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  • JMJ: Tudo está bem para “todos, todos, todos”, e o Mundo está, obviamente, melhor…

    JMJ: Tudo está bem para “todos, todos, todos”, e o Mundo está, obviamente, melhor…


    Na passada semana, Lisboa foi palco das Jornadas Mundiais da Juventude (JMJ) e que contaram com a presença do Papa Francisco, um argentino nascido Jorge Mario Bergoglio. Segundo os órgãos de propaganda, o evento, que se prolongou por vários dias e teve lugar em vários locais, foi um retumbante sucesso, contando no último dia com a presença de 1,5 milhões de pessoas.

    Em sequência, os órgãos de propaganda foram pródigos em encómios ao Papa Francisco e à Igreja Bergogliana. Um discurso mereceu destaque, em particular quando Jorge Mario Bergoglio proferiu em castelhano as seguintes palavras: “…todos, todos, todos…na Igreja há lugar para todos”. De tão entusiasmado, o Papa Francisco até apelou à multidão a respectiva repetição do “todos, todos, todos”.

    Os excelsos “jornalistas” e “fazedores de opinião” de imediato desataram a elogiar as palavras do Papa Francisco. Tratava-se de um claro apelo à inclusão, onde se rematava que ninguém deve ser excluído de participar. Em tom emocionado, a comentadora Helena Ferro Gouveia dizia-nos, na CNN Portugal, que “…é uma igreja que quer estar próxima daquilo que pensam os leigos…uma igreja aberta”. Recordemo-nos que há dois anos e meio a senhora lançava rasgados elogios a um instrumento de segregação: o certificado digital. As portas do céu estão abertas a todos, mas nem todos as podiam atravessar.

    A comentadora Maria João Marques, num artigo do Público, não ficou atrás na sequência de panegíricos ao Papa Francisco, apesar de há dois anos dizer-nos que a sociedade deviapôr numa redoma essas pessoas que não querem tomar a vacina…de certa maneira tornaram-se perigosas”, ao afirmar que a reacção da “esquerda” às JMJ tinha sido um surto de jacobinismo agudo, numa óbvia crítica à intolerância!

    Miguel Esteves Cardoso, também no Público, congratulava-se pelo trabalho do Papa Francisco em favor da inclusividade. Afinal, ao contrário do que se possa pensar, os insignes comentadores são perfeitamente coerentes com a Igreja Bergogliana, dado que esta há dois anos restringiu a entrada na cidade do Vaticano apenas a pessoas na posse do Certificado Digital. As portas da Casa de Deus, mais uma vez, apenas se abriam para alguns.

    Tudo isto faz-nos lembrar o romance satírico de George Orwell, O triunfo dos porcos, onde uma das regras da quinta, depois da tirania imposta pelos porcos, tinha sido ajustada de “Todos os animais são iguais” para “Todos os animais são iguais, mas alguns são mais iguais que outros”.

    A melhor parte estava reservada para o comentário económico: João Franco, na CNN Portugal, falava-nos da “Economia de Francisco”: “É evidente a denúncia da teoria neoliberal dos mercados de regulação mínima, transformada em dogma de fé”. A inevitável pergunta coloca-se: em que planeta vive este personagem? Hoje, não há actividade económica sem restrições no acesso, seja através de taxas ou licenciamentos, que não esteja sujeita a pesadas regulações, ou até mesmo debaixo de órgãos supervisores com capacidade de inspeccionar, condenar e multar, e sempre sujeita a um pesadíssimo confisco, obviamente, garantido por actuações em cartel. O que há de verdade de novo ou inovador?

    João Ferreira, membro do Partido Comunista Português, até nos dava a entender que Mario Bergoglio é um fervoroso comunista – talvez seja!, não sabemos -, citando um dos seus escritos: “…a propriedade privada deve estar sempre subordinada ao destino universal dos bens e ao bem público. A este respeito, importa recordar um antecessor de Bergoglio no trono de São Pedro, João Pio XII, em especial a sua carta encíclica, Divini Redemptoris, publicada a 19 de março de 1937.

    Na referida carta, apresenta-se tal ideologia totalitária como uma “…doutrina nefanda do chamado comunismo, sumamente contrária ao próprio direito natural, a qual, uma vez admitida, levaria à subversão radical dos direitos, das coisas, das propriedades de todos e da própria sociedade humana”. Esta é há séculos a posição da Igreja Católica, desde sempre uma defensora dos direitos naturais (direito à vida, direito ao fruto do trabalho, direito à liberdade), pelo que o confisco do fruto do nosso trabalho a favor de um colectivo imaginário nunca foi um caminho que a sociedade devesse trilhar segundo esta, apesar de aparentemente ser esse o desejo de João Ferreira e Mario Bergoglio.

    O ramalhete das virtudes de Mario Bergoglio não estaria completo sem a “guerra às alterações climáticas”. Lá tivemos um manifesto entregue ao Papa Francisco pelo seminarista Tomás Virtuoso – o apelido diz tudo -, no âmbito da Jornada Mundial da Juventude, em que este explicou que o documento “deseja resolver o problema do ambiente e das alterações climáticas a partir do que o homem tem de mais grandioso”.

    Estranha-se que todos estejam absolutamente alinhados no mesmo discurso: a Igreja Bergogliana, a propaganda e os políticos. Talvez por isso a bancarroteira Visão – o grupo que a detém tem um calote ao Estado de 11,4 milhões de Euros – brindou-nos em uma das suas recentes edições com a fotografia do Papa Francisco, com o título: “O Papa da esperança e da mudança”.

    Esta é a mesma revista que há dias afirmava que “Julho foi o mês mais quente alguma vez registado na Terra”. Atenção, não é um máximo de 20 anos ou 40 anos, é mesmo um máximo desde que o planeta Terra existe! Talvez se tenha esquecido de dizer que é o mês com a temperatura mais elevada desde 1979, altura em que se começaram a utilizar satélites. Também se devem ter esquecido dos 50 graus registados em Paris em 1930; ou que a terceira década do século transacto foi a mais quente do século XX. Talvez seja ignorância ou desconhecimento; desconhecemos.

    Na verdade, não há qualquer esperança ou perspectivas de mudança vindas do Papa Francisco, da Igreja Bergogliana ou dos órgãos de propaganda nesta nova tentativa de manipular as populações.

    O objectivo é comum: entregar as nossas vidas, a nossa soberania, a um governo mundial. Reparem que a agenda é a mesma, a manipulação é a mesma. A inclusividade serve apenas alguns. O Estado apenas quer o nosso bem. As taxas de carbono e a destruição das fontes de energia barata servem unicamente o propósito de salvar o planeta e evitar que ardamos no inferno. As inoculações experimentais são um acto de amor. Tudo o que nos recomendam serve o bem comum!

    red and white pen on green textile

    Não se esqueçam, a Igreja Bergogliana dizia-nos há dois anos que estávamos a viver uma “terrível pandemia” e que a “vacina” era a nossa única salvação. Esta “ciência” foi desmontada pelo mais recente estudo de John Ioannidis, o médico mais citado do mundo, sobre a taxa de letalidade por infecção (IFR) da Covid-19 por idade, onde este estimou que a IFR do Covid-19 na era pré-inoculações experimentais era inferior a 0,1% para aqueles com menos de 70 anos!

    Após a festa das JMJ temos que dar-nos por satisfeitos: a casta parasitária perpetrou um novo assalto ao nosso bolso, os órgãos de propaganda reconciliaram-se com a Igreja Bergogliana, atendendo aos panegíricos sem fim que temos visto, e o mundo irá estar muito melhor com as ideias terceiro-mundistas do Papa Francisco, na verdade, um comunismo reciclado em palavras estéreis como inclusividade ou ecologia integral. Enfim, mais propaganda, mais manipulação, nada mais.

    Luís Gomes é gestor (Faculdade de Economia de Coimbra) e empresário


    N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.

  • O Estado: essa ficção onde, na realidade, uns poucos roubam os demais

    O Estado: essa ficção onde, na realidade, uns poucos roubam os demais


    Muitos consideram Frédéric Bastiat, um destacado economista francês do século XIX, como aquele que mais brilhantemente definiu o Estado: “A grande ficção através da qual todos se esforçam para viver às custas de todos os outros”.

    Apesar de praticamente não ver televisão, recentemente deparei-me com um programa sobre Economia na RTP3. O programa contava com a presença do Ministro das Finanças, Fernando Medina, e mais dois excelsos economistas. Embora tenha assistido apenas a três minutos, uma pergunta do moderador chamou a minha atenção. Era mais ou menos assim: “Sr. Ministro!, que medidas irá tomar para ajudar os portugueses, nomeadamente os mais débeis?”

    Close-Up Shot of a Person Wearing a Robber Mask

    Essas palavras deixam qualquer pessoa incrédula; é como se um bandido, após assaltar a vítima, com a máxima violência e extorquindo-lhe quase tudo, lhe dissesse: “Diz-me o que necessitas, eu sou teu amigo, estou aqui para ajudar-te!”.

    É hilariante: um Estado que confiscou 106 mil milhões de Euros à população portuguesa em 2022, algo em torno de 10 mil euros por português, incluindo idosos e crianças, tem o seu principal canal de propaganda a questionar o organizador do assalto sobre como irá “ajudar” as vítimas!

    Como chegámos até aqui? Ao longo da História, o número de parasitas no período feudal e na Monarquia Absoluta era relativamente pequeno; no entanto, não hesitavam em extorquir todo o rendimento da vítima, deixando-a, na maioria das vezes, com recursos insuficientes até para a própria sobrevivência.

    A Revolução Francesa e o advento das “democracias liberais” e do “Estado Social” mudaram por completo esta realidade. Agora, qualquer um aspira a fazer parte do grupo que parasita os demais. Hoje, esse grupo é muito alargado e vasto; inclui políticos, supervisores, bancos , integrando-se aqui os Bancos Centrais, funcionários públicos, artistas do regime, empresários amigos e muitos mais. A lista é infindável. Para alimentar tantas bocas, as vítimas têm agora de produzir muito mais do que no tempo dos regimes feudais.

    Woman on Rock Formation Holding a Flag

    Nada escapa à voracidade desta moderna casta parasitária: seja o fruto do trabalho, com o pesado e progressivo IRS – assaltar os “ricos” proporciona um maior butim –, seja a propriedade afectada pelos impostos IMI, IMT e imposto de selo, ou até o consumo sobrecarregado pelo IVA; ou ainda os ganhos de capital (mais-valias), os lucros tributados em sede de IRC, e, até mesmo, os donativos sujeitos ao imposto de selo. Mesmo na morte, não escapamos aos salteadores.

    Os consumos quotidianos também não escapam ao pesado fardo tributário. Seja o consumo de electricidade, combustíveis – sob o pretexto das “alterações climáticas” –, água ou comunicações, tudo é taxado e tributado sem qualquer pudor.

