Autor: Luís Gomes

  • Javier Milei: mas, afinal, a catástrofe não chegou?

    Javier Milei: mas, afinal, a catástrofe não chegou?


    Aquando da subida ao poder do autoproclamado anarcocapitalista Javier Milei, em Dezembro de 2023, mais de cem economistas — entre os quais o inevitável Thomas Piketty — assinaram uma carta aberta publicada no jornal britânico The Guardian, alertando para os perigos das propostas do argentino. Diziam que Milei levaria a Argentina à “devastação económica”. A propaganda local garantia que o caos era iminente. A Iniciativa Liberal fugia de Milei a sete pés. O horror “ultraliberal” aproximava-se!

    Passados 19 meses, o silêncio é ensurdecedor. Onde está a debandada de argentinos? Onde está a catástrofe social que, juravam, resultaria da eliminação de subsídios, do despedimento massivo de funcionários públicos, da extinção de ministérios e do corte na despesa pública? Onde estão os factos que sustentam a narrativa da “devastação”?

    Vamos aos números. Quando Milei subiu ao poder, a inflação mensal era de 25,5%. Sim, mensal. Isso equivalia a uma inflação anual superior a 1.400% — mais precisamente, 1.427%. Traduzido: um bem que custava 100 pesos no início do ano passaria a custar 1.526 pesos no final. Uma hiperinflação clássica, das que arrasam salários, poupanças e vidas.

    Hoje, a inflação ronda os 1,5% ao mês, ou seja, cerca de 20% ao ano. É ainda alta? Claro que sim. Mas é um corte de mais de 90% em termos anuais — em menos de dois anos. Um feito. Especialmente tendo em conta que não se tratou de um ajuste gradualista à europeia, mas de uma guinada radical contra o mais perverso parasitismo estatal: a inflação.

    A herança? Em Dezembro de 2023, o Estado argentino acumulava um défice fiscal e externo combinado de 17% do PIB — uma aberração económica. O PIB encontrava-se em contracção — com uma queda de 1,6% em termos anualizados no segundo trimestre de 2023e mais de 41% dos argentinos viviam na pobreza, dos quais 12% em pobreza extrema! O país que, no início do século XX, era mais rico do que grande parte da Europa e dos mais ricos do mundo, transformara-se num campo de ruínas socialistas.

    Hoje, a economia cresce. No primeiro trimestre de 2025, o PIB cresceu 5,8% em termos anualizados. Em Abril, a actividade económica subiu 7,7% face ao mesmo mês do ano anterior e 1,9% face ao mês anterior. São números impressionantes, que colocam a Argentina entre os países com maior dinamismo económico do continente — talvez até do mundo.

    Na despesa pública, a mudança foi ainda mais radical: 30% de corte nos gastos estatais. Cerca de 48 mil funcionários públicos foram despedidos, cerca de 9,8% dos assalariados estatais — menos parasitas, mais trabalhadores no sector produtivo. Estes indivíduos, outrora sustentados pelo saque legalizado do Estado, foram obrigados a procurar valor no mercado — ou seja, a oferecer bens e serviços voluntariamente adquiridos por quem os quer ou a trabalhar para quem os faz.

    Em 2024, o Estado argentino registou um superavit fiscal de 0,3% do PIB. Relembremos: em apenas um ano, saiu-se de um défice de 17% para um saldo positivo! Um corte de 17 pontos percentuais aproximadamente. Quase sem paralelo na história recente de qualquer país dito “democrático”.

    Quanto à pobreza? Também aí houve melhorias. A taxa caiu de 41,7% para 38% no final de 2024, e estimativas recentes sugerem nova redução para cerca de 31,7% no início de 2025. Em números absolutos: milhões de argentinos saíram da pobreza em menos de dois anos — não por programas estatais ou esmolas públicas, mas por redução da inflação, brutal corte na despesa pública e redução de legislação e regulação que asfixiava a economia.

    Tudo isto foi conseguido sem recorrer à emissão de mais dívida pública, sem recorrer à chantagem moral do “direito à habitação”, do “direito ao subsídio”,  ou do “direito à educação” — e, acima de tudo, sem medo de enfrentar a besta estatal.

    Mas nem tudo é perfeito. Para um libertário, duas instituições são incompatíveis com a liberdade: a despesa pública — que confisca o fruto do trabalho — e o Banco Central, esse cartel criminoso com autorização legal para falsificar moeda.

    Quando o governo emite dívida, o Banco Central compra-a com dinheiro criado do nada. Quem recebe este dinheiro novo primeiro — os bancos, os políticos, os plutocratas — consegue usá-lo antes que os preços subam.

    Os pobres, quando finalmente recebem o novo papel, já nada conseguem comprar com ele. É um roubo legalizado. Foi isso que aconteceu em Portugal durante a putativa pandemia, com a impressão massiva do BCE e a destruição silenciosa do poder de compra dos salários e poupanças.

    Milei atacou a despesa pública — e fê-lo com coragem. Mas não fechou o Banco Central, apesar de o ter prometido, que era inegociável. Enquanto o Banco Central existir, continuará a ser o instrumento por excelência de controlo, confisco e empobrecimento. Permite ao Estado evitar o controlo orçamental e garantir o financiamento das elites próximas do poder. Permite manipular taxas de juro, controlar fluxos de capitais, e condicionar toda a economia com um simples clique.

    Não basta reduzir o Estado: é preciso extirpá-lo pela raiz. Não basta cortar na despesa: é preciso remover o princípio do confisco legal. O Banco Central é a espinha dorsal do sistema estatista moderno. Sem ele, não haveria guerras intermináveis, programas sociais insustentáveis, nem um exército permanente de burocratas a parasitar a população. O Banco Central é a máquina que imprime os meios com que o Estado compra a obediência. A sua existência não é apenas um erro técnico: é uma imoralidade.

    A solução é clara: privatizar a produção de moeda, restabelecer o padrão-ouro (ou a concorrência entre moedas privadas) e abolir o monopólio do Banco Central. Num sistema livre, cada indivíduo escolheria em que moeda confiar, e os bancos que praticassem reservas fraccionárias sem consentimento seriam tratados como falsificadores.

    Milei prometeu fechar o Banco Central. Chamou-o de “o cancro da economia argentina”. Repetiu em debates, entrevistas e comícios que isso era “não negociável”. Mas o cancro continua lá. Domesticado, talvez. Vigiado, sem dúvida. Mas vivo. Enquanto viver, será sempre um instrumento de opressão.

    O verdadeiro teste a Milei será esse. Não basta despedir funcionários ou cortar subsídios. Não basta privatizar empresas ou liberalizar importações. O verdadeiro teste é desmantelar a máquina de falsificação monetária. É devolver ao povo argentino o direito de escolher a sua moeda. De proteger a sua poupança. De viver sem ser espoliado todos os meses por um imposto invisível.

    Se Milei quer realmente ser recordado como o primeiro governante libertário da história moderna, terá de ir até ao fim. Terá de fazer o que nenhum outro fez: abolir o Banco Central e permitir que os argentinos seleccionem a sua moeda livremente, sem imposição estatal — ouro, prata, Bitcoin, ou qualquer outra moeda escolhida livremente pelos indivíduos.

    Só assim terminará a farsa. Só assim haverá verdadeira liberdade económica. Só assim, talvez, os libertários poderão dizer: “Pela primeira vez, um de nós chegou ao poder — e não cedeu.”

    Luís Gomes é gestor (Faculdade de Economia de Coimbra) e empresário


    N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.

  • Como sair da pobreza?

    Como sair da pobreza?


    A pobreza extrema foi, durante milénios, a condição natural da humanidade. Não era um acaso, nem uma injustiça histórica, nem o resultado de alguma trama dos ricos contra os pobres.

    Era simplesmente a realidade bruta: escassez de comida, abrigos rudimentares, mortalidade infantil, vidas curtas e sofrimento permanente. A verdadeira pergunta é outra: como é que se saiu dessa pobreza? Por que motivo essa saída ocorreu na Europa, mais precisamente em regiões como a Inglaterra, Bélgica, Alemanha, os países escandinavos, o império Austro-húngaro e os EUA, e só mais tarde no sul da Europa?

    (Imagem 1) Média global do PIB per capita mundial entre o ano 1 e 2023
    (Unidade: Dólares internacionais a preços de 2021) / Fonte: OurWorldinData.org; Dados compilados a partir de várias fontes pelo Banco Mundial (2025); Bolt e van Zanden – Base de Dados do Projecto Maddison 2023; Base de Dados Maddison 2010

    A resposta não está na geografia nem em dádivas naturais. Está na cultura. Mais concretamente, está na adopção de valores que promovem o aforro, o capitalismo, o acesso a energia barata e uma ética de trabalho enraizada.

    Começamos pelo aforro. Poupar é, essencialmente, abdicar de um consumo imediato em favor de um futuro melhor. Imagine-se um homem numa ilha com coqueiros. Se quer aumentar a produção de cocos, terá de construir uma vara. Para isso, precisa de tempo e energia. Para sobreviver durante essa produção, precisa de ter poupado cocos. A vara não o alimenta, mas permite-lhe colher mais no futuro. Isso é um bem de capital. Essa é a essência do desenvolvimento: produzir bens de capital através da poupança.

