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  • Imprensa: a máquina de fazer ‘Antónios Costas’  

    Imprensa: a máquina de fazer ‘Antónios Costas’  


    Dizem-se “competentes” e “independentes” ao mesmo tempo que distribuem, em conferências patrocinadas, elogios e sorrisos por governantes, banqueiros e empresários. Falam em atingir “objectivos” e em “trabalhar em equipa”, mas apostam em estagiários low cost ou que trabalham de graça.

    Foram estes directores de órgãos de comunicação social que ajudaram a criar (e a manter incólume) a “marca” António Costa – ajudados por muitos comentadores. Como agora vão ajudar a criar a marca do seu sucessor (e assim aparecem “Pedros Nuno Santos” a serem promovidos, com o seu tempo de antena num programa dito “informativo” de um canal de TV, ou se assobiam nomes como o de Medina em editoriais e artigos de opinião).

    Adoram palavras como “crescimento” e “liderança”, e sentem-se como gestores. Pelo meio, mencionam “liberdade” e “democracia”, como quem canta a tabuada no antigo liceu. São, assim os directores de órgãos de comunicação social dos nossos dias.

    São jornalistas, com carteira profissional passada, mas queriam era mesmo ser administradores ou ir para o Governo. Mas não. Estão (ainda) a trabalhar em grupos de media, com olhos num futuro mais risonho e bem-sucedido.

    Demonstram militância em relação aos poderosos, o que impede que haja nas suas redacções qualquer semelhança com o jornalismo.

    (Nunca se viu tal comunhão entre Governo e autarcas e directores de jornais como nos últimos anos. Era só ler as manchetes. Ver os telejornais. Não se distinguiam os soundbites de governantes das linhas lidas por pivôs ou nas palavras gordas das manchetes.)

    Até lá, até serem administradores, empresários, consultores, estes directores somam “sucessos”, “vitórias”. Saltitam alegremente de conferência em conferência. De talk em talk. De cimeira em cimeira. Sempre sorridentes ao lado de governantes, autarcas e empresários e banqueiros de renome. Sentem-se um deles. Sentem que têm poder, assim, ao lado de gente “de topo”.

    Imitam. Podem ter carros de gama alta, cartões de crédito e outros benefícios à disposição. Podem ter prémios, seja por conseguir reduzir custos (despedir mais jornalistas) ou pelo desempenho… comercial.

    No reinado de Costa, raramente questionaram as políticas do Governo. Era tudo magnífico. Maravilhoso. Quase não se distinguiam as notícias dos anúncios do Governo. As mesmas palavras, os mesmos slogans, as mesmas palavras-chave.

    A política na Saúde? Uma maravilha! Melhor do que antes! A política na Educação? Espectacular, e a melhorar! A política fiscal? Impecável (sobretudo por Medina fechar os olhos às dívidas de grandes grupos de media)! A política externa? Nada a apontar.

    Até a desastrosa gestão da pandemia foi, segundo se lê nos media, “um sucesso”. Excesso de mortalidade assustador desde 2021? E a continuar depois do programa de vacinação contra a covid-19? Isso não interessa nada. Se Costa não fala no excesso de mortalidade e diz que foi um sucesso a gestão da pandemia, e se a Direcção-Geral da Saúde não dá os números diários de portugueses que morrem sem explicação, incluindo jovens, então para quê noticiar?

    Para estes directores de jornais, António Costa e a maioria dos seus ministros eram anjos na Terra. Uns santos. Uns líderes inquestionáveis (e insubstituíveis).

    O mesmo se aplica a Marcelo. Num só jornal diário consegue-se identificar dezenas de chamadas de capa maravilhosas sobre o Presidente, apenas no espaço de um ano. E também quase uma dezena de chamadas de primeira página a promover o novo favorito dos media para a Presidência, um novo anjo na Terra: o “futuro incontestado líder” Gouveia e Melo.

    (Já diz o ditado: quem mais cedo promover, mais benesses poderá ter… sobretudo se fizer ouvidos moucos às críticas e aos factos.)

    Estes directores traem o jornalismo, traem os órgãos de comunicação social que dirigem e traem as suas equipas de jornalistas e profissionais de media, traem as suas redacções. Traem toda a classe e todos os que vieram antes deles. Traem os leitores, os ouvintes, os telespectadores. E traem o país e a democracia. Alguns nem percebem que estão a usurpar funções, porque nunca foram nem nunca serão jornalistas, porque não sabem o que isso é. Outros sabem, mas têm hoje um estilo de vida que não permite voltar atrás.

    (Quem lhes pagaria as elevadas contas e despesas dos filhos ou as obras na casa de campo?)  

    Confundem mais e mais parcerias comerciais com sucesso. Confundem mais conferências com sucesso. Confundem mais edições patrocinadas com sucesso. Confundem mais entrevistas e notícias pagas com sucesso.

    (Sim, as parcerias comerciais incluem, por vezes, entrevistas e notícias, que nem sempre são publicadas com a indicação de serem conteúdos pagos).

    Lego minifig head toy lot

    Confundem sucesso com a publicação de uma entrevista boazinha a um ministro. Com a publicação de um artigo de opinião de um banqueiro.   

    Confundem sucesso com redacções vazias de jornalistas seniores e cheias de estagiários a escreverem notícias abençoadas ou patrocinadas.

    Na realidade, a verdade é que acumulam uma sucessão de insucessos. De falhanços. De derrotas.

    Porque é um falhanço redondo o emagrecimento contínuo das redacções ao longo dos anos. O empobrecimento das redacções a todos os níveis. O apagar de gerações das redações. O apagar de sabedoria e conhecimento. Muito conveniente, de resto.

    Porque é uma enorme derrota o nível recorde de promoção de anúncios de governantes e autarcas e a publicidade a comunicados de empresas e bancos como nunca se viu. Escrutínio? Investigação? Questionar? Ouvir o contraditório? Quase zero.

    Os directores editoriais confundem-se hoje com gerentes de supermercados: “lideram” equipas de trabalhadores obedientes (muitos com salários baixos, outros nem tanto), dependentes, que desembalam, expõem nas prateleiras e arrumam, sem pestanejar. Sem perder tempo. Não há tempo porque há artigos a vender e as marcas já pagaram as campanhas a destacar na entrada na loja… na primeira página do jornal. No telejornal.   

    black microphone on brown wooden table

    São directores de jornais, de TVs, de rádios? São. São jornalistas? Não, não são. São líderes? Também não. Não, pelo menos, de meios de comunicação social.  

    Quando confrontados com esta verdade, respondem que estão a “salvar” o jornalismo e a Imprensa. Que é o dinheiro dos bancos, dos Ministérios, das direcções-gerais, das autarquias e das empresas que paga os salários dos jornalistas (ou quererão dizer os seus salários e prémios?). Que sem parcerias comerciais os jornais, as TVs, as rádios faliam.

    Não compreendem. Não percebem que vendem nessas parcerias comerciais o corpo e a alma dos meios de comunicação social, e que não sobra nada similar a jornalismo. Graças a eles, hoje, banqueiros, governantes e empresários perderam o respeito pelos jornalistas e o jornalismo. Fazem troça. Afinal, são eles quem “financiam” os jornais.     

    E enquanto directores aparecerem sorridentes ao lado de governantes, banqueiros, empresários, a fazer vénias e a vergarem-se perante as chorudas parcerias comerciais, também não são competentes.

    Serão competentes quando as redacções regressarem com jornalistas que questionam e têm tempo e capacidade para investigar, com salários dignos. Serão competentes quando escrutinarem governantes e as suas políticas. Quando escrutinarem banqueiros e os empresários e os seus negócios.

    Serão competentes e independentes quando recusarem aparecer em conferências e talks em que se promovem marcas, políticos (e as suas políticas), banqueiros e empresários.

    magnifying glass, facts, investigate

    Até lá, não passam de servos dos departamentos comerciais. Dos banqueiros, dos governantes, das empresas patrocinadoras. Não são directores nem são administradores. São servos.

    E são também cangalheiros a enterrar o Jornalismo. Todos juntos, os muitos directores de jornais, de revistas, de TVs, de rádios. Juntos a levar em ombros o caixão onde jaz morto o Jornalismo. Nisso sim, estão a ser muito competentes, sendo ajudados pela Comissão da Carteira Profissional de Jornalista, que, fechando os olhos às infracções cometidas nas parcerias comerciais, até leva flores para o funeral.

    Enquanto ajudam a promover, a criar novos primeiros-ministros, novos presidentes, dão mais um passo no cortejo fúnebre do Jornalismo. De forma muito competente.

    Elisabete Tavares é jornalista


    N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.

  • A ideologia totalitária chegou-nos antes da Lei do Tabaco…

    A ideologia totalitária chegou-nos antes da Lei do Tabaco…


    A proposta da nova Lei do Tabaco, com as suas diversas proibições, está a fazer “sair da casca” aqueles que tão obedientemente estiveram a pactuar com medidas totalitárias, e sem nexo nem senso-comum, nos últimos três anos.

    Não deixa de ser curioso assistir, agora, a grandes actos de revolta; a grandes manifestações de incredulidade perante tamanhas proibições e tamanhos actos deste regime que começa a ser chamado até de “ditatorial”.

    gray scale photo of woman holding cigarette

    Ora, mas isto não deixa de ser curioso porque, de facto, nos últimos três anos, aquilo que tivemos em Portugal foi uma população extremamente obediente, mesmo em relação a medidas que eram completamente anti-Ciência; que prejudicaram a população, deixaram um rasto de mortalidade em excesso, um rasto de uma epidemia de saúde mental; e deixaram a Economia como sabemos, com as taxas de juro a dispararem, com todos os efeitos na inflação e nas condições de vida das famílias.

    Nos últimos dias, conclui-se que, de facto, as pessoas só se mexem se lhes tocarem em pontos mais sensíveis. Porque, de resto, não se interessam e até obedecem de boa vontade.

    Agora, é sobretudo curioso ver jornalistas muito revoltados com estas medidas. É curioso porque quando eu comecei como jornalista na profissão – e eu nunca fumei –, nas redacções vivia-se num ambiente de fumo; mais de 90% dos jornalistas fumava. E eu lembro-me de chegar a casa ao fim do dia e toda a minha roupa tinha de ser lavada imediatamente, tal era o cheiro entranhado em mim, como se eu fosse fumadora.

    man standing on sand while spreading arms beside calm body of water

    Durante anos, enquanto era permitido fumar no interior dos edifícios e dos escritórios, nunca vi jornalistas incomodados com o facto de fumarem constantemente para cima de colegas.

