Etiqueta: Viagens

  • Indonésia: um paraíso a descobrir

    Indonésia: um paraíso a descobrir

    Raquel Rodrigues regressa ao PÁGINA UM. Nesta edição, partilha mais uma viagem de sonho, num formato de fotorreportagem. Destino: Indonésia.


    É talvez o destino mais sonhado por viajantes. No meu caso, já viajei muito e contabilizo muitos destinos já ‘carimbados no passaporte’. Mas este é um destino verdadeiramente único e há muito sonhado por mim.

    Conto pelos dedos de uma mão os países longínquos que gostaria de voltar a visitar. A Indonésia é, sem dúvida, um deles. Assim que cheguei ao aeroporto de Bali, senti o calor e o aroma que me deixaram aquela sensação que adoro, de pertença aos lugares.

    Bali

    A mais famosa ilha na Indonésia é também chamada Ilha dos Deuses. A conjugação entre o animismo e o hinduísmo antigos de Bali cria uma cultura distinta que permeia todos os aspectos da vida na ilha.

    Senti que estava definitivamente pronta (a ansiar, mesmo) para ver e experienciar tudo o que a ilha tinha para me oferecer.

    A paisagem única da ilha está replecta de cascatas imponentes, vegetação que nos assombra e uma espiritualidade que é palpável e que nos acolhe. São milhares de templos, majestosos terraços de arroz, património histórico e cultural riquíssimo e praias paradisíacas de águas quentes. A gastronomia é maravilhosa e o povo é muito simpático.

    Percebi o porquê de os deuses escolherem Bali para viver.

    Depois de Bali, e para quem quer sair do caos de Ubud e Bali e procura os postais paradisíacos, não se pode perder as ilhas Gilli, o snorkling com tartarugas, mantas e estátuas.

    Sem carros, nem trânsito. Tudo é bom. Os finais de tarde, os amanheceres, o peixe e marisco e as pizzas da mãe Mamma Pizza Gilli Air.

    Aqui, o tempo pára.

     Ilha Gilli Meno

    Imperdível é também a ilha de Java, com os seus vulcões e a paisagem que nos esmaga.

    A ‘cereja no topo do bolo’ da viagem foi o templo Candi Borobudur, o maior e mais complexo templo budista. Situado na ilha de Java, o templo é considerado a maior atracção para visitantes em toda a Indonésia.

    Obrigada por tudo e por tanto, Indonésia.

    Estamos de coração cheio.

    Voltaremos! Uma viagem com esta qualidade, em pleno Inverno… Já só sonhará com uma próxima. Deixo o aviso.

    Sugestão de roteiro:

    • 6 dias em Bali (Ubud, Templos Unesco, Rota do Chá e do café, Uluwato, Baía de Jimbaran)
    • 4 dias nas ilhas: Gilli Air e Gilli Meno
    • 2 dias em Lombok
    • 3 dias em Java

    Dicas de viagem:

    • Quando ir: entre Junho e Outubro
    • Convém comprar a viagem de avião em Janeiro
    • A três meses da viagem, deve comprar bilhetes de avião entre ilhas: Bali – Java – Bali
    • A um mês da viagem, deve comprar bilhetes para o ‘fast ferry’: Bali – Gilli Air
    • Para fazer ’tours’, sugiro que alugue um carro com motorista: 50 euros/por dia (inclui carro, motorista, combustível e portagens)
    • Para se deslocar do hotel para o centro ou para as praias, aconselho ir de Uber

    Raquel Rodrigues é gestora, viajante e criadora da página R.R. Around the World no Facebook.


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  • O magnífico Bernina Express

    O magnífico Bernina Express

    Raquel Rodrigues regressa ao PÁGINA UM com uma proposta de viagem de Inverno: Itália e Suíça através do Bernina Express, uma rota classificada como Património da Humanidade.


    Foi em Novembro de 2022 que li um post de um amigo, que como eu adora viajar e é um apaixonado por Itália. Na mesma hora, liguei-lhe a dizer que ia marcar a viagem e seria maravilhoso se as agendas coincidissem e viajássemos juntos.

    Marquei os voos de Lisboa para Bergamo, e comecei logo a preparação da viagem. Como já conhecia a imponente Bergamo, La Città Alta, cidade muralhada, com um centro histórico muito bem preservado, segui a recomendação do meu amigo e começámos o roteiro por Brescia, onde chegámos a tempo de um almoço rápido, ainda com tempo para explorar a cidade.

    Estacionámos o carro alugado no parque de estacionamento da “Piazza della Vittoria”, e daí seguimos a pé. Nesta praça nota-se o estilo racionalismo italiano, de 1926-1943, onde se localiza o Palazzo de la Poste; o Il Torrione, o primeiro arranha-céus italiano e, primeiro da Europa, construído em cimento armado. Seguimos a pé para a Piazza della Loggia, construída na época em que Brescia fazia parte da República de Veneza. Aqui encontramos o magnífico Palazzo della Loggia e a bonita Torre do Relógio. Depois, seguimos a pé pelos corredores de lojas até à Piazza del Duomo onde a Duomo Nuevo e a Duomo Vecchio se encontram e juntos fazem o postal da cidade. É obvio que a Duomo Vecchio é muito mais fascinante, em primeiro lugar por ser um edifício redondo, e depois pela histórica que carrega, com ruínas de mosaicos paleocristãos.

    Mas a história de Bréscia não termina aqui, pois remonta ao período pré-românico, com as ruínas de Brixia, o nome romano da cidade. Esta área arqueológica, a mais bem preservada do norte de Itália, reúne na Piazza del Foro e Capitolino, as estátuas de Juno, Júpiter e Minerva, um teatro romano e um santuário de século I com frescos e pavimentos do século II antes de Cristo, muito bem preservados. A joia da coroa é o Castelo Alto de onde conseguimos ter uma perspectiva fantástica da cidade.

    Final da tarde. Seguimos para Iseo, a 45 minutos de Bréscia, a cidade que dá o nome ao lago e onde jantamos, em cima do lago, numa pizzaria que muito recomendo, Leon D´Oro. Terminando o jantar ,seguimos para Pisogne, a 30 minutos de Iseo, onde dormimos as duas noites e ficávamos a meio caminho de Tirano, o ponto de partida do fantástico “Trenino Rosso”.

    Chegamos a Pisogne tarde, mas a simpatia de Bárbara e sua família fez-nos sentir que tínhamos feito a escolha certa para esta estadia no Lago Iseo.

    O B&B Alveare Sul Lago é um pequeno paraíso para “gourmands” que apreciem o conforto da cozinha e gastronomia italiana, um lugar onde nos sentimos em casa. Uma localização privilegiada com uma fantástica vista para o lago.

    No dia seguinte, tomámos o pequeno-almoço às 7 horas, e ainda não passara uma hora e seguimos viagem para Tirano. A paisagem é muito bonita, passando pelas aldeias alpinas italianas, e em hora e meia chegámos a Tirano. O estacionamento no parque é gratuito, e atravessando o túnel da primeira estação regional, encontramos a estação internacional do Bernina Express.

    Viajar de comboio é algo que se entranha, são viagens que não esquecemos, que prolongam as memórias, e esta, em particular, é quase mágica. Passámos por aldeias alpinas pintadas de branco, que contrastavam com um intenso azul do céu e as escuras colinas mais escarpadas. Garantidamente, uma das viagens de comboio mais deslumbrantes que se podem fazer.

