Etiqueta: Visão da Graça

  • O primeiro Natal sem ela

    O primeiro Natal sem ela


    “Oh Betinha, coma mais um bocadinho!” E eu comia. Ela ficava tão feliz de nos ver a todos comer. Sentia certamente que o seu dever estava cumprido, sempre que todos comíamos mais um bocadinho. 

    No Natal, fazia fatias douradas. Eu gostava pouco de fatias douradas. Mas comia, nem que fosse um bocadinho. Ela ficava tão feliz por comermos as suas fatias douradas.

    Como ele, o avô, ficava, por comermos o doce antigo que ele fazia ritualmente todos os Natais. Praticamente, só eu e ele o comíamos. No início, quando o provei a primeira vez, não gostei. Mas, lá está: ficou tão feliz por eu ter provado. Desde esse primeiro Natal, passou a preparar-me uma taça para trazer parte do doce para minha casa. Com os anos, fui gostando mais e mais.

    closeup photo of baubles on christmas tree

    Há uns anos que não temos o doce do avô no Natal. Tinha pão, açúcar, vinho do Porto e passas. Talvez canela também. Infelizmente, não aprendi com o avô como fazia o seu doce (ou aprendi e já está escondido algures na minha memória). 

    Este ano, dei-me conta de que não me consigo recordar do nome do doce que o avô fazia. Penso nele, vejo-o feliz com o seu doce no tacho de barro, a ver se me lembro do nome. Nada. A avó dizia sempre: “pra quê fazer tanto doce, se ninguém o come”. Mas ele fazia e comia. E dizia sempre: “a Beta também come”. Como comia as fatias douradas da avó. 

    No outro dia, com a árvore de Natal ainda por decorar na sala, apeteceu-me fazer fatias douradas. De vez em quando, faço panquecas aos fins de semana. Os miúdos gostam. É uma forma diferente de começar o dia à mesa. Cada um gosta de as comer à sua maneira, doces ou salgadas. Mas naquele dia, apetecia-me fazer fatias douradas. 

    green pine tree with fireflies

    Fiz de conta que aquelas fatias de pão que tinha em casa serviam para o propósito. Não eram as ideais. Mas era o seu destino, acabarem fatias douradas.

    De repente, ali na minha cozinha, ouvia a voz da avó Fernanda a dar-me indicações. E ela ria. Tenho saudades do seu sorriso. “Faça mais, Beta! Os meninos vão querer!”, ouvi eu na minha cabeça. Era o que ela diria se estivesse ali. E eu fiz. Não sobrou nenhuma.

    (Lembrei-me que também a minha avó Conceição – cá em casa chamamos de bisavó – fazia fatias douradas. Era, aliás, o único doce que me lembro vê-la a fazer no Natal. E, assim, passaram a estar as duas ali na minha cozinha, ao meu lado, a ver-me fazer as fatias.)

    Comer aquelas fatias douradas foi como se voltasse atrás no tempo. Parecia que a qualquer momento, ela iria ligar cá para casa, como fazia. “Olá Betinha! Tá boazinha?”. “Olá Fernandica!”, respondia eu. “Então, querem cá vir almoçar no domingo?”…

    gift boxes with red baubles on top

    Este Natal é o primeiro sem as suas fatias douradas. Eu posso fazer, mas não são iguais. Gosto das minhas. Mas não são as dela. Mas vou fazer fatias douradas este ano. Vou tentar replicar o doce do avô Ventura (sem o tacho de barro, que não tenho). Vou colocar na mesa, para a ceia da véspera de Natal. Ficará ao lado dos doces mais populares (mousse de chocolate e azevias).

    O aroma das fatias douradas e do doce dos avós, encherão a casa, misturando-se com o das couves cozidas, do bacalhau… E eles não estarão aqui. Mas estarão um bocadinho. 

    Fechando os olhos, consigo vê-los sorrir de orelha a orelha ao ver os netos a abrir os presentes, a brincar com os seus brinquedos novos, pela primeira vez.

    “Oh Betinha, comprei-lhe esta camisola que é a sua cara. É muito quentinha e macia – toque aqui. Mas pode trocar se quiser, veja lá se gosta”. E gostava sempre. Como das fatias, que tinham tanto amor. 

  • ‘Karma is a bitch’: jornalistas mainstream em choque porque sofrem “censura” no Twitter

    ‘Karma is a bitch’: jornalistas mainstream em choque porque sofrem “censura” no Twitter


    O Twitter tem menos de 400 milhões de utilizadores. O Facebook tem mais de dois mil milhões de utilizadores, sendo a maior rede social do Mundo. O Twitter suspendeu contas de jornalistas e caiu o Carmo e Trindade. Os media mainstream desataram aos berros, a Comissão Europeia rosnou ameaças. Mas quando um jornalista é censurado no Facebook (como conto mais abaixo neste artigo)… sepulcral silêncio. Nada acontece. Nenhum jornalista se revolta. Nenhuma entidade oficial lança ameaças a Mark Zuckerberg.

    Porquê? A resposta é: Twitter e Musk. O Twitter era antes, até à sua compra por Elon Musk, o recreio da maioria dos que (erradamente classificados como liberais ou de esquerda, porque são, na realidade, fascistas) têm sido a favor de censura de conservadores e de cientistas de topo, os quais discordavam das medidas da pandemia. Aqui estão incluídos muitos jornalistas que trabalham para grandes grupos de comunicação social.

    man in white and blue crew neck t-shirt

    Musk mudou tudo e tirou-lhes o recreio. Já não podem brincar à censura e perseguição. Agora, a eles – que são adeptos de censura à moda do regime chinês – saiu-lhes o bolinho da sorte especial (ou a fava, na versão popular portuguesa). Se quiserem brincar à censura, têm de ir para o Facebook ou continuarem a passear no Instagram.

    Mas isto não se inventa. A sério. Depois de terem apoiado durante quase três anos a censura praticada no Twitter, jornalistas estão em choque porque… há censura no Twitter.

    Em resumo, isto foi o que aconteceu agora: o Twitter suspendeu temporariamente uma dezena de contas de jornalistas famosos de grandes meios de comunicação social norte-americanos. O novo dono do Twitter, Elon Musk, alegou que os jornalistas partilharam um link que permite mostrar a localização exacta, em tempo real, do avião privado que o transporta e também à sua família.

    Ontem mesmo, Elon Musk denunciou que um agressor perseguiu um carro onde viajava o seu filho em Los Angeles, tendo bloqueado a viatura e subido para cima do capô do carro.

    Musk alertou que o chamado doxxing – identificação de alguém na Internet, permitindo a sua localização, por exemplo – não seria permitido no Twitter e que as contas que o fizessem seriam suspensas. Mais tarde, depois das contas de jornalistas terem sido suspensas, Musk afirmou que as regras do Twitter também se aplicam a jornalistas, os quais não são especiais face aos restantes utilizadores da rede social.

    Os jornalistas mainstream, que até agora andavam caladinhos sobre as chocantes revelações dos #Twitter Files saíram aos gritos contra Musk. Também a Comissão Europeia, cúmplice e parte activa da censura que se tornou normal nas redes sociais e nos media mainstream desde 2020, saiu também aos gritos e ameaças contra Musk. Sem surpresas. Musk está a expor as mentiras e os crimes cometidos pela anterior administração do Twitter contra muitos dos que lutaram contra as medidas ilegais e anti-científicas que a Comissão Europeia patrocinou.

    Reparem: Musk abriu a guerra aos media mainstream e à Comissão Europeia. Escolheu jornalistas independentes para divulgar os documentos internos que provam as antigas práticas de censura do Twitter. Critica os media mainstream frequentemente, acusando-os de serem parciais e não isentos. E levantou a suspensão de contas no Twitter de cientistas de topo a nível mundial – que tinham sido alvo de censura – e de vozes conservadoras.

    Alguns media tradicionais, incluindo media portugueses, que têm estado tranquilamente a fazer um boicote e a recusar publicar notícias sobre o preocupante e gigantesco escândalo que é os “Twitter Files”, apressaram-se a noticiar em força que Musk suspendeu contas de jornalistas que denunciaram a sua localização em tempo real e da sua família. [O PÁGINA UM tem acompanhado as revelações dos “Twitter Files”, que pode ler aqui]

    Jornalistas a incentivar a localização em tempo real de alguém e da sua família – mesmo sendo uma figura pública – não está correcto. E jornalistas não estão acima das regras. Pelo contrário: por exemplo, no Código Deontológico dos Jornalistas salienta-se que estes devem “respeitar a privacidade dos cidadãos, excepto quando estiver em causa o interesse público ou a conduta do indivíduo contradiga, manifestamente, valores e princípios que publicamente defende.” Não me parece que divulgar em tempo real a localização do avião de Elon Musk seja “interesse público” ou que a sua conduta seja susceptível para tal.

    Não sou absolutamente nada a favor de censura (a não ser de situações concretas, como incentivo ao ódio, pedofilia e outros crimes), sobretudo no caso de jornalistas que estão a relatar um acontecimento. No entanto, compreendo Musk. É a segurança da sua família que está em causa. Os jornalistas sabem disso (ou têm a obrigação de saber).

    Mas este caso acaba por ser como que uma armadilha para a Comissão Europeia e os jornalistas apoiantes da censura e da perseguição de vozes “dissidentes” das de governos e “narrativas oficiais”, incluindo as impostas pelos dólares de farmacêuticas a facturar como nunca e em ascensão nos mercado de capitais.

    Ao censurarem a censura aplicada por Musk a contas que fazem doxxing, acabam por cair direitinhos na armadilha do dono do Twitter. Então, afinal os jornalistas e a Comissão Europeia estão contra a censura? A sério?

    Só podem estar a gozar. A sua hipocrisia não tem limites.

    Se há coisa que os “Twitter Files” vieram provar é que cientistas de topo a nível mundial foram alvo de censura pelos antigos executivos do Twitter. Também vozes conservadoras foram visadas.

    A maioria dos jornalistas que trabalham para grandes grupos de comunicação social não só foram cúmplices dessa censura como a incentivaram, incluindo nas notícias que publicavam e no tempo e espaço que recusavam dar aos que tinham “algo diferente” a dizer em relação aos comunicados de imprensa de governos e autoridades de saúde.

    O resultado foi a destruição da percepção pública do que é o Jornalismo e do que é a Ciência – não, não é algo que pessoas “seguem” ou “acreditam, porque isso é religião. Foi também uma campanha de terra queimada – eliminando-se todas as vozes discordantes em temas como política, saúde, ou outros.

    Além da interferência que houve nas eleições presidenciais norte-americanas: antigos funcionários do Twitter censuraram conteúdos de conservadores e suspenderam a conta do então presidente, Donald Trump, enquanto protegiam o candidato democrata, Joe Biden, proibindo a divulgação das notícias sobre o famoso escândalo envolvendo o portátil de Hunter Biden.

    Elon Musk, novo dono do Twitter, tem estado a divulgar documentos internos da rede social que provam as antigas práticas de censura da empresa. Vozes do lado político mais conservador eram visadas pela censura, tal como cientistas de topo que se mostraram contra as medidas de alegado combate à covid-19. As revelações estão a ser feitas por jornalistas independentes e não pelos tradicionais grandes grupos de comunicação social que pactuaram com a censura que era feita anteriormente pelo Twitter.

