Etiqueta: Planando na Terra Redonda

  • Singapura: Escala de três dias num ‘stopover’ de luxo

    Singapura: Escala de três dias num ‘stopover’ de luxo

    Raquel Rodrigues sugere uma ‘paragem’ rápida em Singapura, numa escala em trânsito para um destino (ainda) mais longínquo.


    Na hora de viajar, vale a pena contemplar os ‘stopover‘: paragens mais demoradas aproveitando escalas em vôos para destinos longínquos. Há alguns que são mais populares entre quem viaja. Mas os viajantes não devem ficar apenas pelos ‘stopovers‘ no Dubai, Abu Dhabi, Catar e Istanbul. São todos ‘escalas’ interessantes, nem que seja para se perceber quais os destinos que não se aprecia tanto. Contudo, Kuala Lumpur e Singapura são imperdíveis.

    Singapura deveria mesmo constar da lista de todos os viajantes. Já no final dos anos 90 do século passado era considerada uma “cidade” do futuro.

    Também conhecida como a pérola da Ásia, Singapura é uma cidade-Estado. O país tem 5,6 milhões de habitantes, e é hoje um dos maiores centros financeiros do mundo. Com o maior número de milionários, é o país mais caro para se viver. De acordo com o poder de compra dos seus habitantes, é o quarto país mais rico do mundo, apenas superado pelo Luxemburgo, Catar e Macau (não sendo um país, é uma região administrativa especial da China, desde 1999).

    Recorde-se que há 50 anos, Singapura era uma ilha pobre, com poucos recursos naturais e que não prometia grande futuro. Depois de deixar de estar subjugada ao domínio britânico e conseguir a independência da Malásia em 1965, Singapura tornou-se um Estado autónomo. Estava então sob a liderança de Lee Kuan Yew, que foi primeiro-ministro durante mais de 30 anos e o “arquiteto” do chamado milagre económico e social. 

    Dependendo da época que se visitar Singapura, o clima húmido e quente poderá ser o que mais dificulta a estadia, pois só apetece estar no interior dos museus e hotéis, protegidos pelo fresco ar-condicionado.

    Fiquei três dias em Singapura e partilho aqui o meu roteiro.

    Podendo, não deixe de ficar no Marina Bay Sands. Foi o meu ‘luxo’ desta viagem. Valeu a pena, pois incluiu acesso a espetáculos e outras experiências, o que acabou por compensar.

    O hotel é maravilhoso, gigante (o que não faz muito o meu género). Mas só ficando alojada no hotel poderia ter acesso à piscina mais alta do mundo, uma piscina panorâmica com vista para toda a Singapura.

    A não perder:

    Marina Bay. É o postal de Singapura e a porta de entrada para este ‘mundo mágico’. As maravilhas arquitetónicas, os edifícios extravagantes e a vista para o complexo do hotel ou os 4 quilómetros de caminho pedonal, faz desta zona a mais bonita e preferida de viajantes. Encontra-se num só local espectáculos de luzes, museus e compras.

    Gardens by the Bay é um parque natural, composto por três jardins à beira-ma: Bay South Garden (em Marina South); Bay East Garden (em Marina East); e Bay Central Garden (em Downtown Core e Kallang). O maior destes jardins é o Bay South Garden. É aqui que se localiza a Flower Dome (maior estufa de vidro do mundo), a Cloud Forest e as maravilhosas Supertree Grove & OCBC Skyway, que oferecem imagens icónicas que têm percorrido todo o mundo.

    Dica: todos os dias, pelas 20h45, o espaço oferece um espetáculo de som e luz que tem como pano de fundo as Supertrees.

    Hotel Fullerton – Fullerton Heritage. O Fullerton Hotel Singapore é um luxuoso hotel de 5 estrelas, localizado na baixa de Singapura e em frente à Marina Bay. Mas o Fullerton é muito mais que um hotel. Originalmente, foi um edifício de escritórios e a central de Correios de Singapura. É considerado o ponto zero da cidade. Hoje em dia, o nome Fullerton significa a cultura de toda uma zona, com diversos edifícios históricos, centros comerciais, hotéis, restaurantes, passeios marítimos, que, em conjunto, compõem a Fullerton Heritage. O local é de visita gratuita e vale a pena a visita.

    Jardim Botânico de Singapura. Singapura é a ‘cidade-jardim’. O Jardim Botânico é o primeiro património da Unesco no país. Além de ser um local recreativo para fazer jogging, almoçar ou descansar, é também um centro de pesquisa botânica e agrícola. O espaço é enorme e contempla o National Orchid Garden (o maior jardim de orquídeas do mundo), alguns museus como o SBG Heritage Museum, que apresenta diversas exposições, e o Jardim Infantil Jacob Ballas, onde as crianças podem brincar e realizar atividades pedagógicas tendo por base a vida das plantas. 

    Merlion Park. O mítico Merlion (cabeça de leão e corpo de peixe) é o ícone nacional de Singapura. O corpo simboliza o início humilde de Singapura, como vila de pescadores, e a cabeça o nome original de Singapura, “Cidade do Leão” em malaio. A estátua tem quase 9 metros e pesa 70 toneladas. É um dos locais turísticos mais procurados e um marco de Singapura.

    Singapore Flyer. Localizado no coração da Marina Bay, o Singapore Flyer é a maior roda gigante de observação de toda a Ásia e a segunda maior do mundo. Do topo, consegue-se ver praticamente toda a cidade e em dias de boa visibilidade, a Malásia e partes da Indonésia. Tem 165 metros, 28 cápsulas de vidro e cada volta demora cerca de 30 minutos.

    Museu ArtScience. No coração de Marina Bay Sands, encontramos o Museu de Arte e Ciência, um testemunho da fusão de arte e tecnologia. Esta obra-prima arquitetónica, projetada pelo arquitecto Moshe Safdie, apresenta um formato impressionante inspirado na flor de lótus, que integra perfeitamente os mundos natural e artificial. No interior, os visitantes têm uma série de exposições que exploram a intersecção entre arte, ciência e tecnologia de ponta.

    Uma das exposições mais cativantes do museu é a experiência Future World, uma jornada multissensorial que mergulha os visitantes num mundo de arte digital de ponta e instalações interactivas. Disponibiliza projecções inspiradoras, permite a manipulação ambientes virtuais e até mesmo criar a sua própria arte digital, tudo isto cercado pelos sons e visuais hipnotizantes do futuro.

    Aeroporto de Changi. A porta de entrada para o ‘futuro’ é o Aeroporto Changi de Singapura que espelha o compromisso da cidade-Estado em abraçar o futuro. Além de ser um exemplo de infraestruturas de transporte aéreo de classe mundial, o Aeroporto de Changi tornou-se um destino por si só, ostentando uma infinidade de atracções e comodidades futurísticas que redefinem a experiência de viagem. Uma das características mais impressionantes do aeroporto é o Jewel, um complexo com cúpula de vidro e aço que abriga uma vasta gama de opções de compras, restaurantes e entretenimento. No centro da ‘Jóia’ fica a Rain Vortex, a queda de água interna mais alta do mundo, cercada por jardins exuberantes e exibições de luzes fascinantes. Mas a verdadeira maravilha tecnológica está no Terminal 4 do Aeroporto de Changi, concebido para pensar no futuro viajante. Aqui, encontra-se sistemas de auto-atendimento de última geração para ‘check-in’, tecnologia de reconhecimento facial e até robôs a auxiliar na gestão de bagagens e serviços de ‘concierge‘. É um vislumbre do futuro das viagens aéreas.

    Raquel Rodrigues é gestora, viajante e criadora da página R.R. Around the World no Facebook.


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  • Indonésia: um paraíso a descobrir

    Indonésia: um paraíso a descobrir

    Raquel Rodrigues regressa ao PÁGINA UM. Nesta edição, partilha mais uma viagem de sonho, num formato de fotorreportagem. Destino: Indonésia.


    É talvez o destino mais sonhado por viajantes. No meu caso, já viajei muito e contabilizo muitos destinos já ‘carimbados no passaporte’. Mas este é um destino verdadeiramente único e há muito sonhado por mim.

    Conto pelos dedos de uma mão os países longínquos que gostaria de voltar a visitar. A Indonésia é, sem dúvida, um deles. Assim que cheguei ao aeroporto de Bali, senti o calor e o aroma que me deixaram aquela sensação que adoro, de pertença aos lugares.

    Bali

    A mais famosa ilha na Indonésia é também chamada Ilha dos Deuses. A conjugação entre o animismo e o hinduísmo antigos de Bali cria uma cultura distinta que permeia todos os aspectos da vida na ilha.

    Senti que estava definitivamente pronta (a ansiar, mesmo) para ver e experienciar tudo o que a ilha tinha para me oferecer.

    A paisagem única da ilha está replecta de cascatas imponentes, vegetação que nos assombra e uma espiritualidade que é palpável e que nos acolhe. São milhares de templos, majestosos terraços de arroz, património histórico e cultural riquíssimo e praias paradisíacas de águas quentes. A gastronomia é maravilhosa e o povo é muito simpático.

    Percebi o porquê de os deuses escolherem Bali para viver.

    Depois de Bali, e para quem quer sair do caos de Ubud e Bali e procura os postais paradisíacos, não se pode perder as ilhas Gilli, o snorkling com tartarugas, mantas e estátuas.

    Sem carros, nem trânsito. Tudo é bom. Os finais de tarde, os amanheceres, o peixe e marisco e as pizzas da mãe Mamma Pizza Gilli Air.

    Aqui, o tempo pára.

     Ilha Gilli Meno

    Imperdível é também a ilha de Java, com os seus vulcões e a paisagem que nos esmaga.

    A ‘cereja no topo do bolo’ da viagem foi o templo Candi Borobudur, o maior e mais complexo templo budista. Situado na ilha de Java, o templo é considerado a maior atracção para visitantes em toda a Indonésia.

    Obrigada por tudo e por tanto, Indonésia.

    Estamos de coração cheio.