    Neste contexto, importa ter presente o que hoje passa um empresário para construir uma casa, um verdadeiro calvário burocrático. Primeiro, é necessário consultar o PDM (Plano Director Municipal), elaborado pela principal casta parasitária: os políticos. Em seguida, vem o pedido do PIP (Pedido de Informação Prévia) à Câmara; esse processo envolve o pagamento de taxas e uma longa espera pela resposta.

    assorted files

    Após obter o deferimento, deve submeter um projecto de arquitectura, mais uma vez pagando taxas e aguardando a aprovação. Se tudo correr bem, deve seguir com um projecto de especialidade, que, novamente, envolve pagamentos e espera por aprovação. Somente após esse passo, a obra pode finalmente começar, mas não sem antes ter de solicitar um alvará de construção, sujeito, obviamente, a mais taxas e espera.

    Durante a execução da obra, ainda há uma série de obstáculos a enfrentar. O empresário necessita de obter certificados, como o energético, o acústico e passar por inspecções das instalações de água, luz e gás. Novamente, cada etapa exige mais pagamentos e tempo de espera na aprovação.

    Quando a obra está concluída, devem ser solicitadas as telas finais, um conjunto de fotografias que comprovam que tudo foi realizado de acordo com o plano enviado aos parasitas burocráticos; contudo, ainda falta obter a licença de utilização, mais uma vez sujeita a taxas e longa espera. E, para completar o processo, é necessária uma certidão de infra-estruturas, resultando em mais pagamentos e espera.

    Todo o processo implica milhares e milhares de euros, tornando-se uma verdadeira roubalheira para aqueles que desejam apenas produzir algo. Essa excessiva burocracia e carga tributária são o exemplo dos tempos que vivemos, onde se passam horas a discutir o perigo da “extrema-direita”.

    Woman standing in room with unfinished walls

    O processo de licenciamento kafkiano, anteriormente descrito, não ocorre apenas para a construção; tem lugar em todos os sectores de actividade económica, servindo exclusivamente para eliminar qualquer concorrente, mas também, e principalmente, para encher os bolsos dos parasitas. No fundo, a hiper-regulação funciona como uma contrapartida às ofertas dos empresários estabelecidos, garantindo que qualquer aspirante a empreendedor seja sufocado desde o início.

    Para dar a aparência de um “combate” incansável aos gigantes do mercado, são aplicadas multas multimilionárias, perfeitamente pagáveis por estes, mas que apenas servem para promover a propaganda de que o Estado está “atento” em relação aos infractores. Todavia, é importante notar que essas acções são, muitas vezes, um simulacro de perseguição aos grandes nomes, já que a verdadeira intenção é sufocar a concorrência e favorecer os interesses dos empresários já estabelecidos.

    Se o concorrente não é eliminado logo à partida, assegura-se que seja sufocado posteriormente. Nada como uma regulação impraticável, por forma a criar um cenário em que os supervisores conduzem inspecções, processos de instrução, julgamentos e aplicam as respectivas multas. É um três em um: investigadores, julgadores e aplicadores de coimas.

    Man Holding Chess Piece

    O recurso aos tribunais acaba apenas por servir para confirmar a sentença, pois os juízes, na maioria das vezes, simplesmente não compreendem a complexa legislação; para eles, os companheiros de Estado devem ter toda a razão!

    O exemplo disto é a legislação ESG (Environmental, Social & Governance), que se aproxima, e que visa garantir que a maioria dos pequenos negócios seja destruída. Não tem painéis solares? Não tem suficientes homossexuais nos quadros? Não tem órgãos sociais paritários (homens vs. mulheres)? Não tem suficientes relatórios demonstrativos da sua transparência? Então, aqui vai a multa para colocar-se no seu lugar ou fechar de vez as portas.

    Neste futuro grandioso, a propriedade privada deixará de ter qualquer significado. Quem lá põe o dinheiro não manda; no seu lugar, terá a directora de cumprimento normativo ou os múltiplos inspectores, que nunca lá colocaram um tostão ou têm quaisquer responsabilidades.

    Neste Estado parasitário em grande escala, as eleições vencem-se sempre a prometer assaltar uma minoria para “dar” à maioria. Não consegue pagar a renda da casa? Não se preocupe: vamos assaltar os “ricos” e dar-lhe-emos uma “esmola”, obviamente com uma lista infindável de requisitos por forma a gerar muita propaganda e pouca despesa.

    Mosquito Biting on Skin

    Desta forma, garante-se que o saque tem poucas fugas. O alvo é sempre a minoria produtiva, tornada escrava e a pagar os milhões de subvencionados e dependentes do Estado – os que garantem as vitórias eleitorais dos parasitas. Este futuro será um misto dos regimes fascistas dos anos 30 do século transacto e do feudalismo, onde a propriedade privada apenas existe no papel.

    Este plano deverá ter em conta que no passado o assalto fiscal foi sempre insuficiente, os parasitas tiveram sempre de recorrer ao roubo mais silencioso de todos: a inflação. Durante décadas, mas em especial durante a putativa pandemia, os Bancos Centrais dedicaram-se a imprimir dinheiro sem fim, multiplicado várias vezes pela prática de reservas fraccionadas. Reparem: nenhum político discute esta fraude, que não é mais que um atentado à propriedade privada, limitando-se a insultos e umas tiradas grandiloquentes, mas sempre ocultando a origem do problema: a prática de reservas fraccionadas e o Banco Central.

    Anos a fio, o Banco Central Europeu manteve os juros em níveis baixos, chegando até mesmo a taxas negativas, gerando-se quase exclusivamente crédito por meio da emissão de dinheiro. Esse processo, naturalmente, gerou uma bolha sem precedentes nos activos imobiliários e financeiros. Desta forma, é notável que ninguém questione a subida exponencial dos preços das casas – nunca pensaram que é o dinheiro que vale menos e não as casas que valem mais?

    Curiosamente, os políticos culpam agora a Sra. Lagarde por essa situação, ignorando hipocritamente que esta garantiu as suas vitórias eleitorais durante a putativa pandemia, onde o dinheiro impresso para aquisição de dívida pública foi usado para comprar a submissão da população à tirania. Presentemente, a simples elevação dos juros para 5% ou 6% poderá significar a ruína daqueles que compraram casa há dois anos, enganados pelas políticas monetárias da Sra. Lagarde, que os levará a entregar as casas ao Estado com a corda ao pescoço.

    Durante este período, os desmandos da casta parasitária não tiveram limite; os privilegiados e próximos do poder encheram os bolsos com esta inflação canalizada para a compra de dívida pública, como é caso das farmacêuticas – milhares de milhões de vacinas inúteis –, das farmácias, dos laboratórios de análises clínicas e dos médicos oportunistas, como são os nossos conhecidos Dr. Froes e Dr. Guimarães.

    Até tivemos a bancarroteira nacional a assaltar-nos em 3,5 mil milhões de Euros, em nome do interesse estratégico nacional, que não foi mais que um pretexto para perpetuar sinecuras douradas dos apaniguados do regime e para proporcionar negócios fantásticos a empresários “patriotas”.

    Euro Pound Banknote Lot

    Qual será o futuro deste grandioso esquema de assalto? A maioria dos estados ocidentais irá entregar a sua soberania a instituições globalistas, centralizando-se todo o poder num governo mundial. Deixarão de existir lugares na Terra onde será possível a fuga à tirania; todos irão assaltar de forma concertada e até à última gota do nosso sangue.

    Podemos destacar a FATF, que servirá para garantir que qualquer Estado dissidente não permita qualquer fuga ou concorrência fiscal, o acordo internacional de assalto mínimo às empresas, a identidade digital, onde cada cidadão terá os seus dados biométricos numa base de dados acessível por este governo mundial. A cereja no topo do bolo deste radiante futuro serão as Moedas Digitais dos Bancos Centrais. Estas últimas são o perfeito instrumento de repressão e controlo sonhado há séculos por qualquer tirano.

    Enfim, nos tempos que correm, a definição do Estado de Frédéric Bastiat deveria merecer apenas um pequeno ajuste: “A grande ficção através da qual todos se esforçam para viver às custas de todos os outros recorrendo à tirania”.

    Lus Gomes é gestor (Faculdade de Economia de Coimbra) e empresário


    N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.

  • Será o Banco Central Europeu uma história invertida de Frankenstein?

    Será o Banco Central Europeu uma história invertida de Frankenstein?


    Nos últimos meses, uma pletora de políticos e jornalistas económicos tem-se insurgido contra as recentes subidas das taxas de juro na Zona Euro. No início de Julho de 2022, as taxas de juro situavam-se em 0%; a partir daí, foi sempre a subir. A mais recente subida, no último dia 21 de Junho, fixou os juros em 4%. Assim, um qualquer empréstimo ao Banco Central Europeu (BCE) por um banco comercial da Zona Euro implica encargos financeiros de 4% ao ano.

    Mas parece que as subidas não terminam por aqui. Talvez por isso, recentemente, um grupo de eurodeputados portugueses reuniu-se com Christine Lagarde, a presidente do BCE, para lhe dar conta de um grandiloquente alerta: após o Verão, o BCE deveria parar as subidas de juros por forma a que a Zona Euro não “morra por causa da cura”. É curioso, durante os anos a fio com juros 0%, ou até mesmo negativos – tal aconteceu durante a putativa pandemia–, nunca escutámos sublimes súplicas!

    Christine Lagarde, presidente do Banco Central Europeu.

    Como sempre, as classes médias são as que mais sofrem com estas devastadoras políticas, atendendo que as taxas Euribor, os indexantes dos empréstimos à habitação e altamente condicionadas pelas taxas de financiamento do BCE ao sistema bancário, já superam os 4%, como é o caso do prazo a 12 meses.

    Assim, no início de 2022, um empréstimo de 200 mil Euros, com um spread de 1,5% aplicado à Euribor a 12 meses (-0,45%) e com um prazo de 40 anos, implicava um pagamento mensal de 510 Euros; agora, com a Euribor a 12 meses nos 4,134%, significa um encargo mensal de 1.045 Euros. A duplicação do valor da renda em apenas um ano!

    Como ficou evidente pelo colapso das tiranias comunistas nos finais dos anos 80 do século transacto, o planeamento central é um completo falhanço. No entanto, e apesar de tudo, continuamos a acreditar que seis iluminados ao leme de um Banco Central são capazes de determinar o preço do dinheiro!

    Até nos asseguram que possuem poderes especiais, sendo até capazes de conhecer a preferência temporal de cada um dos milhões de particulares e dirigentes de órgãos sociais de empresas que interagem no mercado de poupança todos os dias. Aquilo que deveria resultar da oferta e procura por poupança num mercado livre, é substituído pela “opinião” de um grupo restrito de burocratas não eleitos – claro está, suportado “na leitura e análise” de enormes quantidades de informação enviada pelos bancos supervisionados.

    Foto oficial dos seis membros do Conselho Executivo do Banco Central Europeu, liderado por Christine Lagarde.

    Segundo a sua cartilha, o seu Santo Graal é nada mais nada menos que uma inflação-alvo de 2%! Não conhecemos as razões associadas a tal perfeição, mas fica sempre a pergunta no ar: por que não 1%, ou 0,5%, ou mesmo 0%; ninguém sabe, mas aparentemente ninguém os questiona!