    Em Portugal, a maioria dos grandes grupos de comunicação social alinharam com as políticas de censura, achando-se “importantes” e parte do “poder”. Que falácia tão grande. Ao alinharem com as políticas de silenciamento e perseguição de vozes discordantes, os media auto-destruíram a sua credibilidade e a do Jornalismo.

    Pela positiva, começaram a nascer e a florescer órgãos de comunicação social, como o PÁGINA UM, ou o The Free Press, nos Estados Unidos. E também blogues, como o Farol XXI, da Plataforma Cívica Cidadania XXI, que foi uma lufada de ar fresco num panorama de censura e obscurantismo que se vivia em Portugal durante a pandemia.

    A diferença na “censura” actual no Twitter é que as contas de jornalistas que praticaram doxxing deixarão de estar suspensas em alguns dias, em princípio, segundo sugeriu Musk. No passado, na era pré-Musk, personalidades foram banidas definitivamente do Twitter. Porque divulgaram mentiras? Não. Porque incentivaram agressões e assédio a figuras públicas e às suas famílias? Não. Simplesmente porque diziam algo diferente do que os governos queriam. E os ajudantes desta PIDE da Internet e da comunicação social executavam as “sentenças” e os “castigos”.

    Enquanto os olhos das redes sociais estão agora voltados para o Twitter, no Facebook, no Google e nas suas apps e empresas continua tudo igual como era desde 2020: censura vasta e precisa aplicada a quem não diz o que governos e autoridades comprometidas e moralmente falidas não autorizam.

    Foi frequente, na pandemia, a censura nos media de vozes discordantes da chamada “narrativa” oficial. Alguns media mainstream passaram notícias falsas e desinformação. Jornalistas incentivaram o ódio e a perseguição de pessoas que discordavam das medidas da pandemia. As pessoas que decidiram não tomar vacina foram alguns dos alvos visados por jornalistas e directores de publicações, sem qualquer justificação científica e claramente em violação do Código Deontológico dos Jornalistas.

    Na semana passada, esta “vossa” jornalista viu a sua conta ser bloqueada por um dia no Facebook e agora os meus conteúdos são “escondidos” durante cerca de um mês. O motivo: partilhei uma notícia do PÁGINA UM – um órgão de comunicação social português constitucionalmente protegido – sobre uma sentença do Tribunal Administrativo de Lisboa. A sentença é verdadeira. A notícia é verdadeira. Mas o tema da sentença e da notícia não é aprovado pelo Facebook.

    Apetece fazer “LOL”, quando uma empresa tecnológica pode decidir que a divulgação de uma sentença de um Tribunal de um país deve ser censurada e bloqueada para não chegar ao conhecimento do público. Apetece rir, porque deveria ser uma anedota, o Facebook poder bloquear uma notícia escrita por um jornalista com carteira profissional e publicada num jornal licenciado junto da Entidade Reguladora para a Comunicação Social.

    Nenhum jornalista se revoltou. Nenhum burocrata na Comissão Europeia vociferou. Dirão: ah, claro, porque és só uma jornalista portuguesa e no Twitter foram suspensos uma dezena de jornalistas famosos norte-americanos. É certo. Mas é normal que uma jornalista europeia, com carteira profissional há mais de 25 anos, seja bloqueada pelo Facebook por… partilhar uma sentença de um Tribunal e uma notícia sobre o tema?

    Não, não é normal. E também não foi caso único. E não será o último. A diferença é que esta jornalista (e muitos outros), além de não ser famosa, nem norte-americana, também nunca apoiou a censura, pelo contrário. Nunca apoiou a perseguição de cientistas de topo durante a pandemia. Essa é a diferença.

    Tecnológicas como a Meta (Facebook) e Google aplicam ferramentas de censura sob o disfarce de bloquear “desinformação”. O bloqueio de notícias e informações verdadeiras é comum, tal como a suspensão de contas de personalidades que discordam das suas “políticas” de informação, disfarçadas de políticas de comunidade. Estas empresas também cedem a governos, como o chinês, na censura e bloqueio de conteúdos e de utilizadores.

    Apetece rir, mas não é para rir. É antes um caso de polícia. É um caso grave e deve fazer-nos a todos pensar se vamos aceitar estas situações durante mais tempo, se vamos aceitar esta “normalização” da censura de notícias verdadeiras, sentenças de tribunais. De opiniões de cientistas sérios e dos melhores do mundo. De opiniões de pessoas de esquerda e de direita.

    Porque é disto que se trata, desta “normalização” da censura que ocorreu desde 2020. Os jornalistas não são a única classe profissional culpada pela normalização da censura. Os médicos também, os juízes, os polícias, os políticos, os professores, os donos de restaurantes, os enfermeiros, os empregados de limpeza, os académicos, os artistas, … todos os que fizeram silêncio e continuam a aceitar esta anormalidade grave.

    A diferença é que os jornalistas não são um profissional qualquer. O código profissional e de ética que os rege, exige rectidão, imparcialidade, verdade, isenção, objectividade. Em lado nenhum diz que jornalistas são (da falsa) de esquerda, “wokistas, defensores da censura, promotores de ódio e perseguição. Mas isso aconteceu desde 2020 e continua a acontecer.

    A suspensão de contas de jornalistas no Twitter está a levar os media a gritar: “censura!; “perseguição!”. Irónico, não é?

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    Alguns jornalistas descobriram agora o que é a censura nas redes sociais.

    Não sei o que aconteceu à classe jornalística. Mas não é bom, nem é bonito de se ver. A classe, em geral, traiu o Jornalismo e a população. Traiu a Ciência e os cientistas. Traiu a democracia e os democratas. Traiu a liberdade de expressão, a liberdade de imprensa e a liberdade, em geral. A mesma que agora jornalistas reclamam a Musk.

    A sua hipocrisia, a hipocrisia da Comissão Europeia e a de todos os que promoveram a censura e perseguição desde 2020 está exposta. Às claras, perante todos.

    Que esta luz que foi colocada nas atitudes hipócritas de jornalistas, políticos e burocratas arrogantes de Bruxelas sirva para que o resto da população entenda isto, de uma vez: a defesa do mundo livre e da democracia, da liberdade de expressão, não está nas mãos de Musk ou de um político. Nem nas mãos de uma só classe, como a dos jornalistas. Está nas nossas mãos. Nas mãos de todos nós. Vamos agir por isso e para isso. Antes que seja tarde para a liberdade e para o Mundo.

    Somos nós que integramos os 400 milhões de utilizadores do Twitter. Os mais de dois mil milhões de utilizadores do Facebook. E, mais importante, somos cidadãos. Deixar este Mundo ser governado por burocratas comprometidos e tecnológicas cheias de poder não é uma opção.


    N.D. Elisabete Tavares é membro fundador da Plataforma Cívica Cidadania XXI, não exercendo actualmente qualquer função executiva

  • Musk e Ronaldo: heróis e vilões num mundo partido e ferido

    Musk e Ronaldo: heróis e vilões num mundo partido e ferido


    É conhecida a história e a lenda de Charles “Pretty Boy” Floyd, um criminoso e ladrão de bancos que, segundo rumores, destruía durante os assaltos notas de hipotecas, libertando assim agricultores (e as suas famílias) do risco de bancarrota. Foi um vilão/herói, cujo destino se coseu, ponto a ponto, com o da Grande Depressão. Foram milhares os que choraram a sua morte, em 1934.

    Nem sempre a linha que separa o ser-se um herói ou um vilão é clara. Para as forças policiais, Floyd era um assassino e um assaltante de bancos. Para muitas famílias, foi um Robin dos Bosques do seu tempo.

    Os anos 20 do século XXI também estão a produzir castas de heróis que são vilões, e vilões que são heróis. Vivemos numa época de polaridade e divisão. Um Mundo que parece, desde 2020, estar partido ao meio, na política, nas famílias, na Ciência…

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    Não falo de vilões bandidos, criminosos, assaltantes de bancos, nem falo de heróis que são Robins dos Bosques. Falo de um outro tipo de heróis/vilões, que têm surgido como retrato desta época de polaridade que vivemos. Uma época tribal, em que os heróis de uma tribo são os vilões de outra, e em que a “religião” que é o wokismo veio trazer à tona muito do que de mau a Humanidade pode produzir: totalitarismo, censura, divisão, perseguição, cancelamento, dogmatismo.  

    Cristiano Ronaldo é um desses exemplos. Reúne todas as características para ser um herói e, contudo, alguns tratam-no como vilão. Para começar, reúne diversas características que enervam muitos dos que vivem na bolha “wokista” (numa versão pindérica lusa) da esfera mediática em Portugal: é rico, bem-sucedido, inteligente, bem-parecido, independente, venera a família – que é o seu pilar – e não anda em manada. Além disso, veio de um meio pobre, de uma família com dificuldades, e tem orgulho nas suas origens. Pior: pensa por si próprio. Pior ainda: ninguém o viu a vender máscaras nem vacinas contra a covid.

    Cristiano Ronaldo é um vencedor. De menino pobre, ascendeu a estrela maior do futebol e da identidade de Portugal.  Há muito que é um Astro do Mundo e já não só de Portugal. E um certo Portugal, adepto da nova religião wokista, e que se acha importante porque aparece nas TVs, ainda gosta do drama, do fado e do destino. É pequenino, vive num cantinho. Já Ronaldo, é do Mundo.

    Outro exemplo de vilão e herói dos dias de hoje é Elon Musk, co-fundador e líder da Tesla e novo dono do Twitter. Desde que concluiu a compra da rede social em outubro passado, Musk tornou-se num grande herói – para uns – e num terrível vilão – para outros.

    Para dar contexto: o Twitter era o Céu na Terra da tribo woke. Era de uma “beatice insuportável” – definição de wokismo do jornalista João Miguel Tavares. E este wokismo anda de mãos de dadas com fascismo e cultura de cancelamento. Assim, o Twitter era como um território gerido por uma tribo com mentalidade woke e tiques fascistas, onde visões diferentes tinham direito a castigo e até expulsão. Quem frequentava o Twitter e era beato, estava simplesmente no Paraíso. Era lá que se podia encontrar a tribo woke (versão pindérica lusa) portuguesa.

    Ora, isso mudou com a chegada de Musk. O milionário pegou na vassoura e começou por limpar as contas e conteúdos pedófilos que por lá viviam em plena harmonia com a censura dos conservadores e cientistas de topo que discordaram das medidas covid-19. Está também a limpar bots.

    Elon Musk comprou o Twitter em Outubro passado por 44 mil milhões de dólares e está a revelar antigas práticas de censura desta rede social.

    Mas a limpeza “da casa” não ficou por aqui: Musk chamou uma equipa especial, composta de jornalistas independentes, a quem entregou documentos internos sobre as malfeitorias que os antigos funcionários e ex-executivos do Twitter faziam. Musk quer tudo em pratos limpos para fazer do Twitter uma rede social verdadeiramente global e onde o debate é real. E livre.

    Ora, isso não agradou MESMO NADA a muitos. As revelações da roupa suja da censura que era aplicada na rede social chama-se #TwitterFiles, e vai já no quinto episódio de uma série hoje mais popular do que muitas no Netflix. [Pode ler aqui a cobertura que o PÁGINA UM está a fazer].

    E promete aquecer ainda mais! Musk prometeu revelações sobre a censura em torno da covid-19. Como aperitivo, o magnata atacou ferozmente Anthony Fauci, conselheiro do presidente dos Estados Unidos e o rosto das medidas sem precedentes adoptadas na pandemia – como confinamentos, máscaras e vacinas obrigatórias.