    Voltaremos! Uma viagem com esta qualidade, em pleno Inverno… Já só sonhará com uma próxima. Deixo o aviso.

    Sugestão de roteiro:

    • 6 dias em Bali (Ubud, Templos Unesco, Rota do Chá e do café, Uluwato, Baía de Jimbaran)
    • 4 dias nas ilhas: Gilli Air e Gilli Meno
    • 2 dias em Lombok
    • 3 dias em Java

    Dicas de viagem:

    • Quando ir: entre Junho e Outubro
    • Convém comprar a viagem de avião em Janeiro
    • A três meses da viagem, deve comprar bilhetes de avião entre ilhas: Bali – Java – Bali
    • A um mês da viagem, deve comprar bilhetes para o ‘fast ferry’: Bali – Gilli Air
    • Para fazer ’tours’, sugiro que alugue um carro com motorista: 50 euros/por dia (inclui carro, motorista, combustível e portagens)
    • Para se deslocar do hotel para o centro ou para as praias, aconselho ir de Uber

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    N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.


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  • O magnífico Bernina Express

    O magnífico Bernina Express

    Raquel Rodrigues regressa ao PÁGINA UM com uma proposta de viagem de Inverno: Itália e Suíça através do Bernina Express, uma rota classificada como Património da Humanidade.


    Foi em Novembro de 2022 que li um post de um amigo, que como eu adora viajar e é um apaixonado por Itália. Na mesma hora, liguei-lhe a dizer que ia marcar a viagem e seria maravilhoso se as agendas coincidissem e viajássemos juntos.

    Marquei os voos de Lisboa para Bergamo, e comecei logo a preparação da viagem. Como já conhecia a imponente Bergamo, La Città Alta, cidade muralhada, com um centro histórico muito bem preservado, segui a recomendação do meu amigo e começámos o roteiro por Brescia, onde chegámos a tempo de um almoço rápido, ainda com tempo para explorar a cidade.

    Estacionámos o carro alugado no parque de estacionamento da “Piazza della Vittoria”, e daí seguimos a pé. Nesta praça nota-se o estilo racionalismo italiano, de 1926-1943, onde se localiza o Palazzo de la Poste; o Il Torrione, o primeiro arranha-céus italiano e, primeiro da Europa, construído em cimento armado. Seguimos a pé para a Piazza della Loggia, construída na época em que Brescia fazia parte da República de Veneza. Aqui encontramos o magnífico Palazzo della Loggia e a bonita Torre do Relógio. Depois, seguimos a pé pelos corredores de lojas até à Piazza del Duomo onde a Duomo Nuevo e a Duomo Vecchio se encontram e juntos fazem o postal da cidade. É obvio que a Duomo Vecchio é muito mais fascinante, em primeiro lugar por ser um edifício redondo, e depois pela histórica que carrega, com ruínas de mosaicos paleocristãos.

    Mas a história de Bréscia não termina aqui, pois remonta ao período pré-românico, com as ruínas de Brixia, o nome romano da cidade. Esta área arqueológica, a mais bem preservada do norte de Itália, reúne na Piazza del Foro e Capitolino, as estátuas de Juno, Júpiter e Minerva, um teatro romano e um santuário de século I com frescos e pavimentos do século II antes de Cristo, muito bem preservados. A joia da coroa é o Castelo Alto de onde conseguimos ter uma perspectiva fantástica da cidade.

    Final da tarde. Seguimos para Iseo, a 45 minutos de Bréscia, a cidade que dá o nome ao lago e onde jantamos, em cima do lago, numa pizzaria que muito recomendo, Leon D´Oro. Terminando o jantar ,seguimos para Pisogne, a 30 minutos de Iseo, onde dormimos as duas noites e ficávamos a meio caminho de Tirano, o ponto de partida do fantástico “Trenino Rosso”.

    Chegamos a Pisogne tarde, mas a simpatia de Bárbara e sua família fez-nos sentir que tínhamos feito a escolha certa para esta estadia no Lago Iseo.

    O B&B Alveare Sul Lago é um pequeno paraíso para “gourmands” que apreciem o conforto da cozinha e gastronomia italiana, um lugar onde nos sentimos em casa. Uma localização privilegiada com uma fantástica vista para o lago.

    No dia seguinte, tomámos o pequeno-almoço às 7 horas, e ainda não passara uma hora e seguimos viagem para Tirano. A paisagem é muito bonita, passando pelas aldeias alpinas italianas, e em hora e meia chegámos a Tirano. O estacionamento no parque é gratuito, e atravessando o túnel da primeira estação regional, encontramos a estação internacional do Bernina Express.

    Viajar de comboio é algo que se entranha, são viagens que não esquecemos, que prolongam as memórias, e esta, em particular, é quase mágica. Passámos por aldeias alpinas pintadas de branco, que contrastavam com um intenso azul do céu e as escuras colinas mais escarpadas. Garantidamente, uma das viagens de comboio mais deslumbrantes que se podem fazer.

    Sempre a subir. Partindo de Tirano, a 429 metros de altitude, passamos por Bernina a 2.253 metros de altitude. Cumes impressionantes. A carruagem panorâmica tem um fee de pagamento, mas isso vale cada cêntimo. É uma viagem incrível no primeiro comboio de cremalheira electrificado.

    Depois de duas horas e meia de cenários de cortar a respiração chegamos à sofisticadíssima Saint Moritz. Saindo da estação seguimos a pé até ao teleférico, que nos levou ao pico da montanha mais alta, almoçámos literalmente entre as nuvens.

    Descendo do teleférico, pode-se passear pelo centro da cidade no meio de um deslumbre luxuoso. As pessoas parecem, e são, simpáticas e bem-educadas. As lojas são de sonho, embora não para qualquer carteira. A estância de ski é uma das mais fantásticas do Mundo e Saint Moritz tem ainda o Badrutt´s Palace Hotel onde, mesmo que seja impossível pernoitar, vale pela experiência do Chá das Cinco. Regressando de volta à estação, viajámos de regresso a Tirano, no lado contrário da viagem de ida, mostrando outra perspectiva, embora por pouco tempo, pois a noite, nesta altura do ano, chega cedo.

    Chegados a Tirano, regressámos a Pisogne onde o Chef Cláudio Faustini nos aguardava com uma magnífica pasta fresca com trufa, pães e foccacia feita em casa e ainda um “Vino Rosso”. Podia ser melhor? Não podemos crer.

    No dia seguinte, acordámos com paz de espírito, tomámos um pequeno-almoço tardio, com produtos caseiros e frescos, e seguimos então para a nossa aventura pelo Lago.

    A primeira paragem foi Lovere, considerada uma das cidades mais bonitas de Itália, mesmo junto ao lago. Paragem obrigatórias para quem quer desejar boas memórias dos lagos italianos.

    De Lovere passámos de carro pelos túneis de Castro. Sentimo-nos um pouco como James Bond nos filmes gravados nestes cenários italianos. Continuámos viagem até Sulzano, e aí se pode apanhar um barco para Monte Isola.

    Chegando ao porto de Sulzano, apanhámos então o barco, que faz a viagem de 20 em 20 minutos. Monte Isola tem sido considerada uma das belas cidades europeia. Ainda que seja pequena, é a maior ilha lacustre da Europa, a pérola do lago Iseo. Aqui não existem automóveis para alugar, pelo que a melhor opção passa por alugar uma bicicleta ou seguir a pé. Em todo o caso, o santuário no topo da ilha só faz sentido se se visitar de autocarro.

    Em 2016, durante duas semanas o Monte Isola esteve em destaque, com a Floating Piers, uma instalação artística do artista búlgaro Christo e da sua companheira Jeanne-Claude, que pela primeira vez uniram a aldeia de Sulzanno a Monte Isola e a Isola de San Paolo, um pequeno pedaço de terra nunca alcançado sem esta plataforma flutuante. Contabilizaram-se então mais de 1,2 milhões de visitantes. Hoje, ainda podemos ver um memorial celebrando o momento.

    Passear pela ilha é bastante relaxante, mas há locais que não se devem perder: Borgo di Siviano,Borgo di Novale, Borgo di Peschiera Maraglio, Museo della Rete, Rocca Martinengo e Santuário della Madonna della Ceríola, no topo do monte.

    Depois de umas horas em Monte Isola, tivemos de regressar no barco que nos devolveu a Sulzano, e daí fomos obrigados a apanhar um carro e seguir para o aeroporto, de regresso a casa.

    Foram, passe o lugar comum, apenas três dias de viagem, mas que souberam a sete num deslumbrante cenário alpino entre Itália e Suíça.

    Para quem começar o ano com uma viagem desta qualidade, em pleno Inverno, já só desejará uma próxima. Prepare-se.

    Dicas da viagem para uma viagem no Inverno:

    Em Novembro, comprar voos Ryanair: Lisboa – Bergamo – Lisboa

    Estadia: Hotel B&B Alveare Sul Lago (2 noites)

    Alugar carro: Rentalcars (procurar com aluguer rodas de neve gratuito ou incluído)

    Bernina Express: Viagem de Ida e Volta a 65 euros por pessoa

    Mochila: dois pares de calças; roupa interior e extra de neve (camisola, calças e meias); cachecol, gorro e luvas; camisolas.

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  • Escapadinha de Inverno: Lyon e Mercados de Natal franceses

    Escapadinha de Inverno: Lyon e Mercados de Natal franceses

    Aproveitar os feriados de Dezembro é algo muito apetecível, especialmente quando conseguimos transformar um fim-de-semana de dois dias num prolongado de quatro.

    Continuando na preparação da época mais maravilhosa do ano, depois da visita à Aldeia do Pai Natal, na Lapónia, melhor, só visitar o Mercado de Natal Rei – Colmar na Alsácia.

    Nesta viagem, passei pelo Festival das Luzes de Lyon, Eguisheim, Colmar, Dijon e Vinhas da Borgonha.

