como ‘criador’ de bustos e estátuas em tamanho natural ou monumental, frequentemente fundidas em bronze. No entanto, esta encomenda da autarquia de Cantanhede, liderada pela social-democrata Helena Teodósio, foge completamente ao estilo do artista: trata-se de uma estrutura ascensional de metal composta por 19 hastes curvas e verticais, encimada por um ‘anel de rubi’ representando o brasão de Cantanhede, simbolizando as freguesias do concelho à data da Revolução dos Cravos. Para os mais incautos, parecerá uma estrutura para um ninho de cegonhas.

    Mas o mais surpreendente nesta obra colocada no Parque Urbano de São Mateus é o custo e também o seu faseamento. De acordo com o contrato publicado no Portal Base, que nem sequer contém o caderno de encargos – impossibilitando perceber se o ‘anel de rubi’ é de vidro ou de resina –, a obra teve um custo total de 405.900 euros, ou seja, 330 mil euros acrescidos de IVA. Este é um valor extraordinariamente elevado para obras de arte desta natureza, sobretudo quando se está perante um município de menos de 35 mil habitantes com escassos recursos finaceiros. A título de exemplo, os dois conjuntos escultórios de autoria de Francisco Tropa no terminal intermodal da Campanhã – “Penélope”, composta por quatro figuras em bronze, e “Dánae”, duas fontes em bronze –, também por ajuste directo, tiveram este custo total, pago pela empresa municipal Gestão e Obras do Porto.

    A escolha por ajuste directo, por um valor tão elevado, mesmo que seja invocado o carácter artístico, levanta questões sobre a transparência e os critérios de atribuição deste tipo de contratos, sobretudo tendo em conta o envolvimento de um artista com ligação ao município.

    Com efeito, Alves André tem estabelecido diversas parcerias com a edilidade de Cantanhede, realizando mesmo visitas guiadas promovidas pela autarquia ao seu ateliê na aldeia de Portunhos. Naquele município encontram-se também já várias esculturas da sua autoria, designadamente o Monumento ao Ourives Ambulante, inaugurado em 1990, em Febres; o Monumento ao bandeirante Pedro Teixeira, inaugurado em 1993, no centro da cidade; e a imponente estátua equestre do Marquês de Marialva, inaugurada em 1999, na praça que lhe é dedicada.

    No restante distrito de Coimbra, Alves André também tem ‘muita saída’. Na cidade do Mondego, o escultor assinou diversas obras de relevo, com destaque para o busto do pintor José Maria Cabral Antunes, inaugurado em 1987; a Tricana de Coimbra, estátua em bronze, colocada na Rua de Quebra Costas em 2008; a Guitarra de Coimbra, no Largo da Almedina, e a estátua da Irmã Lúcia, ambas inauguradas em 2013. No concelho de Mira estão mais duas: uma evocando o Infante D. Pedro, primeiro duque de Coimbra, erguida em 1996 na sede do município; e outra dedicada aos pescadores da Praia de Mira, inaugurada em 1998. Fora do ‘seu’ distrito, Alves André tem o busto de Francisco Stromp, junto ao Estádio de Alvalade, uma estátua em memória do Papa João Paulo II em Cascais e outra ao mesmo pontífice em Timor-Leste.

    Além do processo por ajuste directo, o contrato – que previa a “concepção, execução e instalação de obra de arte para espaço público evocativa do 50.º aniversário do 25 de Abril” – foi assinado apenas no passado dia 17 de Março, o que, considerando a complexidade do seu fabrico, mostra que, antes da adjudicação, já o escultor estava a trabalhar na peça.

    Helena Teodósio, presidente da autarquia de Cantanhede, cortou a fita na inauguração. Foto: CMC.

    Antes da escultura ao 25 de Abril com um custo de 405 mil euros, segundo dados consultados no Portal Base – que compila informação desde 2008 –, o artista tinha apenas dois contratos: o busto em bronze do Visconde da Corujeira, encomendado em 2021 pelo Município de Mira por ajuste directo, no valor de 17.500 euros, e uma obra escultórica de homenagem a Idalécio Cação, também por ajuste directo, pelo Município da Figueira da Foz, pelo montante de 8.500 euros.

    Apesar de a presidente da autarquia de Cantanhede não ter respondido às questões colocadas pelo PÁGINA UM, durante a cerimónia de inauguração, Helena Teodósio destacou que a obra “teve o envolvimento de todas as forças políticas com assento na Assembleia Municipal” e que visa “perpetuar o carácter emblemático da efeméride”, reforçando os valores do 25 de Abril junto das novas gerações. Na mesma cerimónia, de acordo com o transmitido pelo site do município, Alves André afirmou que a escultura “celebra os valores de Abril” e também “o desenvolvimento das freguesias do concelho”, destacando que se trata de “uma peça agradável, elegante e concebida a partir de elementos identitários locais”.

    Pese embora o contexto comemorativo e a intenção simbólica da obra, o investimento elevado e a forma desta contratação directa motivam interrogações quanto à gestão dos dinheiros públicos, sobretudo num momento em que muitas autarquias enfrentam constrangimentos orçamentais.

    Escultura de Alves André na Praia de Mira. A obra de arte sobre o 25 de Abril ‘foge’ ao seu estilo, mas permitiu-lhe facturar mais de 400 mil euros.

