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  • TAP: um caso político ou de polícia? De polícia, obviamente!

    TAP: um caso político ou de polícia? De polícia, obviamente!


    No início de Fevereiro do presente ano, vários órgãos de propaganda noticiavam que uma Comissão de inquérito à TAP ia avançar. Qual o âmbito? A actuação do Governo sobre a gestão da TAP, sobretudo entre 2020 e 2022, período em que a companhia aérea se encontrava sob controlo público.

    Este rasgar de vestes do regime, resultou da escandalosa indemnização de 500 mil euros que Alexandra Reis recebeu quando saiu da TAP, sendo depois – pasme-se! – nomeada presidente da NAV, outra empresa pública, e, no final do ano passado, escolhida para secretária de Estado do Tesouro. Um percurso que diz tudo.

    O caso levou a que o Governo anunciasse ontem a exoneração da presidente-executiva da TAP, Christine Ourmières-Widener, e do chairman da companhia aérea, Manuel Beja. Ambos estavam na liderança da empresa desde Junho de 2021.

    Aparentemente, o regime apenas se indigna com a milionária indemnização a Alexandra Reis, não acontecendo o mesmo com os escandalosos 3,2 mil milhões injectados na bancarroteira nacional nos últimos oito anos que serviriam para pagar 6.400 indemnizações de 500 mil euros; definitivamente, o coração bate-nos mais forte quando falamos de 500 mil euros.

    Tenho fé e esperança que os representantes da nação irão colocar as perguntas certas, ao contrário do que fizeram durante a putativa pandemia, mas, de qualquer forma, quero aqui apresentar-lhes uma humilde sugestão de uma lista de questões a serem colocadas na Comissão de Inquérito à bancarroteira nacional:

    • Após a “renacionalização” da empresa em 2015, a administração da bancarroteira nacional foi preenchida com apaniguados e amigos, todos a auferirem valores em torno de 100 mil euros brutos anuais ou mais; nenhum destes senhores indagou na reuniões de administração acerca da racionalidade económica e valores pagos pela compra de 53 aviões, num contrato que totalizava 1.600 milhões de euros? Se perguntaram, queremos conhecer o conteúdo dessas actas; caso contrário, podemos concluir que andavam lá apenas a encher os bolsos e a tomar café nas reuniões?
    • A compra destes 54 aviões obrigou ao pagamento de 320 milhões em excesso; foi noticiado que o empresário David Neeleman recebeu 70 milhões de Euros da Airbus para adquirir 61% do capital da TAP através da Atlantic Gateway – detida em partes iguais por Humberto Pedrosa (50%) e David Neeleman (50%); existem agora duas hipóteses que devem ser equacionadas: (i) Humberto Pedrosa também recebeu 70 milhões de euros da Airbus, os restantes 180 milhões de euros foram para o bolso de quem? (ii) Os 70 milhões de euros da Airbus foram para os dois empresários, os restantes 250 milhões de euros foram para o bolso de quem? Gostaríamos de saber!
    • Os 224,1 milhões investidos pela Atlantic Gateway no capital próprio, a título de Prestações Suplementares, isto é, dívidas a sócios, em que condições podiam ser exigidos de volta pelos accionistas privados, isto é, pela Atlantic Gateway? Seria em caso de renacionalização ou controlo dos direitos económicos por parte do Estado? Esta condição, ou condições, foi alguma vez utilizada na negociação da saída dos privados em 2020? Estas Prestações Suplementares foram alguma vez remuneradas?
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    • Em 2016, o empréstimo obrigacionista de 120 milhões de euros emitido pela TAP, dividido em duas séries, A e B, a primeira de 90 milhões tomada pela Azul – empresa controlada por David Neeleman, a segunda de 30 milhões tomada pela Parpública. Estas obrigações ao final de 10 anos permitiram a conversão em acções da TAP SGPS: (i) por que razão se utilizaram duas séries com direitos e deveres diferentes, em particular para a Parpública que tinha apenas alguns anos para decidir pela conversão ou não em acções, deixando de receber juros? (ii) quais os termos e condições exactos de cada série e qual a razão da sua ocultação nos relatórios e contas da TAP; (iii) quais as condições de remuneração de cada uma das séries; (iii) a Azul recebeu e está a receber 67,5 milhões de Euros em juros, correspondentes à remuneração de 90 milhões a 7% durante 10 anos; (iv) a Parpública foi efectivamente remunerada e em que condições? Recebeu os 30 milhões que emprestou à TAP SGPS?
    • Em 2016, no regresso das Caravelas do século XXI ao Estado português, quem da tutela aprovou o acordo que atribuía 5% dos direitos económicos ao Estado português, apesar deste possuir 50% do capital? Para dar um exemplo, no caso de 100 milhões de euros de lucros, correspondiam apenas 5 milhões de Euros à Parpública, apesar de deter 50% do capital! Esta renacionalização tinha apenas como objectivo recuperar sinecuras e negócios para amigos e apaniguados do regime? Qual a lógica, servia apenas para proporcionar empregos?
    • A Dra. Maria Teresa Lopes, promovida a administradora em 2014, ainda debaixo do controlo Estatal, e que saiu em 2017 para o lugar de Consultora da Administração, auferia em 2015 – último ano onde havia transparência a este respeito – 255 mil euros brutos. Por essa “despromoção”, em 2017, recebeu uma indemnização de 1,2 milhões de euros – pobre Alexandra Reis! Também será solicitada a devolução da indemnização a esta senhora, tal como parece estar a acontecer com Alexandra Reis?
    • O escritório de advogados de Pedro Rebelo de Sousa, irmão do Sr. Presidente da República, que negociou a indemnização milionária atribuída a Alexandra Reis, também vai devolver o montante que recebeu da TAP por ter intermediado aquela negociação? Ou vai indemnizar a TAP pelos danos financeiros e de imagem e reputação provocados pelo pagamento indevido da indemnização?
    • Em 2020, durante a negociação da saída de David Neeleman, as Prestações Suplementares foram usadas por este como arma negocial? Os 55 milhões de euros que recebeu pela venda da sua participação de 22,5% – indirecta através da Atlantic Gateway – incluía as ditas prestações suplementares, nomeadamente metade dos 224,1 milhões de Euros? É verdade que recebeu 45 milhões de euros de Humberto Pedrosa pela sua participação de 50% na Atlantic Gateway? A holding de Humberto Pedrosa, a HPGB, SGPS, tornou-se proprietária de 50% destas prestações suplementares, ou seja, de 112,05 milhões de euros?
    • Tal como consta na auditoria realizada pelo Tribunal de Contas à TAP, na sua nota 125, temos o seguinte: “Em todas as opções de compra e venda das ações da Atlantic Gateway, a Parpública adquire também os créditos acionistas da Atlantic Gateway, incluindo-se nestes as prestações acessórias submetidas ao regime das prestações suplementares e suprimentos sobre a sociedade.” Na negociação da saída de Humberto Pedrosa – o empresário patriota – do capital da TAP, qual o valor que este recebeu pelas Prestações Suplementares? 169,1 milhões de euros?
    • Em caso de uma liquidação da bancarroteira nacional, que parte da dívida financeira – em 2021 era de 1,5 mil milhões de euros – está garantida com um aval da República portuguesa. Como podemos imaginar, não há nenhuma instituição financeira disponível para emprestar dinheiro a tal desastre, como é óbvio o Joaquim do restaurante, a Maria do cabeleireiro, irão sempre pagar todos os desmandos. A pergunta é simples: em caso de calote à banca, qual o montante com garantia do Estado?
    • Por fim, e talvez a questão de maior importância. Os órgãos de propaganda, uma vez mais, ignoraram por completo que os contribuintes são agora accionistas a 100% – quase, há uma parte da TAP SGPS que pertence aos desgraçados dos trabalhadores – de duas empresas: (i) a TAP SGPS, a holding de participações que deixou de ter qualquer participação na TAP S. A! (ii) a TAP S.A. Agora, nem relatórios e contas publicam em relação à TAP SGPS, nem tão pouco esclarecem o porquê da administração ser remunerada através de uma holding que nada tem! Para que serve a TAP SGPS, para ocultar os negócios favoráveis a favor dos privados, para pagar por “debaixo da mesa” aos administradores, para ocultar o não pagamento de juros à Parpública, para ocultar vergonhas e desmandos?

    Estas perguntas não deviam ser colocadas pelos deputados da Nação, mas pela polícia, pois a bancarroteira nacional é, há muito, simplesmente um caso de polícia.

    Luís Gomes é gestor (Faculdade de Economia de Coimbra) e empresário


    N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.

  • Isto é “Mais Habitação” ou é mais um assalto?

    Isto é “Mais Habitação” ou é mais um assalto?


    Na última semana, o Governo aprovou o Pacote Mais Habitação; segundo os promotores, visa procurar responder “de forma completa a todas as dimensões do problema da habitação”. Reparem que os fins são sempre nobres: é sempre para o nosso bem!

    Surpreendente foram as reacções: (i) alguns, rasgaram as vestes, afirmando que era um ataque aos direitos constitucionais!; (ii) outros, rejubilaram com a intervenção estatal, absolutamente necessária para “libertar casas para arrendar”.

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    No primeiro caso, estranha-se a defesa intransigente da Constituição da República Portuguesa (CRP, artigo 62.º), quando durante três anos foi atropelada em nome do “bem comum”; mais, até se preparam para aprovar uma revisão constitucional ilegal (artigo 288.º), com o argumento de que a balança dos direitos continua equilibrada: tira-se um direito (à liberdade) e dá-se outro (à “saúde”), ficando tudo igual!

    No segundo caso, o anúncio da nossa “libertação” provém de um dos órgãos de imprensa mais acérrimos na defesa das restrições decretadas pelo poder para combater a “pandemia”, em particular a inoculação de substâncias experimentais de manipulação genética em crianças. Agora, propõe “libertar-nos” daquilo que é nosso, em linha com o letreiro na entrada do famoso campo de concentração nazi: “o trabalho liberta”!

    O socialismo sempre desejou “libertar-nos” do fruto do nosso trabalho, daquilo que é nosso, através da apropriação colectiva dos meios de produção. O seu objectivo foi criar uma utopia: “uma sociedade sem classes”.

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    Apenas teve um “problema”: em todas as sociedades que foi tentado, terminou sempre na mais abjecta miséria e tirania. Apesar disso, os seus promotores têm vindo a vencer no campo das ideias, em particular na educação pública e classe política; afinal, o socialismo só quer o nosso bem e é um “ideal nobre”!

    Como se reflectiu essa vitória? Nos direitos sociais, crescentemente plasmados em todas as constituições do mundo ocidental. Fica sempre bem dar-se aquilo que não se tem, ou seja, roubar a uns, ficar com uma grande parte – clientela, funcionários, correligionários e amigos –, e distribuir umas migalhas por forma a assegurar votos através da dependência – o mendigo nunca morde a mão que lhe dá de comer.

    A que direitos sociais me refiro? O direito à habitação, o direito à saúde, o direito ao emprego, por exemplo. Estes direitos impõem sobre os outros obrigações de carácter positivo, seja dar-me uma casa, dar-me um emprego, dar-me uma consulta médica.

    Marina Gonçalves, ministra da Habitação, António Costa, primeiro-ministro, e Fernando Medina, ministro das Finanças, na apresentação do pacote legislativo para a habitação na passada quinta-feira.

    Os direitos sociais referem-se sempre a bens económicos, ou seja, recursos escassos para a satisfação de uma necessidade humana (alojamento, fome, transporte), que possuem um preço de mercado. Por essa razão, o ar não tem preço: não é escasso, não é um bem económico.

    Se eu tenho direito à saúde, significa que um médico terá de prestar-me uma consulta de graça. Se eu tenho direito a uma casa, é porque exijo que a construtora a faça aparecer sem custos, ou que um proprietário se “liberte” da sua a meu favor.

