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  • Taxa de inflação: um embuste?

    Taxa de inflação: um embuste?


    A democracia, esse grandioso espectáculo em que o “povo” – seja lá quem for – elege os seus próprios parasitas, conhecidos por políticos. Para ingressar nesse selecto grupo, são necessárias aptidões peculiares: ser demagogo, popular e exímio mentiroso. A genialidade desta farsa reside na sua natureza despersonalizada; ao contrário da monarquia absoluta, onde o bandido tinha um rosto identificável e que podia ser odiado, enquanto na democracia todos aspiram ao papel de parasita. Afinal, se os ladrões foram eleitos por mim, são “os meus ladrões”, e assim o poder perpetua-se sem resistência.

    Além disso, não podemos esquecer a feroz competição entre esses salteadores, cada um prometendo mais favores e benesses aos grupos de pressão – sejam plutocratas, multinacionais ou sindicatos – na busca incessante pela reeleição. Em vez de limitarem o poder dessa ficção chamada Estado, alimentam-na, com promessas que apenas servem para invadir cada vez mais a vida dos cidadãos, sob o disfarce de uma “eleição legítima”. No final, o Estado expande-se, o indivíduo definha, e a liberdade evapora-se, num jogo de cartas marcadas.

    Quando um Governo, composto por parasitas, cede aos pedidos dos grupos de pressão, necessita inevitavelmente de mais recursos e de maior controlo para implementar e gerir as políticas exigidas. Isso frequentemente conduz à expansão do poder centralizado, culminando na formação de um cartel de grupos mafiosos, como é o caso da União Europeia.

    macro photography of green aphid

    Primeiro, através da criação de regulações, de supervisores e de burocracias, visando gerir e fiscalizar os benefícios e programas concedidos aos grupos de interesse. Isso exige uma coordenação centralizada para garantir que as políticas sejam aplicadas uniformemente em toda a jurisdição sob a alçada do Estado.

    Em segundo lugar, à medida que o Governo assume novas responsabilidades, o seu alcance sobre a vida dos cidadãos amplia-se. Isso pode incluir desde políticas sociais e económicas até à regulamentação de aspectos culturais e educacionais, todos geridos por uma autoridade central.

    Por fim, como sobredito, a extorsão do gado intensifica-se, dada a necessidade de financiar os programas e benefícios prometidos pelos bandidos que aspiram a ser eleitos. O Governo necessita, assim, de aumentar a arrecadação de impostos ou contrair dívidas. Mas, como se sabe, nunca é suficiente.

    A democracia, na sua brilhante “generosidade”, erradicou o ouro e a prata — os meios de troca escolhidos pelo mercado desde há milénios —, substituindo-os por simples papelinhos, ou, nos dias de hoje, por meros registos informáticos (amanhã, será o Euro Digital). Estas “moedas fiduciárias”, cuja produção não custa praticamente nada, foram confiadas a um autodenominado “independente” banqueiro central, que mais parece um comissário soviético.

    Para que o roubo passasse despercebido, o protestantismo positivista inventou o índice de preços, uma ficção científica digna de aplausos. Esse índice, supostamente, mede a inflação, permitindo ao povo manter-se actualizado sobre o poder aquisitivo do “seu dinheiro”.

    É imperativo recordar que o dinheiro serve apenas como um meio de troca, facilitando transacções e evitando a dupla coincidência de desejos característica das trocas directas. Por ser um fenómeno de mercado, o dinheiro não mede nada. Os preços, por sua vez, só fazem sentido como proporções, pois tanto o dinheiro (a escala) como os bens ou serviços (os objectos de medição) estão sujeitos a mudanças constantes, a ideia de uma medição absoluta torna-se impossível.

    Assim, quando se diz que uma maçã custa 1 Euro e uma laranja custa 2 Euros, não significa que a laranja vale exactamente o dobro da maçã; o valor relativo pode variar conforme a oferta, a procura ou a percepção de valor – algo que definitivamente não pode ser medido; em que unidade se mede isso? Portanto, a ilusão de medir algo tão mutável quanto a Economia é apenas mais uma ferramenta na vasta caixa de truques do positivismo.

    bird opening slice bread pack

    Imaginemos uma Economia onde existe apenas um bem: maçãs. A quantidade total de Euros em circulação é fixa, digamos 100 Euros, e a produção anual é de 100 maçãs, o que resulta num preço de mercado de 1 Euro por maçã. Com o tempo, o capital acumulado — em máquinas, fábricas, estradas, etc. — permite um aumento na produção, passando, por exemplo, para 110 maçãs por ano, um aumento de 10%. Agora, suponha-se que o banqueiro central lá do sítio decide imprimir mais 10 Euros.

    Neste cenário, se a procura por maçãs e por dinheiro permanece constante, o preço de uma maça fixa-se novamente em 1 Euro. A democracia, com as suas métricas de “inflação” manipuladas, diria que não houve inflação, pois os preços não subiram – milagre, inflação 0%! Contudo, na realidade, houve uma inflação de 10% na oferta monetária, e os preços deveriam ter caído para 0,9 Euros por maçã, reflectindo o aumento na produção. O efeito real no bolso dos consumidores seria, portanto, uma maior capacidade de compra devido à maior oferta de bens, mas isso é ocultado pela taxa de inflação oficial que nos diz que os preços estão estáveis, sem variação!

    Os preços não medem valores absolutos, mas apenas relações de troca. Suponhamos que, antes da putativa pandemia, uma consulta médica custava 80 Euros e um café 0,8 Euros, estabelecendo um rácio de troca de 100 cafés por consulta. Se a impressora do BCE provocar uma subida homogénea de preços de 50%, com a consulta agora a 120 Euros e o café a 1,2 Euros, o nosso médico manterá o mesmo poder de compra, desde que a inflação afecte de forma equitativa todos os bens e serviços que consome regularmente. Assim, uma inflação dos preços em 50% não impacta a sua vida.

    A moderna teoria económica erroneamente afirma que os preços medem o valor. Na verdade, uma troca ocorre precisamente porque as partes envolvidas atribuem valores diferentes ao mesmo bem; se assim não fosse, a troca não aconteceria. Consideremos um agricultor com cinco cavalos homogéneos: o primeiro cavalo é destinado à necessidade mais urgente, como puxar um arado, enquanto o último pode ser usado para actividades menos urgentes, como passear. Assim, o valor de um bem depende da necessidade menos urgente que se deixa de atender, explicando por que o pão, essencial à sobrevivência, vale menos que a platina, um metal escasso reservado para necessidades muito específicas.

    Imagine que estou num café na Av. da Liberdade, em Lisboa, e desejo tomar um café. Eu poderia preferir o café a 3,5 Euros; ou seja, até esse valor, dou mais importância ao café do que ao dinheiro. No entanto, se o café custar 1,5 Euros, aceito a transacção, pois está abaixo do meu limiar. Para o proprietário da cafetaria, o café, sendo abundante no seu inventário, não tem o mesmo valor; daí a troca ocorrer. O preço de 1,5 Euros é apenas uma relação de troca, uma intermediação entre serviços. Se eu viver de serviços de corretagem estou a trocá-los por um café, com o dinheiro a servir de intermediário dado que não satisfaz qualquer necessidade humana.

    assorted bunch of fruit lot

    Convém destacar que a impressão de dinheiro simplesmente redistribui riqueza, sem criar valor real. Tomemos o exemplo de Alves dos Reis, que falsificava notas do Banco de Portugal e as gastava, por exemplo, exclusivamente em prostitutas; o preço deste “serviço” em Lisboa dispararia, uma vez que a sua preferência por dinheiro é diminuta, dada a sua fartura. Essa inflação de preços iria espalhar-se, afectando em primeiro lugar os bens preferidos das prostitutas e assim sucessivamente. Os primeiros a receber o dinheiro falso beneficiam-se dos preços não inflacionados, o que é notório nas subidas das cotações das acções e obrigações e nos preços do imobiliário nas últimas décadas, atendendo que o dinheiro impresso pelos bancos comerciais se dirigiu em grande medida para estes mercados.

    Como é que o índice de preços capta o efeito das novas notas introduzidas pelo burlão Alves dos Reis? Qual é o real impacto da expansão da massa monetária? Qual o impacto da nova oferta, depois dos novos empreendedores de bordéis que, visando atrair este famoso cliente, decidem aumentar a oferta e a qualidade das suas “funcionárias”? Se subitamente o Alves dos Reis fosse convertido por um padre zeloso e perdesse o interesse pelos bordéis? Se estes serviços nem sequer constam do índice de preços, como captariam o impacto da nova massa monetária introduzida por Alves dos Reis?

    Então, o índice de preços opera num universo paralelo, onde o surgimento de novos produtos de “qualidade superior” ao mesmo preço indica uma “redução” dos preços. Quais são os critérios? Se os proprietários dos bordéis introduzem novas “fantasias” ao mesmo preço, como quantificam o “desconto”? Quem é o iluminado que decide?

    Na Economia contemporânea, novos produtos inundam constantemente o mercado. Como comparar médias de preços ao longo do tempo se a própria “cesta” de bens muda constantemente? E quando os consumidores trocam carne de vaca por frango por ser mais barato, eliminando a primeira do índice? Não seria isto uma piada de mau gosto disfarçada de estatística?

    Se há preços diferentes para quase todos os bens e novas variações surgem constantemente, como é o caso de ovos comuns e ovos “ecológicos”, ou ainda de diferentes marcas — quem garante que os burocratas do Governo conseguem captar essas mudanças incessantes? Que critérios obscuros aplicam para medir essas variações? Será que têm alguma fórmula mágica para compreender as complexidades do mercado? Ou será que tudo isto é apenas uma ficção orquestrada, um jogo de sombras onde o preço é tão manipulável quanto o discurso de um político?

    O índice de preços é um exercício de ilusionismo estatístico, ancorado na fantasia de uma cesta de bens fixa como unidade de medida. Não há qualquer método científico para se medir o “nível de preços”. O proprietário de uma casa, por exemplo, não se torna subitamente mais rico apenas porque o índice de preços das casas sobe — especialmente se não planeia vendê-la. O mesmo se aplica ao mercado de acções; um aumento num índice não transforma, magicamente, a prosperidade da população.

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    Falar de um “nível de preços” ou de uma “riqueza geral” para toda a Economia é tão sensato quanto tentar medir o peso de um pensamento! Cada pessoa, cada família, cada região possui uma estrutura de preços única, com variações distintas no seu poder de compra. Pretender medir isso para toda uma Economia é tão frutífero quanto calcular a “riqueza nacional” ao somar os preços de propriedades, títulos e acções e proclamar que isto, por si só, é o retrato da prosperidade de um país.

    Por fim, é sempre um espectáculo hilariante assistir às conferências de imprensa de Christine Lagarde e Jerome Powell, onde nos revelam que a meta mágica é uma inflação de 2%. Por que não 1,9% ou 2,1%? São estas taxas inflacionárias heresias? Como é que estes “iluminados”, na verdade planeadores centrais, conseguem discernir as preferências temporais de milhões de consumidores para decretar se a taxa de juro será de 4% ou 5%? O cúmulo é ver liberais de pacotilha a defenderem tais burocratas, como se eles soubessem algo, quando na verdade nada sabem e esquecem-se que servem exclusivamente para roubar silenciosamente a população através do imposto mais pérfido de todos: a inflação!

    Luís Gomes é gestor (Faculdade de Economia de Coimbra) e empresário


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  • Democracia: o regime menos mau?

    Democracia: o regime menos mau?


    Desde tenra idade, somos incessantemente doutrinados com mantras sobre a democracia: “o regime menos mau”, “o Governo do povo, pelo povo, para o povo”, “a vontade soberana do povo”.

    Mas será que a realidade corresponde a tais idealizações? Hoje, os Governos das repúblicas democráticas autoproclamam-se nossos benevolentes protectores em quase todos os aspectos das nossas vidas: “redistribuem a riqueza”, “amparam os desvalidos”, “oferecem-nos habitação”, “asseguram-nos a reforma”, “educam-nos”, “protegem-nos na velhice”, “defendem-nos dos vírus, mesmo dos invisíveis”, “salvam-nos das alterações climáticas”— uma cornucópia de promessas gloriosas!

    person standing near table

    Na realidade, a democracia é o disfarce perfeito para a mais insidiosa das criações humanas: o Estado. Sob a pretensa promessa de representação, os “nossos” representantes autorizam o confisco do fruto do nosso labor; restringem liberdades fundamentais e legitimam a criação de dinheiro do nada pelos bancos — uma prática, eufemisticamente conhecida por reservas fraccionadas —, que noutras circunstâncias seria simplesmente rotulada de roubo.