    Sempre a subir. Partindo de Tirano, a 429 metros de altitude, passamos por Bernina a 2.253 metros de altitude. Cumes impressionantes. A carruagem panorâmica tem um fee de pagamento, mas isso vale cada cêntimo. É uma viagem incrível no primeiro comboio de cremalheira electrificado.

    Depois de duas horas e meia de cenários de cortar a respiração chegamos à sofisticadíssima Saint Moritz. Saindo da estação seguimos a pé até ao teleférico, que nos levou ao pico da montanha mais alta, almoçámos literalmente entre as nuvens.

    Descendo do teleférico, pode-se passear pelo centro da cidade no meio de um deslumbre luxuoso. As pessoas parecem, e são, simpáticas e bem-educadas. As lojas são de sonho, embora não para qualquer carteira. A estância de ski é uma das mais fantásticas do Mundo e Saint Moritz tem ainda o Badrutt´s Palace Hotel onde, mesmo que seja impossível pernoitar, vale pela experiência do Chá das Cinco. Regressando de volta à estação, viajámos de regresso a Tirano, no lado contrário da viagem de ida, mostrando outra perspectiva, embora por pouco tempo, pois a noite, nesta altura do ano, chega cedo.

    Chegados a Tirano, regressámos a Pisogne onde o Chef Cláudio Faustini nos aguardava com uma magnífica pasta fresca com trufa, pães e foccacia feita em casa e ainda um “Vino Rosso”. Podia ser melhor? Não podemos crer.

    No dia seguinte, acordámos com paz de espírito, tomámos um pequeno-almoço tardio, com produtos caseiros e frescos, e seguimos então para a nossa aventura pelo Lago.

    A primeira paragem foi Lovere, considerada uma das cidades mais bonitas de Itália, mesmo junto ao lago. Paragem obrigatórias para quem quer desejar boas memórias dos lagos italianos.

    De Lovere passámos de carro pelos túneis de Castro. Sentimo-nos um pouco como James Bond nos filmes gravados nestes cenários italianos. Continuámos viagem até Sulzano, e aí se pode apanhar um barco para Monte Isola.

    Chegando ao porto de Sulzano, apanhámos então o barco, que faz a viagem de 20 em 20 minutos. Monte Isola tem sido considerada uma das belas cidades europeia. Ainda que seja pequena, é a maior ilha lacustre da Europa, a pérola do lago Iseo. Aqui não existem automóveis para alugar, pelo que a melhor opção passa por alugar uma bicicleta ou seguir a pé. Em todo o caso, o santuário no topo da ilha só faz sentido se se visitar de autocarro.

    Em 2016, durante duas semanas o Monte Isola esteve em destaque, com a Floating Piers, uma instalação artística do artista búlgaro Christo e da sua companheira Jeanne-Claude, que pela primeira vez uniram a aldeia de Sulzanno a Monte Isola e a Isola de San Paolo, um pequeno pedaço de terra nunca alcançado sem esta plataforma flutuante. Contabilizaram-se então mais de 1,2 milhões de visitantes. Hoje, ainda podemos ver um memorial celebrando o momento.

    Passear pela ilha é bastante relaxante, mas há locais que não se devem perder: Borgo di Siviano,Borgo di Novale, Borgo di Peschiera Maraglio, Museo della Rete, Rocca Martinengo e Santuário della Madonna della Ceríola, no topo do monte.

    Depois de umas horas em Monte Isola, tivemos de regressar no barco que nos devolveu a Sulzano, e daí fomos obrigados a apanhar um carro e seguir para o aeroporto, de regresso a casa.

    Foram, passe o lugar comum, apenas três dias de viagem, mas que souberam a sete num deslumbrante cenário alpino entre Itália e Suíça.

    Para quem começar o ano com uma viagem desta qualidade, em pleno Inverno, já só desejará uma próxima. Prepare-se.

    Dicas da viagem para uma viagem no Inverno:

    Em Novembro, comprar voos Ryanair: Lisboa – Bergamo – Lisboa

    Estadia: Hotel B&B Alveare Sul Lago (2 noites)

    Alugar carro: Rentalcars (procurar com aluguer rodas de neve gratuito ou incluído)

    Bernina Express: Viagem de Ida e Volta a 65 euros por pessoa

    Mochila: dois pares de calças; roupa interior e extra de neve (camisola, calças e meias); cachecol, gorro e luvas; camisolas.

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  • A caminho do Árctico: dia 6, Tromsø e Helsínquia

    A caminho do Árctico: dia 6, Tromsø e Helsínquia

    O dia começou ainda em Tromsø , cidade também remota da Noruega. Mas a expectativa do dia, e do final desta aventura, era Helsínquia – a minha primeira visita à Finlândia. Venham comigo nesta última etapa desta viagem memorável.


    8 horas da manhã. Já estava tudo preparado para a última etapa da viagem. Antes de ir para o aeroporto, passeie pela última vez pela pequena Tromsø , aproveitando o dia de sol.

    As lojas começavam a abrir. Os funcionários das lojas acenavam-nos dando os bons dias. Uma cidade pacata e com pouca gente. Passei pela catedral que continuava fechada. Só abre no Domingo para a celebração da missa. É bonita e é, talvez, o edifício mais alto de Tromsø .

    Dali apanhei o autocarro 42 que me levaria ao aeroporto. O aeroporto também é pequeno e as portas do Terminal ainda não tinham sido abertas. Aguardei um pouco até podermos entrar.

    Procurei uma loja de lembranças para comprar o meu íman de frigorífico – compra habitual quando visito um lugar pela primeira vez -, mas o aeroporto não tem. Apenas se encontravam à venda produtos tax free, bebidas, chocolates, produtos de beleza e pouco mais. Teria de ficar para uma próxima visita, pois desta segui sem íman.

    No avião, que seguia diretamente para Helsínquia, aproveitava para terminar a leitura do meu livro, quando surgiu uma zona de turbulência. Com as milhas que tenho em carteira, já apanhei muitas zonas de turbulência, mas nunca como esta. É uma nuvem do Árctico, disse o comandante! “Mantenham os cintos apertados”.

    Comecei a ficar com náuseas e muito calor, liguei o ar e olhei para o relógio, sem olhar à minha volta pois é essa a melhor forma de controlarmos a ansiedade, não sendo influenciada por pessoas assustadas. Contei oito minutos e tudo ficou mais calmo.

    Aterramos em Helsínquia, saímos e fui direta ao check-in para adiantar o meu voo de regresso a Lisboa, antes de sair para o centro da cidade. Tinha quatro horas para ver o máximo possível. Quando terminei o check-in recebi um voucher da Finnair para gastar nos restaurantes do aeroporto. Achei estranho, mas simpático.

    Quando olhei para o ecrã, com as portas de embarque vi que o voo estava atrasado: “informação sobre horário apenas às 20h00”. Mas que boa notícia! As quatro horas passaram a sete horas e assim poderia cumprir o programa inicialmente preparado. Tudo estava a correr bem!

    Comprei o bilhete de comboio que em 30 minutos me deixaria na Estação Central de Helsínquia. Dali iria visitar os principais pontos de interesse da cidade.

    Na estação, procurei cacifos para poder deixar a mochila e o casaco de Inverno, mas não encontrei. Decidi propor a um comerciante chinês , se me deixava pousar a mochila e o casaco por seis horas em troca de cinco euros. Aceitou!

