Autor: Elisabete Tavares

  • Agência Nacional de Inovação está a dar os últimos suspiros, mas administração ainda quer almoços com directores de jornais

    Agência Nacional de Inovação está a dar os últimos suspiros, mas administração ainda quer almoços com directores de jornais


    A Agência Nacional de Inovação — cuja polémica fusão com a Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT) foi já aprovada em Conselho de Ministros — contratou esta semana uma consultora de comunicação para, entre outros serviços, promover e organizar almoços com directores de órgãos de comunicação social e também com outros jornalistas. Objectivo: dar boa imagem desta entidade e, claro, dos seus administradores com vista a uma eventual condução para a liderança da nova estrutura: a Agência para a Investigação e Inovação (AI2).

    O contrato, que tem um custo de 70.110 euros para os contribuintes, foi assinado na passada segunda-feira e adjudicado à empresa Llorente & Cuenca Portugal, tendo um prazo de duração de 12 meses.

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    Foto: D.R.

    Isto apesar de a ANI estar prestes a ser extinta para se fundir com a FCT, conforme já estabelecido pelo Governo em Conselho de Ministros do passado dia 5, que aprovou o diploma que cria a nova agência, apesar da forte contestação de investigadores. Actualmente, uma petição dinamizada por diversos investigadores conta já com mais de 1.500 assinaturas.

    Ainda assim, três dias depois, a ANI assinou o contrato com a consultora num procedimento que foi feito sem a realização de concurso, tendo sido antes efectuada uma consulta prévia. A ANI justificou a opção por esta modalidade de contratação com o facto de o Código dos Contratos Públicos permitir que seja feita apenas uma “consulta prévia, com convite a pelo menos três entidades, quando o valor do contrato seja inferior a 75.000 euros”.

    O objecto do contrato é, formalmente, a “aquisição de serviços de consultoria para assessoria de comunicação; serviços de consultoria em matéria de relações públicas”. E a ANI justificou a contratação da consultora de comunicação com o facto de ter diferentes projectos em curso e ter a “necessidade de apoio especializado” na assessoria de comunicação.

    A decisão de contratação da consultora de comunicação foi aprovada no dia 20 de Agosto pelo presidente da ANI, António Grilo. / Foto: D.R.

    Apesar de a ANI estar à beira da extinção, segundo o caderno de encargos consultado pelo PÁGINA UM tudo aparenta que a entidade está para durar. Entre os serviços a prestar pela consultora, está a “apresentação de uma estratégia global de comunicação, com enfoque na estratégia junto dos meios de comunicação social, gestão de crise com meios de comunicação e stakeholders, nomeadamente, Governo, tutelas e entidades congéneres, estratégia de produção de conteúdos para o site institucional e redes sociais”.

    Mas a ANI também quer ter reuniões privadas com jornalistas. Assim, exige aos consultores, a quem pagará mais de 70 mil euros ao longo de 12 meses, a “organização de encontros ‘one to one‘ [privados] com jornalistas, através, por exemplo, da promoção e organização de almoços entre o conselho de administração ou a responsável de comunicação com a direção dos órgãos de comunicação social e/ou jornalistas”.

    Sendo habitual a prática de empresas e organismos públicos reunirem em privado com jornalistas para melhor ‘venderem o seu peixe’ e encontrar aliados nas redacções, cabe salientar que, no caso de almoços promovidos por entidades do Estado, a factura será sempre paga pelos contribuintes. Além disso, mostra-se polémico que seja uma consultora a fazer ‘lobby’ com dinheiros públicos para que administradores de uma entidade pública apareçam na imprensa.

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    Foto: D.R.

    Além dos almoços, a ANI exige ainda no caderno de encargos que a consultora de comunicação consiga que sejam publicadas três notícias por mês sobre a agência ou os seus projectos nos maiores órgãos de comunicação social a nível nacional, designadamente na SIC, na RTP, no Expresso e no Público. Curiosamente, exclui todos os órgãos de comunicação social da Medialivre, como o Correio da Manhã, a CMTV e a Now. Em todo o caso, a ANI deixa em aberto a possibilidade de a consultora de comunicação conseguir publicar notícias sobre a ANI em outros media de referência. O PÁGINA UM assumirá, desde já, que não publica notícias favoráveis a uma entidade intermediada por uma agência de comunicação.

    A Llorente & Cuenca Portugal foi também contratada para fazer a “gestão da reputação da entidade adjudicante, assim como dos membros que compõem o conselho de administração”, o qual é composto pelo presidente da ANI, António Grilo, Alexandra Vilela e Sílvia Garcia, como vogais executivas, bem como Madalena Alves, presidente da FCT, e Luís Guerreiro, presidente do IAPMEI, como vogais não executivos.

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    Foto: D.R.

    Mesmo assim, a ANI pode argumentar que o contrato com esta consultora de comunicação foi uma “pechincha” já que ficou abaixo do preço máximo fixado de 74.500 euros.

    Recorde-se que a ANI, que agora será integrada num novo organismo que juntará a FCT, levou a cabo há poucos meses uma sui generis acção de ‘team building‘. O evento, que teve lugar no dia 28 de Maio, custou 22.890 euros e envolveu a contratação de um touro mecânico. Os quadros da ANI foram ainda brindados com uma tábua de queijos, bar aberto com DJ e uma prova de vinhos.

  • Jornalismo: entre o abismo e a (necessária) revolução

    Jornalismo: entre o abismo e a (necessária) revolução


    Num mundo em revolução, com o advento da inteligência artificial e a evolução da Internet, é absurdo — e negligente — pensar-se que é viável manter a lógica de os meios de comunicação social terem estruturas rígidas, com custos enormes, acumulando passivos insanos e até dívidas ao Estado.

    O Jornalismo tem sido a principal vítima desta ilusão. E, claro, os jornalistas.

    Tantos jornalistas bons que conheço que já abandonaram a profissão porque o sector os… abandonou.

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    Foto: D.R.

    Neste mundo em mudança, ousar criar meios de comunicação social com um modelo de negócios inovador é algo disruptivo e enfrenta resistência. Foi também o que sucedeu com a economia blockchain. Mas é absolutamente necessário.

    A ideia de empregos fixos, bem pagos, com benefícios. A ideia de directores pagos a peso de ouro, com carro novo e despesas extra. A ideia de departamentos comerciais que entram pelas redacções e “arrastam” directores e jornalistas para podcasts, conferências, talks, parcerias … A ideia de meios de comunicação social que fazem tudo, vão a todas. Tudo isto está… obsoleto. 

    Pensar em meios de comunicação social com uma filosofia colaborativa, que envolve os investidores/empresários, os jornalistas, e leitores. Pensar em meios de comunicação social modernos, ajustados a este mundo em revolução, em que a informação deixou de ser centralizada e passou a ser descentralizada. Isto, sim, faz sentido.

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    O verdadeiro “power to the people” está aí, mas traz riscos. O Jornalismo é, não só, viável neste novo ecossistema, como é essencial. Pode ser uma peça-chave nesta revolução global. Mas só se largar os vícios e os grilhões que o prendem. Só se aceitar passar por uma revolução. E isso envolve quebrar barreiras culturais e de mentalidade sobre o mercado de trabalho e estruturas de funcionamento das empresas no sector dos media. E recentrar no essencial: levar informação de valor aos leitores, telespectadores ou ouvintes.

    À escala de Portugal, é isso que o PÁGINA UM tem vindo a fazer. A testar um modelo colaborativo em que os leitores também são participantes activos. Há aqui uma responsabilização de todos os chamados “stakeholders“. Incluindo os jornalistas e outros profissionais.

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    Há quem diga que isto é utopia. Mas isto é já a realidade. Só alguns ainda não perceberam que a revolução chegou e o modo antigo de funcionar já está obsoleto.

    E, convenhamos, não era positivo. Nem para a gestão carreira/família dos profissionais, nem para o Jornalismo. Nem para o Estado, que é credor de empresas de media. Nem para os jornalistas com salários em atraso ou que foram parar ao desemprego.