    Ora, sociedades que não poupam vivem como crianças. Perante a escolha entre um caramelo hoje ou cinco amanhã, preferem o de hoje. Não há planeamento, não há responsabilidade, não há futuro. A sociedade moderna, embriagada de consumismo e subsídios, tornou-se infantil.

    silhouette of man standing on stage

    Mas para que exista poupança é necessário um certo tipo de cultura. O cristianismo e a Igreja Católica desempenharam aqui um papel fundamental. Desde cedo, a moral cristã valorizou a frugalidade, o trabalho, o sacrifício e a preparação para um bem maior. As ordens monásticas, com a sua disciplina, tornaram-se verdadeiras fábricas de capital humano e de bens de capital.

    A Igreja instituiu uma cultura de compromisso, estabilidade familiar e confiança interpessoal: valores essenciais para que o futuro seja previsível e, por isso, digno de ser planeado. O casamento monogâmico e duradouro, a condenação da usura e da fraude, e a sacralização do futuro funcionaram como pilar civilizacional.

    Em Portugal, durante o Estado Novo, essa cultura estava enraizada. A poupança era regra. A família era o centro da vida económica. A comunidade impunha vergonha a quem falhava com as suas obrigações. Havia confiança. O Estado não prometia paraísos. Obrigava cada um a ser responsável.

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    A estabilidade monetária e orçamental favoreceu um crescimento sólido. Havia uma estrutura etária jovem, famílias fortes, e um sentimento de dever intergeracional. E, acima de tudo, ausência de um Estado social parasitário que anestesia a responsabilidade pessoal.

    Outro ponto essencial: sem respeito pela propriedade privada não há incentivos para poupar ou investir. Se o homem da ilha sabe que, ao terminar a vara, virá outro roubá-la, por que motivo haveria de a produzir? Ora, o que o Estado faz hoje é isso mesmo. Através de impostos, inflação e dívida, confisca os frutos do trabalho e da poupança, matando os incentivos à responsabilidade.

    A dívida pública é o equivalente a armar um grupo de bandidos para saquear vizinhos, com a promessa de repartir o saque. Os recursos não vão para investimentos produtivos, como fábricas ou computadores, mas sim para consumo imediato e votos comprados. Este mecanismo destrói a poupança, distorce a economia e cria uma população viciada em esmolas.

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    O segundo pilar: o capitalismo. Sem propriedade, sem lucros, sem preços livres, não há como afectar capital de forma eficiente. O socialismo é apenas viável em tribos, onde não há mercados. Na ex-URSS, os dirigentes recorriam aos preços dos mercados ocidentais para tomar decisões, pois sem preços não havia cálculo económico possível.

    Se um empresário tem de somar ovos, calças e laranjas nas receitas e subtrair carne, fiambre e couves nos custos, como sabe se obteve lucro? Precisa de uma moeda. Precisa de preços livres. Precisa de contabilidade. A partida dobrada, inventada nas cidades-estado católicas italianas, foi um marco civilizacional nesse sentido. Hoje, a contabilidade foi capturada pelo Estado, e os contabilistas servem para denunciar os que tentam escapar ao confisco.

    Outro instrumento essencial: as bolsas de valores. Criadas na Holanda protestante e depois replicadas em Inglaterra, Alemanha, países escandinavos e Império Austro-húngaro, foram instituições fundamentais para a descoberta de preços, mobilização da poupança e afectação eficiente de capital. Chegaram tarde ao Sul da Europa. Onde existiam, prosperava-se.

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    As bolsas permitem liquidez, permitem que pequenos investidores sejam integrados no sistema capitalista, na correcta afectação de capital, e impõem disciplina às empresas. A selecção é natural: os melhores prosperam, os piores desaparecem. É a destruição criadora. É o que o Estado tenta impedir, ao resgatar empresas falidas ou impor regras ESG ridículas que obrigam a contratar segundo quotas e não segundo a competência.

    Terceiro pilar: energia barata. O crescimento vertiginoso do PIB per capita desde o século XIX coincide com o início da exploração de combustíveis fósseis e da energia a vapor. Foi isso que substituiu a escravatura. Deixámos de depender do braço humano. A produtividade explodiu. Mas hoje, diaboliza-se essa energia barata com a mentira climática. Os impostos ecológicos servem para roubar e redistribuir aos amigos com empresas de energia verde subsidiada. O critério não é económico. É político.

    Por fim, a ética de trabalho. Trabalhar é produzir. Quem trabalha não está a consumir, está a gerar riqueza; mais: está a adquirir experiência, relações, mérito. Cada dia de trabalho é um dia de capital humano acumulado. Mas hoje venera-se o ócio. Feriados. Pontes. Subsídios. Rendimento mínimo garantido. Como se a riqueza surgisse do ar. Quem é que vai sustentar essa gente? O Estado? O Estado só pode tirar a quem produz. É um intermediário de saque.

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    Por isso, a riqueza não se explica por magia, sorte ou planificação central. Explica-se por cultura, por responsabilidade, por liberdade e por propriedade. A riqueza é a excepção. A miséria é o estado natural. Tudo o que hoje vemos ser destruído — a poupança, a propriedade, a confiança, a liberdade de investimento — são os alicerces da civilização. Quando forem totalmente arrasados, não restará senão a pobreza. Como antes. Como sempre.

    Luís Gomes é gestor (Faculdade de Economia de Coimbra) e empresário


    N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.

  • Irão, ou como a impressora de notas norte-americana tudo arrasa

    Irão, ou como a impressora de notas norte-americana tudo arrasa


    Na madrugada do último 13 de Junho, Israel lançou uma ofensiva aérea massiva contra o Irão, numa acção coordenada que envolveu cerca de 200 aviões de combate e mais de 300 bombas lançadas sobre instalações nucleares, bases militares e centros de comando iranianos.

    A operação, baptizada “Leão em Ascensão”, visa destruir o programa nuclear iraniano e eliminar altos quadros políticos, militares e científicos iranianos. Em resposta, o Irão retaliou com mísseis e drones, atingindo alvos civis e militares em Israel, provocando dezenas de mortos e reacendendo a instabilidade regional, num confronto que se anuncia prolongado e potencialmente devastador, pois a este conflito poderá juntar-se ainda o colosso norte-americano ao lado de Telavive.

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    Se há povo que sabe o preço do sangue colonial é o persa. Entre 1917 e 1919, em plena Primeira Guerra Mundial, o Reino Unido converteu a neutral Pérsia num matadouro a céu aberto: confiscou cereais, bloqueou importações e lançou o país numa fome que ceifou entre seis e dez milhões de vidas — até metade da população de então. Esta tragédia, apagada dos manuais ocidentais, permanece tatuada na memória colectiva iraniana como o seu holocausto silenciado

    Quando, décadas depois, Londres e Washington derrubaram o nacionalista Mohammad Mossadegh — que ousara nacionalizar o petróleo iraniano —, o fantasma do Império voltou a erguer-se. A Operação Ajax, comandada pela CIA e pelo MI6, reinstalou o Xá e entregou o ouro negro de volta às sete irmãs anglo-americanas (BP, Shell, Exxon, Mobil, Chevron, Gulf Oil e Texaco). Os documentos desclassificados da própria CIA não deixam dúvidas: foi um golpe palaciano puro e duro

    Para vigiar o novo vassalo, inventaram a SAVAK, polícia secreta treinada por ex-nazis e “sionistas revisionistas”: tortura industrial em nome da estabilidade. O serviço foi montado com o apoio directo da CIA e da Mossad, que forneceram métodos, quadros e doutrina. A sua actuação estendia-se das escutas domésticas à eliminação de dissidentes, passando por práticas sádicas dignas da Gestapo.

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    Hoje, as celas húmidas, os instrumentos de afogamento e os manequins ensanguentados ainda podem ser visitados no Museu Ebrat, em Teerão — antiga prisão política da SAVAK, agora convertida em memorial da dor. Ali se expõem as marcas do horror, como aviso e testemunho. Quando o Xá caiu em 1979, os iranianos sabiam, quem, em Londres e Washington, mexia os cordelinhos.

    Em Janeiro e Fevereiro de 1979, graças a manobras dos EUA e de França nos bastidores, o Xá Mohammad Reza Pahlavi foi pressionado a abdicar — dentro, aliás, de planos discutidos na cimeira de Guadalupe, onde Carter, Callaghan, Giscard e Schmidt deliberaram sobre a crise iraniana. Dois dias após a sua partida (entre 16 e 18 de Janeiro), Khomeini regressou ao Irão, desembarcando em Teerão a 1 de Fevereiro e recebendo a homenagem de milhões de apoiantes nas ruas.

    O exílio acabava, o poder clerical começava. A liderança militar realinhou-se rapidamente, rendeu-se, e apenas onze dias depois — a 11 de Fevereiro — o regime do Xá desmoronou por completo, dando lugar ao governo provisório liderado por Mehdi Bazargan.

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    Até mesmo membros da oligarquia ocidental, como o secretário de Estado Cyrus Vance, defendiam que o Irão devia aceitar uma transição moderada, a fim de estabilizar o país após o regresso de Khomeini.

    Da ocupação britânica ao xadrez nuclear contemporâneo, o nó górdio chama-se petrodólar. Desde o final da Segunda Grande Guerra, mas em particular desde o final de Bretton Woods em 1971, o dólar norte-americano sobrevive não pela virtude, mas pela coerção: petróleo, sanções, sistema Swift.

    O Irão é um dos poucos Estados que evita essa camisa-de-forças — vende petróleo em iuanes, rublos, rupias, ouro, qualquer coisa menos dólares norte-americanos. É, pois, um herege monetário e, logo, inimigo sistémico desde que é governado por um regime teocrático abominável, cuja ascensão foi, no mínimo, tolerada — e até encorajada — pelos estrategas ocidentais, que viram em Khomeini um antídoto conveniente ao nacionalismo laico e à influência soviética.