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    O Twitter é, hoje, um espelho do Mundo, que está quebrado e ferido, após três anos de promoção da censura e incentivos ao ódio e à divisão e eliminação de direitos humanos e civis.

    Hoje, Musk é herói para muitos. É um vilão para muitos também. Há quem peça que o nomeiem para Prémio Nobel da Paz. Há quem peça que ele seja processado na Justiça.

    Aliás, é isso mesmo que Musk quer que aconteça a Fauci. “Os meus pronomes são processar/Fauci”, escreveu este fim-de-semana num tweet.

    Fauci surge hoje como um outro vilão e herói, em simultâneo. Perante os ataques de Musk, muitos vieram em defesa de Fauci dizendo que “é um herói” e que “salvou vidas”. Para Musk, e muitos outros, no Mundo, Fauci é o pior dos vilões: acreditam que, disfarçado com capa de médico – e de bom –, Fauci levou à morte de milhares de humanos.

    Musk foi directo numa resposta no Twitter, acusando Fauci de ter financiado uma pesquisa para tornar o coronavírus mais perigoso e mais transmissível para os humanos – “gain-of-function”. Fauci negou que a autoridade de saúde dos Estados Unidos tivesse financiado essa perigosa pesquisa, apesar do NIH ter admitido que uma entidade que financiou, e que colabora com o laboratório de Wuhan, quebrou as regras ao não relatar que conduziu investigação de coronavírus em morcegos.

    Fauci, que está agora de saída do sector da saúde pública, arrisca mais investigações por parte dos republicanos por causa da sua eventual ligação, como diretor do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infeciosas (NIAID), à origem da pandemia de covid-19.

    Anthony Fauci, conselheiro-chefe de Joe Biden para a saúde, está de saída de um setor onde exerce funções há mais de 50 anos.

    Informação sobre financiamento deste tipo de pesquisa surgiu no Congresso norte-americano, sendo que se sabe que a autoridade de saúde dos Estados Unidos tem financiado pesquisa nesta área.

    Fauci também defendeu os confinamentos, os quais foram fatais para muitos (é ver as mortes em excesso e por outras doenças, suicídios, etc.), além das sequelas que deixaram em crianças e a devastação que causaram na economia. Defendeu ainda a vacinação obrigatória contra a covid-19, mesmo sabendo-se que as vacinas não travam nem a infecção nem o contágio e podem causar reacções adversas. Por fim, defendeu ainda mecanismos de controlo e discriminação e o uso de máscaras – apesar de ter defendido o oposto no início da pandemia.

    Musk e Fauci são hoje, em lados bem opostos, dois super-heróis para uns. E dois super-mega-vilões para outros. Será raro que ambos sejam vilões para uma mesma pessoa; ou ambos heróis para a mesma pessoa.

    Uns desejam que Musk ou outro milionário compre o Facebook e promova o debate e a liberdade de imprensa e de expressão em mais redes sociais. Outros querem já o seu afastamento.

    Uns querem endeusar Fauci – como em Portugal se endeusa o responsável pelo transporte e distribuição logística das vacinas, Gouveia e Melo – enquanto outros querem vê-lo na prisão por homicídio.

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    Sobre os três de que falei, pessoalmente, admiro Cristiano Ronaldo. Estou-lhe grata pela postura e excelente imagem que transmite do povo português. Admiro-o pela sua força e independência. Pela sua cabeça boa e forte apoio à família. Pelo caminho que trilhou com trabalho e talento. Por pensar por si próprio e não ir em manadas.

    Elon: vejo-o como um homem de negócios puro. Diz que quer derrotar o wokismo e isso é bom – porque implica derrotar ideais fascistas, censura e cancelamento –, mas também penso que é porque pode lucrar muito com isso. O Twitter é hoje mais vibrante. Promove o debate. É uma rede social para “gente grande”, académicos, jornalistas, cientistas, malta sem medo de um bom debate de ideias. O oposto da mentalidade fascista e woke que por lá reinava na era pré-Musk.

    Sobre Fauci, vejo-o como alguém que falhou. Não o vejo como herói. Nem como vilão. Falhou no combate à pandemia. Impingiu mecanismos fascistas e que violam direitos humanos. Vejo-o como alguém que sabe agradar e servir o poder político e, sobretudo, o económico. Alguém que jamais deveria estar num posto ligado a saúde pública, mas que teve a sorte de ser conselheiro de um presidente dos Estados Unidos numa pandemia global. Azar o nosso.

    Já heróis, tenho muitos outros, que conheço, mas que não coloco os seus nomes por reserva da intimidade. “Herói” (ou “heroína”), para mim, nos dias de hoje, é aquela mulher, quatro vezes vacinada, que abraça o irmão e restantes familiares não-vacinados e com eles faz jantaradas em família (e, agora, os preparativos para o Natal). Ignora as chamadas nas TV e nos jornais para promover o ódio e a discriminação entre “os com vacina” e “os sem vacina”. Ignora os “especialistas” mediáticos que a seduzem para o ódio. Eles são os únicos que lucram com esta “guerra”, vendendo o ódio para se promoverem a si próprios e aparecerem mais e mais nos programas e nas revistas sedentos de sangue e terror.

    woman in black and white striped shirt hugging girl in black and white striped shirt

    “Herói” para mim é uma patriarca que, no alto dos seus 80 anos, se mantém sem nenhuma vacina contra a covid-19, soberana da sua saúde e do seu corpo, quando, à sua volta, filhos e noras vão na segunda e terceira doses. Uma “heroína” porque cuida de si e da sua saúde, tal e qual como acha que é melhor, como sempre o fez ao longo da vida. Não cede à propaganda das TVs, nem das caras lindas e hiper-maquilhadas das estrelas da música que aparecem em campanhas da Direcção-Geral da Saúde a promover as doses. E está saudável que nem um pêro. Vive como sempre viveu. E, como diz o filho, “está muito boa cabeça, mesmo”.   

    “Herói”, para mim, é o “puto” que, no meio da desgraça em que os seres humanos conseguiram transformar o mundo nos últimos três anos, aprendeu, de algum modo, a fazer-se a si próprio feliz, a continuar com a sua vida de escola, amigos e actividades.  

    “Herói”, é a “miúda” que saiu da depressão, ganhou coragem para seguir com um namoro com um rapaz amigo e agora já vislumbra o que quer fazer com a vida.

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    Esses são alguns dos meus “heróis”.

    São aqueles e aquelas que continuam com as suas vidas, adaptando-se, decidindo por si, respeitando os demais. E amando. Amando, a si próprios. Amando, os seus. E amando aquilo que têm de bom e em comum. E isso é o mais valioso que há neste Mundo, por vezes, na aparência, tão perdido, mas que, afinal, só parece estar perdido nos jornais – e na sua desinformação, parcialidade e incentivo à divisão –, nas redes sociais – e na sua censura. Porque nas casas de muitos, nos corações de muitos, nas famílias de muitos, o Mundo está bem, bem encaminhado. Em muitos lugares, em muitos lares, o Mundo está num bom rumo.

    E eu gosto desse rumo. Sem divisões nem ódios – celebrando a verdade, o amor e o que há em comum. Porque deve ser o nosso rumo. É o rumo certo. O único rumo que vale a pena seguir.

  • Da China ao Catar: dois mundos iguais, com dois olhares escandalosamente diferentes

    Da China ao Catar: dois mundos iguais, com dois olhares escandalosamente diferentes


    De repente, dois regimes opressores, em duas geografias distintas, por dois motivos diferentes, estão debaixo dos holofotes, no centro das notícias a nível mundial: China e Catar.

    No Catar, no meio dos debates tardios sobre os direitos humanos e a exploração de emigrantes. testemunhamos em directo estádios cheios de milhares de pessoas, festas e celebrações.

    Na China, vemos na TV e em vídeos na Internet, pessoas a serem perseguidas e detidas, por polícias vestidos com fatos anti-contaminação, porque o Governo totalitário diz que “o recorde” de 30 mil casos positivos diários ao SARS-CoV-2, numa população de quase 1,5 mil milhões de pessoas, justifica encerrar e condenar à fome e à miséria toda uma população. Mesmo que, em alguns casos, haja pessoas que morram até por incêndios, porque não conseguem escapar das chamas por as casas estarem bloqueadas.

    two person holding papercut heart

    O Mundo assiste assim, em directo e, em simultâneo, aos acontecimentos que se desenrolam nestas duas ditaduras. Dois países que parece estarem em planetas diferentes. E, ainda assim, o Tico e o Teco não se encontram e não despertam as mentes de alguns no Ocidente, incluindo jornalistas e comentadores nos media?

    Perante a trágica e irracional política seguida na China, olhando em simultâneo para o Catar em festa, nem mesmo assim alguns jornalistas e políticos admitem aquilo que é urgente admitir por ser tão óbvio: o que o regime chinês está a fazer à sua população é um crime de gigantescas proporções, que nada tem de estratégia de saúde pública.

    E até se compreende esta atitude de muitos no Ocidente. Há jornalistas e políticos que se assumem hoje, de forma mais ou menos discreta, como porta-vozes do regime totalitário chinês. O modelo tirânico de controlo e submissão a que os cidadãos chineses são forçados a viver, passou a ser apelativo a muitos interesses no Ocidente, ainda livre, onde as liberdades de imprensa e de expressão existem, mas que não param de ser ameaçadas. É só ver a política de censura e perseguição a que assistimos desde 2020 e a supressão da Ciência que não validava as teses “oficiais” dogmáticas, muitas das quais se mostraram ser erradas. E muitos políticos e jornalistas as apoiaram, as incentivaram.

    No Estádio de Lusail, onde a selecção portuguesa venceu o Uruguai, estava uma plateia de quase 90 mil adeptos. (Foto: FPF)

    No caso da China, assistimos nos últimos dias a uma onda de protestos corajosos contra o regime opressor, que continua a impor, em 2022, uma política insana e tirânica usando como desculpa a covid-19. O regime totalitário tem mantido detidas em casa centenas de milhões de pessoas, em condições desumanas, mas parece até merecer uma certa condescendência dos media ocidentais porque, aparentemente, o Governo chinês até está a fazer aquilo que muitos políticos e jornalistas gostariam que, no fundo, se tivesse feito nos países europeus ou norte-americanos durante a pandemia.

    Do outro lado, no Catar, assistimos a estádios cheios de gente, a imagens de glamour e festa – num país igualmente intolerante e cruel. No que toca à covid-19, as condições de entrada no país são iguais para todos, tenham ou não tomado a vacina contra a doença, não sendo necessário apresentar teste negativo. Até porque as vacinas contra a covid-19 não impedem o contágio nem a infecção.

    Também os media estão no centro das atenções, pela forma como estão a cobrir os protestos na China, muitos aparecendo como porta-vozes do regime chinês, a defender a política irracional de “zero covid”.  

    red flag
    As políticas “de saúde” impostas pelo regime totalitário na China desde 2020, apesar de muitas delas não terem base científica e desrespeitarem os direitos humanos e civis, têm sido elogiadas por políticos, jornais, responsáveis de autoridades de saúde e comentadores nos media nos países democráticos ocidentais, que caminham cada vez mais para ditaduras.

