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  • #TwitterFiles: Organização Mundial de Saúde alterou informação para permitir censurar o apresentador Tucker Carlson

    #TwitterFiles: Organização Mundial de Saúde alterou informação para permitir censurar o apresentador Tucker Carlson

    A demissão pela Fox News de um dos mais populares e influentes pivots norte-americanos, sobretudo da ala direita, apanhou o público de surpresa. Fervoroso apoiante de Donald Trump, Tucker Carlson apresentava desde 2016 um programa líder de audiências. Um “alvo a abater” pela ala democrata, Carlson esteve particularmente activo nas críticas à gestão da pandemia. Os Twitter Files revelaram entretanto que também ele foi alvo de censura mesmo quando fez referências correctas usando informação da Organização Mundial de Saúde, que as alterou para que as redes sociais lhe colocassem o selo de misinformation.


    Tucker Carlson é o homem do momento nos Estados Unidos. Depois de ter sido demitido pela Fox News – uma semana após a cadeia televisiva de Rupert Murdoch ter estabelecido um acordo de indemnização da ordem dos 787 milhões de dólares à Dominion Voting Systems para suspender um processo por difamação que envolvia acusações de fraude no processo eleitoral –, o apresentador norte-americano fez uma aparição no Twitter, lançando farpas contra aqueles que o querem silenciar. Conseguiu, até agora, mais de 79 milhões de visualizações.

    Mas, ironicamente, o Twitter foi uma das redes sociais que, durante a pandemia, e apesar da popularidade de Carlson junto da ala mais conservadora dos Estados Unidos, o censurou, através de um processo no mínimo rocambolesco.

    Tucker Carlson

    De acordo com mais uma série dos Twitter Files, divulgada na passada quinta-feira pelo jornalista Paul D. Thacker, houve um artigo de opinião de Tucker Carlson que lançou imensa preocupação nos estrategas da gestão da pandemia. Em 23 Junho de 2021, Carlson, que só no Twitter tem quase sete milhões de seguidores, alertava para os riscos da vacinação contra a covid-19 nas crianças.

    Sob um título acutilante – “A vacina contra a covid-19 é perigosa para crianças e a Big Tech não quer que saiba disso” –, o pivot norte-americano consubstanciava a sua posição em directrizes que então constavam explicitamente do site oficial da Organização Mundial de Saúde (OMS). Nessa altura, a OMS afirmava que as crianças não deviam ser vacinadas contra a covid-19 por ainda não existirem evidências suficientes de segurança para este grupo etário.

    Nessa intervenção, Carlson era extremamente crítico para com as as Big Tech: “Por mais de um ano, os monopólios tecnológicos de Silicon Valley usaram as declarações oficiais da OMS para determinar o que os consumidores norte-americanos de notícias podem saber – e o que devem ser proibidos de saber – sobre a covid-19. O Facebook até anunciou uma parceria formal com a OMS para ‘levar informações atualizadas e precisas a milhões de pessoas’. Essa parceria – entre uma ONG controlada pela China e as plataformas de tecnologia dependentes da China – continuou sem problemas até poucos dias. Foi quando os burocratas da OMS publicaram novas orientações sobre vacinas. Aqui está o que diz: crianças não devem tomar a vacina contra o coronavírus. Porquê? Esses fármacos são muito perigosos. Não há dados suficientes para entender os efeitos a longo prazo ou para mostrar que os benefícios valem o risco que trazem. Esta é uma notícia terrível, claro, para a indústria farmacêutica. A Big Pharma planeia testar a vacina em crianças de seis meses. É profundamente embaraçoso para grande parte da media, que parou de criar histeria sobre espiões russos para vender vacinas aos seus telespectadores. E, acima de tudo, é um repúdio chocante às autoridades [establishment] norte-americanas, que têm pressionado incansavelmente a vacinação universal, inclusive em crianças. O principal conselheiro da pandemia de [Joe] Biden, Zeke Emanuel, declarou que os jovens deveriam ser obrigados a tomar a vacina.”

    Impacte público de intervenção de Tucker Carlson levou OMS a alterar recomendação que abriu “portas”
    a censura nas redes sociais.

    Carlson continuava a atacar as redes sociais, como o Facebook, por censurarem mesmo informações verídicas, se questionassem a eficácia e benefícios das vacinas contra a covid-19. “Você não tem permissão para sugerir o contrário. Não importa quais dados possa ter. Não importa quais dados possa ter, não importa o que uma organização de saúde possa lhe dizer.”, concluía o apresentador.

    Perante a dimensão pública das palavras de Tucker Carlson, a OMS reagiu rapidamente. Segundo o jornalista Paul D. Thacker, “a OMS editou furtivamente a sua página sobre as vacinas contra a covid-19 para remover a linguagem que Tucker citara no seu artigo”.

    Depois, “no dia seguinte, funcionários do Twitter começaram a discutir o artigo de Tucker e a forma de limitar o seu impacte sem chamar a atenção para Tucker e sem criar ‘riscos políticos’ para o Twitter por estar a censurar diretamente a Fox News.”

    Jornalista Paul D. Thacker, que tem tido acesso aos Twitter Files, revelou que a Organização Mundial da Saúde se censurou a ela própria para que Tucker Carlson fosse censurado.

    Ou seja, segundo Paul D. Thacker, “a OMS auto-censurou-se sobre as vacinas para ajudar o Twitter a censurar Tucker Carlson”.

    Certo é que os e-mails internos da rede social agora controlada por Elon Musk mostram que os seus funcionários congeminaram uma estratégia para censurar o artigo de Carlson logo no dia seguinte à sua publicação. Se “os links para este artigo de opinião de Tucker Carlson, uma figura televisiva proeminente, violam a nossa política de informações enganadoras sobre a covid-19”, é a dúvida que uma executiva coloca à equipa.

    Esta tarefa era, contudo, espinhosa. Por exemplo, um destacado funcionário do Twitter, Brian Clarke, defendeu então que agir, censurando, sobre o endereço do artigo do então apresentador da Fox News poderia ter um efeito contraproducente, porque Tucker Carlson falava precisamente sobre “a censura das grandes tecnológicas”.

    woman wearing white and beige sari dress

    O Twitter acabou por optar pela classificação como desinformação se houvesse partilhas em que se reforçasse a opinião de Tucker Carlson.

    Um dos aspectos também relevantes desta nova revelação de Paul D. Thacker tem a ver com a promiscuidade entre política, negócios e redes sociais quando o assunto era a vacina contra a covid-19. O jornalista salienta que a funcionária do Twitter que primeiro alertou para o “perigo” do artigo de opinião de Tucker foi Elizabeth Busby, que ocupara o cargo de vice-secretária de imprensa nacional do líder da maioria no Senado, Chuck Schumer, um crítico frequente de Tucker Carlson.

    Tendo ingressado no Twitter em 2020, Busby trabalhara antes para a SKDK, uma agência de relações públicas e de lobby estreitamente alinhada com o Partido Democrata.

    Leia aqui toda a cobertura dos “Twitter Files” feita pelo PÁGINA UM.

  • #TwitterFiles: Luta contra a desinformação ou cartel de promiscuidades?

    #TwitterFiles: Luta contra a desinformação ou cartel de promiscuidades?

    Em conversa recente com um jornalista da BBC, Elon Musk já deixara em aberto mais revelações sobre as promiscuidades e atitudes censórias praticadas no passado pelo Twitter e outras redes sociais. Anteontem, numa nova série de documentos escrutinados por jornalistas independentes, reforçam-se as provas da “colaboração”, mesmo antes da pandemia, entre Governo norte-americano, serviços de inteligência, académicos, organizações não-governamentais e jornalistas em prol do combate à “desinformação”. Ou em prol da censura, já não se sabe bem.


    “Estilo cartel” – são estes os termos crus e duros usados por Andrew Lowenthal, antigo director executivo da EngageMedia e gestor da newsletter NetworkAffects, para caracterizar a forma como grupos de interesses, lobbys e comunicação social têm vindo a funcionar nos últimos anos.

    Em nova sessão dos #Twitter Files, divulgados anteontem – e que desde Dezembro têm revelado, com a “autorização” de Elon Musk, os procedimentos anteriores desta rede social –, Andrew Lowenthal conta como se desenvolveram diversas iniciativas que redundaram em situações de promiscuidade entre entidades governamentais, serviços de inteligência, cientistas, organizações não-governamentais e jornalistas.

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    “Numa democracia funcional existe uma tensão dinâmica entre o Governo, organizações da sociedade civil, comunicação social e indústria, em direcção aos seus próprios interesses, na teoria garantindo entre si uma conduta honesta. Nos #Twitter Files, vemo-los todos a trabalhar em conjunto, estilo cartel”, sintetiza Lowenthal, destacando que as promiscuidades surgiram ainda antes da pandemia.

    Por exemplo, numa conferência à porta fechada em 2017, organizada pelo National Democratic Institute (NDI) e a Universidade de Stanford para discutir o “desafio global da desinformação digital” foram convidados “líderes de opinião” de empresas tecnológicas, organizações filantrópicas, entidades políticas e jornalistas de topo do Washington Post, The New York Times, Atlantic e NBC. Neste tipo de “proto-workshops de censura”, como Lowenthal os apelida, os jornalistas eram vistos como parceiros, como “participantes, e não adversários”.

