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  • Imigração descontrolada. Um problema? E qual a solução?

    Imigração descontrolada. Um problema? E qual a solução?


    A emigração de nacionais de países do denominado Terceiro Mundo” para países ricos, como é caso de muitos países europeus, é um tema de forte discórdia há muito tempo. Países como a Suécia, a Holanda, o Reino Unido, a França ou a Alemanha debatem-se com um problema: como integrar milhões de imigrantes, não só socialmente mas também economicamente?

    Portugal, apesar de ser um pobre num clube rico, começou recentemente a deparar-se com esta questão. Há semanas, recebemos o anúncio de que a agência que irá substituir o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) pretende legalizar 600 mil imigrantes, cerca de 6% da população portuguesa!

    group of people standing on seashore

    Do ponto de vista político, temos dois lados da barricada: (i) de um lado, os partidos de “extrema-direita”, que apelam ao fim desta “invasão”; (ii) do outro, os partidos do sistema e de extrema-esquerda a defender uma política de “portas abertas”, em nome da “solidariedade” – como sempre, a solidariedade com o nosso bolso! No espaço mediático, quem se posiciona contra a política de “fronteiras abertas” recebe de imediato o epíteto de racista e xenófobo, impedindo qualquer discussão séria.

    Para um libertário, como é o meu caso, parecerá correcto aceitar uma política de livre movimentação de pessoas? Na verdade, mostra-se natural que os leitores pensem o seguinte: se eu defendo o livre comércio, também defendo fronteiras abertas. Mas antes de responder à questão, importa, em primeiro lugar, distinguir a diferença entre o livre comércio e a migração de pessoas sem limitações ou entraves.

    Reparem: o primeiro obriga a um acordo voluntário entre as partes, comprador e vendedor; e como é óbvio, um bem não tem vontade própria, apenas é deslocado do ponto A para o ponto B com a concordância das partes que o transaccionam.

    O segundo, ao contrário de bens, pode ter lugar sem qualquer autorização prévia por parte dos residentes do território receptor; ou seja, as pessoas têm vontade própria, não dependem de terceiros para migrarem.

    Que razões estarão por detrás da deslocação de pessoas de uma região para outra?

    building with refugees welcome signage

    Fundamentalmente, razões económicas: as regiões com elevados salários atraem migrantes provenientes de zonas pobres. No sentido contrário, temos o capital, que tende a deslocar-se para regiões com baixos salários, por forma a tornar-se mais competitivo e obter maiores margens. Uma das formas de atenuar estes dois movimentos contrários é a existência de comércio livre.

    Vejamos o caso da actual União Europeia, uma área económica altamente proteccionista. Nos dias que correm, basta regular todas as actividades económicas ao mais ínfimo detalhe para se eliminar qualquer concorrência do exterior. É tudo feito para o “nosso bem”, sempre para nos “proteger como consumidores”. Neste contexto, as empresas são obrigadas a implementar milhares de regulações para aceder ao mercado de consumo europeu. Desta forma, o estabelecimento de um negócio num país pobre para exportar para a União Europeia está automaticamente condenado ao fracasso. Apenas países como a China são capazes de o fazer, dado já terem recursos e escala para tal.

    Passemos agora para um exemplo de um país pobre e altamente proteccionista. Atente-se ao que acontece no Brasil, um país com elevadíssimas taxas alfandegárias. Os construtores automóveis, como a Fiat ou a Volkswagen, constroem aí as suas fábricas, caso contrário não seriam competitivos no mercado local, dado que os carros exportados a partir da Alemanha ou Itália chegariam ao mercado brasileiro a preços proibitivos. No entanto, esses investimentos nunca servem para produzir carros no Brasil, onde os trabalhadores auferem baixos salários, para exportar para a Europa.

    people in black shirts and black shorts sitting on bench during daytime

    Em conclusão, o proteccionismo agudiza os referidos movimentos: (i) a migração de nacionais de países pobres para ricos; (2) a deslocação de capitais de países ricos para países pobres. O contrário do comércio livre, que atenua consideravelmente esta tendência, ao permitir que negócios que contratem trabalhadores em países pobres possam exportar directamente para zonas ricas, sem barreiras alfandegárias e regulatórias.

    Num Mundo sem a existência de Estados, aquilo que defendo, os negócios entre particulares e empresas de diferentes regiões seriam livres e voluntários, pelo que os movimentos sobreditos seriam consideravelmente atenuados. São precisamente os Estados que criam barreiras ao livre comércio, através de políticos como Trump, Bolsonaro ou Ursula von der Leyen, altamente defensores deste tipo de políticas, em oposição ao que defende Javier Milei, um libertário. Além disso, ao erigirem generosos “Estados Sociais”, pagos com o roubo à população produtiva, atraem ainda mais este movimento migratório: incrível, dão-nos comida e casa grátis!

    Vejamos agora o que aconteceria num Mundo sem Estados, sem propriedade pública, onde apenas existiria propriedade privada. Tal como os bens, a entrada de pessoas num dado território teria de contar com o acordo dos respectivos proprietários. Neste caso, os imigrantes teriam de receber um convite para poderem entrar.

    brown game pieces on white surface

    Para além do convite, no caso de particulares, também teriam de assegurar o alojamento; no caso de negócios, teriam de assegurar salário e alojamento. E não ficaria por aqui. Aqueles que os convidam também teriam de se responsabilizar pelos possíveis estragos sobre propriedade alheia (roubos, vandalismo…), bem como por eventuais agressões à integridade física de terceiros – violações, assassinatos, etc.

    Para tal, os que convidam seriam obrigados a contratar seguros. No caso de um seu convidado assaltar, agredir ou assassinar alguém, o seguro teria de indemnizar as vítimas e substituir com bens equivalentes ou reparar os objectos subtraídos e vandalizados a terceiros.

    Em conclusão, numa sociedade livre, sem Estado, antes de se convidar alguém, tem de se ponderar benefícios (baixos salários, conhecimentos técnicos) e custos (seguros, alojamento…), pois quem convida é responsável pelo que acontece aos outros. Desta forma, os seguros seriam mais caros para convites endereçados a nacionais provenientes de regiões com uma cultura que não respeita as mulheres (violações) ou a vida (ambientes de guerra, regiões controladas por máfias…).

    E o que é que acontece com um Estado? Usemos um exemplo em Portugal.

    blue and red cargo ship on sea during daytime

    Suponhamos uma empresa de estufas que contrata trabalhadores do Bangladesh; ou a Uber que contrata motoristas provenientes da Índia e Paquistão. Se algo acontecer, como violações, crimes ou assaltos, o custo não se reflecte sobre quem contratou, mas sobre toda a sociedade. No fundo, ninguém é responsável. Com a existência do Estado, quem “convida” apenas tem em conta os benefícios e nunca os custos!

    Como expliquei em artigo anterior, ao contrário de uma Monarquia Absoluta – onde não existia propriedade pública, mas já existia Estado –, numa democracia os eleitos não são proprietários de nada, apenas usufruem do tacho enquanto estão no poder. Têm de roubar no mais curto espaço de tempo, é-lhes indiferente se a casa vai ficar destruída com o número elevadíssimo de inquilinos que lá põem.

    Não espanta que não estejam preocupados com os danos sobre as infra-estruturas e serviços essenciais de um país que podem ser causados por tal “invasão”; por outro lado, ao serem uma casta privilegiada, vivem numa bolha e longe destes problemas – nunca ninguém os viu a viver ao lado de ciganos. O seu interesse é apenas um: roubar uma minoria para comprar os votos da maioria, ganhando assim eleições e a eternização no poder.

    selective focus photography of two men standing side by side wearing green reflective vests

    Não espanta que não estejam preocupados com a entrada de uma horda de imigrantes. Para eles, é só vantagens: (i) recebem um “balão de oxigénio” para o gigantesco esquema em pirâmide que criaram, mais conhecido por segurança social; (ii) compram votos com as casas, alimentos e serviços médicos “grátis”, obviamente pagos pela plebe, e colocando uma medalha ao peito pela solidariedade praticada com o dinheiro dos outros. Finalmente, para evitarem qualquer crítica, asseguram-se que os órgãos de propaganda, pagos com o nosso bolso, lancem os indispensáveis epítetos racista e xenófobo a qualquer opositor.

    Temos assim a suprema humilhação: de um lado, a “extrema-direita”, que se aproveita da frustração e desespero das populações para ganhar votos; do outro, os partidos de extrema-esquerda e do regime que cancelam qualquer voz crítica, usando as eternas palavras do medo: “cuidado, vem aí os fascistas que não os deixam entrar”. Na verdade, nenhum aponta o verdadeiro problema: o Estado e a propriedade pública.

    Luís Gomes é gestor (Faculdade de Economia de Coimbra) e empresário


    N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.

  • Nós somos os ratos do Partido Socialista

    Nós somos os ratos do Partido Socialista


    Em 1957, o fisiologista e cientista norte-americano Curt Richter realizou uma série de experiências com ratos. O seu objectivo era descobrir os efeitos do desespero e falta de esperança sobre a taxa de sobrevivência.

    No início, Curt Richter colocou os ratos em baldes de água e começou a cronometrar a sua natação frenética, pois pressentiam que se iam afogar a qualquer momento. E tinham razão: efectivamente, encontravam a morte ao final de 15 minutos de delírio coribântico.

    Na ronda seguinte, tiveram mais sorte. Quando se aproximavam dos fatais 15 minutos, eram retirados da água pelo munificente Curt Richter. Para desgraça dos ratos, após um descanso, eram atirados de novo para os seus baldes, morrendo após 60 horas, em lugar dos “breves” 15 minutos!

    Como é que os ratos conseguiram prolongar a sua energia por forma a manterem-se vivos durante tanto tempo?

    Esperança!

    Já tinham sido salvos antes e acreditavam que certamente seriam resgatados novamente por Curt Richter no último minuto. A esperança prolongava-lhes a vida!

    A História de Portugal nos últimos 27 anos assemelha-se à experiência dos ratos: de um lado, temos o Partido Socialista (PS), no papel de Curt Richter; do outro, o incerne pagador líquido de impostos português, há décadas a nadar incansavelmente, enquanto o PS lhe incute a eterna esperança: de que não porá fim ao “Estado Social”, que ele paga!, ou mesmo que o resgatará dos perigos da “extrema-direita”. A esperança serve apenas para assaltá-lo com maior violência, ao contrário de Curt Richter que assassinava pobres ratos.

    Tudo começou em 1995, com o homem do diálogo e eterno candidato a Miss Universo – agora já é possível! –, actual Secretário-Geral das Nações Unidas. Naquela altura, Portugal encontrava-se na décima quinta posição entre os actuais 27 países da União Europeia. Atrás, excepto Malta, encontravam-se todos os países que tinham saído do pesadelo comunista.