    Esses mesmos representantes resgatam empresas falidas sob o pretexto de proteger os empregos das suas clientelas políticas, enquanto erguem barreiras artificiais que impedem a população de perseguir a sua própria felicidade, garantindo oligopólios aos plutocratas que os financiam. Além disso, “oferecem-nos” a educação estatal, não com o intuito de esclarecer, mas sim para doutrinar as futuras gerações numa aceitação passiva de uma vida de servidão — como ilustrado pelo infame livro “Joaninha e os impostos“. A saúde pública? Nada mais que uma ferramenta de controlo assente no medo, garantindo, ao mesmo tempo, lucros obscenos às farmacêuticas, num conluio incestuoso entre indústria, classe política e reguladores.

    Em conclusão, a “tirania” da maioria é inescapável, pois, no final, são os representantes eleitos que tudo decidem, legitimados ironicamente por uma minoria que ainda se dá ao trabalho de votar para nomear as pessoas à frente desta instituição parasitária, conhecida por Estado.

    O que é o Estado? É a entidade que detém o monopólio para confiscar os recursos e os rendimentos dos residentes debaixo da sua jurisdição, uma prática eufemisticamente conhecida como tributação. Também detém o exclusivo do uso da força, desarmando, sempre que possível, a população para minimizar a possibilidade de qualquer revolta – hoje, com a excepção dos Suíços, todos os europeus estão desarmados.

    view of stadium interior

    O Estado detém o monopólio absoluto sobre a criação e imposição de leis, sendo simultaneamente o legislador e o juiz dos conflitos, mesmo quando é uma das partes envolvidas. Essa instituição, na sua magnânima benevolência, reivindica o direito de escravizar a população, forçando-a a servir nas suas guerras sob o nobre estandarte da “liberdade, pátria e democracia”. Como qualquer parasita eficiente, o Estado busca incessantemente expandir o seu território, pois quanto maior o número de hospedeiros, maior a sua sustentação.

    Em que ponto da história surgiu tal instituição? Precisamente, com o aparecimento das monarquias absolutas na Europa, pois durante a Idade Média, período “estranhamente” vilipendiado pelos historiadores, tal instituição simplesmente não existia. Após a queda do Império Romano do Ocidente, surgiu uma ordem natural que deveria merecer a nossa atenção, muito diferente da propaganda que recebemos na escola pública.

    Em primeiro lugar, os tribunais, tanto dos senhores feudais quanto do próprio rei, eram instituições de carácter privado. Os tribunais reais funcionavam essencialmente como instâncias de recurso ou para a arbitragem de conflitos, dispensando, muitas vezes, a necessidade de recorrer à justiça baseada em costumes estabelecidos.

    Em segundo lugar, durante a dinastia Merovíngia, precursora do Sacro Império Romano-Germânico, o conceito de legislação e o papel do monarca na criação de leis eram substancialmente diferentes do que conhecemos hoje. A promulgação de novas leis era rara, com a jurisprudência fundamentada predominantemente na lei natural e nos costumes vigentes. A Igreja também exercia uma enorme influência sobre o direito e a justiça, com o direito canónico a coexistir com as leis seculares e frequentemente moldando a prática jurídica da época.

    people laughing and talking outside during daytime

    Por fim, é importante ressaltar que o rei estava subordinado à lei e não acima dela, existindo essencialmente para garantir o seu cumprimento. Além disso, poderia ser deposto tanto pelas instituições seculares como religiosas, havendo o direito à resistência caso o monarca se tornasse um tirano.

    Um exemplo emblemático é o de Eduardo II, rei de Inglaterra, que, em Janeiro de 1327, foi formalmente deposto por uma convocatória do Parlamento, o qual o declarou incapaz de governar devido à sua má administração e à estreita associação com a poderosa e amplamente detestada família Despenser.

    De igual modo, a deposição do Imperador Henrique IV do Sacro Império Romano-Germânico pelo Papa Gregório VII em 1076, durante a Querela das Investiduras, constitui um exemplo clássico do exercício do poder papal sobre um monarca. Após Henrique desafiar a autoridade do Papa e insistir no direito de nomear bispos, Gregório VII excomungou-o, libertando os seus súbditos da obrigação de lealdade. Esta excomunhão, que se traduziu efectivamente numa deposição, forçou Henrique IV a buscar o perdão, culminando na célebre Humilhação de Canossa em 1077.

    Imediatamente, evoca-se o famigerado anátema da Idade das Trevas; sim, é verdade, havia os servos da gleba, mas o que é um cidadão de um Estado democrático senão um escravo moderno? Logo ao nascer, recebe um número fiscal, marcado como se marca o gado, destinado a ser saqueado toda a vida, correndo como um rato numa roda sem fim.

    gold and blue crown

    Também temos a crítica hobbesiana, que nos assegura que, sem o Estado, os homens se devorariam mutuamente; se isso fosse verdade, a sociedade europeia teria desaparecido durante a Idade Média, onde não existia Estado. Mas, ao contrário, não só sobreviveu como floresceu, erguendo maravilhas arquitectónicas como as catedrais medievais, fundando as melhores universidades do mundo e dando origem a banqueiros como os Médicis, que acumularam tanto capital que puderam financiar a mais sublime arte já produzida pela humanidade. Era sobre essa ordem natural, fragmentada, descentralizada e sem Estado, que deveríamos ter evoluído. A Europa destacou-se no mundo precisamente por essa ordem sem a pesada mão do Leviatã estatal.

    O surgimento do Estado, particularmente das monarquias absolutas, foi o resultado da convergência de duas correntes de pensamento: o direito divino e o direito da irresponsabilidade. O direito divino conferia ao monarca a posição de representante de Deus na Terra, tornando o seu poder incontestável por qualquer autoridade terrena. O direito da irresponsabilidade, por sua vez, fundamentava as monarquias absolutas, ao estabelecer que o monarca se situava acima da lei, sendo, portanto, insusceptível de ser responsabilizado pelas suas acções.

    O surgimento do Estado, mais do que uma simples evolução ideológica, resultou da manipulação deliberada da população, particularmente dos mais vulneráveis. Como frequentemente ocorre, bastou fomentar a inveja e a intriga. A Guerra dos Camponeses na Alemanha (1524-1525), um dos maiores e mais significativos levantamentos de camponeses da Europa, exemplifica esse processo. Os camponeses clamavam pela abolição das obrigações feudais e por maior autonomia — o eterno desejo por benefícios sem custos (o grátis!), como segurança e justiça gratuita, fornecidas outrora pelos senhores feudais.

    Os príncipes resolveram a questão de forma brutal, reprimindo os camponeses com o auxílio do influente líder religioso Martinho Lutero, que proferiu as célebres palavras: “Que se esmague, estrangule e apunhale, secretamente ou abertamente, quem puder, e lembrai-vos de que não há nada mais venenoso, nocivo e demoníaco que um rebelde.” Este evento abriu caminho para o poder absoluto do monarca e do Estado, suprimindo tanto o poder da Igreja Católica quando os tribunais privados dos senhores feudais. Afinal, os exércitos reais, criadores do próprio problema, resolveram-no através do esmagamento da revolta e eliminando o sarilho enfrentado pelos senhores feudais — um clássico exemplo da tríade: problema, reacção e solução. Ainda hoje resulta!

    Vamos então traçar um paralelo entre a monarquia absoluta e as modernas repúblicas ou monarquias constitucionais, nascidas após o morticínio conhecido como Revolução Francesa. Na primeira, o governo é propriedade privada do rei e da sua linhagem. Assim, o monarca tem todo o interesse em preservar o seu “capital”, evitando, por exemplo, legar uma colossal dívida ao seu herdeiro ou sobrecarregar os súbditos com tributos excessivos, já que é preciso garantir a saúde dos seus “hospedeiros”. No segundo caso, porém, os governantes são meros gestores temporários do poder, cujo objectivo primordial é saquear e extorquir a população no menor tempo possível, sem qualquer preocupação com as consequências a longo prazo.

    Enquanto na monarquia absoluta o governo está rigidamente fechado e inacessível, com uma clara distinção entre os que governam e os governados, na democracia, em teoria, qualquer um pode ascender a essa instituição parasitária, vivendo do saque ao colectivo e atraindo os piores da sociedade. Na monarquia, governar é privilégio de poucos, enquanto na democracia qualquer um pode aspirar a ser poder, mesmo que isso signifique ser governado por bandidos eleitos. Em resumo, o povo aceita ser explorado na democracia porque acredita na ilusão de poder vir a ser o próximo grande saqueador, daí a reduzida resistência ao poder, mesmo que o assalto seja em torno de 60% e 70% do seu rendimento. Tal não acontecia com a monarquia absoluta, que enfrentava uma enorme resistência.

    grayscale photo of people walking on street

    Numa monarquia absoluta, o rei evita redistribuir riqueza, pois punir a população mais produtiva prejudicaria a sua própria arrecadação. O objectivo central do monarca é extrair riqueza para si, sem sufocar os que geram prosperidade. Já na democracia, onde o governante do momento necessita de ser reeleito, surge a necessidade de confiscar os bens dos mais ricos, uma minoria, e redistribui-los aos mais pobres em troca de votos. É o que se observa quando os políticos “oferecem” casas ou passes de transporte “gratuitos” como forma de garantir o seu voto.

    Por fim, numa monarquia absoluta a expansão territorial foi muitas vezes realizada pelo casamento, ou seja, de forma pacífica. Veja-se o caso dos Habsburgos que consolidaram vastos territórios europeus através de alianças matrimoniais. Maximiliano I de Habsburgo, ao casar-se com Maria da Borgonha em 1477, assegurou para a sua dinastia o controle da Holanda e parte da actual Bélgica. O seu filho, Filipe, o Belo, casou-se em 1496 com Joana de Castela, herdeira dos tronos de Castela e Aragão. Este casamento uniu a Espanha e as suas vastas colónias ao domínio dos Habsburgos, ampliando significativamente o poder e a influência da família na Europa.

    Nas assim chamadas democracias, as guerras que devastaram a Europa no século XX, frequentemente iniciadas por líderes democraticamente eleitos, como o regime nazi que “heroicamente” invadiu a Polónia em 1939, exemplificam a transição para um novo tipo de conflito, agora alimentado por nobres ideais.

    A Primeira Guerra Mundial assinalou o fim do capítulo das monarquias, com a queda dos Habsburgos (Império Austro-Húngaro), dos Hohenzollern (Império Alemão) e dos Romanov (Império Russo). Este conceito de conflito, aliás, já tinha despontado com a Revolução Francesa, que, em nome da conscrição obrigatória e da gloriosa tríade de liberdade, fraternidade e igualdade, transformou os exércitos em imponentes massas de cidadãos-soldados, contrastando com as monarquias absolutas, onde as guerras, aparentemente, eram menos ideológicas e mais “cavalheirescas”. Não tardou que esse nobre conceito fosse exportado para o Novo Mundo, resultando na guerra civil norte-americana, onde uma democracia em ascensão demonstrou o seu valor ao engendrar uma guerra total, com a justificação moralista da “libertação dos escravos”.

    soldier walking on wooden pathway surrounded with barbwire selective focus photography

    O que nos legou então a democracia? Se a monarquia absoluta jamais ousou entregar a emissão de moeda a um comissário político, hoje, temos um banqueiro central não eleito à frente dessa ignominiosa entidade chamada Banco Central. Embora tal instituição tenha existido sob o domínio das coroas absolutas, ao menos o dinheiro era lastreado em ouro, uma mercadoria que a humanidade, com sabedoria milenar, escolheu como moeda.

    Actualmente, num espectáculo de desfaçatez coordenada, todos os Estados destroem sistematicamente o poder aquisitivo das moedas, enquanto os Bancos Centrais, numa orquestra afinadíssima, vendem-nos a fábula do índice de preços, ignorando deliberadamente o aumento exponencial da quantidade de moeda em circulação que há décadas incha como um balão prestes a explodir.

