Etiqueta: Visto de Fora

  • Mais armas, por favor… sempre em nome da paz

    Mais armas, por favor… sempre em nome da paz


    Sempre que vou a casa do meu pai, passo os olhos pela porta amolgada do correio. Sinais de outros tempos em que ainda se escreviam cartas à mão e um teenager, ansioso, dobrava a lata para não ter de esperar pela chave, que chegaria no bolso de um adulto lá para o fim do dia.

    Hoje a rotina é consideravelmente diferente. Já ninguém escreve algo que mereça uma ida ao correio, e o entulho que por lá se acumula, na caixa, varia entre a publicidade de supermercado ou ofertas de crédito com fantásticas taxas de juro de 11% de uma qualquer cofidis. Até as contas – a adrenalina do mês, como lhes chama o meu pai –, já nos aparecem nos computadores e smartphones, em formato digital.

    Ontem, enfim, pensei, antes de ir dormir, que já não ia ao correio há uma semana. Desafiei os graus negativos, e lá fui enfiar a mão naquela montanha de papiro.

    red steel Royal Mail mailbox

    Devo dizer que a entrada em Abril é, daqui de onde vos escrevo, de autêntica tortura para mim. Na minha Lisboa natal, o céu azul começa a acompanhar-se de algum calor, vocês arriscam nas t-shirts, e eu aqui, entre impropérios verbais, desloco-me em temperaturas que não convidam à interacção com outros humanos.

    É a altura do ano em que repito que já chega, que agora é que me vou mesmo embora. Depois visto um casaco, acalmo-me, e espero pelo próximo Abril. O décimo sétimo, neste meu caso.

    Mas já me desviei do tema, e levei-vos por divagações pouco importantes para o tema em debate. Peço desde já perdão pela minha reduzida capacidade de síntese…

    O entulho na minha caixa de correio, voltemos a ele.

    Entre a resma de publicidade estava um panfleto do partido liberal de cá. Em linhas gerais dizia que a Suécia devia entrar na NATO (e já!), e que o país teria que investir mais na defesa.

    Acrescentavam ainda que há já 10 anos que defendiam esta ideia, e que hoje estaria mais actual do que nunca por causa do “efeito Putin”.

    Confesso-vos, com alguma tristeza, que não tenho seguido o partido liberal sueco na última década, mas percebo agora, com algum embaraço, que tenho perdido momentos memoráveis.

    Fiquei a pensar naquilo até adormecer, e concluí que os liberais suecos têm razão. Diria mais: não só estão cobertos de razão como estão a revitalizar um mercado algo adormecido desde a Guerra Fria. É tempo de a Suécia começar a usar o dinheiro dos impostos para comprar mais armamento.

    Existem várias razões para isso. A primeira é que, como sabemos, a compra de material bélico é a primeira forma de prolongar a paz. Quem nunca ouviu “estamos a bombardear para conseguir terminar esta guerra”, que atire a primeira pedra.

    Depois, aqui entre nós, a Suécia fez opções políticas a partir da década de 60 do século XX que são um verdadeiro ultraje à vida no limbo da incerteza que todos aspiramos. Investiu fortemente em habitação, num programa que trouxe um tecto para todos, colocou o erário público ao serviço de uma Educação verdadeiramente universal onde, e reparem neste escândalo, os miúdos são subsidiados pelo Estado para estudarem no ensino superior.

    Ou seja, os filhos do sapateiro e do astronauta partem do mesmo patamar no que toca às oportunidades na vida. Como se não bastasse, ainda nos sacam mais uma fortuna em impostos para que os mais velhos tenham assistência em casa na fase final da vida, para que os miúdos tenham dentista grátis até aos 26 anos, e para que, de uma forma geral, toda a população tenha assistência gratuita providenciada pelo Serviço Nacional de Saúde.

    Por fim, proporcionam a todos, no fim da vida contributiva, uma pensão pública, devolvem em sede de IRS 30% dos juros cobrados pelos bancos, proporcionam centenas de dias de paternidade a cada casal, e garantem uma Segurança Social que não deixa ninguém debaixo da ponte nos momentos mais difíceis.
    Como se percebe, um tédio. Uma vida sem surpresas, receios ou aflições provenientes da falta de emprego, falhas de saúde ou azares de percurso.

    Pessoalmente, isto tudo enerva-me. Raramente estou doente e não vou a hospitais.

    Estudei em Portugal e, em princípio, também passarei por lá o tempo da reforma. Ou seja, nem consigo aproveitar bem os descontos. Já se tivéssemos um grupo de vigilantes em cada bairro, talvez com um tanque ou um lança-mísseis, sempre me poderia entreter nas noites de frio, que vão de Agosto a Julho. De resto, são óptimas.

    Como se não bastasse, com estas escolhas de investimento, a Suécia conseguiu, durante décadas, figurar entre os mais ricos do mundo, com elevada percentagem da população a concluir o ensino superior e a chegar a um valor mínimo de salário a rondar os 2.000 euros (não oficial).

    Note-se ainda que, para os senhores da guerra, fãs dos mercados e da corrida ao armamento, que durante estes anos de paz e neutralidade, parte do desenvolvimento económico da Suécia foi também assente na produção e venda de equipamento militar.

    Cerca de 2% dos tiros dados a nível mundial são produzidos pela Suécia. Nada mau para uma população igual à portuguesa. Ambos têm 0,13% da população mundial. No fundo, a Suécia pratica aquela paz que consiste em vender armas aos dois lados. Onde é que já vi isto?

    Mas essa neutralidade, com uma mancha aqui e outra ali, valeu 77 anos de prosperidade e de enorme crescimento económico, reflectido diretamente na qualidade de vida dos seus habitantes.

    men in green and brown camouflage uniform

    Chegados aqui, o que devemos fazer?

    Seguir uma receita de sucesso testada ao longo de quase oito décadas, ou desviar os fundos que construíram isto para nos armarmos até aos dentes? Melhor, perante a ausência de ameaça, devemos criar uma narrativa para que passemos a ter uma preocupação nova?

    Eu acho que sim. E entendo perfeitamente os liberais. Tal como eles, também eu estou aborrecido com esta vida calma, organizada e sem problemas. Aliás, quando aqui cheguei em 2007 fiquei logo desconfiado.

    Habituado em Lisboa a entregar uma bíblia impressa em A4, a que chamavam declaração de IRS, fiquei estupefacto quando apenas me pediram um sms com a mensagem; “sim” ou “não”, para fazer o mesmo em Gotemburgo, ao fim do meu primeiro ano de trabalho. Era o primeiro de vários anos sem emoções e irritações com o quotidiano.

    Assim, há que aderir à NATO, e meter um alvo nas nossas costas. Há que tirar dinheiro das escolas e canalizá-lo para mísseis. E depois é deixar os mercados agirem. Todos temos visto ao longo do último mês como eles se ajustam bem.

    É como diz o poeta João: o liberalismo é necessário e funciona.

    Primeiro cria-se o deserto, depois vende-se a água. Brilhante.

    Engenheiro de desenvolvimento na EcarX (Suécia)


    N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.