    O futuro disruptivo traz riscos, mas também oportunidades para, no sector dos media, haver maior eficiência, maior justiça nas remunerações dos vários profissionais e mais tempo, mais alegria, tanto na forma de viver a vida, como a carreira. E mais alegria e propósito na forma de gerir negócios. 

    Two people shake hands, possibly a deal.

    Propósito é a palavra. Surfar o mundo em revolução com propósito. No caso do Jornalismo isso é crucial. Pois chegou o tempo de realmente respirar e valorizar o Jornalismo, a sua autenticidade e absoluta necessidade de independência de poderes políticos e económicos.

    Só assim o Jornalismo vai, não apenas sobreviver à revolução, mas prosperar e contribuir para a construção de um mundo totalmente novo, que pode ter na cooperação e na solidariedade dois pilares fundamentais.

    Adenda:

    Publicado ontem no Diário de Notícias, este artigo do Filipe Alves contém afirmações falsas graves e passíveis de levarem a vários processos judiciais contra o seu autor e as publicações que o divulgaram.

    Como o Filipe Alves sabe e finge não saber, o jornal PÁGINA UM tem um modelo de negócios assente num modelo colaborativo e solidário, com os custos indexados às receitas.

    Os jornalistas e outros profissionais que decidiram colaborar com o jornal já trabalhavam por conta própria antes de decidirem apoiar o jornal.

    O modelo de negócios está condicionado às receitas. Se houver mais receitas, é possível ter mais colaboradores e trabalhos jornalísticos ou de cultura, como crónicas, e opinião, entrevistas, etc.

    O PÁGINA UM é um jornal de acesso livre para que mesmo quem não tem meios possa aceder aos artigos.

    O jornal adoptou o conceito willingness to pay, no qual os leitores podem subscrever o jornal voluntariamente, ou contribuir com donativos cujas regras estão fixadas desde o dia 1 de vida do jornal.

    A maravilhosa redacção física do jornal, com um custo fixo da ordem dos 1000 euros mensais, permite aos colaboradores ter um espaço onde é possível fazer entrevistas e podcasts e, no futuro, ter novos colaboradores ali a trabalhar, quando as receitas o permitirem.

    O jornal tem como pilares: não contrair dívida; não ter apoios do Estado ou instituições e grupos económicos; não ter prejuízo.

    Assim, obviamente que a sua estrutura tem de ser flexível e assente na parceria, cooperação e colaboração. Quem colabora com o PÁGINA UM fá-lo porque sabe quão importante o jornal é para o Jornalismo em Portugal. E como a sua existência é, não só, importante como crucial.

    O Filipe Alves sabe tudo isto. Ainda assim, publica mentiras e insiste em fazer acusações difamatórias e graves.

    Entendo que para Filipe Alves, haver jornais com uma estrutura flexível, com os custos ajustados às receitas e o foco na qualidade jornalística, seja algo estranho.

    Mas os tempos exigem inovação e um regresso da qualidade e isenção total no Jornalismo. E as coisas ainda vão mudar muito mais daqui em diante com o avanço tecnológico e a IA.

    Concluo, lamentando que o Diário de Notícias esteja a ser instrumentalizado para publicar notícias falsas e artigos com desinformação evidente.

    Mas isso também mostra quais são as prioridades do seu director e os motivos da crónica crise do jornal.

    Para se vingar de uma notícia verdadeira sobre as contas da empresa que o emprega, avançou com um ataque vingativo com falsas acusações. É agora evidente que Filipe Alves não está a defender o melhor interesse do Diário de Notícias. Nem da imprensa.

  • Director de jornal? Só se tiver salário chorudo e um ‘topo de gama’

    Director de jornal? Só se tiver salário chorudo e um ‘topo de gama’


    Só em Portugal se critica um empreendedor, um jornalista, que funda um jornal e abdica de salário, enquanto director, para permitir que o projecto arranque e cresça.

    Mas, pelos vistos, o jornal PÁGINA UM é tão incómodo para alguns directores de outros jornais que se tenta tudo para procurar denegrir o jornal (mais uma vez…). Até inventar. Foi o que fez o director do Diário de Notícias (DN), Filipe Alves.

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    Foto: D.R.

    Se o director do PÁGINA UM, Pedro Almeida Vieira, tivesse derretido dinheiro do jornal num carro novo ou estivesse a ganhar um bom salário, se tivesse feito um mega empréstimo bancário, ninguém o atacaria.

    O Pedro Almeida Vieira é uma ameaça à forma como se tem gerido a comunicação social em Portugal. As mordomias. Os desperdícios. O desinvestimento nos jornalistas a troco de comentadores amigos e afins.

    No PÁGINA UM, pode não haver os salários bons de muitos directores de jornais em Portugal. Nem cartões de crédito e carros de topo para directores. Mas há um espírito de coragem, de cooperação, de luta, de companheirismo, de colaboração, de profissionalismo. De ambição e de partilha. De responsabilidade. De amizade. De comunidade. De investimento pessoal e profissional.

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    Foto: D.R.

    É um jornal que é verdadeiramente dos leitores. Só vive dos donativos e subscrições de leitores. Do barbeiro ao juiz. Da enfermeira ao motorista de autocarro. Do professor da Primária ao professor universitário. De jornalistas e fotógrafos.

    Talvez o maior incómodo para muitos, seja o facto de, no PÁGINA UM, ainda se acreditar que é possível e viável fazer Jornalismo isento e rigoroso. Fazer Jornalismo sem depender do departamento comercial, aquele que trata dos “projectos especiais”, das “conferências”, dos “podcasts”… cheios de marcas e representantes de empresas e de entidades públicas a vender o seu peixe. E que atropela a lei que proteje a imprensa de atropelos.

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    Numa era em que o negócio da comunicação social olha o abismo, lutar por um projecto de Jornalismo independente é uma luz. E é isso que o PÁGINA UM é: uma luz brilhante.

    Que seja uma luz que continue a iluminar o caminho, nestes tempos nebulosos em que a comunicação social vive mergulhada.

    Adenda:

    Sendo honesto, o director do Diário de Notícias, Filipe Alves, teria de ter sublinhado, nas suas notícias e publicações sobre o PÁGINA UM, que Pedro Almeida Vieira ganhou, como autor, … 6.000 euros … em 22 meses. São 273 euros por mês. Mas não. Preferiu deixar no ar a ideia da existência de ilegalidades ou de esquemas para fugir ao fisco, o que obviamente é falso e difamatório. É Lamentável.

    Na realidade, o que o director do PÁGINA UM tem feito é investido no jornal que fundou e que é de acesso livre, para que todos possam aceder a informação mesmo que não tenham meios financeiros.

    Pedro Almeida Vieira tem feito sacrifícios para o jornal crescer, mediante um modelo de negócios que assenta numa filosofia colaborativa e solidária, em que os leitores são chamados a cooperar. Também jornalistas e outros profissionais colaboram com o PÁGINA UM, por acreditarem na importância do jornal e no seu contributo para o futuro do Jornalismo.

    Mas tudo isto, o director do DN, intencionalmente omitiu.

    Elisabete Tavares, Jornalista


    N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.

  • Comunicação social: Depois da catástrofe dos fogos, Governo ‘despeja’ 725 mil euros em publicidade

    Comunicação social: Depois da catástrofe dos fogos, Governo ‘despeja’ 725 mil euros em publicidade

    Uma campanha publicitária de prevenção de incêndios rurais, que foi aprovada pelo Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) no mês de Maio, só agora viu a luz do dia. Foi assinado ontem o contrato que pode já não vir a tempo de prevenir alguns grandes incêndios, mas, que vem mesmo a calhar para empresas de comunicação social, sedentas de receitas.

    Em causa está uma verba de 589.900 euros, (ou 725.577, com IVA) que sai dos cofres do ICNF e vai direitinha para a comunicação social para a “difusão de publicidade institucional, no âmbito da campanha de sensibilização para a redução dos incêndios rurais”. Trata-se de uma campanha publicitária que arranca com dois meses de atraso, face ao previsto. Isto numa altura em que há uma forte pressão mediática em relação aos incêndios rurais, dado o acumular de tragédias e a grande dimensão da área ardida este ano.

