Autor: Pedro Almeida Vieira

  • Direcção-Geral da Saúde beneficiou SIC e TVI nas campanhas de publicidade

    Direcção-Geral da Saúde beneficiou SIC e TVI nas campanhas de publicidade

    Os pequenos media regionais e locais foram prejudicados pela Direcção-Geral da Saúde na distribuição das verbas para divulgação das mensagens publicitárias durante a pandemia. Quem mais beneficiou foram sobretudo os dois canais privados generalistas, a SIC e a TVI, que encaixaram 61% de todo o dinheiro gasto em anúncios sobre a covid-19. Saiba aqui quem são e quanto receberam os 284 órgãos de comunicação social ao longo dos últimos dois anos.


    Quase 75% do dinheiro total gasto pela Direcção-Geral da Saúde (DGS) em campanhas relacionadas com a covid-19 foram absorvidas pelas televisões. Os canais da SIC e da TVI – que posicionaram os seus serviços noticiosos durante a pandemia com uma filosofia claramente alarmista – conseguiram captar um total de 3,11 milhões de euros nos últimos dois anos.

    Este montante representa cerca de 61% dos quase 5,11 milhões de euros disponibilizados pelo gabinete de Graça Freitas para publicidade relacionada com a pandemia. A SIC foi o canal que mais encaixou: 1.609.024,35 euros, seguindo-se a TVI, com 1.230.378,35 euros. O pódio foi também ocupado por um canal por cabo, mas a grande distância: o Correio da Manhã TV teve direito a 557.237,81 euros.

    Curiosamente, a TVI 24 – agora transformada em CNN Portugal – recebeu mesmo mais do que a RTP 1. A primeira recebeu 190.004,71 euros, enquanto a segunda 148.721,45 euros.

    SIC foi a televisão que mais dinheiro da DGS encaixou para promoção das campanhas da covid

    Desconhecem-se os critérios que presidiram à distribuição da publicidade, mas claramente a DGS preferiu campanhas audiovisuais de âmbito nacional em detrimento de campanhas destinadas à imprensa ou rádio locais e regionais.

    No segmento radiofónico, a Rádio Comercial foi aquela que mais atraiu publicidade sobre a covid-19 (80.817,97 euros), um pouco mais do que o Jornal de Notícias, a publicação da imprensa que liderou nos contratos com a DGS, que recebeu 72.138,76 euros.

    Saliente-se que estes montantes apenas parcialmente estão associados aos adiantamentos de 15 milhões de euros em publicidade feitos pelo Governo em Maio de 2020, e que tanta celeuma causou em alguns órgãos de comunicação social. Esse “bolo” não estava afecto exclusivamente a campanhas relacionadas com a covid-19, incluindo a promoção de actividades do Estado, pretendendo o Governo, com esses elevados montantes, sobretudo antecipar receitas aos órgãos de comunicação social num período que se mostrava difícil para a Economia.

    Com efeito, de acordo com a Resolução do Conselho de Ministros (RCM) de Maio de 2020, embora uma parte muito substancial desses 15 milhões de euros viesse da DGS (7 milhões de euros), os media cativavam assim, em antecipação, receitas de publicidade futura para promoção de actividades do Instituto de Turismo de Portugal e de três Secretarias-Gerais de Ministérios (Administração Interna; Trabalho, Solidariedade e Segurança Social; e Ambiente, Ordenamento do Território e Energia) – no valor de 1,5 milhões, em cada uma destas entidades –, e ainda da Presidência do Conselho de Ministros, da Agência para a Gestão Integrada de Fogos Rurais, do Gabinete de Planeamento, Políticas e Administração Geral e da Secretaria-Geral da Educação e Ciência – 500 mil euros, cada.

    DGS preferiu campanhas audiovisuais.

    A RCM elencava também as verbas a receber pelas principais empresas de comunicação social de âmbito nacional, bem como as verbas a receber pelos outros órgãos de âmbito regional e local.

    De acordo com um levantamento realizado pela Entidade Reguladora da Comunicação Social (ERC), a DGS pagou diversos montantes a 284 órgãos de comunicação social para divulgação de mensagens relacionadas com a pandemia, dos quais 139 de imprensa regional, 126 rádios locais, oito títulos de imprensa nacional, sete canais de televisão, três rádios nacionais e uma publicação digital.

    Apesar da grande quantidade de rádios locais envolvidas (que incluem, por exemplo, a TSF e a Mega 80) e de muitos títulos de imprensa regional, os montantes foram, em alguns casos, completamente irrisórios. Por exemplo, a Rádio Imagem, de Fornos de Algodres, recebeu 121,95 euros da DGS. Um total de 12 rádios ou periódicos regionais receberam menos de 500 euros, e mais 22 receberam entre 500 e 1.000 euros.

    A distribuição de “migalhas” à comunicação social de âmbitos regional e local, em confronto com a generosa entrega publicitária sobretudo às televisões, levou mesmo a ERC a tecer críticas à DGS, uma vez que não foi cumprida a legislação que determina que os órgãos de comunicação social regional e local devem ficar sempre com pelo menos 25% do custo global das campanhas publicitárias do Estado.

    Rádio Imagem, de Fornos de Algodres, encontra-se na última posição (284º lugar) dos beneficiados das campanhas da DGS com 121,95 euros.

    No caso concreto, estes órgãos de comunicação só receberam 755 mil euros (menos de 15% do total), quando deveriam receber pelo menos 1,28 milhões de euros, se se considerar os 5,1 milhões efectivamente gastos, ou pelo menos 1,75 milhões, caso a DGS tivesse gastado os 7 milhões inicialmente previstos.

    Em suma, os pequenos órgãos de comunicação social tiveram direito a menos 522 mil euros do que seria suposto, verba essa que acabou distribuída pela imprensa, rádio e sobretudo televisão de âmbito nacional.
    Por causa deste motivo, e também pelo atraso no envio de documentação – que inviabilizou uma averiguação com maior antecedência –, a ERC enviou o processo destas campanhas da DGS para o Tribunal de Contas. Contudo, esta diligência acaba por ser uma mera formalidade, porque a legislação não prevê sanções para quem não cumpra as quotas estabelecidas por lei.


    Lista de órgão de comunicação social, tipo e montante recebido (em euros)

    Fonte: ERC.