    Segui feliz e contente em direção à Catedral de Helsínquia, luterana, conhecida como a Igreja de São Nicolau. Entrando na Catedral, notei a simplicidade decorativa das igrejas luteranas. Apenas o seu belíssimo órgão de tubos, um lustre no centro e um quadro alusivo à Paixão e Morte de Jesus.

    Descendo a escadaria íngreme da Catedral, cheguei à Câmara Municipal de Helsínquia, um bonito edifício com muitas flores a adornar o exterior. Atravessei e vi o Mar Báltico. No lado direito, o mercado municipal, como em várias cidades da Europa, renovado para ser um centro de restaurantes e algumas lojas gourmet. Ali sentei-me e pedi um Cappuccino. Fiquei a observar os finlandeses. Têm um estilo arrojado e, especialmente, as mulheres são muito produzidas: saltos altos, muita maquilhagem e roupa de Verão nuns 16 graus que pareciam mais frios que em Svalbard. “É do vento que chega do Báltico”, disseram-me, quando referi que estava frio.

    Seguindo junto ao mar, contornei a estrada para visitar a Igreja Ortodoxa e dar uma volta na Roda Gigante de Helsínquia, um divertimento que nos proporciona as melhores vistas da cidade. Mesmo por baixo e junto ao mar, vi a Alla Sea Pool. Inaugurada em Setembro de 2016, o complexo está equipado com três piscinas construídas sobre o mar: uma piscina infantil, uma de água morna e uma de água salgada. Se visitarem Helsínquia no Verão, recomendo que aproveitem uma tarde nesta espécie de clube balnear, em cima do Mar Báltico.

    Continuando a minha visita pela capital finlandesa, atravessei o Parque Esplanadi e, do lado direito, além de bonitos hotéis e restaurantes, existe uma galeria comercial que chamou a minha atenção, com as suas muitas flores e montras atrativas. É a galeria comercial Kampi. Para os que gostam de fazer compras, sugiro a visita (já perceberam que sou das que não compra nada pois, ou viajo ou compro coisas. E, como é óbvio, vejo maior riqueza e dinheiro bem gasto, nas viagens).

    As ruas são bonitas, edifícios antigos e modernos vivem em perfeita harmonia, os elétricos de várias cores também mostram o seu charme. Segui para visitar o Parlamento, um edifício impressionante, como quase todos os edifícios parlamentares europeus.

    Fiz uma pausa para almoço. Gosto da esplanada do Storyville e só lá estavam clientes locais. É o meu género de restaurante, nada turístico e com serviço rápido. A conta vem em euros e senti-me mais perto de casa.

    Ainda no centro da cidade, procurei a Capela Kampi, também conhecida como a capela do silêncio. Como não tinha visto imagens, fiquei surpreendida quando vi o edifício. É uma obra de arte, uma capela redonda, cor de laranja e bem no centro da confusão de Helsínquia. É um convite à paragem, desaceleração e silêncio na rotina atarefada e sem tempo.

    Gostei muito desta capela, não apenas pela originalidade, mas pelo apelo a receber todos os que procurem recolhimento e, de certa forma, algum reconforto no seu dia. Um portal para a espiritualidade.


    Olhei para o meu roteiro, já só faltava a visita ao Teatro Opera e lá fui eu, antes de regressar à Estação Central que me levaria de volta ao aeroporto e a casa.

    Helsínquia, a capital escandinava que me faltava conhecer e uma muito boa surpresa. Por um lado, os seus traços evidentes de capital do Norte da Europa, por outro, um pouco de São Petersburgo pela proximidade.

    As pessoas são menos disponíveis, andam com muita pressa e sem tempo a perder ou, a ganhar, digo eu.

    Esta cidade é um ponto de partida para quem se aventurar numa visita pelas capitais do Báltico, que será uma viagem que farei um dia destes.

    Agora, era tempo de regressar a casa, abraçar a família e retomar as rotinas diárias que tanto gosto, encontrando sempre tempo para fugir delas e conhecer novos lugares, mesmo e, principalmente os que ficam perto de casa. Aventurem-se também!

    Até breve!

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  • A caminho do Árctico: dia 5, Longyearbyen e (inesperadamente) Tromsø

    A caminho do Árctico: dia 5, Longyearbyen e (inesperadamente) Tromsø

    Penúltimo dia desta viagem em que realizei o sonho de visitar o Árctico. O dia contou com uma surpresa: conhecer Tromsø.


    Últimas horas em Longyearbyen. A cidade principal de Svalbard tem cerca de 2.000 habitantes, quase todos os habitantes das ilhas. É a sede do Governador das Ilhas Svalbard, sendo assim sede administrativa de todo o arquipélago.

    Ali encontramos os serviços necessários como, aeroporto internacional, hospital, escola e universidade, assim como várias ofertas de alojamento, desde hotéis, Guest Houses e até campismo. Há algumas lojas, restaurantes e três museus. Uma capital, sem dúvida nenhuma!

    Depois de um retemperante pequeno-almoço, de preparar a mochila e fazer o check-out, segui o conselho do Jérémie e levei tudo comigo na descida de bicicleta. Fui pousando a minha bagagem nos cacifos dos museus e assim, na hora de entregar a bicicleta, evitava a subida de 40 metros até à Guest House 102, o último edifício, mesmo junto à base da montanha.

    Na descida, e mesmo sendo manhã, consegue-se apreciar o silêncio, ouvindo apenas o vento com a aceleração da descida. Passei no Husset, o restaurante e Adega mais setentrional do mundo. A lendária adega criada nos anos 90, tem mais de 15.000 garrafas, uma das mais bem abastecidas da Europa.

    Antigamente, era o ponto de encontro de todas as pessoas, desde o Governador aos mineiros e suas famílias. Um lugar de todos e para todos. Hoje, é um dos restaurantes mais sofisticados de Svalbard.

    Continuando a descida, a igreja, um dos edifícios icónicos da cidade, estava em obras pelo que não ficou grande fotografia.

    Chegada ao fim da rua, para a esquerda é o caminho para o aeroporto, que passa pelo porto, de onde saem os barcos e é também o caminho para o Cofre Global de Sementes. Mas virei à direita: a minha paragem era o Museu da Expedição ao Pólo Norte.

    O Museu mostra-nos as histórias das várias expedições ao Pólo Norte, especialmente com dirigíveis, mas também com skis, trenós puxados por cães e barcos. O edifício tem dois andares e tem expostos documentos antigos, jornais, fotografias, filmes originais de expedições, artefactos históricos, cartas e até o barco que seguia no primeiro dirigível, caso caíssem e precisassem sair por água.

    A exposição demonstra o esforço dos exploradores para alcançar o Pólo Norte e os misteriosos horizontes congelados, movidos pela curiosidade, ambições pessoais e pesquisa científica.

    Terminando a visita, que me fez sonhar com uma expedição ao Pólo Norte, continuei na minha bicicleta para o Museu de Svalbard.

    O Museu Árctico da Noruega, mais a Norte, recebeu o Prémio de Museu do Conselho da Europa, em 2008, competindo com 59 museus em toda a Europa. Está muito bem conseguido. Apresenta-nos fragmentos de 400 anos de Svalbard, descrevendo factores que ajudam a sustentar a vida e as atividades que acontecem neste lugar remoto, e revelando a estreita relação entre o mar, a terra, a natureza e a história cultural.