    Andrew Lowenthal destaca que os documentos do Twitter confirmam, cada vez mais e de forma inegável, que “as companhias tecnológicas colabora[ra]m entre si e com o Estado”, criando e gerindo um sistema de “partilha multilateral de informação”, chegando a reunir frequentemente com o FBI, o Pentágono, o Departamento de Segurança Interna e até com membros da Câmara dos Representantes e do Senado norte-americano. As comunicações internas do Twitter também sugerem, inclusivamente, “um elevado acesso a dados por parte das Forças Armadas”.

    Andrew Lowenthal, ao centro, responsável pela divulgação de nova série de documentos dos #Twitter Files.

    Além disso, vários membros do Departamento de Segurança Interna norte-americano vieram mesmo trabalhar no Twitter e no Virality Project, um projeto da Universidade de Stanford para combater a desinformação. O Virality Project teve como principal parceiro a Graphika, uma empresa de análise de media social, muito activa na detecção de contas suspeitas de desinformação e de influências em perspectivas não oficiais.

    Ora, segundo os novos Twitter Files, “a Graphika recebe dinheiro do Pentágono, da Marinha e da Força Aérea, enquanto apoia, em simultâneo, organizações de direitos humanos como a Amnistia Internacional e a Human Rights Watch”. Ou seja, há uma porta giratória “interminável” entre a academia, o Governo norte-americano, organizações não-governamentais e as grandes tecnológicas.

    Lowenthal mostra também os promíscuos fluxos financeiros desta luta contra a desinformação encabeçada pelo Governo norte-americano e as plataformas tecnológicas, exemplificando com o contrato de 979 milhões de dólares entre o Departamento da Defesa e a Pentaron, uma empresa privada de segurança e tecnologia, para “combater desinformação especificamente originada por adversários dos Estados Unidos”.

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    Mas também houve investidores privados e magnatas envolvidos. Foi o caso de Craig Newmark, o multimilionário que criou a conhecida Craigslist, e que terá desembolsado mais de 200 milhões de dólares no financiamento de projetos jornalísticos e académicos para vencer a “guerra da informação”.

    Nem mesmo as Nações Unidas ficam de fora desta enorme teia de entidades poderosas que combatem a desinformação suportando a imprensa, de forma directa e indirecta. Por exemplo, a Public Good Projects (PGP), uma fundação sem fins lucrativos, que colaborou com o Twitter para conter a desinformação sobre a covid-19, também levou a cabo “iniciativas para fomentar a procura de vacinas”, tendo criado o Vaccination Demand Observatory em articulação com a UNICEF e o Yale Institute for Global Health.

    A pandemia da covid-19 aprofundou estas relações sem fronteiras entre entidades governamentais e não-governamentais, incluindo a imprensa. Nos e-mails internos do Twitter agora divulgados por Lowenthal, comunica-se, por exemplo, a lista dos principais grupos, canais e contas que formam uma alegada “Indústria de Anti-vacinas Online”, e refere-se que os seguidores destas páginas ultrapassaram o patamar dos 58 milhões de contas durante a pandemia.

    Em particular, salienta-se como foram identificado os “Desinformation Dozen”, os 12 activistas alegadamente “antivacinas”, entre os quais se destacava Robert Kennedy Jr. actual pré-candidato democrata às eleições norte-americanas de 2024 e um dos mais destacados (e outrora respeitáveis) defensores das políticas de combate às alterações climáticas.  Houve mesmo responsáveis governamentais norte-americanos que pediram então ao Twitter que banisse estes “Desinformation Dozen”.

    De respeitável defensor de causas ambientais, Robert Kennedy Jr. passou a proscrito pela imprensa mainstream pelas suas posições críticas às vacinas contra a covid-19.

    O antisemitismo foi outra preocupação no mundo online, mas onde se identificaram interesses com algum grau de promiscuidade. Por exemplo, o Center for Countering Digital Hate (CCDH) e a Anti-Defamation League (ADL) foram duas entidades supostamente independentes que mais acusaram as principais tecnológicas de não tomar medidas contra o “discurso de ódio e conteúdos antisemitas”, mas o “financiamento misterioso [do CCDH] nunca preocupou os executivos do Twitter nem os repórteres que transmitiram as suas exigências”, destaca Lowenthal.

    No final da divulgação destes documentos dos denominados Twitter Files, e perante a promiscuidade entre entidades supostamente independentes dinamizadas pela sociedade civil, entidades governamentais e imprensa, Andrew Lowenthal acaba a fazer um apelo. “Vamos colocar o ‘não-governamental’ novamente em ‘organização não-governamental’ e retirar o financiamento à indústria ‘anti-desinformação”.

    Leia aqui toda a cobertura dos “Twitter Files” feita pelo PÁGINA UM.

  • #TwitterFiles: Universidade de Stanford foi o epicentro de uma tenebrosa máquina de censura

    #TwitterFiles: Universidade de Stanford foi o epicentro de uma tenebrosa máquina de censura

    É mais um episódio tenebroso da gestão da pandemia da covid-19. A Universidade de Stanford liderou um projecto para “caçar” textos nas redes sociais, indicando mesmo pessoas e também temas que deveriam ser banidos, mesmo que não fossem falsos. Os Twitter Files revelam agora que as universidades, que deveriam ser o primeiro reduto da liberdade de expressão e de questionamento, funcionaram afinal como uma máquina de censura.


    Virality Project – assim se chamava o projecto liderado pela Universidade de Stanford, iniciado em Maio de 2020, em colaboração com a Tandon School of Engineering, o Center for an Informed Public, o Centre for Social Media and Politics, o National Conference on Citizenship, a Graphika e a DFRLab. Mas em vez de apenas estudarem comportamentos sociais, o projecto acabou por se transformar numa “máquina de censura”, sobretudo quando, a partir do início de 2021, encetaram uma colaboração directa com o Twitter e outras redes sociais. 

    Na mira dos académicos estava a “moderação” de uma ampla variedade de discursos em redor da pandemia, desde as teorias da imunidade natural e da alegada fuga do SARS-CoV-2 do laboratório de Wuhan, até “piadas preocupantes” e casos reais de efeitos adversos às vacinas anti-covid. Relatos de países que tivessem proibido algumas vacinas, ou de mortes de celebridades após a vacinação também estavam incluídos.

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    Na prática, o projecto consistiu numa rede de censura de todas as publicações que pudessem beliscar a confiança da população face às vacinas contra a covid-19 – mesmo que estivessem em causa informações factuais e verdadeiras. O Virality Project registou uma actividade visível a partir de 2021, e deixou de ser actualizado em Agosto do mesmo ano.

    A acção de censura do Virality Project orquestrada por universitários – homens da Ciência, portanto – é o mais recente episódio dos Twitter Filles, ontem divulgado por Matt Taibbi, um dos jornalistas independentes que tem tornado públicas as práticas daquela rede social durante a pandemia, e antes da sua compra por Elon Musk.

    Na fachada, de acordo com o seu site oficial, o Virality Project era “uma coligação de entidades de pesquisa focada em apoiar a troca de informações em tempo real entre a comunidade de pesquisa, autoridades de saúde pública, agências governamentais, organizações da sociedade civil e plataformas de social media“, com o objectivo de “detectar, analisar e responder a incidentes de desinformação sobre a vacina contra a covid-19 em ecossistemas online e, finalmente, mitigar o impacto de narrativas que, de outra forma, prejudicariam a confiança do público na segurança desses processos nos Estados Unidos”. Mas foi muito mais do que isso.

    Os Twitter Files continuam a revelar um mundo tenebroso de censura e controlo de informação durante a pandemia.

    A parceria entre o Twitter e o Virality Project teve início pouco tempo depois da tomada de posse de Joe Biden, em Fevereiro de 2021. Nesse mês, a rede social recebeu o primeiro relatório semanal sobre “desinformação anti-vacinas” que, no entanto, continha “inúmeras histórias verdadeiras”, como salienta Matt Taibbi.

    Até as preocupações com a perda de direitos e liberdades com a eventual criação de um certificado digital de vacinação foram consideradas como informações imprecisas, como se lê num relatório endereçado à equipa do Twitter.  De facto, a veracidade, ou falta dela, não importava: desde que fosse susceptível de “promover hesitação vacinal”, qualquer conteúdo poderia ser considerado “malinformation” e, assim, alvo de censura. Ao contrário da “desinformação”, o termo malinformation designa informações que, sendo factuais, são veiculadas com o propósito de causar dano a um cidadão, país ou organização. 

    Para além do Twitter, o Virality Project colaborava ainda com o Facebook, Instagram, Google, Youtube, Tiktok e o Pinterest.  Segundo Taibbi, o projecto depressa ganhou também “visibilidade” junto de outras plataformas alternativas, como o Telegram e o Parler.

    O Virality Project teve autonomia para classificar entidades como suspeitas. Assim, por exemplo, o Worldwide Rally for Freedom – uma iniciativa organizada via Telegram, que abrangeu várias manifestações em dezenas de países contra as medidas anti-covid – ficou descrita como sendo uma fonte de “desinformação”.

    Num dos relatórios enviados ao Twitter, alertava-se aquela rede social para a data em que estava previsto o próximo protesto, acrescentando-se a hashtag utilizada para as publicações sobre o evento, #WewillALLbethere, e o facto de estar a “ganhar tracção online entre os principais influencers cépticos da covid-19, tanto na Inglaterra como na França”.