    Indo por partes. Uma política de “zero covid” é, em primeiro lugar, completamente impossível, insustentável e insana, sobretudo depois do surgimento da variante Ómicron, mais contagiosa, mas muito menos letal do que as anteriores variantes. Jamais se poderá reduzir a “zero” a presença do SARS-CoV-2 depois da Ómicron. Como disse o epidemiologista Michael Osterholm, diretor do Center for Infectious Disease Research and Policy, da Universidade do Minnesota, nos Estados Unidos: “tentar parar a Ómicron é como tentar parar o vento”.

    Mas, o que ressalta à vista, e deveria ser o destaque em toda a imprensa, é o completo falhanço da China na “gestão” sanitária e social da pandemia de covid-19. Os casos positivos somam-se, apesar das medidas completamente absurdas e tirânicas adoptadas no país liderado por um Governo autoritário e opressor.

    Ao contrário, a Suécia, onde, sem confinamentos, nem máscaras faciais, em geral, temos o caso de maior sucesso na gestão da pandemia no médio e longo prazo. (Aliás, os países europeus apresentam em 2022 um nível extremamente elevado de mortes em excesso – sem explicação e sem vontade de se investigar, curiosamente – enquanto na Suécia, a mesma situação não se verifica.)

    Os confinamentos foram e são uma medida errada. O objetivo “zero covid” é insano, em termos médicos, científicos e económicos. Por isso, é com surpresa que se continuam a ver notícias em alguns media tradicionais (ou mainstream) sobre o que se passa na China. Estão completamente desfasadas da realidade. A falta de contexto em algumas notícias é gritante.

    Mas, mais do que isso, surpreende que alguns media mainstream continuem a defender a estratégia da China na luta contra a covid-19. Ignoram, para isso, não só os factos, os dados e os estudos científicos robustos disponíveis, como se esquecem de algo crucial: a China é uma ditadura. Assim, a informação dita oficial é suspeita, dada a propaganda generalizada e o gigantesco controlo de informação.

    Vejamos, por exemplo, os supostos “casos recorde” na China destacados por jornais como o Público: estamos a falar de 30 mil casos em média, por dia, numa população de 1,44 mil milhões de pessoas. Isto, quando 90% da população chinesa mais de metade da população chinesa está supostamente vacinada contra a covid-19, uma percentagem que sobe no caso das principais cidades do país.

    Registo actual da percentagem de vacinação contra a covid-19. Fonte: Google.

    Vale a pena recordar mais uma vez, e mesmo que se possa parecer repetitivo, que a maioria dos media mainstream continua a ocultar ao seu público: a taxa de letalidade da covid-19. Um artigo científico divulgado no mês passado, onde se destaca como autor John Ioannidis, o epidemiologista mais citado do Mundo, estimou, que a taxa de mortalidade por infecção de covid-19 antes de haver vacinação e do aparecimento da Ómicron foi de 0,095% para os menores de 70 anos, sendo irrelevante nos grupos etários mais jovens. E apontou também que a taxa de letalidade global se situava entre 0,03% e 0,07%.

    Isto são factos. E os jornalistas lidam com factos, não com ilusões, ideologias e lavagens cerebrais da propaganda chinesa ou das farmacêuticas. E muito menos com “consensos sociais“, ao contrário do que é defendido pelo director do Público.

    Por tudo isto, os jornais e os jornalistas deveriam sobretudo reflectir sobre como podem “conviver” com um regime opressor que aprisiona a sua população para reforçar o poder reforçado – e “embrulha” isto como se de uma simples estratégia de saúde pública se tratasse – ao mesmo tempo que assistem a jogos de futebol, noutro Estado autoritário, em estádios lotados.

    man in white robe standing near statue during daytime

    Antigos bastiões da defesa da democracia e da liberdade de imprensa e de expressão, vejo hoje os media, em geral, transformados em porta-vozes de ditadores ou aspirantes a ditadores, enviesando as suas análises, manipulando, omitindo e não dando verdadeira informação, corajosa e independente.

    Por isso, hoje, mais do que desejar a vitória da seleção portuguesa no Catar, desejo a vitória sobre a ditadura por parte do povo chinês, com o qual me solidarizo. Desejo a vitória das minorias e dos que sofrem de perseguição e discriminação no Catar, na China e em outro qualquer país. E desejo que haja uma revolução no jornalismo e que os media voltem a ser aquilo que deveriam ser hoje: uma luz para a liberdade.

  • Eis aqui a verdadeira Nova Ordem Mundial! Na versão boa

    Eis aqui a verdadeira Nova Ordem Mundial! Na versão boa


    Quando entrevistei, recentemente, Michael Levitt, um Prémio Nobel da Química, fiquei sensibilizada com o tom com que falava do seu “novo amigo” John Ioannidis. Os seus olhos brilhavam ao mencionar o seu nome. Alargava-se nos elogios ao epidemiologista norte-americano, o mais respeitado e citado do Mundo. Era como se estivesse a ouvir Michael Levitt numa versão de criança, contagiado de alegria por uma nova amizade. (Talvez não estejamos habituados a ver adultos a falar de forma tão efusiva dos seus novos amigos.)

    Eu compreendo a alegria de Levitt. E desconfio que o leitor também compreende porque, desde 2020, muitos de nós “perdemos” amigos que dávamos como garantidos para a vida, e “ganhámos” novos amigos que parece estarem connosco desde sempre.

    four person hands wrap around shoulders while looking at sunset

    Serão talvez as chamadas “almas gémeas” que se encontraram a partir de 2020, não no sentido amoroso, mas no afectivo e empático: somos do mesmo “planeta”; viemos da mesma “nave”.

    No caso de Levitt e de Ioannidis, são agora parceiros na investigação científica. Mas não só. Partilham agora uma amizade forte, forjada em tempos desafiantes, onde todos fomos testados.

    As amizades forjadas nesta pandemia – em tempos de retrocesso civilizacional, de “guerra” aos humanos e à comunidade, em tempos de censura, desinformação e segregação – ficarão para a vida, suspeito.

    Mas não só amizades. Não são simples amizades, estas que têm sido formadas nos últimos quase três anos. Porque a estas amizades somam-se muitas outras também nascidas na pandemia e que, no seu todo, formam comunidades.

    Ainda esta semana, Aseem Malhotra, um especialista em cardiologia britânico que tem feito uma campanha para suspensão da administração de vacinas mRNA contra a covid-19, partilhou a sua alegria no Twitter, após ter finalmente conhecido, em carne e osso, Ryan Cole, um reputado patologista que tem educado sobre o que as vacinas causam no corpo humano. Ambos têm sido alvo de censura e perseguição, numa altura em que o dinheiro da indústria farmacêutica e dos seus associados – incluindo políticos, grupos de media e tecnológicas – ainda tem algum poder.

    A foto de alegria dos dois, sentados lado a lado, na plateia de uma conferência, em Oslo, na Noruega, dizia tudo. Não necessitava de legendas.

    Pessoalmente, vivi também esta sensação de alegria que se sente ao conhecer pessoalmente alguém com quem se partilha algo importante em comum. Em 2020, escrevia eu nas redes sociais – sobretudo no Facebook e no LinkedIn – sobre o que não batia certo na narrativa oficial sobre a pandemia. Os dados que não estavam correctos, a cobertura dos media mainstream que, além de sensacionalista, era, por vezes, falsa e persecutória. Etc, etc. Assistíamos todos, ao vivo, a crimes a serem cometidos contra a população. Tínhamos de fazer algo, além de escrever e expor os crimes nas redes sociais.

    Conhecer os “colegas” da Plataforma Cívica – Cidadania XXI foi mais do que uma alegria. Foi mágico. Como se estivesse destinado a acontecer. Montar as Tertúlias da Junqueira e moderá-las, semana após semana. Tudo presencialmente, numa altura em que se espalhava medo e até pânico pela população. Mas nunca parámos. Fizemos muitas noitadas. Debatemos, discordámos, rimos. Foi intenso. E foi bonito. Cada convidado que aceitava participar, cada painel que ficava fechado, era como… se algo superior estivesse a operar. Tudo se encaixava.

    Dirão que estou a entrar num registo lamechas. Talvez. Mas não fica por aqui, o meu relato. Recordo também como foi conhecer cada um dos convidados das Tertúlias. Cada um dos que se deslocaram semanalmente ao Vinyl para ouvir o contraditório que não se ouvia em mais lado nenhum, em Portugal, praticamente. Lá, revi amigos que não via há muito. Fiz novas amizades. Algumas são hoje cruciais na minha vida.

    Seguiu-se o Farol XXI. E, claro, o PÁGINA UM com o Pedro Almeida Vieira.

    Posso, hoje, não conseguir dar atenção por igual a todas as amizades novas que fiz desde 2020. Mas são muito especiais para mim. Claro que amizades que já tinha se mantiveram e, algumas, até se reforçaram.

    Mas, para muitos, desde 2020 que se formaram novas ligações afectivas, profissionais. Novas comunidades.

    E era aqui que eu queria chegar.

    No meu caso, da Cidadania XXI ao PÁGINA UM, passando por todos os projetos que outros “colegas” e amigos criaram em defesa da Ciência, da medicina, da democracia, dos direitos humanos e civis, estão formadas diversas novas comunidades.

    Tivemos de criar páginas nas redes sociais e na Internet, tivemos de aderir a plataformas encriptadas como o Signal e o Telegram. Tudo para divulgar e partilhar informação rigorosa e verdadeira, contrariando a propaganda e a desinformação divulgada no mainstream. Uma aventura! O mesmo se vê “lá fora”. Tanto na Ciência, na academia, no jornalismo, na advocacia. Muitas comunidades se formaram. E muitas com base em novas amizades bonitas e fortes que se forjaram.

    person in red sweater holding babys hand

    Mesmo sem a pandemia, e antes da pandemia, já várias comunidades se formavam, indiferentes a Governos, políticas… e a Novas Ordens Mundiais.

    Desde comunidades em torno da permacultura, até a sistemas de ensino focados na natureza e nas crianças e suas diferenças e criatividade, passando por novas formas de “dinheiro”, muitas comunidades se desenvolveram. E cresceram.

    Para mim, só o facto de ter começado a cultivar uma horta – por coincidência, em Março de 2020 –, trouxe-me todo um novo conjunto de amizades boas e bonitas. E, não uma, mas várias comunidades onde hoje me integro.

    Ver nascer novos projetos, novos jornais, plataformas cívicas, grupos de cientistas, de médicos, de professores, … Vislumbra-se o nascimento de um novo mundo. Uma verdadeira Nova Ordem Mundial. Mas na versão boa.

  • O ódio nos olhos dos jornalistas “fascistas”

    O ódio nos olhos dos jornalistas “fascistas”


    Tudo começou com uma notícia sensacionalista. E falsa. Naquele tempo, naquele lugar, havia jornalistas racistas, com ódio. Também em boa parte da população “branca”, o ódio era grande. Uma notícia, na primeira página de um jornal, tornou-se, segundo várias fontes, no “gatilho” que iniciou o massacre racial de Tulsa, nos Estados Unidos. Decorreu entre 31 de maio e 1 de junho de 1921. O número de vítimas mortais é incerto, oscilando entre dezenas e centenas.   

    Ainda hoje, o massacre de Tulsa vive, através dos registos e testemunhos que sobreviveram, para lembrar a todos do que o ódio, as multidões cegas com ódio podem fazer. E o que notícias sensacionalistas e falsas podem causar.

    angry face illustration

    O tempo passa, mas o ódio parece sempre conseguir encontrar lugar no coração dos homens e mulheres. Como hoje, nas redacções portuguesas, europeias, o que não falta é jornalistas com ódio. Sim, também os há racistas, homofóbicos, machistas, antissemitas, xenófobos.