    Terminando estas duas visitas, devolvi a bicicleta ao posto de turismo. Ainda faltavam 3h30 para o meu voo então decidi fazer o caminho a pé, em vez de esperar pelo autocarro. Uma caminhada de 1h15 minutos que me apeteceu, pois passaria o resto do dia entre aviões até chegar a Helsínquia, onde passaria esta última noite.

    O voo atrasou e cheguei a Tromsø atrasada para o voo que me levaria a Oslo e depois a Helsínquia. Não consegui nenhuma ligação que me permitisse chegar a Oslo, a tempo do último voo para Helsínquia. A melhor opção era ficar em Tromsø e, na manhã seguinte, apanhar um voo direto para Helsínquia. Assim foi. Marquei um hotel central em Tromsø e fui aproveitar os imprevistos da vida e passear pela capital das luzes do Norte.

    Chegada ao hotel, pedi um mapa com os principais pontos de interesse da cidade e comecei a visita. A minha primeira paragem era a Biblioteca de Tromsø, num edifício moderno com uma sala de conferências e uma cafetaria muito simpática. Entrei e visitei a Biblioteca. Aprecio muito especialmente ver a organização, sentir o cheiro único dos livros. Tomei um chocolate quente na cafetaria onde uma música de fundo relaxante, conseguia-se ouvir.

    Segui para o porto da cidade, passando pelas ruas comerciais principais, com lojas com muito bom gosto. As ruas são sinuosas. A cidade lembra-me, por um lado, Bergen e, por outro, São Francisco. Uma boa mistura. No porto, estão alguns restaurantes e outro museu do Pólo Norte. Uma mistura do melhor dos dois mundos: as casas antigas nórdicas que são lindas, e a bonita e moderna arquitetura norueguesa.

    Tromsø é conhecida por ser a porta para o Árctico. As ligações passam todas por ali, seja de barco ou avião. Mas a cidade está deserta. Já estamos em Setembro, poucas pessoas estão de férias e, por outro lado, ainda faltam cerca de dois meses para a atração rainha de Tromsø: as auroras boreais.

    A caminho do hotel, fiz uma paragem para jantar no Bistrô Bardus. O menu tem influência dos ingredientes e história culinária do norte da Europa. As renas, alces, caranguejos, peixes frescos e baleias fazem parte dos originais ingredientes que encontramos nos pratos deste bistrô, que recomendo.

    Foi um dia diferente do esperado, mas que acabou por ser bem aproveitado e incluiu Tromsø no roteiro da minha viagem.

    Por vezes, as viagens são assim: inesperadas, mas também no inesperado, na maior parte das vezes, surgem oportunidades. Só as temos de agarrar e ver o lado positivo. Amanhã, estarei em Helsínquia!

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  • A caminho do Árctico: dia 4, a bordo do PolarGirl

    A caminho do Árctico: dia 4, a bordo do PolarGirl

    Neste “Diário de Bordo”, o quarto dia fica registado como o dia em que atravessei o Árctico a bordo do PolarGirl. Depois da euforia do dia anterior, chegou a altura de dar um passeio calmo e relaxante pelas paisagens geladas, rumo a Barentsburg, pelos fiordes, glaciares e icebergues.


    A manhã na Guest House era sempre divertida e uma oportunidade para trocar experiências, despedirmo-nos dos viajantes que partem e para preparar o novo dia.

    Neste dia, o Peter iria embora. Falei-lhe dos ursos e desejei-lhe um bom regresso a casa. “Casa… Nunca volto a casa”, retorquiu ele. Pensei que era bom lema de vida. Percorrer o mundo sem parar. Confesso que estou muito longe deste desapego. Adoro sair, ver, explorar, desafiar limites e descobrir, mas também é indescritivelmente bom o regresso a casa. (Mas, Peter, tomei nota. Não é nada má a possibilidade. No seu caso, do calor do México, veio parar ao Ártico.)

    Marcha, a simpática russa que me veio buscar para a tour, espalhou calor e a hospitalidade russa (e levou-me a recordar os dias fantásticos que passei na Rússia em 2016).

    Chegámos ao barco. Foram dadas as instruções de segurança e cada um escolheu o seu lugar. Escolhi o meu no bar, à janela, onde me sentia na primeira fila do concerto dos Coldplay.

    Entre o fiorde Isfjoren, o glaciar Esmark e icebergues, seguíamos para o nosso destino de visita a Barentsburg. Aqui, a vida selvagem também é muito abundante. Avistam-se focas, morsas, e até um urso polar.

    Durante a viagem serviram um almoço muito saboroso. Perguntei a Marcha que carne saborosa era aquela. “É baleia. Não dizemos, pois as pessoas antes de comerem acham estranho mas depois de experimentarem adoram”, disse ela. Confirmo e aprovo.

    Durante a viagem, tive a oportunidade de conhecer Jon “small Svalvard”, que foi o amigo de Matt que o avisou do local onde estavam os ursos, na véspera.

    Era muito simpático e conhecedor da vida animal, em especial do Rei do Ártico. Falou de Elsa, a ursa que avistei com os filhos, e que tinha um irmão, Frozie, um urso que foi abatido após ter invadido a tenda de um alemão. A história não acabou bem, nem para o alemão, nem para Frozie, que acabou por cair morto a poucos metros do aeroporto.

    Jon contou que, por vezes, as pessoas arriscam, fazem churrascos e dormem em tendas. Um urso cheira um churrasco a quilómetros de distância. Explicou também como funcionam os ursos quando nascem: a mãe foge com eles e protege-os até chegarem à idade adulta. Assim que pode, separa-os para não correrem o risco de se matarem e, mais ainda se outro macho se aproxima, pois, matará as crias para poder engravidar a ursa e deixar os seus genes nas novas crias.

    Enfim, um admirável mundo novo, a vida dos ursos e a sua capacidade de adaptação ao degelo e ao desaparecimento do seu habitat, como o conheciam. “Eles sobreviverão sempre”, disse Jon, falando sobre a extinção da espécie do urso polar.

    Chegámos a Barentsburg, a segunda maior cidade de Svalbard, onde russos e ucranianos vivem em paz e tranquilos, exercendo as suas diversas profissões.

    A nossa guia, Iryna, de Moscovo, a viver na cidade desde 2017, contou como é viver numa cidade que pode ser percorrida a pé numa manhã. Mas também explicou como os mineiros, desde o momento que entram na mina até que chegam ao local de mineração, perdem o mesmo tempo de viagem que um morador na gigantesca Moscovo.

    Iryna falou-nos da vida na cidade e mostrou-nos os lugares de destaque, desde o anfiteatro de cinema, cujo filme é a paisagem do Ártico, passando pela casa onde mora, a antiga casa do governador e a única com varanda, os correios, o restaurante bar, o hotel, a fábrica de artesanato e as casas mais antigas. Vimos os poucos sinais que restam do comunismo e duas cabeças de Lenine.

    Aproximámo-nos da Estação de Pesquisa Russa, a zona mais interessante, para mim. Parecia que estávamos num filme de James Bond e que, a qualquer momento, teríamos de fugir dali. Mas verdade é que os cientistas com quem me cruzo param para dizer olá. Eram simpáticos. A envolvente visual poderia ser a Lua, não estivessem ali veados a pastar. “Aqui são como vacas nos Alpes”, disse Iryna.