    SIC (televisão) – 1.609.024,35
    TVI (televisão) – 1.230.378,35
    Correio da Manhã TV (televisão) – 557.237,81
    TVI 24 (televisão) – 190.004,71
    RTP 1 (televisão) – 148.721,45
    SIC Notícias (televisão) – 81.033,37
    Rádio Comercial (rádio nacional) – 80.817,97
    Jornal de Notícias (imprensa nacional) – 72 138,76
    RFM (rádio nacional) – 69.349,90
    TSF Rádio Jornal Lisboa (rádio local) – 61 953,44
    Correio da Manhã (imprensa nacional) – 58.619,00
    Público (imprensa nacional) – 45.779,00
    Expresso (imprensa nacional) – 38.348,00
    A Bola (imprensa nacional) – 37.045,00
    Diário de Notícias (imprensa nacional) – 34.562,00
    M80 Rádio (rádio local) – 34.125,07
    Rádio Renascença (rádio nacional) – 33.077,86
    O Jogo (imprensa nacional) – 31.795,50
    Record Imprensa (imprensa nacional) – 20.400,00
    Mega Hits (rádio local) – 14.670,08
    EJM – Empresa Jornalística da Madeira (rádio local) – 9.842,02
    Diário do Minho (imprensa regional) – 9.799,59
    Correio dos Açores (imprensa regional) – 8.943,09
    Porto Canal (televisão) – 8.448,43
    Mirante (imprensa regional) – 7.020,00
    Diário do Sul (imprensa regional) – 6.542,38
    A Terra Minhota (imprensa regional) – 6.016,26
    ERA – Emissora Regional de Ama (rádio local) – 5.581,30
    Golo FM (digital nacional) – 5.573,54
    Rádio Clube de Lamego (rádio local) – 5.573,54
    Rádio Independente de Aveiro (rádio local) – 5.573,54
    Rádio Fundação FM (rádio local) – 5.573,54
    Rádio Altitude (rádio local) – 5.573,54
    Rádio Independente Paivense (rádio local) – 5.573,54
    Rádio Singa (rádio local) – 5.429,04
    Diário Insular (imprensa regional) – 5.372,36
    Reconquista (imprensa regional) – 5.316,22
    Rádio 94FM (rádio local) – 5.137,50
    RDS (rádio local) – 5.126,47
    Rádio Cultural de Cerveira (rádio local) – 5.012,92
    Rádio Elvas (rádio local) – 4.956,40
    Correio da Maia (imprensa regional) – 4.878,04
    Notícias de Aguiar (imprensa regional) – 4.878,04
    Voz de Lamego (imprensa regional) – 4.875,00
    O Regional (imprensa regional) – 4.782,12
    Asas do Atlântico (rádio local) – 4.739,99
    Rádio Onda Viva (rádio local) – 4.642,53
    Rádio Club de Armamar (rádio local) – 4.546,46
    Rádio Região de Basto (rádio local) – 4.455,00
    Barlavento (imprensa regional) – 4.375,61
    Rádio Local de Torres Novas (rádio local) – 4.360,16
    Jornal da Bairrada (imprensa regional) – 4.305,00
    Tribuna da Madeira (imprensa regional) – 4.292,68
    Jornal do Pico (imprensa regional) – 4.227,64
    Costa do Sol (imprensa regional) – 4.222,44
    Rádio Universidade de Coimbra (rádio local) – 4.208,13
    O Interior (imprensa regional) – 4.159,00
    Jornal de Matosinhos (imprensa regional) – 4.125,00
    Canal FM (rádio local) – 4.066,49
    Rádio Graciosa (rádio local) – 4.066,49
    Tribuna das Ilhas (imprensa regional) – 4.065,04
    Atlântico Expresso (imprensa regional) – 4.065,04
    TDS – Televisão do Sul (rádio local) – 4.063,62
    Rádio Nazaré (rádio local) – 4.038,61
    Voz Portucalense (imprensa regional) – 3.965,90
    Jornal do Algarve (imprensa regional) – 3.900,00
    O Comércio de Guimarães (imprensa regional) – 3.850,00
    Rádio Clube Paços Ferreira (rádio local) – 3.745,46
    Rádio Alentejo (rádio local) – 3.708,20
    Rádio Montalegre (rádio local) – 3.646,35
    Incentivo (imprensa regional) – 3.638,38
    O Progresso de Paredes (imprensa regional) – 3.577,24
    Rádio Douro FM (rádio local) – 3.577,24
    Jornal da Praia (imprensa regional) – 3.577,23
    Via Rápida (imprensa regional) – 3.500,00
    Entre Margens (imprensa regional) – 3 420,00
    Correio do Ribatejo (imprensa regional) – 3.414,63
    Mais Guimarães (imprensa regional) – 3.370,00
    Jornal da Marinha Grande (imprensa regional) – 3.292,68
    Rádio Horizonte Tejo (rádio local) – 3.260,42
    Rádio Clube de Pombal (rádio local) – 3.255,36
    Rádio Cais (rádio local) – 3.252,03
    Rádio Voz do Neiva (rádio local) – 3.251,25
    Rádio Iris FM (rádio local) – 3.235,23
    Foz do Mondego Rádio (rádio local) 3.211,66
    Antena Sul – Rádio Jornal (rádio local) 3.172,92
    Rádio Alto Minho (rádio local) – 3.157,27
    Rádio Clube de Angra (rádio local) – 3.157,27
    Rádio Regional de Arouca (rádio local) – 3.156,88
    Rádio Voz de Vagos (rádio local) – 3.156,79
    Urbana FM (rádio local) – 3.136,05
    Rádio Alto Ave (rádio local) – 3.120,14
    Rádio Marginal (rádio local) – 3.117,08
    Póvoa Semanário (imprensa regional) – 3.106,56
    Notícias de Coura (imprensa regional) – 3.008,13
    Semanário de Felgueiras (imprensa regional) – 3.004,07
    Postal do Algarve (imprensa regional) – 2.994,48
    Rádio Onda Livre Macedense (rádio local) – 2.976,00
    Beira Vouga (imprensa regional) – 2.916,00
    Rádio Vida (rádio local) – 2.901,84
    Rádio Santiago (rádio local) – 2.870,40
    Região de Leiria (imprensa regional) – 2.860,00
    Barcelos Popular (imprensa regional) – 2.830,00
    O Emigrante (imprensa regional) – 2.800,00
    A Comarca de Arganil (imprensa regional) – 2.800,00
    Universidade FM (rádio local) – 2.785,40
    Gazeta das Caldas (imprensa regional) – 2.780,00
    Jornal Nordeste (imprensa regional) – 2.764,23
    Alto Alentejo (imprensa regional) – 2.764,23
    Folha de Tondela (imprensa regional) – 2.737,80
    Vilacondense (imprensa regional) – 2.691,05
    Notícias de Penafiel (imprensa regional) – 2.682,93
    Terras de Sicó (imprensa regional) – 2.670,00
    O Ericeira (imprensa regional) – 2.666,66
    R80 Super Onda (rádio local) – 2.637,47
    Rádio Popular de Soure (rádio local) – 2.603,16
    Rádio Riba – Távora (rádio local) – 2.600,16
    Rádio Jornal Caminhense (rádio local) – 2.599,76
    JM (imprensa regional) – 2.599,32
    Rádio Clube de Penafiel (rádio local) – 2.599,32
    Sesimbra FM (rádio local) – 2.599,18
    Rádio Barca (rádio local) – 2.597,84
    RCA – Ribatejo (rádio local) – 2.596,02
    Rádio Bonfim (rádio local) – 2.596,02
    Rádio Beira Litoral (rádio local) – 2.592,92
    Rádio Vida Nova (rádio local) – 2.591,60
    Jornal de Tondela (imprensa regional) – 2.589,00
    Rádio Felgueiras (rádio local) – 2.581,95
    Rádio Positiva (rádio local) – 2.568,11
    Rádio Linear (rádio local) – 2.568,11
    Rádio Brigantia (rádio local) – 2.566,06
    Rádio Universitária do Minho (rádio local) – 2.564,18
    Rádio Voz de Santo Tirso (rádio local) – 2.554,34
    Rádio Vizela (rádio local) – 2.548,24
    Rádio Torre de Moncorvo (rádio local) – 2.538,00
    Jornal FM (rádio local) – 2.532,28
    A Voz da Póvoa (imprensa regional) – 2.530,00
    MAIS/Semanário (imprensa regional) – 2.513,01
    Jornal de Sintra (imprensa regional) – 2.504,07
    Região de Águeda (imprensa regional) – 2 459,77
    Notícias de Vouzela (imprensa regional) – 2 437,50
    O Paredense (imprensa regional) – 2.400,00
    Rádio Canção Nova (rádio local) – 2.347,18
    105.4 FM (rádio local) – 2.337,40
    Defesa da Beira (imprensa regional) – 2.320,00
    Voz Ribatejana (imprensa regional) – 2.300,00
    Tejo Rádio Jornal (rádio local) – 2.278,54
    Notícias do Tâmega (imprensa regional) – 2.276,41
    Algarve Resident (imprensa regional) – 2.251,38
    Rádio Voz do Entroncamento (rádio local) – 2.230,24
    Jornal Torrejano (imprensa regional) – 2.199,19
    Terras do Ave (imprensa regional) – 2.195,12
    Mais Aguiar da Beira (imprensa regional) – 2.195,12
    O Louzadense (imprensa regional) – 2.158,54
    Correio de Sintra – Imprensa (Imprensa (R) – 2.150,00
    Rádio Marcoense (rádio local) – 2.133,26
    Rádio Sol (rádio local) – 2.131,28
    Rádio Ondas do Lima (rádio local) – 2.124,43
    Rádio Voz de Basto (rádio local) – 2.107,00
    Notícias de Vila Real (imprensa regional) – 2.100,00
    Jornal Sudoeste (imprensa regional) – 2.100,00
    Rádio 93.8 ON FM (rádio local) – 2.100,00
    Digital FM (rádio local) – 2.099,14
    Rádio Voz do Marão (rádio local) – 2.096,93
    Chaves FM (rádio local) – 2.096,92
    Pampilhosa 97.8 FM (rádio local) – 2.059,07
    Oxigénio (rádio local) – 1.951,23
    Praça Pública (imprensa regional) – 1.951,22
    Avenidas Novas (imprensa regional) – 1.951,22
    Jornal da Beira (imprensa regional) – 1.951,22
    Correio de Azeméis (imprensa regional) – 1.951,22
    Jornal de Leiria (imprensa regional) – 1.951,22
    Praia Expresso (rádio local) – 1.951,21
    Jornal da Mealhada (imprensa regional) – 1.934,96
    A Voz de Chaves (imprensa regional) – 1.900,00
    Semanário Setúbal Mais (imprensa regional) – 1.890,00
    Jornal do Ave (imprensa regional) – 1.882,11
    Rádio Antena Minho (rádio local) – 1.854,68
    Defesa de Espinho (imprensa regional) – 1.843,90
    A Aurora do Lima (imprensa regional) – 1.829,27
    Notícias da Barca (imprensa regional) – 1.829,26
    RD Rádio Despertar – Voz de Estremoz (rádio local) – 1.828,68
    O Dever (imprensa regional) – 1.821,91
    Notícias de Santo Tirso (imprensa regional) – 1.800,00
    Triângulo Magazine (imprensa regional) – 1.788,61
    Rádio Terra Quente (rádio local) – 1.785,27
    Roda Viva Jornal (imprensa regional) – 1.775,61
    Labor.pt (imprensa regional) – 1.750,00
    Cidade de Tomar (imprensa regional) – 1.740,00
    Freguês de Benfica (imprensa regional) – 1.640,00
    Ilha Maior (imprensa regional) – 1.626,02
    FafeTV (rádio local) – 1.626,01
    Rádio Soberania (rádio local) – 1.565,50
    Notícias de Ourém (imprensa regional) – 1 539,92
    Record Algarve (rádio local) – 1.539,24
    Rádio Pernes (rádio local) – 1.539,24
    Jornal de Famalicão (imprensa regional) – 1.530,00
    RCS-Rádio Cultura de Seia (rádio local) – 1.508,74
    Notícias de Oeiras (imprensa regional) – 1.500,00
    O Riachense (imprensa regional) – 1.463,41
    O Ponto (imprensa regional) – 1.463,41
    Semmais Jornal (imprensa regional) – 1.463,41
    ATV Canal Alentejo (rádio local) – 1.463,41
    Guimarães Agora (rádio local) – 1.463,40
    Rádio Lafões (rádio local) – 1.463,40
    Correio Alentejo (imprensa regional) – 1.455,00
    Jornal Boa Nova (imprensa regional) – 1.414,63
    O Mirante (imprensa regional) – 1.404,00
    RCM-Rádio do Concelho de Mafra (rádio local) – 1.402,44
    Audiência Ribeira Grande (imprensa regional) – 1.400,00
    Douro Hoje (imprensa regional) – 1.390,24
    O Popular de Soure (imprensa regional) – 1.341,47
    Maré Viva (imprensa regional) – 1.341,46
    Notícias de Viana (imprensa regional) – 1.325,20
    Radioeste (rádio local) – 1.317,08
    Rádio Forum Boticas (rádio local) – 1.308,78
    Saber (imprensa regional) – 1.300,81
    Ecos de Basto (imprensa regional) – 1.300,80
    Rádio Geice (rádio local) – 1.300,42
    Rádio Regional de Valpaços (rádio local) – 1.299,98
    Rádio Regional Vimioso (rádio local) – 1.299,98
    Rádio Regional Sabrosa (rádio local) – 1.299,98
    Rádio Ansiães (Rádio (L) – 1.296,46
    Rádio Cávado (rádio local) – 1.290,98
    Rádio Popular Afifense (rádio local) – 1.290,98
    Rádio Voz do Caima (rádio local) – 1.290,98
    As Beiras (imprensa regional) – 1.268,29
    Rádio Antena Vareira (rádio local) – 1.241,33
    Notícias de Loures (imprensa regional) – 1.219,51
    Jornal Novo Regional (imprensa regional) – 1.219,51
    Magazine Serrano (imprensa regional) – 1.219,50
    Jornal Nova Aliança (imprensa regional) – 1.218,00
    Horizonte (imprensa regional) – 1.178,86
    Correio da Feira (imprensa regional) – 1.174,80
    O Concelho de Estarreja (imprensa regional) – 1.170,73
    Rádio Montemuro (rádio local) – 1.158,00
    Cerveira Nova (imprensa regional) – 1.149,59
    TVAmadora (rádio local) – 1.138,21
    Penafiel Canal (rádio local) – 1.121,95
    Notícias de Cascais (imprensa regional) – 1.100,00
    O Notícias da Trofa (imprensa regional) – 1.077,24
    Rádio Valdevez (rádio local) – 1.056,89
    RCI (rádio local) – 1.056,63
    Rádio Clube da Feira (rádio local) – 1.053,69
    Rádio Azul (rádio local) – 1.053,66
    Rádio Lezíria (rádio local) – 1.049,57
    Rádio Local de Barcelos (rádio local) – 1.049,57
    Notícias de Gouveia (imprensa regional) – 1.026,00
    Notícias de Barroselas (imprensa regional) – 1.005,28
    Farol de Esposende (imprensa regional) – 1.000,00
    Badaladas (imprensa regional) – 989,27
    Viva Cidade (imprensa regional) – 975,61
    Notícias de São Bráz (imprensa regional) – 975,61
    Rádio Vinhais (rádio local) – 975,61
    Soberania do Povo (imprensa regional) – 970,00
    RV Jornal (imprensa regional) – 914,64
    O Almeirinense (imprensa regional) – 906,59
    Benedita FM (rádio local) – 881,82
    Jornal da Batalha (imprensa regional) – 879,79
    A Defesa (imprensa regional) – 813,01
    Inês Negra (rádio local) – 805,37
    Rádio Vale do Minho (rádio local) – 805,37
    Notícias da Beira Douro (imprensa regional) – 780,49
    O Sesimbrense (imprensa regional) – 775,00
    Rádio Jornal de Setúbal (rádio local) – 723,58
    O Arrais (imprensa regional) – 695,12
    Penafiel TV (rádio local) – 650,41
    Correio do Alentejo (imprensa regional) – 640,00
    Mensageiro de Alter (imprensa regional) – 600,00
    Folha do Centro (imprensa regional) – 590,00
    Radio Voz do Douro (rádio local) – 580,00
    A Voz do Mar (imprensa regional) – 500,00
    A Voz do Operário (imprensa regional) – 487,80
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    O Ilhavense (imprensa regional) – 400,00
    Discurso Directo (imprensa regional) – 360,00
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    Radio Fóia (rádio local) – 264,76
    Rádio Clube Aguiarense (rádio local) – 243,90
    Notícias do Sorraia (rádio local) – 234,90
    Terras do Vale do Sousa (imprensa regional) – 200,00
    Ecos do Sor (imprensa regional) – 150,00
    Observador 88.1 (rádio local) – 130,54
    Rádio Imagem (rádio local) – 121,95