    O Código dos Contratos Públicos impõe os princípios da concorrência e da igualdade de tratamento, não existindo qualquer norma no articulado legal que permita beneficiar expressamente os artistas locais em procedimentos de contratação. A legislação portuguesa, alinhada com o direito europeu, proíbe qualquer discriminação com base na origem geográfica do concorrente, mesmo que essa preferência pudesse traduzir-se numa valorização do património cultural de uma comunidade.

    Ainda assim, os responsáveis políticos ou autárquicos dispõem de algumas margens de manobra. Nos contratos de menor valor, adjudicados por ajuste directo ou por consulta prévia, a escolha de artistas locais torna-se mais viável, desde que fundamentada com critérios objectivos e devidamente publicitada. Mas tal não se aplica a uma das obras de arte de valor mais elevado dos últimos anos encomendada por um município português.

    Em todo o caso, nos concursos públicos convencionais, a introdução de critérios de adjudicação que valorizem a ligação da obra à identidade local — desde que expressos com clareza e aplicados a todos os concorrentes — pode permitir a selecção de propostas oriundas da comunidade artística da região sem violar a lei. Mas a opção da autarquia de Cantanhede foi pelo contrato de ‘mão-beijada’.

  • Contar os minutos de desconto

    Contar os minutos de desconto


    Foi preciso descer, ou lateralizar, até à Linha de Cascais para confirmar que nem tudo no Estoril são mansões com vista para o mar — até há um estádio que, enfim, me fez recuar aos tempos em que assistia a jogos do Moitense na terceira ou quarta divisão dos distritais de Aveiro, nos anos 80. Exagero. Aquilo era um pelado, nem bancadas havia, e o mais entusiasmante era ver as cacetadas nas canelas e a ousadia dos guarda-redes a lançarem-se e a esfolarem-se todos na pedra solta.

    Mas enfim, a minha visita ao estádio do Estoril-Praia deu para saber duas coisas. A primeira foi que, pobre de mim, sou um desgraçado frequentador da Varanda da Luz — e, nos últimos tempos, com passagem pela Varanda do Varandas, uma ida ao Dragão, outra ao Montjuïc, em Barcelona, e uma outra (que terá repetição este ano) ao Jamor. Portanto, sou frequentador de estádios com História, ignorando as vicissitudes dos pequenos clubes, mesmo em regiões onde o metro quadrado de construção ultrapassa, em certos sítios, os dez mil euros.

    Por outro lado, fiquei finalmente a saber — mesmo se pouco — quem foi o António Coimbra da Mota. Pesquisei na Internet enquanto as equipas ainda aqueciam. Consta que terá sido um benemérito, cujos herdeiros devem estar agora a lamentar a doação — ou, pelo menos, a ponderar se o nome não merecia um estádio menos propenso a servir de abrigo ao vento e às sevícias meteorológicas do Guincho. Brincadeira, claro.

    Não me posso queixar da experiência. A começar por pensar, ingénuo de mim, que seria rápida e fácil a viagem até ao estádio: comboio até ao Monte Estoril e depois um breve passeio até ao recinto. Porém, o progresso em Portugal é daquelas coisas que complicam sempre a vida a quem tem planos simples — e, assim sendo, a modernização da Linha de Cascais, mais a expansão da rede de metro, levou à suspensão dos comboios entre o Cais do Sodré e Algés durante este fim-de-semana. Resultado: acabei por recorrer aos serviços ‘uberianos’ da Elisabete — e lá fiquei às portas do estádio, bem a tempo de sacar a acreditação e entrar logo ali, com passagem pelo relvado para uma fotografia que, aliás, nunca consegui tirar na Luz.

    Do jogo, verdadeiramente, pouco há a dizer. Ou melhor: o essencial foi dito pelo Tiago Franco. Acrescento, ainda assim, que nesta senda final de um dos campeonatos mais renhidos de que há memória (pelo menos desde que a memória dos benfiquistas se reduz à última jornada), procuro também disfarçar o meu nervosismo escrevendo sobre tudo e sobre nada.

    Vai-se, pois, destacando a arquitectura do estádio, adequado a adeptos à moda antiga, que aguentam as intempéries da chuva, do sol e do vento — porque está quase tudo destapado, ao contrário do que sucede com os jornalistas da imprensa escrita, enclausurados numa espécie de aquário envidraçado que, embora os proteja dos elementos, também os impede de sentir o ambiente dos adeptos. De resto, quase todos benfiquistas. E como se não bastasse, ficam acantonados na ala norte, o que significa que só vêem bem um dos ataques.

    No caso, porém, a sorte protegeu os envidraçados: tendo o jogo terminado com uma vitória por 2-1 do Benfica, e tendo o Estoril marcado na segunda parte, muito bem se viram todos os golos, mais a defesa salvífica de um penálti pelo ucraniano Trubin, que começa a ganhar lugar no coração dos adeptos.

    Não foi uma vitória fácil — no Dragão, há um mês, foi canja. Aliás, foi um daqueles triunfos que envelhece os treinadores cinco anos em noventa minutos e que obriga os adeptos a roerem as unhas até ao sabugo. Ao intervalo, tudo parecia encaminhado para mais um jogo de gestão: primeiro golo, de Aursnes, saído dos manuais de boas práticas da UEFA; o segundo golo, em mais uma bola parada — onde, milagrosamente, agora o Benfica começa a parecer equipa grande —, deu uma falsa sensação de tranquilidade. Mas, como já se vai tornando hábito, a segunda parte trouxe o lado B: o recuo inexplicável, o golo do Estoril e a sensação de que o Benfica joga contra o cronómetro, contra si próprio e contra a inevitabilidade da ansiedade.

