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  • Câmara de Faro: contrato de transporte escolar de 1,06 euros custa afinal 370 mil

    Câmara de Faro: contrato de transporte escolar de 1,06 euros custa afinal 370 mil


    Para a Câmara Municipal de Faro, a pacata vila de Aljezur, na algarvia costa vicentina, fica muito mais longe do que Lisboa, e Loulé fica mais distante do que Beja. Ou, pelo menos, é aquilo que se conclui pelas estimativas dos percursos delineados para justificar um ajuste directo para o transporte de crianças algarvias com necessidades especiais para o Agrupamento de Escolas São João de Deus. O mais absurdo deste ajuste directo, assinado pelo presidente social-democrata e que beneficiou uma empresa denominada ‘Mais que um Destino’, é que, no Portal Base, o ajuste directo surge com um “preço contratual” de 1,06 euros. Com a hiper-inflação de distâncias, os encargos chegam, na verdade, aos 370 mil euros, para supostamente pagar mais de 349 mil quilómetros. Daria para quase nove voltas ao Mundo.


    À primeira vista, na consulta do Portal Base, pode parecer surpreendente a ‘diligência’ da Câmara Municipal de Faro em celebrar e divulgar um contrato público no valor de um euro e seis cêntimos. Isso mesmo: 1,06 euros. Mas é mesmo verdade, no passado dia 21 de Novembro, o município da capital do Algarve, liderado pelo social-democrata Rogério Bacalhau, registou um contrato deste valor pela aquisição de serviço de transporte de crianças para as escolas do Agrupamento João de Deus.

    O surpreendente baixo valor ainda se mostrava mais estranho porque o objectivo era transportar para aquele estabelecimento de ensino, integrado na Rede Nacional de Escolas de Referência de Educação Bilingue (com necessidades educativas especiais por serem surdos-mudos), não apenas crianças de Faro como de todo o Algarve.

    Agrupamento de Escolas São João de Deus.

    Porém, uma leitura do contrato propriamente dito celebrado por ajuste directo entre a autarquia de Faro e a empresa curiosamente denominada Mais que um Destino Lda., mostra que, afinal, os gastos públicos vão ser muito superiores. Na verdade, cerca de 349 mil vezes mais do que o valor que consta como “preço contratual”! Ou seja, a autarquia de Faro vai afinal pagar à Mais que um Destino Lda. um total de 370 mil euros, dos quais 140 mil já terão sido pagos no ano passado.

    Em vigor desde 16 de Novembro do ano passado, e com o seu término em finais de Maio deste ano, o contrato refere que, afinal, o valor de 1,06 euros – considerado o “preço contratual”, que será usada como valor para as estatísticas do Instituto dos Mercados Públicos, do Imobiliário e da Construção – diz respeito ao pagamento por quilómetro percorrido pelos veículos de transporte de crianças. E é através da consulta do caderno de encargos que se descobrem percursos com as respectivas quilometragens completamente absurdas.

    Com efeito, são quatro os percursos definidos a serem feitos pelo Mais que um Destino, Lda. para levar para a escola e trazer para casa as crianças em número que não é indicado. Logo ‘à cabeça’, o primeiro percurso é Aljezur-Lagos-Faro, para onde se apresenta uma estimativa de 667 quilómetros a ser realizado, segundo o caderno de encargos, pela A22. Portanto, por dia, com esta estimativa, a empresa de transportes receberá 707,2 euros.

    Rogério Bacalhau, presidente da autarquia de Faro, assinou um contrato que estipulava que a distância entre o seu concelho e Aljezur é superior à distância a Lisboa.

    Ora, sucede que a distância entre Aljezur e Lagos é de cerca de 32 quilómetros e entre Lagos e Faro de pouco mais de 82. Ida e volta dá, portanto, 228 quilómetros, que correspondia, ao preço unitário de 1,06, a um total de apenas 241,68 euros. Mesmo que se acrescente mais alguns quilómetros, jamais poderíamos chegar a uma quilometragem diária entre Aljezur e Faro passando por Lagos que é bem superior a ir de Lisboa a Faro e regressar no mesmo dia. Além disso, se imaginarmos uma criança a ser transportada todos os dias 667 quilómetros para ir à escola, estaríamos perante um acto de sadismo.

    No mesmo absurdo caem os outros percursos, onde a realidade geográfica não bate com as estimativas do contrato celebrado pela autarquia socialista. Assim, para o percurso Lagoa-Silves-Faro, o caderno de encargos estima uma distância (ida e volta) de 326 quilómetros, que implicará um pagamento de 345,56 euros.

    Também neste caso, o número estimado no caderno de encargos é desmentido pelas distâncias entre aquelas localidades, que rondam os 70 quilómetros, pelo que uma viagem de ida e volta daria apenas cerca de 140 quilómetros. Ou seja, pelo caderno de encargos, e perante esta hiper-inflação de distância, a empresa receberá por cada transporte diário mais do dobro do que deveria.

    Printscreen do caderno de encargos do contrato de ajuste directo onde constam as “rotas dos percursos” e a estimativa de quilometragem diária.

    Já a viagem de ida e volta entre as localidades de Albufeira, Loulé e Faro, que na realidade ronda os 100 quilómetros, foi estimada no caderno de encargos em 240 quilómetros, enquanto o percurso Loulé, Olhão e Faro, para o qual a autarquia definiu uma distância de 325 quilómetros por percurso diário, faz-se normalmente com uma quilometragem real a bater nos 68 quilómetros.

    Com o objectivo de perceber como foram feitas estas estimativas pelo município de Faro, o PÁGINA UM contactou a autarquia, por duas vezes desde Novembro passado, mas nunca obteve qualquer resposta. Também ficou sem resposta o motivo pelo qual a autarquia de Faro se disponibilizou a arcar com despesas de transporte de crianças que vivem em outros concelhos, sabendo-se que, por regra, o transporte escolar é assegurado pelos municípios de residência das crianças. De igual modo, ignora-se o número de crianças beneficiadas, porque o caderno de encargos é estranhamento omisso quer no número de estudantes a transportar em cada percurso quer na tipologia dos veículos.

    O PÁGINA UM também questionou o Ministério da Educação sobre o número de crianças algarvias a frequentarem aulas em Faro, no âmbito da Rede Nacional de Escolas de Referência, e pediu esclarecimentos sobre os apoios concedidos quer às escolas quer às autarquias quer às famílias dos estudantes, mas não obteve também qualquer resposta ao longo de mais de um mês.

    Aljezur: para a Câmara Municipal de Faro fica mais longe do que Lisboa.

    Também o Agrupamento São João de Deus não se mostrou disponível para informar quantas, afinal, são as crianças surdo-mudas por concelho que frequentam a escola nem para dizer os apoios que recebe do Ministério da Educação, e se incluem o transporte ou alojamento desses estudantes.

    Assim, com tanto silêncio, e perante a hiper-inflação da quilometragem, aquilo que apenas se sabe é que um ajuste directo com “preço contratual” de 1,06 euros vai custar afinal 370 mil euros. E com a hiper-inflação de distância, a autarquia pagará 349.057 quilómetros. Daria para quase nove voltas à Terra – para quem acredita que a Terra é redonda, claro.


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  • Contratos Boletim P1 da contratação pública e ajustes directos: 29 de Janeiro

    Contratos Boletim P1 da contratação pública e ajustes directos: 29 de Janeiro


    Ontem, dia 29 de Janeiro, no Portal Base foram divulgados 809 contratos públicos, com preços entre os 7,59 euros – para aquisição de sacos de plástico, pelo The Cricket Farming Co, Lda., através de ajuste directo simplificado – e os 4.698.473,50 euros – para aquisição de equipamentos necessários para apresentação de prova judicial nos tribunais, pela Direcção-Geral da Administração da Justiça, através de concurso público.

    Com preço contratual acima de 500.000 euros, foram publicados 20 contratos, dos quais 13 por concurso público, quatro ao abrigo de acordo-quadro e três por ajuste directo.

    Por ajuste directo, com preço contratual superior a 100.000 euros, foram publicados 13 contratos, pelas seguintes entidades adjudicantes: Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental (com a COPS – Companhia Operacional de Segurança, no valor de 1.202.880,00 euros); Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Norte (com a ITAU – Instituto Técnico de Alimentação Humana, no valor de 576.908,40 euros); Gabinete Nacional de Segurança (com a Pricewaterhousecoopers – Assessoria de Gestão, no valor de 570.000,00 euros); Hospital Distrital de Santarém (com a Associação Humanitária de Bombeiros Voluntários de Pernes, no valor de 318.392,50 euros); Município de Alcochete (com a Lubrifuel, Lda., no valor de 238.000,00 euros); Estado Maior da Força Aérea (com a FLS Freight & Logistics Solutions, no valor de 224.690,00 euros); dois do Centro Hospitalar Universitário Lisboa Central (ambos com a Uniself – Sociedade de Restaurantes Públicos e Privados, um no valor de 220.136,89 euros, e outro no valor de 131.501,09 euros); Município de Monção (com a Suma – Serviços Urbanos e Meio Ambiente, no valor de 166.630,20 euros); Unidade Local de Saúde de Matosinhos (com a Pfizer, no valor de 138.815,80 euros); Ordem dos Advogados (com a Link Consulting – Tecnologias de Informação, no valor de 138.321,50 euros); Direção Regional das Obras Públicas e Transportes Terrestres (com a Almério e Cordeiro Cª., Lda., no valor de 137.398,90 euros); e o Município de Lagoa (Açores) (com a MEO – Serviços de Comunicações e Multimédia, no valor de 130.073,76 euros).


    TOP 5 dos contratos públicos divulgados no dia 29 de Janeiro

    1Aquisição de equipamentos necessários para apresentação de prova judicial nos tribunais

    Adjudicante: Direcção-Geral da Administração da Justiça

    Adjudicatário: NOS – Comunicações

    Preço contratual: 4.698.473,50 euros

    Tipo de procedimento: Concurso público


    2Empreitada de construção de “Estrutura Residencial para Idosos (ERPI)”

    Adjudicante: Associação de Socorros Mútuos – 4 de Setembro de 1862

    Adjudicatário: RIM – Engenharia e Construções

    Preço contratual 4.594.778,68 euros

    Tipo de procedimento: Concurso limitado por prévia qualificação


    3Fornecimento de electricidade – Portugal Continental 2022

    Adjudicante: Estado Maior da Força Aérea

    Adjudicatário: Endesa Energia

    Preço contratual: 3.483.385,84 euros

    Tipo de procedimento: Ao abrigo de acordo-quadro (artº 258º)


    4Aquisição de serviços de agência de viagens

    Adjudicante: Universidade de Coimbra

    Adjudicatário: Turistrader – Sociedade de Desenvolvimento Turístico

    Preço contratual: 2.520.000,00 euros

    Tipo de procedimento: Concurso público


    5Fornecimento e distribuição de bens e serviços de alimentação de doentes, acompanhantes e colaboradores

    Adjudicante: Instituto Português de Oncologia de Lisboa Francisco Gentil

    Adjudicatário: Uniself – Sociedade de Restaurantes Públicos e Privado

    Preço contratual: 2.511.207,52 euros

    Tipo de procedimento: Concurso público


    TOP 5 dos contratos públicos por ajuste directo divulgados no dia 29 de Janeiro

    1 Aquisição de serviços de segurança e vigilância em 2024

    Adjudicante: Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental

    Adjudicatário: COPS – Companhia Operacional de Segurança

    Preço contratual: 1.202.880,00 euros


    2Fornecimento de alimentação a doentes e colaboradores do CHULN no mês de Janeiro de 2024

    Adjudicante: Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Norte

    Adjudicatário: ITAU – Instituto Técnico de Alimentação Humana

    Preço contratual: 576.908,40 euros


    3Subscrição de serviços de feeds comerciais de suporte ao PANORAMA

    Adjudicante: Gabinete Nacional de Segurança

    Adjudicatário: PricewaterhouseCoopers – Assessoria de Gestão

    Preço contratual: 570.000,00 euros


    4Transporte de doentes nos meses de Janeiro/Fevereiro 2024

    Adjudicante: Hospital Distrital de Santarém

    Adjudicatário: Associação Humanitária de Bombeiros Voluntários de Pernes

    Preço contratual: 318.392,50 euros


    5Fornecimento de combustíveis rodoviários

    Adjudicante: Município de Alcochete

    Adjudicatário: Lubrifuel, Lda.

    Preço contratual: 238.000,00 euros


    MAP

  • Boletim P1 da contratação pública e ajustes directos: 26 a 28 de Janeiro

    Boletim P1 da contratação pública e ajustes directos: 26 a 28 de Janeiro


    Nos últimos três dias, de sexta-feira passada até ontem, no Portal Base foram divulgados 958 contratos públicos, com preços entre os 24,05 euros – para aquisição de medicamentos, pela Unidade Local de Saúde do Alto Minho, através de concurso público – e os 8.143.923,61 euros – para aquisição de medicamentos, pelo Centro Hospitalar Universitário de Santo António, ao abrigo de acordo-quadro.

    Com preço contratual acima de 500.000 euros, foram publicados 22 contratos, dos quais 14 por concurso público, sete ao abrigo de acordo-quadro e um por ajuste directo.