    Quando decidir visitar os Mercados de Natal, convém lembrar que centenas de pessoas têm a mesma ideia, seja pela época ou pela grande promoção dos destinos pelas agências de viagens. Neste sentido, convém marcar com a devida antecedência e, de preferência alternativas a meio caminho dos locais a visitar.

    Tudo o que seja no centro das cidades está a preço de época excepcional, ou seja, mais alto que na época alta. Se tiver de escolher entre o fim-de-semana de 1 de Dezembro ou de 8 de Dezembro, não hesite e marque a 1 de Dezembro, pois no de 8 também é feriado em Espanha, França e Suíça, o que faz com que a visita aos mercados seja apetecível a muita gente.

    O voo de Lisboa saiu cedo, o que fez com que chegássemos a Lyon mesmo a tempo de um tradicional “petit-déjeuner” francês. Baguetes do melhor que há, sumo de laranja natural, café com leite e “pain au chocolat”. Depois do retemperante pequeno-almoço estávamos preparados para conhecer a cidade.

    Começámos o circuito na Praça Bellecour, o coração de Lyon, onde os habitantes se reúnem para todo o tipo de eventos. Ali vemos a estátua de Luis XIV a cavalo. Seguindo pela Rua Emile Zola, começámos por uma das praças mais bonitas de Lyon, a Place Jacobins, continuámos pela Rua Jean Fabre e chegámos à Praça Celestins, com o magnífico teatro italiano Celestin.

    Atravessámos a ponte Bonaparte, que permite atravessar o rio Saône para chegar ao coração do bairro medieval e renascentista, também conhecido como Vieux Lyon. Ali, começámos por visitar a Catedral de S. João Batista, de arquitetura Gótica, com a sua gigantesca rosácea, gárgulas e os elementos decorativos deste estilo arquitectónico. Subimos depois até à colina de Fourvière, onde a imponente Basílica de Notre-Dame de Fourvière nos recebe de braços abertos.

    A Basílica foi construída em agradecimento à Virgem, por ter poupado Lyon da invasão prussiana em 1870. O interior da Basílica é de uma beleza que não estávamos à espera. Majestosa, rica e bela. Dali seguimos para o Lugdunum, um grande teatro romano do século XV a.C., o Templo de Cybele, Odeon que preserva alguns dos seus belos mosaicos.

    Se estiver com vontade de almoçar, o restaurante Christian Tedoie é um bom plano, pois oferece a “formule déjeuner” com uma cozinha gourmet, num terraço panorâmico com vista para Lyon.

    Depois do almoço, fizémos a escalada em Gourguillon, descendo a Rue Pierre Marrion, virar à esquerda na Rue des Farges para entrar na escalada Gourguillon, rua pouco conhecida pelos turistas, uma das ruas mais antigas de Lyon com os seus paralelepípedos e as suas casas medievais do século XV.

    Chegando à “Vieux Lyon”, tempo de petiscar nos mercados de comidas e vinhos quentes, para quem gosta e ver as muitas opções para compras de Natal. No final do dia, começa o evento mais importante da cidade, o Festival das Luzes de Lyon, onde os edifícios são iluminados com momentos da história da cidade e de França. Terminar o dia com um passeio na Roda Gigante, ver Lyon toda iluminada foi a cereja no topo do bolo.

    No dia seguinte, retomámos a “Vieux Lyon” para percorrer os traboules, pequenos trechos característicos da cidade que permitem passar de uma rua para outra ou de um bairro para outro. Lyon tem mais de 300 e são verdadeiras atrações turísticas. Partilho a lista dos mais visitados para umas horas divertidas pelas ruas de Lyon: Rue Royale – Quai Lassagne; pequena Rue des Feuillants – Lieux Tolozan; 2 Lieux de Terreaux; 4 Rue Désirée  – 7 Rue Puits-Gaillot; 3 Lieux Louis Pradel – 1 Rue Luigini; 5 Rue Joseph-Serlin – 2 Lieux Louis Pradel; 13 Rue de la Poulaillerie – 2 Rue des Forces; Passage de l´Argue; 2 Rue Charles – Dullin – 1 Rue Gaspard-André.

    De Lyon, seguir para a região dos vinhos da Borgonha, e a menos de duas horas temos o Clos de Vougeot, a maior vinha Grand Cru da Borgonha. A história destes vinhos nasce com os monges cistercienses, cuja ordem foi única proprietária até 1789 quando, durante a revolução francesa, foi tomado como bem nacional. O castelo “Château” de Clos Vougeot foi erguido por volta de 1551 recebendo durante anos visitantes ilustres como Luís XIV.

    O “Château” foi danificado na II Guerra Mundial e depois restaurado. Hoje, é propriedade da confraria “Chevaliers du Tastevin”, fundada em 1934 para promover os vinhos da Borgonha. Ali podemos escolher entre visita, incluir prova de vinhos e até almoço. Visitar esta região com paisagens deslumbrantes, património da Unesco deve fazer parte desta viagem.

    Seguimos para o nosso alojamento, no campo francês para ficarmos próximos da nossa próxima paragem: Eguisheim e Colmar.

    Acordar junto a um rebanho de ovelhas, com os campos de neve, é um sinal muito auspicioso de um dia feliz pelos mercados de Natal da Alsácia. Em menos de duas horas, chegámos a Eguisheim, uma pitoresca vila da Alsácia, considerada vários anos como a vila francesa preferida pelos franceses.

    Parece que, no Verão, a sua beleza é sem igual, com as janelas e portadas enfeitadas com flores, mas, no Inverno, a sua a beleza faz jus ao título. Esta vila de casas coloridas é uma das cidades mais românticas e faz parte da rota dos vinhos da Alsácia.

    O mercado de Natal abrange toda a cidade, além das casinhas montadas para o efeito, as lojas estão com as montras decoradas a preceito e tudo é muito bonito. Ali nasceu o Papa Leão IX e, por isso, a praça principal tem a sua estátua.

    Por detrás, encontra-se o “Chateaux” da cidade e a Igreja do Papa. Um bom exemplo de vila da Alsácia bem organizada e que gostei muito de passar. Almoçámos uma boa sopa quente e seguimos para Colmar, o Rei dos Mercados de Natal.

    Quinze minutos é o tempo que separa Eguisheim de Colmar e, quando chegámos, percebemos a diferença de dimensão desta vila Natal para a anterior. Todos os parques de estacionamento estavam completos e restou-nos dar algumas voltas e esperar que algum carro saísse.

    Estacionamos e fomos para o centro da cidade que estava o caos. A última vez que me lembro de ver tanta gente foi em Macau, nas ruelas a caminho das Ruínas de São Paulo, onde as pessoas não tinham espaço de circulação. Ainda assim, com toda a confusão seguimos o nosso plano. Situada entre vinhas, casinhas típicas, canais e com um encanto sem igual, Colmar parece tirada de um conto de fadas e colocada na belíssima Alsácia.

    A proximidade de Colmar com a Alemanha e Suíça faz com que este destino de Natal seja muito desejado nesta altura.

    E para quem esteve há pouco tempo na Lapónia, tenho a dizer que, Colmar não fica nada atrás. Só não vi o Pai Natal, mas de certeza que andava por lá. Os divertimentos eram tantos e as casinhas de venda de Natal, uma mais bonita que a outra.

    Passeámos pela Praça da Catedral e o Colegial Saint Martin, a Maison Adolph de 1350, a Grand Rue, a Igreja de S. Mattieu, a Maison Pfister, a Rue des Boulangers e a Rue de Serruriers, a Maison des Têtes, a Rue des Clefs, a Maison Koifus (Alfandega), um mercado com feira de Natal no interior, a Quai de la Poissonnerir, o Quartier de Tanneurs, o Café de la Lauch e a Little Venice de Colmar.

    Tudo é bonito em Colmar e estava a nevar. Melhor, só se estivesse tudo a ver o jogo Portugal – Marrocos e deixassem a cidade com menos gente! Mas ainda assim, o título de Rei dos Mercados de Natal é de Colmar, não tenho uma dúvida.

    Terminámos o dia com uma tarte flambée doce, uma especialidade típica da Alsácia, antes de seguirmos para a próxima paragem.

    Debaixo de um grande nevão, começámos a viagem de regresso até ao nosso próximo alojamento, perto de Dijon, a nossa última paragem.

    Dijon, é a capital da Borgonha, internacionalmente conhecida pelas rotas dos vinhos, cidade gastronómica e casa da também mundialmente conhecida mostarda de Dijon. Esta foi a maior surpresa da nossa viagem, uma cidade moderna, bem preservada, com bom gosto, estilos arquitectónicos que vão desde o gótico até ao art déco.

    O símbolo da cidade é a Coruja e existe um percurso, “Parcours de la Chouette” que passa pelos monumentos de visita obrigatória da cidade que passo a enumerar: Notre Dame de Dijon; Maison Millère; Hotel de Vogué; Igreja Saint-Michel; Palácio dos Duques e Museu de Belas Artes; Igreja de Saint-Philibert (século XII); Catedral Saint-Bégnine; Place Darcy.

    Chegámos cedo, assistimos à cidade acordar e, nem com os -4 graus que se faziam sentir, deixaram de se ver pessoas nas ruas. O percurso da coruja é muito interessante e passa pelos locais emblemáticos. As lojas bem decoradas, os carrosséis, os mercados e músicas de Natal tornaram esta paragem inesquecível.

    A loja e Casa de Chá, Comptoir des Colonies é um lugar muito aconchegante para um café guloso “gourmand” e para comprar chás e cafés de todo o mundo. Tivemos ainda tempo para visitar a Maille, a loja mais antiga de mostardas, com possibilidade de degustação e bem a tempo de trazer como lembrança de Natal para os amigos “Gourmand”.

    Já no aeroporto de Lyon, a caminho de casa, li esta frase na parede do aeroporto: “Rester c’est exister mais voyager, c’est vivre” (ficar é existir, mas viajar é viver). Não poderia estar mais de acordo.