    Uma coisa repudiam sempre: a deflação, esse terrível fenómeno que incrementa o poder aquisitivo das classes com rendimentos fixos. Aparentemente, algo que agora custa 100 Euros e que irá custar 98 Euros ou 97 Euros daqui a um ano é funestíssimo, dado que os consumidores diferem o seu consumo, “prejudicando” o consumo agregado! Ora, se eu necessito de comer ou vestir-me agora, por que razão irei adiar a minha compra?! Parece que ninguém tem a resposta.

    Apesar do seu enorme poder, estas instituições possuem um único produto: dívida, nada mais! Quanto mais dívida, maior o seu poder. Além disso, esta é criada a partir da contrafacção de moeda: para tal, basta um banco comercial solicitar um crédito ao Banco Central, com este último a creditar informaticamente a conta do primeiro; assim, do “nada”, desta forma simples, é criada nova moeda!

    Como chegamos até aqui? Como foi possível o aparecimento de tais instituições sem qualquer contestação?

    Christina Lagarde com Pierre Gramegna, director executivo do Mecanismo Europeu de Estabilidade.

    Importa recordar as razões da sua origem: o Banco Central é a criatura criada pelos bancos, semelhante ao romance de terror gótico de Mary Shelley, publicado pela primeira vez em 1818. Conta-nos a história do jovem cientista Victor Frankenstein, um estudante de ciências naturais que vive na Suíça no século XVIII, que criou um monstro.

    No caso dos bancos, este monstro foi criado para coordenar a prática de reservas fraccionadas entre bancos; a existência de um dissidente no saque à população – se o fizermos está-nos reservado o cárcere – era um perigo que importava eliminar. Assim, nada como um “monstro” a dirigir um cartel bancário para impor o roubo via inflação da população.

    No romance de Mary Shelley, no princípio, a criatura é rejeitada pelo seu criador, pelo que tenta integrar-se na sociedade humana, mas é constantemente repudiado e maltratado devido à sua aparência assustadora. Desesperado por amor e aceitação, a criatura começa a sentir uma profunda raiva e ressentimento em relação ao seu criador, Victor Frankenstein, e à Humanidade em geral.

    Em busca de vingança, a criatura confronta Victor Frankenstein e exige que ele lhe crie uma companheira, uma criatura semelhante, com a promessa de que irá desaparecer para sempre da sua vida. No princípio, Victor Frankenstein concorda, mas depois muda de ideias por medo das consequências de criar uma nova criatura, ainda mais horripilante que a primeira.

    Participantes do Forum do Banco Central Europeu que se realizou em Sintra no final de Junho.

    A criatura, enfurecida e sentindo-se traída novamente, passa a perseguir Victor Frankenstein e a ameaçar a sua família. A história culmina numa série de eventos trágicos e violentos, que levam a um confronto final entre Victor Frankenstein e a sua criação, levando à morte do primeiro.

    A pedido dos seus criadores, o monstro teria de assegurar o saque à população de forma silenciosa, criando dívida e dinheiro sem fim. Em certo dia, atingiu uma dimensão desmesurada,  superior a 7,2 biliões de Euros, passando a colocar em perigo a sua imagem pública, em resultado da elevadíssima inflação que provocou.

    Tal como no romance de Mary Shelley, por forma a vingar-se, o monstro decide assassinar os seus criadores: será através do Euro Digital, onde cada carteira digital indicará o número de tokens existentes, impossibilitando a contrafacção de dinheiro pelos bancos.

    Será a sua morte às mãos do monstro. Com o seu fim, o monstro tornar-se-á a super criatura que controlará a vida de todos os cidadãos, ocupando o lugar cimeiro de uma tirania sobre a humanidade: o que consumimos, quanto consumimos, a que horas consumimos, com quem transaccionamos, o que podemos consumir, se temos direito a um rendimento mínimo, quanto nos retiram em impostos, em que zona geográfica podemos consumir no caso de confinamento…no fundo, o epicentro de um crédito social chinês.

    No romance de Mary Shelley, o monstro acaba a chorar a morte do seu criador; na nossa história, será ao contrário: o monstro rejubilará com todo o poder que alcançou com o desaparecimento dos seus criadores.

    Luís Gomes é gestor (Faculdade de Economia de Coimbra) e empresário


    N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.

  • Combater a inflação: decrete-se o aumento de salários?

    Combater a inflação: decrete-se o aumento de salários?


    Recentemente, políticos, banqueiros centrais e colunistas nacionais têm comentado o fenómeno da inflação. Uns dizem que se deve ao aumento das margens de lucro das empresas, outros, que resulta do aumento dos salários! Até há quem diga que simplesmente apareceu do nada! Na verdade, mais parece o jogo da adivinha: onde está a bolinha?

    Como solução, alguns dizem-nos que agora importa subir salários, nem que seja por decreto, por forma a compensar os trabalhadores por conta de outrem da subida do custo de vida. À primeira vista, estas soluções são sempre mágicas e simples, com ninguém a questionar-se por que razão não se decreta de imediato a subida do salário mínimo para os 5.000 euros, por exemplo!

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    Acontece que os salários apenas podem subir quando há aumento de produtividade, caso contrário, seria a falência de qualquer empresa. Apenas com maior produção de bens e serviços por hora trabalhada tal é possível.

    A prosperidade económica depende, essencialmente, do capital fixo acumulado per capita, tendo de existir previamente poupança (lucros e rendimento não aplicado em consumo), mas também, embora menos importante, dos métodos de organização do trabalho – melhores processos, melhor organização, melhor gestão, etc.

    Utilizo várias vezes este exemplo: um analfabeto e um engenheiro numa ilha têm basicamente a mesma produtividade. Ambos lograrão produzir praticamente o mesmo durante um dia de trabalho, apesar das diferenças gritantes na sua formação. No entanto, um engenheiro irá produzir mais na Alemanha do que em Portugal, simplesmente porque na primeira existem mais máquinas, computadores, estradas, fábricas, ou seja, mais capital fixo per capita que no segundo; e, obviamente, melhores métodos de organização do trabalho.

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    Mas, de imediato, surge a pergunta dos habituais socialistas de serviço: depois de ter investido em novas tecnologias, uma empresa passa a beneficiar de custos unitários mais baixos e maiores margens de lucro, como irá aceitar partilhar essa vantagem adquirida com os colaboradores?

    Num mercado livre, maiores margens de lucro atraem concorrentes. Para se estabelecerem novas empresas, é necessário que estas proponham melhores salários aos colaboradores das empresas já estabelecidas, reduzindo, por essa via, os lucros extraordinários então existentes.

    Esta “luta” cíclica, investimento, vantagem por via de custos e diferenciação – como é caso dos produtos da Apple, por exemplo -, atracção de novos concorrentes, é que permite a prosperidade de uma sociedade. Fruto de maior capital fixo acumulado per capita, produz-se mais por hora produzida.

    Eis que surge outra pergunta dos habituais socialistas de serviço: mas as empresas não têm poder para subir preços de forma unilateral e concertada, como agora parece estar a acontecer?

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    A única entidade que cria barreiras à entrada a novos concorrentes é o Estado. Para tal, existem vários métodos, em que destaco três: o licenciamento, a regulação e os elevados tributos sobre as empresas – na verdade um roubo.

    No caso do primeiro, temos burocratas durante meses ou anos a fio a decidir se determinado projecto avança ou não, criando todos os incentivos à corrupção – quem não se lembra do Freeport? – e obrigando o proponente do projecto a suportar elevados custos até à obtenção da licença – muitas vezes não é deferida! -, desde o pagamento de advogados e “especialistas” na elaboração do pedido de licença, a custos de funcionamento durante a “apreciação” do projecto. Quem pode suportar tais processos de licenciamento? Obviamente, não são as pequenas empresas.

    No caso da regulação, esta obriga à contratação artificial de colaboradores – mais custos que não servem para melhorar o produto ou o serviço ao consumidor – para áreas de cumprimento normativo e a enormes investimentos em tecnologia e processos – mais custos – por forma a cumprir com as “exigências” da regulação e a responder aos supervisores – relatórios, inspecções, etc. Como sempre, apenas as grandes empresas sobrevivem em tal contexto.

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    Por fim, os elevados tributos, o que cria uma vez mais enormes barreiras à entrada. Vejamos o caso do negócio de retalho de combustíveis, onde num litro de gasolina o ladrão-mor leva 60% a 70%; o que significa? Uma brutal redução do tamanho do mercado. Se este mercado representa, por exemplo, 100 milhões de euros, significa que efectivamente vale apenas 30 a 40 milhões de euros; mais uma vez, apenas os fortes sobrevivem numa tal selva de bandidos. 

    Como vimos, a concentração de poder em cartéis é o resultado exclusivo da intervenção Estatal, não só nos aspectos sobreditos, mas também derivado da intervenção monetária. Os juros 0% dos Bancos Centrais reduzem drasticamente o papel dos bancos na intermediação da poupança, pois ninguém está interessado em aplicar aí as suas poupanças, preferindo o mercado de capitais, em particular os de maior dimensão e mais líquidos, como é o caso das bolsas de valores norte-americanas.

    Foi precisamente o que aconteceu nas últimas décadas, em que o bar aberto do “crédito grátis” – na verdade crédito criado com uma impressora de notas – servia apenas os “matulões” – Apple, Amazon, Tesla… – em cima do balcão, quer por via do endividamento para compra de acções próprias quer por via dos capitais aplicados por particulares e institucionais nas suas acções.

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    Como podemos constatar, num mercado livre, a empresa que sobe preços para obter maiores margens é de imediato “posta no seu lugar” pela concorrência; não é o caso de mercados cartelizados, onde é possível concertar subidas de preços. Estes casos são apenas possíveis com intervenções estatais.

    Para aparecer investimento, o que é essencial?

    Um empresário apenas irá investir se existir segurança jurídica, ou seja, protecção da propriedade privada. Não é por acaso que sociedades clássicas, como a grega ou romana, ou a Itália do período renascentista foram capazes de estabelecer economias muito avançadas; tal foi possível, dado que a propriedade privada era protegida.

    Ninguém vai investir na Venezuela, onde o Sr. Maduro pode confiscar o negócio num dia mal-humorado, ou no mercado de arrendamento em Portugal, onde o proprietário não tem liberdade para solicitar o preço que entende.

    Mais uma vez, o maior agressor da propriedade privada é nem mais nem menos o Estado. Os impostos e a inflação são dois esquemas de assalto tão monumentais, que nem mesmo o mais engenhoso dos bandidos imaginaria tal coisa.

    O primeiro é realizado de forma sub-reptícia, com as empresas a reterem impostos e contribuições em nome do bandido-mor, ou ludibriando, através da criação de diferentes conceitos àquilo que sai do mesmo bolso – segurança social do trabalhador e do empregador! O segundo, não é mais que um roubo silencioso, onde o ilusionista utiliza todos os truques: subida de margens, salários, guerra da Ucrânia…

    Recordemo-nos que o fenómeno da inflação resulta em exclusivo do aumento do dinheiro em circulação; numa era em que o padrão-ouro foi abandonado há mais de 50 anos, desde então, através do seu Banco Central, o exclusivo da emissão de dinheiro pertence ao Estado.

    Esta situação é severamente agravada pela prática de reservas fraccionadas, que não é mais que um roubo legalizado, uma falsificação de dinheiro por parte dos bancos, onde o dinheiro que possuem – reservas do Banco Central – é uma ínfima fracção do valor dos extractos bancários dos seus clientes. Por essa razão, dizem-nos que é um sistema “baseado na confiança”: não levante o dinheiro que é seu, confie!