    Outro relatório do Virality Project versava sobre os comprometedores e-mails de Anthony Fauci, o antigo director do National Institute of Allergy and Infectious Diseases (NIAID) divulgados legalmente no âmbito do Freedom of Information Act em Junho de 2021. Os e-mails, que abordavam as directrizes para as máscaras e a fuga de laboratório, foram vistos pelo Partido Republicano como uma prova de que Fauci “enganou o público americano”, referia-se no relatório. 

    Colaboração iniciou-se em Fevereiro de 2021.

    Por exemplo, neste caso foi até identificado um denominado “influenciador anti-vaxxer”, Alex Berenson, antigo jornalista do The New York Times e conhecido escritor norte-americano. Berenson chegou a ter a conta suspensa em Agosto de 2021, apenas sendo restabelecida no início de 2022 num acordo extra-judicial.

    Noutros casos, são identificados “reiterados infractores” (repeat offenders), os quais deveriam ser vigiados por ser expectável que viessem a escrever sobre temas delicados. Neste grupo constava o advogado Robert F. Kennedy Jr..

    O projecto da Universidade de Stanford considerou, de forma completamente abusiva, que referências ou alegações sobre os e-mails de Fauci também configuravam desinformação, já que “fomentavam desconfiança”.

    Matt Taibbi refere que até no seu último relatório, o Virality Project qualificava como desinformação a tese de que “a vacina não prevenia a transmissão, ou que os Governos planeavam implementar passaportes digitais”. “Ambas [as teses] se revelaram verdadeiras”, salienta agora o jornalista.

    A hipótese, que agora é assumida pelo FBI, foi classificada como desinformação pelas redes sociais por influência da Universidade de Stanford.

    A colaboração com o Virality Project marcou, conforme se consta agora neste episódio dos Twitter Files, um ponto de viragem nos critérios da rede social sobre os conteúdos afectos à covid-19 que pudessem ser “sinalizados”. Até Julho de 2020, ainda nas primeiras fases da pandemia, o Twitter somente “cortava” informações que fossem “comprovadamente falsas” sobre a covid-19. 

    Depois dessa data, a plataforma tecnológica então liderada por Jack Dorsey, sucumbiu aos padrões impostos pelo Virality Project, cujo principal objectivo era não melindrar os cidadãos norte-americanos no que dizia respeito à vacinação anti-covid.

    Embora os documentos agora revelados pelos Twitter Files sejam apenas sobre esta rede social – e já não se apliquem sobre os seus utilizadores –, mostra-se fortemente plausível que as outras redes sociais também tenham sido seduzidos pelo Virality Project. Aliás, o Facebook ainda censura e aplica “castigos” aos seus utilizadores, mesmo sobre matérias já comummente aceites como verdadeiras. Esta semana, mesmo referências feitas pelo PÁGINA UM às declarações do ministro da Saúde alemão, Karl Lauterbach, foram abusivamente eliminadas pela rede social de Mark Zuckerberg.

    Leia aqui toda a cobertura dos “Twitter Files” feita pelo PÁGINA UM.

  • Estados Unidos: Combate à desinformação estrangeira serviu para censurar americanos

    Estados Unidos: Combate à desinformação estrangeira serviu para censurar americanos

    Uma organização criada no último ano da presidência de Barack Obama, o Global Engagement Center (GEG), que visa alegadamente o combate a desinformação estrangeira, está no centro da nova polémica revelada pelos chamados “Twitter Files” – Parte 17. Aquela entidade, habitualmente classificada como departamento estatal, financia diferentes organizações em vários países para o alegado combate a desinformação. Entre as organizações que financia, está alegadamente uma britânica que “classifica” órgãos de comunicação social por níveis de “risco”, o que gera menos receitas publicitárias para os media considerados com pior classificação. Mas há mais. Os Estados Unidos financiaram, através do GEG, organizações que criaram listas negras de contas no Twitter, incluindo de cidadãos norte-americanos comuns.


    É mais uma polémica a juntar às que já foram criadas com a divulgação dos chamados “Twitter Files”, que têm vindo a expor as antigas práticas de censura da rede social Twitter.

    Na edição número 17 dos “Twitter Files”, o jornalista Matt Taibbi revela que uma organização criada no último ano da presidência de Barack Obama para alegadamente combater a desinformação estrangeira, Global Engagement Center (GEC), mantinha listas “negras” de contas a censurar naquela rede social que incluíam utilizadores que eram norte-americanos comuns.

    Uma das entidades financiadas pelo GEC, um laboratório de investigação forense digital, pediu ao Twitter que censurasse 40 mil contas por alegado comportamento suspeito e apoio ao partido do primeiro-ministro indiano Narendra Modi, o Partido do Povo Indiano, e ao nacionalismo hindu.

    Em Junho de 2021, Andy Carvin, um analista da Atlantic Council’s Digital Forensic Research Lab (DFRL), enviou à plataforma tecnológica a lista dos utilizadores, que julgava ser de “funcionários pagos ou voluntários” do Partido do Povo Indiano [BPJ, na sigla em inglês].

    No entanto, Taibbi revelou que, entre as contas supostamente duvidosas, constavam apenas muitos cidadãos americanos comuns sem conexões à Índia e alheios à política do país.

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    Na altura, Yoel Roth, então responsável do departamento de Confiança e Segurança do Twitter, respondeu a Carvin: “verifiquei uma data de contas, e quase todas parecem ser de pessoas reais”. O Twitter acabaria mesmo por manter muitas das contas activas.

    O DFRL é financiado com o dinheiro dos contribuintes americanos através do GEC, cujo mandato consiste em “reconhecer, compreender, expor e combater desinformação estrangeira”. No entanto, Taibbi argumenta que a missão de limitar o alcance e influência de organizações terroristas se transformou, a partir das eleições presidenciais de 2016, numa luta contra o “fantasma” da desinformação nas redes sociais, banindo as contas de pessoas comuns.

    Como Taibbi adianta, inicialmente o GEC teve como parceiras várias agências de inteligência que incluem o FBI, a CIA e a NSA.

    Segundo Matt Taibbi, o GEC chegou a solicitar ao Twitter que colocasse 499 contas na sua lista negra devido a desinformação estrangeira. Os motivos do pedido? Algumas utilizavam a aplicação Signal para comunicar e faziam publicações acompanhadas da hashtag #IraniansDebateWithBiden [IranianosDebatemComBiden].

    O GEC também suspeitava que 5500 contas alegadamente chinesas estavam a incorrer em “manipulação coordenada” em nome do Estado chinês. Curiosamente, a lista continha várias contas de governos ocidentais e pelo menos três membros da CNN fixados no estrangeiro.

    Tal como outras informações divulgadas pelos “Twitter Files” já tinham dado conta, a Rússia é um dos países que mais preocupação tem merecido das agências americanas de informação e segurança.

    Taibbi cita um relatório especial do GEC que circulou em 2020, intitulado Russian Pillars of Desinformation and Propaganda, em que a organização defendia que, para além de intervenientes diretamente ligados ao Estado, grupos independentes não deviam ser excluídos de suspeitas de um “ecossistema” de propaganda.

    Matt Taibbi adianta que um dos relatórios que o GEC enviou ao Twitter, sobre a França, “atribui a participação no movimento dos coletes amarelos a um alinhamento com a Rússia”, de acordo com uma afirmação de Aaron Rodericks, um funcionário da rede social.

    Além disso, Rodericks terá ainda dito que o relatório do GEC relativo à China “igualava tudo o que fosse pró-China, mas também tudo o que fosse contra a China em Itália, como parte da estratégia russa”.

    Encontrando pouco respaldo no Twitter, o GEC terá tentado instrumentalizar a comunicação social para que pressionassem a gigante tecnológica sobre contas suspeitas de semear desinformação a mando da Rússia.

    O jornal Politico, por exemplo, deu eco a um relatório da New Knowledge, uma agência constituída por antigos funcionários da NSA, que visava cinco contas alegadamente russas. Algo que o Twitter contrariou, esclarecendo que duas das contas eram apenas de “spam comercial”, e uma delas era americana e não era de todo suspeita.

    Taibbi refere ainda que seguir contas de diplomatas chineses ou partilhar memes iranianos a favor da libertação da Palestina pode ser suficiente para fazer soar os alarmes das agências de inteligência no que toca à desinformação. E comprova-o com uma mensagem que Samaruddin Stewart, Conselheiro Técnico Senior do GEC, enviou a uma funcionária do Twitter.

    As revelações dos “Twitter Files” surgiram da vontade de Elon Musk, que concluiu em Outubro de 2022 a compra do Twitter, de divulgar documentos e mensagens internos da empresa que demonstram as antigas práticas de censura que eram praticadas na rede social pela anterior equipa de executivos. Musk decidiu confiar a análise e divulgação dos “Twitter Files” a jornalistas independentes.

    Dois dos jornalistas que têm estado a divulgar os “Twitter Files”, Matt Taibbi e Michael Shellenberger, vão testemunhar na Câmara dos Representantes norte-americana, no dia 9 de Março, numa audiência sobre a conduta do FBI durante a administração anterior da rede social.

    Leia aqui toda a cobertura dos “Twitter Files” feita pelo PÁGINA UM.