    Regressámos ao Polar Charter a caminho da capital e dois chineses, a residirem no Canadá, juntaram-se à viagem e decidem mostrar o vídeo de um urso gigante que encontraram a pé. “Que medo”, pensei eu. “Estávamos armados, mas sentimos medo. Acho que o urso também. Além de bem alimentado, são espertos já sabem que se estamos ali temos armas. Entrou no mar e seguiu a sua vida e nós também”, explicaram. O vídeo era impressionante!

    Chegámos a Longyearbyen. Era tempo de ir buscar a minha bicicleta e ir jantar ao Mary Ann’s Polarrigg, um hotel com restaurante muito exótico e local e mais original.

    Ali repeti o “trio árctico”, que inclui baleia, foca e rena, o bacalhau fresco selvagem e, de sobremesa, o crumble do dia de frutos vermelhos e para acompanhar um Riesling alemão.

    Findo o jantar, ganhei coragem para voltar de bicicleta para casa e apreciar a minha última noite branca em Svalbard.

    Cheguei à Guest House onde encontro Jérémie, o francês que nos chamou para ver a raposa do Árctico, e falámos sobre as histórias dos ursos… Jérémie, que estava a pensar ir até à cidade ver uns amigos, assumiu estar a ficar com medo. Ao lado faziam um churrasco e até parecia que estava a escurecer. Uma galhofa e só falávamos dos pesadelos que íamos ter com os ursos a entrar pelo dormitório.

    O serão chegou ao fim e, olhando pela janela, vejo a raposa do Árctico. Terá vindo despedir-se? Vou acreditar que sim. A nossa vida é um sonho e podemos acreditar no que quisermos.

    Raquel Rodrigues é gestora, viajante e criadora da página R.R. Around the World no Facebook e no Instagram.

  • A caminho do Árctico: dia 3, entre glaciares, montanhas e vida

    A caminho do Árctico: dia 3, entre glaciares, montanhas e vida

    Prestes a realizar um dos meus sonhos, de ver ursos polares no seu habitat natural, passei o dia a caminhar no meio de paisagens deslumbrantes. O frio não esmoreceu a minha vontade de ainda ir “espreitar” o cofre global de sementes. Nem de realizar o meu sonho (mais ao final do dia).


    Glaciares e montanhas. Era o que me esperava na caminhada de seis horas programada para o início do meu terceiro dia de viagem ao Árctico.

    Acordei sem despertador. Na sala do pequeno-almoço só se falava dos ursos avistados no caminho para Pyramiden, um povoado soviético abandonado junto a uma mina de carvão, tornado atração turística. Optei por não fazer essa tour, pela falta de tempo e por ser a mais turística. Por momentos, passou-me no pensamento que talvez me pudesse arrepender de não ter ido. Mas recentrei os pensamentos. Acreditava que os guias iriam dar o seu melhor para conseguirmos avistar o rei do Árctico.

    Às 9h30, os guias apanharam-me para caminhada de Sarkofagen, entre montanhas e glaciares. Eram o Frederik e o Pete, um sueco e um geólogo norueguês que está em Svalbard a estagiar. Recolhemos entretanto outros montanhistas, incluindo Roman, um lituano que está a visitar Svalbard e que depois permanece por mais duas semanas pelo norte da ilha, passando pela Islândia e Gronelândia. Sobram os dois casais sexagenários, que me fizeram recordar que é possível envelhecer em forma e saudável.

    Depois de nos mostrarem no mapa o trajeto que iríamos fazer, seguimos para o local de início da subida da montanha, que fica mesmo por detrás da Guest House. Adormecia e acordava a olhar para ela.

    Começámos a subida por um trilho com pedras muito grandes e caminhámos uns 30 metros, até termos a primeira grande subida. Olhando para trás, víamos a cidade cada vez mais longe e uma vista deslumbrante.

    As montanhas pareciam ter rostos de guardiões. Durante mais 2h30, subimos até ao miradouro, com neve e muitos pássaros. Fizemos pausa para almoço e Frederik ofereceu um chá com xarope de morango, muito doce e muito aconchegante. Estava um frio de rachar lá em cima – zero graus – e esta bebida soube muito bem, acompanhada por umas bolachas suecas também oferecidas pelo guia.

    (Pensei que era engraçado, que quando estamos longe de casa procuramos os sabores que nos confortam. Comemos o pacote todo.)

    Começou a descida até ao glaciar e, quando chegámos, colocámos a proteção nas botas para descermos o glaciar a pé. É uma sensação boa. Vamos vendo as cavernas de gelo. Frederik reconhece algumas onde já dormiu no Inverno.

    Quando chegámos a terra firme, começámos a procurar fósseis, o que tornou a tour ainda mais interessante pois, nunca tinha visto fósseis na mão e ainda podemos levar para casa.

    Conversando com Frederik, perguntei-lhe se achava boa ideia eu ir buscar uma bicicleta ao posto de turismo – que as emprestam gratuitamente por três dias – e ir até ao cofre global de sementes. Esta maravilha, que contempla todas as sementes do mundo inteiro plantadas pelo homem, encontra-se fora da zona de segurança, mas não tenho tempo de fazer a tour que leva os viajantes até a esta Arca de Noé da actualidade. Disse-me para ir e que, durante o dia, com os carros e o barulho das obras da estrada, os ursos não se aproximam.

    No final da tour, deixaram-me no posto de turismo para ir buscar a bicicleta e comecei a minha nova aventura, a pedalar como se não houvesse amanhã (nem ursos polares por perto). São 30 minutos até ao cofre global de sementes onde apenas vemos a entrada. Mas é uma experiência que recomendo, pois é a esperança de um recomeço em caso de catástrofe global.

    Quando me aproximei do cofre, tive a sensação de ter viajado para o futuro e de ter encontrado algo deixado por uma civilização que não conheci. Algo de valor. E mesmo que não soubesse do que se trata, perceberia que, lá dentro, está guardado um presente. Mas o que vejo é apenas a entrada.

    Para chegar às sementes, é preciso atravessar um túnel de 120 metros com cinco portas à prova de explosões, atravessando o interior da montanha até chegarmos a três salas com 880.000 sementes de 5.403 espécies vegetais, vindas de todos os lugares do mundo. O cofre fica trancado 350 dias por ano e só é aberto para inspeções ou para receber sementes. Em 2015, aconteceu a primeira e, até hoje, única retirada do cofre. Devastada pela guerra, a Síria tirou 38.000 espécies de sementes do Oriente Médio. Mas os criadores do bunker dizem que foi uma vez sem exemplo, pois este cofre foi construído para não ser usado.

    Regressei à Guest House na “super” bike (sendo que seria ainda mais super se fosse elétrica), numa subida de 30 minutos. Tinha 15 minutos para iniciar o percurso pelo qual tanto ansiava desde que comecei a organizar esta viagem: a possibilidade de ver ursos polares.

    Às 18 horas chegou o capitão do barco, Matt, um sueco, a quem cumprimentei. “Então, Matt, preparado para me mostrar pelo menos um urso polar? Disseram-me que esta é a melhor tour, não espero menos que isso”. Matt, um calmeirão simpático, riu-se: “Ver os ursos é todos querem, mas é muito difícil”.