    Como bons discípulos do medo, temem que o mundo um dia desperte e decida abandonar a moeda reserva do mundo, o venerável Dólar norte-americano. Para evitar esse terrível destino, o império recorre à sua fiel impressora de notas, financiando guerras em série – enquanto nós, súbditos involuntários, pagamos o tributo oculto chamado inflação. É o preço imposto àqueles que ousam sonhar com a fuga dessa prisão monetária, como nos exemplares casos do Iraque, da Líbia ou da Ucrânia. Como se não bastasse, somos agraciados com impostos exorbitantes, cuidadosamente desenhados para nos manter atrelados ao Euro ou ao Dólar, de modo que não cometamos a heresia de seguir o exemplo da Venezuela ou do Zimbabué – onde a fuga para as ruas é a última tentativa desesperada de as pessoas se livrarem dos papelinhos mágicos emitidos pelo Banco Central da tão aclamada democracia.

    city during nighttime

    Durante as monarquias absolutas, jamais os impostos ultrapassaram a marca dos 10% do PIB, e isso apenas em circunstâncias excepcionais, como no reinado de Luís XIV na França (1643-1715) ou na Espanha dos Habsburgos, especialmente sob Filipe II (1556-1598), que acabou por arruinar o tesouro real com seu endividamento crescente, fruto das inúmeras guerras em que se lançou. O que temos hoje? Uma economia onde o Estado, na sua benevolência sem limites, nos confisca 50% de tudo o que produzimos – mesmo assim não chega, recorrendo a dívida pública e inflação –, enquanto uma considerável fatia da população espera ansiosamente que o mesmo Estado saqueie impiedosamente a minoria que arca com a conta, tudo em nome da sagrada “solidariedade”, da “habitação gratuita”, da “educação gratuita” e daquela encantadora utopia chamada “solidariedade intergeracional” – refiro-me ao esquema em pirâmide conhecido por Segurança Social.

    Na gloriosa democracia, temos também um endividamento sem precedentes, muito além dos sonhos das antigas monarquias absolutas. Afinal, os bancos comerciais e o Banco Central têm a mágica habilidade de criar dívida a partir de meros papelinhos e registos electrónicos – um verdadeiro milagre moderno, onde nada existe além de números nos computadores. O dinheiro da democracia, materializado do nada, financia todas as agendas: energias flagrantemente ineficientes como a eólica e a solar; substâncias experimentais que nos são inoculadas com a suavidade da coerção, da chantagem e do medo; ajudas generosas, em nome da “democracia e liberdade”, a alguns dos países mais corruptos do planeta; sem falar do nobre combate às “alterações climáticas”.

    Enquanto na Idade Média a lei era a própria tradição e os costumes, e na Monarquia Absoluta quase não se dignavam a fazer novas leis, na democracia moderna as leis são produzidas ao metro, como se fossem mercadoria em linha de montagem.

    silhouette of three woman with hands on the air while dancing during sunset

    Os “nossos” representantes, esses exemplares defensores do povo, redigem leis sob medida para o plutocrata que lhes paga melhor, enchendo os cofres de escritórios de advogados que, de útil à sociedade, não produzem nem uma migalha. Como se não bastasse, somos agraciados com a presença da União Europeia, um cartel de Estados que se dedica a fabricar leis destinadas a tornar as nossas vidas miseráveis, enquanto garante monopólios e lucros pornográficos aos plutocratas que os controlam e instituem ferramentas de controlo do gado a mando destes.

    Na verdade, a democracia “protege-nos” de tudo, excepto a nossa própria propriedade privada. Hoje, sob a égide do Estado democrático, a nossa propriedade nunca esteve tão vulnerável. O Estado pode confiscar-nos as contas bancárias, o imobiliário, os valores mobiliários, o carro e até o recheio da casa, em nome do combate à lavagem de dinheiro e ao financiamento do terrorismo! Recordemo-nos que são os Estados que invadem países em nome da “democracia” e massacram milhões de pessoas nessa cruzada – isto não é terrorismo, atenção! Por fim, ainda temos de receber hordas de selvagens do terceiro mundo, em resultado desses nobres conflitos. Apetece gritar: viva a democracia!

    Luís Gomes é gestor (Faculdade de Economia de Coimbra) e empresário


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  • O ‘terrível’ mercado livre

    O ‘terrível’ mercado livre


    Recentemente, a Autoridade da Concorrência condenou diversos grupos laboratoriais e uma associação empresarial ao pagamento de 57,5 milhões de euros por formarem um cartel que fixou preços e repartiu o mercado de análises clínicas e testes COVID-19 entre 2016 e 2022.

    Segundo a fundamentação da sanção, o referido cartel aumentou o poder negocial dos laboratórios, obstaculizando qualquer tentativa de revisão de preços. O processo teve origem num pedido de clemência, resultando na dispensa de coima para a empresa denunciante.

    A Hormofuncional/Alves & Duarte (grupo Affidea) foram condenadas a pagar uma coima de 26,1 milhões de euros, a coima aplicada à Joaquim Chaves foi de 11,5 milhões de euros, a Germano de Sousa terá de pagar 9,3 milhões de euros, a Labeto 1,4 milhões de euros, a Redelab (e Jorge Leitão Santos) 300 mil euros e a ANL 10 mil euros. A a Synlab e a Unilabs decidiram pagar voluntariamente as coimas, respectivamente de 5 milhões e 3,9 milhões de euros.

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    De imediato, houve um verdadeiro rasgar de vestes, com conhecidos políticos, comentadores e jornalistas a gritarem: “O mercado tem de ser controlado, o mercado deixado à solta é um perigo.”

    A mais exuberante, como sempre, foi a líder do Bloco de Esquerda, famosa por uma narrativa duvidosa sobre a possível expulsão da avó de uma casa com renda de favor, que nos presenteou com esta jóia de retórica e demagogia: “…cinco laboratórios privados foram multados pela Autoridade da Concorrência por terem formado um cartel, ou seja, enquanto no SNS todos os profissionais trabalhavam dias e horas a fio para salvar o país – na verdade os hospitais nunca estiveram tão vazios -, há cinco laboratórios privados que se sentam a uma mesa, não para discutir como salvar vidas (sic), mas para discutir como extorquir o Estado num momento de aflição e de preocupação.”

    Conclui de forma dramatúrgica a sua apreciação ao comportamento das cinco empresas multadas: “Se não nos pagarem o que nós queremos, nós não fazemos testes. Se não nos pagarem o que nós queremos, não fazemos as análises. Pensemos no que seria um SNS subjugado a este tipo de extorsão!”

    É imperativo esclarecer a senhora Mortágua do seguinte: num mercado verdadeiramente livre, desprovido de barreiras à entrada e à saída, onde não há regulação ou extorsão institucionalizada – mais conhecida por impostos –, a possibilidade de formação de um cartel é praticamente nula.

    Em tais condições, a resposta natural a lucros elevados é a entrada de novos concorrentes no mercado. A formação de um cartel pode até ser tentada, mas é inevitável o surgimento de novos competidores que rompam com o cartel, ou mesmo de membros do cartel que, ante a ameaça de novos entrantes, passem a ignorar o acordo. A dinâmica de um mercado livre torna a manutenção de cartéis insustentável e autodestrutiva, já que o incentivo ao lucro rapidamente desmantela qualquer tentativa de controlo colectivo de preços.

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    A intervenção estatal é a verdadeira facilitadora da formação de tais cartéis, podendo-se materializar de várias formas. Em primeiro lugar, temos o licenciamento, que limita de imediato o número de empresas no sector. O processo de obtenção de uma licença, regra geral, é frequentemente complexo e oneroso, desincentivando a entrada de novos competidores, o que reduz a concorrência e fortalece o poder de negociação entre as poucas empresas licenciadas.

    Também temos a regulação excessiva, exemplificada no sector financeiro, que eleva brutalmente os custos de entrada e operação nesta actividade. A conformidade com uma legislação intricada exclui pequenas empresas, que não possuem recursos suficientes para arcar com tais despesas. A forma mais eficaz de realizar esta exclusão é através da criação e proliferação de reguladores, que recebem autorização dos parlamentos para legislar sectorialmente – aqui não há representantes eleitos, apenas burocratas a decidir as regras.

    Este cenário de regulamentação desmesurada não só onera desproporcionalmente as pequenas empresas, tornando inviável a sua participação no mercado, como também favorece as grandes empresas que possuem os recursos necessários para navegar por este labirinto regulatório. Assim, cria-se um ambiente onde a competição é sufocada e a inovação é estagnada, tudo em nome de uma pretensa protecção do consumidor que, na prática, serve as grandes empresas já estabelecidas no mercado e permite a atribuição de salários milionários aos reguladores – hoje, os tachos proliferam por estas bandas.

    Há ainda o confisco direccionado a produtos específicos, como é caso, por exemplo, dos combustíveis fósseis, onde cerca de 60% do preço de um litro vai para o chefe da máfia, vulgarmente conhecido como Estado. Se um mercado vale 100 unidades monetárias, representando o que o consumidor pode pagar, no entanto, os operadores do sector recebem apenas 40 unidades monetárias, ainda antes de começar a pagar salários, infra-estrutura e matérias-primas, entre outros custos, o que significa a sobrevivência apenas das empresas gigantes, há muito estabelecidas e com vastos recursos financeiros.

    Outra forma perversa de intervenção estatal consiste na subsidiação selectiva de certas empresas ou indústrias, criando uma desigualdade concorrencial flagrante. Essa prática permite que as empresas favorecidas pelo Estado dominem o mercado e formem cartéis. Um exemplo notório são as empresas de comunicação social – hoje, apenas canais de propaganda estatal – que apresentam resultados financeiros desastrosos há anos, absolutamente falidas, mas que continuam a operar graças às subvenções estatais, evitando assim a sua saudável eliminação do mercado.

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    Existem outras formas de intervenção estatal que incentivam a criação de cartéis, como é o caso das concessões a monopólios privados. Tome-se como exemplo o sector dos casinos, onde a concessão consiste na atribuição de um monopólio numa determinada região por um período específico, em troca de um gigantesco pagamento; uma prática acessível apenas a empresas milionárias e “amigas do grande chefe”.

    Podia continuar a enumerar infindáveis truques e golpes de conluio entre o chefe da máfia e os seus predilectos jagunços, mas importa agora concentrarmo-nos nas multas milionárias ao negócios das análises clínicas que provocou o rasgar de vestes de muitos nos últimos dias. Neste caso em concreto, o cartel foi criado por um licenciamento complexo e oneroso.

    Considere-se o n.º 3 do artigo 11.º da Portaria n.º 392/2019, onde são listados os elementos instrutórios necessários para a obtenção de uma licença no negócio de análises clínicas, em particular o procedimento ordinário. Destacam-se a documentação técnica – projectos de arquitectura e especialidades! – e a lista de especificações técnicas dos equipamentos a utilizar – como se o empresário fosse incapaz de seleccionar o equipamento adequado sem a ajuda e a validação dos burocratas.

    Além disso, exige-se a identificação e qualificação do pessoal técnico – ou seja, a empresa já deverá ter muitos técnicos no seu quadro, obviamente a receber salário, desconhecendo se irá obter a licença e quando! –, a contratualização de seguros de responsabilidade civil – claramente para encarecer ainda mais o processo – e, cereja no topo do bolo, a entrega de “outros documentos”, julgados necessários pelas autoridades competentes – veja-se a arbitrariedade da situação!

    Este conjunto de requisitos não apenas onera desproporcionalmente as empresas que desejam entrar, especialmente as pequenas e médias, mas também cria um ambiente onde a incerteza e a arbitrariedade reinam. A exigência de “outros documentos” à discrição das autoridades competentes é um exemplo claro de como a regulação pode ser usada para exercer controlo excessivo e imprevisível sobre os empreendedores.

    A emissão da licença obriga a uma inspecção às instalações pelas autoridades competentes “para verificar se todas as condições técnicas e de segurança estão cumpridas”! Além disso, as autoridades podem alegar ad aeternum que os elementos apresentados pela empresa que solicita a licença não estão completos, fazendo com que o processo possa arrastar-se por anos a fio – se for indesejável pela pandilha, a coisa irá arrastar-se até à desistência.