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    Desde o final da convertibilidade do dólar norte-americano em ouro, em 1971, sempre que algum Estado ousa levantar-se contra esse trono verde-oliva, a resposta é sempre a mesma: bastão e dor. Veja-se o Iraque de Saddam Hussein, que em 2000 começou a vender petróleo em euros — três anos depois, foi acusado de esconder armas de destruição maciça (nunca encontradas), invadido, ocupado e transformado num cemitério civilizacional.

    Veja-se a Líbia de Kadhafi, que planeava lançar um dinar-ouro africano e escapar ao dólar norte-americano e ao franco CFA (Colonies Françaises d’Afrique). Foi bombardeada pela NATO em 2011, e hoje é um Estado falhado onde se traficam órgãos e escravos. Estes não são acidentes: são castigos exemplares.

    Rejeitar o dólar norte-americano não é uma simples opção económica — é uma declaração de guerra ao império monetário, e quem ousa rebeldia paga invariavelmente com sangue. O Irão, que há décadas vende petróleo em quase todas as divisas excepto o dólar norte-americano, conhece esse preço até à medula.

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    Nesta arquitectura, as “instituições independentes” e supranacionais — FMI, Banco Mundial, A Agência Internacional para a Energia Atómica (AIEA) — são fiadoras da primazia verde-oliva norte-americana. Se a AIEA se revelar uma correia de transmissão de Telavive (e, por tabela, da Casa Branca), desmorona-se o mito da imparcialidade tecnocrática que sustenta o regime global de sanções. Sem sanções, não há chantagem; sem chantagem, o dólar norte-americano perde o trono.

    Antes da análise à presente crise, importa recordar que em 2006, quando as autoridades libanesas anunciaram a descoberta de uma vasta rede de espionagem ligada à Mossad — chefiada por Mahmoud Abou Rafeh, um oficial da polícia que confessou operar para Israel e escondia explosivos e equipamentos de escuta em casa —, Telavive respondeu como habitualmente sabe: com mísseis.

    O cerco à verdade foi silenciado a fogo e aço. As investigações, que ameaçavam revelar infiltrações israelitas nos mais altos escalões libaneses, foram abruptamente interrompidas quando Israel lançou uma ofensiva devastadora contra o Líbano sob o pretexto de resgatar dois soldados capturados. Tal como agora, a sequência foi clara: primeiro a revelação, depois os bombardeamentos. O padrão é sempre o mesmo — quando a verdade ameaça emergir, há que criar uma cortina de fumo feita de explosões.

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    Foi aqui que o enredo se repetiu. A 7 de Junho do presente ano, Teerão divulgou ter capturado documentos confidenciais que comprometeriam Rafael Grossi, o director-geral da AIEA, em alegada colaboração ilícita com Israel. O argentino, recorde-se, já ficara mudo em 2022 quando admitiu, em Davos, que Kiev armazenava toneladas de plutónio e urânio — assunto logo abafado.

    Cinco dias depois, o Conselho de Governadores da AIEA aprovou, à pressa, uma resolução acusando o Irão de falta de cooperação. Rússia, China e Burkina Faso votaram contra. O escândalo ameaçava romper a cortina de credibilidade da Agência.

    Na madrugada seguinte, a 13 de Junho, rugiu o “Leão em Ascensão”: 200 F-35l e F-15, 330 bombas guiadas, 100 alvos — Natanz, Fordow, bases Quds, radares S-300. A sincronização é cirúrgica: denúncia de conluio hoje, bombardeamento amanhã. Quem duvide da causalidade que estude a cronologia.

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    A propaganda internacional alinha-se: Telavive exerceu “legítima defesa preventiva”. Nada de novo no teatro das operações psicológicas. Desapareceu a pergunta essencial: por que motivo se bombardeia exactamente no dia em que a máscara da AIEA estala?

    Porque admitir a parcialidade da Agência equivaleria a admitir que o sistema multilateral é um jogo viciado. Sem árbitro “neutro”, ruem as sanções; sem sanções, ruem as cadeias que prendem economias inteiras à liquidação de transacções internacionais em dólares norte-americanos; sem essa algema cambial, o “excepcionalismo” norte-americano dissolve-se.

    Convém nunca esquecer quem plantou a semente: o Reino Unido, o primeiro carrasco da fome persa, primeiro arquitecto do mapa sectário do Médio Oriente, primeiro fiador do Estado de Israel “incapaz de se defender sozinho”, como estipulou em 1915. Hoje sustenta Benjamin Netanyahu à direita e a Irmandade Muçulmana à esquerda, mantendo o conflito em eterno ponto de ebulição. A velha Albion a jogar xadrez com sangue alheio, como sempre fez.

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    Israel não atacou apenas centrifugadoras. Atacou a hipótese de vermos, a cores, a promiscuidade entre a AIEA e o seu arsenal nuclear não declarado. Atacou, por ricochete, qualquer questionamento à ordem monetária que mantém 330 milhões de norte-americanos a viver à custa de um planeta forçado a usar pedaços de papel verde.

    Enquanto um só míssil cair sobre Teerão ou Telavive, o debate sobre o petrodólar, a farsa das sanções e o genocídio britânico de 1917-19 permanecerá fora da “imprensa”. É assim que se conserva um império: mata-se a verdade à fome, exactamente como se matou metade do Irão há um século.

    Que ninguém se engane: o “Leão em Ascensão” não defende Israel — defende o trono do dólar norte-americano. Cada bomba que explode é, afinal, uma nota verde impressa com tinta de sangue.

    Luís Gomes é gestor (Faculdade de Economia de Coimbra) e empresário


    N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.

  • O dermatologista ‘ladrão’ e a vaca sagrada SNS

    O dermatologista ‘ladrão’ e a vaca sagrada SNS


    Num país onde o Estado se arvora em zelador da moral, da saúde e da dignidade pública, um médico dermatologista embolsa mais de quatrocentos mil euros em apenas dez sábados, como quem colhe, sem lavrar, os frutos da horta alheia.

    Miguel Alpalhão, médico do Hospital de Santa Maria, em Lisboa, consagrou-se, não pela excelência da ciência, mas pela astúcia de facturar, em regime de ‘produção adicional’, valores de uma obscenidade que fariam corar qualquer boticário de uma qualquer aldeia remota.

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    Foto: D.R.

    Dizia-se que removia quistos e sinais benignos, mas cobrava como quem executa cirurgias de alta complexidade. Fê-lo sob o manto da legalidade, apadrinhado pelo labirinto regulamentar que permite, em nome do combate às listas de espera, instituir verdadeiros coutos privados dentro do ‘património público’. Não foi um erro. Foi um modelo. Todos sabiam.

    A ministra, com aquele semblante de virtude ultrajada que só a classe política domina, prometeu auditorias, sindicâncias, relatórios. Mas a encenação repete-se. O drama é sempre o mesmo: um escândalo, um discurso, um manto de silêncio. O país volta a dormir. O que ninguém ousa perguntar é o essencial: como é possível que isto não aconteça com regularidade, quando o modelo inteiro é concebido para o abuso?

    Todos os partidos, das franjas da extrema-esquerda ao centro plastificado da direita urbana, passando pela nova direita de timbre autoritário e pela liberalóide ilusão meritocrática, rezam o mesmo credo: o problema é de gestão, não é de modelo. Juram, com fervor quase religioso, que se forem eles a nomear os directores, a escolher os chefes de serviço, a contratar os cozinheiros de hospital, tudo será maravilha, eficiência e ética. Nenhum assume que o planeamento central é, por definição, um convite à corrupção, ao compadrio e ao desperdício.

    A ministra da Saúde, Ana Paula Martins. / Foto: D.R.

    A classe política portuguesa assemelha-se a uma irmandade de prestidigitadores: com um golpe de retórica, fazem desaparecer as causas e projectam as culpas para os rostos mais fáceis. O problema nunca é estrutural, nunca reside no sistema, mas sempre em algum actor que “abusou” ou “exagerou”. Contudo, um sistema concebido para funcionar sem preços, sem propriedade privada, sem responsabilidade directa, não é passível de reforma: é passível de abolição. Os vícios do Serviço Nacional de Saúde (SNS) não são acidentes. São a expressão natural da sua arquitectura moral e económica.

    O equívoco não é apenas económico: é civilizacional. A Constituição da República Portuguesa, esse alfarrábio de pretensões pias e contradições colossais, mistura direitos negativos com pretensos direitos positivos, confundindo liberdade com benesse, propriedade com concessão, dignidade com dependência.

    Os verdadeiros direitos, os únicos compatíveis com uma ordem justa, são negativos: não ser morto, não ser roubado, não ser preso arbitrariamente. Para esses, não se exige nada a ninguém, apenas que se abstenham da violência. Já os chamados direitos sociais, como a saúde, a educação ou a habitação, exigem espólio, administração, coerção. Alguém tem de pagar, à força se preciso for. É aqui que a liberdade se esvai.

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    Foto: D.R.

    Não há nobreza na espolça fiscal, nem dignidade na dependência estatal. Quando um cidadão é obrigado a entregar parte do fruto do seu labor para sustentar um sistema que não escolheu, não está a contribuir: está a ser saqueado. Quando o serviço oferecido é de baixa qualidade, lento, burocrático e opaco, não está a ser ajudado: está a ser ludibriado. Quando lhe dizem que tudo isto é um direito, não está a ser informado: está a ser enganado.