    Produto Interno Bruto (PIB) per capita em 1995 medido pela Paridade do Poder de Compra (PPP) para os 27 países da União Europeia (Unidade: EUR; preços de 2020). Fonte: Eurostat. Análise do autor.

    Em 1999, o PS “ofereceu-nos” a sua primeira glória: a adesão de Portugal ao Euro. Finalmente, iria colocar-se um ponto final no regabofe das finanças públicas portuguesas. Em 27 anos, à excepção de 2019, as contas públicas estiveram sempre no vermelho, enquanto a dívida pública subiu de 55,4 mil milhões de Euros, em 1995, para 276,6 mil milhões de Euros em 2023. Em conclusão: cada cidadão, incluindo crianças e idosos, em nome do Estado, viu acrescer a sua dívida em 800 Euros todos os anos entre 1995 e 2023, num total de 21,6 mil Euros!

    No final de 2001, o homem do diálogo e eterno candidato a Miss Universo, numa reacção de “fundo moral”, abandonou-nos, dizendo-nos que vivíamos num pântano, num insuportável clima pestilento de corrupção.

    Uns meses depois, o PS oferecia-nos uma nova façanha, desta vez um escândalo relacionado com crimes de pedofilia, o que levou à prisão preventiva do Ex-Ministro do PS, Paulo Pedroso. Tivemos então dois altos dirigentes do PS, o actual primeiro-ministro – aparentemente não sairá até Março de 2024 – e Ferro Rodrigues, apanhados numa escuta que continha uma expressão grandiloquente: “…tou-me cagando para o segredo de justiça”.

    No final de 2005, o PS salvou outra vez o povo português, pela mão do Engenheiro Sócrates, que sucedeu ao homem da noite de Lisboa. Era um homem de visão e de rasgo. Tinha uma coisa maravilhosa para nos oferecer: um Plano Tecnológico. Visava “responder de vez aos problemas estruturais que têm afectado o crescimento económico de Portugal”.

    Como ficaram resolvidos tais problemas? O conspícuo engenheiro perdeu uma fulgurante carreira como vendedor itinerante de computadores Magalhães e deu-nos, em 2011, a terceira bancarrota da “democracia”. Três anos e uns meses depois, novamente no fatídico mês de Novembro, era detido preventivamente na manga de um avião no aeroporto de Lisboa a regressar de Paris. Ficámos depois a saber que tinha um amigo milionário, a quem dava instruções sobre a decoração do seu apartamento no melhor bairro de Paris, de que a sua mãe possuía um cofre com um milhão de contos e que gostava muito de livros e estantes – parece que o Vítor Escária, então seu assessor, também gosta. Até hoje, perpassa-nos uma eterna dúvida na cabeça: como converteu o milhão de contos em Euros?

    Para gerir a “recuperação” da terceira bancarrota da “democracia”, tivemos ao leme do estado o Partido Socialista 2, liderado pelo actual D. Sebastião da “direita”. O seu então ministro das finanças, em 2012, ficou celebérrimo pela expressão um “enorme aumento de impostos”. Mais um roubo bíblico em forma de castigo colectivo, com o propósito de pagar a roubalheira da casta parasitária durante os anos anteriores à falência: auto-estradas sem carros, duas auto-estradas para o mesmo trajecto, aeroportos sem passageiros, estádios sem espectadores, parcerias público-privadas ruinosas, um enxame de funcionários públicos, enfim, um sem fim de ignomínias ao nosso bolso.

    Entre 1995 e 2015, o regime “democrático” dos dois partidos socialistas lograra a perda de três lugares na ordenação de riqueza per capita dos 27 países que constituem a actual União Europeia.

    Produto Interno Bruto (PIB) per capita em 2015 medido pela Paridade do Poder de Compra (PPP) para os 27 países da União Europeia (Unidade: EUR; preços de 2020). Fonte: Eurostat. Análise do autor.

    Eis que, em 2015, os ratos voltaram a ser salvos pelo PS; tivemos então o regresso dos discípulos do homem do diálogo e eterno candidato a Miss Universo; desta vez com a filha, o filho, amigos e segundas linhas do seu governo de 1995. Estava tudo preparado para um novo sucesso, mas, desta vez, atrelado a dois partidos que defendem ideologias totalitárias e regimes sanguinários. Tinha tudo para correr bem, pelo menos os órgãos de propaganda, a seu mando e pago por nós, assim nos asseguravam.

    Para não ficar atrás do nosso engenheiro, em 2017, o actual primeiro-ministro ofereceu também um plano ao país: a Economia Circular. O documento continha eloquentes linhas de orientação: “A economia circular…é uma componente da mudança necessária do actual paradigma económico (linear), cujo uso pouco eficiente e produtivo dos recursos extraídos conduz a prejuízos económicos e ambientais significativos”. Aparentemente, o objectivo era passar de linear a circular, assumindo que linear é mau e circular é bom! Até debates foram organizados a respeito, com os ratos a serem sempre assaltados para pagar a propaganda.

    Não foram apenas planos, também tivemos milhares de milhões de Euros desviados do “nosso dinheiro” para o seu bolso. Quem não se lembra dos 5 mil milhões de Euros para o banco do ex-DDT, os 3,2 mil milhões de Euros para a bancarroteira nacional, os 3 mil milhões para a CP, os 511 milhões para as inoculações experimentais que “encurralavam” o “vírus”, os 400 milhões de Euros para a Efacec, ou mesmo os milhões de subvenções para farmácias e laboratórios de análises clínicas, com o propósito de prover a população com fraldas faciais e testes inúteis durante a putativa pandemia?

    Reparem: tudo dinheiro roubado aos ratos e que nunca regressa ao seu bolso. Estas “aventuras empresariais” e “emergências pandémicas” apenas são um pretexto para desviar “o nosso dinheiro” – é assim que chamam ao roubo – directamente para os bolsos destes bandidos, nada mais.

    Além disso, os ratos também são assaltados pela impressora do Banco Central Europeu, em forma de inflação, pois a grande maioria da dívida pública é adquirida com notas de monopólio. Foi assim que o governo do PS fez o recente brilharete nas contas públicas. Em 2022, assaltou cada português em 10 mil Euros (numa família de 4 pessoas: 40 mil Euros); em 2023 serão 11 mil euros e no orçamento que o Meijengro da República deseja aprovado serão 12 mil Euros!

    Qual foi o resultado do governo liderado pelo homem que tem recebido inúmeros panegíricos pelos órgãos de propaganda, com muitos a porem as mãos na fogueira pela sua honestidade? Estamos agora na vigésima posição no conjunto dos 27 países da União Europeia, voltando a perder duas posições entre 2015 e 2022. Atenção, para a posição do carro vassoura já não falta muito. A Roménia e a Hungria estão à porta.

    Produto Interno Bruto (PIB) per capita em 2022 medido pela Paridade do Poder de Compra (PPP) para os 27 países da União Europeia (Unidade: EUR; preços de 2020). Fonte: Eurostat. Análise do autor.

    Como disse em artigo anterior, a democracia atrai sempre os piores: os mais mentirosos, os mais demagogos, os mais vigaristas, os mais manipuladores, pois apenas os indivíduos sem escrúpulos e sem currículo profissional desejam ardentemente aceder ao pote da instituição parasitária mais perversa criada pelo homem, o Estado. Assim, até podemos concluir pelo enorme sucesso português neste aspecto: elegemos há 27 anos os melhores profissionais para gerir o Estado.

    Reparem: no roubo são absolutamente imbatíveis, dado que estamos na décima segunda posição no grupo dos 27 países da União Europeia no que respeita a “receitas” do Estado (43,8% do PIB; fonte: Eurostat), enquanto em riqueza per capita estamos na vigésima posição!

    Na manipulação e na mentira são igualmente mestres. Até nos fizeram crer que o crescimento acumulado desde o final de 2015 a 2022 (100 = 2015) era fantástico, quando na verdade é medíocre; atrás de nós, praticamente apenas países muito mais ricos. Para além dos órgãos de propaganda comprados com o dinheiro do assalto aos ratos, também dispõem de avençados a lançar encómios a toda a hora.

    Crescimento real do Produto Interno Bruto (PIB) acumulado entre 2015 e 2022 (Unidade: 2015=100). Fonte: Eurostat. Análise do autor.

    Parece que agora o cientista será substituído, desta vez teremos um neto de um sapateiro que anda de Porsche e Maserati, que em tempos o Engenheiro do cofre do milhão de contos elogiava desta maneira: “Quero felicitar o Pedro, um grande político, ex-líder da JS…um dos melhores quadros políticos que o PS tem”.

    Vejam: está tudo garantido para que os ratos voltem a nadar de forma frenética, desta vez o Pedro irá salvar-nos da “extrema-direita”. É continuar a esbracejar e a dar às pernas!

    Luís Gomes é gestor (Faculdade de Economia de Coimbra) e empresário


    N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.

  • Conflito israelo-árabe: a fórmula perfeita para nos distrair

    Conflito israelo-árabe: a fórmula perfeita para nos distrair


    A batalha da “Ponte de Stirling”, ocorrida a 12 de Setembro de 1297 na Escócia e que colocou em confronto as forças escocesas, lideradas por William Wallace, e as forças inglesas, lideradas por John de Warrenne, teve como desfecho a vitória escocesa. Segundo a crónica de Lanercost, no final da batalha, William Wallace mandou retirar uma tira larga da pele de um inglês chamado Cressingham, da sua cabeça ao calcanhar, para fazer dela um báculo para a sua espada.

    Esta extrema violência não tinha surgido do vácuo!, mas era o resultado da invasão da Escócia pela Inglaterra em 1296, em que o rei inglês Eduardo I forçou o rei escocês John de Balliol a abdicar. Foi seguramente o resultado do tratamento dado pelos ingleses aos escoceses durante esse período.

    aerial view of gray concrete building during daytime

    Assim, não pode constituir surpresa o ataque bárbaro e infame perpetrado pela organização terrorista Hamas no último dia 7 de Outubro, em que foram assassinados mais de mil israelitas e feitas reféns várias pessoas. Olho por olho, dente por dente.

    Como fundamentei em artigo anterior, o Estado foi a instituição mais perversa criada pelo homem: tem o monopólio da violência e de administrar a justiça sobre um dado território, bem como o monopólio de assaltar a população desse território, mais conhecido por tributação. Trata-se de uma organização que necessita de um número crescente de hospedeiros – a razão das guerras – com o propósito de os extorquir, humilhar e roubar em favor de uma minoria privilegiada de parasitas que a controla.