  • Qatar à vista, apesar de Fernando Santos

    Qatar à vista, apesar de Fernando Santos


    Diz quem se defende da alcunha de sortudo que tê-la, à sorte entenda-se, dá muito trabalho. No caso de Fernando Santos, nos anos que leva à frente da Selecção Nacional, a fortuna dos deuses se convertida em calcário, granito e argamassa daria para construir mais três pirâmides de Gizé.

    Não sendo eu um apreciador do estilo, percebo o óbvio: os únicos troféus internacionais de Portugal chegaram pela mão do nosso Fernando, pelo que teremos de aguentar a estucha até que ele queira, ou, em alternativa, que o descalabro de derrotas seja tal que nos faça esquecer a vitória no Euro 2016 e na Liga das Nações de 2019.

    Uma espécie de Mancini, versão Amadora.

    three white-and-black soccer balls on field

    O problema, contudo, é que o Mancini ganhou o Euro 2020 com um grupo de bons rapazes, e não é propriamente um escândalo não participar no Mundial.

    Já Fernando Santos tem ao seu dispor, há anos, a melhor geração de futebolistas nacionais, presentes nas equipas mais fortes do Mundo, e repetidamente vencedores das competições de clubes mais importantes.

    Mesmo assim, insiste num modelo de jogo ultra-defensivo, deixando de fora, consecutivamente, boa parte das opções de ataque.

    Quando Fernando Santos foi convidado para seleccionador nacional, de certa forma todos percebemos o que ali estava a ser feito. Era um chef que entrava na cozinha de um restaurante com três estrelas Michelin apenas para fazer esparguete à carbonara.

    Pergunto: quem sai de casa para comer esparguete com queijo e fiambre, tendo dourada grelhada ou bacalhau escalado no menu?

    Foi assim no Benfica, Sporting, Porto, Selecção grega, Panathinaikos e AEK. Quatro defesas, quatro médios em losango. Defender, defender, defender. De empate em empate até à vitória final.

    white and blue soccer ball on green grass field

    Nada contra se a equipa treinada for a Albânia, a Bulgária ou Islândia. Agora, um país que consegue ter Diogo Jota, Cristiano Ronaldo, João Félix, Bruno Fernandes, Rafa, Renato Sanches, Bernardo Silva, Gonçalo Guedes, Rafael Leão, entre outros, com as suas cores, vai jogar apenas com dois ou três destes em campo?

    E colocar oito para “segurar” e “passar para o lado”? Ou vai seguir a lógica de Johan Cruyff quando se defendia dos críticos que o acusavam de sofrer muitos golos? No fundo, “o que importa levar 3 se marcamos 5?”

    Não é preciso ser engenheiro, como o Fernando, para fazer esta conta. O futebol não é física quântica, e é pela sua simplicidade que apaixona milhões.

    Se te dão uma equipa com Pepes e Williams, jogas como o Portugal do Fernando.

    Se te dão Jotas, Bernardos e Ronaldos, jogas como o Bayern de Munique ou o Liverpool. Em modo trituradora.

    Em princípio ganha-se mais do que se perde porque, e esta vai de borla, a maioria dos adversários são piores.

    Chegados ao ano da graça de 2022, depois de falhar um apuramento direto num grupo onde a única coisa parecida com concorrência vinha da Sérvia, que se apresentava com pouco mais do que três ou quatro jogadores de primeiro plano – e já estou a contar com o ponta de lança que é figura na segunda divisão inglesa –, Fernando Santos fez o que sabe fazer melhor: rezar.

    Neste plano julgo que estaremos mesmo perante um escolhido dos deuses. Não sei bem quais, mas alguém olha para o nosso Fernando num Olimpo qualquer.

    Com a Itália no caminho, Portugal viu a Macedónia fazer o trabalho de sapa na maior vitória da sua História, mesmo ao cair do pano.

    Poucos minutos antes, a Turquia, em pleno Dragão, falhou o penalti que justamente lhes daria o empate.

    Ninguém me convence que, se Fernando Santos desembarcasse em Kiev, um míssil em rota para a Praça Maiden acabasse afinal desviado para o Kremlin, rebentando na sala da mesa infinita onde se senta Putin, dando como concluída a guerra.

    Tantos especialistas na CNN e nenhum se lembrou desta.

    Provavelmente, esta terça-feira, Portugal chegará mesmo a um Mundial que nem deveria existir.

    Tudo o que envolveu a atribuição da competição ao Qatar e o trabalho escravo na construção dos estádios, justifica certamente outro texto. Mas para já, no que ao futebol diz respeito, parece que Ronaldo se prepara para ter a merecida despedida com a camisola da Selecção Nacional.

    E isto apesar de Fernando Santos. Este rapaz não pára mesmo de bater recordes.

    Engenheiro de desenvolvimento na EcarX (Suécia)


    N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.

  • Mais longe de um acordo de paz

    Mais longe de um acordo de paz


    Conselho Europeu, G7 e NATO reuniram-se esta semana, e todos vimos, em direto, a chegada dos líderes, o carro que trazia Biden e a indumentária de Macron. Fez-me lembrar o acompanhamento do autocarro com a selecção de Scolari naquela fatídica noite de 2004.

    Segundo alguns analistas, poucas decisões importantes saíram da cimeira, e espera-se por mais, apenas em Junho. Eu discordo. Acho que dali saíram várias informações, ainda que contraditórias.

    A primeira é que Zelinsky continua a desafiar a NATO para que faça mais pela Ucrânia, e que, por exemplo, feche o espaço aéreo, que na prática seria uma entrada directa na guerra. Isto dias depois de ter dito que aceitava discutir o estatuto de neutralidade. Algo parece ter mudado no terreno, para lá de Mariupol, para Zelinsky se estar novamente a afastar da perspectiva de acordo.

    desk globe on table

    A NATO, em conferência de imprensa no fim dessa cimeira, disse que iria reforçar os batalhões nas fronteiras – agora da Roménia, Hungria e Eslováquia –, fazendo um total de 40.000 homens, incluindo aqueles já estacionados no Báltico e na Polónia. Acrescentaram ainda que vão enviar marinha de guerra para a costa ucraniana, para além de mais armamento pesado que continuaria a ser enviado.

    Zelinsky pediu caças, tanques e anti-aéreas. Começa a ser difícil perceber onde está a linha a partir da qual podemos dizer que a NATO se envolveu activamente na guerra. Se enviam barcos de guerra para o teatro de operações, enfim, não sei bem se podemos continuar a dizer que estão apenas a assistir.

    Quanto à União Europeia, declararam os seus líderes um aumento das sanções à Rússia, sem que esta posição seja unânime entre os países membros. A Alemanha, altamente dependente do fornecimento de energia vinda da Rússia, não quer sanções kamikaze, uma vez que seria o seu povo o primeiro a pagar a factura. E quando se trata da voz europeia, conta essencialmente o que os alemães deixam ou não. Os franceses habitualmente vão-se colocando em bicos dos pés naquela ilusão do eixo franco-alemão, mas quem realmente dá as ordens é Berlim.