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    Por fim, as licenças não são definitivas e exigem a respectiva renovação ao fim de alguns anos, para que assistamos a novo enxovalho do “malvado privado”.

    Seguramente surgirá nas cabeças lavadas por propaganda estatal a seguinte pergunta: “para proteger a integridade física das pessoas, a saúde e a vida das pessoas, não deverá o Estado assegurar que os privados cumpram determinadas regras, para bem de todos nós?”

    Devo recordar que anteriormente a 1990, a actividade de laboratórios de análises clínicas em Portugal não tinha uma regulamentação específica, esta começou com o Decreto-Lei n.º 217/1989, de 1 de Julho, que visava introduzir o “licenciamento e supervisão por parte das autoridades de saúde e estabelecimento de normas para instalações, equipamentos e qualificação do pessoal técnico.”

    Ou seja, na década de 80 do século passado, quem se recorde, ninguém teve qualquer dificuldade em solicitar uma análise ao sangue num laboratório privado. Como sempre, desde então e ao longo de décadas, as empresas de análises clínicas estabelecidas “compraram” a salvífica regulação aos parasitas que elegemos “democraticamente”, vendido ao gado como um combate ao “mercado selvagem” e “a protecção da sua saúde”.

    Na verdade, a regulação é apenas um meio para a criação de cartéis, impedindo os pequenos empreendedores de entrarem em qualquer negócio – esses, em Portugal, limitam-se a abrir restaurantes, quiosques, lojas de roupa e, em tempos, alojamentos locais! Este modelo regulatório é um artifício cínico e bem orquestrado, destinado a garantir que apenas os amigos do poder possam operar sem a ameaça de concorrência significativa.

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    Na verdade, o que tivemos entre 2020-2023 foi uma pandemia que não existiu, criada a partir de um “vírus invisível”, para justificar um criminoso terrorismo de Estado, que tinha dois propósitos: colocar o gado a testar-se para saber se estava doente, através de um teste que nada testava; coagi-lo a inocular-se com uma substância experimental para não morrer ou ser infectado.

    Foi, assim, criada uma procura inteiramente artificial, em que o padrinho da máfia entregou as ruas a cinco sicários durante três anos, assegurando-lhes lucros fabulosos, através de preços combinados entre si. No final, os lucros foram tão fabulosos que este exigiu uma parte do “excesso” para si: eis as multas milionárias que agora conhecemos!

    Luís Gomes é gestor (Faculdade de Economia de Coimbra) e empresário


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  • Estado: esse distúrbio psiquiátrico que afecta a Humanidade

    Estado: esse distúrbio psiquiátrico que afecta a Humanidade


    Num dia ensolarado, numa aldeia remota da Lusitânia, o líder da comunidade convocou uma reunião extraordinária para anunciar uma decisão de grande importância. Quarenta almas perplexas e ligeiramente apreensivas reuniram-se, pois tal convocatória era um evento raro que indicava mudanças iminentes nas suas rotinas tranquilas.

    Ao alvorecer, todos estavam reunidos, aguardando o pronunciamento. Do alto de um palanque rudimentar, o líder Angelino iniciou o seu discurso com pompa e circunstância: — Estimados companheiros, venho a ponderar sobre uma ideia há muito tempo, reflectindo profundamente, e acredito firmemente que esta é a solução ideal para todos nós. Precisamos de um Estado para nos governar. Perguntam vocês, o que é isso? Será uma instituição sob a minha liderança que deterá o monopólio da justiça. Por outras palavras, todos os conflitos entre nós serão resolvidos exclusivamente nos tribunais estatais, com juízes designados pelo próprio Estado. Inclusive, os conflitos que possam surgir entre vocês e o Estado serão julgados por este mesmo corpo judicial. Para financiar este serviço imprescindível à comunidade, será imposto um tributo a todos, sem excepção, que também servirá para pagar a segurança de todos nós. Para o bem de todos!

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    — A reacção foi instantânea. Um burburinho crescente rapidamente se transformou em convulsão, reflectindo a revolta e a incredulidade diante de tal proposta despótica. Um ancião, de nome João, pediu a palavra, a qual lhe foi concedida com certa relutância.

    — Esta ideia parece-me um completo absurdo — declarou João, com a voz carregada de indignação. — Não só é uma proposta autoritária, impondo-nos um monopólio judiciário, como também nos obrigará a pagar coercivamente pelos tribunais e pela nossa segurança, na verdade um confisco. Por que razão não nos é possível contratar justiça e segurança de forma individual, a quem deseje prestar tais serviços?

    — A audiência, ainda em tumulto, murmurou em concordância, enquanto João continuava a expor as falácias e injustiças da proposta apresentada. — Além disso — prosseguiu João —, nós que sempre obedecemos às leis não escritas, à tradição, onde os juízes por nós seleccionados se debruçavam apenas no apuramento dos factos e na aplicação das leis de sempre, a que lei passará a obedecer?

    — Angelino tomou a palavra para responder a João. — Repare, o Estado passará também a fazer leis, de forma a adaptá-las às circunstâncias do tempo. A lei, a tradição pela qual nos regemos há séculos, necessita de se adaptar. Podemos precisar de dar direitos especiais a minorias, o que só é possível com legislação específica; podemos necessitar de combater monopólios, o que só é viável com regulação particular. Para melhorar a minha proposta, para que agrade a todos, temos de estabelecer um “contrato social” que institua uma democracia. Todos vão poder eleger os vossos representantes do Estado, e, desta forma, esta instituição tornar-se-á legítima aos olhos de todos.

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    — A audiência, envolta em murmúrios e olhares desconfiados, ponderava sobre as promessas de Angelino, questionando-se sobre a verdadeira natureza da “democracia” que lhes era oferecida e a justiça de um “contrato social” imposto sob o pretexto da modernização das leis! Em resposta a Angelino, tomou a palavra o Francisco.

    — Várias das suas propostas deixam-me na mais completa perplexidade! As pessoas que forem eleitas para governar o Estado, entendo que por um curto período de tempo, não terão uma visão de longo prazo, pois estarão apenas interessadas em beneficiar-se dos impostos cobrados coercivamente — na verdade, um assalto aos nossos bolsos — durante esse período.

    Além disso, a lei, a tradição, não se lhes aplica. O que estão a fazer, cobrar impostos, é, na verdade, um assalto, consequentemente um crime; ou seja, existirá uma lei para os não eleitos e outra para os eleitos. Para os primeiros, roubar é ilegal; para os segundos, roubar é legal. Em lugar de produzirem bens e serviços úteis à comunidade, poderão viver durante o tempo que estiverem à frente do Estado do produto do saque que nos fazem!

    — A audiência, atónita, pensava com detenção sobre as palavras incisivas de Francisco, ponderando as implicações de um sistema onde a justiça e a moralidade pareciam estar subvertidas em nome de um suposto progresso! Angelino, tomou uma vez mais a palavra para defender as suas ideias.

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    — Estimados companheiros e amigos, creio que não haveis reflectido devidamente em todas as vantagens da minha proposta. Para a melhorar, vamos criar um Banco Central que poderá introduzir uma gigantesca inovação: o papel-moeda e as reservas fraccionadas. A partir desse dia, o dinheiro passará a ser elástico, aumentando em quantidade quando estamos em crise e diminuindo em tempos de prosperidade. Para ter tal poder, necessita que exista um Estado que lhe conceda tal monopólio. Por exemplo, Francisco, se necessitares de uma ajuda num tempo difícil, hoje isso não é possível. Nessa situação, imprimimos dinheiro para te conceder um empréstimo e poder-te ajudar. Isto não é possível sem o Estado e um Banco Central.

    — A audiência, ainda perplexa, ponderava as implicações desta proposta revolucionária. O conceito de um Banco Central com o poder de manipular a oferta de dinheiro era tão inovador quanto inquietante, especialmente considerando a confiança tradicional que sempre depositaram nas suas práticas ancestrais, onde tudo era liquidado no dinheiro que sempre conheceram: ouro e prata!

    Furioso, um ancião sentado nas últimas filas, chamado Pedro, tomou a palavra para retorquir o que Angelina acabara de anunciar.

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    — Esta ideia de criar um Banco Central e manipular a oferta de dinheiro é nada menos que uma loucura! — Exclamou Pedro. — Abandonar o ouro e a prata, que sempre nos deram segurança e estabilidade, em favor de um papel-moeda sem valor intrínseco, é um convite ao desastre. Estais a propor que coloquemos a nossa confiança num sistema que pode ser facilmente corrompido e manipulado. Tudo isso, supostamente, para nosso benefício?! Ou seja, estás a propor que para além de nos roubares através de impostos, também nos queres roubar via inflação?

    — Os murmúrios de concordância cresceram na audiência. A turba começou a ficar inquieta; as últimas palavras do ancião Pedro tinham tocado fundo. De repente, começaram todos a gritar: “Morte ao ladrão! Morte ao tirano!” Angelino, com os olhos vermelhos e perplexo face à reacção às suas propostas, que julgara serem fantásticas e facilmente aceites, começou a correr, fugindo da ira dos habitantes da aldeia. Mas foi sol de pouca dura: foi apanhado e defenestrado pela turba em fúria, que o matou numa questão de minutos.

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  • Moeda (fiduciária): a maior fraude criada pelo Homem

    Moeda (fiduciária): a maior fraude criada pelo Homem


    Actualmente, o dinheiro que utilizamos provém exclusivamente do Estado, através do seu Banco Central e do sistema bancário sob a sua supervisão. O Banco Central possui a capacidade de emitir notas e moedas, embora estas representem uma pequena parcela do total de dinheiro em circulação. Para ilustrar, recorramos ao último relatório do Banco Central Europeu (BCE): no final de 2023, o valor das notas e moedas em circulação na Zona Euro era de 1,57 biliões de euros (12 zeros).

    Contudo, a maior parte do dinheiro origina-se dos computadores do BCE e do sistema bancário, que criam dinheiro digital mediante a emissão de dívida. Quando solicitamos um empréstimo para a compra de uma casa, o banco cria dinheiro digital do nada, que posteriormente deve ser pago com juros.

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    Por outras palavras, quanto mais dívida é criada, maior é a quantidade de dinheiro em circulação. Este facto contrasta significativamente com a situação do cidadão comum que, para aumentar o seu saldo em euros, necessita produzir bens e serviços para a sociedade, enquanto o sistema bancário pode criar dinheiro com um simples apertar de um botão num computador.

    A quantidade de dinheiro que os bancos podem criar do nada é limitada apenas pelas reservas que possuem; ou seja, para cada 100 euros de dívida emitida e dinheiro criado, devem possuir, por exemplo, 10% em reservas.

    O que são essas reservas? Nada mais do que notas e moedas emitidas pelo Banco Central, mantidas nos cofres do banco, e depósitos à ordem junto ao Banco Central. Para os bancos adquirirem mais reservas, necessitam vender dívida pública ao Banco Central, que a adquire criando reservas do nada e creditando o saldo do banco.

    Para termos uma ideia clara, o dinheiro em circulação, considerando tanto o dinheiro digital – que existe apenas nos computadores dos bancos – quanto o dinheiro físico, pode ser medido pelos agregados monetários, como o M2. Este agregado inclui (i) notas e moedas em circulação; (ii) depósitos à ordem; (iii) depósitos a prazo; e (iv) fundos do mercado monetário. No final de 2023, na Zona Euro, este valor totalizava 15,2 biliões de euros. Ou seja, as reservas dos bancos junto do Banco Central são ridículas face a este valor, pelo que a conversão dos depósitos bancários em notas e moedas far-nos-ia verificar a fraude que constitui o actual sistema monetário.

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    O actual sistema fiduciário, onde o Estado e os bancos emitem moeda sem restrições ou controlo, mantendo um monopólio absoluto sem qualquer lastro em metais preciosos como o ouro, não desaparecerá tão cedo. Qualquer expectativa ou esperança contrária deve ser moderada. Embora o sistema fiduciário possa eventualmente colapsar, é bastante provável que persista mais tempo do que muitos prevêem, possivelmente à custa de uma intrusão estatal de carácter autoritário nas liberdades individuais e empresariais.