    No final da Primeira Guerra Mundial, com o fim do império Otomano, a Liga das Nações concedeu ao Reino Unido um mandato para o estabelecimento de condições políticas, administrativas e económicas para garantir o estabelecimento do lar nacional judaico e a salvaguarda dos direitos civis e religiosos de todos os habitantes da Palestina, sem distinção de raça e de religião.

    green tree on brown sand during daytime

    Apenas em 1947, após o término da Segunda Guerra Mundial, a substituta da Liga das Nações, as Nações Unidas, propôs a partição da Palestina em dois Estados: um judeu e um árabe – não um, mas dois! –, sem ninguém ter questionado a aquiescência da população a esse respeito.

    Como era natural, o mundo árabe nunca aceitou a presença de tal Estado nem tão pouco do Estado árabe, sucedendo-se os inevitáveis conflitos militares em que o Estado de Israel saiu quase sempre vencedor, permitindo-lhe hoje controlar um território muito superior ao plano inicial das Nações Unidas. Devido a estes conflitos, cerca de 700 mil palestinos foram expulsos ou forçados a fugir das suas terras para o Líbano e Jordânia.

    E quem é que o Estado de Israel efectivamente governa, que território controla? Apesar de toda a propaganda sobre uma solução de dois Estados e dos mapas que mostram a Cisjordânia e a Faixa de Gaza separadas, o facto é que o Estado de Israel governa tudo entre o rio Jordão e o mar, dado que controla a entrada e a saída de pessoas e bens, supervisiona a segurança e tem a capacidade de impor as suas decisões, leis e políticas a milhões de pessoas sem o seu consentimento.

    blue and white flag on pole

    Os palestinianos da Cisjordânia enfrentam severas restrições à sua liberdade de circulação, desde postos de controlo a auto-estradas segregadas! O Estado de Israel dedica-se a destruir frequentemente as suas casas e a fechar empresas por falta de licenças. São vítimas de assédio constante e de actos de vandalismo, de destruição agrícola e de violência, perpetrados por colonos judeus que operam sob a protecção das Forças Armadas de Israel.

    Em bairros de Jerusalém Oriental, os palestinos são frequentemente despejados das suas casas ao abrigo de uma lei que os declara “ausentes”, mesmo que vivam na sua casa há décadas. Num vídeo de um despejo deste tipo, um colono judeu, de forma infame, diz a um proprietário palestino o seguinte: “Se eu não a roubar, alguém a vai roubar”.

    A Faixa de Gaza, conhecida por ser “a maior prisão a céu aberto do mundo” e sem a presença israelita desde 2005, continua na verdade a ser controlada por Israel a partir do exterior, atirando a sua população de dois milhões de pessoas para uma existência miserável.

    Man in Blue and White T-shirt Holding Black Dslr Camera

    Às fronteiras aéreas, marítimas e terrestres de Gaza, o Estado de Israel impõe um bloqueio económico permanente: só são concedidas autorizações de viagem a indivíduos em circunstâncias especiais, nenhum aeroporto ou porto marítimo é permitida a sua construção e as importações e exportações por via rodoviária são fortemente restringidas.

    O Estado do Egipto tem agravado esta situação com as suas próprias restrições e encerramentos periódicos das fronteiras – a parte sul da Faixa de Gaza faz fronteira com o Egipto. É precisamente neste ponto que agora surgem os argumentos mais mirabolantes para justificar esta tragédia: ninguém os quer; até o Estado árabe do Egipto não lhes abre as portas; nenhuma nação árabe os aceita como refugiados.

    Isto faz lembrar os argumentos dos Nacionais Socialistas dos anos 30 do século transacto: ninguém os quer, nenhum estado europeu aceita de bom grado comunidades de judeus. As semelhanças dos argumentos são notáveis!

    three men and one woman soldiers standing on rock during daytime

    Para piorar a situação, em 2006, os palestinos elegeram uma associação criminosa para os governar: o Hamas. Temos então um Estado terrorista, armado até aos dentes e equipado com a melhor tecnologia militar do mundo, em luta com uma organização criminosa, que vive do terror e da violência sobre a população, usando-a muitas vezes como escudos humanos.

    O resultado é a devastação económica: a taxa de desemprego antes de 7 de Outubro era superior a 46%, o rendimento per capita correspondia apenas a 25% do nível da Cisjordânia e 65% dos habitantes de Gaza estavam abaixo do limiar de pobreza.

    O ataque de 7 de Outubro foi apenas mais um episódio desta guerra entre bandidos, assassinos e psicopatas, em que cada um tenta superar em violência e brutalidade o oponente. Recorda-nos a violência entre escoceses e ingleses nos tempos do “lendário” William Wallace.

    O mais ridículo deste trágico conflito são os argumentos daqueles que há uns meses aplaudiam os actos de terrorismo perpetrados pelos “Estados Livres do Ocidente” durante a putativa pandemia: prisões domiciliárias, inoculações forçadas de substâncias experimentais e restrições à liberdade de circulação eram os únicos métodos válidos para “cercar o vírus”. E quem não se recorda dos inaceitáveis mísseis russos sobre as cidades ucranianas? Agora podem voar livremente nos céus de Gaza.

    black barbwire in close up photography during daytime

    Dizem-nos mais: que Israel tem o direito a “defender-se”, dando-nos a entender que é legítimo terraplanar edifícios com mísseis e bombas, assassinando de forma indiscriminada. Aqui, os meios já justificam os fins. Até aprovam a desumanização dos palestinos, nomeadamente as palavras do ministro da defesa do Estado terrorista de Israel: “estamos a combater animais, não pessoas”. Ou que até mesmo a opção nuclear poderá servir para eliminar da face da Terra aquele “curral”.

    Outros chegam a justificar a sua desgraça em resultado da “inferioridade” da sua civilização: o trato miserável dado às mulheres ou a discriminação dos homossexuais; esquecem-se, no entanto, de que a sua “superior civilização”, em nome de um “vírus”, discriminou a população que se recusou a ser inoculada com substâncias experimentais ou impôs um véu em forma de fralda facial.

    Em nenhum momento se lhes ocorreu que toda esta violência resulta da existência de Estados e de bandidos psicopatas que aspiram a sê-lo. Não se trata da velha fórmula maniqueísta: os bons vs. os maus, mas sim de uma violência programada para dividir-nos e manipular-nos, para que nos ataquemos uns aos outros, enquanto a sua agenda progride de forma inexorável.

    bird's eye photography of road on dessert

    E que agenda é essa? Continuarem a fomentar conflitos armados que custam milhares de milhões de dólares norte-americanos, pagos com a impressora de notas de monopólio que vão parar aos bolsos de uma minoria de privilegiados, roubando-nos sem piedade, através da perda de valor do dinheiro que levamos no bolso.

    Gerando-se o ódio entre nós, distraímo-nos do verdadeiro inimigo: o Estado, a entidade parasitária que necessita do nosso consentimento para sobreviver. Manter-nos cheios de medo, distraídos e resignados é a sua fórmula! Este conflito entre bandidos e psicopatas foi o cenário perfeito que se seguiu à farsa pandémica e à guerra na Ucrânia, bastava atiçar aquele vespeiro, onde as únicas vítimas são as populações israelitas e palestinas.

    Luís Gomes é gestor (Faculdade de Economia de Coimbra) e empresário


    N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.

  • Orçamento do Estado é uma PPP: perfeita peça de propaganda

    Orçamento do Estado é uma PPP: perfeita peça de propaganda


    Como acontece todos os anos, há dias, o Governo apresentou à Assembleia da República a proposta de Orçamento do Estado para 2024. Segundo os seus ‘autores’, o documento reflecte as “orientações de política económica e orçamental do XXIII Governo Constitucional para o próximo ano económico”.

    Atente-se: segundo o Governo, tais políticas visam reforçar os rendimentos, o investimento público e privado, proteger o futuro. É sempre bom saber que o plano de assalto ao nosso bolso para 2024 visa precisamente “reforçar” o dinheiro que lá existe; ou de que somos demasiado estúpidos para decidir sobre o destino a dar ao fruto do nosso trabalho.

    O segundo partido socialista do parlamento, chamado PSD, que partilha o butim há décadas com o primeiro partido socialista, conhecido por PS, diz-nos que o documento é “pipi, bem apresentadinho e muito betinho”; enquanto aquele que defende uma ideologia totalitária, denominado PCP, diz-nos que “consolida a injustiça fiscal e avança com novas linhas de ataque à segurança social”. Gostaria que me explicassem como é possível obter “justiça fiscal” distribuindo uma pilhagem à população? Em que exactamente consiste um ataque a um colossal esquema em pirâmide, mais conhecido por Segurança Social?

    Vejamos então as pérolas do documento. O seu início reserva-nos uma explicação mirabolante para o fenómeno inflacionário que presentemente vivemos. Reparem: não resulta da impressão massiva de moeda durante a putativa pandemia, mas de “um conjunto de choques do lado da oferta, de origem externa…” que caiu do céu aos trambolhões, inesperadamente, sem ninguém ter-se dado conta.

    Enquanto nos fechavam em casa, encerravam negócios de forma arbitrária e impunham fraldas faciais a toda a população, incluindo crianças em idade escolar, ninguém reparou que as despesas públicas eram pagas da seguinte forma: vendia-se dívida pública – que subiu cerca de 30 mil milhões de euros aproximadamente entre 2020 e meados de 2022 – aos bancos portugueses, para seguidamente a venderem com elevados lucros ao Banco Central Europeu (BCE).

    E como o BCE adquiria a dívida pública aos bancos? Imprimindo notas de monopólio, por outras palavras, gerando inflação. Como é óbvio não existia nem existe poupança privada perdulária suficiente para adquirir tal lixo.

    E de que forma se gastavam as notas de monopólio? Em resgates de companhias aéreas falidas, em milhares de milhões de euros em “vacinas” inúteis, em testes que nada diagnosticavam, em fraldas faciais que nada protegiam e em funcionários públicos em casa sem trabalhar. Como é óbvio, quando este exército de privilegiados finalmente saiu à rua para gastar, os preços dispararam. Qual a surpresa?!

    Partamos agora para os números do Orçamento do Estado. Na página 128, ficamos a conhecer a dimensão do assalto: em 2023, será de 11 mil euros a cada português – atenção, inclui crianças e idosos –, e em 2024, será de 12 mil euros aproximadamente, algo como 48 mil Euros por uma família de quatro pessoas! Ou seja, caso não fôssemos assaltados subrepticiamente por consumir, por trabalhar, por poupar, por receber uma doação, por investir, por sermos proprietários, um dia destes, por respirar, no final de 2024, apresentar-nos-ão uma conta de 12 mil euros por pessoa!