    Na verdade, não são mais que direitos sem qualquer conteúdo, mas apenas boas intenções: todos devem ter um emprego, todos têm direito a uma habitação condigna, uma espécie de “Alice no País das Maravilhas”, onde habitam socialistas utópicos, desejosos do confisco do trabalho dos outros para sua glória.

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    Um tipo de direito completamente diferente são aqueles com um carácter negativo, como o direito à vida, por exemplo. Eu exijo que ninguém interfira na minha vida, que não me assassinem.

    O direito à liberdade é outro destes direitos, ninguém deve impedir a minha livre deslocação.

    O direito ao meu corpo: ninguém pode realizar um diagnóstico, um tratamento, uma cirurgia ou introduzir uma substância experimental no meu corpo sem o meu consentimento.

    Ou o direito à privacidade: ninguém deve andar a “bisbilhotar” a minha correspondência, o que se passa na minha intimidade.

    Podemos definir estes direitos como naturais, como é o caso do direito à propriedade. Eu peço que ninguém interfira com o investimento do meu aforro ou com aquilo que recebi dos meus pais, por outras palavras, peço para não ser assaltado ou confiscado e poder dispor do usufruto da forma que entender.

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    Este direito à propriedade deve compreender todas as dimensões: para além da protecção contra qualquer agressão (ocupação, roubo, confisco), devo poder definir o seu usufruto (habitação própria, segunda habitação, arrendamento) e o preço a que desejo que outro possa beneficiar desse usufruto – o preço do arrendamento.

    O direito à propriedade foi um dos pilares da civilização ocidental, não foi um acaso a sua supremacia em vários campos: tecnologia, arte, ciência, etc. O incremento da produtividade só pode ser realizado por duas vias: (i) por melhores métodos de trabalho, seja por formação ou processos de trabalho assentes em maior informação ou (ii) pela acumulação de capital, em que melhores infra-estruturas (portos, estradas, aeroportos) e equipamentos (fábricas, computadores…) permitem incrementar substancialmente a quantidade produzida.

    O segundo factor é, de longe, o mais determinante na prosperidade de uma dada comunidade. Um jovem engenheiro obterá sempre um salário muito superior na Alemanha em comparação com Portugal, pois a primeira tem uma acumulação de capital per capita muito superior ao segundo. A acumulação de capital depende exclusivamente do aforro de uma população.

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    Coloca-se então a pergunta? Alguém vai aforrar num país como a Venezuela, onde amanhã o Estado, de forma arbitrária, poderá confiscar-me? Claro que não. Para existir aforro e investimento, é indispensável o direito à propriedade privada, isto é, segurança e previsibilidade. As regras devem ser estáveis e absolutamente claras e intransigentes na defesa do esforço e trabalho das pessoas.

    Nada disto acontece com o novo “pacote” do governo, que não é mais que um bilhete de ida para a pobreza, para além de abrir caminho a mais corrupção, em virtude da possibilidade de subarrendamento e arbitrariedade na selecção dos alvos do confisco.

    O caminho para o “não terás nada e serás feliz” está aberto com este pacote “Mais Habitação”. O arrendamento coercivo, sem garantias de que algum dia se recupera o usufruto, um tecto máximo para o valor da renda, fixado a partir do valor do último contrato, impedindo a liberdade negocial, isto é, a fixação dos termos em que um proprietário cede o usufruto da sua propriedade, não mais que enormes atropelos à propriedade privada.

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    Por outro lado, vem criar uma enorme instabilidade ao negócio do Alojamento Local, através da aplicação de novas taxas – as regras estão sempre a mudar – e a limitação da vigência das licenças – até 2030, onde serão reavaliadas –, demonstrando que o Estado português não tem qualquer respeito pelo investimento das pessoas e assegura que nova concorrência não entrará até 2030. Quem é o louco que vai investir em tal contexto?

    Depois, os supostos “pontos positivos”, em particular os subsídios ao pagamento das rendas do crédito à habitação e o Estado a substituir-se aos inquilinos no pagamento das rendas, caso ocorra um incumprimento ao final de três meses.

    O primeiro é a perpetuação da esmola, em lugar de reduzir impostos sobre as pessoas, continua-se a cobrar o mesmo, para depois obrigar as pessoas a vir de mão estendida pedir o que lhes foi retirado.

    O segundo, é a pura desresponsabilização dos cidadãos: podes dar o calote, não te preocupes, pois o senhorio pode recorrer ao Estado para obter o pagamento das rendas – como os tribunais funcionam muito bem, já podemos imaginar quanto tempo demorará a cobrar!

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    Este “pacote” não é mais que um salvar-de-face do Estado português perante a catástrofe a que chegámos. Recordemo-nos que, em conjunto com o Banco Central Europeu, o Estado português é responsável pela maior inflação – emitiram enormes quantidades de dívida pública com inflação – dos últimos trinta anos, bem como pelo estrangulamento da oferta de casas – a construção de novos fogos diminuiu muito na segunda década do século XXI face à primeira década –, dado que emite as licenças de construção.

    Não satisfeito por ter cobrado mais 20 a 30 mil milhões de Euros aos portugueses em 2022 face a 2021, é na verdade o criminoso que volta ao local do crime. Agora, prepara-se para um novo assalto, anunciado com o nome “Pacote Mais Habitação”.

    Luís Gomes é gestor (Faculdade de Economia de Coimbra) e empresário


    N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.

  • Os vilões da pandemia

    Os vilões da pandemia


    No final da semana passada fomos presenteados com mais uma acção de propaganda do regime, desta vez a inauguração de duas esculturas com fraldas faciais esburacadas a tapar as faces e cabeças ocas, talvez a denunciar a inexistência de massa encefálica. Segundo nos informam, servem para homenagear os “Heróis da Pandemia”.

    Talvez seja o símbolo perfeito dos idiotas-úteis que ao longo de três anos foram zombados, extorquidos, manietados e que entregaram os seus corpos a experiências médicas sem paralelo na História da Humanidade.

    Esculturas “Heróis da Pandemia”, inauguradas na sexta-feira passada em Lisboa.

    O evento contou com a presença de excelsas figuras da Pátria, com destaque para o bastonário da Ordem dos Médicos, que referiu ser uma forma de reconhecer o trabalho dos médicos. De onde sacou tal ideia, já que em 2020 e 2021 tivemos hospitais com taxas de ocupação consideravelmente inferiores aos anos anteriores? Talvez tenham trabalhado a partir de casa, quem sabe…

    Já podemos adivinhar quem pagou ao mestre Rogério Abreu: a milionária Ordem dos Médicos ou talvez a conta pessoal do seu bastonário, que, como todos sabemos, recebe chorudos donativos das farmacêuticas; tudo é possível, pois o dinheiro abunda por aquelas paragens e durante a “pandemia” mais abundou.

    Após três anos de atropelos aos mais elementares direitos dos cidadãos, de ruína da Economia – falência de pequenos negócios e a inflação mais elevada dos últimos 30 anos –, de mortalidade excessiva por explicar, de negócios milionários para farmacêuticas e laboratórios de análises clínicas, o regime continua a subsidiar canais de propaganda para que estes cancelem qualquer voz dissidente, recorrendo ao estafado insulto: “negacionista da pandemia”!

    Recordemo-nos que tudo isto começou com a simulação de uma pandemia em Outubro de 2019, o evento “Event 201 Pandemic Exercise” organizado pela Universidade Johns Hopkins Center for Health Security e patrocinado pelo Fórum Económico Mundial e a Fundação Bill & Melinda Gates.

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    Em Janeiro de 2020, aparentemente os chineses caíam repentinamente nas ruas aos milhares ou às centenas de milhares, depois de terem andado a comer sopa de morcego, a origem “oficial”, até hoje, do vírus SARS-CoV-2. Hoje, tudo parece indicar o laboratório chinês de Wuhan como o principal suspeito, mas na altura a propaganda cancelava quem se atrevesse a dizer o contrário.

    Logo em 2020, o professor John Ioannidis, um dos mais citados epidemiologistas do Mundo – ao contrário dos putativos especialistas que pulularam pelos canais de propaganda –, dizia-nos que a taxa de mortalidade por infecção era apenas 0,23%, ou seja, uma taxa de sobrevivência de cerca de 99,8%, algo semelhante à gripe. Apesar da Ciência, os nossos Governos decidiram fechar-nos em casa.

    A decisão de confinar populações inteiras nada teve de científico; em 2006, o artigoDisease mitigation measures in the control of pandemic influenza” dizia-nos o seguinte:

    • Não há observações históricas ou estudos científicos que apoiem o confinamento por quarentena de grupos de pessoas possivelmente infectadas por períodos prolongados, a fim de retardar a propagação da gripe”;
    • O interesse pela quarentena reflecte as visões e condições prevalecentes há mais de 50 anos, quando se sabia muito menos sobre a epidemiologia de doenças infecciosas e quando havia muito menos viagens internacionais e domésticas num mundo menos densamente povoado”;
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    • É difícil identificar circunstâncias no último meio século em que a quarentena em larga escala foi efectivamente usada no controle de qualquer doença”;
    • As consequências negativas da quarentena em grande escala são tão extremas (confinamento forçado de pessoas doentes; restrição completa de movimento de grandes populações; dificuldade em fornecer suprimentos, remédios e alimentos essenciais para pessoas dentro da zona de quarentena) que essas medidas de mitigação devem ser eliminadas de considerações sérias.”

    Eles sabiam que estavam a cometer um crime, mas, mesmo assim, decidiram cometê-lo, anunciando-nos da primeira vez que iria durar apenas 15 dias, com o simples propósito de “achatar a curva”! A coisa, como sabemos, terminou em intermináveis meses com a malta na caverna.

    Fecharam uma sociedade inteira, proibindo a escola presencial às crianças, quando apenas os idosos estavam a ser afectados pela doença: mais de 85% tinham uma idade igual ou superior a 70 anos, com a propaganda a imputar tal desgraça sobre as crianças!

    Distribuição dos óbitos por covid-19 em Portugal até 17 de Novembro de 2021 por grupo etário. Em termos proporcionais, a situação não se alterou até à actualidade em que se registam, oficialmente, 26.059 óbitos atribuídos à covid-19 Fonte: DGS. Análise do autor.

    Para os “matar de vez”, os lares foram transformados em estabelecimentos prisionais, onde as visitas tinham de “respeitar” o sacrossanto “distanciamento social”, através de acrílicos por todas as partes – na altura o ambiente foi enviado às malvas –, tornando a vida dos idosos um autêntico “inferno”, talvez com o objectivo de os eliminar pela demência e loucura.

    Em paralelo, as contagens de mortos eram ininterruptas nos canais de propaganda, chegando, por vezes, a serem medidas em quedas de aviões Airbus, com o detalhe de nunca sabermos exactamente se era “de covid” ou “com covid”; tudo era enfiado no mesmo saco, com um único propósito: criar o pânico e o terror sobre a população.

    Seguidamente, vieram as fraldas faciais, a única forma de nos deixarem sair de casa em “segurança”, apesar da Ciência, desde o início, em Março de 2020, afirmar exactamente o contrário: de que eram “uma falsa sensação de segurança”. E eram! Logo em Dezembro de 2020, a insuspeita Organização Mundial de Saúde (OMS) afirmava:

    • Actualmente, são limitadas e variáveis as evidências científicas que corroboram a eficácia do uso de máscaras por pessoas saudáveis na comunidade com o intuito de prevenir a infecção por vírus respiratórios, incluindo SARS-CoV-2;
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    • Um grande estudo randomizado, de base comunitária, no qual 4.862 participantes saudáveis foram divididos em um grupo que usou máscaras cirúrgicas e um grupo de controle, não encontrou diferença na taxa de infecção pelo SARS-CoV-2”;
    • Uma recente revisão sistemática encontrou nove estudos (dos quais oito foram estudos randomizados e controlados com aglomerados, nos quais grupos foram randomizados em comparação a indivíduos) que compararam o uso de máscaras cirúrgicas com o não-uso de máscaras para prevenir a disseminação de doenças respiratórias virais. Dois estudos foram realizados com trabalhadores da saúde, e sete em comunidades. A revisão concluiu que o uso de máscaras pode fazer pouca ou nenhuma diferença na prevenção de síndrome Gripal ou influenza confirmada laboratorialmente; o nível de certeza das evidências foi baixo para síndrome gripal e moderado para influenza confirmada laboratorialmente.”