  • Pandemia: Farmacêuticas pressionaram Twitter a calar vozes favoráveis às vacinas ‘low cost’

    Pandemia: Farmacêuticas pressionaram Twitter a calar vozes favoráveis às vacinas ‘low cost’

    As grandes farmacêuticas fizeram pressão junto do Twitter para censurar conteúdos sobre vacinas contra a covid-19 que podiam afectar os lucros recorde que obtiveram na pandemia. A alemã BioNtech, parceria da Pfizer na produção da sua vacina mRNA contra a covid-19, actuou junto do Twitter para censurar activistas e conteúdos que pediam que houvesse vacinas genéricas contra a covid-19 para os países mais pobres. Também o Governo alemão pressionou a rede social. Nas novas revelações dos chamados ‘Twitter Files’, conhecidas esta segunda-feira, também se ficou a saber que as farmacêuticas fizeram lobby para pressionar as redes sociais a censurar conteúdos sobre vacinas, incluindo publicações contra o ‘certificado digital’, ou ‘passe verde’, que vieram impulsionar – ou mesmo forçar – o consumo de vacinas contra a covid-19. Antes destas revelações, foram divulgados mais detalhes que deitaram por terra a tese do Partido Democrata, que foi amplificada pelos media mainstream, sobre a existência de uma alegada ingerência russa nas eleições presidenciais nos Estados Unidos.


    Para proteger o seu lucro, a alemã BioNtech – que produz com a norte-americana Pfizer a vacina mRNA contra a covid-19, uma das mais utilizadas no Mundo –, pressionou o Twitter para que a rede social censurasse conteúdos de activistas que pediam o lançamento de vacinas genéricas, mais baratas, para os países mais pobres. Também o Governo alemão se juntou à farmacêutica para levar a plataforma, antes da sua aquisição por Elon Musk, a censurar activistas que pediam o acesso global às vacinas.

    Esta é uma das novas revelações feitas esta segunda-feira pelo jornalista de investigação Lee Fang no Twitter, no âmbito dos chamados ‘Twitter Files’.

    Segundo as informações divulgadas a partir da própria rede social, o BIO – um lobby da indústria farmacêutica, incluindo da Pfizer e da Moderna – pagou quase 1,3 milhões de dólares por uma campanha para censurar conteúdos no Twitter.

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    As farmacêuticas fizeram também pressão e lobby junto das redes sociais no sentido de serem censurados publicações de activistas sobre as vacinas contra a covid-19, incluindo também aquelas que contestassem o polémico “certificado digital” ou green pass, que, em alguns casos, implicou a obrigatoriedade de se ter a vacina para aceder a serviços ou viajar. O certificado foi uma das medidas que impulsionou o consumo e a venda de vacinas contra a covid-19.

    De acordo com Fang, “a indústria farmacêutica pressionou as redes sociais para moldar conteúdos em torno da política da vacina”. Segundo o jornalista, o lobby das farmacêuticas “incluiu a pressão direta do parceiro da Pfizer, a BioNTech, para censurar ativistas que exigiam vacinas genéricas de baixo custo para países de baixo rendimento”.

    A existência de pressão de farmacêuticas no sentido de as redes sociais censurarem conteúdos já tinha surgido antes. Segundo anteriores revelações dos ‘Twitter Files’, um administrador da Pfizer Scott Gottlieb, pressionou o Twitter no sentido de agir perante um tweet de Brett Giroir, um dos principais rostos da gestão inicial da pandemia nos Estados Unidos, que referia correctamente que a imunidade natural conferida pela infecção por covid-19 é superior à obtida pela vacina contra a doença.

    O jornalista Lee Fang escreve agora que “em 2020, ficou claro que a pandemia exigiria uma inovação rápida” e que “desde cedo, houve um impulso para tornar a solução equitativa: uma parceria internacional para partilhar ideias, tecnologia, novas formas de medicina para resolver rapidamente esta crise”.

    Mas “os gigantes globais dos medicamentos viam a crise como uma oportunidade para um lucro sem precedentes”. De acordo com o jornalista, “à porta fechada, as farmacêuticas lançaram um enorme blitz de lobbying [influência] para esmagar qualquer esforço para partilhar patentes/ IP para novos medicamentos relacionados com a covid-19, incluindo terapêuticas e vacinas”.

    Fang revelou hoje que o BIO escreveu ao então recém-eleito presidente Biden, exigindo que o Governo dos Estados Unidos sancionasse “qualquer país que tente violar os direitos de patente e que crie medicamentos ou vacinas genéricas de baixo custo”.

    Ora, segundo as novas revelações, “o blitz [bombardeamento] global de lobbying inclui pressão direta nas redes sociais”. A alemã “BioNTech, que desenvolveu a vacina da Pfizer, contactou o Twitter para lhe pedir que censurasse diretamente os utilizadores a pedirem vacinas genéricas de baixo custo” na rede social.

    Os “representantes do Twitter responderam rapidamente ao pedido da farmacêutica alemã, que também foi apoiado pelo Governo alemão”. Um lobista na Europa pediu à equipa de moderação de conteúdos do Twitter “para monitorizar as contas da Pfizer, AstraZeneca & hashtags ativistas como #peoplesvaccine [vacinas do povo]”.

    As supostas contas de “perfis falsos” que criticavam a Pfizer e que eram monitorizados pelo Twitter eram afinal de utilizadores verdadeiros, incluindo um reformado britânico que foi contactado telefonicamente por Fang. Estas contas eram sinalizadas pelo Twitter por alegados “potenciais termos de violações de uso”.

    Além disso, o grupo de lobby da Pfizer e da Moderna “financiou na totalidade uma campanha especial de moderação de conteúdos desenhada por um prestador de serviços chamado Public Good Projects, que trabalhou no Twitter para definir regras de moderação de conteúdos em torno da “desinformação” covid”.

    O BIO pagou um total de 1.275.000 dólares para a campanha, “parte da qual é revelada através de formulários fiscais”. A campanha, denominada “Stronger”, auxiliou o Twitter a criar bots de moderação de conteúdos, seleccionando quais as contas de saúde pública que podiam ser classificadas como “verificadas” pelo Twitter.

    A campanha paga pela BIO visou muitos tweets que constituíam verdadeira desinformação, como os que tinham alegações de que as vacinas incluem microchips, mas também pressionou o Twitter a censurar tweets relacionados com passaportes de vacinas e vacinação obrigatória, políticas que coagiram no sentido da vacinação.

    A campanha incluía e-mails regulares diretos com o Twitter, com listas de tweets para serem eliminados e outros para serem verificados. Fang mostrou um exemplo desses tipos de e-mails enviados directamente pelos lobistas das farmacêuticas.

    Fang descobriu ainda nesta sua investigação – que contou com a colaboração de David Zweig e Leighton Woodhouse – que “este enorme impulso para censurar e rotular conteúdos sobre covid como desinformação, nunca se aplicava às empresas farmacêuticas”. De acordo com o jornalista, “quando grandes farmacêuticas exageravam descontroladamente os riscos de criar vacinas genéricas de baixo custo”, nada foi feito. Ou seja, “as regras aplicavam-se apenas aos críticos da indústria” farmacêutica.

    Este conjunto de revelações surge no âmbito da decisão de Elon Musk, novo dono do Twitter, de tornar públicos documentos e mensagens internas que mostram as práticas de censura que a rede social levou a cabo até à compra da empresa por Musk, em Outubro de 2022. Do que foi revelado desde 2 de Dezembro do ano passado, até hoje, a censura foi aplicada sobretudo a críticos da gestão da pandemia, incluindo a supressão de informação verdadeira, e a vozes politicamente conservadoras, nomeadamente do Partido Republicano norte-americano.

    Antes destas informações hoje tornadas públicas por Fang, o jornalista independente Matt Taibbi também revelou recentemente documentos e dados que comprovam a pressão feita pelo Partido Democrata sobre o Twitter para que corroborasse a sua tese sobre uma alegada interferência russa nas eleições presidenciais nos Estados Unidos. A recém-divulgada súmula de documentos divulgados por Taibbi é mais uma “machadada” na narrativa de uma tentativa de manipulação eleitoral por parte do Kremlin.

    Os Democratas alegaram, em 2018, que o polémico hashtag #ReleaseTheMemo estaria a ser impulsionado por bots de origem russa, apesar dos registos apresentados pelos executivos da rede social negarem categoricamente essa teoria.

    O “Memo” em questão, que milhares de utilizadores do Twitter queriam ver tornado público, era um documento confidencial de quatro páginas que afirmava que o FBI (Federal Bureau of Investigation) teria recorrido a “fontes duvidosas ou politicamente motivadas” e agido de forma tendenciosa contra Donald Trump no início da investigação à suposta interferência russa nas eleições presidenciais, ainda em 2016.

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    Submetido a 18 de Janeiro de 2018 pelo então responsável pelo Comité de Inteligência da Câmara dos Representantes pelo Partido Republicano, Devin Nunes, o relatório punha em causa, sobretudo, a legitimidade da autorização concedida ao FBI para a realização de escutas telefónicas a Carter Page, antigo conselheiro de campanha de Trump.

    O seu conteúdo foi, porém, rapidamente desacreditado pela comunicação social como sendo uma “conspiração” e uma “piada”. Em simultâneo, os democratas Dianne Feinstein e Adam Schiff, argumentaram, numa carta aberta publicada a 23 de Janeiro de 2018, que o frenesim gerado no Twitter em torno do documento havia sido fomentado pelos serviços de inteligência russos.

    No entanto, mensagens reveladas pelo jornalista Matt Taibbi mostram que os executivos da rede social refutaram, em diversas ocasiões, a ideia de que a catadupa de publicações referentes ao hashtag constituía uma manobra de propaganda russa.