    O Kremlin vai pedindo o pagamento do gás em rublos – e admira-me que não tenham pedido em ouro – para se defender, e Boris, o party man de Downing Street, está em pulgas para enviar tropas nos contentores de armamento.

    blue and white train

    Uma coisa parece ser certa, a Europa segue o conflito a três velocidades: o Reino Unido vota por mais sangue; os países energeticamente dependentes querem mandar misseis para Kiev e rublos para Moscovo; e nós, com a restante maioria dos países europeus, queremos fazer o que a NATO mandar. Seja lá isso o que for.

    Chegámos, no entanto, a um ponto do conflito onde a resistência ucraniana, o armamento enviado, a ajuda financeira e a legião de 20 mil voluntários, parecem estar a virar o sentido da guerra. É essa pelo menos a indicação da nossa comunicação social.

    Ouvem-se também notícias de opositores de Putin e um possível golpe de estado. É impossível saber que percentagem de verdade existe no que nos vai chegando, mas espero, a bem da paz, que a queda de Putin esteja próxima.

    Na semana passada escrevi que esta guerra era um beco sem saída para Putin, uma vez que ou ganharia uma guerrilha permanente (no caso de um governo fantoche) ou seria arrastado para fora da Ucrânia com a Europa a fechar as portas. Já há notícias da possível utilização de armamento químico e nuclear, em novas ameaças russas.

    Seria interessante perceber, neste chorrilho de informações que nos vai chegando, qual é de facto a verdade absoluta sobre o cenário de guerra. Ou aproximada, vá.

    Na semana passada ninguém colocava em questão o cerco feito pela Rússia. Hoje dizem que não tem tropas suficientes. Mariupol está numa situação desesperada, e todos os dias ouço falar no batalhão Azov em combate. No entanto, leio depois que são apenas cem soldados. Terão vindo de Sparta?

    Uma coisa é certa, parecem ter algum repúdio por nazis portugueses. Portanto, mesmo em tempo de barbárie, ainda há um vislumbre de lucidez.

    Entre o caminho de sentido único de Putin e o belicismo da NATO, só vejo a escalada do conflito quando, há uns dias, nos diziam que o acordo de 15 pontos estava perto de ser assinado.

    A quem interessará a continuação desta guerra? É a pergunta do milhão de euros…

    Terá ou não Putin o apoio da China se a derrota for o cenário mais provável?

    Engenheiro de desenvolvimento na EcarX (Suécia)


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  • Putin e o meu entrevistador

    Putin e o meu entrevistador


    Algures nos idos de 97, era eu um estudante de engenharia desiludido, quando me apresentei na redacção do extinto semanário Independente para uma entrevista de trabalho. Não sabia bem o que estava ali a fazer, ou sequer para onde caminhava. Gostava de escrever, e não ficava maravilhado com circuitos recheados por transístores e condensadores. Era esse o ponto de partida.

    Tinha enviado um texto para análise, que escrevera num jornal regional (Jornal de Leiria), e que, se a memória não me atraiçoa, começava com “as ex-repúblicas soviéticas”. Não me lembro do tema em concreto, mas andaria à volta de qualquer coisa sobre o desmembramento da URSS, poucos anos antes.

    O diretor-adjunto de então perguntou-me o que fazia um estudante de engenharia ali. Eu disse-lhe que me sentia mais útil a escrever uma linha de texto do que uma linha de código. A conversa desenrolou-se e seguimos para a análise da minha crónica.

    A primeira coisa que me disse foi “sabe, não existem ex-repúblicas soviéticas”, e rapidamente entrámos num debate sobre História, impérios, factos e convicções.

    Não me recordo de muito, mas lembro-me de, a meio, ter percebido que entre o meu gosto pela escrita, as ideologias e a política editorial de um jornal bem encostado à direita, haveria pouco espaço para mim.

    Antes de terminar a conversa perguntou-me, o entrevistador, em quem votaria na autarquia de Lisboa. Respondi que seria na coligação encabeçada por João Soares, e, não satisfeito, cavei o último pedaço da cova das minhas ambições jornalísticas naquele periódico com a frase: “essencialmente por causa da CDU”.

    Pediram-me ainda que cobrisse o comício de encerramento da campanha no Coliseu dos Recreios, para onde fui, todo animado, com um bloco de notas. Fiz a crónica do evento, enviei-a para o dito senhor e, até hoje, aguardo que me digam se gostaram. Imagino que não; é um pressentimento.

    Ainda assim, essa pequena experiência mal-sucedida serviu-me para concluir o óbvio: poucas profissões são tão interessantes como a de repórter da imprensa escrita. O meu respeito para eles.

    Gosto sempre de pensar que o mundo perdeu um jornalista que poderia ter chegado a razoável, e ganhou um engenheiro que, quando muito, se tornou sofrível. Mas a frase, dita com alguma pompa, que não existiam ex-repúblicas soviéticas, martela-me o subconsciente há 20 dias.

    É que não passa uma hora sem que um jornalista, comentador, analista ou político, se refira às ambições imperialistas de Putin de voltar a reconstruir o que o Muro levou, anexando territórios das ex-repúblicas soviéticas. Terá o termo voltado a entrar no jargão popular ou será que, o meu entrevistador, considerava simplesmente que nada seria ex-soviético porque essa união nunca existira?

    No terreno vemos uma sucessão de factos algo contraditórios. Zelensky admite discutir a neutralidade da Ucrânia e a situação dos territórios. Ao mesmo tempo faz vídeos diários a apelar à intervenção externa.

    Putin parece interessado em garantir a neutralidade, mas quer também a cabeça de Zelensky por troca com um Governo fantoche. Ora, isto era exactamente onde estávamos antes do primeiro míssil e da primeira morte. Precisou Zelensky de ver compatriotas no chão para aceitar o que tinha já na mesa? E o que esperará Putin com novo Governo fantoche? Que uma população imensa de um país enorme, não mantenha uma luta de guerrilha nos anos vindouros? Nada disto parece fazer sentido.

    No caminho das contradições a Rússia bombardeou, de forma cirúrgica, uma base perto de Lviv onde se aquartelava uma legião de soldados estrangeiros. Muitos morreram nesse ataque considerado, nas nossas televisões, como dissuasor para outros combatentes estrangeiros que pensem alistar-se.

    A CNN, sempre em procura de um final feliz, entrevistou um soldado americano que sobreviveu a esse ataque, e que, segundo ele, depois de fugir para a floresta, olhou para o céu e gritou: Putin, is that all you got?

    Depois, para as câmaras disse que, apesar de todos os milhões gastos em armas, a única coisa que o ataque russo lhe tinha feito fora um corte no pulso. E neste momento mostra orgulhoso o pulso para o “cameraman”. Hollywood não escreveria melhor, e um desastre humanitário é-nos apresentado, à hora de jantar, como uma sequela do Platoon – Os Bravos do Pelotão.

    Vejo teorias divididas entre um final da guerra em Maio – por ser o limite de autonomia do exército russo – ou um acordo nos próximos dias, com a capitulação da Ucrânia antes da invasão de Kiev.