    Mas a propaganda foi tal que assistimos a indivíduos isolados na rua, ou sozinhos a conduzir um carro, com duas fraldas faciais, ou mesmo idiotas-úteis da propaganda a revelar que dormiam com a fralda facial! O importante era manter uma atmosfera de psicose colectiva, de que havia uma terrível “pandemia” que nos ia matar a todos.

    Até tivemos o prócere máximo da Ordem dos Médicos, a oferente das “magnificentes” esculturas, a apelar em missas diárias de propaganda ao uso permanente do “instrumento de protecção individual – referia-se à fralda facial!

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    É natural; ele conhecia em detalhe os fornecedores de fraldas faciais, seus amigos seguramente, dado que lhes enviou umas facturas falsas em nome da Ordem dos Médicos, tudo, claro está, em nome de uma campanha pelo bem – houve dinheiro e negócios sem fim nestes últimos três anos, talvez por isso estejam tão saudosos e lacrimejantes pelo seu fim!

    Recentemente, a ciência das fraldas faciais foi novamente confirmada: “Usar máscara na comunidade faz provavelmente pouca ou nenhuma diferença relativamente a ter-se (ou deixar-se de ter) doença (grau moderado de evidência), em comparação com não usar máscara”. Apesar de tudo, o circo mantém-se em serviços de saúde, talvez para não nos fazer esquecer que “existe uma pandemia”!

    Chegámos assim a etapa final do golpe, para terminar com tudo isto, confinamentos e fraldas faciais, a inoculação de uma substância experimental no nosso corpo – administrada com autorização emergencial, pois não haviam tratamentos alternativos! – seria o regresso “à normalidade”.

    A propaganda aqui atingiu o zénite: “inocula-te para proteger os outros” – atenção, não era para a pessoa proteger-se –, “queres ir à discoteca, chegou agora a tua vez”, “vem, até temos música para receber-te”. Em paralelo, tínhamos os próceres do regime, cujo único emprego é viver de cobrança coerciva ou a comentar banalidades, a apelar às virtudes e benefícios da “inoculação salvífica”!

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    Para os renitentes, a suprema intimidação, a suprema chantagem. Veio o certificado nazi. A premissa era de que os vacinados não transmitiam nem eram infectados; mais tarde, e como sempre nesta tragédia, descobrimos que era a mais despudorada mentira.

    Assim, os que não cederam a esta inqualificável intimidação, que ainda acreditavam que quem mandava no seu corpo eram elas mesmas e não o Estado, eram ostracizadas, humilhadas e segregadas em diversos locais públicos. O opróbrio veio dessa infame expressão: “a pandemia dos não-vacinados”!

    E quais são os resultados de tudo isto? Felizmente, tivemos o “placebo” Suécia, o único país liderado por um cientista de verdade – ao contrário dos putativos especialistas que circulavam pelos canais da propaganda –, que permitiu que a sociedade continuasse a viver uma vida normal: sem distanciamento, sem fraldas faciais.

    Recorrendo ao Eurostat (aqui está para o Excel para quem tem dúvidas) e analisando os óbitos para o grupo etário com idade igual ou superior a 80 anos – o mais afectado pela “pandemia” –, podemos constatar que a Suécia é o único país com uma mortalidade em tendência descendente no triénio 2020-2022 face ao triénio 2019-2022.

    Óbitos por 10 mil habitantes para os anos 2017-2022 do grupo etário com idade igual ou superior a 80 anos (Nota: 50 primeiras semanas ISO de cada ano). Fonte: Eurostat. Análise do autor.

    Por outro lado, e ao contrário do afirmado pela propaganda, tanto em 2021 como em 2022, regista-se uma mortalidade muito inferior aos demais países nórdicos – os únicos que, segundo a propaganda, eram comparáveis!

    Analisando a média de óbitos por 10 mil habitantes para o mesmo grupo etário, em particular comparando o triénio 2020-2022 vs. 2017-2019, podemos constatar que a Suécia apresenta o melhor desempenho, com uma queda de 34 óbitos por 10 mil habitantes, uma vez mais melhor que os demais países nórdicos – nem vale a pena falarmos do desastre Portugal.

    Óbitos por 10 mil habitantes para a média 2017-2019 vs. media 2020-2022 do grupo etário com idade igual ou superior a 80 anos (Nota: 50 primeiras semanas ISO de cada ano). Fonte: Eurostat. Análise do autor.

    Mas algo nos deixa perplexos: se as inoculações eram salvíficas, se a Suécia continuou a ter os seus hospitais e sistema de saúde a funcionar em normalidade – não teve nem consultas, nem diagnósticos, nem tão pouco cirurgias por realizar –, como nos explicam o brutal aumento da mortalidade em 2022 comparada com 2021? A excepção foi Portugal, mas, entretanto, a razia sobre os idosos já tinha sida feita.

    No caso da Suécia, esta registou mais 7 óbitos por 10 mil habitantes do grupo etário com idade igual ou superior a 80 anos, enquanto países com um excelente desempenho histórico, como a Espanha e a França, tiveram uma subida expressiva. Os demais países nórdicos também registaram um desempenho desastroso!

    Óbitos por 10 mil habitantes 2022 vs 2021 do grupo etário com idade igual ou superior a 80 anos (Nota: 50 primeiras semanas ISO de cada ano). Fonte: Eurostat. Análise do autor.

    No grupo etário com idade entre 70 e 80 anos (os dois grupos mais atingidos pela “mortal pandemia”), também se regista uma subida da mortalidade em 2022 – excepção para os países que foram uma desgraça, como Grécia e Portugal, com a Suécia e a França a terem reduzidíssimas reduções.

    Afinal se a miraculosa inoculação não serviu para reduzir a mortalidade, para que serviu? Para que serviu a inoculação em tudo o que mexia?

    Óbitos por 10 mil habitantes para a média 2017-2019 vs. média 2020-2022 do grupo etário com idade entre 70 e 79 anos (Nota: 50 primeiras semanas ISO de cada ano). Fonte: Eursotat. Análise do autor.

    Hoje sabemos: proporcionou um dos maiores negócios com dinheiros públicos da História da Humanidade. Tal como na União Europeia, o Estado português também não quer facultar os contratos com as farmacêuticas, sinal de que vivemos numa ditadura, em que o Estado sabe tudo sobre nós e não sabemos nada a seu respeito, onde o obscurantismo parece agora reinar. A propaganda teima em não pedir explicações!

    Não é surpresa tais esculturas. Os seus promotores foram felizes durante estes últimos três anos, protagonismo e negócios chorudos, é natural!

    Que tal fazermos uma homenagem a tais personagens, intitulada: “O vilões da pandemia!”

    Luís Gomes é gestor (Faculdade de Economia de Coimbra) e empresário


    N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.

  • Alterações climáticas: as novas indulgências?

    Alterações climáticas: as novas indulgências?


    Na doutrina católica, as Indulgências são graças especiais que a Igreja, enquanto administradora dos dons de Cristo, pode oferecer aos fiéis, em certas ocasiões, não só para ultrapassar os efeitos negativos dos pecados, mas também para motivar o crescimento da Fé, da Esperança e do Amor, através de santas práticas religiosas propostas à devoção pessoal e/ ou comunitária.

    Desde sempre, o poder utilizou o medo, a criação de problemas artificiais e a imposição de monopólios para condicionar os mais débeis e menos informados da sociedade. Qual o propósito? Extorquir e transferir riqueza dos pobres para os privilegiados e próximos do poder sem qualquer resistência dos primeiros.

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    Quem não paga, o seu destino é o Inferno; quem paga, o Céu a seus pés. Como qualquer pessoa racional pode constatar, “produzir” uma indulgência não tem qualquer custo, para além de um papel, uma caneta e uma assinatura de uma qualquer autoridade eclesiástica. Com o tal documento na mão, o passaporte para o Paraíso está assegurado, claro está, depois do pagamento.

    Foi assim que na segunda década do século XVI, o Papa Leão X ofereceu indulgências para aqueles que dessem esmolas para reconstruir a Basílica de São Pedro em Roma: as portas do Paraíso escancaradas para os oferentes.

    A técnica é sempre a mesma e funciona quase sempre. Explorando o medo e a ignorância, cria-se um produto ou um serviço que não implique qualquer custo de produção, mas altamente valorizado e apetecível. No fundo, logra-se que grandes massas da população não sejam mais que ratos enclausurados numa roda, a correr incessantemente, explorados sem cessar e felizes com a sua escravidão.

    Esse é o papel das moedas fiat: andamos toda a vida a correr atrás delas (Euros e Dólares norte-americanos), sem nunca nos darmos conta que a sua produção não tem qualquer custo. Basta o pressionar de um botão num computador do Banco Central ou um mero registo informático numa partida dobrada de um banco para a magia da criação de dinheiro ter lugar.

    focus photography of person counting dollar banknotes

    Para criar uma elevada procura por uma determinada moeda fiat, recorre-se às leis de curso legal – nenhum comerciante pode negar pagamentos na divisa fiat emitida pelo Estado – e obriga-se a população a liquidar os tributos exclusivamente nessa moeda.

    No caso do emissor da moeda reserva do mundo, como é o caso dos Estados Unidos e a sua moeda fiat, o Dólar norte-americano (USD), obriga-se um dos maiores produtores de petróleo do mundo a cotar os barris unicamente em USDs. Para além disso, sempre que um país tenta opor-se a este monopólio, é fatal como o destino ter o exército norte-americano “à perna”.

    Sempre que se exagera na “dose”, como foi o caso em 2020, em que os balanços dos Bancos Centrais duplicaram de dimensão, no caso do Banco Central Europeu (BCE) subiu mais de 4 biliões de Euros (12 zeros) entre Março de 2020 e Junho de 2022, esta massa monetária pode “espirrar” para os bens essenciais da população, a “má inflação”, gerando desconforto popular, com o risco de um “despertar”.

    Quando as casas sobem de preço, temos a “boa inflação” – sem riscos. Quando o bife sobe de preço, temos a “má inflação” – corre-se o risco de que a plebe desperte!

    Para despistar, entra-se necessariamente no jogo “onde está a bolinha”: não existe, é um fenómeno temporário; afinal veio para ficar, é da guerra, estamos no “pico”, agora é sempre a descer. A exploração da ignorância da população não tem fim, mesmo quando se “servem” os factos de forma nua e crua.

    Se visualizarmos a figura seguinte (contratos futuros), podemos observar que as matérias-primas registaram uma valorização sem precedentes entre Março de 2020 e Fevereiro de 2022, precisamente no início da guerra com as “costas largas”.

    Variação de preços (%) das principais matérias-primas entre o final de Março de 2020 e o final de Fevereiro de 2022. Fonte: Yahoo Finance. Análise do autor.

    Desde então, apesar da “guerra com as costas largas”, bastaram umas subidas das taxas de juro a partir do segundo semestre de 2022, para que a “má-inflação” começasse a desaparecer.

    Quando o método de “saque” está em crise, recorre-se quase sempre ao medo e à propaganda. Agora temos a “emergência climática”, devido ao mais que diabolizado CO2, o gás da vida. Mais uma vez, vamos “todos morrer”, caso não paguemos impostos ambientais. Apenas abandonando a prosperidade proporcionada pela energia barata dos combustíveis fósseis é possível “salvar o planeta”.

    Reparem nalgumas previsões realizadas por estes “profetas da desgraça”. Em 1975, Peter Gwynne, na insuspeita revista Newsweek, afirmava que vinha aí a idade do gelo.

    Entretanto, passámos do frio ao calor. Em 1989, um alto funcionário das Nações Unidas afirmava que nações inteiras poderiam ser varridas da face da terra pelo aumento do nível do mar se a tendência de aquecimento global não fosse revertida até o ano 2000!