    Por tudo isto, é curioso ver agora esta grande revolta. Mas sobretudo ver esta revolta – e não é só em Portugal – por causa deste tipo de proibições, de o Estado e os políticos se quererem substituir aos próprios indivíduos para definir as suas escolhas.

    Isso é algo que tem vindo a acontecer, meus caros, mas não é de agora apenas: é desde 2020. Não é nenhuma surpresa agora. Vocês recordam-se daquelas pessoas que em Portugal queriam obrigar os outros a vacinarem-se, com novas vacinas que, afinal, podem causam problemas do foro cardíaco, por exemplo? Pois, eu recordo-me.

    A ideia de que deve desaparecer o livre-arbítrio e deve desaparecer a vontade e a soberania individual, prevalecendo um indefinido bem-comum, é uma nova ideologia, uma nova moda que tem ressurgido.

    man in white t-shirt smoking

    Meus caros, a nova Lei do Tabaco é apenas uma das partes que mostra esta nova ideologia: a liberdade e a vontade individual não contarão para nada.

    Por isso, saúdo estes “novos revoltados” contra esta ideologia ditatorial, ainda mais associada a uma onda de censura.

    Basta ver a legislação em aprovação em diversos países e também a regulamentação arquitectada pela União Europeia, toda no sentido de classificar e condicionar a informação possível de ser divulgada – em suma, a autorizar a censura e também a estabelecer limitações à liberdade de imprensa –, para compreender que o ressurgimento de uma nova onda, cíclica, de regimes totalitários está aí à porta.

    Já era visível em 2020, e é cada vez mais visível para qualquer um que olhe para as muitas políticas em desenho e em implementação: é só juntar os pontinhos. Nem é preciso ser muito inteligente: basta colocar as várias políticas, a legislação e as várias regulamentações que têm estado a ser desenhadas a vários níveis, para compreender que, juntando tudo, há uma estratégia clara e um sentido comum: a anulação da vontade individual, do livre-arbítrio, da soberania individual.

    selective focus photography of girl standing beside boardwalk

    Portanto, é bom ver estes revoltados de agora, por causa da questão do tabaco, vejam que isto não surge isolado; é mais um dos pontos. Olhem à volta, meus caros. Olhem.

    Há muito mais que está a acontecer, há muitos alertas. Acordem, porque se não, quando um dia perceberem, poderá já ser tarde demais.


    Este texto baseia-se no episódio 123 do podcast Caramba, à Galamba.

  • O “problema” do seu condomínio e do seu país é que a “malta” não quer saber…

    O “problema” do seu condomínio e do seu país é que a “malta” não quer saber…


    Cada vez que vejo os escândalos envolvendo políticos, corrupção ou a má gestão do bem público, lembro-me sempre de um prédio onde vivi há uns anos. A situação foi inesperada e um abre-olhos. Percebi – ao viver naquele prédio – porque Portugal chegou à situação vulnerável a que chegou, em termos sociais, políticos e económicos.

    O prédio era novo em folha. Tinha um jardim por construir. Um problema de licenciamento nas garagens. E tinha alguns problemas de isolamento e construção para resolver.

    Inaugurado o prédio, faltava criar um condomínio. Aqui começaram as lições.

    two doors together during daytime

    Primeira lição: se quem gere o bem público tem o “rabo preso”, não vai defender os interesses do condomínio. O construtor já lá tinha uma empresa de gestão de condomínios, ao estilo chave-na-mão. Além dos preços altos que cobrava, não parecia estar virada para resolver problemas com o construtor.

    Segunda lição: se queremos melhorar as coisas, temos de assumir a nossa parte e agir. Depois de consultado o mercado, dado os problemas que havia para resolver, decidimos então, eu e outros proprietários, avançar com a constituição do condomínio de raíz. Cuidar nós mesmos do que é nosso pode dar trabalho, mas conseguimos resolver os problemas, com custos mais controlados (e também conhecemos pessoas novas e podemos fazer amigos).

    Terceira lição: há malta que não quer pagar a sua parte. Criado o condomínio e o respectivo Regulamento, havia que cobrar as quotas. Pois havia condóminos que não queriam pagar, mesmo que isso implicasse ficar sem luz no prédio ou elevadores.

    Quarta lição:  as reuniões de condomínio não só são suportáveis como até se tornam em algo divertido…  após um necessário aperitivo e petiscos.

    white wooden door closed in room

    Quinta lição: tolerância zero para marquises, furos nas fachadas e nas lajes e atentado à propriedade. Informar é chave. Dar um primeiro aviso com prazo para retirada de antenas ou outras irregularidades é chave. Se um instala uma antena, todos vão querer instalar.

    Sexta lição: resolver problemas envolve boa vontade e muita negociação. O jardim que o construtor não queria construir, lá está hoje construído. Mas foi preciso reunir, telefonar, explicar, persuadir, negociar. Tudo acabou bem e sem ter de se ir para Tribunal.

    Sétima lição: a maioria prefere pagar a outros para gerirem “a coisa pública” só para não terem trabalho. Após algum tempo, quando o condomínio estava “montado” e a funcionar, quisemos passar a pasta da administração para cumprir o Regulamento, o qual previa que a gestão seria rotativa entre condóminos. Mas alguns condóminos “ofereceram-se” para gerir a coisa durante o tempo que fosse necessário, sendo pagos, claro. A maioria votou a favor desta opção.

    Oitava lição: quem herda algo que não construiu, quer também deixar “marca”…. Com o dinheiro “público”. Ora, mal assumiu a administração, a nova gestão queria… fazer obra. Aproveitando os milhares de euros de pé de meia do condomínio, a ideia era fazer uma mega marquise…. Apesar de estarem proibidas alterações à fachada do prédio por indicação do arquitecto.

    black motorcycle parked on tunnel

    Nona lição: quem é pago para gerir “a coisa pública” … pode querer receber mais. Se há problemas ainda por resolver e um dos administradores é advogado… negociar a bem pode não ser o que procure. Sobretudo se puder “torrar” em processos o dinheiro comum.

    Décima lição: há pessoas que preferem fechar os olhos a situações na administração, desde que não tenham de ser chamados a colaborar na resolução de problemas comuns.

    Muitas outras lições tirei da experiência, mas sempre fiquei a pensar: isto é o país, este prédio resume o país.

    No fundo, ninguém quer ter trabalho e chatear-se. Alguns pagam para que outros o façam, mesmo que não o façam bem – e até o façam mal. Não interessa! O que interessa é que OUTROS o façam! Depois, pode-se sempre reclamar. Mesmo os que não pagam, reclamam. Tudo está mal. Mas, desde que haja elevadores, a porta da garagem abra, está tudo bem.  

    five human hands on brown surface

    No meu caso, vivi situações bizarras, quando estive na administração daquele condomínio. Houve de tudo: casos cómicos; voyeurismo; assédio; crimes; mistérios; romances; dramas.

    Soube de outros condomínios com questões e problemas diversos. Como um prédio de gente “famosa” e rica onde havia quem tivesse arcas frigoríficas na arrecadação para poupar eletricidade em casa. Ou um prédio onde havia migrantes chineses a viver em arrecadações. Ou outro onde condóminos tiravam água da garagem para poupar água em casa.

    Em cada prédio, há uma comunidade. Como cada comunidade gere o bem comum, diz muito do que se passa no país. Se há compaixão, respeito, vontade em encontrar soluções para problemas comuns… Mesmo que sejam comunidades “quebradas”, com cada um a viver a sua vida, sem querer saber do prédio, também isso é um tipo de comunidade. Uma em que o exercício do “poder” cívico foi transferido, concessionado. Fiscalizar e monitorizar essa concessão é importante. Se nem isso é feito, o “poder” não é vigiado. E pode não ser bem usado.

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    No outro dia, estava num jantar com amigos, e um deles estava em telefonema com um inquilino. Tinha havido uma discussão e ameaças entre dois vizinhos por causa de um lugar de garagem. Lembrei-me como era no tempo em que estive a viver no tal prédio. Era no meio da resolução de problemas que conhecíamos melhor os vizinhos. E também a nós próprios.

    Penso que, no final, o principal ensinamento que trouxe daquele prédio onde vivi é que fazer amigos acabou por ser o principal. Os momentos humanos que vivemos, os jantares, o conhecer a vizinhança, o andar de andar em andar, às vezes de robe e pantufas… foi mesmo bom. Viver em verdadeira comunidade. Com tudo incluído.

    (Incluindo aquele vizinho voyeur que, a dada altura, fazia disparar o alarme de incêndio de propósito para nos ver a todos de pijama.)

  • De que falamos quando elogiamos Graça Freitas?

    De que falamos quando elogiamos Graça Freitas?


    Graça Freitas vai reformar-se. É com as mãos na cabeça que assisto aos elogios e agradecimentos ao trabalho que Graça Freitas fez na liderança da Direcção-Geral de Saúde. É com assombro que vejo os retratos angelicais e endeusados que muitos dos media mainstream – transformados hoje em autênticas máquinas de marketing político e corporativo – fazem de Graça Freitas.

    O legado daquela que tem sido a directora-geral da Saúde não é só terrível: é trágico, e vai afectar a saúde e os bolsos dos portugueses durante largos e largos anos.

    Mas, ficando eu estupefacta com tanta gente que faz vénias a Graça Freitas, também concluo que fica explicado como é possível haver em Portugal casos como o da TAP. E casos como o de Alexandra Reis.

    Se, depois de quase três anos de decisões catastróficas para o país, há portugueses gratos a Graça Freitas, o caso da “indemnização de 500 mil euros” está explicado.

    Das duas uma: ou o povo que está grato a Graça Freitas vive totalmente alheado da realidade; ou é mesmo sadomasoquista. Sendo uma hipótese ou outra, entende-se que seja fácil haver, neste país, casos de Alexandras Reis em cada gaveta de empresas públicas ou companhias como a TAP – ligada a máquinas e alimentada com o dinheiro de todos nós há anos e anos.