  • Ordem judicial obriga desbloqueio de ponte mas manifestantes ganham alento com 9 milhões de dólares

    Ordem judicial obriga desbloqueio de ponte mas manifestantes ganham alento com 9 milhões de dólares

    O terceiro fim-de-semana do Comboio da Liberdade aproxima-se e as posições de ambos os lados continuam irredutíveis, mas civilizadas. Trudeau não aceita negociar; os manifestantes não arredam pé de Ottawa, apesar de se sucederem ordens judiciais. Entretanto, a GoFundMe já é passado; em uma semana, os organizadores conseguiram arrecadar mais do que aquilo que perderam com a decisão da semana passada daquela plataforma de crowdfunding.


    O Tribunal Superior de Justiça de Ontário ordenou o fim do bloqueio da Ambassador Bridge, que liga Windsor a Detroit, e que constitui uma das principais ligações comerciais entre o Canadá e os Estados Unidos.

    A ponte tem estado bloqueada há cinco dias por camionistas integrados no Freedom Convoy, e abre assim mais uma frente de conflito com a aproximação do terceiro fim-de-semana de protestos na capital Ottawa contra as restrições e mandatos impostos pelo Governo de Justin Trudeau.

    A decisão foi tomada em audiência nesta sexta-feira e as especificidades ainda estão a ser finalizadas, de acordo com a CBC News. Com esta medida, a polícia passa a ter uma base legal mais forte para uma intervenção mais musculada, uma vez que os incumprimentos passam a ser crime.

    Contudo, ao longo desta semana, apesar do “estado de emergência” decretado anteontem pelo mayor de Ottawa, Jim Wilson, e da decisão judicial de proibição de buzinadelas dos camionistas, o braço-de-ferro entre o Governo de Justin Trudeau e os manifestantes do Comboio da Liberdade (Freedom Convoy) mantém-se forte. E nenhuma das partes parece desejar ceder.

    Porém, nos últimos dias, outras províncias canadianas têm mostrado sinais de cedência. Na terça-feira passada, foram levantadas várias restrições na província de Saskatchewan, entre as quais o uso de máscara e a proibição de entrada em restaurantes dos não-vacinados. As províncias de Alberta e Quebec também estabeleceram um plano programado de levantamento das restrições até Março.

    Mas na capital as autoridades provinciais e federais têm tido uma postura diferente, tentando eliminar simplesmente os protestos. Na última semana têm procurado “sabotar” o fornecimento de bens aos manifestantes, e sobretudo o financiamento. Recorde-se que, há uma semana, a plataforma de crowdfunding GoFundMe cedeu às pressões do Governo de Justin Trudeau, e bloqueou nove dos 10 milhões de dólares canadianos (cerca de 6,3 milhões de euros), provocando uma fúria dos internautas que colocaram a credibilidade daquele empresa em nível muito baixo.

    Justin Trudeau, primeiro-ministro do Canadá.

    No entanto, para os manifestantes esse revés transformou-se num novo alento: através de uma plataforma similar, a GiveSendGo, foi atingida em apenas uma semana a fasquia dos 9 milhões de dólares americanos, equivalente a quase 8 milhões de euros.

    Esta verba é já superior ao montante “congelado” pelo GoFundMe, que entretanto foi pressionado a devolver integral e automaticamente todas as verbas doadas.

    Porém, as autoridades têm tentado a via judicial para que essas verbas não cheguem ao destino. Se essa é uma possibilidade, o mesmo não sucederá com as bitcoins arrecadadas numa outra campanha de apoio aos manifestantes.

    Na Tallycoin foram já angariadas criptomoedas no valor de mais de 800 mil euros. Por se basear num sistema monetário descentralizado e completamente anonimizado está imune a qualquer interferência judicial e política.

    N.D. – O PÁGINA UM, conforme defendeu em editorial, decidiu suspender a sua angariação pontual de fundos através do GoFundMe, onde tinha angariado 13.884 euros (valor bruto, sem deduções de cerca de 10% em comissões), passando a optar pela plataforma MIGHTYCAUSE.

  • Carta aberta de médicos acusa bastonário Miguel Guimarães de violação deontológica

    Carta aberta de médicos acusa bastonário Miguel Guimarães de violação deontológica

    Uma carta aberta de destacados médicos acusa Miguel Guimarães, bastonário da Ordem dos Médicos, de querer deter “poderes de autoridade científica suprema ou de verdade absoluta”. O PÁGINA UM revela em primeira-mão, em exclusivo, o teor integral de uma dura missiva enviada a todos os órgãos da Ordem dos Médicos, pedindo-lhes que “avaliem os factos recentes e incentivem a que todos os médicos sejam devidamente respeitados”.


    Um conjunto de 23 médicos – entre os quais o catedrático Jorge Torgal (antigo presidente do Infarmed) e o cardiologista Jacinto Gonçalves (vice-presidente da Fundação Portuguesa de Cardiologia) –, e mais dois médicos dentistas, escreveram esta tarde a todos os membros dos vários órgãos da Ordem dos Médicos (OM) acusando o bastonário Miguel Guimarães de “grave violação da dignidade que se espera” do máximo representante desta classe profissional.

    Os signatários da carta, a que o PÁGINA UM teve acesso em primeira-mão – que integram parte do grupo de 91 profissionais de saúde que apelaram ao Governo para suspender a vacinação universal de crianças saudáveis –, acusam Miguel Guimarães de desrespeito e mesmo de violação do Código Deontológico, e recordam ainda que o bastonário é apenas “o representante oficial da OM, mas isso não lhe confere poderes de autoridade científica suprema ou de verdade absoluta”.

    woman in black shirt wearing black sunglasses

    Em causa está sobretudo a abertura de um processo disciplinar a Jorge Amil Dias, presidente do Colégio de Pediatria da OM, por declarações contra a vacinação contra a covid-19 de crianças saudáveis. Esta decisão da OM surge após uma queixa de 16 médicos, encabeçados por Filipe Froes – um pneumologista com ligações financeiras à Pfizer e outras farmacêuticas. Quase todos são muito próximos ou homens de confiança de Miguel Guimarães.

    Embora seja urologista, nem sequer da área da pediatria, o bastonário tem vindo a menorizar o papel do presidente do Colégio de Pediatria – que sempre falou sobre a vacinação de crianças a título pessoal – e depreciado os médicos signatários daquele abaixo-assinado. E tem argumentado ser apenas ele que deve falar “Não são duas vozes [que há na OM], é só uma, pois o doutor Jorge Amil não fala em nome da Ordem”, esclareceu já Miguel Guimarães em declarações à CNN Portugal.

    Jorge Amil foi alvo de queixa de médicos próximos do bastonário Miguel Guimarães.

    Considerando que esta situação “tem de acabar”, o bastonário anunciou já a convocação de um Conselho Nacional Executivo para discutir o assunto. Em cima da mesa, sabe o PÁGINA UM, está a destituição imediata de Jorge Amil Dias da presidência do Colégio de Pediatria, antes mesmo da conclusão do processo disciplinar, que demorará sempre meses.