    A man in a black suit loosening his tie

    Acontece que esta falsificação é mais um método de tributação (leia-se assalto) e redistribuição, dos produtores para os falsificadores (bancos) e para aqueles que estão no início da cadeia do novo dinheiro; durante a putativa pandemia, foram nada mais nada menos que os apaniguados do Estado, as farmacêuticas, as farmácias, os laboratórios de análises clínicas, os retalhistas de fraldas faciais, os escritórios de advogados do regime, burocratas, médicos vendedores de vacinas, etc.

    Quando os falsificadores e os primeiros da cadeia gastam o “seu dinheiro” provocam a subida dos preços, obtendo uma maior proporção da riqueza produzida pela sociedade, em prejuízo daqueles que se encontram no final da cadeia, que, infelizmente, se deparam com preços mais elevados.

    Talvez por isso, alguns “economistas”, colunistas e políticos interpretaram a inflação de preços como um método desesperado pelo qual as empresas, a sofrerem com a inflação monetária, tentam recuperar o controlo dos recursos económicos através do aumento de preços, pelo menos a um ritmo tão rápido, se não mais rápido, quanto o Estado imprime novo dinheiro.

    Entre o início da putativa pandemia e o início da guerra da Ucrânia, o dinheiro em circulação subiu a um ritmo anual de 16%! Para o mesmo período, o petróleo, a principal matéria-prima industrial do mundo, a sua principal fonte de energia, subiu 361%, ao ritmo anual de 122%.

    Subida/ Descida de vários activos e do agregado monetário M2- Zona Euro entre o final de Março de 2020 e o final de Fevereiro de 2022 (Unidade: %)
    Fonte: Banco de Portugal, Yahoo Finance e análise do autor

    Em segundo lugar, se o novo dinheiro é criado por meio de empréstimos bancários às empresas (prática de reservas fraccionadas), como muitas vezes acontece, o dinheiro inevitavelmente distorce o padrão de investimentos produtivos.

    A inflação monetária, por meio de empréstimos às empresas, causa não só investimento excessivo em bens de capital, como, por exemplo, matérias-primas industriais, imobiliário, automóveis, mas também incentiva a especulação financeira, atendendo que tanto empresários como consumidores são iludidos pelo “dinheiro grátis” – totalmente artificial, em resultado da distorção dos juros, no sentido descendente, pelo Banco Central.

    O investimento em acções de empresas não é mais do que um investimento indirecto em bens de capital e uma forma de especulação financeira. Durante a segunda década do século XXI, o BCE e o Banco Central norte-americano, a FED, estiveram anos a fio com juros a 0% e a imprimir dinheiro como se não houvesse amanhã, onde reinou a mais descontrolada especulação financeira.

    a person stacking coins on top of a table

    Como podemos observar, entre Novembro de 2011 e o início da putativa pandemia, as obrigações do Estado falido grego subiram mais de 550%, a um ritmo anual de 25%, e o índice bolsista Nasdaq 257%, a um ritmo anual de 17%.

    Durante esse período, o novo dinheiro não foi gasto em matérias-primas industriais ou em actividades produtivas, mas sim em especulação: as grandes empresas norte-americanas pediam crédito a 0% aos bancos, que o fabricavam do “ar”, e compravam as suas próprias acções com o objectivo de elevar o seu preço – maiores bónus para os gestores.

    Os bancos na Europa iam a leilões de obrigações de Estados falidos, como é caso grego e português, comprando-as para as revender com enormes lucros ao BCE, que as adquiria com “dinheiro de monopólio” – era só dar ao botão do computador.

    Subida/ Descida de vários activos e do agregado monetário M2- Zona Euro entre o final de Novembro de 2011 e o final de Março de 2020 (Unidade: %)
    Fonte: Banco de Portugal, Yahoo Finance e análise do autor

    Por outro lado, há um subinvestimento relativo em indústrias de bens de consumo, provocando a médio prazo escassez de oferta, agudizada pelos criminosos confinamentos que destruíram as cadeias de abastecimento durante a putativa pandemia. O resto é história: agora, está aí a conta para pagar, com os mais fracos a serem, como sempre, os grandes perdedores.

    Em conclusão, o Estado e os parasitas que o rodeiam são os únicos beneficiários da inflação; por essa razão, são os únicos que têm de devolver o saque dos últimos anos, baixando radicalmente os impostos – subindo por esta via os salários líquidos – ou devolvendo o dinheiro roubado às pessoas. Não é, certamente, obrigando o sector produtivo a suportar maiores custos com salários a solução.

    Luís Gomes é gestor (Faculdade de Economia de Coimbra) e empresário


    N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.

  • 2023 = 1984: a realidade já é a distopia?

    2023 = 1984: a realidade já é a distopia?


    O livro 1984, de George Orwell, retrata um regime distópico e totalitário dominado pelo Partido Interno, que governa a superpotência fictícia chamada Oceânia. Os membros do partido desfrutam de benefícios não acessíveis às demais classes sociais, o Partido Exterior – segunda divisão – e os Proles – o proletariado.

    Esses privilégios passam por melhores roupas, alimentos e bebidas mais abundantes ou moradias mais confortáveis. Tal como a restante sociedade, os membros do partido são constantemente monitorados pelo Grande Irmão, uma figura omnipresente que representa o líder supremo. O partido usa tecnologia avançada, como dispositivos de vigilância em todos os lugares, inclusive nos domicílios, para vigiar e controlar as actividades dos seus membros.

    white red and black wall art

    A verdade é uma construção completamente manipulada pelo partido, que controla a narrativa e distorce os factos, de acordo com seus interesses políticos, através do Ministério da Verdade. Os registos históricos são alterados, os documentos são destruídos e até mesmo fotografias são manipuladas para se adequarem à narrativa oficial.

    As crianças são doutrinadas desde cedo a serem leais ao partido, mais importante que qualquer laço familiar, e incentivadas a denunciarem qualquer comportamento ou pensamento considerado desviante, incluindo dos próprios pais.

    A relação entre guerra e paz é uma das principais ferramentas de manipulação usadas no controlo da população. Existe uma “guerra perpétua” com as outras duas superpotências, a Eurásia e a Lestásia. Essa estratégia visa manter a população num estado de constante medo e tensão, além de justificar todo o tipo de controlo rígido sobre todos os aspectos da vida.

    O partido manipula a informação de forma sistemática e altera constantemente a narrativa da guerra para se adequar aos seus objectivos políticos. Por exemplo, num dado momento, o partido pode afirmar que estão em guerra com a Eurásia e que a Lestásia é um aliado, mas noutro momento, a narrativa é invertida, e a Lestásia torna-se o inimigo.

    photo of Gardens by the Bay, Singapore

    Será que a ficção 1984 não será já hoje uma realidade?

    Há dias, tivemos a reunião de Verão do Fórum Económico Mundial que se realiza todos os anos na China – apesar da propaganda nos dizer que a China apoia a Rússia “contra” o Ocidente. Na prática, foi mais uma reunião dos membros do Partido Interno.

    Nestes eventos, um grupo de multimilionários não-eleitos determina de que forma seremos governados. O líder destes encontros de Verão e membro do Partido Comunista da China, o Sr. Li Qiang, no seu discurso de abertura, falou-nos da incontornável putativa pandemia dos últimos três anos: “A Covid-19 não será a última crise de saúde pública que a humanidade enfrentou. A governança global da saúde pública necessita ser aprimorada”.

    Tradução: vêm aí mais “pandemias” – antigamente, emergências inesperadas que ocorriam num intervalo de mais de 50 anos –, mais “inoculações experimentais”, a identidade digital, em que necessitamos que as populações entreguem a soberania dos seus países a organizações globalistas não eleitas, como a Organização Mundial de Saúde (OMS), para que esta restrinja a nossa liberdade de circulação, através de certificados nazis, como forma de chantagear e ameaçar os dissidentes não disponíveis para “dar o bracinho”.

    woman in black off-shoulder dress

    A este respeito, nos últimos dias, o Ministério da Verdade já anunciou que os fabricantes das inoculações experimentais já reservaram inventário para uma “futura pandemia”. Dominam o passado e futuro!

    Para além do discurso de abertura, tivemos vários encontros paralelos, com as usuais menções à “transformação”, “reconstrução”, “emissões zero”, “sustentabilidade”, “estabilidade alimentar”. Tradução: um governo mundial, aliado a multinacionais monopolistas, com energia caríssima para os pequenos negócios, por forma a arruiná-los, usando a fraude das “alterações climáticas”, e gafanhotos no prato da populaça, em lugar de carne de vaca – a flatulência destas é perigosa para o “clima”.

    Da guerra ao “Vírus”, passámos para a guerra entre a “Rússia e o Ocidente”, tendo a Ucrânia como palco de “batalha”; apesar disso, no final de 2022, na cimeira do G20, a primeira e a China juntaram-se ao segundo para propor o aumento da vigilância e a censura sobre a “desinformação” na Internet, implementar CBDCs (Moedas Digitais dos Bancos Centrais) e introduzir passaportes digitais de “vacinas”, com base “na experiência” da putativa pandemia.

    Também temos “intervalos” na guerra, onde os líderes ocidentais visitam a toda a hora Kiev – durante esse intervalo já repararam que nunca caem bombas –, com o propósito de abraçar o “Novo Churchill”, o “democrata” que encerra televisões, prende opositores e suspende actos eleitorais até ao “final da guerra”. Mesmo com acções de terrorismo de Estado, onde se destroem infra-estruturas de milhares de milhões de Euros, nenhum dos beligerantes parece estar interessado em apurar responsabilidades. A perfeita manipulação do Ministério da Guerra.

    Guerra é paz e paz é guerra, onde as únicas vítimas são os ucranianos e russos que se matam entre si, em nome dos valores “democráticos” do Ocidente, da “integridade territorial” da Ucrânia – quantos silêncios tivemos quando era o lado “certo” a invadir – ou da “desnazificação” pelos russos, com os dois autocratas – um há mais de 20 anos no poder – a acumularem poder e riqueza sem fim, tal como a máquina militar dos Estados Unidos, que tem vindo a realizar bons negócios à conta dos papalvos europeus, que se limitam a “lançar” sanções económicas contra o seu principal fornecedor de energia.

    A verdade é mentira e a mentira é verdade. Há mais de 100 anos, a inflação era definida como o aumento da quantidade de dinheiro em circulação; mais massa monetária à procura dos mesmos bens e serviços levaria inevitavelmente à subida generalizada dos preços. Agora, nada disso, segundo o Ministério da Verdade, trata-se de um índice de preços elaborado pelos governos, precisamente os que mais beneficiam com o assalto silencioso às massas – em 2022, à boleia da inflação, o Estado português assaltou a população em 106 mil milhões de Euros, qualquer coisa como 10 mil Euros por pessoa.