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    Foto: D.R.

    O contrato foi adjudicado à empresa Nova Expressão, através de concurso público — sem ser divulgado se houve mais concorrentes. A decisão de adjudicação foi tomada pelo ICNF no dia 4 de Agosto e, segundo as condições do procedimento, o contrato entrou em vigor no 11º dia após aquela data, ou seja, no dia 19 deste mês. Isto apesar de o contrato só ter sido assinado ontem, segundo a data que consta na plataforma de registo de contratos públicos, o Portal Base.

    O contrato vai vigorar durante cinco meses “não devendo a respectiva vigência estender-se para além de 31/12/2025, incluindo eventuais prorrogações dos prazos de execução contratualmente previstas”.

    Os principais beneficiários desta “chuva” de anúncios — e de receita — serão os canais de televisão generalista de âmbito nacional, os quais irão arrecadar entre 59% e 61% dos anúncios, de acordo com o caderno de encargos consultado pelo PÁGINA UM. “A difusão da campanha [a nível nacional] deve utilizar preferencialmente os canais ‘free-to-air’ (FTA) RTP 1, SIC e TVI,
    atingindo, no mínimo, 85,00 % da população-alvo”, refere o documento.

    O contrato do ICNF de distribuição de publicidade pela comunicação social foi assinado no mesmo dia em que a ministra do Ambiente e da Energia, Maria da Graça Carvalho, visitou as áreas protegidas da Serra do Açor afetadas por incêndios rurais. Fizeram parte da comitiva ministerial Nuno Sequeira, vogal do conselho diretivo do ICNF , e Paulo Farinha Luís, diretor regional da Conservação da Natureza e das Florestas do Centro. / Foto: ICNF

    Mas o ICNF admite que “podem ser utilizados outros canais de televisão, de abrangência nacional, desde que não seja prejudicada a performance pretendida”.

    A comunicação social regional e local também vai receber entre 39% e 41% do ‘bolo’ que vai ser distribuído nesta receita publicitária, designadamente rádios e imprensa. Aqui enquadram-se estações de rádio de grandes grupos de media. “A difusão da campanha [em rádios regionais] deverá considerar as seguintes estações: Rádio M80 e Rádio TSF, com um mínimo de 200 spots em cada uma”, diz o mesmo documento.

    Serão ainda beneficiadas “pelo menos, 30 estações a nível local” e “um mínimo de 40 jornais regionais e ou locais”, com o foco nos que cobrem os concelhos e freguesias de risco prioritário em matéria de fogos.

    Foto: ICNF

    Esta campanha de prevenção de incêndios estava prevista ser feita em três fases, sendo que a primeira, dedicada ao tema das “queimadas”, deveria ter tido início 15 de Junho e terminado a 24 de Junho, de acordo com o caderno de encargos.

    A segunda fase da campanha, sobre o tema “fogos de artifício, churrascos e beatas”, deveria ter arrancado a 25 de Junho e prolongar-se até 23 de Setembro. Por fim, a terceira fase da campanha, dedicada ao tema das “máquinas” tinha data marcada de início para 24 de Setembro e iria terminar a 31 de Outubro. Contudo, o próprio caderno de encargos já previa que pudesse vir a haver um ajustamento das datas das três fases, dependendo da data de adjudicação.

    A “chuva” de anúncios milionária que vai cair no “colo” de alguma comunicação social nacional surge depois de Portugal registar o pior incêndio rural de sempre — em Arganil — e quando a área ardida do país está em níveis recorde da última década.

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    Foto: D.R.

    Segundo dados provisórios do Sistema de Gestão de Informação de Incêndios Florestais, até hoje, 27 de Agosto, a área ardida em espaços rurais atingiu os 251.131 hectares, com o registo de 6.939 ocorrências. O ano de 2025 é, assim, o pior da década em matéria de incêndios rurais.

    Esta distribuição de verbas pelos media, sobretudo pelos três grandes canais de televisão, surge quando os fogos ocupam quase diariamente a abertura dos telejornais, com imagens de tragédias e desolação, com serras, casas e campos pintados de negro ou ainda em chamas.

    Anúncio de sensibilização do ICNF divulgado na sua página no Facebook. / Foto: ICNF

    Mas, se é certo que a campanha de prevenção de incêndios rurais do ICNF começa tarde, não começa a más horas. Pelo menos para as empresas de media que vão ter receita extra graças a esta oportuna campanha do ICNF.

    O PÁGINA UM contactou o presidente do ICNF, Nuno Banza, que remeteu esclarecimentos para o departamento de imprensa daquele organismo. Até à hora de publicação desta notícia, ainda não foi possível obter um comentário do ICNF sobre este contrato publicitário.

  • Touro mecânico foi contratado pela Agência Nacional de Inovação para acção de ‘team building’

    Touro mecânico foi contratado pela Agência Nacional de Inovação para acção de ‘team building’

    Inovar tem sido o lema da Agência Nacional de Inovação (ANI) – que vai ser extinta junto com a Fundação para Ciência e a Tecnologia para dar lugar à nova Agência para a Investigação e Inovação (AII). E esse lema tem sido levado tão a sério pelo seu presidente, António Grilo, que até tem sido aplicado em alguns dos gastos que aquela entidade pública tem feito.

    O PÁGINA UM analisou alguns dos contratos públicos adjudicados por esta Agência este ano e, além da contratação de serviços de “saúde e bem-estar” a uma empresa de massagens com sede em Odivelas, a ANI fez outros contratos inovadores, incluindo, um contrato relativo a uma acção de ‘team building‘ que levou ao extremo o lema da casa.

    Foto: D.R.

    Nesta acção de ‘team building‘ realizada há três meses, no dia 28 de Maio, a ANI pagou 22.890 euros, com IVA incluído, à BV Eventos, a mesma empresa que faz massagens no Banco de Portugal. O contrato foi adjudicado por ajuste directo no dia 16 de Maio, e a actividade incluiu, segundo o caderno de encargos, a disponibilização de diversos tipos de actividades.

    Uma das actividades encomendadas pela ANi foi uma prova de vinhos “dinamizada por enólogo ou profissional certificado com formação específica em enologia” e tinha de incluir, pelo menos, “duas variedades de vinhos portugueses, com explicações sobre características e harmonizações”. Esta actividade contemplava ainda “jogos didáticos”, designadamente “um quizz de cultura vínica, jogo dos aromas e desafio sensorial”.

    Mas a ANI queria mais ‘acção e resolveu inovar. Assim, o evento contou com jogos e animação, incluindo um touro mecânico “com operador especializado e medidas de segurança”, porventura relacionado com a área científica do seu presidente, embora numa componente mais lúdica. António Grilo é professor de Gestão da Universidade Nova de Lisboa e liderou entre 2018 e 2023 a Unidade de Investigação e Desenvolvimento em Engenharia Mecânica e Industrial (UNIDEMI) integrada nesta institução universitária pública.

    António Grilo, presidente da Agência Nacional de Inovação. O gestor público foi quadro já teve a seu cargo a gestão académica na NOVA School of Science and Technology como presidente do Departamento de Engenharia Mecânica e Industrial, diretor do centro de investigação UNIDEMI, e membro do Conselho de Administração da NOVA.ID/ Foto: ANI/ D.R.

    Além do ‘rodeo‘, os quadros da ANI foram ainda presenteados com “Roda Viva” e, “pelo menos, mais dois jogos adicionais de tipo recreativo (ex.: jogos tradicionais)”, de acordo com o caderno de encargos consultado pelo PÁGINA UM.

    Mas não chegava. O evento contou também com música e um DJ só para a ocasião, sendo exigido que houvesse “interacção com os participantes para dinamização de actividades”.