    A postura de Miguel Guimarães é duramente criticada agora pelos 25 médicos que entendem que “o conhecimento científico é dinâmico”, tanto assim que, salientam, “alguns países europeus, nomeadamente os nórdicos (Suécia, Dinamarca, Noruega) e até o Reino Unido ou a Alemanha, decidiram reapreciar o benefício da vacinação contra a covid-19 em crianças, e não estão a recomendá-la de forma universal na população infantil.”

    E, lembrando ainda que as afirmações ou convicções científicas de Miguel Guimarães “não reflectem, nem vinculam, toda a população médica”, os subscritores desta carta aberta salientam que “são conhecidos contornos de documentos técnicos de grupos especializados e estatutariamente legitimados dentro da Ordem dos Médicos [como são os casos dos Colégios de Especialidade e de Competência], que devem ser devidamente ponderados nas decisões ou recomendações oficiais da Ordem, e tendo em exclusiva consideração a bondade das recomendações do ponto de vista do interesse dos doentes.”

    Saliente-se que o PÁGINA UM solicitou, no final do ano passado, o acesso a todos os pareceres dos Colégios da Especialidade da Ordem dos Médicos. No entanto, Miguel Guimarães não acedeu ao pedido, tendo a Comissão de Acesso ao Documentos Administrativos dado razão ao PÁGINA UM, mas em moldes dúbios, e para os quais foi pedido uma clarificação que ainda não foi concluída.


    CARTA INTEGRAL – Pode ser descarregada AQUI.

    Dig.mo Bastonário,
    Dig.mo Presidente da Assembleia de Representantes,
    Dig.mos Membros do Conselho Superior,
    Dig.mos Membros do Conselho Nacional,
    da Ordem dos Médicos

    Os signatários fazem parte dum grupo de 90 Médicos, que entenderam subscrever um apelo público para que o programa de vacinação infantil contra a Covid-19 fosse suspenso e reapreciado nas suas vantagens em comparação com os riscos incorridos.

    Esta preocupação decorre do conhecimento de potenciais riscos a curto, médio e longo prazo, da existência de efeitos adversos documentados em registos amplos de farmacovigilância como o VAERS americano, ou a EudraVigilance europeia, para além de centenas de publicações isoladas. Por outro lado, alguns países europeus, nomeadamente os nórdicos (Suécia, Dinamarca, Noruega) e até o Reino Unido ou a Alemanha, decidiram reapreciar o benefício da vacinação contra a Covid-19 em crianças, e não estão a recomendá-la de forma universal na população infantil.

    O apelo formulado pelos médicos subscritores desse documento tem, pois, fundamentação genérica, já que o conhecimento científico é dinâmico, particularmente neste domínio, e não ofendeu as recomendações da Autoridade de Saúde, nem convidou à desobediência civil.

    Os subscritores do apelo são médicos com competência e méritos demonstrados nos respectivos domínios de atividade.

    Todavia, a forma como o Dig.mo Bastonário a eles se referiu nas suas intervenções e comunicados públicos foi depreciativa e violou os deveres de representação profissional e de ética no relacionamento e referência pública.

    A Ordem dos Médicos estabelece princípios de deontologia entre Colegas no seu Art.º 128 do Código Deontológico, que não foram devidamente respeitados pelo Dig.mo Bastonário nas suas declarações públicas ao referir-se aos subscritores. O Dig.mo Bastonário é o representante oficial da Ordem dos Médicos, mas isso não lhe confere poderes de autoridade científica suprema ou de verdade absoluta.

    As suas afirmações ou convicções científicas não refletem, nem vinculam, toda a população médica. São conhecidos contornos de documentos técnicos de grupos especializados e estatutariamente legitimados dentro da Ordem dos Médicos, que devem ser devidamente ponderados nas decisões ou recomendações oficiais da Ordem, e tendo em exclusiva consideração a bondade das recomendações do ponto de vista do interesse dos doentes.

    Cabe a outras entidades tomar a responsabilidade de decisões políticas, pelos motivos que bem entendam considerar.

    Se um grupo de Médicos, neste caso perto de uma centena, faz um apelo público à reapreciação científica duma decisão, espera-se que o seu representante máximo aja com a devida compostura, dignidade e respeito, sugerindo que esse escrutínio seja feito.

    Tratar Colegas dignos e competentes com desprimor e acusá-los sumariamente de falta de rigor, é grave violação da dignidade que se espera do Bastonário da Ordem dos Médicos.

    Por todas estas razões, os signatários apelam a todos os órgãos nacionais da Ordem dos Médicos que avaliem os factos recentes e incentivem a que todos os médicos sejam devidamente respeitados em declarações públicas em nome da Ordem que a todos deve orgulhar.

    Jacinto Gonçalves (OM nº 9882), João Gorjão Clara (OM nº 12251), Ramiro Araújo (OM nº 12477), Jorge Torgal (OM nº 14433), Fernando Torrinha (OM nº 17492), Horácio Costa (OM nº 17788), António Neves Silva (OM nº 18873), Pedro Covas (OM nº 21555), Carlos Diogo de Matos (OM nº 24630), Teresa Gomes Mota (OM nº 27477), Cristina Nogueira (OM nº 30347), Pedro Girão (OM nº 31918), Óscar Prim da Costa (OM nº 35019), Marisa Vieira (OM nº 38193), António Caiado (OM nº 38427), Cristina Nunes (OM nº 40275), Carlos Mata (OM nº 41048), Leonor Boto (43033), Tiago Marques (OM nº 44104), Ana Rita Pereira (OM nº 46566), Sofia Almeida (OM nº 51699), Tiago Araújo dos Santos Silveira (OM nº 51992), Nuno Alfaro Simões (OM nº 55243), Eugénia Matos (OM nº 55288) e Pedro Rabaço (OMD 916).

    10 de fevereiro de 2022

  • Conheça três dos lobbistas das farmacêuticas que exigem castigo do presidente do Colégio de Pediatria

    Conheça três dos lobbistas das farmacêuticas que exigem castigo do presidente do Colégio de Pediatria

    Três dos médicos, aliados do bastonário Miguel Guimarães e com fortes ligações ao sector farmacêutico, são subscritores de um pedido de sanção disciplinar contra o presidente do Colégio de Pediatria da Ordem dos Médicos, Jorge Amil Dias.


    Três dos principais subscritores da denúncia à Ordem dos Médicos contra Jorge Amil Dias, presidente do Colégio de Pediatria daquela associação profissional de direito público, têm fortes ligações à indústria farmacêuticas, incluindo aquelas que mais têm beneficiado economicamente com a pandemia.

    O primeiro subscritor é o pneumologista Filipe Froes, mas uma investigação do PÁGINA UM mostra que, além deste médico, há mais dois com vastos contactos com a indústria farmacêutica: Luís Varandas e Carlos Robalo Cordeiro. Todos são muito próximos do bastonário, o urologista Miguel Guimarães.

    Na carta-denúncia, os 16 subscritores – que incluem todos os membros do Gabinete de Crise da Ordem dos Médicos para a Covid-19 – solicitam “a avaliação da conduta, por eventual infração disciplinar” de Jorge Amil Dias, tentando também que seja destituído da liderança do Colégio de Pediatria. Miguel Guimarães já prometeu levar o assunto a reunião do Conselho Nacional Executivo.

    Jorge Amil Dias, presidente do Colégio de Pediatria da Ordem dos Médicos.

    Em causa estão declarações públicas e a participação num abaixo-assinado deste pediatra contra a vacinação universal de crianças saudáveis, bem como as críticas que teceu a um parecer da Direcção-Geral da Saúde que claramente possui enviesamentos e deturpações de estudos científicos.

    Amil Dias tomou sempre as posições a título pessoal e nunca em nome da Ordem dos Médicos, mas mesmo assim terá irritado o actual bastonário, incondicional apoiante das políticas governamentais. E Miguel Guimarães conseguiu, com a denúncia encabeçada por Filipe Froes, tentar silenciar a voz incómoda de Jorge Amil Dias.

    Médico no Hospital Pulido Valente, o pneumologista Filipe Froes lidera também o Gabinete de Crise da Ordem dos Médicos para a Covid-19, e é um dos clínicos portugueses com maiores ligações à indústria farmacêutica. Desde 2013 amealhou mais de 380 mil euros de diversas empresas deste sector, com destaque para a Pfizer (134,5 mil euros), Merck Sharp & Dohme (85,5 mil euros) e BIAL (47,3 mil euros).

    No seu portefólio constam ainda a Sanofi (maior fornecedora de vacinas anti-gripe), a AstraZeneca (outra produtora de vacinas anti-covid) e a Gilead. Para esta última, Froes foi mesmo consultor para o uso do remdesivir, um fármaco já desaconselhado pela Organização Mundial de Saúde em doentes-covid. No entanto, Filipe Froes, que também é consultor da Direcção-Geral da Saúde e que integra a equipa responsável por indicar as terapêuticas contra a covid-19 nos hospitais portugueses, mantém o remdesivir na lista de fármacos a prescrever.

    Por sua vez, Luís Varandas, infecciologista pediátrico no Hospital Dona Estefânia (Lisboa) e também professor do Instituto de Higiene e Medicina Tropical, é outro dos subscritores da denúncia contra Jorge Amil Dias, que tem também beneficiado bastante com a pandemia do ponto de vista financeiro.

    Filipe Froes, pneumologista, numa das suas muitas palestras pagas por farmacêuticas.

    Até 2020, as suas relações com a indústria farmacêutica, a título pessoal ou através da sua empresa SISP, Lda., cingiam-se a algumas palestras ou ao financiamento de viagens para congressos internacionais. No total, entre 2013 e 2020 recebeu um total de 18.872 euros, ou seja, apenas 2.359 euros por ano.

    Com o aumento do interesse das farmacêuticas na vacinação de crianças contra a covid-19, Luís Varandas foi contratado pela Pfizer como consultor e palestrante, tendo recebido no ano passado, apenas da Pfizer, 27.148 euros.