    Muito se tem escrito sobre o iminente colapso do sistema internacional de dinheiro fiduciário. Este debate naturalmente ganha força em tempos de crise, como observado após a crise financeira de 2008/09 ou durante os confinamentos ilegais de 2020/21, decorrentes de uma putativa pandemia.

    Qual é a essência do dinheiro fiduciário? Os Bancos Centrais detêm o monopólio sobre a emissão do dinheiro fiduciário, já explicado pelo conceito de reservas. Com essas reservas, os bancos comerciais podem criar a sua própria forma de dinheiro, inteiramente digital. Este dinheiro é criado através de empréstimos sem respaldo em poupanças reais, essencialmente criado do nada, existindo de forma desmaterializada.

    Seja o Dólar norte-americano, o Dólar australiano, o Euro, o Iene japonês ou a Libra Esterlina, todas são formas de dinheiro fiduciário. Ao contrário do dinheiro que emerge do livre mercado, fruto de acordos voluntários – como aconteceu com o Ouro –, o dinheiro fiduciário foi introduzido através da intervenção estatal, envolvendo coerção e imposição. Esta imposição teve vários episódios ao longo da história, que os modernos “economistas” sistematicamente ignoram.

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    O dinheiro fiduciário é, por natureza, inflacionário, perdendo gradualmente o seu poder aquisitivo ao longo do tempo. Este fenómeno beneficia desproporcionalmente uma minoria privilegiada, próxima do poder estatal, em detrimento da população em geral. Além disso, causa instabilidade económica, perpetuando ciclos de expansão e recessão que perturbam os equilíbrios de mercado e criam desigualdades sociais. Promove o endividamento excessivo nas economias e alimenta a expansão desenfreada do Estado, frequentemente às custas das liberdades dos cidadãos e das empresas.

    Por último, mas não menos importante, o dinheiro fiduciário é desonesto, e lidar com ele diariamente corrói os valores e a moral das pessoas envolvidas na sua circulação. No entanto, apesar desses consideráveis contratempos, uma vez que o dinheiro fiduciário tenha sido posto em circulação, veio para ficar; não desaparecerá simplesmente. Por quê? O dinheiro fiduciário fomenta a “corrupção colectiva”, onde muitas pessoas são capturadas pelas estruturas que este estabelece, promovendo a dependência e enraizando a sua influência. Actua como um catalisador para a expansão do Estado, tornando-o maior e mais poderoso. As empresas recebem novos pedidos do Estado, ajustando a produção e o emprego para atender a uma procura inteiramente artificial – como se viu com as inoculações experimentais Covid-19.

    As pessoas mantêm as suas poupanças em dinheiro fiduciário. Investem, directa ou indirectamente, em certificados de aforro e mantêm as suas poupanças em depósitos a prazo num sistema bancário que pratica a contrafacção de moeda de forma legalizada. Gradualmente, as pessoas tornam-se profundamente dependentes da perpetuação do sistema de dinheiro fiduciário, consentindo com quase qualquer medida proposta pelo Estado (e pelos grupos de interesse especial que dele se beneficiam) para manter o sistema de dinheiro fiduciário em funcionamento.

    Christine Lagarde, presidente do Banco Central Europeu.

    O calcanhar de Aquiles do sistema de dinheiro fiduciário reside na procura por dinheiro. No entanto, o que significa a procura por dinheiro? Essencialmente, reflecte o desejo das pessoas de manterem saldos em dinheiro, influenciado por uma multitude de factores.

    Por exemplo, as pessoas tendem a manter saldos de dinheiro relativos ao seu rendimento. À medida que o rendimento aumenta, também aumenta o desejo de manter o dinheiro. A procura por dinheiro geralmente diminui quando as taxas de juro aumentam, incentivando a sua aplicação. Isso ocorre porque manter dinheiro implica custos de oportunidade quando retornos mais altos poderiam ser obtidos por meio de, por exemplo, depósitos bancários, valores mobiliários, imobiliário e instrumentos de dívida.

    A história demonstra que a procura por dinheiro permanece relativamente estável quando há um alto nível de confiança na moeda, isto é, as pessoas não estão preocupadas que o poder de compra do seu dinheiro diminuirá ou será destruído – como na Venezuela ou Zimbabué. Dada essa percepção, os Estados e os seus Bancos Centrais procuram manipular o sistema de dinheiro fiduciário a seu favor. A sua estratégia principal envolve a criação de ilusões e a manipulação da população para manter controlo e influência.

    Por exemplo, suponhamos que uma dada economia produzia apenas 100 unidades do bem A e que existiam apenas 100 unidades monetárias. Se no ano seguinte, fruto da acumulação de capital, a economia produz 110 unidades do bem A, ou seja, ocorreu um aumento de 10% na produção de bens, algo normal numa economia capitalista, em lugar de 100 unidades monetárias para 100 unidades do bem A, temos agora 100 unidades monetárias e 110 unidades do bem A, o que significa uma relação de 1:0,91, resultando em deflação, pois o preço do bem A desceu.

    Vamos agora supor que o Banco Central dessa economia imprimiu 10 novas unidades monetárias, mantendo a relação 1:1. Assim, afirmariam que a inflação foi 0%, não tendo ocorrido qualquer inflação monetária, quando na verdade o dinheiro em circulação subiu 10%! Este é um exemplo de como as autoridades podem manipular a percepção económica, criando ilusões sobre a estabilidade do dinheiro fiduciário.

    Assim, as pessoas são frequentemente alimentadas com a narrativa de que uma inflação de 2% equivale a “dinheiro estável” — uma afirmação que é, obviamente, inerentemente falsa. Na realidade, uma taxa de inflação de 2% destrói o poder de compra do dinheiro em mais de 2% a cada ano, pois os benefícios de maior produção de bens e serviços deveriam estar reflectidos numa queda de preços – somos ratos a correr por dinheiro fiduciário! Além disso, os índices estatísticos de preços de bens são frequentemente manipulados para apresentar uma taxa de inflação mais baixa do que a realmente experimentada no mercado. Esta manipulação serve para minimizar a verdadeira extensão da desvalorização monetária.

    A propaganda não se fica por aqui: os funcionários do Banco Central e os “economistas” chamados a opinar nos órgãos de propaganda estatais atribuem a inflação a vários factores externos, como a suposta ganância das empresas ou interrupções no fornecimento por nações produtoras, seja de petróleo ou cereais, ou à guerra na Ucrânia!, enquanto rejeitam veementemente a noção de que a inflação é um fenómeno monetário resultante da impressão de dinheiro fiduciário pelos Bancos Centrais e bancos sob a sua supervisão.

    Jerome Powell, presidente da Reserva Federal dos Estados Unidos.

    Na verdade, os Bancos Centrais estão determinados a evitar uma queda permanente na procura por dinheiro a todo custo, defendendo sempre o aumento de impostos sobre as populações, visto que estes apenas podem ser liquidados em moeda fiduciária. Quando a procura por dinheiro cai, as pessoas tendem a trocar o seu dinheiro por activos alternativos, como acções, imóveis, metais preciosos, criptomoedas, relógios suíços, entre outros.

    Consequentemente, os preços desses bens disparam — exacerbando ainda mais a queda na procura por dinheiro. Em cenários extremos, isso pode desencadear uma fuga generalizada do dinheiro, prenunciando um colapso do sistema financeiro e económico. Para manter o sistema de dinheiro fiduciário, os Bancos Centrais ajustam o nível de inflação para, em primeiro lugar, garantir uma erosão gradual e contínua do valor do dinheiro, subtil o suficiente para passar despercebida ou ser relutantemente aceite pelo gado submisso.

    Em segundo lugar, essa pressão inflacionária controlada actua como uma defesa contra episódios de deflação de preços de bens, que têm o potencial de fazer o sistema de dinheiro fiduciário desmoronar.

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    Por fim, os Bancos Centrais visam evitar situações em que a inflação saia do controlo, onde a hiperinflação destrua completamente a procura por dinheiro fiduciário. O objectivo é manter uma inflação suficientemente baixa para ser subtil, mas constante o bastante para evitar uma deflação desestabilizadora e a consequente perda de confiança na moeda fiduciária.

    Esse acto de equilíbrio delicado é sustentável? As últimas décadas parecem sugerir que sim. Apesar de inúmeras crises e da erosão crónica do poder de compra, a procura por dinheiro em muitas economias desenvolvidas tem permanecido relativamente estável – o gado confia muito no Estado, fruto do controlo estatal da educação. No entanto, o acto de equilíbrio pode ter sucesso a longo prazo? Provavelmente não. A principal preocupação é a enorme acumulação de dívida pública dentro do sistema de dinheiro fiduciário, eventualmente atingindo um ponto de inflexão de insustentabilidade.

    Nesse ponto, as pessoas serão confrontadas com a questão: o sistema de dinheiro fiduciário deve colapsar sob o peso das pressões deflacionárias, ou a dívida pendente deve ser financiada criando novo dinheiro? Infelizmente, a história sugere que em tempos de “crises existenciais”, as pessoas consideram a expansão da oferta de dinheiro como o menor dos dois males. Uma vez iniciada, uma política deliberada de inflação torna-se incrivelmente desafiadora de conter, quanto mais reverter. Tem a propensão a sair do controlo, potencialmente culminando em alta inflação ou até mesmo hiperinflação, precipitando um colapso na procura por dinheiro e corroendo as próprias fundações do sistema de dinheiro fiduciário.

    Mário Centeno, governador do Banco de Portugal.

    Num possível cenário tão terrível, deve-se contar com a determinação do Estado em evitar a morte do seu regime de dinheiro fiduciário a todo custo. O Estado, como hoje o conhecemos, é expectável que esgote todas as medidas disponíveis para salvaguardar a continuidade do seu sistema monetário fraudulento. Em resposta a uma crise, o Estado irá certamente recorrer a medidas drásticas, como impor controlos de preços e de capital e até mesmo nacionalizar bancos e empresas “estratégicas”, sovietizando a economia – algo que hoje vemos crescentemente a acontecer.

    Sob tais circunstâncias, o Estado assume um controlo sem precedentes sobre a produção, ditando quais bens e serviços serão produzidos, quanto, quando e por quem, até mesmo regulando quem será permitido consumir quanto e quando – esse é o objectivo do Euro Digital. Por outras palavras, as economias terminam numa forma de fascismo. Cabe a nós evitá-lo!

    Luís Gomes é gestor (Faculdade de Economia de Coimbra) e empresário


    N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.


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  • A Guerra da Ucrânia: uma perspectiva libertária

    A Guerra da Ucrânia: uma perspectiva libertária


    A contenda que assola o cenário mundial actualmente é entre a Rússia, de um lado, e o líder da NATO, os Estados Unidos, do outro, acompanhado dos seus estados suseranos: as nações europeias, incluindo a Ucrânia.

    Pela negativa, dois Estados vassalos em destaque: a Alemanha, que arca com a maior parcela dos auxílios financeiros e provê uma parte substancial dos recursos bélicos, enquanto é sujeita a terrorismo económico, como foi o caso da destruição do gasoduto Nordstream, cujo autor da façanha permanece envolto em mistério até os dias de hoje.

    O segundo, e sem dúvida o mais lamentável, é reservado ao Estado ucraniano, que se ergue como uma testa-de-ferro dos interesses norte-americanos perante a Rússia, detendo como único activo os seus cidadãos a desempenhar o papel de peões sacrificiais.

    É importante ressaltar que os Estados se constituem como entidades parasitárias, destituídas de qualquer produção benéfica à sociedade; são, de facto, organizações criminosas cuja estrutura se assemelha à Máfia. Nos seus domínios, extorquem os cidadãos produtivos, não tolerando qualquer concorrência, privando-os, na maioria das vezes, de quaisquer meios de defesa, como armas. Além disso, os Estados detêm o monopólio da arbitragem de conflitos entre os membros da sociedade, inclusive quando estão envolvidos, seja como acusadores ou réus. Os seus tribunais e juízes têm sempre a palavra final. Nas guerras, podem fazer recair todos os custos sobre a população: recursos financeiros e jovens para a matança.

    Assim, temos uma quadrilha comandada por Putin e outra por Zelensky, sendo esta última respaldada pela quadrilha mais poderosa do mundo, os Estados Unidos da América; estes encaram a Rússia e a China como as únicas quadrilhas rivais à sua altura, representando verdadeiros obstáculos à sua ambição de hegemonia global: a liderança de um governo mundial, com o Dólar norte-americano a desempenhar o papel incontestável de moeda reserva do mundo.

