Etiqueta: Sara Battesti

  • PAN: ‘Avançamos, pelas causas’

    PAN: ‘Avançamos, pelas causas’

    Em contagem decrescente para as legislativas de 2024, esta foi uma semana recheada tanto de debates políticos como de fait divers e trivialidades. De facto, o eleitorado tem sido estimulado das mais diversas maneiras nos canais de comunicação formais ou informais. E na rua também apareceram novos motivos e novas promessas eleitorais para esta recta final das campanhas. Quem dá mais?

    Com o objectivo de recuperar um grupo parlamentar nestas eleições, o PAN lançou uma campanha de outdoors concebida internamente aliando um mupi genérico com o retrato da sua líder Inês Sousa Real e estruturas de grande formato com mensagens provocatórias para ganhar maior visibilidade e quiçá despertar a polémica.

    Comecemos pela designação curta deste partido: PAN é o acrónimo de Pessoas, Animais e Natureza e inevitavelmente traz à memória o prefixo que exprime a noção de totalidade, universalidade, o que lhe confere força e impacto.

    Para um aficionado de banda desenhada, poderá lembrar uma onomatopeia que sugere a imagem auditiva de algo a embater noutra. Talvez por isso, a expressão fonética não esteja completamente sedimentada, algumas pessoas pronunciam o ‘N’ final, enquanto outras não. Oficializado em 2011 pelo Tribunal Constitucional, a sua designação fundadora era Partido pelos Animais e pela Natureza em linha com a sua agenda animalista, que orientou aliás a escolha dos brindes — sacos e utensílios para cães e gatos — que distribuiu numa recente arruada no parque das Nações.

    Mupi do PAN na Avenida da República, em Lisboa. Foto: ©Sara Battesti

    O motivo mais disseminado pelo espaço público é o mupi verde com o retrato sorridente da líder ao lado de um headline que se assemelha a um balão de fala das BD a clamar: ‘Avançamos, pelas Causas’. O fundo verde mentol que alude à natureza é mais do que expectável, porém esta é também a cor escolhida pelo PS, o que acaba por não ser distintivo e comprometer a desejada rápida identificação.

    Na fotografia, Sousa Real é empática pelo seu olhar franco e amigável, enquanto o vestuário escolhido transmite sofisticação, usando um blazer de tons dourados que contrasta com o fundo verde. Espera-se que seja uma indumentária Made in Portugal e amiga do ambiente.

    Quanto ao seu logótipo, emprega uma fonte com pouca personalidade adquirindo uma expressão visual quase infantil ou ingénua, conjugado com a designação completa do partido por baixo, com fraca legibilidade. O símbolo é uma árvore com um tronco em forma de braço e mão humana, ilustrando duas vertentes da missão do partido, ficando incompreensivelmente de fora a defesa da causa animal. E ao assemelhar-se a tantas ilustrações comuns royalty free, o seu design é só banal.

    Em Lisboa, numa das principais entradas da cidade a propaganda PAN é composta por três outdoors usando uma composição exclusivamente tipográfica, que varia nas cores de fundo. O primeiro outdoor pergunta: “O tamanho importa?” O segundo responde: “Importa.” E o terceiro completa: “Se com 1 é bom, em grupo é ainda melhor.”

    Outdoor do PAN na Calçada de Carriche, em Lisboa. Foto: ©Santiago Cecílio

    A tentativa do partido em associar sua abordagem ao filme “Três Cartazes à Beira da Estrada” de Martin McDonagh é um tanto ou quanto forçada. O filme retrata uma história comovente de uma mãe desesperada pela inércia da justiça em relação ao desaparecimento da sua filha, utilizando cartazes como forma de estimular um maior envolvimento da polícia e comunidade local.

    Comparativamente, a versão do PAN parece descontextualizada e até desrespeitosa em relação ao tema e à mensagem do filme, assim como o tom e estilo da campanha política serem distintos da seriedade do enredo cinematográfico. Esta mensagem de estilo bem vulgar revela uma estratégia superficial para chamar a atenção, a qual não se alinha adequadamente com a profundidade do filme. O denominador comum em ambos os contextos reside apenas no desespero de uma chamada de atenção.

    A campanha de estilo grosseiro visa captar mais votações para alcançar um aumento o número de deputados, recuperando assim o protagonismo que o partido teve nas eleições de 2019 quando elegeu quatro deputados (com a liderança anterior).

    Outdoor do PAN na Calçada de Carriche, em Lisboa. Foto: ©Santiago Cecílio

    Compensando as limitações orçamentais, esta é uma abordagem destinada a potenciar o impacto, e alimentar reacções em cadeia, o que se torna bastante eficaz para partidos mais recentes. Estas estratégias provocatórias têm de facto maior propensão em atrair as massas, facilitando a memorização dos slogans, como é evidenciado pela ascensão do IL, embora este partido tenha apostado num conceito criativo fácil de adaptar que sublinha diferentes vectores da sua proposta de acção governativa.

    Desde 2021, a liderança de Inês de Sousa Real tem sido alvo de críticas, tanto internas quanto externas, o que fragiliza o potencial de crescimento do partido. As críticas surgiram do facto de deter uma empresa de exploração agrícola de mirtilos, como Joaquim Sousa acusou-a de realizar “purgas estalinistas” e de transformar o PAN num “partido oco, de cariz animalista excessivo”.

    Atendendo que a base de eleitores do PAN é predominantemente composto por mulheres e licenciadas, este conceito e estilo não estão propriamente muito em consonância com este perfil, representando um ponto fraco além de limitar o impacto da campanha de rua.

    Outdoor do PAN na Calçada de Carriche, em Lisboa. Foto: ©Santiago Cecílio

    Quanto ao design dos outdoors e mupis, é válido apontar que a inconsistência pode comprometer a projecção do partido e dificultar o reconhecimento pelos eleitores. O uso do hashtag #juntateaogrupo revela a intenção de atrair apoiantes e valorizar os benefícios inerentes ao aumento de deputados do partido na Assembleia da República. Com um grupo parlamentar maior, os avanços para as causas que o partido representa serão ainda maiores, factor de persuasão do seu eleitorado para contribuir para o crescimento do PAN. Numa fase anterior a esta, foi desconcertante saber que o PAN chegou a usar a inteligência artificial como parte de uma estratégia de expansão do seu eleitorado. Ora, é fundamental o partido manter a sua autenticidade assim como uma linha orientadora para garantir que a sua mensagem e imagem ressoem dentro da comunidade portuguesa, evitando que sejam diluídas por tendências passageiras.

    “Touradas só na cama e com consentimento” é a mensagem desafiadora que o partido lançou mais recentemente nas proximidades do Campo Pequeno. Apesar de adoptar uma linguagem próxima do tríptico da Calçada de Carriche, confunde-se ao longe com um anúncio do IKEA não só pelo fundo branco como pela fotografia da cama de casal de design neutro, não conseguindo assim assegurar uma coerência gráfica com os restantes motivos que estão na rua.

    Para instigar a polémica mediática, o partido procurou amplificar o seu impacto com a distribuição de uma nota de imprensa de maneira a contrabalançar as limitações da sua visibilidade nos debates televisivos de formato compacto. O candidato com mais horas de direito de antena terá possivelmente sido o Ricardo Costa, do “partido SIC”. Terá sido a eficácia da última campanha desta marca sueca que convenceu o PAN a relançar o debate aceso em torno da abolição das touradas com um outdoor afixado nas redondezas da praça de touros? Subjacente está o desejo de acabar com o financiamento público (que se eleva em 19 milhões de euros) desta prática cultural enquanto acto gratuito de crueldade animal. Uma forma de contestar as políticas vigentes e sublinhar a sua força como partido animalista, o que de certa forma segue a abordagem populista tão em voga.

    Outdoor do PAN dedicada à abolição da tourada na Avenida da República, em Lisboa. Foto: ©Liliane Miliciano

    Na recta final da campanha eleitoral, observamos uma mudança nos cartazes políticos, exemplificados pelo PS e AD, que passam a incluir promessas bem concretas. O PAN também não é excepção, embora não desfrute da mesma notoriedade, nem promova a pluralidade de promessas eleitorais. Como afirmou o linguista francês Charaudeau em 2008, “todo acto de linguagem ocorre numa arena de aventuras, onde estão em jogo apostas e expectativas. Isso implica que, nesse processo, os intervenientes políticos recorram a uma diversidade de manobras e estratégias discursivas para comunicar de forma clara suas intenções.”

    Num ano marcado por desafios significativos para a governação, como os conflitos mundiais, a tensão geopolítica no estreito de Taiwan, o crescimento económico modesto e as eleições nos EUA, é fundamental que os partidos políticos comuniquem de forma pertinente e abrangente para conquistar vínculos significativos com os cidadãos. À luz dos processos de transformação delineados por Charaudeau, a pertinência do discurso político exige que seja adequado ao contexto e à finalidade, levando em consideração uma base comum de valores sociais e compreensão do mundo.

    Para conquistar um vínculo sólido com o seu eleitorado, um partido precisa articular sua mensagem de forma a abordar as preocupações da população, incorporando uma visão abrangente que englobe questões sociais, ambientais e económicas. Isso significa que deve ser capaz de oferecer propostas e soluções que ecoem as necessidades e aspirações da sociedade, demonstrando uma compreensão profunda dos desafios enfrentados e um compromisso genuíno com a melhoria do bem-estar colectivo.

