Os barris de cervejas já rodam no asfalto, tilintando de vez em quando nos carris do 28.
A parada de WCs, que já estão estacionados junto ao parque estacionamento clandestino, já denunciam que vai haver festim.
No cabeleireiro, a talentosa ‘patroa’ já mandou o seu estimado cãozinho de férias com a filha, por uns dias, porque vai estar a trabalhar nos Santos. E a estatueta de Santo António que protege num mini altar o estabelecimento, guarda as preces de esperança (procura-se marido para uma das cabeleireiras e força e sucesso para as restantes…)

O palco está montado no largo, em frente ao coreto, pronto para receber artistas de variedades e DJs com reportório popular.
As fitas, as fitas, os manjericos em papel, ….
As lojas que estavam em obras, estão em contagem decrescente para abrir a tempo da festa. Este ano, a grande novidade é o novo supermercado Continente que anunciou a inauguração para dia 12. (Saberá ao que vem?)
A marca da Sonae veio ocupar o espaço que estava arrendado a uma das lojas mais procuradas pela comunidade que vive e trabalha na Graça: ‘O chinês’.

O chinês não era um chinês qualquer. Era uma espécie de mala do Sport Billy em que tudo, mas tudo se podia encontrar. Fosse o produto ainda produzido por uma velhinha marca portuguesa, até acessórios de costura e tricôt, aos brinquedos de plástico da moda, aos panos da loiça a forra para camas de coelhos e porquinhos da Índia. E, claro, manjericos de papel. E fitas. Muitas fitas.
Vai ser difícil ao Continente bater a popularidade d’ ‘O chinês’, até porque há populares que culpam a marca pela perda que a comunidade da Graça perdeu, quando ‘O chinês’ fechou.
Talvez se oferecer sardinhas ou cervejas nos Santos, a coisa fique esquecida. Pelo menos até ao dia de Santo António.

Para mim, viver na Graça, traz por esta altura duas tarefas: estacionar o carro num lugar onde ficará parado durante uma semana; colocar avisos à entrada das hortas para evitar as habituais invasões de festivaleiros em busca de casa de banho.
Este ano, vou experimentar dois avisos novos, na esperança de que mesmo malta alcoolizada tema pela vida e fique longe do nosso portão.
Depois, é desfrutar da proximidade das festas e da música, embora já os miúdos não achem piada nenhuma a ir dar um pé de dança até ao largo, ao som de música dos anos 80 (com sorte). Já nem querem ir às farturas ou comprar um balão que depois fica lá em casa, a dançar pelo tecto até Agosto.

‘Sobram’ os amigos com paciência para virem até à confusão, para conversar ao pé de colunas de som estridentes, e com o aroma a sardinha e bifanas a perfumar o ar quente das noites que se avizinham.
As obras que alguém decidiu iniciar recentemente na rua do Forno do Tijolo prometem transformar a Damasceno num caos. O melhor é vir prevenido e deixar o carro longe.
No meio da azáfama local, é ir regando a horta. Observar os pimentos a crescer. Os pepinos. O tomate. A passarada ao fim do dia. As abelhas de manhã. E ter um saco de lixo à mão para recolher os copos, latas e garrafas que festivaleiros irão certamente ‘semear’ na horta por estes dias.

‘Os Santos’ trazem alegria e animam as ruas da Graça, por esta altura. Aqui, não há fogueiras para saltar (como as que saltei em criança). Também há poucas mesas compridas postas por vizinhos que se juntam em comunhão. Há, sobretudo, negócio. Dança, música. Alegria. Lixo. Mares de gente guiados por fitas coloridas que serpenteiam ruas, largos, praças, becos e miradouros. E há álcool (muito).
Depois, não tarda nada, teremos, de novo, o sossego. Teremos a Graça só para nós (e alguns turistas). Para o ano há mais.
Elisabete Tavares é jornalista
Fotos da autora