    Feliz Natal e um 2023 com muitas viagens. 😊

    Raquel Rodrigues é gestora, viajante e criadora da página R.R. Around the World no Facebook e no Instagram.


    Dicas da Viagem

    Em Setembro, comprar voos Easy Jet: Lisboa – Lyon – Lisboa

    Estadia: Hotel Silky by Happy Culture (1ª noite) Pause à la campagne (2ª noite); Les Cottages de la Norge (3ª noite)

    Alugar de carro: Rentalcars (procurar com aluguer rodas de neve gratuito ou incluído)

    Mala de viagem de cabine: 3 pares de calças; 3 camisolas; cachecol, luvas; roupa interior e roupa interior de neve; botas après-ski; guarda-chuva pequeno; necessaire; venda e auscultadores para dormir no avião.

  • Lapónia: Uma viagem até à Aldeia do Pai Natal

    Lapónia: Uma viagem até à Aldeia do Pai Natal

    A época do Natal está a aproximar-se e as ofertas de “escapadinhas” natalícias são muitas. Na Europa, Londres é o destino consensual e, no terceiro Sábado de Novembro, já se acenderam as luzes. Um passeio num autocarro vintage de dois andares é o cenário ideal para ver as luzes das principais ruas da capital britânica, incluindo com a companhia de músicas natalícias.

    Em todas as capitais da Europa há mercados de Natal. Em Paris, há a famosa árvore de Natal das Galerias Lafayette. Na Alsácia, o mercado de Colmar é o mais concorrido. Na Europa Central, os mercados de Natal na Alemanha e em Viena, na Áustria, são um bom pretexto para visita.  No Báltico, os mercados natalícios são muito concorridos e promovidos (mas ainda não visitei).

    Nova Iorque, nos Estados Unidos, é outro dos destinos de Natal predilectos. As celebrações (e motivo para visitar) começam com o Dia de Ação de Graças, segue-se a Black Friday e os saldos loucos na Big Apple. Não esquecer ainda a célebre pista de gelo e a árvore de Natal do Rockefeller Center, imortalizada no filme Sozinho em Casa, a par com a Hamleys, a loja de brinquedos mais espetacular de sempre, e o Plaza Hotel junto ao Central Park. Se estiver a nevar, então Nova Iorque é “O” destino de Natal de sonho!

    Em Portugal, também existem “escapadinhas” de Natal imperdíveis: Em Óbidos, a Vila Natal; em Alenquer, o Presépio de Portugal; em Santiago do Cacém, há a Vila Natal Black Pig; no Porto, existe o Mercado de Natal World of Wine; em Cascais, vale a pena conhecer a Christmas Village; e, em Lisboa, o meu preferido é o Mercado de Natal do Rossio, com o “comboio” do Pai Natal gratuito a circular pelas Ruas de Lisboa.

    Depois, há um lugar no Mundo onde é Natal o ano inteiro e, para mim, a “viagem” ao Natal. O destino: Lapónia, onde “vive” o Pai Natal.

    Nunca fez parte dos meus planos de viagem, mas com um filho de quase 4 anos, temos a desculpa perfeita para empreender nesta aventura e visitarmos a Casa do Pai Natal.

    Em Maio, encontrei uma oferta de voos imperdível, com voo direto de Londres para Rovaniemi. Foi só juntar o voo de Lisboa e procurar o alojamento e as atividades.

    Não há melhor lugar no Mundo para encontrar o Pai Natal do que Rovaniemi, a cidade mais importante da Lapónia, a norte do Círculo Polar Ártico, na Finlândia. E até os que já não acreditam no Pai Natal ficam rendidos a toda a envolvente que a Aldeia Natal nos convida.

    Dedicámos o primeiro dia da nossa viagem em família à Aldeia do Pai Natal. Primeiro visitámos a Casa do Pai Natal, onde encontrámos o “Pai Natal”, com barbas até ao chão, sentado na sua cadeira, junto a uma árvore de Natal e muitos presentes, num cenário para fotografia postal de Natal.

    A entrada na Casa, ver e conversar com o “Pai Natal” é gratuito. Se quiser tirar a fotografia já são 30 euros, a mais pequena.

    Saindo da Casa, vemos o Hotel da aldeia, o restaurante Três Elfos, com dois iglus para almoços e jantares bem típicos do Pólo Norte.

    Vemos também uma fogueira, onde parámos para nos aquecermos. Continuámos o passeio e encontrámos uma cabana, abrigos para os locais poderem descansar e se aquecerem, pois, no Inverno, as temperaturas chegam aos -30 graus Celsius.

    Aproveitámos que não havia fila para fazer o passeio de trenó puxado por uma rena. Parece magia, ver as renas e irmos deitados no trenó, tapados por uma pele, através da floresta encantada do “Pai Natal”. Dali, fomos visitar a Casinha da Mãe Natal onde aprendemos a fazer bolachas de Natal, e bebemos um chocolate quente. Era acolhedora e quentinha, como se quer.

    Continuando o passeio pela Aldeia do Pai Natal, chegámos ao marco do Círculo Polar Ártico, onde se encontra o posto dos correios onde o “Pai Natal” recebe mais de 6 milhões de cartas, chegando às 30 mil nos dias recorde. Não admira a azáfama e a quantidade de duendes e elfos a ajudar…

    Adorei ver o regulador do tempo: Tempo Normal – Regulador do Tempo e Tempo de Natal. Ali também se faz a contagem decrescente para o Natal: faltam 36 dias, vimos nós.

    Também ali, voltámos a estar com o “Pai Natal”, omnipresente como se sabe, e garantimos que o presente do nosso filho chegaria a casa.

    Depois de comprarmos alguns adereços para a árvore de Natal e o habitual íman para o nosso frigorífico, fomos para o nosso Hotel, pois na Lapónia, no Outono fica escuro às 3 horas da tarde e, com o frio, não apetece muito andar na rua.

    Para o início da viagem, escolhemos o Santa Resort, um hotel comum, um centro de treino olímpico com parque de diversões interior, um spa e cinco piscinas. Foi uma excelente escolha para passarmos as nossas tardes, com atividade física e muita diversão.

    A menos de cinco minutos do nosso hotel, estava o Lapland Sky Hotel, cheio de recantos acolhedores, com um restaurante panorâmico e um rooftop, a céu aberto e longe da luz da cidade para contemplação das auroras boreais quando aparecem.

    No segundo dia, fizemos uma viagem de carro: Rovaniemi – Pyha-Luosto – Rovaniemi. Foi uma boa forma de apreciarmos a paisagem e visitarmos um dos parques naturais mais bonitos.

    No caminho, há também a possibilidade de visitar uma mina de ametista, a pedra da região. Sempre que posso, não abdico de uns passeios de carro, sair das cidades e conhecer um pouco do campo, ainda mais com neve e com estas paisagens de Inverno só vistas por estas paragens. Terminámos o dia, de novo, na Aldeia do Pai Natal, repetindo a visita ao posto dos correios.

    Quando estava a preparar esta viagem e procurava as atividades imperdíveis, encontrei o Ranua Wild Park, casa do único urso polar da Finlândia. Depois da minha aventura no Árctico, onde tive o privilégio de ver os ursos polares, era a oportunidade de mostrar um urso polar ao meu filho e assim foi.

    No terceiro dia, dedicámos grande parte do dia à visita a este parque selvagem onde habitam os animais do Ártico. Foi uma aventura! Estavam -15 graus e a caminhada de 3 quilómetros parecia não ter fim. Mas a experiência foi fantástica e é uma possibilidade única para ver cerca de 50 espécies de animais do Norte e do Ártico, como o urso Polar, o urso castanho, lobos, linces, raposas do Árctico, corujas, alces, renas e lontras com espaço amplo e a lembrar o seu habitat natural. Apesar do frio, adorámos e repetíamos de novo.

    Dali, seguimos para o País das Maravilhas dos Adultos. Nas últimas noites, ficámos no Apukka Resort, uma propriedade de sonho e a prova de que a Lapónia pode e deve ser vista como destino para adultos. É dos lugares mais românticos onde já estive.

    Quando chegamos, temos a sensação de chegar a um pequeno paraíso, onde temos tudo o que precisamos para umas inesquecíveis férias de neve. Desde todas as atividades que se possa imaginar, como: passeios de rena, passeios puxados por cavalos finlandeses, safaris de husky, caça às auroras boreais em mota de neve. Também há várias saunas, incluindo uma de gelo, uma em iglu e outras amovíveis. Toda a sinalética está harmoniosamente cuidada e por toda a propriedade vemos pormenores e detalhes de bom gosto.

    Ali realizei o sonho de dormir num iglu. Claro que com condições excelentes, muito conforto e em vidro, para ver o céu estrelado, as luzes do Norte e o amanhecer de Inverno.

    Recomendo o restaurante Aitta, que tem uma cozinha local, variada e com muita qualidade.

    Ficaria uma semana naquele confortável e apetitoso resort de Inverno! O staff é muito simpático e prestável.

    Fazer parte daquela paisagem dramática, de um paradisíaco diferente do convencional, percebemos a beleza do Inverno que, por aquelas paragens, apenas agora começou.

    Todas as viagens são muito enriquecedoras e aprendemos sempre mais quando estamos atentos e somos curiosos. Descobri que a Lapónia é habitada por um povo indígena, os Sámis, um grupo étnico que se estende pela parte norte da Escandinávia e pela península russa de Kola, ocupando quatro países: a Noruega, a Suécia, Finlândia e Rússia, estima-se serem cerca de 80 mil pessoas, metade vive na Noruega, falam vários dialetos. Incríveis os seus trajes típicos coloridos e as suas práticas ancestrais ligadas às renas. Têm ainda uma música tradicional, o Yoik.

    Como alguém disse: viajar é a única coisa em que gastamos dinheiro e ficamos mais ricos.