    O médico chegou a escrever vários artigos, incluindo no Expresso, e a prestar declarações na imprensa sempre a apoiar a vacinação universal de crianças, mas jamais assumindo a sua posição de consultor da farmacêutica que vendia as vacinas.

    Luís Varandas é também um membro destacado da Ordem dos Médicos, sendo o responsável pela secção de Pediatria do Colégio da Competência da Medicina do Viajante.

    Também bastante lucrativa tem sido a pandemia para Carlos Robalo Cordeiro, antigo presidente da Sociedade Portuguesa de Pneumologia e actual director da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra e Serviço de Pneumologia do Centro Hospitalar desta cidade.

    Tanto pessoalmente como através da sua empresa por quotas (Robalo Cordeiro, Lda.), este pneumologista recebeu já um bom pecúlio das farmacêuticas desde o início da pandemia: em 2020 teve direito a 27.441 euros, e em 2021 deram-lhe 26.006 euros, a título de consultor, palestrante e moderador, além de financiamento de viagens ao estrangeiro para congressos.

    No seu portefólio de negócios contam-se 11 farmacêuticas, entre as quais a AstraZeneca (5.907 euros), a Boehringer Ingelheim (16.478 euros), a Merck Sharp & Dohme (5.345 euros), a Roche (7.950 euros), a Sanofi (2.675 euros) e a Pfizer (2.562 euros). Robalo Cordeiro foi recentemente eleito presidente da European Respiratory Society, onde não surge, à data de hoje, ainda qualquer menção a conflitos de interesse, apesar de ele os ter.

    Miguel Guimarães, bastonário da Ordem dos Médicos, é assim apresentado no júri de um prémio promovido por uma farmacêutica.

    Esta postura é contrária à do presidente cessante, Marc Humbert, que através de uma declaração de interesses elenca todas as relações regulares com 14 farmacêuticas, entre as quais a Janssen, Bayer, AstraZeneca, GSK, Novartis e Sanofi. A revista científica desta poderosa sociedade médica internacional tem como editor-chefe Martin Kolb, que assume ter recebido donativos, honorários pessoais e outros benefícios da Roche, Boehringer Ingelheim, GSK, Gilead, AstraZeneca e Novartis, entre outras farmacêuticas.

    Carlos Robalo Cordeiro é bastante próximo de Miguel Guimarães, tendo sido por ele escolhido para membro do Gabinete de Crise da Ordem dos Médicos para a COVID-19, e para presidir a comissão científica do último congresso desta associação profissional.

    O processo contra Jorge Amil Dias deve ser conduzido pela também pediatra Maria do Céu Machado, antiga presidente do Infarmed e que preside ao Conselho Regional do Sul da Ordem dos Médicos. Tem sido ela a supervisionar todos os processos instaurados contra aqueles que fogem da opinião oficial da Ordem dos Médicos ao nível da gestão da pandemia, sendo bastante próxima de Miguel Guimarães. Aliás, os dois integraram, no ano passado, o júri do BI Award for Innovation in Healthcare, um prémio promovido pela farmacêutica Boehringer Ingelheim, onde também teve assento Carlos Robalo Cordeiro.

  • Covid-19 ‘perdeu’ por 5-39 contra doenças respiratórias

    Covid-19 ‘perdeu’ por 5-39 contra doenças respiratórias

    A cobertura mediática, muitas vezes alarmista, sobre os efeitos da covid-19 nos jovens está a ignorar um facto essencial: os internamentos e as mortes por doenças respiratórias em menores de 25 anos, mesmo sendo eventos muito raros, têm sido em muito maior número desde o início da pandemia. E há ainda um paradoxo: antes da pandemia, os números das doenças respiratórias ainda eram maiores. E mesmo se se juntar a esta contabilidade, para avaliar o verdadeiro impacte da pandemia, os números da covid-19.


    A pandemia da covid-19 está a ter um impacte paradoxalmente benéfico nas faixas etárias dos bebés, crianças, adolescentes e jovens adultos. De acordo com a análise do PÁGINA UM à base de dados pública do Serviço Nacional de Saúde (SNS) da morbilidade e mortalidade nos hospitais portugueses, desde o início da pandemia até Outubro do ano passado, a covid-19 não só tem mostrado ser doença relativamente benigna para os mais jovens, como tem indirectamente reduzido o número de vítimas causadas pelas doenças respiratórias.

    Com efeito, os dados do SNS mostram, de forma inequívoca, que a covid-19 foi responsável, nos primeiros 20 meses da pandemia, pelo internamento de 1.022 menores de 25 anos, uma quantidade muito inferior à registada por doenças respiratórias: 11.344, no mesmo período.

    No caso de mortes, as diferenças são também colossais, mas ainda mais relevantes, segundo os registos de óbito do SNS, que não são exactamente coincidentes com os números divulgados pela Direcção-Geral da Saúde (DGS).

    shallow focus photography of two boys doing wacky faces

    No período em análise, a covid-19 terá sido a causa da morte de uma criança com menos de um ano – falecida no Centro Hospitalar (CH) de Lisboa Central em Setembro de 2020 –, outra com idade entre 1 e 4 anos no CH do Algarve em Agosto do ano passado, e mais três jovens entre os 15 e 24 anos – um em Outubro de 2020 no Hospital Beatriz Ângelo, em Loures; outra no CH de Lisboa Norte, em Fevereiro do ano passado; e ainda outra no CH de Gaia-Espinho, em Agosto também do ano passado. Ou seja, cinco óbitos.

    Morte por doenças respiratórias, durante o mesmo período, foram 39 – quase oito vezes mais. Não houve para nenhuma destas mortes qualquer relevância mediática. Mais estranho ainda porque estão também em causa, em muitas destas situações, crianças de tenra idade. Se até aos 5 anos, a covid-19 levou apenas duas crianças – seguindo os dados do SNS –, já as doenças respiratórias tiraram a vida a três bebés com menos de um ano, e a outras três com idades entre 1 e 4 anos.

    No primeiro grupo etário, os óbitos por doenças respiratórias ocorreram no Hospital de São João (Porto), em Julho de 2020, no CH de Entre Douro e Vouga, no mês seguinte, e no CH de Lisboa Norte, em Fevereiro do ano passado. No segundo grupo observaram-se duas mortes em Março de 2020, logo no início da pandemia, um no CH de Lisboa Norte e outro no Hospital de São João, e uma terceira em Janeiro do ano passado, também no CH de Lisboa Norte.

    No grupo etário seguinte – dos 5 aos 14 anos –, a covid-19 não matou ainda, apesar da pressão para os pais vacinarem os seus filhos, mas as doenças respiratórias foram mais inclementes: nove óbitos registados em hospitais do SNS entre Março de 2020 e Outubro do ano passado.

    Número de internamentos por covid-19 e por doenças respiratórias (DResp) entre Março de 2020 e Outubro de 2021, e nos dois períodos homólogos imediatamente anteriores à pandemia. Fonte: SNS.

    Para a faixa etária subsequente, a menor gravidade da covid-19 ainda se mostra mais evidente: os três óbitos que causou nos primeiros 20 meses da pandemia contrastam com as 24 mortes provocadas por doenças respiratórias.

    Porém, apesar desse impacte das doenças respiratórias nos mais jovens – mas mesmo assim pouco relevante em termos de Saúde Pública, porquanto os menores de 25 anos são quase 2,5 milhões de habitantes –, curiosamente o surgimento do SARS-CoV-2 teve como consequência directa uma redução significativa dos internamentos e mortes neste grupo etário por causa de problemas respiratórias. E mesmo se juntarmos covid-19 às doenças respiratórias.

    Na verdade, comparando os internamentos integrados de covid-19 e doenças respiratórias nos primeiros 20 meses da pandemia (Março de 2020 a Outubro de 2021) com os dois períodos homólogos imediatamente anteriores – em que “somente” havia doenças respiratórias – constata-se que o surgimento do SARS-CoV-2 quase foi uma “bênção” para bebés, adolescentes e jovens adultos. E não só nos internamentos; também os desfechos fatais diminuíram bastante.

    De facto, juntando covid-19 e doenças respiratórias, o SNS contabiliza nos primeiros 20 meses da pandemia um total de 12.366 internamentos e 44 óbitos. Saliente-se que quase 92% desses internamentos e 89% destas mortes são da responsabilidade das doenças respiratórias.

    Ora, estes números contrastam com os 24.610 internamentos e as 71 mortes causadas apenas por doenças respiratórias no período homólogo imediatamente anterior à pandemia, ou seja, entre Março de 2018 e Outubro de 2019.

    Se recuarmos ao período homólogo antecedente – entre Março de 2017 e Outubro de 2018 –, nota-se que o impacte das doenças respiratórias até foi um pouco pior: 25.171 internamentos e 87 mortes. Ou seja, cerca do dobro das mortes verificadas durante a pandemia, quando a covid-19 se juntou às outras doenças respiratórias.

    Apesar disto tudo, intensificou-se, nos últimos meses – e particularmente nas últimas semanas, no caso das crianças –, campanhas de pressão para a vacinação de crianças e jovens contra a covid-19. E mesmo pediatras têm sido alvo de críticas e processos entre os seus pares.

    Foi o caso de Jorge Amil Dias – um dos subscritores de um abaixo-assinado de profissionais de saúde que exigiram a suspensão da vacinação em crianças saudáveis – que, apesar de ser presidente do Colégio da Pediatria da Ordem dos Médicos, foi alvo de um processo disciplinar e de destituição daquele cargo por defender que não se deveria vacinar crianças saudáveis, após o próprio bastonário, Miguel Guimarães, o ter criticado. Saliente-se que o bastonário da Ordem dos Médicos, que diz ser o único representante desta associação profissional de direito público, é um urologista.

  • Há hospitais que não são para velhos

    Há hospitais que não são para velhos

    O PÁGINA UM revela, em exclusivo, o desempenho de todos os hospitais portugueses que tentaram salvar doentes-covid. Uns portaram-se bem; outros tiveram desempenhos francamente medíocres. Eis uma investigação jornalística que destapa um assunto tabu: o Serviço Nacional de Saúde não é igual em todo o lado, e seguir para o hospital errado, à hora errada, pode ser “a morte do artista”.


