Etiqueta: Repórter LX

  • Passadeiras assim tão jeitosas

    Passadeiras assim tão jeitosas


    Um lugar de estacionamento em Lisboa é um luxo. Mas é mesmo preciso colocar lugares a curta distância das passadeiras violando o Código da Estrada? Pelos vistos, sim. O Repórter LX mostra alguns exemplos e estimula os seus leitores a identificar mais…

    Diz a alínea d) do artigo 49º do Código da Estrada ser proibido estacionar a “menos de cinco metros antes e nas passagens assinaladas para a travessia de peões ou de velocípedes”. Compreende-se perfeitamente, pois isso impede que um condutor consiga ver se há ou não um peão na ponta da passadeira. É um perigo quando isso acontece.

    Mas o que dizer quando isso acontece em lugares que estão assinalados para o efeito? Não acredita que existam casos desses na cidade de Lisboa? Bem, venha então daí fazer um passeio pela cidade na companhia do Repórter LX e confira.

    Na Rua do Possolo, por exemplo, perto da Basílica da Estrela, e não muito longe da residência privada de um antigo primeiro-ministro e ex-Presidente da República, temos ali um espaço de estacionamento legal, devidamente assinalado e limitado no chão, mesmo em cima de uma passadeira. Não é preciso uma fita métrica para ver logo que não há os tais cinco metros de distância legal para o efeito. Aquilo nem um palmo tem de distância entre os limites do estacionamento e a ponta das linhas da “zebra”.

    Outro caso que topámos está na passadeira em frente ao Elevador da Bica, no Largo do Calhariz, ao cimo da Calçada do Combro. Mais uma vez, temos um espaço de estacionamento, limitado por marcas no solo, mas que não respeita a distância legal, constituindo um perigo para os turistas que querem atravessar a passadeira para aceder ao mui turístico elevador de Lisboa, numa das ruas mais bonitas e visitadas da cidade.

    A situação é ainda mais ridícula quando se vê que ainda está pintado no solo uma enorme barra branca que marca precisamente a distância entre o limite de estacionamento e a passadeira, mas que de nada serve, uma vez que o espaço de estacionamento a ultrapassa. Este lugar, frente a uma dependência da Caixa Geral de Depósitos, é ocupado sem que os condutores sejam depois incomodados por qualquer autoridade de fiscalização do estacionamento da cidade.

    Fomos encontrar um terceiro exemplo na Rua da Palma, a caminho da Praça do Martim Moniz para Praça da Figueira, na parte lateral do Hotel Mundial. Um dos lugares de estacionamento viola o limite de cinco metros, impedindo a visibilidade para o atravessamento em segurança dos peões.

    E, uma vez mais, tal como no Largo do Calhariz, lá está uma barra branca pintada no chão a marcar esse limite, mas, uma vez mais, com o lugar de estacionamento a ultrapassar o limite.

    E isto numa outra zona de grande movimento turístico à mistura, sendo que os estrangeiros são pessoas pouco habituadas a lidar com estas idiossincrasias bem locais e os que mais se espantam com as soluções criativas e originais e ilegais para certos lugares de estacionamento em Lisboa ditos… legais!

    Para terminar, deixamos ainda um registo de ontem na caótica Rua Garrett, que nem é carne nem é peixe, isto é, nem é rodoviária nem pedonal, antes pelo contrário. Continua com tráfego rodoviário, estacionamento lateral, fluxo de peões, trotinetes e o que mais houver, na calçada e no empedrado,

    Neste caso, ou neste caos, há ainda obras em curso, e porque em Portugal os maus exemplos vêm muitas vezes de quem deveria ser exemplar, encontrou o Repórter LX um belo carro da Polícia Municipal de Lisboa descansadamente estacionado em cima de uma passadeira em zona de estacionamento não permitido.

    Não se vislumbrou os agentes, mas certamente estariam a ordenar o trânsito. Ou a passar multas. Talvez por mau estacionamento.

    FDC / PAV


    Todos os textos da rubrica Repórter LX (marca registada do PÁGINA UM), mesmo se num estilo de crónica, são da autoria de jornalistas acreditados, identificados pelas iniciais. Para contribuir com sugestões de situações que lhe causem perplexidade na capital portuguesa, por favor escreva-nos para reporterLX@paginaum.pt.