    Entre o final de 2019 e o final de 2021, a Sra. Lagarde aumentou o seu balanço em 4 biliões de Euros (12 zeros), que serviu para os bancos imprimirem dinheiro como se não houvesse amanhã (o agregado M2 atingiu um ritmo de crescimento anual de 16,7%!), provocando que a maioria dos preços das principais matérias-primas registasse subidas vertiginosas entre o início da putativa pandemia e o final de Fevereiro de 2022 – início da guerra da Ucrânia –, como foi o caso do Petróleo e do Gás Natural que subiram 351% e 169% respectivamente.

    Apesar da evidência, a Sra. Lagarde veio-nos dizer que “as alterações climáticas afectam a inflação…a inflação é a fera… que os banqueiros centrais…querem domar e disciplinar”! Terá sido o CO2 que levou a Sra. Lagarde a comprar, com dinheiro de monopólio, as obrigações de Estados falidos aos bancos, para estes implementarem o roubo aos contribuintes a favor das farmacêuticas, laboratórios de análises clínicas, farmácias e apaniguados do poder durante a putativa pandemia?

    Depois do escol ter aplaudido os engodos às massas “oferecidos” pela Sra. Lagarde, levando-as a comprar casas com taxas 0%, “entaladas” agora com juros acima de 5%, em nome da saúde primeiro e a economia vê-se depois!, temo-lo agora “muito aborrecido” – apenas crocodilos a chorarem lágrimas – com a receita da Sr. Lagarde para enfrentar a elevada inflação que ela mesmo criou! Nas últimas semanas, detalhou-nos o plano:

    pink pig coin bank on brown wooden table

    O Meijengro da República, membro do Partido Exterior, disse-nos que os “bancos centrais devem ter muito cuidado com aquilo que dizem“. Tradução: não dêem nas vistas, caso contrário, a populaça apercebe-se do assalto que lhes foi perpetrado. Uns dias antes, escutáramos esta pérola sobre o mesmo tema: “É possível que não se tenha nenhuma verdade segura sobre o futuro”.

    O seu ajudante ainda logrou atirar-nos com uma pérola superior: “O aumento de lucros extraordinários tem contribuído mais para a manutenção da inflação e não as subidas salariais. Isto limita muito a capacidade do enfrentar porque se não acertamos bem no diagnóstico a terapia raramente acerta”! Reparem, a culpa nunca é deles, é sempre do Prol ou das empresas que lhes pagam as contas.

    Entretanto, o projecto do Euro Digital avança a todo o vapor, será, em conjunto com a identidade digital, um autêntico gulag digital que nos será servido, onde será possível ao Estado vigiar e rastrear todas as nossas compras, deslocações, rendimentos e preferências.

    closeup photography of gold-colored ornament

    Tal como o Ministério da Verdade de “1984”, os órgãos de propaganda garantem-nos que tudo será uma maravilha, jamais o BCE estará interessado em partilhar dados de cidadãos com os governos. Tal como nos diziam durante a putativa pandemia: há que confiar nas autoridades!

    Tal como era previsível, os bancos, autênticos braços armados do Partido Interno, começam agora a “desbancarizar” cidadãos dissidentes da narrativa oficial. Desta vez, foi o político Nigel Farage, um dos grandes impulsionadores do Brexit, algo que não agradou ao Partido Interno e que permitiu aos britânicos verem-se livres da URSS/ União Europeia.

    Uma relação de décadas com um banco, onde aí tinha a sua conta individual e de negócios, comunicaram-lhe que por “razões comerciais” as suas contas seriam encerradas. Não lhe valeu de nada ir bater à porta de vários bancos, pois nenhum o aceita como cliente. Isto é o que irá acontecer a quem não alinha na “narrativa oficial” do Partido Interno.

    Depois da guerra na Ucrânia, temos agora a guerra na França, onde hordas de imigrantes decidem destruir tudo no seu caminho, em lugar de confiar nos tribunais e no Estado de Direito, próprio de uma sociedade civilizada.

    blue and yellow striped country flag

    O agente do Partido Interno lá do sítio, que há um ano e meio queria “irritar os não vacinados”, praticando a segregação e incitamento ao ódio, e foi capaz de esmagar qualquer resistência ou revolta da população à tirania Covid-19, não logra agora proteger a propriedade privada dos franceses. Para ele, a culpa nunca será da imigração descontrolada que ele promove, mas, pasme-se, das Redes Sociais!

    Neste sentido, o Ministério da Verdade, em coordenação com a URSS/União Europeia, já vem em seu auxílio, através de uma nova directiva que contém estas preciosidades:

    • As plataformas terão de parar de exibir anúncios para utilizadores com base em dados sensíveis, como a religião e opiniões políticas. O conteúdo gerado através de inteligência artificial, como vídeos e fotos manipulados, conhecidos como deepfakes, terá de ser identificado. Tradução: têm de vigiar e identificar todas as notícias que nos desagradam;
    • As empresas também terão de realizar avaliações anuais dos riscos que as suas plataformas representam numa série de questões, como a saúde pública, a segurança infantil e a liberdade de expressão. Elas serão obrigadas a apresentar as suas medidas para lidar com tais riscos.” Tradução: retirem o conteúdo que possa colocar em causa as miraculosas vacinas e censurem qualquer opinião dissidente;
    fire burning on the road with high rise buildings during daytime photography
    • Empresas externas vão auditar os planos das empresas proprietárias das plataformas. A equipa de fiscalização da Comissão Europeia terá acesso aos seus dados e algoritmos para verificar se estão a promover conteúdos prejudiciais, como aqueles que coloquem em risco a saúde pública ou durante as eleições.” Tradução: tenham cuidado, pois teremos direito a entrar nas vossas instalações, sem aviso prévio ou respeito pela propriedade privada, para ver se censurais o que vos ordenamos, em particular durante as putativas pandemias ou a realização de eleições “livres”, para as quais desejamos obter os “resultados certos”.

    George Orwell ficaria agora assustado com a nossa realidade: já supera 1984.

    Luís Gomes é gestor (Faculdade de Economia de Coimbra) e empresário


    N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.

  • Alice no País dos Lusitanos

    Alice no País dos Lusitanos


    No livro “Alice no País das Maravilhas”, publicado originalmente em 1865, o escritor britânico Lewis Carroll conta a aventura de uma jovem que cai num buraco de coelho e começa uma viagem num mundo surreal e mágico.

    A narrativa começa com a Alice a seguir um coelho branco, apressado, num mundo estranho chamado País das Maravilhas. Lá, ela encontra uma série de personagens peculiares, como o Chapeleiro Maluco, a Lagarta Azul, a Rainha de Copas e o Gato de Cheshire, cada um com características e personalidades únicas.

    O Chapeleiro Maluco conta então, se bem me recordo, uma história irreal e fantasiosa sobre o Reino das Maravilhas, que fazia parte de uma confederação de reinos e prestava vassalagem a um Imperador.

    Mad Hatter costume photography

    Era um dos reinos mais pobres; e, por essa razão, o Rei e os seus ministros imploravam a toda a hora por mais dinheiro junto do Imperador, atendendo que os brutais tributos a que o povo era submetido sempre pareciam insuficientes para cobrir as colossais despesas.

    É certo que o Imperador também não possuía quaisquer recursos, mas possuía uma incrível máquina que produzia dinheiro, uma autêntica magia! Sempre que os reis pediam dinheiro, a máquina começava a cuspir notas e moedas sem fim; desta forma, o Imperador mantinha os seus vassalos felizes, apesar do descontentamento dos povos da confederação, pois os preços, à conta disso, estavam sempre a subir.

    A Corte tinha assim uma vida sumptuosa, o Rei e os ministros viajavam a toda a hora de avião para outros reinos.

    De todos, o Rei era o que gostava mais de viajar. Também gostava muito de ir à praia. Por vezes, até fabricava motivos para viagens oficiais para dar um saltinho a um areal e dar um mergulho em águas quentes.

    O Rei e o seu principal ministro adoravam trapacear o povo, contando-lhe histórias incríveis para o ludibriar e fazer-lhe crer que o amavam muito. Sempre que se encontravam, riam-se a bandeiras despregadas das muitas patranhas que contavam ao povo. Uma vez, até lhe fizeram crer que existia uma doença muito maléfica, para assim o prender em casa e obrigá-lo a tomar uma substância que diziam curar e prevenir a maleita e salvar desde velhinhos caquéticos a jovens robustos. Disseram-lhe que só assim lhe devolviam a liberdade.

    white rabbit standing on grass

    Para além de viajar de avião, o Rei também gostava muito de futebol. Muitas vezes, até tinha por hábito jantar com os jogadores uns dias antes das pelejas, só com o fito de lhes desejar sempre boa sorte. Acreditava também que era um amuleto mais eficaz do que o artilheiro de pés de ouro nascido numa recôndita ilha do reino. Às vezes, até gostava de discutir a táctica com o treinador, ficando altas horas da noite em amena cavaqueira, enquanto se alambazava a petiscos e beberes.

    Certa vez, na véspera de um jogo importante, talvez por estar demasiado concentrado na partida, até se esqueceu de um compromisso: a abertura de um memorial às vítimas de uns incêndios que tinham ocorrido há muitos anos nas florestas do reino e que vitimaram muitas pessoas. Apesar da negligência dos serviços do reino, o Rei e os ministros nunca assumiram as responsabilidades por tal tragédia.

    Espantados com tal ausência, os súbditos pediram uma audiência ao Rei para conhecer os motivos. O Rei não se deixou intimidar. Para espanto de muitos, a sua resposta foi simples e directa: apenas tinha tido conhecimento da abertura oficial, marcada para a semana posterior, pelos órgãos de propaganda do reino, por essa razão, nem à abertura lhe seria possível ir.

    Neste Reino das Maravilhas, não era apenas o Rei que apreciava muito o futebol. O seu principal ministro também. Por exemplo, certa vez, a meio da viagem de avião ao reino dos moldavos, decidiu fazer uma escala para ir assistir a uma partida de futebol, o que gerou muita indignação, pois estas viagens, para além de serem muito dispendiosas, eram sempre pagas pelo povo.

    Mas o Rei tinha sempre uma boa história. Para terminar com aquele burburinho, disse que nada de especial tinha acontecido, apenas a falta de gasolina a meio da viagem; por mera coincidência, ocorrera ali uma partida de futebol e o seu ministro aproveitou para passar o tempo e dar um abraço a um súbdito especial que ali estava, enquanto o avião era reabastecido. Coisa de meia hora.

    Mas a revolta não cessava, com muitos a questionarem-se como tal tinha sido possível, pois parecia-lhes improvável um ministro tão experiente não ter instruído correctamente os pilotos no planeamento da dita viagem. Para acalmar os seus súbditos, disse-lhes que afinal não tinha sido falta de gasolina, mas apenas uma decisão de última hora do seu ministro; afinal, tal como o Rei, ele gostava muito de futebol.

    A agitação teimava em continuar no Reino das Maravilhas. Tinha sido a falta de gasolina ou uma decisão de última hora? As dúvidas persistiam. O ministro, a pedido do Rei, informou os súbditos que o seu gabinete ia dar uma justificação cabal sobre o assunto. Passados uns dias, ela apareceu: tinha recebido um convite para o jogo de futebol e decidira aceitar, atendendo que apenas obrigava a uma paragem a meio do caminho.