    O que todos se esquecem de dizer: o cálculo económico é impossível num contexto socialista; ou seja, quando os meios de produção pertencem ao Estado. Sem propriedade privada, não há preços genuínos. Sem preços, não há como saber se um acto de produção é eficaz ou ruinoso. A informação económica é dispersa, contextual, intransmissível centralmente. Nenhum ministério da saúde, por mais computadores que tenha, pode substituir o juízo descentralizado de milhões de indivíduos a tomar decisões diárias no mercado. Não se trata apenas de ineficiência, mas de imoralidade institucionalizada. Um sistema como o SNS é construído sobre roubo, sobre coerção, sobre arrogância tecnocrática. O utente não é cliente. O médico não serve. Obedece. O gestor não inova. Cumpre directivas.

    Querem exemplo mais claro? Imaginem que o Estado decidia assegurar comida gratuita para todos, em nome do ‘direito à alimentação’. Criava uma rede de cantinas públicas, com cozinheiros contratados por concurso, ementas definidas por nutricionistas da DGS, fornecimentos atribuídos a empresas amigas.

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    Foto: D.R.

    À entrada, filas. No prato, arroz sem sal e peixe congelado. Os alimentos frescos sumiam-se nos desvios logísticos. Os directores de cantina enchiam os bolsos com subornos e favores. Os empregados de mesa tinham, obviamente, cartão partidário. Os utentes, esfomeados, procuravam alternativas no mercado negro. O Estado, incapaz de admitir a falência, dizia que faltava “mais investimento”. É exactamente isso que sucede com o SNS.

    Até um mendigo, que vive da caridade e do excesso alheio, consegue comer e vestir-se numa sociedade capitalista. Porque o mercado, quando livre, produz abundância tal que o excedente serve até os que não produzem. Um par de calças, uma refeição quente, um cobertor – tudo isto se consegue pela livre acção humana, sem coerção, sem regulamento. Mas o mesmo Estado que diz querer ‘garantir’ direitos é o primeiro a impor barreiras, a destruir incentivos, a punir a excelência. Na saúde, como na comida, como na educação, o planeamento central gera escassez, degradação, corrupção.

    É tempo de dizê-lo sem meias palavras: a saúde não é um direito, é um bem económico. Não é moral que um cidadão seja coagido a pagar pelos serviços de outro, sob pretexto da solidariedade. Não é justo que sejamos espoliados para sustentar um sistema que nos trata como utentes, não como senhores da nossa vontade. É justo, sim, que cada um possa escolher o seu médico, o seu hospital, o seu seguro. Que possa contratar, pagar, reclamar. Que possa, em liberdade, decidir como cuidar da sua própria saúde.

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    Foto: D.R.

    Mas para isso, é preciso coragem. Coragem para dizer que o rei vai nu. Coragem para enfrentar a turba que venera o SNS como se fosse um altar. Coragem para admitir que somos enganados há décadas. E, sobretudo, coragem para mudar. Até quando iremos insistir nesta fraude?

    Luís Gomes é gestor (Faculdade de Economia de Coimbra) e empresário


    N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.

  • O pote dos 133 mil milhões e os parasitas em campanha

    O pote dos 133 mil milhões e os parasitas em campanha


    Termina hoje mais uma campanha eleitoral neste bordel institucionalizado a que insistem em chamar democracia representativa. Foi, como sempre, uma campanha sem debate sério, sem ideias que rompam com o estatismo doentio que define o regime, e marcada — outra vez — pela suspeita de corrupção no seio do poder.

    Desta feita, não foi o PS que caiu do cavalo, mas o PSD, em plena montada: o escândalo tem nome de clínica privada de fisioterapia ou rótulo de uma garrafa de vinho verde — Spinumviva. A empresa do agora primeiro-ministro Luís Montenegro e família, que afinal tinha como clientes os senhores da Solverde, uma empresa que explora casinos.

    Ninguém, porém, ousa colocar a verdadeira questão: se vivêssemos em mercados livres, onde qualquer indivíduo pudesse abrir um casino, como um talho ou uma padaria, por que razão um empresário pagaria a Montenegro por acesso e favores?

    A resposta é óbvia: porque os mercados não são livres — são cartéis legislados, concessões para monopólios, onde os donos mudam de camisa conforme o partido no poder. O Estado, esse buraco negro de favores e regulações, cria a escassez artificial, fecha a porta ao concorrente e permite que os Montenegro desta vida vendam a chave da entrada. É a porta giratória do banditismo democrático.

    Mas não se pense que isto se resume à Solverde ou ao PSD. O verdadeiro drama português é o pote. Um pote de 133 mil milhões de euros, segundo o Orçamento do Estado para 2025. É a soma colhida à força por um exército de fiscais, inspectores e cobradores de dízimos, sob a égide de uma máquina chamada Autoridade Tributária. Chamam-lhe o “nosso dinheiro”. Mas o que é arrancado com ameaças não é “nosso” — é deles, os que decidem quem mete a mão no pote. Todos, mas todos os partidos, disputam apenas isso: quem o esvazia, quanto e para quem.

    A única preocupação das duas alas do Partido Socialista — PS1 (de Pedro Nuno) e PS2 (de Montenegro) — é garantir que continuam a ter prioridade na colher. O medo não é o colapso do regime, mas a entrada de um novo parasita: o Chega. Ventura, esse populista profissional, não quer mudar o sistema, apenas alterar os convidados à mesa. Nada de cortes na despesa, nada de redução do Estado, nada de liberdade. Quer mais leis, mais regulamentos, mais penas e mais polícia — ou seja, mais Estado.

    No entanto, o problema estrutural é evidente: há milhões de portugueses que já não contribuem para o pote, mas dele dependem. Em 2025, o Estado prevê gastar 43,5 mil milhões de euros em pensões — incluindo as não contributivas, os complementos solidários e os reformados da CGA.

    Acrescem os subsídios: 1,7 mil milhões em desemprego, fora os de doença, maternidade, inserção e por aí fora. No total, são 51,3 mil milhões de euros a sair do pote — ou seja, quase 4.800 euros por português. Entretanto, as contribuições para a Segurança Social somam apenas 37,9 mil milhões — um défice de 13,4 mil milhões que é coberto com os impostos gerais: IRS, IVA, ou seja, o roubo normalizado aos que ainda trabalham.

    A mentira do porquinho é das mais perversas. Disseram a cada português que poupava para si mesmo, mas o que sempre existiu foi um sistema de redistribuição forçada — onde os activos são saqueados para comprar os votos dos inactivos. É o modelo do bandido estacionário: o político não destrói a sua base de exploração, mas confisca de uns para comprar os outros. O tempo é curto, por isso urge perpetuar-se no poder.

    É nesse desespero que nasce a política de importação de gado humano. Milhares de imigrantes do terceiro mundo, muitos sem qualificações e com um sonho na cabeça, são despejados num país sobrelotado, com rendas absurdas, hospitais de campanha, transportes públicos ao estilo de Calcutá e escolas onde o português já é a segunda língua. Tudo “grátis”, claro. Gratuito para quem chega, pago por quem fica — até à exaustão.

    O povo acorda, e eis que a “extrema-direita” ganha palco. Palavras como “deportação” entram na arena pública com o Chega, o Ergue-te e o ADN, cada um à sua maneira, apontando o dedo aos imigrantes. Mas, paradoxalmente, não se insurgem contra o sistema que os trouxe. Esperam, com algum cinismo, que o mesmo Estado que os atraiu com subsídios e serviços “grátis”, pagos pelo colectivo saqueado, agora os expulse.

    À esquerda, o delírio mantém-se intacto. O Bloco de Esquerda fala de tectos às rendas como se a inflação, a invasão do terceiro mundo, os impostos, as taxas, as licenças, o IMI, o IMT, o IRS, o IRC e a impressora do BCE não existissem. O problema do preço das casas é, para eles, apenas o senhorio. Vivem, definitivamente, num universo paralelo.

    A CDU segue fiel à cassete: nacionalizar a banca e os “sectores estratégicos”. Quais são? Nunca se sabe. É a mesma dúvida quando se trata de identificar os rostos do “Grande Capital”. São os que o Comité Central definir numa noite de tinto e tremoços. Com que dinheiro? Com o dinheiro do gado, claro. Porque, no fundo, a vaca fiscal tem de continuar a ser ordenhada — mesmo que já só largue sangue.

    O Livre, por sua vez, atinge novos cumes de comédia trágica. Propõe “dar” 5 mil euros por cada nascimento. É como se o ladrão, depois de nos assaltar, nos oferecesse uma manta para o berço. É a ilusão estatista no seu esplendor: tiram-nos 10, devolvem-nos 2 e esperam que agradeçamos de joelhos.

    O mesmo raciocínio se aplica à sua proposta de taxar as “grandes fortunas”. Como se alguém que emprega centenas, arrisca o seu capital e gera riqueza devesse ser castigado por ter sucesso. Talvez desejem que os empresários vendam as suas fábricas para pagar os caprichos de Paulo Raimundo ou Rui Tavares. É a destruição da criação para alimentar a redistribuição.

    E a Iniciativa Liberal? São apenas globalistas simpáticos? Dizem que “desejam” cortar impostos — roubar menos. Mas propõem cortar 1% por ano na despesa pública!, o que é uma anedota em câmara lenta. É como prometer emagrecer comendo mais arroz e a mesma feijoada. Sem cortes reais na máquina pública, a redução de impostos é só um aperitivo de ilusão.