    Variação de preços (%) das principais matérias-primas entre o final de Fevereiro de 2022 e o final de Dezembro de 2022. Fonte: Yahoo Finance. Análise do autor.

    Como a profecia não se concretizou, regressou ainda com mais força: em 2006, Al Gore, no seu livro Uma verdade inconveniente, dizia que a neve deixaria de existir no monte Kilimanjaro. Continua lá. Igualmente, no mesmo livro, afirmou que o gelo dos polos iria desaparecer em 6/ 7 anos! Também continua lá.

    Para nos preparar, até já temos os voos da Google Flights medidos em emissões de carbono, devidamente quantificado para ser fácil calcular o imposto a cobrar; mais uma vez, só pagando podemos salvar-nos do fim do mundo ou do inferno se, entretanto, o mundo não acabar.

    No século XX, com o advento da “democracia”, o poder mudou de mãos: do espiritual para o mundano; agora, temos a transição do Estado-nação para o Governo Mundial.

    O ardil já não é o caminho para o além: o poder ser uma crise económica, onde todos vamos perder o emprego, um vírus invisível, com uma taxa de sobrevivência de 99%, ou o Inferno na Terra.

    Como nos salvamos? Deixando de comer carne, abandonando o automóvel, abandonando a higiene diária para poupar água; acima de tudo, continuar a lutar por dinheiro sem qualquer custo ou privacidade, por forma a que entreguemos todas as gotas do nosso suor à casta parasitária no topo da pirâmide. Se não é suficiente, apresentar-nos-á as indulgências do século XXI em pagamento: as Alterações Climáticas.

    Luís Gomes é gestor (Faculdade de Economia de Coimbra) e empresário


    N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.

  • A neta da Ómicron e outras estrambólicas histórias de pôr os olhos em bico

    A neta da Ómicron e outras estrambólicas histórias de pôr os olhos em bico


    Esta semana, a nossa imprensa mainstream brindou-nos com um sem-fim de pérolas. Para começar, deu enorme destaque à mortalidade geral em 2022, que praticamente esteve igual a 2021 e muito acima de 2020, anos da terrível “pandemia”, em que grande parte do tempo a população se encontrava “desprotegida”.

    Apesar de um processo de vacinação sem paralelo – em particular com substâncias experimentais – e de hospitais com taxas de ocupação bem abaixo de anos anteriores, conhecer as razões de tamanha mortalidade foi, para a nossa imprensa e especialistas, similar ao famoso jogo do livro ilustrado dos anos 80 e 90: Onde está o Wally?

    Para o jornal Observador, “parte da resposta pode estar noutras infecções respiratórias e nas ondas de calor no Verão”, acompanhando, desta forma, o novo ministro da Saúde, que atribuía tal desastre aos fenómenos climáticos.

    Já para o “especialista” Manuel Carmo Gomes, a “morte por outras doenças pode estar associada, de uma forma indirecta, à covid-19, que atinge uma grande variedade de órgãos”. Estudos que suportem tal afirmação?! Ficámos apenas a saber que, aos poucos, os nossos órgãos podem ser devorados por um vírus, podendo, até, quem sabe, provocar-nos a morte!

    Mas o especialista não terminou por aqui, prognosticando que a “mortalidade por covid-19 e outras doenças associadas deverá reduzir nos próximos meses, devido à percentagem da população vacinada, mas esta situação pode ser posta em causa com o surgimento de uma nova variante.” Vai descer, mas pode subir, tudo depende da próxima variante, que, como sabemos, por regra, é sempre pior, mais contagiosa e mortal que as anteriores!

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    Para terminar em beleza, até tivemos a famosa tirada filosófica: só sei que nada sei! Era assim que a SIC Notícias dizia ter encontrado o Wally: “As autoridades de saúde não apresentam uma explicação concreta para este excesso de mortalidade”; no entanto, fazia-nos manter a esperança, uma espécie de tenhamos fé, já que o “Instituto Ricardo Jorge está a conduzir um estudo aprofundado sobre a mortalidade em Portugal, mas as conclusões ainda não são conhecidas”. Aguardemos. Sentados, de preferência.

    Outro dos assuntos que marca esta semana é o “surto” de covid-19 que assola a China, iniciado a partir do abandono da política de covid-zero – há semanas era a luta pela liberdade, mas agora, aparentemente, um erro de proporções bíblicas.

    A agência Lusa noticiava desta forma pungente o que se passava na cidade de Xangai: “Em dois hospitais da cidade, a Agence France-Presse viu hoje centenas de pacientes, a maioria idosos, deitados em macas, dispostas nos corredores de serviços de emergência saturados”.

    Terracotta warriors

    Não há nenhuma fonte, base de dados, órgão oficial… Nada, apenas uma equipa de jornalistas que viu, mas não mostrou. Viu que tudo se encontrava num caos, viu idosos desesperados que se dispunham ao longo de corredores. Além de verem sem mostrar, tomem nota: terão visto dois hospitais (0,5%) e tiraram logo a conclusão de que se trata de um grave surto, numa cidade com 26,3 milhões de habitantes, que terá em torno de quatrocentos hospitais. 

    Continuando com o relato: “Muitos estão a receber infusões de soro fisiológico ou ligados a cilindros de oxigénio ou com monitores cardíacos. A maioria está enrolada em cobertores e vestida com casacos grossos ou gorros. Alguns pacientes parecem não ter vida. Outros são atendidos fora do prédio, na calçada, devido à falta de espaço no interior das instalações.”

    Reparem: em tempos, o vírus era mortal; para evitarmos a morte, tínhamos de manter o “distanciamento social”, mas agora, aparentemente, esse risco desapareceu, atendendo que os jornalistas entram nas salas onde estão os pacientes com a “peste negra”, ainda mais num país de passos controlados.

    Ou, se calhar, engano-me, pois os jornalistas podiam estar protegidos com as substâncias experimentais salvíficas e aproximar-se, sem medo, para escutar a “tosse, gemidos e respiração ofegante” dos idosos que se espalhavam pelos corredores da morte dos hospitais de Xangai. Não tenhamos dúvidas: na China, um surto covid-19 é um facto que não levanta quaisquer dúvidas. Quem duvidar é seguramente um negacionista.

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    Para nos proteger desta catástrofe amarela, as autoridades europeias – leia-se, Comissão Europeia – começaram a propor “medidas”, como seja o regresso das fraldas faciais nos voos procedentes da China. No fundo, era apenas alargar o tempo de uso das mesmas pelos chineses, já que, por lá, as carregam a toda a hora e não custaria nada levá-las por mais umas horas num avião – nem parece tão insensato; juro, é sincero!

    Note-se que em Dezembro de 2020 a Organização Mundia de Saúde (OMS) tinha-nos garantido que “são limitadas e variáveis as evidências científicas que corroboram a eficácia do uso de máscaras por pessoas saudáveis na comunidade com o intuito de prevenir a infecção por vírus respiratórios, incluindo SARS-CoV-2. Um grande estudo randomizado, de base comunitária, no qual 4.862 participantes saudáveis foram divididos em um grupo que usou máscaras cirúrgicas e um grupo controle, não encontrou diferença na taxa de infecção pelo SARS-CoV-2. “

    Não são só de medidas destas que fala a União Europeia, também propôs oferecervacinas à China… a fim de ajudar o governo de Pequim a conter um surto da doença”. Estranho! Há meses, uma executiva da Pfizer, o principal fabricante das salvíficas “vacinas” do mundo ocidental, admitia em pleno Parlamento Europeu que a “vacina” contra a covid-19 nunca tinha sido testada para prevenir a transmissão.

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    Temos duas hipóteses: ou mudaram de opinião ou pretendem perpetuar a sua galinha dos ovos de ouro, em modo delegado propaganda médica. O jornalismo mainstream não nos esclarece.

    Para terminar, a pérola final: tivemos o aparecimento da subvariante BQ.1.1, obviamente, e como sempre, “significativamente mais resistente às vacinas bivalentes actualizadas”, conclusão obtida com um estudo – atente-se –, em 29 pessoas! Trata-se, segundo a notícia, da “Neta da Ómicron”, certamente, e sem quaisquer dúvidas, mais perigosa que a sua Avó.

    A notícia é rematada da seguinte maneira: “Mantenha a calma e evite deslocar-se aos hospitais”. Para o jornalismo mainstream, não há nada como morrer em casa.

    Luís Gomes é gestor (Faculdade de Economia de Coimbra) e empresário


    N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do PÁGINA UM.

  • 2023: trilhando as veredas de um desastre económico e financeiro

    2023: trilhando as veredas de um desastre económico e financeiro


    O Banco Central Europeu (BCE), liderado pela inefável e cadastrada Christine Lagarde, voltou a subir a taxa directora; desta vez, em 50 pontos base. De imediato, as taxas de juro Euribor, os principais indexantes dos empréstimos à habitação na Zona Euro, subiram para máximos de 14 anos.

    Vamos já ao que interessa: a Euribor a 12 meses encontra-se em máximo de 14 anos, cotando acima dos 3%. Esta subida teve lugar a partir do início de 2022, quando se tornou evidente que o agravamento da taxa de inflação não era transitória e vinha para ficar.

    person holding brown leather bifold wallet

    Qual será o impacto desta recente subida para a maioria das famílias portuguesas, em particular aquelas com um crédito à habitação indexado a uma taxa variável, como é o caso da Euribor a 12 meses?

    A situação afigura-se dramática. Analisemos o impacto da recente subida (+3,1%) e comparemos com os valores no final de 2021 (-0,5%), usando o exemplo de um crédito à habitação de 150 mil euros, indexado à Euribor a 12 meses e com um spread de 1,5%, usando dois cenários: (i) financiamento a 30 anos; e (ii) a 40 anos.

    No caso do cenário de financiamento a 30 anos, o acréscimo da prestação é de 283 euros, resultando numa subida de 60%, passando de uma renda mensal de 482 euros para 765 euros. O cenário de financiamento a 40 anos apresenta um pior agravamento, dado que a renda mensal sobe 80%, passando de 379 euros para 680 euros!

    Evolução da taxa de juro Euribor a 12 meses (%) entre Janeiro de 2020 e Dezembro de 2022. Fonte: Euribor. Análise do autor.

    A pergunta que se coloca é a seguinte: será que tudo isto foi deliberado? Será que tudo assenta num plano para destruir a população, tornando-a insolvente, dependente do Estado e em risco de perder a sua propriedade mais preciosa: a sua casa?

    Para se controlar uma população, importa eliminar as pessoas com um rendimento independente. Quem é mais independente: o dono de um café que depende apenas dos seus clientes ou um funcionário público que depende do Estado? É óbvio que o segundo, dado que este depende de uma entidade terceira, em lugar de procurar a satisfação das necessidades dos seus clientes.

    Por essa razão, os regimes comunistas são particularmente difíceis de derrubar, precisamente por não existirem pessoas com rendimento independente: todos se encontram na folha salarial do Estado, atendendo que este detém todos os meios de produção. É sempre difícil revoltar-me contra aquele que me põe a comida no prato!

    Fonte: Euribor. Análise do autor.

    Aparentemente, parece ser esse o propósito do escol das sociedades ocidentais: tornar a população dependente, obnóxia e subserviente ao Estado.

    Para esse fim, é necessário destruir todos os pequenos negócios; precisamente o que foi feito durante a suposta pandemia durante os dois últimos anos e meio: encerrá-los, endividá-los e desesperá-los, por forma a que se alistem nas filas de esmolas estatais.

    Já repararam que o actual Governo não reduz impostos, permitindo que as pessoas fiquem com mais dinheiro no seu bolso; em seu lugar, temos a caridade, proveniente da cobrança coerciva de impostos. Primeiro pagas; se te portares bem, talvez recebas uma esmola!

