Etiqueta: Planando na Terra Redonda

  • A caminho do Árctico: dia 3, entre glaciares, montanhas e vida

    A caminho do Árctico: dia 3, entre glaciares, montanhas e vida

    Prestes a realizar um dos meus sonhos, de ver ursos polares no seu habitat natural, passei o dia a caminhar no meio de paisagens deslumbrantes. O frio não esmoreceu a minha vontade de ainda ir “espreitar” o cofre global de sementes. Nem de realizar o meu sonho (mais ao final do dia).


    Glaciares e montanhas. Era o que me esperava na caminhada de seis horas programada para o início do meu terceiro dia de viagem ao Árctico.

    Acordei sem despertador. Na sala do pequeno-almoço só se falava dos ursos avistados no caminho para Pyramiden, um povoado soviético abandonado junto a uma mina de carvão, tornado atração turística. Optei por não fazer essa tour, pela falta de tempo e por ser a mais turística. Por momentos, passou-me no pensamento que talvez me pudesse arrepender de não ter ido. Mas recentrei os pensamentos. Acreditava que os guias iriam dar o seu melhor para conseguirmos avistar o rei do Árctico.

    Às 9h30, os guias apanharam-me para caminhada de Sarkofagen, entre montanhas e glaciares. Eram o Frederik e o Pete, um sueco e um geólogo norueguês que está em Svalbard a estagiar. Recolhemos entretanto outros montanhistas, incluindo Roman, um lituano que está a visitar Svalbard e que depois permanece por mais duas semanas pelo norte da ilha, passando pela Islândia e Gronelândia. Sobram os dois casais sexagenários, que me fizeram recordar que é possível envelhecer em forma e saudável.

    Depois de nos mostrarem no mapa o trajeto que iríamos fazer, seguimos para o local de início da subida da montanha, que fica mesmo por detrás da Guest House. Adormecia e acordava a olhar para ela.

    Começámos a subida por um trilho com pedras muito grandes e caminhámos uns 30 metros, até termos a primeira grande subida. Olhando para trás, víamos a cidade cada vez mais longe e uma vista deslumbrante.

    As montanhas pareciam ter rostos de guardiões. Durante mais 2h30, subimos até ao miradouro, com neve e muitos pássaros. Fizemos pausa para almoço e Frederik ofereceu um chá com xarope de morango, muito doce e muito aconchegante. Estava um frio de rachar lá em cima – zero graus – e esta bebida soube muito bem, acompanhada por umas bolachas suecas também oferecidas pelo guia.

    (Pensei que era engraçado, que quando estamos longe de casa procuramos os sabores que nos confortam. Comemos o pacote todo.)

    Começou a descida até ao glaciar e, quando chegámos, colocámos a proteção nas botas para descermos o glaciar a pé. É uma sensação boa. Vamos vendo as cavernas de gelo. Frederik reconhece algumas onde já dormiu no Inverno.

    Quando chegámos a terra firme, começámos a procurar fósseis, o que tornou a tour ainda mais interessante pois, nunca tinha visto fósseis na mão e ainda podemos levar para casa.

    Conversando com Frederik, perguntei-lhe se achava boa ideia eu ir buscar uma bicicleta ao posto de turismo – que as emprestam gratuitamente por três dias – e ir até ao cofre global de sementes. Esta maravilha, que contempla todas as sementes do mundo inteiro plantadas pelo homem, encontra-se fora da zona de segurança, mas não tenho tempo de fazer a tour que leva os viajantes até a esta Arca de Noé da actualidade. Disse-me para ir e que, durante o dia, com os carros e o barulho das obras da estrada, os ursos não se aproximam.

    No final da tour, deixaram-me no posto de turismo para ir buscar a bicicleta e comecei a minha nova aventura, a pedalar como se não houvesse amanhã (nem ursos polares por perto). São 30 minutos até ao cofre global de sementes onde apenas vemos a entrada. Mas é uma experiência que recomendo, pois é a esperança de um recomeço em caso de catástrofe global.