    O PS1 defende o Estado Social como “a maior conquista de Abril”, esquecendo convenientemente que nos trouxe três bancarrotas e abriu as portas a uma invasão do terceiro mundo. A ideia de que um punhado de políticos e burocratas gere melhor o dinheiro dos outros do que os próprios indivíduos é o dogma central desta seita.

    Já o PS2 fala em baixar impostos, mas sem mexer na despesa. Tal como a IL. Resultado: nada de novo. A dívida continuará a crescer, a despesa continuará a explodir e o empobrecimento será inevitável.

    Portugal está entregue. Não à direita ou à esquerda. Está entregue à lógica do saque. A única variável que muda é o nome do assaltante. O pote de 133 mil milhões continua a ser servido na mesa. Os comensais, de garfo e faca na mão, olham para si!

    Luís Gomes é gestor (Faculdade de Economia de Coimbra) e empresário


    N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.

  • O apagão e o bandido estacionário

    O apagão e o bandido estacionário


    Na passada segunda-feira, Portugal, o país dos 133 mil milhões de euros em receitas estatais anuais – confiscados sob ameaça a uma população que trabalha de sol a sol –, converteu-se num autêntico Burkina Faso durante algumas horas. Sem energia, sem serviços, sem Estado funcional.

    Um buraco negro institucional a que chamam “serviço público”. Quem confiava na omnipotência estatal percebeu, mesmo que só por momentos, que o rei vai nu, muito nu. O Leviatã que tudo prometia é um colosso com pés de barro.

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    É nestes momentos que vale a pena lembrar a analogia do bandido estacionário, conceito desenvolvido pelo economistra norte-americano Mancur Olson no século passado. Porque se há imagem que melhor sintetiza o Estado, é essa: o ladrão que deixou de fugir e decidiu ficar.

    Imaginemos um vale fértil, habitado por camponeses laboriosos. Um Éden terrestre, onde a riqueza brota do suor e da terra. Os camponeses vivem em paz, trocam entre si, cultivam os campos, constroem famílias e vida. Um dia, das montanhas, descem uns salteadores: armados, sedentos de ouro e mulheres, disparam, assaltam, saqueiam. Mas, como qualquer ladrão, fogem. Saquear e fugir, essa é a essência do bandido tradicional.

    Mas eis que surge um novo tipo de bandido. Um que, ao olhar o vale fértil, pensa diferente: “E se ficasse? Se, em vez de fugir, ficasse aqui para sempre a saqueá-los? Mais eficiente, mais contínuo, menos arriscado.” Assim fez: instalou-se no vale, autoproclamou-se rei, distribuiu títulos nobiliárquicos pelos seus lacaios e instituiu a primeira taxa: 10% de tudo o que os camponeses produzissem. Nascia assim o Estado. O roubo organizado, institucionalizado, perpétuo. O bandido estacionário deixara de ser bandido: tornara-se governante.

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    Mas este novo tipo de ladrão tinha um problema: a aritmética. Os camponeses eram muitos, os bandidos eram poucos. Como evitar a revolta? Como manter o saque sem resistência? A resposta foi tão velha quanto genial: a dissimulação. A força bruta não bastava. Era preciso convencer as vítimas de que não estavam a ser roubadas. Era necessário construir um véu de legitimidade, de inevitabilidade, de justiça. Nascia assim a propaganda.

    Ao longo da história, o bandido estacionário serviu-se de tudo. Da religião (“o rei governa por vontade divina”), da inflação (“não é roubo, é política monetária”), da manipulação simbólica (as colunas de Trajano, os hinos patrióticos, os retratos oficiais, as estátuas dos governantes), da pedagogia da servidão (as escolas públicas, os manuais de “cidadania”). A arte do parasita é sofisticada: quanto mais complexa for a estrutura, menos perceptível será o roubo. É por isso que as vítimas, hoje, nem sabem o que lhes está a acontecer.

    Depois, o golpe de mestre: o contrato social. Um documento que ninguém viu, ninguém assinou, mas que supostamente legitima tudo. Reza a fábula que homens livres e selvagens, felizes no planeta Terra, se reuniram voluntariamente para estabelecer um acordo com o seu opressor. O resultado? Um monopólio do uso da força, dos tribunais, da justiça. Quem rouba julga. Quem abusa legisla. Um prodígio de circularidade lógica que até faria rir o Diabo. É como se o lobo passasse a decidir litígios entre as ovelhas e as suas próprias dentadas.

    Numa fase inicial, nos tempos da monarquia absoluta, o saque era mais honesto. Sabíamos quem nos roubava. Era um homem, com nome, cara e trono. O roubo era concentrado. O povo via o ouro, os bailes, as orgias palacianas, e, de vez em quando, revoltas e revoluções despontavam. Quando Maria Antonieta sugeriu que dessem bolos ao povo, o povo respondeu com guilhotinas. A visibilidade do parasitismo era o seu maior inimigo.

    Com a democracia, o golpe foi ainda mais brilhante. Agora, todos, em teoria, podemos ser ladrões. Todos podemos aceder ao pote. O roubo democratizou-se. A ilusão é que há participação. Mas o resultado é idêntico: o dinheiro vai para o mesmo lado.

    A diferença? O trajecto. Na monarquia, o saque ia do povo para o rei. Na democracia, vai do povo para o “público” – esse conceito abstracto e gaseificado – e depois, pelas vias do compadrio, escorre até ao bolso dos novos duques: os administradores de empresas públicas, os assessores autárquicos, os gestores de monopólios subsidiados, os parasitas eleitos. Gente que não sabe estrelar um ovo, mas que aparece todos os meses com salários de cinco dígitos para “servir o interesse comum”.

    E onde entram as causas ambientais nesta equação? Ora, onde sempre entraram as causas nobres: como camuflagem. O CO2, o alimento das plantas, tornou-se o novo Satã. Como nas indulgências da Igreja, em que se pagava para salvar a alma, agora paga-se para salvar o planeta. É o mesmo mecanismo medieval, agora com verniz ecológico. Um pretexto para confiscar mais. O gado confuso aceita tudo: imposto sobre combustíveis, imposto sobre automóveis a combustão, imposto sobre o plástico, imposto sobre energia fóssil. Tudo em nome da salvação!

    Onde se gasta esse dinheiro? Nas empresas de energias renováveis, claro. Não porque estas sejam viáveis, mas porque são a nova galinha dos ovos de ouro do saque bem-pensante. Os amigos do regime aparecem como administradores dessas empresas, recebem subsídios, benefícios fiscais, contratos garantidos, financiamento verde, directamente da impressora do BCE. É o milagre da multiplicação do saque. É o assalto com arco-íris e painéis solares. Tudo com um sorriso e uma propaganda impecável. Porque, lembremos, a arte do bandido estacionário não é roubar com violência, mas sim com consentimento.

    Eis, portanto, a realidade nua: vivemos num sistema de pilhagem institucionalizada, sofisticada, pacífica e contínua. O apagão de Segunda-feira foi apenas uma breve revelação. Uma janela para o que acontece quando o bandido estacionário “falha” por umas horas: o caos. Mas o caos não é a ausência do Estado. O caos é o Estado em acção, quando deixa cair a máscara de eficiência e se mostra na sua forma crua: um parasita gigantesco a sugar a vida de milhões, em nome do bem comum.

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    Portugal não precisa de mais Estado. Precisa de menos. Não precisa de mais democracia, precisa de mais liberdade. Não precisamos de novos líderes, precisamos de menos ladrões. O bandido estacionário não se reforma. Só desaparece quando o povo se recusar a ser vítima. Quando entende que não deve tributo ao seu assaltante, nem vassalagem ao seu algoz.

    Até lá, continuará a pagar a factura do assalto…com apagão incluído. Porque, como já perceberam, até a luz que o ilumina serve para alimentar o parasita.

    Luís Gomes é gestor (Faculdade de Economia de Coimbra) e empresário


    N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.

  • Trump: o novo Hitler?

    Trump: o novo Hitler?


    Em todos os tempos e impérios, o Estado teve uma capacidade extraordinária de inventar inimigos que, por singular coincidência, não se podiam identificar, localizar ou sequer apalpar. Inimigos invisíveis, convenientes, versáteis. Os judeus, os ciganos, os especuladores, os estrangeiros — a galeria é vasta, rica e colorida.

    Quando a turba se cansava do colectivo, punha-se a cabeça a prémio de um só: um Hitler, um Estaline, um Lenine — curiosamente, nunca um Churchill, esse santo padroeiro dos bombardeamentos humanitários e das colónias civilizadoras. A história, como se sabe, é escrita pelos vencedores — e muitas vezes pela impressora do Banco Central.

    a couple of dogs running across a lush green field

    Convém recordar que a aliança entre banqueiros e o Estado não é um namoro recente. É um matrimónio antigo, consumado sob os auspícios daquilo que se convencionou chamar “reserva fraccionada”, essa mágica técnica de multiplicar dinheiro como Jesus multiplicava os pães — só que sem qualquer milagre, apenas fraude legalizada.

    O banco recebe 100, empresta 900, e quando alguém estranha a matemática, eis que surge o seu Deus protector: o Banco Central, criatura de aparência austera, mas de hábitos perdulários. Sem ele, os bancos comerciais cairiam como dominós mal empilhados, vítimas da sua própria insensatez. Mas com ele, tornam-se deuses do Olimpo monetário, infalíveis e eternos.