  • Martim Moniz entalado na parede

    Martim Moniz entalado na parede


    Uma parede foi erguida nas arcadas públicas do Hotel Mundial, no Martim Moniz. Não se trata de conquistar Lisboa de novo aos mouros, mas apenas para impedir que os sem-abrigo morram à frente de um supermercado

    A lenda de Martim Moniz diz que o guerreiro morreu entalado na porta do Castelo quando estava a ajudar o rei D. Afonso Henriques a conquistar Lisboa aos mouros. Não vamos discutir aqui se esta história é verdadeira – o Castelo não foi conquistado, mas rendeu-se após um cerco de vários meses. O que devemos discutir é a parede que se ergueu nas arcadas públicas do Hotel Mundial, na Praça Martim Moniz.

    Martim Moniz AP, ou antes da parede…

    Foi em Janeiro passado que se montou a dita parede, no local onde está um supermercado Continente. Esta é uma estrutura tosca, sem qualquer gosto estético que combine com a arquitectura original, frágil e de madeira contraplacada. A intenção era óbvia: impedir que as arcadas servissem de habitação para sem-abrigo.

    Um mês antes, um sem-abrigo, que sofria de problemas respiratórios, faleceu naquele mesmo local. Como o negócio do hotel é vender alojamento a troco de dinheiro e o negócio do supermercado é vender comida a troco de dinheiro, sendo que um sem-abrigo precisa de ambos os serviços, mas não tem o dinheiro necessário, então a melhor solução foi a de fechar aquela zona do edifício.

    E, com isso, acabou também uma zona de passagem pública – antes de lá estar instalado o supermercado, funcionava uma sapataria, com montra para passagem pública das arcadas, mantendo assim a área limpa.

    Como não se pode fazer um decreto a acabar com os sem-abrigo, que “crescem” cada vez mais na cidade, a melhor solução dos responsáveis daquele espaço foi a de mandar colocar ali uma parede. Espera-se que a solução, altamente discutível do ponto de vista arquitectónico e de efeito visual numa área frequentada diariamente pelos turistas – o terminal do famoso eléctrico 28 está ali perto, do outro lado da rua –, tenha respeitado todos os preceitos legais, pois claro.

    Martim Moniz DP, ou depois da parede…

    Ou alguém iria imaginar que, numa cidade onde uma pessoa não pode mandar fazer uma marquise num telhado sem que isso provoque reacções públicas, uma parede possa ser erguida em pleno centro da cidade sem ter todas e mais algumas autorizações de arquitectos, técnicos municipais e políticos?

    Se a solução para impedir a morte de mais sem-abrigo passa por fazer paredes em locais onde eles dormem, então prevê-se que Lisboa, em breve, venha ser uma cidade com muitas paredes. Com a grande maioria a viver fora delas, obviamente.

    FDC


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  • Preguiça e desordem na Rua da Palma

    Preguiça e desordem na Rua da Palma


    Quem conhece Lisboa dos anos 90 – e mais ainda antes dessa gloriosa época –, bem se recorda dos períodos áureos em que o automóvel era dono e senhor da cidade. O Terreiro do Paço era então um must, com D. José em cima do cavalo a contemplar o Tejo rodeado por Renault 5, Fiat Uno, Opel Corsa, Ford Escort, Peugeot 205. Citroen 2cv, Toyota Corolla, Seat Ibiza, Volkswagen Golf, e mais uns quantos.

    Passeios – não havia. A bem dizer, havia, mas não era para peões, nem para cadeirinhas de bebés nem para velhinhos de bengalas ou andarilhos nem para turistas, que nem sequer sabiam onde ficava Portugal, ou se sabiam pensavam que era o Algarve e pouco mais.

    Ciclovia do Martim Moniz até à Alameda, junto à esquadra da PSP ainda na Rua da Palma, antes do início da Avenida Almirante Reis. Fotografia tirada ontem às 16h11.

    Enfim, as coisas mudaram. Os direitos dos peões e mais tarde dos ciclistas – que são sempre um automobilista em potência, sem carro, ora porque o estacionou ora por opção de vida ou sem ser opção – relevaram-se, e aos poucos também a autarquia alfacinha foi vendo que, bem vistas as coisas, poderia juntar o útil ao agradável: ordenar passeios e tráfego, onde se inclui a implantação de ciclovias, enquanto sacava uns cobres no estacionamento regulado.