    O Estoril, que é equipa bem orientada e com vontade de fazer mossa, cresceu. Os adeptos — ou, pelo menos, eu — sofrem, imploram que o tempo passe, e há sempre aquela sensação de que o árbitro irá dar sete, oito ou nove minutos de compensação. Mas tudo terminou em bem.

    Para a semana, é o jogo do título. É isso que se diz. Mas antes do jogo do título, é preciso que esta equipa perceba que ainda não ganhou nada. Que não basta marcar dois golos em trinta minutos e depois entregar o controlo do jogo como se estivesse tudo decidido. O futebol é implacável para quem dorme cedo demais. E o campeonato português tem essa virtude: castiga os distraídos e glorifica os persistentes.

  • 10 vezes mais casos de sarampo na Europa em 2024: e a culpa também foi do Trump?

    10 vezes mais casos de sarampo na Europa em 2024: e a culpa também foi do Trump?


    Apesar de se terem registado na Europa dez vezes mais casos de sarampo na Europa em 2024 face ao ano anterior, eis que nos últimos meses, com o previsível automatismo ideológico, os holofotes da comunicação social viraram-se para os Estados Unidos. Ou melhor, para Robert F. Kennedy Jr. e Donald Trump por via de diversos pequenos surtos que contabilizam 935 casos e três mortes, até ao passado dia 1, num país de 340 milhões de habitantes – uma incidência de 2,75 casos por milhão, o segundo valor mais elevado na década, depois de 2019 (1.274 casos).

    Se observarmos o relatório publicado na semana passada pelo European Centre for Disease Prevention and Control, nos 30 países do Espaço Económico Europeu houve 23 com uma incidência maior do que registada até agora nos Estados Unidos, em algumas nações com números anormalmente elevados. Por exemplo, a Roménia registou no ano passado 30.692 casos de sarampo, o que representa uma incidência de 1.610,7 casos por milhão. A Áustria registou 59,5 por milhão, a Bélgica de 44,9, a Irlanda de 39,6, a Itália de 17,9 e até Portugal, com 35 casos, teve uma incidência de 3,3, ou seja, superior à dos Estados Unidos este ano.

    A evolução do sarampo na Europa mostra-se preocupante: em 2020 registou-se uma incidência de 4,6 casos por milhão, desceu depois em 2021 e 2022,e cresceu para 9,1 casos por milhão em 2023 para depois atingir os 77,4 por milhão. Note-se bem: se os Estados Unidos tivessem no presente ano esta incidência contabilizariam mais de 26.300 casos, não os 935 casos que registam.

    Mas ninguém deseja olhar para os números quando se quer imprimir uma narrativa já escrita de antemão: a culpa dos surtos de sarampo nos Estados Unidos deve ser assacada a Trump, a Robert Kennedy Jr., aos “populistas”, à “extrema-direita”, aos “negacionistas”. Pouco importa que os dados, as evidências, os relatórios oficiais e os avisos prévios desmontem essa simplificação vergonhosa. No jornalismo do nosso tempo e numa “ciência” cheia de tiques missionários, a verdade vem depois da manchete. E, às vezes, nem chega a vir.

    É certo que Robert Kennedy Jr., ao longo dos anos, tem manifestado publicamente dúvidas sobre alguns ingredientes e potenciais efeitos secundários das vacinas infantis, embora nada disto tenha mudado a postura actual do CDC. Aliás, esta entidade mostra um gráfico no seu site, que aqui apresento, onde a eficácia das vacinas contra o sarampo se revela de forma marcante na redução drástica de casos desde os anos 60 do século passado. É igualmente verdade que Trump tem mantido uma postura ambivalente sobre temas científicos, misturando intuições com políticas erráticas. Mas será intelectualmente honesto responsabilizar estas duas figuras por surtos de sarampo que decorrem num país com 340 milhões de habitantes, numa era em que as políticas públicas são decididas por múltiplos actores e factores?

    Evolução dos casos de sarampo nos Estados Unidos desde a introdução da vacina. Fonte: CDC.

    A resposta é, obviamente, não. Sejamos honestos: por mais que se antipatize com o estilo e acções de Trump, o surto de sarampo em curso nos Estados Unidos surge num contexto onde a Administração Biden esteve no poder durante quatro anos consecutivos, período durante o qual os próprios Centers for Disease Control and Prevention (CDC) lançaram vários alertas sobre a diminuição da cobertura vacinal em múltiplas áreas. Em Outubro de 2024 — sublinhe-se, ainda sob a presidência de Joe Biden —, investigadores do CDC reportavam que a cobertura nacional com as vacinas MMR (sarampo, papeira e rubéola), DTaP (difteria, tétano e tosse convulsa), varicela e polio entre crianças em idade de jardim-de-infância tinha descido para níveis abaixo dos 93%, após uma década estável nos 95%. A cobertura com a vacina MMR caiu para 92,7%, a DTaP para 92,3%, e contra a varicela para 92,4%.

    Mais ainda: o relatório da CDC mostrava que 14 estados tinham no ano passado isenções vacinais acima de 5%, e que as excepções não-médicas representavam mais de 93% dos casos, revelando um fenómeno de desconfiança ideológica — não necessariamente religiosa ou científica — para com a vacinação em geral. Ou seja, muito antes de Trump voltar a ocupar o centro do palco político ou de Kennedy Jr. assumir qualquer papel relevante no debate institucional, já se verificava um declínio estatisticamente significativo da vacinação tradicional nos Estados Unidos. Os dados estavam disponíveis, públicos e sublinhados pela própria autoridade federal de saúde. Os surtos deste ano nos Estados Unidos não são o reflexo da eleições de Trump: surgem de trás.