    Visto daqui parece um beco sem saída. Putin perderá esta guerra em qualquer cenário, seja com as revoltas a um Governo fantoche ou o fecho da Europa à Rússia. Contudo, dificilmente não aumentará o território controlado até há 20 dias.

    A pergunta que ninguém consegue responder é: até onde irá na reconstrução do império?
    Crimeia, Donbass, Odessa e Abecásia eram zonas de fronteira. A invasão da Ucrânia já mostra um outro nível de loucura e uma tentativa de anexar, ou pelo menos controlar, um país na sua totalidade. Duvido muito do sucesso das ambições do frio e calculista Putin, mas acredito que não fique por aqui.

    O Vladimir, tal como o meu entrevistador em 1997, parece convencido que não existem ex-repúblicas soviéticas. Apenas soviéticas. Percebo agora que o meu interlocutor não estava errado, lançou foi o conceito 25 anos antes do seu tempo. Um visionário. E queria eu o emprego…

    Engenheiro de desenvolvimento na EcarX (Suécia)


    N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.

  • Eram 20 euros de Swarovski, s. f. f.

    Eram 20 euros de Swarovski, s. f. f.


    Tento aprender com camaradas de fiscalidade – gente extraordinariamente aborrecida, que ainda assim domina conceitos importantes para que nós, comuns mortais, consigamos perceber de que forma somos apertados a cada mês.

    Reparem que escrevi “apertados”, e não o vernáculo apropriado para esta situação. Estive a reler alguns textos e cheguei à conclusão que, aqui e ali, deixava escapar um calão mais ofensivo, por sorte convenientemente censurado pelo meu editor. E não há necessidade: pessoas com a idade da minha avó passam por aqui. Crianças também. E mesmo vocês que são só velhos, como eu, ficariam com a ideia que estou chateado, aqui no frio. Ou que me falta vocabulário.

    Hoje é o dia em que tudo muda. Falamos a sério, sem prosa de Bocage, metáforas ou hipérboles.
    Portanto, fiscalidade dizia eu quando…uahhh, uaaahhh… zzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzz.

    Explicam-me que o mercado liberalizado dos combustíveis tem uma lei que, entre outras coisas, permite às gasolineiras decidirem o preço por litro, os aumentos, etc. Livre concorrência entre marcas, algo que, acrescentam na tese, em princípio favorecerá o cliente (baixa de preços e coisa e tal).

    Como qualquer nabo que vai a uma bomba de gasolina, tenho aquela eterna questão na cabeça: se o barril de Brent aumenta o preço, a gasolina também aumenta passados poucos dias. Já o contrário não se verifica. Não, nabo não é vernáculo, baixem lá as forquilhas.

    Na minha ingenuidade penso que a guerra é a mãe de todos os males. Ou seja, se o fornecimento de petróleo é cortado, reduzido ou a produção menor, o preço sobe. E a coisa parece umbilicalmente ligada. Dispara-se um tiro num país produtor, no dia seguinte há mexidas nas tabelas da Repsol da Segunda Circular. Parece que recebem o baldinho de gasolina pela manhã, com a entrega de pão quente.

    Elucidam-me os camaradas fiscalistas/economistas que nada se faz com balde, e julgo que até me dirigem uns merecidos insultos. Portugal compra o seu crude à Nigéria, à Angola, à Líbia, etc., e tem reservas, portanto, nada se altera hoje porque ontem caiu um míssil em Kiev, ou se alterará se amanhã rebentar outro carro armadilhado em Bagdade.

    “O que é que acontece então?”, pergunto eu na minha sede de conhecimento. Aqui junta-se um camarada major-general à conversa, que separa um pouco as águas. Num cenário de crise há sempre quem consiga lucros extraordinários. Por exemplo, na pandemia foram os laboratórios, e agora, com um país produtor de energia a invadir outro, está a tempestade perfeita montada para uma crise energética, mesmo nos países menos afectados.

    Por outras palavras, as refinarias aproveitam para vender mais caro, e as gasolineiras também, maximizando os seus lucros. De forma legal, entenda-se. No entanto, e esta é a parte verdadeiramente fantástica, quando o barril volta a descer e as refinarias também, ainda assim as gasolineiras dificilmente baixam, pelo menos em igual percentagem.

    O que resulta daqui? O caos total num país completamente estrangulado pela carga fiscal e os baixos salários. Dizem-me que o Governo, que, entretanto, se fartou de arrecadar impostos com os aumentos, dá uma compensação a cada um de nós – vouchers, certo? –, mas, no essencial, a pressão devia ser feita pelo Estado nas gasolineiras, não permitindo o aumento descarado de lucros numa altura de crise.

    Fico verdadeiramente baralhado. Se é um camarada que me diz isto, bom, compreendo. Somos pela regulação do sector. Reparem no “somos” a apelar ao insulto gostoso.

    black and yellow industrial machine

    Mas é um liberal que me diz: “temos que meter travão nas gasolineiras!”. Como dirão o mesmo das eléctricas quando o quilowatt por hora subir e a autonomia da bateria der para pouco mais de 300 quilómetros.

    Percebo pouco de Economia, menos de fiscalidade e nada de crude, mas se há coisa que os últimos dois anos me ensinaram é que não há como uma boa crise para um liberal passar a socialista. Está a tornar-se uma verdade tão profunda que, não tarda começa a entrar nos prefácios do Minh’Alma.

    Fiquei na mesma em relação à lógica dos aumentos, o mercado liberalizado, a lei que dá o poder às gasolineiras e o pudor do Estado em lá meter o pé.

    Cheirou-me a capitalismo puro e duro, mas que se “coza tudo isto” [N.D. censurámos o vernáculo original], sempre foi uma hora bem passada entre ilustres pensadores.

    Ahhhh…estava eu a ir tão bem [N.D. e ficaste bem; nós aqui estamos atentos a desvarios!].

    Engenheiro de desenvolvimento na EcarX (Suécia)


    N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.

  • A ‘nossa’ solidariedade selectiva parece racismo

    A ‘nossa’ solidariedade selectiva parece racismo


    A rapidez com que mudamos o rumo do debate é usain-bolteana. Nós, portugueses, entenda-se.

    O tema pode mudar, mas os lados não. Dois. Hoje e sempre. Só há hipótese de haver um debate público se houver dois, dois lados, um a defender o preto, o outro o branco. E se quiseres, camarada, falar em cinzento, esquece; tens que escolher um lado nesta discussão binária. Somos todos informáticos num mundo de 0 e 1, e ninguém nos contou.

    A discussão desviou-se um pouco do palco de guerra – onde o desfecho parece mais ou menos inevitável – e seguiu para o como, o quando e o porquê da ajuda humanitária.

    E eu tenho lido um rol argumentativo que me transtorna, especialmente quando escrito por pessoas que considero inteligentes.

    Everyone is Welcome signage

    Há hoje, e novamente, uma espécie de proibição no ar sobre o debate em torno da origem dos emigrantes. Uma vez mais, devemos ser solidários com o actual conflito, e esquecer os restantes. Caso contrário, apoiamos a invasão, como se perceberá.