    Este programa de ‘team building‘ foi acompanhado de um serviço de catering de luxo que incluiu tábua de queijos. Em resumo, o ‘manjar’ começou com um “Welcome Coffee” composto de bebidas (café, chás e água); miniaturas de sandes; bolos individuais e/ou miniaturas; fruta fresca. Seguiu-se um “almoço no estilo piquenique” com: “mini rissóis, chamuças e coxinhas de frango; croquetes, pastel de bacalhau e bola de carne; saladas variadas, designadamente, salada de atum e salada de polvo”.

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    A ANI contratou a BV Eventos para uma acção de ‘team building’ dedicada aos trabalhadores que incluiu uma prova de vinho e jogos e animação, designadamente um touro mecânico e um DJ, além de um serviço de catering com direito a tábua de queijos, sangria, vinho e cerveja. / Foto: D.R.

    O evento, que acomodou 120 pessoas, contou ainda com três pratos principais com “opção de carne”, “opção vegetariana” e saladas variadas. Por fim, a ANI pediu “pelo menos três sobremesas, sendo uma delas fruta”. A refeição foi ‘regada’ com cerveja, vinhos, sangria, sumos, água e café. Como extras, houve sopa, bolachas, tábuas de queijo e gressinos. Houve ainda direito a “bar aberto depois do almoço”, estando à disposição vinhos, cerveja, sumos e água.

    A ANI também adjudicou, este ano, um outro contrato à mesma empresa, a BV Eventos. O contrato, assinado a 22 de Abril, envolveu uma despesa de 15.847 euros, sem IVA, para prestação de serviços de bem-estar até ao final de 2025. Neste caso, não está disponível caderno de encargos para consulta, pelo que não são públicos quais os ‘mimos’ distribuídos pelos quadros da ANI.

    De resto, a ANI já é cliente regular da empresa de Odivelas que, entre tem entre seus serviços a realização de massagens. Este é já o terceiro ano consecutivo em que a ANI contrata serviços de “saúde e bem-estar” à BV Eventos. Em Abril de 2023 e de 2024, a ANI também contratou, por ajuste directo, este tipo de serviços para períodos de cerca de 8 meses. Nesses serviços, a Agência gastou, no total, 16.938 euros, sem IVA.

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    Foto: D.R.

    No total, em dois anos e meio, a BV Eventos facturou 145.523,80 euros em 10 contratos angariados junto de entidades públicas, dos quais sete por ajuste directo. Além da ANI, também o Banco de Portugal é cliente habitual da empresa.

    No caso da ANI, estes não são os únicos ‘mimos’ dados aos seus quadros. Já em Dezembro de 2024 dispendeu 5.678 euros, sem IVA, na “aquisição de 136 cabazes de Natal para os colaboradores e estagiários”. O ajuste directo foi feito à organização de cariz social, Movimento ao Serviço da Vida.

    Analisando os vários contratos adjudicados pela ANI este ano, salienta-se ainda a “solidariedade” da Agência que se estendeu a algumas sociedades de advogados, as quais beneficiaram de contratos sem concurso por parte desta entidade.

    Foto: D.R.

    No final de Março, a ANI adjudicou dois contratos à Vieira de Almeida & Associados e à Rebelo de Sousa & Advogados, respectivamente nos montantes de 45 mil euros e 20 mil euros. No início de Junho, entregou 10 mil euros à PricewaterhouseCoopers Legal. Em meados de Julho, pagou 19.900 euros à Morais Leitão, Galvão Teles, Soares da Silva.

    Entre os gastos que tem tido, nota ainda para as despesas com a nova sede, designadamente custos com sinalética e iluminação. Resta agora saber se estes gastos vão ser reaproveitados pela nova Agência para Investigação e Inovação (AII) ou se esta vai também significar: aii… que vêm aí mais gastos públicos.

  • Lisboa: PSP nem sequer sabe quantas casas foram assaltadas com famílias a dormir

    Lisboa: PSP nem sequer sabe quantas casas foram assaltadas com famílias a dormir

    Os assaltos a apartamentos durante a noite, enquanto as famílias dormem, começam a ser um flagelo cada vez mais relatado e que deixa marcas e traumas nas vítimas. Umas acordam e deparam-se com os ladrões em casa. Outras só dão conta do assalto quando acordam, de manhã.

    Mas tanto num como noutro caso, ficam com marcas e durante algum tempo algumas das vítimas têm dificuldade em adormecer. Nos casos em que havia bebés ou crianças pequenas em casa, na altura do assalto, os pais ficam sobressaltados.

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    Foto: D.R.

    Desde que o PÁGINA UM noticiou este tipo de assaltos, têm-nos chegado mais casos. Em algumas situações, as vítimas acordaram e os assaltantes fugiram. Noutros, as vítimas só de manhã, quando acordaram, é que descobriram que tinham sido assaltadas.

    Procurámos saber, afinal, quantas famílias residentes na capital foram assaltadas enquanto dormiam, desde o início do ano. A resposta que obtivemos é que não se sabe.

    A Polícia de Segurança Pública (PSP) não consegue indicar quantos assaltos com as famílias a dormir ocorreram este ano em Lisboa. Questionada pelo PÁGINA UM sobre o número de ocorrências deste tipo que foram registadas desde Janeiro, o gabinete de comunicação da PSP foi lacónico: “não nos será possível facultar-lhe uma resposta, tendo em conta a especificidade dos dados que pretende”.

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    Foto: D.R.

    Nos casos que relatámos recentemente, as famílias vítimas de assalto não apresentaram queixa formal, mas as que chamaram a PSP não viram nenhuma prova a ser recolhida nem esperam que sejam investigados os assaltos e detidos os assaltantes. Isto porque, para as autoridades policiais, se não existir sinais de arrombamento nem ameaças ou agressões, então os casos são, de certa forma, desvalorizados.

    Esta prática arrisca dar um sinal forte aos assaltantes: podem continuar a invadir casas durante a noite que não serão procurados nem importunados.

    Para as famílias, fica uma sensação de impotência perante a invasão do seu lar. Para os assaltantes, fica o sentimento de impunidade. E os assaltos sucedem-se, tanto a residências como a estabelecimentos comerciais. Entrando por janelas abertas ou mal fechadas, trepando varandas, passando por cima de estendais.

    Ainda esta semana nos chegaram mais relatos, desta vez de apartamentos assaltados com recurso a arrombamento. Só na Rua Leite Vasconcelos, em Lisboa, no mesmo prédio, dois apartamentos foram assaltados na mesma noite. Neste caso, não estava ninguém em casa.

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    Foto: D.R.

    Certo é que, por haver arrombamento, estes assaltos são vistos com mais seriedade, aos olhos da lei – e da PSP. Seria de repensar se, o facto de haver assaltos a ocorrer com famílias a dormir não seriam de ser levados mais a sério. Porque, ao bens que são roubados, somam-se as marcas psicológicas que ficam nas vítimas. E essa quebra de confiança na segurança que fica não se pode reportar à seguradora.

    Em alguns casos, mesmo pondo trancas às portas e alarmes nas janelas, o sentimento de insegurança permanece. Não se saber qual o número de famílias que são vítimas deste tipo de assalto não ajuda a restaurar o sentimento de que é seguro estar em casa.

  • Banco de Portugal paga massagens aos trabalhadores

    Banco de Portugal paga massagens aos trabalhadores

    Ser funcionário público ou trabalhar para uma entidade pública em Portugal não tem de ser sinónimo de frugalidade ou austeridade. Pelo contrário, em alguns casos, há tratamento VIP. Num país que ainda ostenta mais de 1,6 milhões de habitantes sem médico de família, o PÁGINA UM detectou entidades públicas que contratam serviços de massagens para garantir a saúde física e mental dos seus funcionários.

    Ainda este mês, o Banco de Portugal contratou, por ajuste directo, os serviços de uma empresa de massagens pelo valor de 12.240 euros por dois meses. A empresa escolhida foi a BV Eventos – Animação Turística, com sede num apartamento em Odivelas. A empresa opera com a marca BeWell e, no seu site, publicita algumas das suas clientes, designadamente duas das maiores do país: Sonae e Galp Energia.

    Foto: D.R.

