Etiqueta: Oficina do Livro

  • O mundo é um lugar interessante, mas cheio de interesses

    O mundo é um lugar interessante, mas cheio de interesses

    Título

    As conspirações que mudaram o Mundo

    Autor

    FREDERICO DUARTE CARVALHO

    Editora (Edição)

    Oficina do Livro (Outubro de 2022)

    Cotação

    15/20

    Recensão

    “Não há conspirações que mudaram o mundo quando o mundo é já ele todo uma conspiração em andamento perpétuo.”

    Vivemos num mundo entre mundos. Por um lado, temos a ilusão da simplicidade entre os bons e os maus e a segurança de ignorarmos quem é quem. Do outro lado desta trincheira existe a real politique, o tentáculo do poder, o nepotismo e a complexidade gerada por jogadores da alta roda do Poder.

    É este o tema de fundo deste As conspirações que mudaram o Mundo, numa edição da Oficina do Livro. As conspirações de outrora e de agora e como é feito o jogo de todos os jogos.

    Natural da cidade do Porto, Frederico Duarte Carvalho é um jornalista com uma longa carreira, que passou pelas redacções de jornais como o Tal & Qual e o 24 horas, iniciando o seu percurso no diário O Primeiro de Janeiro ainda antes de finalizar os estudos na Escola Superior de Jornalismo na cidade invicta. Tem feito também colaborações pontuais no PÁGINA UM, sobretudo em temáticas históricas. 

    Neste seu (já) sétimo livro sob a forma de ensaio, regressa ao tema das conspirações ou mistérios, depois de Eu sei que você sabe: manual de instruções para teorias de conspiração (2003), Oswald Le Winter: poeta & espião (2005), Estado de segredos (2010), Camarate: Sá Carneiro e as armas para o Irão (2012), O Governo Bilderberg (2016) e O último segredo de Fátima (2019).

    Este livro é, contudo, uma espécie de obra autobiográfica, que celebra 30 anos de investigação, e onde o autor aproveita para revelar as raízes da sua curiosidade por estas temáticas, entre as piadas do irmão mais velho, os acontecimentos que a televisão mostrava e também uma assinatura de seis meses da revista Time oferecida pelo pai.

    Num estilo muito peculiar, Frederico Duarte Carvalho vai também desfiando, ao longo das páginas, as ligações entre acontecimentos e pessoas que à superfície aparentavam ser desconexas, como os casos de Camarate (morte de Sá Carneiro) e o do Irangate. 

    Através de testemunhos e conversas que foi colecionando, Frederico Duarte Carvalho oferece-nos assim a possibilidade de cruzar a fronteira entre a conversa ignorante de café e os desconfiados crónicos.

    Apesar de um estilo de escrita de fácil assimilação, para a leitura e compreensão de algumas temáticas, convém ter-se algum conhecimento prévio sobre determinados assuntos, como o Clube Bilderberg e as suas mãos cada vez mais visíveis. Neste aspecto, nota-se que Frederico Duarte Carvalho é um expert face ao detalhe da informação recolhida.

    Estamos, porém, paradoxalmente, perante um livro mordaz, bastante útil até para quem não quer pôr em causa o seu sistema de crenças ou a forma como olha para o mundo.

    Como diz o próprio, “qualquer que seja o ano haverá sempre uma conspiração”, porque “este é o mundo onde vivemos, onde a ignorância e secretismo fazem a delícia dos eleitos e poderosos.”

    Enfim, As conspirações que mudaram o Mundo é um bom livro, mas não é um livro bom; é difícil manter-se indiferente depois de o ler.

  • A sobranceria lusitana, versão internet

    A sobranceria lusitana, versão internet

    Título

    O segredo da descoberta portuguesa das Américas

    Autor

    JOSE GOMES FERREIRA

    Editora (Edição)

    Oficina do Livro (Novembro de 2022)

    Cotação

    9/20

    Recensão

    Nascido numa aldeia de Tomar, onde viveu até aos 14 anos, José Gomes Ferreira (JGF) é licenciado em Comunicação Social, pelo Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, da Universidade Técnica de Lisboa.

    Fez parte da redação da rádio TSF e do jornal Público. Desde 1992, está ligado ao canal de televisão SIC, na qual assume, actualmente, o cargo de director-adjunto de Informação. Além disso, é apresentador do programa Negócios da Semana na SIC Notícias e comentador nesta estação.