    Quando me aproximei do cofre, tive a sensação de ter viajado para o futuro e de ter encontrado algo deixado por uma civilização que não conheci. Algo de valor. E mesmo que não soubesse do que se trata, perceberia que, lá dentro, está guardado um presente. Mas o que vejo é apenas a entrada.

    Para chegar às sementes, é preciso atravessar um túnel de 120 metros com cinco portas à prova de explosões, atravessando o interior da montanha até chegarmos a três salas com 880.000 sementes de 5.403 espécies vegetais, vindas de todos os lugares do mundo. O cofre fica trancado 350 dias por ano e só é aberto para inspeções ou para receber sementes. Em 2015, aconteceu a primeira e, até hoje, única retirada do cofre. Devastada pela guerra, a Síria tirou 38.000 espécies de sementes do Oriente Médio. Mas os criadores do bunker dizem que foi uma vez sem exemplo, pois este cofre foi construído para não ser usado.

    Regressei à Guest House na “super” bike (sendo que seria ainda mais super se fosse elétrica), numa subida de 30 minutos. Tinha 15 minutos para iniciar o percurso pelo qual tanto ansiava desde que comecei a organizar esta viagem: a possibilidade de ver ursos polares.

    Às 18 horas chegou o capitão do barco, Matt, um sueco, a quem cumprimentei. “Então, Matt, preparado para me mostrar pelo menos um urso polar? Disseram-me que esta é a melhor tour, não espero menos que isso”. Matt, um calmeirão simpático, riu-se: “Ver os ursos é todos querem, mas é muito difícil”.

    Chegámos ao barco. Éramos 12 passageiros. A guia mostrou-nos os mapas e deu duas opções de trajeto. As possibilidades eram: Pyramiden ou aos fiordes. Instantaneamente, indiquei que o destino seria Pyramiden e tentar encontrar os ursos avistados por lá. A guia perguntou-me se eu tinha ouvido algo. É que há três dias que são avistados três ursos: mãe ursa e dois pequenos de dois anos.

    Começámos a viagem. Não havia vento. O mar estava calmo. Começámos a ver golfinhos, depois baleias pequenas e ainda baleias maiores. No barco, respirava-se alegria e estava uma energia incrível.

    Senti que estava tudo a acontecer como preparativo para a aparição do Rei do Ártico. Sabia que iria ver os ursos. Sei que é estranho, mas sempre soube.

    Pedi os binóculos. Vi um barco mais pequeno junto às rochas. Era um bom sinal. Aproximámo-nos e vi algo bege nas rochas: eram três ursos. Que emoção! Estava a vê-los como sonhei, no seu habitat natural. Olhei à volta e estavam todos em êxtase.

    Vi um dos passageiros indianos ao telefone, com os olhos a brilhar. Desligou o telefone. Perguntei se estava telefonar a alguém importante. “Sim, liguei à minha mãe”, disse ele. “Estava a dormir. Na Índia, é muito tarde mas era com ela que gostava de partilhar o momento”, explicou. Fiquei emocionada a pensar que, talvez um dia, o meu filho também me ligue de um lugar qualquer do mundo, a partilhar essa maravilha que está a ver.

    Matt abriu uma garrafa de champanhe. Aplaudimos todos o seu excelente trabalho e ficámos a degustar uma maravilhosa sopa goulash, um pão delicioso e, de sobremesa, um brownie óptimo. Tudo tão simples, mas parecia o melhor de sempre.

    (Mais um sonho tornado realidade. Obrigada, Universo, por permitires que eu viva estes momentos. É o que se levamos desta vida, o que vivemos. Tudo mais fica cá.)

    Regressámos a Longyearbyen – a capital do arquipélago de Svalbard – com uma escolta de golfinhos a surfarem as ondas do barco. Um dia em cheio. Vivenciei muito mais do que podia sonhar.

    Raquel Rodrigues é gestora, viajante e criadora da página R.R. Around the World no Facebook e no Instagram.