    Então, qual a razão para não se discutir com seriedade as verdadeiras causas da retracção de uma vacina que apresenta, contra o sarampo, mais de 60 anos de sucesso? Porque seria necessário encarar, com honestidade, os efeitos colaterais da estratégia político-mediática durante a pandemia da covid-19. E isso não interessa nem ao jornalismo mainstream nem à elite político-científica que dela se alimentou.

    Evolução do número de casos de sarampo nos Estados Unidos desde o ano 2000.Valores de 2025 até 1 de Maio.Fonte: CDC.

    A verdade desconfortável — e já admitida timidamente pela CDC — é que existe uma transferência de hesitação vacinal da covid-19 para as vacinas tradicionais. E para compreender isso, é preciso fazer o que quase ninguém faz: distinguir o que é, tecnicamente, uma vacina tradicional daquilo que foram os ‘produtos farmacêuticos’ contra a covid-19.

    Durante mais de um século, a vacinação baseou-se na administração de agentes biológicos inactivados, atenuados ou purificados que imitavam a infecção natural e conferiam imunidade duradoura, frequentemente com um ou dois reforços. A vacina da poliomielite, por exemplo, usa vírus inactivado; a DTaP utiliza toxinas tratadas quimicamente; a MMR recorre a vírus atenuados. Estas vacinas não apenas conferem protecção pessoal, como também reduzem significativamente a transmissão, construindo o tal ‘escudo comunitário’ da imunidade de grupo.

    Em contraste, por muito que se tenha propalado inicialmente o contrário, as chamadas “vacinas contra a covid-19” de tecnologia mRNA (como a da Pfizer e Moderna) ou de vector viral (como a da AstraZeneca e Janssen) não usam qualquer forma do vírus inactivado ou atenuado, nem conferem imunidade duradoura no modelo tradicional. Mais importante: não impediram a infecção nem a transmissão viral — e lembremo-nos como se impôs o vergonhoso certificado digital para excluir não-vacinados, mesmo aqueles com imunidade natural adquirida —, tendo-se tornado evidente, ao fim de poucos meses, que seria necessário revacinar ciclicamente. Enfim, sabe-se hoje que, independentemente da discussão sobre eficácia e segurança, a natureza destes produtos é, na verdade, mais próxima de terapias profilácticas temporárias do que de vacinas clássicas.

    a baby being examined by a doctor and nurse

    Porém, a confusão incutida e mesmo alimentada foi tanta que, em 2021, o próprio CDC alterou a definição oficial de vacina, eliminando a referência a “imunidade” e substituindo-a por “protecção” — uma mudança sem precedentes, feita discretamente, para adaptar a linguagem institucional ao insucesso clínico da nova tecnologia quanto à componente da imunidade. Onde antes se dizia que uma vacina era “um produto que estimula o sistema imunitário a produzir imunidade contra uma doença específica”, passou a dizer-se que é “um produto que estimula a resposta imunitária contra uma doença”. É a diferença entre garantir e tentar.

    Esta manobra semântica — e politicamente conveniente — gerou um dano profundo no capital de confiança das vacinas como conceito científico e instrumento de saúde pública. Muitos cidadãos, perplexos com a multiplicidade de doses, a ausência de eficácia sustentada e os relatos de efeitos adversos (alguns graves, outros silenciados), passaram a questionar todas as vacinas, mesmo aquelas com décadas de provas dadas.

    E quando, por pressão política e empresarial, a definição de “vacina” foi alargada sem distinção clara entre tecnologias, arrastou-se para o descrédito todo o edifício construído em torno das vacinas tradicionais, que durante décadas demonstraram segurança, eficácia e aceitação pública.

    baby under purple blanket

    Hoje, enfrentamos as consequências dessa imprudência. Famílias expostos a meses de propaganda acrítica e depois a notícias de efeitos adversos das chamadas ‘vacinas contra a covid-19’ ocultados ou relativizados, passaram a desconfiar do conceito de vacina como um todo. Sucedeu em todo o Mundo — e sucedeu nos Estados Unidos, e aqui não porque tenham lido Robert Kennedy Jr. nem porque votaram em Donald Trump, mas porque sentiram na pele a quebra do contrato de confiança entre Ciência, política e cidadania.

    É esta quebra que a comunicação social se recusa a discutir. Prefere a narrativa do bode expiatório. Prefere a facilidade do insulto ao rigor do inquérito. Mas quem quiser, com seriedade, evitar futuros surtos — de sarampo ou de pensamento binário — deve começar por recuperar a distinção entre tecnologias, reconstituir a credibilidade perdida e, talvez o mais importante, reverter a redefinição oportunista do que é uma vacina. A confiança não se impõe por decreto nem se reconquista por censura. Constrói-se com transparência, memória e verdade. E, já agora, sem ‘ideologite’ e sabendo um pouco (ou muito) de Matemática.

  • Spinumviva: o jornalismo da esponja e a nódoa que persiste

    Spinumviva: o jornalismo da esponja e a nódoa que persiste


    Em democracia, há momentos em que a história se repete, não como farsa, mas como ensaio da decadência. A queda do Governo de Luís Montenegro, provocada por um escândalo ético (pelo menos) envolvendo a sua empresa familiar Spinumviva -cujo único activo era ele próprio, não pelo conhecimento jurídico mas influência política –, parecia inaugurar um momento de depuração cívica.