    Chegámos ao barco. Éramos 12 passageiros. A guia mostrou-nos os mapas e deu duas opções de trajeto. As possibilidades eram: Pyramiden ou aos fiordes. Instantaneamente, indiquei que o destino seria Pyramiden e tentar encontrar os ursos avistados por lá. A guia perguntou-me se eu tinha ouvido algo. É que há três dias que são avistados três ursos: mãe ursa e dois pequenos de dois anos.

    Começámos a viagem. Não havia vento. O mar estava calmo. Começámos a ver golfinhos, depois baleias pequenas e ainda baleias maiores. No barco, respirava-se alegria e estava uma energia incrível.

    Senti que estava tudo a acontecer como preparativo para a aparição do Rei do Ártico. Sabia que iria ver os ursos. Sei que é estranho, mas sempre soube.

    Pedi os binóculos. Vi um barco mais pequeno junto às rochas. Era um bom sinal. Aproximámo-nos e vi algo bege nas rochas: eram três ursos. Que emoção! Estava a vê-los como sonhei, no seu habitat natural. Olhei à volta e estavam todos em êxtase.

    Vi um dos passageiros indianos ao telefone, com os olhos a brilhar. Desligou o telefone. Perguntei se estava telefonar a alguém importante. “Sim, liguei à minha mãe”, disse ele. “Estava a dormir. Na Índia, é muito tarde mas era com ela que gostava de partilhar o momento”, explicou. Fiquei emocionada a pensar que, talvez um dia, o meu filho também me ligue de um lugar qualquer do mundo, a partilhar essa maravilha que está a ver.

    Matt abriu uma garrafa de champanhe. Aplaudimos todos o seu excelente trabalho e ficámos a degustar uma maravilhosa sopa goulash, um pão delicioso e, de sobremesa, um brownie óptimo. Tudo tão simples, mas parecia o melhor de sempre.

    (Mais um sonho tornado realidade. Obrigada, Universo, por permitires que eu viva estes momentos. É o que se levamos desta vida, o que vivemos. Tudo mais fica cá.)

    Regressámos a Longyearbyen – a capital do arquipélago de Svalbard – com uma escolta de golfinhos a surfarem as ondas do barco. Um dia em cheio. Vivenciei muito mais do que podia sonhar.

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  • A caminho do Árctico: dia 2, em Svalbard, a cidade do fim do Mundo

    A caminho do Árctico: dia 2, em Svalbard, a cidade do fim do Mundo

    A paisagem é bela, como esperava. Parece que estamos em outro planeta. A chegada ao Árctico emocionou-me. E este segundo dia da viagem, que me levou a um dos meus destinos de sonho, terminou com um avistamento inesperado.


    Duas horas de voo separam Oslo e Tromsø – a capital das Auroras Boreais. O meu voo partia muito cedo e encontrei um aeroporto com um pouco mais de movimento do que no dia em que aterrei na capital norueguesa – Oslo – vinda de Lisboa. Uma distração minha na ida para a porta de embarque, “desviou-me” para uma loja de brinquedos e recordações. A compra de última hora de um urso polar ‘Papá’ para o meu filho quase me custou o voo. Ainda consegui embarcar – depois de ouvir a última chamada para os passageiros atrasados para o embarque.

    Nesta altura do ano nunca fica escuro em Tromsø. Ao sair do avião temos de para mostrar o passaporte. (Para entrar na Noruega o cartão de cidadão é suficiente mas para entrar em Svalbard é preciso ter o passaporte com a habitual validade de seis meses). Pedi ao agente se era possível juntar um carimbo à coleção que já tenho no passaporte. Riu-se: “vou ver o que posso fazer desde que não o venda”.

    Embarquei então para mais duas horas de voo para o meu destino final. Quando o comandante anunciou a descida para a aterragem, olhei pela janela e vi Árctico e Svalbard. Não contive uma lágrima perante a beleza da paisagem dramática do Árctico. Senti que tinha chegado a outro planeta.

    Svalbard, é a cidade do “fim do Mundo”. Depois daqui, não há mais nada a não ser glaciares e gelo. Aqui acaba a civilização (e é também onde talvez um dia possa recomeçar, mas sobre isto falarei no dia em que visitarei o Banco de Sementes Global).

    Na chegada ao aeroporto, somos “recebidos” por um “urso polar”, o símbolo do Árctico (o que considerei ser um sinal auspicioso para o meu sonho maior de ver ursos polares no seu habitat – irei precisar de muita sorte para que aconteça).

    Um autocarro leva os passageiros ao centro onde estão os alojamentos. Na minha Guest House (número 102), o dormitório é compartilhado por quatro pessoas. A minha única experiência do género foi, por engano, no Vietname, onde éramos 12. Não é o ideal, mas é a opção mais económica para quem viaja sozinho. As pessoas que optam por este tipo de estadia são muito simpáticas, civilizadas, e de todas as idades. Conheci o Peter, um sexagenário holandês, o Mike, um americano na casa dos trinta, e a Martha, de Israel, que é um pouco mais velha do que eu.

    Depois de me acomodar, era só aguardar pelo guia que me iria levar na primeira tour. Na sala de espera, havia café, chá e chocolate à discrição. Do lado de fora das janelas, o que se vê é uma paisagem bonita: montanhas e, na base, casas de madeira coloridas.

    Chegou o Nick, um holandês a viver em Svalbard há pouco mais de três anos. Seria o guia da tour de trenó puxado por cães. Comigo iriam também um casal holandês e os seus dois filhos e um casal de americanos que visitam Svalbard pela terceira vez. (Fiquei feliz por não ser a única a repetir viagens para os lugares de que gosto).

    O grupo participou na colocação dos cães no trenó, que pareciam estar contentes. Aparentemente, gostam do passeio (sabem que vão ter três paragens para comida e bebida).

    A paisagem é surrealista e as cores de outro mundo. Com o Ártico a perder de vista, senti a energia especial do Grande Norte.

    Depois de uma hora ao longo da costa, entre deserto e lagoas, fomos conhecer o complexo onde vivem os cães. É grande e cuidado. Todos os cães têm nome e estão sempre prontos para os passeios. Há um abrigo de madeira, uma pequena casa muito quentinha, onde comemos waffles acompanhado por um chocolate quente. Tudo o que precisava para me ajudar a habituar aos três graus de temperatura.

    A conversa debruçou-se sobre a vida em Svalbard, sobretudo no Inverno, a altura mais difícil, pois é noite 24 horas por dia, durante seis meses. Os guias dormem metade do tempo na cidade, metade no complexo dos cães. Há também duas famílias com crianças e o complexo tem um parque infantil. Mas não têm água para banhos. Têm uma parceria com um ginásio onde tomam banho. (Imagino os Invernos e a preguiça de saírem de casa para ir tomar banho).

    Vivem em Svalbard pessoas de 64 nacionalidades, por isso, parece de todos e de ninguém. Talvez seja um dos encantos para quem escolhe viver neste lugar remoto.

    De regresso aos alojamentos, optei por jantar uns noodles na Guest House. Liguei ao meu filho e mostrei-lhe o vídeo do passeio de trenó: “mamã, também quero andar com os cães”.

    Um hóspede correu até à sala e perguntou: “queres ver uma raposa do Árctico?”. Da janela do seu quarto avistava-se o animal, que já tinha mudado o pelo para o Inverno. Descia a montanha curioso.

    O tempo voo e era altura de repor as energias. Esperava-me um longo dia com muita aventura e alguns desafios.