  • A caminho do Árctico: dia 2, em Svalbard, a cidade do fim do Mundo

    A caminho do Árctico: dia 2, em Svalbard, a cidade do fim do Mundo

    A paisagem é bela, como esperava. Parece que estamos em outro planeta. A chegada ao Árctico emocionou-me. E este segundo dia da viagem, que me levou a um dos meus destinos de sonho, terminou com um avistamento inesperado.


    Duas horas de voo separam Oslo e Tromsø – a capital das Auroras Boreais. O meu voo partia muito cedo e encontrei um aeroporto com um pouco mais de movimento do que no dia em que aterrei na capital norueguesa – Oslo – vinda de Lisboa. Uma distração minha na ida para a porta de embarque, “desviou-me” para uma loja de brinquedos e recordações. A compra de última hora de um urso polar ‘Papá’ para o meu filho quase me custou o voo. Ainda consegui embarcar – depois de ouvir a última chamada para os passageiros atrasados para o embarque.

    Nesta altura do ano nunca fica escuro em Tromsø. Ao sair do avião temos de para mostrar o passaporte. (Para entrar na Noruega o cartão de cidadão é suficiente mas para entrar em Svalbard é preciso ter o passaporte com a habitual validade de seis meses). Pedi ao agente se era possível juntar um carimbo à coleção que já tenho no passaporte. Riu-se: “vou ver o que posso fazer desde que não o venda”.

    Embarquei então para mais duas horas de voo para o meu destino final. Quando o comandante anunciou a descida para a aterragem, olhei pela janela e vi Árctico e Svalbard. Não contive uma lágrima perante a beleza da paisagem dramática do Árctico. Senti que tinha chegado a outro planeta.

    Svalbard, é a cidade do “fim do Mundo”. Depois daqui, não há mais nada a não ser glaciares e gelo. Aqui acaba a civilização (e é também onde talvez um dia possa recomeçar, mas sobre isto falarei no dia em que visitarei o Banco de Sementes Global).

    Na chegada ao aeroporto, somos “recebidos” por um “urso polar”, o símbolo do Árctico (o que considerei ser um sinal auspicioso para o meu sonho maior de ver ursos polares no seu habitat – irei precisar de muita sorte para que aconteça).

    Um autocarro leva os passageiros ao centro onde estão os alojamentos. Na minha Guest House (número 102), o dormitório é compartilhado por quatro pessoas. A minha única experiência do género foi, por engano, no Vietname, onde éramos 12. Não é o ideal, mas é a opção mais económica para quem viaja sozinho. As pessoas que optam por este tipo de estadia são muito simpáticas, civilizadas, e de todas as idades. Conheci o Peter, um sexagenário holandês, o Mike, um americano na casa dos trinta, e a Martha, de Israel, que é um pouco mais velha do que eu.

    Depois de me acomodar, era só aguardar pelo guia que me iria levar na primeira tour. Na sala de espera, havia café, chá e chocolate à discrição. Do lado de fora das janelas, o que se vê é uma paisagem bonita: montanhas e, na base, casas de madeira coloridas.

    Chegou o Nick, um holandês a viver em Svalbard há pouco mais de três anos. Seria o guia da tour de trenó puxado por cães. Comigo iriam também um casal holandês e os seus dois filhos e um casal de americanos que visitam Svalbard pela terceira vez. (Fiquei feliz por não ser a única a repetir viagens para os lugares de que gosto).

    O grupo participou na colocação dos cães no trenó, que pareciam estar contentes. Aparentemente, gostam do passeio (sabem que vão ter três paragens para comida e bebida).

    A paisagem é surrealista e as cores de outro mundo. Com o Ártico a perder de vista, senti a energia especial do Grande Norte.

    Depois de uma hora ao longo da costa, entre deserto e lagoas, fomos conhecer o complexo onde vivem os cães. É grande e cuidado. Todos os cães têm nome e estão sempre prontos para os passeios. Há um abrigo de madeira, uma pequena casa muito quentinha, onde comemos waffles acompanhado por um chocolate quente. Tudo o que precisava para me ajudar a habituar aos três graus de temperatura.