    Cartaz do Festival dos Túbaros, na Rotunda da Malveira. Foto: ©Sara Battesti

    Como partido defensor de um novo paradigma moral, ético, cultural e civilizacional, esta campanha parece não reflectir uma grande elevação intelectual, privilegiando a polémica para inspirar fervor e lealdade entre os seguidores que se identificam.

    Importa ainda notar que esta forma de fazer campanha incorpora desvantagens, como alienar eleitores potenciais e gerar controvérsias negativas a longo prazo. Assim sendo, esta estratégia deve ser cuidadosamente considerada e avaliada em relação aos benefícios e riscos. Ao proporcionar um controlo total sobre o conteúdo político, em contraste com o conteúdo filtrado e interpretado pela comunicação social, os cartazes de rua continuam a ter futuro pela sua capacidade mobilizadora do eleitorado e, em certos casos, persuadir pessoas indecisas, desiludidas com o sistema político, e até converter os abstencionistas. Como expressão da identidade e posicionamento de cada força partidária, os outdoors continuam a ter um papel de destaque na comunicação política, até porque ninguém lhes é indiferente.

    E assim, neste oitavo acto, chegamos ao fim desta rubrica ‘Cartazes há muitos’.

    Sara Battesti é especialista em Comunicação


    Avaliação do cartaz

    Design: 2/5

    Impacto: 2/5

    Eficácia: 1/5

    Média: 1,67/5


    N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.


    PÁGINA UM – O jornalismo independente (só) depende dos leitores.

    Nascemos em Dezembro de 2021. Acreditamos que a qualidade e independência são valores reconhecidos pelos leitores. Fazemos jornalismo sem medos nem concessões. Não dependemos de grupos económicos nem do Estado. Não temos publicidade. Não temos dívidas. Não fazemos fretes. Fazemos jornalismo para os leitores, mas só sobreviveremos com o seu apoio financeiro. Apoie AQUI, de forma regular ou pontual.

  • Livre: ‘Verde. Justo. Juntos’

    Livre: ‘Verde. Justo. Juntos’

    Face à desconfiança que permeia a classe política devido aos efeitos dos recentes escândalos de corrupção, estas novas eleições legislativas surgem como uma oportunidade inesperada para redefinir o panorama político nacional em dois níveis: oferecendo à direita a possibilidade de recuperar a influência perdida e aos novos partidos a ocasião de ampliarem sua voz e ganharem maior escrutínio.

    Para analisar a publicidade, o filósofo e linguista Roland Barthes propõe três níveis – icónico, simbólico e linguístico -, os quais serão aplicados nesta sétima análise dedicada ao LIVRE, partido fundado em 2014 por um grupo de cidadãos portugueses, com destaque para o historiador e escritor Rui Tavares. Começo a análise pela designação polissémica do partido: “livre” é tanto um verbo quanto um advérbio ou um adjectivo de dois géneros, incorporando a acção e os valores que o caracterizam. Desde logo esta denominação permite posicionar de forma clara este partido na ala esquerda, integrando princípios como independência, isenção e desembaraço, sugerindo ausência de comprometimento.

    Quanto ao seu logótipo, foi escolhida a papoila, uma flor delicada e frágil. Se por um lado, simboliza a paz, por outro, as papoilas vermelhas estão relacionadas com o sono eterno e a morte. Nos Estados Unidos, simbolizam os heróis de guerra falecidos, pois diz-se que cresceu em campos de batalha onde muito sangue foi vertido. Por outro prisma, o design desta flor vermelha, cor que expressa valores de esquerda, tem o centro preto composto por um círculo central rodeado de cinco pontos que lembra a impressão de uma pata animal. Uma iconografia que está muito em consonância com o princípio basilar da ecologia. Curiosamente, o principal uso terapêutico desta planta anual, que floresce entre Fevereiro e Setembro, é calmante, à semelhança aliás, da prestação discursiva sonolenta do seu líder.

    Outdoor do LIVRE na Calçada de Carriche, em Lisboa. Foto: ©Santiago Cecílio

    Sendo o LIVRE defensor de princípios progressistas, ambientalistas e de equidade de género, o seu discurso é naturalmente moldado pela ideologia de género e a defesa de paridade entre mulheres e homens. No entanto, a sua lista de candidatos para as eleições Legislativas de 2024 é composta por 49 homens versus 25 mulheres, o que revela um desequilíbrio de género, com apenas 34% de candidatas. A coerência está mais cara do que o azeite Gallo Virgem Extra.

    Se em tempos, Rui Tavares revelou algum pêlo na venta, quando em 2011 abandonou a delegação do Bloco de Esquerda ao Parlamento Europeu, acusando Francisco Louçã de ser incapaz de lidar com opiniões contrárias, ultimamente tem vindo a assumir-se como caçador de alianças, adoptando uma postura low profile. Tal está bem patente no anterior slogan da campanha “Bota acima não abaixo!” das legislativas de 2022, assumindo o apoio ao PS, diria incondicional, defendendo a noção que assim se facilitaria a governação. Uma oposição meiga e carinhosa.

    No próximo dia 10 de Março, o LIVRE, que este ano celebra uma década, visa triplicar a sua representação na assembleia, passando de um deputado para três. Um resultado que tem a grande vantagem de resolver a centralidade na figura de Rui Tavares. Fazendo jus aos seus princípios de equidade, esta campanha eleitoral pode ser uma oportunidade para dar a conhecer os outros rostos — personalidades geralmente com muito pouca projecção mediática — que querem levar ao parlamento. Sublinha-se que segundo um estudo realizado pela Imago-Llorente & Cuenca em parceria com a Universidade Católica Portuguesa e divulgado em 2015, Rui Tavares foi considerado o político mais influente da rede social Twitter em Portugal. Talvez por isso seja considerado um activista, nova profissão bastante em voga.

    Ao contrário da maioria das campanhas adversárias que estão na rua, o LIVRE começou por um cartaz sem o retrato do líder, talvez para não evidenciar o facto de ser sempre a mesma pessoa. Assim, não se aproveita da credibilidade e notoriedade da sua figura principal, preferindo uma composição gráfica neutra centrada na iconografia da flor. Com dois motivos de outdoor, vemos uma imagem close-up do carpelo, também chamado de pistilo, que representa a parte reprodutiva feminina da flor, geralmente localizada no seio da estrutura floral.

    Outdoor do LIVRE, na Alameda, em Lisboa. Foto: © Sara Battesti

    Sendo o outdoor uma peça de comunicação que é lida numa fracção de segundo, esta imagem pode ser confundida com um ácaro ou um vírus, o que é natural após sermos expostos a tantas imagens científicas do SARS-CoV-2. Embora a composição seja atraente e com cores distintivas, pode este elemento gerar alguma repulsa.

    As cores predominantes da campanha do LIVRE nestas eleições são o verde lima e o vermelho aberto, destacando os ideais ambientalistas e de esquerda desta iniciativa política europeísta. Estas cores simbolizam a postura do partido em relação às questões ambientais e às políticas progressistas. O LIVRE declara que “A única hipótese que os europeus têm de conseguir enfrentar esta fase de grande instabilidade internacional é terem união contra os imperialismos. Nós (LIVRE) somos contra todos os imperialismos, quer o dos EUA, quer o da Rússia”, argumenta Rui Tavares.

    Nos dois outdoors de 8×3 metros, a designação do partido é destacada com grande protagonismo, atingindo o desejo por liberdade de um certo eleitorado. No centro, um headline apresenta duas mensagens complementares: no primeiro, lemos “o país que queremos”, enquanto no outro são resumidas em apenas três palavras-chave que materializam a promessa eleitoral: “verde. justo. juntos.” Em ambos os casos, que coexistem no espaço público, o apelo é simples, claro e fácil de memorizar. O ano de 2024 é escrito usando várias cores, evocando a diversidade cromática do movimento LGBTQIA+, o que contrasta com o preto da sua designação que aparece ao lado. Apesar de estar destacada por uma caixa branca, o facto de estar à esquerda reduz a sua força.

    Placa em PVC nos postes de electricidade da Avenida da República, em Lisboa. Foto: ©Sara Battesti

    O XIII Congresso do partido, realizado nos dias 27 e 28 de Janeiro passados, marcou uma mudança no design da campanha, graças ao envolvimento do atelier de comunicação Change is Good, sediado em França e fundado pelo designer português José Albergaria, que também esteve à frente da direcção da campanha presidencial de Ana Gomes em 2021. Nesta nova fase, o partido optou por manter um grafismo sem imagem fotográfica, com composições geométricas, uma verde e outra vermelha, em sintonia com os outdoors. Além disso, lançou um novo slogan, “Contrato com o FUTURO”, com o logo recentemente redesenhado abaixo, onde a palavra LIVRE ganha destaque e permite uma dupla leitura, ao acrescentar-se à promessa “Contrato com o Futuro Livre”.

    Considerando as declarações de Rui Tavares sobre a visão para Portugal, que inclui uma economia de alto valor acrescentado, conhecimento e descarbonização, com o objectivo de erradicar a pobreza estrutural, é surpreendente observar que o partido optou por promover-se com cartazes de pequeno formato, feitos em placas de PVC alveolar fixadas com abraçadeiras de plástico, uma escolha que vai contra as preocupações ambientais. Esperemos, pelo menos, que possam ser retirados e reciclados no futuro, prolongando seu ciclo de vida, como a CDU tem conseguido fazer.