    Mas, pelos vistos, também o Banco de Portugal tem bolsos fundos. No mais recente contrato, adjudicado à BV Eventos no passado dia 7 de Agosto ficaram garantidos 58 dias de massagens a decorrer nas 14 instalações detidas pela instituição financeira, incluindo a sua sede, segundo o caderno de encargos do procedimento consultado pelo PÁGINA UM. A ausência de concurso foi justificada com o facto de se tratar de um contrato de valor inferior a 20 mil euros.

    Este contrato iniciar-se-á no próximo dia 1 de Outubro, fazendo parte do “Programa de Bem-Estar 2025 do Banco de Portugal”, cujo objectivo é proporcionar aos trabalhadores “um conjunto de benefícios e actividades com o objetivo de promover o seu bem-estar através da iniciativa Momentos Anti-Stress”.

    A iniciativa Momentos Anti-Stress “tem como objetivo oferecer aos trabalhadores do Banco de Portugal, sessões individuais (com uma duração mínimo de 15 minutos por sessão) para combater o stress e a ansiedade e atenuar dores posturais localizadas”.

    Imagem de tabela incluída no caderno de encargos do contrato.

    O preço máximo contratado, de 12.240 euros, contempla um valor a cobrar de 240 euros por cada dia completo, abrangendo 30 sessões, e 135 euros para meio dia, com 15 sessões de massagens.

    Nas instalações temporárias arrendadas pelo Banco em Lisboa, no Edifício Marconi, irá haver massagens disponíveis dois dias por semana, num total de 24 dias. No Edifício Castilho irá haver dois dias de massagens por mês, num total de seis dias. Já na sede, situada na Baixa lisboeta, irá haver um dia de massagens por mês, num total de três dias, tal como no Complexo do Carregado, Edifício Filial e Edifício Avenida da República.

    Nas restantes instalações do Banco, espalhadas pelo Continente e Regiões Autónomas da Madeira e Açores, os trabalhadores vão beneficiar de dois meios dias de massagens.

    Foto: D.R.

    A empresa tem de levar “os equipamentos e meios necessários à realização das sessões (cadeiras, materiais de higiene)”, enquanto o Banco de Portugal “assegurará os locais apropriados e confortáveis que garantam a privacidade dos trabalhadores”.

    Mas está não é a primeira vez que o Banco de Portugal contrata esta empresa de massagens. Já em 8 de Agosto de 2024 adjudicou um contrato no montante de 35 mil euros à mesma empresa para prestar serviços de massagens, mas ao longo de nove meses. Neste caso, o procedimento foi feito por consulta prévia.

    Outro cliente regular da BV Eventos é a Agência Nacional de Inovação (ANI) que já adjudicou quatro contratos a esta empresa nos últimos dois anos e meio. Dos quatro contratos, três foram relativos à “aquisição de serviços de saúde e bem-estar” no valor global de 32.785 euros.

    António Grilo, presidente da Agência Nacional de Inovação. / Foto: ANI/ D.R.

    Outra entidade pública que é cliente habitual da BV Eventos é a MPH – DomusSocial – Empresa de Habitação e Manutenção do Município do Porto, que já adjudicou à empresa dois contratos, em Janeiro deste ano e no início de 2023, para a realização de massagens, num total de 5.260,8 euros.

    Mais compreensível, dada a natureza por vezes difícil das funções desempenhadas pelos trabalhadores, é o serviço contratado à BV Eventos pelo Centro de Emprego e Formação Profissional de Vila Franca de Xira. Num contrato adjudicado no dia 29 de Julho deste ano, no valor de 24.598 euros, foi feita a aquisição de um “programa de saúde e bem-estar”. Este programa foi destinado aos trabalhadores do Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP) a nível nacional, abrangendo os trabalhadores “nos Serviços Centrais e nas Delegações Regionais”.

    Também o município de Braga recorreu aos serviços da empresa, num contrato assinado no final de Julho de 2023 para a “prestação de serviços para a realização de atividades no âmbito da saúde e bem estar do Programa Equilíbrio”, não existindo mais detalhes disponíveis, a não ser o custo para os contribuintes: 17.030 euros.

    Serviços contratados pelo IEFP à BV Eventos.

    No total, em dois anos e meio, a BV Eventos facturou 145.523,80 euros em 10 contratos angariados junto de entidades públicas, dos quais sete por ajuste directo.

    É certo que a saúde mental e o bem-estar dos trabalhadores públicos são importantes, sobretudo quando as tarefas desempenhadas são exigentes do ponto de vista psicológico e emocional. Contudo, com tantas despesas que saem do bolso do contribuinte, pouco ou nada sobra para massagens e, tanto o seu bem-estar como a sua saúde mental podem ficar comprometidos com os ‘mimos’ extravagantes que algumas entidades públicas distribuem pelos seus quadros.

  • Limpeza camarária não resolve decadência social do Jardim da Cerca da Graça

    Limpeza camarária não resolve decadência social do Jardim da Cerca da Graça

    No dia 25 de Julho, o PÁGINA UM publicou uma reportagem sobre o estado de degradação em que se encontrava o Jardim da Cerca da Graça, em pleno centro da capital. Na última semana, uma equipa de limpeza esteve a executar uma acção de limpeza do espaço, mas também numa colina próxima do Jardim, junto à Calçada do Monte. A acção durou vários dias e resultou em dezenas de sacos de lixo que acabaram por ser retirados da zona

    O PÁGINA UM regressou esta quinta-feira ao local e comparou o que vimos na reportagem anterior com a situação presente.

    Durante vários dias, uma equipa esteve a fazer uma acção de limpeza no Jardim da Cerca da Graça e na Calçada do Monte. Na foto, é visível uma carrinha com vários sacos de lixo e um funcionário a subir a escadaria da entrada principal do Jardim carregando sacos.

    Encontrámos um jardim significativamente mais limpo. Também as tendas de sem-abrigo que se encontravam no parque infantil já não estavam lá. E também não vimos nenhuma seringa, nem cartões bancários e carteiras roubadas, ao contrário do que aconteceu na primeira reportagem.

    Contudo, apesar dos esforços da Câmara Municipal de Lisboa (CML) para melhorar e limpar o espaço, já começam a ser visíveis focos de lixo e latas espalhadas pelo chão. No parque dos cães, mantêm-se cobertores e edredons pendurados. Numa das “ruas” do parque, onde se encontravam tendas, estão agora alguns pertences de sem-abrigo que se voltaram a instalar no mesmo local.

    Por outro lado, apesar de a CML ter efectuado uma limpeza no parque infantil, o mesmo não parece estar em condições para ser frequentado por crianças. No escorrega dos mais pequenos, encontrámos um pedaço de papel absorvente sujo e sinais de que o espaço é usado por adultos. Ao lado do escorrega, era visível uma base de cartão no chão.

    Na zona do parque infantil já não há tendas de sem-abrigo.
    No parque dos cães, permanecem cobertores e edredons, num abrigo improvisado que serve da “casa” a sem-abrigo que se instalaram naquele Jardim.
    No escorrega dos mais pequenos, encontrámos um pedaço de papel absorvente sujo, havendo sinais de que o pequeno abrigo de madeira é usado por adultos. Ao lado, um pedaço de cartão jazia no chão.

    No escorrega das crianças mais crescidas, o “abrigo” de madeira com escadas que dão acesso ao escorrega já não tinha seringas nem cartões bancários ou carteiras roubadas. Mas encontrava-se com algum lixo, incluindo muitas beatas.

    Na zona reservada a brincadeiras com “areia”, o que resta de uma porta de correr jazia no chão, onde também eram visíveis beatas e outros lixos.

    As colinas mais acessíveis do jardim também foram limpas na recente acção de limpeza. Mas a colina de mais difícil acesso — cuja entrada era a que dava acesso ao antigo parque de estacionamento da EMEL — tem ainda mais lixo, incluindo malas de viagem velhas e sujas. O tipo de objectos que se encontram no local aparentam ser de tendas de sem-abrigo que residiam na parte de cima do parque e que terão sido retiradas recentemente.