    A conversa debruçou-se sobre a vida em Svalbard, sobretudo no Inverno, a altura mais difícil, pois é noite 24 horas por dia, durante seis meses. Os guias dormem metade do tempo na cidade, metade no complexo dos cães. Há também duas famílias com crianças e o complexo tem um parque infantil. Mas não têm água para banhos. Têm uma parceria com um ginásio onde tomam banho. (Imagino os Invernos e a preguiça de saírem de casa para ir tomar banho).

    Vivem em Svalbard pessoas de 64 nacionalidades, por isso, parece de todos e de ninguém. Talvez seja um dos encantos para quem escolhe viver neste lugar remoto.

    De regresso aos alojamentos, optei por jantar uns noodles na Guest House. Liguei ao meu filho e mostrei-lhe o vídeo do passeio de trenó: “mamã, também quero andar com os cães”.

    Um hóspede correu até à sala e perguntou: “queres ver uma raposa do Árctico?”. Da janela do seu quarto avistava-se o animal, que já tinha mudado o pelo para o Inverno. Descia a montanha curioso.

    O tempo voo e era altura de repor as energias. Esperava-me um longo dia com muita aventura e alguns desafios.

    Raquel Rodrigues é gestora, viajante e criadora da página R.R. Around the World no Facebook e no Instagram.

  • A caminho do Árctico: dia 1, em Oslo

    A caminho do Árctico: dia 1, em Oslo

    Prestes a conhecer um dos meus destinos de sonho, partilho, neste ‘Diário de Bordo’, os passos de uma viagem até ao Árctico. A primeira paragem é Oslo, onde a temperatura amena, de 23 graus, convida a um passeio de bicicleta pela capital norueguesa.


    É a verdadeira realização de um sonho. De mochila às costas, parto para uma viagem para o Árctico. As expetativas são muitas. O entusiasmo também.

    Desta vez, viajo sozinha. Como sempre faço, também esta viagem foi planeada por mim, ao pormenor, num itinerário que começa em Lisboa e que tem como primeira paragem Oslo, capital da Noruega e estrela das minhas primeiras linhas escritas neste Diário de Bordo, para o PÁGINA UM. É o começo de uma viagem de seis dias, que terminará em Helsínquia, na Finlândia.

    Assim que cheguei ao aeroporto Oslo Gardermoen, senti que tinha acabado de fazer uma viagem no tempo, para uma cidade no futuro.  A capital da Noruega é uma cidade moderna, famosa pela sua arquitetura. A maior cidade do país – sendo seguida por Bergen -, Oslo é uma cidade que nos fascina.

    Tudo funciona bem: o comboio, o metro, o elétrico, os autocarros. Os noruegueses são simpáticos e prestáveis. Respiro civilização.  

    Já no comboio, não consigo deixar de notar, o que há muito já sabia. Não há uma máscara, não há restrições covid. O tema não é assunto (e nunca assumiu, nem de longe nem de perto, as gigantescas proporções que assumiu em Portugal). Em todo o dia, apenas vi uma família de máscara (e quando começaram a falar, eram portugueses) e, no final do dia, vi um grupo de chineses, também de máscara. (Fiquei a pensar o que teremos em comum com os chineses! Nem franceses, nem espanhóis, nem italianos! Portugueses e Asiáticos de máscara. Porque será?)

    Saí do comboio na Estação do Teatro Nacional, onde aluguei um espaço no interior de um restaurante, para deixar a mochila e o meu casaco de Inverno. Dali, segui para o Porto e vi o bairro de Aker Brygge e os Fiordes de Oslo. Segui numa caminhada de 20 minutos até ao ponto de partida para a minha ‘Oslo Viking Biking’, que prometia passar pelos principais pontos da cidade que já tinha visitado na minha primeira visita à Noruega. É uma forma diferente de revisitar estes lugares. 

    Habitualmente, reservo tudo mas, como não tinha certeza se o avião chegaria a tempo a Oslo, optei por não reservar e, se tivesse tempo, arriscaria o passeio de bicicleta. Arrisquei e, quando cheguei, a tour estava completa; Mas devo ter feito uma cara de desiludida porque o rapaz disse para aguardar: “às vezes falta alguém e, se assim for podes vir”.