    Mas há, sobretudo, hoje, vários jornalistas adeptos de medidas e regimes totalitários, defensores da ditadura em nome de um alegado “bem comum”. Odeiam a liberdade, a democracia, a liberdade de expressão, a liberdade individual e a soberania sobre o próprio corpo (pelo menos, no caso das vacinas contra a covid-19). Este ódio foi (e é ainda) visível na cobertura que fazem (ou não fazem) de eventos e acontecimentos.

    Odeiam todos os que resistiram à propaganda da pandemia, os que se mantiveram sem vacinas contra a covid-19, os que se mantiveram sem máscaras faciais e sem álcool-gel na mão, os que recusaram denunciar vizinhos por receberem amigos ou familiares para jantar nos confinamentos.

    Odeiam os que se manifestaram a favor dos direitos humanos e civis, a favor da Ciência verdadeira e da liberdade. Odeiam os que preferiram abandonar empregos onde lhes era exigido que tomassem obrigatoriamente as vacinas contra a covid-19.

    Novak Djokovic vai voltar a competir na Austrália, depois de ter sido recusada a sua entrada por se manter sem vacina contra a covid-19. As notícias sobre o tenista tinham, por vezes, um tom negativo e depreciativo para o atleta.

    Odeiam os atletas que preferiram ficar de fora de competições do que abdicar da soberania sobre o seu corpo e protegê-lo de novas substâncias injectáveis cujos riscos para a sua saúde superavam amplamente os eventuais benefícios.

    Odeiam os que fazem perguntas e também os que apresentam dados e evidências de que os confinamentos foram errados e um crime, de que as vacinas carecem de informação crucial, de que as mortes em excesso na Europa são graves e devem ser investigadas por entidades independentes. Estes jornalistas e diretores de publicações não trabalham para informar o público. Trabalham para ajudar a criar “consensos sociais” – como diria o director do Público.

    Notícia do jornal Tulsa Tribune publicada no dia em que teve início o massacre racial de Tulsa e breve a noticiar o arquivamento do processo contra Dick Rowland.

    O ódio nestes jornalistas nasceu na pandemia, com a desinformação e a propaganda que muitos deles ajudaram a espalhar. O ódio nestes jornalistas nasceu da mesma forma como sempre nasceu o ódio: por ignorância e por medo. Onde há medo e ignorância, está o terreno tratado para semear o ódio.

    Este ódio semeado na pandemia dá muito jeito para os que pretendem tomar de assalto o mundo livre, o mundo ocidental. O ódio semeado na pandemia é perfeito para gerar a destruição do que tem estado a impedir o nascimento de um novo mundo, em que apenas uns ditam “a verdade” e ganham todos os lucros e todo o poder. Um mundo sem democracia, sem direitos civis, sem direitos humanos, sem liberdade, sem liberdade de expressão. Como na China. Como na Alemanha nazi. Como em Tulsa, em 1921.

    Numa entrevista ao PÁGINA UM, um dos melhores jornalistas de investigação, Bostjan Videmsek, alertou que espera que a pandemia não tenha servido como “ensaio” para serem aplicadas mais medidas totalitárias, agora com a ‘desculpa’ do combate à grave crise ambiental que vivemos.

    Videmsek não é apenas jornalista, escritor e activista pelo ambiente. É embaixador do European Climate Pact da União Europeia na Eslovénia.

    O seu alerta faz sentido. Imagine: e se os jornalistas que ajudaram a distribuir dogmas e propaganda na pandemia – destruindo a democracia e a Ciência verdadeira – agora forem espalhar eventual propaganda e promoverem como “boas para o consenso social” medidas totalitárias anunciadas para alegadamente combater a crise ambiental. Combater as alterações climáticas.

    Isto é possível, dado o ódio à liberdade à democracia que se instalou em boa parte das redacções dos media mainstream portugueses e europeus e que é visível pelo apoio que deram à segregação da população e à desinformação científica que espalharam. Pior. Ainda hoje, muitos jornalistas acreditam que “seguem a Ciência” e que os confinamentos eram bons e que “vai ficar tudo bem”. Nem com a inflação, as mortes em excesso e os estudos e dados científicos, muitos desses jornalistas despertam do sono em que mergulharam nos últimos quase três anos.

    white sheep on white surface

    Mas, temos um problema. Não só não despertaram, como agora odeiam. E o ódio é potente.

    E é grave porque a democracia está prestes a capitular em Portugal – se avançar a revisão constitucional ilegal proposta – e em muitos outros países, onde medidas fascistas se tornaram a norma desde 2020. Não é preciso mencionar o Canadá, a Nova Zelândia, a Austrália, Itália, França, Alemanha, Estados Unidos…

    Em todos estes países foram implementadas medidas que, não só foram erradas cientificamente e não ajudaram a combater eficazmente o vírus SARS-CoV-2, como ainda deixaram um rasto de danos gigantesco, em termos de saúde, humanos, sociais e económicos. E danos na democracia, liberdades, direitos e garantias.

    Como democrata, pouco me interessa a ‘esquerda’ ou a ‘direita’. O que conta, para mim, é o que se vê os governos e partidos a fazerem, na prática. Essa suposta diferença entre ‘esquerda e ‘direita’ não passa, para mim, hoje, de puro marketing. Publicidade. Como nas campanhas de propaganda para convencer a população de que o tabaco fazia bem à saúde.

    black and white typewriter on white table

    Há anos que vejo medidas de partidos e governos de ‘esquerda’ mais próximos do fascismo. Nos anos recentes, sobretudo desde 2020, acentuou-se a ideia: o fascismo crescente instalou-se nos países ditos do Ocidente.  

    A nova moda de totalitarismo vem disfarçada, envolta em marketing, em campanhas de propaganda, como só se viu em regimes totalitários.

    O papel dos jornalistas na instalação de regimes totalitários, fascistas, é crucial. Também hoje, muitos alinham na moda fascista para manterem o ‘seu poder’ e financiamento. E porque alguns diretores e jornalistas são… “fascistas”. Sempre o foram. Outros defendem hoje a instalação de uma ditadura. E nem sabem, o que é trágico.

    Quem passou por redacções em Portugal, sabe que estão cheias de jornalistas de ‘esquerda’. Incluindo desta nova ‘esquerda’ – supostamente – que tem vindo a eliminar direitos civis e direitos humanos.

    person holding change the politics not the climate printed board

    Que partidos com tiques fascistas queiram eliminar direitos civis e direitos humanos, e a liberdade de imprensa, compreende-se. Afinal, são assumidamente fascistas. Mas ver o mesmo acontecer a partidos ditos de ‘esquerda’ e de ‘centro’ e os seus apoiantes – incluindo jornalistas – é completamente atroz.

    É inacreditável que os direitos humanos e direitos civis na pandemia tenham sido sobretudo defendidos por partidos e políticos mais conservadores e de direita. Como é possível?

    Como se os pólos terrestres se tivessem invertido e o caos se tivesse instalado na Terra.

    Colocar em causa a manutenção e a defesa de direitos humanos e civis é ameaçar diretamente a democracia. Quem quer ficar refém e à mercê de propagandistas, de um regime baseado numa falsa ciência (como era também o de Hitler), num regime em que tudo (e todos) o que se quiser passa a ser uma ameaça ‘à segurança nacional’, a ‘estabilidade’, ‘o bem comum’. Basta que possa questionar o regime novo ou a falsa ciência. Basta que mostre evidências científicas que contrariam a ciência comercial em voga no Mundo Ocidental.

    woman in black and white tank top leaning on wall

    Torna-se curioso, do ponto de vista científico e comportamental, assistir a demonstrações fascistas de pessoas que, sem o saber que são, falam nas TVs, nas redes sociais, nas rádios. Escrevem nos jornais os seus artigos de opinião e até as suas notícias. Sim, os jornalistas “fascistas” escrevem as suas notícias enviesadas, pejadas de propaganda, só ouvem as fontes que promovem o novo regime fascista. Como na Alemanha nazi, no Portugal do Estado Novo, na América ‘anti-comunista’ Macarthista.

    O novo Macarthismo instalou-se. Agora, ‘os comunistas’ são os que defendem a liberdade e a democracia, a Ciência verdadeira, e que são vistos como ameaça aos novos “fascistas”.

    Dirão: ah, mas este fascismo é necessário por causa da… pandemia. Por causa da crise ambiental, da crise climática. Como é que alguém pode ser tão burro? Sim, burro. Não uso a palavra de modo leviano. É preciso muita burrice, muitas palas nos olhos para, em 2022, alguém racional se deixar levar por propaganda descarada. Como os alemães na Alemanha nazi. Só, de facto, o medo e ódio podem gerar tantas palas nos olhos de tantos.

    A Suécia foi o país que melhor geriu a pandemia. De longe! É só olhar para as estatísticas covid e não covid. Para a diferença entre as mortes excessivas nos países que aderiram ao fascismo do seculo XXI e a Suécia. A diferença é abissal!

    A Suécia não alinhou com os confinamentos e imposição de máscaras, em geral, tornando-se um caso de sucesso na gestão da pandemia de covid-19.

    Ainda assim, perante as evidências e os factos, a massiva propaganda paga por fundos públicos e privados – incluindo da indústria farmacêutica e todos os que lhe estão ligados, como colaboradores, acionistas ou “parceiros comerciais”, como os jornais – tem conseguido enganar boa parte da população. Aqui se incluem jornalistas e uma pseudo ‘elite’ que de pensante pouco tem, hoje em dia. Estão atulhados pelos medos, a sensação de insegurança. A baixa literacia científica que têm vindo a demonstrar é um dos calcanhares de Aquiles que os ajudou a tornarem-se vítimas do novo fascismo e a nova ideologia de totalitarismo.

    Custou ver jornalistas a atacar cidadãos e cientistas por mostrarem as evidências científicas sobre a inutilidade das máscaras num vírus como SARS-CoV-2, sobretudo a violência do seu uso em crianças. Custou ver, mas deu para se perceber que estavam cheios de medo. Emocionais. O tom dos seus ataques era transparente. O seu ódio.

    Por isso, quando políticos e propagandistas das farmacêuticas espalharam a fake news de haver uma ‘pandemia de não vacinados’, tantos jornalistas se prestaram a propagar a falsa notícia. A desinformação nesta pandemia foi atroz. Mas o que mais custou ver, e continua a custar ver, é a ignorância que jornalistas e políticos aceitam demonstrar publicamente.

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    A Ciência verdadeira foi atacada desde 2020 e substituída por políticas erráticas ou baseadas numa ‘ciência’ dogmática e comercial, vocacionada sobretudo para impulsionar a venda de produtos diversos.

    A Ciência só o é se for baseada na evidência. Estudos de farmacêuticas ou cientistas ligados à indústria, ou entidades financiadas por alguém ligado à indústria, não contam, naturalmente.

    Nesta altura, quando temos uma ameaça sobre a democracia, saúdo todos os socialistas e social-democratas que se estão a levantar em defesa da pureza da Constituição e em defesa dos direitos humanos e direitos civis. Que estão a opor-se a esta revisão ilegal e perigosa.

    Agora, também seria bom começar a ver jornalistas, directores de media mainstream, se levantarem a favor da democracia, dos direitos humanos, dos direitos civis. Da liberdade.