    Por ajuste directo, com preço contratual superior a 100.000 euros, foram publicados 18 contratos, pelas seguintes entidades adjudicantes: SOFLUSA – Sociedade Fluvial de Transportes (com a Petrogal, no valor de 1.506.620,00 euros); dois do Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Norte (um com a Roche Farmacêutica, no valor de 485.656,68 euros, e outro com a Werfen Portugal, no valor de 161.400,00 euros); Centro Social e Paroquial de São Martinho de Bougado (com a Construções D.S. Carneiro, Lda., no valor de 411.614,31 euros); dois do Centro Hospitalar Universitário Lisboa Central (ambos com a Uniself – Sociedade de Restaurantes Públicos e Privados, um no valor de 343.411,06  euros, e outro no valor de 147.362,12 euros); três do Instituto Português de Oncologia do Porto Francisco Gentil (um com a Novartis Farma, no valor de  276.100,00 euros, outro com a Hologic Iberica S.L., no valor de 139.860,00 euros, e outro com a Janssen Cilag, no valor de 102.758,88 euros); Direcção-Geral de Autoridade Marítima (com a Endesa Energia, no valor de 265.788,15 euros); Freguesia de Estrela (com a Gertal – Companhia Geral de Restaurantes e Alimentação, no valor de 195.122,40 euros); Município de Braga (com a Intergraph Portugal, no valor de 161.979,84 euros); Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (com a Ab Sciex Portugal – Sociedade Unipessoal, no valor de 141.304,26 euros); ENERAREA – Agência Regional de Energia e Ambiente do Interior (com a HEN – Serviços Energéticos, no valor de 129.999,98 euros); Unidade Local de Saúde do Norte Alentejano (com a Daiichi Sankyo Portugal, no valor de 115.200,00 euros); Lotaçor – Serviço de Lotas dos Açores (com a Flosel – Instalações Eléctricas e Hidráulicas, no valor de 109.920,31 euros); Direcção-Geral da Saúde (com a Master Link – Sistemas de Informação, no valor de 106.355,00 euros); Unidade Local de Saúde de Santa Maria (com a Medtronic Portugal, no valor de 102.461,00 euros).


    TOP 5 dos contratos públicos divulgados no período de 26 a 28 de Janeiro

    1Aquisição de medicamentos diversos

    Adjudicante: Centro Hospitalar Universitário de Santo António

    Adjudicatário: Pfizer

    Preço contratual: 8.143.923,61 euros

    Tipo de procedimento: Ao abrigo de acordo-quadro (artº 259º)


    2Empreitada designada “Estar perto das pessoas: Habitação social – Conjunto Habitacional de Custió”

    Adjudicante: Município de Matosinhos

    Adjudicatário: Construções Corte Recto – Engenharia & Construção

    Preço contratual: 6.299.100,96 euros

    Tipo de procedimento: Concurso público


    3Empreitada de concepção e construção de ETAR’s

    Adjudicante: Águas do Vale do Tejo

    Adjudicatário: Ambiágua – Gestão de Equipamentos de Águas

    Preço contratual: 3.748.710,96 euros

    Tipo de procedimento: Concurso público


    4Desenvolvimento e implementação do Repositório de Informação de Saúde dos Açores

    Adjudicante: Direcção Regional da Saúde

    Adjudicatário: Siemens Healthcare

    Preço contratual: 3.300.000,00 euros

    Tipo de procedimento: Concurso público


    5Aquisição de medicamentos

    Adjudicante: Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Norte

    Adjudicatário: Roche Farmacêutica

    Preço contratual: 2.589.067,81 euros

    Tipo de procedimento: Ao abrigo de acordo-quadro (artº 259º)


    TOP 5 dos contratos públicos por ajuste directo divulgados no período de 26 a 28 de Janeiro

    1 Aquisição de gasóleo colorido para a frota de navios da Soflusa

    Adjudicante: SOFLUSA – Sociedade Fluvial de Transportes

    Adjudicatário: Petrogal

    Preço contratual: 1.506.620,00 euros


    2Aquisição de medicamentos

    Adjudicante: Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Norte

    Adjudicatário: Roche Farmacêutica

    Preço contratual: 485.656,68 euros


    3Remodelação de um edifício destinado a Estrutura Residencial para Idosos

    Adjudicante: Centro Social e Paroquial de São Martinho de Bougado

    Adjudicatário: Construções D.S. Carneiro, Lda.      

    Preço contratual: 411.614,31 euros


    4Prestação de serviços de fornecimento de alimentação a doentes e pessoal do CHULC – Janeiro

    Adjudicante: Centro Hospitalar Universitário Lisboa Central

    Adjudicatário: Uniself – Sociedade de Restaurantes Públicos e Privados

    Preço contratual: 343.411,06 euros


    5Aquisição de medicamentos

    Adjudicante: Instituto Português de Oncologia do Porto Francisco Gentil

    Adjudicatário: Novartis Farma

    Preço contratual: 276.100,00 euros


    MAP

  • Torres Vedras: contrato de arquitectura de biblioteca ‘abortada’ demorou seis anos a ver a luz do dia

    Torres Vedras: contrato de arquitectura de biblioteca ‘abortada’ demorou seis anos a ver a luz do dia


    A Câmara Municipal de Torres Vedras demorou quase seis anos a publicar no Portal Base um contrato para a concepção do projecto para a construção da Biblioteca Municipal e Museu do Brinquedo de Torres Vedras, que custou aos cofres da autarquia 320 mil euros. O mais caricato deste contrato é que, entretanto, a construção nunca avançou, sendo o projecto “abortado” pela autarquia em 2020 pelo mesmo executivo que contratou uma dupla de arquitectos do concelho da Chamusca.

    O contrato por ajuste directo resultara, conforme está previsto no Código dos Contratos Públicos para esses casos, da vitória dos arquitectos José Maria Cumbre e Nuno Miguel Caetano num concurso de concepção aberto pela autarquia de Torres Vedras em 2016, ao qual foram apresentadas 75 propostas. Por esse concurso, que entregou ainda dois prémios secundários e duas menções honrosas, aqueles dois arquitectos receberam em Outubro de 2016 um valor monetário de 12.000 euros, e a promessa de elaborarem o projecto de arquitectura propriamente dito.

    Panorama da proposta dos arquitectos José Maria Cumbre e Nuno Miguel Caetano que venceu o concurso de concepção, cujo projecto custou 308 mil euros e não serviu para nada.

    Mas esse contrato somente seria assinado cerca de dois anos depois, em 8 de Outubro de 2018, onde ficou estabelecido que ao preço dos 320 mil euros seria deduzido os 12 mil euros do prémio, sendo pago um montante de 30.800 euros nesse ano, mais 246.400 euros em 2019 e os restantes 30.800 euros em 2020. Porém, entretanto, a ‘montanha pariu um rato’, porque o executivo camarário de Torres Vedras concluiu não ter capacidade financeira para a construção.

    De facto, em Janeiro de 2020, a Câmara Municipal de Torres Vedras decidiu adiar sine die o projecto, alegando “incapacidade financeira de vir a realizar a obra por meios próprios”, ainda mais perante a “inexistência de linhas de financiamento comunitário”. Garantindo que não estava em causa uma desistência, mas apenas um adiamento do projecto, o então presidente da autarquia, Carlos Bernardes (entretanto falecido em 2021) justificava ainda a decisão com um “incremento do valor do preço por metro quadrado de construção”. Na altura, a equipa de arquitectos já teria concluído o estudo prévio.

    Note-se que o investimento previsto pela autarquia de Torres Vedras para a construção da nova Biblioteca Municipal e do Museu do Brinquedo rondava os 5,8 milhões de euros. Em 2018, o Carlos Bernardes referiu que a concepção e elaboração do projecto que seria desenvolvido “durante três anos”, antecipando que a inauguração se realizaria até 2023, ou seja, até ao ano que agora terminou. Previsões que se revelaram, no mínimo, ‘optimistas’.

    Laura Rodrigues, actual presidente da autarquia de Torres Vedras, que demorou cinco anos e três meses a revelar o contrato de arquitectura de um projecto de edifício entetanto abandonado.

    O PÁGINA UM contactou a autarquia de Torres Vedras, presidente pela socialista Laura Rodrigues – que já integrava o executivo de Carlos Bernardes no sentido de saber se chegou a ser feito o pagamento integral do valor contratualizado com os arquitectos, e qual o motivo do longo atraso na divulgação do contrato no Portal Base. Saliente-se que os contratos somente se mostram efectivos, incluindo para efeitos de pagamento, quando são colocados na plataforma da contratação pública. A autarquia ainda não respondeu às questões colocadas.

    Este contrato entre a Câmara Municipal de Torres Vedras e os arquitectos José Maria Cumbre e Nuno Miguel Caetano integram o Boletim P1 da Contratação Pública e Ajustes Directos que agrega os contratos divulgados entre os dias 5 e 7 de Janeiro de 2024. Desde Setembro de 2023, o PÁGINA UM apresenta uma análise diária aos contratos publicados no dia anterior (independentemente da data da assinatura) no Portal Base. De segunda a sexta-feira, o PÁGINA UM faz uma leitura do Portal Base para revelar os principais contratos públicos, destacando sobretudo aqueles que foram assumidos por ajuste directo.

    MAP / PAV


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    Nos últimos três dias, de sexta-feira passada até ontem, no Portal Base foram divulgados 1191 contratos públicos, com preços entre os 3,34 euros – para aquisição de agulhas e seringas, pelo Centro Hospitalar Universitário Cova da Beira, através de concurso público – e os 299.760.000,00 euros – para aquisição de seis navios-patrulha para a Marinha Portuguesa, pela Direção-Geral de Recursos da Defesa Nacional, através de procedimento de negociação.

    Com preço contratual acima de 500.000 euros, foram publicados 24 contratos, dos quais oito por concurso público, 12 ao abrigo de acordo-quadro, um através de procedimento de negociação e três por ajuste directo.

    Por ajuste directo, com preço contratual superior a 100.000 euros, foram publicados 16 contratos, pelas seguintes entidades adjudicantes: SOFLUSA – Sociedade Fluvial de Transportes (com a S&C – Gestão de Navios e Tripulações, no valor de 2.154.000,17 euros); Centro Hospitalar Vila Nova de Gaia – Espinho (com a Petrogal, no valor de 721.453,21 euros); quatro do Hospital de Braga (um com a Snl Ibérica – Sociedade de Lavandarias, no valor de 523.393,33 euros, outro com a Fapomed – Dispositivos Médicos, no valor de 267.804,00 euros, outro com a Medicinália Cormédica, no valor de 215.167,17 euros, e outro com a Cepheid Iberia, S.L.U., no valor de 100.000,00 euros); Município de Torres Vedras (com a José Maria Magalhães Pavia Cumbre e Nuno Miguel Sousa Caetano, Arquitetos, Lda., no valor de 308.000,00 euros); dois do Centro Hospitalar de Setúbal (um com a Philips, no valor de 187.160,85 euros, e outro com a General Electric Healthcare, no valor de 125.073,48 euros); Unidade Local de Saúde de Castelo Branco (com a Iberlim – Higiene e Sustentabilidade Ambiental, no valor de 184.367,79 euros); Município de Ourém (com a Insigneplushotel, no valor de 158.198,00 euros); Estado-Maior-General das Forças Armadas (com a Viivhiv Healthcare, no valor de 145.689,25 euros); Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (com a Generali Seguros, no valor de 124.444,50 euros); Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Norte (com a Cepheid Iberia, S.L.U., no valor de 111.300,00 euros); Laboratório Nacional de Engenharia Civil (com a HOMEREST – Gestão de Serviços de Alimentação, no valor de 107.612,40 euros); e a Universidade do Algarve (com a Inovarx, Lda., no valor de 105.800,00 euros).


    TOP 5 dos contratos públicos divulgados no período de 5 a 7 de Janeiro

    1Aquisição de seis navios patrulha oceânicos para a Marinha Portuguesa

    Adjudicante: Direção-Geral de Recursos da Defesa Nacional

    Adjudicatário: West Sea – Estaleiros Navais

    Preço contratual: 299.760.000,00 euros

    Tipo de procedimento: Procedimento de negociação


    2Fornecimento de electricidade em regime de mercado livre

    Adjudicante: Direção-Geral de Reinserção e Serviços Prisionais 

    Adjudicatário: Endesa Energia

    Preço contratual: 6.853.503,84 euros

    Tipo de procedimento: Ao abrigo de acordo-quadro (artº 259º)


    3Empreitada de reabilitação e modernização do Distribuidor da Erra (1ª fase)

    Adjudicante: Associação de Regantes e Beneficiários do Vale do Sorraia

    Adjudicatário: Tecnovia – Sociedade de Empreitadas

    Preço contratual: 4.995.464,75 euros

    Tipo de procedimento: Concurso público


    4Fornecimento de gás natural em regime de mercado livre

    Adjudicante: Direção-Geral de Reinserção e Serviços Prisionais

    Adjudicatário: Gold Energy – Comercializadora de Energia

    Preço contratual: 4.034.574,59 euros

    Tipo de procedimento: Ao abrigo de acordo-quadro (artº 259º)


    5Aquisição de serviços de manutenção global dos navios da frota da Soflusa durante quatro meses

    Adjudicante: SOFLUSA – Sociedade Fluvial de Transportes

    Adjudicatário: S&C – Gestão de Navios e Tripulações

    Preço contratual: 2.154.000,17 euros

    Tipo de procedimento: Ajuste directo


    TOP 5 dos contratos públicos por ajuste directo divulgados no período de 5 a 7 de Janeiro

    1 Aquisição de serviços de manutenção global dos navios da frota da Soflusa durante quatro meses

    Adjudicante: SOFLUSA – Sociedade Fluvial de Transportes

    Adjudicatário: S&C – Gestão de Navios e Tripulações

    Preço contratual: 2.154.000,17 euros


    2Fornecimento de gás natural de 01/01/2024 a 29/02/2024

    Adjudicante: Centro Hospitalar Vila Nova de Gaia – Espinho

    Adjudicatário: Petrogal

    Preço contratual: 721.453,21 euros


    3Aquisição de serviços de lavandaria e tratamento de roupa hospitalar – período de Abril a Agosto de 2023

    Adjudicante: Hospital de Braga

    Adjudicatário: SNL Ibérica Sociedade de Lavandarias

    Preço contratual: 523.393,33 euros


    4Aquisição de serviços para elaboração do Projecto da Biblioteca Municipal e Museu do Brinquedo de Torres Vedras

    Adjudicante: Município de Torres Vedras

    Adjudicatário: José Maria Magalhães Pavia Cumbre e Nuno Miguel Sousa Caetano, Arquitetos, Ldª.