    Dicas Viagem à Lapónia

    Em Maio, procurar voos Ryanair: Lisboa – Londres – Rovaniemi – Londres – Lisboa

    Estadia: Hotel Santas Resort

    Aluguer de carro: Green Motion, no Terminal

    Comprar todas as atividades diretamente no local e sem filas

    Auroras Boreais: Apukka Resort (se ficarem lá instalados) ou no Rooftop do Lapland Sky Hotel

    Raquel Rodrigues é gestora, viajante e criadora da página R.R. Around the World no Facebook e no Instagram.

  • Uma viagem rara: da Jordânia à Arábia Saudita – parte II

    Uma viagem rara: da Jordânia à Arábia Saudita – parte II

    O dia amanheceu tranquilo e mal imaginávamos o dia que nos esperava. Adivinhando as dificuldades de entrada na Arábia Saudita, que só abriu portas ao turismo em 2019, um mês antes desloquei-me à sua embaixada em Lisboa. Ninguém me recebeu, mas o segurança deu-me um e-mail para onde poderia colocar todas as questões.

    Enviei um e-mail com os nomes de todos os viajantes, os vistos que iríamos tirar, avisando que tencionávamos passar a fronteira de Tabuque. Só me esqueci de referir que íamos guiando um carro no trajeto.

    Quando alugámos o carro, em lado nenhum perguntava se pretendíamos atravessar a fronteira de um país e, graças às boas relações entre os países, achei que seria pacífico. Só que não!

    A cerca de uma hora da fronteira, um dos carros parou numa aldeia para abastecer, pois já estava com pouco combustível. Ainda gritei: “confirma se é gasóleo ou gasolina”, mas todos concordaram que uma carrinha de 9 lugares funciona a gasóleo…

    Seguimos viagem e, já estávamos a 800 metros da fronteira, quando recebemos uma mensagem a dizer que o carro não andava… Bruxa! A nossa maré de sorte tinha começado. O carro avariou no meio de nenhures, mesmo em frente à única oficina mecânica do deserto.

    Limparam o motor, fizeram todos os truques de magia que só os mecânicos sabem fazer e 1h30 depois tínhamos a carrinha pronta para andar. Otimistas, seguimos confiantes rumo à fronteira, tentando recuperar o tempo perdido.

    Na fronteira, ainda do lado jordano, mas já com véus na cabeça e sem falarmos com os homens, mostrámos toda a documentação, vistos comprovativos de alojamento. Olhando para o carro, disseram: este carro não pode passar. Têm visto para o carro? NÃO TÍNHAMOS!

    Ligámos para a rent a car que nos disse que nenhum carro particular ou alugado podia pedir visto para passar a fronteira. É sempre necessário cruzar a fronteira com um guia ou motorista credenciado e fluente em árabe para nos acompanhar na viagem…

    E agora? Desistir não era opção. Era o ponto alto da viagem, o pretexto para voltar a Petra, mas o objetivo principal. Ao nosso lado, chegou um táxi para passar a fronteira. Rapidamente pedimos ajuda para encontrarmos um táxi, ou melhor, dois.

    Fez uns telefonemas e consegue. “Têm de ir até Ma´na, a 1h30 daqui. Vão encontrar Zaccaria que vos arranja os carros. Vêm de Amã, demoram 2 horas”.

    No caminho, a gasolina era pouca, pelo que optámos por parar num dos postos de controlo da polícia pedindo para nos ajudarem a chamar alguém que pudesse trazer a gasolina. Mais 1 hora de espera. Ali fomos recebidos pelos guardas como visitas. Ofereceram-nos o seu almoço, as suas maçãs. A hospitalidade jordana é única e valorizam a importância dos visitantes para o desenvolvimento do país.

    Chegou a gasolina e seguimos para Ma´na, onde rezávamos para encontrar os nossos motoristas ou quase estarem a chegar. Numa loja – onde não percebíamos bem qual o negócio – orientaram-nos para entrar. Algumas pessoas do grupo estavam a achar o momento estranho. Não falavam inglês, recorriam ao tradutor. Muito difícil, a conversação. Depois de 10 minutos de dialetos, conseguimos falar com alguém do outro lado do telefone e, decorridos 5 minutos de negociação, garantiram-nos 2 carros dali a 2 horas.

    As 2 horas passaram a 3 horas e meia. O cansaço era muito, já tínhamos perdido as atividades pagas na Arábia Saudita e vislumbrávamos cada vez mais longe a chegada.

    Chegou o primeiro motorista que estava com vontade de iniciar a viagem, mas optámos por seguir juntos. Mais 1 hora e eis que chegou o segundo motorista. Tirámos as malas e seguimos viagem. Chegámos novamente à fronteira, onde os guardas admiravam a nossa persistência.

    Horas depois, e já de noite, atravessávamos a fronteira. Os motoristas estavam nervosos, os guardas do lado Saudita não eram afáveis e nem sequer nos olhavam bem. Passámos o primeiro controle e os restantes que culminavam com cães guarda a farejarem as nossas malas.

    Passámos a fronteira. Era tempo de abastecer os carros, comprar chocolates, águas e sumos para nos ajudarem na viagem. A primeira estrada era boa mas a condução na Arábia Saudita é assustadora. Vemos carros em fúria a ultrapassarem pelas bermas, uma condução Fast and Furious nunca vista.

    Parámos em Tabuque e começámos a outra parte da viagem por estradas piores, com sinalética de possibilidade de camelos na estrada. Estávamos de rastos, mas como qualquer deserto, depois de ultrapassado, chegámos ao oásis.

    Mais do que um oásis, chegámos ao Habitas Alula, um hotel destino integrado nas paisagens naturais de Alula. É ali a porta de entrada para Hegra, o mais recente património da UNESCO, a cidade dos nabateus na Arábia Saudita, encontrada em 2008 e que apenas em 2019 abriu portas ao turismo.

    Chegados ao Habitas Alula, foi como se tivéssemos chegado ao paraíso. Para mim, é o melhor exemplo de beleza, conjugando a simplicidade com o luxo da natureza. Um projeto sustentável e o futuro das tendências para a hotelaria que valoriza o lifestyle e a sustentabilidade.

    Habitas, o nome do grupo, significa Casa que é como toda a equipa tentou fazer-nos sentir. A magia das estrelas num céu azul profundo, um calor do deserto e a sensação de que tudo valeu a pena e, sem dúvida, que toda a sincronicidade de acontecimentos foi para nos trazer aqui.

    Acordámos no paraíso. O pequeno-almoço era dos deuses e aproveitámos a piscina mais bonita do mundo e o hotel que mais queria conhecer de sempre. Expectativas? Altamente superadas.

    Era tempo de tentar mais um milagre, pois as tours compradas para a véspera, se não comparecêssemos, não eram reembolsáveis nem reagendáveis. Fui para a recepção. Num país rigoroso e rígido como a Arábia Saudita, tentar apelar à excepção… desconfio que não conheçam a prática do termo.

    Mas no Habitas todos conheciam a nossa história. A equipa uniu esforços para me ajudar a ter o reagendamento da tour em Land Rover Vintage e reembolso das Heli Tours, que apenas operavam de quarta a domingo e, como era segunda, não conseguíamos o reagendamento.

    Durante 1h30 de espera, falei com Rasha Faris que, estando de folga, me deu o conforto de estarem a tentar ajudar-nos. Disse-me que falaríamos com Ahmad Alblawi que, na ausência dela, nos tentaria ajudar com a empresa parceira, para o reagendamento das atividades.

    Ahmad ligou-me, dizendo que precisava de um documento que provasse o problema que tivemos, pois sem prova não aceitariam o nosso pedido. Falámos com o Zaccaria e, milagrosamente, no seu modus lento, em menos de 1 hora, chegou o documento em árabe explicando o sucedido. Li na expressão de Ahmad que, como eu, estava admirado de termos conseguido. Nunca menosprezar um tuga!

    Na recepção, Fahad tratou de nos entreter e fazer com que o tempo de espera não fosse sentido. De 5 em 5 minutos recebíamos café, chá, frutas, sumos, pulseiras, livros. Olhei o relógio e percebi que tinha passado 1 hora e meia.

    Era altura de fazer a visita ao hotel com o diretor, que nos apresentou o conceito e os fatores diferenciadores do Grupo Habitas para os restantes grupos. Terminada a visita, almoçámos junto à piscina e ali recebemos a resposta afirmativa ao pedido para reagendamento da Tour a Hegra.

    Escoltados pelos nossos motoristas, seguimos para o Winter Park, de onde saem as tours. Estava deserto. Apenas os 2 Land Rover vintage à nossa espera. Mais um sonho realizado, imaginando como seria Petra há 30 anos atrás, como Hegra, com muito poucos visitantes.

    A guia fez uma visita muito interessante. Só lhe víamos os olhos, mas adivinhávamos a sua doçura e simpatia.

    Hegra é uma antiga cidade situada a norte de Hejaz, na Arábia Saudita. Dista 22 quilómetros da cidade de al-Ula e está a cerca de 320 quilómetros de Petra, na Jordânia. Em conjunto, as duas localidades são um testemunho histórico da arquitetura dos povos da região, sobretudo os nabateus.

    Na Antiguidade, a região – denominada Hegra, – era habitada pelos tamudis e nabateus. Os monumentos tumulares apresentam inscrições e gravações do século II a.C., sendo que foram construídos até ao século I d.C., pelos nabateus. Outras relíquias da arquitectura histórica da região datam de períodos posteriores, coincindentes com as civilizações tamudi e liã.

    O Sítio Arqueológico de al-Hijr foi declarado Património Mundial, em 2008, tornando-se a primeira localidade na Arábia Saudita a integrar a Lista do Património Mundial da UNESCO.

    Madaim Salé é, a seguir a Petra, considerada o mais importante testemunho vivo da cultura e arquitectura do povo nabateu. Foram descobertos 131 túmulos esculpidos nas rochas, muralhas, torres e várias esculturas, ao longo de uma área de 16 quilómetros.