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    Mas isto não era suficiente, era necessário mais. Muitas franjas das sociedades ocidentais ainda possuem um grande apreço ao livre mercado, ao empreendedorismo e à liberdade. Era necessário criar uma inflação massiva, visando confiscar vasta quantidade de recursos dos cidadãos a favor do Estado. Desta forma, este poderia passar a distribuir sinecuras e benefícios à sua clientela partidária e, medida suprema e emblemática, criar o rendimento mínimo universal.

    Em 2020, à boleia da fraude pandémica, anunciando-se a salvação da população de uma recessão iminente, colocaram-se as rotativas do BCE a funcionar a toda a velocidade; até existiram uns apaniguados do regime a pedir tal acção aos quatro-ventos: “Hora de ligar as rotativas do BCE sem limites”.

    Eles pediram, a Sra. Lagarde deu-lhes: imprimindo 3,8 biliões de euros (12 zeros), cerca de 19 vezes o Produto Interno Bruto português, entre o início de 2020 e o final de 2022, tal como podemos observar na próxima imagem.

    Evolução do balanço do Banco Central Europeu (BCE) entre Janeiro de 2008 e Novembro de 2011 (Unidade: biliões €). Fonte: St. Louis Fed. Análise do autor.

    Esta loucura monetária teve obviamente consequências nefastas, com a maioria das matérias-primas a registar expressivas subidas de preços a partir do início destes “estímulos monetários”, com destaque para as energéticas, como o Petróleo e o Gás Natural que subiram 283% e 272% respectivamente, entre Março de 2020 e Dezembro de 2022.

    Para melhor ilustrar, no final de Março de 2020, um barril de petróleo custava 19 euros; agora, custa mais de 71 euros, uma subida de 283%!

    Não bastava criar mais massa monetária à “procura da mesma quantidade de bens e serviços”, era necessário também destruir a oferta; como? Aplicando sanções económicas ao maior exportador de matérias-primas do mundo: a Rússia.

    Como justificá-las? A Rússia tinha invadido um país soberano, obviamente condenável; no entanto, estranha-se que não tenha ocorrido o mesmo aos perpetradores de invasões e bombardeamentos ao Camboja, ao Vietname, a Granada, ao Iraque, ao Afeganistão, à Sérvia, à Líbia, à Síria – a lista é infindável.

    Variação (%) das principais Matérias-Primas entre 31 de Março de 2020 e 19 de Dezembro de 2022. Fonte: Yahoo Finance. Análise do autor.

    Além disso, os mesmos que agora lançam sanções económicas apoiaram um golpe de estado em 2014 na Ucrânia, depondo um líder democraticamente eleito e colocando em seu lugar um regime que bombardeou desde então a população de cultura russa e que ameaçou aderir à Nato, visando aceitar bases de mísseis apontados a Moscovo. Alguém imaginava tal situação no Canadá, México ou Cuba; alguém se recorda da crise dos mísseis em 1962? Os Estados Unidos alguma vez aceitaram tal ameaça ao seu território?

    Mas não foi só um choque de procura e oferta a provocar a subida inexorável do preço da energia com base em combustíveis fósseis, foi também o omnipresente culto das “alterações climáticas”, da diabolização do gás da vida: o dióxido de carbono (CO2). Apesar de ser invisível e inodoro, associam-no ao fumo dos escapes e chaminés das fábricas!

    Neste ambiente esquizofrénico, todos os novos projectos de extracção de gás e petróleo e gás são cancelados e gasodutos são destruídos, tudo em nome do “combate às alterações climáticas”.

    Segundo os sacerdotes do culto das “alterações climáticas”, necessitamos de substituir os carros de combustão por eléctricos, apesar de estes serem um enorme desastre ambiental – extracção de metais pesados para a sua construção altamente poluentes, armazenamento de baterias em fim de vida poluentes, montanhas despojadas de árvores para a extracção do lítio – e humano – trabalho infantil em África para extrair cobalto.

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    Também necessitamos de aumentar a produção de energias renováveis a todo o custo, em particular a eólica e a solar, onde a China é precisamente o maior produtor de equipamentos, apesar de também ser o maior poluente. A incongruência de tudo isto não tem fim!

    Para além do cataclismo económico das populações ocidentais, começa-se agora a implementar mecanismos de controlo da população inimagináveis há décadas. Para isso, importa seguir o tudo de ensaio de tudo isto, a China, reforçando-a economicamente e tratando-a como o modelo a seguir – ver as declarações de Klaus Schwab, líder do Fórum Económico Mundial a este respeito.

    Estes mecanismos de controlo passam por conhecer todos os aspectos da vida em sociedade de cada ser humano: quem são, onde estão, o que pensam, onde gastam, quanto gastam, por onde se deslocam, que quantidade de impostos é possível extrair; estas e outras perguntas ocorrem permanentemente na mente destes tiranos.

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    Tentativas de controlo não são novidade: os censores romanos, sempre que uma nova província era conquistada pelo Império, serviam para realizar um levantamento dos dados da população ocupada, por forma a conhecer a sua localização, identidade e capacidade fiscal; apenas não dispunham das actuais ferramentas tecnológicas, mas o propósito era o mesmo.

    Os passaportes de vacinas, os códigos QR, a inteligência artificial, visando identificar em tempo real cada cidadão nas suas deambulações por uma cidade, as moedas digitais dos bancos centrais, os sistemas de créditos sociais, onde cada cidadão recebe pontos de acordo com o “seu comportamento”, os carros eléctricos dependentes de um computador e condução autónoma, podendo-se remotamente impedir a pessoa de se deslocar, são tudo ferramentas há muito testadas na China e que já foram aplicadas parcialmente durante a putativa pandemia.

    Para além destas ferramentas, também se recorre à propaganda – a imprensa mainstream não é mais que propaganda e manipulação -, à censura – os “Twitter Files” tornaram evidente que os lápis azuis estão em toda a parte – e, em particular, ao cancelamento dos dissidentes, usando essa infame expressão: negacionista!

    woman in black shirt wearing black sunglasses

    Temos agora os negacionistas climáticos, os negacionistas de eleições – alguém acredita que o Biden foi eleito com o maior número de votos na história das eleições norte-americanas?! -, negacionistas da covid-19, negacionistas do 11 de Setembro, negacionistas da “Ciência e das vacinas”, negacionistas da “bondade da guerra na Ucrânia”, um sem fim de negacionistas, que, enfim, limitam-se a questionar a narrativa oficial e a colocar questões, recebendo em troca toda a espécie de insultos: conspiracionista, chalupa e negacionista!

    Os direitos constitucionais das populações também estão a ser obliterados ou não respeitados; se a constituição de um dado país não permite a implementação da ditadura, mude-se a mesma, nem que seja de forma ilegal.

    Por outro lado, assistimos à destruição do Estado-Nação e à transferência de soberania para instituições transnacionais como a União Europeia – que publica legislação ao quilograma e destrói os pequenos negócios -, o Fundo Monetário Internacional, o Banco Mundial, a Organização das Nações Unidas e a Organização Mundial da Saúde – aquela organização que irá emitir os passaportes vacinais para podermos circular pelo mundo.

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    A despersonalização da população é outro objectivo, tal como se faziam aos escravos nas praias de Angola antes do embarque para as Américas: separar as famílias, eliminando todos os laços familiares e raízes do indivíduo, por forma a torná-lo descrente, resignado e submisso. É precisamente o desiderato dos inúmeros géneros recém-criados – diria inventados – , retirar ao indivíduo todas as suas raízes e integrá-lo num novo grupo.

    Por fim, o doutrinamento das crianças através da escola pública, tornando-as propriedade do Estado e fazendo-as crer que o Estado é uma entidade magnânima, de bem, a quem se deve obedecer e pagar impostos sem questionar.

    Está na hora de nos levantarmos, caso contrário, estamos a caminho de uma tirania nazi, desta vez ditada por um grupo de globalistas sem rosto. 

    Luís Gomes é gestor (Faculdade de Economia de Coimbra) e empresário


    N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do PÁGINA UM.

  • Pedro Nuno Santos, esse!, o homem da Causa Pública…

    Pedro Nuno Santos, esse!, o homem da Causa Pública…


    Já foi noticiada e analisada, até à exaustão, a demissão do ministro Pedro Nuno Santos (PNS), talvez o rosto mais conhecido do Partido Socialista (PS) depois de António Costa.

    Os saudosistas deste agora ex-ministro, como Ana Gomes, comentaram a sua saída do Governo de forma pungente, apelando até ao seu regresso com a maior brevidade, talvez numa manhã de nevoeiro: “PNS sai, como sempre esteve no Governo: com seriedade, convicção e dignidade. E com ambição para o País. A tempo de revigorar o Partido Socialista, espero.”

    Também temos despedidas mais singelas, como o “Obrigada” da deputada Isabel Moreira, co-autora do ilegal projecto de revisão constitucional do PS, o tal que propõe, quase cinco décadas depois da instauração da “democracia”, umas quantas alterações aos direitos, liberdades e garantias da Constituição da República que estão vetadas pelo seu artigo 288º.

    Pedro Nuno Santos, vulgo PNS

    Mas coloca-se uma questão premente: a que se devem tantos encómios, laudas, ditirambos, panegíricos e tantos carpidos agradecimentos ao copioso esforço laboral do “nosso” PNS, apodado como o verdadeiro defensor da causa pública? Que digo?! Com o cognome de Causa Pública.

    Este é, convenhamos, um dos principais mistérios do mundo contemporâneo: o interesse público. Mas, afinal, o que é isso do interesse público?, que tantas vezes escutámos durante a putativa pandemia: o interesse colectivo tem de estar acima do indivíduo – até parecia que estávamos num congresso do PCP.

    Na verdade, o interesse público acaba por ser uma espécie de tirania da maioria, tantas vezes utilizada pela classe política para justificar o atropelo aos nossos direitos: vejam lá, a maioria está connosco, tens de te submeter.

    E se, por exemplo, a maioria decidir que os obesos não podem entrar nos restaurantes? Se, por exemplo, a maioria decide que todos os que possuem depósitos bancários superiores a 500 mil euros devem ser confiscados em 50% a favor do Estado? Ou 100% até, porque não? E se, por exemplo, a maioria entende que a correspondência pessoal de certos profissionais deve ser pública?

    PNS no último Natal, entre António Costa e Marcelo Rebelo de Sousa.

    Por vezes esquecemo-nos que as cartas constitucionais servem precisamente para proteger os interesses dos indivíduos da tirania da maioria: o direito a não ser discriminado, o direito à propriedade, o direito à privacidade seriam a resposta óbvia às anteriores perguntas.

    No fundo, o Estado deverá servir apenas para assegurar a nossa segurança e arbitrar os conflitos que derivam dos interesses particulares de cada um. Não serve para ser o Robin dos Bosques – na verdade saca aos pobres a favor dos ricos, vejam o escândalo da “nossa” Alexandra Reis –, nem tão pouco para gerir empresas de aviação.

    Em conclusão, apenas existem interesses individuais, não existe o tal absurdo interesse público. Cada ser humano é único, com virtudes, defeitos e ambições individuais, mesmo se legítimas. Se ocorrer uma verdadeira pandemia, nenhuma pessoa com dois palmos de testa necessita que lhe digam que a mesma existe; bastará ver os seus próximos a adoecer, e a tombar, para que desate a procurar defender-se e proteger-se: não necessita da tutela do Estado, nem das ordens da senhora Freitas – que, aliás, também se vai embora, vejamos para onde…

    white and blue airplane on airport during daytime

    Para muitos membros da casta, o “nosso” Pedro é o verdadeiro paladino da Causa Pública – assim mesmo em maiúsculas, mesmo não se sabendo lá muito bem o que será tal coisa. Não sei explicar o porquê. Para além dos cargos políticos, não se lhe conhece qualquer emprego, empresa que tenha fundado com dinheiro do seu bolso, ou entrevista de emprego que tenha realizado. Trata-se de um homem público que sempre viveu da cobrança coerciva de impostos, o que até explicará o seu absoluto desprezo pelo dinheiro dos outros.