    Preço contratual: 308.000,00 euros


    5Aquisição de equipamento de protecção individual – Batas

    Adjudicante: Hospital de Braga

    Adjudicatário: Fapomed Dispositivos Médicos

    Preço contratual: 267.804,00 euros


    MAP

  • Bolo-rei: Lei e Código dos Contratos Públicos não impede ninguém de ser Rei Mago

    Bolo-rei: Lei e Código dos Contratos Públicos não impede ninguém de ser Rei Mago


    Existem milhares de entidades da Administração Pública, mas só 33 decidiram, em pelo menos um ano, gastar dinheiro público para oferecer bolo-rei em época de festividades natalícias. O destino da iguaria seguiu para as mais distintas bocas, desde comunidades mais desfavorecidas até funcionários públicos, sem que se entenda os critérios para aquisição e os limites de gastos. Desde 2008, o PÁGINA UM descobriu no Portal Base um total de 92 contratos de aquisição especificamente de bolo-rei, em grandes quantidades, para ofertas, sobretudo feitas por autarquias. A ‘fava’ fica com os contribuintes: desde 2014, a conta já atinge quase 570 mil euros. Só no ano passado, e pelos dados já disponíveis, gastaram-se mais de 84 mil euros. Bom proveito.


    Belém fica ali próximo, na vizinha Lisboa, mas é nas terras de Isaltino Morais, no município de Oeiras, que o bolo-rei é generosamente oferecido… com a ‘fava’ a seguir para os contribuintes, porque sendo eles a pagar, quer gostem ou não da iguaria, só poucos lhe metem o dente. Na verdade, não são assim tão poucos: em Dezembro passado, foram 4.000 bolos comprados ao Pingo Doce por 27.200 euros (sem IVA). No ano anterior, o ‘brinde’ saiu à Pastelaria Vera Cruz de Caxias que vendeu 6.120 bolos-reis à Câmara Municipal de Oeiras por 30.784 euros.

    Mas longe está o ‘rei mago’ Isaltino Morais de ser o único a ficar com os louros da bondade à custa do dinheiro dos contribuintes. Numa análise do PÁGINA UM aos contratos inseridos no Portal Base que explicitamente remetam para a aquisição de bolos-reis, encontram-se 33 entidades públicas que decidiram, desde 2008, fazer 92 compras destas iguarias consumidas sobretudo na época natalícia. Quase todas são Câmaras Municipais. Além de outras entidades ligadas a autarquias, como empresas municipais, não se detectou qualquer instituição da Administração Central a comprar bolos-reis.

    Por lei, não há qualquer limite nem limitações para a aquisição deste tipo de bens de consumo, mesmo não sendo de primeira necessidade. Ou seja, bastando cumprir os formalismos do Código dos Contratos Públicos em termos de procedimento, os gestores públicos até podem comprar caviar beluga para supostas ofertas.

    A lei também não limita os montantes deste tipo de género, que beneficia os políticos que os oferecendo, olhados por quem os recebe como generosos, embora com o dinheiro dos outros, neste caso os contribuintes. Na generalidade dos contratos dos bolos-reis, a aquisição por ajuste directo foi a prática mais habitual.

    Só na última década, entre 2014 e 2023, os gastos das entidades públicas em bolo-rei para ofertas totalizaram 569.347 euros. Se se abranger o período com dados na plataforma da contratação pública, a partir de 2008, a factura sobe acima dos 834 mil euros. O ano de maiores gastos foi o de 2020, com 112.700 euros, embora a tendência seja de aumento dos gastos médios. Desde 2020, os bolos-reis para oferta têm custado, em média, cerca de 88 mil euros por ano aos cofres públicos. Não estão aqui incluídos os casos em que esta iguaria integra os famosos cabazes de Natal.

    Carlos Carreiras (Cascais), Isaltino Morais (Oeiras), Ricardo Leão (Loures) e Carlos Moedas (Lisboa). Apesar de até haver uma Belém na capital portuguesa, o edil de Lisboa é o único destes quatro autarcas que não dá bolos nem se investe de Rei Mago com o dinheiro dos contribuintes.

    A autarquia de Oeiras é, além daquela que mais gasta – cerca de 278 mil euros desde 2008 e quase 180 mil na última década –, a que já tornou um hábito de entregar o brinde a alguns munícipes e a ‘fava’ aos contribuintes, porque desde 2008 só houve um ano em que não se encontra qualquer contrato de compra de bolos-reis.

    O ano de 2010 foi aquele em que a autarquia liderada actualmente por Isaltino Morais mais abriu os cordões à bolsa, gastando 33 mil euros. Mas nos últimos cinco anos também foi pródiga: os gastos estiveram sempre acima dos 19 mil euros em qualquer dos anos. Em 2022 os gastos atingiram os 30.784 euros, enquanto em 2023 ficou a factura em 27.320 euros.

    Encontram-se outras duas autarquias com indícios de quererem tornar tradição a oferta de bolos-reis à custa dos contribuintes: Ovar e Vila Pouca de Aguiar adquiriram sempre esta iguaria nos últimos cinco e quatro anos, embora em montantes mais baixos.

    Montante anual gasto na aquisição de bolos-reis por entidades públicas. Fonte: Portal Base.

    Na verdade, Oeiras destaca-se dos demais, até porque importantes municípios como Lisboa, Porto e Sintra não indicam compras deste tipo de produtos na descrição de contratos públicos. Em todo o caso, a ‘vizinha’ Câmara Municipal de Cascais é a segunda entidade que se investiu de ‘rei mago’ e já gastou quase 123 mil euros desde 2008, dos quais um pouco mais de 65 mil na última década.

    A terceira autarquia com mais compras de bolo-rei na última década fica no Norte: o município de Baião fez despesas de 58 mil euros nos últimos 10 anos, seguindo-se Loures, com quase 37 mil, Vila Pouca de Aguiar, com aproximadamente 32 mil, e Paços de Ferreira, com valores próximos de 26 mil euros.

    Com montantes entre os 15 mil e os 20 mil euros gastos em bolos-reis na última década, o PÁGINA UM detectou os municípios de Seixal, Vila Nova de Gaia, Sines, Ovar e Almada.

    Pegando na cor política dos presidentes das 11 autarquias que mais compraram bolos-reis na última década, não é notória qualquer questão ideológica. Desses 11 autarcas, seis (55%) são do Partido Socialista (Baião, Loures, Paços de Ferreira, Vila Nova de Gaia, Sines e Ovar), o que não difere muito da representatividade nacional (149 em 308 municípios, ou seja, 48%). ‘Rei magos’ social-democratas encontram-se três (Cascais, Vila Pouca de Aguiar e Ovar), estando o PCP representado no Seixal e os movimentos ditos independentes em Oeiras.

    No futuro, e dada a tendência de se recomendar a redução do consumo de produtos açucarados – nomeadamente em hospitais e escolas –, resta saber por quantos anos se vai aguentar esta tradição de algumas autarquias reservarem uma fatia do seu orçamento para comprar bolos-reis. A acontecer, para os fornecedores da Câmara Municipal de Oeiras, depois de anos de ‘brinde’, seria uma grande ‘fava’.

  • Lixos: Gondomar entrega sem concurso 13 milhões de euros a réu do processo ‘Ajuste Secreto’

    Lixos: Gondomar entrega sem concurso 13 milhões de euros a réu do processo ‘Ajuste Secreto’


    Num negócio milionário, a autarquia de Gondomar está a atribuir desde Julho de 2022 sucessivos contratos de aquisição de serviços de recolha de resíduos sólidos urbanos, sem concurso, à mesma empresa: a Rede Ambiente – Engenharia e Serviços, que integra o Grupo Terris, com sede naquele concelho nortenho e que é ré no processo ‘Ajuste Secreto’. O próprio CEO do Grupo Terris, e ex-presidente da Rede Ambiente, viu em 2019 o Tribunal de Santa Maria da Feira decretar-lhe o arresto preventivo de bens.

    O processo Ajuste Secreto, cujo julgamento se iniciou em Novembro passado no Tribunal de Espinho, teve início em 2016, envolvendo sobretudo a Câmara Municipal de Oliveira de Azeméis e o seu ex-presidente Hermínio Loureiro, antigo dirigente da Federação Portuguesa de Futebol, mas os indícios criminais estenderam-se também às autarquias de Estarreja, Albergaria-a-Velha, Matosinhos e Gondomar.

    (Foto: Câmara Municipal de Gondomar. D.R.)

    Estão a ser julgadas 65 pessoas e empresas, entre as quais se contam a própria Rede Ambiente e Paulo Renato Reis, sócio e presidente-executivo do Grupo Terris e antigo membro do conselho nacional do PSD, bem como o ex-deputado social-democrata João Moura de Sá, que foi também administrador da Rede Ambiente. Além destes réus, com ligações à autarquia de Gondomar (funcionários ou ex-funcionários) estão também envolvidos neste processo judicial mais três pessoas: José Leonel Ramos, José Diogo Ferreira da Silva e Joaquim Castro Neves.

    Apesar das fortes suspeitas sobre a Rede Ambiente, o município gondomarense, liderado pelo socialista Marco Martins, tomou a decisão de escolher esta empresa para lhe entregar, desde Julho de 2022, três contratos de ‘mão-beijada’ para recolha de resíduos que já totalizam cerca de 12,9 milhões de euros, de acordo com dados disponíveis no Portal Base, a plataforma de registo de compras públicas. [N.B. No Portal Base constam quatro ajustes directos, mas um deles está duplicado).

    Estes ajustes directos sucedem a um contrato ganho por concurso público pela Rede Ambiente e EGEO em 2012, em consórcio, pelo valor de 35,8 milhões de euros. No concurso saíram derrotadas a Suma, a RRI e a Luságua. O prazo de execução foi de 10 anos, o que equivalia a um pagamento médio de quase 3,6 milhões de euros em cada ano de contrato. Mas a autarquia de Gondomar aceitou em Junho de 2021 fazer uma alteração contratual em simultâneo com a cedência de posição contratual por parte da EGEO. Assim, em acordos assinados em Junho de 2021 pelo vice-presidente Luís Araújo, a Câmara Municipal de Gondomar aceitou acrescentar mais cerca de 5,4 milhões de euros ao contrato inicial. Ou seja, o município, em 10 anos de recolha de lixos, pagou 41,2 milhões de euros, mais 15% do inicialmente contratado.

    Marco Martins, presidente da Câmara Municipal de Gondomar.
    (Foto: Câmara Municipal de Gondomar. D.R.)

    Na verdade, pagou mais, porque na adenda do contrato, a autarquia concordou em antecipar o término do contrato. De acordo com a cláusula da adenda de 2021, diz-se que “o prazo de vigência inicialmente fixado em dez anos, que terminaria em Março de 2023, será reduzido para Julho de 2022, sendo esta a data previsível do seu término, podendo cessar em momento anterior se for consumido o preço contratual”.

    Em suma, se em 2021 a Câmara de Gondomar pensava gastar, através de concurso público, 35,8 milhões de euros ao longo de 120 meses, afinal acabou por pagar 41,2 milhões de euros por 112 meses. Contas feitos, no contrato inicial (de 2012), cada mês custaria aos cofres autárquicos cerca de 300 mil euros; afinal, custaram quase 368 mil em cada mês. Portanto, um aumento das receitas da Rede Ambiente com este contrato próximo dos 23%.

    Mas além deste acréscimo, a Rede Ambiente teve mais benesses, porque a autarquia de Gondomar não se preocupou em abrir concurso público com vista à recolha de resíduos para o período posterior a Julho de 2022. E começaram então os contratos de ‘mão-beijada’.

    Para justificar a atribuição destes ajustes directos à Rede Ambiente, a autarquia presidida pelo socialista Marco Martins, mesmo sabendo-se que teve 10 anos para preparar novo concurso público, invocou alegados “motivos de urgência imperiosa resultante de acontecimentos imprevisíveis pela entidade adjudicante”, isto é, pela Câmara Municipal de Gondomar. Convém referir que o Código dos Contratos Públicos somente permite essa solução se a culpa pela “urgência imperiosa” não for da entidade adjudicante. Ora, é impossível crer que a autarquia de Gondomar não saberia prever a necessidade de continuar a recolher os resíduos e limpar as ruas do município.

    Paulo Renato Reis, CEO do Grupo Terris, dono da Rede Ambiente, é um dos arguidos no processo ‘Ajuste Secreto’.

    Além disso, a norma de excepção refere que os ajustes directos por “motivos de urgência imperiosa” só se justificam na “medida do estritamente necessário”, e o município liderado pelo socialista Marco Martins já vai com três ajustes directos à mesma empresa, desde Agosto de 2022, sendo que o mais recente, celebrado na passada sexta-feira, no montante de 4.325.704,91 euros, se prolongará até Setembro deste ano de 2024.