    Seguimos de coração cheio de regresso à Jordânia para a reta final desta viagem e 10 horas depois chegaríamos ao Kempinski Hotel, no Mar Morto. Ali dormimos nas melhores camas da viagem e, mesmo num sono supersónico, sentimos o conforto da cama e da roupa que a vestia e nos confortava.

    O Kempinski Hotel Mar Morto é um hotel inspirado nos jardins suspensos da Babilónia. Apresenta um serviço irrepreensível. Tem nove piscinas e acesso ao Mar Morto com grande conforto. Aproveitámos todo o dia no hotel. Outra parte do grupo visitou o local de baptismo de Jesus e participou na cerimónia de baptismo no Rio Jordão.

    Foi um momento alto no final desta viagem que trouxe o aconchego que precisávamos, depois de tantas noites mal dormidas e algumas preocupações. Celebrámos mais um final de dia com um bonito pôr-do-sol nas montanhas israelitas, um cenário de sonho e uma paisagem que não dá para esquecer.


    No final do dia, foi tempo de passearmos pela capital, Amã, onde degustámos os doces tradicionais e nos deixámos levar pelos sons e luzes da cidade ao anoitecer. No caminho para o hotel, passámos pela zona nobre e sofisticada: o Boulevard.

    O dia amanheceu e iniciámos a viagem de regresso a casa, já descomprimidos e com pressa de chegar. Mas ainda tínhamos um dia inteiro em Chipre – mais um país para a coleção.

    Ainda no aeroporto de Amã, quando passei o controlo das malas, um polícia chamou-me pediu-me para abrir a carteira. Fez uma série de perguntas sobre as moedas dos nabateus. Queria ficar com uma delas ao que eu disse, prontamente, que não. Chegou a Interpol e, depois, mais alguns polícias. Perceberam que o horário do voo estava a aproximar-se e pediram o meu número de telefone. Fotografaram a moeda e o meu passaporte.

    Em Chipre, alugámos um carro (parte do grupo regressava via Paris e já não teve tempo de visitar Chipre). Deixámos parte do grupo no Beach Club, onde íamos passar o dia a recuperar as energias, com mergulhos de mar e banhos de sol.

    Seguimos para o Túmulo dos Reis, um parque arqueológico também património da UNESCO, em Paphos, e a apenas 10 minutos da praia onde escolhemos passar o dia.

    Foi um dia de praia muito divertido. A amizade, cooperação e os momentos que passámos e ultrapassámos juntos, fizeram de nós pessoas mais ricas e com a perfeita noção da sincronicidade dos acontecimentos que o Universo tratou por nós, em que tudo acaba bem.

    Que aventura, que viagem! Umas das viagens sem regresso nem repetição.

    Nota: Dedico este artigo a todos e a cada um dos meus companheiros de viagem! Aos beduínos de Petra, em especial Raaed e Ibrahim que trago no coração e que espero continuem a conseguir viver em liberdade e a tornar mágicos os momentos de quem visita a cidade rosa. Dedico também o artigo a Rasha Faris, Ahmad Alblawi, Fahad do Habitas Alula que fizeram tudo para tornar a nossa estadia na Arábia Saudita memorável. Conseguiram!

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  • Uma viagem rara: da Jordânia à Arábia Saudita – parte I

    Uma viagem rara: da Jordânia à Arábia Saudita – parte I

    Rara e desafiante. Esta foi a viagem exclusiva que mais trabalho me deu a organizar e a fazer cumprir. Foram vários dias para preparar um roteiro que orgulhosamente, posso dizer, ninguém fez e nenhuma agência de viagens tem para oferecer.

    Éramos 12 e acabámos por viajar 11. Um destino que em parte conheço bem: foi a minha terceira visita ao Reino da Jordânia. Mais de 2000 quilómetros, em oito dias. Aventuras, imprevistos, algum stress, planos B, partilha, contemplação, amizade e amor. E a mais difícil fronteira terrestre que alguma vez atravessei.

    Foi uma viagem sem preço, onde o céu do deserto abana as estruturas enquanto a riqueza cultural que trazemos no regresso a casa, não tem tamanho.

    Apertem os cintos, preparem as pipocas e deliciem-se com uma das minhas maiores aventuras de sempre.

    Partimos do Aeroporto de Lisboa, Terminal 2, Lisboa-Ciampino (Roma, Itália), com a Ryanair, a companhia aérea que não ofende, não quer ser mais do que o que é e, normalmente, chega sempre a horas.

    De Roma, depois de uma pasta pomodoro no centro da cidade, seguimos para o Chipre, onde passámos a primeira noite antes de um voo de 1h30 nos colocar no Reino da Jordânia.

    Da janela do avião vislumbram-se as pedras rosas, os terrenos áridos e tinha-se a sensação de se chegar a outro planeta.

    Depois de recolhermos os dois carros, um de nove e outro de cinco lugares, iniciámos a nossa viagem com uma pequena paragem em Little Petra que, como o nome indica é uma Petra em ponto pequeno.

    Estávamos perto da hora de encerramento, portanto estivemos com os monumentos só para nós. À saída, cruzamo-nos com autocarros que traziam turistas para jantar em frente aos monumentos, um sinal da afluência turística e do vale quase tudo por estas bandas.

    Mais 20 minutos de caminho e chegávamos ao Infinity Lodge, onde reencontrei o meu guia das últimas duas vezes em Petra, agora com uma filha de dois anos, a mulher e proprietário do Hotel Small World, também em Petra.

    Serviram-nos um jantar típico, com frango e borrego e algumas entradas, alguns doces do Médio Oriente, chá e café.

    Petra by Night estava quase a começar e lá fomos nós – desde o centro de visitantes são quase 30 minutos – pelos canyons outrora iluminados com velas e hoje com efeitos sonoros especiais, turistas barulhentos e lanternas de telemóveis a iluminar o caminho.

    Ninguém quer saber e chegados ao Treasury, o beduíno que outrora tocava flauta num silêncio que nos levava para outra dimensão, foi substituído por amplificadores e um sistema de luz que mais parecia o Museu do Futuro no Dubai.

    Havia polícias a controlar os beduínos, que costumavam fazer as honras da cidade perdida. Um terraço com guarda-sóis, lojas e até carrinhos de golfe para facilitar o caminho, de forma sustentável (dizem eles).

    A Petra by Night que tive o privilégio de conhecer não existe mais e não vale a pena do bilhete nem a caminhada.

    Regressámos ao hotel onde terminei as últimas combinações com Ali, o beduíno que nos levaria a Petra pelo sentido contrário, para assim conseguirmos apreciar a cidade com o mínimo de pessoas possível.

    Depois de um pequeno-almoço do Médio Oriente – ou seja, mistura de salgado e doce, regado a sumos de laranja, chá e café – começámos a nossa aventura. Como habitual, à hora combinada, chegamos à Beduin Village e dali partimos em duas carrinhas pickup para a entrada de Petra, que nos levaria até ao Monastery.

    Foi cerca de uma hora de caminhada, com grau de dificuldade médio, grau este agravado pelo calor que começava a fazer-se sentir, mas, a vista compensava. A caminhada por entre canyons, vistas de cortar a respiração e o deserto de Aqaba como derradeiro vislumbre. Um sonho!

    Parámos numa tenda a meio do caminho onde retemperámos energias com água, café, chá e fizemos algumas compras. Eu apenas comprei duas moedas dos Nabateus.

    Chegámos ao Monastery. A vista era inacreditável e a afluência já era grande. Os cafés de outrora tinham o dobro do caminho, os sumos de romã, laranja ou lima não continuam a cumprir o seu propósito.

    Reencontro o Beduíno que me guiou nas últimas vezes. Não se lembra de mim, desculpa-se dizendo: “é muita gente todos os dias”. Sentimo-nos uma versão fast da humanidade: os turistas iguais a todos enquanto nós os levamos nas memórias e no coração. Conta que casou com a namorada dinamarquesa. O amigo Raaed vive com uma italiana. Um mistério e tradição antiga, os beduínos casarem com ocidentais.

    Começámos a descida para o centro da cidade de Petra, onde almoçámos num género de cantina com capacidade para servir 100 pessoas de cada vez. Indescritível a proliferação de visitantes a Petra.

    Agora era o momento de nos cruzarmos com a quantidade de turistas que seguia para o Monastery e quando chegámos ao Treasury, ainda que com muitos visitantes, eram muito menos dos que chegaram de manhã, desde o momento da abertura de portas.

    Ali, Ibrahim esperava por nós para nos levar a uma das vistas mais bonitas para o Treasury: o monumento mais emblemático de Petra.

    Tapetes, almofadas e sofás tornavam as pedras acolhedoras e com os beduínos sentimo-nos em casa.

    Os beduínos são a alma de Petra, a sua generosidade, disponibilidade e amizade é algo que levo comigo para sempre. O seu jeito nómada e livre faz de Petra um dos lugares mais genuínos de sempre e onde o passado, o presente e o futuro se cruzam ao mesmo tempo. A cidade rosa perdida que sempre adorarei.

    O regresso até aos carros foi feito de burro, uma beleza de caminho e ver as faces dos companheiros de viagem que já não eram os mesmos que entraram na cidade. Petra não deixa ninguém indiferente.

    Seguimos duas horas de caminho até ao deserto, onde vivemos uma das experiências mais incríveis de sempre. Ficámos no local onde foi filmado o filme Perdido em Marte e, era a Marte que parecia termos chegado.

    A tenda dome dava um carácter especial. Ali, definitivamente, o menos é mais. E a noite quente e o céu estrelado foram o palco perfeito para uma contemplação única. A energia das estrelas tirou o sono a quase todos, mas sentíamo-nos energizados quase como por magia. Ali estamos frente a frente para o cosmos, e é ali onde nos sentimos mais perto da eternidade. Uma noite para a história das nossas vidas.

    No silêncio do dia que amanhecia tivemos uma aula de ioga muito especial, adequada ao momento que vivemos, e preparamo-nos para um dia de aventura no deserto. Passeio de Jipe 4×4, almoço, tarde no deserto do Lawrence das Arábias, com final de tarde de camelo até ao local onde avistávamos um pôr-do-sol memorável.