    Além disso, Taibbi referiu que a gigante tecnológica alertou “políticos e meios de comunicação” de que as contas que reproduziam tweets sobre #ReleaseTheMemo não tinham conexões à Rússia. Contudo, afirma, os avisos foram “totalmente ignorados”.

    Para além de Feinstein e Schiff, também Richard Blumenthal, um senador de Connecticut, declarou na altura: “consideramos repreensível que agentes russos tenham manipulado tão avidamente americanos inocentes”.

    Donald Trump

    Segundo Matt Taibbi, a fonte das suspeitas levantadas por Feinstein, Schiff, Blumenthal e dos media mainstream resumia-se ao site “Hamilton 68”, que monitorizava campanhas de influência russas e fora criado pelo ex-agente de contra-espionagem do FBI, Clint Watts.

    “Todo o alvoroço sobre #RelaseTheMemo é baseada no Hamilton”, disse Yoel Roth, um executivo do departamento de Segurança e Confiança do Twitter, numa comunicação interna.

    De facto, a “palavra” dos executivos do Twitter, que garantiam que a adesão dos utilizadores da rede social à hashtag era “esmagadoramente orgânico” não foi suficiente para abrandar as teses de manipulação russa pelos democratas.

    Matt Taibbi salientou que as afirmações do controverso documento de Devin Nunes viriam a ser “quase todas confirmadas” por um relatório do Inspector-Geral do Departamento de Justiça, Michael Horowitz, em Dezembro de 2019.

    [Pode ler aqui toda a cobertura dos “Twitter Files” feita pelo PÁGINA UM.]

  • Negócio: Administrador da Pfizer conseguiu que Twitter classificasse ser ‘enganoso’ que infecção prévia concede imunidade natural

    Negócio: Administrador da Pfizer conseguiu que Twitter classificasse ser ‘enganoso’ que infecção prévia concede imunidade natural

    Novas revelações dos ‘Twitter Files’ mostram como um administrador da Pfizer pressionou o Twitter para censurar informação científica verdadeira divulgada por um dos principais rostos da gestão inicial da pandemia de covid-19 nos Estados Unidos, com uma notável carreira na área da saúde e antigo almirante de quatro estrelas. As novas informações, reveladas pelo jornalista e autor Alex Berenson, revelam como o Twitter acabou por proteger a farmacêutica, cujas vendas das vacinas mRNA contra a covid-19 representaram quase metade dos seus lucros em 2021.


    No dia 27 de Agosto de 2021, um administrador da Pfizer, Scott Gottlieb, pressionou o Twitter no sentido de agir perante um tweet de Brett Giroir, um dos principais rostos da gestão inicial da pandemia nos Estados Unidos, que referia correctamente que a imunidade natural conferida pela infecção por covid-19 é superior à obtida pela vacina contra a doença.

    Esta ação de pressão de Gottlieb – um antigo responsável da Food and Drug Administration (FDA) – foi revelada ontem pelo jornalista e autor Alex Berenson no âmbito dos chamados “Twitter Files”. O Twitter acabou por censurar a publicação que desagradou ao administrador da Pfizer, colocando um aviso de que o tweet era “enganador” e impedindo que o mesmo fosse partilhado, comentado ou recebesse ‘likes‘.

    Scott Gottlieb

    Este caso de censura vem juntar-se a outros que têm sido revelados pelos “Twitter Files”. Só que o autor do tweet alvo de censura, Brett Giroir, não é um especialista qualquer. Antigo responsável da Food and Drug Administration (FDA), Giroir foi um dos principais rostos e membro-chave da task force da Casa Branca de resposta inicial à pandemia de covid-19, sob a administração de Trump.

    Além de ser um reputado pediatra, Giroir tem uma vasta e notável carreira, tendo sido secretário assistente para a Saúde do Governo norte-americano, representante dos Estados Unidos na administração executiva da Organização Mundial da Saúde. Foi ainda conselheiro científico e de saúde pública, incluindo do Disease Control and Prevention (CDC). É ainda um antigo almirante com quatro estrelas – o posto mais elevado da Marinha norte-americana. Actualmente, Giroir é presidente-executivo da farmacêutica Altesa BioSciences – especializada no desenvolvimento de tratamentos para vírus respiratórios.

    O seu tweet, que desagradou ao administrador da Pfizer, foi visto por Gottlieb como uma ameaça para as receitas da farmacêutica provenientes da venda de vacinas contra a covid-19.

    No tweet, Giroir afirmava ser “claro” que a imunidade natural é muito superior à imunidade vacinal contra a covid-19, e que não existe nenhuma justificação científica para que tenha de haver “provas de vacinação” [aludindo aos certificados digitais] em casos de infeção prévia pelo vírus, apelando, contudo, à vacinação nos restantes casos. Nesse sentido, Giroir instava ainda o governo norte-americano a “seguir a ciência”.

    Segundo Alex Berenson, ao ver o tweet de Giroir, Gottlieb contactou Todd O’Boyle, um lobista de topo e intermediário entre a Casa Branca e o Twitter.

    Scott Gottlieb afirmou que temia que a publicação se tornasse “viral” e objecto de cobertura mediática, tendo Todd O’Boyle reencaminhado o e-mail do executivo da Pfizer para a equipa de Resposta Estratégica do Twitter, responsável por processar os pedidos dos “mais importantes funcionários e utilizadores” da rede social.

    Na comunicação, O’Boyle referiu-se ao empresário apenas como “antigo comissário da FDA”, omitindo o cargo de Gottlieb como executivo da Pfizer e ocultando, assim, um manifesto conflito de interesses. Como salientou Alex Berenson, a venda das vacinas de mRNA contra a covid-19 representou quase metade do lucro de 81 mil milhões de dólares (mais de 75 mil milhões de euros) que aquela companhia farmacêutica obteve em 2021. Por seu turno, nesse ano, Gottlieb arrecadou 365 mil dólares como administrador da Pfizer.

    Embora a equipa que analisou o tweet em causa – que tinha, inclusivamente, respaldo em vários estudos científicos significativos – tenha concluído que o mesmo não violava as políticas de desinformação da empresa, o Twitter acabou por ‘sinalizar’ a publicação colocando uma etiqueta que a qualificava como “enganadora” e reduzindo massivamente a sua visibilidade.

    Num tweet publicado esta terça-feira, Brett Giroir reafirmou o que escreveu na publicação que foi censurada pelo Twitter. O antigo almirante escreveu: “o meu tweet estava correto na altura, e continua a ser assim agora”. “Eu não sou ‘anti-vax’ e até recomendei a vacinação no tweet censurado”, adiantou. E sublinhou: “mas não havia base científica para discriminar/ atormentar/ arruinar aqueles que tinham sido naturalmente infetados, mas não foram vacinados”. Giroir escreveu ainda que o Twitter nunca lhe respondeu.

    Apenas uma semana depois da pressão sobre o Twitter sobre a publicação de Giroir, Todd O’Boyle recebia uma nova queixa de Scott Gottlieb. Desta vez, visando uma publicação de Justin Hart, um consultor e autor especializado em análise de dados, que criticava o facto de, apesar de o vírus ter um impacto quase nulo na mortalidade infantil, ter custado “cerca de três anos de escolaridade” às crianças.

    Brett Giroir

    Berenson recordou que este e-mail de Gottlieb antecedeu a aprovação das vacinas contra a covid para a faixa etária dos cinco aos 11 anos. Porém, sobre este tweet, que poderia, eventualmente, ameaçar as receitas da Pfizer no que toca à vacinação infantil contra a covid-19, a rede social optou por não agir.

    Note-se que Berenson – jornalista de investigação e escritor com ampla experiência na cobertura de assuntos relacionados com a indústria farmacêutica, tendo chegado a colaborar com o reputado New York Times durante mais de uma década –, teve, ele próprio, a sua conta de Twitter permanentemente suspensa a 28 de Agosto de 2021, por alegada violação dos termos de utilização da rede social no que concerne à “desinformação” sobre a covid-19. No entanto, o jornalista conseguiu que a suspensão fosse levantada em Junho do ano passado, depois de ter processado a plataforma tecnológica.

    Um crítico da gestão da pandemia desde o início, Alex Berenson defendeu que a perigosidade do SARS-CoV-2 foi exagerada com o intuito de expandir o poder governamental, e alertou, em 2021, para os efeitos adversos das vacinas de mRNA contra a covid-19, que considerou “perigosas e ineficazes”.

    Afirmando que Scott Gottlieb também pressionou o Twitter para “agir contra” si, o jornalista que agora divulga estes novos documentos internos da empresa com a autorização de Elon Musk, indicou ainda que terá “mais a dizer” sobre o seu caso e que irá processar Gottlieb, a Pfizer e a Casa Branca “em breve”.

    [Pode ler aqui toda a cobertura dos “Twitter Files” feita pelo PÁGINA UM.]

  • #TwitterFiles: Ameaças do Partido Democrata levaram Twitter a aceitar trabalhar com serviços de informação (e vêm aí os #FauciFiles)

    #TwitterFiles: Ameaças do Partido Democrata levaram Twitter a aceitar trabalhar com serviços de informação (e vêm aí os #FauciFiles)

    Perante ameaças de membros do Partido Democrata norte-americano, o Twitter acabou por ser levado a aceitar trabalhar com agências de informação e segurança, como o FBI e a CIA, para censurar conteúdos na rede social. Democratas exigiram ao Twitter que encontrasse “provas” de que havia uma alegada tentativa de interferência russa no processo eleitoral nos Estados Unidos. Quando o Twitter apenas detectou algumas contas suspeitas, surgiram ameaças por parte dos Democratas. Com a ajuda de notícias colocadas em alguns media mainstream, o Partido Democrata levou o Twitter a ter de aceitar o envolvimento de serviços de informação norte-americanos na moderação de conteúdos na rede social. Como se sabe hoje, o Twitter acabou por interferir nas eleições presidenciais nos Estados Unidos de 2020, censurando o então presidente norte-americano, Donald Trump, e outros conservadores, e protegendo Joe Biden e o Partido Democrata. Entretanto, ainda esta semana deverão ser revelados os muito aguardados “Fauci Files”, sobre a censura de informação verdadeira relacionada com a pandemia de covid-19.