    Recentemente, foi lançado um motivo em que finalmente aparece um grupo de candidatos sorridentes com Rui Tavares no centro com uma fotografia meio amadora com um pinheiro em pano de fundo. A composição mantém-se capitalizando as anteriores versões, mas como um novo repto: “Como o futuro deve ser”. Uma abordagem que vem contrabalançar a percepção pública de que o LIVRE se centra muito na sua figura, corroborando com a resposta do historiador que afirmo que o partido sempre funcionou de forma plural.

    Novo outdoor da campanha LIVRE na Calçada de Carriche, em Lisboa. Foto: ©Sara Battesti

    É verdade que o LIVRE é quem menos investe em propaganda. Todavia, em comparação com 2022, seus gastos duplicaram, totalizando cerca de 95 mil euros. Destes, 35 mil são dedicados à campanha de outdoors (estruturas, cartazes e telas) e 10 mil para concepção e estudos. Apesar disso, trata-se de um investimento modesto se considerarmos os oito milhões gastos pelo conjunto de partidos com assento parlamentar. É importante destacar que é um dos partidos com eleitores mais escolarizados, sendo que 60% deles frequentaram a universidade. Em relação à idade e ao sexo, não há diferenças significativas.

    Há quem considere intrigante a trajectória política de Rui Tavares (ou Ruizinho, como é carinhosamente chamado por alguns jornalistas), que parece seguir uma linha consistente de procura de novos cargos: até 2025, é vereador sem pasta na Câmara Municipal de Lisboa, sendo assessorado por oito especialistas em part-time, cujos contratos totalizam 280 mil euros. Agora, assume a liderança da candidatura para estas eleições legislativas e deixa em aberto a possibilidade de uma candidatura às eleições europeias previstas para Junho. Numa entrevista à agência Lusa Tavares justifica a decisão afirmando: “As pessoas sabem perfeitamente o que a Europa e o projecto europeu significam para mim, e que é uma área na qual tenho tido sempre muita actividade, empenho e interesse”, em jeito de carta de motivação à UE.

    As campanhas eleitorais representam momentos privilegiados na vida política democrática, nas quais são concebidas estratégias e tácticas para transmitir mensagens e persuadir. É essencial respeitar as expectativas fundamentadas em acções reais que sustentam tais apostas.

    Ilustração: ©Ruy Otero e Bruno Cecílio

    Na cobertura da campanha, o LIVRE tem agitado a comunicação social ao frisar que “alguns são levados ao colo”. Tal afirmação, conforme observado por muitos, pode parecer ligeiramente descabida para um político que é protegido por algumas figuras filantrópicas mundiais. Há quem diga até que estas mesmas figuras também financiam muitos órgãos de comunicação social através de suas organizações ou fundações.

    Citando o linguista Patrick Charaudeau, “o discurso político na arena pública envolve um jogo de máscaras e de imagens construídas no discurso.” Ora, se a eloquência do discurso existe, a consistência não parece ser uma preocupação. Basta recordar a polémica em torno da antiga deputada Joacine Katar Moreira, eleita em 2019, que viria a representar o partido por cerca de apenas dois meses. O meu filho, que na altura tinha 8 anos, até sugeriu a mudança de nome do partido para “NÃO MUITO LIVRE”.

    Sara Battesti é especialista em Comunicação


    Avaliação do cartaz

    Design: 3/5

    Impacto: 3/5

    Eficácia: 3/5

    Média: 3/5


    N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.


    PÁGINA UM – O jornalismo independente (só) depende dos leitores.

    Nascemos em Dezembro de 2021. Acreditamos que a qualidade e independência são valores reconhecidos pelos leitores. Fazemos jornalismo sem medos nem concessões. Não dependemos de grupos económicos nem do Estado. Não temos publicidade. Não temos dívidas. Não fazemos fretes. Fazemos jornalismo para os leitores, mas só sobreviveremos com o seu apoio financeiro. Apoie AQUI, de forma regular ou pontual.

  • CDU: ‘É hora. Mais força à CDU’

    CDU: ‘É hora. Mais força à CDU’

    Faltam menos de 25 dias para as eleições legislativas antecipadas em Portugal, com as comemorações do 50º aniversário da Revolução dos Cravos como pano de fundo, um dos momentos mais marcantes da nossa história democrática. O mês de Abril e os seus princípios inspiram as propostas do Partido Comunista Português (PCP), enraizado na ideologia marxista-leninista. Desde a sua origem em Março de 1921, o PCP tem sido um pilar essencial na evolução dos movimentos operários portugueses, desempenhando um papel significativo na consciencialização e no desenvolvimento político das massas trabalhadoras.

     Em 2022, Paulo Raimundo foi escolhido para assumir o papel de líder do PCP, sucedendo ao histórico Jerónimo de Sousa. Trabalhou em carpintaria, foi padeiro e animador cultural na Associação Cristã da Mocidade na Bela Vista. Desconhecido para a maioria dos portugueses, é no entanto reconhecido no partido pelas suas qualidades humanas e pela vasta e diversificada experiência política. Raimundo traz consigo uma trajectória marcada por múltiplas áreas de actuação, incluindo sindicatos e o acompanhamento de empresas e serviços públicos. Nas eleições antecipadas de 2024, Raimundo encabeça assim a lista da CDU — Coligação Democrática Unitária, em Lisboa.

    Mupi da CDU na Avenida da República, em Lisboa. Foto: ©Sara Battesti

    O perfil do eleitorado da CDU revela uma distribuição diversificada com  destaque para a faixa etária acima dos 54 anos, mas curiosamente com uma participação significativa de jovens adultos. E recebe grande apoio de pessoas com menor escolaridade, enquanto a diferença entre os votos de homens e mulheres é praticamente inexistente.

    Desde Janeiro, na campanha que se vê nas ruas, especialmente em vários mupis, destacam-se promessas como a criação de uma rede pública de creches, aumento de salários e pensões, direito à saúde e melhorias nos transportes públicos. Numa recente sondagem da Católica apresentada no jornal Público, a Saúde e Educação são os assuntos que mais preocupam os inquiridos, com respectivamente 72% e 48% pelo que os temas da campanha do PCP são certeiros.

    O slogan “Basta de injustiça!” é uma presença comum nesses materiais, reflectindo a tradição do PCP em denunciar problemas e mobilizar a população para construir um país mais justo. No entanto, “Basta de injustiça!” tornou-se um leitmotiv bastante desgastado, amplamente usado não só noutras ocasiões, como também por outros líderes, nomeadamente em 2007 por Jerónimo de Sousa.

    Mupi da CDU na zona do Beato, em Lisboa. Foto: ©Sara Battesti

    Consistente na sua abordagem panfletária, diversifica o chamamento ao protesto bem como convoca a população à construção de um futuro para Portugal com base numa distribuição de riqueza mais justa. O facto de ter sido um dos partidos que apoiou o governo de António Costa por seis anos fez com que se acalmassem os sindicatos com a redução da intensidade da luta.

    Durante a pandemia, o PCP nunca adoptou uma postura de confronto com as medidas restritivas que foram impostas, as quais prejudicaram severamente as classes mais desfavorecidas. Ora, desde os trabalhadores precários até aos operários fabris, as medidas tiveram como consequência o agravamento das disparidades de género e raciais. Se porventura o partido proclama a defesa dos desfavorecidos aos quatro ventos, quando chega a hora de agir, parece recuar, o que levou alguns eleitores a afastarem-se. Porém, ao ser um dos partidos responsáveis pela queda do governo, o PCP voltou a assumir a defesa da classe operária, embora deixando de ser uma proposta revolucionária para se tornar reaccionária. Há muito tempo que deixou de nos oferecer sonhos para apenas constatar doenças. Para muitos, esses seis anos são imperdoáveis e, sem dúvida, deixaram uma marca indelével no PCP.

    Nesta primeira fase de campanha, as cores predominantes são o verde, roxo e azul com a mensagem grafada num lettering geralmente aberto a branco. Se porventura, a composição é reconhecível ao longe, a leitura da mensagem ao ser muito descritiva requer demasiado tempo, o que reduz o impacto desta campanha old fashion. Os motivos integram fotografias de pessoas com um filtro de cor verde, o que resulta bastante mal lembrando vultos extraterrestres. Muito embora a presença humana permita sublinhar a empatia com o povo, resulta num design definitivamente pouco atractivo.

    Cartaz 8×3 da CDU ©DR

    Curiosamente, somente na versão de grande formato 8×3 metros é que está representado o líder, aqui também com um filtro azul que acompanha a cor de fundo como parte da identidade CDU. Uma opção que evidencia distância, com o Raimundo que não olha de frente como sugerem os preceitos do marketing político. O resultado é uma composição antiquada que denuncia um partido envelhecido que opta por modelos que pouco se adequam ao actual panorama social, político, e até mesmo comunicacional.

    Em Fevereiro, surge uma nova fase de campanha que aposta numa composição refrescada com um impactante retrato de Paulo Raimundo em grande destaque. De visual mais contemporâneo, o cartaz dá ênfase a valores de esperança e a confiança, apelando à união do eleitorado. A fotografia foi extremamente bem produzida, tendo como fundo árvores frondosas de cores outonais que sugerem uma quinta ou um jardim. É nesta representação da natureza que reside o apelo emocional, para evocar emoções como esperança e confiança simbolizada à verticalidade das árvores.

    Agora, não se percebe por que o PCP não apostou num secretário-geral com maior projecção pública, que transmita uma imagem de menor ortodoxia, como João Ferreira, e preferiu optar por uma figura sem qualquer reconhecimento público. Neste cartaz, denota-se uma clara intenção de tornar a imagem de Paulo Raimundo mais atractiva. Apresenta-se de forma bem cuidada e olha para a o meio da lente da câmara de modo a nutrir um elo de confiança e intimidade com o eleitorado (real e potencial).