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  • A caminho do Árctico: dia 1, em Oslo

    A caminho do Árctico: dia 1, em Oslo

    Prestes a conhecer um dos meus destinos de sonho, partilho, neste ‘Diário de Bordo’, os passos de uma viagem até ao Árctico. A primeira paragem é Oslo, onde a temperatura amena, de 23 graus, convida a um passeio de bicicleta pela capital norueguesa.


    É a verdadeira realização de um sonho. De mochila às costas, parto para uma viagem para o Árctico. As expetativas são muitas. O entusiasmo também.

    Desta vez, viajo sozinha. Como sempre faço, também esta viagem foi planeada por mim, ao pormenor, num itinerário que começa em Lisboa e que tem como primeira paragem Oslo, capital da Noruega e estrela das minhas primeiras linhas escritas neste Diário de Bordo, para o PÁGINA UM. É o começo de uma viagem de seis dias, que terminará em Helsínquia, na Finlândia.

    Assim que cheguei ao aeroporto Oslo Gardermoen, senti que tinha acabado de fazer uma viagem no tempo, para uma cidade no futuro.  A capital da Noruega é uma cidade moderna, famosa pela sua arquitetura. A maior cidade do país – sendo seguida por Bergen -, Oslo é uma cidade que nos fascina.

    Tudo funciona bem: o comboio, o metro, o elétrico, os autocarros. Os noruegueses são simpáticos e prestáveis. Respiro civilização.  

    Já no comboio, não consigo deixar de notar, o que há muito já sabia. Não há uma máscara, não há restrições covid. O tema não é assunto (e nunca assumiu, nem de longe nem de perto, as gigantescas proporções que assumiu em Portugal). Em todo o dia, apenas vi uma família de máscara (e quando começaram a falar, eram portugueses) e, no final do dia, vi um grupo de chineses, também de máscara. (Fiquei a pensar o que teremos em comum com os chineses! Nem franceses, nem espanhóis, nem italianos! Portugueses e Asiáticos de máscara. Porque será?)

    Saí do comboio na Estação do Teatro Nacional, onde aluguei um espaço no interior de um restaurante, para deixar a mochila e o meu casaco de Inverno. Dali, segui para o Porto e vi o bairro de Aker Brygge e os Fiordes de Oslo. Segui numa caminhada de 20 minutos até ao ponto de partida para a minha ‘Oslo Viking Biking’, que prometia passar pelos principais pontos da cidade que já tinha visitado na minha primeira visita à Noruega. É uma forma diferente de revisitar estes lugares. 

    Habitualmente, reservo tudo mas, como não tinha certeza se o avião chegaria a tempo a Oslo, optei por não reservar e, se tivesse tempo, arriscaria o passeio de bicicleta. Arrisquei e, quando cheguei, a tour estava completa; Mas devo ter feito uma cara de desiludida porque o rapaz disse para aguardar: “às vezes falta alguém e, se assim for podes vir”.

    Passaram 10 minutos do horário e faltavam duas pessoas. Fui ao escritório pagar e, quando saiu o talão do terminal de pagamentos, chegaram as duas pessoas. Fui literalmente salva pelo “Multibanco”, porque, depois de ter pago, deixaram-me seguir com um dos grupos. Tive muita sorte! 

    Rebeca era nossa líder da tour. Não deve ter mais de 30 anos, é consultora legal e aos sábados tem este part-time. “É uma forma de fazer exercício, ganhar mais algum dinheiro e conhecer pessoas”. Lembrei-me de uma época em que trabalhava a tempo inteiro e tive também um part-time ao sábado mas, em Portugal, é muito raro. Há uma cultura em que parece que as pessoas têm vergonha de trabalhar em áreas fora das suas habilitações académicas. Há uma preocupação com as aparências e, muitas vezes, um ciclo vicioso que não nos deixa viver em pleno e sermos nós próprios. 

    A Noruega é um país muito rico: o seu Produto Interno Bruto per capita é duas vezes o do Japão e duas vezes o de França. Mas, ao mesmo tempo, no essencial, os noruegueses são pessoas simples e levam muito a sério o lema “ninguém é melhor do que ninguém”. Ao nível dos costumes, ao contrário de alguns países, aqui as pessoas não se diferenciam pela maneira como se vestem. A Noruega é também um país que lidera em termos de igualdade de género, entre homens e mulheres. 

    Começamos a tour pela fortaleza e castelo, onde ficam o Ministério da Defesa e o Museu da Defesa. Muitos casais casam e também a tradição do casamento é muito diferente da Europa do Sul. As noivas vestem-se a rigor, os convidados vestem os trajes tradicionais da Noruega (que são lindos) e, ao contrário de Portugal, os convidados são apenas os pais, padrinhos, família próxima e seis amigos de cada lado. O casamento é um momento caloroso e desmistifica a ideia que os nórdicos são frios. 

    Da fortaleza, seguimos para o Palácio Real, passeamos pelos seus jardins e, no caminho, passámos pelo Grand Hotel de Oslo, o Teatro Nacional e o centro histórico.

    Visitar a Noruega no Verão é maravilhoso. Além de encontrarmos dias solarengos e bonitos, vemos todos os jardins em flor, o que faz com que a cidade tenha ainda mais encanto. Nada de flores secas, nem de um calor abrasador, apenas o habitual Verão norueguês, com 23 graus. 

    A paragem seguinte foi o Parque Vigeland, onde encontramos o maior museu aberto de esculturas do artista norueguês Gustav Vigeland, As suas esculturas mostram os vários momentos da vida e, em particular, da paternidade (talvez em jeito autobiográfico, digo eu).

    Tive ainda tempo de provar um gelado norueguês com brownies e caramelo para retemperar energias. 
    O café do parque também é muito bonito, com uma grande esplanada, e um ponto de encontro de famílias e amigos neste lugar único no mundo. 

    O regresso ao ponto de partida levou-nos pelas zonas nobres residenciais, com os seus bistros e cafés, e por Aker Brygge.

    Segui depois a pé até à Ópera e ao Museu Munch, e confirmei que os nórdicos aproveitam qualquer local junto à água para fazer praia. Há ali também plataformas e barcos, que grupos de amigos alugam, com bebidas, e de onde dão mergulhos para o mar.

    Fui procurar o terminal de autocarros, para apanhar o 34, para me levar até Damstredet, uma zona pitoresca, onde ainda se podem ver as típicas e antigas casas norueguesas. 


    Não foi fácil encontrar a paragem. Já sentada no autocarro, fechei os olhos. O motorista árabe ouvia as orações. Naqueles instantes, senti-me a ser transportada para a Turquia ou um qualquer país muçulmano.

    Cheguei à minha paragem e segui em direção a Damstredet, que corresponde às expectativas. Casas coloridas muito bonitas, numa zona tranquila de Oslo, com espaços verdes e um cemitério que entra para o top dos cemitérios mais bonitos que visitei (não estava no programa, mas deixo sempre espaço para o inesperado), depois do cemitério americano na Normandia, que considero ser o mais bonito. 

    Voltei a pé para o centro, mas antes parei para um aperol (um aperitivo italiano) na Vulkan, a área hipster de Oslo. Trata-se de uma zona residencial em forma de vulcão, com muitos restaurantes e bares. 


    O caminho até ao Teatro Nacional demorou 30 minutos. Em cena, está “Hamlet”, de Shakespeare, em inglês, com atores noruegueses. 