    Em 2014, a máfia norte-americana instalou um bando de criminosos da sua confiança na Ucrânia, concedendo-lhes carta-branca para bombardear, intimidar e subjugar a população de cultura russa, relegando-a ao estatuto de cidadãos de segunda. Posteriormente, abriram-se as portas da NATO, apesar das promessas feitas há décadas de que tal expansão jamais aconteceria. Até tentaram encenar uma farsa de paz com os acordos de Minsk, os quais, na verdade, serviram apenas para armar a quadrilha ucraniana para a guerra que se previa, tal como posteriormente confirmado por Angela Merkel.

    Em circunstâncias normais, seria expectável que a sinistra quadrilha liderada por Putin eliminasse a bandidagem de Zelensky, instalando no poder uma quadrilha fantoche e aliada em Kiev. No entanto, tal desfecho não se concretizou, uma vez que a quadrilha de Zelensky desfruta de vastos recursos materiais e financeiros – a impressora é infinita –, provenientes da quadrilha dos EUA e dos seus subjugados estados europeus.

    Além disso, a quadrilha de Zelensky tem por trás a máquina global de propaganda controlada pelos EUA: os eventos na Ucrânia não são retratados como uma disputa regional entre grupos mafiosos em busca de poder e território, mas sim como um confronto épico entre o bem e o mal: uma Ucrânia virtuosa, onde todos os ucranianos são vítimas dos vilões russos, e, portanto, qualquer apoio oferecido à Ucrânia é visto como um acto do bem!

    A quadrilha liderada por Zelensky desempenha um único papel: enviar a juventude do território sob o seu controlo a servir de carne para canhão, nada mais. É digno de nota que a quadrilha Zelensky tentou desesperadamente restringir a saída de homens ucranianos entre 18 e 60 anos do país, resultando em milhões de desertores.

    Os custos derivados da fuga da população não são suportados pela quadrilha Zelensky; recaem sobre os cidadãos produtivos dos estados vassalos europeus, mediante o seu confisco tributário; arcam com todas as despesas: alimentação, assistência financeira, alojamento e demais despesas. Ao contrário da quadrilha Zelensky, a quadrilha Putin foi obrigada a impor à população do seu território o ónus de custear três milhões de refugiados.

    Qual é a razão por trás do uso dos peões sacrificiais ucranianos? A quadrilha dos Estados Unidos compreende que a quadrilha Putin não é um Iraque ou Afeganistão qualquer. Pelo contrário, encontra-se fortemente armada, possuindo, inclusive, tantas ou mais ogivas nucleares que a quadrilha dos Estados Unidos. Por esta razão, recorreu às sanções económicas, numa tentativa de arruinar economicamente o território sob o domínio da quadrilha Putin e entregou os jovens ucranianos ao sacrifício no altar da guerra.

    Para a população ucraniana, a situação é profundamente angustiante: testemunhar uma guerra entre duas facções rivais, enfrentando a possibilidade iminente de perder toda a sua propriedade privada e ter as suas vidas devastadas. De um lado, a facção liderada por Zelensky tem o poder de recrutar à força, e até mesmo de perpetrar assassinatos, confiscar propriedades e congelar contas em nome da defesa nacional. Por outro lado, a facção liderada por Putin tem a capacidade de capturar, assassinar e apossar-se de propriedades, ou até mesmo destruí-las, sob o pretexto da libertação nacional. É uma realidade verdadeiramente aterradora.

    Os Estados Unidos não demonstram o mínimo interesse pelo país denominado Ucrânia, apenas a utilizam como um verdadeiro “idiota útil” na sua estratégia de dominação global. A Ucrânia tornou-se um peão nas mãos dos norte-americanos, sendo manipulada e explorada para servir os interesses geopolíticos dos norte-americanos, enquanto estes permanecem indiferentes às consequências devastadoras das suas políticas. Com tudo pago pela impressora do Banco Central norte-americano, o complexo militar-industrial norte-americano está a lucrar exorbitantemente com as ajudas enviadas à Ucrânia, pelo que tem todo o interesse em prolongar este conflito.

    A tragédia que se desenrola na Ucrânia expõe de forma contundente a cruel realidade de uma população, tanto ucraniana como russa, a ser usada como peões num jogo de xadrez geopolítico, à mercê dos caprichos de facções rivais que buscam apenas os seus próprios interesses egoístas, sem se importar com as vidas humanas que destroem. Na verdade, não são mais que guerras entre grupos criminosos a que chamamos estados.

    Luís Gomes é gestor (Faculdade de Economia de Coimbra) e empresário


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  • Debates para as Europeias 2024: um circo?

    Debates para as Europeias 2024: um circo?


    Durante um dos debates para as eleições europeias, a moderadora, colaboradora permanente de um dos canais de propaganda, iniciou a discussão da seguinte forma: “Como é que aquilo que propõem ser discutido na Europa pode melhorar a vida dos portugueses?”. É sempre um exercício de masoquismo intelectual ponderar a possibilidade de que os representantes de dois notórios meliantes, o Estado português e a burocracia de Bruxelas, que nos saqueiam diariamente, possam, em algum momento, vir a ajudar-nos!

    Solicitar aos salteadores tal explicação, recorda-me sempre um dos filmes que me marcaram para sempre: “Casino”; dirigido pelo magistral Martin Scorsese. Somos agraciados com a voz inconfundível de Robert De Niro, interpretando “Ace Rothstein”, enquanto narra a sua trajectória como um dos grandes gestores de um casino em Las Vegas.

    glass walled building during daytime

    Logo no início, Ace Rothstein recordava: “Naquela época, Las Vegas era o destino onde os trouxas iam anualmente com alguns trocados e perdiam milhares de milhões de dólares: o resultado final do brilho das luzes, das viagens pagas, dos banhos de champanhe, das suítes de hotel gratuitas, das miúdas e das bebidas. Tudo era meticulosamente planeado para lhes esvaziar os bolsos: essa é a verdade de Las Vegas”.

    Atentem: nós somos os incautos que pagaremos principesca e perpetuamente estes parasitas em Bruxelas, que, ao contrário da sinceridade cristalina de Ace Rothstein, aparecem sob os holofotes televisivos para nos ludibriar, exaltando incessantemente as perversidades dos instrumentos de Bruxelas, concebidos com um único propósito: parasitar-nos, humilhar-nos e enxovalhar-nos.

    Quer seja a imigração descontrolada, que devemos aceitar sob pena de sermos rotulados de racistas e xenófobos; quer seja a compra de novos parasitas com o dinheiro dos cidadãos abastados do Norte da Europa, eufemisticamente denominada de processo de alargamento; quer seja a guerra até ao último ucraniano, servindo apenas para encher os bolsos do escol em Bruxelas; quer seja o Banco Central Europeu (BCE), que “paga” as putativas pandemias com inflação — em tudo, os candidatos concordam: tudo vale por uma sinecura dourada!

    É sempre causa de admiração a capacidade desta gente de transformar cinismo em arte, pilhagem em virtude, enquanto nos forçam a pagar o seu opulento teatro de crueldades.

    Casino (1995), de Martin Scorsese, protagonizado por Robert De Niro.

    Numa população estagnada em 450 milhões, um candidato propõe, com uma candura desconcertante, que acolhamos 200 milhões de “refugiados climáticos” – sabe Deus o que isso significa?! A teoria de que o CO2 é um poluente (!), ou de que é o grande vilão do suposto aquecimento global, é sustentada pela “nova ciência”, que não tolera qualquer dissidência, prontamente rotulada de “negacionismo climático” por estes modernos inquisidores, apesar da discordância de muitos cientistas.

    A teoria da “emergência climática” assemelha-se às indulgências vendidas pela Igreja Católica há séculos: pague e não irá para o Inferno! Agora, a mensagem é: pague e salvará o planeta Terra! Quão fascinante é a capacidade destes modernos clérigos de transformar a ciência em dogma, onde a fé cega substitui a dúvida metódica, e o assalto aos nossos bolsos, sob a forma de impostos de carbono, se disfarça de virtude ecológica!

    Um candidato, supostamente liberal, defende que o Banco Central Europeu, uma entidade que opera sob um regime de monopólio e respaldada por leis de curso legal – atente-se: um “liberal” que idolatra monopólios públicos! – deve continuar a agir com total “independência política” – vá-se lá saber o que isso significa.

    Tenta, assim, fazer-nos esquecer que, sem a sua existência, a putativa pandemia jamais teria sido possível. Quem pagaria os milhões de trabalhadores em casa, de baixa devido ao terrível “vírus”, e sem nada produzir? Quem financiaria os milhões de testes falsos? Quem arcaria com os milhões de “vacinas” inúteis e perigosas? A resposta é simples: a dívida pública emitida pelo Estado português e adquirida com o dinheiro de monopólio desta instituição, resultando numa inflação sem precedentes, após ter criado 4 biliões de Euros do nada. Pasme-se: diz agora que está a combater a inflação que criou! É como o criminoso que volta ao local do crime.

    Durante os debates, a outrora actriz e agora candidata ao Parlamento Europeu, soltou esta eloquente afirmação: “Por dia, a UE está a perder nove mil milhões de Euros por não fazer a transição climática!” Dá sempre vontade de perguntar se a senhora irá colocar o seu próprio dinheiro nas previsões infalíveis que realiza. Será que está disposta a investir do seu próprio bolso em energias de fiabilidade duvidosa e extremamente caras, como é o caso da energia solar e eólica? Parece que não, pois é sempre mais seguro viver do confisco aos nossos bolsos, como faz há décadas, e pedir ao gado que se arruíne com energia caríssima e não fiável.

    O ex-comentador, agora candidato da “direita” globalista, veio afirmar que a habitação deve integrar a carta dos direitos fundamentais da União Europeia! A confusão persiste sobre a definição do que constitui um direito. Eu tenho o direito à vida – o direito de não ser privado dela por outrem –, o direito à liberdade, o direito à propriedade privada – aquilo que produzi, aquilo que adquiri. Ou seja, um direito legítimo não impõe obrigações sobre os outros; é negativo por natureza. Contudo, para o candidato da “direita” globalista, direito é sinónimo de desapropriação; é roubar uns cidadãos para conceder habitação a outros. Temos mais um socialista assumido.

    Para a ex-ministra da saúde, candidata da “esquerda” globalista, a Europa é um poço de virtudes porque permitiu a contratação conjunta de “vacinas”, incluindo a controversa compra à empresa farmacêutica Pfizer que agora está sob investigação pela Procuradoria Europeia. Reparem: ninguém a interpela com esta questão!

    Antes dos debates, o candidato do partido “fascista” e “antiglobalização”, após uma entrevista onde expressou teorias conspiratórias sobre os eventos de 11 de Setembro, foi logo apelidado pejorativamente de chalupa pelo regime e os seus órgãos de propaganda.

    Nunca se esqueçam: foi um grupo de terroristas, sob a coordenação de um indivíduo oculto nas montanhas do Afeganistão – praticamente sem conhecimentos de pilotagem – que conseguiu assumir o controlo de quatro aviões civis, servindo-se apenas de canivetes suíços, num audacioso ataque ao espaço aéreo da maior potência militar do mundo.

    Assim, após a reprimenda, apareceu nos debates como um cordeiro, acatando obedientemente os ditames dos órgãos de propaganda: “a emergência climática existe”, “nós precisamos de imigrantes”, “defendo a integridade territorial da Ucrânia, não podendo implicar a cedência de territórios”, “é evidente que se deve atribuir uma maior verba à Defesa”. Resta a pergunta: qual é mesmo a diferença?

    Jamais se abordaram ou irão abordar questões relevantes: por que devemos entregar a nossa soberania a uma entidade supranacional não democrática, na qual 21 deputados em 705 são absolutamente irrelevantes? Por que motivo o crescimento económico é tão medíocre desde o aparecimento do BCE, uns míseros 1,1% ao ano? O que explica o disparar exponencial da dívida pública desde a adesão ao Euro, de menos de 60% do PIB para 100% do PIB?