    Na página 67, temos uma secção de comédia: “Medidas de mitigação do preço dos combustíveis”. No caso de um litro de gasolina 95, por exemplo de 1,761 Euros, os tributos hoje representam 51,8%, ou seja, sem o acto de latrocínio, o litro custar-nos-ia 0,849 Euros! Se querem na verdade “mitigar” o elevado preço dos combustíveis é fácil: parem de assaltar, que ficam baratos.

    Mas a parte verdadeiramente hilariante é quando analisamos o despojo denominado Imposto sobre Produtos Petrolíferos, mais conhecido por ISP, que sobe de 2.981 milhões de euros em 2023 para 3.381 milhões de euros (ver página 140). Reparem: são medidas para “mitigar”, mas resultam numa mão mais funda ao nosso bolso, neste caso de 38 euros por português – não custa nada, é só mais 3,2 euros por mês.

    A “receita” de ISP para 2024 não chega a superar o roubo que nos fizeram a favor da Bancarroteira Nacional, mais conhecida por TAP, pois ainda seria necessário confiscar mais 120 milhões de euros. Reparem que o dinheiro “oferecido” à Bancarroteira Nacional, para fazermos regressar as caravelas do século XXI, serviria para termos gasolina abaixo dos 90 cêntimos por litro durante um ano e mais um ou dois meses!

    Por outro lado, a subida da “receita” de 2023 para 2024 dos impostos indirectos é de apenas 2.749 milhões de euros, ainda assim insuficiente para cobrir o dinheiro “injectado” na Bancarroteira Nacional.

    Na página 158, tomamos conhecimento de que o pessoal do Ministério do Ambiente e Acção Climática vai receber um aumento de 17,5%; não sabemos se por contratação de pessoal ou por aumento do salário individual médio auferido por cada um. Uma coisa é certa: dinheiro não faltará.

    Mas o verdadeiro bónus vai para o Ministério da Habitação, com uma subida de 169%, passando de 10,2 milhões de Euros em 2023 para 27,5 milhões de Euros em 2024 as suas despesas com pessoal. Afinal, importa acarinhar um “direito constitucional” e uma ministra com um currículo extraordinário.

    Concluindo: o pessoal dos Ministérios é acarinhado com um aumento nominal de 6,2%, o que, tendo em conta a inflação prevista (2,9%), significará um aumento real de 3,4%. A festa por aqueles lados continua e nunca houve ou haverá qualquer “crise”. Já não podemos dizer o mesmo em relação à generalidade da população que tem dificuldades crescentes em chegar ao final de cada mês.

    Também temos medidas de “apoio ao crédito habitação”, o que na verdade significa que uns portugueses são assaltados para ajudar a pagar a prestação da casa de outros portugueses. Mais uma vez, opta-se por “dar” o fruto do saque à população sob a forma de esmola, em lugar de deixar o dinheiro que ganharam do seu trabalho no seu bolso. Aquilo que importa é manter a população subserviente e acomodada, obedecendo cegamente à mão que lhe dá de “comer”.

    A melhor parte do documento está assente numa enorme distração: a discussão sobre o aumento brutal do Imposto Único de Circulação – mais conhecido pela sigla IUC – sobre os automóveis com matrícula anterior a 2007. O objectivo foi alcançado: tivemos controvérsia. No final, vai haver um recuo, mas estamos todos a olhar na direcção errada.

    O verdadeiro roubo virá do Imposto Municipal sobre os Imóveis (IMI), e já estão a preparar-nos para tal, com o anúncio de que existe “um desalinhamento do valor patrimonial tributário (VPT) face à realidade do mercado”. Traduzindo: o valor das nossas casas junto das Finanças irá subir brutalmente para reflectir a tal inflação que eles criaram. Ou seja, já se tributa a própria inflação!

    Desde a implementação deste regime que o assalto violento ao nosso bolso não pára de subir: em 2004, prevendo-se outro máximo de 38% do PIB! Em resumo, o que significa tal proposta: mais um plano de assalto anunciado com recurso à mais vil e infame propaganda.

    Luís Gomes é gestor (Faculdade de Economia de Coimbra) e empresário


    N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.

  • Eleições na Argentina: afinal, quem é Javier Milei?

    Eleições na Argentina: afinal, quem é Javier Milei?


    Este fim-de-semana realizou-se o primeiro turno das eleições presidenciais na Argentina, com a vitória do candidato Peronista, de “centro-esquerda”, Sergio Massa, com 36,7% dos votos.

    O peronismo é um movimento político e ideológico que surgiu com a ascensão de Juan Domingo Perón ao poder em 1946. Foi presidente da Argentina em três mandatos não-consecutivos (1946-1955, 1973-1974), dando origem a um fenómeno político assente essencialmente em ideias socialistas e social-democratas, com um pendor fortemente proteccionista da Economia – pautas aduaneiras altamente penalizadoras de importações.

    Sergio Massa, em primeiro plano

    Em 1946, a Argentina era um dos países mais ricos do mundo; hoje, 77 anos depois, é um país pobre, a viver com uma inflação superior a 120%. Foi neste contexto que surgiu o fenómeno Javier Milei, que ficou colocado em segundo lugar, com 30% dos votos, e vai à segunda volta contra Sergio Massa.

    Quem ficou relegada da corrida foi a candidata de “centro-direita”, Patricia Bullrich, com apenas 23,8%. Na verdade, o único fenómeno destas eleições é o candidato Javier Milei, que defende ideias libertárias e anarcocapitalistas e partiu praticamente do anonimato há cerca de três anos na vida dos argentinos.

    Os órgãos de propaganda nacionais e internacionais classificam as suas ideias de uma forma curiosa. Há uns meses, a Lusa dizia-nos que era de “extrema-direita”; agora, parece que é um “ultraliberal” ou mesmo “ultradireitista”.

    Javier Milei

    Que ideias defendeu Javier Milei ao longo desta campanha presidencial e nos últimos anos? Destaco algumas afirmações: “Imposto é roubo”; “os políticos são uns parasitas e não necessitamos deles para nada”; “a instituição do banco central é um dos maiores ladrões na história da humanidade”; e “o teu Estado Social é obtido com uma arma apontada para a cabeça dos outros”. Tudo ideias de liberdade, em particular de que do Estado e dos políticos nada se pode esperar. Qual a relação disto com a extrema-direita? Não sabemos.

    Recordo que o Partido Nacionalista Alemão defendia a nacionalização dos monopólios, a divisão dos lucros de todas as indústrias pesadas ou arrendamento dos grandes armazéns a baixo custo para as pequenas empresas, tudo ideias intervencionistas, em que se fixam preços abaixo do preço de mercado, se determinam os “lucros possíveis” e quem continua ou não em mãos privadas.

    E o que dizer da máxima de Benito Mussolini, o fundador da ideologia fascista: “Tudo no Estado, nada contra o Estado, e nada fora do Estado”. Estas ideias são hoje defendidas por partidos como o Bloco de Esquerda e Partido Comunista, onde o Estado é o pai que nos rouba, decide o que cada um recebe de esmola e que direitos temos.

    Patricia Bullrich

    Mas talvez a ideia mais certeira de Javier Milei é “onde existe uma necessidade, nasce um direito”. Efectivamente, a necessidade de uma casa, um bem escasso, é razão para se proclamar que é um “direito”, quando na verdade é um bem económico. Acertadamente, nos diz que é necessário roubar uma parte da população para satisfazer o tal “direito” de outros. A confusão de direitos com bens económicos suportou o avanço do Estado nas nossas vidas sem precedentes.

    O incrível destas eleições foi o triunfo destas ideias: a liberdade e a critica à instituição mais perversa e totalitária criada pelo homem: o Estado. Que 30% dos argentinos votem nestas ideias já foi uma vitória. Apenas foi possível porque Javier Milei é um excelente produto televisivo, altamente polémico e combativo em todas as suas aparições televisivas.

    Apesar do desgosto dos órgãos de propaganda, a possibilidade de tais ideias de liberdade vencerem é um sinal de esperança, num mundo crescentemente estatizado, intolerante e a caminho de uma ditadura global distópica.

    Caso vença, teremos de ver se o discurso corresponde à prática. Tenho dúvidas que logre cortar 30% sequer do gasto público, onde talvez a medida mais fácil seja encerrar o Banco Central argentino, responsável por emitir uma moeda que nenhum argentino quer. Por outro lado, algumas das suas atitudes durante a putativa pandemia levantam-me dúvidas sobre a sua sinceridade.

    No entanto, que estas ideias possam vencer umas eleições deixam-me sempre esperança num mundo melhor.

    Luís Gomes é gestor (Faculdade de Economia de Coimbra) e empresário


    N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.

  • O Estado: a mais perversa criação do Homem

    O Estado: a mais perversa criação do Homem


    Desde que a Humanidade existe, a esmagadora maioria dos homens pertence ao grupo dos produtivos, que quer fazer coisas, enquanto uma minoria, infelizmente, apenas deseja agredir, roubar ou violar o próximo. Da coexistência destes dois grupos derivam, obviamente, conflitos, não só entre os dois grupos, vítimas e agressores, mas também entre o grupo produtivo. Infelizmente, o paraíso de Adão e Eva não existe: terra, recursos (metais preciosos, água, minérios…) e tempo são, por desgraça, escassos.

    Para uma civilização prosperar é essencial a protecção dos direitos de propriedade, bem como a existência de mecanismos de arbitragem de conflitos. Um agricultor não vai semear se existir a forte possibilidade de ser assaltado a qualquer momento ou de aparecer alguém a ocupar-lhe as terras. Ninguém investe sem estar seguro da existência de penalidades e indemnizações, caso os contratos sejam incumpridos de forma impune.

    white concrete building under blue sky during daytime

    Por fim, a especialização e as trocas comerciais são essenciais para o aumento exponencial do bem-estar. Em sociedades complexas, todos dependemos de todos, em que cada um se especializa naquilo que sabe fazer melhor. Em resumo, segurança, previsibilidade, especialização e mercados são essenciais para o florescimento e prosperidade de qualquer civilização.

    As primeiras cidades surgiram em zonas de fácil defesa, aproveitando obstáculos naturais como montanhas, rios ou lagos. Para além de um local seguro, as primeiras comunidades viram-se forçadas a eleger juízes para arbitrar conflitos, elegendo, regra geral, o mais bravo, inteligente e com maior sucesso, fossem estes nobres, homens de negócios ou anciões com autoridade.

    O Estado moderno foi-nos vendido como indispensável para arbitrar estes conflitos, algo inevitável, no entanto, até ao aparecimento das monarquias absolutas, este simplesmente não existia. Trata-se de uma organização que exerce um monopólio territorial, de violência e jurisdicional, de arbitragem final em casos de conflito; um juiz em causa própria. Sem o consentimento das partes, estas são obrigadas a recorrer ao Estado, impondo-se-lhes, sem discussão, um preço pelo respectivo serviço. Mas não são os únicos privilégios, nem os principais, pois o maior é o monopólio de confisco da população, vulgarmente conhecido por tributação.