    Esse desprezo levou-o, por exemplo, a enterrar mais de 3,5 mil milhões de euros na bancarroteira nacional, TAP de seu nome. Isto dá 360 euros por português, incluindo idosos, adultos e crianças, ou seja, 10,3 milhões de almas. Para uma família de quatro pessoas significa mais de 1.400 euros; isto tudo num país onde o salário médio não ultrapassará os mil euros.

    Em defesa da sua dama, o Pedro afirmava que a “TAP é do povo português para o bem e para o mal”. Engraçado, até hoje nunca recebi qualquer título de propriedade, nem tão pouco qualquer dividendo. Mas há quem tenha recebido chorudos salários e indemnizações à conta do Joaquim do Café, da Maria do Cabeleireiro e do João do Bate-Chapas, que vão continuar a pagar uma dívida pública colossal, através de uma carga fiscal sem precedentes, que tem servido ao longo de décadas para alimentar a casta.

    turned-on headrest monitors

    O Pedro nunca nos alertou que, depois das falências e vendas forçadas causadas pela casta onde ele milita, e que nos explora há mais de 48 anos – quem não se recorda da Portugal Telecom, da ANA, do BES –, a bancarroteira nacional era (e é, e ainda, para mal dos nossos pecados, será) um dos últimos redutos de sinecuras e de contratos pornográficos para prestação de serviços (com pouco trabalho) para amigos e apaniguados.

    Lacerda Machado, Stephanie Sá Silva, Isabel Nicolau, Miguel Frasquilho e Pedro Rebelo de Sousa foram alguns dos que conhecemos. E certamente que devem existir dezenas de ilustres desconhecidos que estão a gracejar com a nossa servidão e miséria.

    Num país que, na União Europeia, está nos primeiros lugares a contar do fim no indicador PIB per capita, corrigido pela paridade do poder de compra (PPP), esperançado em caminhar para o último lugar, agora que a (ex-ditadura comunista) Roménia se apresta para nos passar a perna, o Pedro Nuno alimentou-se (e alimentou muita gente, obviamente com o nosso bolso) do grandiloquente sonho de possuir uma Companhia de Bandeira.

    Ninguém disse ao Pedro que a maioria dos países europeus, certamente bem “mais pobres do que nós” (como todos sabem…), já não usufruem desse luxo: Iberia, Swiss Air, Sabena, Alitalia, British Airways, apenas para citar alguns exemplos, foram à vida. Ou seja, fecharam ou foram definitivamente alienadas a privados.

    Em tempos, até tivemos o chefe do Pedro (agora ex-chefe), o verdadeiro prócere do regime, a anunciar que “a TAP é fundamental pois, na era da globalização, tem a importância que as caravelas tiveram na era dos Descobrimentos”. Isto tudo daria para rir a bandeiras despregadas, caso eles não zombassem de nós há décadas, pois escravizam-nos e, pasme-se, ainda votamos neles! 

    O Pedro, depois de me ter assaltado em 1.400 Euros, sairá em glória, não tenho dúvidas. Terá toda a camarilha que come no prato do Orçamento do Estado há décadas a suplicar pelo seu pronto regresso, pois o Homem da Causa Pública não nos pode abandonar! Há muitos que vão andar por aí como órfãos… até ao seu, Deus me benza!, regresso.

    Luís Gomes é gestor (Faculdade de Economia de Coimbra) e empresário


    N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do PÁGINA UM.

  • A culpa é do Livre Mercado: ainda acredita na “história da carochinha”?

    A culpa é do Livre Mercado: ainda acredita na “história da carochinha”?


    Uma das expressões mais vilipendiadas dos nossos dias é o Livre Mercado, ou mesmo os Mercados; quem não se recorda daqueles meses anteriores à chegada da ajuda internacional, o período da famosa Troika, em que os juros pagos pela República Portuguesa no mercado secundário não paravam de subir, chegando a uns impensáveis 18%!

    Diziam-se coisas absolutamente extraordinárias: “Malvados Mercados!”; “Temos de processar os mercados!”; “Estes juros são usura!”.

    blue and red cargo ship

    Ora, o Livre Mercado não é mais do que um termo para descrever as trocas comerciais livres e voluntárias que ocorrem numa sociedade. Cada troca é realizada através de um acordo voluntário entre duas pessoas, ou entre grupos de pessoas, representadas por agentes – o representante de uma sociedade ou de uma associação, por exemplo.

    De forma voluntária, dois indivíduos – ou agentes – trocam bens económicos, sejam eles tangíveis – um carro, um telemóvel – ou intangíveis – serviços médicos, serviços de consultoria, por exemplo.

    Desta forma, se decido comprar um telemóvel por 500 Euros numa loja de comunicações, eu e o agente (vendedor, neste caso) da loja trocamos duas mercadorias: (i) eu desisto de 500 Euros e o lojista de um telemóvel.

    Se eu vendo o meu trabalho para uma empresa, de forma mutuamente acordada e voluntária, por um salário monetário, neste caso, a empresa é representada por um agente com capacidade legal para me contratar.

    person standing near vegetables

    Eu cedo horas do meu trabalho por troca de um salário mensal; o empresário emprega uma fracção dos capitais obtidos juntos dos accionistas – ou de empréstimos junto da banca ou dos mercados –, a troco do meu trabalho.

    O primeiro (trabalhador) tem um rendimento certo e estável, sem risco, enquanto o segundo (empresário) um rendimento instável, dependente dos humores dos consumidores. Corre o risco de perder a totalidade dos seus capitais, caso o produto ou serviço não vingue junto do mercado. Se tiver sucesso, os accionistas terão os seus capitais remunerados – a essência do capitalismo, servir um consumidor de forma rentável.

    Ambas as partes realizam a troca, atendendo que cada uma espera lucrar com isso. Além disso, cada um repetirá a troca da próxima vez – ou se recusará –, porque a sua expectativa se mostrou correcta (ou incorrecta) no passado recente. O comércio, ou troca, é realizado precisamente porque ambas as partes se beneficiam; se não esperassem ganhar, não concordariam em realizar a troca.

    A interação entre compradores e vendedores, aquilo que se designa por procura e oferta, gera a formação de preços, promovendo, a todo o momento, um valor de equilíbrio que permite maximizar o volume de transacções. Os preços não são nada mais que sinais. Se estão altos, indicam aos produtores que há escassez, atraindo mais concorrentes e mais quantidade produzidas, aplicando-se o oposto quando os preços são baixos.

    Infelizmente, a natureza humana é perversa, criando sempre obstáculos à existência do Livre Mercado. O recurso à violência, retirando ao produtor o fruto do seu trabalho sem dar-lhe nada em troca, é uma das formas de obtenção de recursos.

    Quando um exército invasor força os habitantes a entregarem-lhe tudo; quando um assaltante, de pistola em punho, força a sua vítima a entregar-lhe a carteira; ou quando um dado Estado, através de tributos e taxas, esbulha os seus cidadãos, não são mais que antíteses do Livre Mercado, onde a obtenção de recursos se faz através do uso da violência.

    Outro argumento para intervir no mercado advém da existência de assimetrias de informação entre as partes. É o que acontece numa relação entre um paciente e um médico. Este último tem uma enorme vantagem sobre o segundo, podendo-lhe impor, com a maior das facilidades, uma quantidade infinita de fármacos, com um único propósito de obter o máximo de lucro, incluindo lucrar com a permanente doença do paciente.

    A assimetria de informação irá sempre existir em praticamente todas as transacções; por regra, o produtor do bem ou do serviço tem sempre maior informação, actuando, por conseguinte, em vantagem.

    man in purple suit jacket using laptop computer

    Este é um dos argumentos para o aparecimento de reguladores, que são igualmente organizações constituídas por homens – neste caso, funcionários públicos, com os defeitos e virtudes associados –, que obrigam o produtor a “esclarecer” previamente o consumidor, tratando-o, quase sempre, como uma vítima, totalmente inimputável e incapaz de somar 2+2.

    Um dos exemplos mais paradigmáticos é a regulação da indústria financeira. No momento em que um consumidor decide adquirir um produto financeiro considerado complexo – conceito, obviamente, definido pelos reguladores –, a corretora é obrigada a alertá-lo de que poderá “morrer” ao virar da esquina.

    Previamente à contratação, a corretora tem de realizar um teste de avaliação de conhecimentos, visando aferir a capacidade do consumidor em compreender um dado produto financeiro ou mesmo se ele se adequa às suas necessidades; tal como alguém que se dirige a uma loja, ao entrar, a funcionário obriga-o a realizar um questionário, chegando, no final do mesmo, à conclusão que o conteúdo da loja não é para ele. Este é o ridículo a que chegámos com o intervencionismo da União Europeia.

    A assimetria de informação combate-se com a concorrência, em que os mais sérios, aqueles que efectivamente pugnam pelos interesses dos consumidores, vingam. Por outro lado, em lugar de fechar um dado mercado, a sua abertura, a existência de liberdade, torna o mercado democrático e acessível, gerando maior literacia aos consumidores.

    brown high-rise building

    As empresas de notação financeira surgiram no início do século XX, quando as empresas de caminhos-de-ferro norte-americanas necessitavam de angariar capitais junto de pequenos aforradores europeus. Estas empresas recebiam dinheiro de vários investidores com o propósito de investigar e avaliar as contas das empresas que solicitavam empréstimos. Neste caso, os consumidores agregaram-se com o propósito de eliminar a tal assimetria de informação; ou seja, foi o Livre Mercado que encontrou soluções para tal problema.

    Outra forma de intervencionismo, contra o Livre Mercado, é o licenciamento estatal. Neste caso, a empresa é obrigada a pedir uma licença para operar num dado mercado, seja junto do Estado ou de um regulador, demonstrando que cumpre uma série de requisitos, como por exemplo: capitais mínimos, idoneidade dos administradores e dos sócios ou experiência prévia.

    Esta prática tem dois propósitos: (i) proteger os concorrentes já estabelecidos, limitando a oferta; (ii) entregar um poder desmesurado ao burocrata que decide o processo, como é o caso do licenciamento urbano, onde todos os incentivos à corrupção estão criados. Este último tem tudo a ganhar em sacar uns cobres a quem deseja entrar, com os consumidores a pagarem a fava rica no final.

    O Livre Mercado também obriga ao respeito pela propriedade privada. Quando um banco comercial emite moeda para conceder-nos um crédito, não realiza, neste processo, qualquer produção à sociedade. Na prática, todos ficamos mais pobres, pois cada Euro emitido desta forma, fruto de uma licença junto do Banco Central, vai diluir o valor de todos os Euros que possuímos.

    Abraham Lincoln statue

    Sem o respeito pela propriedade privada, neste caso, pela produção ilegal de dinheiro, os preços são distorcidos para os sectores de actividade onde a produção de dinheiro mais afecta. É caso, por exemplo, do imobiliário, onde a produção de crédito através da emissão de dinheiro, por esta via, provoca uma subida inexorável dos preços. O Livre Mercado não é isso; tem de existir dinheiro sério e o respeito pela propriedade privada.

    Vivemos numa falácia, onde todos os dias se lançam impropérios ao Livre Mercado, onde se apela a maior intervencionismo do Estado, quando este apenas devia zelar pelo cumprimento das regras do mercado e proteger a propriedade privada.

    Com a União Europeia, temos uma Economia hiper-regulamentada e tributada com um único propósito: evitar a entrada de novos concorrentes, infernizar a vida dos pequenos negócios para os levar à falência – incapazes de cumprirem com toda a legislação e suportar a enorme carga fiscal –, e facilitar a concentração de um enorme poder em grandes multinacionais.

    Livre Mercado, pois então?! Não pense nisso. Há muito que não existe.

    Luís Gomes é gestor (Faculdade de Economia de Coimbra) e empresário


    N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do PÁGINA UM.

  • A China e os “vira-casacas”

    A China e os “vira-casacas”


    Tem sido pungente assistir às notícias sobre a “luta pela democracia” na China. Vários líderes políticos e comentadores da nossa praça, que antes apelavam à implementação de medidas draconianas a respeito da pandemia, vieram nos últimos dias dar-nos a sua opinião sobre a política de “Covid Zero” aplicada pela China.