    O anterior ajuste directo, no montante de 6.118.993,73 euros, foi celebrado a 29 de Dezembro de 2022, para a “aquisição de Serviços de Recolha de Resíduos Urbanos”, por um prazo de um ano.

    E o primeiro deste contratos de ‘mão-beijada’ saíra no final de Julho de 2022, ao preço de 2.488.015,00 euros.  

    Assim, no total, através de três ajustes directos, sem qualquer concorrência, a Rede Ambiente vai encaixar por dois anos de prestação de serviços (Agosto de 2022 a Setembro de 2024) um total de 12,9 milhões de euros, o que dá uma média de 537 mil euros por cada mês. Recorde-se que, com as alterações contratuais, entre Março de 2012 e Julho de 2022, a Rede Ambiente encaixara 368 mil euros por mês, Portanto, os ajustes directos têm um ‘desvio’ para cima de 46%. Coisa pouca.

    Focus Photo of Yellow Paper Near Trash Can

    O PÁGINA UM questionou a Câmara Municipal de Gondomar sobre o porquê da não realização de concurso público para a escolha de um prestador de serviços de recolha de resíduos, a partir de 2022, ano em que terminou o contrato em vigor com a Rede Ambiente. Também indagou o município sobre como foi definido o preço que consta nos contratos feitos por ajuste directo, mas até à hora de publicação deste artigo, o município não enviou respostas.

    A Rede Ambiente – Engenharia e Serviços é uma sociedade anónima presidida agora por Lília Maria Matias da Costa, e tem a sua sede num armazém na freguesia de Santa Cruz/ Trindade e Sanjurge, no concelho de Chaves, segundo dados da sociedade no portal do Ministério da Justiça onde constam os registos societários.

    Já o Grupo Terris, a holding onde se integra a Rede Ambiente, tem sede em Gondomar, e controla também a Ecorede, a Vector Estratégico e a Finis.

    De acordo com o Portal Base, desde 2010 a Rede Ambiente facturou 135 milhões de euros com entidades públicas em 89 contratos . Nos últimos dois anos, a maioria dos contratos públicos desta empresa foi após um procedimento de consulta prévia ou concurso público. Nos ajustes directos, além dos que conseguiu com o município de Gondomar, contam-se dois com municípios, mas por valores muitos mais baixos e de curta duração: com a autarquia de Santo Tirso, no valor de 677.806, por 150 dias, e com a freguesia de Ermesinde, no montante de 75 mil euros, por apenas 92 dias

    (Foto: Câmara Municipal de Gondomar. D.R.)

    O maior contrato obtido pela Rede Ambiente em 2023 foi com a autarquia de Amarante, num “concurso limitado por prévia qualificação”, para o fornecimento de serviços por 10 anos, num valor de 27,1 milhões de euros, tendo ganho este procedimento em parceria com a Ecorede.

    O terceiro maior contrato, foi angariado junto do município do Barreiro, através de concurso público, gerando uma receita de 3,960 milhões de euros, em prestações de serviço a efectuar por dois anos.

    Mesmo assim, a Ecorede é a empresa do Grupo Terris que encaixou mais com entidades públicas: os 182 contratos valeram-lhe já 159 milhões de euros.

    O mais recente contrato entre a Rede Ambiente a o município de Gondomar integra o Boletim P1 da Contratação Pública e Ajustes Directos que agrega os contratos divulgados entre os dias 29 de Dezembro de 2023 e 1 de Janeiro de 2024. Desde Setembro, o PÁGINA UM apresenta uma análise diária aos contratos publicados no dia anterior (independentemente da data da assinatura) no Portal Base. De segunda a sexta-feira, o PÁGINA UM faz uma leitura do Portal Base para revelar os principais contratos públicos, destacando sobretudo aqueles que foram assumidos por ajuste directo.

    ET / PAV


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    Nos últimos quatro dias, de sexta-feira passada até ontem, no Portal Base foram divulgados 1479 contratos públicos, com preços entre os 2,50 euros – para aquisição de medicamentos, pela Unidade Local de Saúde do Norte Alentejano, através de ajuste directo – e os 30.850.000,00 euros – para melhoria das condições de segurança e circulação do IP8 (EN259), pela Infraestruturas de Portugal, através de concurso público.

    Com preço contratual acima de 500.000 euros, foram publicados 32 contratos, dos quais 16 por concurso público, 13 ao abrigo de acordo-quadro e três por ajuste directo.

    Por ajuste directo, com preço contratual superior a 100.000 euros, foram publicados 29 contratos, pelas seguintes entidades adjudicantes: Município de Gondomar (com a Rede Ambiente – Engenharia e Serviços, no valor de 4.325.704,91 euros); Metro Mondego (com a Etac – Empresa de Transportes António Cunha, no valor de 719.982,25 euros); Metropolitano de Lisboa (com a SISCOG – Sistemas Cognitivos, no valor de 554.273,13 euros); dois do Centro Hospitalar Tondela-Viseu (um com a Petrogal, no valor de 499.604,00 euros, e outro com a PharmaKern Portugal – Produtos Farmacêuticos, no valor de 121.500,00 euros); Município de Odivelas (com a Ronsegur – Rondas e Segurança, no valor de 489.996,36 euros); Cascais Dinâmica – Gestão de Economia, Turismo e Empreendorismo (com a PSG – Segurança Privada, no valor de 467.240,34 euros); Universidade do Porto (com a Ex Libris (Deutschland) GmbH, no valor de 406.832,86 euros); Universidade Aberta (com a UNIwise, no valor de 228.472,00 euros); Município de Constância (com a Petrogal, no valor de 224.996,35 euros); Município de Rio Maior (com a Ambiobra, Lda., no valor de 207.365,00 euros); Município de Cascais (com a Morais Leitão, Galvão Teles, Soares da Silva & Associados – Sociedade de Advogados, no valor de 203.000,00 euros); Serviços Sociais da Administração Pública (com a Eurest Portugal, no valor de 197.285,76 euros); Infraestruturas de Portugal (com a Geira, S.A., no valor de 190.000,00 euros); Estado Maior da Força Aérea (com a Dassault Aviation Business Services, no valor de 186.556,64 euros); Município de Portimão (com a Ramos Preto, Abreu Rodrigues e Associados – Sociedade de Advogados, no valor de 180.000,00 euros); dois do Município de Almada (um com a Interlimpe – Facility Services, no valor de 166.245,00 euros, e outro com a Prestibel – Empresa de Segurança, no valor de 121.270,77 euros); Universidade Nova de Lisboa (com a Quidgest, no valor de 150.000,00 euros); Instituto de Informática (com a Unipartner IT Services, no valor de 141.950,00 euros); Município de Loulé (com a Pixelevolution, Lda., no valor de 140.000,00 euros); Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Norte (com a Biogen Idec, no valor de 132.253,63 euros); Instituto Politécnico de Leiria (com a Ex Libris (Deutschland) GmbH, no valor de 132.169,00 euros); dois do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (um com a Unicam, Sistemas Analíticos, no valor de 124.785,00 euros, e outro com a Werfen Portugal, no valor de 122.529,96 euros); dois do Município de Torres Vedras (um com a Biofrade – Agropecuária, no valor de 120.840,47 euros, e outro com a Sogenave, no valor de 109.352,33 euros); Hospital da Horta (com a Baxter Medico Farmacêutica, no valor de 116.783,16 euros); e os Serviços Intermunicipalizados de Água e Saneamento dos Municípios de Oeiras e Amadora (com a Submarit – Subempreitadas e Trabalhos Marítimos, no valor de 116.000,00 euros).


    TOP 5 dos contratos públicos divulgados no período de 29 de Dezembro a 1 de Janeiro

    1Realização de empreitada para melhoria das condições de segurança e circulação do IP8 (EN259)

    Adjudicante: Infraestruturas de Portugal

    Adjudicatário: Tecnovia – Sociedade de Empreitadas; Construções J.J.R. & Filhos         

    Preço contratual: 30.850.000,00 euros

    Tipo de procedimento: Concurso público


    2Aquisição de energia eléctrica em regime de mercado liberalizado – Lote 4

    Adjudicante: Município de Tavira

    Adjudicatário: EDP Comercial

    Preço contratual: 4.909.357,85 euros

    Tipo de procedimento: Ao abrigo de acordo-quadro (artº 259º)     


    3Aquisição de serviços de recolha de resíduos urbanos e de resíduos de construção e demolição

    Adjudicante: Município de Gondomar

    Adjudicatário: Rede Ambiente – Engenharia e Serviços     

    Preço contratual: 4.325.704,91 euros

    Tipo de procedimento: Ajuste directo


    4Fornecimento de energia eléctrica e gás natural

    Adjudicante: Município de Miranda do Douro

    Adjudicatário: EDP Comercial

    Preço contratual: 3.061.882,47 euros

    Tipo de procedimento: Concurso público


    5Empreitada de construção designada “DOMUS CACI”

    Adjudicante: Fundação Beatriz Santos

    Adjudicatário: JRC – Construção e Obras Públicas

    Preço contratual: 2.415.649,58 euros

    Tipo de procedimento: Concurso público


    TOP 5 dos contratos públicos por ajuste directo divulgados no período de 29 de Dezembro a 1 de Janeiro

    1 Aquisição de serviços de recolha de resíduos urbanos e de resíduos de construção e demolição

    Adjudicante: Município de Gondomar

    Adjudicatário: Rede Ambiente – Engenharia e Serviços     

    Preço contratual: 4.325.704,91 euros


    2Prestação de serviços de transporte rodoviário de passageiros em alternativa ao Ramal da Lousã entre 1 de Janeiro e 31 de Maio de 2024

    Adjudicante: Metro Mondego

    Adjudicatário: Etac – Empresa de Transportes António Cunha       

    Preço contratual: 719.982,25 euros


    3Plataforma Plago – Aquisição de licenciamento RTD (Real Time Dispatcher)

    Adjudicante: Metropolitano de Lisboa

    Adjudicatário: SISCOG – Sistemas Cognitivos

    Preço contratual: 554.273,13 euros


    4Fornecimento de gás natural – Janeiro e Fevereiro de 2024

    Adjudicante: Centro Hospitalar Tondela-Viseu

    Adjudicatário: Petrogal

    Preço contratual: 499.604,00 euros


    5Prestação de serviços de segurança e vigilância humana e electrónica

    Adjudicante: Município de Odivelas

    Adjudicatário: Ronsegur – Rondas e Segurança

    Preço contratual: 489.996,36 euros


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  • André Sardet ganha ‘a sorte grande’ com espectáculo de fim de ano no Terreiro do Paço

    André Sardet ganha ‘a sorte grande’ com espectáculo de fim de ano no Terreiro do Paço


    ‘Ano Novo, Vida Velha’ para a empresa do cantor André Sardet, Domingo no Mundo, que começa 2024 com mais um espectáculo pago por entidades públicas através de ajuste directo. Desta vez, a produtora de espectáculos e organizadora de eventos do conhecido cantor encaixou 247,9 mil euros para organizar o concerto de passagem de ano no Terreiro do Paço, em Lisboa.

    O contrato foi feito sem concurso pela EGEAC-Empresa de Gestão de Equipamentos e Animação Cultural, que é a entidade responsável pela gestão dos espaços culturais da capital.

    O palco para o espectáculo de passagem de ano já estava montado, esta tarde, do Terreiro do Paço, em Lisboa. (Foto: Maria Afonso Peixoto)

    Segundo o contrato assinado no dia 27 de Dezembro e publicado ontem no Portal Base, a plataforma das compras públicas, o negócio foi efectuado por ajuste directo e envolve a montagem e produção do espectáculo anual para celebrar a passagem de ano na célebre praça lisboeta, junto ao Tejo.

    O espectáculo consiste num evento a ter lugar entre as 21H30 do dia 31 de Dezembro e as 01H00 de 1 de Janeiro de 2024 que inclui um concerto de ‘Os Quatro e Meia’ e a actuação do DJ Nuno Luz, antes e após a entrada em palco da banda de Coimbra.

    O contrato prevê que entre os dias 26 e 29 de Dezembro tenha lugar “a montagem de estruturas e equipamento de som, imagem e iluminação”, incluindo ecrãs. O dia 30 fica reservado para ensaios de som e luz.

    O cantor André Sardet detém quase todo o capital da empresa de entretenimento Domingo no Mundo que já ganhou 11,5 milhões de euros em contratos com entidades públicas nos últimos 14 anos.

    Já em Junho deste ano, a mesma empresa encaixou 110,5 mil euros da EGEAC num ajuste directo para a “a contratação da aquisição de serviços de conceção, coprodução e apresentação ao público do programa de Encerramento das Festas de Lisboa 2023”.

    A Domingo no Mundo, com um capital social de 5.000 euros, é detida maioritariamente pelo conhecido cantor, cujo nome completo é André Miraldo Sardé Pires, que tem uma participação de 4.900 euros no capital.

    Esta é, de resto, a quarta vez que a empresa de André Sardet é contratada pela EGEAC para organizar a festa de passagem de ano em Lisboa, sempre através de ajuste directo. Antes, a Domingo no Mundo já tinha sido a responsável pela principal festa de passagem de ano da autarquia lisboeta em 2009, 2016 e 2018.

    Num primeiro contrato, a empresa recebeu 100 mil euros num ajuste directo pela prestação de “serviços de produção referentes à passagem de Ano 2009 na Torre de Belém”. A EGEAC não indicou no Portal Base qualquer justificação para o ajuste directo, referindo apenas “não aplicável” no campo relativo à fundamentação.