    Graça Freitas geriu a pandemia como se tem gerido o país: com muito marketing; manipulação de informação com ajuda dos media; e dinheiro a rodos para muita gente. O rasto de despesa e sofrimento, ficou para o Estado (nós) e para os mais vulneráveis, como sempre.

    person lying on bed and another person standing

    Passo a explicar. Vejamos os “feitos” daquela que tem sido a directora-geral da Saúde:

    1. Portugal é um dos piores casos de excesso de mortalidade da Europa! Não há explicação, sobretudo porque aumenta também a mortalidade nos mais jovens. Mas há portugueses gratos a Graça Freitas.
    2. Portugal é dos países europeus com mais mortes acumuladas com covid-19 por milhão de habitantes também dos que registam mais casos positivos. Isto, apesar do marketing em torno da elevada taxa de vacinação. Mas há portugueses que agradecem a Graça Freitas.
    3. Os portugueses, incluindo os jornalistas, estão impedidos de aceder a documentos públicos e bases de dados de relevo sobre saúde em Portugal. Reina a opacidade e o esconde-esconde no Ministério da Saúde e na DGS de Graça Freitas (lá saberá porque esconde o que esconde). Mas há portugueses que elogiam Graça Freitas.
    4. A manipulação de dados sobre a covid-19 por parte da DGS foi algo que ocorreu desde o início da pandemia. Contando com a ajuda da imprensa mainstream – a tal máquina de marketing oficial –, apenas foi dada ao público informação tosca e ao gosto do que interessava à DGS, não aos portugueses. Mas há portugueses gratos a Graça Freitas.
    5. A DGS cometeu ilegalidades, e Graça Freitas assinou documentos ilegais, com medidas sem fundamentação nem na Lei nem na Ciência (quarentenas, fecho de supermercados concentrando todos no mesmo local e à mesma hora, etc., etc., etc.). Mas portugueses agradecem a Graça Freitas.
    6. A DGS liderou campanhas de desinformação e arranjou até influencers para lhe fazer o trabalho de marketing local. Mas portugueses elogiam Graça Freitas.
    7. Graça Freitas e a DGS promoveram e compraram com o nosso dinheiro um medicamento que vale zero para a covid-19: o Remdesivir. Mas portugueses admiram Graça Freitas.
    8. Graça Freitas alberga na DGS peritos como Filipe Froes, um contratado por farmacêuticas com milhares de euros mensais de vencimento “extra”. Mas portugueses louvam Graça Freitas.
    9. Graça Freitas promoveu a vacinação para crianças e jovens, quando pediatras e outros especialistas alertavam para os elevados riscos e as dúvidas sobre se as novas vacinas seriam seguras e eficazes para os mais novos. Graça Freitas fê-lo, sabendo o que estava a fazer, e sabendo que as crianças e jovens estão fora do grupo de risco da covid-19. Agora, começa a ver-se um rasto de miocardites e outros efeitos adversos nos mais jovens. A procissão vai no adro. Mas portugueses adoram Graça Freitas.
    10. Graça Freitas ajudou a desacreditar médicos e peritos, ao fechar os olhos em processos da Ordem dos Médicos e a muitas outras situações inaceitáveis, quando questionaram as medidas sem precedentes e erradas que foram implementadas em Portugal. Mas portugueses fazem vénias a Graça Freitas.
    girl covering her face with both hands

    Em resumo, Graça Freitas abriu uma Caixa de Pandora em várias frentes.

    Pôs em causa a saúde de crianças e jovens.

    Contribuiu para destruir a Ciência – que é distinta da religião dogmática que Graça Freitas promoveu.

    Deixa um rasto de mortalidade covid e não-covid em Portugal – sem explicação ainda.

    E abriu as portas para a implementação definitiva de um estado policial em Portugal e uma tirania sanitária e segregacionista, sem base científica e sem qualquer eficácia em termos de Saúde Pública, sobretudo se avançarem as alterações à Constituição a que se juntará o ameaçador e terrível Tratado Internacional sobre Pandemias.

    E alguns portugueses dizem: “mas ela não tinha alternativa”; “foi o melhor que soube fazer”, etc., etc.

    Errado! Preferiu a via da cobardia (ou da preguiça) e, em vez de fazer o que fez a autoridade de saúde na Suécia – que, efectivamente, seguiu a Ciência e não o marketing político –, adoptou medidas que destruíram a economia portuguesa (devido aos confinamentos e fecho de actividades) e que afectaram a saúde dos portugueses numa dimensão gravíssima, e ainda não totalmente conhecida.

    Anders Tegnell, reputado epidemiologista sueco, liderou a resposta da Suécia à pandemia de covid-19 com um grande sucesso. O país, ao contrário de outros, como Portugal, regista um excesso de mortalidade residual. A Suécia recusou aplicar, em geral, confinamentos e o uso generalizado de máscara facial.

    Mas o que é que isto tem a ver com a TAP e Alexandra Reis?

    Tem tudo a ver.

    Um povo que fica grato a uma directora-geral da Saúde que deixa um rasto de destruição e catástrofe, como fez Graça Freitas, é um povo que não consegue compreender como tem sido gerida grande parte do país, nomeadamente na esfera pública. Ou não percebe e ignora a realidade, ou gosta de sofrer e de ter carrascos.

    Seja como for, espero apenas que sejam muitos os portugueses que compreendam bem que o que Graça Freitas fez nos últimos quase três anos não é para elogiar, e muito menos para se estar grato. Só se for por estar de saída.

    red and white no smoking sign

    O que Graça Freitas fez foi algo de tão terrível e tirânico que desejo que nunca mais se repita. Há quem possa considerar que foi mesmo um crime, sobretudo na recomendação de vacinas com riscos a crianças e jovens saudáveis que não precisavam delas, perante os alertas de pediatras e estudos.

    Penso que, mesmo com toda a informação que a DGS, o Governo e o Infarmed estão a esconder sobre o que se passa com a saúde dos portugueses (e a mortalidade em excesso), Graça Freitas não poderá dormir descansada. Não haverá marketing e media mainstream suficientes para agora parar a informação real e verdadeira que, mais tarde ou mais cedo, irá surgir.

    Mas o pior será para os que sofrem e para os que sofreram devido a Graça Freitas. E pior para os que ainda irão sofrer. Mas enquanto a máquina de marketing funcionar, haverá gratidão. Haverá TAPs e Alexandras Reis. E todos dormirão descansados. Porque o povo – eles sabem – o povo é grato. Sempre muito grato.

  • O primeiro Natal sem ela

    O primeiro Natal sem ela


    “Oh Betinha, coma mais um bocadinho!” E eu comia. Ela ficava tão feliz de nos ver a todos comer. Sentia certamente que o seu dever estava cumprido, sempre que todos comíamos mais um bocadinho. 

    No Natal, fazia fatias douradas. Eu gostava pouco de fatias douradas. Mas comia, nem que fosse um bocadinho. Ela ficava tão feliz por comermos as suas fatias douradas.

    Como ele, o avô, ficava, por comermos o doce antigo que ele fazia ritualmente todos os Natais. Praticamente, só eu e ele o comíamos. No início, quando o provei a primeira vez, não gostei. Mas, lá está: ficou tão feliz por eu ter provado. Desde esse primeiro Natal, passou a preparar-me uma taça para trazer parte do doce para minha casa. Com os anos, fui gostando mais e mais.

    closeup photo of baubles on christmas tree

    Há uns anos que não temos o doce do avô no Natal. Tinha pão, açúcar, vinho do Porto e passas. Talvez canela também. Infelizmente, não aprendi com o avô como fazia o seu doce (ou aprendi e já está escondido algures na minha memória). 

    Este ano, dei-me conta de que não me consigo recordar do nome do doce que o avô fazia. Penso nele, vejo-o feliz com o seu doce no tacho de barro, a ver se me lembro do nome. Nada. A avó dizia sempre: “pra quê fazer tanto doce, se ninguém o come”. Mas ele fazia e comia. E dizia sempre: “a Beta também come”. Como comia as fatias douradas da avó. 

    No outro dia, com a árvore de Natal ainda por decorar na sala, apeteceu-me fazer fatias douradas. De vez em quando, faço panquecas aos fins de semana. Os miúdos gostam. É uma forma diferente de começar o dia à mesa. Cada um gosta de as comer à sua maneira, doces ou salgadas. Mas naquele dia, apetecia-me fazer fatias douradas. 

    green pine tree with fireflies

    Fiz de conta que aquelas fatias de pão que tinha em casa serviam para o propósito. Não eram as ideais. Mas era o seu destino, acabarem fatias douradas.

    De repente, ali na minha cozinha, ouvia a voz da avó Fernanda a dar-me indicações. E ela ria. Tenho saudades do seu sorriso. “Faça mais, Beta! Os meninos vão querer!”, ouvi eu na minha cabeça. Era o que ela diria se estivesse ali. E eu fiz. Não sobrou nenhuma.

    (Lembrei-me que também a minha avó Conceição – cá em casa chamamos de bisavó – fazia fatias douradas. Era, aliás, o único doce que me lembro vê-la a fazer no Natal. E, assim, passaram a estar as duas ali na minha cozinha, ao meu lado, a ver-me fazer as fatias.)

    Comer aquelas fatias douradas foi como se voltasse atrás no tempo. Parecia que a qualquer momento, ela iria ligar cá para casa, como fazia. “Olá Betinha! Tá boazinha?”. “Olá Fernandica!”, respondia eu. “Então, querem cá vir almoçar no domingo?”…

    gift boxes with red baubles on top

    Este Natal é o primeiro sem as suas fatias douradas. Eu posso fazer, mas não são iguais. Gosto das minhas. Mas não são as dela. Mas vou fazer fatias douradas este ano. Vou tentar replicar o doce do avô Ventura (sem o tacho de barro, que não tenho). Vou colocar na mesa, para a ceia da véspera de Natal. Ficará ao lado dos doces mais populares (mousse de chocolate e azevias).

    O aroma das fatias douradas e do doce dos avós, encherão a casa, misturando-se com o das couves cozidas, do bacalhau… E eles não estarão aqui. Mas estarão um bocadinho. 

    Fechando os olhos, consigo vê-los sorrir de orelha a orelha ao ver os netos a abrir os presentes, a brincar com os seus brinquedos novos, pela primeira vez.

    “Oh Betinha, comprei-lhe esta camisola que é a sua cara. É muito quentinha e macia – toque aqui. Mas pode trocar se quiser, veja lá se gosta”. E gostava sempre. Como das fatias, que tinham tanto amor. 

  • ‘Karma is a bitch’: jornalistas mainstream em choque porque sofrem “censura” no Twitter

    ‘Karma is a bitch’: jornalistas mainstream em choque porque sofrem “censura” no Twitter


    O Twitter tem menos de 400 milhões de utilizadores. O Facebook tem mais de dois mil milhões de utilizadores, sendo a maior rede social do Mundo. O Twitter suspendeu contas de jornalistas e caiu o Carmo e Trindade. Os media mainstream desataram aos berros, a Comissão Europeia rosnou ameaças. Mas quando um jornalista é censurado no Facebook (como conto mais abaixo neste artigo)… sepulcral silêncio. Nada acontece. Nenhum jornalista se revolta. Nenhuma entidade oficial lança ameaças a Mark Zuckerberg.