    Por outro lado, por que estamos atrelados a uma União Política pela qual ninguém votou, à qual ninguém concedeu legitimidade? De que forma os nossos direitos serão afectados pela Identidade Digital e pelo Euro Digital? Qual o risco real da possibilidade de serem enviados os nossos jovens para guerras que servem apenas para encher os bolsos da casta parasitária em Bruxelas?

    Ursula von der Leye, presidente da Comissão Europeia, e Albert Bourla, presidente da Pfizer
    Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, e Albert Bourla, presidente-executivo da Pfizer.

    Por último, mas não menos importante, o crescente totalitarismo da União Europeia: qual é a legitimidade da Sra. Ursula von der Leyen e os seus comparsas para determinar o que posso ou não ver, em nome da protecção contra a propaganda russa? Quem lhes concedeu poder para censurar os cidadãos, sob o pretexto de combater a desinformação, aprovando esse documento ignominioso denominado Regulamento dos Serviços Digitais?

    Enfim, alguém me pode explicar a razão para ser governado por um gigantesco Estado totalitário que almeja controlar cada aspecto da minha existência, parasitando o meu bolso em paralelo com o Estado português? São perguntas que aparentemente nenhum dos senhores dos partidos do regime deseja responder. Compreende-se: o salário mensal de 20 mil Euros que todos iremos pagar está à sua espera…

    Luís Gomes é gestor (Faculdade de Economia de Coimbra) e empresário


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    Nascemos em Dezembro de 2021. Acreditamos que a qualidade e independência são valores reconhecidos pelos leitores. Fazemos jornalismo sem medos nem concessões. Não dependemos de grupos económicos nem do Estado. Não temos publicidade. Não temos dívidas. Não fazemos fretes. Fazemos jornalismo para os leitores, mas só sobreviveremos com o seu apoio financeiro. Apoie AQUI, de forma regular ou pontual.

  • Estado: uma instituição governada por psicopatas

    Estado: uma instituição governada por psicopatas


    Quando ousas expôr crimes, deves concluir que estás sob o jugo de déspotas. Quando honras a tua voz interior, erguendo-a contra as estruturas do Estado, revelando as suas falhas e corrupções, transformas-te, aos olhos desses déspotas, num adversário perigoso a ser neutralizado.

    Quando aqueles ao leme do Estado, desejando apenas a tua subjugação e servilismo, recorrem à distorção da verdade, à manipulação subtil e à propaganda insidiosa, então não apenas governam sobre ti como tiranos, mas também como psicopatas insaciáveis.

    Quando manifestas que imposto é roubo, que equivale a um acto vil de subtracção, fundamentado na força coerciva exercida sobre a tua pessoa, mediante ameaças de severas sanções ou até mesmo a privação da tua liberdade, e és prontamente rotulado como insensato, como alguém que, de forma egoísta, põe em risco o suposto bem colectivo, significa que és um inimigo do Estado.

    Quando enaltecem o destino nobre dos recursos que te são subtraídos, justificando tal confisco com a promessa de erguer hospitais, escolas, estradas e jardins, ou até mesmo de te prover amparo em momentos de adversidade, como o desemprego ou a velhice, revelam que zombam da tua credulidade e te consideram um mero néscio, um tolo carente de discernimento.

    Quando ousas questionar a moralidade do assalto ao teu bolso, assumindo directamente tais louváveis despesas, és prontamente desacreditado; insistem, com desfaçatez, que somente uma instituição “benevolente” e “justa” como o Estado seria capaz de tal proeza.

    Quando te asseguram que a expropriação coerciva dos frutos do teu trabalho é para o teu próprio bem, deves reconhecer a presença de uma máfia profundamente desonesta; afinal, até um monarca medieval, ao praticar semelhante usurpação, ia além, tomando para si não apenas a tua riqueza, mas também a tua honra, secundado por milhares de soldados, demonstrando, assim, uma honestidade brutal, mas muito mais cristalina que o presente estado de coisas.

    man in black jacket standing near green wall

    Quando te sugerem que se todos os cidadãos cumprissem com a sua “quota-parte”, talvez fosse viável reduzir a voracidade do confisco sobre a tua pessoa; deves simplesmente compreender que estão claramente a menosprezar a tua inteligência, tratando-te como um tolo incauto. Afinal, ao longo de décadas, a voracidade do braço estatal tem sido insaciável, mergulhando cada vez mais fundo nos teus bolsos, numa escalada incessante de expropriação.

    Quando te aludem que uma certa empresa é tida como “estratégica”, fundamental para os interesses nacionais, é imperativo observar através da cortina de retórica, pois tal adjectivação muitas vezes encobre uma verdade sombria: trata-se, na realidade, de um abismo financeiro, um vórtice, onde o “nosso dinheiro” é despejado directamente nos bolsos dos comparsas, correligionários e aliados dos facínoras que detêm o poder.

    Quando te “prometem” ou “dão” casas, seguros e viagens “grátis”, sem nunca reconhecerem o rebanho que foi vilipendiado, humilhado e espoliado para possibilitar tais benesses, deves perceber que estás diante de uma fauna de psicopatas narcisistas, destituídos de qualquer traço de empatia pelo próximo.

    Quando te manifestam preocupação com a “despesa fiscal”, que não é mais que um alívio do fardo sobre os teus ombros, compreende que estás diante de uma horda de malfeitores desprovidos de escrúpulos, cuja falta de pudor não tem limite.

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    Quando, na tua busca por transparência, indagas: “Como é que sei que o Estado gasta bem o dinheiro que lhe damos?”. Se te é retorquido com desdém: “Simples, basta consultares o Orçamento de Estado, onde diz todo o dinheiro que o Estado recebe e como vai ser usado para ajudar (!) todos os cidadãos, causas ou empresas. Até o podes encontrar na Internet!”; nesse caso, podes ter a absoluta convicção de que és apenas um entre a multidão, tratado com a mais profunda displicência pelos detentores do poder. Na verdade, riem-se a bandeiras despregadas da tua inocência e estupidez.

    Quando o Estado, valendo-se dos recursos que te subtrai de forma arbitrária e criminosa, utiliza-os para doutrinar os teus filhos com o intuito de perpetuar a subserviência, o desrespeito e a pilhagem que também afligem a tua condição, através de obras literárias tão indignas como a “Joaninha e os Impostos“, tens a certeza não apenas da tua própria sina como mero rato enjaulado a correr como um louco numa roda, sustentando parasitas desprovidos de escrúpulos, mas também reconheces que a tua descendência está fadada a integrar-se nesse ciclo vicioso em breve.

    Quando o Estado, sob a égide de uma suposta ameaça de um “vírus” mortal, embora não testemunhes mortes ao teu redor, insiste em prender-te no domicílio, em fechar o teu negócio, em impor-te o uso de uma humilhante fralda facial, em proibir a frequência dos teus filhos na escola, em forçar-te a abandonar os teus avós à própria sorte, em proibir-te de te deslocares ou viajares, tudo em prol da promoção de um produto milagroso e salvífico que deves aceitar coercivamente em nome do “bem comum”, que proporciona ao mesmo tempo lucros pornográficos à casta parasitária que te governa, é manifesto que perderam todo o respeito pela tua dignidade. Não és senão gado, destinado a ser pastoreado e subjugado.

    herd of sheep on green grass field during daytime

    Quando te exigem o apoio a um regime corrupto e totalitário, em nome da “democracia” e da “liberdade”, mesmo que esse regime cerceie a liberdade de imprensa, detenha oponentes políticos e legalize a lavagem do dinheiro que envias directamente para os bolsos dos cúmplices e aliados, fica claro que te consideram a ti e aos teus descendentes como meros peões sacrificáveis, prontos a serem escravizados pelo Estado no momento que lhes convier.

    Quando o Estado, por meio do seu Banco Central, decide aumentar a quantidade de moeda em circulação, impondo-te o seu uso por meio de leis de curso legal e roubo exclusivo nessa moeda, enquanto permite que os seus comparsas nos bancos por si supervisionados inflacionem desmesuradamente tal moeda, concedendo, desta forma, vantagens indevidas à casta parasitária, que adquire tudo em primeiro lugar e a preços não inflacionados com crédito do nada, e ainda tenta convencer-te de que este roubo silencioso surgiu do nada ou que foi o resultado de conflitos militares distantes e irrelevantes para a tua vida quotidiana, é um sinal claro de que almejam despojar-te de tudo. Tanto, que até possuem uma divisa para tal enxovalho: “Não terás nada e serás feliz”!

    Luís Gomes é gestor (Faculdade de Economia de Coimbra) e empresário


    N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.


    PÁGINA UM – O jornalismo independente (só) depende dos leitores.

    Nascemos em Dezembro de 2021. Acreditamos que a qualidade e independência são valores reconhecidos pelos leitores. Fazemos jornalismo sem medos nem concessões. Não dependemos de grupos económicos nem do Estado. Não temos publicidade. Não temos dívidas. Não fazemos fretes. Fazemos jornalismo para os leitores, mas só sobreviveremos com o seu apoio financeiro. Apoie AQUI, de forma regular ou pontual.

  • 25 de Abril, roubos mil

    25 de Abril, roubos mil


    Celebremos os cinquenta anos transcorridos desde o advento da “democracia” em Portugal, após o alívio do jugo opressivo imposto pelo Estado Novo, cuja duração, por mero acaso, se estendeu por um período de quarenta e oito anos (1926-1974).

    Tudo teve início, como não poderia deixar de ser, com as nobres inquietações salariais de um grupo de militares que se sentiam injustiçados com a progressão de carreira dos oficiais milicianos; afinal, quem se preocupava verdadeiramente com o destino do povo?

    Esse mesmo povo que, num ímpeto de efémera exaltação colectiva, celebrara Marcelo Caetano no Estádio Nacional alguns dias antes, ou que, posteriormente, de forma eloquente, empunhava cravos e bradava “abaixo o fascismo” e “morte ao ditador”.

    Apenas um ano e sete meses mais tarde, encontrávamo-nos novamente diante da necessidade preeminente de um novo golpe militar, conhecido como o 25 de Novembro, que se revelou essencial para a efectivação da tão ansiosamente almejada “liberdade” que o precedente movimento militar havia prometido restaurar.

    Neste turbilhão político, o Estado português abandonava os seus concidadãos no Ultramar à própria sorte, privando-os dos bens e propriedades acumulados ao longo de uma vida inteira. O resultado foi que muitos chegaram a Lisboa apenas com a roupa que tinham sobre o corpo, enfrentando meses de penúria e de luta pela sobrevivência. Este triste episódio ficou gravado na memória como a chamada descolonização exemplar! Para trás, ficaria um rastro de destruição, guerras civis, fome e morte que, até hoje, deveria envergonhar-nos.

    Até à data, o Estado português não indemnizou estes portugueses, nem tão pouco os jovens arrancados das suas aldeias e deslocados para travar uma guerra a milhares de quilómetros de casa, em que muitos regressavam mutilados, doentes ou mesmo num caixão. Que ironia: o mesmo regime, por intermédio do seu representante máximo, ousa agora afirmar que Portugal deve pagar pela escravatura em África! Surge a questão: inclui os descendentes daqueles africanos que, através de guerras, escravizaram os seus próprios conterrâneos para vendê-los nas praias ao longo de séculos?

    Eleita a 25 de Abril de 1975, a assembleia constituinte teve como principal objectivo redigir uma nova constituição que reflectisse os “ideais democráticos e as aspirações do povo português” – sempre pungentes as aspirações do colectivo –, fixando no seu preâmbulo um programa socialista: “abrir caminho para uma sociedade socialista”.

    Neste cenário, surgiram dois partidos socialistas, cujos camaradas, aliados e comparsas se têm regozijado em saquear a população portuguesa ao longo de mais de cinco décadas. Parece que o tão aclamado caminho em direcção à sociedade socialista se revelou, na verdade, uma jornada lucrativa para esta casta parasitária.

    Desde então, a carga fiscal subiu de uns modestos 16% do PIB para uns impensáveis 35,8%! Considerando o actual PIB (277 mil milhões €) e a tributação de 1974, isso equivaleria a uma redução de 55 mil milhões de euros, ou seja, aproximadamente 5.500 € a menos roubados a cada português a cada ano.