    Mas bastaram poucos dias para que se reinstalasse o mecanismo rotineiro da absolvição mediática, essa máquina bem oleada que, em vez de investigar, serve para enxaguar a nódoa. Luís Rosa, jornalista do Observador, que se apresenta como repórter de investigação, apresentou uma suposta investigação jornalística que serviu para uma narrativa muito conveniente para uma ‘limpeza ética’ de Luís Montenegro e preparar um nível de vitimização para ‘desaconselhar’ um enfoque no caso Spinumviva.

    A peça assinada por Luís Rosa e João Paulo Godinho, publicada em tom triunfal no dia 19 de Março, garantia ter sido baseada na consulta de mais de mil documentos sobre a actividade da Spinumviva — documentos que alegadamente comprovavam, de forma irrefutável, que os serviços prestados tinham sido reais, substanciais, legítimos. Porém, o leitor mais atento — e qualquer jornalista com um mínimo de exigência — deparou-se com uma ausência total de provas visíveis: na peça não surgia nenhum fac-símile, nenhum relatório, nenhum contrato, nenhum e-mail, nenhuma factura, nada. Apenas o anúncio da existência dos documentos, talvez por fé, talvez por conveniência. Em vez de jornalismo de investigação, tivemos jornalismo de proclamação.

    Não há desculpa plausível para um jornal digital, que opera sem os constrangimentos de espaço do papel, não apresentar aos seus leitores, nem que fosse em anexo, uma pequena amostra dos tais documentos. E as imagens publicadas, com dossiês e folhas amontoadas, pareciam mais uma produção estética do ChatGPT do que uma prova documental genuína. Não se vislumbrava sequer uma citação, nada.

    A operação foi tudo menos inocente: serviu para projectar a ideia de que o caso estava encerrado, de que Montenegro era uma vítima da má-língua e do “clima de suspeição”, e de que tudo não passava de uma cabala. A imprensa convencional não perdeu tempo: replicou a narrativa sem pestanejar, sem escrutinar, sem perguntar.

    Imagens destacadas na peça do Observador de 19 de Março sobre a Spinumviva com os dossiês usados na investigação jornalística. Não foi apresentrado qualquer documentos concreto. Foto: DR.

    E assim se passou, durante algum tempo, uma esponja sobre a razão primordial da queda do Governo: a promiscuidade entre funções públicas e interesses privados, a opacidade das avenças, o potencial conflito de interesses, e a recusa em afastar-se de uma empresa familiar com ligações activas a entidades com relações com o Estado. E mais:percebeu-se também que, por coincidência, um cliente da Spinumviva é pai de um candidato do PSD à Câmara de Braga.

    Nestas eleições, mais do que confirmar ou não um sistema político de governos minoritários – o que, numa democracia, até deveria ser saudável e saudado –, está em causa se o eleitorado sanciona ou não aquilo que representa o caso Spinumviva. Não foi a oposição que forçou a queda do Governo: foi o próprio Luís Montenegro que apresentou uma moção de confiança. Caiu não por perseguição política, mas porque perdeu a legitimidade ética.

    Agora, já em vésperas da campanha eleitoral, surgiu afinal uma nova lista de empresas que constam como clientes da Spinumviva, com destaque para a ITAU e a Sogenave – ambas do ramo alimentar e que têm contratos volumosos com entidades estatais que, por exemplo, fornecem cantinas de escolas e hospitais em ajustes directos – e ainda a Portugalenses Transportes, a metalomecânica bracarense Beetsteel, a consultora espanhola INETUM Portugal, e a Grupel, que actua no sector da energia.

    ‘Investigação jornalística selectiva’: sem revelar fonte nem mostrar qualquer documentação em concreto, Luís Rosa ‘sentenciou’ que a Spinumviva não era empresa de fachada, mas ficam agora em aberto várias questões essenciais. Em (supostas) mil páginas de documentos da Spinumviva, nada constava das ‘novas’ empresas agora conhecidas? Não era suposto ter tido acesso a toda a documentação? Aceitou fazer revelações taxativas sem ter tido acesso a todos os contratos da empresa de Montenegro?

    Estranhamente, ou talvez não, esta informação surgiu através de uma declaração do próprio Luís Montenegro à Entidade para a Transparência – que supostamente o primeiro-ministro pensaria que viesse a ser confidencial – não veio pela mão de Luís Rosa. Nem do Observador. Nem de qualquer outro órgão que tenha ecoado, sem filtro, a narrativa de reabilitação.

    Recordemos para memória futura; Luís Rosa garantiu em Março passado ter lido acesso a mais de mil páginas de documentos sobre a Spinumviva. E então, não recebeu a informação sobre esta (novas) empresas. Ou não a quis mostrar? O que é pior? Ter sido ingénuo e manipulado por fontes próximas de Luís Montenegro – ou pelo próprio –, acreditando que tinha toda a verdade? Ou ter recebido apenas parte da informação e, mesmo assim, ter decidido avançar, consciente de que servia uma operação de maquilhagem? Em qualquer dos casos, fica manchada a integridade jornalística.

    A função do jornalismo de investigação não é salvar políticos caídos em desgraça, nem reescrever as razões das suas quedas, nem participar em operações de cosmética eleitoral. É perguntar, duvidar, incomodar. Não há investigação jornalística sem provas, mas estas têm de ser apresentadas como critério e seriedade. E não há jornalismo sério quando se confunde o acesso exclusivo com a fidelidade à fonte. Luís Rosa, neste episódio, não foi jornalista; foi transmissor.