    Porquê? A resposta é: Twitter e Musk. O Twitter era antes, até à sua compra por Elon Musk, o recreio da maioria dos que (erradamente classificados como liberais ou de esquerda, porque são, na realidade, fascistas) têm sido a favor de censura de conservadores e de cientistas de topo, os quais discordavam das medidas da pandemia. Aqui estão incluídos muitos jornalistas que trabalham para grandes grupos de comunicação social.

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    Musk mudou tudo e tirou-lhes o recreio. Já não podem brincar à censura e perseguição. Agora, a eles – que são adeptos de censura à moda do regime chinês – saiu-lhes o bolinho da sorte especial (ou a fava, na versão popular portuguesa). Se quiserem brincar à censura, têm de ir para o Facebook ou continuarem a passear no Instagram.

    Mas isto não se inventa. A sério. Depois de terem apoiado durante quase três anos a censura praticada no Twitter, jornalistas estão em choque porque… há censura no Twitter.

    Em resumo, isto foi o que aconteceu agora: o Twitter suspendeu temporariamente uma dezena de contas de jornalistas famosos de grandes meios de comunicação social norte-americanos. O novo dono do Twitter, Elon Musk, alegou que os jornalistas partilharam um link que permite mostrar a localização exacta, em tempo real, do avião privado que o transporta e também à sua família.

    Ontem mesmo, Elon Musk denunciou que um agressor perseguiu um carro onde viajava o seu filho em Los Angeles, tendo bloqueado a viatura e subido para cima do capô do carro.

    Musk alertou que o chamado doxxing – identificação de alguém na Internet, permitindo a sua localização, por exemplo – não seria permitido no Twitter e que as contas que o fizessem seriam suspensas. Mais tarde, depois das contas de jornalistas terem sido suspensas, Musk afirmou que as regras do Twitter também se aplicam a jornalistas, os quais não são especiais face aos restantes utilizadores da rede social.

    Os jornalistas mainstream, que até agora andavam caladinhos sobre as chocantes revelações dos #Twitter Files saíram aos gritos contra Musk. Também a Comissão Europeia, cúmplice e parte activa da censura que se tornou normal nas redes sociais e nos media mainstream desde 2020, saiu também aos gritos e ameaças contra Musk. Sem surpresas. Musk está a expor as mentiras e os crimes cometidos pela anterior administração do Twitter contra muitos dos que lutaram contra as medidas ilegais e anti-científicas que a Comissão Europeia patrocinou.

    Reparem: Musk abriu a guerra aos media mainstream e à Comissão Europeia. Escolheu jornalistas independentes para divulgar os documentos internos que provam as antigas práticas de censura do Twitter. Critica os media mainstream frequentemente, acusando-os de serem parciais e não isentos. E levantou a suspensão de contas no Twitter de cientistas de topo a nível mundial – que tinham sido alvo de censura – e de vozes conservadoras.

    Alguns media tradicionais, incluindo media portugueses, que têm estado tranquilamente a fazer um boicote e a recusar publicar notícias sobre o preocupante e gigantesco escândalo que é os “Twitter Files”, apressaram-se a noticiar em força que Musk suspendeu contas de jornalistas que denunciaram a sua localização em tempo real e da sua família. [O PÁGINA UM tem acompanhado as revelações dos “Twitter Files”, que pode ler aqui]

    Jornalistas a incentivar a localização em tempo real de alguém e da sua família – mesmo sendo uma figura pública – não está correcto. E jornalistas não estão acima das regras. Pelo contrário: por exemplo, no Código Deontológico dos Jornalistas salienta-se que estes devem “respeitar a privacidade dos cidadãos, excepto quando estiver em causa o interesse público ou a conduta do indivíduo contradiga, manifestamente, valores e princípios que publicamente defende.” Não me parece que divulgar em tempo real a localização do avião de Elon Musk seja “interesse público” ou que a sua conduta seja susceptível para tal.

    Não sou absolutamente nada a favor de censura (a não ser de situações concretas, como incentivo ao ódio, pedofilia e outros crimes), sobretudo no caso de jornalistas que estão a relatar um acontecimento. No entanto, compreendo Musk. É a segurança da sua família que está em causa. Os jornalistas sabem disso (ou têm a obrigação de saber).

    Mas este caso acaba por ser como que uma armadilha para a Comissão Europeia e os jornalistas apoiantes da censura e da perseguição de vozes “dissidentes” das de governos e “narrativas oficiais”, incluindo as impostas pelos dólares de farmacêuticas a facturar como nunca e em ascensão nos mercado de capitais.

    Ao censurarem a censura aplicada por Musk a contas que fazem doxxing, acabam por cair direitinhos na armadilha do dono do Twitter. Então, afinal os jornalistas e a Comissão Europeia estão contra a censura? A sério?

    Só podem estar a gozar. A sua hipocrisia não tem limites.

    Se há coisa que os “Twitter Files” vieram provar é que cientistas de topo a nível mundial foram alvo de censura pelos antigos executivos do Twitter. Também vozes conservadoras foram visadas.

    A maioria dos jornalistas que trabalham para grandes grupos de comunicação social não só foram cúmplices dessa censura como a incentivaram, incluindo nas notícias que publicavam e no tempo e espaço que recusavam dar aos que tinham “algo diferente” a dizer em relação aos comunicados de imprensa de governos e autoridades de saúde.

    O resultado foi a destruição da percepção pública do que é o Jornalismo e do que é a Ciência – não, não é algo que pessoas “seguem” ou “acreditam, porque isso é religião. Foi também uma campanha de terra queimada – eliminando-se todas as vozes discordantes em temas como política, saúde, ou outros.

    Além da interferência que houve nas eleições presidenciais norte-americanas: antigos funcionários do Twitter censuraram conteúdos de conservadores e suspenderam a conta do então presidente, Donald Trump, enquanto protegiam o candidato democrata, Joe Biden, proibindo a divulgação das notícias sobre o famoso escândalo envolvendo o portátil de Hunter Biden.

    Elon Musk, novo dono do Twitter, tem estado a divulgar documentos internos da rede social que provam as antigas práticas de censura da empresa. Vozes do lado político mais conservador eram visadas pela censura, tal como cientistas de topo que se mostraram contra as medidas de alegado combate à covid-19. As revelações estão a ser feitas por jornalistas independentes e não pelos tradicionais grandes grupos de comunicação social que pactuaram com a censura que era feita anteriormente pelo Twitter.

    Em Portugal, a maioria dos grandes grupos de comunicação social alinharam com as políticas de censura, achando-se “importantes” e parte do “poder”. Que falácia tão grande. Ao alinharem com as políticas de silenciamento e perseguição de vozes discordantes, os media auto-destruíram a sua credibilidade e a do Jornalismo.

    Pela positiva, começaram a nascer e a florescer órgãos de comunicação social, como o PÁGINA UM, ou o The Free Press, nos Estados Unidos. E também blogues, como o Farol XXI, da Plataforma Cívica Cidadania XXI, que foi uma lufada de ar fresco num panorama de censura e obscurantismo que se vivia em Portugal durante a pandemia.

    A diferença na “censura” actual no Twitter é que as contas de jornalistas que praticaram doxxing deixarão de estar suspensas em alguns dias, em princípio, segundo sugeriu Musk. No passado, na era pré-Musk, personalidades foram banidas definitivamente do Twitter. Porque divulgaram mentiras? Não. Porque incentivaram agressões e assédio a figuras públicas e às suas famílias? Não. Simplesmente porque diziam algo diferente do que os governos queriam. E os ajudantes desta PIDE da Internet e da comunicação social executavam as “sentenças” e os “castigos”.

    Enquanto os olhos das redes sociais estão agora voltados para o Twitter, no Facebook, no Google e nas suas apps e empresas continua tudo igual como era desde 2020: censura vasta e precisa aplicada a quem não diz o que governos e autoridades comprometidas e moralmente falidas não autorizam.

    Foi frequente, na pandemia, a censura nos media de vozes discordantes da chamada “narrativa” oficial. Alguns media mainstream passaram notícias falsas e desinformação. Jornalistas incentivaram o ódio e a perseguição de pessoas que discordavam das medidas da pandemia. As pessoas que decidiram não tomar vacina foram alguns dos alvos visados por jornalistas e directores de publicações, sem qualquer justificação científica e claramente em violação do Código Deontológico dos Jornalistas.

    Na semana passada, esta “vossa” jornalista viu a sua conta ser bloqueada por um dia no Facebook e agora os meus conteúdos são “escondidos” durante cerca de um mês. O motivo: partilhei uma notícia do PÁGINA UM – um órgão de comunicação social português constitucionalmente protegido – sobre uma sentença do Tribunal Administrativo de Lisboa. A sentença é verdadeira. A notícia é verdadeira. Mas o tema da sentença e da notícia não é aprovado pelo Facebook.

    Apetece fazer “LOL”, quando uma empresa tecnológica pode decidir que a divulgação de uma sentença de um Tribunal de um país deve ser censurada e bloqueada para não chegar ao conhecimento do público. Apetece rir, porque deveria ser uma anedota, o Facebook poder bloquear uma notícia escrita por um jornalista com carteira profissional e publicada num jornal licenciado junto da Entidade Reguladora para a Comunicação Social.

    Nenhum jornalista se revoltou. Nenhum burocrata na Comissão Europeia vociferou. Dirão: ah, claro, porque és só uma jornalista portuguesa e no Twitter foram suspensos uma dezena de jornalistas famosos norte-americanos. É certo. Mas é normal que uma jornalista europeia, com carteira profissional há mais de 25 anos, seja bloqueada pelo Facebook por… partilhar uma sentença de um Tribunal e uma notícia sobre o tema?

    Não, não é normal. E também não foi caso único. E não será o último. A diferença é que esta jornalista (e muitos outros), além de não ser famosa, nem norte-americana, também nunca apoiou a censura, pelo contrário. Nunca apoiou a perseguição de cientistas de topo durante a pandemia. Essa é a diferença.

    Tecnológicas como a Meta (Facebook) e Google aplicam ferramentas de censura sob o disfarce de bloquear “desinformação”. O bloqueio de notícias e informações verdadeiras é comum, tal como a suspensão de contas de personalidades que discordam das suas “políticas” de informação, disfarçadas de políticas de comunidade. Estas empresas também cedem a governos, como o chinês, na censura e bloqueio de conteúdos e de utilizadores.