    Passaram 10 minutos do horário e faltavam duas pessoas. Fui ao escritório pagar e, quando saiu o talão do terminal de pagamentos, chegaram as duas pessoas. Fui literalmente salva pelo “Multibanco”, porque, depois de ter pago, deixaram-me seguir com um dos grupos. Tive muita sorte! 

    Rebeca era nossa líder da tour. Não deve ter mais de 30 anos, é consultora legal e aos sábados tem este part-time. “É uma forma de fazer exercício, ganhar mais algum dinheiro e conhecer pessoas”. Lembrei-me de uma época em que trabalhava a tempo inteiro e tive também um part-time ao sábado mas, em Portugal, é muito raro. Há uma cultura em que parece que as pessoas têm vergonha de trabalhar em áreas fora das suas habilitações académicas. Há uma preocupação com as aparências e, muitas vezes, um ciclo vicioso que não nos deixa viver em pleno e sermos nós próprios. 

    A Noruega é um país muito rico: o seu Produto Interno Bruto per capita é duas vezes o do Japão e duas vezes o de França. Mas, ao mesmo tempo, no essencial, os noruegueses são pessoas simples e levam muito a sério o lema “ninguém é melhor do que ninguém”. Ao nível dos costumes, ao contrário de alguns países, aqui as pessoas não se diferenciam pela maneira como se vestem. A Noruega é também um país que lidera em termos de igualdade de género, entre homens e mulheres. 

    Começamos a tour pela fortaleza e castelo, onde ficam o Ministério da Defesa e o Museu da Defesa. Muitos casais casam e também a tradição do casamento é muito diferente da Europa do Sul. As noivas vestem-se a rigor, os convidados vestem os trajes tradicionais da Noruega (que são lindos) e, ao contrário de Portugal, os convidados são apenas os pais, padrinhos, família próxima e seis amigos de cada lado. O casamento é um momento caloroso e desmistifica a ideia que os nórdicos são frios. 

    Da fortaleza, seguimos para o Palácio Real, passeamos pelos seus jardins e, no caminho, passámos pelo Grand Hotel de Oslo, o Teatro Nacional e o centro histórico.

    Visitar a Noruega no Verão é maravilhoso. Além de encontrarmos dias solarengos e bonitos, vemos todos os jardins em flor, o que faz com que a cidade tenha ainda mais encanto. Nada de flores secas, nem de um calor abrasador, apenas o habitual Verão norueguês, com 23 graus. 

    A paragem seguinte foi o Parque Vigeland, onde encontramos o maior museu aberto de esculturas do artista norueguês Gustav Vigeland, As suas esculturas mostram os vários momentos da vida e, em particular, da paternidade (talvez em jeito autobiográfico, digo eu).

    Tive ainda tempo de provar um gelado norueguês com brownies e caramelo para retemperar energias. 
    O café do parque também é muito bonito, com uma grande esplanada, e um ponto de encontro de famílias e amigos neste lugar único no mundo. 

    O regresso ao ponto de partida levou-nos pelas zonas nobres residenciais, com os seus bistros e cafés, e por Aker Brygge.

    Segui depois a pé até à Ópera e ao Museu Munch, e confirmei que os nórdicos aproveitam qualquer local junto à água para fazer praia. Há ali também plataformas e barcos, que grupos de amigos alugam, com bebidas, e de onde dão mergulhos para o mar.

    Fui procurar o terminal de autocarros, para apanhar o 34, para me levar até Damstredet, uma zona pitoresca, onde ainda se podem ver as típicas e antigas casas norueguesas. 


    Não foi fácil encontrar a paragem. Já sentada no autocarro, fechei os olhos. O motorista árabe ouvia as orações. Naqueles instantes, senti-me a ser transportada para a Turquia ou um qualquer país muçulmano.

    Cheguei à minha paragem e segui em direção a Damstredet, que corresponde às expectativas. Casas coloridas muito bonitas, numa zona tranquila de Oslo, com espaços verdes e um cemitério que entra para o top dos cemitérios mais bonitos que visitei (não estava no programa, mas deixo sempre espaço para o inesperado), depois do cemitério americano na Normandia, que considero ser o mais bonito. 