    Paralelamente, é autor de vários livros, como sejam O meu Programa de Governo (2013), Carta a um bom português (2014) e A vénia de Portugal ao regime dos banqueiros (2017), publicados pelo grupo Leya. Mais recentemente, JGF voltou-se para temas históricos, tendo publicado Factos escondidos da História de Portugal (2021) e surge agora com O segredo da descoberta portuguesa das Américas – ou as provas irrefutáveis de como Portugal chegou ao Novo Mundo antes de Cristóvão Colombo, ambos pela Oficina do Livro (também do grupo Leya).

    A referência ao primeiro livro de “História” do autor, juntamente com este “O segredo…” decorre do facto de o autor tentar pôr em prática, em ambos os casos, a ideia de descobrir um “ovo de Colombo”. Num primeiro vislumbre, o leitor mais inocente fica realmente incrédulo.

    Com efeito, ante tantas “provas irrefutáveis de como Portugal chegou ao Novo Mundo antes de Cristóvão Colombo”, como é que os historiadores e outros cientistas afins nunca se chegaram à frente e questionaram a narrativa dominante? Porquê a negação de tais provas documentais?

    Para JGF, a recusa em atender a determinadas fontes – muitas, afirma, queimadas pela Santa Inquisição, outras escondidas como segredo da Monarquia – está relacionada com o Tratado de Tordesilhas. Na sua perspectiva, a Monarquia Portuguesa não queria, de todo, revelar que os portugueses andavam por mares nunca dantes navegados, desrespeitando, assim, aquele compromisso assinado com o Reino de Castela.

    Tal como JGF foi em busca de informação na Internet, a fim de conseguir “provas irrefutáveis de como Portugal chegou ao Novo Mundo antes de Cristóvão Colombo”, também nós nos perguntámos sobre como era possível que só agora se descobrisse o “ovo de Colombo”, e ainda por cima, por alguém de tão reputada experiência científica nas áreas da História, Cartografia, Náutica, entre outras…

    Além de especular sobre o que poderia ter ocorrido entre 1472 e 1520, JGF usa fontes da forma que mais lhe convém, incluindo a fotomontagem de mapas de escalas incomparáveis. Basta lembrar que a precisão dos instrumentos de medição do século XXI é totalmente diferente da dos instrumentos usados pelos navegadores de finais do século XV.

    JGF tem o mérito de, pelo menos, nos fazer pensar sobre o método mais ou menos científico. Não obstante, para que as teorias sejam substituídas, é necessário mais do que aventar hipóteses confirmadas com recurso ao uso selectivo de determinadas fontes – não só questionáveis, mas também, por vezes, descontextualizadas.

    Uma das sugestões que se pode dar a JGF é em relação à revisão crítica deste “O segredo….”. Em vez de recorrer a um engenheiro, talvez tivesse sido mais frutuoso dar a ler e discutir as suas teorias a um historiador oficial, ainda que este fosse um forte defensor de uma antítese.

    De qualquer forma, JGF pode estar descansado, porque cobertura mediática não lhe falta, já que se pode dar ao luxo de promover o seu livro em programas da sua própria SIC, como foi o caso da “Casa Feliz”.

  • Um buffet de dicas saudáveis

    Um buffet de dicas saudáveis

    Título

    Seja um super-humano

    Autor

    MANUEL PINTO COELHO

    Editora (Edição)

    Oficina do Livro (Maio de 2022)

    Cotação

    16/20

    Recensão

    Para a maioria dos portugueses, Manuel Pinto Coelho dispensa apresentações. Muitos, pelo menos, terão já ouvido o seu nome, ou visto o seu rosto, na televisão, na estante de uma livraria, ao folhear uma revista ou um jornal, ou até em podcasts no Youtube.

    Nos últimos anos, este clínico com uma experiência de meio século de prática tornou-se numa cara conhecida da praça pública, amiúde associado a declarações controversas no seio da comunidade médica. Sorridente e bem-disposto, causou burburinho as suas posições sobre, por exemplo, a exposição solar desprotegida e a utilização de estatinas.  

    Licenciado em Medicina e Cirurgia pela Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa em 1972, Pinto Coelho teve uma formação académica convencional, mas a doença neurodegenerativa (esclerose lateral amiotrófica) que, no final do ano passado, vitimou o seu filho Bernardo, levou-o a procurar novas formas de potencializar a saúde humana. Desde então, publicou diversos livros – alguns tornando-se best-sellers, como Chegar Novo a Velho, em 2015 – e fundou ainda a sua própria clínica.

    Seja um super-humano – 50 hábitos que vão mudar a sua vida para sempre é, como o título sugere, uma compilação de várias recomendações com vista à melhoria da saúde. É uma espécie de manual que aborda um pouco de tudo. Por se tratar de uma lista bastante extensa de sugestões, nenhuma é desenvolvida com profundidade. No entanto, o autor resume essas sugestões com argumentos médicos.