    Desde finais do século XIX que o Banco Central passou de ajudante de cozinha a chefe de Estado. Os governos obedecem-lhe, os parlamentos dobram-se diante dele e os eleitores…bem, esses já há muito deixaram de importar, excepto enquanto números em sondagens ou estatísticas de desemprego. Este monstro criado pelos bancos, este Frankenstein monetário, terá, como na obra de Mary Shelley, de matar os seus criadores — mas só depois de muita devastação, claro. Há que cumprir o ritual.

    city buildings during night time

    É também este mesmo Banco Central que aparece, com ares de cavaleiro branco, cada vez que o mercado — essa criatura malvada e cruel — tenta corrigir os desmandos da orgia de crédito. As taxas de juro foram manipuladas até ao absurdo e, quando os maus investimentos se acumulam como lixo nas traseiras da civilização, vem resgatar os amigos banqueiros com o dinheiro de ninguém: do nada, ex nihilo, como um demiurgo sem rosto. Por isso se lhe chama “emprestador de último recurso”, embora o nome mais correcto fosse “emprestador de dinheiro que ninguém poupou para sustentar quem não sabe gerir”.

    Recordemos o ano de 2019. Em Setembro, o mercado Repo norte-americano entrou em convulsão. Uma crise silenciosa, ignorada pelos jornais, como convém. Só faltava uma desculpa para accionar a gráfica sagrada. Em Março de 2020, a Providência — sempre ela — enviou um vírus. Invisível, claro está. Não fosse o caso de alguém querer medir a veracidade do desastre.

    Assim, os Bancos Centrais mundiais, liderados pelo Banco Central norte-americano, a Reserva Federal, e pelo seu aprendiz europeu, o BCE, dedicaram-se cada um a imprimir mais de 4 biliões (12 zeros!) de dólares e euros. A moral? Se não consegues resolver o problema, deita-lhe dinheiro. De preferência, muito. De preferência, inventado.

    brown wallet

    Neste milagre moderno, o pequeno comércio morreu à míngua — as padarias, as mercearias, os cafés de bairro. Em compensação, floresceram empresas que entregavam comida ao domicílio por escravos importados do terceiro mundo ou séries sobre “pandemias”. E não esqueçamos as novas indústrias estatais: produção de fraldas faciais, inoculações experimentais e testes que testavam tudo, excepto a suposta doença. A recessão foi decretada, não pelo mercado, mas pelo decreto. E o povo, obediente como sempre, aplaudiu a catástrofe higienizada com álcool-gel.

    Mas o espectáculo não termina aqui. Agora, temos um novo vilão — ou, melhor dizendo, um substituto de Hitler. A personagem? Um senhor de tez laranja, dono de um cabelo indecifrável e de uma retórica que provoca urticária nos salões de Bruxelas.

    Donald Trump tornou-se o novo símbolo do Mal Absoluto. Porque ousou — vejam só a audácia! — Impor tarifas a países que o fazem há décadas. Porque falou em recuperar a indústria nacional. Porque tentou, com o seu estilo de elefante em loja de porcelana, questionar os dogmas do comércio global que serve, exclusivamente, às multinacionais, aos bancos e aos estados.

    a red hat that reads make america great again

    Claro está, o objectivo não é devolver empregos à classe operária norte-americana, nem reduzir défices. Isso seria ingenuidade. O plano — maquiavélico e genial — será provocar mais uma crise artificial. Uma desculpa nova, moderna, vibrante. Desta vez, não será um vírus invisível.

    Será o o proteccionismo, o nacionalismo económico, ou qualquer outra heresia do século XXI. Assim, quando as empresas norte-americanas, dependentes de componentes chineses e tailandeses, forem esmagadas pela engrenagem fiscal e tarifária, então voltaremos à estaca zero. Aí, o Banco Central norte-americano, mais uma vez, imprimirá, e muito! Desta forma, salvará, como sempre, os seus criadores.

    E os idiotas úteis — os eternos manifestantes bem-intencionados, os jornalistas indignados, os “liberais de pacotilha”, os peritos em mercados financeiros e os académicos do regime — gritarão: “Trump é o novo Hitler!”

    Afinal, sempre se pode contar com os velhos truques: um inimigo invisível, um bode expiatório humano e uma impressora sem limites. O ciclo repete-se. A peça é a mesma, apenas se troca o figurino e o vilão.

    Mas, caro leitor, console-se. Quando tudo desabar e a moeda for mais fina que o papel em que está impressa, haverá sempre um banqueiro sorridente, um político paternalista e um jornalista de confiança a garantir-lhe que a culpa foi do outro. De um vírus. De um laranja. De um qualquer que não seja o sistema.

    E o povo? Ah, o povo…continuará feliz, a aplaudir e a “pagar” IRS!

    Luís Gomes é gestor (Faculdade de Economia de Coimbra) e empresário


    N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.

  • Novas eleições: a perpetuação de um embuste

    Novas eleições: a perpetuação de um embuste


    Parece que iremos ter novas eleições legislativas; infelizmente, vamos continuar a perpetuar o regime que nos conduziu a esta situação de total ruína. Já dura há mais de cinco décadas. Este modelo baseia-se na glorificação patética da democracia e da soberania popular, que é vista como um altar intocável.

    A realidade, porém, revela que se trata de um dos sistemas mais perversos que já se inventou. Ao contrário de uma monarquia absoluta, onde o monopólio do governo estava nas mãos de um rei que legaria o trono ao filho, os incentivos para confiscar a população eram consideravelmente menores. Porquê?

    Porque o rei não precisava de encher os bolsos à pressa; o seu filho herdaria o reino e a máquina de parasitagem já estava montada. Além disso, o rosto do ladrão era conhecido por todos: um senhor rechonchudo e rosado, a empanturrar-se de pernas de frango. A resistência era mais firme porque o inimigo era claro e evidente. Talvez por isso, nunca um monarca absoluto se atreveu a confiscar mais de 15% ou 20% da riqueza produzida. As modernas democracias, em contrapartida, fazem gala em sugar 50% do PIB, tudo em nome do combate às desigualdades sociais e da sustentação daquela vaca sagrada chamada Estado Social.

    Enquanto no mercado queremos concorrência, que atrai os mais produtivos e inovadores para satisfazer as necessidades dos consumidores, na democracia sucede precisamente o inverso. Ao permitir que “qualquer um” possa concorrer à chefia desta organização criminosa chamada Estado — que vive do confisco e detém o monopólio da força e dos tribunais —, abrem-se as portas para que demagogos, crápulas e vigaristas assumam o controlo. Os produtivos, como é natural, afastam-se desse pântano.

    Não é casualidade que a qualidade da classe política esteja em queda livre. Como a propriedade do governo é “pública” e não privada, todos se sentem com legitimidade para meter a mão na gamela. Um monarca absoluto, por exemplo, trataria de preservar a sua propriedade e geriria os seus bens com prudência, sabendo que, no longo prazo, esse património passaria para o seu filho. Havia parcimónia e cuidado na gestão dos recursos.

    Na democracia, porém, a lógica é inversa: o tempo para roubar é limitado e há que ser rápido na pilhagem antes que o cargo escorregue pelas mãos. Daí que os políticos gastem boa parte do seu tempo a inventar esquemas para se perpetuarem no poder, comprando votos das massas e roubando uma minoria produtiva cada vez mais pequena – ser otário toda a vida é complicado e estúpido.

    Veja-se o caso da Segurança Social, onde se faz crer que os descontos dos trabalhadores activos estão guardados num porquinho mágico, pronto para sustentar a sua velhice. Nada mais ilusório: esses 34,75% do salário bruto dos trabalhadores servem apenas para pagar as pensões dos actuais reformados — hoje, nem é suficiente, outros impostos cobrem a diferença negativa entre receitas e despesas.

    A escalada no assalto aos activos tem sido incessante ao longo das últimas cinco décadas, tudo para manter a farsa de que o Estado Social é sustentável. É assim que o bloco central se perpetua no poder: prometendo saquear os que produzem para comprar os votos dos reformados, dos funcionários públicos e dos subsidio-dependentes. Eles sabem perfeitamente que este esquema piramidal há-de ruir, mas, na democracia, ponderar as consequências futuras é coisa que simplesmente não existe.

    A escória sem escrúpulos que governa vendeu-nos de corpo e alma a instituições transnacionais em troca de subsídios e prebendas para amigos e companheiros — como é o caso da sinecura de deputado europeu. Venderam a nossa soberania monetária para garantir que um esquema piramidal europeu pudesse expandir-se e praticar a fraude da criação monetária em larga escala, chamada Banco Central Europeu (BCE). Foi assim que, quando Portugal faliu em 2011, o BCE ligou a impressora para nos “salvar” — empobrecendo-nos pela inflação, enquanto plutocratas bem relacionados se encheram à custa dessa manobra, comprando activos a preços irrelevantes (aeroportos, companhias de seguros, bancos…).

    Depois veio o “dinheiro grátis”: sempre que há uma crise (normalmente provocada pelos próprios), aparecem milagrosamente milhares de milhões de euros em “fundos de resgate”. Esse dinheiro, que simplesmente não existe, é inventado pelo BCE e pago pela população com inflação.