    Antes, jantei no lindo Café do Teatro. Estava lotado (pensámos todos o mesmo: jantar antes do teatro). Muitos casais, uma mesa de amigas, algumas de amigos mais velhos. Como estava sozinha, jantei ao balcão. Gosto muito da cozinha norueguesa, mas, o melhor de tudo foi ter estes minutos a imaginar como seria a vida daquelas pessoas que, como eu, iam ver “Hamlet” no Teatro Nacional.

    Saindo do teatro, são apenas 2 minutos até onde deixei a mochila – um restaurante de turcos. Os empregados eram os mesmos que encontrei de manhã. Comentei que trabalham muito, ao que me respondeu o dono: “10 ou 12 horas mas se fosse na Turquia seriam 16 horas”. 

    Segui para a estação, onde apanhei o comboio de regresso ao aeroporto junto ao qual se situa o meu hotel. Amanhã, a viagem para o Ártico começa cedo e assim já estou ao lado do aeroporto. 

    Sentada no comboio, doíam-se as pernas e um pouco os ombros e as costas. Um dia, ganharei coragem para revisitar os mesmos locais no longo Inverno, pois, neste Verão que não acaba, tudo parece fácil e certo. 

    O dia termina com uma chamada para o meu filho que, em casa, espera que lhe leve um ursinho polar. Vou dar o meu melhor, que é o mais importante. O “saldo” da viagem, esse já é positivo. Agora, é só viver o momento, guardar as memórias, as imagens, paisagens e os lugares… 

    Raquel Rodrigues é gestora, viajante e criadora da página R.R. Around the World no Facebook e no Instagram.


    Dicas:

    A melhor altura para se viajar para a Noruega é entre Junho a Agosto. Em Junho, podem ver-se as noites brancas (nunca fica de noite). 

    Para quem procura assistir às auroras boreais, terá de viajar em Novembro ou Fevereiro. O ideal é comprar a viagem mais em cima da hora e verificar no site Northern Lights in Norway quando é boa altura para ir. Isto, para aventureiros last minute. A aplicação também tem os melhores lugares para ver as auroras boreais, se bem que Tromsø é a “capital” das “luzes do Norte”.

  • As (minhas) sete Maravilhas do Mundo

    As (minhas) sete Maravilhas do Mundo

    Após mais de uma década de viagens, que incluíram visitas às sete Maravilhas do Mundo, selecionei os destinos que são, para mim, autênticos “tesouros”. É com esta seleção que inicio esta rubrica sobre as minhas viagens, aqui no PÁGINA UM: com uma “espreitadela” às “minhas” sete Maravilhas do Mundo. De seguida, inicio um ciclo de artigos, mais concretamente um Diário de Bordo. O destino? Um dos meus destinos de sonho: Árctico.


    Foram os serões em família, à volta de um globo terrestre, e as conversas sobre as Maravilhas do Mundo, que me levaram a ter sempre estes lugares no pensamento.  

    Falámos em Maravilhas do Mundo e, inevitavelmente, lembrámos Marco Polo e as suas aventuras a caminho do Oriente. Mas não foram estas as maravilhas que despertaram a minha atenção de criança curiosa. Foram os Jardins suspensos da Babilónia. Olhava deslumbrada para o livrinho ilustrado destes lugares e não conseguia imaginar maior beleza.  

    Egipto

    A grande pirâmide do Egipto – mais do que ser uma obra magistral de engenharia – está envolta em todo o mistério relacionado com a sua construção e utilidade.  

    O Colosso de Rodes! Tive alguns pesadelos, imaginando a grande estátua a ganhar vida quando chegava perto dela. Foram muitas as viagens imaginárias que fiz até estes lugares em criança. Quando já adulta, a vontade de viajar me invadiu (sim, as viagens invadem não pedem licença e não conseguimos dizer que não), defini um início, um caminho para as minhas viagens: conhecer as sete maravilhas do Mundo Moderno.  

    Foi em 2009 que comecei a minha epopeia com a visita ao Corcovado, no Rio de Janeiro. É a Maravilha que nos protege, que nos esmaga com o seu símbolo de fé.  

    Em 2010, visitei o Coliseu de Roma, a Maravilha que nos dá um murro no estômago quando visualizamos as arenas, o derramar sangue e o tirar vidas por pura diversão. Em 2012, cheguei a Chichen itzá, a Maravilha que simboliza a força do império Maya, e o seu El Castillo, a perfeição de um calendário.  

    Em 2015, cheguei, pela primeira vez a Petra, a rainha das sete Maravilhas, a cidade Rosa que nos permite viajar no tempo.  

    Petra, Jordânia

    Em 2016, cheguei à Grande Muralha da China. Milhares de quilómetros fazem desta a maior muralha existente neste Mundo. É a Maravilha que simboliza o esforço e o trabalho de tantas pessoas que ergueram esta muralha sem fim. Também em 2016, perdi o fôlego com a beleza do Taj Mahal, na Índia, a Maravilha que simboliza o amor, a beleza e a riqueza. Em 2017, cheguei ao topo de Machu Pichu, um lugar místico do Império Inca, que nos invade com uma paz e tranquilidade sem igual.   

    São sete Maravilhas porque o número sete simboliza a totalidade, a perfeição, a consciência, o sagrado e a espiritualidade, os elementos presentes em todos, e em cada um, destes sete incríveis lugares espalhados pelo Mundo.  

    Findo este projeto, de visitar as sete Maravilhas do Mundo Moderno eleitas, decidi visitar a única maravilha que restava das Maravilhas do Mundo Antigo: a Grande Pirâmide do Egipto, onde cheguei em 2019.  

    Acredito que está longe do seu aspeto deslumbrante de outrora, mas é, sem dúvida, uma maravilha que tem de ser contemplada num percurso completo dos lugares a visitar neste mundo. Egito é um portal de energia sagrada.  

    Jaipur, capital do Rajastão, Índia

    Em 2020, com meio mundo percorrido decidi, compilar as minhas 7 Maravilhas do Mundo, por ordem de deslumbramento:  

    1 – Petra na Jordânia

    2 – Machu Pichu no Peru;  

    3 – Bagan no Myanmar;  

    4 – Rajastão na Índia;  

    5 – As Pirâmides do Egito;  

    6 – Angkor Wat e os templos do Camboja;  

    7 – A Ilha de Kalsoy nas Ilhas Faroé;  

    Hoje, com uns intensivos 10 anos de viajante, continuo a deslumbrar-me com quase tudo o que visito e com as maravilhas que vou conhecendo, ficando sempre grata por cada viagem que concretizo, pois, o importante é ir ver o Mundo, viajar, explorar e descobrir. Regressamos sempre mais ricos do que quando partimos.  

    Para se visitar as 7 Maravilhas do Mundo – ou qualquer outro destino – convém estar-se informado sobre quais as melhores alturas do ano para o fazer.

    Para visitar o Corcovado, a melhor altura é entre Abril e Novembro, enquanto que para se conhecer Petra, é melhor apontar para o período entre Abril e Maio.   

    No caso de Chichén Itzá, deve marcar-se a viagem para o período Dezembro e Março.

    Os meses de Setembro e Outubro são os ideais para se visitar três maravilhas: Machu Pichu, Coliseu de Roma e Taj Mahal. Para conhecer esta terceira maravilha, pode ainda optar pelos meses de Março e Abril.

    Para visitar a Grande Muralha da China, as melhores alturas do ano são entre Março e Maio e entre Setembro e Novembro.

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