    Desde logo, fomos brindados com um flagrante desrespeito pela propriedade privada, quando uma série de ocupações de terras e propriedades, destacando-se como parte fulcral do intitulado movimento de “reforma agrária”, irrompeu em cena. Para o descalabro total, não poderiam faltar as nacionalizações, decididas de forma arbitrariamente selectiva – quem terá o poder de discernir os “sectores-chave”? O colectivo? -, abrangendo áreas como a banca, as companhias de seguros, os transportes e as indústrias base.

    Estas supostas “reformas” revelaram-se tão bem-sucedidas que, em 1977, testemunhámos a primeira bancarrota do actual regime, acompanhada da estreia dos predadores internacionais no nosso país: o Fundo Monetário Internacional (FMI).

    Como é de praxe, o programa adoptado impunha medidas “drásticas”, que incluíam cortes nos gastos públicos, mas também o aumento do confisco à população: impostos e desvalorização da moeda. Notável! Alguns anos antes, o Estado português era proprietário das oitavas maiores reservas de ouro do mundo, e era responsável por uma dívida pública praticamente inexistente. O regime exibia então pela primeira vez as suas habilidades: transformar o ouro em cinzas! Não satisfeitos, repetiu a bancarrota em 1983, com novo recurso ao FMI. Como sempre, com um impacto severo na população: aumento do desemprego, salários em atraso e redução dos rendimentos reais.

    Em 1986, optámos por alienar nossa soberania à então Comunidade Económica Europeia (CEE). Ao que parece, enviavam montantes astronómicos de fundos “grátis” para “auxiliar-nos” a superar o nosso atraso atávico, do qual, até os dias actuais, jamais recuperámos. A adesão proporcionava fabulosas sinecuras à casta parasitária, garantindo-lhes, ao mesmo tempo, o voto do rebanho, através da “oferta” de subsídios para cessar produção e quilómetros de auto-estradas.

    Em 1992, com a assinatura do Tratado de Maastricht, cedemos uma vez mais a nossa soberania à CEE, que era então rebaptizada como União Europeia, alçando-se ao estatuto de unidade política, em detrimento de uma mera união aduaneira. Além disso, previa-se a criação do Euro, abolindo igualmente a soberania monetária dos Estados aderentes.

    A casta parasitária não desapontou diante deste grandioso “desafio” nacional: a adesão ao Euro e a transferência do monopólio da sua emissão ao Banco Central Europeu (BCE). Foi o período do choque fiscal, seguido do episódio emblemático do “país está de tanga”; do “menino guerreiro” e do ilustre engenheiro, herdeiro de uma fortuna guardada num cofre e avaliada em um milhão de contos!

    Para a população, foi a era do dinheiro “grátis” para a habitação e o respectivo mobiliário, automóveis e férias de sonho. Já para a casta parasitária, foram tempos de auto-estradas, às vezes duas para o mesmo trajecto, de parcerias público-privadas desastrosas para o rebanho, de aeroportos sem passageiros e de estádios sem espectadores. Foram, sem dúvida alguma, momentos de glória!

    Foram momentos tão gloriosos que, em 2011, testemunhámos a terceira bancarrota do regime; segundo a lenda, surgiram entraves na obtenção de financiamento para a dívida pública nos mercados internacionais. Em tradução clara: não havia um tostão para pagar salários dos funcionários do Estado, e tampouco havia alguém disposto a emprestar. Então, eis que surgiram o FMI e a União Europeia para “auxiliar” o povo português, com a concessão de empréstimos, em troca de mais um saque à população. Desta vez, até tiveram de vender tudo ao desbarato: companhias aéreas, redes eléctricas, infra-estruturas aeroportuárias e serviços postais. Em cada bancarrota, assistíamos sempre ao enriquecimento de várias personagens do regime.

    Após o regresso à “normalidade”, depois dos anos negros da austeridade, apareceu a guerra ao “vírus”. Desta vez, as tão almejadas liberdades individuais oferecidas pelo regime foram suspensas: confinamentos ilegais, fecho de escolas, abandono de idosos, fraldas faciais, passaportes nazis e vacinas “salvíficas”. O fascismo tinha regressado em força, desta vez pelos altos representantes da casta parasitária de cravo na lapela.

    A guerra contra o “vírus” revelou-se um colossal empreendimento e uma redistribuição de riqueza sem precedentes em favor da casta parasitária: aquisição de “vacinas” experimentais, campanhas “solidárias”, compra de “batas e fraldas faciais”, assessorias jurídicas, e assim por diante. Simultaneamente, o rebanho foi mais uma vez pilhado sem piedade: inflação descontrolada, encerramento arbitrário de negócios, resgate de companhias aéreas insolventes e uma constante escalada da carga fiscal.

    As sucessivas crises e a suposta pandemia concederam à União Europeia poderes sem precedentes; hoje, é de facto um superestado federal que dita a nossa política monetária, a maioria da legislação nacional, sem qualquer escrutínio democrático, e determina o que é verdadeiro – como evidenciado pelo regulamento dos serviços digitais –, e o que é propaganda – basta observar o encerramento da agência de notícias russa Sputnik e do canal de televisão RT. Que admirável exemplo de democracia e liberdade de expressão na nova ordem europeia!

    train passing in between buildings

    O temos hoje? Uma dívida pública colossal, de 269 mil milhões de Euros, o equivalente ao actual PIB, quatro milhões de pobres, um crescimento económico anémico, em torno de 1% por ano desde o aparecimento do Euro, risível face ao crescimento económico no último período do Estado Novo (5,1% por ano entre 1953 e 1974), um parlamento em que o partido “fascista” é o único que defende a liberdade, face a nova tentativa de cedência de soberania a entidades supranacionais, uma total falta de transparência da administração pública, em contradição com a constituição, e censura e cancelamento de opiniões da população que faria corar os censores do lápis azul do antigo regime.

    Mas, respiremos fundo! Temos um representante máximo da República que nos ajudará a celebrar os 50 anos de Abril, depois de ter afirmado que o actual primeiro-ministro é lento e rural, enquanto o seu antecessor era só lento, mas era por ser oriental – estão a compreender? Nada disto é xenofobia nem tão pouco é racismo. O regime e os órgãos de propaganda reservam sempre esses epítetos para o partido “fascista”. Celebremos então Abril; celebremos o assalto de 50 anos ao rebanho.

    Luís Gomes é gestor (Faculdade de Economia de Coimbra) e empresário


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  • Um mundo às avessas

    Um mundo às avessas


    Vivemos em tempos nada convencionais, onde o preto se torna branco, o certo se confunde com o errado e a moral se desvanece na imoralidade. Parece que a harmonia está em falta nos tempos actuais. Será este o capítulo contínuo da fórmula ancestral utilizada pelo escol para nos dominar: problema, reacção, solução? Vivemos propositadamente num incessante pavor, num turbilhão perpétuo de confusão.

    No último fim-de-semana, tivemos um ataque do Irão a Israel, através do lançamento de uma chuva de mísseis e drones. Porém, para espanto – ou assim nos dizem os órgãos de propaganda -, a Cúpula de Ferro de Israel, essa “maravilha da tecnologia”, funcionou com uma precisão imaculada, anulando qualquer ameaça. É fascinante contemplar uma pequena nação, rodeada de inimigos, na vanguarda tecnológica, destemida, mesmo perante ataques com armas sofisticadas e letais.

    man in room

    Comparem com a tragédia do último 7 de Outubro. Os “corajosos” militantes do Hamas decidiram fazer uma visita a Israel, não apenas por terra ou mar, mas também pelo ar, sim, de parapente! O mais incrível é que isso aconteceu sem que os guardiões da fronteira mais vigiada do mundo, com todo o seu aparato tecnológico, se tivessem dado conta do que estava a acontecer. Durante horas a fio, os intrépidos membros do Hamas tiveram o luxo de assassinar, violar e fazer reféns à vontade, sem encontrar qualquer tipo de resistência ou alerta dos sistemas de vigilância. Passámos da idade da pedra à guerra das estrelas numa questão de meses.

    Agora, a insanidade nacional, tão cativante na sua extravagância. Um dos nossos estimados órgãos de propaganda, sob a sábia direcção do seu ilustre director, decidiu brindar-nos com uma revelação de tirar o fôlego: o governo recém-empossado, num acto de “completa surpresa para todos”, teve a ousadia de nos mentir! Num tom pungente e indignado: “É mais que um embuste. É enganar os portugueses!”.

    Realmente, é jocoso pensar que a nobre classe parasitária, que tão gentilmente nos assalta há meio século, poderia, por um segundo sequer, abster-se de nos privar de mais alguns tostões. Ainda mais hilário é quando nos asseguram que se tratava, afinal, de uma redução apenas ligeiramente menor, como se estivessem a tentar convencer-nos de que a mão do assaltante estava apenas um pouco menos profunda no nosso bolso. O que realmente me surpreende é que haja milhões de portugueses e, pelos vistos, alguns “jornalistas” que ainda engolem estas patranhas: de que nos vão “restituir” os “nossos” suados impostos!

    Noutro órgão de propaganda, desta vez inteiramente pago pelos “nossos impostos” – se fossem nossos, não teríamos de os pagar! -, a comentadora de um programa semanal sobre política lançava-nos esta pérola: “…para haver mais democracia, as redes têm de facto mandar calar os seus utilizadores”, numa clara defesa da liberdade de expressão e de respeito por opiniões contrárias. Fica sempre a pergunta: alguém a pode mandar calar?

    Não satisfeita, noutro programa, obtivemos outra pérola do mesmo personagem: “Não se nasce mulher, tornamo-nos mulheres, porque é uma construção social e específica de um terminado tipo de sociedade”. Na verdade, quando na adolescência me apareceu a barba, questionei seriamente a minha mãe por que razão estava a ser vítima de uma construção social. Aparentemente, a sociedade congeminava para me fazer crescer pêlos na cara.

    Os sábios comentadores deste país maravilhoso asseguram-nos que está tudo a correr pelo melhor com a imigração. Sentados confortavelmente nos seus SUVs, desfrutando das casas no centro de Lisboa, provavelmente no Príncipe Real, sentem-se invariavelmente muito satisfeitos com os imigrantes: servem-nos à mesa, entregam-lhes comida em casa, limpam-lhes a casa, um sem fim de glórias a preço de escravo. Enfim, os imigrantes adicionam sempre um toque “cosmopolita” à coisa e, claro, para eles, o fenómeno nunca representa qualquer ameaça à sua segurança e bem-estar.

    Neste contexto, foi bem elucidativo o acontecimento pitoresco na praia do Tamariz, Estoril, no último fim-de-semana: um combate de boxe entre jovens em pleno areal, com uma turba em seu redor a fazer apostas. Ali, tivemos a confirmação de que esses jovens imigrantes não só não representam nenhum problema de segurança, como também serão os nossos salvadores financeiros, ajudando-nos generosamente a pagar as “nossas reformas”. Os tais comentadores ainda têm a coragem de ficar surpresos com o sucesso do “partido fascista”.

    Na incansável batalha antifascista travada pelos nossos estimados órgãos de propaganda, fomos brindados também com uma entrevista imperdível. Um “escritor e ex-militar” decidiu partilhar a sua perspicaz visão sobre o “partido fascista”, declarando solenemente: “Os líderes da extrema-direita representam a escória da sociedade”. Reparem bem: aqui não se trata de discurso de ódio, não! Trata-se apenas de um facto incontestável, um veredicto irrevogável: são simplesmente a escória, e ponto final. A doçura da democracia em pleno vigor!

    comfort room signage

    Por fim, deram-nos a conhecer cafés nos EUA que podem ajudar a “aliviar a ansiedade da crise climática” nos jovens norte-americanos. Em relação aos jovens da praia do Tamariz, estou seguro de que não necessitam de frequentar tais estabelecimentos. Aliás, seguramente que o boxe no areal resolve todos estes problemas de ansiedade com a máxima rapidez.

    Neste sentido, recomendo ao Diário de Notícias que faça uma reportagem sobre estes jovens, pois estou certo que ansiedade climática é que coisa que não abunda por ali. Aliás, devia ser exportada para os Estados Unidos, como mais uma solução para a “ansiedade climática” que tanto afecta a juventude.

    Luís Gomes é gestor (Faculdade de Economia de Coimbra) e empresário


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