    Se não fosse dramático o que se passa na China, onde a população vive numa sociedade distópica – onde um sistema de créditos sociais já se encontra implementado – e ditatorial, podíamo-nos rir a bandeiras despregadas com a hipocrisia e o despudor desta gente. Mas não o faremos; o assunto é demasiado sério.

    Ponto prévio: é paradigmático que a imprensa mainstream nunca defina correctamente o regime chinês por aquilo que é: uma ditadura comunista totalitária.

    Comecemos pela imprensa internacional. No último dia 28 de Novembro, o The New York Times noticiava os protestos na China desta forma:

    No fim de semana, protestos contra as rígidas restrições da Covid na China ricochetearam em todo o país, num raro caso de agitação civil em todo o país.”

    Alguns manifestantes neste fim-de-semana chegaram a pedir a renúncia do Partido Comunista e do seu líder, Xi Jinping. Muitos estavam fartos de Xi, que em Outubro garantiu um terceiro mandato que desafia os precedentes do partido, e da sua política de Covid Zero, que continua a perturbar a vida quotidiana, a prejudicar os meios de subsistência e a isolar o país;”

    A abordagem da China ganhou elogios durante o início da pandemia e, sem dúvida, salvou vidas. Mas agora essa abordagem parece cada vez mais desactualizada. Quase três anos após o surgimento do Coronavírus, o contraste entre a China e o resto do Mundo não poderia ser maior.”

    group of people inside room

    Passámos de restrições que salvam vidas para rígidas restrições; de indispensáveis e necessárias para medidas que perturbam a vida quotidiana e prejudicam a obtenção de meios de subsistência!

    Mesmo assim, note-se, salvaram vidas; isto depois da Suécia, que não as implementou, apresentar uma das taxas de mortalidade mais baixas dos últimos três anos – incluindo, nesta comparação, os países nórdicos.

    A nível nacional, tivemos o jornal do “consenso social em favor da vacinação”, leia-se Público, que apresentou o mesmo registo, as medidas são agora rígidas em lugar de salvíficas e necessárias:

    As manifestações contra a política rígida de combate à covid-19 na China, conhecida como “covid zero”, chegaram a Xangai, Pequim e outras cidades, e adoptaram um tom antigovernamental, algo raríssimo num regime em que as exibições públicas de oposição política são altamente censuradas.”

    Para o Público, os manifestantes passaram de negacionistas e chalupas a lutadores pela liberdade! Quase parece magia.

    person in white jacket wearing blue goggles

    No meio deste turbilhão de eventos, também apareceu o inefável líder do Canadá, esse paladino “dos direitos humanos” a comentar os eventos na China. Recordemo-nos que Justin Trudeau, há meses, esmagava uma manifestação pacífica de camionistas, que estavam contra as suas políticas da covid-19, em particular a obrigatoriedade de inoculação com uma substância experimental.

    Este “democrata” utilizou todas as opções ao seu dispor: estado de emergência, polícia de choque, cães, polícia a cavalo, bastonadas, gás lacrimogénio, tanques de água, congelamento de contas bancárias e, pasme-se, até o despedimento da função pública. Estes tiranos recorrem a todos os meios possíveis, não lhes escapa nada.

    Mas então o que nos disse sobre as revoltas na China?

    Que todos na China deveriam ter permissão para protestar e se expressar, e que os canadianos estavam a observar de perto os protestos contra a política de COVID-zero do país.

    Palavras para quê?! Todos têm direito ao protesto, excepto os camionistas canadianos e todos aqueles que não estão de acordo com ele.

    E por cá? Como se portaram os tiranetes da nossa praça?

    shallow focus photography of man in white shirt

    Uma das “conhecidas comentadoras” da CNN Portugal, de seu nome Helena Ferro Gouveia, há uns meses contava-nos assim a respeito de mais um confinamento na Alemanha, desta vez apenas para os não-vacinados:

    “…o que se decidiu aqui foi penalizar as pessoas que escolheram, que optaram por não se vacinar, não penalizando aquelas que cumpriram o dever cívico e se vacinaram…”;

    “…um lockdown total ia penalizar aqueles que se vacinaram e que cumpriram aquilo que lhes foi pedido”.

    Para além de um discurso de ódio aos não vacinados, apelava ao “amocha e está calado”, a senhora nem tão pouco respeitava os mais elementares direitos humanos: a autonomia do corpo e o direito de locomoção.

    Mas, infelizmente, este foi o discurso na maior parte da imprensa mainstream ao longo de mais de dois anos, mas que parece ter-se alterado com os acontecimentos na China.

    Sobre isto, o discurso desta, hélas, administradora da agência Lusa, aquela em que a sua jornalista viu um relatório que afinal era apenas um “esboço embrionário que consubstancia um mero ensaio para um eventual relatório”, escrevia assim na sua página do Facebook:

    group of people waving their hands

    Olho para os protestos na China com um misto de admiração pela coragem dos milhares que se manifestam em múltiplas regiões do país, que faz destes protestos algo histórico, só comparável aos protestos esmagados por tanques na Praça da Paz Celestial, e por outro com temor pelo destino destas pessoas num regime que reprime violentamente a menor expressão de desagrado”;

    “Não sendo sinóloga, mas acompanhando com interesse tudo o que são regimes autocráticos, antecipo que irão ser dissipados pela força, não deixam, todavia, de ser muito relevantes.

    É comovente, não é? Passámos de pessoas que não “cumpriam o seu dever cívico”, isto é, aceitar uma inoculação experimental no seu corpo, a lutadores incessantes pela liberdade. Aparentemente, um país ocidental que atropela os mais básicos direitos dos seus cidadãos é “bonzinho”; a China não; aqui já se trata de país autocrático.

    Para além deste olhar atento aos “protestos esmagados por tanques”, tivemos outra interessante observação: as “nossas vacinas são melhores que as tuas”; tudo muito “científico” e dito por um dos jornalistas de “maior craveira” da nossa imprensa mainstream:

    “Os chineses ficaram totalmente dependentes da sua vacinação nacional…a Sinovac, uma vacina clássica, não é uma vacina mRNA…”;

    herd of brown sheep

    “Esta vacina (a Sinovac) deu piores provas nos testes…mas, sobretudo, é um tipo de vacina que pela forma como é desenvolvida é mais difícil de adaptar às novas variantes”;

    Mesmo assim, os chineses insistem em não importar vacinas estrangeiras”.

    Vamos lá ver se compreendemos. Nós, aqui no Ocidente, com uma imprensa que deu cobertura a todas as tropelias, fomos “bonzinhos” graças às nossas vacinas: só vos prendemos durante pouco tempo, porque temos umas vacinas miraculosas; enquanto vocês, os maus, os sanguinários, insistis em subjugar o povo chinês sem qualquer necessidade: basta importar as nossas vacinas! É quase o Mike da TV Shop: compra, Mike, estas mRNA e já não necessitas de tratar mal a populaça.

    Tudo isto é dito com um tom professoral, de quem é incapaz de mencionar um estudo sério onde se prove o que está a dizer. Não será melhor atribuir o prémio Nobel, da Ciência e da Paz, a esta gente?

    Gomes é gestor (Faculdade de Economia de Coimbra) e empresário


    N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do PÁGINA UM.

  • Viva o dinheiro!

    Viva o dinheiro!


    Todos os dias falamos de dinheiro. Muitos de nós o amaldiçoam. Atribuímos-lhe a origem de todos os males: de guerras, de conflitos, de injustiças. Outros, falam do dinheiro como se tivesse sido algo inventado pelos Governos; por um decreto-lei: crie-se o dinheiro. Nada mais longe da verdade!

    O dinheiro significa civilização. O dinheiro provém de um processo de mercado; algo que os seres humanos tiveram de “inventar” para que a civilização, o comércio e a riqueza pudessem prosperar. Sem a sua existência, seguramente teríamos de viver na Idade da Pedra, pois a especialização do trabalho seria praticamente impossível.

    Como surgiu então? Qual foi o processo de mercado que deu origem ao dinheiro.

    Etapa 1: da troca directa para a troca indirecta.

    A troca directa exige a dupla coincidência de desejos. Para que uma costureira obtenha uma dúzia de ovos, em troca de umas calças, não é suficiente que prefira os ovos às calças. O criador de galinhas também deverá preferir as calças aos ovos. Esta dupla coincidência de desejos é algo extremamente difícil de ser obtida; ou seja, trata-se de pura sorte encontrar uma costureira a desejar ovos e um criador de galinhas vestido sem calças.

    No entanto, a costureira pode resolver esse problema, recorrendo à troca indirecta. Por exemplo, a costureira pode reparar que o criador de galinhas precisa de castiçais e o fabricante de velas precisa de calças. Ela pode, então, trocar as suas calças por alguns castiçais com o fabricante de velas e, em seguida, trocar esses castiçais por uma dúzia de ovos com o criador de galinhas. Neste caso, os castiçais foram o meio de troca da nossa costureira. Foram apenas utilizados de forma indirecta na obtenção de ovos.

    Mas a solução de troca indirecta ad hoc é muito limitada. Ainda seria preciso muita sorte para a costureira encontrar alguém que esteja a oferecer algo que o criador de galinhas deseja e que também deseje calças.

    O cenário mais próximo da realidade seria uma série de trocas mais longas para que a costureira obtivesse os ovos. Talvez ela precisasse de trocar calças por cordas; depois, cordas por madeira; madeira por peixes; peixes por castiçais; e, por fim, castiçais por ovos. E todos os outros bens que a costureira deseja, como leite ou fruta? Certamente, iria obrigar a costureira a passar por outro pesadelo.

    orange and white egg on stainless steel rack

    A necessidade de troca indirecta é cada vez mais necessária à medida que a divisão do trabalho aumenta e os desejos dos consumidores se tornem mais complexos. Numa sociedade tribal, em que cada família produz aquilo que consome, a troca indirecta é desnecessária: não existe necessidade de realizar trocas. Quanto mais as pessoas se especializam a produzir um determinado bem ou serviço, menos provável é que qualquer indivíduo possa adquirir as várias coisas que deseja em troca do produto ou serviço de nicho que apresenta ao mercado.

    Etapa 2: de meio de troca para meio comum de troca

    Para que um determinado bem se torne um meio comum de troca irá depender da sua liquidez; por outras palavras, da sua “vendabilidade“. De que se trata? Da facilidade de o vender no mercado: (i) no momento em que desejamos e (ii) de acordo com os últimos negócios realizados, ou seja, em linha com os preços actuais praticados.

    Para melhor ilustrar, vamos utilizar o exemplo de um pão, o bem líquido – mais vendável –, e um instrumento náutico, o bem não líquido – menos vendável.

    No nosso exemplo, o proprietário do pão está numa posição privilegiada face a alguém que deseja vender um instrumento náutico.

    O primeiro bem é mais vendável que o segundo. Isto não se trata de afirmar que o proprietário do instrumento náutico não o poderá vender; se este último baixar o preço, ou seja, pedir menos bens em troca do seu instrumento, alguém o comprará. O vendedor do instrumento náutico só poderá vendê-lo, em linha com os últimos negócios que ocorreram no mercado, caso se dedique a pesquisar compradores que compreendam o valor do seu instrumento náutico e participaram em anteriores negócios semelhantes. Precisamente o contrário do vendedor do pão: este não precisa de pesquisar compradores para encontrar rapidamente um negócio, de acordo com os preços actuais.

    persons hand on brown soil

    Devido ao reconhecimento desta desvantagem, associada aos bens não líquidos, os fornecedores destes bens, os menos vendáveis, tendem a trocá-los por bens mais líquidos (facilmente vendáveis), antes de entrarem no mercado a procurar os bens que desejam. Tal facto desencadeia uma espiral ascendente de comercialização para um grupo restrito de bens – os mais líquidos do mercado.