    (Foto: Maria Afonso Peixoto)

    Em 2016, ganhou da EGEAC, também sem concurso, a verba de 164.172 euros para a “prestação de serviços com vista a assegurar a contratação dos artistas para o evento “Fim de Ano – Lisboa”, a realizar de 30 de dezembro de 2016 a 1 de janeiro de 2017″. Também neste caso indicou “não aplicável” na alínea relativa à fundamentação para o recurso à forma do ajuste directo.

    A última vez que tinha organizado o espectáculo de passagem de ano da autarquia lisboeta foi em 2018, num ajuste directo que lhe valeu uma receita de 193.200 euros relativa a “Passagem de Ano 2018-2019- Contratação da Prestação de Serviços de Coprodução e apresentação ao público dos espetáculos de Daniel Pereira Cristo, Richie Campbell e de Fogo-de-artifício, no âmbito do programa de Celebração da Passagem de Ano 2018-2019”. Neste caso, a justificação dada pela EGEAC para o ajuste directo foi “por motivos artísticos e de proteção de direitos exclusivos de representação dos artistas e criadores envolvidos nos espetáculos”

    No total, a EGEAC já rendeu à Domingo no Mundo mais de 815 mil euros em ajustes directos adjudicados desde 2009, dos quais 715 mil euros foram contratados nos últimos oito anos.

    O portfólio da Domingo no Mundo, na sua página na Internet, inclui o espectáculo de passagem de fim de ano no Terreiro do Paço, em 2018. A empresa já tinha organizado a festa de passagem de ano da autarquia lisboeta de 2016 e 2009. (Foto: captura de ecrã)

    O PÁGINA UM questionou, por e-mail, o presidente da EGEAC, Pedro Moreira, sobre o porquê da escolha da empresa Domingo no Mundo para a realização do espectáculo em causa e também sobre como foi definido o preço a pagar e se foram contactadas outras organizadoras de eventos/produtoras.

    Em resposta por e-mail às perguntas do PÁGINA UM, a assessora de imprensa da EGEAC, Susana Branco, afirmou que “todos os anos a EGEAC recebe propostas de vários promotores culturais para o espetáculo de Passagem de Ano, selecionando a que melhor se enquadre no perfil definido para o ano em questão e que assegure a representatividade dos artistas pretendidos, bem como apresente algumas componentes de inovação”.

    Escreveu ainda que “selecionada a proposta, desenvolve-se o processo que permite assegurar todas as condições do espetáculo, concretizando-se, assim, o contrato”. Quanto ao preço pago pelo espectáculo, apenas indicou que “a EGEAC dispõe de um orçamento para a Passagem de Ano pelo que a proposta selecionada terá de se enquadrar nessa vertente orçamental”.

    O Terreiro do Paço, em Lisboa, tem sido o local predilecto para a organização de um espectáculo de passagem de ano pelo município da capital. (Foto: Maria Afonso Peixoto)

    Ou seja, ao invés de a EGEAC lançar um concurso, com um caderno de encargos, em que várias empresas apresentam as respectivas propostas, aquela entidade municipal opta pela opacidade de anunciar meramente um contrato com uma empresa que selecciona num processo nada transparente.

    Isto porque se desconhecem as restantes “propostas” de outras empresas que chegaram à EGEAC com vista à montagem e produção do espectáculo de passagem de ano.

    De resto, este é apenas mais um contrato por ajuste directo ganho pela empresa de André Sardet que, desde 2009, já encaixou receitas de perto de 11,5 milhões de euros em 176 contratos com entidades públicas, de acordo com dados do Portal Base.

    Vista das estruturas do palco montado para o concerto de passagem de ano estão já montados no Terreiro do Paço, em Lisboa. (foto: Maria Afonso Peixoto)

    Só em 2023, a Domingo no Mundo assinou 22 contratos com entidades públicas, dos quais 14 foram por ganhos por ajuste directo, enquanto os oito contratos restantes foram conseguidos após um procedimento de ‘consulta prévia’ ou ‘concurso público’.

    Dos contratos assinados pela Domingo no Mundo com entidades públicas em 2023, o de maior valor, no montante de quase 402 mil euros, foi feito em Agosto, por ajuste directo, com a autarquia de Lagoa.

    Em Julho, num outro ajuste directo, ganhou 149 mil euros do município de Portimão por “prestação de serviços para a realização do Festival Mar-Me-Quer 2023”.

    No mesmo mês, a empresa de André Sardet fechou um contrato por ajuste directo, no valor de 129.560 euros, com a autarquia de Condeixa-a-Nova, pela “aquisição de serviços de produção artística e logística para a realização das Festas de Santa Cristina 2023”.

    O mais recente contrato entre a Domingo no Mundo e a EGEAC integra o Boletim P1 da Contratação Pública e Ajustes Directos que agrega os contratos divulgados entre os dias 22 e 28 de Dezembro. Desde Setembro, o PÁGINA UM apresenta uma análise diária aos contratos publicados no dia anterior (independentemente da data da assinatura) no Portal Base. De segunda a sexta-feira, o PÁGINA UM faz uma leitura do Portal Base para revelar os principais contratos públicos, destacando sobretudo aqueles que foram assumidos por ajuste directo.

    ET / MAF


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    Ontem, dia 28 de Dezembro, no Portal Base foram divulgados 1373 contratos públicos, com preços entre os 22,10 euros – para reparação de bomba infusora, pelo Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia – Espinho, através de ajuste directo – e os 12.318.415,85 euros – para prestação de serviços de fiscalização, acompanhamento e coordenação de segurança e saúde da empreitada Linha Rubi, pelo Metro do Porto, através de concurso público.

    Com preço contratual acima de 500.000 euros, foram publicados 21 contratos, dos quais 11 por concurso público, sete ao abrigo de acordo-quadro e três por ajuste directo.

    Por ajuste directo, com preço contratual superior a 100.000 euros, foram publicados 28 contratos, pelas seguintes entidades adjudicantes: Navegação Aérea de Portugal – NAV Portugal (com a ADB Safegate Austria GMBH, no valor de 1.579.148,00 euros); Banco de Portugal (com a OutSystems – Software em Rede, no valor de 1.350.000,00 euros); Santa Casa da Misericórdia de Serpa (com a Bramédica Fisio – Produtos de Saúde, no valor de 503.624,80 euros); dois do Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central (um com a Sanofi, no valor de 425.394,80 euros, e outro com a Octapharma, no valor de 352.000,00 euros); dois do Instituto Português do Sangue e da Transplantação (um com a Fresenius Kabi Pharma, no valor de 352.512,00 euros, e outro com a Terumo Bct, no valor de 230.318,00 euros); EGEAC – Empresa de Gestão de Equipamentos e Animação Cultural (com a Domingo no Mundo, Lda., no valor de 247.899,56 euros); dois do Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Norte (um com a Sanofi, no valor de 225.760,83 euros, e outro com a Alexion Pharma Spain, no valor de 180.978,04 euros); quatro da Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões (um com a Ramos, Galhofa, Lourenço & Associados, outro com a João Carlos Silva & Associados, outro com a José Macieirinha, Pedro Macieirinha & Associados, e outro com a Urbano & Associados, todos no valor de 214.999,99 euros); dois do Município de Castelo Branco (um com a Calceteiros Martins & Gaspar, no valor de 195.479,77 euros, e outro com a Un Party, Unipessoal, no valor de 139.900,00 euros); Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa (com a Johnson & Johnson, no valor de 193.599,00 euros); dois da Museus e Monumentos de Portugal (um com a Primavera Business Software Solutions, no valor de 189.061,54 euros, e outro com a Epimetheus – Serviços de Gestão, no valor de 165.825,00 euros); Município de Óbidos (com a Guarda Ribeiro & Associados, no valor de 149.900,00 euros); dois do Instituto Português de Oncologia de Lisboa Francisco Gentil (ambos com a Werfen Portugal, um no valor de 142.274,93 euros, e outro no valor de 128.683,31 euros); Hospital Professor Doutor Fernando Fonseca (com a  Speculum – Artigos Médicos, no valor de 125.300,00 euros); EMAC – Empresa Municipal de Ambiente de Cascais (com a Global Enabling Sustainability Initiative, no valor de 120.000,00 euros); Hospital da Horta (com a Olympus Iberia, no valor de 120.000,00 euros); Hospital Garcia de Orta (com a Efago – Manutenção Hospitalar, no valor de 116.218,23 euros); Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro (com Artur Salgado, no valor de 104.761,00 euros); e a Associação Turismo do Algarve – ATA (com a Multilem – Design e Construção de Espaços, no valor de 103.080,75 euros).


    TOP 5 dos contratos públicos divulgados no dia 28 de Dezembro

    1Prestação de serviços de fiscalização, acompanhamento e coordenação de segurança e saúde da Empreitada Linha Rubi (Casa da Música – Santo Ovídio)

    Adjudicante: Metro do Porto, S. A.

    Adjudicatário: Afaplan – Planeamento e Gestão de Projectos        

    Preço contratual: 12.318.415,85 euros

    Tipo de procedimento: Concurso público


    2Fornecimento de combustíveis rodoviários em Portugal Continental

    Adjudicante: Estado-Maior do Exército

    Adjudicatário: Repsol

    Preço contratual: 3.081.750,99 euros

    Tipo de procedimento: Ao abrigo de acordo-quadro (artº 259º)


    3Construção de edifício destinado a Estrutura Residencial para Idosos, Centro de Dia e Serviço de Apoio Domiciliário

    Adjudicante: Associação para o Desenvolvimento Social e Cultural do Vale do Cobral

    Adjudicatário: Fonseca & Fonseca, Lda.

    Preço contratual: 2.723.600,61 euros

    Tipo de procedimento: Concurso público


    4Realização de “Empreitada complementar de construção do Parque de Material e Oficinas do Sistema de Mobilidade do Mondego”

    Adjudicante: Metro Mondego, S. A.

    Adjudicatário: Embeiral – Engenharia e Construção

    Preço contratual: 2.198.697,79 euros

    Tipo de procedimento: Concurso público


    5Concepção-construção da residência académica de Valença

    Adjudicante: Município de Valença

    Adjudicatário: Casais – Engenharia e Construção  

    Preço contratual: 2.121.693,48 euros

    Tipo de procedimento: Concurso público


    TOP 5 dos contratos públicos por ajuste directo divulgados no dia 28 de Dezembro

    1Actualização do Sistema Data Fusion nas Torres de Lisboa e do Porto e aquisição de serviços de suporte e manutenção

    Adjudicante: Navegação Aérea de Portugal – NAV Portugal

    Adjudicatário: ADB Safegate Austria GMBH

    Preço contratual: 1.579.148,00 euros


    2Renovação da subscrição de produtos e sistemas Outsystems

    Adjudicante: Banco de Portugal

    Adjudicatário: OutSystems – Software em Rede

    Preço contratual: 1.350.000,00 euros


    3Aquisição de material médico para Bloco Operatório

    Adjudicante: Santa Casa da Misericórdia de Serpa

    Adjudicatário: Bramédica Fisio – Produtos de Saúde

    Preço contratual: 503.624,80 euros


    4Aquisição de medicamentos e outros produtos farmacêuticos

    Adjudicante: Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central

    Adjudicatário: Sanofi – Produtos Farmacêuticos

    Preço contratual: 425.394,80 euros


    5Aquisição de sacos para colheita de sangue

    Adjudicante: Instituto Português do Sangue e da Transplantação

    Adjudicatário: Fresenius Kabi Pharma

    Preço contratual: 352.512,00 euros


    MAP

  • Chamem a polícia: sem contratos escritos, GNR entrega 13,6 milhões de euros sempre à mesma empresa de limpezas

    Chamem a polícia: sem contratos escritos, GNR entrega 13,6 milhões de euros sempre à mesma empresa de limpezas


    Por vezes, em serviços de limpezas, há contratos públicos. E bem chorudos. No Portal Base, consta um contrato da Guarda Nacional Republicana para serviços de limpezas no valor de 8.088.304,46 euros, que com IVA atinge quase os 11 milhões de euros. Assinado em Abril de 2021, foi ganho pela empresa Fine Facility Services, para limpar as cerca de meio milhar de instalações daquela força militarizada, por um período de 18 meses.

    Não foi apenas esse lote que a Fine Facility Services venceu. Neste concurso público foram a jogo mais sete lotes, incluindo serviços de limpeza da Polícia de Segurança Pública, da Autoridade Nacional de Emergência e Protecção Civil e do então Serviço de Estrangeiros e Fronteiras. E tão apetecível era este concurso que 21 empresas de limpezas se mostraram interessadas, embora a Fine Facility Services tenha arrecadado seis dos oito lotes, sendo que os restantes (com montantes a rondar os 500 mil euros) foram ganhos pela KGS Services e pela Interessantequação. Até aqui tudo bem, como devia ser com dinheiros públicos: concurso aberto; que ganhe o melhor e com a melhor proposta.

    Terá ajudado à vitória da Fine Facility Services, no caso da GNR, a existência de uma relação anterior, por ajuste directo. Aliás, no trimestre anterior à entrada em vigor do contrato resultante do concurso público, a empresa de limpeza ‘sacara’ um ajuste directo por três meses no valor de 1,5 milhões de euros.

    Apesar deste forte sinal de concorrência – patente em 21 empresas concorrentes –, a GNR acabou por deixar passar os 18 meses, tendo o contrato com a Fine Facility Services expirado em finais de Setembro do ano passado. Acertos feitos, porque o preço acaba também por ser em função das horas de trabalho, a empresa de limpezas recebeu por esse contrato, resultante de concurso público, um total de cerca de 8,1 milhões de euros.

    Mas as ligações negociais entre a GNR e a Fine Facility Services mantiveram-se após essa data mas com todas as facilidades e arredando concorrência, burocracias e papeladas.