    Nova campanha de Outdoor do PCP © DR

    Dispensa a gravata — outra coisa não seria de esperar—, usando um vestuário informal mas elegante, combinando o castanho de um blusão numa alusão à terra, e o azul eléctrico da camisola de lã que sobressai e atrai o olhar das pessoas. Esta renovação de imagem é crucial para poder gerar um vínculo positivo e formar a opinião do eleitorado. De composição simples, esta é uma fórmula clássica feita a partir de uma única fotografia retratando o líder em plano americano, com a expressão grifada “É hora. Mais força à CDU.” Enquanto apelo directo e claro, é uma mensagem curta e fácil de memorizar a que está subjacente o mote “a união faz a força”. Ao contrário de outros cartazes políticos destas eleições, Raimundo encontra-se no centro do cartaz e não num dos lados, inserindo-se mensagem do lado esquerdo, aliás como no caso do Bloco de Esquerda.

    Aqui, o logótipo PCP-PEV é ajustado para encaixar a cruz do boletim de voto. O headline usa a fonte identitária da Coligação Democrática Unitária, permitindo à sigla do CDU estar somente escrita em prol da simplicidade e clareza. Uma acertada aposta nesta campanha que transmite uma postura de homem de estado, compensando o facto do secretário-geral do PCP ser estreante nos palcos televisivos e estar em franca desvantagem face aos adversários.

    Surpreendente é verificar que nestas eleições legislativas de 2024, a CDU é a terceira força política que mais gasta com uma previsão de investimento de 785 mil euros, o que corresponde a um aumento de mais 90 mil euros comparativamente a 2022. Um dos motivos é ter uma campanha de cartazes com uma distribuição alargada pelo território nacional.

    A força. Ilustração Ruy Otero a partir de fotografia de arquivo

    A fotografia de Raimundo neste ambiente natural permite assim transmitir uma mensagem de proximidade e autenticidade. Contudo, a CDU enfrenta desafios nas últimos sondagens, com apenas 2% de intenções de voto, sendo ultrapassada pelo Livre que alcança 3%. Estas sondagens revelam que o surgimento de novos partidos que diversifica o cenário político nacional, tem também desafiado o protagonismo do PCP.  Muito por culpa própria, ao ter-se afastado da sua raiz poética, dando claros sinais de que a sua noção de funcionamento do mundo ainda é do século XIX. Proletariado e capitalismo…onde é que isso já vai!

    Como observou o político e filósofo polaco Schwartzenberg, a política moderna tende a focar mais em pessoas e personagens do que em ideias. Apesar disso, é essencial uma regeneração na classe política para manter a democracia resiliente. À medida que nos aproximamos da votação de 10 de Março, resta saber como o eleitorado responderá a um partido cuja base de apoio está em declínio. Não obstante a abstenção e o envelhecimento da base de apoio, cabe a nós não sucumbirmos a projectos pouco democráticos (e não estou a falar do Chega), mas que, por estarem tão distantes da essência humana, correm o risco de falhar, como aliás se faz sentir um pouco por todo o mundo ocidental. Como é referido nalguns meandros das redes sociais, o primeiro passo é não nos darmos ao luxo de permitir que pensem por nós.

    Sara Battesti é especialista em Comunicação


    Avaliação do cartaz

    Design: 2/5

    Impacto: 2/5

    Eficácia: 2/5

    Média: 2/5


    N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.


    PÁGINA UM – O jornalismo independente (só) depende dos leitores.

    Nascemos em Dezembro de 2021. Acreditamos que a qualidade e independência são valores reconhecidos pelos leitores. Fazemos jornalismo sem medos nem concessões. Não dependemos de grupos económicos nem do Estado. Não temos publicidade. Não temos dívidas. Não fazemos fretes. Fazemos jornalismo para os leitores, mas só sobreviveremos com o seu apoio financeiro. Apoie AQUI, de forma regular ou pontual.

  • Bloco de Esquerda: ‘Pela habitação, não lhes dês descanso’

    Bloco de Esquerda: ‘Pela habitação, não lhes dês descanso’

    Esta semana, proponho-me a analisar os cartazes que o Bloco de Esquerda (BE) colocou em circulação. Nas corridas eleitorais, a harmonia dos signos — tanto no plano da expressão enquanto significante, quanto no plano do conteúdo como significado — é um elemento crucial para o desenvolvimento da cultura política e cívica, além de ser fundamental para a própria decisão de voto. Um desses signos reside nas cores predominantes que servem como suporte para a expressão simbólica das ideologias partidárias. A força de toda a linguagem subliminar está relacionada com o acto de convencer e alcançar as metas.

    A propaganda do BE para as próximas eleições evidencia-se no espaço público pelo uso exuberante da cor vermelha, evocando o estilo chinês, e fazendo alusão aos símbolos da luta dos trabalhadores e dos movimentos revolucionários. O vermelho é uma cor poderosa, carregada de energia e significado. Visualmente impactante, simboliza a luta contra a desigualdade social, a busca pela igualdade económica e a defesa dos direitos dos cidadãos. A forte presença do vermelho indica que o Bloco sente a necessidade de focar nos princípios e revitalizar os valores fundamentais da esquerda. Apesar do marcante fundo vermelho se destacar na cidade, a integração do retrato da líder Mariana Mortágua fica aquém das expectativas devido à sua simplicidade visual. Uma opção por um fundo mais elaborado com profundidade e tridimensional poderia ser mais apelativo.

    Outdoor do Bloco de Esquerda, na Avenida da República, em Lisboa. Fotografia: ©Sara Battesti

    A aposta em três cores contrastantes – preto, branco e vermelho – é bastante característica da estética oriental o que se adequa bem à fisionomia de Mariana Mortágua. No entanto, por limitações de formato, não permite exibir a sua imagem de marca associada aos ténis All Stars, com uma conotação, digamos, capitalista e americana. Ainda assim, o conjunto demonstra a elegância da candidata.

    A mensagem “Pela habitação”, realçada por uma caixa negra, é articulada com a frase: “Não lhes dês descanso”. Este apelo pode ser interpretado de duas maneiras distintas. A primeira leitura sugere uma ordem directa aos eleitores, instando-os a não descansarem na busca por soluções habitacionais. Já a segunda interpretação é mais intricada, sugerindo que a ordem é dirigida à própria Mariana, invertendo os papéis entre representado e representante, entre quem promete e aquele que exige ou manifesta o desejo. Além da formulação ser pela negativa, o uso da segunda pessoa do singular é surpreendente, muito embora as conclusões do estudo da Pitagórica sobre as eleições de 2022, tenham revelado a preferência contínua do Bloco entre os mais jovens, até aos 25 anos. A questão que se levanta é, até que ponto essa informalidade na propaganda realmente fortalece o sentido de pertença do seu eleitorado? Essa opção sugere uma estratégia de fidelização em vez de uma campanha voltada para o crescimento ou expansão do seu eleitorado.

    “Pela habitação: Não lhes dês descanso” representa um protesto claro, escolhendo um tema que afecta toda a sociedade, em particular as gerações mais jovens. Embora seja um problema relevante que aflige toda a Europa, focar-se numa questão específica pode ser interpretado como uma fragilidade, especialmente considerando a gravidade das condições de vida em vários quadrantes. Não é coincidência que outros partidos adversários optem por abordar uma variedade de temas, procurando criar conexões e afinidades com as preocupações dos eleitores, seja real ou potencial.

    A campanha de rua bloquista utiliza dois formatos principais: o mupi, cartaz ao alto geralmente instalado em estruturas próprias fixadas no chão, e os outdoors de grande formato (8×3 metros). Ambos estão colocados em locais de elevada afluência, onde todos os partidos competem por visibilidade. De acordo com uma sondagem recente conduzida pela Universidade Católica, o partido prevê conquistar apenas 5% dos votos, mantendo-se atrás da Iniciativa Liberal e ocupando a 5ª posição no ranking eleitoral.

    Muito recentemente, surgiu um novo mupi onde Mortágua aparece lado-a-lado com candidatos pelos círculos eleitorais, aqui ilustrado pelo candidato por Lisboa. “Para fazer o que nunca foi feito” é o slogan, numa promessa governativa mais abrangente.

    Mupi do Bloco de Esquerda, na Praça Paiva Couceiro, em Lisboa. Fotografia: ©Sara Battesti

    Fundado em 1999, o Bloco de Esquerda tem um logótipo que simboliza uma estrela vermelha (símbolo icónico em política) com uma designação dividida onde se realça a palavra “Bloco” e, por baixo em tamanho menor, consta “de Esquerda”. Essa opção de design que perde em termos de equilíbrio visual. Inspirado no pentagrama, sem o pentágono no interior, muitas vezes interpretado como representação dos dedos das mãos dos trabalhadores, o logótipo originalmente possui uma estrela de cinco pontas, representando os cinco continentes.

    Neste caso, uma das pontas transforma-se numa cabeça, conferindo uma dimensão humana. Segundo os depoimentos do partido, o movimento da estrela (ainda que um tanto desajeitado) pretende reforçar o humanismo, sublinhando o princípio bloquista de defesa de uma cultura cívica participativa e a perspectiva do socialismo como expressão da luta emancipatória da Humanidade contra a exploração e opressão.