    Quando os turistas descem a Calçada do Monte, é esta a primeira imagem do Jardim da Cerca da Graça que levam consigo: uma colina cheia de lixo. Perto, também vislumbram sem-abrigo a dormir rodeados de caixas de cartão.

    As escadas por onde as crianças sobrem para andar no escorrega maior ainda apresentam lixo variado. Mas já não havia lá seringas nem carteiras roubadas.
    Nesta nossa segunda visita ao Jardim, observámos que uma antiga porta de correr ocupava uma parte do chão do parque destinado a brincadeiras com areia. Havia beatas espalhadas pelo recinto dedicado aos mais novos.
    A primeira imagem que os turistas encontram do Jardim da Cerca da Graça é esta: lixo diverso, incluindo malas de viagem sujas, “descem” colina abaixo e já fazem parte da paisagem, ao lado de figueiras e outras árvores e arbustos.

    Ao descer a Calçada, continuam no mesmo sítio as garrafas e latas colocadas nos diversos orifícios que se encontram no muro que desce aquela via. E são visíveis, no chão, vidros de viaturas, que terão sido assaltadas recentemente.

    O que se torna evidente, é que todo o esforço da CML em limpar a zona esbarra num problema: a toxicodependência e os sem-abrigo que ali buscam o ‘produto’ e lá acabam por ficar a residir. Acresce a pressão turística e o número elevado de pessoas que se deslocam àquela zona, e por ali ficam a consumir bebidas, a ver a vista da cidade.

    As tendas foram retiradas do Jardim da Cerca. Mas os sem-abrigo e os toxicodependentes permanecem por ali. Bem como o risco de roubos e assaltos.

    Logo em frente à entrada principal do Jardim da Cerca, do outro lado da estrada, uma “tenda” improvisada com cartão ocupou o espaço onde até hoje existiam abrigos para uma colónia de gatos. São visíveis malas de viagem e outros objectos no local. As tigelas de comida e água dos gatos, aparentemente, desapareceram. Mas os gatos continuam a deambular pela Calçada, agora que perderam a sua “casa”.

    Na Calçada do Monte, havia vestígios de assaltos recentes a viaturas que estiveram estacionadas naquela via que é abrangida pela EMEL.
    Alguns sem-abrigo transferiram-se do Jardim da Cerca para o outro lado da estrada, na Calçada do Monte. Ocupam agora o espaço que até agora era o local onde estavam os abrigos da colónia de gatos residente no local.
    Na colina da Calçada do Monte, a CML levou a cabo uma grande acção de limpeza há poucos dias. Mas já são visíveis garrafas e latas. Um sem-abrigo também dormiu no local algumas noites.

    O que observámos levanta a questão sobre a viabilidade de a CML conseguir resolver sozinha o problema da degradação da zona. A conclusão é que não.

    Por mais equipas que a CML desloque para o local, para efectuar acções de limpeza, rapidamente, o lixo começa a aparecer. As tendas são substituídas por abrigos improvisados pela zona.

    Há seres humanos ali, a consumir droga, a viver uma vida sem dignidade. E se estão ali é porque há ali quem venda droga. Sem resolver o problema da venda e consumo de droga e álcool no local, não será possível travar a espiral de degradação da zona, que tem sido afectada por criminalidade contra pessoas e estabelecimentos.

    Esperar que a CML resolva isto sozinha é ingénuo. O Jardim da Cerca da Graça e a colina junto à Calçada do Monte estão agora mais limpos. Mas até quando?

    Lisboa merece um tratamento melhor. Os lisboeta merecem melhor. E, sobretudo, aqueles seres-humanos que ali estão a viver sem dignidade e condições, merecem melhor. E o problema de fundo, da toxicodependência que leva à criminalidade e gera sem-abrigo, não se resolve sem que haja uma intervenção concertada e eficaz.

    Sem isso, resta à CML ir enviando equipas de limpeza para, temporariamente, melhorar o aspecto e salubridade da zona.

    A colina da Calçada do Monte está visivelmente mais limpa, após a acção de limpeza da CML.
    Esta foi uma das zonas do Jardim da Cerca onde o PÁGINA UM encontrou seringas no chão. Hoje estava visivelmente mais limpa, sem lixos no chão nem na colina que desce para o relvado do Jardim.

    Pelo menos hoje, já se sentia um ambiente melhor no Jardim. Mais leve. Ouvia-se música. Um cão corria pelo relvado destinado a lazer e piqueniques. O quiosque estava vazio, mas o calor também era intenso.

    Resta esperar para ver qual o caminho que, daqui em diante, aquele espaço central da capital vai seguir. Se vai voltar a ser um Jardim com festas de aniversário de crianças e brincadeiras entre família e amigos. Ou se vai manter-se na espiral de tráfico e consumo de droga e álcool, crime e decadência. Esperemos que siga pelo primeiro.

  • Agora, a Mafalda já se lembra da Alemanha de 1930

    Agora, a Mafalda já se lembra da Alemanha de 1930

    Mafalda Anjos publicou, no dia 8 de Agosto, na revista Visão um artigo com o título “Ainda estamos aqui, apesar de vivermos tempos que nos lembram a Alemanha de 1930”. No artigo, a jornalista e ex-directora da Visão elabora sobre a ameaça de fecho que paira sobre a revista, devido à insolvência da empresa a que pertence, a Trust in News.

    No artigo, aproveita para lavar as mãos e branquear o seu efectivo contributo para a crise da empresa de media e o risco de fecho da revista. E atribui as culpas da crise à extrema-direita e ao regresso de “vibes” que fazem lembrar a ascensão dos nazis ao poder na Alemanha dos anos 30.

    Por um lado, é surpreendente. Afinal, Mafalda Anjos recorda-se desse episódio negro na História que levou à Segunda Guerra Mundial — e ao Holocausto. Ninguém diria que a jornalista se lembrava que tinha existido esse período na História.

    E é surpreendente por um simples motivo: Mafalda Anjos foi um dos activistas em Portugal que mais incentivou nos media a segregação da população, a perseguição e o incentivo ao ódio de uma parte dos portugueses. Foi há pouco tempo. E vale a pena recordar. Mafalda foi um dos rostos da intolerância e perseguição ao “diferente”.

    Como directora da Visão protagonizou um dos mais tristes e lamentáveis eventos na História da imprensa em Portugal: a sistemática perseguição e difamação de uma parte da população portuguesa. Não por causa da sua cor de pele ou etnia. Não por causa da sua religião. Não por causa do seu género ou sexualidade. Mas apenas por isto: optaram por não tomar as novas vacinas contra a covid-19. Muitos tinham já imunidade natural (um tema que foi alvo de censura). Outros tomaram a opção por prevenção, dados os escassos dados sobre os eventuais efeitos a longo prazo das vacinas. Outros por não estarem nos grupos de risco. Outros por considerarem que os riscos da toma da vacina superavam os seus eventuais benefícios. Se Mafalda Anjos tivesse feito jornalismo, na altura, em vez de seguir a propaganda, saberia isto.

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    No seu artigo publicado este mês diz o seguinte:

    “Há líderes populistas e carismáticos de direita radical que sabem tirar partido do ressentimento, oferecendo respostas simplistas para problemas complexos, tal como na Alemanha dos anos 30”.

    Foi o que se passou na pandemia. Líderes políticos, usando o medo e o ressentimento, usando a propaganda, tiraram partido da crise de saúde pública para, servindo interesses económicos, abrir caminho ao reforço de poderes e supressão de direitos diversos, incluindo a liberdade de imprensa e de expressão.

    “Atribuem-se culpas coletivas e escolhem-se bodes expiatórios para apontar o dedo, tal como na Alemanha dos anos 30.”

    Foi que aconteceu na pandemia e Mafalda ajudou à perseguição.

    “Temos novas tecnologias disruptivas que catapultam a propaganda, tal como na Alemanha dos anos 30.”

    Tal como na pandemia. Mas, Mafalda, é mais do que isso. Com estas tecnologias impõe-se a censura, impõem-se uma narrativa. Difama-se insulta-se. Como fez Mafalda na pandemia.