    Com efeito, de acordo com um levantamento do PÁGINA UM, desde o quarto trimestre de 2022 – portanto, em pouco mais de um ano –, o Comando-Geral da GNR celebrou oito ajustes directos com a Fine Facility Services cuja soma já ultrapassa os 11 milhões de euros, alcançando os 13,6 milhões de euros caso se inclua o IVA.

    Todos estes contratos têm em comum uma gritante falta de transparência, senão pior. O primeiro destes contratos por ajuste directo foi assinado em 21 de Outubro de 2022, com um prazo de execução de 92 dias, tendo ficado estipulado um montante de 1.513.128,89 euros. Como o contrato teve efeitos retroactivos ao início do mês de Outubro, deveria finalizar no último dia desse ano. Mas o contrato foi encerrado antecipadamente no meio do mês de Dezembro, com o pagamento praticamente integral do preço contratual, e a GNR decidiu celebrar novo ajuste directo apenas por 15 dias.

    Mas o contrato para a limpeza das instalações da GNR durante a segunda quinzena de Dezembro, no valor de 320.380,87 euros somente foi celebrado no último dia útil do ano de 2022, sexta-feira, dia 30. E diz-se celebrado, e não assinado, porque não houve sequer contrato escrito. E nem sequer se consegue compreender a razão deste contrato quinzenal, uma vez que o ajuste directo com duração de três meses já apresentava um valor médio mensal superior ao do contrato de 18 meses derivado do concurso público (500 mil euros vs. 450 mil euros).

    Em todo o caso, as contas do ajuste directo para a segunda quinzena de Dezembro de 2022 só foram concluídas em Maio deste ano, sabendo-se que a GNR pagou então quase 220 mil euros por limpezas neste curto período. Curiosamente, sobre este contrato, surge no Portal Base a referência a ter deixado de “existir situações de incumprimento ou quaisquer valores em falta por parte da prestadora de serviços”.

    Depois deste ajuste directo, a GNR tomou o gosto aos ajustes directos com a Fine Facility Services ao longo do ano de 2023, e sempre invocando a norma da “urgência imperiosa resultante de acontecimentos imprevisíveis”, que só se justificariam se os acontecimentos imprevisíveis fosse a sujidade das centenas de postos da GNR no país. O mesmo argumento da “urgência imperiosa” serviu, aliás, para que o Comando-Geral da GNR deixasse de se preocupar com papeladas de contratos. Com efeito, dos seis contratos celebrados em 2023 não há um sequer que tenha contrato escrito, mesmo se fosse simples copiar os anteriores, uma vez que, presume-se, o tipo de limpeza e os postos a limpar ter-se-ão mantido. Ou não. Nada se sabe.

    Apenas se sabe que os valores e a duração destes seis contratos de 2023 não seguem qualquer lógica, o que permite colocar o capricho como hipótese académica. Também as diferenças entre o preço contratual e o valor efectivamente pago não encontram uma lógica perceptível.

    Assim, a meio de Janeiro deste ano celebrou-se um ajuste no valor de um pouco mais de 345 mil euros com uma duração de 21 dias. Acabou por se pagar um pouco mais de 252 mil euros. Depois deste, saiu um novo ajuste de montante mais avantajado, com início a 1 de Fevereiro, que se terá sobreposto ao ajuste directo anterior. Assim, por um pouco mais de dois milhões de euros, a Fine Facility Services ‘sacou’ de mão-beijada, sem os engulhos da concorrência, novo contrato por mais 122 dias. Porquê 122 dias? Não se sabe.

    Tenente-General Rui Veloso, comandante-geral da GNR desde Setembro deste ano. Sucessão de ajustes directos para limpezas começaram antes da sua tomada de posse, mas não pararam.

    Sabe-se apenas que, terminando este ajuste em 3 de Junho, a Fine Facility Services teve direito a mais outro ajuste directo sem contrato. Tudo na base da confiança. E assim, ainda antes de ter terminado o outro ajuste directo, integralmente pago, a GNR fez novo ajuste directo em 31 de Maio, desta vez com a duração de 153 dias. Pode-se dizer que o facto de existirem dois contratos em vigor para o mesmo serviço por três dias é um pormenor. Será assim, de facto, para contratos de milhões, mas sempre se pode adiantar que cada dia de limpeza das instalações da GNR custa ao erário público quase 17 mil euros.

    Certo é que o contrato de 153 dias, celebrado pela GNR e a Fine Facility Services – e mais uma vez sem contrato escrito – terminou em 30 de Outubro e custou aos cofres do Estado mais 2.580.822,95 euros, atingindo quase 3,2 milhões de euros com IVA.

    Depois de dois contratos de mão-beijada superiores a dois milhões de euros, o Comando da GNR terá decidido ser mais comedido, e fez mais outro, sem ser escrito, por um pouco mais de 513 mil euros. Também aqui houve um período de três dias em que terá havido dois contratos em vigor – ou seja, em que a GNR pagou a dobrar –, porque a data de celebração foi o dia 27 de Outubro. Grão a grão se desbarata. E se ganha. Este contrato teve duração de 30 dias, o que significaria que deveria terminar a 25 de Novembro.

    Mas, talvez por motivos de acerto de contas, houve quase uma semana em que, desta vez, terá havido limpezas sem contrato, porque a GNR e a Fine Facility Services somente celebraram mais um novo ajuste directo no dia 1 de Dezembro. E, neste caso, por apenas 16 dias, pelo valor de 267.233,33 euros.

    Por fim, como certamente era uma canseira para o Comando-Geral da GNR, mesmo sem ter de se assinar contratos, celebrar ajustes directos de 15 dias, 21 dias, 30 dias, 122 dias e 155 dias, no passado dia 15 decidiu-se que melhor seria conceder mais um ajuste directo à empresa do costume por 197 dias, basicamente por seis meses e meio. Custo deste ajuste: 3.695.493,21 euros, ou seja, mais de 4,5 milhões de euros. Sem contrato escrito porque os supostos motivos de urgência imperiosa resultante de acontecimentos imprevisíveis terão implicado a necessidade de “dar imediata execução ao contrato”, conforme está registado no Portal Base.

    Uma vez até se acredita, por boa-fé, mas isto repetido oito vezes ao longo de menos de um ano, já necessita de outros esclarecimentos. Mas o departamento de comunicação da GNR, contactado pelo PÁGINA UM, comunicou por telefone que somente para a semana seria possível responder.   

    O mais recente contrato por ajuste directo entre a GNR e a Fine Facility Services integra o Boletim P1 da Contratação Pública e Ajustes Directos que agrega os contratos divulgados no dia 15 de Dezembro. Desde Setembro, o PÁGINA UM apresenta uma análise diária aos contratos publicados no dia anterior (independentemente da data da assinatura) no Portal Base. De segunda a sexta-feira, o PÁGINA UM faz uma leitura do Portal Base para revelar os principais contratos públicos, destacando sobretudo aqueles que foram assumidos por ajuste directo.

    PAV


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    Ontem, dia 27 de Dezembro, no Portal Base foram divulgados 1425 contratos públicos, com preços entre os 3,24 euros – para aquisição de fusíveis, pela Unidade Local de Saúde do Alto Minho, através de consulta prévia – e os 11.895.000,00 euros – para empreitada de construção da 2ª fase da Variante à cidade da Horta, pela Direcção Regional das Obras Públicas e Transportes Terrestres, através de concurso público.

    Com preço contratual acima de 500.000 euros, foram publicados 21 contratos, dos quais nove por concurso público, oito ao abrigo de acordo-quadro e quatro por ajuste directo.

    Por ajuste directo, com preço contratual superior a 100.000 euros, foram publicados 29 contratos, pelas seguintes entidades adjudicantes: Guarda Nacional Republicana (com a Fine Facility Services, no valor de 3.695.493,21 euros); Centro Social da Freguesia de Famalicão (com a Escalas e Espaços – Construções, no valor de 3.225.389,88 euros); Infraestruturas de Portugal (com a IP Telecom – Serviços de Telecomunicações, no valor de 1.888.092,60 euros); três do Centro Hospitalar Universitário de Santo António (um com a Sandoz, no valor de 511.210,00 euros, outro com a Jazz Pharmaceuticals France, no valor de 183.920,00 euros, e outro com a Baxter – Medico Farmacêutica, no valor de 115.842,60 euros); três da Unidade Local de Saúde do Alto Minho (um com a Janssen Cilag, no valor de 440.395,20 euros, outro com a Pharmakern Portugal, no valor de 137.046,00 euros, e outro com a Sanofi, no valor de 104.753,52 euros); Município de Mafra (com a Primavera Business Software Solutions, no valor de 374.019,65 euros); três da Polícia Judiciária (um com a Carl Zeiss Iberia, no valor de 270.199,20 euros, outro com a Soquímica, Lda., no valor de 252.292,79 euros, e outro com a Micotec – Electrónica, no valor de 106.625,00 euros); Estado Maior da Força Aérea (com a OGMA – Indústria Aeronáutica de Portugal, no valor de 211.735,00 euros); três da Universidade do Porto (um com a Elsevier, B.V., no valor de 209.406,21 euros, outro com a Strateq Master, Lda., no valor de 125.500,65 euros, e outro com a Servilimpe – Limpezas Técnicas Mecanizadas, no valor de 123.287,27 euros); quatro do Hospital de Braga (um com a Medtronic Portugal, no valor de 201.565,82 euros, outro com a B. Braun Medical, no valor de 156.863,11 euros, outro com a Alcon Portugal, Lda., no valor de 155.316,99 euros, e outro com a Johnson & Johnson, no valor de 134.155,44 euros); Instituto Português de Oncologia de Lisboa Francisco Gentil (com a Cepheid Iberia, no valor de 145.000,00 euros); Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária (com a Thermo Fisher Scientific, no valor de 129.228,93 euros); Fagar – Faro, Gestão de Águas e Resíduos (com a AQUASIS – Sistemas de Informação, no valor de 124.963,00 euros); Agência Nacional para a Gestão do Programa Erasmus+ Educação e Formação (com a Alfredo Real Estate Analytics – Serviços de Informação, no valor de 121.000,00 euros); Teatro Circo de Braga (com a Bildung – Sociedade Unipessoal, no valor de 120.000,00 euros); Autoridade Nacional de Comunicações (com a Hewlett-Packard Portugal, no valor de 110.963,84 euros); Município de Vila Nova de Gaia (com o ISPUP – Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto, no valor de 104.000,00 euros); e o Hospital de Vila Franca de Xira (com a Hologic Iberica S.L., no valor de 100.966,00 euros).


    TOP 5 dos contratos públicos divulgados no dia 27 de Dezembro

    1Empreitada de “Construção da 2ª fase da Variante à cidade da Horta, na Ilha do Faial”

    Adjudicante: Direcção Regional das Obras Públicas e Transportes Terrestres

    Adjudicatário: AFAVIAS – Engenharia e Construções Açores; Marques, S.A.; Tecnovia Açores – Sociedade de Empreitadas

    Preço contratual: 11.895.000,00 euros

    Tipo de procedimento: Concurso público


    2Aquisição de serviços de manutenção global dos navios da frota da Soflusa

    Adjudicante: Soflusa – Sociedade Fluvial de Transportes

    Adjudicatário: NAVALTAGUS – Reparação e Construção Naval; S&C – Gestão de Navios e Tripulações

    Preço contratual: 7.498.000,00 euros

    Tipo de procedimento: Concurso público


    3Aquisição de serviços de limpeza para a 2ª quinzena de dezembro de 2023 e os primeiros seis meses de 2024

    Adjudicante: Guarda Nacional Republicana

    Adjudicatário: Fine Facility Services

    Preço contratual: 3.695.493,21 euros

    Tipo de procedimento: Ajuste directo


    4Empreitada de construção de Estrutura Residencial para Pessoas Idosas

    Adjudicante: Centro Social da Freguesia de Famalicão

    Adjudicatário: Escalas e Espaços – Construções   

    Preço contratual: 3.225.389,88 euros

    Tipo de procedimento: Ajuste directo


    5Subscrição de licenças de software Microsoft e serviços de suporte para as empresas do Grupo AdP

    Adjudicante: EPAL – Empresa Portuguesa das Águas Livres

    Adjudicatário: Inetum España

    Preço contratual: 2.728.551,93 euros

    Tipo de procedimento: Concurso público


    TOP 5 dos contratos públicos por ajuste directo divulgados no dia 27 de Dezembro

    1Aquisição de serviços de limpeza para a 2ª quinzena de dezembro de 2023 e os primeiros seis meses de 2024

    Adjudicante: Guarda Nacional Republicana

    Adjudicatário: Fine Facility Services

    Preço contratual: 3.695.493,21 euros


    2Empreitada de construção de Estrutura Residencial para Pessoas Idosas

    Adjudicante: Centro Social da Freguesia de Famalicão

    Adjudicatário: Escalas e Espaços – Construções   

    Preço contratual: 3.225.389,88 euros


    3Aquisição de serviços de tecnologias de informação incluindo rede de dados

    Adjudicante: Infraestruturas de Portugal

    Adjudicatário: IP Telecom – Serviços de Telecomunicações

    Preço contratual: 1.888.092,60 euros


    4Aquisição de medicamentos

    Adjudicante: Centro Hospitalar Universitário de Santo António

    Adjudicatário: Sandoz

    Preço contratual: 511.210,00 euros


    5Aquisição de medicamentos

    Adjudicante: Unidade Local de Saúde do Alto Minho

    Adjudicatário: Janssen Cilag

    Preço contratual: 440.395,20 euros


    MAP

  • ‘Oops! I did it again’: Autoridade Tributária e Aduaneira continua em estranhas ‘limpezas’ com franceses da Samsic

    ‘Oops! I did it again’: Autoridade Tributária e Aduaneira continua em estranhas ‘limpezas’ com franceses da Samsic


    Business as usual. A Autoridade Tributária e Aduaneira did it again, e com a maior das naturalidades. Melhor explicando: Nuno Roda Inácio, subdirector-geral responsável pela área de recursos financeiros e patrimoniais da entidade que escrupulosamente vela pelos deveres dos contribuintes assinou mais um contrato milionário por ajuste directo invocando “urgência imperiosa resultante de acontecimentos imprevisíveis“. Assim, desde 2017, para a Autoridade Tributária e Aduaneira limpar as suas instalações é uma “urgência imperiosa” que resulta da sujidade causada pelos seus funcionários e contribuintes, algo classificado como “acontecimentos imprevisíveis”. Com este esdrúxulo argumento tem-se justificado cerca de duas dezenas de contratos de ‘mão-beijada’ sempre à mesma empresa, a francesa Samsic.