    Com 50 propostas ao longo de 367 páginas, e destinadas a uma grande diversidade de leitores, mesmo daqueles não familiarizados com temáticas médicas, o livro acaba, naturalmente, por ser de carácter bastante geral e abrangente. Não se trata, pois, de aconselhamento médico personalizado, nem esse é o propósito. O objectivo é ser um ponto de partida que proporcione ao leitor um aporte de informação que lhe permita, depois, explorar e ir implementando cada hábito conforme as suas próprias particularidades. É como um mapa para a saúde.

    Seja um super-humano – 50 hábitos que vão mudar a sua vida para sempre fala assim de uma “prosperidade física”, algo que, para se alcançar, requer mais do que apenas uma alimentação equilibrada. É necessária, também, uma atenção ao ar que se respira, aos pensamentos que se entretém, às emoções com que nos ocupamos. E é por isso que este livro parece querer ser um guia completo para um estilo de vida, que abarca as várias dimensões do ser-humano: a física, mental e emocional.

    Encontramos todo o tipo de conselhos, tão variados em tema como no grau de especificidade. Desde os que aludem ao que comemos ao exercício físico. Uns na linha de uma sabedoria ancestral, alguns de senso comum ou bom senso, como “Faça exames às principais patologias”, e outros mais irreverentes, como “Beba água do mar”.  

    Em suma, este é um interessante “manual” para quem queira aprender a cuidar melhor do seu corpo (físico) ou manter-se em homeostase. Independentemente do nível de conhecimento, o leitor poderá aqui, de decerto, encontrar, ou recordar, algo de útil para a sua vida. 

  • As delícias de uma boa conspiração

    As delícias de uma boa conspiração

    Título

    Teorias da conspiração

    Autor

    Fernando Neves

    Editora

    Oficina do Livro

    Cotação

    17/20

    Recensão

    “O universo das teorias da conspiração está recheado de histórias inacreditáveis. Na maior parte dos casos, essas narrativas obedecem a um discurso que se assume como fora do sistema, uma espécie de contracorrente revolucionária.”

    Com um longa carreira feita em várias rádios portuguesas, Fernando Neves, que é também Mestre em Ciências da Comunicação e Tecnologias de Informação pelo ISCTE, escreveu um livro que funciona como o corolário dos mais de 120 episódios emitidos na Antena 1 sobre o tema das teorias da conspiração, disponíveis na RTP Play e também na plataforma Spotify.

    São histórias para todos os gostos, como a Área 51, as elites e extraterrestres que mexem os cordelinhos das nossas vidas rumo à Nova Ordem Mundial, ou mesmo sobre a (in)existência de Shakespeare.

    Há ainda a curiosidade particular da história de Joseph Gregory Hallett, que disse ter-lhe sido revelado, por entidades divinas, que existiram dois Jesus Cristos, primos, e  que viveram no Algarve, mais precisamente no Palácio de Carvalhal.

    Com algum humor à mistura, Fernando Neves demonstra uma pesquisa árdua na descoberta das origens e dos protagonistas de muitas destas teorias, muitas que fazem já parte do nosso quotidiano, e outras ainda menos conhecidas, como é o caso da alegada primeira tentativa de ida à Lua séculos antes de russos ou americanos gravitarem em redor da Terra.

    Esta é assim uma viagem fascinante que se propõe desvendar mistérios e encontrar respostas alternativas a grandes e pequenas perguntas feitas pela Humanidade ao longo dos tempos. Alguns desafiando a Ciência e a narrativa dominante, oferecendo outras possibilidades, por vezes rocambolescas, mas que, de alguma forma ou por insondáveis motivos, mantêm-se e conquistam adeptos um pouco por todo o Mundo.

    Ao longo de 430 páginas pode-se aprender, rir, assustar-se e ponderar até onde vai a distância entre a conspiração real e a imaginação humana, que consegue ser, muitas vezes, demasiado fértil.

    Este é alias o grande feitiço desta obra: ao percorrer todas as suas histórias, fica-se com a sensação de que nem todas as teorias da conspiração são fantasias, que vêm preencher um qualquer vazio explicativo que alicia um espectador menos informado. Algumas delas, mostram-se mesmo assustadoramente reais.

    Há livros que, segundo as Teorias da Conspiração, não devem ser lidos, sob pena de infortúnios, episódios psicóticos ou mesmo a morte. Este não é um desses livros. Aqui corre-se apenas o risco de saber mais, e ficar mais bem informado.