    Dali seguimos para um agradável Aladin Beduin Camp, onde jantámos e pernoitámos para, no dia seguinte, muito cedo partirmos rumo à Arabia Saudita.

    Raquel Rodrigues é gestora, viajante e criadora da página R.R. Around the World no Facebook e no Instagram.

  • A caminho do Árctico: dia 6, Tromsø e Helsínquia

    A caminho do Árctico: dia 6, Tromsø e Helsínquia

    O dia começou ainda em Tromsø , cidade também remota da Noruega. Mas a expectativa do dia, e do final desta aventura, era Helsínquia – a minha primeira visita à Finlândia. Venham comigo nesta última etapa desta viagem memorável.


    8 horas da manhã. Já estava tudo preparado para a última etapa da viagem. Antes de ir para o aeroporto, passeie pela última vez pela pequena Tromsø , aproveitando o dia de sol.

    As lojas começavam a abrir. Os funcionários das lojas acenavam-nos dando os bons dias. Uma cidade pacata e com pouca gente. Passei pela catedral que continuava fechada. Só abre no Domingo para a celebração da missa. É bonita e é, talvez, o edifício mais alto de Tromsø .

    Dali apanhei o autocarro 42 que me levaria ao aeroporto. O aeroporto também é pequeno e as portas do Terminal ainda não tinham sido abertas. Aguardei um pouco até podermos entrar.

    Procurei uma loja de lembranças para comprar o meu íman de frigorífico – compra habitual quando visito um lugar pela primeira vez -, mas o aeroporto não tem. Apenas se encontravam à venda produtos tax free, bebidas, chocolates, produtos de beleza e pouco mais. Teria de ficar para uma próxima visita, pois desta segui sem íman.

    No avião, que seguia diretamente para Helsínquia, aproveitava para terminar a leitura do meu livro, quando surgiu uma zona de turbulência. Com as milhas que tenho em carteira, já apanhei muitas zonas de turbulência, mas nunca como esta. É uma nuvem do Árctico, disse o comandante! “Mantenham os cintos apertados”.

    Comecei a ficar com náuseas e muito calor, liguei o ar e olhei para o relógio, sem olhar à minha volta pois é essa a melhor forma de controlarmos a ansiedade, não sendo influenciada por pessoas assustadas. Contei oito minutos e tudo ficou mais calmo.

    Aterramos em Helsínquia, saímos e fui direta ao check-in para adiantar o meu voo de regresso a Lisboa, antes de sair para o centro da cidade. Tinha quatro horas para ver o máximo possível. Quando terminei o check-in recebi um voucher da Finnair para gastar nos restaurantes do aeroporto. Achei estranho, mas simpático.

    Quando olhei para o ecrã, com as portas de embarque vi que o voo estava atrasado: “informação sobre horário apenas às 20h00”. Mas que boa notícia! As quatro horas passaram a sete horas e assim poderia cumprir o programa inicialmente preparado. Tudo estava a correr bem!

    Comprei o bilhete de comboio que em 30 minutos me deixaria na Estação Central de Helsínquia. Dali iria visitar os principais pontos de interesse da cidade.

    Na estação, procurei cacifos para poder deixar a mochila e o casaco de Inverno, mas não encontrei. Decidi propor a um comerciante chinês , se me deixava pousar a mochila e o casaco por seis horas em troca de cinco euros. Aceitou!

    Segui feliz e contente em direção à Catedral de Helsínquia, luterana, conhecida como a Igreja de São Nicolau. Entrando na Catedral, notei a simplicidade decorativa das igrejas luteranas. Apenas o seu belíssimo órgão de tubos, um lustre no centro e um quadro alusivo à Paixão e Morte de Jesus.

    Descendo a escadaria íngreme da Catedral, cheguei à Câmara Municipal de Helsínquia, um bonito edifício com muitas flores a adornar o exterior. Atravessei e vi o Mar Báltico. No lado direito, o mercado municipal, como em várias cidades da Europa, renovado para ser um centro de restaurantes e algumas lojas gourmet. Ali sentei-me e pedi um Cappuccino. Fiquei a observar os finlandeses. Têm um estilo arrojado e, especialmente, as mulheres são muito produzidas: saltos altos, muita maquilhagem e roupa de Verão nuns 16 graus que pareciam mais frios que em Svalbard. “É do vento que chega do Báltico”, disseram-me, quando referi que estava frio.

    Seguindo junto ao mar, contornei a estrada para visitar a Igreja Ortodoxa e dar uma volta na Roda Gigante de Helsínquia, um divertimento que nos proporciona as melhores vistas da cidade. Mesmo por baixo e junto ao mar, vi a Alla Sea Pool. Inaugurada em Setembro de 2016, o complexo está equipado com três piscinas construídas sobre o mar: uma piscina infantil, uma de água morna e uma de água salgada. Se visitarem Helsínquia no Verão, recomendo que aproveitem uma tarde nesta espécie de clube balnear, em cima do Mar Báltico.

    Continuando a minha visita pela capital finlandesa, atravessei o Parque Esplanadi e, do lado direito, além de bonitos hotéis e restaurantes, existe uma galeria comercial que chamou a minha atenção, com as suas muitas flores e montras atrativas. É a galeria comercial Kampi. Para os que gostam de fazer compras, sugiro a visita (já perceberam que sou das que não compra nada pois, ou viajo ou compro coisas. E, como é óbvio, vejo maior riqueza e dinheiro bem gasto, nas viagens).

    As ruas são bonitas, edifícios antigos e modernos vivem em perfeita harmonia, os elétricos de várias cores também mostram o seu charme. Segui para visitar o Parlamento, um edifício impressionante, como quase todos os edifícios parlamentares europeus.

    Fiz uma pausa para almoço. Gosto da esplanada do Storyville e só lá estavam clientes locais. É o meu género de restaurante, nada turístico e com serviço rápido. A conta vem em euros e senti-me mais perto de casa.

    Ainda no centro da cidade, procurei a Capela Kampi, também conhecida como a capela do silêncio. Como não tinha visto imagens, fiquei surpreendida quando vi o edifício. É uma obra de arte, uma capela redonda, cor de laranja e bem no centro da confusão de Helsínquia. É um convite à paragem, desaceleração e silêncio na rotina atarefada e sem tempo.

    Gostei muito desta capela, não apenas pela originalidade, mas pelo apelo a receber todos os que procurem recolhimento e, de certa forma, algum reconforto no seu dia. Um portal para a espiritualidade.


    Olhei para o meu roteiro, já só faltava a visita ao Teatro Opera e lá fui eu, antes de regressar à Estação Central que me levaria de volta ao aeroporto e a casa.

    Helsínquia, a capital escandinava que me faltava conhecer e uma muito boa surpresa. Por um lado, os seus traços evidentes de capital do Norte da Europa, por outro, um pouco de São Petersburgo pela proximidade.

    As pessoas são menos disponíveis, andam com muita pressa e sem tempo a perder ou, a ganhar, digo eu.

    Esta cidade é um ponto de partida para quem se aventurar numa visita pelas capitais do Báltico, que será uma viagem que farei um dia destes.

    Agora, era tempo de regressar a casa, abraçar a família e retomar as rotinas diárias que tanto gosto, encontrando sempre tempo para fugir delas e conhecer novos lugares, mesmo e, principalmente os que ficam perto de casa. Aventurem-se também!

    Até breve!

    Raquel Rodrigues é gestora, viajante e criadora da página R.R. Around the World no Facebook e no Instagram.

  • A caminho do Árctico: dia 5, Longyearbyen e (inesperadamente) Tromsø

    A caminho do Árctico: dia 5, Longyearbyen e (inesperadamente) Tromsø

    Penúltimo dia desta viagem em que realizei o sonho de visitar o Árctico. O dia contou com uma surpresa: conhecer Tromsø.


    Últimas horas em Longyearbyen. A cidade principal de Svalbard tem cerca de 2.000 habitantes, quase todos os habitantes das ilhas. É a sede do Governador das Ilhas Svalbard, sendo assim sede administrativa de todo o arquipélago.

    Ali encontramos os serviços necessários como, aeroporto internacional, hospital, escola e universidade, assim como várias ofertas de alojamento, desde hotéis, Guest Houses e até campismo. Há algumas lojas, restaurantes e três museus. Uma capital, sem dúvida nenhuma!

    Depois de um retemperante pequeno-almoço, de preparar a mochila e fazer o check-out, segui o conselho do Jérémie e levei tudo comigo na descida de bicicleta. Fui pousando a minha bagagem nos cacifos dos museus e assim, na hora de entregar a bicicleta, evitava a subida de 40 metros até à Guest House 102, o último edifício, mesmo junto à base da montanha.

    Na descida, e mesmo sendo manhã, consegue-se apreciar o silêncio, ouvindo apenas o vento com a aceleração da descida. Passei no Husset, o restaurante e Adega mais setentrional do mundo. A lendária adega criada nos anos 90, tem mais de 15.000 garrafas, uma das mais bem abastecidas da Europa.

    Antigamente, era o ponto de encontro de todas as pessoas, desde o Governador aos mineiros e suas famílias. Um lugar de todos e para todos. Hoje, é um dos restaurantes mais sofisticados de Svalbard.

    Continuando a descida, a igreja, um dos edifícios icónicos da cidade, estava em obras pelo que não ficou grande fotografia.

    Chegada ao fim da rua, para a esquerda é o caminho para o aeroporto, que passa pelo porto, de onde saem os barcos e é também o caminho para o Cofre Global de Sementes. Mas virei à direita: a minha paragem era o Museu da Expedição ao Pólo Norte.

    O Museu mostra-nos as histórias das várias expedições ao Pólo Norte, especialmente com dirigíveis, mas também com skis, trenós puxados por cães e barcos. O edifício tem dois andares e tem expostos documentos antigos, jornais, fotografias, filmes originais de expedições, artefactos históricos, cartas e até o barco que seguia no primeiro dirigível, caso caíssem e precisassem sair por água.