    O mais recente contrato por ajuste directo foi celebrado na passada sexta-feira, pelo valor de 928.016,85  euros, que com IVA se transforma em 1.141.460,73 euros, e abrange serviços que começaram já em Outubro e se finalizam no próximo domingo. Ou seja, como em casos anteriores, a Autoridade Tributária e Aduaneira aceitou o início da prestação de serviços por uma empresa sem existir um contrato a suportá-lo, corrigindo a ilegalidade poucos dias antes do termo dessa aquisição.

    Helena Borges, directora-geral da Autoridade Tributária e Aduaneira.

    Esta situação recorrente da Autoridade Tributária e Aduaneira, ao arrepio do espírito subjacente ao Código dos Contratos Públicos – que considera a livre concorrência e a transparência como pilares da contratação pela Administração Pública – tinha sido detectada já pelo PÁGINA UM no passado mês de Outubro. Nessa altura, num levantamento ao Portal Base, o PÁGINA UM contabilizara, nos últimos sete anos, um total de 17 contratos por ajuste directo que envolveram um montante de 20.965.651 euros. Com IVA, que é dedutível pela empresa francesa, a conta chegava próximo dos 26 milhões de euros. Com este novo contrato sobe para 27 milhões. Parece quase o mesmo: é “só” mais um milhão de euros.

    Tal como sucede com o mais recente contrato, e apesar de a limpeza de instalações ser um serviço perfeitamente programável – e onde os concursos públicos fazem todo o sentido, por uma questão do melhor preço e qualidade –, na generalidade dos casos, os contratos entre a Autoridade Tributária e a Samsic foram também assinados já no decurso do período de vigência. A entidade pública normalmente faz ajustes directos trimestrais, mas em outros casos abrangem outras durações sem se perceber os motivos.

    Com este contrato, contabilizam-se seis ajustes directos em que a assinatura do contrato pela Autoridade Tributária – na generalidade a cargo de Nuno Roda Inácio, o subdirector-geral responsável pela área de recursos financeiros e patrimoniais – tem sido feita nas duas últimas semanas de vigência. Este dirigente ocupa o cargo, que inclui, por subdelegação, o estabelecimento de contratos, desde 2015, tendo sido nomeado pela então ministra social-democrata Maria Luís Albuquerque. Antes, e desde 2009, Roda Inácio já ocupava funções de relevo na “máquina fiscal’.

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    Todos estes contratos da Samsic foram assinados por Roda Inácio, embora em alguns o seu nome seja indevidamente rasurado alegando-se o Regulamento Geral da Protecção de Dados. Estão neste lote os dois últimos contratos: o ajuste directo abrangendo o período Abril a Setembro, e o ajuste directo do último trimestre deste ano. Nos elementos disponibilizados nunca são identificadas as instalações a limpar.

    O PÁGINA UM não detectou qualquer anúncio de concurso público no Portal Base para aquisição de serviços de limpeza por parte da Autoridade Tributária e Aduaneira, pelo que se deduz, pelo histórico, que se o deixarem o subdirector-geral Roda Inácio fará ‘rodar’ mais um ajuste directo milionário para a Samsic.

    A forma como os diversos contratos de limpeza têm sido celebrados entre a Autoridade Tributária e a Samsic deixam sérias dúvidas de legalidade, havendo mesmo dois casos onde se evidenciam fortes indícios de terem sido forjados. Em grande parte dos casos, para justificar a assinatura de contratos enquanto já decorriam os serviços a prestar, invoca-se a retroactividade.

    Nélson Roda Inácio, à esquerda (cumprimentando em 2016 o então presidente da autarquia de Pombal) foi nomeado subdirector-geral da Autoridade Tributária e Aduaneira em 2015, tendo assinado todos os ajustes directos com a Samsic.

    Mas essa modalidade, que só pode ocorrer em situações excepcionais e devidamente justificadas – e não por norma, como sucede nestes contratos de limpeza –, só pode ser aplicada se não impedir, restringir ou falsear a concorrência prevista no Código dos Contratos Públicos. Ora, sistemáticos ajustes directos com eficácia retroactiva de contratos constituem restrições de concorrência, até porque não se vislumbra qualquer motivo razoável para que, desde 2017, não se consiga pôr em pé um concurso público e que opte por sistemáticos ajustes directos assinados ‘tarde a más horas’.

    Mas há dois casos particulares no lote de 18 ajustes directos que se revestem de ainda maior gravidade. Conforme em Outubro passado o PÁGINA UM revelara, no primeiro trimestre de 2018 – depois de três contratos em 2017, o último dos quais terminara em 31 de Dezembro –, a Autoridade Tributária e a Samsic decidiram assinar um novo contrato por ajuste directo por um prazo de 287 dias.

    Ministério das Finanças teve tempo em Outubro para apresentar o gato Faísca à imprensa, mas não teve tempo ainda, nos últimos três meses, para explicar os estranhos ajustes directos da Autoridade Tributária e Aduaneira para aquisição de serviços de limpeza

    A vigência desse contrato de 2018 iniciava-se no dia 19 de Março e terminava a 31 de Dezembro, mas existem evidências de os preços terem sido inflacionados para compensar a inexistência de suporte contratual entre 1 de Janeiro e 18 de Março. Com efeito, enquanto o preço médio diário das limpezas em 2017 foi de 6.626 euros, o contrato de 2018 (com 287 dias de duração) ficou por 8.837 euros por dia. Ou seja, um aumento de 33%. Se o contrato de 2018 tivesse sido estabelecido para os 365 dias do ano, o custo diário era de 6.949 euros, aproximando-se assim daquele que fora o do ano anterior.

    No ano seguinte, em 2019, repetiu-se o expediente para compensar mais ‘acertos’ em limpezas sem contrato, mas com sinais de fraude ainda muitíssimo mais evidentes. Nos primeiros dois meses e meio não se encontra qualquer contrato de limpeza que tenha estado em vigor, mas em 19 de Março desse ano, a Autoridade Tributária decidiu fazer mais um muito suspeitoso ajuste directo beneficiando a Samsic.

    Com uma duração de apenas 13 dias, porque só foi assinado no dia 19 e expirava a 31 de Março, envolveu um pagamento de 648.402 euros, significando assim que, formalmente, em cada um dos poucos dias deste contrato de limpeza a Autoridade Tributária pagou 49.877 euros à Samsic. No mês seguinte, em Abril, entraria em vigor um novo contrato por ajuste directo, que durou 275 dias, até ao final do ano. Como teve um preço contratual de 1.984.242,74 euros, significa que por dia custou 7.215 euros, bem demonstrativo de que o contrato de Março de 2019 foi forjado para ter um preço médio mais de sete vezes superior.

    Ajuste directo de Março de 2019 só vigorou por 13 dias a um preço diário exorbitante e terá sido o segundo contrato suspeito de ter sido ‘forjado’. Generalidade dos contratos foram assinados quando o prazo de vigência estava a decorrer; em alguns casos quase a terminar.

    Para confirmar as fortíssimas suspeitas de contrato forjado em Março de 2019 acrescente-se que os contratos de limpeza a partir de 2020 apresentam um preço médio diário a rondar os 10.000 euros por dia.

    Saliente-se também que, desde 2017, os seis maiores contratos por ajuste directo assinados pela Autoridade Tributária e Aduaneira, qualquer um deles acima de um milhão de euros, foram sempre no sector da limpeza e todos a beneficiar a Samsic.

    Em Outubro, o PÁGINA UM insistiu várias vezes junto do Ministério das Finanças para comentar estes ajustes directos pela Autoridade Tributária e Aduaneira, mas, mantendo-se válidas as perguntas não respondidas, decidiu-se não renovar as questões.

    O mais recente contrato entre a Samsic e Autoridade Tributária e Aduaneira integra o Boletim P1 da Contratação Pública e Ajustes Directos que agrega os contratos divulgados entre os dias 22 e 25 de Dezembro. Desde Setembro, o PÁGINA UM apresenta uma análise diária aos contratos publicados no dia anterior (independentemente da data da assinatura) no Portal Base. De segunda a sexta-feira, o PÁGINA UM faz uma leitura do Portal Base para revelar os principais contratos públicos, destacando sobretudo aqueles que foram assumidos por ajuste directo.

    PAV


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    Nos últimos quatro dias, de sexta-feira passada até ontem, no Portal Base foram divulgados 1.096 contratos públicos, com preços entre os 1,30 euros – para aquisição de sal, pela Unidade Local de Saúde do Alto Minho, através de consulta prévia – e os 10.068.125,17 euros – para fornecimento de combustíveis rodoviários, pela Guarda Nacional Republicana, ao abrigo de acordo-quadro.

    Com preço contratual acima de 500.000 euros, foram publicados 26 contratos, dos quais 13 por concurso público, nove ao abrigo de acordo-quadro e quatro por ajuste directo.

    Por ajuste directo, com preço contratual superior a 100.000 euros, foram publicados 18 contratos, pelas seguintes entidades adjudicantes: dois da Secretaria-Geral da Presidência do Conselho de Ministros (um com a Siemens, S.A., no valor de 999.346,83 euros, e outro com a Intergaup, no valor de 760.885,00 euros); Autoridade Tributária e Aduaneira (com a Samsic – Facility Services, no valor de 928.016,85 euros); Município de Lisboa (com a Vítor Lança – Construções, no valor de 674.170,87 euros); dois do Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Norte (um com a Derichebourg Facility Services, no valor de 458.324,51 euros, e outro com CSL Behring, no valor de 196.900,00 euros); Município de Oeiras (com a Associação Informática da Região Centro, no valor de 423.345,00 euros); C. E. C. D. Mira Sintra – Centro de Educação para o Cidadão Deficiente (com a Mercedes-Benz Retail, no valor de 274.320,00 euros); dois do Centro Hospitalar Universitário de Santo António (um com a ITAU – Instituto Técnico de Alimentação Humana, no valor de 255.965,29 euros, e outro com a Sanofi, no valor de 251.878,50 euros); Município de Vila Franca de Xira (com a Medidata.Net – Sistemas de Informação para Autarquias, no valor de 235.356,14 euros); Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (com a Novo Nordisk, no valor de 216.702,60 euros); Município de Viana do Alentejo (com a Inovbuild, Construção, no valor de 185.399,84 euros); Universidade de Coimbra (com a The Mathworks, SL, no valor de 158.113,64 euros); Universidade do Porto (com a Headhunter Systems Limited, no valor de  124.128,04 euros); Polícia Judiciária (com a Life Technologies Europe B.V., no valor de 117.906,40 euros); Município de Gondomar (com a Construções Pardais – Irmãos Monteiros, no valor de 106.368,00 euros); e o Instituto Politécnico do Porto (com a Paralab – Equipamentos Industriais e de Laboratório, no valor de 100.650,00 euros).


    TOP 5 dos contratos públicos divulgados no período de 22 a 25 de Dezembro

    1Fornecimento de combustíveis rodoviários em Portugal Continental  

    Adjudicante: Guarda Nacional Republicana

    Adjudicatário: Petróleos de Portugal – Petrogal

    Preço contratual: 10.068.125,17 euros

    Tipo de procedimento: Ao abrigo de acordo-quadro (artº 259º)


    2Fornecimento de electricidade em regime de mercado livre para Portugal Continental

    Adjudicante: Guarda Nacional Republicana

    Adjudicatário: Endesa Energia

    Preço contratual: 5.539.305,74 euros

    Tipo de procedimento: Ao abrigo de acordo-quadro (artº 259º)


    3Empreitada para construção da Escola de Pós-Graduação no Campus Politécnico de Portalegre, no âmbito do PRR

    Adjudicante: Instituto Politécnico de Portalegre

    Adjudicatário: Nova Gente – Empreitadas

    Preço contratual: 3.534.931,64 euros

    Tipo de procedimento: Concurso público


    4Aquisição de energia eléctrica 100% proveniente de fontes de energia renovável

    Adjudicante: CMPEAE – Empresa de Águas e Energia do Município do Porto

    Adjudicatário: Endesa Energia

    Preço contratual: 2.556.826,02 euros

    Tipo de procedimento: Concurso público


    5Empreitada para recuperação do edifício da antiga Escola EB1/JI da Portela

    Adjudicante: Associação de Apoio à Juventude Deficiente

    Adjudicatário: Cálculos & Títulos – Construções

    Preço contratual: 2.410.000,00 euros

    Tipo de procedimento: Concurso público


    TOP 5 dos contratos públicos por ajuste directo divulgados no período de 22 a 25 de Dezembro

    1 Empreitada de concepção de construção de alteração de instalações especiais      

    Adjudicante: Secretaria-Geral da Presidência do Conselho de Ministros

    Adjudicatário: Siemens S.A. 