    Os jornalistas têm muitas responsabilidades. Só espero que, ao contrário do que a maioria fez desde 2020, desta vez as usem para o verdadeiro bem comum, a democracia, a liberdade e o progresso da Humanidade.

  • Mudar a Constituição: isso, até o III Reich fez

    Mudar a Constituição: isso, até o III Reich fez


    A Suécia é a prova inequívoca e irrefutável de que não é preciso abolir direitos civis e humanos para gerir bem uma crise, seja ela sanitária, energética, económica, climática ou outra qualquer.

    Em Portugal, a legislação em vigor já prevê os mecanismos necessários para lidar de forma eficiente com uma pandemia, nomeadamente a possibilidade de cumprimento de pena pelo crime de propagação de doença contagiosa. Por outro lado, há diversos incentivos para que os cidadãos sigam as recomendações de autoridades de saúde, como o pagamento de baixa médica a 100% devido à necessidade de cumprimento de quarentena. Mais incentivos podem ser introduzidos, incluindo para compensar empresas por faltas de trabalhadores. Os que não cumprirem, enfrentarão a Justiça.

    black and white labeled bottle

    Claro que, como se viu nesta pandemia, muitas medidas e recomendações implementadas careceram de base científica, não encontrando evidência para a sua implementação. A ‘ciência’ utilizada na gestão de uma pandemia ou crise de saúde pública precisa ser baseada na evidência, ou não é Ciência, é política. Muito disso aconteceu desde 2020, infelizmente, com a ´ciência comercial´, baseada em ‘nada’ ou então em estudos pagos e patrocinados por farmacêuticas ou cientistas e entidades financiados por farmacêuticas, a ser utilizada como se tratasse de Ciência. Não é.

    Mas, havendo já todos os mecanismos disponíveis para gerir bem uma crise sanitária, porque querem o PS e o PSD alterar a Constituição para eliminar direitos civis e direitos humanos que lá estão consagrados?

    A resposta é simples: um regime totalitário só pode ficar legitimado com uma consagração na Lei. Por isso, é perfeitamente normal e mais do que esperada a ‘fome’ do PS e do PSD por alterarem a Lei Fundamental do país e eliminar direitos civis e direitos humanos básicos. Uma última machadada na democracia que, moribunda, desfia e definha a cada dia.

    white and black braille machine

    Dirão que é exagerado fazer uma comparação com as alterações legislativas levadas a cabo pelo regime genocida, criminoso, antissemita, homofóbico e xenófobo, anticomunista, nacional socialista de Hitler. É verdade. É exagerado. Mas, para se perceber como se começa a instalar uma ditadura, vale a pena saber que Hitler – como outros ditadores – mudou a Legislação, fez um bypass ao ‘sistema político’ em vigor e concentrou todo o poder. Outros ditadores fizeram ações similares.

    E a verdade é que Hitler precisava disso, ainda assim. Apesar de ter um vasto exército, armamento, de ter uma poderosa máquina de propaganda, e ter grande parte do povo alemão do seu lado. Mas era fundamental que houvesse um quadro jurídico que desse legitimidade à ditadura Nazi. E a Hitler.

    Mesmo as maiores atrocidades tiveram a sua sustentação na ‘ciência’ (do regime), na segurança nacional, na Lei.

    “A detenção sem mandado ou decreto judicial foi um dos actos legislativos e jurisprudência criados no processo gradual pelo qual a liderança nazi transferiu a Alemanha de uma democracia para uma ditadura”, como recorda a United States Holocaust Memorial Museum.

    man in black long sleeve shirt raising his right hand

    Na sua página pode ler-se ainda: “Os Nazis usaram uma estratégia abrangente para controlar todos os aspetos da vida sob o seu regime”. E acrescenta: “Em conjunto com uma agenda legislativa pela qual exigiam unilateralmente ou proibiam certos comportamentos públicos e privados, os dirigentes nazis redefiniram drasticamente o papel da polícia, dando-lhes amplos poderes – independentemente da supervisão judicial – para procurar, prender e encarcerar inimigos do Estado reais ou percebidos e outros que consideravam criminosos”. Aqui estavam incluídos comunistas e radicais de esquerda, também.

    Isto foi antes dos campos de concentração, dos actos criminosos e genocidas, dos assassínios em massa. Primeiro, houve muitos outros passos que tiveram aplausos de muitos alemães. Como, hoje, alguns portugueses incautos e ingénuos, iludidos e enganados, ou fascistas, aplaudem as anunciadas propostas de mudança da Constituição, a Lei Fundamental do país, em vigor praticamente desde que Portugal é uma democracia. Uma Lei criada depois do país ter saído de uma ditadura.

    Hoje, querer-se-á deter cidadãos por “motivos sanitários”, de “bio-segurança”. Amanhã, querer-se-á deter cidadãos por questões “climáticas”, “energéticas”. Por serem “uma ameaça à ordem”, por “quererem organizar manifestações”, por “colocarem em risco a estabilidade” ou o “consenso social” – como diria o director do jornal Público.

    red Emergency Pull lever

    Por umas quaisquer questões de “emergência”, poderem deter, ou seja, privar cidadãos da sua liberdade. Mas não só. Colocar nas mãos de políticos e autoridades de saúde, climáticas ou outras o poder de decidir se um cidadão é livre ou não.

    Imagine-se um qualquer “Filipe Froes” – ‘amigo’ da indústria farmacêutica – a poder decidir sobre detenções de cidadãos por terem estado hipoteticamente, ou de facto, em contacto com alguém ‘infectado com um vírus’.

    Um qualquer “Filipe Froes” que faz parte do grupo de “todos os médicos e todos os cientistas que estão de acordo” sobre um tema, neste caso a pandemia. É que é óbvio existir um “consenso”, quando todos os médicos e cientistas sérios, que não são pagos por farmacêuticas, que discordam do tal “consenso” são simplesmente censurados e afastados! É assim que se criam consensos em ditaduras!

    Na Europa e no Portugal de 2022, o regime totalitário está em marcha. Não é só em Portugal que se têm mudado leis para eliminar direitos civis e direitos humanos. Em outros países, tem havido mudanças e em outros haverá mais alterações. Basta lembrar, no caso português, da censura instituída a coberto de uma Carta Portuguesa de Direitos Humanos na Era Digital, ou a tentativa de eliminar o direito à manifestação, algo impensável em democracia.

    Assim, o quadro de início de um regime totalitário já é uma realidade desde 2020. Nessa altura, com o surgir da pandemia, os poderes políticos e económicos aperceberam-se que tinham pela frente uma oportunidade de ouro para reforçar o seu poder (e lucros) e produzir reformas profundas em áreas como o mercado de trabalho, aproveitando para atropelar e ir eliminando conceitos como direitos civis e direitos humanos.

    blue spiral staircase

    É exagerada a comparação com o sanguinário e abominável regime de Hitler? Sim, é. Mas fingir que não estão a ser usadas tácticas também usadas por ditadores como Hitler é estar em negação.

    Vejamos. Os atuais governos contam com uma boa parte da população completamente do seu lado (como os alemães estavam do lado de Hitler). Uma população que, tal como a alemã, levou com uma campanha de medo (neste caso, aproveitando-se uma pandemia) e propaganda em larga escala, profissional e bem financiada, tanto por fundos públicos como pelo poder económico, incluindo a indústria farmacêutica.

    Uma campanha de medo que também beneficiou, em parte, da baixa literacia científica da população em geral, incluindo da classe jornalística. Uma coisa é ‘Ciência’, que é baseada na evidência, outra coisa é a ‘ciência comercial’, baseada em ‘estudos’ pagos por farmacêuticas.

    Uma campanha aproveitando uma crise (económica), e que identificava um inimigo a abater. Uma campanha que conseguiu pôr uns contra os outros. Que inventou nomes para os “dissidentes”, que difamou cientistas de renome e com uma reputação inatacável.

    black and white rectangular frame

    O regime totalitário que está a ser construído tem também o apoio dos media tradicionais (ou mainstream) que fazem, com gosto, propaganda às medidas e anúncios do novo regime em voga e à ideologia em que assenta. Sim, também hoje está subjacente uma ideologia, segundo a qual as vontades e desejos do poder político e económico – disfarçados agora de “autoridades de saúde” e de “bem comum” – se sobrepõem aos direitos civis e direitos humanos.

    Não falta sequer a esta ideologia a ideia de que a segregação de cidadãos é, não só “normal” – sustentada na ‘ciência’ criada pelos ‘cientistas’ ligados ao poder político e económico –, como é “fundamental”.

    Além dos media tradicionais e de uma parte dos jornalistas, também uma certa (pseudo) ‘elite’ apoia este novo regime totalitário. Em primeiro lugar, porque foram assustados ao ponto de acharem, efectivamente, que a sua segurança está em risco (como na Alemanha Nazi). Segundo, porque têm sido beneficiados pelas medidas impostas pelos líderes do novo regime: confinamentos, com direito a teletrabalho a partir das casas de campo ou com vista para o mar; fundos europeus; pagamento de créditos suspensos (com incremento da poupança e do consumo pessoal).

    woman holding sword statue during daytime

    Junta-se ainda o bónus de estes jornalistas, esta ‘elite’, se poderem sentir ‘superiores’ – mais do que é habitual – porque fazem parte de “algo maior”, uma “missão” em que trabalham “juntos” e “unidos” com políticos e indústrias, para um “fim comum”. Para o “bem comum”.

    Perseguir, reprimir, difamar, injuriar, censurar cientistas, jornalistas, intelectuais, académicos, políticos, artistas, e todos os que se oponham ao novo regime e à nova ideologia é algo visto como “essencial” para afastar “os vermes tóxicos” (em outros tempos eram os comunistas, os judeus, ….) que impedem que se atinja o “fim comum”.   

    Em Portugal, PS e PSD querem mudar a Constituição para eliminar direitos humanos e civis que lá estão consagrados. Não precisam fazer um bypass ao ‘sistema político’ porque PS e PSD “SÃO” o ‘sistema político’ em Portugal. Os outros partidos, como se viu na pandemia, pouco ou nada fazem para parar este comboio a caminho de uma ditadura, em velocidade acelerada, em Portugal e na Europa.

    A democracia já não existe, na verdade. Só falta assumir isso em texto legal. Fica uma democracia fantoche. Uma democracia fantoche até ‘no papel’.

    persons hand with white snow

    A guerra na Ucrânia e a crise económica espoletada pelos confinamentos e restantes medidas de suposta “gestão” da pandemia apenas ajudam a sustentar mais medo na população. Junta-se ainda a grave crise ambiental e as alterações climáticas, que serão certamente usadas para novas medidas de eliminação de direitos humanos e civis, pois o terreno está tratado para receber esta ideologia do medo. Da “bio-segurança”. Da “segurança” energética. Da “segurança” económica. Da “segurança” ambiental e climática.

    Resta aos democratas, pró-direitos humanos e civis, levantarem-se, unirem-se contra este novo ‘monstro’ que está a ser criado. ‘Monstro’ não no sentido sanguinário e genocida (veremos, daqui a uns anos, contudo, após a análise das mortes excessivas que já se verificam) mas porque implica o fim do Mundo Livre. E, mesmo que este regime atual seja derrotado, tal como outras ditaduras foram derrotadas, serão anos de sofrimento, privação de direitos, de retrocesso civilizacional que se registarão.