    No retrato presente nos cartazes, a ex-comentadora televisiva Mariana Mortágua olha directamente para nós com uma expressão facial amigável e um sorriso ténue, em contraste com os líderes masculinos que costumam sorrir mais abertamente. A fotografia é cuidadosamente elaborada e destaca a sofisticação de Mariana, realçada por uma camisola de gola alta preta, à semelhança das protagonistas do filme “Kill Bill” de Quentin Tarantino. Como filha de Camilo Mortágua, um histórico activista anti-salazarista e revolucionário, Mariana é uma figura reconhecida pela sua personalidade combativa. Entrou para a política em 2013 como deputada, ganhando especial visibilidade pelos seus desempenhos nos inquéritos parlamentares à gestão do BES e, mais recentemente, no caso da TAP.

    Ilustração de Ruy Otero sobre o Bloco de Esquerda.

    Em Novembro de 2023, durante a Mesa Nacional do Bloco de Esquerda, Mortágua enfatizou a “preocupação em encontrar soluções para o país” em áreas onde diversos problemas persistem, como saúde, educação, habitação e salários. Defensora dos estados de emergência, optou por concentrar a narrativa de sua campanha na crise habitacional, que descreve como uma “pandemia social” e uma prioridade imediata para a acção do partido.

    Esta estratégia mono-temática tem limitado a atenção dos meios de comunicação e, consequentemente, tem falhado em manter o apoio público de forma consistente, excepto talvez durante manifestações em prol da habitação, cuja adesão tem declinado em 2024. Os meios de comunicação, por meio de sua função de agenda-setting, determinam os temas que ocupam a mente das pessoas e a importância lhes é atribuída, o que reforça a importância de considerar a capacidade de atrair a atenção dos meios de comunicação ao definir a estratégia da campanha.

    Apesar de Paixão Martins observar que, fora dos períodos eleitorais, “os partidos mais moderados geralmente têm menos intenções de voto, por não representarem causas específicas”, de acordo com a pesquisa de Mughan (1978), os efeitos da campanha tendem a reforçar as predisposições de voto existentes, em vez de transformá-las significativamente.

    Há uma clara intenção do BE em voltar a posicionar-se como partido de protesto, tentando desviar a atenção de suas responsabilidades como um dos partidos que apoiou o governo anterior, liderado por António Costa, durante cerca de seis anos. O que começou como um partido com inclinações libertárias tem demonstrado ser, na verdade, bastante regulamentar, evidenciando um desejo de fiscalizar diversos aspectos da vida dos cidadãos. Alguns até brincam com essa inclinação, chamando-os de “Bloco de Chega”.

    Sara Battesti é estratega e especialista em Comunicação


    Avaliação do cartaz

    Design: 3/5

    Impacto: 3/5

    Eficácia: 2/5

    Média: 2,7/5


    N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.


    PÁGINA UM – O jornalismo independente (só) depende dos leitores.

    Nascemos em Dezembro de 2021. Acreditamos que a qualidade e independência são valores reconhecidos pelos leitores. Fazemos jornalismo sem medos nem concessões. Não dependemos de grupos económicos nem do Estado. Não temos publicidade. Não temos dívidas. Não fazemos fretes. Fazemos jornalismo para os leitores, mas só sobreviveremos com o seu apoio financeiro. Apoie AQUI, de forma regular ou pontual.

  • Iniciativa Liberal: cartazes para dar que falar

    Iniciativa Liberal: cartazes para dar que falar

    Nos meios políticos portugueses, a campanha exterior da Iniciativa Liberal (IL) têm sido alvo de considerável atenção pública. Num contexto em que o entretenimento e a política se encontram num ponto de convergência, as fronteiras entre ambos tornam-se cada vez mais difusas. Essa convergência tem resultado numa abordagem centrada na espectacularização da realidade, conforme destacado pelos investigadores em ciência política, Farnsworth & Lichter, e sintetizado nas palavras do filósofo e teórico marxista Guy Debord: “O espectáculo, como tendência a fazer ver (por diferentes mediações especializadas) o mundo que já não se pode tocar directamente, serve-se da visão como sentido privilegiado da pessoa humana.”

    A ascensão da Iniciativa Liberal, como partido político em Portugal reconhecido pelo Tribunal Constitucional a 13 de Dezembro de 2017, marcou uma mudança no panorama político nacional. O seu programa “Menos Estado, Mais Liberdade” revelou as linhas mestres da abordagem política deste novo partido, liberal em toda a linha. Logo nas eleições legislativas antecipadas de 2022, o partido conseguiu captar simpatizantes e consolidar-se como a quarta maior força política, obtendo uns surpreendentes oito assentos na Assembleia da República. Um estudo realizado por João Cancela e Pedro Magalhães revelou que, grande parte do seu eleitorado foi composto por jovens adultos, especialmente aqueles com menos de 25 anos, e é predominantemente do sexo masculino (58%) e com formação superior (61%).

    Cartaz 8x3m, situado na rotunda do Saldanha em Lisboa em montagem ©DR

    Além da presença assídua nas redes sociais, a Iniciativa Liberal investiu numa campanha publicitária marcada pela ironia, encomendada a Manuel Soares de Oliveira, fundador da agência de publicidade Mosca. Essa abordagem estratégica, rara na política portuguesa, destacou-se pela sua originalidade e eficácia, utilizando uma diversidade de mensagens críticas e humorísticas. E assumiu-se como partido de oposição, posicionando-se como alternativa governativa, que propõe uma profunda transformação política e social. Talvez a maior de todos os partidos que se apresentam a eleições. Segundo este criativo licenciado em Ciência Política, “o marketing político em Portugal é quase inexistente. Normalmente, são as empresas de comunicação que trabalham com os políticos e não há um trabalho de longo prazo.”

    Com uma abordagem disruptiva, os cartazes da IL conquistaram desde cedo a atenção do público em geral, mas também dos meios de comunicação e conseguiram desencadear efeitos multiplicadores noutros canais de divulgação. Representantes políticos proeminentes da nossa praça são caricaturados de maneira satírica, acompanhando a actualidade. Com design cuidado, esta táctica confere uma pertinência que convoca naturalmente à discussão pública, em família ou entre amigos. Resultado de um trabalho conjunto entre um publicitário, o responsável de comunicação do partido e o então líder Carlos Guimarães Pinto, a estratégia alicerça-se num conceito forte, facilmente declinável ao longo do tempo, o que lhe confere consistência. Atrevida e irreverente, é facilmente reconhecida por composição estável que conjuga dois tons de azul, um intermédio que lembra o antigo pássaro do twitter e o azul escuro onde recai o logo IL com uma boa dimensão para garantir a sua leitura, e por conseguinte identificação. A mensagem é escrita em maiúsculas de cor amarela em caixa de com vermelha para bem se evidenciar.

    Na 2ª Circular em Lisboa (embora já tenha estado noutros paradeiros desde 2020) um outdoor onde António Costa é representado como piloto da TAP com uma miniatura de Rui Rio no bolso, que clama “Senhores contribuintes, apertem mais o cinto” em letras bem legíveis. Noutro motivo, colocado em várias localidades designadamente em Maia, vemos a caricatura de Pedro Nuno Santos como criança, vestido de calções com um avião no bolso e uma t-shirt com o revolucionário Che Guevara estampado e com um livro de Marx ao peito, a gritar: “Esses liberais são uns fanáticos na defesa do contribuinte.” Estas mensagens são complementadas por uma segunda frase, igualmente provocativa: “Socialistas: a fazer voar o dinheiro do contribuinte desde sempre.”

    Cartaz 8x3m com ilustração da Caldeirada, Praça do Saldanha, em Lisboa.

    Na Praça do Saldanha, em Lisboa, o cartaz actual retrata a icónica lata de sopa de tomate (Campbell’s Soup), imortalizada pelo artista norte-americano Andy Warhol. Esta nova versão da lata “Caldeirada”, com líderes partidários, sugere que sob tais lideranças, podemos apenas esperar soluções padronizadas e uma governança moldada pela luta pelo poder. A frase “A lata socialista está fora de prazo” é emblemática, conjuntamente com a assinatura “Prefere as ideias frescas”, insinuam que as políticas do PS são insípidas e que esta caldeirada industrial é intragável. É curioso observar que este cartaz se inspira na figura de um artista que liderou o movimento da pop art, conhecido por seus valores ultraliberais e comportamentos controversos. Outro tema retratado nos cartazes da Iniciativa Liberal é a celebração do 25 de Novembro, como alusão ao dia em que a democracia liberal triunfou sobre a ditadura totalitária de Esquerda em Portugal. Carregada de simbolismo, a mensagem simples pretende motivar e credibilizar a mudança, apelando ao voto à direita.

    Introduzindo a espectacularização na política, a comunicação da IL critica os modelos antiquados e questiona a lógica da subsidiodependência. Usando composições criativas e formatos originais, esta irreverência é eficaz, ao responder aos anseios dos jovens adultos, enquanto o seu principal eleitorado. Embora a produção de outdoors recortados seja mais dispendiosa, o investimento compensa na medida em que consegue interpelar os transeuntes, ampliar o seu impacto e garantir o retorno de visibilidade.

    A campanha de outdoors alia também o formato convencional (sem recortes ou avançados que ultrapassam a moldura) para poder chegar a outras localidades, não ficando assim limitada aos grandes centros urbanos. É exemplo disso a versão de menor formato que replica um sinal de nomes da rua criado em azulejos com a inscrição: Largo dos 75.800 € em pleno largo do Rato, onde mora a sede do PS em Lisboa.

    Cartaz afixado no tapume do Largo do Rato, em Lisboa, onde se localiza a sede do Partido Socialista.