    As últimas revelações dos chamados “Twitter Files”, divulgadas ontem à noite pelo jornalista independente Matt Taibbi, mostram como a plataforma tecnológica foi levada a ter de permitir que serviços de informação e segurança participassem na moderação de conteúdos na rede social, sob um manto de ameaças e pressão por parte do Partido Democrata, com a ajuda de alguns media mainstream.

    Tudo começou com o facto de Democratas exigirem, a todo o custo, que o Twitter apresentasse “provas” de haver uma alegada tentativa de influência russa no processo eleitoral nos Estados Unidos.

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    Em 2017, quando o Congresso investigava o Facebook, os funcionários do Twitter estavam seguros de que a actividade russa potencialmente ‘maligna’ na plataforma era negligenciável, já que, após as suas pesquisas, apenas cerca de 25 contas tinham merecido suspensão. 

    “O Twitter não é o foco do inquérito sobre a interferência russa nas eleições, neste momento – o foco está no Facebook”, escreveu Colin Crowell, vice-presidente do departamento de Políticas Públicas do Twitter, em Setembro de 2017.

    Na altura, o Facebook, a rede social liderada por Mark Zuckerberg, estava na ‘berlinda’ por se acreditar ter sido alegadamente utilizada para disseminar eventual propaganda russa, tendo em Agosto desse ano suspendido 300 contas por suspeitas de “origem russa”.

    Naquele mês, o Twitter viria a informar o senado norte-americano que suspendera 22 “possíveis contas russas” e 179 outras potencialmente conectadas, num segmento de cerca de 2700 contas suspeitas que foram “manualmente examinadas”.

    Mas um senador do Partido Democrata e membro do Comité de Inteligência do Senado, Mark Warner, não ficou satisfeito com o que a gigante tecnológica relatara e qualificou, numa conferência de imprensa, as informações como “francamente inadequadas a todos os níveis”.

    Após ter reunido com líderes do Congresso, Crowell declarou, em comunicações internas, que Mark Warner tinha “incentivo político para manter este assunto no topo das notícias, continuar a pressionar-nos e à indústria para produzirmos material para eles, e gerar interesse para a audiência planeada para dia 1 de Novembro”.

    Hillary Clinton foi derrotada nas eleições presidenciais que deram a vitória ao Republicano Donald Trump, em 2016.

    Taibbi salientou ainda que os Democratas estavam a “receber ordens” de Hillary Clinton, que tinha alegado que a rede social estava a ser usada como “ferramenta para uma ciber-guerra”.

    Para atender às exigências governamentais por provas da alegada interferência russa, explicou Taibbi, o Twitter criou uma “Russia Task Force”, que inicialmente servia-se de “dados partilhados pelos colegas do Facebook, centrados em contas supostamente ligadas à Internet Research Agency (IRA) da Rússia”.

    Mas as evidências de interferência russa continuavam a ser poucas. Numa mensagem que data de 23 de Outubro, um funcionário escrevia que, em 2500 contas “analisadas manualmente”, apenas 32 pareciam suspeitas e só 17 tinham conexões com a Rússia. No entanto, apenas duas tinham tido “gastos significativos” [com conteúdos pagos], e uma delas era o canal de televisão estatal Russia Today (RT).

    Como consequência, seguiram-se, nos meios de comunicação norte-americanos, artigos em que se insinuava uma conivência do Twitter com a alegada campanha de desinformação russa. No conhecido jornal Politico, por exemplo, um título afirmava que o “Twitter apagou dados potencialmente cruciais para a investigação à Rússia”.

    Paralelamente, o Congresso preparava-se para criar uma nova lei que ‘apertasse o cerco’ às redes sociais no que respeitava a anúncios publicitários de cariz político, exigindo às plataformas tecnológicas uma “maior divulgação” sobre estas matérias.

    Mark Taibbi apontou que o Twitter se mostrou disposto a colaborar com o Senado e “comprometeu-se a trabalhar com eles (membros do Senado) no seu desejo de legislar”. A legislação, intitulada Honest Ads Act, que teria como objectivo “proteger a integridade” das eleições norte-americanas, seria apresentada pelos senadores Democratas Amy Klobuchar, Mark Warner e John McCain.

    Membros do Partido Democrata, com a ajuda de alguns media mainstream, pressionaram o Twitter para “encontrar” contas “ligadas” à Rússia, no âmbito da sua estratégia política de alegar que russos estavam a querer interferir no processo eleitoral.

    Ainda assim, a pressão sobre a plataforma tecnológica então liderada por Jack Dorsey não abrandou. Mesmo quando a rede social se preparava para alterar as suas regras relativas a publicidade, e depois de ter, inclusivamente, concordado em remover as contas da RT e da agência de notícias russa Sputnik, o Congresso divulgou a lista de 2700 contas que o Twitter tinha inicialmente identificado e reportado como sendo “suspeitas” – causando um frenesim mediático e colocando, novamente, o Twitter “debaixo de fogo”.

    O Twitter acabou por permitir que agências de informação e segurança norte-americanas viessem a interferir na moderação de conteúdos na rede social, incluindo bloqueando contas e disseminando informação falsa, tendo mesmo contratado para os seus quadros antigos funcionários daquelas agências.

    Em consequência, o Twitter começou a censurar contas e conteúdos mais conservadores e a proteger o Partido Democrata, tendo ficado provado que interferiu nas eleições presidenciais que deram a vitória a Joe Biden, ao impedir a divulgação do caso do escândalo envolvendo o portátil de Hunter Biden, filho do actual presidente dos Estados Unidos.

    Desde 2020, o Twitter também perseguiu cientistas, peritos e médicos que criticaram a gestão da pandemia de covid-19 e avançaram com soluções baseadas na evidência.

    Anthony Fauci, conselheiro-chefe de Joe Biden para a saúde. Elon Musk anunciou que esta semana deverão ser divulgados os “Fauci Files” sobre a censura de informação verdadeira relativa à pandemia de covid-19.

    Estas revelações sobre as antigas práticas de censura do Twitter começaram a surgir por iniciativa de Elon Musk, que concluiu a compra da rede social em Outubro de 2022. Musk anunciou que, no final desta semana, deverão ser divulgados documentos internos envolvendo o principal rosto da gestão da pandemia nos Estados Unidos, Anthony Fauci, que copiou medidas sem precedentes implementadas pela China, como confinamentos e uso de máscara facial, sem qualquer base científica.

    Fauci também defendeu a censura de informação sobre a covid-19 e a imposição da vacinação geral contra a covid-19, incluindo em crianças e jovens, mesmo perante os alertas sobre os riscos das vacinas serem maiores do que os benefícios nos grupos etários com menos risco de enfrentarem doença grave ou morte devido à covid-19.

    [Pode ler aqui toda a cobertura dos “Twitter Files” feita pelo PÁGINA UM.]

  • #TwitterFiles: Como a CIA influenciou a censura de conteúdos no Twitter durante anos

    #TwitterFiles: Como a CIA influenciou a censura de conteúdos no Twitter durante anos

    Depois de se saber que o Twitter serviu durante anos como uma espécie de subsidiária do FBI, colaborou com o Departamento de Defesa dos Estados Unidos e que foi uma “arma” usada pelo Pentágono, foi agora revelado que também a norte-americana CIA reunia regularmente com antigos executivos daquela rede social. Está agora comprovado que os serviços de informação e segurança dos Estados Unidos indicavam ao Twitter o que censurar e quem perseguir na rede social. E que o Twitter foi usado, ao longo de anos, pelos serviços de informação e de defesa para fazer política, propaganda e como arma contra “adversários” e vozes incómodas. Em vários documentos internos do Twitter que têm estado a ser divulgados por iniciativa do novo dono da rede social, Elon Musk, ficou claro que os serviços de informação e segurança norte-americanos não “trabalhavam” apenas com o Twitter mas também com outras grandes tecnológicas e redes sociais.


    Nas últimas séries dos chamados “Twitter Files”, já tinha sido revelado o “compadrio” que, ao longo de anos, existiu entre a plataforma tecnológica, agências de inteligência norte-americanas como o FBI, e o Departamento de Defesa, para a implementação de práticas de censura e amplas campanhas de desinformação no Twitter.

    Agora, com a divulgação de novos documentos internos da empresa, no passado sábado, o jornalista independente Matt Taibbi assegurou que a CIA [Central Intelligence Agency] também fazia parte da ‘equação’.  

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    Além de revelar que um antigo executivo do Twitter já havia trabalhado para a CIA, Taibbi divulgou comunicações internas que remontam a Julho de 2020 e que mostram Stacia Cardille, uma funcionária da rede social, a informar Jim Baker, antigo advogado do FBI e, na altura, recém-contratado pelo Twitter, de que a CIA também deveria “juntar-se virtualmente” a uma conferência onde participariam os quadros da gigante tecnológica e o FBI.  