    A exposição demonstra o esforço dos exploradores para alcançar o Pólo Norte e os misteriosos horizontes congelados, movidos pela curiosidade, ambições pessoais e pesquisa científica.

    Terminando a visita, que me fez sonhar com uma expedição ao Pólo Norte, continuei na minha bicicleta para o Museu de Svalbard.

    O Museu Árctico da Noruega, mais a Norte, recebeu o Prémio de Museu do Conselho da Europa, em 2008, competindo com 59 museus em toda a Europa. Está muito bem conseguido. Apresenta-nos fragmentos de 400 anos de Svalbard, descrevendo factores que ajudam a sustentar a vida e as atividades que acontecem neste lugar remoto, e revelando a estreita relação entre o mar, a terra, a natureza e a história cultural.

    Terminando estas duas visitas, devolvi a bicicleta ao posto de turismo. Ainda faltavam 3h30 para o meu voo então decidi fazer o caminho a pé, em vez de esperar pelo autocarro. Uma caminhada de 1h15 minutos que me apeteceu, pois passaria o resto do dia entre aviões até chegar a Helsínquia, onde passaria esta última noite.

    O voo atrasou e cheguei a Tromsø atrasada para o voo que me levaria a Oslo e depois a Helsínquia. Não consegui nenhuma ligação que me permitisse chegar a Oslo, a tempo do último voo para Helsínquia. A melhor opção era ficar em Tromsø e, na manhã seguinte, apanhar um voo direto para Helsínquia. Assim foi. Marquei um hotel central em Tromsø e fui aproveitar os imprevistos da vida e passear pela capital das luzes do Norte.

    Chegada ao hotel, pedi um mapa com os principais pontos de interesse da cidade e comecei a visita. A minha primeira paragem era a Biblioteca de Tromsø, num edifício moderno com uma sala de conferências e uma cafetaria muito simpática. Entrei e visitei a Biblioteca. Aprecio muito especialmente ver a organização, sentir o cheiro único dos livros. Tomei um chocolate quente na cafetaria onde uma música de fundo relaxante, conseguia-se ouvir.

    Segui para o porto da cidade, passando pelas ruas comerciais principais, com lojas com muito bom gosto. As ruas são sinuosas. A cidade lembra-me, por um lado, Bergen e, por outro, São Francisco. Uma boa mistura. No porto, estão alguns restaurantes e outro museu do Pólo Norte. Uma mistura do melhor dos dois mundos: as casas antigas nórdicas que são lindas, e a bonita e moderna arquitetura norueguesa.

    Tromsø é conhecida por ser a porta para o Árctico. As ligações passam todas por ali, seja de barco ou avião. Mas a cidade está deserta. Já estamos em Setembro, poucas pessoas estão de férias e, por outro lado, ainda faltam cerca de dois meses para a atração rainha de Tromsø: as auroras boreais.

    A caminho do hotel, fiz uma paragem para jantar no Bistrô Bardus. O menu tem influência dos ingredientes e história culinária do norte da Europa. As renas, alces, caranguejos, peixes frescos e baleias fazem parte dos originais ingredientes que encontramos nos pratos deste bistrô, que recomendo.

    Foi um dia diferente do esperado, mas que acabou por ser bem aproveitado e incluiu Tromsø no roteiro da minha viagem.

    Por vezes, as viagens são assim: inesperadas, mas também no inesperado, na maior parte das vezes, surgem oportunidades. Só as temos de agarrar e ver o lado positivo. Amanhã, estarei em Helsínquia!

    Raquel Rodrigues é gestora, viajante e criadora da página R.R. Around the World no Facebook e no Instagram.

  • A caminho do Árctico: dia 4, a bordo do PolarGirl

    A caminho do Árctico: dia 4, a bordo do PolarGirl

    Neste “Diário de Bordo”, o quarto dia fica registado como o dia em que atravessei o Árctico a bordo do PolarGirl. Depois da euforia do dia anterior, chegou a altura de dar um passeio calmo e relaxante pelas paisagens geladas, rumo a Barentsburg, pelos fiordes, glaciares e icebergues.


    A manhã na Guest House era sempre divertida e uma oportunidade para trocar experiências, despedirmo-nos dos viajantes que partem e para preparar o novo dia.

    Neste dia, o Peter iria embora. Falei-lhe dos ursos e desejei-lhe um bom regresso a casa. “Casa… Nunca volto a casa”, retorquiu ele. Pensei que era bom lema de vida. Percorrer o mundo sem parar. Confesso que estou muito longe deste desapego. Adoro sair, ver, explorar, desafiar limites e descobrir, mas também é indescritivelmente bom o regresso a casa. (Mas, Peter, tomei nota. Não é nada má a possibilidade. No seu caso, do calor do México, veio parar ao Ártico.)

    Marcha, a simpática russa que me veio buscar para a tour, espalhou calor e a hospitalidade russa (e levou-me a recordar os dias fantásticos que passei na Rússia em 2016).

    Chegámos ao barco. Foram dadas as instruções de segurança e cada um escolheu o seu lugar. Escolhi o meu no bar, à janela, onde me sentia na primeira fila do concerto dos Coldplay.

    Entre o fiorde Isfjoren, o glaciar Esmark e icebergues, seguíamos para o nosso destino de visita a Barentsburg. Aqui, a vida selvagem também é muito abundante. Avistam-se focas, morsas, e até um urso polar.

    Durante a viagem serviram um almoço muito saboroso. Perguntei a Marcha que carne saborosa era aquela. “É baleia. Não dizemos, pois as pessoas antes de comerem acham estranho mas depois de experimentarem adoram”, disse ela. Confirmo e aprovo.

    Durante a viagem, tive a oportunidade de conhecer Jon “small Svalvard”, que foi o amigo de Matt que o avisou do local onde estavam os ursos, na véspera.

    Era muito simpático e conhecedor da vida animal, em especial do Rei do Ártico. Falou de Elsa, a ursa que avistei com os filhos, e que tinha um irmão, Frozie, um urso que foi abatido após ter invadido a tenda de um alemão. A história não acabou bem, nem para o alemão, nem para Frozie, que acabou por cair morto a poucos metros do aeroporto.

    Jon contou que, por vezes, as pessoas arriscam, fazem churrascos e dormem em tendas. Um urso cheira um churrasco a quilómetros de distância. Explicou também como funcionam os ursos quando nascem: a mãe foge com eles e protege-os até chegarem à idade adulta. Assim que pode, separa-os para não correrem o risco de se matarem e, mais ainda se outro macho se aproxima, pois, matará as crias para poder engravidar a ursa e deixar os seus genes nas novas crias.

    Enfim, um admirável mundo novo, a vida dos ursos e a sua capacidade de adaptação ao degelo e ao desaparecimento do seu habitat, como o conheciam. “Eles sobreviverão sempre”, disse Jon, falando sobre a extinção da espécie do urso polar.

    Chegámos a Barentsburg, a segunda maior cidade de Svalbard, onde russos e ucranianos vivem em paz e tranquilos, exercendo as suas diversas profissões.

    A nossa guia, Iryna, de Moscovo, a viver na cidade desde 2017, contou como é viver numa cidade que pode ser percorrida a pé numa manhã. Mas também explicou como os mineiros, desde o momento que entram na mina até que chegam ao local de mineração, perdem o mesmo tempo de viagem que um morador na gigantesca Moscovo.

    Iryna falou-nos da vida na cidade e mostrou-nos os lugares de destaque, desde o anfiteatro de cinema, cujo filme é a paisagem do Ártico, passando pela casa onde mora, a antiga casa do governador e a única com varanda, os correios, o restaurante bar, o hotel, a fábrica de artesanato e as casas mais antigas. Vimos os poucos sinais que restam do comunismo e duas cabeças de Lenine.

    Aproximámo-nos da Estação de Pesquisa Russa, a zona mais interessante, para mim. Parecia que estávamos num filme de James Bond e que, a qualquer momento, teríamos de fugir dali. Mas verdade é que os cientistas com quem me cruzo param para dizer olá. Eram simpáticos. A envolvente visual poderia ser a Lua, não estivessem ali veados a pastar. “Aqui são como vacas nos Alpes”, disse Iryna.

    Regressámos ao Polar Charter a caminho da capital e dois chineses, a residirem no Canadá, juntaram-se à viagem e decidem mostrar o vídeo de um urso gigante que encontraram a pé. “Que medo”, pensei eu. “Estávamos armados, mas sentimos medo. Acho que o urso também. Além de bem alimentado, são espertos já sabem que se estamos ali temos armas. Entrou no mar e seguiu a sua vida e nós também”, explicaram. O vídeo era impressionante!

    Chegámos a Longyearbyen. Era tempo de ir buscar a minha bicicleta e ir jantar ao Mary Ann’s Polarrigg, um hotel com restaurante muito exótico e local e mais original.

    Ali repeti o “trio árctico”, que inclui baleia, foca e rena, o bacalhau fresco selvagem e, de sobremesa, o crumble do dia de frutos vermelhos e para acompanhar um Riesling alemão.

    Findo o jantar, ganhei coragem para voltar de bicicleta para casa e apreciar a minha última noite branca em Svalbard.

    Cheguei à Guest House onde encontro Jérémie, o francês que nos chamou para ver a raposa do Árctico, e falámos sobre as histórias dos ursos… Jérémie, que estava a pensar ir até à cidade ver uns amigos, assumiu estar a ficar com medo. Ao lado faziam um churrasco e até parecia que estava a escurecer. Uma galhofa e só falávamos dos pesadelos que íamos ter com os ursos a entrar pelo dormitório.

    O serão chegou ao fim e, olhando pela janela, vejo a raposa do Árctico. Terá vindo despedir-se? Vou acreditar que sim. A nossa vida é um sonho e podemos acreditar no que quisermos.

    Raquel Rodrigues é gestora, viajante e criadora da página R.R. Around the World no Facebook e no Instagram.