    Sabemos também que, enfim, é fácil concordar com medidas em que somos beneficiados, mas na hora do incómodo bem que gostaríamos que se aplicasse uma “excepçãozinha”: afinal, é porque é uma urgência porque se é filho de uma mãe doente; ou é porque é só um minutinho para descarregar isto ou aquilo; ou é porque “não estás a ver que estou a trabalhar, meu palhaço!”.

    E, enfim, andámos ainda anos a fio até se acabar com as sistemáticas segundas filas de carros encostados – por exemplo, ali na Avenida da República – ou com os eléctricos parados, porque se tinha de aguardar pelo fim do cafezinho, quando não do almoço, de alguém que tinha ali parado o seu bólide só porque lhe dava jeito.

    Em redor da 4ª esquadra da PSP existe um vasto espaço para estacionamento de veículos exclusivos para esta força policial. Um espaço para pelo menos quatro veículos estava vago quando o veículo em causa (ao fundo à direita) se encontrava estacionado na ciclovia. Fotografia tirada ontem às 16h16.

    Para o fim deste regabofe não contaram apenas as leis, mas também a ordem. E a ordem, neste caso, é a polícia. Ou as polícias, digamos assim, que em Lisboa são a Polícia da Segurança Pública, a Polícia Municipal e, por extensão, os fiscais da “santa” EMEL.

    O grande problema de haver tantas “policiais” para um teórico mesmo fim é que qualquer um pode sempre empurrar as (suas) falhas para o outro. Por exemplo, se sistematicamente veículos automóveis param em plena ciclovia da Rua da Palma e ao longo da Avenida Almirante Reis, sempre podemos lamentar que nem EMEL nem Polícia Municipal nem Polícia de Segurança Pública andam a fiscalizar direito nem aplicam sanções para desincentivar essa prática, que obriga os ciclistas a fazerem desnecessárias guinadas perigosas para o meio do tráfego automóvel.

    Mas já não se pode lamentar quando é a própria Polícia de Segurança Pública, e mais concretamente a 4ª Esquadra de Lisboa, sita na Rua da Palma, que pespega uma longa carrinha em plena ciclovia – e vai, quem ali a deixou, que tem nome e função, candidamente à sua vida, enquanto 10 metros à frente está vago um longo espaço, exclusivo da Polícia de Segurança Pública, que até lhe daria até estacionar de frente. Teria era, chatice! de andar para traz uns 20 metros. Atravessar a estrada desde a ciclovia onde meteu a carrinha pareceu-lhe mais cómodo, certamente…

    Perspectiva da zona da Rua da Palma com o espaço vago exclusivo dos veículos da PSP e ao fundo, em plena ciclovia, o veículo ilegalmente estacionado. O edifício rosa é a sede da 4ª esquadra da PSP. Fotografia tirada às 16h18.

    Enfim, não estamos apenas perante um acto de preguiça, nem de desleixo nem de má conduta profissional nem de mau exemplo aos cidadãos.

    Estamos sim defronte a um procedimento que envergonha, sobretudo porque se entrou na esquadra para pedir satisfações, se perguntou a um polícia a razão daquele proceder, e depois, vendo a reacção silenciosa e alheada, se recordou os motivos para o Padre António Vieira pregar aos peixes… E lá se saiu como se entrou: com o veículo policial em plena ciclovia e o espaço de estacionamento 20 metros à frente vago.

    PAV


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  • O buraco de Santa Justa

    O buraco de Santa Justa


    Fim de Março 2023, esquina da Rua dos Fanqueiros com a Rua de Santa Justa. Ao lado do estabelecimento “Armazéns Afonso”, de venda de roupa e tecidos, perto dos correios e limitado por barreiras de plástico, abre-se um considerável buraco no chão.

    Há uns cabos à vista, bastante entulho misturado com garrafas de plástico e sacos de pedras. O abandono e desleixo é notório, e tudo que parece indicar estar assim há algum tempo.

    Existe uma esplanada perto e uma farmácia em frente. Turistas passam por ali com frequência, descendo do Castelo a caminho da Baixa e, em particular, em direcção ao histórico Elevador de Santa Justa.

    Repórter LX, de passagem pelo local, olha para o estado do caminho e, para tentar perceber a situação, interpela um comerciante local:

    – Este buraco está aqui há muito tempo?