    O povo, obnóxio e arruinado por avultados impostos, tinha aprendido uma lição. O Rei e os ministros necessitavam de divertir-se para lhes proporcionarem um bom governo. Tão-só. Não valia a pena levantar dúvidas ou solicitar explicações, no final, era claro que existia sempre um fundo nobre a guiar todas as decisões: o eterno amor ao futebol, essencial ao espírito de uma boa governação.

    group of people playing soccer on soccer field

    Para além destes contos mirabolantes do Chapeleiro Maluco, recordo-me que, no livro de Lewis Carroll, a Alice depara-se com mais situações absurdas e ilógicas. Ela encolhe e cresce de tamanho várias vezes, participa de um chá insano com o Chapeleiro Maluco e a Lebre de Março, joga com flamingos e ouriços e testemunha um julgamento maluco conduzido pela Rainha de Copas.

    Durante a sua jornada, Alice tenta entender as regras e a lógica desse mundo estranho, mas descobre que tudo parece estar ao contrário daquilo a que está habituada. As conversas com os personagens levam-na a questionar conceitos de identidade, linguagem, realidade e lógica.

    Finalmente, Alice acorda e percebe que tudo o que aconteceu foi um sonho: afinal, tinha sido uma visita fantasiosa ao País dos Lusitanos.

    Luís Gomes é gestor (Faculdade de Economia de Coimbra) e empresário


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  • A grande porca e os seus leitõezinhos

    A grande porca e os seus leitõezinhos


    Este último Sábado, 10 de Junho, o Dia de Portugal, lá tivemos mais um “novo escândalo” do regime, proporcionando páginas, vídeos, caricaturas e notícias sem fim acerca do mesmo.

    Reza assim o “escândalo”: após o término das comemorações, no momento em que António Costa, o actual primeiro-ministro, e a sua mulher se dirigiam a pé para o local do repasto, no Peso da Régua, foram “incomodados” por uma manifestação de professores, onde alguns empunhavam cartazes com a caricatura de António Costa, retratado como um porco com dois lápis nos olhos.

    Com a irritação do momento, envolvendo também a sua mulher, parece que António Costa atirou com a palavra “racista” aos manifestantes. Mais tarde, ao ser interpelado pelos órgãos de propaganda, atirou: “é um direito de manifestação… com melhor gosto, com pior gosto, com estes cartazes um pouco racistas, mas pronto, é a vida“.

    Todo o regime rasgou as vestes, numa defesa em uníssono do grande líder; até apareceu um grupo (qual foi o critério da selecção?!) de advogados que nos brindou com esta pérola: “Estamos claramente perante uma situação de discurso de ódio, em que os limites foram ultrapassados”.

    Os glosadores do regime, há décadas a comentar a política nacional, logo vieram a terreiro condenar os cartazes. Um deles até afirmava: “Fazem qualquer pessoa decente e de bem, estar do lado do primeiro-ministro e também até do ministro da Educação.”

    Reparem, temos as pessoas de bem, exactamente a mesma expressão usada pelo líder da “extrema-direita” nacional: “os portugueses de bem”. Aparentemente, todos partilham da visão maniqueísta da sociedade: há os bons e há os maus. Eles são obviamente os bons.

    Para nossa surpresa, parece que apenas houve um dissidente que não tomou as dores do primeiro-ministro: o nosso Presidente da República, o “guardião” da Constituição da República Portuguesa (CRP)! Questionado sobre se as imagens dos cartazes presentes no protesto eram racistas, afirmou que “não ofende quem quer, ofende quem pode“. Sem mais!

    Mas, pasme-se, uma das promotoras da actual revisão constitucional ilegal, em que um funcionário administrativo, em lugar de um juiz, pode decretar a prisão domiciliária do cidadão, ignorando as restrições impostas pelo artigo 288 da CRP, veio insurgir-se contra as palavras do Presidente da República: “Marcelo jurou defender a constituição, o que é algo objectivo. Defender os valores objectivos da constituição passa por não os desvalorizar em função de uma aparente avaliação subjectiva do caso e que passou a ser o caso de Marcelo. O caso chama-se racismo e prejudica todos.

    É hilariante o apelo ao respeito pela CRP quando se ignorou, ao longo dos últimos três anos, os atropelos à mesma, incluindo o próprio Presidente da República.

    Para além de cartazes “racistas”, também consideraram que os manifestantes promoviam o “discurso do ódio”!

    Quem não se recorda do artigo de uma das apaniguadas do regime, intituladoE agora, o que fazer com os chalupas?”, para além de se arvorar em cientista – “…hidroxicloroquina e ivermectina, fármacos comprovadamente ineficazes–, também libertou o seu fel nos não vacinados: “É, pois, preciso consequências, imediatas, rápidas e duras”. Ou quando no seu Twitter chamava os não vacinados de “calhaus”? Alguém se indignou com este claro discurso de ódio? Não me parece.

    A associação de políticos a animais é algo que vem de longe. Quem não se recorda da caricatura “Política: a Grande Porca”, desenhada por Rafael Bordalo Pinheiro no início do século XX, em que este associava a política a uma grande porca que amamentava uma ninhada de bacorinhos, cada um deles representando partidos políticos e os seus membros, identificados por siglas nos respetivos traseiros.

    Quem não se recorda do livro “O Triunfo dos Porcos” de George Orwell, publicado em 1935, em que Estaline era satirizado através de um porco chamado Napoleão, o vilão da história, e Trotsky pelo porco “Snowball”?

    No início do presente regime, quem não se lembra da crítica mordaz do grande mestre e já falecido José Vilhena, em que este representava Mário Soares, Álvaro Cunhal, Freitas do Amaral e Francisco Sá Carneiro como galinhas a receberem o milho de uma cesta com a legenda FMI, na primeira das três bancarrotas do actual regime socialista?

    Ou, mais recentemente, quem não se recorda de ver o líder da “extrema-direita” nacional ser representado como um sapo, publicado num blog da “extrema-esquerda”?

    O que dizer do agora “ofendido” primeiro-ministro, quando este apelidava os membros de outro partido político de “queques que guincham”? Para além de animais, estavam histéricos.

    O que me parece é que o regime alimenta de propósito estas polémicas frívolas, com o intuito de nos fazer esquecer os temas essenciais. E são muitos, mas importa não os discutir.

    Ocorreu alguma discussão sobre o envelhecimento do corpo docente das escolas, mal pago e sem prestígio social, de que outrora gozava? Não, apenas temos de apurar se os seus cartazes eram ou não racistas; se o primeiro-ministro foi ou não vítima da sua fúria.

    Não importa discutir a inflação galopante, e que está a obliterar o poder de compra das classes com rendimentos fixos, sem nunca discutir sua verdadeira origem: o Banco Central Europeu. Não se discutem igualmente as causas da actuação em cartel por parte da banca comercial, que há décadas remunera os aforradores abaixo da inflação. A política do Banco Central a este respeito é discutida? Não.

    Também não se discute a prática de reservas fraccionadas da banca, a maior responsável pela inflação que vivemos, em que se lhes permite imprimir dinheiro, algo vedado ao comum dos mortais.

    Não importa discutir o caminho a que o Ocidente está a ser conduzido, em particular para um governo mundial, controlado por multimilionários não eleitos, numa espécie de regresso ao feudalismo. Alguém discute a permanente perda de soberania da maioria dos Estados-Nação a favor de instituições globais não eleitas, controladas por estes senhores?

    Ninguém logra associar a presente revisão constitucional ilegal, com o acordo dos dois principais partidos socialistas (que nos dizem ser oposição um do outro!), com a aprovação do novo tratado pandémico da OMS. Alguém discute esta nova perda de soberania, em que indivíduos não eleitos e financiados pelo Sr. Gates podem determinar se um cidadão pode ou não viajar, se tem ou não de carregar uma fralda facial a toda hora?

    O que dizer da adopção pela Organização Mundial de Saúde do certificado digital da União Europeia (UE) e que permitirá controlar todas as nossas viagens ao estrangeiro? Passará a ser obrigatório em conjunto com o passaporte? Seremos obrigados a inocular-nos com todas as substâncias experimentais produzidas pela indústria farmacêutica? Bem que o ex-primeiro ministro do Reino Unido, Tony Blair, nos tinha avisado há uns meses de que múltiplas inoculações estavam a caminho e que eles precisavam de saber quem as tinha tomado!

    A identidade digital junto com as novas moedas digitais dos bancos centrais (central bank digital currency, ou CBDC) serão o nosso Gulag.

    Enquanto isso, a agência nacional da propaganda dizia-nos que tudo isto é para o nosso bem, tudo idílico, tudo romântico, pois “ajudará a facilitar a mobilidade global e a proteger os cidadãos de todo o mundo contra as ameaças à saúde actuais e futuras”. Não menciona qualquer crítica às palavras dos poderosos, apenas uma transcrição. Os jornalistas limitam-se a escrever o que os seus mestres ventríloquos lhes ditam.

    Recordemo-nos que o certificado digital da UE nos foi vendido com base numa mentira, que se sabia desde o início ser uma mentira, isto é, que as inoculações experimentais covid-19 não evitavam a transmissão do vírus nem a infecção.

    Assim, o tal certificado, para além de ser uma ferramenta de segregação, de discriminação absurda, própria de um regime nazi, não certifica absolutamente nada. Então por que razão esta terrível ferramenta de controlo continua a fazer caminho, sem qualquer oposição ou discussão nos órgãos de propaganda?

    O que dizer da actual ditadura fiscal, em que os Estados assaltam praticamente 50% do nosso rendimento, eliminando a liberdade económica, essencial à prosperidade do mundo Ocidental? Hoje, recrutados aos milhões para reguladores, polícias, inspectores, revisores, auditores, temos na verdade uma pletora de agentes que nada produz, apenas nos incomoda e nos persegue. Serve apenas para perseguir e condicionar a actividade económica. Alguém as discute, em particular o seu efeito devastador sobre a prosperidade económica?

    O que dizer de toda a soberania entregue à UE, em que o parlamento nacional nada decide, limitando-se a transpor a legislação imposta por um corpo de burocratas não eleitos, impondo custos e burocracias sem-fim às pequenas empresas?

    Por fim, ninguém discute a ordenação ESG (Environmental, social and corporate governance), uma ferramenta que irá permitir às grandes empresas e reguladores eliminar os pequenos negócios, retirando-lhes energia barata, através dos combustíveis fósseis, condicionando-lhes as contratações, onerando-os substancialmente e obrigando-os a expor todos os seus segredos empresarias, em nome da “transparência”. Um dia destes, sem uma boa pontuação ESG ninguém terá acesso a crédito.

    Estas realidades nunca são objecto de discussão, apenas as polémicas da grande porca e os seus leitõezinhos.

    Luís Gomes é gestor (Faculdade de Economia de Coimbra) e empresário


    N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.

  • Crise nos certificados de aforro: mais uma peça de teatro?

    Crise nos certificados de aforro: mais uma peça de teatro?


    Tivemos mais uma polémica do regime. Desta vez, foi o cancelamento da série E dos Certificados de Aforro, a tal que proporcionava uma taxa bruta de 3,5%, e que foi substituída pela série F com uma taxa de “apenas” 2,5%, que, contas feitas, representa cerca de 30% inferior à primeira.