    O Observador ‘lamenta’ agora que se está de novo a discutir o caso da Spinumviva (que justificou a queda do Governo), “enquanto o que interessa ao país não é discutido”. Não interessa ao país discutir a ética por detrás de um primeiro-ministro?

    Se Montenegro ganhar as próximas eleições, não será por ter explicado de forma clara os contornos da ligação da Spinumviva aos seus clientes e sobre as razões da sua contratação. Será porque a imprensa — a começar pelo Observador — contribuiu para apagar, na consciência colectiva, o escândalo que levou à dissolução da Assembleia. Será porque uma parte do jornalismo português continua a ver os políticos como aliados ou como clientes, não como sujeitos a escrutínio. Será porque a exigência democrática se diluiu no espectáculo da vitimização e da propaganda.

    É neste exacto ponto que a nossa democracia desce mais uns graus na escala da decência. Não porque o cidadão vota mal, mas porque lhe mentem; porque lhe ocultam; porque lhe vendem moral em troca de prestígio editorial. E porque, no final de contas, quem escreve não responde pelos actos de quem governa, mas deveria, no mínimo, prestar contas pelo silêncio conveniente e pelas investigações de papel.

    Neste caso da Spinumviva, a esponja (do jornalismo) está gasta; e aquilo que resta é a nódoa.

  • Portugal continua a exportar grandes quantidades de electricidade apesar das garantias da REN

    Portugal continua a exportar grandes quantidades de electricidade apesar das garantias da REN

    Apesar das declarações da REN, transmitioas ontem ao jornal Público, de que foram suspensas as trocas comerciais de electricidade com Espanha “até ao final da semana”, Portugal continuou esta madrugada a exportar energia de forma significativa, numa operação que põe em causa a clareza e transparência da comunicação da empresa responsável pela gestão do sistema eléctrico nacional e a rede de transporte.

    Ontem, a REN afirmou ter “limitado para amanhã [hoje] e dias seguintes a capacidade de trocas no sentido importador a zero MW”, sustentando que a decisão visava assegurar a estabilidade do sistema ibérico e que as interligações com Espanha estariam “a ser utilizadas nos fluxos normais em tempo real”, apenas para efeitos de equilíbrio técnico.

    No entanto, dados de exportação de energia eléctrica recolhidos entre as 00h00 e as 8h00 (hora espanhola), consultados pelo PÁGINA UM, permitem concluir, com base em cálculos, que Portugal exportou durante esse período um total de 8.524 MWh de electricidade. Esta quantidade seria suficiente para abastecer durante um dia inteiro cerca de 676 mil pessoas, com base no consumo médio diário de 12,6 kWh.

    A exportação praticamente contínua desde a meia-noite e crescente ao longo da madrugada, com potências instantâneas superiores a 1.800 MW a partir das 6h00 da manhã, contrariando a imagem de suspensão de trocas dada pela REN. Com a chegada do dia, a exportação de Portugal para Espanha está a diminuir.

    A aparente contradição entre a posição da REN e a realidade reside na distinção – técnica mas ambígua – entre “trocas comerciais” e “fluxos técnicos”.

    transmission towers and wind turbines on the field
    Foto: D.R./ REN

    As trocas comerciais referem-se às operações registadas nos mercados organizados de electricidade, com contratos definidos, enquanto os fluxos técnicos referem-se a ajustes automáticos e operacionais executados pelos operadores de rede, de modo a garantir o equilíbrio entre geração e consumo. No entanto, nada impede que um fluxo técnico possa, na prática, equivaler a uma transferência económica disfarçada, especialmente se for contínuo e previsível.

    A electricidade, recorde-se, não transporta ‘etiquetas’, ou seja, não é possível distinguir fisicamente se um determinado KWh ‘trocado’ é oriundo de uma transacção comercial ou ser por equilíbrio de rede. Assim, a distinção invocada pela REN baseia-se mais em critérios administrativos e operacionais, e não físicos, permitindo que a interligação continue a funcionar como canal de exportação, mesmo quando publicamente se declara o oposto.

    Esta prática pode configurar, assim, uma mera operação semântica de desresponsabilização, permitindo à REN afirmar que não há importações nem exportações comerciais, embora mantenha o funcionamento efectivo das interligações com Espanha em larga escala. O risco mostra-se evidente, pois sem uma auditoria pública dos fluxos e das justificações técnicas em tempo real, é impossível saber se estas transferências não estão a servir, afinal, apenas o habitual interesses de mercado.

    Gráfico da produção durante as últimas horas em Espanha, integrando a parte da exportação de Portugal (mancha verde no topo). A linha amarela representa a procura de electricidade em Espanha. Fonte: Red Eléctrica de España.

    Acresce ainda que a necessidade de electricidade espanhola oriunda de Portugal durante a madrugada não aparenta ter sido imprescindível. Analisando os registos da Red Eléctrica, registou-se durante a recente noite uma redução voluntária da produção hidroeléctrica em Espanha, com parte das turbinas das barragens a serem desligadas, o que fez baixar a potência hidráulica de cerca de 7.000 MW às 21h00 de ontem para cerca de 5.000 MW ao longo da madrugada de hoje. Ao mesmo tempo, Espanha manteve exportações activas para Marrocos, o que mostra que não se encontrava em situação de défice urgente de energia.