    – Vai fazer cinco meses.

    – Cinco meses?! Tem a certeza? Não está a exagerar?

    – Então? Foi aberto em Novembro e estamos em Março…

    – Em Novembro? E ainda está assim? Mas abriram isto para quê?

    – Era para tirar uns cabos que estavam obsoletos, só que precisavam de arrancar uma árvore. O presidente da Junta disse que não concordava. O presidente da Câmara dizia que sim. Entretanto, cortaram a árvore, mas as raízes ainda estão aí! Está na mesma!

    – Desculpe lá, mas isso que me está a dizer é simplesmente ridículo! A árvore foi cortada, mas não tiram as raízes que impediam a remoção dos cabos? E agora ninguém faz nada quanto ao buraco?

    – O presidente da Câmara até já veio aí a ver. E o presidente da Junta, agora, evita passar por aqui para não ter de falar comigo sobre esta vergonha.

    – E isto, a si, prejudica-lhe o negócio…

    – Claro! As pessoas afastam-se desta parte do passeio por terem medo de cair, apesar de haver ali um pedaço de madeira. E o pior é que, à noite, usam isto como casa-de-banho pública. Fica depois o cheiro…

    – E já algum jornalista escreveu sobre isto?

    – Não. Ainda não.

    – Está bem. Obrigado, amigo e boa sorte com o negócio.

    – Obrigado.

    Repórter LX tira foto ao local e retira-se com a ideia de escrever algo sobre este buraco em particular.

    Dez dias se passaram, acrescidos aos cinco meses. Pelo sim, pelo não, Repórter LX passa no mesmo local para confirmar a situação e… nem de propósito, repara que, neste ínterim, o buraco foi tapado. Chão impecável, tudo limpinho, mas o coto da árvore, cortado, permanece no mesmo sítio, como se fosse um banco alto. Intrigado, pergunta ao mesmo comerciante como conseguiram, afinal, tirar os cabos sem a necessidade de remover as raízes da árvore.

    – Então, amigo? Conseguiram tirar os cabos e arranjar-lhe o buraco sem tirar o resto da árvore?

    – Qual quê? Foram obrigados a tapar isto porque, segundo ouvi dizer, mas não tenho a certeza, caíram aí duas senhoras durante a noite. Parece que veio cá polícia e ambulância. Eu não vi… Mas a Câmara mandou logo tapar.

    – Isso significa que os tais cabos obsoletos, que queriam tirar e obrigou à abertura do buraco, continuam lá em baixo?

    – Sim! Dizem que vão regressar para abrirem novamente o buraco, mas desta vez vão fazer um maior ao longo da rua…

    – Mas tapam e destapam? E a árvore que cortaram, afinal, ainda ali está o tronco. Não tiraram as raízes…

    – O presidente da junta já voltou a passar por aqui. Ele diz que vai colocar a Câmara em tribunal por causa do corte da árvore. Ou que até já colocou, nem sei…

    – Bem, as árvores fazem falta…

    – Claro que sim. Esta não era muito antiga. Devia ter pouco mais de 30 anos, talvez ainda do tempo do Kruz Abecassis. Só que está muito próxima de uma caixa de electricidade, enterrada ali ao lado. Pode ser um risco para esta zona da Baixa ficar sem luz…

    – Tenho a certeza de que vão conseguir chegar a uma solução. Pelo menos, para já, voltou a ter o chão como devia ser.

    – Para já, sim. Deixaram de usar isto como casa-de-banho. Agora vamos ver que buraco vão voltar a abrir…

    – Boa sorte, amigo, porque pelos vistos isto ainda não acabou!

    – Obrigado.

    Repórter LX tira então, enfim, e por fim, foto ao local, agora arrumado, e afasta-se, a pensar que a cidade é um palco de surpresas. Sobretudo quando um buraco é aberto e permanece assim durante quase meio ano, para ser tapado sem estar realizada a obra que levou à sua abertura, e, enquanto não é novamente aberto, provocou já o corte de uma árvore, cujas raízes permanecem enterradas, mas abrindo, aparentemente, uma disputa legal entre órgãos autárquicos.

    Mas, afinal, não fossem estas pequenas coisas, que outro motivo haveria para duas pessoas, estranhas, entabularem conversa nesta nossa Lisboa? 

    FDC


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