    Com o devido respeito, este é o tipo de argumentação que, além de pobre, deve ser direcionada para sítios onde o sol brilha pouco. Refiro-me à Sibéria e seu nevoeiro, obviamente.

    Acho muito bem que a União Europeia integre a Ucrânia – embora a versão “expresso” sejam uns tortuosos cinco anos –, e aprecio ver como toda a Europa se junta em donativos, em acolhimento e em todo o tipo de ajuda humanitária. Tento também ajudar, é o mínimo que podemos fazer, seguros no conforto de casa – chama-se a isso solidariedade entre povos.

    Não me venham é, depois, dizer que vendo toda esta iniciativa em torno de uma guerra, que dura há 15 dias, não posso questionar as políticas europeias de acolhimento das últimas décadas.

    Posso. E devo.

    Quem vem com o paleio do whataboutismo, quando se fala de outros refugiados, tenta reduzir o debate com um insuportável “então, como não ajudámos os outros, agora não podemos ajudar estes?”.

    Sim, podemos. Podemos. E devemos. Mas temos que discutir por que razão ajudamos estes e não queremos saber dos outros. É uma discussão legítima, e que deve ser aberta.

    E não estamos a debater refugiados do passado. Estamos a falar sobre refugiados de hoje. Por exemplo, crianças palestinianas que nascem, crescem e morrem em campos de refugiados na Jordânia. Ou migrantes que chegam às costas de Itália ou da Grécia, e que são imediatamente recambiados para África. Ou outros que tentam trepar as grades nos territórios ocupados por Espanha em Marrocos. Ou os afegãos que vendem rins para meter comida na mesa. Ou os sírios que chegam às portas da Escandinávia, e são enviados para o Ruanda.

    Dizem-me que refugiados de guerra não são migrantes… Bom, é verdade. Mas não são essencialmente pessoas que fogem da fome, da miséria, das guerras de clãs, da escassez, no fundo, da morte? Que diferença há entre um ucraniano que foge de Kiev e um maliano que depende da vontade de um senhor da guerra para ter acesso a água potável? Não tentam ambos conservar a vida?

    Palestinianos em guerra contra o invasor desde que se lembram, ou afegãos invadidos por tudo o que é gente desde a década de 80, não estão em situações semelhantes há décadas?

    Sim, estão. Qualquer pessoa percebe o óbvio e os porquês. A Europa abre as portas a uns e fecha-as a outros. É uma opção, uma escolha. E uma clara distinção entre povos.

    boy showing hand with rubber

    A solidariedade existe, mas não se destina a todos de forma igual. E o que me enerva verdadeiramente na discussão em Portugal é a tentativa de arranjar justificações, protocolos, regras, burocracias, estatutos, que justifiquem uma coisa muito simples chamada racismo.

    Não é necessário, torna-nos um pouco mais ridículos e parece que tentamos chamar estúpido a quem nos ouve. Há apenas que assumir o óbvio que passa, entre outras coisas, por manter a maior parte das portas da Europa aberta aos seus povos, e meter um travão aos migrantes e refugiados que venham de países árabes ou africanos.

    Na Suécia essa posição foi assumida, no canal do Estado por Ulft Ktistersson, o Rui Rio cá do sítio. Num país com uma enorme tradição de receber refugiados – julgo que desde a década de 70 –, há uma clara diferenciação da direita, neste momento, entre receber ucranianos ou árabes e africanos. É mais ou menos isto que quem reduz o debate em Portugal ao whataboutismo faz. Racismo encapotado.

    Façam então como o Ulf: abracem a solidariedade selectiva. Louros e brancos, tudo bem. Pretos e árabes, de momento já preenchemos a quota.

    Engenheiro de desenvolvimento na EcarX (Suécia)


    N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.

  • O último capítulo?

    O último capítulo?


    Apesar dos bombardeamentos que continuam no sul da Ucrânia (não percebo bem se as 12 horas de cessar-fogo eram parte de uma metáfora), hoje é o primeiro dos 13 dias com alguma esperança. Julgo eu.
    Zelensky admite deixar cair a adesão à NATO, que nunca esteve verdadeiramente na mesa, pelo menos para a própria NATO, e discutir um acordo para as regiões anexadas pela Rússia.

    Fico com a sensação que o tempo não favorece ninguém. Putin nunca mais chega a Kiev e Zelensky não sabe quanto tempo mais resiste a capital. Imagino que tentem os dois uma saída que lhes permita sair do conflito mantendo o poder nos respectivos países.

    gray plane turbine

    Os vizinhos europeus parecem um pouco à nora e sem grande coordenação na reacção à situação. Os polacos tiveram aquela ideia peregrina de dar os MIGs à Ucrânia, mas os Estados Unidos meteram um travão na coisa. Os holandeses dizem que, sendo uma verdade inconveniente, não podem simplesmente deixar de receber gás e petróleo russos, porque não há alternativa. Finlândia fala em aderir à NATO, Suécia fica quieta e não quer contribuir para mais atritos, a Moldávia não tem condições para receber refugiados, e já vê os rapazes de Tiraspol, na Transnístria, a pedirem a Putin que os reconheça também.

    A crise dos refugiados é a única parte deste conflito não sujeito a opinião, enquadramento ou discussão. Pessoas que ficam sem tecto e passam a depender da caridade alheia. Ponto final. É este o drama real.
    Salvini foi humilhado por um presidente de câmara, na fronteira polaca, quando tentou visitar refugiados, e isso é bom. Mostra que alguns detentores de cargos públicos têm memória e espinha. Ventura tomou notas e pensou que continuar calado ainda era, mesmo assim, a melhor opção.

    Antony Blinken, secretário de Estado norte-americano anda a fazer um rolé pelos países da NATO que fazem fronteira com a Rússia, e, a cada dia, faz uma conferência de imprensa onde anuncia mais batalhões e armas para as bases europeias.

    É o senhor que anda com o barril de gasolina no meio do incêndio.

    Sindicatos portugueses apareceram e deram voz a preocupações de exploração de trabalhadores ucranianos, embrulhadas em papel de solidariedade. Fiquei contente.

    A hipótese de acordo deixou o pessoal das certezas absolutas, especialistas em cenas e com informações no terreno, perdidos em manobras de contorcionismo. Mais importante do que contar o número de mortos é ter a certeza de que o Alfa português não se enganou no Jornal das 8.

    Quem dizia que Putin ia anexar a Ucrânia em cinco dias, agora é um estudioso da resistência. Quem dizia que Putin estava a fazer bluff, é agora um especialista da CIA que afirma “se a inteligência americana avisava, é porque ia acontecer”.

    Quem defendia que a NATO tinha que integrar a Ucrânia, ficou assim um pouco sem chão quando o Zelensky disse que “daqui a 15 anos logo vemos”.

    blue and brown hand painting

    Quem defendia que uma coisa são separatistas albaneses e outra são separatistas russos, vê agora com bons olhos uma “relativa autonomia” para o Donbass.