    Por outro lado, a reactivação das centrais nucleares espanholas também se tornou visível, com os níveis de produção nuclear a situarem-se já em cerca de 40% do valor anterior ao apagão da passada segunda-feira, reforçando a ideia de que a procura espanhola por electricidade portuguesa foi motivada por razões comerciais ou estratégicas, e não por necessidade técnica imperiosa.

  • Com a ‘ajuda’ de Luís Montenegro, Tony Carreira passa fasquia de meio milhão de euros em quatro meses

    Com a ‘ajuda’ de Luís Montenegro, Tony Carreira passa fasquia de meio milhão de euros em quatro meses

    Foi uma sorte para Tony Carreira o adiamento decretado pelo Primeiro-Ministro das festividades do 25 de Abril para o Dia do Trabalhador. Se assim não fosse, o cançonetista mais popular de Portugal dificilmente teria agenda para actuar, mesmo que num mini-concerto de uma hora, para duas mil pessoas, nos jardins do Palácio de Belém. De facto, na noite de 24 de Abril, Tony Carreira cantou a partir das 22 horas, no Barreiro, num concerto comemorativo dos 51 anos da Revolução dos Cravos. A entrada, tal como amanhã, foi gratuita, embora tenha custado aos contribuintes — ainda que paga pelos cofres da autarquia da Margem Sul — um total de 73.185 euros, com IVA incluído.

    Ignora-se se Luís Montenegro vai reviver o dueto (desafinado) que fez com Tony Carreira em Dezembro de 2019 no programa ‘Casa da Cristina’, na SIC, tal como também se ignora quanto custará o concerto com entrada gratuita nos jardins da residência oficial do Primeiro-Ministro. O gabinete de Luís Montenegro não respondeu aos insistentes pedidos do PÁGINA UM sobre esta matéria — que, aliás, seria escusado solicitar se a Presidência do Conselho de Ministros tivesse já colocado, como determina a lei, o contrato no Portal Base. Certo é que Tony Carreira não costuma ser barato; pelo contrário, é o artista com cachets mais elevados.

    Dueto na SIC em 2019 vai repetir-se?

    E isso tem-se notado ainda mais nos últimos anos. Por exemplo, o ano de 2025 vai ainda com apenas quatro meses completos, e Tony Carreira já garantiu uma agenda recheada de actuações financiadas por dinheiros públicos, mesmo se todos anunciam “entrada gratuita”. Segundo os dados publicados no Portal BASE — que compila os contratos públicos celebrados por entidades do Estado —, estão já contratados, até ao momento, 10 espectáculos com o artista, num total de 466.944,05 euros com IVA incluído, pagos por municípios, através de ajuste directo, sem concurso público. Será previsível que, com o contrato para a actuação nos jardins de São Bento, a fasquia do meio milhão de euros seja ultrapassada em apenas quatro meses.

    Tony Carreira tem-se destacado por ser um dos mais caros artistas portugueses, no sentido emocional e financeiro, sobretudo por actuar, em regra, sozinho, apenas com músicos acompanhantes. De entre os contratos deste ano, o de valor mais baixo (45.510 euros com IVA) foi assumido pelo Município de Alter do Chão, no distrito de Portalegre, e o mais elevado pelo Município de Vila Nova de Gaia, no distrito do Porto.

    No primeiro caso, o concerto realizou-se no dia 25 deste mês, nas Festas de São Marcos, naquela vila alentejana — o que inviabilizaria, assim, também, um eventual pulo a São Bento, se não tivesse ocorrido o adiamento —, enquanto o contrato com Gaia serviria para a autarquia socialista abrilhantar a inauguração do Pavilhão Nelson Mandela. Este concerto esteve agendado para o dia 11, mas este centro multiusos acabou por não estar ainda concluído. Para amanhã está previsto um concerto em Gaia com Mickael Carreira, filho de Tony Carreira, mas não foi possível, em tempo útil, apurar se este espectáculo servirá para cumprir o contrato.

    Jardins de São Bento.

    Além dos contratos com o Barreiro, Gaia e Alter do Chão, pelo menos outras sete autarquias também já decidiram este ano contratar Tony Carreira com verbas públicas. O município de Mértola já garantiu a presença do cantor nas Festas da Vila, em 21 de Junho, e não se fez rogado em pagar 49.200 euros (com IVA), enquanto a empresa municipal FESNIMA, de Olhão, adjudicou por 59.206 euros (com IVA) um contrato para um espectáculo inserido nas Festas da Cidade, a realizar em 16 de Junho.

    Para não se ser exaustivo, a agenda de Tony Carreira deste ano tem passagens pela Feira do Fumeiro de Vinhais, pela FACIT em Tábua, pela FIAPE em Estremoz, pela Festa do Emigrante em Chaves, pela Ficabeira em Arganil. A visibilidade de Tony Carreira tem um valor médio, este ano, a rondar os 52 mil euros com IVA.

    A prática de ajuste directo, muito comum nos contratos culturais, continua a permitir às autarquias evitar processos de concurso ou consulta prévia, bastando-lhes justificar a escolha do artista e adjudicar directamente o valor orçamentado. Em todos os contratos agora divulgados, os valores encontram-se dentro do limite legal (até 75 mil euros para prestações de serviços), mas levantam questões sobre critérios de selecção artística e repetição dos mesmos nomes em diferentes municípios, com cachets bastante elevados e sem concorrência.