    A idade foi um dos factores mais determinantes para a letalidade da covid-19, mas em Portugal, apesar de um sistema público teoricamente universal e homogéneo, a sobrevivência dependeu muito, mas mesmo muito, do hospital que calhou na sorte de cada internado.

    Uma análise detalhada do PÁGINA UM à base de dados do Serviço Nacional de Saúde (SNS), que quantifica os internamentos e óbitos por covid-19 – classificada no grupo “Código para fins especiais” –, revela que até Outubro de 2021 foram internadas com esta doença um total de 53.194 pessoas, das quais 77% sobreviveram.

    Contudo, o desempenho de cada hospital variou bastante.

    doctor wearing Green Bay Packers hat

    Considerando apenas as unidades de saúde – Centros Hospitalares (CH), hospitais e Unidades Locais de Saúde (ULS) – que, ao longo dos primeiros 20 meses de pandemia, receberam 300 ou mais doentes-covid, a taxa de sobrevivência atingiu um valor máximo de 90% no Hospital do Divino Espírito Santo (Ponta Delgada) e no Hospital Dr. Nélio Mendonça (Madeira). No extremo oposto, 13 hospitais quedaram-se por valores abaixo dos 75%, grande parte dos quais em regiões do interior.

    A pior situação observou-se no Hospital do Espírito Santo (Évora) que recebeu 610 doentes-covid, tendo 218 morrido, apresentando assim uma taxa de sobrevivência de apenas 64%. Um pouco mais a sul – na ULS do Baixo Alentejo, que integra o Hospital José Joaquim Fernandes (Beja) –, o quadro também foi medíocre: 136 óbitos em 413 doentes-covid internados, registando assim uma taxa de sobrevivência de somente 67%. A ULS do Norte Alentejano – que integra os hospitais de Portalegre e Elvas – também teve uma perfomance sofrível (69%).

    Em centros urbanos de maior dimensão, mesmo nas imediações de Lisboa, detectam-se desempenhos sofríveis: o CH de Setúbal contabilizou uma taxa de sobrevivência de 68% (terceira pior situação nacional, a par da ULS do Nordeste), reflectindo a morte de 471 dos 1.480 doentes-covid internados, enquanto o Hospital de Vila Franca, que recebeu 1.219 doentes não conseguiu salvar 364, apresentando assim uma taxa de sobrevivência de apenas 70%.

    Nenhuma das unidades de saúde da região Centro mostrou desempenhos ao nível dos melhores. A situação menos desfavorável foi a do CH de Coimbra (taxa de sobrevivência de 75%), sendo que as outras unidades registaram valores ainda mais aquém deste indicador: Baixo Vouga (73%), Tondela-Viseu (72%), Castelo Branco, Médio Tejo e Santarém (71%, em todos) e Leiria (69%).

    Nas 13 unidades de maiores dimensões (considerando aquelas que receberam mais de 1.500 doentes-covid), os melhores desempenhos foram do CH Universitário do Porto, que integra o Hospital de Santo António, e do CH de Entre Douro e Vouga (agrupando os hospitais da Feira, Oliveira de Azeméis e São João da Madeira), com taxas de sobrevivência de 83%.

    Melhores e piores desempenhos das unidades do SNS, m função das taxas de mortalidade (TM), e de sobrevivência (TS), em função dos internamentos (INT) e óbitos (OBIT). Fonte: SNS. Nota: Pode descarregar ficheiro integral no final da notícia.

    Com desempenhos próximos (81% neste indicador) surgem o CH de Lisboa Central – que integra os hospitais de São José e Curry Cabral – e o denominado Hospital Amadora-Sintra. No extremo oposto, com 75% de taxa de sobrevivência, encontram-se o CH de Coimbra e o CH de Vila Nova de Gaia-Espinho.

    Para uma correcta avaliação da performance de cada unidade de saúde, medida em termos de taxa de sobrevivência, mostra-se relevante considerar a estratificação etária dos doentes-covid, uma vez que a gravidade desta doença depende muito da idade dos internados.

    Com efeito, de acordo com a base de dados consultada pelo PÁGINA UM, embora a taxa de sobrevivência global seja de 77,37%, no caso dos menores de 25 anos foi praticamente de 100%, e situou-se nos 97,72% na faixa etária entre os 25 e os 44 anos, e desceu para os 92,7% no grupo com idades entre os 45 e os 64 anos.

    Só a partir dos 65 anos – e, infelizmente, a desagregação não é mais fina, separando, por exemplo, o subgrupo dos maiores de 80 anos –, a taxa de sobrevivência começa a ser menor: pouco mais de dois em cada três internados (68,3%) sobrevive. Ora, tendo em conta que o grupo dos idosos representou 65% dos internados e 91% dos óbitos totais em meio hospitalar, este aspecto mostra-se crucial para aferir o desempenho de cada unidade de saúde no combate à covid-19.

    Taxa de sobrevivência hospitalar (%) dos doentes-covid por grupo etário até Outubro de 2021. Fonte: SNS

    Daí que, por exemplo, uma taxa de sobrevivência global apenas razoável possa afinal mostrar um desempenho muito positivo se o peso dos internados mais idosos – e, portanto, mais vulneráveis – for muito relevante, o que sucede em alguns hospitais do interior do país.

    Posto isto, para o grupo específico dos idosos (maiores de 65 anos), o PÁGINA UM identificou hospitais que, enfim, mostraram desempenhos muito sofríveis, enquanto outros apresentaram performances muitíssimo boas.

    Note-se, aliás, que não é de estranhar uma quase coincidência no posicionamento das unidades de saúde em termos de desempenho em relação aos idosos face ao que se verifica para a totalidade dos internados. Contudo, na comparação das taxas de sobrevivência dos idosos salta à vista um aspecto deveras preocupante: há hospitais em que a probabilidade de um idoso não sobreviver foi muitíssimo superior à de outros.

    No extremo mais favorável, o PÁGINA UM detectou quatro unidades de saúde com taxas de sobrevivência de idosos de 80% ou mais: Hospital do Divino Espírito Santo (Ponta Delgada) e no Hospital Dr. Nélio Mendonça (Madeira), ambos com 85%, e Hospital de Santa Maria Maior (Barcelos) e Hospital Senhora da Oliveira (Guimarães), com 82% e 80%, respectivamente.

    No pior extremo, com taxas de sobrevivência de 60%, ou inferior, estão o Hospital do Espírito Santo (Évora), com apenas 53% – morreram 205 dos 439 idosos internados com covid-19 –, a ULS do Baixo Alentejo (56%), o CH de Setúbal (58%) – faleceram 419 dos 987 idosos internados –, a ULS do Norte Alentejano (59%), o Hospital de Vila Franca de Xira (60%) – morreram 329 dos 814 idosos internados – e a ULS de Castelo Branco (também 60%).

    Caso se considerem as unidades de saúde com mais de 1.000 doentes-covid de mais de 65 anos, a região Norte teve os melhores desempenhos, com destaque para o CH de Trás-os-Montes e Alto Douro (taxa de sobrevivência de 76%), seguindo-se os CH Universitário do Porto e de Entre Douro e Vouga, ambos com 75%. Nas unidades da Grande Lisboa, as taxas de sobrevivência andaram entre os 60% e 70%.

    person in gray long sleeve shirt holding black tablet computer

    Para estas idades – e sobretudo pela grande variação neste indicador nas diversas unidades de saúde –, uma diferença de 10 pontos percentuais pode representar muitas vidas. Por exemplo, se os três CH de Lisboa – onde morreram 1.162 dos 3.777 doentes-covid com mais de 65 anos – tivessem um desempenho de 80% em vez dos 69,2% que registou, então teriam conseguido salvar mais cerca de 400 pessoas.

    Se, globalmente, a taxa média nacional de sobrevivência dos mais idosos tivesse sido, por exemplo, de 75% (para colocar uma fasquia exequível), em vez dos (reais) 68%, ter-se-iam então salvado mais 2.315 vidas. Se essa taxa subisse aos 80%, então salvavam-se mais 4.044 idosos até Outubro do ano passado.

    Por fim, importa também salientar um outro aspecto preocupante: mesmo nas populações menos vulneráveis à covid-19 – os menores de 65 anos –, o desempenho dos hospitais do SNS foi também bastante diferenciado. Quatro unidades de saúde conseguiram taxas de sobrevivência superiores a 98%: Hospital da Figueira da Foz (98,7%), CH do Oeste (98,6%), CH do Médio Ave (98,4%) e Hospital Dr. Nélio Mendonça (Funchal, com 98,1%).

    No extremo oposto, encontra-se o CH de Setúbal, o único com uma taxa de sobrevivência abaixo dos 90%, sendo acompanhado de perto de outras unidades com fracos desempenhos nos outros dois indicadores retratados pelo PÁGINA UM, o que confirma que existem problemas estruturais em diversos hospitais portugueses que tiveram efeitos directos no impacte da pandemia ao nível da mortalidade. O vírus não matou sozinho.

    NOTA: Para obter o ficheiro de dados com os internamentos, óbitos e taxas de mortalidade e de sobrevivência hospitalar de doentes-covid por grupo etário, pode descarregar AQUI.

  • Mais de 6.000 óbitos oficiais por covid-19 ocorreram fora dos hospitais ou foram inventados

    Mais de 6.000 óbitos oficiais por covid-19 ocorreram fora dos hospitais ou foram inventados

    Números das mortes por covid-19 nos hospitais são muito menores do que aqueles apontados pela Direcção-Geral da Saúde. Ou terá havido milhares de pessoas a morrerem por causa do SARS-CoV-2 sem prévia assistência hospitalar adequada, ou então as autoridades de Saúde e o Governo andaram a empolar números para fomentar uma campanha de medo e para esconder o excesso de mortalidade não-covid.


    Até finais de Outubro do ano passado, são menos 6.122 os óbitos por covid-19 registados em meio hospitalar em comparação com os números oficiais da Direcção-Geral da Saúde(DGS). Esta é a diferença obtida comparando os números oficiais da DGS – que até 31 de Outubro de 2021 indicavam 18.162 mortes causadas pelo SARS-CoV-2 – e os certificados de óbitos passados nos hospitais, que apontam para apenas 12.040 mortes nos primeiros 20 meses da pandemia.