    Surpreendente é verificar que a sua execução varia no tom das caixas de texto, que tanto estão vermelhas como rosa choque. Conforme defendido pelo publicitário Manuel Soares de Oliveira, “No mundo do zapping em que vivemos, os cartazes são das poucas coisas que temos mesmo de ver, e com poucos outdoors consegue-se um efeito óptimo”, apesar do crescente poder do marketing digital, principalmente entre o público abaixo dos 50 anos.

    O logótipo da Iniciativa Liberal é bem desenhado e de fácil identificação. O branco, simbolizando paz e limpeza, é a cor principal, enquanto o lettering escolhido é contemporâneo escrito em minúsculas o que contrasta com as imponentes maiúsculas dos headlines. Destaca a letra I em maiúscula, sobressaindo um ponto vermelho que sublinha a forma fálica deste símbolo.

    Diferenciando-se dos partidos do arco governativo que optam por integrar grandes retratos de seus líderes, os cartazes da IL não seguem essa fórmula clássica. Será por Rui Rocha, formado em Direito pela Católica, ser um líder novo demais para o gosto do eleitorado português ou simplesmente por alguma falta de carisma? Ou talvez hajam razões bem mais prosaicas como o facto da sua imagem estar em transformação (no X vemo-lo agora sem óculos)? Não poderia concordar mais com o seu coach nesta mudança, de facto, os óculos de massa davam-lhe um ar de programador websites ou de informático.

    O foco desta presença no espaço público está em problemas concretos para se posicionar como um partido convicto e com ideias precisas que respondem às necessidades reais da vida em Portugal. Adoptando um estilo despretensioso, usa a caricatura para estimular uma pré-disposição positiva no eleitorado. Cada motivo é único mas decorre de um conceito-base maleável que promove reacções e um efeito multiplicador escalável para cativar diferentes comunidades. Os cartazes de rua da Iniciativa Liberal representam assim mais do que simples propaganda política: são uma manifestação de coragem e criatividade que desafia as convenções estabelecidas como ainda promovem o reequacionar do rumo da política contemporânea em Portugal.

    Colagem de cartaz. Fotografia de Ruy Otero

    Em última análise, o conteúdo desta campanha é bastante suave em comparação com a proposta programática deste partido que propõe um corte radical, colocando uma gestão privada no serviço público da Educação à Saúde.
    Num país onde a pobreza ou exclusão social ameaçam agora 2,1 milhões de portugueses e onde a taxa de risco de pobreza, antes de qualquer transferência social, atinge 41,8%, conforme indicado pelo estudo do Observatório das Desigualdades divulgado em Novembro de 2023, os princípios da IL parecem ser bem mais disruptivos do que a sua campanha de comunicação.

    Sara Battesti é estratega e especialista em Comunicação


    Avaliação do cartaz

    Design: 4/5

    Impacto: 4/5

    Eficácia: 5/5

    Média: 4,33/5


    N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.


    PÁGINA UM – O jornalismo independente (só) depende dos leitores.

    Nascemos em Dezembro de 2021. Acreditamos que a qualidade e independência são valores reconhecidos pelos leitores. Fazemos jornalismo sem medos nem concessões. Não dependemos de grupos económicos nem do Estado. Não temos publicidade. Não temos dívidas. Não fazemos fretes. Fazemos jornalismo para os leitores, mas só sobreviveremos com o seu apoio financeiro. Apoie AQUI, de forma regular ou pontual.

  • Chega: ‘Pagamos tantos impostos para sustentar a corrupção!’

    Chega: ‘Pagamos tantos impostos para sustentar a corrupção!’

    Na Europa tem-se observado um crescimento de novos partidos de direita, que em alguns casos já conquistaram o poder. Este fenómeno é atribuído à falência das esquerdas que direccionaram seu foco para questões intencionalmente divisivas e muitas vezes desconectadas da realidade. Crises e conflitos são fabricados por um status quo de directrizes globais. A narrativa simplificada ao estilo Matrix, com escolhas binárias entre comprimido azul e vermelho, impossibilita a consideração de alternativas mais abrangentes, como terceiras, quartas ou mesmo vigésimas segundas vias.

    Cada vez mais tomamos consciência do poder desmedido de organizações globalistas, como o Fórum Económico Mundial (FEM) ou o Clube de Bilderberg, do qual Francisco Pinto Balsemão foi membro permanente de 1988 a 2015, altura em que passou o cargo para Durão Barroso. Enquanto isso, a tolerância em relação às elites psicoqualquercoisa diminui, como bem observa Maria Afonso Peixoto no PÁGINA UM, ao abordar o último encontro de Davos do Fórum Económico Mundial: ” Embora os olhos do Mundo devessem estar postos nesta cimeira, e o escrutínio sobre aqueles que por lá passam devesse ser implacável – porque são eles que, assemelhando-se a Deuses no Olimpo, tomam as derradeiras decisões que afectam todos nós -, a maior parte das pessoas não sabe nem sonha a dimensão do poder concentrado nestes “escolhidos”. Escolhidos, é uma maneira de dizer, pois constituem literalmente apenas um “punhado” não eleito de pessoas: este ano, o encontro contará com 2.800 convidados. Um número reduzido comparando com os cerca de oito mil milhões de pessoas a habitar o planeta, e sobre os quais os 2.800 participantes exercem um poder desmesurado.”

    Cartaz do Chega exposto na Avenida da República, em Lisboa. Fotografia: ©Sara Battesti.

    Num contexto de manutenção e fortalecimento do poder, a origem da doença e a cura emergem dos mesmos lugares. É nesse cenário que surge no espectro político português André Ventura, antigo comentador do Benfica. Este destacado produto televisivo desenvolveu sua desenvoltura e agilidade discursiva defendendo fervorosamente Luís Filipe Vieira. Aliás, a televisão tem desempenhado um papel fundamental na criação de importantes actores políticos nacionais e internacionais, lavando as mãos quando as coisas dão errado, o que acontece quase sempre. Em 1998, Emídio Rangel, antigo director da SIC, afirmou no documentário “Esta Televisão é a Vossa” de Mariana Otero para o canal ARTE: “Uma estação que tem 50% de share vende tudo, até o Presidente da República! Vende aos pedaços: um pedaço de Presidente da República aqui, outro ali, outro acolá, vende tudo! Vende sabonetes!”

    Nesta terceira análise dos cartazes de rua da actual propaganda partidária, irei escrutinar os do Chega que tem conquistado um aumento significativo de tempo de antena. Após o sexto congresso, realizado entre 12 e 14 de Janeiro de 2024, onde André Ventura foi reeleito com uns impressionantes 98,9% de votos, observa-se uma intensificação de esforços dos comentadores políticos em desmontar as propostas apresentadas por este partido. Um fenómeno que tem prolongado a sua cobertura mediática, elevando-o ao estatuto de uma instância crucial na criação de espaços para a disputa ideológica e a construção da agenda pública. E assim, demonstra habilidade em marcar o compasso da agenda-setting dos meios de comunicação. Como sugerem os estudos de Malcolm McCombs e Donald Shaw, esta capacidade não apenas informa as audiências sobre assuntos de interesse público, mas também condiciona a percepção da importância de determinados temas com base na visibilidade que os media lhes conferem.

    A reeleição de André Ventura não evidencia apenas a consolidação do líder no interior do partido, como também preconiza uma base de apoio sólida. A atenção crescente que lhe é dedicada com análises mais profundas e críticas por parte de comentadores políticos, indica que as propostas do partido estão a ser submetidas a um escrutínio minucioso. Neste cenário, a cobertura mediática emerge como um terreno fértil para a competição ideológica, onde o Chega se destaca tanto pela sua presença, como pela sua capacidade de influenciar a agenda política e moldar a opinião pública. Esta dinâmica revela um contexto político intrigante, onde o partido consegue nortear o discurso público.

    Cartaz de pequeno formato da campanha do Chega, exposto na zona das Avenidas Novas, em Lisboa. Fotografia: ©Sara Battesti.

    Com diferentes formatos, que vão desde o outdoor 8×3 metros até ao cartaz A2, a palavra-chave desta campanha é “corrupção”. A estratégia adoptada segue uma lógica cumulativa, coleccionando motivos desde 2022. Optando pela polifonia, é orientada por uma estratégia expansionista que visa marcar presença em todos os concelhos do país, alcançando finalmente uma cobertura nacional em detrimento da anterior adstrita aos grandes centros urbanos. O estilo contestatário e o tom consistente são distintivos, evidenciados pelo uso sistemático do ponto de exclamação a vermelho, presente nos slogans e, até mesmo no logótipo desenhado pelo arquitecto Nuno Afonso, um dos fundadores do partido. Esta dupla consistência revela uma abordagem estratégica unificada, realçando a importância da mensagem anticorrupção com o #vergonha. A ampliação da distribuição geográfica reforça o compromisso em chegar a diversos públicos, ao mesmo tempo que a participação dos militantes no financiamento directo desta campanha reflecte o grau de mobilização e o envolvimento na projecção do partido.

    Esta campanha aposta numa fórmula clássica baseada num código de cores seguro e eficaz: azul, branco e vermelho. Esta escolha, frequentemente utilizada por marcas comerciais norte-americanas, atribui ao azul uma conotação de confiança, enquanto o vermelho simboliza poder e força. Apesar de apresentar um design desgrenhado, oferece uma leitura clara e compreensível.