    Noutra mensagem, um agente do FBI, Elvis Chan, pergunta a dois executivos do Twitter se pode reencaminhar um “convite” a outra “OGA” (Other Government Organization), [em português, “Outra Organização Governamental”].

    Matt Taibbi explicou que, de acordo com vários ex-agentes de serviços de informação norte-americanos, “OGA” é um “eufemismo” utilizado para designar a CIA. O jornalista referiu que um denunciante e antigo agente da CIA, John Kiriakou, “reconhece o formato” das comunicações que agora vieram a público, e que acredita que vêm mesmo daquela entidade governamental. 

    Facto é que as reuniões entre executivos do Twitter, a Foreign Influence Task Force [FITF], membros do FBI e “um ou dois” participantes da dita “OGA” eram frequentes. Na “ordem de trabalhos” anexada nas convocatórias para as reuniões, um dos pontos a abordar era quase sempre um briefing da OGA”, que normalmente versava sobre assuntos estrangeiros.

    Mas não eram apenas matérias ‘supranacionais’ que preocupavam e ocupavam as agências governamentais e a famosa rede social. A FITF e o departamento do FBI de São Francisco transmitiam também ao Twitter pedidos de “moderação” de outras entidades, nomeadamente de polícias locais, sobre assuntos “domésticos”. Ou seja, nacionais. Estas solicitações eram, com frequência, enviadas através do canal unidirecional Teleporter, e com um ‘temporizador’ para a sua autodestruição.

    Saliente-se ainda que, segundo Taibbi, a “OGA” partilhava informações com plataformas com várias plataformas, incluindo o Yahoo!, a Twitch e o LinkedIn.

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    Matt Taibbi afirmou que, sobretudo na véspera das eleições presidenciais de Novembro de 2020, as agências ‘inundaram’ o Twitter com pedidos respeitantes a centenas de “contas problemáticas”. Na verdade, pouco tempo antes das eleições, o abundante influxo de solicitações por parte do governo ‘obrigou’ mesmo a rede social a ter de criar um sistema de triagem de modo a ‘priorizar’ as mais urgentes.

    A diligente monitorização de violações aos termos de uso do Twitter por parte das agências governamentais chegou a causar alguma perplexidade entre os executivos da rede social. Numa troca de mensagens, Jim Baker comentou com Stacia Cardille: “estranho que eles estejam à procura de violações das nossas políticas”.

    Como já tinha vindo à luz noutras séries de “Twitter Files”, a insistente procura de provas de interferência estrangeira pelas agências de inteligência norte-americana – que pareciam sempre escassas – levava os funcionários da rede social a ser “criativos” nas suas respostas, no sentido de ir ao encontro dos pedidos dos agentes governamentais.

    Em Agosto passado, após ter ‘passado a pente fino’ uma série de contas, um analista chegou a responder que não encontrara “ligações à Rússia” mas podia “tentar encontrar uma conexão mais forte [à Rússia]” fazendo “brainstorm”.

    Aos relatórios que os serviços de informação enviavam ao Twitter, que eram geralmente curtos, seguiam-se longas listas de contas ‘rotuladas’, por exemplo, como “pró-Maduro”, “pró-Cuba”, “pró-Rússia”.  Por vezes, eram mais de mil as contas a ser “digitalmente executadas”.

    Os conteúdos dos relatórios iam desde a sinalização de contas com suposta “propaganda ucraniana neo-nazi” a alegações de que “as contas que acusam a administração de Joe Biden de corrupção na distribuição de vacinas fazem parte de uma campanha de influência russa” ou, ainda, de que um site que relatava violações de direitos humanos cometidas por ucranianos desde 2014 era “dirigido por agentes russos”.

    De facto, as narrativas “anti-Ucrânia” estavam entre as mais perseguidas: em vários relatórios das agências governamentais, constavam precisamente as publicações em jornais, no Twitter ou no Youtube que disseminavam esse tipo de discurso.

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    A divulgação de documentos internos do Twitter, sobre as antigas práticas de censura praticadas naquela rede social, partiu de uma iniciativa de Elon Musk, novo dono do Twitter. Musk tem estado a entregar documentação interna a jornalistas independentes e autores que fazem investigação, os quais têm estado a analisar e a publicar as suas descobertas.

    Ontem, foram feitas novas revelações, as quais vieram comprovar que o Twitter censurou informação verdadeira sobre a pandemia de covid-19.

    Antigos funcionários e executivos do Twitter também censuraram contas de médicos e especialistas com visões e soluções diferentes das adoptadas pelo governo norte-americano na gestão da pandemia. Segundo as novas revelações, até contas de utilizadores comuns foram alvo de censura, sendo suprimida informação com dados oficiais verdadeiros da CDC (Centers for Disease Control and Prevention).

    [Pode ler aqui toda a cobertura dos “Twitter Files” feita pelo PÁGINA UM.]

  • #TwitterFiles confirmam censura sobre informação verdadeira e estratégia para desacreditar especialistas incómodos

    #TwitterFiles confirmam censura sobre informação verdadeira e estratégia para desacreditar especialistas incómodos

    Já não há dúvidas: o Twitter manipulou o debate sobre a pandemia de covid-19, censurando informação verdadeira mas considerada inconveniente tanto para a Administração Trump como para a Administração Biden. A revelação foi feita esta segunda-feira, no âmbito dos chamados “Twitter Files”, por David Zweig, autor que publica artigos de investigação. Segundo Zweig, o governo dos Estados Unidos pressionou outras redes sociais a censurarem conteúdos sobre covid-19. No caso do Twitter, antigos executivos da rede social tomaram a decisão de considerar que apenas os dogmas das autoridades públicas de saúde eram “A Ciência”, mesmo que outras visões de cientistas e médicos estivessem correctas. Zweig questionou: “Como teria sido esta pandemia e o seu rescaldo, se tivesse havido um debate mais aberto no Twitter e noutras plataformas das redes sociais — para não falar da imprensa mainstream — sobre as origens da covid, sobre os confinamentos, sobre os verdadeiros riscos da covid em crianças, e muito mais”?


    Nas novas revelações dos chamados “Twitter Files” – que têm desvendado antigas práticas de censura aplicadas pelo Twitter –, fica provado que aquela rede social censurou informação verdadeira sobre a pandemia de covid-19.

    Antigos funcionários e executivos do Twitter também censuraram contas de médicos e especialistas com visões e soluções diferentes das adoptadas pelo governo norte-americano na gestão da pandemia. Segundo as novas revelações, até contas de utilizadores comuns foram alvo de censura, sendo suprimida informação com dados oficiais verdadeiros da CDC (Centers for Disease Control and Prevention).

    Estas novas informações sobre censura aplicada pelo Twitter no passado, foram feitas esta tarde por David Zweig, autor que publica artigos de investigação, nomeadamente na revista The Atlantic, New York Magazine e Wired.

    Na segunda parte dos “Twitter Files”, já tinha sido tornado público que a rede social criou no passado listas negras para censurar contas de alguns utilizadores, incluindo especialistas de topo e vozes mais conservadoras. Um dos especialistas que foi alvo de censura por parte do Twitter, e que estava incluído em listas negras, foi Jay Bhattcharya, reputado professor da Universidade de Stanford e um dos três autores da Great Barrington Declaration, que defende uma gestão da pandemia de “protecção focada”, protegendo os grupos de maior risco.

    Mas muitos outros cientistas, académicos e médicos foram censurados, alguns foram mesmo banidos do Twitter, e só agora está a ser levantada a suspensão das suas contas.

    Os “Twitter Files” surgiram da vontade de Elon Musk, novo dono do Twitter, de expor as antigas práticas de censura da rede social. Musk tem estado a entregar documentos internos do Twitter a jornalistas independentes e autores para análise e publicação.

    Até agora, foi revelado que o Twitter censurou vozes conservadoras, suprimiu e desacreditou informação verdadeira sobre o escândalo envolvendo o filho do actual presidente dos Estados Unidos, Joe Biden.

    O Twitter também censurou cientistas e especialistas de topo, executou “pedidos” do FBI e serviços de informação norte-americanos e ajudou o Pentágono a espalhar desinformação, incluindo através da criação de perfis falsos.

    A divulgação dos “Twitter Files” é feita através do Twitter, tendo sido essa a única condição acordada entre Musk e os jornalistas e autores encarregues da análise e publicação da informação.

    Mas ainda não tinha sido divulgada informação específica e detalhada sobre a censura em torno do tema covid-19, a qual é abordada nesta parte dos “Twitter Files” que foi hoje divulgada.

    Segundo Zweig, O governo norte-americano pressionou o Twitter e outras redes sociais a dar mais visibilidade a determinado tipo de conteúdos sobre covid-19 e a suprimir outro.

    A pressão sobre o Twitter para censurar conteúdos relativos à pandemia veio tanto da parte da administração de Donald Trump, como da administração de Joe Biden. Documentos internos do Twitter revelam que ambas as administrações colocaram pressão sobre antigos executivos do Twitter para moderarem os conteúdos sobre covid-19 partilhados na rede social.

    Segundo a nova informação tornada hoje pública por David Zweig, a administração de Trump manteve reuniões com representantes de redes sociais e grandes tecnológicas, incluindo do Twitter, Google, Facebook, Microsoft e outros.