    Apetece rir, mas não é para rir. É antes um caso de polícia. É um caso grave e deve fazer-nos a todos pensar se vamos aceitar estas situações durante mais tempo, se vamos aceitar esta “normalização” da censura de notícias verdadeiras, sentenças de tribunais. De opiniões de cientistas sérios e dos melhores do mundo. De opiniões de pessoas de esquerda e de direita.

    Porque é disto que se trata, desta “normalização” da censura que ocorreu desde 2020. Os jornalistas não são a única classe profissional culpada pela normalização da censura. Os médicos também, os juízes, os polícias, os políticos, os professores, os donos de restaurantes, os enfermeiros, os empregados de limpeza, os académicos, os artistas, … todos os que fizeram silêncio e continuam a aceitar esta anormalidade grave.

    A diferença é que os jornalistas não são um profissional qualquer. O código profissional e de ética que os rege, exige rectidão, imparcialidade, verdade, isenção, objectividade. Em lado nenhum diz que jornalistas são (da falsa) de esquerda, “wokistas, defensores da censura, promotores de ódio e perseguição. Mas isso aconteceu desde 2020 e continua a acontecer.

    A suspensão de contas de jornalistas no Twitter está a levar os media a gritar: “censura!; “perseguição!”. Irónico, não é?

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    Alguns jornalistas descobriram agora o que é a censura nas redes sociais.

    Não sei o que aconteceu à classe jornalística. Mas não é bom, nem é bonito de se ver. A classe, em geral, traiu o Jornalismo e a população. Traiu a Ciência e os cientistas. Traiu a democracia e os democratas. Traiu a liberdade de expressão, a liberdade de imprensa e a liberdade, em geral. A mesma que agora jornalistas reclamam a Musk.

    A sua hipocrisia, a hipocrisia da Comissão Europeia e a de todos os que promoveram a censura e perseguição desde 2020 está exposta. Às claras, perante todos.

    Que esta luz que foi colocada nas atitudes hipócritas de jornalistas, políticos e burocratas arrogantes de Bruxelas sirva para que o resto da população entenda isto, de uma vez: a defesa do mundo livre e da democracia, da liberdade de expressão, não está nas mãos de Musk ou de um político. Nem nas mãos de uma só classe, como a dos jornalistas. Está nas nossas mãos. Nas mãos de todos nós. Vamos agir por isso e para isso. Antes que seja tarde para a liberdade e para o Mundo.

    Somos nós que integramos os 400 milhões de utilizadores do Twitter. Os mais de dois mil milhões de utilizadores do Facebook. E, mais importante, somos cidadãos. Deixar este Mundo ser governado por burocratas comprometidos e tecnológicas cheias de poder não é uma opção.


    N.D. Elisabete Tavares é membro fundador da Plataforma Cívica Cidadania XXI, não exercendo actualmente qualquer função executiva

  • Musk e Ronaldo: heróis e vilões num mundo partido e ferido

    Musk e Ronaldo: heróis e vilões num mundo partido e ferido


    É conhecida a história e a lenda de Charles “Pretty Boy” Floyd, um criminoso e ladrão de bancos que, segundo rumores, destruía durante os assaltos notas de hipotecas, libertando assim agricultores (e as suas famílias) do risco de bancarrota. Foi um vilão/herói, cujo destino se coseu, ponto a ponto, com o da Grande Depressão. Foram milhares os que choraram a sua morte, em 1934.

    Nem sempre a linha que separa o ser-se um herói ou um vilão é clara. Para as forças policiais, Floyd era um assassino e um assaltante de bancos. Para muitas famílias, foi um Robin dos Bosques do seu tempo.

    Os anos 20 do século XXI também estão a produzir castas de heróis que são vilões, e vilões que são heróis. Vivemos numa época de polaridade e divisão. Um Mundo que parece, desde 2020, estar partido ao meio, na política, nas famílias, na Ciência…

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    Não falo de vilões bandidos, criminosos, assaltantes de bancos, nem falo de heróis que são Robins dos Bosques. Falo de um outro tipo de heróis/vilões, que têm surgido como retrato desta época de polaridade que vivemos. Uma época tribal, em que os heróis de uma tribo são os vilões de outra, e em que a “religião” que é o wokismo veio trazer à tona muito do que de mau a Humanidade pode produzir: totalitarismo, censura, divisão, perseguição, cancelamento, dogmatismo.  

    Cristiano Ronaldo é um desses exemplos. Reúne todas as características para ser um herói e, contudo, alguns tratam-no como vilão. Para começar, reúne diversas características que enervam muitos dos que vivem na bolha “wokista” (numa versão pindérica lusa) da esfera mediática em Portugal: é rico, bem-sucedido, inteligente, bem-parecido, independente, venera a família – que é o seu pilar – e não anda em manada. Além disso, veio de um meio pobre, de uma família com dificuldades, e tem orgulho nas suas origens. Pior: pensa por si próprio. Pior ainda: ninguém o viu a vender máscaras nem vacinas contra a covid.

    Cristiano Ronaldo é um vencedor. De menino pobre, ascendeu a estrela maior do futebol e da identidade de Portugal.  Há muito que é um Astro do Mundo e já não só de Portugal. E um certo Portugal, adepto da nova religião wokista, e que se acha importante porque aparece nas TVs, ainda gosta do drama, do fado e do destino. É pequenino, vive num cantinho. Já Ronaldo, é do Mundo.

    Outro exemplo de vilão e herói dos dias de hoje é Elon Musk, co-fundador e líder da Tesla e novo dono do Twitter. Desde que concluiu a compra da rede social em outubro passado, Musk tornou-se num grande herói – para uns – e num terrível vilão – para outros.

    Para dar contexto: o Twitter era o Céu na Terra da tribo woke. Era de uma “beatice insuportável” – definição de wokismo do jornalista João Miguel Tavares. E este wokismo anda de mãos de dadas com fascismo e cultura de cancelamento. Assim, o Twitter era como um território gerido por uma tribo com mentalidade woke e tiques fascistas, onde visões diferentes tinham direito a castigo e até expulsão. Quem frequentava o Twitter e era beato, estava simplesmente no Paraíso. Era lá que se podia encontrar a tribo woke (versão pindérica lusa) portuguesa.

    Ora, isso mudou com a chegada de Musk. O milionário pegou na vassoura e começou por limpar as contas e conteúdos pedófilos que por lá viviam em plena harmonia com a censura dos conservadores e cientistas de topo que discordaram das medidas covid-19. Está também a limpar bots.

    Elon Musk comprou o Twitter em Outubro passado por 44 mil milhões de dólares e está a revelar antigas práticas de censura desta rede social.

    Mas a limpeza “da casa” não ficou por aqui: Musk chamou uma equipa especial, composta de jornalistas independentes, a quem entregou documentos internos sobre as malfeitorias que os antigos funcionários e ex-executivos do Twitter faziam. Musk quer tudo em pratos limpos para fazer do Twitter uma rede social verdadeiramente global e onde o debate é real. E livre.

    Ora, isso não agradou MESMO NADA a muitos. As revelações da roupa suja da censura que era aplicada na rede social chama-se #TwitterFiles, e vai já no quinto episódio de uma série hoje mais popular do que muitas no Netflix. [Pode ler aqui a cobertura que o PÁGINA UM está a fazer].

    E promete aquecer ainda mais! Musk prometeu revelações sobre a censura em torno da covid-19. Como aperitivo, o magnata atacou ferozmente Anthony Fauci, conselheiro do presidente dos Estados Unidos e o rosto das medidas sem precedentes adoptadas na pandemia – como confinamentos, máscaras e vacinas obrigatórias.

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    O Twitter é, hoje, um espelho do Mundo, que está quebrado e ferido, após três anos de promoção da censura e incentivos ao ódio e à divisão e eliminação de direitos humanos e civis.

    Hoje, Musk é herói para muitos. É um vilão para muitos também. Há quem peça que o nomeiem para Prémio Nobel da Paz. Há quem peça que ele seja processado na Justiça.

    Aliás, é isso mesmo que Musk quer que aconteça a Fauci. “Os meus pronomes são processar/Fauci”, escreveu este fim-de-semana num tweet.

    Fauci surge hoje como um outro vilão e herói, em simultâneo. Perante os ataques de Musk, muitos vieram em defesa de Fauci dizendo que “é um herói” e que “salvou vidas”. Para Musk, e muitos outros, no Mundo, Fauci é o pior dos vilões: acreditam que, disfarçado com capa de médico – e de bom –, Fauci levou à morte de milhares de humanos.

    Musk foi directo numa resposta no Twitter, acusando Fauci de ter financiado uma pesquisa para tornar o coronavírus mais perigoso e mais transmissível para os humanos – “gain-of-function”. Fauci negou que a autoridade de saúde dos Estados Unidos tivesse financiado essa perigosa pesquisa, apesar do NIH ter admitido que uma entidade que financiou, e que colabora com o laboratório de Wuhan, quebrou as regras ao não relatar que conduziu investigação de coronavírus em morcegos.

    Fauci, que está agora de saída do sector da saúde pública, arrisca mais investigações por parte dos republicanos por causa da sua eventual ligação, como diretor do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infeciosas (NIAID), à origem da pandemia de covid-19.

    Anthony Fauci, conselheiro-chefe de Joe Biden para a saúde, está de saída de um setor onde exerce funções há mais de 50 anos.

    Informação sobre financiamento deste tipo de pesquisa surgiu no Congresso norte-americano, sendo que se sabe que a autoridade de saúde dos Estados Unidos tem financiado pesquisa nesta área.

    Fauci também defendeu os confinamentos, os quais foram fatais para muitos (é ver as mortes em excesso e por outras doenças, suicídios, etc.), além das sequelas que deixaram em crianças e a devastação que causaram na economia. Defendeu ainda a vacinação obrigatória contra a covid-19, mesmo sabendo-se que as vacinas não travam nem a infecção nem o contágio e podem causar reacções adversas. Por fim, defendeu ainda mecanismos de controlo e discriminação e o uso de máscaras – apesar de ter defendido o oposto no início da pandemia.

    Musk e Fauci são hoje, em lados bem opostos, dois super-heróis para uns. E dois super-mega-vilões para outros. Será raro que ambos sejam vilões para uma mesma pessoa; ou ambos heróis para a mesma pessoa.

    Uns desejam que Musk ou outro milionário compre o Facebook e promova o debate e a liberdade de imprensa e de expressão em mais redes sociais. Outros querem já o seu afastamento.