    A garantia de estes 12.040 ser o número exacto de óbitos por covid-19 em hospitais, e que constam expressamente nos certificados de óbito, é simples de dar: uma base de dados pública da mortalidade hospitalar, que identifica, por mês, o número de óbitos por grandes classes de doença, a unidade de saúde e o grupo etário. A base de dados está integrada no Serviço Nacional de Saúde (SNS).

    woman in blue long sleeve shirt covering face with white textile

    Por norma, as diversas doenças estão agrupadas: por exemplo, não se consegue saber quantas mortes são por AVC ou por ataque cardíaco, porque ambas integram as doenças do aparelho circulatório. Porém, no caso concreto da covid-19, esta é a única doença existente classificada no grupo dos “Códigos para fins especiais”, tendo recebido o código U071. Por esse motivo, não há registo de mortes nesta classe entre Janeiro de 2017 – data de início de registo da base de dados é Fevereiro de 2020.

    A enorme discrepância nos números detectada pelo PÁGINA UM, numa cuidadosa análise desta base de dados, pode dever-se a uma de duas causas, qualquer das quais bastante preocupante. Ou houve 6.122 vítimas da pandemia que morreram sem assistência hospitalar; ou então a DGS andou a manipular o número de óbitos por covid-19 para desviar as atenções do excesso de mortalidade não-covid, de modo a esconder também o descalabro do Serviço Nacional de Saúde no tratamento de outras doenças descuradas durante a pandemia.

    No primeiro caso, um número tão elevado de mortes fora das unidades do Serviço Nacional de Saúde (SNS) numa doença tão infecciosa – e que obrigou a fortes restrições na sociedade e a uma logística hospitalar sem precedentes – mostra justificação pouco plausível ou mesmo credível, sobretudo devido às próprias características da infecção pelo SARS-CoV-2. Ou seja, num quadro clínico associado à hipoxemia e/ou falta de ar em situações críticas, pelo que a morte, nas situações mais graves, pelo menos é antecedida por uma admissão à urgência hospitalar ou no decurso de um internamento.

    Note-se, por exemplo, que antes da pandemia, quase todos os óbitos registados por doenças respiratórias ocorriam em meio hospitalar. Já no caso das doenças do aparelho circulatório ou por neoplasias é mais comum que ocorram fora do meio hospitalar.

    O cenário de mortes frequentes com covid-19 de doentes sem prévia assistência hospitalar adequada face ao seu estado – e com o óbito a ser certificado em residências ou lares – não é de descartar, mas seria de grande gravidade.

    Uma hipótese alternativa – mas neste caso com o consequente empolamento dos números da covid-19 – será a inclusão de assintomáticos (ou seja, pessoas com teste positivo, mas sem sintomas) que acabaram por morrer de outras doenças. Estes casos poderão ter ocorrido, em maior ou menor grau, sobretudo em lares de idosos.

    O PÁGINA UM aguarda, aliás, desde 25 de Janeiro, que a DGS ceda dados sobre o número de utentes, por Estrutura Residencial para Pessoas Idosas (ERPI), cujos óbitos tenham ocorrido numa instituição com casos confirmados de covid-19 ou em utente ou trabalhador que tenha apresentado sintomas compatíveis com a doença.

    Essa informação é essencial para apurar não apenas o verdadeiro impacte da covid-19 em lares, como também o número de idosos vítimas destas doenças que nem sequer mereceram preocupação para lhes ser dada assistência hospitalar antes do desfecho fatal.

    Uma outra alternativa em cima da mesa será simplesmente os óbitos por covid-19 terem sido cruamente manipulados – ou seja, as mortes ocorreram por outras causas evidentes, mas a DGS terá decidido manipular os números da covid-19.

    Com esse estratagema, o Governo conseguiria não apenas mostrar artificialmente uma maior gravidade da pandemia como também, face ao aumento em alguns períodos da mortalidade total, atenuar publicamente, de forma habilidosa, o excesso de mortalidade não-covid.

    Esta última hipótese mostra-se mais forte quando se analisa determinados meses. Por exemplo, em Maio de 2020, confrontando os óbitos em meio hospitalar (apenas 180) e os registos oficiais pela DGS (417), conclui-se que 57% das vítimas terão afinal morrido fora do hospital, uma situação de probabilidade muito baixa, porque, no início da pandemia, todos os doentes sintomáticos eram internados.

    No Inverno de 2020-2021, as discrepâncias em termos absolutos são enormes. Se os dados da DGS estivessem correctos, em Novembro de 2020 teriam morrido, por covid-19, um total de 1.420 pessoas nos hospitais e 613 fora dos hospitais. No mês seguinte essa relação foi de 1,628 nos hospitais e 767 fora dos hospitais.

    No início do ano passado, a diferença absoluta ainda é maior. Em Janeiro – oficialmente, o mês com mais óbitos no total e por covid-19 –, os dados da DGS apontam para um total de 5.785 vítimas da pandemia, mas apenas 3.207 surgem registadas nos hospitais. As restantes 2.578 vítimas, a terem mesmo morrido por covid-19, foi fora do hospital. Em Fevereiro do ano passado, também mais de mil pessoas (1.119) aparecem nos números oficiais da DGS mas não faleceram nos hospitais.

    Óbitos mensais por covid-19 nos hospitais e nos registos oficiais. Fonte: SNS e DGS

    Ao longo dos meses seguintes, as discrepâncias são menores em termos absolutos e relativos, havendo mesmo dois meses (Abril e Maio de 2021) em que os registos de mortes por covid-19 nos hospitais até são, estranhamente, superiores aos números que depois surgiram naqueles períodos nos boletins da DGS.

    No total dos 12.040 óbitos por covid-19 registados nos hospitais portugueses até Outubro de 2021 – que representam, assim, apenas 66,3% do total à data indicado pela DGS –, 1.319 foram contabilizados nos três centros hospitalares da cidade de Lisboa.

    No Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central – que integra o Hospital de São José – registaram-se 521, enquanto nos de Lisboa Norte – que agrega o Hospital de Santa Maria – e de Lisboa Ocidental – que integra o Hospital de São Francisco Xavier – houve 399 em cada. O Hospital de Coimbra foi individualmente aquele com maior número de óbitos (703 durante os primeiros 20 meses da pandemia).

    O PÁGINA UM divulgará amanhã o desempenho de cada hospital, ou seja, a taxa de sobrevivência dos internamentos por covid-19, uma vez que essa variável se mostrou bastante relevante ao longo da pandemia.

    NOTA: A lista completa de hospitais e óbitos por covid-19 até 31 de Outubro de 2021 pode ser consultada AQUI.

  • Do jogo sujo

    Do jogo sujo


    A CNN Portugal fez uma sórdida campanha suja contra o PÁGINA UM em Dezembro passado acusando-me, sem me identificar pelo nome (mas facilmente se chegaria a mim), de eu ter divulgado numa “página negacionista”, dados clínicos de crianças, dados esses que estavam anonimizados.

    Divulgar dados clínicos, usando até uma médica, para criar pânico já é correcto para a CNN Portugal.

    O processo está em queixa na ERC, mas enfim a CNN Portugal nem teve coragem de mandar fazer esse sujo jogo por um jornalista: foi um jornalista-estagiário a tratar da coisa.

    Agora, já não faz mal para a CNN – nem choca o especialista em Urologia Miguel Guimarães, circunstancial presidente de uma associação profissional de direito público conhecida por Ordem dos Médicos – que se divulgue com detalhe, e que haja até uma médica a comentar, o caso do tratamento por ECMO de um bebé de 13 meses com miocardite eventualmente associada à covid-19.

    Independentemente de ser a covid-19 a causa, há todo um jogo sujo nisto, até porque a mensagem final é sempre a mesma: vacinem crianças, mesmo se o risco de morte ou de situação grave é remota.

    Recordo que nascem por ano cerca de 80 mil crianças, e que as pneumonias “normais” ou as meningites, por exemplo, embora muito raras, são até mais graves e perigosas do que a covid-19.

    Aliás, estamos sempre com o mesmo problema da informação enviesada: fala-se de casos da covid-19 sem nunca se apresentar dados comparativos.

    Quantos casos de tratamento por ECMO se fizeram em crianças com miocardite por outros vírus (porque pode suceder) antes da pandemia? É pergunta que o PÁGINA UM irá fazer ao Hospital de São João, já que a CNN Portugal não fez.

  • Bloqueio da GoFundMe cria onda de solidariedade sem precedentes

    Bloqueio da GoFundMe cria onda de solidariedade sem precedentes

    Justin Trudeau, primeiro-ministro canadiano, andou uma semana a diabolizar os manifestantes do Freedom Convoy. Na sexta-feira conseguiu aquilo que aparentava ser uma vitória: a plataforma de crowdfunding GoFundMe bloqueou 9 milhões de dólares canadianos, considerando que os organizadores promoviam “violência e assédio”. Como reacção, uma campanha alternativa angariou já, em menos de dois dias, mais de 3 milhões de dólares americanos. E a comunidade de criptomoedas também se está a mobilizar.


    O efeito do bloqueio da GoFundMe ao Freedom Convoy está a ser desastroso para o Governo canadiano. Cedendo a pressões políticas, a decisão da maior plataforma mundial de crowdfunding em bloquear, na noite da passada sexta-feira, nove milhões de dólares canadianos (cerca de 6,3 milhões de euros) arrecadados, por donativos de mais de 120 mil pessoas, resultou não só num feroz coro de críticas populares contra a GoFundMe, como incentivou uma onda de solidariedade sem precedentes.

    Em cerca de dois dias completos, quando eram 23:00 horas em Lisboa, os organizadores do Freedom Convoy já tinham conseguido ultrapassar os 3 milhões de euros, correspondentes a mais de 3,4 milhões de dólares, através da plataforma GiveSendGo. E aponta-se agora para uma meta acima daquele prevista com a GoFundMe: 16 milhões de dólares.