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    Com a queda do Império Romano do Ocidente, a sociedade europeia organizou-se num sistema a que chamamos feudalismo. Foi um processo natural. Sem a defesa do exército romano, as pessoas associaram-se a um senhor da guerra, por forma a obterem segurança. Eis a especialização a funcionar: o senhor oferecia segurança ao servo por troca de horas de trabalho e ajuda militar em caso de conflito.

    Nos seus domínios, o senhor feudal estabelecia as regras e administrava a justiça. O Rei era o senhor feudal de maior importância, que provinha, regra geral, de famílias com prestígio e que possuía mais terras e um exército privado de maior dimensão face aos outros senhores feudais.

    Importa ter em conta que o Rei não tributava a população nem tinha o monopólio da justiça, tinha de viver dos rendimentos dos seus domínios; no entanto, em muitos casos, prestava serviços como um tribunal de segunda instância, a quem a população se socorria caso não estivesse satisfeita com as decisões do respectivo senhor feudal. Muitas vezes, o servo podia fugir e associar-se a outro senhor feudal ou ir mesmo ajudar a fundar cidades “livres”, sem laços de vassalagem.

    Como foi posto fim a este equilíbrio? Através de uma “crise”, com o intuito do poder real obter essencialmente duas vantagens: o monopólio da arbitragem de conflitos e lançar a tributação sobre a população. Todos eram obrigados a utilizar os seus tribunais. Os custos da guerra, que antes impactavam o seu “bolso”, podiam agora ser “distribuídos” pela população através dos impostos. Eis o início do Estado.

    brown ram

    E como se desencadeia uma “crise”. Como sempre: estimulando a inveja e espalhando o medo. Por parte dos servos, a tentação de não pagar a renda ao senhor feudal ou de não aceitar as suas regras era enorme, bastando prometer-se liberdade para que aparecessem revoltas “espontâneas”. Como sempre, a “carneirada” necessita sempre de uma mão superior a conduzi-la!

    Depois do problema, a reacção: os senhores feudais apelavam aos monarcas o fim do caos. Martinho Lutero, o iniciador da “revolução” protestante, para além do confisco da Igreja Católica, propôs a seguinte solução para o conflito: “Contra as hordas assassinas e saqueadoras molho minha pena em sangue, seus integrantes devem ser estrangulados, aniquilados, apunhalados, em segredo ou publicamente, como se matam os cães raivosos.

    Depois de satisfeitos os senhores feudais com o fim do caos, e apesar dos privilégios que acabavam de perder, como a administração da justiça nos seus domínios, oferecia-se-lhes sinecuras na burocracia real, tornando-os membros da máquina de propaganda e de prestígio da corte, e extinguiam-se os seus exércitos privados, integrando-os no exército real e pondo fim a qualquer oposição.

    white and black chess piece

    Em lugar do senhor, passava-se a lutar em nome do Estado. Para se garantir soldados obedientes e com sentido de nação, a revolução protestante fundou a escola pública, por forma a doutrinar as crianças bem cedo. Tudo passou a ser centralizado, até a cunhagem de moeda, deixando esta de estar em mãos privadas para passar a ser um privilégio real – roubava-se também a população de forma silenciosa, caso fosse necessário.

    Agora que a conta da guerra podia ser paga pela plebe, através de impostos e inflação, a dimensão dos exércitos cresceu substancialmente. Foi precisamente o que aconteceu na Guerra dos Trinta Anos, talvez o primeiro conflito mundial.

    E assim foi parido o Estado: da “crise” e da guerra. Uma organização com tantos poderes e privilégios que inevitavelmente passou a atrair parasitas, necessariamente uma minoria, pois um parasita pode viver de vários hospedeiros e não o contrário. Para se obter o consentimento dos hospedeiros, não basta a força, também é necessário o seu consentimento: como? Através do medo.

    E que medo foi instigado e que até hoje perdura? O medo do caos. Na percepção da população, sem o Estado, os conflitos entre as pessoas são intermináveis, não têm fim, é necessário um monopolista da força e da arbitragem final.

    man walking beside graffiti artwork

    Todos sabemos que um pequeno grupo ou uma pequena comunidade não necessita do Estado para nada na arbitragem de conflitos; no entanto, quanto maior a dimensão do Estado menos existe essa percepção. É precisamente isso quando se utiliza o seguinte argumento: e quem faria as estradas senão o Estado? Como se numa pequena comunidade não se conseguisse colocar de acordo na construção de uma estrada e respectivo financiamento!

    Importa ter em conta a diferença entre parasitas e pessoas produtivas? Os segundos aumentam o bem-estar de pelo menos uma pessoa, sem reduzir o bem-estar dos outros indivíduos; os primeiros aumentam o bem-estar de alguns à custa de outros, seja por apropriação indevida de terras, seja por roubo do que os demais produziram, como é o caso dos impostos.

    O butim tornou-se tão luzidio que começaram a surgir ideias igualitárias, como a democracia e o socialismo. Por que motivo só o Rei pode ter o monopólio da justiça e do confisco dos demais cidadãos: “eu também quero”. Em lugar de um privilégio pessoal, havia que transformá-lo num privilégio funcional: qualquer um podia aceder ao tacho, não era necessário um Rei para liderar um Estado.

    O fim da instituição real surgiu, uma vez mais, com uma “crise”, conhecida pela Tomada da Bastilha, onde a “carneirada” se insurgiu contra as “injustiças” deste mundo. Consequências? Os parasitas de Luís XVI foram decapitados e substituídos por um gangue de assassinos e fanáticos, posteriormente liderado por um “génio” da guerra total.

    group of police grayscale photo

    Surgiu assim o Estado moderno, passando a existir propriedade pública e privada, lei pública e lei privada. Quem está no público pode permitir-se coisas que seriam crime na esfera privada, como escravizar jovens do sexo masculino, como foi o caso do aparecimento da conscrição obrigatória na Revolução Francesa. Por essa razão, a dimensão dos exércitos subiu desta vez de forma exponencial, passando a envolver forças superiores a um milhão de soldados.

    Na monarquia absolutista, o Rei tinha a preocupação de não tributar excessivamente, pois diminuía a produtividade dos seus súbditos, dado que diminuiria as suas receitas no longo prazo; nem tão pouco endividar-se excessivamente, pois poderia onerar os seus herdeiros ou até afectar a sua reputação. Nem tão pouco a inflação era um método que se pudesse abusar, pois passados uns anos, o Rei estaria a receber impostos em moeda inflacionada. Tudo mudou com o advento do Estado moderno.  

    Quando existe propriedade privada, o seu dono pode comprar, vender, ceder o seu uso e obter um rendimento, dar-lhe fins distintos, fazer obras, etc.; no caso da propriedade pública, os que se encontram no poder, apenas podem saquear o respectivo rendimento enquanto lá estão, nada mais.

    Se o Rei arrendasse uma propriedade, iria certamente ter em conta o número de inquilinos e de como tratariam o imóvel; no caso do “cuidador público”, apenas lhe importa o rendimento. Colocar lá um número excessivo de inquilinos, apesar de destruir a propriedade em poucos anos, é uma opção seguida, dado que permite roubar no mais curto espaço de tempo. O risco de perder a posição a tal obriga.  

    gold and blue crown

    Em conclusão, os incentivos passaram a ser totalmente diferentes com o aparecimento da propriedade pública, naquilo a que hoje chamam o “dinheiro de todos nós”! Com o advento da “democracia”, passou a haver enorme concorrência para os lugares de parasitismo. Chamo a atenção de que a concorrência é benéfica para as actividades produtivas, pois incrementa a qualidade e baixa o custo do serviço ou produto, não significando necessariamente a eliminação de um ou mais concorrentes.

    Tal não se passa com uma actividade parasitária, onde se “luta” para obter o pior entre os piores: o mais mentiroso, o mais demagógico, o mais conspiracionista, o mais ladrão. Para além de se garantir tal gangue ao poder, as sinecuras são temporárias, pelo que o roubo terá de se processar com a máxima intensidade e no mais curto espaço de tempo.

    Não é obra do acaso que tenham sido democracias – Hitler foi eleito – a espoletar grandes guerras, com milhões de vítimas; nem tão pouco que pela sua iniciativa sejam desencadeadas guerras em nome da “democracia” ou “combate ao terror”. Não é obra do acaso, que as democracias tenham criado milhões de dependentes do Estado, comprados com o roubo a uma minoria produtiva da população.

    white sheep near the brown board

    A guerra e o Estado Social são a forma mais rápida e eficiente de enriquecer a casta parasitária, dado que exigem colossais emissões de dívida de pública, que produz suculentas comissões e butins através da inflação, como vimos na recente putativa pandemia e conflitos militares.

    E como mantém o consentimento da população? Pelo medo e doutrinação; não se esqueçam: sem o Estado estaríamos todos aos tiros uns aos outros.

    Luís Gomes é gestor (Faculdade de Economia de Coimbra) e empresário


    N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.

  • Somos nós ou eles, os palhaços?

    Somos nós ou eles, os palhaços?


    Portugal tornou-se um circo; sem rebuço, a casta parasitária utiliza vezes sem fim a eterna fórmula: problema, reacção, solução. Tem como único propósito controlar-nos, ridicularizar-nos e assaltar-nos ainda mais, pois nunca nada é suficiente para satisfazer a sua voracidade.

    Primeiro, fizeram-nos crer que existe um problema de habitação em Portugal – as barracas não foram erradicadas? –, atribuindo as respectivas responsabilidades aos proprietários de casas, aos empresários do negócio do alojamento local e dos estrangeiros com elevados rendimentos que procuraram o nosso país para viver, atraídos pelos incentivos fiscais que se lhes ofereceram: Vistos Gold, Residentes Não Habituais (RNH) e Nómadas Digitais.

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    Reparem, a compra de dívida pública pela máquina de imprimir notas do Banco Central Europeu (BCE), as taxas de juro 0% praticadas pelo BCE durante 10 anos, o inferno burocrático com que se deparam os empresários da construção, a pesadíssima tributação (IMT, IMI, IRS) sobre um “direito” constitucional, nunca foram um problema; nem tão pouco o IVA da construção ou da promoção não ser dedutível, ao contrário da esmagadora maioria dos países da União Europeia.

    Não nos esqueçamos da legislação “Mais Habitação”, um ataque sem precedentes à propriedade privada, congelamento de rendas, arrendamento coercivo, tributos extraordinários sobre o negócio do alojamento local e severas restrições ao seu licenciamento. Nada teve que ver com a recente escalada de preços.