    Uns querem endeusar Fauci – como em Portugal se endeusa o responsável pelo transporte e distribuição logística das vacinas, Gouveia e Melo – enquanto outros querem vê-lo na prisão por homicídio.

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    Sobre os três de que falei, pessoalmente, admiro Cristiano Ronaldo. Estou-lhe grata pela postura e excelente imagem que transmite do povo português. Admiro-o pela sua força e independência. Pela sua cabeça boa e forte apoio à família. Pelo caminho que trilhou com trabalho e talento. Por pensar por si próprio e não ir em manadas.

    Elon: vejo-o como um homem de negócios puro. Diz que quer derrotar o wokismo e isso é bom – porque implica derrotar ideais fascistas, censura e cancelamento –, mas também penso que é porque pode lucrar muito com isso. O Twitter é hoje mais vibrante. Promove o debate. É uma rede social para “gente grande”, académicos, jornalistas, cientistas, malta sem medo de um bom debate de ideias. O oposto da mentalidade fascista e woke que por lá reinava na era pré-Musk.

    Sobre Fauci, vejo-o como alguém que falhou. Não o vejo como herói. Nem como vilão. Falhou no combate à pandemia. Impingiu mecanismos fascistas e que violam direitos humanos. Vejo-o como alguém que sabe agradar e servir o poder político e, sobretudo, o económico. Alguém que jamais deveria estar num posto ligado a saúde pública, mas que teve a sorte de ser conselheiro de um presidente dos Estados Unidos numa pandemia global. Azar o nosso.

    Já heróis, tenho muitos outros, que conheço, mas que não coloco os seus nomes por reserva da intimidade. “Herói” (ou “heroína”), para mim, nos dias de hoje, é aquela mulher, quatro vezes vacinada, que abraça o irmão e restantes familiares não-vacinados e com eles faz jantaradas em família (e, agora, os preparativos para o Natal). Ignora as chamadas nas TV e nos jornais para promover o ódio e a discriminação entre “os com vacina” e “os sem vacina”. Ignora os “especialistas” mediáticos que a seduzem para o ódio. Eles são os únicos que lucram com esta “guerra”, vendendo o ódio para se promoverem a si próprios e aparecerem mais e mais nos programas e nas revistas sedentos de sangue e terror.

    woman in black and white striped shirt hugging girl in black and white striped shirt

    “Herói” para mim é uma patriarca que, no alto dos seus 80 anos, se mantém sem nenhuma vacina contra a covid-19, soberana da sua saúde e do seu corpo, quando, à sua volta, filhos e noras vão na segunda e terceira doses. Uma “heroína” porque cuida de si e da sua saúde, tal e qual como acha que é melhor, como sempre o fez ao longo da vida. Não cede à propaganda das TVs, nem das caras lindas e hiper-maquilhadas das estrelas da música que aparecem em campanhas da Direcção-Geral da Saúde a promover as doses. E está saudável que nem um pêro. Vive como sempre viveu. E, como diz o filho, “está muito boa cabeça, mesmo”.   

    “Herói”, para mim, é o “puto” que, no meio da desgraça em que os seres humanos conseguiram transformar o mundo nos últimos três anos, aprendeu, de algum modo, a fazer-se a si próprio feliz, a continuar com a sua vida de escola, amigos e actividades.  

    “Herói”, é a “miúda” que saiu da depressão, ganhou coragem para seguir com um namoro com um rapaz amigo e agora já vislumbra o que quer fazer com a vida.

    couple hugging each other during sunset

    Esses são alguns dos meus “heróis”.

    São aqueles e aquelas que continuam com as suas vidas, adaptando-se, decidindo por si, respeitando os demais. E amando. Amando, a si próprios. Amando, os seus. E amando aquilo que têm de bom e em comum. E isso é o mais valioso que há neste Mundo, por vezes, na aparência, tão perdido, mas que, afinal, só parece estar perdido nos jornais – e na sua desinformação, parcialidade e incentivo à divisão –, nas redes sociais – e na sua censura. Porque nas casas de muitos, nos corações de muitos, nas famílias de muitos, o Mundo está bem, bem encaminhado. Em muitos lugares, em muitos lares, o Mundo está num bom rumo.

    E eu gosto desse rumo. Sem divisões nem ódios – celebrando a verdade, o amor e o que há em comum. Porque deve ser o nosso rumo. É o rumo certo. O único rumo que vale a pena seguir.

  • Da China ao Catar: dois mundos iguais, com dois olhares escandalosamente diferentes

    Da China ao Catar: dois mundos iguais, com dois olhares escandalosamente diferentes


    De repente, dois regimes opressores, em duas geografias distintas, por dois motivos diferentes, estão debaixo dos holofotes, no centro das notícias a nível mundial: China e Catar.

    No Catar, no meio dos debates tardios sobre os direitos humanos e a exploração de emigrantes. testemunhamos em directo estádios cheios de milhares de pessoas, festas e celebrações.

    Na China, vemos na TV e em vídeos na Internet, pessoas a serem perseguidas e detidas, por polícias vestidos com fatos anti-contaminação, porque o Governo totalitário diz que “o recorde” de 30 mil casos positivos diários ao SARS-CoV-2, numa população de quase 1,5 mil milhões de pessoas, justifica encerrar e condenar à fome e à miséria toda uma população. Mesmo que, em alguns casos, haja pessoas que morram até por incêndios, porque não conseguem escapar das chamas por as casas estarem bloqueadas.

    two person holding papercut heart

    O Mundo assiste assim, em directo e, em simultâneo, aos acontecimentos que se desenrolam nestas duas ditaduras. Dois países que parece estarem em planetas diferentes. E, ainda assim, o Tico e o Teco não se encontram e não despertam as mentes de alguns no Ocidente, incluindo jornalistas e comentadores nos media?

    Perante a trágica e irracional política seguida na China, olhando em simultâneo para o Catar em festa, nem mesmo assim alguns jornalistas e políticos admitem aquilo que é urgente admitir por ser tão óbvio: o que o regime chinês está a fazer à sua população é um crime de gigantescas proporções, que nada tem de estratégia de saúde pública.

    E até se compreende esta atitude de muitos no Ocidente. Há jornalistas e políticos que se assumem hoje, de forma mais ou menos discreta, como porta-vozes do regime totalitário chinês. O modelo tirânico de controlo e submissão a que os cidadãos chineses são forçados a viver, passou a ser apelativo a muitos interesses no Ocidente, ainda livre, onde as liberdades de imprensa e de expressão existem, mas que não param de ser ameaçadas. É só ver a política de censura e perseguição a que assistimos desde 2020 e a supressão da Ciência que não validava as teses “oficiais” dogmáticas, muitas das quais se mostraram ser erradas. E muitos políticos e jornalistas as apoiaram, as incentivaram.

    No Estádio de Lusail, onde a selecção portuguesa venceu o Uruguai, estava uma plateia de quase 90 mil adeptos. (Foto: FPF)

    No caso da China, assistimos nos últimos dias a uma onda de protestos corajosos contra o regime opressor, que continua a impor, em 2022, uma política insana e tirânica usando como desculpa a covid-19. O regime totalitário tem mantido detidas em casa centenas de milhões de pessoas, em condições desumanas, mas parece até merecer uma certa condescendência dos media ocidentais porque, aparentemente, o Governo chinês até está a fazer aquilo que muitos políticos e jornalistas gostariam que, no fundo, se tivesse feito nos países europeus ou norte-americanos durante a pandemia.

    Do outro lado, no Catar, assistimos a estádios cheios de gente, a imagens de glamour e festa – num país igualmente intolerante e cruel. No que toca à covid-19, as condições de entrada no país são iguais para todos, tenham ou não tomado a vacina contra a doença, não sendo necessário apresentar teste negativo. Até porque as vacinas contra a covid-19 não impedem o contágio nem a infecção.

    Também os media estão no centro das atenções, pela forma como estão a cobrir os protestos na China, muitos aparecendo como porta-vozes do regime chinês, a defender a política irracional de “zero covid”.  

    red flag
    As políticas “de saúde” impostas pelo regime totalitário na China desde 2020, apesar de muitas delas não terem base científica e desrespeitarem os direitos humanos e civis, têm sido elogiadas por políticos, jornais, responsáveis de autoridades de saúde e comentadores nos media nos países democráticos ocidentais, que caminham cada vez mais para ditaduras.

    Indo por partes. Uma política de “zero covid” é, em primeiro lugar, completamente impossível, insustentável e insana, sobretudo depois do surgimento da variante Ómicron, mais contagiosa, mas muito menos letal do que as anteriores variantes. Jamais se poderá reduzir a “zero” a presença do SARS-CoV-2 depois da Ómicron. Como disse o epidemiologista Michael Osterholm, diretor do Center for Infectious Disease Research and Policy, da Universidade do Minnesota, nos Estados Unidos: “tentar parar a Ómicron é como tentar parar o vento”.

    Mas, o que ressalta à vista, e deveria ser o destaque em toda a imprensa, é o completo falhanço da China na “gestão” sanitária e social da pandemia de covid-19. Os casos positivos somam-se, apesar das medidas completamente absurdas e tirânicas adoptadas no país liderado por um Governo autoritário e opressor.

    Ao contrário, a Suécia, onde, sem confinamentos, nem máscaras faciais, em geral, temos o caso de maior sucesso na gestão da pandemia no médio e longo prazo. (Aliás, os países europeus apresentam em 2022 um nível extremamente elevado de mortes em excesso – sem explicação e sem vontade de se investigar, curiosamente – enquanto na Suécia, a mesma situação não se verifica.)

    Os confinamentos foram e são uma medida errada. O objetivo “zero covid” é insano, em termos médicos, científicos e económicos. Por isso, é com surpresa que se continuam a ver notícias em alguns media tradicionais (ou mainstream) sobre o que se passa na China. Estão completamente desfasadas da realidade. A falta de contexto em algumas notícias é gritante.

    Mas, mais do que isso, surpreende que alguns media mainstream continuem a defender a estratégia da China na luta contra a covid-19. Ignoram, para isso, não só os factos, os dados e os estudos científicos robustos disponíveis, como se esquecem de algo crucial: a China é uma ditadura. Assim, a informação dita oficial é suspeita, dada a propaganda generalizada e o gigantesco controlo de informação.

    Vejamos, por exemplo, os supostos “casos recorde” na China destacados por jornais como o Público: estamos a falar de 30 mil casos em média, por dia, numa população de 1,44 mil milhões de pessoas. Isto, quando 90% da população chinesa mais de metade da população chinesa está supostamente vacinada contra a covid-19, uma percentagem que sobe no caso das principais cidades do país.