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    Os confinamentos aplicados em Portugal e outros países na pandemia deixaram um rasto de destruição na economia e na saúde física e mental. A medida foi contestada e questionada com base em evidências e estudos científicos. Quem o fez foi chamado de “negacionista”.

    “E tenta-se descredibilizar os média tradicionais que denunciam as mentiras, os engodos e os perigos destes, tal como na Alemanha dos anos 30.”

    Aqui Mafalda está errada. Porque houve uma evolução. Não foi preciso destruir os media tradicionais. Ao aliarem-se a propaganda, autodestruíram-se. Aliás, continuam a autodestruir-se ao publicar artigos como o de Mafalda, este mês, na Visão.   

    Porque Mafalda Anjos, e outros jornalistas em Portugal, meteram o Jornalismo debaixo do tapete na pandemia e em torno de outros temas — das polémicas em torno da ideologia do género, à guerra na Ucrânia, etc. Fecharam-no, numa masmorra, a sete chaves. Condenaram o Jornalismo à obscuridade. Em vez de investigarem os vários temas da pandemia, aliaram-se aos governantes para impor narrativas. Para impor censura aos “desalinhados”. Para perseguir, denegrir, difamar, segregar os que questionavam medidas ou optavam por não tomar as vacinas ou usar as máscaras faciais.

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    Sim, Mafalda, houve jornalistas a ser censurados na pandemia. Houve órgãos de comunicação social a serem alvo de censura. Ainda hoje há censura.

    Foi um período negro na História de Portugal. Não apenas pela pandemia, mas pela censura, a segregação. Nasci em Abril de 1974. Assisti em choque a comentários de pessoas como Mafalda Anjos. A textos publicados na revista Visão, no Público, no Diário de Notícias, no Expresso, … Os apelos e apoios às políticas de segregação, sem qualquer base científica, mas com uma gigantesca base desumana.

    Foi um período de retrocesso nos mais basilares valores europeus, do respeito pela Democracia, pelo Estado de Direito, pelos direitos humanos e direitos civis. O ‘my body my choice’ deixou de ser defendido por pessoas como Mafalda. Foi trocado pela mais pura e odiosa segregação populacional.

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    Lembro-me de ver algumas publicações de Mafalda na rede X e de ter percebido, finalmente, como é que famílias de bem na Alemanha de 1930 alinharam com os nazis na perseguição a judeus. Era algo que eu nunca tinha percebido bem. Como é que “boas” pessoas se transformam em monstros, ficando possuídas pelo mais puro mal.

    Sempre considerei a Mafalda uma “boa” pessoa. Nada me dizia o contrário. Até assistir ao seu comportamento na pandemia. Como jornalista e directora de um órgão de comunicação social o seu desempenho desde 2020 foi desastroso. Trocou o jornalismo, a isenção, a investigação pela ideologia, a propaganda, a censura, a perseguição e a segregação. Usou termos para denegrir e difamar, como ‘chalupa’, ‘negacionista’, ‘anti-vacinas’. Outros foram atrás e chamar nomes e insultar passou a ser normal na pandemia.

    Durante a pandemia, percebi, finalmente, como “boas” pessoas na Alemanha de 1930 se tornaram apoiantes de Hitler e da ideologia e políticas nazis. Como caíram na propaganda nazi. Como se tornaram “agentes” nazis que perseguiam e denunciavam. Mafalda trocou a caneta de jornalista pela farda de “agente de saúde pública” do batalhão da propaganda da ditadura sanitária insana e anti-científica e anti-humana que se instalou nos anos da pandemia.

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    Mafalda deveria ter feito o que fez Pedro Almeida Vieira. Em 2020, viajou pela Europa e testemunhou ao vivo como estava a ser gerida a pandemia, inclusive na Suécia, um dos países com a maior taxa de sucesso na gestão da pandemia. Na Suécia, não houve máscaras, em geral. Não houve perseguição pública de parte da população. Não houve medo e terror imposto por jornalistas, ao contrário do que aconteceu em Portugal.

    Mafalda devia ter promovido a investigação jornalística, não a disseminação de propaganda. Devia ter investigado os números fornecidos pela Direcção-Geral de Saúde. Ou a censura e desinformação que circulavam sobre a origem da pandemia e a eficácia real do uso de máscaras. Ou o “perigo” que representavam as crianças para os avós…

    Mafalda devia ter investigado, como fez Pedro Almeida Vieira, o que se passava na Ordem dos Médicos. Se o tivesse feito, teria descoberto que o então bastonário, Miguel Guimarães, escondeu numa gaveta dois cruciais pareceres do Colégio de Pediatria que não recomendavam a administração das novas vacinas contra a covid-19 a crianças e jovens saudáveis.

    Estocolmo, Suécia, 2020 (Foto: PAV)

    Mesmo, agora, há muito para investigar e noticiar. Ainda esta semana, o PÁGINA UM publicou uma notícia sobre um estudo científico liderado pelo maior epidemiologista do mundo, John Ioannidis. Sim, o reputado professor da Universidade de Stanford que foi perseguido e ameaçado na pandemia por fanáticos da censura sanitária que se instalou.

    O estudo  revela um retrato bem diferente do proclamado durante a pandemia: 2,5 milhões de vidas salvas em três anos, quase todas em idosos, expondo o exagero e a fragilidade da narrativa oficial. E deixa em aberto a hipótese de que a vacinação de menores de 30 anos pode ter causado um impacte líquido negativo.

    Ou seja, o estudo dá razão ao Colégio de Pediatria da Ordem dos Médicos e aos pareceres que foram escondidos dos portugueses. Os pareceres que Mafalda e a Visão nunca noticiaram por seguirem a propaganda da época.

    Anders Tegnell, reputado epidemiologista sueco, liderou a resposta da Suécia à pandemia de covid-19 com um grande sucesso. O país, ao contrário de outros, como Portugal, praticamente não regista excesso de mortalidade. A Suécia recusou aplicar, em geral, confinamentos e o uso generalizado de máscara facial. / Foto: D.R.

    Na altura, perseguiram-se pais que tinham dúvidas. Segregaram-se crianças e jovens. Aterrorizou-se a população.

    Tantas notícias teria Mafalda conseguido se tivesse investigado temas da pandemia. Mas não o fez.

    A pergunta é: se Mafalda vivesse na Alemanha de 1930, iria apoiar a segregação de judeus se lhe dissessem que eram uma “ameaça” à saúde pública?

    Como o leitor deve ter reparado, possivelmente, não coloquei neste artigo qualquer link para nenhum dos artigos segregacionistas e de incentivo ao ódio que Mafalda publicou na Visão. Nem nenhum link para qualquer uma das suas publicações cheias de ódio publicadas nas redes sociais e que atraíram – e fortaleceram – uma multidão de gente raivosa em busca de vítimas que servissem de bode expiatório para tudo o que a pandemia trouxe, incluindo crise económica e desemprego. Não quero promover o seu ódio.

    E há algo que é certo: Mafalda contribuiu para a insolvência da Trust in News, sim. Não só porque era directora da Visão e publisher, como tinha acesso, se quisesse, às demonstrações financeiras da empresa de Luís Delgado. Podia ter actuado. Por outro lado, ajudou a arrastar a Visão para a lama do descrédito público, ao alinhar com propagandas e narrativas únicas, ou seja, ao recusar investigar a fundo todos os temas, sem excepção. O leitor não é burro.

    Revista Visão (Foto: PÁGINA UM)

    Quando o PÁGINA UM alertou para a grave crise que a TIN vivia e o seu gigantesco passivo e dívidas ao Estado, o que fez Mafalda? Respondeu ao Pedro Almeida Vieira que os seus artigos sobre a crise da TIN “eram fantasiosos”. Estávamos em Julho de 2023.

    Passado uns escassos cinco meses, abandonou o barco, quando o PÁGINA UM tinha tornado público que o seu barco se estava a afundar. Tentou salvar a pele e sair com uma indemnização superior a 50 mil euros. Hoje é uma das credoras da TIN. Mafalda foi directora da Visão e directora editorial (publisher) da TIN durante anos.