    Podem mudar a Constituição, as Leis, impor medidas arbitrárias e alavancadas na falsa ‘ciência’ que é a ‘ciência comercial’. Podem censurar, reprimir, difamar, segregar. Enfrentarão uma crescente corrente de cidadãos do Mundo que não baixarão os braços, nem calarão as suas vozes, enquanto a nova ditadura não for definitivamente derrotada.

    Podem mudar a Constituição, legitimando assim a sua ditadura. Mas saibam isto: serão derrotados, leve o tempo que levar. E será garantido que ficarão na História por esse crime cometido contra os portugueses e contra Portugal. O crime cometido contra os valores europeus, os valores humanos. Querem mudar a Constituição? Mudem. O tempo irá julgá-los pelo que são: ditadores.  

    Links com informação oficial recente sobre as propostas de revisão constitucional do:

    PSPS baliza revisão constitucional para aprofundar Estado social e direitos fundamentais | Partido Socialista

    PSDDesafio António Costa a vestir “fato de reformista” na Constituição | PSD

  • Mafia style: uma fake news dos media mainstream… que correu mal

    Mafia style: uma fake news dos media mainstream… que correu mal


    Este foi um episódio vergonhoso que ficará na História do Jornalismo em Portugal: quando os media mainstream se uniram para espalhar uma notícia falsa e difamar um jornal independente que acabara de nascer. E como recusaram todos publicar o direito de resposta previsto na Lei. Correu-lhes mal.

    Dez meses depois, é certo, ainda não foi reposta a verdade e nem todos os media mainstream corrigiram uma notícia falsa que divulgaram. Um deles, o Público, lutou até aos tribunais para evitar ter de acrescentar o direito de resposta à sua notícia falsa.

    person in black knit cap and gray sweater

    Mas o director do jornal Público foi esta semana derrotado em Tribunal. Aliás, toda a direcção do jornal, e também a sua editora de Sociedade, a qual teve um papel na publicação de uma notícia falsa e difamatória contra o PÁGINA UM. A juíza não teve dúvidas e não cedeu às pretensões do jornal que queria escapar à publicação de um direito de resposta do director do PÁGINA UM.

    A atitude do director do jornal Público é simplesmente uma lástima. Uma vergonha para o jornal (onde anda a Sonae?).

    Mas neste episódio vergonhoso, o director do Público não é o único protagonista. A questão principal até é esta: como é que diretores de jornais, da Lusa, de TVs, de rádios, de revistas e de media online aceitaram executar a distribuição de uma notícia claramente falsa e difamatória contra um jornal que nascera dois dias antes?

    Em primeiro lugar, analisemos a forma como foi lançada a campanha de difamação contra o PÁGINA UM, em Dezembro de 2021. Foi pouco ou nada original, convenhamos. Aliás, foi mesmo muito vulgar. Vem nos “livros”. Os ingredientes usados para tentar “fritar” o alvo foram os que estão em manuais dos sem carácter, para quem todos os meios justificam os seus lucrativos fins e que mexeram os cordelinhos para orquestrar uma campanha que visava matar um jornal à nascença. E não se tratava de um jornal qualquer.

    grayscale photo of woman doing silent hand sign

    É um jornal liderado por um jornalista com vasta experiência, e que era visto como uma ameaça. Porquê? Porque andava a investigar médicos comprometidos com a indústria farmacêutica, com óbvios conflitos de interesses. E andava a investigar as sociedades médicas. E a poderosa e temida Ordem dos Médicos.

    Portanto, em 23 de Dezembro do ano passado, dois dias após o nascimento do PÁGINA UM, uma suposta “cacha” caiu “por milagre” no colo da recém-estreada CNN Portugal. E logo num estagiário. E parecia fantástica. E era falsa. Mas, rapidamente, para sustentar a falsidade, “surgiram” vários médicos, prontinhos, com agenda disponível, a prestar depoimento, a dar a cara contra o “alvo” a abater. Uma coincidência. Ou melhor, uma providência. Uma “sorte”!

    Para a CNN Portugal, para não queimar jornalistas tarimbados, foi só pôr um estagiário a fingir que ouvia o “alvo”, para dizer que até o contactaram. Mas era a fingir. Tudo o que o alvo dissesse seria para ignorar – como foi –, porque estragava a “cacha” que consistia nisto: uma página negacionista anti-vacinas expôs dados clínicos de crianças online. Grande “cacha”. Só que não.

    wolf pack on rock formation

    Como o estagiário da CNN Portugal apurou junto do “alvo” (o diretor do PÁGINA UM), tratou-se de uma notícia publicada por um jornal online registado na Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC), fruto de uma investigação jornalística e elaborada por um jornalista com carteira profissional. Os dados eram anonimizados, respeitando a Lei e a deontologia. E o resultado da investigação comprometia o imaginado “consenso” sobre o impacte da covid-19 nas crianças, e portanto devia vacinar-se tudo o que mexesse.

    Mais. A CNN Portugal além de saber tudo isto, também tinha a posição da Comissão Nacional de Proteção de Dados que confirmou que não havia problema nenhum na notícia do PÁGINA UM.

    Mas mesmo sabendo que a notícia era falsa, a CNN Portugal avançou. Tinha, por milagre, cinco (CINCO!!!) médicos prontinhos a falar. E não era uns quaisquer. Era o presidente do Conselho Regional do Sul da Ordem dos Médicos. Era a presidente da Sociedade Portuguesa de Cuidados Intensivos Pediátricos. Era o presidente do Sindicato Independente dos Médicos. Era um pediatra do Centro Materno Infantil do Norte. Era o director do Serviço de Humanização e Ética do Hospital de S. João.

    person hands with black liquids

    E voilá: com este naipe, a notícia falsa e difamatória ficou pronta a divulgar. E foi isso que a CNN Portugal fez em destaque, várias vezes ao dia, nos seus noticiários e no site. Em loop. Em replay. Dois dias depois de nascer o PÁGINA UM.  Dois dias, apenas.

    Convenientemente, e apesar de a CNN Portugal saber que tinha sido um jornal a publicar a notícia e não uma qualquer “página no Facebook”, a estação de TV mentiu. E cobardemente omitiu sempre o nome do jornal e do jornalista em questão. Um “truque” sujo que ajudaria a evitar um processo judicial com a desculpa de que não se queria fazer publicidade à tal página “negacionista”.

    Depois, por outro “milagre”, rapidamente chegou aos ouvidos dos outros media que a CNN Portugal tinha publicado a notícia “chocante”. Em tempo recorde, a notícia falsa estava plasmada nos principais órgãos de comunicação social em Portugal.

    Atenção: a própria Comissão Nacional de Protecção de Dados indicava que não havia problema nenhum com a notícia, porque não havia dados nominativos expostos; estava tudo anonimzado. Ainda assim, e apesar disso, a notícia falsa espalhou-se.

    silver corded microphone in shallow focus photography

    E note-se: na semana anterior, a directora-geral da Saúde tinha revelado a condição vacinal (um dado pessoal) de uma jovem com síndrome de Dravet, identificada pela comunicação social com nome e residência, e que alegadamente terá morrido em consequência de complicações por covid-19. Isto sim era revelar dados pessoais, mas nenhum dos médicos que quis participar na farsa da CNN Portugal deu um pio sobre aquilo que a Direcção-Geral da Saúde fez. Nem nenhum media mainstream.

    Se o modus operandi seguido é vulgar e até amador, neste caso, não me espantou. Qualquer agência ou gabinete de comunicação (com maus princípios) dá conta do recado. “Facilita” informação. “Agiliza” nomes a entrevistar. Na sombra ou às claras.

    Assim, a grande surpresa, para mim, foi mesmo a rapidez com que tantos directores de órgãos de comunicação social em Portugal acataram o “esquema” lançado inicialmente através da CNN Portugal.

    people protesting inside building

    Aquilo que o director do Público indicou agora ao Tribunal traz alguma luz e pode responder à questão. Os directores dos media trabalhavam para contribuir para “um consenso social” em torno do tema da vacinação.

    O próprio Público assume a difamação! Ou seja, em nome do “consenso social”, valeu tudo: desinformação, mentiras, falsidades, fake news, destruição da reputação do “alvo” e assassinato de carácter. Mafia style.  

    Jornalismo? Código Deontológico? Estatuto do Jornalista? Tudo para a gaveta!

    Só a ideia, na perspectiva do Jornalismo, é grotesca e aberrante. É o anti-jornalismo puro.

    De resto, sabe-se que o que não existia era “consenso” em torno da vacinação, sobretudo de crianças e jovens.

    gray stainless steel fork and spoon on white ceramic plate

    O tal “consenso social”, imaginado pelas cabeças de directores de jornais e media em geral, só existiu devido à sua sede de agradar ao poder, aliado à baixa literacia científica existente na classe jornalística portuguesa. Mas não explica tudo. Os laços estreitos dos media mainstream com anunciantes e financiamento estatal deram uma ajuda.    

    Enfim, derrotado, o jornal Público, depois da CNN e do Observador terem feito o mesmo apenas após deliberações da ERC, vai ter agora de publicar o direito de resposta do PÁGINA UM na sequência da notícia falsa e difamatória que publicou em Dezembro do ano passado.

    Mas note-se bem: o director do jornal, além de ter permitido a publicação da notícia falsa e difamatória, e conhecendo o trabalho do director do PÁGINA UM, tentou manter a difamação. Perdeu. Perdeu ele, o Público e o jornalismo. Porque é inaceitável este comportamento, ainda mais por parte de um director de um jornal como o Público.

    Foram assim 10 meses de luta para tentar publicar um direito de resposta. A Sonae estará atenta ao seu jornal? Tempo gasto. Dinheiro gasto. E a reputação do Público a ser arrastada na lama pelo seu director que admitiu, perante o Tribunal, que defende que o jornal, que por agora dirige, deve contribuir para um “consenso social”. Saberá o que é Jornalismo?

    kitchen utensils on stone washing station

    Espero, sinceramente, que da próxima vez que a CNN Portugal divulgue uma notícia falsa para fazer uma campanha de difamação, alguém no Público actue para que o director do jornal não a copie para ajudar a criar… um “consenso social”. A desinformação e a difamação nunca foram artes de fazer jornalismo.

    Mas espero também, pelo menos, que, se não aprenderem com os erros e os atropelos ao jornalismo (não só deontológicos), os media mainstream encontrem os leitores que merecem. E o futuro que merecem.

    Aqueles que forem a tempo de aprender e de mudar o rumo, desejo boa sorte.

    Mas, digo já, em tom de desabafo, que tenho pouca esperança de que algum tenha aprendido. Até porque os directores se manterão, os mesmos para quem valeu tudo nos últimos anos, até notícias falsas e difamação. Além de campanhas de ódio – que as houve – e de apoio ao regime de segregação e discriminação, sem qualquer base científica.

    man reading newspaper in bulletin board

    Por isso tudo, desejo o melhor, sim, mas ao PÁGINA UM, que após 10 meses de luta contra gigantes, continua a desempenhar o seu papel de investigar, de publicar notícias e de lançar o debate em temas cruciais para os portugueses. São já 10 meses de luta contra os Golias nos media, no poder político e no poder económico. São 10 meses de luta contra golpes baixos. Contra a ignorância, contra os conflitos de interesses, contra a opacidade e contra a corrupção.   

    Contra as pressões internas, incluindo as da ERC e da Comissão da Carteira Profissional de Jornalista.