    Tony Carreira actuou no dia 24 de Abril no Barreiro e no dia seguinte em Alter do Chão (na foto). Sem o adiamento das festividades do 25 de Abril em São Bento, o cançonetista não teria agenda.

    Em grande parte dos concertos, Tony Carreira beneficia também dos valores de produção, uma vez que uma parte destes contratos públicos é celebrada através da sua empresa Regi-Concerto. De entre os concertos já previstos em contratos, este ano, a empresa de Tony Carreira facturará 370.230 euros com IVA. Mas a Regi-Concerto também produz outros concertos, como se verificou no recente espectáculo de Passagem de Ano em Lisboa.

    Poucos meses depois de ver Carlos Moedas a entregar-lhe a medalha de mérito cultural, a Regi-Concerto de Tony Carreira teve uma oferta de mão-beijada concedida pela Câmara Municipal de Lisboa: organização das festas de Ano Novo, no valor de 265 mil euros, incluindo IVA. Com um cartaz que não custava mais de 80 mil — constituído pelo veterano José Cid e pelo seu próprio filho Mickael —, e como a EGEAC ainda assumiu diversas despesas, Tony Carreira terá tido um lucro, sem subir ao palco lisboeta, próximo dos 150 mil euros.

  • Apagão deverá ‘apagar’ centrais nucleares de Espanha por 72 horas

    Apagão deverá ‘apagar’ centrais nucleares de Espanha por 72 horas

    Às 14h35 desta quarta-feira, hora de Lisboa, cinquenta horas após o colapso eléctrico que mergulhou a Península Ibérica numa falha de geração sem precedentes, as centrais nucleares espanholas permanecem totalmente desligadas. A análise contínua dos dados da Red Eléctrica de España, verificada pelo PÁGINA UM, confirma que nenhum dos sete reactores nucleares operacionais retomou a produção de energia até ao momento — uma situação inédita na história do sistema energético espanhol.

    O ‘silêncio operacional’ das centrais Almaraz, Ascó, Cofrentes, Vandellós II e Trillo, cujos reactores representam cerca de 7 GW de capacidade instalada, prolonga-se agora por mais de dois dias, sem que o Consejo de Seguridad Nuclear (CSN) tenha emitido qualquer explicação técnica detalhada sobre o atraso. A última comunicação oficial do CSN ocorreu às 3h15 da madrugada de terça-feira, onde apenas foi referido o fim do “pré-alerta de emergência” após restabelecimento externo do fornecimento eléctrico.

    Central de Almaraz.

    Os sistemas automáticos de paragem de emergência, designados SCRAM, servem exactamente para evitar riscos muito graves, estando previsto sobretudo em planos anti-sísmicos. A ausência de reactivação ao fim de 50 horas ainda não é suficiente para levantar questões de segurança sobre o impacte do incidente do apagão operacionais, mas se se prolongar por mais de 72 horas indiciará outro tipo de problemas.

    Segundo fontes técnicas ouvidas pelo PÁGINA UM, um dos factores mais prováveis para este atraso na reactivação das centrais nucleares espanholas será o chamado “envenenamento por xenón-135”, um fenómeno bem conhecido na operação nuclear, embora raramente se manifeste de forma simultânea e prolongada em múltiplos reactores de um mesmo país.

    O xenón-135 é um produto radioactivo de fissão com enorme capacidade de absorção de neutrões térmicos, que se forma tanto directamente, na fissão do urânio-235 e plutónio-239, como, sobretudo indirectamente, por decaimento radioactivo do iodo-135, que possui uma meia-vida de 6,6 horas.

    Quando um reactor é abruptamente desligado por SCRAM, como ocorreu em Espanha pelas 12h35 de segunda-feira, a produção de neutrões cessa quase de imediato, mas os precursores radioactivos da cadeia de fissão continuam a decair, acumulando xenón-135. Sem neutrões disponíveis para capturá-lo e destruí-lo, a sua concentração atinge um pico entre 8 a 10 horas após a paragem, fenómeno que impede a reanimação do reactor, mesmo que todos os sistemas estejam tecnicamente operacionais.

    A única forma de reduzir os níveis de xenón-135 é esperar o seu decaimento natural para césio-135, processo que exige um período até 72 horas, dependendo da potência anterior do reactor e do regime de operação. A operação de arranque prematuro poderá inclusive falhar ou danificar sistemas se for tentada antes da recuperação total da margem de reactividade.

    As centrais nucleares espanholas — todas do tipo água leve pressurizada (PWR), com excepção de Cofrentes (do tipo BWR) — estão desenhadas para lidar com este fenómeno, mas a simultaneidade de sete reactores em SCRAM dificulta a gestão operacional, requerendo planeamento cuidadoso de reactivação sequencial, para garantir estabilidade na rede eléctrica e segurança reaccional.

    a close up of a control panel with knobs and gauges

    Se se confirmar a reactivação das centrais nas próximas 24 horas, este tipo de fenómeno não representará um risco de segurança, mas sim um limite técnico de reactivação temporária reconhecido pelas normas internacionais da International Atomic Energy Agency (IAEA) e da U.S. Nuclear Regulatory Commission (NRC).

    Actualmente, não há indícios de danos estruturais nos reactores, o que reforça a tese de que o apagão foi uma consequência de falha sistémica na rede, e não provocado pelas centrais. A activação do SCRAM nos sete reactores, que estavam a produzir cerca de 3.400 MW às 12h30 (hora espanhola) de segunda-feira, coincidiu com quedas abruptas de frequência e tensão, indicando um colapso no equilíbrio entre produção e consumo.

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