    A elevada liquidez destes bens atrai mais procura, o que aumenta a sua comercialização, o que atrai ainda mais procura, e assim por diante. Este processo continua até que apenas alguns bens sejam seleccionados como meio comum de troca.

    Etapa 3: de meio comum de troca a dinheiro

    O processo de selecção irá parar quando os indivíduos apenas desejarem comercializar os seus produtos e serviços pelo bem mais vendável do grupo restrito de meios comuns de troca. À medida que incrementa o consenso sobre qual o meio comum de troca mais comercializável, a espiral ascendente de comércio para esse bem tenderá a beneficiá-lo em desfavor dos demais.

    Assim, os meios de troca comuns inferiores tendem a sair inteiramente do mercado. A partir daí um único meio de troca passa a ser universalmente utilizado. Por outras palavras, esse meio comum de troca tornou-se dinheiro – também podemos chamar divisa ou moeda. Passou a ser o bem utilizado universalmente como intermediário de todas as trocas de uma dada Economia ou comunidade.

    stack of books on table

    Ao longo da História, várias matérias-primas foram utilizadas como moeda, como, por exemplo, argila, couro, papel, bambu, sal e missangas. No caso desta penúltima, podemos mencionar as seguintes curiosidades. Os soldados romanos eram parcialmente pagos com sal. Diz-se que daí vem a palavra soldado – sal dare, que significava dar sal. Da mesma fonte, obtemos a palavra salário – salarium. O sal foi dinheiro no Império Romano, devido à sua escassez e elevado valor.

    As funções do dinheiro

    Já mencionamos a principal e primeira função do dinheiro: ser aceite e utilizado universalmente como intermediário de todas as trocas numa dada economia. As demais funções derivam desta. A segunda função é ser unidade de conta. Todos os bens e serviços de uma dada economia passam a ser medidos em dinheiro: 0,65 euros por um café; 1,60 euros por um litro de água.

    A reserva de valor é a terceira função. Neste caso, quem detém dinheiro possui a expectativa de no futuro poder vendê-lo no mercado e obter a mesma quantidade de bens e serviços. Desta forma, decide guardá-lo para utilizá-lo no futuro.

    Os metais preciosos – em particular o Ouro, pelas suas características, que irei detalhar seguidamente –, foram o dinheiro utilizado pela Humanidade ao longo de mais de cinco mil anos. Que características deverá possuir um bem para tornar-se dinheiro?

    Ser portável

    O dinheiro deverá ser facilmente transportável ou transferível de um determinado proprietário para outro. Os metais preciosos possuem essas características. Com um relativo baixo custo de transporte é possível transferir com facilidade de um ponto para outro o Ouro ou a Prata. Mas com algumas limitações.

    Assim, criaram-se os substitutos do dinheiro; um dos exemplos: o papel-moeda. O seu portador, ao viajar de uma cidade para outra, sabe que essa nota é convertível de imediato em Ouro; assim, o transporte de papéis torna ainda mais fácil e barato o processo de transporte de metais preciosos.

    Em conclusão, a transferência de propriedade, da pessoa A para a pessoa B, por exemplo, a baixo custo é de extrema importância, em particular se as pessoas A e B se encontram em geografias completamente distintas.

    Divisibilidade

    Uma das características importantes que o dinheiro deverá apresentar é a sua divisibilidade em unidades menores, sem perder valor, a fim de permitir a aquisição de bens ou serviços mais baratos.

    A título de exemplo, as pedras preciosas nunca foram utilizadas como dinheiro devido a esta dificuldade. Apesar de ser possível dividi-las com facilidade, agregá-las novamente e manter as mesmas características é praticamente impossível. No entanto, com os metais preciosos tal é possível: podemos dividir e agregar pequenas unidades com relativa facilidade –  o processo de fundir metais preciosos. Apesar de tudo, este processo não está isento de custos.

    assorted coin lot

    Armazenamento

    Deverá ser possível armazenar o dinheiro a baixo custo. Igualmente, não deverá depreciar ao longo do tempo.

    Os presidiários tendem a eleger os cigarros como moeda; em muitos casos, ao longo do tempo, tudo na cadeia é medido em cigarros. Por exemplo, três cigarros por uma refeição extra; 20 cigarros por um par de calças. Apesar de tudo isto, os cigarros não são utilizados pela sociedade como dinheiro porque perecem; ou seja, ao longo do tempo as suas características vão-se deteriorando.

    Nas sociedades antigas, muitos bens usados como moeda – como, por exemplo, ovos ou gado –, deixaram de o ser precisamente porque as suas características não são homogéneas ao longo do tempo. Perecem, são consumidos ou morrem; tal nunca deverá acontecer com o dinheiro.

    Os metais preciosos mantêm as suas características ao longo do tempo. O ouro utilizado por um soldado romano há dois mil anos mantém agora as características.

    Reconhecido e homogéneo

    Para poder facilitar uma troca, o dinheiro necessita de ser reconhecido e ser homogéneo. Se, em cada troca, a parte que o recebe tem de o escrutinar, pesar e testar, tornar-se-á qualquer transacção em algo extremamente oneroso.

    pink pig coin bank on brown wooden table

    Outra das razões para a não adopção das pedras preciosas como dinheiro deve-se a este aspecto. Em cada transacção teria de existir um perito para averiguar a sua veracidade; ou seja, avaliar se é falsa ou não.

    A cunhagem de metais preciosos veio resolver esta questão. Este processo permite facilmente identificar a quantidade e a veracidade, facilitando a transacção. Apesar de tudo, ao longo da História, os monarcas e o poder sempre lutaram pelo monopólio da cunhagem; muitas vezes, utilizaram este poder para falsificar este processo em seu benefício.

    Escasso e estabilidade de valor

    A última característica determinante é a escassez e a estabilidade de valor. Os metais preciosos são escassos na Natureza e obrigam a um elevado esforço para a sua obtenção – a mineração.

    Ao ser escasso, o seu valor terá mais probabilidade de se manter ao longo de séculos. Esta é uma das características que os proprietários do dinheiro procuram quando o utilizam como reserva de valor. Daqui a cinco ou 10 anos irão poder adquirir os mesmos bens e serviços, ou inclusive mais, beneficiando dos incrementos de produtividade que se produzem ao longo do tempo – por exemplo, os computadores tendem a diminuir de preço, atendendo que é possível produzir mais e a um custo menor.

    Benefícios da existência do dinheiro

    Sem a existência do dinheiro, muitas trocas, hoje banais, seriam impossíveis. Numa comunidade onde apenas existe a troca directa – o Estado primitivo da Humanidade, acima descrito –, uma pessoa que deseje vender os seus serviços de investigador para o desenvolvimento de medicamentos não teria qualquer possibilidade de sobreviver. Apenas os fornecedores de bens e serviços de consumo, como pão ou leite, teriam possibilidade de participar no mercado; os demais, estariam excluídos.

    gold and silver round coins

    O dinheiro permite a existência de várias etapas de produção até à entrega do bem ou serviço ao consumidor final. Por exemplo, a produção de um carro envolve várias etapas para a sua produção: desde a exploração mineira para a obtenção do aço, a peles para a produção dos estofos.

    Em troca da concepção do motor do automóvel, um engenheiro recebe dinheiro pelos serviços prestados; com este poderá adquirir os bens de consumo indispensáveis ao seu dia-a-dia. Ou seja, vende serviços de engenharia relacionados com a concepção de motores em troca de dinheiro. Em conclusão, o dinheiro permite uma Economia complexa, que implica várias etapas produtivas até à venda final do bem ou serviço ao consumidor, bem como a especialização.

    Outro aspecto relevante do uso de dinheiro resulta da facilidade de conceder crédito entre os participantes do mercado. Efectivamente, o crédito pode ser possível com outros bens, mas o dinheiro simplifica em muito este processo. Podemos ilustrá-lo com um exemplo.

    Vamos supor que a pessoa A tem um excesso de bananas (por exemplo, 10 unidades) que não deseja consumir no próximo ano. Está assim disponível para proporcionar a outros o consumo desse excesso; em troca exige que daqui um ano lhe entreguem 11 bananas como contrapartida do seu sacrifício. Ou seja, pede uma remuneração de 10% (1 ÷ 10).

    Aqui colocam-se três questões. Em primeiro lugar, como definir a qualidade das bananas que irão ser devolvidas daqui a um ano; qual o critério de peso, tamanho e cor?

    Em segundo lugar, as bananas daqui a um ano irão ter o mesmo valor de mercado? Como prever com exactidão o clima, a produção e as preferências dos consumidores daqui a um ano?

    O terceiro e último está relacionado com um dos problemas apontados à troca directa. Como encontrar um mutuário que esteja interessado em receber um crédito de bananas?

    O dinheiro vem solucionar todas estas questões. Como é homogéneo, uma das características do ouro, a discussão sobre a qualidade do que se devolve como pagamento do crédito não se coloca.

    Por outro lado, um bem para ser seleccionado como dinheiro deverá apresentar como uma das suas características a estabilidade do seu valor – por isso, a necessidade de ser escasso. Por essa razão, muitos economistas comentam a taxa real de juro. Esta última deverá cobrir a remuneração desejada por quem concede o crédito – no nosso exemplo 10% por ano – e a depreciação do valor do dinheiro, aquilo que designamos por inflação. A taxa de juro real é precisamente a remuneração do prestamista – o que concede o crédito. Se a inflação é de 2% ao ano, no nosso exemplo, o prestamista deverá exigir 12%, aproximadamente, 10% da sua remuneração – a taxa real de juro – e 2% pela depreciação do valor do dinheiro.

    Por último, no momento em que o crédito é devolvido ao prestamista, este último pode adquirir os bens e serviços que entender, não obrigando à pesquisa de mutuários que desejem um determinado bem. Em conclusão, o dinheiro permite a existência de crédito, pois simplifica-o substancialmente.

    Talvez o último aspecto do dinheiro, e o mais importante, seja a possibilidade de empreender. Sem dinheiro não existiam empresários. Empreender consiste na identificação de uma necessidade do consumidor e servi-la com lucro. Para tal desiderato, o empresário contrata serviços, capital e colaboradores. O empresário arrisca o seu capital em troca de um lucro futuro expectável, enquanto os colaboradores vendem os seus serviços – o trabalho – a troco de uma remuneração em dinheiro estável que lhes permite adquirir bens de consumo. A possibilidade de lucro atrai empresários à produção de um determinado bem ou serviço.

    O surgimento do iPhone tinha como objectivo integrar os serviços de comunicação de um telefone com os de um computador pessoal (aplicações, agenda, navegador de Internet…). Para decidir a viabilidade do projecto, o empreendedor teve de estimar receitas, custos e investimentos necessários à prossecução do mesmo numa única moeda. Tal é possível, porque tudo está medido em dinheiro, no caso do iPhone, foi em USD.

    Sem dinheiro, a função empresarial não existiria. Seria como actuar às cegas. Imaginemos se recebêssemos bananas, laranjas e pão em troca de iPhones, as nossas receitas. Agora os nossos custos: teríamos de pagar aos engenheiros em leite, ovos e mel; aos fornecedores de electricidade em bananas e mangas. Como seria possível determinar a viabilidade de qualquer projecto? Apenas o dinheiro permite medir a viabilidade e o sucesso de um projecto, caso contrário, seroa como jogar no escuro.

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    Em conclusão, podemos dizer que o aparecimento do dinheiro foi um processo de mercado, em que uma determinada matéria-prima foi seleccionada pela sua liquidez e características.

    As três principais funções da moeda são: (i) intermediário universal de todas as trocas; (ii) unidade de conta e (iii) reserva de valor. Os metais precisos, em particular o Ouro, foram seleccionados como dinheiro pela humanidade pelas suas características únicas. O dinheiro, ao contrário do que muitas vezes é propagado, representa a prosperidade e a possibilidade de uma economia complexa – várias etapas de produção, função empresarial e crédito.

    Luís Gomes é gestor (Faculdade de Economia de Coimbra) e empresário


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