    A realidade é esta: Bruxelas é uma casta parasitária ainda mais cara que os nossos políticos locais. Não beneficiamos nada com a sua existência: tornaram-nos os pedintes oficiais da Europa, sempre a pedir subsídios e dívida mutualizada, enquanto se cultiva a ilusão de que nada pagaremos, tudo nos será dado sem esforço ou custo. No entanto, no fim, pagamos sempre a conta: seja por impostos, inflação ou pela destruição da actividade produtiva.

    Há cinco décadas que dois partidos socialistas têm o monopólio deste saque. Para quem trabalha e produz, a vida é um inferno de impostos asfixiantes, regulação absurda vinda de Bruxelas, burocracia sufocante que só beneficia os grandes negócios capazes de suportar tais custos. Para os parasitas do regime, basta uma agenda de contactos para que milhares de euros fluam como um rio. A política transformou-se, assim, numa carreira profissional: uma actividade onde se sobe não pelo mérito, mas pela aptidão na arte do parasitismo.

    Tomemos o caso da empresa de casinos Solverde, tão falada nos últimos tempos. Se houvesse liberdade de entrada no mercado de casinos, os clientes decidiriam qual prosperaria. Mas para quê contratar Luís Montenegro, se ele não detivesse o poder de conceder monopólios privados? É o controlo e o poder estatal que alimenta esta promiscuidade entre plutocratas e políticos.

    O mesmo se aplica à despesa pública. Se cada um de nós contratasse o seu hospital ou a sua escola directamente ao prestador de serviços, não haveria qualquer incentivo para subornar políticos. Mas, como o Estado português controla 133 mil milhões de euros — cerca de 12,5 mil euros por português —, esse maná precisa de ser dirigido para os bolsos “certos”: contratos camarários para amigos, assessorias jurídicas para filhos de políticos e subsídios para empresas onde os parasitas têm familiares.

    Este modelo, como é óbvio, é insustentável e está condenado a falir. Daí o crescendo do controlo social, pois é preciso espremer até à última gota de sangue os que ainda produzem alguma coisa. Por essa razão, a União Europeia tornou-se uma espécie de URSS moderna: se a população vota “errado”, retira-se o candidato das listas; se já não há como roubar mais, inventam-se pandemias ou ameaças externas para justificar mais impostos, mais impressão monetária e mais inflação. Todas as crises são pretexto para aumentar o controlo e esmagar os dissidentes. Necessitam, assim, de um sistema que determine onde podemos gastar o nosso dinheiro e como nos devemos comportar: daí o Euro Digital, a peça final do puzzle totalitário – já prometido para Outubro deste ano.

    Chegámos, enfim, à farsa final: novas eleições para um parlamento nacional que nada decide, apenas aqueles que terão o privilégio de repartir o saque. Enquanto os portugueses acreditam que estão a escolher o seu destino, apenas seleccionam o próximo grande parasita. Nada mais.

    Luís Gomes é gestor (Faculdade de Economia de Coimbra) e empresário


    N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.

  • Foi você que pediu o rearmamento europeu?

    Foi você que pediu o rearmamento europeu?


    A Europa, essa entidade amorfa que oscila entre a tecnocracia despótica e a incompetência institucionalizada, decidiu, uma vez mais, sacrificar o cidadão comum no altar das suas ilusões megalómanas.

    Recentemente, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, que ninguém elegeu para coisa alguma, anunciou, com o fervor de uma sacerdotisa do destino europeu, que a União precisa de se rearmar urgentemente.

    Se o tom não é de histeria, é pelo menos de um fervor messiânico, como outrora aconteceu quando a mesma burocracia exigiu que todos fossem inoculados a uma velocidade vertiginosa com uma substância experimental, sob a ameaça de segregação social e de perda de direitos fundamentais. Agora, a urgência não é uma suposta pandemia, mas uma guerra que, como todas as tragédias europeias, tem as suas raízes na incompetência crónica dos mesmos líderes que agora nos exigem sacrifícios.

    Qual é, exactamente, a natureza desse novo imperativo existencial? Ao que parece, a Europa precisa de se defender de Putin e dos russos, que, depois de décadas a vender gás aos europeus, passaram a encarnar o mal absoluto. O mesmo continente que, até há poucos anos, celebrava efusivamente contratos de fornecimento energético com a Rússia, construía gasodutos, organizava campeonatos mundiais de futebol e estreitava laços comerciais, caiu agora numa amnésia conveniente e decidiu que a única solução é a guerra.

    Para essa guerra, propõe-se assaltar-nos em 800 mil milhões de euros, canalizados para o rearmamento e para os bolsos da casta não eleita em Bruxelas, sem que se levantem grandes questões sobre o impacto deste endividamento colossal. Como se a União Europeia não estivesse já atolada em problemas económicos e sociais, nem enfrentasse, em simultâneo, uma invasão silenciosa vinda do terceiro mundo, promovida e incentivada pelos mesmos que agora exigem que se levantem exércitos para travar um inimigo externo.

    A ironia é grotesca: enquanto se financia o caos dentro de casa, exige-se que os cidadãos paguem uma nova cruzada bélica que não lhes diz respeito. A incongruência atinge proporções quase teatrais quando se observa o súbito desinteresse pelas normas de responsabilidade orçamental que, até há pouco tempo, eram o evangelho inquestionável da União.

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    Durante anos, venderam-nos a austeridade como um dogma incontornável. Cortaram na saúde, na educação, nas pensões, no investimento público, tudo para garantir que os orçamentos se mantinham alinhados com os preceitos sagrados de Bruxelas. Claro está que, para um libertário, toda esta retórica era uma falácia, um mero eufemismo para justificar a pilhagem fiscal e o desvio dos recursos da população para os bolsos de burocratas e plutocratas.

    Ironicamente, nem sequer mantêm a coerência desse discurso: passaram da austeridade pregada em tom de sermão à mais descarada orgia de despesa pública, onde o dinheiro corre como água em direcção à indústria de armamento e às engrenagens do Estado belicista.

    Os que, há três anos, impunham prisões domiciliárias e encerravam negócios em nome da protecção de vidas humanas, são agora os mesmos que falam com frieza burocrática sobre a necessidade de enviar jovens para a carnificina de um campo de batalha na Ucrânia.

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    Aqueles que nos disseram que deveríamos viver trancados em casa porque poderíamos matar os velhinhos ao transmitir-lhes o vírus invisível, são agora os que dizem que vale a pena sacrificar gerações inteiras para manter o sonho delirante de um império europeu armado até aos dentes. A dicotomia é tão absurda que não pode ser explicada sem uma referência à hipocrisia estrutural da elite política europeia, que ora se veste de humanitarismo tecnocrático, ora se assume como máquina de guerra sem escrúpulos.

    Nada disto estaria completo sem um toque de ironia ecológica. Durante anos, disseram-nos que o CO2 era o grande inimigo da civilização, que era urgente transformar as nossas vidas num exercício permanente de penitência ambiental.

    Fomos proibidos de usar carros a combustíveis fósseis, obrigados a comprar veículos eléctricos, sujeitos a restrições energéticas para salvar o planeta. Agora, essa mesma elite que nos impôs estas limitações vem exigir uma corrida armamentista que, por um capricho técnico, não será feita com tanques eléctricos nem com caças movidos a energia solar. Não, o exército europeu de Ursula von der Leyen continuará, sem dúvida, a operar com os mesmos combustíveis fósseis que foram interditos aos cidadãos comuns.

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    As preocupações ambientais evaporam-se quando se trata de mobilizar frotas de navios de guerra ou de despejar bombas sobre cidades distantes. A preservação do planeta é um fardo exclusivamente nosso, os otários de sempre, enquanto os militares, os fabricantes de armamento e a quadrilha que orquestra este teatro continuam a “poluir” impunemente.

    A justificação para esta nova corrida armamentista baseia-se numa narrativa cuidadosamente construída sobre a suposta ameaça russa. Aqui, surge outro detalhe que mereceria um prémio de cinismo: durante décadas, os líderes europeus não só negociaram alegremente com Putin como fizeram da Europa um refém energético da Rússia. Foram eles que financiaram os gasodutos, que construíram infraestruturas para garantir o fluxo de gás barato, que promoveram acordos comerciais estratégicos com Moscovo.

    Agora, esses mesmos líderes afirmam estar surpreendidos com as acções do Kremlin, como se nada do que aconteceu nos últimos anos tivesse sido previsível. A guerra, longe de ser uma fatalidade inevitável, foi alimentada por anos de irresponsabilidade geopolítica e arrogância ocidental. A solução proposta é a escalada, em vez da negociação. O diálogo, que noutros tempos era considerado um pilar da diplomacia europeia, foi descartado em favor de uma retórica belicista que só beneficia as indústrias que lucram com a destruição.

    Vladimir Putin e Ursula von der Leyen na Conferência sobre a Líbia, em Berlim, em Janeiro de 2020.
    / Foto: D.R.

    O que nos resta então? A factura será paga por todos aqueles que, à semelhança do que aconteceu durante a putativa pandemia, acreditam que os sacrifícios impostos pelos governantes são sempre necessários e justificados. O cidadão comum, que já viu o seu poder de compra dizimado pela inflação, que já enfrenta um custo de vida insustentável, terá agora de suportar uma nova onda de inflação – tudo será pago com a impressora do Banco Central Europeu (BCE) –, impostos e de perda de liberdade em nome da segurança colectiva.

    Tal como aconteceu durante a suposta crise sanitária, qualquer resistência será tratada com desprezo e hostilidade. Os que questionaram a narrativa da pandemia foram apelidados de negacionistas, perigosos para a sociedade. Agora, os que se opõem à escalada militarista serão inevitavelmente rotulados como agentes do Kremlin, putinistas, traidores da democracia, alvos a abater no grande jogo da propaganda política.