    Voltei a pé para o centro, mas antes parei para um aperol (um aperitivo italiano) na Vulkan, a área hipster de Oslo. Trata-se de uma zona residencial em forma de vulcão, com muitos restaurantes e bares. 


    O caminho até ao Teatro Nacional demorou 30 minutos. Em cena, está “Hamlet”, de Shakespeare, em inglês, com atores noruegueses. 

    Antes, jantei no lindo Café do Teatro. Estava lotado (pensámos todos o mesmo: jantar antes do teatro). Muitos casais, uma mesa de amigas, algumas de amigos mais velhos. Como estava sozinha, jantei ao balcão. Gosto muito da cozinha norueguesa, mas, o melhor de tudo foi ter estes minutos a imaginar como seria a vida daquelas pessoas que, como eu, iam ver “Hamlet” no Teatro Nacional.

    Saindo do teatro, são apenas 2 minutos até onde deixei a mochila – um restaurante de turcos. Os empregados eram os mesmos que encontrei de manhã. Comentei que trabalham muito, ao que me respondeu o dono: “10 ou 12 horas mas se fosse na Turquia seriam 16 horas”. 

    Segui para a estação, onde apanhei o comboio de regresso ao aeroporto junto ao qual se situa o meu hotel. Amanhã, a viagem para o Ártico começa cedo e assim já estou ao lado do aeroporto. 

    Sentada no comboio, doíam-se as pernas e um pouco os ombros e as costas. Um dia, ganharei coragem para revisitar os mesmos locais no longo Inverno, pois, neste Verão que não acaba, tudo parece fácil e certo. 

    O dia termina com uma chamada para o meu filho que, em casa, espera que lhe leve um ursinho polar. Vou dar o meu melhor, que é o mais importante. O “saldo” da viagem, esse já é positivo. Agora, é só viver o momento, guardar as memórias, as imagens, paisagens e os lugares… 

    Raquel Rodrigues é gestora, viajante e criadora da página R.R. Around the World no Facebook e no Instagram.


    Dicas:

    A melhor altura para se viajar para a Noruega é entre Junho a Agosto. Em Junho, podem ver-se as noites brancas (nunca fica de noite). 

    Para quem procura assistir às auroras boreais, terá de viajar em Novembro ou Fevereiro. O ideal é comprar a viagem mais em cima da hora e verificar no site Northern Lights in Norway quando é boa altura para ir. Isto, para aventureiros last minute. A aplicação também tem os melhores lugares para ver as auroras boreais, se bem que Tromsø é a “capital” das “luzes do Norte”.

  • As (minhas) sete Maravilhas do Mundo

    As (minhas) sete Maravilhas do Mundo

    Após mais de uma década de viagens, que incluíram visitas às sete Maravilhas do Mundo, selecionei os destinos que são, para mim, autênticos “tesouros”. É com esta seleção que inicio esta rubrica sobre as minhas viagens, aqui no PÁGINA UM: com uma “espreitadela” às “minhas” sete Maravilhas do Mundo. De seguida, inicio um ciclo de artigos, mais concretamente um Diário de Bordo. O destino? Um dos meus destinos de sonho: Árctico.


    Foram os serões em família, à volta de um globo terrestre, e as conversas sobre as Maravilhas do Mundo, que me levaram a ter sempre estes lugares no pensamento.  

    Falámos em Maravilhas do Mundo e, inevitavelmente, lembrámos Marco Polo e as suas aventuras a caminho do Oriente. Mas não foram estas as maravilhas que despertaram a minha atenção de criança curiosa. Foram os Jardins suspensos da Babilónia. Olhava deslumbrada para o livrinho ilustrado destes lugares e não conseguia imaginar maior beleza.  

    Egipto

    A grande pirâmide do Egipto – mais do que ser uma obra magistral de engenharia – está envolta em todo o mistério relacionado com a sua construção e utilidade.  