    No formato mais compacto, o apelo “Vamos acabar com a corrupção e os tachos em Portugal” utiliza um tom coloquial e recorre ao calão para estabelecer uma conexão directa com o público. Já nos outdoors, a mensagem “Pagamos tantos impostos para sustentar a corrupção!” adopta uma formulação popular, semelhante ao que se poderia ouvir em conversas de café. Aqui o uso de quatro tamanhos de letra resulta numa disposição impositiva que lembra os oráculos e a identidade visual das Breaking News nos telejornais. Com uma composição a ser aparentemente desordenada, a campanha consegue transmitir eficazmente a sua mensagem de luta à corrupção, a partir de uma linguagem acessível e referências visuais familiares. Um estilo que lhe confere autenticidade e uma certa informalidade, o que potencia a proximidade, o envolvimento e o vínculo ao eleitorado.

    Outdoor do Chega com recorte de André Ventura, junto à Assembleia da República, em Lisboa. Fotografia: ©Ruy Otero.

    Nos maiores formatos, a imagem de André Ventura é capturada com um estilo fotográfico amador, remetendo quase à fotografia tipo-passe. Nalguns casos devido à falta de definição da imagem, as cores ficam deslavadas cujo fundo branco não consegue disfarçar a falta de nitidez. Na versão em 4×3 metros, o enquadramento da fotografia permite uma visão mais ampla do vestuário e revela uma gravata bege ligeiramente torta, indicando uma falta de cuidado.

    Esses detalhes, notavelmente visíveis nos 40 centímetros de tecido que compõem a gravata, desempenham um papel fulcral na consolidação da imagem de um representante político e, portanto, exigiriam uma atenção especial. Este descuido na escolha da imagem e na apresentação visual pode ser interpretado como um deslize na construção de vínculos com o eleitorado, uma vez que a aparência de um político influencia bastante a percepção do público. Afixada junto à Assembleia da República, em Lisboa, existe ainda uma versão original e marcante pelo recorte no topo superior de André Ventura materializado num avançado que extrapola os limites da moldura.

    Ao examinar o design do logótipo do partido, é notável a sua desconcertante falta de competência. O pictograma básico do território nacional parece ter sido retirado de um manual escolar do 1º ciclo, rodeado por linhas circulares dinâmicas que evocam um efeito de centrifugação de uma máquina de lavar roupa. Carimbada em caixa de texto, a designação do partido é sublinhada por um ponto de exclamação, além de quebrar a norma ao mencionar explicitamente ser um “partido político”. Resistindo a investir seriamente neste elemento identitário crucial, opta por manter um logótipo cuja imaturidade leva a crer que foi feito no PowerPoint com cliparts gratuitos. Esta falta de brio é ainda enfatizada pelo uso de diversas versões do recorte de Portugal, algumas delas sem as regiões autónomas. Não só é de mau tom representar Portugal sem ilhas, como esta opção dissolve claramente a credibilidade da sua assinatura, “Por Portugal e pelos portugueses”, que pretendem exaltar os princípios nacionalistas e securitários que regem o partido.

    Ilustração inspirada no teledisco dos Queen, I Want to Break Free. © Ruy Otero e Bruno Cecílio

    Ao concentrar esforços na angariação de votos junto de um eleitorado desiludido, o Chega continua a posicionar-se como um partido de protesto. Sob essa perspectiva, a comunicação de estilo Santos Silva revela-se altamente eficaz. No entanto, a estratégia retórico-argumentativa de André Ventura permanece no domínio da esperança, incapaz de alcançar e consolidar a legitimação do partido. Desde 2022, a campanha manteve uma simplicidade que relega André Ventura ao papel de animador ou entertainer.

    Neste contexto e contrariando a posição do seu próprio líder, não consegue fazer a transição para um partido de poder. Esta disparidade evidente poderia porém ser corrigida ao adoptar estratégias semelhantes às de líderes populistas como Geert Wilders, Marine Le Pen ou Giorgia Meloni, onde o discurso e a imagem de estadistas ocuparam o centro das propagandas. Ao transitar do protesto para a esperança, mensagens como o “Make America Great Again” de Trump ou o “Yes we can” de Obama foram particularmente eficazes no Ocidente nos últimos tempos. Independentemente do crescimento esperado do Chega nestas eleições, a falta de um salto significativo pode ser atribuída a uma estratégia de comunicação insuficiente para alcançar os objectivos.  

    André, ainda não é desta que vais à Champions League!

    Sara Battesti é estratega e especialista em Comunicação


    Avaliação do cartaz

    Design: 1/5

    Impacto: 4/5

    Eficácia: 3/5

    Média: 2,7/5


    N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.


    PÁGINA UM – O jornalismo independente (só) depende dos leitores.

    Nascemos em Dezembro de 2021. Acreditamos que a qualidade e independência são valores reconhecidos pelos leitores. Fazemos jornalismo sem medos nem concessões. Não dependemos de grupos económicos nem do Estado. Não temos publicidade. Não temos dívidas. Não fazemos fretes. Fazemos jornalismo para os leitores, mas só sobreviveremos com o seu apoio financeiro. Apoie AQUI, de forma regular ou pontual.

  • PSD: ‘Unir Portugal’

    PSD: ‘Unir Portugal’

    A corrida eleitoral ainda não começou oficialmente e os actores políticos já estão no aquecimento. De entre mais de duas dezenas de partidos reconhecidos pelo Tribunal Constitucional, é de antever que nem todos participarão. Ainda não temos informações sobre quem serão os titulares, os suplentes ou os não convocados. E até ao encerramento do mercado, muitas contratações vão surgir.

    Nos bastidores das democracias ocidentais, temos assistido desde a década de 90 a um fenómeno marcante: o aumento da volatilidade e da instabilidade no eleitorado. A ausência de reconhecimento mútuo entre representantes e representados impulsiona esta mudança, tornando o cenário eleitoral mais permeado por incerteza e apatia.

    Cartaz do Partido Social Democrata exposto na Rua da República, em Lisboa. Fotografia: © PSD

    A crescente quantidade de eleitores indecisos torna-os intrinsecamente mais susceptíveis à influência das campanhas eleitorais, uma tendência ainda mais expressiva nas camadas mais jovens, como os millennials, também conhecida como geração Y, que além de estarem mais distantes da coisa pública, revelam uma maior receptividade à informação via meios digitais em detrimento dos tradicionais e desgastados meios convencionais. A progressiva perda de ligação partidária é o ponto de partida para o aumento da abstenção, um fenómeno que por natureza pode enfraquecer o nosso sistema democrático, construído sobre valores e princípios fundamentais como a liberdade e a igualdade. Atravessamos um perigoso niilismo que abre o flanco a totalitarismos. Para combater a abstenção, as campanhas precisam atrair uma massa heterogénea de eleitores. Neste contexto, proponho-me analisar a campanha do PSD intitulada ‘Unir Portugal’.

    No verão de 2022, o Partido Social Democrata (PSD) lançou uma campanha nacional com o slogan “Acreditar” que, ironicamente, tornou-se alvo de chacota. Com a antecipação das eleições, introduziu um novo cartaz agora com a mensagem “Unir Portugal”. Apesar de uma abordagem mais afirmativa, o impacto da mensagem é prejudicado por fragilidades gráficas que não permitem alcançar um posicionamento distintivo, como o uso de uma fonte comum de código aberto e o emprego excessivo de maiúsculas de diferentes tamanhos, o que se torna pouco elegante.

    Com o objectivo de se diferenciar do principal adversário, o novo slogan que faz apelo ao vínculo nacional, acaba por ser genérico e redundante em relação ao slogan do Partido Socialista, “Portugal inteiro“. O líder social-democrata, que inclui no seu currículo longa carreira política, não tem demonstrado eloquência ou clareza nas suas intervenções mediáticas, o que acaba por prejudicar a credibilidade do slogan assim como minar a capacidade de reconquistar o eleitorado.

    Cartaz do Partido Social Democrata exposto na Rua da República, em Lisboa. Fotografia de Sara Battesti.

    Sendo o partido com maior presença em outdoors, é surpreendente a escassa utilização da cor laranja pelo PSD como elemento identitário que o distingue. O laranja é relegado para uma pequena caixa no canto superior direito, onde abriga discretamente o símbolo do partido, posição essa que carece de impacto visual. Quanto ao símbolo composto por três setas que historicamente estão associadas à luta contra o nazismo e ideologias totalitárias, este cristaliza os valores fundamentais do PSD — liberdade, igualdade e solidariedade. É desconcertante verificar como esse elemento essencial fica com um papel tão secundário, especialmente nos tempos que correm.

    O PSD, que se posiciona tradicionalmente como um partido dialogante, deveria dar mais relevância ao seu símbolo, cuja autoria é frequentemente atribuída ao caricaturista e ilustrador Augusto Cid. Até porque este símbolo expressa o desejo de ascensão para um futuro diferente, algo que poderia representar uma promessa atractiva, especialmente para um eleitorado afectado nos últimos tempos por uma significativa erosão do poder de compra.

    Em termos de composição visual, é dado ao rosto de Luís Montenegro um destaque desproporcional que não permite disfarçar o seu ar ligeiramente insosso e pouco carismático, tornando-o numa espécie de Zé Pereira do Brasil. Em contrapartida, o seu sorriso natural e olhar franco transmitem empatia e frontalidade, e nesse aspecto a fotografia consegue ser bastante eficaz. Ainda que a escolha do fundo azul marinho seja uma opção clássica associada ao requinte simbolizando serenidade, confiança e estabilidade, a sua execução atabalhoada destaca predominantemente uma linguagem corporal passiva pouco compatível com a assertividade desejada para uma liderança.