    Agora, tenta lavar a sua imagem e as suas mãos. E a revista Visão ainda lhe dá a honra de publicar lá um artigo. Inacreditável.

    Mafalda não sabe pedir desculpa. Nem à Visão, a qual arrastou para guerras ideológicas e para máquinas de propaganda. Nem aos leitores que se foram afastando. Nem sabe pedir desculpa aos que perseguiu e contra os quais incentivou o ódio e a segregação.

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    Mafalda ainda pode continuar a ser “boa” pessoa e ter apenas ter caído temporariamente na propaganda sistémica e coordenada que se instalou na pandemia. Pode ter sido fraca. Pode ter ficado possuída pelo mal — o mal que odeia, que segrega, que censura. Mas nunca pediu desculpa. E penso que ninguém espera que o venha a fazer. Pelo contrário. Como outros, vai branquear a sua imagem e o seu papel. Vai procurar que se esqueça o que escreveu e o ódio que promoveu.

    Uma coisa é certa: Mafalda agora fala da Alemanha de 1930. Agora, Mafalda lembra-se. Recorda-se que houve períodos na História em que pessoas foram perseguidas por vizinhos, por amigos. Houve censura. Houve medo. Houve denúncias. Talvez, assim, numa futura crise, Mafalda não volte a fazer parte dos que perseguem, odeiam e segregam. Quem sabe.

    Lamento profundamente o que se passa com a Visão e as restantes publicações da TIN. Os postos de trabalho ameaçados. Os salários em atraso. Por isso, assistir à publicação de textos como o de Mafalda Anjos na Visão gera estupefacção. Porque a Europa vive, de facto, sob a ameaça de uma burocrática censura digital que se instala, com ajuda de leis novas que reprimem a liberdade de imprensa, mesmo que sejam “vendidas” embrulhadas em boas intenções. Há ameaças à democracia no Ocidente. Mas Mafalda continua a não conseguir ver a floresta da qual Portugal faz parte e de como o que se passa no país é ditado por políticas decididas no exterior, com a cumplicidade de políticos e partidos nacionais.

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    Vivem-se tempos similares aos da Alemanha de 1930? Sim. Mas não é de hoje. Já se escreve sobre isso há anos, inclusive aqui no PÁGINA UM. Por isso, é bom que agora Mafalda se lembre, finalmente, da Alemanha dos anos 30. Mas também tem “muita lata” em vir falar disso agora. Mafalda tem ajudado e contribuído para que este clima de opressão se instale e prospere. Fez parte dele até, a dado momento. E enquanto não pedir desculpa pelo que fez aos portugueses, à Visão e ao Jornalismo, escusa de vir queixar-se. Soa a lágrimas de crocodilo – daqueles que, como bons predadores, já tem a barriga cheia de uma vítima qualquer.

    Elisabete Tavares é jornalista

  • Marcelo contrata Pinguim Atrevido para explicar como usar uma condecoração

    Marcelo contrata Pinguim Atrevido para explicar como usar uma condecoração

    Quando o assunto é complicado e se pretende torná-lo simples e cativante, o melhor é fazer um desenho. E se então for um desenho animado, estupendo. Terá sido isso que pensou Marcelo Rebelo de Sousa quando a Presidência da República decidiu encomendar a realização de um filme de animação para explicar… como usar condecorações.

    A empresa escolhida pela Presidência da República para esta ‘árdua tarefa’ de mostrar aos mais novos como as 10 dezenas de condecorações são usadas, quase sempre pelo já (muito mais) velhos, foi a Pinguim Atrevido, com sede no Porto, que vai facturar 17.896 euros, com IVA incluído, num contrato celebrado por ajuste directo no dia 5 de Junho, mas somente publicado no Portal Base no passado dia 9 de Julho.

    Marcelo Rebelo de Sousa com António Mota, antigo CEO da Mota-Engil, em Junho passado. / Foto: Presidência da República

    O objecto do contrato é a “aquisição do serviço de produção de filme de animação ‘Como Usar uma Condecoração’”, mas o contrato muito simples é omisso quanto às especificações do filme e também não menciona qual o objectivo desta encomenda. Sabe-se apenas que deverá estar concluído no início de Setembro.

    Também não está disponível o caderno de encargos do procedimento, contrariando as melhores práticas de transparência na contratação pública. Também não se sabe a razão da escolha da empresa Pinguim Atrevido. Para contratos de valor inferior a 20 mil euros podem ser feitas adjudicações de ‘mão beijada’ ao abrigo do disposto no Código dos Contratos Públicos.

    Em todo o caso, a Pinguim Atrevido é uma empresa criada em Maio de 2015 por Jorge Marques Ribeiro e Rui Marques Ribeiro, gerindo “um pequeno estúdio situado no centro do Porto” e produz “desenhos animados em 2D, 3D, e misturado com imagem real”.

    Foto: Presidência da República

    No seu site, a empresa complementa a sua apresentação com mais detalhes: “Temos vários estilos e linguagens tanto em filme como em ilustração, mas o que mais gostamos de fazer é bonecada!” O primeiro dos sócios, Jorge Marques Ribeiro, foi presidente da Casa da Animação, tendo realizado diversas animações, como, por exemplo, uma dedicada ás Linhas de Torres Vedras.

    Mas este não foi o único contrato envolvendo filmes recentemente encomendados pela Presidência da República. No dia 4 de Agosto, os serviços da Presidência formalizaram um contrato para a “aquisição de serviços de edição de vídeo para reformulação do filme ‘Palácio de Belém: Vivências’, inicialmente realizado em 2005..

    Este novo contrato foi adjudicado a Ramon de Oliveira Freitas, criador do personagem ‘Mitzpe’, através de um procedimento de consulta prévia. A justificação dada para a não realização de concurso foi o facto de ter, alegadamente, havido uma “consulta prévia, com convite a pelo menos três entidades”, o que abre caminho para um ajuste directo “quando o valor do contrato seja inferior a 75.000” euros. No caso deste contrato, o valor pago foi apenas de 3.752 euros.

    Marcelo Rebelo de Sousa numa das condecorações atribuídas no passado dia 28 de Julho no Palácio de Belém. Na imagem, Miguel Horta e Costa, presidente da Associação World Monuments Fund Portugal, recebeu a insígnia de Membro Honorário da Ordem do Infante D. Henrique atribuída àquela organização.
    / Foto: Rui Ochôa | Presidência da República

    O filme sobre o Palácio de Belém que vai agora ser alvo de ‘remodelação’, conta a história do “emblemático edifício, desde a implantação da República aos primeiros anos do séc. XXI”, tendo sido originalmente encomendado por Jorge Sampaio no âmbito da exposição temporária ‘Do Palácio de Belém. Encontra-se disponível online e na exposição permanente do Museu da Presidência da República.

    O filme faz um retrato “das vivências da residência oficial do Presidente da República Portuguesa e de quase cem anos da nossa História contemporânea”. Foi concebido por Diogo Gaspar e Elsa Alípio e teve produção de Patrícia Rolo Duarte.

    Já em Fevereiro do ano passado, a Presidência contratou “a produção e aquisição de filmes para o Núcleo das Ordens Honoríficas Portuguesas“, num contrato feito por ajuste directo no valor de 18.327 euros. A encomenda ficou nas mãos da empresa Shortfuse – Soluções de Webvídeo.

    Fotograma de um dos desenhos animados da Pinguim Atrevido.

    Um ano antes, em Janeiro de 2023, contratou a “prestação de serviços para produção de filme biográfico dos Presidentes da República para exposição permanente do Museu da Presidência da República“. O montante pago foi de 11.622 euros, tendo o contrato sido adjudicado sem concurso à empresa Braveant II.

    No total, em três anos, Marcelo Rebelo de Sousa gastou, pelo menos, 51.597 euros em filmes. Ficamos agora a aguardar para ver o filme animado sobre como usar condecorações. Outro filme que poderia atrair o interesse dos portugueses seria um sobre como se gasta o dinheiro público. Mas, se calhar, é melhor não dar ideias à Presidência da República…