    Entretanto, consoante o que sair das conversações amanhã, teremos mais 2.727.4648 posts, debates e intervenções iniciados com um “tal como eu disse/avisei”. Nunca percebi como é que num país com tantas certezas absolutas nunca deixámos de ser pobres. Ah… espera, é por causa do PCP.

    Aproximam-se duas discussões interessantes que não podemos ter.

    A primeira relativa aos refugiados e à forma como os tratamos, consoante a sua origem. É realmente uma “discussão de caca” que, segundo especialistas me explicam, não deve ser feita neste momento. Por um lado, estão dois milhões de ucranianos em fuga, e há um problema para resolver agora.

    Percebo, não é tempo de discutir, mas de agir.

    black wooden table near window panel

    Ao mesmo tempo, no mesmo dia, mas um pouco mais longe, vive um povo há 74 anos nessa situação.

    Como estarão eles a olhar para tudo isto?

    Mais: o que pensarão, ao ver a Europa solidária contra o invasor russo, e a aceitar como mediador do conflito o Governo que os acorrenta em Gaza e na Cisjordânia?

    Bom, mas relativizemos, imagino que para quem já esperou 70 anos, mais semana menos semana, também “não será por aí que o gato vai às filhoses”. Eles aguentam mais 10 ou 15 dias, o Putin volta para casa, e a Europa logo se dedica em força à causa palestiniana.

    A outra discussão é o chamado totobola de segunda-feira. Eu, que sempre pensei que a Rússia fosse fazer aqui uma Geórgia 2.0, anexar os territórios do Donbass e dar uns sinais à NATO, fico agora confuso com uma saída antes de tomarem Kiev.

    Espero obviamente que isso aconteça, e que o conflito termine o quanto antes. Mas, nesse caso, o que leva Putin daqui? O que já tinha ao fim de dois ou três dias no terreno? E pior do que isso, o que virá a seguir? Narva na Estónia? Klaipeda via Kalinegrado na Lituânia? A Moldávia? Será isto o embrião da Guerra Fria, parte II, ou há um Rambo qualquer que meta uma bala na cabeça deste gajo?

    Dúvidas que me assaltam numa Europa que raramente se consegue organizar e falar a uma só voz.

    Mas há que dizer, em abono da verdade, que ainda não vi o vídeo da TVI onde o Paulo Portas explica o conflito. Mais três ginjas, e consigo.

    Engenheiro de desenvolvimento na EcarX (Suécia)


    N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.

  • Fácil para uma criança, improvável para Ana Gomes

    Fácil para uma criança, improvável para Ana Gomes


    O meu filho faz-me perguntas há 11 anos. Todos os dias. Sobre tudo e mais alguma coisa. Até sobre argumentos de filmes e a forma como foram escritos. Pausa a transmissão do dito, e diz: “achas que ele aqui devia ter fugido à polícia pela ponte? Se fosses tu como é que fazias? E não digas não sei; se quiseres inventa”.

    Normalmente, respondo: “bom, se isso não fosse um filme com um argumento já escrito e imutável, e, se por acaso, reflectisse algum momento da minha vida, nesse caso eu tentaria fugir à polícia usando uma zona onde me pudesse misturar na multidão, nunca uma ponte porque estaria exposto”.

    Pensando eu que isto arrumava o tema, ele acrescenta, “ok, mas se eles tivessem um sniper, estarias a meter a população em perigo”. E seguindo por aí até todas as combinações possíveis de hipotéticas questões.

    boy touching page of book

    É assim desde o dia em que ele começou a articular palavras suficientes para formar uma interrogativa.
    A Ucrânia é tema cá em casa, e a posição da Suécia, também. Os miúdos falam na escola, os professores explicam o conflito. O tik-tok está cheio de propaganda. Falsa, menos falsa, verdadeira. Há de tudo. Vão-se formando opiniões em cabeças mais jovens com a inocência que uma vida na bolha oferece.

    Diz-me em tom de desafio que a Suécia devia entrar para a NATO e que a Rússia nunca teria coragem de nos atacar. Segundo ele, a NATO só não deixa um país entrar se já estiver em guerra, portanto, se fizermos o acordo muito depressa, o Putin nem a vê passar. É uma espécie de diplomacia expresso. Para ele não há forma de evitar a terceira guerra mundial, e temos que lutar. Os amigos acham o mesmo.

    Na redondeza de classe média-alta, quase sem emigrantes, e onde nós somos uma minoria, o meu filho e os amigos vivem numa redoma de privilégio, e olham para Kiev como um episódio da Guerra dos Tronos.

    Curiosamente, ou porque ainda não têm maturidade para tal, esquecem-se das 10 famílias de sírios, colocadas aqui no bairro, a 200 metros da nossa casa, cujas crianças foram distribuídas pelas turmas deles, e que, no primeiro dia de aulas, apenas tinham a roupa do corpo. Famílias que procuraram refúgio na Suécia, e que não faziam a menor ideia onde ficava Eklanda, Mölndal ou Gotemburgo, mas que foram forçadas a recomeçar do zero. A sair sem olhar para trás.

    Perguntei-lhe se conseguia sequer imaginar um cenário desses. Fechar a porta, meter três malas no carro, e fugir para Portugal, deixando para trás uma casa destruída, e o bairro, onde esteve toda a vida, arrasado. Quão excitante seria isso?

    blue and yellow striped country flag

    Melhor: se nem em Portugal tivéssemos abrigo, e, tal como ucranianos, sírios, afegãos ou palestinianos, ficássemos dependentes da caridade alheia, dos campos de refugiados, de asilo num outro país que nada nos dissesse? Quão excitante seria entrar nesse mundo de horror não transmitido no Netflix?

    Peguei no caderno, onde fazia os exercícios de Matemática, e esqueci a minha irritação momentânea com a simplificação de equações. Desenhei a Europa, a Ucrânia, as regiões separatistas. Expliquei o que era a URSS, a Cortina de Ferro, a NATO. Contei a história de outros ditadores que, como Putin, reclamavam o seu lugar na História. Falei de combatentes russos que não sabiam o que ali faziam, do batalhão Azov, dos oito anos de Donetsk, do Kosovo.

    Falei dos inocentes que sofrem na pele as loucuras de quem decide e no fim, lembrei-me de uma imagem que vira há pouco tempo, num jornal qualquer, onde quatro miúdos ucranianos, com 18 anos, se apresentaram para o “combate” com capacetes de bicicleta e joalheiras de skate.

    Perguntei-lhe se, embora aquela imagem desse uma história super cool para umas horas de internet, achava que aqueles jovens teriam alguma hipótese de sobreviver numa frente de guerra contra soldados profissionais e bem equipados. Ele disse que não, não tinham.

    Chegámos, pois, ao conceito de carne para canhão.

    Pergunta-me, então, quase indignado, como é que mandam pessoas sem treino para a guerra.

    Eu digo-lhe que cada civil que se junta ao exército na Ucrânia tem um treino de três dias antes de ir para o terreno. Vejo a expressão a mudar e alguma preocupação no semblante. “Só três dias?? O que é que se aprende em três dias??”