    Bem sei que os Golias podem ser muitos e às vezes aparentar serem avassaladores. Mas, de direito de resposta em direito de resposta; de processo em processo; de notícia em notícia, este David avança.

    É uma ameaça para estes Golias? Sem dúvida. E ainda bem.  

  • Pobres: ai agora é que os media se preocupam?!

    Pobres: ai agora é que os media se preocupam?!


    Os governantes de diversos países, incluindo Portugal, e os bancos centrais só conseguiram destruir a Economia e fazer disparar os níveis de pobreza graças à ajuda preciosa dos principais órgãos de comunicação social. Sem a sua submissão, em geral, jamais se teria feito a destruição que se fez em termos económicos, sociais e de saúde e bem-estar da população.

    Muitos, além de submissos, ainda assumiram o papel de cheerleaders das muitas políticas e medidas impostas desde 2020, na pandemia e não só. Aplaudiram (e aplaudem), promoveram, publicitaram e encorajaram. Com os seus “especialistas” em coro, queriam mais. Pior. Perseguiram quem a elas se opôs. Querem hoje, de novo, mais medidas. Com os seus “especialistas”. Com os seus editoriais. Pedem mais, sempre mais. Mais medidas. Mais doses de vacina. “Mais” guerra. Mesmo que tudo isso implique menos saúde, menos liberdade, menos democracia, menos jornalismo. Menos Europa. Menos comida.

    person holding pastry

    Os media ajudaram, desde 2020, a amassar o pão que hoje não chega às mesas de muitas famílias. O pão que não sobra para alimentar os mais pobres e frágeis.

    Tudo o que os governos têm feito nos últimos dois anos, tem sido acompanhado pela aprovação e até sonoros aplausos por parte dos principais media. Contraditório? Zero ou quase nenhum. Os media, em geral, escolheram o seu lado em 2020, pisando o Jornalismo e os deveres dos jornalistas. Os media escolheram o seu lado em 2021 e em 2022, ajudando a destruir a economia e a saúde dos portugueses (e dos europeus). Agora, é que se lembram dos pobres?

    Durante dois anos, a maioria dos principais órgãos de comunicação colocaram-se do lado de medidas extremas que tiveram como base o “combate à pandemia de covid-19”. Agora, aparecem como “denunciantes” da fome e do aumento da pobreza. Começam a “denunciar” e a tomar “as dores” dos que sofrem devido à crise económica.

    Na sua maioria, defenderam todas as medidas, colocaram zero questões a todas as ilegalidades cometidas. Os que levantaram a voz contra as medidas foram insultados pelos media (ou através deles), que não deram qualquer hipótese ao contraditório, em geral.

    two people shaking hands

    Mas agora, em 2022, os media preocupam-se com os “pobrezinhos”, com os que passam fome. Com os desempregados. Agora? Depois de terem apoiado todas as medidas que provocaram a crise e dado a mão aos governantes que as decidiram? Agora vêm tarde.

    Sabe-se hoje o que já se sabia em 2020: confinar era um erro colossal. Todas as restrições que países como Portugal decidiram adotar – alinhado, em geral, com os restantes países europeus – causaram uma catástrofe económica. Já se sabia que isso iria acontecer, desde 2020. Na altura, era moda dizer “primeiro, salvar vidas; a Economia vê-se depois”.

    Não. A Economia não se vê depois. Porque a Economia somos todos nós. E, além disso, não se salvaram vidas a confinar e a impor medidas grotescas e ilegais. Pelo contrário, pelo que se vê da comparação entre a gestão da pandemia na Suécia e em países como Portugal. E vê-se agora também nas mortes em excesso.

    Em 2020 e em 2021, analistas alertaram para o enorme risco de uma crise alimentar. Economistas alertaram para o perigo da inflação. De nada valeu. Estamos, de novo, perante uma grave crise que está sobretudo a afetar as famílias e os mais frágeis da sociedade.

    man in black shirt sitting on chair

    Nesta crise, os media são cúmplices. São responsáveis por ela. Os media são co-responsáveis pela pobreza causada por políticas nefastas e irracionais. Os media são responsáveis pelo desemprego criado. Pela fome. Não foi a covid-19. Não foi a guerra na Ucrânia.

    Foram os governos ajudados pelos media e todo o seu arsenal de “especialistas/ consultores”. Com as suas manchetes amigas dos governos e as aberturas de noticiários alinhados com “as autoridades”, os media foram um braço importante dos que criaram a atual crise que vivemos. Uma crise que está a ser uma oportunidade para retirar direitos e eliminar a democracia.

    Virem agora sacudir a água do capote e fingir que estão muito preocupados com os “pobres” e que querem denunciar que há fome, é mais do que hipócrita. É um insulto. É um insulto para quem perdeu o seu emprego. Para quem não tem o que pôr na mesa ao jantar.

    É um insulto para os economistas que há muito alertavam para o perigo da inflação. Para os analistas que avisaram sobre a crise alimentar. É um insulto para os que têm processos disciplinares por defenderem os mais frágeis. Para os que têm levantado a voz e dado a cara, arriscando a carreira, contra as medidas irresponsáveis e até criminosas que têm sido adotadas.

    red paint on white pavement

    E não me refiro apenas à gestão da pandemia mas também às decisões irresponsáveis e anti-europeias que Bruxelas tomou em 2022. Mais uma vez, tentam vender a ideia de que todas as decisões são “para o bem”, que querem defender “a liberdade” e “a democracia”. “A democracia, a liberdade e os valores europeus que têm sido amputados e espezinhados desde 2020?

    E Bruxelas ainda tem o desplante de dizer que está a “defender a democracia”. Tudo isto com os media sempre prontos para, com submissão perante os governantes, massificarem as frases e palavras-chave do marketing político. Um coro. Afinados. A tocar a mesma música.

    Mas, apesar de terem já começado a “tomar as dores” dos “pobrezinhos” e dos que passam fome, os media ainda não tomaram as dores dos que estão doentes. Dos jovens apanhados por uma pandemia de doenças mentais devido às medidas que lhes foram impostas.

    a boy crying tears for his loss

    Não tomaram as dores dos que sofrem com reações adversas graves devido a doses de vacinas que foram, muitos deles, forçados a tomar para manterem o emprego.

    Os media não pensam ainda nos milhares de famílias dos europeus que têm morrido sem grande explicação ou investigação. Lá foram começando, a custo, a noticiar as mortes em excesso, mas sem grande acompanhamento do tema.

    Os media ainda não tomaram as dores dos mortos e dos que ficaram doentes devido ou na sequência de medidas impostas. Talvez porque, no fundo, bem lá no fundo, os media sabem. Que são eles também responsáveis por estas mortes e estes doentes. No fundo, eles sabem que ajudaram a destruir vidas e famílias, além de empregos, além da economia. Eles sabem. E nós também.

  • O fantástico Euromilhões dos bancos: tudo legal, tudo imoral

    O fantástico Euromilhões dos bancos: tudo legal, tudo imoral


    “Mas que bronca!” A frase proferida por um banqueiro resume o seu sentimento em relação ao lucro extra que os bancos europeus estão a arrecadar graças a um “erro” do Banco Central Europeu. “O BCE cometeu um erro gigantesco. Agora quer resolver isto, mas não é fácil”. Apesar de considerar-se um “escândalo”, o que certo é que nenhum banco irá deixar de aproveitar esta oportunidade caída do céu (ou melhor, do BCE).

    Os bancos estão sentados numa almofada de milhões e milhões de euros em fundos públicos. Agora, estão a usar esses fundos para ter um lucro extra. Estão a depositar os dinheiros públicos junto do banco central. Com a subida das taxas de juro, é só ouvir o “tlim, tlim” dos juros a entrar nos seus cofres.

    blue and yellow star decor

    Os bancos europeus conseguiram ter essa mala de dinheiro porque o BCE decidiu, em 2020, pagar à banca para ficarem com os fundos públicos. Isso mesmo. O objectivo do BCE era incentivar os bancos a emprestar dinheiro e a minimizar os impactos da crise económica provocada pelas medidas drásticas e polémicas adoptadas por governos europeus na pandemia – que incluíram devastadores confinamentos.

    No total, os bancos europeus estão sentados em cima de 2,1 biliões de euros em fundos públicos provenientes da terceira operação de empréstimos direccionados de longo prazo (TLTRO), segundo dados citados pela Reuters. É um valor astronómico que o BCE tem de pagar aos bancos em juros.

    Segundo analistas do banco ING, o total de excesso de liquidez nas mãos da banca europeia ascende a 4,6 biliões de euros. Com a actual taxa de juro, o BCE teria de pagar 34,5 mil milhões de euros em juros por ano, aos bancos. Se a taxa de juro subir para 2,5% em 2023, o valor a cair no colo dos bancos subiriam para 115 mil milhões de euros.

    Agora, a factura bateu à porta do BCE. Com uma inflação galopante, começou a subir as taxas de juro mais cedo do que tinha previsto quando começou a pagar aos bancos para se endividarem.

    Mas agora dava jeito ao BCE livrar-se de tanta liquidez. Analistas do banco ING apontam que o BCE pode decidir mexer no múltiplo de reservas mínimas exigidas aos bancos pela liquidez que detêm ou remunerar parte do excesso de liquidez dos bancos a uma taxa de 0%, para os levar a reduzir o montante de fundos detidos.

    Claro que os bancos agora não entregam a mala do dinheiro. Não, quando podem ficar sentados a contar os euros garantidos pelos juros que os depósitos dos fundos públicos garantem.

    Esse dinheiro está a agora de lado, a render e a trazer lucros chorudos para os bancos.

    Tudo isto é perfeitamente legal. Tudo isto é perfeitamente legítimo. Mas é também igualmente altamente imoral.

    Os bancos receberam dinheiro para pedirem emprestado ao banco central para ajudar a economia em tempos de crise. Usar os fundos públicos que lhes foram disponibilizados devido à crise para lucrarem com o seu depósito junto do banco central é lamentável.

    Agora, esta gigantesca onda de dinheiro público nas mãos dos bancos é um problema para o BCE que se vê a braços com aumentos da inflação.

    Mas é também um escândalo. É aberrante que bancos possam estar sentados em cima de tanto dinheiro público e, sem mexerem uma palha, lucrarem com ele.

    man wearing white top looking at projector graph screen

    O BCE analisa como vai tentar travar estes lucros para a banca. Mas descalçar a bota não é fácil.

    Seja como for, fica sempre no ar aquela ideia de que, nas crises, o ‘banqueiro capitalista’ sai sempre a ganhar.

    Neste caso, mesmo achando que é um escândalo, banqueiros esfregam as mãos de contentes. E vão continuar agarrados à mala, só devolvendo o dinheiro no fim do prazo do empréstimo especial (TLTRO), em Junho de 2023. Até lá, é facturar. Aos milhões.

    No fim de contas, o BCE não sai bem na fotografia. Afinal, falhou os seus cálculos relativos ao calendário de subida das taxas de juro e deu de mão beijada uma dupla prenda aos bancos: primeiro, pagou-lhes para receberem dinheiro emprestado; agora paga os juros dos depósitos que os bancos fizeram com o dinheiro emprestado. Para os bancos é um Euromilhões. Para os europeus, a braços com menor poder de compra e preços a disparar, esta situação é, no mínimo surreal. Surreal e imoral.

    Afinal, a crise quando bate à porta, não é para todos.