    Até às 21 horas de hoje, em Lisboa, a nova campanha de crowdfunding do Freedom Convoy angariou quase 3,3 milhões de dólares.

    Para assegurar a legalidade e transparência do processo de gestão desta verba – para compra de combustíveis, alimentação dos manifestantes e alojamento sobretudo dos motoristas – foi criada a Incorporated Freedom 2022 Human Rights and Freedom Association.

    O facto de a GiveSendGo ser claramente de cariz religioso – assume-se como a principal plataforma cristã mundial de angariação de fundos – retira também espaço a ataques sobre extremismos dos protestos contra as políticas restritivas do Governo Trudeau. Em todo o caso, apesar do sucesso da nova campanha de angariação, a plataforma da GiveSendGo tem estado com alguns problemas de acesso, que se deverão, segundo os seus responsáveis, a “fortes ataques de negação de serviço [DDOS attacks] e com bots maliciosos”.

    Mas a decisão da GoFundMe trouxe também um reforço da onda de solidariedade da comunidade de criptomoedas, um mundo financeiro alternativo, não controlável pelos bancos centrais e, geralmente, imune às pressões ou intimidações políticas e interesses financeiros.

    Por exemplo, uma campanha de angariação na plataforma de crowdfunding Tallycoin – exclusivamente usando criptomoedas e não rastreável – propôs angariar 615 milhões de satoshi (SAT), ou seja, 6,15 bitcoins, que equivale actualmente a quase 250 mil euros, envolvendo cerca de 3.600 contributos.

    Antes do bloqueio da GoFundMe, esta campanha promovida por alguém sob anonimato (usando o pseudónimo Honkhonk Hodl), tinha apenas recebido um pouco menos de 10 mil euros em bitcoins; neste momento, já foram transferidas criptomoedas no valor de 226 mil euros, superando os objectivos iniciais. Ou seja, cresceu quase 23 vezes em menos de dois dias.

    Esta onda de solidariedade coincide com o segundo fim-de-semana de protestos em Ottawa, inicialmente apenas contra a obrigatoriedade de vacinação contra a covid-19 dos camionistas que atravessassem a fronteira com os Estados Unidos, ou a realização de testes e quarentena. No entanto, as manifestações já se alargaram para outras restrições, sendo também patente protestos por outras causas, que reflectem um mal-estar popular perante as posturas do Governo liberal de Trudeau.

    Durante a última semana, o primeiro-ministro Justin Trudeau chegou a acusar os protestantes de serem “uma minoria marginal” e de até “roubarem comida de sem-abrigos”, declarando que “não há lugar no nosso país para ameaças, violência e ódio”.

    Em mensagens no Facebook e Twitter, na terça-feira passada, congratulou-se ainda pela condenação unânime no Parlamento do “antissemitismo, islamofobia, racismo anti-negro, homofobia e transfobia que têm sido mostrados em Ottawa nos últimos dias”, lançando um apelo: “Juntos, vamos continuar a trabalhar para tornar o Canadá mais inclusivo”.

    Comunidade das criptomoedas respondeu também com solidariedade ao bloqueio da campanha no GoFundMe.

    Por proposta do deputado Taleeb Noormohamed, do Partido de Liberal liderado por Trudeau, o comité parlamentar deu ênfase a alegados actos criminosos da campanha de angariação, manifestando o interesse em ouvir responsáveis do Centro de Análise de Transações e Relatórios Financeiros do Canadá (FINTRAC).

    O Governo de Trudeau pretendia, assim, diabolizar os protestos e “secar” o seu financiamento. Aparentemente, julgaria ter conseguido com a suspensão da campanha pela GoFundMe. Os últimos dois dias demonstraram, de forma avassaladora, que a estratégia estava errada. Os protestos intensificaram-se mais, e aparentam manter-se caso não haja um recuo governamental. E o sucesso, até financeiro, desta campanha canadiana pode mesmo servir de rastilho para movimentos similares em outros países.

    N.D. – O PÁGINA UM, conforme defendeu em editorial desta manhã, decidiu suspender a sua angariação pontual de fundos através do GoFundMe, onde tinha angariado 13.884 euros (valor bruto, sem deduções de cerca de 10% em comissões), passando a optar pela plataforma MIGHTYCAUSE.

  • GoFundMe fez sair hoje um tiro pela culatra

    GoFundMe fez sair hoje um tiro pela culatra

    Por pressões do Governo do liberal Justin Trudeau, a principal plataforma de crowdfunding do Mundo bloqueou cerca de 6,3 milhões de euros, provenientes de mais de 120 mil doadores, que deveriam financiar os protestos populares em Ottawa e outras regiões do Canadá contra as restrições no âmbito da pandemia. A GoFundMe acusou o Freedom Convoy de estar a promover acções de violência e assédio. O efeito desta medida está a ser devastador, mas só para a credibilidade da GoFundMe.


    A GoFundMe, a mais conhecida plataforma de crowdfunding do Mundo, está a ser inundada de críticas pela decisão de suspender a libertação de 9 milhões de dólares canadianos (cerca de 6,3 milhões de euros) ao Freedom Convoy – o movimento de protesto liderado por camionistas –, por pressão das autoridades canadianas.

    Apesar da ausência de evidências revelantes de extremismo na invasão pacífica do centro de Ottawa durante a última semana, aquela empresa de angariação de fundos decidiu cancelar a campanha de crowdfunding por alegada violação dos termos de serviço, considerando que os organizadores estariam a “promover a violência e assédio”.

    GoFundMe bloqueou a campanha do Freedom Convoy quando já tinham sido angariados mais de 10 milhões de dólares canadianos.

    O efeito desta decisão da GoFundMe – uma empresa de capitais de risco norte-americana – está a ter repercussões fortemente negativas na sua credibilidade, particularmente visível na Internet. Na sua página do Facebook, onde tem mais de 1,9 milhões de seguidores, a GoFundMe nem sequer arriscou fazer referência ao caso Freedom Convoy, mas mesmo assim encontram-se mais de 3.500 comentários de internautas furiosos no seu último post, publicado à meia-noite de anteontem, sobre uma campanha de apoio às crianças de uma escola de Boston.

    A Trustpilot – uma conhecida plataforma dinamarquesa de avaliação de consumidores sobre empresas de todo o Mundo – decidiu esta tarde suspender temporariamente as avaliações feitas pelos internautas à GoFundMe. No seu site, o Trustpilot diz estar agora a investigar “um aumento incomum nas avaliações” devido à atenção dos media. O PÁGINA UM percorreu as 1.000 mais recentes críticas anteriores à suspensão, feitas nas últimas seis horas: todas, sem excepção, dão nota 1/5 à GoFundMe, sempre acompanhadas de fortes críticas sobre a decisão de suspender os recursos financeiros doados ao Freedom Convoy.

    O impacte desta decisão já atravessou fronteiras. E a nível político. Ron DeSantis, governador da Florida – um dos estados norte-americanos sem restrições no âmbito da pandemia –, considerou esta tarde, nas suas contas do Twitter e do Facebook, estar-se perante “uma fraude”. DeSantis afirmou estar a trabalhar com a procuradora-geral do seu Estado, Ashley Mood, para investigar as “práticas enganosas” da GoFundMe, exigindo que fossem devolvidos imediatamente aos doadores os fundos que tinham dado ao Freedom Convoy.

    Esta pressão política – a par de inúmeras críticas nas redes sociais – levou já a GoFundMe a recuar na sua pretensão inicial, divulgada no final da noite de ontem, de encaminhar as verbas recolhidas pelo Freedom Convoy para instituições de caridade, sobre as quais teria um papel de decisão, excepto se os doadores fizessem um pedido de retorno até 19 de Fevereiro. Esta tarde, a empresa já declarou que, afinal, “devido ao feedback dos doadores, estamos simplificando o processo” de devolução, prometendo que será já automático e no prazo de “sete a 10 dias úteis”.

    Ao invés de enfraquecer o Freedom Convoy, a pressão do Governo Trudeau e mesmo da Câmara dos Comuns do Canadá – que até desejam ouvir a entidade responsável pelo controlo da “lavagem de dinheiro” – acabou por ter assim um devastador efeito boomerang do ponto de vista da credibilidade e mesmo em termos políticos. E, em vez de esvaziar a contestação, pela perda financeira, até deu um inesperado alento aos organizadores num fim-de-semana com uma redobrada participação popular nos protestos.

    Plataforma da GiveSendGo está com dificuldades em aguentar fluxos de visitantes para apoiarem os protestos do Freedom Convoy.

    Ainda esta madrugada, foi aberta uma nova campanha em outra plataforma – a GiveSendGo, apresentada como o site cristão líder em crowdfunding. Em 15 horas foram já angariados quase 1,2 milhões de dólares americanos (um pouco mais de um milhão de euros).

    O site da GiveSendGo tem, aliás, tido alguns problemas de acesso por via do tráfego elevado. Será expectável que uma grande parte dos doadores da campanha da GoFundMe desloquem as verbas entretanto devolvidas para a campanha no GiveSendGo.

    Uma das promotoras da Freedom Convoy, Tamara Lich, aponta agora para os 16 milhões de dólares americanos como meta, o que perspectiva uma “maratona” de protestos contra as políticas de Trudeau. A atitude quase belicista do primeiro-ministro canadiano contra os manifestantes começa a ser criticada, por hostilizar uma contestação nascida nas redes sociais.

    Ainda hoje, uma cronista do Toronto Star, Heather Scofield, a pretexto da força dos media sociais e da liberdade de expressão, destacava que os protestos do Freedom Convoy deixaram “claro que, como sociedade, estamos cansados ​​da pandemia, estamos fartos das restrições e estamos perdendo a paciência uns com os outros”, acrescentando que “as redes sociais pegaram esses sentimentos, os exageraram e os incendiaram num momento em que precisamos de nos acalmar.”

    N.D. – O PÁGINA UM, conforme defendeu em editorial desta manhã, decidiu suspender a sua angariação pontual de fundos através do GoFundMe, onde tinha angariado 13.884 euros (valor bruto, sem deduções de cerca de 10% em comissões), passando a optar pela plataforma MIGHTYCAUSE.