    Fica algum silêncio. Nunca há silêncio quando o meu filho está por perto. Nunca.

    Faz mais um exercício de Matemática e pergunta: “então…se a guerra chegar aqui, se a NATO entrar, e se os civis forem chamados, tu és obrigado a ir também?”. “Acho que sim”, respondi.

    group of men firing canyon on green field surrounded with people watching

    “E também terás só três dias de treino?”, acrescentou. “Não sei, pode ser que tenha uma semana. Em Portugal a coisa faz-se sempre mais devagar”, disse eu, tentando desanuviar o clima.

    Imagino que os segundos seguintes tenham sido passados a construir uma imagem futura menos agradável.

    De repente, com os olhos em lágrimas, dirige-se a mim visivelmente chateado. Quase como se a culpa da invasão da Ucrânia fosse minha. Disse, reclamando: “então nem vais aguentar três dias na frente da batalha!! Tu nem a pistola da minha VR consegues carregar depressa!!”

    Abracei-o, e disse que não se preocupasse. Se os russos conseguirem pagar o combustível para levarem os tanques até à Margem Sul, a malta rouba-lhes as lagartas na Fonte da Telha, e dali já não passam. A sensação de perda de algo ou alguém querido, fê-lo pensar de forma mais racional sobre os perigos da guerra, da escalada do conflito ou de encurralar um doido, com armamento nuclear, deixando-o sem outra saída que não seja disparar.

    Um simples raciocínio que uma criança de 12 anos consegue compreender, mas, aparentemente, uma lógica impossível de perceber por uma ex-candidata presidencial que, ontem, apelou ao início da III Guerra Mundial.

    De repente lembrei-me que 541.556 pessoas, há cerca de um ano, achavam que Ana Gomes tinha perfil para ser a voz mais alta de Portugal.

    Engenheiro de desenvolvimento na EcarX (Suécia)


    N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.

  • O whataboutismo do momento

    O whataboutismo do momento


    Aprecio muito modas linguísticas e bengalas argumentativas. Julgo que nos trazem a vantagem de encurtar discussões, evitar a trabalheira que é articular o pensamento e, como bónus, ainda nos dão uma certa aura de inteligência sem grandes desenvolvimentos.

    Na guerra das indignações a que está a fazer furor neste momento é o whataboutismo. Caminham lentamente para remover o “negacionista” da pandemia do pódio mediático. Lembram-se desses tempos, quando uma pessoa que não concordava com o confinamento via a discussão encurtada com a ajuda da bengala do negacionismo? Julgo que vamos por aí no caso do conflito russo-ucraniano, mas com uma componente histórica bem mais interessante.

    Debater, nos dias de hoje este tema, é andar literalmente em areia movediça. Vou arriscar, em todo o caso, com um exemplo, e logo se vê.

    O Martim rejubila com o fabrico caseiro de cocktails molotov nos subúrbios de Kiev. É um povo a resistir a uma ocupação externa, um exemplo de bravura, um acto heróico que nos inspira a todos.

    Pessoalmente, consigo alinhar com este pensamento. O Martim é um gajo que lê jornais, mas não liga muito a História. É informado, mas pouco culto. Junta-se à conversa o Renato, que é um tipo mais dado à História, e que mistura a leitura da imprensa nacional com a internacional. O Renato diz ao Martim: “Ouve lá, não dizias que quando se fabricaram cocktails molotov na Cisjordânia, estávamos perante um acto de terrorismo? Não era afinal a mesma acção de defesa de um povo contra o invasor?”

    O Martim pensa cerca de cinco segundos, e dispara: “Renato, isso agora é whataboutismo!”, ou seja, está a fazer uma acusação de se estar a usar outros exemplos, mesmo se semelhantes, que desculpam a actual situação. Portanto, segundo esta corrente de pensamento, é um argumento não possível de ser utilizado. Porquê? Ninguém sabe.

    Qual a razão de aceitarmos o bombardeamento da Sérvia, pela NATO, para defender separatistas, mas condenarmos o bombardeamento russo que está a defender separatistas? Nenhuma, mas quando o fazemos, não caímos em whataboutismo, o que é sempre positivo.

    O Governo norte-americano, por exemplo, também tem a sua própria definição de coerência. Russos que anexam a Crimeia ou Chineses que chateiam Taiwan, em princípio não; israelitas que anexam colonatos ou fazem paredes altas e sem tectos, já está bom. E nunca, mas nunca, referir as duas contradições em simultâneo, porque, lá está, cairíamos em whataboutismo. E ninguém quer isso.

    Os fãs do whataboutismo gostam de analisar os problemas da vida no dia em que começam.

    Por exemplo, um tipo fuma durante 30 anos, e algures no processo é-lhe diagnosticado um cancro de pulmão. Passa o resto da vida a tentar perceber como é que aquilo aconteceu, porque os últimos 30 anos são encerrados num bunker.

    O que eu ouço quando me dizem “epá!, isso já é whataboutismo“, é isto: um amigo da secundária, que era supercool, porque foi o primeiro a ter uns Air Jordan que não vieram da feira, escreveu isto no mural e eu, que não sabia onde ficava Donetsk até o Paulo Fonseca ir para lá, achei que era um bom drop the mic para finalizar discussões. Ainda por cima é uma linha em estrangeiro. LMAO.

    O meu problema com essa bengala é a impossibilidade de se discutir ou resolver qualquer problema que não seja o do momento. Um argumento inteligente seria, por exemplo, que a reacção ucraniana é exactamente igual à palestiniana, e que qualquer uma das invasões é inaceitável. Seja na Sérvia, na Líbia, no Iraque ou na Ucrânia. E venha de que agressor vier. Sem cores, bandeiras ou partidos. Uma invasão é uma invasão.

    white and clear bottle with white textile on bottle's mouth

    Ou então, um fã do whataboutismo diria: “ouve lá… agora o Mundo está com a Ucrânia, vamos fazer pressão para derrubar o Putin. No fim disto vamos safar os gajos na Faixa de Gaza!! Certo??”. Ora, isto já me pareceria algo com sentido, ou seja, o Mundo preocupado com as populações oprimidas.

    E reparem, desta forma o whataboutismo desapareceria, porque não existiriam exemplos passados para dar. Estão a imaginar a maravilha? Poderíamos lidar com uma catástrofe de cada vez e ninguém vos pediria o número de crianças mortas no Iémen ontem. O problema é que isso nunca acontece, não é? Há populações no Mundo que podem e devem ser invadidas. Ou são pretos, ou árabes ou estão longe de nossa casa. Outros não podem, e o nosso sentido de decência vem ao de cima.

    Três mil mortos na queda das Torres Gémeas foram uma catástrofe que parou o Mundo. Um acontecimento que mudou a História e a nossa vida. A minha pelo menos mudou.

    Já os 500.000 que em consequência desse ataque morreram no Iraque, foram danos colaterais.

    E ligar os dois acontecimentos, dizem, não é perceber a História ou contextualizar a desproporção da brutalidade. É whataboutismo.