    Preço contratual: 999.346,83 euros


    2Aquisição de serviços de limpeza para o 4º trimestre do ano de 2023

    Adjudicante: Autoridade Tributária e Aduaneira

    Adjudicatário: Samsic Portugal – Facility Services

    Preço contratual: 928.016,85 euros


    3Aquisição de serviços de elaboração do projecto de arquitectura e coordenação de especialidades

    Adjudicante: Secretaria-Geral da Presidência do Conselho de Ministros

    Adjudicatário: Intergaup – Gabinete de Arquitectura, Urbanização e Planeamento          

    Preço contratual: 760.885,00 euros


    4Intervenção urgente para a criação de medidas de segurança nos edifícios norte e poente do Complexo da Boa Vista, na freguesia da Misericórdia

    Adjudicante: Município de Lisboa

    Adjudicatário: Vitor Lança – Construções

    Preço contratual: 674.170,87 euros


    5Prestação de serviços de higiene e limpeza para o mês de Dezembro de 2023

    Adjudicante: Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Norte

    Adjudicatário: Derichebourg Facility Services

    Preço contratual: 458.324,51 euros


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  • À conta do BES, Banco de Portugal mete sucessivas ‘prendas no sapatinho’ da Vieira de Almeida

    À conta do BES, Banco de Portugal mete sucessivas ‘prendas no sapatinho’ da Vieira de Almeida


    Na semana passada saiu mais uma ‘prenda’ para a sociedade de advogados Vieira de Almeida: um ajuste directo, entregue de mão-beijada pelo Banco de Portugal, para ainda tratar da resolução do BES. Sobretudo a partir de 2018, a conta desta sociedade de advogados tem aumentado, com mais seis contratos a ultrapassarem os 22 milhões de euros, sempre sem concorrência, porque o regulador liderado por Mário Centeno alega que não há mais ninguém capaz de fazer o mesmo (ou melhor). Mas os contratos e as peças procedimentais nem sequer explicitam em concreto o objecto dos sucessivos ajustes directos. O Banco de Portugal disse ao PÁGINA UM que a manutenção da Vieira de Almeida se justifica por “interesse público”e que a aplicação das regras deontológicas e eventuais conflitos de interesses, “atento o tipo de litigância em causa, reduz em termos muitíssimo substanciais o universo de possíveis adjudicatários.” Mas não apresenta provas de que esses critérios levem à completa ausência de concorrência, o que pode implicar a ilegitimidade na invocação da norma para afastar concorrentes.


    Não há 12 sem 13. A sociedade de advogados Vieira de Almeida garantiu na semana passada o 13º ajuste directo do Banco de Portugal desde 2011, desta vez no valor de 4,6 milhões de euros, IVA incluído, mas as receitas tem estado a aumentar de forma espantosa desde há cinco anos.

    De acordo com o Portal Base, os contratos de mão-beijada entre a instituição liderada por Mário Centeno e esta conhecida sociedade de advogados tem ganhado contornos de grande intimidade desde 2018, não tanto pelo número de contratos mas pelos elevados montantes envolvidos sem que haja qualquer concorrência. Com efeito, se o número de contratos entre 2011 e 2017 até são superiores ao do período a partir de 2018 (sete vs. seis), as verbas envolvidas passaram a atingir verbas astronómicas para simples aquisição de serviços que, em abono da verdade, constitui trabalho intelectual sob a forma de trabalho jurídico.

    Mário Centeno, governador do Banco de Portugal.

    Somando os sete contratos entre 2011 e 2017 (sete anos), a Vieira de Almeida facturou ao Banco de Portugal um total de 7,38 milhões de euros (IVA incluído), enquanto os contratos a partir de 2018 (seis anos) já ascendem aos 22,33 milhões de euros (IVA incluído). De entre os contratos a partir de 2018 destacam-se cinco contratos de valor (sem IVA) igual ou superior a 2,5 milhões de euros: o primeiro assinado em Junho de 2018 (4,85 milhões de euros), o segundo em Fevereiro de 2020 (quase 4,37 milhões de euros), o terceiro em Novembro do mesmo ano (2,5 milhões de euros), o quarto e o quinto em Outubro e Dezembro de 2023, respectivamente de 1,8 milhões e 3,75 milhões de euros.

    A divisão dos contratos de mão-beijada entregues pelo Banco de Portugal antes e depois de 2017 não se deve apenas à diferença de montantes. Também o alegado fundamento para o ajuste directo se alterou. Antes de 2017, o Banco de Portugal justificou a não abertura de concurso público e a adjudicação directa à Vieira de Almeida invocando uma excepção no Código dos Contratos Públicos em que, com jeitinho, cabe tudo.

    Com efeito, no artigo invocado refere-se que se pode escolher o ajuste directo se “a natureza das respectivas prestações, nomeadamente as inerentes a serviços de natureza intelectual ou a serviços financeiros indicados na categoria 6 do anexo II-A da Directiva n.º 2004/18/CE, do Parlamento Europeu e do Conselho, de 31 de Março, não permita a elaboração de especificações contratuais suficientemente precisas para que sejam qualitativamente definidos atributos das propostas necessários à fixação de um critério de adjudicação nos termos do disposto na alínea a) do n.º 1 do artigo 74.º, e desde que a definição quantitativa, no âmbito de um procedimento de concurso, de outros atributos das propostas seja desadequada a essa fixação tendo em conta os objectivos da aquisição pretendida”.

    Sociedade Vieira de Almeida tem ‘coleccionado’ ajustes directos com o Banco de Portugal sem o incómodo da concorrência.

    Portanto, quando não se quer lançar um concurso público em aquisição de serviços, esta norma mais do que vaga serve a contento. Mas com o aumento dos montantes, com contratos acima de 2,5 milhões ou até acima de 4 milhões de euros, o Banco de Portugal terá achado ser abusivo manter a mesma desculpa. E arranjou outra, que tem o condão de ser ainda pior, porque, enquanto entrega de mão-beijada milhões à Vieira de Almeida, passa um autêntico atestado de incompetência à generalidade das outras sociedades de advogados, e a todos os advogados em geral.

    De facto, em todos os seis últimos contratos entre estas duas entidades invoca-se a norma que possibilita uma excepção ao concurso público (ou a outros procedimentos em que há concorrência) se “o objeto do contrato só possam ser confiadas a determinada entidade” no caso concreto em que “não exista concorrência por motivos técnicos”. Ou seja, o ajuste directo justificar-se-á por mais nenhuma sociedade de advogados nem outro qualquer advogado em Portugal (ou no estrangeiro) se mostram capazes de fazer o trabalho da Vieira de Almeida para o Banco Portugal.

    Não se consegue saber como o Banco de Portugal conseguiu saber isso, porque jamais houve sequer um concurso público anterior ou sequer uma consulta prévia, nem tão-pouco se conhecem declarações públicas de outras sociedades de advogados a proclamarem ser incapazes de fazer aquilo que a Vieira de Almeida faz sobre os assuntos jurídicos a prestar.

    Ricardo Salgado e o antigo BES continuam a custar dinheiro aos contribuintes portugueses. Resolução do banco tem sido um maná para a Vieira de Almeida.

    Até porque, na verdade, através dos contratos, e algumas peças procedimentais, constantes no Portal Base nem sequer se descortina quais são os serviços jurídicos em concreto que a Vieira de Almeida prestou ou vai prestar ao Banco de Portugal. Por exemplo, no mais recente ajuste directo, o contrato assinado no passado dia 18, diz apenas que, no objecto do contrato, com um prazo de três anos, que “o segundo outorgante [Vieira de Almeida] obriga-se perante o primeiro outorgante [Banco de Portugal],a prestar serviços de assessoria jurídica e de patrocínio judiciário, nos termos e condições definidos nos cadernos de encargos e na proposta adjudicada, que constituem, respectivamente, os anexos I e II do presente contrato, e que dele fazem parte integrante”.

    Mas nas peças do procedimento no Portal Base não consta nada da proposta adjudicada, enquanto o caderno de encargos é completamente omisso em detalhes sobre os serviços a desempenhar nem sequer estipula preços por hora. Mais opaco seria difícil.

    O contrato assinado em Outubro passado também sofre de similar falta de transparência, mas com a agravante de ter uma cláusula de retroactividade. Ou seja, a Vieira de Almeida começou a trabalhar primeiro antes de facturar. Tudo facilitismos com dinheiros públicos. Aliás, este contrato de Outubro de 2023 – que terá terminado em Novembro – previa a possibilidade de renovações até dois anos. Mas o Banco de Portugal terá optado por fazer outro contrato por mais três anos.

    Banco de Portugal invoca falta de concorrência e invoca “interesse público” para ajustes directos com a Vieira de Almeida. Nunca explicou como surgiu a ideia de escolher esta sociedade de advogados no primeiro contrato nem prova que efectivamente há ausência de concorrência, porque todos os contratos foram celebrados por ajuste directo.

    Contactado pelo PÁGINA UM, o Banco de Portugal diz que “os elementos publicitados no Portal Base correspondem ao que é legalmente exigido e, bem assim, ao que decorre das regras e dos termos de funcionamento desse Portal”. Convém referir que tal não corresponde à verdade, patente no próprio articulado do contrato onde se salienta que, por exemplo, a proposta de adjudicação faz parte integrante do contrato. Ao optar deliberadamente por omitir a proposta de adjudicação – único elemento que detalhará os serviços a prestar –, o Banco de Portugal estará a colocar um contrato “mutilado” no Portal Base.

    Apesar disso, o departamento da instituição liderada por Mário Centeno diz que “observa escrupulosamente, no âmbito dos procedimentos aquisitivos impostos pela prossecução das suas atribuições, o disposto nas normas legais aplicáveis e, em particular, no Código dos Contratos Públicos”, incluindo-se a “contratação de serviços jurídicos, em várias vertentes (especialmente, no que concerne ao apoio à representação do Banco de Portugal em juízo, em Portugal e noutras jurisdições).

    A mesma fonte do Banco de Portugal acrescenta ainda que na escolha do tipo de procedimento, se “tem em consideração o disposto no CCP [Código dos Contratos Públicos] e a jurisprudência nacional e europeia nomeadamente no que respeita aos princípios e requisitos de legalidade aplicáveis”, defendendo que “o ajuste direto é um tipo de procedimento aquisitivo que encontra previsão normativa no nosso ordenamento jurídico, quer por via do critério do valor, permitindo celebrar contratos até ao limite previsto (…), quer por via de critérios materiais, como sucede no caso vertente, permitindo celebrar contratos de qualquer valor quando se verificam circunstâncias materialmente relevantes que justificam o afastamento da concorrência”.

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    Só a partir do ponto 3 dos seus esclarecimentos enviados ao PÁGINA UM, o Banco de Portugal acaba por revelar que tipo de serviços a Vieira de Almeida tem estado a desenvolver para obter tantos ajustes directos nos últimos anos, apesar de nada constar nos elementos disponibilizados no Portal Base,

    “Trata-se, fundamentalmente, de assegurar a continuação da prestação de serviços de representação do Banco de Portugal em juízo”, diz o departamento de comunicação do regulador bancário e financeiro, salientando que “estão em causa processos judiciais associados à resolução de uma instituição bancária [que mais adiante identifica como sendo o BES], com a inerente excecionalidade e imprevisibilidade, e que, como é sabido, se prolongam por um extenso período de tempo”, e que “a prossecução do interesse público postula, nestes casos, a manutenção dos serviços de representação em juízo por quem tem o domínio dos concretos processos e tem assegurado a sua condução até ao momento”.

    Saliente-se, contudo, que nada existe em concreto na lei, e muito menos no Código dos Contratos Públicos, que postule esta alegação do Banco de Portugal, excepto se estiver em causa a continuação de serviços ou empreitadas que tenham sido alvo de anterior concurso público. Ora, o Banco de Portugal nunca fez um concurso público para a escolha de sociedade de advogados que o assessoraria na resolução do BES. Além disso, o Banco de Portugal – repita-se – alega sistematicamente a ausência de concorrentes por motivos técnicos, e não por um não provado “interesse público”.

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    Com ‘jeitinho’, o princípio da concorrência prevista no Código dos Contratos Públicos pode sempre transformar-se em sistemáticos ajustes directos, escolhendo adjudicatários a dedo, e abrindo a porta a eventuais actos de má gestão de dinheiros públicos e até à corrupção. Basta que o Tribunal de Contas tape os olhos a invocações sem fundamento ou a alegações infundadas.

    Mas sobre a questão de ausência de concorrência para justificar a contínua contratação da Vieira de Almeida, o Banco de Portugal dá também uma justificação sui generis, sabendo-se que existem centenas e centenas de sociedades de advogados em Portugal. “Ao mesmo tempo, a prossecução do interesse público e as próprias regras deontológicas de exercício de advocacia exigem que se assegure a inexistência de conflitos de interesses, o que, atento o tipo de litigância em causa, reduz em termos muitíssimo substanciais o universo de possíveis adjudicatários”.

    De facto, a ser isto verdade, a redução “em termos muitíssimo substanciais [d]o universo de possíveis adjudicatários” a apenas um [a sociedade Vieira de Almeida] só poderia ser confirmada, salvo melhor opinião, através de concurso público, algo que o Banco de Portugal nunca quis fazer.

    O Banco de Portugal diz também que, mesmo se a fundamentação feita através de critérios materiais aparenta ser falaciosa (e eventualmente ilegal), não se aplica os limites impostos para sucessivos contratos à mesma entidade.


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