    O Colosso de Rodes! Tive alguns pesadelos, imaginando a grande estátua a ganhar vida quando chegava perto dela. Foram muitas as viagens imaginárias que fiz até estes lugares em criança. Quando já adulta, a vontade de viajar me invadiu (sim, as viagens invadem não pedem licença e não conseguimos dizer que não), defini um início, um caminho para as minhas viagens: conhecer as sete maravilhas do Mundo Moderno.  

    Foi em 2009 que comecei a minha epopeia com a visita ao Corcovado, no Rio de Janeiro. É a Maravilha que nos protege, que nos esmaga com o seu símbolo de fé.  

    Em 2010, visitei o Coliseu de Roma, a Maravilha que nos dá um murro no estômago quando visualizamos as arenas, o derramar sangue e o tirar vidas por pura diversão. Em 2012, cheguei a Chichen itzá, a Maravilha que simboliza a força do império Maya, e o seu El Castillo, a perfeição de um calendário.  

    Em 2015, cheguei, pela primeira vez a Petra, a rainha das sete Maravilhas, a cidade Rosa que nos permite viajar no tempo.  

    Petra, Jordânia

    Em 2016, cheguei à Grande Muralha da China. Milhares de quilómetros fazem desta a maior muralha existente neste Mundo. É a Maravilha que simboliza o esforço e o trabalho de tantas pessoas que ergueram esta muralha sem fim. Também em 2016, perdi o fôlego com a beleza do Taj Mahal, na Índia, a Maravilha que simboliza o amor, a beleza e a riqueza. Em 2017, cheguei ao topo de Machu Pichu, um lugar místico do Império Inca, que nos invade com uma paz e tranquilidade sem igual.   

    São sete Maravilhas porque o número sete simboliza a totalidade, a perfeição, a consciência, o sagrado e a espiritualidade, os elementos presentes em todos, e em cada um, destes sete incríveis lugares espalhados pelo Mundo.  

    Findo este projeto, de visitar as sete Maravilhas do Mundo Moderno eleitas, decidi visitar a única maravilha que restava das Maravilhas do Mundo Antigo: a Grande Pirâmide do Egipto, onde cheguei em 2019.  

    Acredito que está longe do seu aspeto deslumbrante de outrora, mas é, sem dúvida, uma maravilha que tem de ser contemplada num percurso completo dos lugares a visitar neste mundo. Egito é um portal de energia sagrada.  

    Jaipur, capital do Rajastão, Índia

    Em 2020, com meio mundo percorrido decidi, compilar as minhas 7 Maravilhas do Mundo, por ordem de deslumbramento:  

    1 – Petra na Jordânia

    2 – Machu Pichu no Peru;  

    3 – Bagan no Myanmar;  

    4 – Rajastão na Índia;  

    5 – As Pirâmides do Egito;  

    6 – Angkor Wat e os templos do Camboja;  

    7 – A Ilha de Kalsoy nas Ilhas Faroé;  

    Hoje, com uns intensivos 10 anos de viajante, continuo a deslumbrar-me com quase tudo o que visito e com as maravilhas que vou conhecendo, ficando sempre grata por cada viagem que concretizo, pois, o importante é ir ver o Mundo, viajar, explorar e descobrir. Regressamos sempre mais ricos do que quando partimos.  

    Para se visitar as 7 Maravilhas do Mundo – ou qualquer outro destino – convém estar-se informado sobre quais as melhores alturas do ano para o fazer.

    Para visitar o Corcovado, a melhor altura é entre Abril e Novembro, enquanto que para se conhecer Petra, é melhor apontar para o período entre Abril e Maio.   

    No caso de Chichén Itzá, deve marcar-se a viagem para o período Dezembro e Março.

    Os meses de Setembro e Outubro são os ideais para se visitar três maravilhas: Machu Pichu, Coliseu de Roma e Taj Mahal. Para conhecer esta terceira maravilha, pode ainda optar pelos meses de Março e Abril.

    Para visitar a Grande Muralha da China, as melhores alturas do ano são entre Março e Maio e entre Setembro e Novembro.

    Raquel Rodrigues é gestora, viajante e criadora da página R.R. Around the World no Facebook e no Instagram.