    No fundo passamos a vida em discussões circulares sobre qual o melhor império opressor, e ainda há quem acredite que isto é, de facto, uma guerra entre a Rússia e a Ucrânia.

    Há pouco ouvi que os Estados Unidos não tinham qualquer interesse neste conflito, o que, na minha opinião, é como dizer que um vendedor de pipocas não quer saber de milho. Os ucranianos morrem no terreno. Os russos também. Os interesses no conflito começam em Washington e acabam em Pequim.

    E sobre mortes há também um dado interessante, mas mórbido. Começam aos poucos a aparecer relatos de desportistas, mais ou menos famosos, mortos em combate. Os líderes são justamente criticados por mandarem jovens para a frente, sem treino, enquanto eles e suas famílias estão resguardados em palácios, bunkers ou até noutros países.

    in flight dove

    Guerras combatem-se com exércitos, não com civis. Putin é um assassino, de opositores ou até dos seus próprios soldados, algo que não será original na História da Rússia. E é retratado como tal. Faz sentido na minha cabeça.

    Já Zelinsky, guardado pelas forças especiais num bunker de Kiev, obrigando todos os homens entre os 18 e 60 anos a ficarem no país, esperando que a população se atire para cima de tanques com garrafas de vinho em chamas, é um herói. E não concordar com isto, meus amigos, ou comparar a sua acção com a de outros líderes que enviam civis para a morte, é whataboutismo.

    Reparem que quando Israel nos diz que o Hamas usa escudos humanos, nós gritamos pela barbárie. Já se mulheres ucranianas atravessam a fronteira a chorar porque os maridos, civis, são forçados a ficar para escudo, achamos ser heróico.

    Glória às bengalas e à estupidificação do discurso. A coerência não faz parte da realpolitik.

    Engenheiro de desenvolvimento na EcarX (Suécia)


    N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.

  • O enquadramento histórico selectivo

    O enquadramento histórico selectivo


    António Filipe foi à CNN Portugal discutir a actual situação da Ucrânia ou, pelo menos, assim pensava ele. Ladeado por Sérgio Sousa Pinto e Sebastião Bugalho, portanto, direita conservadora, acabou a discutir a posição do PCP em relação ao conflito. Ou, nas palavras de Sérgio Sousa Pinto, do “capacho de Putin”.

    Sérgio, antigo líder da Juventude Socialista (JS), disse há uns tempos, numa entrevista a um jornal, que era um betinho de Lisboa e que, graças à JS conseguiu conhecer Portugal.

    Não me admirei por ser um betinho, mas já fiquei mais surpreendido com a vertente turística da JS. Sabia que o cartão de jotinha abria muitas portas, mas nunca pensei que uma delas fosse a da Agência Abreu.

    O que eu achei interessante no debate de ideias é que, a dada altura, passou a ser mais importante a posição do PCP em relação a Putin, ao conflito ou à NATO, do que propriamente a análise ao que aqueles desgraçados sofrem no terreno. Fico sempre encantando com a atenção que o país dá à opinião de um partido que, segundo me explicam, está para desaparecer desde o século passado.

    white duck with orange beak

    Há um ponto do debate que vale a pena relevar: o “mas”. Sérgio Sousa Pinto, que não parece saber que o partido comunista russo é oposição, e não poder, fica a espumar porque o PCP condena a NATO ao mesmo tempo que critica a invasão.

    Para ele, não pode haver um “mas”. Há que arrasar a Rússia e acertar o relógio da História para sexta-feira, 25 de Fevereiro de 2022. Aliás, como disse o moderador/pivot da CNN: “António Filipe, a guerra começou há 3 dias!”

    Ora, aí é que está, não começou, não. A não ser que comecemos a procurar sinónimos mais latos para guerra. Há oito anos que se trocam tiros na região de Donbass, entre russos e ucranianos. Para mim, que não sou muito versado em kalashnikovs, se há tiros no ar durante muito tempo, e entre as mesmas pessoas, já lhe chamo uma guerra.

    Entramos então na moralidade do “mas”, que me irrita ligeiramente, confesso. A direita acusa o PCP de não condenar a Rússia com força suficiente, embora já repetidas vezes tenham dito que não apoiam Putin. Ou, como disse António Filipe, “a Rússia capitalista e senhor Putin nunca nos enganaram”. Mas não chega.

    Não se pode falar na História de 2014, do Acordo de Minsk ou na expansão da NATO. Para Sérgio Sousa Pinto e para a direita em geral, isso é validar a agressão. O relógio temporal tem que ser iniciado apenas no dia 25 de Fevereiro e nós temos que ignorar tudo o que nos trouxe aqui.

    gray and black bird on brown sand during daytime

    O problema é que este “MAS” só se aplica nas críticas feitas ao PCP. Aos outros não só é permitido como essencial na argumentação. Exemplo: “O PCP foi importante na luta contra a ditadura, MAS queria, ele próprio, impor outra em seguida”, diz um dirigente do CDS enquanto comemora o 25 de Novembro.

    Durante os bombardeamentos da Faixa de Gaza, há pouco mais de um ano, ouvimos todos os dias os lamentos pela morte de 50 crianças palestinianas, MAS fomos recordados que morreu uma do lado israelita. Portanto, a brutalidade está justificada para o mundo ocidental. Ainda nestas últimas eleições, elementos do PSD se indignaram com o cordão sanitário exigido na relação com o Chega dizendo que, se o PS se pode coligar com o PCP e BE, por que razão não pode o PSD coligar-se com o Chega? Ou seja, na discussão sobre um partido racista e xenófobo, sentiram necessidade de falar em dois partidos que cumprem a Constituição.

    Sérgio Sousa Pinto dizia a António Filipe, por que razão devemos falar da NATO quando há uma invasão no terreno? Pela mesma razão que o caro Sérgio, na análise das legislativas, dizia que a demonização do Chega não fazia sentido quando o PCP tinha um acordo de Governo.

    Para o jotinha que conheceu Portugal faz sentido falar no PCP quando se discute um Governo de direita com o Chega, mas já é estranho, ou vá, descabido, falar na NATO por causa de uma guerra onde ela é uma causa direta. Realmente… quem é que se lembraria, Sérgio, quem?

    O que é que isto nos diz? Que sempre, em qualquer tema ou discussão, a análise é feita de acordo com as convicções, conhecimento histórico e enquadramento global. Aqueles que agora exigem ao PCP que ignore tudo o que aconteceu antes de dia 25, são os mesmo que usam o comparativo quando o seu lado se apresenta como o facínora da história.

    Pior, fazem-no num momento delicado, tentando colar o PCP a um regime de direita e confundindo a crítica à NATO com a validação da guerra. E por mais que António Filipe e seus pares digam o contrário, a mensagem vai circulando, e o PCP fica com o odioso rótulo de ser o apoio de Putin em Portugal.

    Putin que, lembremo-nos, financia os partidos de extrema-direita na Europa, entre os quais os amigos Salvini e Le Pen, companheiros de retrato de Ventura.

    Isto, meus amigos, é desinformação em horário nobre. E da boa.

    Engenheiro de desenvolvimento na EcarX (Suécia)


    N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.