    Isto foi o suficiente para se levantar um “coro de protestos”, insinuando-se a velha questão de que os Governos estão “a mando” da banca; esta, ao sentir os depósitos bancários dos seus clientes a fugir, “pressionou” o governo e este, de imediato, “baixou as calças” e suspendeu a “fantástica” série E dos 3,5%.

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    Em face deste insidioso cancelamento, a “extrema-direita” decidiu chamar ao Parlamento o Ministro das Finanças; de imediato, para não ficar atrás, a “extrema-esquerda” solicitou uma audiência de urgência ao mesmo ministro das finanças, o Dr. Medina. Para completar o ramalhete, o segundo principal partido socialista do regime não abandonou a arenga e soltou a acusação de que o Governo estava a “acabar com a classe média com mudança nos certificados”.  

    Como o leitor pode imaginar, isto não é mais que uma gigantesca encenação das muitas há muito praticadas pelo regime, semelhante àquela ida a um bar ao lado da Assembleia da República, onde depois de uma sessão parlamentar acalorada, um deputado da nação, depois de uma palmada nas costas, dirige-se ao outro: – “Desculpa lá, mas hoje, no calor da discussão, excedi-me, não merecias!”; – ao que o outro responde: – “Não há problema, somos todos amigos, afinal estamos todos no mesmo barco, ambos vivemos à custa do desgraçado povo português”.

    Há décadas que os aforradores portugueses estão a ser assaltados, mas apenas extemporaneamente alguém se indigna. Basta-nos observar o que se passa nos últimos 11 anos. Comecemos com a inflação em Portugal, que é quase sempre superior à taxa a que os bancos (taxa MROs) se financiavam junto do Banco Central Europeu (BCE).

    Evolução da inflação (%) em Portugal e das taxas (%) de financiamento ao sistema bancário praticadas pelo Banco Central Europeu (BCE) entre Abril de 2011 e Junho de 2023. Nota: MROs são as taxas praticadas pelo BCE para as operações principais de refinanciamento. Fonte: Banco de Portugal. Análise do autor.

    Durante 76 meses, entre Março de 2016 e Junho de 2022, os bancos puderam obter empréstimos junto do BCE à caríssima taxa de 0%, repito 0%, autêntico dinheiro grátis. Desde 2011, apenas durante um período de 10 meses, as taxas de juro praticadas pelo BCE foram superiores à inflação, ou seja, praticamente desde a existência do BCE, os bancos puderam solicitar empréstimos ao BCE a taxas de juro reais negativas!

    Sendo assim, por que razão iriam pagar fosse o que fosse aos desgraçados dos aforradores. O leitor ainda não reparou que nos últimos anos os clientes tornaram-se um verdadeiro empecilho para os bancos?

    Vamos lá à questão relevante: o leitor aceitava emprestar as suas poupanças a uma taxa que nem cobre a inflação? A resposta parece-me óbvia.

    Vejamos o caso de 2022, o leitor tinha uma poupança de 100 Euros e desejava comprar um brinquedo para o seu filho que custava igualmente 100 Euros. Caso desejasse deferir essa compra para o ano seguinte e depositasse a sua poupança num banco, com sorte, iria possuir no final do ano 101 Euros aproximadamente; no entanto, o brinquedo já custaria 108 Euros! E se depositasse no fantástico certificado de aforro da série E, entretanto cancelada, teria 103,5 Euros, mesmo assim insuficiente para pagar os 108 Euros!

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    O assalto aos aforradores ocorre desde o aparecimento do BCE, mas ninguém quer discutir o elefante na sala. Qual a diferença entre o leitor e o BCE? O leitor tem de trabalhar para obter rendimento e deferir consumo para lograr obter uma poupança, enquanto o BCE, com um simples apertar de um botão do computador, faz aparecer o dinheiro – autêntica magia! – em nome de um estímulo à economia. O leitor se o fizer, o calabouço será o seu destino mais certo, pois não trabalha para o bem comum.

    Para além da repressão financeira, juros que não cobrem a inflação, temos recentemente uma inflação galopante. Os órgãos de propaganda do regime dizem-nos que a culpa é da guerra na Ucrânia ou mesmo da ganância pelo lucro por parte dos executivos das grandes superfícies. Na verdade, Estado, Bancos Centrais e bancos fazem parte do mesmo grupo de salteadores, todos coordenados na verdade. Os partidos apenas servem para distrair as atenções.

    Em 2020, tivemos a putativa pandemia, onde todos íamos morrer e ir à falência. De imediato, apareceu o nosso anjo salvador: com a impressora, iria resgatar-nos de uma quase certa crise financeira!

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    Fica sempre a dúvida: se é assim, qual a razão para o Zimbabué e a Venezuela não serem enormes potências económicas, já que imprimir dinheiro é uma arte por aquelas paragens?

    Entre o início de 2020 e Junho de 2022, o balanço do BCE subiu 4 biliões (4 seguido de 12 zeros). Esta massa monetária serviu para comprar toda a dívida emitida pelos vários Estados europeus. Este dinheiro gerou aquela frase que desbaratava: primeiro a saúde, a economia vê-se depois!

    Para onde foi? Para as pessoas ficarem em casa a não trabalhar, para as empresas de análises clínicas, para o pagamento de fornecedores das várias empresas do Estado, através de ajustes directos, para as farmacêuticas – quem não se recorda das 10 doses por cidadão? -, para horas extras dos profissionais de saúde, para os órgãos de propaganda difundirem o terror a toda a hora. Uma festa!

    Evolução do balanço do BCE, em biliões de euros, entre 2011 e Junho de 2023. Fonte: Banco de Portugal. Análise do autor.

    Qual era o fluxo deste dinheiro: o estado realizava um leilão de dívida pública, os bancos compravam e depois vendiam ao BCE, com este a pagar com dinheiro de monopólio – aquele que o leitor tem de obter com o suor do seu trabalho. No final, quando o BCE recebia o pagamento de juros do Estado, devolvia-lhe uma parte a título de dividendos! Estão a ver: todos felizes!

    Foi um préstito de apaniguados em festa! Até tivemos o Presidente do Conselho de administração – agora é mais pomposo chamar-se Chairman – da Bancarroteira Nacional a dizer-nos que era “hora de ligar as rotativas do BCE sem limites!”.

    Enquanto as rotativas do BCE operavam sem limites durante a putativa pandemia, cada Euro do nosso bolso valia cada vez menos, operando-se a maior transferência de riqueza dos pobres e classe média para as castas superiores da sociedade, obviamente, tudo em nome do bem comum.

    Variação (%) do preço de diferentes matérias-primas (contratos futuros nas bolsas norte-americanas) entre 30 de Março de 2020 e 23 de Fevereiro de 2022. Fonte: Yahoo Finance. Análise do autor.

    Entre o final de Março e 23 de Fevereiro de 2022 – atenção, antes do início da Guerra da Ucrânia -, as principais matérias-primas subiram exponencialmente nos mercados internacionais, como o Petróleo e o Gás Natural que subiram 351% e 169% respectivamente; mas parece que só deram conta do fumo expelido pela rotativa depois do início da guerra em nome da “liberdade e da democracia”.

    Enfim, tratou-se de mais uma excelente peça de teatro, em que uma parte do gang simulou a sua indignação com a violência do assalto à população perpetrado pela outra parte. Passado uns dias, a borregada lá irá voltar à sua “vidinha” e encolherá os ombros sempre que as suas poupanças são assaltadas. O culpado, garanto-vos, nunca será identificado!

    Luís Gomes é gestor (Faculdade de Economia de Coimbra) e empresário


    N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.

  • Faz sentido o dinheiro não ter pátria?

    Faz sentido o dinheiro não ter pátria?


    Actualmente, nos cursos de Economia, ou mesmo da escrita ou da boca dos principais fazedores de opinião especializados em Economia, é muito comum escutarmos os chavões Keynesianos de que o Estado ou o Banco Central necessita de “estimular” a Economia.

    As duas principais escolas de pensamento económico, os Keynesianos e os Monetaristas (os discípulos de Milton Friedman), estão de acordo que a preocupação primordial é manter a despesa agregada.

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    Em momentos de recessão, os primeiros defendem o incremento dos défices e da dívida pública como forma de “estímulos” à economia; os segundos, que os Bancos Centrais desatem a imprimir dinheiro, reduzindo os requisitos de reservas dos bancos e as taxas directoras, levando à subida de preços e evitando, desta forma, que o PIB recue.

    No caso de Milton Friedman, ele até se regozijava com o colapso dos acordos de Bretton Woods em 1971, momento em que o Ouro deixou de ter qualquer papel no sistema monetário e o Dólar norte-americano (USD) de ser convertível a uma paridade fixa contra o Ouro (na altura em torno de 35 USD por onça).

    A partir dessa data (1971), as moedas tornavam-se fiduciárias, deixando de estar ancoradas a uma matéria-prima, o Ouro, que tinha sido o dinheiro da humanidade durante 5 mil anos, passando a flutuar livremente nos mercados (taxa de câmbio), de acordo com a oferta e a procura.

    O valor de uma dada moeda deixava de estar nas reservas de Ouro ou em USDs, convertíveis em Ouro, mas apenas porque o Estado emissor a decreta com curso legal, isto é, nenhum comerciante ou homem de negócios a pode recusar em pagamento e serve em exclusividade para pagar impostos.

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    As pessoas têm “fé e confiança” no seu uso como intermediária de todas as trocas na economia. Em conclusão, o valor da moeda fiduciária é baseado principalmente na confiança e estabilidade do Estado emissor e na economia que representa.

    A partir de 1971, os Bancos Centrais passaram a imprimir as reservas do sistema bancário na quantidade que desejassem, sem quais restrições, apenas com o apertar de um botão de computador, deixando de estar condicionados por essa relíquia bárbara, o Ouro, que foi substituída por dívida pública.

    Na prática, a força monetária das divisas tinha desaparecido, atendendo que para além de deixarem de serem escassas, o Banco Central passava a poder inundar o mercado com nova oferta de moeda, através do aumento das reservas dos bancos. As emissões de reservas passavam a ser por contrapartida de dívida pública, o activo que veio substituir o Ouro.

    Daqui resultaram duas situações. O país com a moeda reserva do Mundo, os Estados Unidos, podia fazer crescer a dívida pública e os défices a perder de vista, atendendo que cada vez que havia uma inundação do mercado por novos USDs, estes tinham sempre procura internacional: países terceiros necessitavam de USDs para liquidar importações ou exportações ou para emitir dívida pública.

    Ainda hoje, os Estados Unidos beneficiam deste estatuto, mas está em risco de o perder, em resultado do descalabro das suas contas públicas e a permanente ameaça, através do exército norte-americano, que exerce sobre os países que desejam verem-se livres do sistema financeiro assente no USD. Vejamos as últimas notícias sobre a adesão ao grupo dos BRICs.

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    Os demais países, sempre que eram negligentes com as suas contas públicas, isto é, imprimiam dinheiro para cobrir défices e emitiam nova dívida pública, sofriam uma queda da sua moeda nos mercados internacionais, pois não existia procura internacional por essa nova moeda lançada ao mercado.