    E o que dizer do pedido ao Governo pelos órgãos de propaganda para que se evite uma actualização da rendas em 2024 de acordo com a taxa de inflação, tal como aconteceu em 2023, num novo roubo aos proprietários?

    Nada disso, é o que nos diz o movimento Casa para Viver, o organizador da manifestação do último 30 de Setembro (a reacção); segundo o seu manifesto, tudo se deve à “ganância”, à “especulação desenfreada” e à inércia no combate “às alterações climáticas”, aparentemente a principal causa de toda esta desgraça.

    Ao contrário das manifestações “negacionistas”, desta vez, os órgãos de propaganda encarregaram-se de promover a manifestação Pela Habitação ao longo da semana que a antecedeu, pois as “pessoas já não aguentam mais”. Isto depois de três anos de um “ai aguentam, aguentam” de fraldas faciais, distanciamento social, inoculações experimentais e prisões domiciliárias em nome de vírus.

    E o que pediram as dezenas de milhares de pessoas que ocuparam as ruas de 24 cidades para lutar pelo “direito à habitação” e pela “justiça climática”? Para além de pedirem que não se construa – atenção, é mesmo assim! -, pois contribui fortemente para a “degradação climática”, esta era a sua lista de desejos: (i) fim dos despejos e das demolições sem alternativa de “habitação digna”; a (ii) descida, por via administrativa, das rendas; (iii) a renovação automática dos actuais contratos de arrendamento e, pasme-se!, (iv) a fixação do valor das prestações dos créditos para primeira habitação.

    red hard hat on pavement

    Vamos então traduzir isto por linguagem de crianças. Caso o inquilino não cumpra com as suas obrigações, isto é, deixe de pagar a renda, o proprietário não o pode expulsar e perde, na prática, a sua propriedade, claro está, se o indivíduo não encontrar uma alternativa “digna”! Só nos resta uma dúvida: quem define a alternativa “digna”?

    O proprietário, para além de não poder expulsar o inquilino em caso de calote e de lhe ser imposto um valor de renda abaixo do tenebroso “mercado”, é obrigado a renovar eternamente um contrato de arrendamento, obrigando-se a arrendar para sempre a uma pessoa que não lhe paga de acordo com os termos do contrato livremente negociado.

    Por fim, a cereja no bolo: os bancos passam a ter de conceder crédito a uma taxa de juro abaixo do seu custo de financiamento. Será que o movimento Casa para Viver está disposto a pagar do seu bolso novas falências bancárias? Como todos sabemos este sector é “especial”: se há lucros, é dos accionistas; se há perdas, é do povo.

    Nos dias seguintes, os órgãos de propaganda rejubilavam com o sucesso da manifestação, com vários avençados do regime a pedir sangue, pois a crise da habitação tinha atingido o “limite do suportável”. Também nos davam conta dos cartazes que por lá proliferaram; destaco dois: “Senhorio não é profissão” e “Morte aos Ricos”. Parece-me perfeito, na era da inclusividade e do cancelamento do discurso de ódio.

    hand gesture

    Depois do problema e da reacção, era agora a vez da solução. Esta veio com a entrevista na última Segunda-Feira. E qual foi o grande anúncio? Os residentes não habituais (RNH) iam acabar. Aparentemente, estrangeiros que investem em Portugal em casas de milhões de Euros são os bodes expiatórios de toda esta “crise”. Até tivemos uma professora de uma prestigiada escola de negócios que comentava desta forma a decisão: “Acaba mesmo a pouca-vergonha?”

    O número de circo não terminava por aqui, depois do palhaço rico era agora a vez dos palhaços pobres. Na Terça-Feira, tivemos um corte da Segunda Circular, em Lisboa, pela organização Climáximo, felizmente resolvido com prontidão e eficiência pelos populares.

    O que pretende esta organização? Apresenta-se como um colectivo anticapitalista, que defende a nacionalização da habitação – tal como um regime comunista, as casas são do Estado! -, o fim da polícia e do exército e empresas “democráticas”, em que as condições salariais são definidas pelos trabalhadores, em lugar do indivíduo que lá pôs o seu dinheiro. Deixo à consideração do leitor estabelecer a ligação entre isto e o combate “às alterações climáticas”.

    Nessa mesma Terça-Feira, num debate chamado “Sem Moderação” – atenção, não vejo -, José Eduardo Martins, membro da nossa “direita”, brindou-nos com esta intervenção, comentando um dos famosos cartazes da manifestação “Senhorio não é profissão”: “…o paradigma do senhorio português é o desgraçado que veio para Lisboa trabalhar, poupou, aforrou, ficou com uma dúzia de casas, e é essa dúzia de casas que arrenda. E, portanto, sim, é uma profissão!”.

    Para além de ficarmos a saber que a sua mãe é empresária, também pudemos constatar que os seus pais, em apenas uma geração, lograram sair da província, vir trabalhar para Lisboa, e construir um império imobiliário. Esta prodigiosa ascensão económica aproxima-se do milhão de contos depositados num cofre da mãe do famoso engenheiro, que até hoje não sabemos como foram convertidos em Euros. Sem dúvida que o Estado Novo afinal não foi a miséria e a escravidão que nos venderam, mas uma miríade de oportunidades económicas, bastando apenas o esforço de um qualquer meijengro para se obter uma fortuna.

    Infelizmente, a “direita”, da qual José Eduardo Martins faz parte, que governa o país há quase 50 anos com a “esquerda”, não consegue proporcionar tais oportunidades às novas gerações, nem tão pouco qualquer segurança jurídica, pois do que aforrou a mãe do José Eduardo Martins foi para comprar propriedade, “porque um país onde nada é seguro, nem os certificados de aforro, a pedra tinha valor”. Ou seja, apenas se indignam com a insegurança jurídica do país quando a mãezinha vê a sua propriedade ameaçada. Eis a nossa “direita”!

    A semana não se ficou por aqui. Também tivemos o partido socialista 3, mais conhecido por Chega – pede por mais Estado a toda a hora – e com um fetiche por ciganos, a pedir ao Presidente da Assembleia da República a condenação das agressões aos deputados do Chega que participaram na dita manifestação. Obviamente, que este não condenou, pois a encenação para eliminar o partido socialista 2, mais conhecido por PSD, tem de continuar.

    No final da semana, o circo apresentava o seu último número: a eleição de uma mulher transgénero – no meu tempo travesti – como Miss Portugal! Palmas para as feministas, pois conseguiram que um homem humilhasse as mulheres naquele que seria o seu ponto mais forte: a beleza! Até nisso vencemos as mulheres.

    Luís Gomes é gestor (Faculdade de Economia de Coimbra) e empresário


    N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.

  • Querem um ladrão na crise da habitação? O Estado!

    Querem um ladrão na crise da habitação? O Estado!


    Um dos grandes temas da actualidade é a crise na habitação. Efectivamente, obter um tecto a preços acessíveis tornou-se missão impossível para a grande maioria dos portugueses. Por um lado, as prestações do crédito à habitação duplicaram num espaço de um ano; por outro, registaram-se fortes subidas nos preços dos novos contratos de arrendamento nos últimos meses, que não é mais do que uma defesa dos proprietários às medidas governamentais que se anunciaram.

    Nos últimos meses, o Governo propôs uma legislação que designou por “Mais Habitação”. Prevê várias alterações: congelamento de rendas para os novos contratos, com base no último contrato de arrendamento dos últimos cinco anos, arrendamento forçado, fortes restrições ao licenciamento e novos tributos sobre o negócio de Alojamento Local.

    Para acrescentar mais um “problema” à crise, recentemente o Instituto Nacional de Estatística (INE) publicou o indexante para actualização das rendas no próximo ano (2024): 6,9%. De imediato, os órgãos de propaganda lançaram reptos ao Governo no sentido de uma intervenção, tal como sucedeu no ano passado: apesar de uma inflação de 7,8% em 2022, os senhorios apenas puderam actualizar as rendas em 2%, ou sejam, uma perda de 5,4 pontos percentuais em termos reais.

    O ambiente para os proprietários não é famoso. Até já se lhes lançou um odioso à expressão: “cada um mete o preço que quer na sua propriedade”.

    Ora, isso simplesmente não é verdade, pois cada um pede o preço que entender pela sua propriedade; mas, para que haja negócio, terá de haver alguém disposto a pagar o preço pedido.

    É um princípio sobejamente conhecido: quando a liberdade é respeitada, as transacções entre pessoas são voluntárias e livres. Até hoje, não se conhecem proprietários, em busca de “lucro fácil”, que tenham sacado de uma pistola, apontando-a à cabeça do inquilino, a exigir a assinatura do contrato de arrendamento. Aliás, quando se assina um contrato livremente, as regras são claras para ambas partes, incluindo a actualização da renda.

    aerial view of city buildings during daytime

    Neste contexto de crise, surgem todos os dias propostas mirabolantes para a debelar, como, por exemplo, esta saída da pena do Tiago Franco, também cronista do PÁGINA UM: quem tenha emigrado e estava a pagar um crédito à habitação em Portugal, pode reflectir as subidas da prestação sobre o inquilino. Certamente, que tal liberalidade já não se aplica ao famigerado “especulador” que arrenda uma casa adquirida através de um crédito à habitação, nem tão pouco ao que decidiu investir as poupanças de uma vida no mercado de arrendamento, por forma a fugir à repressão financeira do Banco Central Europeu (BCE), onde o aforro é, há mais de uma década, remunerado a 0%.

    No primeiro caso, segundo a proposta, o inquilino paga o empréstimo ao emigrante que, ao final de umas décadas e sem sobressaltos de maior – pode enviar o aumento das prestações ao inquilino! – tem mais património, está mais rico. No caso do segundo e do terceiro, já não é bem assim, pois estão sujeitos ao “tenebroso” mercado e ao terrorismo de Estado, onde o respeito pela propriedade privada começa a ser inexistente.

    Mas vamos então supor que o Emigrante do Tiago Franco comprou uma casa no Lumiar, em Lisboa, em Julho de 2019 por 327 mil euros: um T2 de 90 metros quadrados (m2), a 3.632 euros o m2. Para isso, contraiu um empréstimo bancário com as seguintes condições: 40 anos, Euribor a 12 meses + 1% de spread, financiamento a 100%.

    Como a Euribor a 12 meses naquele momento se encontrava em -0,3%/ano, a prestação mensal ao banco seria de 780 euros. A este custo, acrescia o condomínio (75 euros/mês) e os seguros da casa (75 euros), totalizando 930 euros. O mercado de arrendamento aplicava 13,3 euros por m2, uma renda mensal de 1.200 euros, obtendo, desta forma, uma margem de 270 euros por mês.

