A vontade de alterar a Constituição pelos partidos maioritários deve provocar-nos interrogações. Na República Popular da China houve recentes alterações para aumentar indefinidamente o poder da liderança. Mustafa Kemal Atatürk, na Turquia, até simulou um atentado para mudar a Constituição e tentar perpetuar-se no poder. Putin mudou as regras da substituição para se eternizar.
Infelizmente, as mudanças constitucionais só surgem em países de fraca ou de recente democracia, pois Inglaterra e Estados Unidos perpetuam os seus textos fundamentais, construindo emendas em situações muito específicas sempre com um foco: garantir a Liberdade; marcar os limites do Estado sobre os indivíduos.
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Os títeres e os pseudo-democratas gostam de marcar a História, de garantir os seus nomes para a posteridade. Fazem monumentos, alteram textos fundamentais e nunca respeitam os pais fundadores.
A emenda constitucional a pedido da Presidência é no sentido de corrigir “dificuldades” legais colocadas pela pandemia. Há, depois, mais desejos de alteração que, feitos sobre o joelho, trarão dificuldades
democráticas e constrangimentos à Justiça.
Para mim, a Constituição deve garantir os direitos fundamentais à vida, à habitação, ao trabalho, à educação, à saúde, à liberdade, à justiça e, desse modo, não carece de ser um texto longo, mas tem de ser claro e orientador para os princípios que anuncia.
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Ou seja, um texto constitucional não tem nada que se enredar em assuntos pandémicos, ou de guerra de nações, ou de terrorismo. As leis vertidas em decreto podem orientar esses, e outros problemas, escudadas no livro dos princípios e das traves condutoras que tem de ser a Constituição.
Perigosos e ignaros deputados querem uma lei sanitária para garantir que coarctam a liberdade de quem se lhes opõem em situações limite. Pois é aí que se distingue a democracia, a ética e os princípios entre um canalha e um democrata. Não concordo contigo, mas luto até ao fim para que tenhas a tua opinião, e garanto que a possas expressar.
A democracia depende das oposições e das discordâncias. A garantia de que nem todos cumprem tudo é imperiosa para surgirem alternativas, descobertas surpreendentes. Haver quem não tome um medicamento porque sim, é vital para que se mantenham grupos de controlo, presenças que servem de comparação.
A talidomida foi uma recomendação científica que redundou numa tragédia planetária. Felizmente, milhares de mulheres recusaram tomar aquela “recomendação” médica. Não esqueçam também o The Cutter Incident, que foi uma tragédia desencadeada pelos primeiros lotes de vacina anti pólio, ou o julgamento de Calmette em Lübeck, que foi consequência, em 12 de outubro de 1931, das mortes por
uma tentativa de vacinação contra a tuberculose.
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As inúmeras multas pagas pelas grandes farmacêuticas são a prova desses factos, como quando mentiram sobre efeitos colaterais de oxicodona, do Seroquel, do depakote, do zyprexa, a hormona do crescimento. Pagaram milhares de milhões de dólares de indemnizações e de multas.
O mundo não tem “negacionistas” porque enlouqueceram. Tem inúmeros “negacionistas” como consequência dos múltiplos incidentes que a indústria farmacêutica já produziu e, por questões de negócio, não travou antes das tragédias.
A suspeição é legítima e saudável. Mudar a Constituição para fazer uma lei sanitária que prende os que recusam, que retira direitos aos que colocam dúvidas, que impede oposição em momentos críticos é um dos maiores crimes contra a Liberdade e a Democracia.
Este avanço contra a Democracia pode até suspeitar-se que é financiado por quem quer obrigar cidadãos a usar fármacos que nunca foram integralmente testados. Por esta razão, o PS e o PSD estão doentes.
Diogo Cabrita é médico
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