    Com o lançamento do Euro em 1999, associado a um enorme Banco Central, como é o caso do BCE, veio permitir a países como Portugal deixassem de estar condicionados pela disciplina dos mercados; era a entrada numa nova era de “regabofe” de défices e dívida pública a perder de vista.

    A evolução da dívida pública portuguesa é o espelho perfeito da evolução que expus anteriormente. Até à implementação da democracia, a dívida pública era praticamente inexistente, atendendo que o então Escudo estava ancorado a uma das maiores reservas (8º) de Ouro do Mundo.

    A adesão de Portugal a um enorme Banco Central fez disparar a dívida pública, com uma subida absolutamente meteórica para os actuais 280 mil milhões de Euros.

    Evolução da dívida pública portuguesa entre 1947 e 2020 (em milhares de milhões de Euros). Fonte: Banco de Portugal. Análise do autor.

    Sempre que existem dificuldades, o problema é facilmente resolvido através de novos estímulos: o governo emite dívida pública e os bancos compram; de seguida, estes vendem ao Banco Central, bastando-lhe emitir novas reservas a favor dos bancos. No final do período, o governo ainda recebe dividendos do seu Banco Central!

    Com tantos estímulos, tal como defendem as duas principais escolas de pensamento económico, já devíamos ser uma Suíça? Não, as taxas de crescimento económico anteriores à implementação da democracia são muito superiores, aproximando-se da estagnação económica com a adesão ao Euro.

    Estes dados desmentem por completo as teorias económicas reinantes, pois com reduzida dívida pública, contas públicas no verde e uma moeda forte, ancorada numa das maiores reservas de Ouro do mundo, foi possível obter crescimentos económicos nunca vistos para economia portuguesa.

    Evolução da taxa (%) de crescimento real do PIB português entre 1953 e 2020. Fonte: Banco de Portugal. Análise do autor.

    A permanente sangria das contas públicas a partir da implementação da democracia é uma evidência como se pode constatar na imagem seguinte.

    Um importante aspecto é sempre ocultado destas análises económicas mainstream: é fundamental a existência de poupança, sem a qual não é possível ocorrer a acumulação de capital. O capital não vem de uma impressora de notas, mas pela restrição de consumo que é posteriormente investido em capital fixo (fábricas, máquinas, computadores…), o verdadeiro motor da prosperidade.

    Para haver poupança, é fundamental que a moeda seja uma reserva de valor; o seu valor aquisitivo permaneça e o dever permanecer ao longo de décadas e séculos; e porquê? A pessoa sabe que pode acumular moeda com segurança, que não irá perder valor.

    As moedas fiduciárias falharam clamorosamente neste aspecto, como demonstrei em artigo anterior. O Bitcoin foi a resposta a este problema, pois não está controlado por ninguém, muito menos por Estados com um apetite insaciável por mais despesa pública.

    Evolução (%) dos défices públicos em percentagem do PIB. Fonte: Banco de Portugal. Análise do autor.

    Após a publicação do livro “A Desnacionalização do Dinheiro”, o grande economista austríaco Friedrich Hayek, em resposta a uma pergunta colocada por um jornalista dizia: “Não acredito que venhamos a ter boa moeda até que a retiremos do Governo…Não podemos retirá-la das mãos do Governo à força. Tudo o que podemos fazer é, de alguma forma matreira e remota, introduzir algo que ele não seja capaz de travar.

    Sem o Estado fora do dinheiro, não é possível sairmos desta estagnação económica a que nos conduziram.

    Luís Gomes é gestor (Faculdade de Economia de Coimbra) e empresário


    N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.

  • O Estado é o nosso Calisto Elói de Silos e Benevides de Barbuda

    O Estado é o nosso Calisto Elói de Silos e Benevides de Barbuda


    No romance de Camilo Castelo Branco, A queda de um anjo, o personagem Calisto Elói de Silos e Benevides de Barbuda é um fidalgo português da província. Casou-se por interesse com Teodora Barbuda de Figueiroa, igualmente, claro está, de boas famílias. Era um amante da tradição e dos bons costumes.  

    Em certa altura, a vida perfeita de Calisto foi abalada com a sua eleição como deputado, obrigando-o a partir para Lisboa. Na capital, ele conhece uma mulher chamada Adelaide e apaixona-se loucamente, sentindo, pela primeira vez, o verdadeiro amor.

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    Mas, para desgraça de Calisto, Adelaide não correspondeu ao amor de Calisto, dado este ser um homem casado – esta, aparentemente, tinha princípios. Desta forma, Calisto teve de virar-se para outras paragens. E assim aconteceu. Pouco depois, ele conhece a jovem viúva do general Ponce de Leão, uma brasileira loira, com cerca de trinta anos. Esta aceitou o amor de Calisto para obter uma pensão. Calisto apaixona-se perdidamente e monta-lhe uma casa. A partir deste momento, foi a total transformação de Calisto: passa a adoptar costumes modernos que antes condenava; o verdadeiro Calisto, aquele que sempre existira, enfim, revelara-se, finalmente.

    O Calisto dos portugueses é o Estado. É tão amado, mas tão amado, que os portugueses depositam nele toda a sua confiança. Nas suas instituições, nas suas agências de notícias, nas suas certificações, nos seus estudos, nas suas estatísticas.

    Os portugueses e os demais povos ocidentais têm uma espécie de relação infantilizada com o Estado. Adoram ser inimputáveis, serem tratados como criancinhas, receberem ordens e directrizes. No fundo, o papá Estado é tudo na sua vida!

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    Não logram ver que existem regras distintas para eles e para o Estado. Se um privado, como a Dona Branca, defrauda os demais com um esquema piramidal, deve ser severamente punido.

    Apesar de tudo, ninguém se atreve a apontar o dedo à Segurança Social, um fraude sem paralelo e que apresenta apenas duas diferenças em relação ao celebérrimo e falecido Sr. Madoff: (i) a adesão ao esquema é obrigatória, com ordem de cadeia para quem se recusar a aderir; (ii) a saída do esquema é apenas possível no momento em que o Estado assim o decide, sejam 60, 62, 65 ou 70 anos. O Sr. Madoff usava os seus encantos para captar os clientes, enquanto o Estado diz-nos que estamos a praticar solidariedade intergeracional!

    Se um privado manipula o mercado, “prática que consiste em alguém que tem uma influência significativa sobre a oferta ou procura de determinado instrumento financeiro, aproveitar-se dessa possibilidade de forma a distorcer o preço de referência, pode ser punido com uma pena de prisão até três anos ou com pena de multa. E o que acontece aos Bancos Centrais que todos os dias manipulam os preços das obrigações com dinheiro de monopólio? Nada, estão a “estimular a economia”, estão a “trabalhar para o nosso bem”.

    Como podemos ser tão facilmente ludibriados por um lento e sub-reptício confisco a tudo o que produzimos: pagamentos por conta, retenções na fonte, taxas de segurança social com dois conceitos, empregador e trabalhador, que na verdade são pagas do mesmo bolso, do empregador, em que este é responsabilizado criminalmente se falha, taxas na conta de electricidade, taxas e impostos sem fim num simples litro de gasolina.

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    São impostos sobre o consumo, sobre a propriedade, sobre a aquisição de propriedade, sobre ganhos mais-valias, sobre a poupança, sobre o rendimento; nem mesmo o assaltante mais prodigioso se lembraria de tal esquema!

    Em 2022, o Estado português arrecadou 106 mil milhões de euros em receitas, o que representa cerca de 10 mil euros por cidadão português, incluindo idosos e crianças; 40 mil euros numa família de quatro pessoas.

    Se o Estado português não assaltasse subrepticiamente, através de múltiplos conceitos, e apresentasse uma conta única do assalto a cada cidadão no final de cada ano, neste caso 10 mil Euros, seguramente ocorreria uma revolução.

    Mas os portugueses continuam felizes. Felizes por serem vítimas de um assalto sem fim. O escol que os domina e parasita, ri-se, todos os dias, a bandeiras despregadas da condição de escravatura da população. A máquina de extorsão é paga pelas vítimas, e trata-as como se de criminosos se tratassem à mínima falha. Nada, nem ninguém, põe na ordem esta máquina, que executa as suas cobranças mesmo quando os cidadãos impugnam judicialmente as suas decisões.

    O Estado até se julga no direito de regular todos os aspectos da nossa vida. Proíbe-nos de consumir drogas, promovendo o crime organizado, a violência e a miséria de muitos. Apesar de não afectar a liberdade de terceiros, quer decidir os locais onde podemos adquirir e ter os nossos vícios, em nome da nossa saúde.

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    Há dois anos, este Estado tirano forçava a inoculação de toda a população com substâncias experimentais, desenvolvidas em menos de um ano. Mais uma vez, tudo em nome da nossa saúde. O Estado “só quer o nosso bem”, mesmo quando fecharam os hospitais durante a falsa pandemia, era tudo para “salvar vidas”!

    Apesar de pagos com o saque à população, uma panóplia de serviços é anunciada como “gratuita”, seja a saúde ou a educação, adoptando quase sempre modelos soviéticos. Um planeador central, um burocrata ao serviço dos salteadores, contrata todos os funcionários e fornecedores que inevitavelmente termina em corrupção, ladroagem e compadrio. No caso da educação, até serve para o Estado doutrinar os nossos filhos a serem subservientes e pagadoras felizes de tributos.

    O mais surpreendente? Aceitarmos o confisco permanente por via da inflação. Deixámos a um cartel bancário e a um Banco Central que os coordena, em nome do Estado, roubar-nos permanentemente através da emissão contínua de dinheiro por contrapartida de dívida.

    Os bancos, com uma licença bancária, podem livremente emitir dinheiro, enquanto o comum cidadão, caso o faça, vai directamente para os calabouços (artigo 262º): “Quem praticar contrafacção de moeda, com intenção de a pôr em circulação como legítima, é punido com pena de prisão de três a doze anos.” Isto é para nós, para eles, justifica-se tudo em nome do bem comum!

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    O mais extraordinário? Quando o Estado obriga os privados a policiar gratuitamente todos os movimentos financeiros dos cidadãos, em nome, vejam só, do combate à lavagem de dinheiro e ao terrorismo. Ou seja, o cidadão tem de se submeter, sem resistência, tal como um gladiador, ao assalto. Por outro lado, qual a legitimidade para combater o terrorismo?

    Não há organização mais terrorista que o Estado, seja na invasão de países (Iraque, Síria, Afeganistão, Líbia…), onde se assassinam milhões e milhões de pessoas em nome da “liberdade” e da “democracia”; seja quando o Estado atropela as nossas liberdades, decretando a nossa prisão domiciliária, em nome do “combate a um vírus invisível”; seja quando o Estado deseja inocular-nos de forma coerciva com uma substância experimental, tal como as experiências do Dr. Josef Mengele, através de um certificado digital; seja quando o Estado legaliza o assassinato de pessoas, através do aborto ou da eutanásia.

    Será que finalmente iremos apercebermo-nos que o Estado é na verdade Calisto Elói de Silos e Benevides de Barbuda, uma personagem de Camilo Castelo Branco? Está na hora de acordarmos, pois vivemos numa tirania!

    Luís Gomes é gestor (Faculdade de Economia de Coimbra) e empresário


    N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.