    Em Julho de 2023, em resultado da subida da taxa Euribor a 12 meses, as prestações mensais do empréstimo à habitação “saltaram” de 780 euros para 1.610 euros, um incremento de 830 euros. Segundo a proposta, o inquilino passaria a pagar 2.030 euros por mês, em lugar de 1200 euros, garantido o mesmo lucro ao Emigrante do Tiago Franco.

    Aplicando a mesma situação para o “malvado Especulador”, que não emigrou, e assumindo contratos anuais com novos valores de renda em cada ano, estaria a receber 1.460 euros (16,2 euros por m2) de rendas mensais em Julho de 2023. Como seriam os seus custos? Pagaria agora 1.610 euros de prestação mensal, acrescido das despesas de condomínio e seguros, o que seria um encargo mensal de 300 euros por mês, em lugar de um rendimento!

    Por fim, o “malvado Especulador” que adquiriu a mesma casa, mas, neste caso, com as suas poupanças, por forma a fugir dos juros 0% no banco. Em Julho de 2019, a rendibilidade anual seria de 4,4% (1.200 × 12 ÷ 327.000), em termos reais praticamente o mesmo, já que nessa altura a “inflação oficial” estava em torno de 0%. Em Julho de 2023, a situação, aparentemente, seria mais favorável: uma rendibilidade de 5,36% (1.460 × 12 ÷ 327.000). Acontece que a inflação situa-se em 7,8%, representando uma remuneração real negativa da poupança: -2,3%. As suas poupanças valem menos!

    Não incluímos nesta equação o Ladrão-Mor, que nos assalta os rendimentos prediais em 28% (ainda há quem peça o englobamento, talvez para ajudar um pouco mais o mercado de arrendamento) e aplica o Imposto Municipal sobre as Transmissões Onerosas de Imóveis (IMT) sobre a compra. Não se considera o Imposto Municipal sobre Imóveis (IMI), já que este tributo – roubo – é deduzível em sede de IRS para os rendimentos prediais, ao contrário dos juros do empréstimo bancário!

    Podemos então imaginar a presente situação dos “Especuladores” que decidiram meter-se no mercado de arrendamento através de um empréstimo bancário. Mas já no caso do Emigrante, é todo um mundo especial, pois “está ao fresco” das subidas da taxa de juro da Sra. Lagarde.

    Aquilo que me deixa perplexo em toda esta crise acaba por ser o desrespeito total pela propriedade privada, um dos nossos principais direitos naturais: a vida, a liberdade e a propriedade privada. As sociedades que mais protegem estes direitos são as mais prósperas, e não o contrário.

    Reparem, em toda esta discussão, tende-se sempre a culpar a suposta ganância do proprietário e nunca a do Ladrão-Mor: o Estado.

    Close-Up Shot of a Person Counting Paper Money

    Foi o Estado, através do BCE, que imprimiu mais de 4 biliões de Euros (atenção: 12 zeros) desde o início da putativa pandemia, a verdadeira causa da inflação que hoje vivemos. Com este dinheiro, vindo do “ar”, em que o BCE imprimia enquanto o Governo emitia dívida pública, pagou-se fornecedores de testes, farmácias, fabricantes de inoculações experimentais e fornecedores de fraldas faciais. Foi também com este dinheiro que se pagou a profissionais de saúde, enquanto os hospitais afinal estavam como nunca estiveram, ou seja, nunca estiveram tão vazios.

    Assistimos, nos últimos anos, ao maior processo de redistribuição de riqueza da História da Humanidade, onde, através da inflação, os pobres e a classe média foram assaltados a favor da casta parasitária e de multimilionários próximos do poder. Para o proprietário e inquilino foi uma roubalheira sem fim, mas a culpa nunca se assacou ao Ladrão-Mor.

    O roubo deste nunca é suficiente. É sempre preciso mais. Não satisfeito, prepara-se agora para evitar uma actualização das rendas de acordo com a inflação, roubando uma vez mais os proprietários. Prepara-se também para congelar as rendas, uma medida que destruiu as principais cidades portuguesas. Ainda se recordam como eram, há uns anos os principais centros urbanos do país, com edifícios devolutos e ruas desertas à noite?

    Close Up Photography of Person in Handcuffs

    As pessoas investem apenas onde existam garantias de que os seus direitos de propriedade sejam respeitados; caso contrário, não acontece. A oferta só aumenta assim. Ter mais casas no mercado exigirá liberdade negocial da renda e liberdade de actualização da renda, e sobretudo o fim do roubo e das restrições ao licenciamento de novas construções e alojamento local.

    Mas isso não será suficiente; também será necessário abolir o BCE, evitando que se criem bolhas imobiliárias à conta de juros 0% durante anos a fim e o roubo a favor da casta próxima da fonte do dinheiro.

    Uma coisa é clara: não é roubando uns para dar a outros que se irá resolver um problema que nos atormenta a todos.

    Luís Gomes é gestor (Faculdade de Economia de Coimbra) e empresário


    N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.

  • eNaira: já ouviu falar da moeda digital do Banco Central da Nigéria? Uma asneira

    eNaira: já ouviu falar da moeda digital do Banco Central da Nigéria? Uma asneira


    Desde o início da putativa pandemia, praticamente todos os Bancos Centrais do Mundo têm anunciado o lançamento da sua moeda digital. A burocracia de Bruxelas e de Frankfurt, obviamente, não ficou para trás nesta “corrida”, e já anunciou o lançamento para breve do Euro Digital, apesar das populações nunca se terem pronunciado democraticamente a respeito.

    Neste contexto, lá tivemos os órgãos de propaganda a realizarem “entrevistas“ – neste caso, à comissária europeia Mairead McGuinness, com o pelouro dos serviços financeiros, estabilidade financeira e união do mercado de capitais –, para nos dar conta da “necessidade de lançarmos um Euro Digital”. Como sempre, tudo maravilhas! E respondido ao melhor estilo de uma fábula infantil.

    Currency in Nigeria

    À pergunta “porque é que precisamos de um Euro Digital?”, tivemos a pungente resposta: “Em relação ao dinheiro, as pessoas vêem-no, compreendem, mas eu posso não ter dinheiro no bolso. Por isso, quero ter a alternativa, a opção de ter uma versão digital do dinheiro. As pessoas já não estão a usar tanto o dinheiro como antes e a covid acelerou essa tendência.” Reparem, como às vezes saímos à rua sem dinheiro no bolso, ou anda por aí um bicho, temos de ter o Euro Digital!

    A melhor parte da “entrevista” estava reservada para a questão da privacidade. Após admitir que, numa consulta pública realizada pelo Banco Central Europeu (BCE), essa era a maior preocupação das pessoas, apaziguou-nos com esta candura: “O BCE não está interessado na forma como gasta o seu dinheiro, mas quer dar-lhe a opção de ter uma versão digital do dinheiro.” É uma pena não ter-nos explicado que se trata da ferramenta de sonho de qualquer tirano.

    Enquanto os dirigentes europeus celebravam a vitória antecipada sobre um povo doutrinado, obnóxio, idoso, crente em todas as patranhas estatais, o povo nigeriano demonstrava ser capaz de combater a tentativa de se lhes impor uma tirania digital, fazendo do eNaira, a moeda digital do Banco Central da Nigéria, um completo fracasso. Este falhanço poderá servir de exemplo para os demais países pobres.

    Crowded Street in Nigeria

    Esta história merece ser contada, dado tratar-se de um dos maiores produtores de petróleo de África e o mais populoso deste continente, com uma população acima dos 200 milhões de pessoas. Em consequência, existe um enorme interesse geopolítico na Nigéria e na história do eNaira. Sejam os globalistas do Fórum Económico Mundial, presentes na Nigéria há algum tempo, os russos, aí estabelecidos desde a era soviética, ou os chineses, que também por lá constroem ferrovias, estradas e aeroportos.

    De que forma se lançaram as raposas para o galinheiro? A 26 de Outubro de 2022, a Nigéria lançou oficialmente o eNaira, tornando-se o primeiro país africano a lançar uma moeda digital do Banco Central. Como sempre, o paraíso estava ao virar da esquina: o eNaira ia fazer crescer a Economia em 29 mil milhões de Dólares norte-americanos (USD) ao longo de 10 anos, possibilitar pagamentos directos do Governo às pessoas e, sem surpresa, aumentar a base de impostos – a roubalheira é sempre o propósito final do qualquer Estado.

    No final desse mês, 30 de Outubro de 2022, o Governo, através do seu Banco Central, lançava um ambicioso plano para “combater a inflação” – os criminosos regressavam para investigar e deslindar o crime –, através da reposição das notas de elevado valor (200, 500 e 1000 Nairas), combatendo, desta forma, a contrafacção – quando eles fazem não há problema, agora a populaça é que não! – e retirar a excessiva circulação de notas no país.

    man in white long sleeve shirt and white hat standing in front of fruit stand

    No final desse ano, o Governo lançou um ataque total ao dinheiro físico, retirando o curso legal às notas de 200, 500 e 1000 Nairas. Afinal não era uma entrega de velhas por novas notas, mas apenas a entrega de notas por saldos digitais de eNairas. Segundo o então governador do Banco Central, até ao final de Janeiro de 2023, depois adiado para 10 de Fevereiro, a Nigéria faria a transição completa do dinheiro físico (Naira) para o dinheiro digital.

    Como sempre, os mais pobres e débeis, sem contas bancárias, foram aqueles que mais sofreram com a escassez de notas, gerando o caos e o desespero. As garantias do Banco Central nigeriano de que o dinheiro físico não seria eliminado até que o eNaira estivesse totalmente operacional não foram cumpridas. Assim, muitos ficaram com notas bancárias antigas e sem valor, já que o plano era eliminar as notas de maior valor, como as de 200, 500 e 1000 Nairas.

    A 8 de Fevereiro de 2023, o Tribunal Supremo da Nigéria bloqueou o plano do Banco Central, impedindo a eliminação do curso legal das notas de maior valor.

    Neste contexto, é fácil compreendermos os tumultos que tiveram lugar no dia 16 de Fevereiro. Os manifestantes atacaram caixas multibanco e bloquearam estradas, à medida que a raiva transbordava pelas ruas devido à escassez de dinheiro, apenas a dias de eleições gerais no país. Privadas de toda a sua riqueza, desesperadas e famintas, foram para as ruas, exigir a reinstalação do curso legal das antigas notas.

    a man and a woman looking at a cell phone

    Neste contexto, o Governo de Buhari anunciou que as notas do 200 Nairas teriam novamente curso legal por mais 60 dias. A possibilidade de depositar notas de 500 e 1000 Nairas junto do Banco Central e receber saldos de eNairas teria uma nova data-limite: 10 de Abril de 2023, mas mantendo-se a eliminação do seu curso legal.