    Registo actual da percentagem de vacinação contra a covid-19. Fonte: Google.

    Vale a pena recordar mais uma vez, e mesmo que se possa parecer repetitivo, que a maioria dos media mainstream continua a ocultar ao seu público: a taxa de letalidade da covid-19. Um artigo científico divulgado no mês passado, onde se destaca como autor John Ioannidis, o epidemiologista mais citado do Mundo, estimou, que a taxa de mortalidade por infecção de covid-19 antes de haver vacinação e do aparecimento da Ómicron foi de 0,095% para os menores de 70 anos, sendo irrelevante nos grupos etários mais jovens. E apontou também que a taxa de letalidade global se situava entre 0,03% e 0,07%.

    Isto são factos. E os jornalistas lidam com factos, não com ilusões, ideologias e lavagens cerebrais da propaganda chinesa ou das farmacêuticas. E muito menos com “consensos sociais“, ao contrário do que é defendido pelo director do Público.

    Por tudo isto, os jornais e os jornalistas deveriam sobretudo reflectir sobre como podem “conviver” com um regime opressor que aprisiona a sua população para reforçar o poder reforçado – e “embrulha” isto como se de uma simples estratégia de saúde pública se tratasse – ao mesmo tempo que assistem a jogos de futebol, noutro Estado autoritário, em estádios lotados.

    man in white robe standing near statue during daytime

    Antigos bastiões da defesa da democracia e da liberdade de imprensa e de expressão, vejo hoje os media, em geral, transformados em porta-vozes de ditadores ou aspirantes a ditadores, enviesando as suas análises, manipulando, omitindo e não dando verdadeira informação, corajosa e independente.

    Por isso, hoje, mais do que desejar a vitória da seleção portuguesa no Catar, desejo a vitória sobre a ditadura por parte do povo chinês, com o qual me solidarizo. Desejo a vitória das minorias e dos que sofrem de perseguição e discriminação no Catar, na China e em outro qualquer país. E desejo que haja uma revolução no jornalismo e que os media voltem a ser aquilo que deveriam ser hoje: uma luz para a liberdade.

  • Eis aqui a verdadeira Nova Ordem Mundial! Na versão boa

    Eis aqui a verdadeira Nova Ordem Mundial! Na versão boa


    Quando entrevistei, recentemente, Michael Levitt, um Prémio Nobel da Química, fiquei sensibilizada com o tom com que falava do seu “novo amigo” John Ioannidis. Os seus olhos brilhavam ao mencionar o seu nome. Alargava-se nos elogios ao epidemiologista norte-americano, o mais respeitado e citado do Mundo. Era como se estivesse a ouvir Michael Levitt numa versão de criança, contagiado de alegria por uma nova amizade. (Talvez não estejamos habituados a ver adultos a falar de forma tão efusiva dos seus novos amigos.)

    Eu compreendo a alegria de Levitt. E desconfio que o leitor também compreende porque, desde 2020, muitos de nós “perdemos” amigos que dávamos como garantidos para a vida, e “ganhámos” novos amigos que parece estarem connosco desde sempre.

    four person hands wrap around shoulders while looking at sunset

    Serão talvez as chamadas “almas gémeas” que se encontraram a partir de 2020, não no sentido amoroso, mas no afectivo e empático: somos do mesmo “planeta”; viemos da mesma “nave”.

    No caso de Levitt e de Ioannidis, são agora parceiros na investigação científica. Mas não só. Partilham agora uma amizade forte, forjada em tempos desafiantes, onde todos fomos testados.

    As amizades forjadas nesta pandemia – em tempos de retrocesso civilizacional, de “guerra” aos humanos e à comunidade, em tempos de censura, desinformação e segregação – ficarão para a vida, suspeito.

    Mas não só amizades. Não são simples amizades, estas que têm sido formadas nos últimos quase três anos. Porque a estas amizades somam-se muitas outras também nascidas na pandemia e que, no seu todo, formam comunidades.

    Ainda esta semana, Aseem Malhotra, um especialista em cardiologia britânico que tem feito uma campanha para suspensão da administração de vacinas mRNA contra a covid-19, partilhou a sua alegria no Twitter, após ter finalmente conhecido, em carne e osso, Ryan Cole, um reputado patologista que tem educado sobre o que as vacinas causam no corpo humano. Ambos têm sido alvo de censura e perseguição, numa altura em que o dinheiro da indústria farmacêutica e dos seus associados – incluindo políticos, grupos de media e tecnológicas – ainda tem algum poder.

    A foto de alegria dos dois, sentados lado a lado, na plateia de uma conferência, em Oslo, na Noruega, dizia tudo. Não necessitava de legendas.

    Pessoalmente, vivi também esta sensação de alegria que se sente ao conhecer pessoalmente alguém com quem se partilha algo importante em comum. Em 2020, escrevia eu nas redes sociais – sobretudo no Facebook e no LinkedIn – sobre o que não batia certo na narrativa oficial sobre a pandemia. Os dados que não estavam correctos, a cobertura dos media mainstream que, além de sensacionalista, era, por vezes, falsa e persecutória. Etc, etc. Assistíamos todos, ao vivo, a crimes a serem cometidos contra a população. Tínhamos de fazer algo, além de escrever e expor os crimes nas redes sociais.

    Conhecer os “colegas” da Plataforma Cívica – Cidadania XXI foi mais do que uma alegria. Foi mágico. Como se estivesse destinado a acontecer. Montar as Tertúlias da Junqueira e moderá-las, semana após semana. Tudo presencialmente, numa altura em que se espalhava medo e até pânico pela população. Mas nunca parámos. Fizemos muitas noitadas. Debatemos, discordámos, rimos. Foi intenso. E foi bonito. Cada convidado que aceitava participar, cada painel que ficava fechado, era como… se algo superior estivesse a operar. Tudo se encaixava.

    Dirão que estou a entrar num registo lamechas. Talvez. Mas não fica por aqui, o meu relato. Recordo também como foi conhecer cada um dos convidados das Tertúlias. Cada um dos que se deslocaram semanalmente ao Vinyl para ouvir o contraditório que não se ouvia em mais lado nenhum, em Portugal, praticamente. Lá, revi amigos que não via há muito. Fiz novas amizades. Algumas são hoje cruciais na minha vida.

    Seguiu-se o Farol XXI. E, claro, o PÁGINA UM com o Pedro Almeida Vieira.

    Posso, hoje, não conseguir dar atenção por igual a todas as amizades novas que fiz desde 2020. Mas são muito especiais para mim. Claro que amizades que já tinha se mantiveram e, algumas, até se reforçaram.

    Mas, para muitos, desde 2020 que se formaram novas ligações afectivas, profissionais. Novas comunidades.

    E era aqui que eu queria chegar.

    No meu caso, da Cidadania XXI ao PÁGINA UM, passando por todos os projetos que outros “colegas” e amigos criaram em defesa da Ciência, da medicina, da democracia, dos direitos humanos e civis, estão formadas diversas novas comunidades.

    Tivemos de criar páginas nas redes sociais e na Internet, tivemos de aderir a plataformas encriptadas como o Signal e o Telegram. Tudo para divulgar e partilhar informação rigorosa e verdadeira, contrariando a propaganda e a desinformação divulgada no mainstream. Uma aventura! O mesmo se vê “lá fora”. Tanto na Ciência, na academia, no jornalismo, na advocacia. Muitas comunidades se formaram. E muitas com base em novas amizades bonitas e fortes que se forjaram.

    person in red sweater holding babys hand

    Mesmo sem a pandemia, e antes da pandemia, já várias comunidades se formavam, indiferentes a Governos, políticas… e a Novas Ordens Mundiais.

    Desde comunidades em torno da permacultura, até a sistemas de ensino focados na natureza e nas crianças e suas diferenças e criatividade, passando por novas formas de “dinheiro”, muitas comunidades se desenvolveram. E cresceram.

    Para mim, só o facto de ter começado a cultivar uma horta – por coincidência, em Março de 2020 –, trouxe-me todo um novo conjunto de amizades boas e bonitas. E, não uma, mas várias comunidades onde hoje me integro.

    Ver nascer novos projetos, novos jornais, plataformas cívicas, grupos de cientistas, de médicos, de professores, … Vislumbra-se o nascimento de um novo mundo. Uma verdadeira Nova Ordem Mundial. Mas na versão boa.

  • O ódio nos olhos dos jornalistas “fascistas”

    O ódio nos olhos dos jornalistas “fascistas”


    Tudo começou com uma notícia sensacionalista. E falsa. Naquele tempo, naquele lugar, havia jornalistas racistas, com ódio. Também em boa parte da população “branca”, o ódio era grande. Uma notícia, na primeira página de um jornal, tornou-se, segundo várias fontes, no “gatilho” que iniciou o massacre racial de Tulsa, nos Estados Unidos. Decorreu entre 31 de maio e 1 de junho de 1921. O número de vítimas mortais é incerto, oscilando entre dezenas e centenas.   

    Ainda hoje, o massacre de Tulsa vive, através dos registos e testemunhos que sobreviveram, para lembrar a todos do que o ódio, as multidões cegas com ódio podem fazer. E o que notícias sensacionalistas e falsas podem causar.

    angry face illustration

    O tempo passa, mas o ódio parece sempre conseguir encontrar lugar no coração dos homens e mulheres. Como hoje, nas redacções portuguesas, europeias, o que não falta é jornalistas com ódio. Sim, também os há racistas, homofóbicos, machistas, antissemitas, xenófobos.

    Mas há, sobretudo, hoje, vários jornalistas adeptos de medidas e regimes totalitários, defensores da ditadura em nome de um alegado “bem comum”. Odeiam a liberdade, a democracia, a liberdade de expressão, a liberdade individual e a soberania sobre o próprio corpo (pelo menos, no caso das vacinas contra a covid-19). Este ódio foi (e é ainda) visível na cobertura que fazem (ou não fazem) de eventos e acontecimentos.

    Odeiam todos os que resistiram à propaganda da pandemia, os que se mantiveram sem vacinas contra a covid-19, os que se mantiveram sem máscaras faciais e sem álcool-gel na mão, os que recusaram denunciar vizinhos por receberem amigos ou familiares para jantar nos confinamentos.

    Odeiam os que se manifestaram a favor dos direitos humanos e civis, a favor da Ciência verdadeira e da liberdade. Odeiam os que preferiram abandonar empregos onde lhes era exigido que tomassem obrigatoriamente as vacinas contra a covid-19.

