O PÁGINA UM recebeu, com alguma estupefacção, um escrito inflamado de José Gabriel Quaresma, jornalista e pivot da TVI/CNN Portugal, que, incomodado com a nossa exposição factual sobre a sua promíscua dualidade de funções – acumulando o exercício do jornalismo com a propriedade de uma empresa de consultoria de imagem e formação em media training –, resolveu brindar-nos com uma ameaça judicial… e não só. O que será esse misterioso “e não só”? Um desafio à espada? Um duelo ao pôr do sol? Uma maldição rogada sobre a nossa linha editorial?
Mais do que o tom da missiva – que, pela sua estrutura e pontuação errática, nos sugere ter sido redigida entre acessos de fúria –, impressiona-nos a qualidade da prosa, que nos leva a questionar se o seu autor deveria, de facto, estar a dar formação sobre comunicação. Num tom que oscila entre o desabafo indignado e a diatribe despeitada, José Gabriel Quaresma não só nos acusa de “mentiras facilmente desmontáveis”, como insinua que temos “acesso criminoso a documentos privados” e até sugere que necessitamos de “apoio clínico/psiquiátrico”. Terá sido esta última frase um diagnóstico gratuito? Se sim, agradecemos o zelo, mas preferimos opiniões médicas qualificadas.
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Ainda mais curioso é o facto de este paladino da ética profissional ter decidido demonstrar a sua própria integridade moral de forma altamente simbólica: anunciou um donativo de 1 cêntimo para a nossa “independência jornalística”, mas, mostrando-se um homem de palavra… ou talvez não, acabou por enviar 50 cêntimos.
Um gesto magnânimo! Mas o mais curioso não é o valor – que aceitamos, evidentemente, com toda a humildade e gratidão –, mas sim o facto de o donativo ter sido feito através da sua empresa de “consultoria em comunicação, formação, media training e consultadoria online“, a Sardine Conjugation, com o número fiscal 517271575 e sede na Rua António Maria Eugénio d’Almeida, porta 9, segundo andar esquerdo, em Vila Franca de Xira, e tendo como como sócia minoritária uma sua conterrânea de nome Vanessa – informação que surge em registos públicos e consultáveis em portal do Ministério da Justiça.
Ou seja, ficamos perante um intrigante paradoxo: José Gabriel Quaresma, que nos acusa de difamação e perseguição, acaba, involuntariamente, por reforçar o que denunciámos – que possui uma empresa de consultoria de comunicação e media training, actividade flagrantemente incompatível com o Estatuto do Jornalista. Não é necessária mais prova documental: a própria Sardine Conjugation decidiu, numa suprema ironia, comprovar aquilo que o seu dono tanto deseja negar.
E, já agora, não deixa de ser curioso como se está a ganhar um padrão entre os jornalistas que mercadejam a profissão – vendendo-se através de acções de comunicação, media training e consultoria de imagem – e que, quando expostos, aparecem ofendidíssimos a anunciar que se vão queixar às entidades reguladoras… entidades essas que, em teoria, deveriam ser as primeiras a dar-lhes um correctivo.
A impunidade desta malta assemelha-se à do ladrão que, ainda com a televisão às costas, se dirige ao posto da GNR (que, claro, nem sequer faz rondas) para se queixar, indignado, de que alguém o acusou injustamente de assalto – esperando, com ar ultrajado, que o comandante do posto se apresse a defendê-lo dessa, hélas, infame difamação.
Por fim, ficamos igualmente a saber que, para este jornalista, fazer jornalismo significa não questionar os seus pares nem denunciar situações que ferem o Estatuto da profissão. O PÁGINA UM discorda. Se há algo que nos envergonha não é revelar estas situações – é constatar que há quem insista em chamar “caça a jornalistas” ao simples acto de expor factos e vergonhosas promiscuidades, ainda mais graves em jornalistas de órgãos de comunicação de âmbito nacional.
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Ainda assim, agradecemos a contribuição de 50 cêntimos, embora não nos agrade a proveniência. Afinal, embora para a prossecução da nossa missão de um jornalismo independente cada cêntimo conta, sentimos que estamos num processo de ‘lavagem de dinheiro’ de origens questionáveis. Até porque, na verdade, a Sardine Conjugation está em situação ilegal por não ter enviado ainda a Informação Empresarial Simplicada (IES) relativa às contas de 2023.
Pedro Almeida Vieira
Segue o texto integral, ipsis verbis, enviado por José Gabriel Quaresma:
Viva, estimados,
em sede própria iremos aferir as acusações que me fazem há bastante tempo, de extrema gravidade, por serem mentiras facilmente desmontadas, algo que já fiz junto da CCPJ, dado que fui ouvido (acusações totalmente falsas, que terão que provar e também terão que provar o acesso criminoso a documentos privados, acusações apenas fruto de uma mente que, alegadamente, precisa de apoio clínico/psiquiátrico).
Encontramo-nos em tribunal e não só.
Entretanto, Pedro Almeida, irei contribuir com 1 cêntimo de euro, para a vossa “independência” jornalística (dizem mentiras sobre quem vos paga? É ético? Legal?.
Dá pena.
Isto não vale tudo, embora pareça.
Tirando a vossa odiosa e surreal “caça a jornalistas ” vocês também fazem jornalismo, isto é, dão notícias?
Pois…
CCPJ, ERC; Ministério Público.
Até lá.
José Gabriel Quaresma
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