    O ciclo repete-se com um cinismo avassalador. O mesmo cidadão europeu que aceitou ser coagido a receber injecções experimentais, que aceitou ser trancado em casa e impedido de trabalhar, que aceitou a destruição da economia em nome da protecção da saúde pública, aceitará agora mais esta impostura.

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    Aceitará pagar a factura da guerra, aceitará a militarização da sociedade, aceitará ser um peão descartável num jogo de poder que não compreende e que em nada o beneficia. Tudo porque, no final, continua a acreditar nas mesmas elites e na sua propaganda que o desprezam e que, sem qualquer vergonha, conduzem o continente à ruína enquanto garantem para si próprios um futuro confortável entre os corredores de Bruxelas e os conselhos de administração das empresas de armamento.

    Bem-vindos à nova normalidade. O circo prossegue, os holofotes brilham, a música toca. Como sempre, os palhaços somos nós.

    Luís Gomes é gestor (Faculdade de Economia de Coimbra) e empresário


    N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.

  • Propaganda, enxovalho e mentiras

    Propaganda, enxovalho e mentiras


    Nas últimas décadas, temos sido alvo de propaganda, enxovalhos e mentiras sem fim. O Estado dita uma narrativa e, mais tarde, dá-se o milagre da iluminação: percebemos que tudo era uma mentira, uma ilusão bem montada. Mas, nessa altura, o mal já está feito e os criminosos que gerem o aparelho estatal lograram o seu objectivo: roubar-nos as liberdades; assaltar-nos sem complacência, seja por impostos, dívida pública ou inflação; e vigiar-nos em permanência. Cada passo, cada cêntimo, cada palavra.

    George Orwell, quando publicou 1984 em 1949, não estava a escrever ficção; estava a antecipar o nosso futuro. Novilíngua, reescrita da história, verdade que se torna mentira e vice-versa, guerra que é paz e vice-versa…um esboço da actual realidade.

    Como não podia deixar de ser, a nossa pequena república bananeira também não perdeu tempo em adoptar o manual do Grande Irmão. No final do século transacto, em todas as eleições, ouvíamos invariavelmente o refrão: “se todos pagarmos a nossa parte, todos iremos pagar menos”. Uma autêntica obra-prima da aldrabice. Os gatunos estatais tentavam convencer-nos de que era moral e correcto sermos assaltados sem resistência.

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    Foto: D.R.

    O riso, porém, acabou depressa, pois assim que montaram a máquina afinada, conhecida por Autoridade Tributária, o assalto tornou-se total e sem falhas. Cada cêntimo monitorizado, cada rendilhado de evasão cortado. Hoje, já não há margem para escapatória, pois qualquer erro é punido sem complacência, qualquer tentativa de conservar o que é nosso é vista como um crime hediondo. No fim, o que sobra? A sensação de que vivemos num regime em que somos escravos que devem ser confiscados pelo privilégio de existirem.

    A novilíngua continuou a refinar-se com expressões como “despesa fiscal” – ou seja, se o Estado nos rouba um pouco menos, considera isso uma perda para si, não um alívio para a vítima. Já não se trata de permitir que os cidadãos fiquem com o que é seu; trata-se de um conceito onde tudo pertence ao Estado por direito e o que nos deixam conservar é visto como uma concessão, uma dádiva!

    O que dizer dos “meus descontos” para a Segurança Social? Como se houvesse algum porquinho a guardar o nosso dinheiro até à reforma. Nada disso: é apenas mais um imposto para alimentar vitórias eleitorais dos criminosos que dominam o Estado há mais de 50 anos, onde os votos dos reformados são comprados com o dinheiro extorquido aos activos. Se um trabalhador morre antes da reforma, os seus herdeiros podem ir buscar o dinheiro? A resposta é óbvia: um rotundo não. O sistema foi desenhado para que o assaltado nunca tenha qualquer retorno real. O roubo é organizado, planeado, metodológico. Nada é deixado ao acaso.

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    Foto: D.R.

    No plano internacional, vivemos de farsa em farsa. Primeiro, foi a “guerra ao terror”, cujo verdadeiro objectivo foi colocar os bancos a vigiar-nos sob o pretexto da “prevenção do branqueamento de capitais e financiamento ao terrorismo”. Com esta desculpa, hoje, cada transacção, cada transferência, cada levantamento de numerário é um acto suspeito.

    Os bancos, outrora instituições privadas que serviam os seus clientes, passaram a braço armado do Estado, denunciando e rastreando cada cêntimo. Reparem: qualquer país pode ser atirado para uma lista negra, ser declarado pária, ser bloqueado financeiramente porque não segue a cartilha ditada por um grupo de burocratas sem rosto.

    Seguidamente, veio o vírus invisível, um verdadeiro teste de obediência em massa. Prisões domiciliárias mascaradas de “confinamentos salvíficos”, fraldas faciais transformadas em amuletos de submissão, substâncias experimentais perigosas injectadas sob coacção. A máquina propagandística funcionou na perfeição: o medo como ferramenta de dominação.

    Imagem do filme ‘They Live‘, de John Carpenter.

    Depois da gripe com outro nome, veio a narrativa da bandeirinha azul e amarela, que agora se desmorona diante dos nossos olhos. Disseram-nos que a Ucrânia era a vítima, mas esqueceram-se de mencionar vários factos: que os EUA prometeram não expandir a NATO para leste e que quebraram essa promessa. A expansão foi implacável, sempre empurrando as fronteiras da aliança militar para as portas da Rússia, como se fosse um jogo de provocação deliberado. Mas a propaganda ocidental finge que este contexto nunca existiu.

    Nem nos explicaram que houve um golpe de Estado na Ucrânia em 2014, patrocinado pelos Estados Unidos, que derrubou um presidente democraticamente eleito. A substituição foi cirúrgica, colocando no poder elementos leais ao Ocidente, prontos para executar a agenda imposta.

    O regime que saiu desse golpe praticou atrocidades, como o massacre de Odessa, onde dezenas de manifestantes russófonos foram queimados vivos num edifício; um crime horrendo que foi rapidamente varrido para debaixo do tapete mediático.

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    Foto: D.R.

    O que dizer dos acordos de Minsk I e II, que foram apresentados como tentativas de paz, mas serviram apenas para a Ucrânia armar-se até aos dentes, enganando a Rússia e preparando a Ucrânia para um conflito inevitável. Até ao início da guerra em 2022, o regime de Kiev bombardeou civis no Donbass, provocando um sofrimento incalculável, mas os olhos ocidentais estavam convenientemente fechados para esta realidade.

    O cúmulo da hipocrisia chegou depois do início da guerra em Fevereiro de 2022, quando um acordo de paz foi alcançado no mês seguinte em Istambul, garantindo a neutralidade da Ucrânia e o reconhecimento do seu território. Foi imediatamente sabotado pelos parasitas do Ocidente.

    Estamos agora a conhecer a realidade sobre o ex-comediante transformado em suposto Churchill do Ocidente. Zelensky ilegalizou partidos de oposição em Março de 2022, sob pretexto da lei marcial, eliminando qualquer resquício de democracia.

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    Mandou encerrar três canais de televisão em 2021, acusando-os de serem apoiantes russos, silenciando qualquer voz dissidente. Recrutou à força jovens para a guerra, proibindo homens entre 18 e 60 anos de saírem do país, transformando-os em carne para canhão num conflito inútil.

    Está ligado ao oligarca Kolomoisky, suspeito de transferir milhões para os seus bolsos, demonstrando que a corrupção continua a ser o verdadeiro pilar do regime ucraniano. Fechou a Igreja Ortodoxa Russa no país para cortar laços culturais com Moscovo, num acto de perseguição religiosa e política.

    Gonzalo Lira, um escritor e cineasta norte-americano, que residia em Kharkiv, Ucrânia, durante a invasão russa de 2022, conhecido pelas suas críticas ao governo de Volodymyr Zelensky e por divulgar informações pró-Rússia, foi detido pelo Serviço de Segurança da Ucrânia (SBU) em Abril de 2022, sendo posteriormente libertado.

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    Foto: D.R.

    Em Maio de 2023, foi novamente preso sob acusações de justificar a invasão russa, permanecendo sob custódia até à sua morte em 12 de Janeiro de 2024, oficialmente atribuída a “pneumonia”. Contudo, relatos indicam que Lira terá sido vítima de tortura e negligência médica durante a sua detenção, levantando sérias questões sobre as práticas do SBU e o tratamento de detidos políticos do regime liderado por Zelensky. Mais uma morte incómoda que será convenientemente esquecida.

    Mas espantam-se quando lhe chamam ditador! O homem recusa-se a realizar eleições, mas os nossos iluminados da União Europeia continuam a suspirar pela continuação da guerra, talvez porque os seus bolsos são recheados com o sangue que escorre nos campos de batalha da Ucrânia.

    Porque há uma coisa que nunca falha: sempre que um grande esquema de propaganda cai por terra, já têm outro a ser cozinhado. A pergunta é: por que carga de água continuamos a cair neles? Será que a nossa capacidade de discernimento foi completamente obliterada pelo bombardeamento incessante da mentira? Ou será que, no fundo, muitos preferem a ilusão confortável à dura verdade?

    Luís Gomes é gestor (Faculdade de Economia de Coimbra) e empresário


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