    Arquivo de cartazes históricos do PSD.

    Com uma abordagem comercial agressiva, a campanha perde força ao adoptar uma mensagem pouco diferenciadora em relação ao seu principal oponente. Num partido que, desde 2013, tem enfrentado um acumular de derrotas e cujas intenções de voto estão a descer de 33% para 29%, de acordo com a sondagem do Centro de Estudos e Sondagens de Opinião da Universidade Católica (Novembro de 2023), o apelo à união parece demasiado suave para ser verdadeiramente mobilizador.

    Com a criação da nova Aliança Democrática, é de crer que as lógicas de comunicação da candidatura sejam revistas, mas, até lá, esta campanha carece de originalidade e criatividade, adoptando um design pouco aprimorado e uma estratégia escassamente persuasiva. Isso, por um lado, impede afirmar uma vitalidade criativa que fora demonstrada no passado, e, por outro, prejudica a capacidade de promoção uma imagem de solidez capaz de cativar votos.

    Sara Battesti é estratega e especialista em Comunicação


    Avaliação do cartaz

    Design: 3/5

    Impacte: 3/5

    Eficácia: 1/5

    Média: 2,3/5


    N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.


    PÁGINA UM – O jornalismo independente (só) depende dos leitores.

    Nascemos em Dezembro de 2021. Acreditamos que a qualidade e independência são valores reconhecidos pelos leitores. Fazemos jornalismo sem medos nem concessões. Não dependemos de grupos económicos nem do Estado. Não temos publicidade. Não temos dívidas. Não fazemos fretes. Fazemos jornalismo para os leitores, mas só sobreviveremos com o seu apoio financeiro. Apoie AQUI, de forma regular ou pontual.

  • PS: ‘Portugal inteiro’

    PS: ‘Portugal inteiro’

    Marcadas para 10 de Março, as eleições legislativas vão lançar uma campanha onde, como naturalmente, ruas e praças serão invadidas por cartazes.

    Ora, estes cartazes, embora já secundarizados por outros meios ‘mais modernos’ de comunicação, desempenham um papel crucial na divulgação dos soundbites dos partidos políticos. Pela sua massiva ocupação do espaço público onde passamos a pé, ou em veículos de duas ou quatro rodas, a presença do cartaz torna-se imperativa para a persuasão do eleitorado.

    Segundo o designer suíço Müller-Brockmann, “um cartaz deve ser activo, muito embora ao ser colocado numa parede ou num pilar, esteja condenado à imobilidade”. Numa sociedade capitalista, o cartaz passou a desenvolver-se em função do consumidor, e o sector da política segue a tendência. Sintéticos, são um espaço de grande diversidade de abordagens, que vai da fórmula convencional materializada numa simples promessa à modalidade mais acidulada que abre espaço à ironia ou a críticas concretas das abordagens concorrenciais.

    ‘Cartaz’ na zona da Foz Arelho, tirada durante o confinamento em 2020. Foto: Ruy Otero.

    Representando o cartaz uma verdadeira força motriz no desenvolvimento das campanhas partidárias, variam tanto em estilos como em objectivos. Numa reflexão crítica sobre o marketing político feito em Portugal em 2024, examino aqui o conteúdo das representações discursivas produzidas pelas máquinas eleitorais dos diferentes partidos. Vamos esmiuçar slogans, esquadrinhar as simbologias patentes, perscrutar os atributos das fotografias, dissecar as opções gráficas que vão do design global à especificidade das fontes tipográficas ou da iconografia de letra.

    Combinando elementos textuais e visuais, o cartaz político é uma peça gráfica desafiante que deve funcionar tanto de perto como ao longe, seja parado ou em movimento. Isto explica a razão dos slogans serem curtos, não obstante o facto destas mensagens irem evoluindo à medida que a data das eleições se aproxima à luz dos inquéritos e estudos desenvolvidos por quem assume a gestão da campanha tendo como missão primordial ganhar relevância e competitividade face aos adversários mais directos.

    Em Portugal, se o período pós-25 de Abril envolveu artistas plásticos na criação de campanhas partidárias, de que são exemplos José Guimarães, João Abel Manta, ou até mesmo o poeta Eugénio de Andrade, os tempos modernos da propaganda atestam uma forte homogeneidade visual. Assim, o vanguardismo da mobilização política assente num registo plástico de grande impacto visual foi substituído por lógicas altamente racionais e uma linguagem uniformizada e repetitiva centrada na exploração dos seus logótipos e símbolos. A primazia é, portanto, dada à função e eficácia.

    Começo esta série com o primeiro cartaz do Partido Socialista (PS) que já ‘anda’ pelas ruas. O seu candidato a primeiro-ministro, Pedro Nuno Santos, antigo ministro das Infraestruturas, escolheu como slogan “Portugal Inteiro”. Um apelo ao valores nacionais associado a um adjectivo que sugere um país a que nada falta, e que nunca se deixa corromper. O foco é, portanto, a promessa de uma conduta exemplar baseada em valores de honestidade e integridade, uma escolha destinada a diluir as últimas acções governativas deste candidato.

    Segundo o próprio, a explicação para a escolha da palavra “inteiro” é que “Portugal só será um país desenvolvido, um país rico, se for capaz de aproveitar plenamente o seu território, deixando de aceitar que algumas regiões fiquem sempre depois”, afirmação feita durante um encontro com apoiantes no dia 12 Dezembro de 2023 no distrito de Faro.

    Em 2024, a iconografia usada no logótipo do PS é agora apenas a ilustração do punho, à semelhança, aliás, da campanha de Costa, mas diferente da de Sócrates, que conjugou rosa e punho.

    Cartaz do Partido Socialista exposto na Rua da República, em Lisboa. Fotografia de Sara Battesti.

    Em relação ao tipo de letra, a escolha recai sobre uma fonte de utilização gratuita, parecida com o design germânico da tipografia Galano Grotesque. Se por um lado a legibilidade é boa, peca por ser comum e sem grande personalidade. O efeito luminoso dado nas primeiras letras da frase central confere alguma tridimensionalidade, na tentativa de contrabalançar uma abordagem simplista e pouco impactante.

    O verde é a cor da campanha do candidato PS, cor que simboliza por um lado esperança, liberdade e vitalidade; é ainda representativa da natureza, aludindo a noções de crescimento e renovação. Curiosamente, esta foi também a cor usada nas campanhas às eleições legislativas de António Costa e de José Sócrates. Esta opção tem a mais-valia de ser um elemento bem distintivo que marca um distanciamento com a linha de esquerda do BE, do Livre e da CDU-PCP, partidos que mantêm a aposta nos tons quentes do vermelho.

    A fotografia de Pedro Nuno Santos é um dos aspectos mais caprichados da campanha. Revela um estilo responsável e uma postura amigável através de um olhar directo independentemente da posição – frontal ou lateral – do leitor em relação ao cartaz. Em contrapartida, o tom azul vibrante da gravata acaba por destoar com o blazer preto de abas pouco elegantes e que lembra o uniforme do revisor dos transportes públicos. Embora se possa perceber a necessidade de projectar a imagem de um homem de origens humildes com o intuito de cativar o eleitorado mais conservador (socialista mas não só) e que vota, o meu impulso caso fizesse parte da equipa de consultoria deste candidato, seria recomendar um outfit mais clássico com um fato azul petróleo de linhas sofisticadas da última colecção Outono/ Inverno.

    Uma característica menos convencional é a barba, algo mais comum entre políticos orientais do que ocidentais. Ao longo dos 50 anos de democracia em Portugal, é de sublinhar que nenhum político com barba ou bigode foi eleito Presidente da República ou primeiro-ministro. Resta saber se não teria sido preferível pôr as barbas de molho, ou então inspirar-se em oportunismos mediáticos como a do primeiro-ministro francês Emmanuel Macron que, antes de sua candidatura presidencial, convocou a imprensa para cobrir publicamente a sua ida à barbearia para desfazer a barba e encetar um novo ciclo.

    Ilustração de Ruy Otero e Bruno Cecílio a partir do filme They live (1988), de John Carpenter.

    O design é extremamente institucional, com uma composição gráfica feita de diagonais que lembra um certificado de organismo público. É uma campanha neutra, possivelmente destinada a compensar a imagem de imaturidade que a postura de Nuno Santos sempre revelou, factor esse que não cai bem ao eleitorado não urbano de um país conservador como Portugal.

    Olhando para o mais recente estudo realizado pelo Pitagórica, o PS é o partido que atrai os mais velhos ao alcançar mais de um terço dos votos entre os maiores de 54 anos, dominando também a população menos instruída do país. Ficam explicadas as razões da adopção de uma solução convencional, de certa maneira old fashion, mas certamente eficaz para conquistar quem vota, ou seja, quem interessa.

    Sara Battesti é estratega e especialista em Comunicação


    Avaliação do cartaz

    Design: 2/5

    Impacte: 3/5

    Eficácia: 4/5

    Média: 3/5


    N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.


    PÁGINA UM – O jornalismo independente (só) depende dos leitores.

    Nascemos em Dezembro de 2021. Acreditamos que a qualidade e independência são valores reconhecidos pelos leitores. Fazemos jornalismo sem medos nem concessões. Não dependemos de grupos económicos nem do Estado. Não temos publicidade. Não temos dívidas. Não fazemos fretes. Fazemos jornalismo para os leitores, mas só sobreviveremos com o seu apoio financeiro. Apoie AQUI, de forma regular ou pontual.