    Até o final de Janeiro de 2023, as transações usando o eNaira ocorriam sem problemas, mas eram limitadas aos membros da classe média, com acesso a dispositivos digitais. A grande maioria dos nigerianos desesperavam por trocar o seu dinheiro antigo por qualquer coisa com que pudessem satisfazer a sua fome.

    O problema era que o novo dinheiro não estava em lugar algum. Mesmo os nigerianos mais brilhantes não conseguiram entender como o Governo planeava eliminar o dinheiro existente e emitir novo dinheiro em apenas algumas semanas antes das eleições gerais previstas para 24 de Fevereiro de 2023.

    Como previsto, o novo presidente da Nigéria saiu do partido do Governo – a “democracia” está assim –, o mesmo responsável pelo caos que estava instalado. É importante notar que estamos a falar de um país que lidava com uma crise monetária, inflação descontrolada e escassez de combustíveis, apesar de ser o maior produtor de petróleo da África, onde a falta de dinheiro físico e as filas intermináveis nas caixas multibanco são incessantes.

    girl holding book near blue motorcycle

    A situação de incerteza e perigo persistiu por três meses e meio até à posse do novo presidente, Bola Ahmed Tinubu. A 29 de Maio de 2023, aproximadamente 108 dias após a eliminação efectiva do dinheiro, o Presidente Tinubu restaurou o curso legal das notas antigas, juntamente com o novo Naira e eNaira.

    O que levou Tinubu a fazer tal gesto? Não só teve este gesto, como ordenou uma investigação ao Banco Central da Nigéria, resultando na prisão do seu ex-governador, Godwin Emefiele, a 10 de junho de 2023, algo absolutamente inédito. No final de julho, foi libertado pelo tribunal e novamente detido pelos serviços de segurança.

    No meio de tudo isto, cem milhões de pessoas foram privadas dos seus meios de subsistência por três meses e meio. Como sobreviveram? Os nigerianos, ao contrário da maioria dos habitantes dos países ocidentais, não acreditam numa palavra do que diz a classe política. Sentindo-se enganados novamente, quando ficou claro que nem o Naira antigo nem o novo funcionavam, as pessoas foram para as ruas, dispararam tiros e, infelizmente, pessoas morreram.

    Em resposta às recusas de aceitar o seu dinheiro antigo, invalidado no final de Janeiro de 2023, as pessoas sem contas bancárias, dinheiro legal ou economias recorreram a métodos tradicionais: troca e crédito comercial. A falta natural de fé dos nigerianos no Estado salvou-os de um golpe, do terrorismo estatal.

    people raising green and white flag during daytime

    Esta história, obviamente, não é conhecida pelas pessoas do chamado “mundo livre”. Estas necessitam do Estado para lhes dizer que há uma “pandemia”, bastando-lhes uma recomendação de um qualquer burocrata do Estado para correrem a inocular-se com substâncias experimentais. Bastará um órgão de propaganda dizer-lhes que o Euro Digital é a sétima maravilha do mundo, para correrem de forma desenfreada a trocar notas de Euro por Euro digital.

    Pelas razões apontadas, esta história não é conhecida do mundo ocidental, mas merece ser contada. Um povo que não acredita no Estado logrou derrotar um golpe que pretendia implementar uma ditadura digital. Por aqui, repito, vai ser muito fácil!

    Luís Gomes é gestor (Faculdade de Economia de Coimbra) e empresário


    N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.

  • Temos mesmo de aceitar a roubalheira? E ainda por cima com um sorriso?

    Temos mesmo de aceitar a roubalheira? E ainda por cima com um sorriso?


    Nos últimos dias tem feito notícia o veto presidencial à legislação “Mais Habitação” – o nome já diz tudo –, que tem como propósito “solucionar” a grave crise que se vive no mercado imobiliário em Portugal.

    Efectivamente, o cenário é dramático: os preços das casas e dos arrendamentos sobem a ritmos sem precedentes; as prestações ao banco praticamente duplicaram no espaço de um ano, em resultado da subida das taxas de juro pelo Banco Central Europeu (BCE); a alta de preços é agravada pela entrada descontrolada de um enorme contingente de estrangeiros, muitos deles utilizados como mão-de-obra escrava por empresários sem quaisquer escrúpulos.

    Graffiti on White Concrete Wall

    A inscrição do “direito à habitação” na Constituição da República Portuguesa (CRP) justifica todos os intervencionismos. Na verdade, não se trata de um direito, mas simplesmente de um bem económico. Esta confusão entre direitos e bens económicos é aproveitada pela casta parasitária e está na origem de todas as crises.

    Os verdadeiros direitos têm um carácter negativo: os denominados direitos naturais. Tenho direito ao fruto do meu trabalho, à liberdade de dispor da minha propriedade, à minha privacidade, à minha personalidade, à minha liberdade – deslocar-me para qualquer parte –, à minha liberdade de expressão, à vida, à liberdade de seleccionar o projecto de vida que julgue melhor.

    Em nenhum momento estou a agredir os demais, apenas peço que não interfiram com os meus direitos, com as minhas ambições, sempre que não colidam com os direitos dos demais. Os Estados que melhor protegem estes direitos – até agora, todos falharam clamorosamente neste âmbito, embora em diferentes graus –, são aqueles que proporcionam a maior prosperidade aos seus cidadãos.

    Por que razão então “a casa grátis”, a “saúde grátis”, as “escolas grátis” não são direitos?

    Marina Gonçalves, ministra da Habitação, à esquerda.

    Pela simples razão de se tratarem de bens económicos. Apenas são possíveis pela combinação de recursos provenientes da natureza (terreno e matérias-primas), de bens de capital (máquinas, equipamentos) e do labor humano. Infelizmente, não vivemos no paraíso, onde não existem as leis da escassez. As ideologias totalitárias sempre prometeram este paraíso de abundância, que apenas existe na cabeça de infelizes manipulados.

    Para se proporcionar direitos positivos a uma parte da população, como é o caso da “casa grátis”, obrigatoriamente há uma outra parte que será agredida. São múltiplas as agressões que podem ter lugar. Para se obter saúde “grátis”, o médico deverá trabalhar para a população de forma gratuita? O construtor do hospital também? Ou, em alternativa, assalta-se uma parte da população para pagar a saúde dos que têm a felicidade de não serem assaltados?

    Veja-se o caso da liberdade de dispor livremente da propriedade: se o Estado impõe o valor da última renda cobrada ao inquilino nos novos contratos de arrendamento, não está a agredir a liberdade negocial do proprietário; ou quando exige que arrenda coercivamente, não está a obrigá-lo a algo contra a sua vontade?

    E quando impede um determinado projecto de vida, por exemplo, ao colocar um fim à emissão de licenças de alojamento local a partir de uma determinada data? Não se está a impedir essa actividade àqueles que não as possuem? Não deveria ser o mercado a decidir se os novos empresários vingam? Com o aumento da oferta, de imediato pressiona-se no sentido descendente os preços praticados, tornando menos atractiva a actividade, provocando, por esta via, o ajustamento da oferta à procura.

    O que dizer da legalização de uma actividade criminosa para um pequeno grupo de entidades licenciadas pelo Banco Central? Se um simples cidadão decidir imprimir notas em sua casa, o seu destino é a cadeia (artigo 262.º do CPP), enquanto bancos e Bancos Centrais podem fazer contrafacção de moeda com total impunidade, diminuindo, desta forma, o poder aquisitivo – inflação – dos depósitos e notas de cada um.

    A agressão permanente aos direitos naturais, usando como pretexto a necessidade de proporcionar direitos positivos à população – saúde “grátis”, casa “grátis”, rendas de favor, estímulos monetários para evitar recessões…–, generaliza a discriminação dos cidadãos perante a lei. Esta deixa de ser cega e igual para todos.

    Bearded Man Pushing a Grocery Cart

    O senhorio passa a receber uma renda inferior àquela que o mercado pratica, incentivando-o a retirar a casa do mercado. O proprietário perde aquilo que é seu, pois é obrigado a arrendar coercivamente. O cidadão de sucesso torna-se um “cidadão de segunda”, sujeitando-se a taxas de tributação de 70% e 80% (IRS, SS empregador e trabalhador, IVA…). O empresário que gostaria de entrar no negócio do alojamento local deixa de o poder fazer, em virtude de não se emitirem mais licenças. Neste contexto, a lei torna-se injusta e discrimina permanentemente.

    À boleia do populismo dos direitos positivos, em que se rouba uma minoria para distribuir migalhas pelas massas e obter o seu voto, a casta parasitária manipula a sociedade para nos colocar todos contra todos. Os “malvados dos ricos”, os “malvados dos proprietários”, os “malvados dos especuladores”, os “malvados dos proprietários”, os “malvados dos negacionistas”, a “malvada evasão fiscal” – na verdade, a legítima defesa de um monstruoso assalto.

    Para a sua perpetuação no poder, a casta parasitária recorre à mais vil manipulação, à mais obscena propaganda e uma doutrinação sem quaisquer escrúpulos da população. É a Joaninha e os Impostos para as crianças; a evasão fiscal que impede a ajuda aos “pobrezinhos”, não sendo possível dar-lhes a casa, o emprego, a saúde, a educação, apesar do assalto de 106 mil milhões de Euros, cerca de 10 mil Euros por português; a “necessária justiça social”, uma espécie de Robin dos Bosques, em que se roubam os “ricos” para dar aos pobres, tudo em nome do “bem-comum”, sempre definido por um grupo de tiranos que se acha no direito de decidir as nossas vidas – quem não se recorda dos “especialistas” da putativa pandemia.

    Red and Brown Floral Stair Carpet

    No meio desta roubalheira, apenas a casta parasitária prospera. A cada bancarrota estão cada vez mais ricos. A cada crise, as suas contas bancárias e propriedades incrementam exponencialmente. Em paralelo, o pequeno empresário é arruinado em nome do combate ao “vírus”; o aforrador vê a sua propriedade confiscada em nome de “casas grátis” para “os pobres e débeis”; a maioria é obrigada a pagar preços monopolistas a uma minoria com contactos privilegiados junto da casta parasitária, prosperando sistematicamente em negócios que envolvam a partilha do butim; o idoso, que levou todas as “vacinas” pagas a partir do saque, corre o risco de não ter acesso aos mais básicos cuidados de saúde e mesmo morrer; a população com rendimentos fixos é assaltada pela inflação criada pelo cartel bancário, onde a contrafacção de moeda está legalizada – para eles obviamente!

    Em conclusão, os direitos positivos propagandeados pela casta parasitária não são mais que uma insidiosa forma de nos ludibriar, confiscar, esbulhar e assaltar com a máxima violência. Apenas nos pedem, todos os dias, que aceitemos tudo isto com um sorriso nos lábios.  

    Luís Gomes é gestor (Faculdade de Economia de Coimbra) e empresário


    N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.