    Mas a administração de Biden pediu mesmo que contas fossem banidas permanentemente e pressionou o o Twitter a censurar conteúdos sobre vacinas. Um exemplo dado é o do antigo jornalista do New York Times e escritor Alex Berenson, que fez diversos alertas sobre vacinas contra a covid-19 e foi banido pelo Twitter a pedido da Casa Branca. Berenson acabou por processar o Twitter e ambos chegaram a um acordo em Tribunal.

    Berenson alertou, diversas vezes, para o facto de as vacinas contra a covid-19 serem ineficazes a impedirem a infecção e a transmissão – como se veio a confirmar – e defendeu mesmo que as vacinas eram perigosas.

    Zweig contou: “um resumo, de Dezembro de 2022, das reuniões com a Casa Branca, de Lauren Culbertson, chefe de política pública dos EUA do Twitter, acrescenta novas provas da campanha de pressão da Casa Branca, e cimenta que repetidamente tentou influenciar diretamente a plataforma”.

    Aquela responsável do Twitter escreveu que a equipa de Biden queria que a rede social fosse mais agressiva na censura de conteúdos sobre a pandemia.

    Os antigos executivos da rede social não acataram todos os “pedidos” de censura da equipa de Biden, “mas o Twitter reprimiu opiniões – muitas de médicos e especialistas científicos – que entraram em conflito com as posições oficiais da Casa Branca”. “Como resultado, as conclusões legítimas e as questões que teriam ampliado o debate público desapareceram”, escreveu Zweig.

    A manipulação de conteúdos existia em relação a outros temas, como se tem comprovado com os “Twitter Files” e, “com a covid[-19], este preconceito inclinou-se fortemente para os dogmas do establishment“.

    Assim, “inevitavelmente, o conteúdo dissidente mas legítimo foi rotulado como desinformação, e as contas de médicos e outros foram suspensas tanto por tweetar opiniões como por informações comprovadamente verdadeiras”.

    Um dos alvos de censura e perseguição foi Martin Kulldorff, um reputado epidemiologista da Universidade de Medicina de Harvard e co-autor da Great Barrington Declaration, quando escreveu a sua opinião, como especialista, acerca das vacinas contra a covid-19. Apesar de a sua opinião ser a de um especialista conceituado e até estar em linha com a visão de alguns países, executivos do Twitter decidiram aplicar um aviso de “desinformação” ao tweet de Kulldorf.

    Num outro exemplo, o Twitter classificou como desinformação dados oficiais da norte-americana CDC partilhados por um verificador de factos sobre saúde.

    Curiosamente, este tweet com dados verdadeiros e oficiais da CDC foi publicado como resposta a um outro tweet, esse sim, com informação falsa, ao indicar erradamente que “desde Dezembro de 2021, a covid foi a principal causa de morte por doença nas crianças”. Esta informação é falsa mas o Twitter não só não lhe aplicou a etiqueta de desinformação como o tweet ainda se mantém na rede social e não foi apagado pelo Twitter.

    Também médicos foram visados pela censura do Twitter, simplesmente por partilharem resultados de estudos científicos verdadeiros sobre temas como as vacinas mRNA, como a comercializada pela Pfizer. Foi o caso de um médico que partilhou os resultados de um estudo que apontaram que, no caso dos jovens entre os 18 e os 39 anos, as vacinas mRNA contra a covid-19 foram associadas a situações de paragem cardíaca e não apenas miocardites.

    Um outro médico, acabou por ser banido do Twitter, após ter recebido várias etiquetas de desinformação. Um dos seus tweets era sobre um estudo científico revisto por pares que concluiu que as vacinas mRNA causam uma diminuição temporária da concentração de esperma e da contagem de espermatozoides e questionava se os reforços de vacina também tinham o mesmo efeito.

    Num outro exemplo de como era feita a moderação interna de conteúdos sobre a pandemia, um tweet onde Trump afirmou “não tenham medo da covid-19” resultou num debate sobre se devia ou não ser censurado. Jim Baker, antigo executivo do Twitter e que antes tinha trabalhado no FBI, questionou porque a afirmação de Trump não foi classificada como desinformação, levando Yoel Roth, antigo diretor de Trust & Safety do Twitter, a explicar que optimismo não era desinformação.

    Zweig conclui a divulgação desta nova parte dos “Twitter Files”, com uma série de tweets em que explica que o Twitter “tomou a decisão, através das inclinações políticas do pessoal senior e pressão do governo, de que a abordagem à pandemia das autoridades públicas de saúde – prioritizando a mitigação sobre outras preocupações – era ‘A Ciência’”.

    Toda a informação que desafiasse a visão oficial, como mostrar os riscos das novas vacinas, ou que podiam ser entendidas como estando a reduzir os riscos da covid-19, especialmente para as crianças, era sujeita a moderação ou mesmo supressão, independentemente de os factos estarem correctos ou de corresponderem a medidas que foram adoptadas em outros países.

    Zweig terminou, questionando: “Como teria sido esta pandemia e o seu rescaldo, se tivesse havido um debate mais aberto no Twitter e noutras plataformas das redes sociais — para não falar da imprensa mainstream — sobre as origens da covid, sobre os confinamentos, sobre os verdadeiros riscos da covid em crianças, e muito mais”?

    Além de Zweig, trabalharam nesta parte dos “Twitter Files” o autor Michael Shellenberger, o jornalista Leighton Woodhouse, o jornalista de investigação Lee Fang e a equipa do jornal independente The Free Press.

    [Pode ler aqui toda a cobertura do PÁGINA UM sobre os “Twitter Files”]

  • #TwitterFiles: Rede social ajudou o Pentágono a espalhar desinformação e propaganda

    #TwitterFiles: Rede social ajudou o Pentágono a espalhar desinformação e propaganda

    Depois de ser revelado pelos “Twitter Files” que o FBI punha e dispunha da rede social como se fosse uma sua “subsidiária”, ficou agora a saber-se que a rede social também ajudou o Pentágono a influenciar operações militares. Segundo a oitava parte dos “Twitter Files”, divulgada pelo jornalista de investigação Lee Fang, os anteriores executivos e funcionários do Twitter ajudaram o Pentágono a espalhar propaganda e informação falsa durante, pelo menos, cinco anos. A campanha de desinformação que o Twitter ajudou a espalhar incluiu a criação de perfis falsos e vídeos manipulados.


    O escândalo de dimensões gigantescas que está a ser exposto pela divulgação de documentos e mensagens internos do Twitter não pára de aumentar. Na oitava parte dos chamados “Twitter Files”, o jornalista de investigação Lee Fang revelou como os anteriores executivos e funcionários do Twitter ajudaram o Pentágono numa campanha de propaganda e desinformação.

    A ajuda do Twitter ao Pentágono, que durou cerca de cinco anos, permitiu que uma rede de contas falsas criadas pelo Pentágono manipulasse a opinião pública sobre os conflitos envolvendo o Iémen, o Iraque, o Estado Islâmico, a Síria e o Kuwait.

    As contas em causa publicavam frequentemente sobre as políticas das Forças Armadas norte-americanas no Médio Oriente, e mensagens desfavoráveis ao Irão. Para além da região árabe, algumas visavam profusamente a Rússia e a China.

    Estas informações, que vieram a público na noite de terça-feira, contrariam as afirmações que a gigante tecnológica fez no passado, quando anunciou estar a “investir fortemente” na transparência relativamente a “operações de informação” apoiadas pelo governo que constituíssem “comportamento coordenado de manipulação”.

    Com efeito, não só o Twitter permitiu actividade de propaganda militar pela Defesa norte-americana, como o fez durante anos. Em Julho de 2017, uma funcionária do Comando Central norte-americano (CENTCOM) – uma divisão do Departamento da Defesa – enviou à rede social uma lista de 52 contas em língua árabe para serem “whitelisted”, ou seja, terem o seu estatuto de verificação aprovado.

    Nesse mesmo dia, a empresa atribuiu-lhes ainda o “privilégio” de ficarem isentas da sinalização por spam ou “abuso”, e uma maior visibilidade e probabilidade de se tornarem “tendência”. Num dos e-mails, a CENTCOM disse que usavam as contas para “amplificar certas mensagens”.

    Embora inicialmente os perfis não escondessem ligações à Defesa norte-americana, mais tarde acabaram por se tornar totalmente ‘camufladas’ para se fazerem passar por pessoas reais. Várias das contas em questão acusavam o Irão de “ameaçar a segurança da água do Iraque” e de ficar com os “órgãos de refugiados afegãos”. Para simular a sua autenticidade, algumas tinham imagens de perfil criadas por Inteligência Artificial (denominadas deepfake). Uma delas alegava ser uma fonte de “opinião iraquiana”.

    As comunicações internas agora reveladas mostram que a rede social tinha conhecimento da operação de propaganda encetada pelas Forças Armadas norte-americanas, mas permitiu a manutenção das contas, mesmo estando em violação dos seus termos de utilização.

    De facto, muitas foram identificadas ainda em 2020, mas permaneceram activas ainda durante esse ano. Algumas só foram suspensas este ano, e outras não chegaram a ser eliminadas até hoje.

    Em Agosto passado, um relatório da Universidade de Stanford intitulado “Stanford Internet Observatory” ‘desmascarou’ a rede de propaganda que a Defesa norte-americana mantinha contra os seus “adversários” internacionais. A ‘operação’ utilizava várias redes sociais: para além do Twitter, também o Facebook e o Telegram.

    [Pode ler aqui toda a cobertura dos “Twitter Files” feita pelo PÁGINA UM]