    Novak Djokovic vai voltar a competir na Austrália, depois de ter sido recusada a sua entrada por se manter sem vacina contra a covid-19. As notícias sobre o tenista tinham, por vezes, um tom negativo e depreciativo para o atleta.

    Odeiam os atletas que preferiram ficar de fora de competições do que abdicar da soberania sobre o seu corpo e protegê-lo de novas substâncias injectáveis cujos riscos para a sua saúde superavam amplamente os eventuais benefícios.

    Odeiam os que fazem perguntas e também os que apresentam dados e evidências de que os confinamentos foram errados e um crime, de que as vacinas carecem de informação crucial, de que as mortes em excesso na Europa são graves e devem ser investigadas por entidades independentes. Estes jornalistas e diretores de publicações não trabalham para informar o público. Trabalham para ajudar a criar “consensos sociais” – como diria o director do Público.

    Notícia do jornal Tulsa Tribune publicada no dia em que teve início o massacre racial de Tulsa e breve a noticiar o arquivamento do processo contra Dick Rowland.

    O ódio nestes jornalistas nasceu na pandemia, com a desinformação e a propaganda que muitos deles ajudaram a espalhar. O ódio nestes jornalistas nasceu da mesma forma como sempre nasceu o ódio: por ignorância e por medo. Onde há medo e ignorância, está o terreno tratado para semear o ódio.

    Este ódio semeado na pandemia dá muito jeito para os que pretendem tomar de assalto o mundo livre, o mundo ocidental. O ódio semeado na pandemia é perfeito para gerar a destruição do que tem estado a impedir o nascimento de um novo mundo, em que apenas uns ditam “a verdade” e ganham todos os lucros e todo o poder. Um mundo sem democracia, sem direitos civis, sem direitos humanos, sem liberdade, sem liberdade de expressão. Como na China. Como na Alemanha nazi. Como em Tulsa, em 1921.

    Numa entrevista ao PÁGINA UM, um dos melhores jornalistas de investigação, Bostjan Videmsek, alertou que espera que a pandemia não tenha servido como “ensaio” para serem aplicadas mais medidas totalitárias, agora com a ‘desculpa’ do combate à grave crise ambiental que vivemos.

    Videmsek não é apenas jornalista, escritor e activista pelo ambiente. É embaixador do European Climate Pact da União Europeia na Eslovénia.

    O seu alerta faz sentido. Imagine: e se os jornalistas que ajudaram a distribuir dogmas e propaganda na pandemia – destruindo a democracia e a Ciência verdadeira – agora forem espalhar eventual propaganda e promoverem como “boas para o consenso social” medidas totalitárias anunciadas para alegadamente combater a crise ambiental. Combater as alterações climáticas.

    Isto é possível, dado o ódio à liberdade à democracia que se instalou em boa parte das redacções dos media mainstream portugueses e europeus e que é visível pelo apoio que deram à segregação da população e à desinformação científica que espalharam. Pior. Ainda hoje, muitos jornalistas acreditam que “seguem a Ciência” e que os confinamentos eram bons e que “vai ficar tudo bem”. Nem com a inflação, as mortes em excesso e os estudos e dados científicos, muitos desses jornalistas despertam do sono em que mergulharam nos últimos quase três anos.

    white sheep on white surface

    Mas, temos um problema. Não só não despertaram, como agora odeiam. E o ódio é potente.

    E é grave porque a democracia está prestes a capitular em Portugal – se avançar a revisão constitucional ilegal proposta – e em muitos outros países, onde medidas fascistas se tornaram a norma desde 2020. Não é preciso mencionar o Canadá, a Nova Zelândia, a Austrália, Itália, França, Alemanha, Estados Unidos…

    Em todos estes países foram implementadas medidas que, não só foram erradas cientificamente e não ajudaram a combater eficazmente o vírus SARS-CoV-2, como ainda deixaram um rasto de danos gigantesco, em termos de saúde, humanos, sociais e económicos. E danos na democracia, liberdades, direitos e garantias.

    Como democrata, pouco me interessa a ‘esquerda’ ou a ‘direita’. O que conta, para mim, é o que se vê os governos e partidos a fazerem, na prática. Essa suposta diferença entre ‘esquerda e ‘direita’ não passa, para mim, hoje, de puro marketing. Publicidade. Como nas campanhas de propaganda para convencer a população de que o tabaco fazia bem à saúde.

    black and white typewriter on white table

    Há anos que vejo medidas de partidos e governos de ‘esquerda’ mais próximos do fascismo. Nos anos recentes, sobretudo desde 2020, acentuou-se a ideia: o fascismo crescente instalou-se nos países ditos do Ocidente.  

    A nova moda de totalitarismo vem disfarçada, envolta em marketing, em campanhas de propaganda, como só se viu em regimes totalitários.

    O papel dos jornalistas na instalação de regimes totalitários, fascistas, é crucial. Também hoje, muitos alinham na moda fascista para manterem o ‘seu poder’ e financiamento. E porque alguns diretores e jornalistas são… “fascistas”. Sempre o foram. Outros defendem hoje a instalação de uma ditadura. E nem sabem, o que é trágico.

    Quem passou por redacções em Portugal, sabe que estão cheias de jornalistas de ‘esquerda’. Incluindo desta nova ‘esquerda’ – supostamente – que tem vindo a eliminar direitos civis e direitos humanos.

    person holding change the politics not the climate printed board

    Que partidos com tiques fascistas queiram eliminar direitos civis e direitos humanos, e a liberdade de imprensa, compreende-se. Afinal, são assumidamente fascistas. Mas ver o mesmo acontecer a partidos ditos de ‘esquerda’ e de ‘centro’ e os seus apoiantes – incluindo jornalistas – é completamente atroz.

    É inacreditável que os direitos humanos e direitos civis na pandemia tenham sido sobretudo defendidos por partidos e políticos mais conservadores e de direita. Como é possível?

    Como se os pólos terrestres se tivessem invertido e o caos se tivesse instalado na Terra.

    Colocar em causa a manutenção e a defesa de direitos humanos e civis é ameaçar diretamente a democracia. Quem quer ficar refém e à mercê de propagandistas, de um regime baseado numa falsa ciência (como era também o de Hitler), num regime em que tudo (e todos) o que se quiser passa a ser uma ameaça ‘à segurança nacional’, a ‘estabilidade’, ‘o bem comum’. Basta que possa questionar o regime novo ou a falsa ciência. Basta que mostre evidências científicas que contrariam a ciência comercial em voga no Mundo Ocidental.

    woman in black and white tank top leaning on wall

    Torna-se curioso, do ponto de vista científico e comportamental, assistir a demonstrações fascistas de pessoas que, sem o saber que são, falam nas TVs, nas redes sociais, nas rádios. Escrevem nos jornais os seus artigos de opinião e até as suas notícias. Sim, os jornalistas “fascistas” escrevem as suas notícias enviesadas, pejadas de propaganda, só ouvem as fontes que promovem o novo regime fascista. Como na Alemanha nazi, no Portugal do Estado Novo, na América ‘anti-comunista’ Macarthista.

    O novo Macarthismo instalou-se. Agora, ‘os comunistas’ são os que defendem a liberdade e a democracia, a Ciência verdadeira, e que são vistos como ameaça aos novos “fascistas”.

    Dirão: ah, mas este fascismo é necessário por causa da… pandemia. Por causa da crise ambiental, da crise climática. Como é que alguém pode ser tão burro? Sim, burro. Não uso a palavra de modo leviano. É preciso muita burrice, muitas palas nos olhos para, em 2022, alguém racional se deixar levar por propaganda descarada. Como os alemães na Alemanha nazi. Só, de facto, o medo e ódio podem gerar tantas palas nos olhos de tantos.

    A Suécia foi o país que melhor geriu a pandemia. De longe! É só olhar para as estatísticas covid e não covid. Para a diferença entre as mortes excessivas nos países que aderiram ao fascismo do seculo XXI e a Suécia. A diferença é abissal!

    A Suécia não alinhou com os confinamentos e imposição de máscaras, em geral, tornando-se um caso de sucesso na gestão da pandemia de covid-19.

    Ainda assim, perante as evidências e os factos, a massiva propaganda paga por fundos públicos e privados – incluindo da indústria farmacêutica e todos os que lhe estão ligados, como colaboradores, acionistas ou “parceiros comerciais”, como os jornais – tem conseguido enganar boa parte da população. Aqui se incluem jornalistas e uma pseudo ‘elite’ que de pensante pouco tem, hoje em dia. Estão atulhados pelos medos, a sensação de insegurança. A baixa literacia científica que têm vindo a demonstrar é um dos calcanhares de Aquiles que os ajudou a tornarem-se vítimas do novo fascismo e a nova ideologia de totalitarismo.

    Custou ver jornalistas a atacar cidadãos e cientistas por mostrarem as evidências científicas sobre a inutilidade das máscaras num vírus como SARS-CoV-2, sobretudo a violência do seu uso em crianças. Custou ver, mas deu para se perceber que estavam cheios de medo. Emocionais. O tom dos seus ataques era transparente. O seu ódio.

    Por isso, quando políticos e propagandistas das farmacêuticas espalharam a fake news de haver uma ‘pandemia de não vacinados’, tantos jornalistas se prestaram a propagar a falsa notícia. A desinformação nesta pandemia foi atroz. Mas o que mais custou ver, e continua a custar ver, é a ignorância que jornalistas e políticos aceitam demonstrar publicamente.

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    A Ciência verdadeira foi atacada desde 2020 e substituída por políticas erráticas ou baseadas numa ‘ciência’ dogmática e comercial, vocacionada sobretudo para impulsionar a venda de produtos diversos.

    A Ciência só o é se for baseada na evidência. Estudos de farmacêuticas ou cientistas ligados à indústria, ou entidades financiadas por alguém ligado à indústria, não contam, naturalmente.

    Nesta altura, quando temos uma ameaça sobre a democracia, saúdo todos os socialistas e social-democratas que se estão a levantar em defesa da pureza da Constituição e em defesa dos direitos humanos e direitos civis. Que estão a opor-se a esta revisão ilegal e perigosa.

    Agora, também seria bom começar a ver jornalistas, directores de media mainstream, se levantarem a favor da democracia, dos direitos humanos, dos direitos civis. Da liberdade.

    Os jornalistas têm muitas responsabilidades. Só espero que, ao contrário do que a maioria fez desde 2020, desta vez as usem para o verdadeiro bem comum, a democracia, a liberdade e o progresso da Humanidade.